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REDAÇÃO

PARA O ENEM,

VESTIBULAR E

CONCURSOS

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REDAÇÃO PARA O

ENEM, VESTIBULAR E

CONCURSOS

L P Baçan

2015

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Copyright © 2015 L P Baçan

Todos os direitos da tradução reservados.

Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido ou usado

de qualquer outra forma nem divulgado sem a expressa

autorização do autor, exceto o uso de partes para referência

ou comentários.

ISBN 978-1-329-73550-7

Lulu Press, Inc.

3101 Hillsborough St, Raleigh, NC 27607

L P B Edições

Londrina – PR

www.acasadomagodasletras.net

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ÍNDICE

PRIMEIROS PASSOS ........................................................................................ 7

APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 8

OS PRIMEIROS PASSOS ................................................................................11

OS PARADIGMAS ..........................................................................................15

A PRÁTICA .....................................................................................................28

A LINGUAGEM ..............................................................................................37

CLASSES DE PALAVRAS .............................................................................58

TIPOS DE REDAÇÃO .....................................................................................76

ESTRUTURA DO TEXTO ..............................................................................92

TÉCNICAS DE REDAÇÃO ........................................................................... 105

ROTEIROS DE TRABALHO ........................................................................ 119

POLIMENTO DO TEXTO ............................................................................. 127

MODELOS .................................................................................................... 137

CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL ........................................................... 145

JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 157

NOVAS TENDÊNCIAS DO VESTIBULAR .................................................. 184

REDAÇÃO PASSO A PASSO ......................................................................... 201

DESENVOLVENDO UM ESTILO PRÓPRIO ............................................... 202

COMO DESENVOLVER UM ESTILO PRÓPRIO ......................................... 204

QUALIDADES DO ESTILO .......................................................................... 216

LEITURA OBRIGATÓRIA ........................................................................... 226

MODELOS .................................................................................................... 247

TEMAS PARA REDAÇÃO ........................................................................... 254

A REDAÇÃO................................................................................................. 266

ENTENDENDO OS CONCEITOS ................................................................. 273

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TIPOS DE REDAÇÃO ................................................................................... 286

A DESCRIÇÃO ........................................................................................ 286

A DISSERTAÇÃO .................................................................................... 291

A NARRAÇÃO ......................................................................................... 298

ROTEIRO PARA CORREÇÃO...................................................................... 306

APÊNDICE....................................................................................................... 331

ERROS MAIS COMUNS ............................................................................... 332

A PONTUAÇÃO............................................................................................ 350

N0RMAS GERAIS......................................................................................... 355

EXERCÍCIOS DE PONTUAÇÃO .................................................................. 403

TEXTOS PONTUADOS ................................................................................ 421

FIGURAS E VÍCIOS DE LINGUAGEM ........................................................ 438

ERROS GRAVES E DICAS ........................................................................... 447

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 453

L P Baçan - O Mago das Letras ....................................................................... 455

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REDAÇÃO PARA O ENEM

VESTIBULAR E CONCURSOS

PRIMEIROS PASSOS

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APRESENTAÇÃO

Este livro é uma proposta definitiva para você aprender

e realizar uma redação capaz de dar-lhe a pontuação

necessária para atingir sua meta, seja ela no ENEM, em um

vestibular ou em um concurso.

Você pode nada saber sobre como fazer uma boa

redação ou já ter uma boa base para buscar um

aprimoramento. Em qualquer destes casos, você deve

assumir o compromisso pessoal de acompanhar passo a

passo as etapas aqui apresentadas. Se preferir ou não tiver

uma boa base, inicie pela primeira parte do livro,

PRIMEIROS PASSOS. Se julgar já vencida essa etapa,

considerando seus conhecimentos atuais, siga para a

segunda parte, PASSO A PASSO, e disponha-se a

prosseguir.

Este não é um manual adequado a quem precise

aprender redação para amanhã. Não há como fazer isso, a

não ser buscar as páginas onde são apresentadas as dicas e

torcer para que o tema que lhe seja apresentado facilite as

coisas para você.

Se está se preparando, no entanto, a médio ou a longo

prazo para um exame onde a Redação seja exigida, então

encontrará aqui todo o material necessário para montar seu

plano de trabalho e aprender na prática e dominar o assunto.

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Não há mágica, oração ou qualquer outra forma de

aprender a escrever sem praticar. Imagine-se recebendo seis

meses de aulas teóricas sobre a natação e, após isso, ser

lançado ao mar. Conseguiria sobreviver? Por quanto tempo?

Parede difícil, não? Assim é o estudo da redação e sua

preparação. Você tem que começar praticando desde o

início, desenvolvendo-se, preparando-se, até atingir o ponto

ideal.

Para isso precisa de ferramentas e de conhecimento.

Parte disso encontrará aqui, na técnica. A prática será por

sua conta. As duas unidas lhe darão total segurança diante

de qualquer tema. Uma sem a outra resultará em um

trabalho fraco, talvez passável, mas certamente não o

suficiente para garantir aquela pontuação a mais que fará a

diferença entre a aprovação ou não em seu objetivo.

Encare este livro, portanto, como um plano de trabalho,

uma proposta de ação que vai tirar você da lista dos

inseguros e colocá-lo na dos experientes e capazes de

encarar qualquer tema e sair-se bem.

Lembre-se, ao iniciar, que deve assumir um

compromisso consigo mesmo: o de fornecer conteúdo para

construir argumentações sobre absolutamente tudo. Isso

você conseguira através da LEITURA. Leia tudo ao seu

alcance, mesmo assuntos que não goste e, principalmente,

não domine. Na Internet vai encontrar livrarias virtuais que

disponibilizam milhares de livros sobre praticamente tudo e,

o que é melhor, grátis. Assista aos noticiários, leia jornais e

revistas semanais, leia os principais colunistas do país e do

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mundo. Mantenha-se atualizado. Conheça a História atual e

antiga. Não ignore a Geografia ou qualquer conteúdo que

possa lhe ser útil para embasar uma argumentação. Conheça

os princípios da Sociologia, da Psicologia. Estude um pouco

de Política. Nada será desperdiçado, tenha certeza disso.

Assim, de espírito preparado para um empreendimento

a médio e longo prazo, comece e siga em frente sem

esmorecer. A vitória será sua, por isso terá que lutar suas

próprias batalhas com as armas de que dispuser. Não há

outra fórmula mágica.

Boa sorte.

L P Baçan

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OS PRIMEIROS PASSOS

Você já deve ter observado como os alunos do segundo

grau preocupam-se com o vestibular. É compreensível, pois

esta é uma etapa que decidirá o futuro de cada um deles.

Além das dificuldades naturais com esta ou com aquela

matéria, todos parecem ter um problema comum, com raras

exceções: a redação.

Muitos devem afirmar que não têm imaginação, que

lhes faltam a criatividade, que as regras gramaticais são

difíceis e complicadas, que não entendem a pontuação, que

não sabem como separar um parágrafo e muitas outras

reclamações.

Talvez você também esteja começando a enfrentar

dificuldades. Acha que é muito difícil escrever e que isso é

um dom ou uma vocação. Pode, até, ter algum bloqueio para

realizar essa atividade.

Não se julgue culpado se tem essas percepções. Isso

porque nunca lhe mostraram o ato de escrever pelo seu

ângulo mais agradável nem lhe provaram que escrever é

fácil, gostoso e que você pode escrever o que quiser. Basta

aprender como fazer isso e a partir daí não parar jamais.

Vamos por etapas. Ou por passos. Os primeiros passos

que você deu, quando criança, possivelmente resultaram em

algumas quedas. Com o tempo, seus ossos e músculos

firmaram-se, você dominou o equilíbrio e hoje caminha com

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naturalidade e desenvoltura. Aprender a escrever segue o

mesmo processo natural.

Você precisa desde já aprender a ler e a gostar de ler.

Não importa qual é seu gênero de leitura preferido.

Dedique-se ao que lhe dá prazer, mas reserve um pouco de

seu tempo para começar a ler os grandes escritores, os

clássicos que marcaram o mundo. Em pouco tempo você vai

se familiarizar com esse tipo de leitura e acabar gostando.

Em segundo lugar, comece a escrever agora mesmo. Se

alguém lhe disser que você não tem criatividade nem

imaginação, desafie-o a provar o contrário, pois você tem

um cérebro maravilhoso, cheio de vida e inquietação, capaz

de recriar o universo na sua imaginação e na sua fantasia.

Você aceita participar de um desafio? Se eu lhe provar

que você tem imaginação de sobra para escrever, você

continua a leitura até o primeiro capítulo. Se após o primeiro

capítulo eu lhe provar que você é capaz de, com apenas uma

lição simples, escrever uma redação apresentável e um

poema razoável, você assume o compromisso de ler o livro

até o fim.

Veja bem, o desafio é simples:

- se eu não lhe provar que você tem imaginação de

sobra, você desiste;

- se após a leitura do primeiro capítulo você não se

convencer de que fez uma boa redação e um poema

interessante, você desiste. Caso contrário, assume consigo

mesmo o compromisso de ir até o fim, praticando as outras

lições.

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Aceita o desafio?

Ótimo! Então vamos lá!

Procure se lembrar da última vez que sonhou ou pense

num sonho que teve e do qual se lembre. Reviva-o agora

mesmo. Pense nos seus detalhes. Havia uma paisagem?

Como era ela. Havia uma construção ou construções? Como

era isso. Havia uma pessoa? Como era ela? O que vestia?

Quais suas expressões. Como foi o andamento do sonho?

Recorda-se?

Se você não tivesse absolutamente nenhuma

imaginação, você sonharia em branco! Mas isso não

acontece. Sua imaginação é capaz de criar pessoas,

paisagens, construções, mobílias, diálogos, sequências e

ação como num filme. Isso é obra de alguém sem

imaginação? Você é capaz de imaginar e de criar. É apenas

uma atividade cujas habilidades você precisa desenvolver.

Convenceu-se de que tem imaginação suficiente para

escrever? O que você precisa é pura e simplesmente

aprender a fazer isso, da mesma forma como aprendeu a

caminhar, a falar, a ler e a escrever as primeiras letras. É

simplesmente dar continuidade num processo natural,

desenvolvendo as técnicas necessárias para isso, de forma

agradável, sem muita preocupação com outra coisa a não ser

explorar seu potencial e pôr no papel suas emoções,

sentimentos, observações e criatividade.

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Antes de ir para o próximo capítulo e cumprir a

segunda etapa do desafio, talvez você se pergunte quem sou

eu, como e por que estou me dirigindo a você para provar

que escrever á fácil. Eu sou um escritor e tenho feito isso

nos últimos 35 anos. Já escrevi mais de 120.000 páginas. Se

quiser saber mais sobre o meu trabalho ou precisar de algum

esclarecimento, visite meu site.

http://www.acasadomagodasletras.net

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OS PARADIGMAS

Prepare-se para a segunda etapa do desafio. Antes de

passarmos a ela, você precisa aprender alguns segredos que

simplificarão sua maneira de ver as coisas.

O ato de escrever é um processo que requer alguns

ingredientes: imaginação, domínio da língua e dos aspectos

gramaticais e prática. Não é um dom ou uma vocação

simplesmente porque ninguém nasce sabendo fazer uma

redação. Você tem que aprender isso a duras penas, precisa

escrever páginas e mais páginas até adquirir a fluência e a

naturalidade. Na realidade, costumo dizer em minhas

palestras que escrever é 90% de transpiração e 10% de

inspiração.

Voltemos aos ingredientes do processo. Inicialmente, a

imaginação. Esta você desenvolve quase que naturalmente,

observando as coisas, vendo as pessoas, seus atos,

participando da paisagem e das cenas no seu dia-a-dia. Você

pode e deve aprimorá-la com a leitura de bons autores, de

jornais (principalmente das colunas fixas), de revistas e

ouvindo noticiários de rádio e de televisão, principalmente

aqueles que comentam as notícias.

Uma sugestão que sempre dou é a de ler a Bíblia, sem

qualquer conotação religiosa, apenas porque ela é uma das

maiores fontes de informações, descrição de caracteres e

cenas, apresentando figuras humanas e passagens

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exemplares que você poderá usar, futuramente, em suas

redações como argumentos.

O segundo ingrediente é o domínio da língua e dos

aspectos gramaticais. Significa ter vocabulário e saber como

usá-lo. Lendo e ouvindo você aumenta seu vocabulário,

principalmente se você se habituar a ter sempre ao seu

alcance um dicionário para conferir o significado de uma

nova palavra, procurando usá-la em suas redações. O

conhecimento gramatical certamente você terá assistindo

com atenção às aulas de língua portuguesa e tirando suas

dúvidas com os professores. Há, porém, um método mais

fácil de escrever corretamente, habituando-se a usar

paradigmas.

Se você não sabe o que significa paradigma, pegue seu

dicionário agora mesmo. Com certeza você vai descobrir

que significa modelo ou padrão. Traduzindo então o que eu

disse acima, usar paradigmas nada mais é que usar modelos

ou padrões. E você sabe por que fazer isso? Porque a

estrutura de uma oração obedece a um paradigma básico,

que é este e que você deve conhecer de suas aulas de língua

portuguesa:

SUJEITO - PREDICADO - COMPLEMENTO

A partir desse paradigma básico, você pode criar

variações, incluindo outros elementos ou reduzindo os

elementos acima ao essencial. Como fazer isso?

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Construindo uma oração apenas com o predicado, ou o

verbo. Quer um exemplo para entender melhor:

Os livros - carregam sonhos.

Sonhemos - a vida!

Sonhemos!

Os livros - carregam (contém) - sonhos - para os

sonhadores.

Entendeu o que eu quis dizer?

Vamos, então, para a segunda etapa do nosso desafio.

É simples.

Leia devagar e com calma o texto a seguir:

Brincando com o barro

Um dia, Jesus estava na beira do rio com outras

crianças. Haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer

a água, formando assim pequenas poças. Jesus havia feito

doze passarinhos de barro e os havia colocado ao redor da

água, três de cada lado. Era um dia de sabá e o filho de

Hanon, o judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disse-

lhes:

— Como podeis, em um dia de sabá, fazer figuras com

lama?

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— Não seja por isso — disse Jesus, estendendo as

mãos sobre os pássaros que havia moldado.

Imediatamente eles saíram voando e cantando.

(L P Baçan, adaptado de uma antiga lenda)

Antes de prosseguirmos, há uma palavra na história

que você talvez não conheça. É sabá e significa: "descanso

religioso que, conforme a legislação mosaica (leis do tempo

de Moisés), devem os judeus observar no sábado,

consagrado a Deus."

Isso explica porque o filho de Hanon admoestou Jesus.

Agora que você sabe desse detalhe, leia mais uma vez a

história, desta vez prestando atenção às palavras em

vermelho:

Brincando com o barro

Um dia, Jesus estava na beira do rio com outras

crianças. Haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer

a água, formando assim pequenas poças. Jesus havia feito

doze passarinhos de barro e os havia colocado ao redor da

água, três de cada lado. Era um dia de sabá e o filho de

Hanon, o judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disse-

lhes:

— Como podeis, em um dia de sabá, fazer figuras com

lama?

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— Não seja por isso — disse Jesus, estendendo as

mãos sobre os pássaros que havia moldado.

Imediatamente eles saíram voando e cantando.

Você vai agora reescrever a história, trocando as

palavras em vermelho por outras palavras, de forma que o

conteúdo da história seja alterado, mas seu modelo, padrão

ou paradigma mantenha-se o mesmo. Entendeu a tarefa?

Mãos à obra! Se quiser, veja como eu fiz!

Brincando com o fogo

Um dia, Mário estava no bosque com seus amigos.

Haviam juntado pequenas varas secas para atear fogo,

formando assim uma fogueira. Mário havia feito pequenos

montes de terra e os havia colocado ao redor da fogueira,

três de cada lado. Era um dia de vento e a mãe do menino

veio e vendo-os assim entretidos, disse-lhes:

— Como podeis, em um dia de vento, fazer fogueira

perto do bosque?

— Não seja por isso — disse Mário, estendendo as

mãos e empurrando os montes de terra sobre a fogueira.

Imediatamente a fogueira se apagou.

E agora, o que me diz?

Seguindo um paradigma, não é mais fácil escrever?

Pratique bastante, reescrevendo a história com os

seguintes títulos:

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Brincando com a terra

Brincando com a água

Brincando com as flores

Brincando com fogo

Brincando com o perigo

Brincando de gente grande

Vamos falar de poesia agora. Veja a estrofe abaixo, a

primeira de um poema chamado Gondoleiro do Amor, de

Castro Alves, famoso poeta romântico brasileiro.

Gondoleiro do Amor

Teus olhos são negros, negros,

como as noites sem luar,

são ardentes, são profundos,

como o negrume do mar.

Há alguma palavra desconhecida para você? Por via

das dúvidas, vejamos o significado das seguintes palavras:

Gondoleiro: "tripulante de gôndola, uma embarcação

comprida, de pequena boca, com as extremidades um tanto

levantadas, movida por um remo na popa, característica dos

canais de Veneza".

Ardentes: "apaixonados."

Negrume: "escuridão."

Além disso, é importante que você saiba ou relembre

que estrofe é o conjunto de versos e o verso,

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simplificadamente, é cada linha do poema. No exemplo

acima, temos, portanto, quatro versos.

Ao ler o poema em voz alta, você sente que ele possui

um ritmo, uma cadência marcada por sílabas mais fortes.

Experimente ler a estrofe acima em voz alta e entenderá

melhor isso. Para completar, os poemas podem ter rimas,

formadas pela coincidência de sons no final de cada verso.

No exemplo acima, mar rima com luar porque ambas

as palavras terminam em ar. Entendeu?

Agora que você já sabe o significado das palavras da

estrofe e alguns conceitos de poética, leia de novo,

prestando atenção às palavras em vermelho.

Gondoleiro do Amor

Teus olhos são negros, negros,

como as noites sem luar,

são ardentes, são profundos,

como o negrume do mar.

Reescreva a estrofe, mudando as palavras em vermelho

a seu critério, mas dando sentido ao seu poema. Não se

esqueça de que, ao substituir uma palavra de três sílabas,

por exemplo, você deve usar outra de três sílabas. Pode,

também, duas palavras, sendo a primeira de uma sílaba e a

segunda, de duas. Isso é feito para manter o ritmo do verso.

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Use o seu caderno de rascunho para praticar, depois

veja como eu fiz:

Meu poema de Amor

Teus olhos são lindos, lindos,

como as plantas do jardim,

são brilhantes, são alegres,

como as flores do jasmim.

E então, conseguiu?

No princípio você pode enfrentar dificuldades. Isso é

natural, mas pouco a pouco você ganhará fluência e tudo

ficará mais fácil.

E quanto ao nosso desafio? Você aceita meu convite

para continuar a leitura do livro?

Para reforçar o que afirmo, suponhamos que você

tenha que escrever agora um requerimento, pedindo ao

diretor de sua escola um atestado de matrícula.

Como você faria isso?

Usando um paradigma, tudo isso fica mais fácil.

Veja como!

Note que o mesmo modelo pode ser usado para você

requerer uma bolsa de estudos, bastando modificar o

objetivo.

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Se precisar fazer um requerimento a um órgão público,

acrescente na sua identificação o seu endereço, o número de

sua carteira de identidade e o do seu Cadastro de

Contribuinte no Ministério da Fazenda (CIC).

Se não tiver um, você deverá constar o de seu pai ou

responsável.

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(Requerimento)

Exmo. Sr. Diretor do Colégio...

(deixar espaço de 10 linhas)

(seu nome) brasileiro(a), solteiro(a), estudante

regularmente matriculado(a) na quinta série ( ou

naturalidade, estado civil, profissão, RG, CIC, endereço

completo), vem, respeitosamente, requerer ( a expedição de

Atestado de Matrícula para fins particulares ou outro

objetivo específico).

Nestes termos

Pede deferimento.

(sua cidade), (dia, mês em letra minúscula e ano).

____________________

(sua assinatura)

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E se você tivesse vendido a sua bicicleta e precisasse

passar um recibo, como faria?

É simples!

Basta usar o seguinte paradigma!

(Recibo)

RECIBO: R$ 50,00

Recebi de (nome da pessoa a quem vendeu e que lhe

pagou) a importância supra de R$ 50,00 (cinquentas reais),

para pagamento de (uma bicicleta marca C. Mago, de minha

propriedade).

Por ser verdade, firmo o presente recibo.

(Cidade), (dia, mês e ano).

_________________________

(nome e assinatura)

Acho que você já percebeu a facilidade de usar os

paradigmas e as vantagens e necessidade de trabalhar

intimamente ligado ao seu dicionário. Aumentando seu

vocabulário aos poucos, em breve você terá um repertório

adequado para elaborar qualquer tipo de texto.

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Lendo, você irá aumentando seu estoque de

paradigmas. Em breve poderá escrever sobre qualquer

assunto, de modo correto e criativo, sem se preocupar com a

gramática. Quando estudá-la, em suas aulas regulares, verá

como será mais fácil entender pontuação, concordância,

regência e outros aspectos que são fundamentais na

comunicação escrita.

E então, vale a pena continuar?

Claro que sim!

Passemos, então, ao Capítulo 3. Não se esqueça de que

em qualquer momento, quando encontrar alguma

dificuldade, volte ao início e releia atentamente.

E se você gostou da história que contei sobre a infância

de Cristo, conheça outra e aproveite para praticar, seguindo

os passos já ensinados.

O Menino Doente

Aconteceu depois, nas vizinhanças de José, que um

menino que vivia doente veio a falecer. Sua mãe chorava

inconsolavelmente. Jesus, ao tomar conhecimento da dor

daquela mãe e do tumulto que se formava, acudiu

rapidamente.

Encontrando o menino já morto, tocou-lhe o peito e

disse:

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— Pequenino, falo contigo! Não morras, mas vive feliz

e fica com tua mãe!

No mesmo instante, o menino abriu os olhos e sorriu.

Então disse Jesus à mulher:

— Anda, pega-o, dá-lhe leite e lembra-te de mim!

Ao presenciar o acontecido, os circunstantes encheram-

se de admiração e exclamaram:

— Na verdade, este menino ou é um Deus ou um anjo

de Deus, pois tudo o que sai da sua boca torna-se um fato

consumado.

Jesus saiu dali e pôs-se a brincar com os outros jovens.

(L P Baçan, adaptado de uma antiga lenda)

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A PRÁTICA

O terceiro ingrediente do aprendizado mencionado no

capítulo anterior é a prática. Quanto mais você praticar,

mais fácil ficará escrever. Isso explica o meu ponto de vista:

90% de transpiração e 10% de inspiração. Tenha isso em

mente.

Você pode ter o dom, pode ter vocação para escrever,

mas se você não se sentar diante de uma folha de papel em

branco e escrever, nada nem ninguém o fará por você.

Para resumirmos agora o que já foi ensinado, podemos

concluir que, para escrever, é preciso ter conteúdo (o que

dizer) e conhecer paradigmas (saber como). Dominando

esses dois aspectos, você poderá escrever sobre

absolutamente tudo.

Dominar os paradigmas não significa que você terá que

memorizar uma porção de modelos que serão usados no

momento oportuno. Não, de forma alguma, pois isso

poderia acabar limitando sua criatividade.

É importante você habituar-se a usar os paradigmas,

pois ao fazê-lo com frequência você vai incorporá-los

automaticamente, sem perceber e eles surgirão

automaticamente, no momento em que precisar deles.

Quer testar isso?

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Observe o trecho a seguir, que poderia ter sido tirado

de uma página esportiva de um jornal qualquer.

Para começar, se você usar um paradigma assim, será

porque leu o jornal e esse é um passo importante para

formar conteúdo, isto é, ter o que dizer.

Vamos à notícia:

Coritiba embarca

"A delegação do Coritiba embarca hoje às 7 horas da

manhã no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais,

rumo ao Ceará, onde fará sua estreia na Copa do Brasil

diante da equipe do Fortaleza, amanhã, dia 3, às 20h 30, no

Estádio Presidente Vargas, na capital cearense."

(Gazeta do Povo, Caderno Esportes, página 3, 2/3/99)

Suponhamos agora que você vá fazer uma notícia para

o jornal do colégio, informando a partida de um colega, o

Mário Souto, que viaja para a cidade de Miami, nos Estados

Unidos, onde fará um curso de inglês de um mês, na

Universidade de Miami.

Como ficaria a notícia, se você usasse o paradigma

acima?

Vamos por partes!

Na notícia que recortamos do jornal, temos algumas

respostas a algumas perguntas importantes: quem faz

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(fez/fará) o quê, quando, a que horas, de onde, para onde,

para quê, contra quem, quando, a que horas, onde.

Vamos responder as perguntas que sejam possíveis no

caso da viagem do seu amigo.

Quem? Mário Souto

Faz o quê? embarca

Quando? amanhã

A que horas? às 8 horas da noite

De onde? no aeroporto de Cumbica

Para onde? para Miami, na Flórida

Para quê? fazer um curso de inglês de 30 dias

Contra quem? (não usaremos)

Quando? (não usaremos)

A que horas? (não usaremos)

Onde? na Universidade de Miami

Vamos dar forma à notícia, juntando as respostas na

sequência em que foram apresentadas?

Mário Souto embarca para Miami

"Mário Souto embarca amanhã às 8 horas da noite no

Aeroporto de Cumbica rumo a Miami na Flórida para fazer

um curso de inglês de 30 dias na Universidade de Miami"

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Deixei propositadamente sem pontuação a notícia

acima, para que você, observando o paradigma inicial,

coloque agora a pontuação. O ponto final não oferece

problema, é claro. Você pode ter alguma dúvida no que se

refere à vírgula.

Vejamos como a Enciclopédia Barsa define a vírgula:

"sinal de pontuação usado para isolar (...) indicações de

tempo e lugar. Assinala breve pausa rítmica, sem quebrar a

continuidade do discurso. ©Encyclopaedia Britannica do

Brasil Publicações Ltda.".

Observação: o sinal de reticências entre parênteses na

citação acima indica que um trecho foi suprimido. Isso foi

feito para destacar apenas o que nos interessa no momento.

Ficou claro? As perguntas onde, quando, a que horas,

para onde e outras assemelhadas têm como respostas

advérbios ou orações adverbiais de tempo e de lugar e

podem ser isoladas através de vírgulas. Como você

pontuaria o texto agora? Eu faria assim:

Mário Souto embarca para Miami

Mário Souto embarca amanhã, às 8 horas da noite, no

Aeroporto de Cumbica, rumo a Miami, na Flórida, para

fazer um curso de inglês de 30 dias, na Universidade de

Miami.

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Tudo isso está claro para você?

É importante que você dê seus primeiros passos como

escritor de forma segura e sem hesitação.

Continuando com o mesmo paradigma, faça os

seguintes exercícios em seu caderno de rascunho:

Loja de roupas inaugura novas instalações

Governador visita cidade

Papa viaja à África

Eu vou viajar

Brasil enfrenta Argentina

Estou mudando de casa

Convite para uma festa

A vovó vai chegar

A inauguração do cinema

Concurso de beleza

Nasceu um bebê

O fim do mundo

Vamos agora observar os paradigmas sob um aspecto

mais ampliado.

Observe o exemplo a seguir:

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Carta a meu amigo distante

Início

(aqui você justifica sua carta ou apresenta o motivo

por que escreveu)

Meu amigo, que saudade de você! Como sinto sua falta

e como me fazem falta aqueles momentos que passamos

juntos, vivendo nossa juventude com alegria e

despreocupação. Éramos crianças. Não nos preocupávamos

com a vida nem com o futuro e o futuro chegou. Confesso

que estou com medo agora.

Meio

(aqui você desenvolve o assunto que levou você a

escrever a carta)

Lembra-se de nossas brincadeiras no colégio? De como

nós nos sentávamos no fundo da classe e ríamos de tudo,

principalmente de nosso professor de redação, aquele

velhinho que falava das maravilhas ocultas nos livros, à

espera de nossas descobertas? Ele nos contava histórias

assustadoras de alunos que haviam encalhado no vestibular,

porque não sabiam escrever. E nós nem ligávamos!

Fim

(aqui você arremata a sua carta)

Agora eu percebo o quanto ele estava certo. Em breve

enfrentarei o vestibular e confesso que estou preparado para

tudo, menos para a redação. Sabe o que fiz? Vasculhei meus

armários e encontrei os cadernos do nosso curso de redação.

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A resposta estava lá: ler e praticar. Era o que ele nos dizia.

Por que não acreditamos nele?

Um abraço e, quando tiver tempo, ligue para mim!

Não se preocupe quanto ao conteúdo da carta. É

importante que você grave agora um dos paradigmas mais

importantes para todo escritor:

saber como começar, desenvolver e encerrar um texto.

Em tudo que escrever, dentro de uma sequência lógica,

deverá haver um início, um meio e um fim. Isso não

significa que o assunto deverá ter um início, um meio e um

fim e veremos isso mais à frente. O que importa agora é que

você grave essa sequência natural em todo texto: início,

meio e fim.

Para transpirar um pouco e praticar, use o paradigma

acima para escrever uma carta a um amigo, informando que

sente saudades dos tempos em que estudavam juntos e, ao

mesmo tempo, comunicando que você vai viajar para algum

lugar, num determinado dia, para fazer algo importante.

Solte a sua imaginação e transpire um pouco.

Quando terminar, leia seu texto em voz alta umas duas

ou três vezes. Se você sentir que algumas palavras não soam

bem em relação ao conjunto, mude-as.

Como?

Ora, consulte seu aliado: o dicionário.

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Após ter feito isso e corrigido seu texto, peça para que

dois ou três amigos leiam e comentem o que você escreveu.

Quando eles fizerem isso, leia atentamente o que eles

escreveram. Se não entender, peça esclarecimentos, mas não

rebata, retruque ou tente explicar. O que eles observarem é o

que o seu texto está transmitindo. Não tente convencê-los do

que você quis dizer, pois o que importa é o que você disse

efetivamente.

Após isso, leia, releia e medite em tudo o que foi feito.

Depois disso, reescreva com calma o texto, leia-o em voz

alta e, se estiver satisfeito(a), guarde-o por uns dois meses.

Após esse tempo, leia-o novamente e, se ficar satisfeito com

ele, guarde-o. Caso contrário, volte ao início do processo.

Quanto mais você investir em você mesmo, criando

alternativas para desenvolver seu estilo e suas habilidades

na escrita, mais rápidos serão os resultados.

Você pode contribuir com esse processo e praticar,

reunindo alguns amigos e fundando um Clube Literário, que

deverá se reunir semanal, quinzenal ou mensalmente, a

critério de seus membros. O objetivo do clube é que todos

escrevam e submetam seu trabalho à apreciação dos amigos,

trocando ideias, críticas construtivas, novidades e técnicas.

Uma das regras básicas deve ser esta:

- Após a leitura de um texto, ninguém poderá dizer:

não gostei!

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Se houver alguma crítica a ser apresentada, ela deverá

ser precedida de um elogio ao texto ou a um dos aspectos

que se ressaltaram. É preciso estimular os amigos sempre.

- Ler e praticar deverá ser o lema de seu Clube

Literário.

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A LINGUAGEM

Uma das dificuldades mais visíveis na maioria de

nossos estudantes é a de diferenciar a linguagem falada da

linguagem escrita. Muitos acabam escrevendo da mesma

maneira como falam e isso compromete todas as suas

redações.

Isso não significa, absolutamente, que você deve abolir

a linguagem falada dos seus textos. Haverá momentos em

que ela poderá ser necessária e seu uso terá sentido e nexo.

Isso vai ocorrer numa narração, quando estiver contanto

uma história e precisar reproduzir a linguagem falada, como

no seguinte exemplo:

Brincadeira

— É, ué! Cê nunca brincou?

— Não.

— Por quê?

— Por quê? Porque sim.

— Sua mãe não deixa, né?

— É.

— O pai falou que cês são entojados.

— Que é entojado?

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— É pessoa que não liga pros pobre... Que tem o rei na

barriga.

— Rei na barriga?

— É, rei na barriga. Cê não sabe o que é ter o rei na

barriga?

— Não. Como é que é, conta pra mim? — virando-se

para o outro, cheio de curiosidade. O sol do meio-dia

enlanguescia a sombra do abacateiro e nem chegava a

ressecar o chão, ainda úmido. Pelo ar corria o crem-crem

cadenciado, mas não havia vestígios ainda de uma

queimada, longínqua que fosse.

— Ter rei na barriga, continuou o outro, é pensar que é

o cancã da vila, sabe, né? É pensar assim, sem ligar pros

outros.

— E nós é isso que cê falou?

— Meu pai que falou.

O menino tornou a encostar-se à cerca. Seus olhos

acompanharam uma abelha, revolutearam com alguns

urubus lá em cima, na reta dos aviões, e depois baixaram

para o cordão dos sapatos. Um graveto estalou em suas

mãos. De repente virou-se e encarou o outro, perguntando

sério:

— Cê quer ser meu amigo?

— Ué! Mas eu não sou seu amigo?

— Não, mas não amigo assim de vizinho. Amigo assim

de verdade, pra ajudar a gente, ficar perto da gente, amigo

de verdade mesmo, ara!

— Por quê?

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— Porque... ué! Porque sim! — soube somente

responder. Para que, realmente, queria um amigo?

— Cê que sabe, né.

— Mas tem de que ser amigo de verdade.

— Ah, mas não vai dar certo.

— Por quê?

— Porque cê não sai pra brincar com a gente...

— Mas amigo não é só pra brincar.

— Então pra quê?

— Pra quê? Ué, pra que sim — (para que realmente

queria um amigo?).

— Mas amigo só de nome...

— Não, não só de nome. Amigo pra ficar junto,

conversar...

— Como, ué? Cê não sai da barra da saia da sua mãe.

Parece mariquinha...

— Não é verdade, viu? — interrompeu. Na sua mão

pesava uma pedra. Para quê?

— Não?

— Não, se eu sair ela me bate.

— Não falei? Sua mãe é enjoada, não quer ver cê

brincando que nem a gente.

— Não é verdade, viu?

Recostou-se de novo, amuado, à cerca. A inutilidade da

pedra em sua mão exasperou-o. Com raiva, arremessou-a na

direção de um frangote que passava por perto. A ave, com

pulos e bater de asas, safou-se do perigo. O outro riu e

comentou:

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— Que pontaria ruim que cê tem!

(Agosto, L P Baçan)

Ao fazer uma dissertação para a sua professora,

seguramente você terá de empregar uma linguagem formal,

mais escolhida, diferente daquela que usaria para mandar

um bilhete para um amigo. Quando falamos em escrever e

escrever bem, estamos sempre nos referindo a essa

linguagem formal, onde os aspectos gramaticais e o

vocabulário são mais exigidos e empregados com correção.

Isso ocorre porque ao empregar essa linguagem, fatalmente

você está passando por um processo de avaliação, que tanto

pode ser um teste de conhecimentos em seu curso como

uma prova eliminatória num concurso público ou no

vestibular.

É por isso que frisamos sempre que toda leitura que

fizer deverá ser acompanhada de um dicionário, de forma

que você possa constantemente enriquecer seu vocabulário,

ao mesmo tempo em que vai memorizando novos

paradigmas.

E por falar em paradigmas, vamos recortar um trecho

do texto que apresentamos anteriormente.

— O pai falou que cês são entojados.

— Que é entojado?

— É pessoa que não liga pros pobre... que tem o rei na

barriga.

— Rei na barriga?

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— É, rei na barriga. Cê não sabe o que é ter o rei na

barriga?

— Não. Como é que é, conta pra mim? — virando-se

para o outro, cheio de curiosidade. O sol do meio-dia

enlanguescia a sombra do abacateiro e nem chegava a

ressecar o chão, ainda úmido. Pelo ar corria o crem-crem

cadenciado, mas não havia vestígios ainda de uma

queimada, longínqua que fosse.

— Ter rei na barriga, continuou o outro, é pensar que é

o cancã da vila, sabe, né? É pensar assim, sem ligar pros

outros.

— E nós é isso que cê falou?

— Meu pai que falou.

O menino tornou a encostar-se à cerca. Seus olhos

acompanharam uma abelha, revolutearam com alguns

urubus lá em cima, na reta dos aviões, e depois baixaram

para o cordão dos sapatos. Um graveto estalou em suas

mãos.

Aplicando o que já conhecemos sobre a utilização de

paradigmas, reescreva o texto acima, mudando as palavras

em vermelho e criando uma nova cena. Após ter feito isso,

pare e reflita por instantes. Você recriou uma cena, usando

um paradigma ou modelo. Ao fazer isso, no entanto, teve de

usar elementos de seu conhecimento. Elementos que podem

ter sido assimilados ou incorporados devido a uma

observação sua ou em decorrência de alguma coisa que

tenha lido.

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Preste atenção no seguinte trecho, retirado do texto.

O sol do meio-dia enlanguescia a sombra do

abacateiro e nem chegava a ressecar o chão, ainda úmido.

Pelo ar corria o crem-crem cadenciado, mas não havia

vestígios ainda de uma queimada, longínqua que fosse.

Para reescrevê-lo, você terá de imaginar como fica a

natureza com o sol do meio-dia e, ao mesmo tempo,

imaginar a cena completa, como a presença de algum

detalhe interessante no ar.

Vamos supor que você more na cidade e que sua

realidade seja diferente daquela narrada na história. Seu

texto poderia ficar mais ou menos assim:

O sol do meio-dia aparecia timidamente sobre a rua e

nem chegava a secar as poças de água, após o temporal.

Pelo ar corria o cheiro de cimento molhado, mas não havia

vestígios ainda de estiagem, por mais breve que fosse.

Se você morasse a beira-mar, numa aldeiazinha de

pescadores, talvez sua versão fosse esta:

O sol do meio-dia anunciava a chegada dos barcos e

nem chegava a incomodar os olhos, sempre alertas no mar.

Pelo ar corria um sentimento crescente de impaciência, mas

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não havia vestígios ainda de uma vela desfraldada, por

mais distante que fosse.

Na realidade, se você mesmo fosse reescrever algumas

vezes o mesmo paradigma, fazendo as alterações, com

certeza escreveria cenas diferentes todas as vezes. Para isso,

estaria usando a sua imaginação, empregando cenas e coisas

que já viu em sua vida ou que leu em outro texto.

Se para escrever você precisa conhecer a técnica e ter

conteúdo, podemos resumir que conhecendo vários

paradigmas e tendo conteúdo, você poderá escrever sobre

qualquer assunto. O que você não aprender pela observação,

aprenderá pela leitura, sendo que, nesta em particular, você

conta com uma vantagem adicional: conhecer novos

paradigmas ou modelos.

Observar e ler, isto é essencial para você ser um bom

escritor. Quer ver o que um especialista no assunto disse?

Leia os dois artigos a seguir. São curtos, mas muito

elucidativos.

A LEITURA

A leitura pode ser considerada como a própria fonte de

todos os processos de assimilação do estilo; engendra-os e

resume-os.

A leitura forma as nossas faculdades, faz que as

descubramos, desperta as ideias, alenta a inspiração. É pela

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leitura que nascemos para a vida intelectual. É após a leitura

que nos tornamos escritores. Ensina-nos a arte de escrever

como nos ensinam a gramática e a ortografia.

A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre a alma

como o pão nutre o nosso corpo. Dizia Napoleão I,

referindo-se a Hudson Lowe, que o coibia dos seus passeios:

— Este homem devia compreender que o exercício é

tão necessário aos meus membros, como a leitura ao meu

espírito.

Alphonse Karr chamou à leitura "uma ausência

agradável de nós próprios".

Os grandes escritores passaram a metade da sua vida a

ler.

Dizia Montesquieu:

— Um quarto de hora de leitura consola-me de

qualquer desgosto.

Um livro é um amigo com que se pode contar sempre.

Alphonse Daudet aconselhava a um confrade,

vergando à dor de um grande luto:

— Leia muito!

(A Formação do Estilo, Antoine Albalat)

DEVEMOS ESCREVER?

"Uma pergunta nos ocorre desde já: devemos escrever?

Não será mau serviço favorecer as tendências para se cobrir

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de letras o papel? Não haverá já bastante escritores? Será

preciso avisarmos o que escrevem mal?

Estamos inundados de livros. Que será a literatura,

quando toda a gente a praticar? Ensinar a escrever não será

impelir o próximo a publicar tolices? Não será baixar a arte

o pô-la ao alcance de todos, e não a amesquinharemos,

tornando-a mais acessível? Eu própria protestei, numa obra

especial, contra essa doença de escrever, que nos invade e

que faz desanimar o público.

Há nisso evidentemente um perigo, mas o abuso de

uma coisa não prova que ela seja má. Todos falam, mas nem

todos são oradores. Vulgarizam-se a pintura, mas nem todos

são pintores. Nem todos os músicos, compõem óperas.

É excelente ensinar-se a escrever, tanto pior para

aqueles que degradem o mister. De mais, aqueles que

quiserem seguir nosso conselho deverão aplicar-se a

escrever bem, e aqueles que se aplicarem, serão obrigados a

escrever pouco.

Além disso, podemos escrever, não só para o público,

mas para nós próprios, para satisfação pessoal. Aprender a

escrever bem é aprender a julgar os bons escritores.

Primeiramente, haverá a vantagem da leitura.

A literatura é um atrativo, como a pintura e a música,

uma distração nobre e permitida, um meio de tornar

agradável as horas da vida e os enfados da solidão."

(Arte de Escrever, Antoine Albalat)

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Como se vê, aprender a ler é o primeiro caminho para

aprender a escrever. Observar as coisas ao seu redor o

tempo todo, com olhos críticos e sensíveis ao mesmo tempo,

vai lhe dar elementos para empregar em suas futuras

redações.

Quando mencionamos a leitura e a observação, assistir

aos noticiários na televisão, principalmente dos

apresentadores que comentam a notícia, dará elementos para

compreender o mundo que o cerca, formar opinião a

respeito dos mais diferentes assuntos e fornecerá, por fim,

constantes e renovados paradigmas para serem usados.

Por exemplo: o que você diria se fosse levado a um

programa de auditório, na televisão, e um microfone fosse

colocado diante de seu rosto. Para tornar isso mais divertido,

assinale uma das opções abaixo:

( ) - Perderia a fala e ficaria com tremedeira.

( ) - Chamaria a mamãe.

( ) - Sairia correndo.

( ) - Procuraria me acalmar e pensar num paradigma

qualquer.

Se você escolheu a quarta alternativa, teria dito algo

mais ou menos parecido com isto:

"Bom dia (boa tarde ou boa noite) telespectadores

deste maravilhoso programa. É uma prazer enorme estar

aqui com vocês e com este (esta) apresentador(a)

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sensacional, que diariamente nos enche de alegria com suas

brincadeiras e com sua presença encantadora."

E se fosse um programa de rádio?

Fácil também!

"Bom dia (boa tarde ou boa-noite) ouvintes deste

maravilhoso programa. É uma prazer enorme estar aqui

com vocês e com este (esta) locutor(a) sensacional, que

diariamente nos enche de alegria com suas brincadeiras e

com sua presença encantadora."

E se você fosse convidado a saudar os participantes de

uma gincana de sua escola?

Igualmente fácil!

"Bom dia (boa tarde ou boa noite) participantes desta

maravilhosa gincana. É um prazer enorme estar aqui com

vocês e com esta turma sensacional, que sempre nos enche

de alegria com suas brincadeiras e com sua presença

encantadora."

Percebeu as vantagens de se conhecer mais e mais

paradigmas e poder empregá-los em qualquer situação com

correção e estilo, transmitindo sua mensagem ou realizando

sua tarefa de forma simples e objetiva?

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Para isso, é preciso ler e observar! E diferenciar a

linguagem escrita formal ou literária da linguagem oral,

usada no seu dia-a-dia. Nesta o compromisso maior é

traduzir necessidades naturais e imediatas, de forma prática,

sem preocupações maiores com a língua e com os aspectos

estéticos ou literários.

Na linguagem oral ou informal você usa construções

típicas de seu grupo, como as gírias, ou de sua região, como

o linguajar do gaúcho, do paulista, do carioca ou do

nordestino. Ela é reforçada afetiva e emocionalmente com

construções, como o uso do diminutivo ou de expressões

como aquelas empregadas em relação a uma criança e até de

expressões técnicas, conhecidas apenas por profissionais de

uma determinada área.

Todos esses aspectos podem e devem ser registrados,

mas dificilmente serão conhecidos e entendidos em outras

regiões de um mesmo país, que dirá de países diferentes. Ao

aprender a escrever, é preciso que você aprenda a escrever

usando a língua nacional, entendida em qualquer canto do

país e até por estrangeiros que aprendem a nossa língua.

Gírias, regionalismos e linguagem técnica podem ser um

grande empecilho ao completo entendimento de seu texto.

Quando você escrever, esforce-se para ser entendido por

todos ou pela grande maioria. Vocabulário rebuscado nunca

foi sinônimo de cultura e erudição. Se o fosse, o autor do

texto abaixo teria recebido um Prêmio Nobel de Literatura.

Leia e aprecie:

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Depoimento de um homem numa delegacia de polícia

"Preclaro bacharel: um larápio, numatizando-se na

caliginosidade da noite transacta, insuflou-se

sorrateiramente em meu tugúrio e surrupiou, de sob o meu

catre, o meu bispote doirado, instrumento com o qual

degluto contumazmente a minha infusão de drupas

elipsoides ou globosas, vermelhas, com escassa polpa

adocicada e duas grandes sementes, torradas e moídas,

como soem deglutir os de minha estirpe."

Entendeu? Consulte seu dicionário para entender o que

foi dito.

Deixando agora de lado os exageros do texto anterior, é

preciso que você jamais se esqueça de que sempre haverá

uma palavra exata para transmitir seu pensamento da

maneira mais simples e eficaz. Pode ser difícil encontrá-la,

pois a tendência de todo aquele que começa a escrever é

buscar as palavras difíceis, comprometendo o sentido. Mais

tarde, fará inevitavelmente o caminho de volta, buscando a

linguagem simples, despojada, mas exata e correta para a

sua comunicação.

Façamos outro teste agora. Escreva 30 linhas, contando

as atividades de um velho, do momento em que ele se

levanta da cama até ir se sentar num banco, na praça de sua

cidade, onde ficará olhando o prédio da igreja. Inclua um

pequeno diálogo, de forma a criar um pequeno conto.

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Se já fez o exercício, veja como eu o fiz. Observe que a

linguagem é simples, sem rebuscamento, facilmente

entendível:

O Velho

"A carapinha desbotada emergiu vagarosamente do

travesseiro. Sentou-se, pés à caça dos chinelos. A cada dia

ficava mais difícil encontrá-los.

Vestido, arrastou-se até a cozinha.

— Dia, Cido! Dia, Zefa!

Pouco falavam. Quarenta anos de casamento ensinaram

o significado das coisas: cada gesto, cada olhar, cada mover

de músculos.

À porta, cumprimentou o dia e espreguiçou-se

dolorosamente. Foi até a bacia, no tanque. Lavou o rosto.

Depois foi à privada. Quando voltou, sentou-se à porta. Ela

estendeu a caneca de café. Ele olhou o céu cinzento,

anunciando a estação das águas.

Ela olhou na mesma direção: o que você vai fazer

hoje?

Ele deu de ombros: zanzar por aí.

Desinteressada: e o dinheiro da aposentadoria?

Alheio: já tirei.

Terminou o café ralo. Deixou a caneca. Caminhou

perdido pela casa. Apanhou o chapéu. Saiu. O vento fresco

agitou a camisa contra o peito magro. Parou, como sempre,

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na praça da matriz. Sentou-se num dos bancos. Ficou

olhando a construção.

(Sassarico, L P Baçan)

Em menos de 30 linhas foi feita a tarefa. Essa lição é

importante para você se lembrar de que, quando soltar a

imaginação para descrever, narrar ou dissertar sobre alguma

coisa, você terá de usar seu poder de síntese ou selecionar

quais aspectos serão ou deverão ser ressaltados. Nem tudo

que o velho fez após acordar é interessante, mas nessas

linhas, além de descrevê-lo como um velho (carapinha

desbotada), foram acrescentados outros aspectos, como o

corpo dolorido (espreguiçou-se dolorosamente), sua

aposentadoria, sua falta de ação ou atividade (caminhou

perdido pela casa) e que era pobre (terminou o café ralo) e

magro (o vento fresco agitou a camisa contra o peito

magro).

É interessante notar que o texto apresentou o essencial

da história, mas você pode interpretá-la ou desenvolvê-la

através de inúmeros comentários e observações. Veja, por

exemplo, o momento do diálogo dele com a esposa. Imagine

a cena. Imagine duas pessoas que convivem juntas há mais

de quarenta anos. É praticamente uma vida. O entendimento

já dispensa as palavras. Basta um olhar para o outro para

perceber alterações, problemas, mudanças de humor, saúde

e tudo o mais.

Vá um pouco mais longe. Imagine um velho,

aposentado e pobre, sem nada para fazer na vida a não ser

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apenas sobreviver com os magros recursos de sua

aposentadoria. Imagine o tédio e, ao mesmo tempo, as

pequenas coisas que faz para passar o tempo. Como se sente

uma pessoa assim? Quais são seus projetos de vida? O que

espera do futuro? O que lhe dá satisfação? O que lhe traz

algum prazer na vida?

Para cada uma dessas respostas, você tem uma história

e é isso que torna o ato de escrever importante. Chamar a

nossa atenção ou a atenção dos outros para esses pequenos,

mas importantes, aspectos da vida e da condição do ser

humano.

Essas características do texto você pode levar para uma

dissertação facilmente e isso só é possível quando você tem

conteúdo ou conhecimento para transmitir, fruto de suas

observações ou de suas leituras. Quer saber como? Vejamos

como exemplo um trecho de um texto já apresentado

anteriormente:

"A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre a alma

como o pão nutre o nosso corpo." Dizia Napoleão I,

referindo-se a Hudson Lowe, que o coibia dos seus

passeios:

— Este homem devia compreender que o exercício é

tão necessário aos meus membros, como a leitura ao meu

espírito.

Alphonse Karr chamou à leitura "uma ausência

agradável de nós próprios".

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Os grandes escritores passaram a metade da sua vida

a ler.

Dizia Montesquieu:

— Um quarto de hora de leitura consola-me de

qualquer desgosto."

Lembra-se desse texto, não? Observe como o autor faz

uma afirmação (A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre

a alma como o pão nutre o nosso corpo.), depois apresenta

rapidamente alguns argumentos para comprovar sua

afirmação. Para isso, cita um exemplo histórico (Napoleão

I), um exemplo literário (Alphonse Karr chamou à leitura

"uma ausência agradável de nós próprios."), refere-se aos

grandes escritores e transcreve uma citação de Montesquieu.

Com esses aspectos, confirma sua afirmação de que a leitura

faz bem para o corpo (tão importante quanto o exercício

físico para Napoleão I) e para a alma (consola de qualquer

desgosto, segundo Montesquieu).

Obviamente, para fazer essas citações e buscar esses

exemplos, o autor teve de ler a respeito. Veja como isso é

importante, pois agora você já conhece essas citações e

esses personagens. Pode usá-los futuramente em uma

redação em que sejam aplicados. Percebeu a vantagem da

leitura? Sem contar que você tem mais alguns paradigmas

para usar.

Quer ir além? Descubra inicialmente quem foram esses

personagens: Antoine Albalat, Napoleão I, Alphonse Karr e

Montesquieu. Depois, procure descobrir mais algumas

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citações a respeito da importância da leitura, anotando-as,

bem como o nome do seu autor e obra de onde foram

retiradas. Poderão ser úteis, quando tiver de falar a respeito

do assunto.

Esse exemplo a respeito da leitura pode ser estendido a

todo e qualquer outro tipo de assunto. Organizar fichários

com citações, além de ser muito divertido, pode enriquecer

seu vocabulário e seus paradigmas. Você pode trocá-las com

seus amigos do Clube Literário ou com seus colegas de

escola. Se tiver um computador, organize um arquivo por

ordem alfabética de assunto. Se não tiver, use um fichário

comum, um caderno com divisões em ordem alfabética.

Vamos fazer mais um exercício? Apenas praticando

você atingirá a perfeição. Usaremos o mesmo trecho acima,

novamente marcando em vermelho as palavras que devem

ser alteradas.

"A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre a alma

como o pão nutre o nosso corpo". Dizia Napoleão I,

referindo-se a Hudson Lowe, que o coibia dos seus passeios:

— Este homem devia compreender que o exercício é

tão necessário aos meus membros, como a leitura ao meu

espírito.

Alphonse Karr chamou à leitura "uma ausência

agradável de nós próprios".

Os grandes escritores passaram a metade da sua vida a

ler.

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Dizia Montesquieu:

— Um quarto de hora de leitura consola-me de

qualquer desgosto.

Substitua a leitura por qualquer outro assunto,

reescrevendo o texto de forma coerente. Para isso, terá de

encontrar três citações: a primeira para substituir a de

Napoleão I, a segunda para a de Alphonse Karr e a última

para a de Montesquieu.

Você pode falar sobre a mentira, a vaidade, a violência,

a ignorância, a caridade, o vício, a preguiça, o medo ou

qualquer outro tema. E já que o assunto é leitura, vamos um

pouco mais longe com isso. Você já deve ter ouvido falar

sobre livros cuja leitura é necessária para enfrentar o

vestibular.

Você já deve ter lido alguns deles ou com certeza irá

lê-los no futuro. Talvez porque goste de leitura, talvez

porque isso será preciso. Não importa a sua motivação para

isso, mas o que importa é que, ao ler cada um desses livros

ou simplesmente ao ler qualquer livro, você deve organizar

uma espécie de arquivo, com as informações básicas a

respeito dele, de forma a poder lembrar-se dessa leitura, a

qualquer tempo, com uma consulta a essas anotações.

A melhor forma de fazer isso é usando uma ficha de

leitura. Há diversos modelos para isso e, para que você

inicie de forma correta e completa o seu arquivo, vou

fornecer-lhe dois modelos e você pode escolher um ou

adaptá-lo conforme sua conveniência. Preenchendo-o você

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terá as informações mais importantes a respeito de uma

determinada leitura, livro, autor ou personagens. Nesse caso,

as fichas de leitura também podem ser trocadas em seu

Clube Literário, numa atividade complementada por

pequenas palestras dadas por quem fez a ficha. É uma forma

de repartir conhecimentos e aumentar seu repertório. Ao

ouvir falar do livro, com certeza vai acontecer o seguinte:

você desejará ler o livro também e isso será muito bom.

Vejamos os modelos de fichas, então!

Roteiro para Análise de Obra Literária

Autor

Obra

Personagens

Principais e secundários.

Enredo

Resumo geral e por capítulos.

Caracterização das personagens

Perfil físico e psicológico de cada personagem do livro.

Temas

Principal e secundários.

Tempo

Quando ocorre a história?

Estilo

Estrutura - conto, novela ou romance.

Técnicas da narração - o que chama a atenção na forma

em que o texto é narrado?

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Linguagem Empregada

Ressalte aspectos interessantes do vocabulário e das

expressões usadas pelo autor e anote citações que possam

ser usadas futuramente em suas próprias redações.

Opinião Pessoal

Conclusões Pessoais

Outra sugestão é esta ficha de leitura igualmente

útil.

Roteiro para Leitura de Textos

Primeira leitura

Compreensão do conjunto

Segunda leitura

Divisão em partes

Retirada dos termos acessórios

Copiar o texto, excluindo os termos supérfluos,

deixando apenas aqueles essenciais à compreensão

Terceira leitura

Resumo das ideias principais

Resumo das ideias secundárias

Estrutura utilizada

Gênero, forma, aspectos gramaticais e outros

Enredo

Forma de apresentação e desenvolvimento do enredo

Encaminhamento do desfecho ou da conclusão

Aspectos relevantes

Conclusão pessoal

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CLASSES DE PALAVRAS

Para escrever bem, você precisa ter um bom

vocabulário, ler e observar para ter conteúdo e conhecer e

aplicar as estruturas da língua adequadamente, seja

utilizando paradigmas, seja dominando os aspectos

principais da gramática.

Estudar gramática pode ser um tormento ou uma

aventura fascinante. Muito mais do que um desfilar de

regras e exceções, esse estudo proporciona um arsenal

invejável a quem gosta, deseja ou precisa aprender a

escrever.

Sabe por quê?

Porque ao invés de ficar copiando e imitando

paradigmas alheios, você poderá criar seus próprios

paradigmas. Não seria realmente sensacional?

Quer uma amostra?

Para escrever, você precisa dominar o uso de duas

classes de palavras: substantivos e verbos.

Por quê?

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Simplesmente porque os substantivos são utilizados

para formar o sujeito e os complementos e o verbo é

utilizado para forma o predicado. Sujeito, predicado e

complementos formam as orações. Orações formam

períodos. Períodos formam parágrafos. Parágrafos formam

capítulos e vai por aí a fora.

Voltemos, porém, ao básico: substantivo e verbo.

Vamos começar por aí.

Vamos ver o que o nosso Dicionário Aurélio

Eletrônico diz a respeito dessas palavras:

"Substantivo - Gramática: Palavra com que se nomeia

um ser ou um objeto (substantivo concreto), uma ação,

qualidade, estado (substantivo abstrato), considerados

separados dos seres ou objetos a que pertencem."

Substantivo comum: denota os seres de uma espécie

em sua totalidade.

Substantivo próprio: denota um ser específico entre

todos os de uma espécie.

"Verbo - Gramática: Palavra que designa ação, estado,

qualidade ou existência de pessoa, animal ou coisa."

Vamos entender bem alguns conceitos. Para isso,

responda rápido?

O que todo mundo tem e até o nada tem?

Resposta: um nome.

E toda palavra usada para dar nome a um ser, objeto,

ação, qualidade ou estado é um substantivo.

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Conhecendo essas classes de palavras, podemos formar

uma série infinita de paradigmas.

Quer ver como?

substantivo

(sujeito)

Gatos

verbo

(predicado)

odeiam

substantivo

(complemento)

ratos.

Crianças fazem bagunça.

Pedro ama Maria.

Usando esses paradigmas simples, com apenas duas

classes de palavras, você pode criar um texto.

Logicamente será um texto limitado, mas você poderá

dar seu recado ou contar sua história tranquilamente.

Não teremos uma obra prima literária digna de elogios,

porque resultará em algo mais ou menos parecido com isto:

Pedro e Maria

Pedro ama Maria. Maria gosta de Pedro. Pedro

mandou flores. Maria recebeu flores. Maria aprecia flores.

Ao escrever dessa forma, você percebe que uma das

primeiras coisas que incomodam e limitam a elaboração do

texto é necessidade de ficar repetindo nomes. Pedro aparece

três vezes. Maria aparece quatro vezes. Flores aparece três

vezes. Tudo isso num trecho muito curto.

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Como lidar com isso?

É simples!

Basta usar outra classe de palavras, os pronomes, cuja

função principal é justamente a de substituir os nomes.

Vamos consultar nosso dicionário para saber um pouco

mais sobre o assunto!

Pronome - Gramática: palavra que substitui o

substantivo, ou que o acompanha para tornar-lhe claro o

significado.

Essas classes de palavras são matéria do primeiro grau

e com certeza você deve já deve tê-las estudado ou ainda vai

estudar. Quando isso acontecer, fique atento às explicações

de seu professor de gramática, pois o conhecimento desse

assunto é muito importante para o desenvolvimento de sua

redação.

Isso nos leva a outra providência que será sempre

muito útil para você, ao elaborar suas redações. Tanto

quanto ter sempre consigo um dicionário, é da máxima

importância que você tenha também uma gramática ou

reúna seus livros escolares que tratam do assunto, para

poder consultá-los sempre que necessário.

Com o passar do tempo e a evolução dos seus estudos,

você verá que conhecer a gramática não é tão difícil assim.

Empregá-la corretamente desde o princípio do seu

aprendizado vai tornar suas redações futuras uma tarefa

cada vez mais fácil.

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Sabendo agora que o pronome substitui o nome,

podemos usá-los para melhorar o nosso texto inicial. Vamos

ver como fica?

Pedro e Maria

Pedro ama Maria. Ela gosta dele. Pedro mandou

flores. Ela as recebeu. Maria aprecia flores.

As repetições diminuíram, mas ainda surgem no texto.

Essas repetições indicam um estilo pobre e um vocabulário

limitado. Como você já tem um vocabulário razoável e quer

enriquecer seu estilo, você pode substituir nomes por

pronomes, mas pode substituir as palavras por sinônimos ou

que levem ao mesmo significado.

Entendeu isso?

Pedro pode ser um jovem, um homem, um rapaz, um

garoto, um aluno, um professor ou outro nome que você

queira atribuir a ele.

Com Maria acontece a mesma coisa. Ela pode ser uma

jovem, uma moça, uma mulher, uma namorada, uma noiva,

uma esposa ou outra coisa.

As flores podem ser margaridas, rosas, cravos, violetas

ou qualquer outra.

Com isso em mente, vamos enriquecer nosso texto?

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Pedro e Maria

Pedro ama Maria. A jovem gosta dele. O rapaz

mandou rosas. A garota recebeu-as. Ela aprecia flores.

Leia o trecho da forma como foi escrita inicialmente.

Agora releia o texto acima.

Percebeu a diferença entre os dois?

O segundo é muito mais rico e agradável, sem

repetições que o tornam mecânico e sem beleza.

Mas...

O que é mais importante! Os dois dizem a mesma

coisa! Um de um modo rudimentar, outro com certo estilo.

Assim, nossos paradigmas iniciais podem ser

ampliados.

Poderemos ter:

Sujeito

Substantivo/pronome

Sinônimo

Predicado

Verbo

Sinônimo

Complemento

Substantivo/pronome

Sinônimo

A língua portuguesa é muito rica e tem outras classes

de palavras que podem vir se juntar aos nossos paradigmas,

tornando-os ainda mais expressivos.

Quando você pensa numa flor, automaticamente vem a

sua mente algumas qualidades ou atributos comuns a todas

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as flores, como o colorido, o perfume, a beleza e coisas

assim.

Quando você fala de uma pessoa, lembra-se de suas

qualidades e defeitos.

Como fazemos para destacar esses aspectos?

Fácil!

Acho que você já deve ter se lembrado de uma classe

de palavra capaz de proporcionar isso, não é? São os

adjetivos! Vamos ver o que sobre isso encontramos no

dicionário Aurélio Eletrônico!

Adjetivo - Gramática: palavra que caracteriza os seres

ou os objetos nomeados pelo substantivo, indicando-lhes

uma qualidade, caráter, modo de ser ou estado; p. ex.:

pessoa caridosa, mulher honesta, boa casa, céu nublado.

Lembra-se dos adjetivos?

Que tal usar alguns deles para enriquecer nosso texto e

treinarmos um pouco?

Nossa redação poderia ficar assim, por exemplo:

Pedro e Maria

Pedro ama Maria. A linda jovem gosta dele. O

simpático rapaz mandou rosas sem espinho. A adorável

garota recebeu-as. Ela aprecia flores perfumadas.

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O que achou agora?

Não ficou um texto mais rico e significativo? Estamos

acrescentando detalhes que permitem ao leitor formar as

imagens contidas nessa pequena história.

Você se lembra do texto sobre o velho, no capítulo

anterior? Detalhes importantes foram acrescentados sobre

ele com simples adjetivos, uma classe de palavras muito

útil, mas muito perigosa também, principalmente quando o

autor se deixa levar pela empolgação e chega ao exagero.

Esse é um risco que você não deve correr, procurando

desde o princípio policiar-se e apenas utilizar aqueles

adjetivos que são realmente importantes e necessários para

transmitir as imagens que você deseja. Se não fizer isso,

pode acabar escrevendo alguma coisa parecida com isto:

Pedro e Maria

O belo e maravilhoso Pedro ama a simpática e

atraente Maria. A linda e delicada jovem gosta dele. O

imprevisível e galanteador rapaz mandou rubras rosas

perfumadas. A estupefata e maravilhada garota recebeu-as.

Ela aprecia flores delicadas e odorosas.

Nosso texto não ficou parecido com aquele do

"preclaro bacharel"? Ficou rebuscado e piegas?

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Antes de concordar, consulte o dicionário para saber o

que significa exatamente a palavra piegas. Este é um hábito

que você deve manter sempre em ação.

Você percebeu que seu texto pode ser enriquecido com

o uso adequado dos adjetivos, que embelezam os

substantivos. E quanto aos verbos? E se quisermos ressaltar

uma ação ou uma qualidade, o que podemos fazer? Há

algum tipo de adjetivo para ser usado com o verbo?

Bem, certamente temos uma classe de palavras capaz

de fazer isso. Você já sabe qual é? Falou advérbio? Acertou!

É uma classe de palavras muito poderosa, pois não se limita

a modificar apenas um verbo. Ela vai além disso. Para

descobrir até onde, vamos ver o que diz o nosso dicionário

Aurélio.

Advérbio - Gramática: palavra invariável que modifica

um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, exprimindo

circunstância de tempo, lugar, modo, dúvida, etc.

Antes de continuarmos, preste atenção a um segredo

simples que vai livrar você de muitos problemas no futuro.

Na definição de advérbio vemos uma expressão

interessante: palavra invariável. Sabe o que isso significa?

Exatamente!

Trata-se de uma palavra que não varia, não tem

feminino nem masculino, singular nem plural. Você não diz:

elas são muitas bonitas, ou eles são muitos bonitos. Diz

apenas elas são muito bonitas ou eles são muito bonitos.

Ao acrescentarmos advérbios ao nosso texto, não

apenas modificando os verbos, mas também os adjetivos,

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poderemos enriquecer ainda mais o nosso texto, ampliando

o alcance de nossa história.

Quer ver como isso pode acontecer?

Pedro e Maria

Pedro ama muito Maria. A linda jovem gosta demais

dele. O simpático rapaz mandou ontem rosas sem espinho.

A adorável garota recebeu-as alegremente. Ela sempre

aprecia flores perfumadas.

O que achou?

Não ficou melhor, muito mais rico, mais cheio de

detalhes, permitindo que as imagens sugeridas sejam mais

completas? Isso significa que o estilo empregado no texto

evoluiu, agregando novos conhecimentos. O paradigma ou

modelo é o mesmo do início. Todos eles dizem a mesma

coisa, mas a forma como isso é feita é que faz diferença.

O nosso texto experimental, como você pode observar,

é todo construído com períodos simples. Há até um nome

para esse tipo de oração. Ela é chamada de oração absoluta.

Você pode escrever um texto inteiro com orações absolutas.

Mas... se quiser enriquecer seu estilo, poderá uni-las. O que

não é difícil. Elas podem se manter independentes, sendo

chamadas de assindéticas. Nesses casos, é fácil reconhecê-

las: são separadas por vírgula, como no exemplo a seguir,

baseado no texto com que estamos trabalhando:

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Pedro e Maria

Pedro ama muito Maria, a linda jovem gosta demais

dele. O simpático rapaz mandou ontem rosas sem espinho,

a surpresa garota recebeu-as alegremente, ela sempre

aprecia flores perfumadas.

O texto continua legível. Dá para entender o sentido,

mas ficou um tanto estranho, você não achou? Nós podemos

melhorar, usando agora orações unidas ou coordenadas

entre si. Esse tipo de oração é chamado de coordenada

sindética.

Coordenada é uma palavra derivada do verbo

coordenar. Para entender melhor esse processo, vamos ver

no dicionário o que significa coordenar?

Coordenar - Verbo: 1. Dispor segundo certa ordem e

método; organizar; arranjar. 2. Ligar, ajuntar por

coordenação.

Um detalhe importante no sentido do verbo coordenar

é o de exigir certa ordem ou método. Assim, ao coordenar

orações, é preciso que você faça isso seguindo uma

determinada ordem para que o sentido não seja prejudicado.

Ao unir orações coordenadas, você pode ordená-las

conforme o sentido delas. Pode somar ideias semelhantes,

pode juntar ideias opostas, pode alternar ideias, pode

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apresentar uma conclusão ou pode usar uma oração para

explicar a outra. Cada um desses tipos de orações recebe um

nome. Se você ainda não estudou isso nas aulas de língua

portuguesa, logo o fará. Caso já o tenha feito, consulte sua

gramática para reavivar a memória.

De qualquer forma, essas orações coordenadas são

chamadas de:

Aditiva: Como o próprio nome já diz, essa oração

acrescenta uma ideia semelhante à oração anterior. Por

exemplo: Pedro ama muito Maria e a linda jovem gosta

demais dele. Outro exemplo: Não brigam nem discutem

jamais.

Adversativa: Aqui o sentido é diferente. A ideia é

adversária, contrária ou oposta à da oração anterior. Por

exemplo: Pedro ama muito Maria, mas a linda jovem não

gosta mais dele. Ou: Não brigam, mas discutem sempre.

Alternativa: Este tipo de oração revela uma alternativa

em relação à oração anterior. Exemplo: Brigam ou discutem

o tempo todo. Outro exemplo: Ora ele manda flores, ora

manda presentes.

Conclusiva: A segunda oração apresenta uma

conclusão em relação à primeira. Exemplificando: Pedro

está infeliz, pois sofre. Ou: Maria é mulher, logo é mais

sensível.

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Explicativa: Finalmente, como o próprio nome já diz,

a segunda oração é uma explicação da primeira. Quer um

exemplo? Não fale mal de Maria, porque Pedro gosta muito

dela. Ou então: Pedro mandou flores, porque está

apaixonado.

Você percebeu que, do início do capítulo até agora, já

reuniu elementos capazes de transformar um texto rústico

numa peça literária significativa? Vamos ver o que

poderemos fazer, acrescentando os conhecimentos agora

adquiridos sobre as orações coordenadas.

Como ficaria nosso texto agora?

Eu faria algo assim!

Pedro e Maria

Pedro ama muito Maria e a linda jovem gosta demais

dele. O simpático rapaz ora manda rosas sem espinho, ora

remete presentes. A surpresa garota recebe-as alegremente,

pois aprecia flores perfumadas e surpresas.

Isso é muito diferente do texto original, não concorda?

Já que estamos nesse terreno, vamos avançar só um

pouquinho mais. Você se lembra como os substantivos são

importantes para formar as orações? Percebeu como os

adjetivos e os advérbios acrescentam riqueza e significado

ao texto?

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Ao usar um substantivo, um adjetivo ou um advérbio,

normalmente você usa uma palavra ou uma expressão. Se

quiser sofisticar um pouco mais, você pode usar uma oração

ao invés de uma palavra. Nesses casos, você estará usando

orações subordinadas substantivas, adjetivas ou adverbiais.

É fácil de entender, não?

Vejamos alguns exemplos:

Ao invés de dizer Pedro ama muito Maria e a bela

jovem gosta demais dele, você pode dizer Pedro ama muito

Maria, que é uma bela jovem. Neste caso, usei uma oração

subordinada adjetiva para qualificar Maria.

Conhecendo essa matéria — a subordinação — você

estará acrescentando elementos novos e importantes ao seu

conhecimento e isso seguramente tornará mais fácil seu

trabalho na elaboração de redações futuramente.

Como esse é um assunto que possivelmente você ainda

não tenha estudado, espere o momento oportuno para tirar

todas as suas dúvidas com seu professor e explorar ao

máximo esse poderoso recurso. Se já o estudou, pegue sua

gramática e faça uma revisão do assunto, sempre pensando

na aplicação prática dessas preciosas informações.

Além disso, procure conhecer ou revisar

conhecimentos a respeito das outras classes de palavras e

sobre os demais termos da oração.

Após este capítulo, você já poderá criar períodos

compostos, juntando orações. Com isso, terá novos

paradigmas.

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Digamos agora que tudo isso que você aprendeu são

ferramentas que podem ser usadas na construção de um

texto. Vamos dar um modelo e você vai elaborar uma

redação.

O tema é simples: uma rosa. Para construir o texto,

preencha os espaços em branco antes e depois das palavras

em destaque, usando substantivos e verbos, juntando

adjetivos e advérbios para enriquecer o texto.

Uma rosa

e

mas

pois

logo

nem

e

Como ficou seu texto? Quer saber como eu faria? Eu

pensaria em algo mais ou menos assim:

Uma rosa

Uma rosa é um presente delicado e as mulheres gostam

disso. Dê uma rosa ao seu amor, mas faça disso um

momento especial. Seja gentil, pois isso conta muito.

Agrade, logo será agradado também. Nem você esquecerá

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esse momento nem a outra pessoa o fará. Dê uma rosa e

receberá amor em troca.

No começo isso pode parecer difícil. Com a prática,

isso vai se tornar cada vez mais fácil. Para ajudar você nessa

tarefa, use o modelo acima para escrever sobre os seguintes

assuntos:

A rua onde moro

Uma criança

Meus amigos

O programa do Ratinho

Meu maior medo

O mar

Procure aplicar todos os conhecimentos já adquiridos e,

se for preciso, comece escrevendo o texto da forma

rudimentar, como fizemos neste capítulo, depois vá fazendo

as alterações até chegar à última etapa.

É claro que o exercício visa apenas desenvolver suas

habilidades e o produto deles não pode ser considerado uma

redação acabada. Isso porque precisamos observar alguns

aspectos muito importantes de toda redação. Ao partir de

um tema e desenvolver uma dissertação completa, por

exemplo, precisamos pensar numa estrutura um pouco mais

complexa, mas sem oferecer maiores dificuldades, desde

que você a entenda corretamente.

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Estamos falando da estrutura básica de todas as

redações: início, meio e fim, ou apresentação,

desenvolvimento e conclusão, ou isso dito em outras

palavras.

Por fim, vamos considerar como redação a descrição, a

narração, a dissertação e a correspondência.

Tudo bem para você?

Então relaxe!

Só vamos falar sobre isso no próximo capítulo.

Enquanto isso, leia o conto que apresento em seguida,

depois treine, usando-o como paradigma e reescrevendo a

história algumas vezes.

Gatos Miando na Noite

Pai — Por que esses gatos miam toda noite?

Filhinho — De certo eles sentem frio ou trazem

alimentos para os gatinhos e os estão procurando.

Pai — Então por que os gatinhos também miam?

Filhinho — Por certo eles sentem saudade de sua

mamãe e de seu papai. Talvez eles tenham ido buscar

alimentos e só voltem à noite.

Pai — Os gatos podem miar de alegria e de tristeza.

Filhinho — Alegria quando acham alimento e tristeza

quando não encontram?

Pai — Acho que sim. Se eles voltam sem alimentos à

noite, os gatinhos morrem de fome.

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Filhinho — Então gato é que nem boia-fria?

(L P Baçan, A Cidade dos Braços Mortos)

Antes de iniciar seu trabalho, faça uma pesquisa a

respeito dos boias-frias.

Vamos treinar um pouco com poemas?

Faça o mesmo com eles, usando o modelo de cada um

para fazer seus próprios poemas.

Rendição

Sem clamor

sem choro

sem pirraça

Apenas estático

no tremor de sua passagem:

rosa passageira

no meu jardim

de brisa.

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TIPOS DE REDAÇÃO

Vamos aprender um pouco mais sobre os tipos de

redação, citados no capítulo anterior.

A Descrição

Como sempre recomendamos, vamos verificar

primeiro o significado desta palavra no dicionário Aurélio

Eletrônico. Temos:

Descrição: 1. Ato ou efeito de descrever. 2. Exposição

circunstanciada feita pela palavra falada ou escrita.

Enumeração, relação.

Ficou claro?

Descrever é expor ou detalhar, usando as palavras.

Podemos fazer isso em relação a uma cena, a um ser, a um

objeto, a um cenário, a uma ação ou a qualquer outra

circunstância. Mas... Por onde começar?

Boa pergunta! A maneira mais fácil de começar é

explorar os cinco sentidos — visão, audição, tato, olfato e

paladar —, seguindo um determinado paradigma ou modelo.

Tendo isso em mente, você será capaz de fazer qualquer tipo

de descrição e isso não é uma afirmação gratuita: é um fato.

Vamos imaginar o seguinte paradigma para a descrição

de uma cena. Imaginemos um campo cheio de flores

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perfumadas e frutas, com árvores, pássaros e tudo o mais

proporcionado pela natureza.

Para começar, vamos formular algumas perguntas que

poderão ser as mesmas em todas as situações.

1 - Como cheguei a este local ou a este ponto?

2 - O que estou vendo? (à direita, à esquerda, no alto,

no centro, embaixo, próximo, afastado, ao longe, no céu, no

mar, em primeiro plano, em segundo plano...)

3 - O que estou ouvindo?

4 - Que sensações (tato) teria se tocasse? (a flor, a

grama, a fruta...)

5 - Que cheiros ou perfumes estou sentindo?

6 - Que sabores eu posso sentir?

7 - Que impressão geral isso provoca em mim?

8 - Como eu resumiria isso?

Ao responder essas perguntas, seja original e criativo,

fugindo do lugar comum e do óbvio. Procure fazer uma

descrição viva, animada e realista, sem ater-se aos aspectos

negativos nem ao vulgar.

Vamos fazer um exercício? Imagine a cena do campo,

com árvores, flores, pássaros, perfume, ruídos e tudo o mais

que puder se lembrar. Depois siga o roteiro, respondendo às

perguntas. Para facilitar, coloque cada resposta num novo

parágrafo. Mãos à obra! Já está pronto? Leia e releia sua

descrição, eliminando as repetições, acrescentando aqui um

adjetivo significativo, retirando outro dali, pondo um

advérbio para esclarecer ou modificar e... pronto! Você tem

uma redação com início, meio e fim. Sabe como?

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A resposta à questão 1 é a apresentação, introdução,

abertura ou início.

As respostas às questões de 2 a 7 são o

desenvolvimento ou o meio.

A resposta à pergunta 8 é o fim, encerramento,

fechamento ou conclusão.

Simples, não? Quanto mais você praticar, mais fácil vai

ficar seu trabalho. Com certeza você vai tirar algumas

perguntas e acrescentar outras, formando seus próprios

paradigmas, seus modelos pessoais que acabarão se

tornando sua marca registrada, identificando seu estilo.

Conheça agora outros paradigmas que poderão ser

usados com o mesmo fim. A questão será apenas escolher

em qual deles você fica mais à vontade para escrever.

Para Descrever uma Pessoa

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Conte como conheceu essa pessoa, ou como chegou até

ela, ou como ela entrou em sua vida.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Descreva as características físicas dessa pessoa, como

sua altura, seu peso, a cor de sua pele, sua idade, como são

seus cabelos, como é o rosto dela, sua voz e roupas que

veste. Trace seu perfil psicológico, abordando algum

aspecto de seu modo de ser, sua personalidade,

temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura,

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projetos de vida, objetivos ou até mesmo um fato curioso

atribuído a ela.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Finalize descrevendo que impressão essa pessoa

provoca em você ou cite um aspecto ou detalhe que a torna

única ou que a faz inesquecível.

Para Descrever um Objeto

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Comece dizendo o que lhe chamou a atenção nesse

objeto.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Detalhe seu formato. Compare-o com figuras

geométricas ou com objetos da natureza. Fale de seu

tamanho, largura, comprimento e altura. Descreva o

material de que é feito, peso, cor, brilho, textura e

impressões que provoca à visão e ao tato.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Finalize comentando a utilidade desse objeto ou

ressalte algum aspecto que o torna especial para você, para

alguém ou para todos, indistintamente.

Para Descrever um Ambiente

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Diga como chegou até esse local.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

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Fale sobre os detalhes da estrutura do ambiente,

destacando paredes, janelas, portas, chão, teto,

luminosidade, cheiros e outras impressões. Relacione os

objetos ali existentes, como móveis, aparelhos elétricos,

decoração e outros aspectos relevantes. Comente sobre as

pessoas ali presentes, o que fazem, como agem, como são,

como estão vestidas.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Finalize descrevendo a atmosfera do ambiente e as

sensações que ela provoca em você.

Para Descrever uma Paisagem

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Localize essa paisagem ou faça uma referência de

caráter geral a respeito dela.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Divida a paisagem e explique o que vê do mais perto

para o mais longe ou vice-versa. Se preferir, pode fazê-lo

movendo o foco de observação da direita para a esquerda ou

ao contrário. Use os cinco sentidos para captar todos os

detalhes desse cenário.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Conclua descrevendo a impressão que a paisagem

causou em você ou que poderá causar em quem a

contemplar.

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Ficou mais fácil agora fazer uma descrição? Então

mãos à obra. Faça um exemplo de cada um dos modelos

apresentados, depois releia e corrija até ficar satisfeito com

o resultado. Depois disso, vamos passar ao próximo tipo de

redação.

A Narração

Para não fugir à regra, vamos verificar o significado no

dicionário Aurélio Eletrônico:

Narração: 1. Ato ou efeito de narrar. 2. Exposição

escrita ou oral de um fato; narrativa.

Parece que não ficou muito claro, não? Isso acontece.

Vamos buscar o sentido de narrar e depois o de narrativa.

Narrar: 1. Expor minuciosamente. 2. Expor, contar,

relatar; referir, dizer. 3. Pôr em memória; registrar; historiar.

Narrativa: 1. A maneira de narrar. 2. Narração. 3.

Conto, história.

Agora clareou? Para ficar ainda mais claro, narrar é

relatar um fato, real ou imaginário, seguindo um tempo

cronológico ou um tempo psicológico. Essa narrativa é feita

por um narrador, a partir de um determinado ponto de vista:

ele pode ser o protagonista da história, um observador

neutro, alguém que participou do acontecimento de forma

secundária ou ainda um espectador que aparentemente

esteve presente em todos os lugares, conhece todos os

personagens, suas ideias e sentimentos.

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Na narração, os personagens podem ser apresentados

diretamente, descrevendo-os, ou de forma indireta, por suas

ações e comportamentos. Lembra-se do texto do velho que

vimos anteriormente? A sua descrição não é feita

diretamente, mas por detalhes de suas ações e do seu

comportamento.

Finalmente, os diálogos ou as falas, muito comuns nos

textos narrativos, podem ser apresentados de três formas:

1 - Discurso direto — o narrador transcreve de forma

exata a fala do personagem. Exemplo:

Mário disse:

— Jamais farei isso de novo!

2 - Discurso indireto — o narrador conta o que o

personagem disse, usando verbos chamados dicendi ou de

elocução, que indicam quem está com a palavra, como:

"disse", "perguntou" e "afirmou", "retrucou". Quer um

exemplo?

Mário disse que jamais faria isso de novo.

3 - Discurso indireto livre — o narrador registra o

monólogo interior das personagens. Por exemplo:

Mário pensava. Jamais faria isso de novo. Por sua vez,

José pensava consigo mesmo. Como ele espera que eu

acredite nele?

Ou:

Como ele espera que eu acredite nele? Jamais fez nada

certo e nunca cumpriu uma promessa. É de dar nó em pingo

de água e de passar rasteira em minhoca.

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Além desses, há outros elementos, como a sucessão de

acontecimentos, chamada de enredo. Este pode ser linear,

seguindo a sucessão cronológica dos fatos, ou não linear,

com cortes na sequência dos acontecimentos.

Outro detalhe importante numa narração pode ser o

cenário, que pode ser um ponto geográfico real ou

imaginário. Finalmente, um texto narrativo pode ser

dividido em exposição, complicação, clímax e desfecho.

Tudo isso, posto junto, deve manter certa unidade, isto

é, uma parte é ligada à outra de forma dinâmica. Para

conseguir isso, evite incluir longas digressões, pouco

interessantes ou estranhas à ação.

Evite também alongar-se em descrições nem em

reflexões. Restrinja-se ao que for absolutamente necessário

para o desenvolvimento do assunto, fazendo com que as

ações fluam de modo natural.

Para terminar, há tipos diferentes de narrações.

Narração Histórica: é uma exposição de fatos tal

como aconteceram, verdadeiros e passíveis de

comprovação.

Conto: é uma pequena narrativa fictícia.

Romance: obra de imaginação, em prosa, baseada ou

não em fatos reais, podendo reunir gêneros diferentes, como

a poesia, o conto, a crítica, a filosofia, a história e a ciência

social. Nele o autor relata acontecimentos pouco comuns,

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mas verossímeis, introduzindo situações particulares,

movimentos, ações e emoções.

Fábula: narrativa curta, contendo uma lição moral sob

o véu da ficção, diferindo do conto, pois seu objetivo é o

ensinamento moral e não apenas o desfecho.

Novela: Narração mais extensa que o conto e menor

que o romance.

É bem possível que raramente você seja obrigado a

escrever uma narração, da mesma forma que uma descrição.

Na maior parte das vezes, seus trabalhos escolares exigirão

que você elabore uma dissertação, cuja estrutura e detalhes

veremos mais à frente.

Mesmo assim, caso você goste de escrever e de contar

histórias, será interessante pôr essas histórias no papel.

Para isso, pode usar o paradigma a seguir, adaptando-o

conforme a sua conveniência ou conforme o seu estilo.

Vejamos!

Narração

1º Parágrafo - EXPOSIÇÃO

Faça uma breve introdução ao assunto. Você pode

comentar sobre o que vai ser narrado, determinando tempo e

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cenário. Pode explicar a causa dos fatos e mesmo apresentar

as personagens.

2º e 3º Parágrafos - ENREDO

Detalhe como tudo aconteceu. Use diálogos,

reproduzindo as falas dos personagens. Procure ser criativo.

4º Parágrafo - DESFECHO

Relate como tudo terminou ou quais foram as suas

consequências ou como isso pode ser interpretado. Tente

criar suspense e surpreender no final.

A Dissertação

Vamos ao Aurélio Eletrônico:

Dissertação: 1. Exposição desenvolvida, escrita ou

oral, de matéria doutrinária, científica ou artística. 2.

Exposição, escrita ou oral, acerca de um ponto das matérias

estudadas, que os estudantes apresentam aos professores. 3.

Discurso; conferência; preleção.

Entendeu? Dissertação é uma exposição de ideias a

respeito de um tema, com base em raciocínios e

argumentações, defendendo um argumento, o que exige

coerência entre as ideias e a clareza na forma de expressão.

Pode ser dividida em:

1 - Introdução ou apresentação do tema.

2 - Desenvolvimento ou exposição dos argumentos e

das ideias sobre o assunto, fundamentando-os com fatos,

exemplos, testemunhos e provas do que se quer demonstrar.

3 - Conclusão ou desfecho.

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Considerando que a dissertação será sempre muito

exigida, tanto nos seus trabalhos escolares como no

vestibular ou nos concursos públicos, vamos nos deter um

pouco mais em seus aspectos mais importantes.

Introdução

Ao iniciar sua dissertação, você deve procurar atrair a

atenção e a simpatia do leitor, preparando-o para que

compreenda o assunto. Para isso, você deve entender

exatamente o que está sendo solicitado no tema de sua

dissertação, para não fugir ao assunto.

Para isso, seja breve e simples, indo direto ao assunto,

evitando ficar dando voltas, naquilo que normalmente

chamamos de "enchimento de linguiça". Evite também

histórias ou anedotas.

O Desenvolvimento

Este é o aspecto principal da dissertação, em que você

manifesta plenamente a ideia geral ou o fato principal. Para

isso, fique atento a três aspectos muito importantes, que são:

Unidade: os pensamentos e argumentos expostos

devem ter nexo e ligação entre si, sempre voltados para o

tema proposto. Não basta amontoar linhas e parágrafos. É

preciso que haja coerência entre eles. Jamais pense numa

redação como um amontoado de linhas ou uma sequência de

parágrafos, sem ligações internas nem compromissos e

coerência entre elas.

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Movimento e progressão: tudo que for incluído em

sua dissertação tem que ser relevante e estar ligado ao tema

proposto. Deverão ser expostos de uma forma natural,

fazendo com que as ideias evoluam até o arremate final.

Para isso, dois cuidados principais devem ser tomados.

Evite uma evolução muito rápida ou então muito lenta e

arrastada. Para evitar a primeira, acrescente pequenas

observações, citações (lembra que falamos delas e de sua

importância?) relatos, fatos ou informações. Para não cair na

armadilha da segunda, fuja das reflexões profundas e das

digressões.

Interesse: consiste em manter o espírito do leitor em

constante expectativa, evitando a monotonia ou tornando o

desenvolvimento e a conclusão facilmente presumíveis.

Deve ser sempre crescente e estar habilmente distribuído em

toda a composição.

A conclusão

É o final da dissertação e pode conter uma

recapitulação do que foi desenvolvido, terminando com uma

observação que produza uma última impressão favorável no

espírito do leitor. Deve ser breve, persuadir e convencer.

Posto dessa forma, podemos elaborar agora um

paradigma para as dissertações.

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Dissertação

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Apresente o tema com dois ou três argumentos

significativos em relação a ele.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Desenvolva os argumentos apresentados, usando as

informações que tenha sobre o tema, justificando-as ou

comprovando-as.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Resuma suas argumentações e apresente uma

conclusão final com base em sua argumentação.

Lembre-se que suas dissertações podem partir de

paradigmas, como nos exemplos que vimos ao longo de

todo o livro até aqui. Você pode adotar um modelo de um

escritor já consolidado ou criar seu próprio modelo. Se

ainda acha isso difícil, tenha calma. Você vai aprender.

Correspondência

Já vimos, no início, um modelo de correspondência que

pode ser usado em seus contatos com amigos e parentes.

Quando tiver que se relacionar com autoridades,

instituições, empresas e isso exigir uma correspondência

mais formal, você terá que usar modelos específicos de

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correspondência comercial. Já apresentamos um modelo de

requerimento e outro de recibo. Novos modelos serão

acrescentados num capítulo final, que você poderá consultar

e copiar, sempre que precisar. Isso porque a linguagem

usada na correspondência comercial é específica, existindo

modelos para praticamente todos os casos.

No seu emprego, criatividade e originalidade ficam

prejudicadas em função da objetividade e da brevidade.

Ofícios, requerimentos, pedidos, referências, memorandos e

muitos outros exigem de seu redator conhecimento do

modelo específico e das fórmulas comumente empregadas

para cada caso.

Para exemplificar isso e simplificar seu aprendizado,

incluiremos um capítulo com modelos.

E para não fugir à regra, vamos consultar dicionário

Aurélio para entendermos o significado da palavra.

Correspondência: 1. Ato ou efeito de corresponder (-

se). 2. Troca de cartas, bilhetes ou telegramas. 3. Correio.

Artigo de jornal em forma de carta aos redatores; carta a um

jornal.

Vamos praticar? Na sequência vamos apresentar uma

série de temas para você desenvolver. Para que as diferenças

fiquem bem acentuadas, principalmente em relação à

descrição, à narração e à dissertação, para cada um dos

temas propostos, desenvolva uma redação específica.

Cada tema será, então, desenvolvido na forma de uma

descrição, de uma narração e de uma dissertação. Leia e

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releia os aspectos que diferenciam uma da outra. Se tiver

alguma dúvida, você pode saná-la pela Internet, visitando

meu endereço.

Infelizmente não existe outra forma de aprender a

escrever, a não ser escrevendo, da mesma forma que você

não pode aprender a andar de bicicleta por correspondência,

sem usar a bicicleta. Pratique a partir de agora, pois no

futuro (vestibular ou concurso público) isso lhe será exigido.

Se praticar agora, sempre usando seu dicionário e sua

gramática, no futuro, quando for se preparar para um passo

decisivo em sua vida, poderá dedicar uma atenção maior às

outras matérias, uma vez que a redação não será um

fantasma que virá para assombrar sua vida. Concorda

comigo?

Então mãos à obra e divirta-se com os temas

apresentados. Habitue-se a não escolhê-los, mas escrever

sobre o que aparecer. No vestibular isso será muito

importante.

TEMAS PARA REDAÇÃO

Um tipo interessante

A criança e seu brinquedo

Um homem apressado

Amor de mãe

A cidade vista do alto

Violência

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Onde estão nossos heróis?

Quem paga a conta do progresso?

Minha escola é um caminho

Como vejo o meu futuro

O que significa crescer

O que já aprendi com meus pais

Onde dorme aquela criança?

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ESTRUTURA DO TEXTO

Vamos fazer uma pausa neste ponto. Quero lhe mostrar

uma porção de sugestões e dicas que você poderá aplicar em

suas futuras redações. Se quiser, pegue uma das redações do

capítulo anterior e use nela as sugestões que forem

possíveis. O objetivo é melhorar seu estilo e fornecer novos

paradigmas, facilitando seu trabalho.

Antes disso, porém, vamos falar um pouco sobre

aprendizado. Muita gente ainda acredita que escrever é um

dom e que apenas poucos privilegiados o recebem. Nada

mais falso do que isso.

Todos nascemos com o dom de fazer tudo aquilo que

desejarmos fazer. Basta nos empenharmos naquilo que

escolhermos e desenvolvermos ao máximo nossas

habilidades.

Todos nós temos imaginação. Todos nós somos

criativos. Se nos disciplinarmos e investirmos em nós

mesmos, seguramente alcançaremos todos os nossos

objetivos.

Isso não é apenas um puro e simples blá-blá-blá, mas

resultado das pesquisas científicas que vêm sendo

desenvolvidas nos últimos tempos sobre a capacidade do

cérebro.

Em 350 antes de Cristo, Aristóteles, o célebre filósofo

grego, acreditava que o cérebro nada tinha a ver com o

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pensamento, que viria do coração. De lá para cá, muita coisa

foi descoberta sobre o cérebro e seu funcionamento e muita

coisa mais ainda precisa ser descoberta.

Entre as últimas novidades a respeito do cérebro, sabe-

se hoje que o cérebro melhora seu desempenho ao longo da

vida, desde que seja permanentemente treinado e exercitado

com atividades intelectuais. Entre elas são recomendadas o

xadrez e a leitura.

Trata-se de um depósito de informações fantástico, que

melhora quanto mais exigido ele for. Um psiquiatra

brasileiro, num experimento, ligou eletrodos na cabeça de

uma senhora de 52 anos, medindo em seguida o fluxo

sanguíneo em seu cérebro.

Na sequência do teste, pediu que ela memorizasse três

textos, começando com um simples, um médio e um mais

complexo.

No primeiro, o fluxo sanguíneo aumentou um pouco,

no segundo a mudança já foi mais visível e no terceiro o

fluxo foi intenso, aparecendo visivelmente no aparelho

medidor.

Finalmente, já foi comprovado cientificamente que

30% da nossa capacidade intelectual vem de atributos inatos

do cérebro. Isso quer dizer que o dom é comum a todos nós.

Já o restante 70% de nossa capacidade intelectual é fruto de

aprendizado, treinamento e desenvolvimento.

Percebeu o significado disso?

Todos temos dom para tudo. Nossas preferências

pessoais, frutos de nossas observações, experiências e

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educação, acabam nos direcionando para esta ou aquela

atividade em particular.

Mesmo que tenhamos o dom para esta ou aquela

atividade, vamos ter que aprendê-la e desenvolver nossas

habilidades para nos tornamos cada vez melhores nela.

É por isso que eu sempre digo e repito: você pode

aprender a escrever.

Se quiser!

Se não quiser, não existe fórmula milagrosa que o faça

aprender.

E você só aprenderá a escrever, escrevendo.

Entendido?

Então vamos ao que interessa.

Aqui temos uma série de dicas e sugestões para você

usar em suas redações.

Vamos começar isso falando a respeito de estruturas do

texto, para você entender ainda melhor o assunto.

Vamos lá!

ESTRUTURA DO TEXTO

1. Narração

Vamos supor que você tenha que escrever uma

narração. Se você tiver um planejamento, um paradigma,

uma estrutura já feita para esse texto, tudo será mais fácil.

Experimente fazer o seguinte:

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A - Descrição do cenário

Comece fazendo uma descrição do cenário. Faça isso

seguindo uma determinada direção: do céu para o chão, do

chão para o céu, da direita para a esquerda ou vice-versa.

B - Apresentação do personagem

Fale sobre o personagem, descrevendo-o física ou

psicologicamente. Faça isso com sutileza. Você não precisa

dizer que ele é magro, por exemplo. Diga, sugerindo isso,

"sua sombra magra"...

C - Ligação do personagem com o cenário

Explique o que o personagem faz ali, como chegou, o

que busca, para onde vai. Solte a sua imaginação.

D - Finalização

Temos aqui um momento importante, quando você

finaliza uma cena e, ao mesmo tempo, prepara ou sugere

outra. É mais ou menos como num filme, dividido em

partes. Procure, aqui, criar algum impacto ou um pouco de

suspense para manter o leitor atento à sequência ou

satisfeito com o que foi apresentado.

Observe que cada item significará um novo parágrafo

no texto. Quer experimentar?

Pode fazer isso sozinho ou precisa de ajuda?

Quer um exemplo? Vejamos, então, o que pode ser

feito a respeito.

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Medo da Chuva

Um fio de água corria no leito seco do rio. Além da

margem pedregosa, o caminho estendia-se em uma linha

quase reta. Uma tênue nuvem de poeira pairava acima da

estrada. Rápidas lufadas de vento formavam espirais e

caracóis transparentes, que se desfaziam com a mesma

rapidez com que haviam surgido.

Ao longe, os passos miúdos e incertos deixavam

marcas suaves na poeira, como se os pés de um anjo

houvessem tocado levemente a estrada. Um vulto feminino

avançava, como se o leito do rio fosse sua meta final. As

mesmas lufadas de vento que agitavam a poeira brincavam

com seus cabelos, agitando-os. Os olhos azuis apertavam-

se, tentando enxergar o caminho à frente.

Ela sabia que teria de passar mais uma vez pelo leito

do rio. Sempre fazia isso e sempre sentia o mesmo medo. À

medida que se aproximava da margem, seu coração ia se

apertando e os passos tornavam-se ainda mais miúdos na

poeira.

Parou junto ao fio de água. Fechou os olhos.

Lembrou-se de outro dia. O coração bateu forte. Ela sabia

que não chovia nas cabeceiras do rio, mas ficou ali, trêmula

e assustada, esperando a tromba d'água arrastá-la de novo

rio abaixo.

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Quando se tem um roteiro a seguir, as coisas ficam

mais fáceis. Para seu governo, esse texto foi feito agora,

seguindo o modelo. Não vou corrigi-lo nem retocá-lo.

Vamos supor agora que você tenha de fazer uma

narração, usando dois personagens. Como lidar com isso?

Uma das melhores técnicas é usar o conflito de forças. Sabe

por quê? Porque as narrativas são movidas a conflitos.

Imagine uma cena de uma novela de televisão. A vilã

da história está numa sala com o galã. A mocinha vai

entrando, mas o galã não a viu. A vilã, muito esperta, abraça

o mocinho, beijando-o ardentemente. A mocinha, ao ver

aquilo, vira as costas e afasta-se. Para os dois fazerem as

pazes vão demorar pelo menos uns dez capítulos. O conflito

resultante daquele mal entendido vai manter todos em

suspense, esperando o desfecho, o momento em que tudo

vai se esclarecer e em que a vilã será punida por seu ato.

Agora mude o foco e imagine a cena:

Janete entra na sala, vê seu noivo e sua pior inimiga

abraçados e beijando-se. Vai calmamente até eles,

encarando-os como se nada tivesse acontecido. Ele diz:

— Meu bem, essa maluca me abraçou e me beijou sem

motivo.

Janete responde:

— Nem precisava me explicar, amor. Conheço essa

jararaca e sei do que ela é capaz.

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Tenho certeza de que, no mesmo momento, você

mudaria de canal, pois não havendo conflito, não há

interesse nem suspense. Ao usar o conflito de forças você

define quem será o protagonista da história e quem será o

antagonista.

A partir daí, é só explorar suas diferenças. Como?

Quer um exemplo?

Está bem!

— Vou parti-lo ao meio — gritou Edson, com os

punhos cerrados e o rosto crispado de raiva.

— E você acha que isso vai adiantar alguma coisa? —

respondeu Mário, abrindo os braços e encarando seu

oponente com olhos calmos e serenos.

Entendeu o que eu quis dizer?

Então vejamos agora alguma coisa a respeito de...

2. Descrição

Temos aqui um bom esquema para você fazer uma

redação, descrevendo um imóvel: casa, escola, hospital ou

qualquer outra coisa. Basta seguir o modelo e você fará um

bom trabalho. Lembre-se sempre que cada item vai

constituir um novo parágrafo.

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A - A localização do Imóvel

Fale sobre a cidade e/ou o bairro e/ou a rua onde ele se

localiza. Mencione como se faz para chegar lá, se há

aspectos históricos ao redor ou detalhes dignos de nota. O

imóvel pode estar localizado ao lado de um bosque, à beira

de um rio, próximo de um morro, por exemplo.

B - Aspectos Externos

Descreva o estilo da construção, como está seu estado

de conservação, se há detalhes dignos de nota, como as

janelas trabalhadas, o telhado diferente ou algum tipo de

grade ou portão. Descreve o jardim, se houver.

C - Aspectos Internos

Descreva cômodo por cômodo, como se estivesse

entrando e passeando pelo interior do imóvel. Fale das

paredes, janelas, portas, assoalho, forro e móveis. Informe

se o barulho de fora incomoda, se há iluminação ou não.

D - As Pessoas

Há pessoas no imóvel? O que fazem? Como são?

Como se comportam? Como vivem? Qual a ligação delas

com o lugar.

E - Conclusão

Finalize a descrição com uma observação importante

ou com uma comparação entre esse imóvel e outro. Faça

com que o leitor sinta vontade de conhecer o local ou de

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jamais ter que entrar nele. Neste ponto ou ao longo da

descrição, diga que emoções a visão lhe desperta, que

detalhes impressionam, que perfume ou cheiro incomodou.

Use os cinco sentidos para ilustrar sua descrição.

O que me diz disso? Não fica mais fácil, tendo um

roteiro a ser seguido? Então mãos à obra! Descreva uma

casa de sua cidade ou de seu bairro. Escolha uma que tenha

uma história ou que encerre algum acontecimento

importante.

Quer algumas dicas sobre a descrição?

Tudo bem!

Você manda e não pede!

Há diversas maneiras de você enfocar uma descrição.

Você pode usar uma delas no seu trabalho, alterná-las ou

usar todas elas, se isso for necessário.

Vejamos, então, que enfoques podemos dar em uma

descrição:

Enfoques Descritivos

A - Enumeração descritiva de detalhes

O nome pode parecer um pouco complicado, mas a

tarefa é simples: basta enumerar os detalhes do que está

descrevendo. Por exemplo: Aquela era uma sala estranha.

Havia um aparador ao lado da janela, uma cômoda no centro

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e um guarda-roupa sem portas no canto direito. Varais

cruzavam o aposento e neles estavam dependuradas toalhas,

camisas, calças, roupas de criança, fraldas e uma porção de

outras peças esquisitas. Nas paredes, alinhavam-se uma

série inquietante de quadros, retratando cenas campestres,

castelos antigos, motocicletas reluzentes, crianças de

diversas idades e outras esquisitices.

B - Semelhanças e Diferenças

Descreva o que vê, traçando paralelos com coisas

semelhanças ou apontando diferenças. Por exemplo: O vaso

havia sido posto sobre um móvel isolado, como uma obra de

arte em destaque num museu. Ninguém, porém, olharia para

ele com prazer ou alegria, pois não se tratava de uma obra

de arte nem de um objeto com elaborado senso estético. Na

verdade, aquele vaso era uma aberração, uma esquisitice,

um erro, possivelmente, de um ceramista descuidado. Tinha,

no entanto, o poder de provocar um mórbido fascínio.

C - Perguntas e Respostas

Pode ser uma boa saída, quando falta imaginação.

Cuide para que as respostas sejam coerentes e as perguntas

sejam bem formuladas. Por exemplo: O que poderia ser ela,

imóvel no centro da praça? Por que as pessoas paravam para

olhar aquela estranha figura? E por que ela nada dizia e

apenas corria os olhos pela multidão, como se procurasse

alguma coisa? No fundo, era apenas uma garotinha

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assustada, perdida entre aquelas pessoas, à procura de um

rosto conhecido.

D - Revelando Sentimentos

Aqui você pode ser mais subjetivo em sua descrição,

sem, no entanto tirar o enfoque necessário no objeto ou

coisa a ser descrito. Para descrever uma casa, imagine-se

diante dela e descreva seus sentimentos, fazendo a ligação

entre eles. Exemplo: Uma sensação perturbadora dominava

meu corpo, enquanto eu olhava aquela casa. Suas janelas

fechadas pareciam barrar a entrada do ar e da luz e já me

sentia sufocado, imaginando aqueles cômodos escuros e

abafados...

Vejamos, agora, como isso se aplica à...

3. Dissertação

Vamos ver um modelo de dissertação que pode ajudar

você a caminhar com segurança.

Antes de qualquer coisa, concentre-se no tema

apresentado, procurando entender o que se pede. Nada pior

que iniciar uma redação sem saber exatamente sobre o que

se vai escrever.

Tendo lido e entendido o tema, siga o seguinte roteiro

com calma e tranquilidade:

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Dissertação

A - Posicione-se a respeito do tema

B - Apresente argumentos para defender seu ponto de

vista

C - Estabeleça um paralelo

D - Determine consequências

E - Conclua com base no que argumentou

anteriormente

(No esquema acima, o item A é a Introdução, os itens

B, C e D constituem o desenvolvimento e o item E é a

conclusão.)

Vamos fazer um exercício prático? Que tal falar sobre

a violência? Vamos ver o que podemos fazer.

A Violência

A - A violência é, hoje, um dos sintomas mais visíveis

da falência de nossas mais valiosas instituições: a família e

o Estado.

B - A família mostra-se incapaz de educar e controlar

seus membros e está se tornando, a cada dia que passa, uma

das fontes primárias da violência, destacando-se,

vergonhosamente, a violência contra as crianças. O Estado

não consegue cumprir seu papel nem proporcionar à

sociedade os mais elementares meios de subsistência e

proteção.

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C - A história está cheia de exemplos de momentos em

que, acuada, a sociedade reagiu de modo irracional,

procurando fazer valer seus direitos.

D - A violência parece fora de controle e as famílias

assistem impotentes sua escalada, sob os olhares

benevolentes dos governantes, que nem atacam as causas,

muito menos as consequências desse flagelo. Até quando a

sociedade suportará isso?

E - Talvez tenha chegado o momento de se levantar,

ainda que timidamente, a voz e demonstrar a insatisfação e o

medo. Seguramente outras vozes se somarão a essa voz

inicial e em breve o coro de vozes insatisfeitas chegará até

quem tem o poder de mudar isso.

Esse tipo de paradigma ou modelo pode ser

desenvolvido por você, criando seus próprios modelos.

Quanto mais você praticar, mais fácil ficará utilizar esse

sistema.

Finalmente, dentro desse nosso capítulo de dicas e

sugestões, vamos ver algumas...

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TÉCNICAS DE REDAÇÃO

Admiração e Surpresa

A interjeição é uma classe de palavras que pode ser

usada para evidenciar emoções e sentimentos. Junto com o

ponto de exclamação podem dar mais vida e ênfase a uma

narrativa. Não hesite em usá-los no momento oportuno.

Aumentativo e Diminutivo

O uso do aumentativo ou do diminutivo leva para a

linguagem do texto um tom afetivo e espontâneo. Tanto

podem servir para demonstrar carinho como para

demonstrar desprezo ou reprovação. Exemplos:

Carinho

Amorzinho, paizinho, queridinha, coisinha fofa,

paizão, garotão.

Desprezo ou reprovação

Sujeitinho, bestinha, morcegão, atrasadão, goiabão,

bobão.

Características Diferenciais

Quando você for descrever pessoas, procure registrar

aquelas características que as diferenciam das outras. Todos

nós temos pés, cabeça, tronco, pernas, mãos e pés. Fale

apenas dos diferenciais, daquilo que torna a pessoa especial.

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Veja os seguintes exemplos:

Exemplo 1 - Características comuns

O garoto tinha duas pernas, dois braços e uma cabeça.

Seu tronco em nada se diferenciava do tronco dos demais

meninos de sua idade. Em cada mão tinha cinco dedos. Em

cada dedo havia uma unha... (tudo isso é desnecessário, não

acha?)

Exemplo 2 - Características diferenciais

O garoto tinha uma estranha característica: a qualquer

momento do dia, podia-se vê-lo com as mãos cruzadas

diante do peito e a cabeça pendendo sobre o ombro direito,

como se fosse uma estátua. Ficava imóvel, com as pernas

entreabertas, sobre a enorme pedra que havia à margem da

estrada.

Cenas ou Situações Opostas

Quando tiver que escrever sobre cenas, situações e até

mesmo personagens opostos, faça-o usando um parágrafo

para cada um. Com isso você dará igual destaque a eles.

Detalhes da cena

Para valorizar a ação de um personagem, mostrando

sua concentração ou sua atenção ao que faz, narre a cena

com o máximo de detalhes possíveis.

Aqui está um exemplo disso:

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Cuidadosamente ele soltou a linha enrolada no caniço,

girando-o entre as palmas das mãos, deixando a chumbada

e o anzol pendentes sobre a água. Depois, escolheu uma

gorda e ágil minhoca, vestindo com ela o anzol. Examinou a

superfície do rio, procurando sinais dos grandes peixes.

Suavemente, com um ligeiro movimento de mão, fez a isca

balançar para frente, pairar por instantes acima do espelho

líquido, depois mergulhar com um ruído característico,

logo encoberto pelo grito acusador de um bem-te-vi.

Descrição de um conjunto

A melhor maneira de descrever um conjunto é

localizando-o de alguma forma. Pode ser no tempo ou no

espaço. No espaço pode ser seguindo uma determinada

direção. No tempo, seguindo certa cronologia. Ou então,

combinando as duas formas.

Vejamos um exemplo!

"Duas horas da tarde. O armazém já estava cheio.

Eles vinham de todo canto: os do cafezal, além da ponte da

estrada de ferro e na entrada do asfalto; os do mamonal ao

redor do campo de aviação que, àquela hora, era uma

panela de pipoca, com o calor explodindo as bagas

espinhudas; aqueles das hortas à beira do Pirianito; os

pescadores do Congonhas; a turma do arrozal, nas várzeas

inundadas; os do gado e, principalmente, os do rami, nova

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riqueza ameaçando as outras culturas como uma febre

verde." (L P Baçan, Febre Verde)

Dois Pontos

Sempre que tiver que enumerar uma série de palavras,

use os dois pontos, destacando os termos que serão

apresentados.

Exemplo:

Trazia consigo todos os seus objetos pessoais: uma sela

velha, um chicote partido, um par de botas sem brilho, um

revólver sem bala, uma trouxa de roupas e a moldura

lascada com uma fotografia desbotada.

Feira Livre

Para dar a impressão, num texto, de que várias pessoas

falam ao mesmo tempo, simplesmente registre o que elas

dizem numa sequência. Por exemplo:

A confusão era total e todos queriam manifestar sua

opinião. "Quero meu dinheiro de volta!" "Cadê o gerente!"

"Chamem a polícia!" "Alguém me beliscou." "Quero a

minha mãe!"

Frases nominais

Ao descrever uma cena, evite o uso constante dos

verbos ser e estar, empregando frases nominais. Para isso,

basta retirar o verbo. Ao invés de dizer "o sol estava

quente", diga apenas "sol quente". Vamos aplicar isso,

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mostrando um mesmo texto em duas versões, para você

entender bem:

Versão 1

A trilha era apenas uma picada no meio da mata. As

folhas estavam molhadas ainda pelo orvalho. O calor era

insuportável.

Versão 2

A trilha, apenas uma picada no meio da mata. As

folhas, molhadas ainda pelo orvalho. O calor, insuportável.

Ordem Inversa

Vimos na apresentação dos paradigmas, que a ordem

normal dos termos da oração é

Sujeito/Predicado/Complementos. Se você quiser dar maior

ênfase a um determinado elemento, coloque-o no início da

oração ou deslocado, entre vírgulas.

Veja os seguintes exemplos:

A - A noite caiu rapidamente sobre a floresta.

B - Rapidamente a noite caiu sobre a floresta.

C - A noite, sobre a floresta, caiu rapidamente.

D - Caiu rapidamente a noite sobre a floresta.

Ao usar esse recurso, dê o devido destaque ao elemento

que você quer realçar ou enfatizar.

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Parênteses e Travessão Duplo

Para introduzir um comentário no corpo de uma

narração ou de uma descrição, use o recurso proporcionado

pelos parênteses ou pelo travessão duplo.

Exemplos:

Haviam escolhido a dedo suas roupas e estavam

satisfeitos com a elegância — e que elegância — que

exibiam no início da festa. Ou: Subiu até o palco com a

maior tranquilidade (havia se preparado para isso), certo

de que tudo correria bem.

Presente do Indicativo

O verbo no presente aproxima o leitor do texto, por que

o torna atual, o que não ocorre com o verbo no passado.

Avalie você mesmo, observando os seguintes exemplos:

Verbo no passado

O mal andava à solta pela cidade. Cada esquina

escondia um vulto amedrontador. As sombras dos galhos

das árvores, projetadas contra as paredes das casas,

criavam um cenário tétrico e trágico.

Verbo no presente

O mal anda à solta pela cidade. Cada esquina esconde

um vulto amedrontador. As sombras dos galhos das

árvores, projetadas contra as paredes das casas, cria um

cenário tétrico e trágico.

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Sequência de Verbos

Para transmitir a impressão de rapidez, agilidade ou

mobilidade de um personagem, faça isso com uma

sequência de verbos de ação, como no seguinte exemplo:

O cavalo empinava, escoiceava, corria, refugava,

escavava, relinchava, depois desembestava de um lado a

outro do pasto.

Suspense

Crie suspense para sua narrativa, adiantando, na

primeira oração do parágrafo, alguma informação sobre o

que virá a seguir.

Exemplo:

Aquela seria uma experiência da qual jamais nos

esqueceríamos. Naquela tarde, como sempre fazíamos,

esperamos o anoitecer para ir pescar...

Termos Técnicos

Numa redação normal, evite empregar termos técnicos

ou palavras difíceis, que possam prejudicar ou comprometer

o entendimento do texto. Faça isso apenas se o contexto

assim o exigir.

Ao fazer um relatório para sua aula de ciências, isso é

válido. Numa dissertação, pode ser perigoso, principalmente

se você não tiver certeza do significado de uma determinada

palavra.

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Zebra

Se você pretende seguir uma carreira e tem planos de,

no futuro, fazer o vestibular para uma determinada

profissão, é bom saber desde já que a redação é obrigatória

para todo e qualquer curso. Ela pode ter um peso maior ou

menor, conforme o curso, mas é eliminatória para todos

eles. Assim, se você não quer que dê uma zebra no seu

futuro, comece a se preparar a partir de já, organizando um

plano de leitura, que lhe fornecerá os elementos para

desenvolver todo e qualquer tema.

Este é um plano de leitura mínimo, que recomendo a

todos aqueles que desejam encarar com seriedade o

aprendizado da redação.

Plano de Leitura

Procure estabelecer um cronograma de leitura. O

conjunto de conhecimentos contido nas obras desses autores

será necessário para seu bom desempenho em qualquer

prova de redação.

Literatura Cristã — Leia a Bíblia, Novo e Velho

Testamentos, observando como eram as pessoas naquela

época, como agiam, quais eram seus sentimentos, o que as

movia, como se relacionavam umas com as outras, que

emoções demonstravam e tudo o mais que julgar

importante.

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Literatura Grega — Leia textos de Homero,

Heródoto, Platão, Demóstenes, Plutarco e Epicteto.

Literatura Latina — Leia Vergílio, Cícero, Sêneca,

Tito Lívio, Tácito e Horácio.

Literatura Europeia — Não deixe de ler obras de

Shakespeare, Milton, Dante, Cervantes, Victor Hugo,

Goethe e Schiller.

Literatura de Língua Portuguesa — Procure ler

Garrett, Herculano, Castilho, José de Alencar, Castelo

Branco, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Eça de

Queirós, Rui Barbosa e Euclides da Cunha.

Literatura Atual — Procure conhecer as obras dos

autores que estão em evidência ou que se evidenciaram na

literatura mundial nas últimas décadas. Leia pelo menos

trechos de suas obras, observando seus estilos. Leia também

artigos de colunistas fixos e editoriais de jornais para

manter-se sempre atualizado. (Na Internet, você

encontrará, grátis, centenas de obras de autores

contemporâneos de língua portuguesa. Basta pesquisar.

Ao fazer isso, estará investindo em seu aprendizado e

aperfeiçoamento.)

Como normalmente os textos originais podem ser

complexos, conforme sua faixa de idade, domínio da língua,

vocabulário e hábito de leitura, procure obras resumidas ou

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adaptadas desses autores. Sempre que um deles despertar

sua atenção ou ganhar sua preferência, procure ler o texto

completo.

Se você não tem o hábito da leitura, com certeza

enfrentará certas dificuldades. Não se deixe intimidar por

isso. Ler é uma atividade que requer certo método. Não

basta simplesmente passar os olhos pelo papel. Lembre-se

que seu cérebro, à medida que for sendo mais exigido, mais

apto ficará.

Para ajudá-lo nesse processo. Aqui estão algumas

regras simples e básicas:

1 - Leia atentamente e devagar.

2 - Faça-se acompanhar de um dicionário e de uma

gramática, consultando-os sempre que tiver alguma

dúvida.

3 - Tome notas e consulte-as sempre que possível,

mantendo viva em sua mente aquela obra

As anotações são importantes porque suprem a

memória. Se não fizer isso, após algum tempo terá

esquecido a maior parte do que leu. Essas anotações são

também a garantia da precisão em suas citações, quando

usar ou quiser usar uma delas.

Ao fazer suas anotações, tenha em mente que elas são

para seu uso pessoal, portanto você decide o que elas devem

conter e de que forma serão feitas. No entanto, para impor

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um método, há algumas observações que você pode seguir

se julgá-las oportunas:

1 - Se está se preparando para uma prova sobre um

determinado livro, leia-o e tome notas de tudo e a propósito

de tudo.

2 - Se você tem dificuldades de encontrar formas ou

imagens corretas para exprimir suas ideias, ao ler uma obra

anote como o autor se referiu a isso ou aquilo, passando a

usar esses paradigmas em suas redações.

3 - Monte um banco de dados para seu uso, anotando

dados históricos, citações, anedotas, palavras características,

observações, meditações pessoais, reflexões e juízos

emitidos pelos autores das obras que ler.

4 - Anote também fragmentos das obras para ilustrar

ou incluir, no momento oportuno, em suas redações. Não se

acanhe e trocar anotações com seus amigos. Ampliará seu

campo de visão e certamente contribuirá para a formação de

seu estilo.

5 - Veja os modelos de fichas que foram fornecidas,

adapte-as a suas necessidades e use-as. O importante é que

você anote sempre.

O melhor método para você fazer suas anotações é à

medida que vai lendo. Registre e classifique suas anotações

em fichas ou num arquivo específico do seu computador,

caso tenha um.

Você pode montar arquivos por nome de autor,

conteúdo (Anedotas, Artes, Biografias, Descrições, Ensino,

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História, Imagens, Literatura, Palavras Célebres, Pedagogia,

Filosofia, Psicologia, Retratos, Ciências) ou por outro meio

que julgar adequado. .

Vamos relaxar um pouco?

Então leia o conto a seguir, depois o use como modelo

para contar outra história.

A INFLUÊNCIA DA LUA

L P Baçan

O velho Nogueira deu uma olhada nas iscas que

estávamos preparando, sorriu com bondade e compreensão,

como se fôssemos os maiores ignorantes do mundo.

— Essa isca é para peixe de Lua Cheia... Estamos na

Minguante. A isca tem que ser outra.

Seu tom de voz foi suave, como se temesse nos ofender.

Eu olhei para o meu filho, que olhou para mim e ambos

nada entendemos daquilo tudo.

— O que há de errado com estas iscas? — perguntei.

— Servem para pegar peixe de escama e a lua é para

peixe de couro — explicou ele, cheio de bondade.

— E a lua regula alguma coisa? — indagou meu filho.

— Regula tudo, oras. Não sabia?

— Bem, eu andei lendo uns livros e...

— Já sei, eles falam que lua não "inflói" nada, não é?

— Isso mesmo.

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— Tudo ignorante! — afirmou, convicto. — Para vocês

terem uma ideia, em mil novecentos e nada, veio uma turma

de pescador de São Paulo aqui, para pescar no Cuiabá. Era

lua de peixe de couro e eles queriam pescar dourado e

pacu. Eu avisei. Eles deram risada. Fui com eles, de

piloteiro...

— Quanto tempo faz isso mesmo? — eu quis saber.

— Olhe, para falar a verdade, Getúlio ainda estava no

poder e ainda tinha muito peixe no Cuiabá, aqui mesmo,

dentro da cidade. Mas deixe isso para lá. Fomos para o rio,

no meio da noite. Eles soltaram suas colheres — isca

própria para fisgar dourado, tendo o formato de uma colher

para resvalar na água e dar a impressão de um peixe menor

em fuga — e fomos rasgando a água, mas nada de peixe.

Paramos na beira do barranco e eles ficaram falando do

azar que estavam tendo. Nisso escutamos um barulhão na

água, rio acima. "O que foi isso, Nogueira?" perguntou um

deles. "É o jaú batendo", respondi logo. "É lua de peixe de

couro", ajuntei. Aí eles resolveram experimentar e logo

pegaram um jaú de cinquenta quilos...

— Cinquenta quilos, seu Nogueira? — surpreendeu-se

meu filho, que jamais imaginou haver peixes desse peso.

— Dos pequenos — acrescentou o velho. — Já peguei

maior, muito maior, no espinhel, na faixa dos seus cem

quilos.

— Nogueira, como funciona esse negócio de lua? —

pedi.

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— Se olhar para a Lua Cheia, você se lembra logo de

um peixe brilhante, com escamas. É na Lua Cheia que você

pega o pacu, a pirapitinga e até a piranha, aquela que dá

bom caldo.

— Sendo assim, na Lua Minguante, escura, deve dar

muito peixe de couro — arriscou meu filho.

— Isso mesmo. Na Lua Cheia, você pesca melhor os

peixes que vivem mais perto da superfície. Na Lua

Minguante, os de couro e os do fundo, como os jaús e os

pintados grandes. Na Lua Nova, os peixes de barba, como o

surubim, o barbado, o bagre e o mandi. Na Lua Crescente,

os peixes pequenos e os dourados que vêm atrás deles...

Quando fomos dormir, naquela noite, nós nos

sentíamos como quem tivesse descoberto o segredo mais

bem guardado do universo.

Dona Jacira, mulher do velho Nogueira, quando nos

viu passar, sorriu e emendou:

— Não acredita em nada do que esse velho diz. É

mentiroso que só ele! Tudo isso aí que ele fala é conversa

de pescador.

Havia um acento de maldade e satisfação no seu tom

de voz. Coisa de mulher mesmo!

E você, não conhece uma boa história de pescadores?

Ou uma história de mentirosos?

Por que não escreve uma?

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ROTEIROS DE TRABALHO

À medida que você for se exercitando, tudo irá ficando

mais fácil. Ao usar paradigmas, você tem o roteiro pronto e

o conteúdo é sugerido pelo tema proposto. Vale sempre

ressaltar que o bom entendimento do tema é fator crucial

para a elaboração de uma boa redação.

Isso se justifica porque, caso você fuja do tema, tudo o

que fizer será desconsiderado. Todo cuidado é pouco nisso.

Fugir do tema é um dos principais problemas dos

vestibulandos. Não tendo conteúdo para explorar porque

não leram, não se atualizaram ou não observaram com olhos

críticos as coisas ao seu redor, acabam enchendo linguiça ou

dizendo asneiras.

Um vestibulando, ao falar sobre o tema Comunicação

de Massas, acabou discorrendo sobre um disque-pizza.

Outro, ao falar sobre a televisão, disse que ela informa,

forma e deforma. Justificou essa última afirmação com o

argumento de que o sofá, de tanto o telespectador ficar

sentado, assistindo à televisão, acaba ficando deformado.

Pode uma coisa dessas?

Fuja disso, lendo, observando, trocando ideias e

mantendo-se atualizado(a) e ligado(a) a sua realidade e às

coisas que o(a) cercam.

Vimos diversas maneiras de você utilizar paradigmas,

partindo do que foi escrito por outras pessoas. Alguns você

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pode montar, seguindo outras fórmulas que, uma vez

entendidas, tornarão seu trabalho ainda mais facilitado.

Num dos capítulos anteriores, usamos a técnica das

perguntas para montar um texto. Essa técnica merece um

capítulo à parte, pois é um poderoso instrumento para

qualquer redator sair-se bem em suas tarefas.

Tudo parte de um planejamento inicial, que pode ser

feito mentalmente ou memorizado. Se você sabe a direção

para onde tem de caminhar, tudo se torna mais fácil. Essa

técnica lhe proporciona isso.

Vamos começar com uma narração. Você precisa

escrever uma narração sobre um determinado tema. Para

elaborar o rascunho inicial do seu trabalho, responda às

seguintes perguntas:

Roteiro para um Narração

Ambiente: Onde se passa a história?

Tempo: Quando aconteceu a história?

Personagens: Quais são os personagens da história?

Conflito: Qual será o conflito entre eles?

Final: Como vai acabar a história?

Respondendo essas perguntas, você tem o roteiro

básico de sua história. Para desenvolvê-la, continua com a

técnica das perguntas.

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Responda às perguntas abaixo, na sequência em que

são apresentadas ou invertendo-as, desde que isso não

prejudique o andamento da narrativa.

Com quem aconteceu?

O quê aconteceu?

Onde aconteceu?

Quando aconteceu?

Como aconteceu?

Por que aconteceu?

Quais foram as consequências ou como acabou?

Isso pode ser comparado com algum outro fato?

Isso pode ter uma conclusão ou uma moral?

Bem, o modelo está aí. Será que podemos fazer alguma

coisa com isso? Vamos pensar num tema...

Não!

Pensando melhor, vou deixar que você faça tudo por si.

Se eu fizer, será fácil para mim, pois tenho dezenas de anos

de experiência.

Vejamos agora um roteiro para fazer uma descrição. O

sistema é o mesmo. Basta observar com atenção o que

deverá ser descrito ou, caso seja algo sugerido, concentrar-

se, tentando formar a imagem do tema proposto. Em

seguida, responda às perguntas que julgar pertinentes ou

aplicáveis ao seu caso:

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Roteiro para uma Descrição

Quem? O quê?

Quais são suas características?

Em que circunstâncias?

Alguma característica especial?

Que impressões provoca? (em relação aos cinco

sentidos)

Que sensações ou emoções provoca? (impressões

subjetivas)

Com o que pode ser associado ou comparado?

A que conclusão se pode chegar?

(Você pode incluir outras perguntas que julgar

relevantes e possam contribuir para o andamento de seu

trabalho. O importante é que elas forneçam respostas

pertinentes.)

Acho que você já se convenceu das vantagens de se ter

um método e de fazer um planejamento de sua redação. Isso

torna tudo mais fácil, pois permite que você demonstre

possuir técnica, habilidade e conhecimentos, pois tudo que

fizer terá um toque de naturalidade perceptível e

demonstrará domínio da língua e do assunto sempre que

isso for exigido.

Falando em planejamento, vamos criar um modelo para

ser usado a partir do momento em que você toma contato

com uma tarefa.

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Primeiro passo: analisar o tema proposto para

entendê-lo.

Segundo passo: usar a memória para rever tudo que se

relacionar ao assunto.

Terceiro passo: definir um planejamento ou um

paradigma a ser seguido.

Quarto passo: escrever o rascunho ou a versão inicial.

Desses passos, o principal é o primeiro, pois se você

não entender corretamente o tema, vai caminhar na direção

errada e todo o seu trabalho será perdido.

Mantenha a sua calma e concentre-se:

1) Qual é o tema, o que sei a respeito, qual é a sua

definição ou o que significa? Faça-se estas perguntas ou use

o seu roteiro, previamente elaborado para essas situações.

2) Há pontos de vista divergentes ou convergentes em

relação ao tema?

3) Quais seus aspectos principais, como descrevê-lo,

quais são as suas palavras-chaves?

4) Quem? O quê? Onde? Como? Por quê? De que

forma? Quando? Ou outras perguntas, conforme seu roteiro.

7) Que exemplos, citações, modelos, bibliografia ou

informações complementares tenho a respeito do tema?

8) Que comparações posso fazer?

9) Que conclusão se pode tirar de tudo isso?

Ao responder essas perguntas, você já terá definido seu

roteiro e a sequência de sua tarefa. Agora é só escrever.

Duvida?

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Escolha um tema qualquer e percorra todos os passos

recomendados acima. Se tiver dúvidas ou problemas, sabe

onde me achar!

Como você percebeu, a memória é importante para

qualquer bom redator. Vimos no capítulo anterior que,

quanto mais você exigir de seu cérebro, mais ele vai

corresponder. Sua memória vai guiá-lo na seleção das

informações, lembrando tudo que se referir ao tema.

Anote, reflita e siga em frente. Esse trabalho vai se

tornar mais fácil, quanto mais você estimular sua memória

com a leitura de bons autores, boas fontes, atualidades,

novidades e tudo que puder ser explorado ou necessário no

futuro. Isto porque se você souber aplicar bem um

pensamento alheio, terá quase tanto talento como o autor

dele.

Por outro lado, jamais cite algo que não conheça na

íntegra nem cite um autor, se não tiver certeza de que foi ele

que disse essa ou aquela expressão.

Na descrição de uma paisagem, use a memória para

adaptar uma paisagem conhecida àquela exigida na tarefa.

Para dar vida a um diálogo, procure se lembrar de palestras,

de conversas, de frases ou de citações espirituosas e

inteligentes que possa ter anotado ou ouvido.

O terceiro e o quarto passos nem precisam ser

comentados, concorda?

Vamos continuar!

Você pode ter preferência pela narração ou pela

dissertação, mas se pretende seguir uma carreira,

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enfrentando um vestibular ou um concurso público, terá,

fatalmente, que aprimorar sua dissertação, pois ela será

exigida e terá um peso razoável.

Se e quando estiver disposto(a) a fazer isso, memorize

a seguinte sequência:

Roteiro para Dissertação

Primeiro passo: siga os passos para o entendimento do

tema, apresentados nas páginas anteriores.

Segundo passo: montar e responder as perguntas do

questionário básico. Para isso, faça-se as seguintes

perguntas: quem, com quem, o quê, com quê, por quê, para

quê, quais as consequências, quais as circunstâncias, quais

analogias ou comparações podem ser feitas, quais os prós e

os contras, qual a síntese de tudo isso, qual é a minha

opinião pessoal e como posso concluir tudo isso?

Terceiro passo: sintetizar, ordenar e ampliar as

respostas para cada uma das perguntas do segundo passo.

Usar a memória.

Quarto passo: rascunho ou versão inicial.

Quinto passo: revisão e polimento do rascunho ou

versão inicial.

Sexto passo: redação definitiva ou versão final.

Seguindo esses passos, seu trabalho se tornará cada vez

mais fácil, mas isso se você desenvolver suas habilidades,

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praticando, exercitando e insistindo sempre. Crie seus

próprios paradigmas, use modelos já prontos, mas pratique.

Só escrevendo é que se aprende a escrever.

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POLIMENTO DO TEXTO

Habitue-se a polir suas redações, eliminando tudo

aquilo que não for necessário nem contribuir para chegar ao

resultado esperado por você. Isso implica em policiar-se

quanto ao excesso de adjetivos, às repetições, aos períodos

longos demais, às inversões exageradas da ordem dos

termos da oração, ao rebuscamento do vocabulário e outros

detalhes importantes.

Uma das melhores maneiras de testar se o seu texto

está bom é verificar que é fácil de ler e agradável de ser

ouvido. Para isso, simplesmente leia-o em voz alta. A

formação de um Clube Literário é um poderoso aliado para

quem deseja desenvolver seu estilo e tornar fluente, concisa

e correta a sua redação.

Nos primeiros tempos, sempre que fizer seu rascunho

ou versão inicial, faça o polimento do texto, antes de passar

a limpo. Isso será não apenas necessário, mas muito útil,

fazendo com que você ganhe firmeza e incorpore

procedimentos corretos.

Quando isso acontecer, você terá definido um estilo e

vai se sentir à vontade para escrever sobre qualquer assunto,

com um mínimo de erros.

Para estabelecer um procedimento, quando for fazer o

polimento de um texto que escreveu, verifique inicialmente

a introdução, o desenvolvimento e a conclusão, para ver se

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formam um bloco coerente, se as ideias estão atreladas ao

tema, se o texto flui com naturalidade e se há harmonia no

conjunto.

Observe em seguida outros aspectos que possam estar

prejudicando seu trabalho.

Para facilitar isso, aqui temos um roteiro. Para testá-lo,

pegue uma de suas últimas redações e mãos à obra.

Ambiguidade

Esta é uma das maiores inimigas de um bom texto,

presente nas expressões ou construções com duplo sentido,

resultando numa ideia imprecisa.

Exemplo:

Ele a pegou com a boca na botija, usando seu melhor

perfume.

Nessa afirmação, de quem era o perfume? Da pessoa

de quem se fala ou da pessoa com quem se fala?

Ouvi um relincho. Era a égua da minha namorada.

Ficou horrível, não? Era a égua (animal) que

relinchava ou a namorada?

Comparações

Empregue, sem abusar e onde for conveniente,

comparações que facilitem a compreensão do texto e fixem

uma impressão, tornando-o mais claro e sugestivo. Para

isso, use "como", "qual", "feito", "que nem".

Exemplo.

Então gato é que nem boia-fria?

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Mais um:

As águas desciam o rio rugindo como um bando de

feras desembestadas.

Você pode também empregar metáforas, comparações

e linguagem figurada para embelezar seu texto e dar-lhe um

colorido especial.

Exemplo:

O leito do rio parecia uma panela em ebulição. Os

troncos arrancados às margens eram como cadáveres

boiando sem controle.

Dissonâncias, cacofonias

Muitas vezes, ao construir uma oração, o resultado

pode ser perfeito no papel, mas desastroso quando lido ou

pronunciado. Pequenos cuidados podem afastar esse tipo de

problema de suas redações, tornando-as elegantes e fáceis

de serem lidas e pronunciadas. Não se descarta, porém, o

seu uso consciente, quando o contexto assim o exigir.

Palavras com a mesma terminação. Exemplo: A mão

que segurava o facão bateu no chão, derrubando o pão.

Repetição de vogais. Exemplo: A vaia era para a saia

da aia.

Repetição de consoantes. Exemplo: Fagundes fez fiado

para fazer fregueses. Falido, fugiu.

Duas ou mais palavras formando uma terceira de

sentido ou som desagradável. Exemplo: A boca dela

permanecia aberta. Quem poderá me dar uma mão aqui?

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Humorismo

Um pouco de humorismo pode tornar seu estilo mais

leve e agradável. Evite, porém, piadas pesadas, imoralidades

e até mesmo aquela anedota muito conhecida.

Inversões

Muito cuidado ao usar inversões na ordem dos termos

da oração (sujeito, predicado, complementos). Ao fazê-lo,

você pode dar beleza ao seu texto, realçando este ou aquele

termo, ou comprometer-lhe o sentido.

Exemplo:

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo

heroico o brado retumbante.

Você sabe qual é o sujeito desta célebre oração? A

ordem inversa tem feito muita gente iniciar nosso hino

cantando assim:

Ouviram do Ipiranga às margens plácidas, de um povo

heroico o brado retumbante.

Com essa interpretação, colocam a oração na seguinte

ordem natural:

(sujeito indeterminado) Ouviram o brado retumbante

de um povo heroico às margens plácidas do Ipiranga.

Ocorre que a ordem natural dessa oração é esta:

As margens plácidas do Ipiranga (sujeito simples)

ouviram o brado retumbante de um povo heroico.

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Lugar comum

O lugar comum é a expressão já pronta, acessível, fácil

de ser usada e, por isso, tentadora. Seu uso, porém, tira toda

a elegância e a originalidade de um texto, comprometendo o

resultado. Nosso vocabulário é rico e existem alternativas

para fugir a essa tentação.

Exemplos:

Políticos inescrupulosos, grandiosa festividade,

perseguidor implacável, exalar o último suspiro, encontra-se

engalanado, abriu o coração, tradicional festa, inflação

galopante, vitória esmagadora, esmagadora maioria,

caixinha de surpresas, caloroso abraço, silêncio sepulcral,

nos píncaros da glória e coisas assim.

Junte seus amigos do Clube Literário e organizem uma

lista desses lugares-comuns. Criem expressões criativas para

substituí-los.

Opinião pessoal

Evitar externar opiniões pessoais sem base ou fazer

generalizações. Quando afirmar algo, diga-o com base em

elementos que podem ser comprovados. Generalizar é

sempre muito perigoso. Se você afirmar, por exemplo, que

os políticos são todos corruptos ou que os professores são

uns perseguidores, corre o risco de não ter argumentos

sólidos para justificar isso. Numa dissertação, você pode pôr

todo o seu trabalho a perder, chegando a uma conclusão

levado por falsas premissas ou por uma argumentação frágil

e sem sustentação.

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Palavras certas

Temos em nossa língua muitas palavras que tem

formas diferentes, mas são pronunciadas da mesma forma,

como caçar e cassar, conserto e concerto, acento e assento,

além de outras cujas grafias são parecidas, como tráfego e

tráfico, por exemplo. Quando recomendamos, desde o início

do livro, o uso do dicionário, é para que você se habitue não

apenas ao significado das palavras, mas a sua grafia

também.

Uma palavra errada pode comprometer todo o sentido

do texto.

Períodos longos

Evite períodos longos em suas redações. A elegância e

a simplicidade dos períodos curtos facilitam seu trabalho,

pois são fáceis de serem compostos, escritos, pontuados e

entendidos.

Pleonasmos viciosos

Este é um problema muito comum na linguagem

informal falada, que pode ser levado facilmente para a

linguagem escrita. Sua presença tira a beleza do texto,

prejudica sua concisão e demonstra um vocabulário pobre e

pouco exercitado. O melhor remédio para curar-se deles é a

leitura e a revisão atenta e constante de tudo que escrever,

eliminando adjetivos e advérbios desnecessários.

Quer alguns exemplos?

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Subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro,

sair para fora, deferimento favorável, ver com os olhos,

comer com a boca, dividir em duas metades, um duo de

dois, um par de dois, a mim me parece, a ele nada lhe direi e

muitos outros.

Quer uma tarefa interessante?

Reúna seus amigos do Clube Literário e organizem

uma lista de pleonasmos. Depois criem alternativas para

corrigi-los.

Pontuação

Conheça um pouco mais a respeito do assunto e confira

para ver se está fazendo corretamente a pontuação.

Vírgula — sinal de pontuação que marca uma pausa

de curta duração ou separa termos de uma oração ou orações

de um período. A ordem normal dos termos numa frase é

sujeito, verbo, complementos. Essa ordem é chamada ordem

natural ou ordem direta. Quando a frase é escrita em ordem

direta, não separamos seus termos imediatos e por isso não

pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo, nem entre o

verbo e o complemento. Esta só é usada na ordem indireta, o

que ocorre basicamente em dois casos: ao intercalarmos

uma palavra ou expressão entre os termos imediatos,

quebrando a sequência natural da frase ou quando algum

termo, principalmente o complemento, surgir deslocado de

seu lugar natural na frase.

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Ponto-e-Vírgula — marca uma pausa maior que a

vírgula, sendo utilizado para separar orações coordenadas

que já apresentem vírgula em seu interior ou que tenham

certa extensão. Nunca pode ser usado dentro de uma oração,

pois serve justamente para separar uma oração de outra.

Dois-Pontos — usa-se antes de uma sequência que

explica, identifica, discrimina ou desenvolve uma ideia

anterior ou quando se quer dar início a uma fala ou citação.

Aspas — utilizadas para isolar citação textual colhida

de outrem, palavras ou expressões que não pertençam à

língua culta, como gíria, estrangeirismo e neologismo, que é

palavra, frase ou expressão nova, ou palavra antiga com

sentido novo.

Travessão — serve principalmente para indicar que

alguém fala de viva voz, no discurso direto e é usado em

textos narrativos em que os personagens dialogam. Pode ser

usado para substituir a vírgula dupla quando se quer dar

ênfase ao termo intercalado.

Reticências — marcam uma interrupção da sequência

lógica do enunciado, deixando ao leitor a responsabilidade

de complementar o pensamento suspenso. Não devem ser

usadas nas dissertações objetivas, que exige clareza e

objetividade na exposição. (O assunto é tratado com mais

profundidade no item Pontuação, do Apêndice deste

livro.)

Que

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Esta palavrinha é muito útil, quando corretamente

utilizada. Veja alguns cuidados a serem tomados em relação

a ela.

Orações adjetivas. Ao invés de uma casa que estava

cheia de gente, use uma casa cheia de gente.

Repetições. Em lugar de o trem que acabou de chegar

que trouxe a carga de comida use o trem que chegou trouxe

a carga de comida ou mesmo o trem chegou e trouxe a carga

de comida.

Verbos. Use disse ser impossível em lugar de disse que

era impossível.

Simplicidade

Procure desenvolver um estilo simples, sem

rebuscamento. Para isso, observe as seguintes regrinhas:

1. Prefira a descrição simples à elegante:

— Ele era forte, com mãos enormes.

— Ele era musculoso, com manoplas poderosas.

2. Prefira a palavra familiar à exótica:

— Ele ergueu o copo com mãos trêmulas.

— Ele ergueu o cálice com mãos trêmulas.

3. Prefira um estilo de escrita direto ao estilo

romântico:

— Sua voz era grave e assustadora.

— Sua voz parecia o trovão ecoando por uma caverna

desabitada e provocava frêmitos de pavor em quem a ouvia.

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4. Use substantivos sem adjetivação e verbos de ação

sem advérbios, a menos que sejam absolutamente

necessários ao sentido desejado:

— Enquanto estuda em seu quarto, José pensa em seu

futuro. .

— Enquanto estuda arduamente em seu quarto

solitário, José pensa constantemente em seu futuro distante.

Sinonímia

Verifique se há palavras repetidas em seu texto,

procurando encontrar um sinônimo à altura. Não faça disso,

porém, uma regra rígida, se houver prejuízo para o sentido.

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MODELOS

Com estes modelos não espero nem pretendo bloquear

sua criatividade, pois ao longo do livro não temos feito outra

coisa a não ser estimulá-la. O uso de paradigmas é a

maneira mais prática de você criar e desenvolver um estilo,

baseado em modelos consistentes e já utilizados e

aprovados. Ao adaptá-los ao seu gosto pessoal, você estará

desenvolvendo um poderoso instrumento, capaz de

solucionar todos os seus problemas com redação.

Vamos ver isso, então.

ORAÇÃO

Vamos supor que você seja o orador de sua turma, na

formatura de sua classe, e tenha que elaborar uma oração.

Se você pensar de imediato no velho esquema normal de

começo, meio e fim, poderá adaptá-lo a sua necessidade, da

seguinte forma:

Começo (invocação)

Meio (desenvolvimento - oração propriamente dita)

Fim (encerramento)

Vamos colocar isso num exemplo?

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ORAÇÃO DE FORMATURA

Início:

Senhor Deus, Todo Poderoso, diante de vós, estamos

hoje reunidos, esperançosos quanto ao futuro e satisfeitos

pela etapa vencida.

Desenvolvimento:

Iluminai nosso caminho para que possamos melhor

compreender a missão que o futuro nos reserva e para que

nos empenhemos na busca e na construção de um mundo

melhor para todos nós.

Concedei-nos a força e a coragem para bem

realizarmos nossa missão e atingirmos nossos objetivos,

praticando fielmente seus ensinamentos.

Permiti, Senhor Deus, que encontremos nossa

recompensa na graça de servir, no sorriso de gratidão, na

lágrima de felicidade e no abraço fraterno daqueles que

precisarem de nós.

Encerramento:

Fazei com que possamos render-vos glória através de

nossos atos e de nosso trabalho, dando-nos a chance de

servir e louvar Seu santo nome. Amém!

DISCURSO

O esquema de um discurso é o mesmo de uma redação

qualquer, exceto que seu conteúdo é mais abrangente e um

pouco mais longo. Ao ser escrito, deve antecipar a presença

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de autoridades ao evento, pois estas deverão ser

mencionadas, sempre do cargo mais alto para o mais

inferior ou do maior grau de importância para o menor.

Se fosse um discurso de formatura e o prefeito da

cidade estivesse presente, a saudação inicial seria para ele,

depois para o Diretor do Colégio, para os professores, pais

convidados e alunos. Por exemplo.

Tirando isso, deverá obedecer a mesma sequência de

abertura, desenvolvimento e conclusão. Para simplificar,

vamos colocar isso na forma de um esquema:

Saudação aos convidados presentes

Abertura (citar o motivo do discurso ou do evento)

Desenvolvimento (discorrer sobre isso)

Conclusão

Vamos imaginar que você foi eleito para presidente do

grêmio estudantil de sua escola e tenha de fazer um discurso

no dia da posse.

Poderia ser feito assim:

DISCURSO DE POSSE

(Saudação)

Excelentíssimo senhor prefeito...

Ilustríssimo senhor diretor...

Caríssimos senhores professores...

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Queridos e amados pais...

Estimados colegas...

Caríssimos companheiros de chapa...

(Abertura)

Estamos aqui hoje reunidos, agradecendo a Deus e aos

amigos pelo privilégio, pois acima de qualquer obstáculo,

somos jovens de paz e de boa vontade, preocupados com o

nosso presente e atentos ao nosso futuro. Nossa natureza

inquieta e preocupada não nos deixa sermos meros

espectadores de uma realidade que nos desagrada. Não

conseguimos ficar imóveis e omissos diante do apelo que

nos chama a participar e a colaborar na solução dos

problemas de nossa escola.

(Desenvolvimento)

Pretendemos uma escola melhor, uma comunidade

melhor, um mundo melhor e na mesma medida em que

trabalhar na solução dos problemas que estiverem ao nosso

alcance. Projetaremos nossa visão no futuro. Planejaremos

ações para que os próximos estudantes encontrem mais

facilidades e vantagens para explorar todo o seu potencial.

A diretoria que assume os destinos do nosso grêmio

estudantil sabe que tem desafios pela frente, que pretende

responder com ações, a partir de metas definidas, sem se

desviar jamais dos lemas e ideais que sempre marcaram a

atuação dos alunos que nos precederam.

As atividades a serem desenvolvidas por nossa

diretoria serão intensas e procuraremos nos superar em tudo.

As preciosas lições da Diretoria que hoje deixa o cargo

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serão levadas em conta em todos os momentos, valendo-nos

dessa experiência para traçarmos nosso próprio caminho.

Nosso diálogo com a direção da escola, professores,

pais e alunos será constante, pois acreditamos ser esta a

melhor maneira de juntos atingirmos os objetivos comuns.

(Conclusão)

Agradecemos a presença de todos, numa manifestação

de carinho e de participação, que muito nos emociona e que

ressalta nesta Diretoria o desejo de corresponder à altura

essa confiança. Rogo a Deus que nos ilumine e ajude nessa

missão para juntos construirmos o futuro com ação e

resultados. A vocês, a minha gratidão.

CARTA

Já vimos num dos capítulos anteriores um esquema

para a elaboração de cartas. Estaremos incluindo também

alguns modelos de correspondência comercial, para que

você tenha alguns paradigmas para suas necessidades de

relacionamento com empresas ou instituições.

Vamos comentar inicialmente alguns elementos que

são comuns a todas as cartas.

O primeiro deles é o cabeçalho, onde constam o local

onde a carta foi escrito e a data. Em seguida é feito o

vocativo, que numa carta informal pode ser o nome do

destinatário e numa carta para uma empresa poderá ser o

nome e o endereço dela.

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Em seguida, numa carta mais formal, será incluído um

vocativo como Prezado Senhor, Prezados Senhores, Prezada

Senhora, etc. No final da carta, temos a despedida e a

assinatura.

Poderíamos montar o seguinte esquema.

Cabeçalho

Local e data (mês com letra minúscula)

Destinatário

Vocativo

Abertura

Desenvolvimento

Encerramento

Despedida

Assinatura

Vamos aplicar isso?

Que tal escrever uma carta a uma amiga, informando

de sua candidatura a presidente do grêmio estudantil da

escola e alguma coisa sobre suas metas?

Eu faria assim!

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(Cabeçalho)

Minha cidade, 1 de abril de 2004.

A

Márcia Riguetto

Rua Nova, 96

Minha Cidade - Meu Estado

Prezada Amiga:

(Abertura)

Desde 1997 estudo nesta Escola, conhecendo suas

necessidades e participando de discussões para a solução de

seus atuais problemas.

(Desenvolvimento)

Nenhuma mudança importante acontecerá se não

passar pelo campo político, onde as decisões são tomadas.

Para provocar essas decisões e essas mudanças, os alunos

precisam ter um grêmio estudantil representativo e forte.

Com o conhecimento que tenho de nossa escola, estou

me candidatando à presidência do nosso grêmio,

convidando você não apenas a votar em mim como também

a participar de minha campanha com sua preciosa ajuda.

(Encerramento)

Certo de sua participação e de seu envolvimento nesta

tarefa que somente será realizada se todos nos unirmos,

manifesto minha gratidão, transmitindo-lhe meu abraço

mais afetuoso.

Atenciosamente,

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José Mário

(assinatura)

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CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL

Se você está se preparando para o ENEM ou para o

Vestibular, talvez este capítulo lhe seja totalmente inútil.

Poderá ter utilidade em um concurso mais específico ou até

mesmo para se candidatar a uma vaga de trabalho. De

qualquer forma, não será um conhecimento inútil, mas você

pode pular esta etapa, se assim decidir.

Uma Carta Comercial exige concisão, dentro de um

padrão comum e conhecido. Para escrever uma Carta

Comercial é necessário dominar os principais paradigmas. A

partir daí, mudam os destinatários, datas, valores, endereços,

mas o paradigma se mantém.

Conhecendo isso, você poderá elaborar tranquilamente

qualquer carta, com a segurança de um especialista no

assunto.

Fornecerei alguns modelos básicos e padrões

normalmente utilizados na Correspondência Comercial. A

partir daí, utilizando os conhecimentos que você

desenvolveu ao longo do livro, estou certo de que

conseguirá se sair bem em qualquer outra situação.

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1 - Pedindo Emprego

Minha cidade, 4 de abril de 2004.

À

CASA DO MAGO DAS LETRAS

Rua da Alchimia, 801

Cidade - Estado

Prezados Senhores:

Estou encaminhando meu currículo com todas as

informações sobre minha formação e experiência, em que

V. Sas. verificarão que preencho satisfatoriamente as

qualificações necessárias para ocupar um cargo nessa

empresa.

Chamo a atenção em especial ao fato de haver me

formado recentemente e já ter feito estágio em algumas

empresas do ramo.

Minha pretensão salarial é de um fixo não inferior a R$

350,00, mais acréscimos legais, estando, porém, aberto para

discutir outras ofertas.

No aguardo de V. Sas., subscrevo-me,

Atenciosamente,

(assinatura)

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2 - Telegrama

Um telegrama é escrito num formulário próprio do

Correio, sendo que seu texto tem algumas características

básicas. Se você precisar escrever um, saiba que ele é

cobrado por palavras escritas, por isso simplifique ao

máximo a linguagem, cortando acessórios e deixando

apenas a mensagem principal. Elementos como vírgula e

ponto são escritos abreviadamente.

Vamos passar um telegrama para um amigo que não

tem telefone, informando-o que vamos visitá-lo:

Chego próxima segunda vg prepare acomodações pt

Seu nome

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3 - Locando um Imóvel

Suponhamos que você vá estudar fora e tenha que

alugar um apartamento ou um quarto junto a uma

imobiliária. Para isso, precisa confirmar seu interesse. Para

isso, poderia mandar esta carta:

Minha cidade, 18 de abril de 2004.

À

IMOBILIÁRIA DO MAGO LTDA

Rua da Alchimia, 1000

Cidade - Estado

A/C: Departamento de Locações

Prezados Senhores:

Conforme contato telefônico, confirmo meu interesse

na locação do apartamento localizado na Rua do Sassarico,

1950. Para tanto, anexamos ficha cadastral preenchida, bem

como cópia do recibo do depósito inicial para garantia da

locação.

Colocamo-nos à disposição para quaisquer outras

informações, solicitando, por outro lado, brevidade na

confirmação.

Atenciosamente,

(assinatura)

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4 - Declaração

Se você precisar de uma declaração para ser usada

como referência, pode usar o seguinte modelo.

DECLARAÇÃO

A quem interessar possa

JOSÉ CARLOS DOS SANTOS, brasileiro, casado,

comerciante, portador da Carteira de Identidade n.º 453.456-

7, CIC n.º 123.654.321-00, residente e domiciliado à Rua

Alchimia, 1200, nesta cidade, e PEDRO AUGUSTO DE

SOUZA, brasileiro, solteiro, bancário, portador da Carteira

de Identidade n.º 123.678-9, CIC n.º 789.321.987-11,

residente e domiciliado à Rua Sassarico, 2400, nesta cidade,

declaram que (Seu Nome), brasileiro(a), solteiro(a),

estudante, filho de (Nome de seu Pai) e (Nome de sua Mãe,

portador da Carteira de Identidade n.º (Número de sua

Identidade) , CIC n.º (Número de seu CIC ou de seu Pai ou

Responsável), residente e domiciliado à (Nome da Rua onde

Você Mora), nesta cidade, é pessoa de irrepreensível

idoneidade moral, nada tendo conhecimento que possa

desabonar sua conduta pessoal e profissional.

Minha cidade, 22 de abril de 2004.

Assinatura

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5 - Procuração

Sempre que você não puder fazer alguma coisa

pessoalmente, você pode nomear um procurador. Não se

esqueça de reconhecer sua firma no cartório.

INSTRUMENTO PARTICULAR DE

PROCURAÇÃO

OUTORGANTE: JOSÉ CARLOS DOS SANTOS,

brasileiro, casado, comerciário, portador da Carteira de

Identidade n.º 989.787-6, CIC n.º 121.232.343-44, residente

e domiciliado à Rua Castro Alves, 3600, Minha cidade - PR.

OUTORGADO: PEDRO AUGUSTO DE SOUZA,

brasileiro, casado, comerciário, portador da Carteira de

Identidade n.º 1.02.003-4, CIC n.º 321.987.654-22, residente

e domiciliado à Rua da Alchimia, 801, Minha cidade - PR.

PODERES: Amplos, gerais e irrestritos para o fim

específico de, junto à Secretária do Colégio Estadual Castro

Alves requerer certificado de conclusão do segundo grau,

podendo, para tal fim, assinar recibos e documentos e

praticar todos os atos necessários ao fiel desempenho deste

mandato, inclusive substabelecer no todo ou em parte.

Minha cidade, 22 de abril de 2004.

Assinatura

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6 - Atestado

ATESTADO

Atestamos, para os fins de direito, que o Sr. FULANO

DE TAL, brasileiro, casado, estudante, portador da Carteira

de Identidade n.º 1.002.003-4, CIC n.º 321.987.654-22, é

aluno regularmente matriculado nesta escola, na 8ª série do

primeiro grau, com frequência e aproveitamento dentro da

normalidade.

Cidade, 22 de Abril de 2004.

Assinatura

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7 - Solicitando Saldo, Talão de Cheques ou Extrato

ao seu Banco.

Minha cidade, 28 de Abril de 2004.

AO

BANCO ... S/A

Ag. ...

NESTA

Ac.: Setor de Contas Correntes

Ref.: Conta Corrente 003.004005-6

Prezado Gerente:

Solicitamos fornecer ao portador desta, devidamente

identificado, Sr. MÁRIO PEREIRA, portador da Carteira de

Identidade n.º 456.321, o saldo atualizado (talão de

cheques/extrato/etc.) de minha conta corrente.

Certos da atenção costumeira, firmo-me,

Atenciosamente,

Assinatura

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8 - Autorizando Débito em Conta Corrente

A comodidade de deixar seus pagamentos aos cuidados

do seu Banco pode exigir uma correspondência como esta:

Minha cidade, 18 de abril de 2004.

AO

BANCO ... S/A

Ag. ...

NESTA

At.: Setor de Débitos Automáticos em Contas

Correntes

Prezados Senhores:

Solicitamos e autorizamos o débito mensal de meu

carnê de mensalidades do Cursinho Minhas Letras,

conforme documento em anexo, em minha conta corrente

n.º 001.004.005-6, na data do seu vencimento,

encaminhando-me os comprovantes.

Certos da costumeira atenção, firmo-me,

Atenciosamente,

Assinatura

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9 - Sustando o Pagamento de um Cheque

Suponhamos que, por algum motivo, você precise

sustar um cheque. Sustar é cancelar seu pagamento. Você

pode mandar a seguinte carta ao seu Banco.

Minha cidade, 18 de abril de 2004.

AO

BANCO ... S/A

Ag. ...

At.: Gerente de Contas Correntes

Ref.: Cheque n.º 234.212 - R$ 12.000,00 - de 15/09/98

Prezados Senhores:

Pela presente, vimos solicitar o cancelamento do

pagamento do cheque acima, por nós emitido contra a nossa

conta corrente n.º 003.004.005.6, nessa Agência, tendo em

vista o seu extravio.

Agradecendo pelas providências imediatas, firmamo-

nos,

Atenciosamente,

Assinatura

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10. Modelos de Currículo

É importante ter seu currículo pronto e atualizado para

fornecê-lo, quando solicitado. Eis um modelo simplificado:

NOME

ENDEREÇO CIDADE, ESTADO, CEP

TELEFONE RESIDENCIAL E COMERCIAL

OBJETIVO DO CURRÍCULO:

Candidatar-se à vaga de...

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Pegue sua Carteira Profissional e relacione um a um

seus empregos anteriores, citando períodos, nomes e

endereços das empresas onde trabalhou, cargos que ocupou

e outras informações relevantes.

ESCOLARIDADE:

Relacione cursos, citando períodos, nome das

instituições, carga horária e outras informações relevantes

de sua escolaridade e dos cursos que frequentou e que

tenham relação com o emprego pretendido.

REFERÊNCIAS:

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Relacione pessoas físicas e jurídicas que possam

prestar informações relevantes sobre seu desempenho

profissional, citando nomes, endereços e telefones.

Para facilitar, programas editores de texto como o

Word oferecem diversos modelos de currículos, fáceis de

serem usados, se você tem acesso a um computador.

Não deixe de visitar com frequência meu endereço na

Internet

http://www.acasadomagodasletras.net

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JUSTIFICATIVA

Por que aprender a escrever?

Poder-se-ia enumerar uma série de justificativas para

isso, mas creio que a mais importante delas está ligada ao

seu futuro. Se você pretende seguir uma carreira, vai passar

pelo funil do ENEM, do vestibular ou de um concurso

público, nos quais o item redação tem um peso que não

pode nem deve ser desprezado.

Se você vai ser um professor ou um advogado, saber

escrever será sempre exigido de você. Se vai ser um médico,

cedo ou tarde terá de fazer uma palestra e terá de pôr em

prática seus conhecimentos.

O jornal "Gazeta do Povo", em sua edição de 12 de

janeiro de 1999, trazia na primeira página a seguinte

chamada:

Candidatos da PUC fogem do tema da redação

Até ontem não houve o registro de nenhuma nota 10

entre os 17,6 mil candidatos na prova de Redação do

vestibular da Pontifícia Universidade Católica. Muitos

fugiram ao tema proposto: "Comunicação de Massa e

Conformismo", sendo logicamente zerados. Escreveram

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sobre macarrão, a atmosfera e as massas de ar. A banca

examinadora encerra a correção das provas hoje.

Isso já seria o bastante para demonstrar porque a

Redação deve ser encarada com seriedade, considerando seu

peso e sua importância nas aprovações do vestibular. O

mesmo ocorre em concursos onde ela é exigida, inclusive

naqueles que requerem o conhecimento de Correspondência

Comercial, que também é uma forma de redação.

São altamente esclarecedoras e úteis as reportagens que

se seguem a essa chamada, não apenas para dar preciosas

informações sobre as avaliações feitas, como também para

orientar quanto aos aspectos observados pelos professores

encarregados da correção.

Vejamos essas reportagens:

Notas da Redação na PUC-PR ficam entre 5 e 6

Além de confundirem o tema proposto na prova, os

candidatos ainda cometeram erros grotescos de gramática e

concordância.

Embora o nível das redações escritas pelos candidatos

do vestibular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

(PUC-PR) tenha melhorado em relação ao concurso do ano

passado, segundo os professores que as estão corrigindo, a

banca examinadora das dissertações — que deve encerrar os

trabalhos de correção hoje pela manhã — ainda considera

fraco o desempenho dos vestibulandos. Até ontem, nenhuma

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das 17,6 mil redações tinha tirado nota 10. A maioria dos

candidatos ficou com 5 ou 6. Alguns se desviaram

completamente do tema proposto — "Comunicação de

Massa e Conformismo"—, chegando a escrever sobre

macarrão e as massas de ar.

Os candidatos que escreveram sobre comida ou sobre a

atmosfera devem ter visto a palavra "massa" e nem

terminaram de ler sobre o tema proposto para começar a

dissertação, imagina Geraldo Mattos, um dos 28 professores

da PUC que participam da correção das redações.

Além desse tipo de desvio do tema proposto, absurdos

ainda maiores ocorrera. Alguns vestibulandos escreveram

sobre o Descobrimento do Brasil, sobre a cidade de

Curitiba, sobre a Revolução Industrial ou sobre a sua

própria vida; uma espécie de autobiografia. De cada 60

redações, cerca de duas fogem ao tema, segundo os

professores corretores.

Recados

"Espero que muito disso tenha ocorrido por

brincadeira", diz a professora Marta Costa, outra corretora,

que lembra que há candidatos que chegam a deixar recados

na redação destinados ao "senhor, corretor da redação" ou "à

banca examinadora". Além disso, também há aqueles que

explicam a falta de inspiração alegando que "já passaram

em outro vestibular" e por isso nem chegam a escrever as 20

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linhas mínimas exigidas. Redações completamente brancas

também foram entregues pelos vestibulandos.

Aqueles que ao menos conseguiram discorrer sobre o

tema proposto, na maioria mostram inúmeras deficiências

em todas as áreas da língua portuguesa: gramática,

pontuação, concordância. Erros crassos foram encontrados

pelos professores: imprença (para designar imprensa), vôsse

(você), bom bardeio (bombardeio) cirquíuto (circuito), entre

outros (veja quadro). Também é muito comum a separação

do sujeito do verbo e a falta de concordância verbal, que

levam estudantes a escrever, por exemplo, "o homem são

importante..."ou "as mulheres é", revela o corretor Basílio

Agostini.

Fala e escrita

O problema, acredita a professora Marta, é que os

vestibulandos de um modo geral escrevem do mesmo modo

que falam, e as escolas ainda não sabem trabalhar essa

relação entre a fala e a escrita formal de um modo

adequado. O mais alarmante, aponta o professor Matos, é

que a estrutura das frases e ideias, de um modo geral, é

completamente aleatória e desconexa. "Isso revela uma

dificuldade de raciocinar de modo lógico", ressalta a

professora Marta. As conclusões também costumam ser

desastrosas, parecendo uma mera lição de moral, diz ela.

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Ao afirmar que essas notícias eram extremamente

valiosas, vamos mostrar como a leitura atenta de um texto,

de uma informação e das notícias é importante para o

entendimento, fornecendo elementos para uma análise

lógica do conteúdo, tirando dele importantes subsídios.

Inicialmente, vimos que, de 17,6 mil redações, 586

foram zeradas por fugir do conteúdo. Isso quer dizer que

586 concorrentes foram afastados da competição por esse

motivo. Somam-se a esses aqueles que entregam as folhas

em branco, aqueles que apresentam erros crassos, que

demonstram deficiências em todas as áreas da língua

portuguesa e veremos esse universo aumentar

consideravelmente. Basta citar que a nota máxima, no caso,

foi 6. Quem tirasse acima disso teria preciosos pontos sobre

os demais concorrentes, que poderiam ser importantes na

classificação final, garantindo a aprovação.

Outro aspecto importante é que foram exigidas pelo

menos 20 linhas, número que não varia muito de uma

Universidade para outra. Além disso, a notícia enumera

aspectos que devem ser trabalhados por aquele que deseja

destacar-se no vestibular, fazendo uma boa prova de

redação. Podemos enumerar, por exemplo:

1 - Jamais se desvie do tema proposto. Leia com

atenção o que se pede, até entender exatamente sobre o que

deverá escrever.

2 - Não mande "recados" ao corretor da redação. De

nada adiantará e somente servirá para fornecer material para

os próximos absurdos.

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3 - Considere que não existe "inspiração", por isso

evite ficar à espera dela. Ao entender o tema, entre em ação.

4 - Atenção redobrada com a gramática, pontuação,

concordância, ortografia (se não tiver certeza da grafia da

palavra, use um sinônimo) e estrutura da frase.

5 - Aprenda a diferenciar a fala da escrita formal.

6 - Procure impor ordem e nexo a suas ideias,

raciocinando de modo lógico. Leia muito, discuta e troque

ideias. Habitue-se a observar os diversos ângulos de um

mesmo assunto.

7 - Conclua sua dissertação resumindo os argumentos

apresentados.

8 - As chances de ser pedida uma dissertação são

elevadíssimas. Com uma frequência menor, poderão ser

pedidas descrições ou narrações. Esteja preparado para o

inesperado.

Como vê, todas essas informações foram tiradas da

notícia e foram dadas por professores que trabalham na

correção de redações. Haverá pessoas mais capacitadas para

isso?

Se você achou tudo isso importante, faça suas

observações tire suas próprias conclusões sobre outra notícia

publicada na mesma data e no mesmo jornal. Observe que

há importantes informações e orientações sobre como

abordar um tema de redação.

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Análise feita mostra massificação de estudantes

Apesar do nível geral das redações ter aumentado, há

10 anos os candidatos eram mais criativos. A avaliação é da

professora Marta Costa, uma das que está trabalhando na

correção das dissertações do vestibular da PUC. Segundo

ela, embora em muitas redações os candidatos condenassem

o comodismo frente aos meios de comunicação,

paradoxalmente os argumentos que a maioria usou para

justificar suas opiniões são muito semelhantes. "Eles

mesmos estão massificados", teoriza a professora.

As maiores notas nas redações, lembra Marta, foram

dadas exatamente para os candidatos que, além da correção

gramatical, apresentaram argumentos que fugiram do lugar-

comum e trouxeram alguma novidade. Já o professor Basílio

Agostini, também corretor das dissertações, acredita que a

falta de criatividade apresentada no vestibular, na verdade, é

reflexo da democratização do acesso ao vestibular. Há 10

anos, menos pessoas — a maioria preparadas em colégios

particulares mais tradicionais — conseguiam fazer o

concurso e por isso o resultado parecia melhor.

Falta de qualidade

Para Agostini, embora os erros das redações possam

parecer engraçados, na verdade revelam a falta de qualidade

do ensino médio brasileiro. Como os problemas encontrados

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nas redações são praticamente os mesmos, ele acredita que

poderia ser feita uma política educacional para que as

maiores dificuldades dos alunos fossem sanadas ainda na

escola. "Isso só seria possível com investimento público",

defende ele.

Por tudo isso, os estudantes estão entrando na

universidade com inúmeras deficiências — o que

compromete todo o seu aprendizado, já que eles devem ser

instruídos em disciplinas nas quais já deveriam ter

habilidades, diz a professora Marta. E os problemas não

param na universidade, lembra outro professor da PUC,

Jayme Bueno. Ele conta que recebeu em casa um folheto de

uma agência de ecoturismo no qual havia recomendações a

quem fosse participar de um determinado passeio: levar uma

capa de chuva (se tiver), levar dois pares de tênis (um para

usar, outro para ficar seco). Além disso, lembra ele, os erros

se repetem na vida profissional.

E então? Não foram preciosas informações estas

passadas pela notícia? Tudo porque elas foram redigidas

corretamente, de modo lógico, explorando as estruturas da

língua, com um objetivo determinado, um começo, um meio

e um fim.

Informações igualmente importantes poderão ser lidas

no capítulo Leituras Obrigatórias, em que importantes

personagens da literatura abordam o importante assunto do

estilo.

Para terminar e relaxar um pouco, quer conhecer um

pouco dos erros e absurdos de que falaram os esclarecidos

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mestres a respeito do tema "Comunicação de Massa e

Conformismo"? Então vamos lá!

Pérolas do Vestibular

A ação de poluentes atmosféricos aquece a floresta.

A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO.

A Amazônia é explorada de forma piedosa.

A Amazônia está sendo devastada por pessoas que não

tem senso de humor.

A Amazônia está sofrendo um grande, enorme e

profundíssimo desmatamento devastador, intenso e

imperdoável.

A Amazônia tem valor ambiental ilastimável.

A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios

verticais.

A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos

poluídas, sem coração.

A camada de ozonel.

A capital de Portugal é Luiz Boa.

A comunicação é de massa porque precisamos utilizar

a massa cinzenta para compreendê-la.

A comunicação é importante porque comunica algo

entre duas ou mais pessoas que querem se comunicar.

A comunicação é moderna porque usa modernidades

da atualidade.

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A comunicação é uma junção da verdade com a

falsidade, afinal fofoca é uma coisa feia e é comunicação.

A comunicassão social e feita de mim para voçês.

A concentização é um fato esperansoso para todo

território mundial.

A crise por qual o mundo passa aborrece a população

em massa.

A cultura mudou, os costumes mudaram, até os dentes

dos nossos bisavós eram diferentes, temos dentes a menos.

A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os

românticos escrevem romances e os realistas nos mostram

como está a situação do país.

A empresa e o público ixterno caminhão juntos,

incluindo aí a emprensa.

A falta de consideração para com a natureza ocorre

devido a falta de maturidade da cabeça e dos pensamentos

humanos.

A fé é uma graça através da qual podemos ver o que

não vemos.

A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo.

A floresta amazônica não pode ser destruída por

pessoas não autorizadas.

A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que

parar de desmatar para que os animais que estão extintos

possam se reproduzirem e aumentarem seu número

respirando um ar mais limpo.

A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o

homem e créu.

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A Geografia Humana estuda o homem em que

vivemos.

A harpa é uma rosa que toca.

A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e

Momentânea (esta, a dos nossos dias).

A ideia de uma pessoa no oriente por exemplo, poderá

ser examinada e copiada com todas as vírgulas em vários

lugares do ocidente assim tornando essa ideia algo comum,

por mais criativa que ela tenha sido.

A igreja ultimamente vem perdendo muita clientela.

A igreja vem perdendo muita clientela.

A informação fornecida pela TV é pacífica de falhas.

A insônia consiste em dormir ao contrário.

A mudança sempre ocorreu e sempre vai ocorrer. Ela

ocorre para os seres vivos, mortos, para o concreto, para o

abstrato (ideias).

A natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se

acabando.

A natureza está cobrando uma atitude mais energética

dos governantes.

A Previdência Social assegura o direito à enfermidade

coletiva.

A principal função da raiz é se enterrar.

A principal vítima do desmatamento é a vida

ecológica.

A prosopopeia é o começo de uma epopeia.

A relação entre a amizade e o interesse econômico são

adjacentes.

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A respiração anaeróbica é a respiração sem ar, que não

deve passar de três minutos.

A situação tende a piorar: os madereiros da Amazônia

destroem a Mata Atlântica da região.

A televisão é influenciativa em nossas vidas. Quantas

vezes não compramos um tênis porque vemos na TV? A

programação da televisão deveria ser mais educante.

A televisão é um meio de comunicação, audição e

porque não dizer de locomoção'.

A televisão leva fatos a trilhares de pessoas.

A televisão passa para as pessoas que a vida é um

conto de fábulas e com isso fabrica muitas abeças.

A televisão pode ser definida como uma faca de trez

gumes. Ela tanto pode formar, como informar, como

deformar.

A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo.

A TV acomoda aos tele inspectadores.

A TV deforma a coluna, os músculos e o organismo

em geral.

A TV deforma não só os sofás por motivo da pessoa

ficar bastante tempo intertida como também as vista.

A TV é o oxigênio que forma nossas ideias.

A TV ezerce poder, levando informações diárias e

porque não dizer horárias.

A TV no entanto é um consumo que devemos

consumir para nossa formação, informação e deformação.

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A TV possui um grau elevadíssimo de informações que

nos enriquece de uma maneira pobre, pois se tornamos uns

viciados deste veículo de comunicação'

A TV se estiver ligada pode formar uma série de

imagens, já desligada não.

A unidade de força é o Newton, que significa a força

que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo,

no sentido contrário.

A unidade de força é o Newton, que significa a força

que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo,

no sentido contrário.

Abto (hábito).

Abtolado (bitolado).

Ainda não se sabe alcerto qual foi.

Aixo (acho).

Amigos puxam topete um do outro.

Amizade na maioria das vezes é uma conjuntura de

atividades realizadas por duas ou mais pessoas, podendo ser

real ou fictícia.

Anafaquistão, um país que derrubou as torres e que tem

como deus um tal de Bilack.

Animais ficam sem comida e sem dormida por causa

das queimadas.

Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.

Antigamente ao bater uma carroça na outra

dificilmente alguém morria, hoje após a evolução, milhares

morrem em acidentes de carro.

Antigamente há uns 30 anos atrás.

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Ao longo dos tempos, como todos esperávamos, a

história mundial vem se modificando.

Ao utilizarmos a comunicação nos comunicamos.

Após cinco anos de sua introdução à sociedade, havia

concluído dois cursos superiores e penetrado na vida

política.

Arriscarão (arriscaram).

As aves têm na boca um dente chamado bico.

As constelações servem para esclarecer a noite.

As glândulas salivares só trabalham quando a gente

têm vontade de cuspir.

As mudanças ocorrem devagarosamente.

As mulheres é...

As múmias tinham um profundo conhecimento de

anatomia.

As pessoas morrem agonizadamente.

As plantas se distinguem dos animais por só respirarem

a noite.

As principais cidades da América do Norte são

Argentina e Estados Unidos.

Atualmente para conseguirmos entrarmos no mercado

de trabalho, temos que estudarmos muito e deixarmos de

lado muitos prazeres.

Bom bardeio (bombardeio).

Bom censo (bom senso).

Bom, vou juntar varias coisas que axei e botar aki, axu

q vae ficar grande xP.

Bomsenso (bom senso).

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Caracteres sexuais secundários são as modificações

morfológicas sofridas por um indivíduo após manter

relações sexuais.

Cirquíuto (circuito).

Com ser tesa (com certeza).

Como diz o ditado: é duro agradar a pobres e troianos.

Comunicação de maça (comunicação de massa).

Comunicação em massa (comunicação de massa).

Concerteza (com certeza).

Confessão (confessam).

Convivemos com a merchendagem e a politicagem.

Desde a priori aos tempos remotos.

Desde o seu surgimento o homem galopou pela escala

orgânica, tendo seu cérebro como montaria, pois anda a

frente das demais espécies, dominando-as a seu favor.

Dificilmente vamos encontrar mudanças ou progressos

que são positivamente bons para ambas as partes.

Docê – doce.

E nós estamos nos diluindo a cada dia e não se pode

dizer que a TV não tem nada a ver com isso.

E o Homo Sapiens continua seu progresso:

desmatando, poluindo e usando desinfetantes, só para dar

cheirinho no seu banheiro.

E o presidente onde está? Certamente em sua cadeira,

fumando baseado e conversando com o presidente dos EUA.

E por enquanto a decisão está indecisa.

É preciso deter o avanço bélico e fronteiriço dos EUA.

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É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover

o saneamento de muitas pessoas.

É um problema de muita gravidez.

Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram

sacrificadas.

Em homenagem a Gutenberg, fizeram na Alemanha

uma estátua, tirando uma folha do prelo, com os dizeres: e a

luz foi iluminada.

Enquanto isso os Zoutros… tudo baixo nive.

Então o governo precisou contratar oficiais para

fortalecer o exército da marinha.

Entre os povos orientais os casamentos eram feitos no

escuro e os noivos só se conheciam na hora h.

Entres os índios de América, destacam-se os aztecas,

os incas, os pirineus, etc.

Espero que o desmatamento seja instinto.

Esse processo poderá centralizar as pessoas.

Estamos no apse do mundo digital.

Eu concordo em gênero e número igual.

Eu, particularmente, desenvolvi uma cabacidade de

raciocínio e argumentação incríveis.

Expansivas são as pessoas tangarelas.

Explorar sem atingir árvores sedentárias.

Expressões de baixo escalão (expressões de baixo

calão).

Faço comunicação porque acho importante ser

comunicadora, mas não acho importante ler jornal (suja a

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mão), nem ficar em casa vendo TV. Acho melhor me

comunicar entre si.

Fazendo uma comparação das proezas do coelho que se

reproduz em grande quantidade, os humanos já venceram

com maior número populacional.

FMI, gente que nunca veio aqui e nem sabe o que é

sofrer.

Hitler, apesar de tudo, era um grande extrativista.

Houssa (ouça).

Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu

, o verde representa as matas, e o amarelo o ouro. O ouro já

foi roubado e as matas estão quase se indo. No dia em que

roubarem nosso céu, ficaremos sem bandeira.

Imprença (imprensa).

Isso tudo é devido ao raios ultra-violentos que

recebemos todo dia.

Já está muito de difíciu de achar os pandas na

Amazônia.

Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.

Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.

Marketing em português é mercado, marketing pessoal,

portanto é o mercado que frequentamos.

Meacabei medando mau.

Menos desmatamentos, mais florestas arborizadas.

Milhares de pessoas pegaram epidemia de cólera.

Na América Central há países como a República do

Minicana.

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Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de

estradas de ferro cimentadas.

Na cama dos deputados foram votadas muitas leis.

Na floresta amazônica tem muitos animais:

passarinhos, leões, ursos, etc.

Na Grécia a democracia funcionava muito bem porque

os que não estavam de acordo se envenenavam.

Na Grécia Antiga um dos maiores césares foi

esfaqueado pelo seu próprio filho adotivo.

Na Grécia, a democracia funcionava muito bem,

porque os que não estavam de acordo, se envenenavam.

Na verdade, nem todo desmatamento é tão ruim. Por

exemplo, o do Aeds Egipte seria um bom beneficácio para o

Brasil.

Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele.

Nesta terra ensi plantando tudo dá.

No Brasil e no mundo as pessoas é envolvida por

notícias.

No começo os índios eram muito atrazados mas com o

tempo foram se sifilizando.

No passado, não existia absolutamente nada para se

comunicar, se informar e com o passar do tempo as coisas

foram mudando radicalmente. Quem sabe se na pré-história

os indivíduos pertencentes à raça humana já tinham ideia de

se comunicar com os outros mesmo a longas distâncias? Ou

quem sabe se eles eram até mais evoluídos do que nós? Uma

coisa é certa: eles existiram.

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No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de

outros produtos extremamente vegetarianos.

O Ateísmo é uma religião anônima.

O aumento da temperatura na terra está cada vez mais

aumentando.

O batismo é uma espécie de detergente do pecado

original.

O bem star (sic) dos abtantes endependente (sic) de

roça, religião, sexo e vegetarianos, está preocudan-do-nos.

O Brasil é um país abastardo com um futuro

promissório.

O Brasil é um país muito aguado pela chuva.

O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa

unidade de tempo.

O cerumano no mesmo tempo que constrói, também

destroi, pois nos temos que nos unir para realizarmos

parcerias juntos.

O Chile é um país muito alto e magro.

O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é

inverno; quando faz calor é verão; quando tem flores é

primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é

inundação.

O comodismo e a falta de criatividade são as piores

virtudes do ser humano.

O coração é o único órgão que não deixa de funcionar

24 horas por dia.

O empréstimo para amigos ou parentes são sempre

feitos via oral.

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O endomarketing é como se fosse o marketing

endovenoso.

O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas.

(sobre o El Niño)

O examinador não poderia vir corrigir a prova de

pijama porque a resvista Cláudia diz que é errado.

O fidibeque é a mesma coisa que a retroinformação, ou

seja a informação que vem por trás.

O filósofo Nich do início do século já observava que a

evolução gerérica teria que ser de forma moderada.

O grande excesso de desmatamento exagerado é a

causa da devastação.

O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos

peixes.

O hino nacional francês se chama La Mayonèse...

O homem progrediu as custas de outros, como

Frankstein, que deu vida a uma criatura, adquiriu a evolução

mas não teve bom êxito com o monstro criado. Já que este

monstro não tinha noção da sua força e deformação.

O homem são importante...

O homem tem a capacidade infinita de evoluir, mas

não sabe utilizá-la de forma segura e promíscua.

O macaco é descendente do homem.

O maior matrimônio do país é a Educação.

O mundo está reagindo as reações que o homem está

fazendo.

O nervo ótico transmite ideias luminosas ao cérebro.

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O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas

desconhecidas.

O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em

que os peixes se afogavam dentro água.

O povo amazônico está sendo usado como bote

expiatório.

O povo vive num mundo de comodidade sem fazer

esforço para que a crise da contradição seja mais que o

comodismo.

O Press release tem esse nome porque realiza as coisas

com pressa.

O problema ainda é maior se tratando da camada

Diozanio!

O problema da Amazônia tem uma percussão mundial.

Várias Ongs já se estalaram na floresta.

O problema da comunicação social no Brasil é que ela

é dirigida por brasileiros, deveríamos trazer os americanos.

O problema fundamental do terceiro mundo é a

superabundância de necessidades.

O proficional de comunicação tem um mercado

bundante a sua disposição, afinal, todos se comunicam na

terra.

O público mixto é composto por aquelas pessoas que

entram e saem da empresa. Ou seja nunca estão totalmente

dentro, nem totalmente fora.

O que é de interesse coletivo de todos nem sempre

interessa a ninguém individualmente.

O que vamos deixar para nossos antecedentes?

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O ruído realmente atrapalha muito a comunicação.

Aqui na universidade fico atordoado quando passa o trem,

quase não ouço o professor. As salas deveriam ser à prova

de som.

O ser humano é uma faca de dois gumes e o primeiro é

o amor, que é uma pilastra central da sociedade.

O serigueiro tira borracha das árvores, mas não nunca

derrubam as seringas.

O sero mano tem uma missão.

O sol nos dá luz, calor e turistas.

O terremoto é um pequeno movimento de terras não

cultivadas.

O uniforme da nova geração está ultrapassado.

O vento é uma imensa quantidade de ar.

Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente

e onde desce decente.

Opição (opção).

Opnião (opinião).

Os aminoácidos foram os primeiros habitantes da terra.

Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à

escola.

Os crustáceos fora d'água respiram como podem.

Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza.

Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição

da froresta amazonia.

Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária

para que os mortos pudessem viver melhor.

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Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes

enteresse pela Amazônia.

Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes

da Mesopotamia.

Os fungos realmente são bastante nocivos aos

interesses humanos. Fungando, uma pessoa pode estar

inalando milhões e milhões de vírus e bactérias do ambiente

em que se respira. Mas há também a utilidade. Uma boa

fungada pode efetivamente retirar aquele catarro preso na

garganta, sendo que quanto maior o som emitido pela

fungada maior é a sua eficiência e precisão na retirada

daquela substância indesejada. Há quem diga que fungos é

porcaria, mas pesquisas científicas revelam que, além de

serem métodos eficientes, as fungadas fazem parte do dia-a-

dia de pessoas em todo o mundo. É como diz a famosa

frase: aquele que nunca deu uma fungada que atire a

primeira pedra.

Os hermafroditas humanos nascem unidos pelo corpo.

Os maias, por exemplo, pouco se sabe sobre essa

civilização, muitos acreditam que eles chegaram a tal ponto

evolutivo que transcenderam. Ou mesmo as civilizações dos

cristais que ocuparam o planeta há muito tempo atrás e que

obtinham todos os seus poderes dos cristais.

Os plantetas são 9: Mercúrio, Venus,Terra, Marte. Os

outros 5 eu sabia mas como esqueci agora e está na hora de

entregar a prova, o sr. não vai esperar eu lembrar, vai? (e

espero que não vai abaixar a nota por causa disso).

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Os principais meios utilizados pelas comunicação são:

meios orais (que são falados), meios auditivos (que são

ouvidos) e mais tácteis (que são sentidos).

Os próprios seres humanos somos mudanças

ambulantes.

Os ruminantes se distinguem dos outros animais

porque o que comem, comem por duas vezes.

Para subir na vida é preciso fazer caminhos descentes.

Paremos e reflitemos.

Partil (partiu).

Pensão (pensam).

Percebece (percebe-se).

Péricles foi o principal ditador da democracia grega.

Pode até ser por acidente. Tropeçamos no progresso,

caimos na mudança e levantamos na evolução.

Pode-se notar que o homem só conseguiu ir para

diferentes lugares do mundo a partir dos primatas, que

desenvolveram a roda, tendo como consequência a

possibilidade de conhecer culturas variadas.

Por isso é que podemos dizer que esse meio de

transporte é capaz de informar e deformar os homens' (sobre

a TV).

Porém o mundo anda em progresso as grandes

maioridades das vezes.

Praminha casa (pra minha casa).

Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna.

Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com

clareza o número de famigerados que almenta.

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Precisa-se começar uma reciclagem mental dos

humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação

ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio.

Provocando assim a desolamento de grandes expecies

raras.

Quando um animal irracional não tem água para beber,

só sobrevive se for empalhado.

Quanto à opinião pública, podemos dizer que ela é

mutável. Por exemplo: na hora do parto, a mulher pode

optar pelo aborto.

Resta-nôs (resta nos).

Retirada claudestina de árvores.

Salvesse quem puder.

São formados pelas bacias esferográficas.

Se a comunicação é pessoal, envolvendo o emissor e o

receptor, como podemos pensar em comunicação

empresarial? A empresa se expressa por si só?

Se os seus pais nasceram e estão embuídos na

sociedade de nível alto, terá facilidade de ter amigos.

Segundo Darcy Gonçalves (Darcy Ribeiro) e o juiz

Nicolau de Melo Neto (Nicolau dos Santos Neto).

Sempre ou quase sempre a TV está mais perto denosco,

fazendo com que o telespectador solte o seu lado obscuro.

Sobrevivência de um aborto vivo.

Somos a própria imagem da evolução refletida no

espelho do progresso.

Sonhamos com um mundo melhor, visto que o

dinossauro cedeu lugar ao cachorro, gato.

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Supera-rá (superará).

Também preoculpa o avanço regesssivo da violência.

Tecnologia siginifica dinheiro, e como só um terço do

mundo possui esse recurso.

Técnológica (tecnológica).

Tem certas situações que nem a mãe perdoamos, o que

ela deve, é obrigada à pagar. Apenas não cobramos os juros,

afinal é a mãe.

Tem empresas que contribui para a realização de

árvores renováveis.

Tem que destruir os destruidores por que o

destruimento salva a floresta.

Temos que criar leis legais contra isso.

Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.

Tivemos uma longa conversa de cinco minutos.

Todo ser humano é inédito e inaudito. Então, por que

mudar isso?

Todos os seres evoluem, cada um com a sua evolução,

pois somos todos individualistas.

Todos os seres humanos (menos algumas exceçoes)

habitam esse pequeno e frágil globo chamado planeta terra.

Tornamo-nôs (tornamo-nos).

Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão

dourado.

Tudo vem dos seres vivos, até os seres não-vivos.

Ultimamente não se fala em outro assunto anonser

sobre os araras azuls que ficam sob voando as matas.

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Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois

vários xises.

Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um

pouco mais em nos mesmos.

Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação.

Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais uns

aos outros.

Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar

planeta.

Vivemos em um mundo em que vence o melhor, não

importando a maneira do vencimento.

Vôsse (você).

Após esses exemplos, se você tem um bom grau de

leitura e de conhecimentos atualizados, com certeza sairá na

frente de uma porção de outros candidatos menos

capacitados. É um ponto importante para sua reflexão, pois

pode ser um fator tranquilizador, afastando o nervosismo

excessivo e a insegurança.

Sua aprovação no ENEM, no vestibular ou em um

concurso público pode depender, então, de poucos pontos,

que você poderá conseguir se souber fazer uma redação

correta e coerente. Está disposto a investir nisso? Está

disposto a não fornecer material para as colunas de erros e

absurdos? Se a resposta é afirmativa, este livro foi escrito

para você!

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NOVAS TENDÊNCIAS DO VESTIBULAR

Durante o vestibular de janeiro de 2000, na

Universidade Estadual de Londrina, uma das cinco melhores

do país, o reitor em exercício informou que o vestibular

daquela instituição passará por modificações significativas,

conforme divulgado pelo jornal Gazeta do Povo.

"Desde o ano passado, nosso processo seletivo vem

sofrendo mudanças que se iniciaram com a redução do

número de questões nas provas, que agora estão mais

dissertativas, acompanhando as mudanças do ensino

médio."

Essa mudança, que indica uma tendência a ser seguida

pelas demais universidades e faculdades, exigirá dos

candidatos habilidades para ler, interpretar e argumentar

com base no conteúdo apreendido. Para quem tem essa

habilidade, o problema inexiste. O que ocorre, no entanto, é

que a grande maioria dos alunos terá nisso uma barreira

ainda maior a suas pretensões de entrada em um curso

superior.

Essa constatação fica evidente nos comentários de

professores que avaliavam os textos dos vestibulandos da

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, no vestibular

2000. Em dez mil provas corrigidas. a média das notas

situava-se entre quatro e seis. Havia surgido apenas uma

nota dez.

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A PUC-PR tem por tradição utilizar temas relacionados

ao momento histórico atual e seu modelo foge dos

parâmetros tradicionais de se propor um tema a ser

discorrido. Para entender melhor, veja como foi a prova de

redação em janeiro de 2000.

Sobre o tema escolhido, o candidato deveria escrever

de 20 a 25 linhas, incluindo o título, que deveria ser o texto

da parte selecionada por ele como tema.

ÉTICA E ECONOMIA

"Business is business!" (Negócio é negócio!), ou,

"amigos, amigos, negócios à parte!" são frases que revelam

uma das características centrais de nossas sociedades

modernas. Elas mostram a separação que existe entre a

amizade (e os valores morais) e a racionalidade econômica.

Não somente a separação, mas a subordinação dos valores

como a amizade à racionalidade econômica. Quando a

amizade entra em conflito com interesse econômico, é esse

que prevalece em detrimento do primeiro.

(SENG, Jung Mo & SILVA, Josué Cândido da.

Conversando sobre ética e sociedade. Petrópolis; Vozes,

1995. p.55)

Para efeito de análise, o texto pode ser dividido em três

partes:

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1ª - a separação que existe entre a amizade e a

racionalidade econômica.

2ª - a subordinação dos valores morais à racionalidade

econômica.

3ª - quando a amizade entra em conflito com o

interesse econômico, é este que prevalece.

Dessas três, selecione uma parte para tema de sua

redação.

Sobre a parte escolhida, explicite aquilo com que você

concorda ou aquilo de que discorda.

Justifique a sua opinião.

Para ter sucesso com qualquer um dos temas

escolhidos, o candidato deveria "relacionar as categorias

gerais apresentadas com argumentos de prova concreta,

como fatos históricos, notícias recentes, etc. Importante

também que o texto apresentasse um posicionamento claro

de seu enunciador, uma vez que a proposta pede que o

candidato "explicite" os pontos de concordância sobre o

tema escolhido", conforme comentários dos professores

Venícius, Paulo, Wella e Braz, do Colégio Positivo. (Gazeta

do Povo, 5/01/2000, pg.24)

O objetivo dessa prova foi explicado pelo professor

Jayme Ferreira Bueno, coordenador da equipe responsável

pela correção das provas de Redação: "Os alunos deveriam

dar sua opinião, isto é, continuar a análise iniciada pelo

texto por um dos três caminhos propostos." E acrescentou

informações sobre a correção: "Avaliamos o candidato pela

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organização e estruturação do texto, pela sequencia lógica

das ideias, pelo uso correto da Língua Portuguesa e por não

fugir ao tema proposto." Estas são informações preciosas

que completam aquelas já discutidas em nosso capítulo

inicial.

As observações da equipe encarregada da correção

também são importantes:

1ª - 5% dos alunos entregaram suas provas em branco.

2ª - a falta de leitura e o uso de linguagem coloquial

prejudicaram muitos candidatos.

3ª - os candidatos usaram muitos "chavões".

4. - alguns candidatos exageraram nos depoimentos

pessoais.

5ª - acharam o tema fácil, mas se descuidaram da

linguagem, da pontuação e das palavras.

6ª - Em algumas provas houve um festival de erros

grotescos nas estruturas de frases e ideias, além de

ortografia.

Ainda sobre o assunto, a professora Marta Morais da

Costa, coordenadora do curso de letras da PUC, declarou:

"O grande problema está na pobreza do vocabulário e na

falta de coesão no texto. Os alunos, infelizmente, não têm

recursos para escrever uma redação por falta de leitura.

Como pedimos a opinião do aluno sobre um tema, eles

acreditam que podem escrever como se estivessem

conversando. Além disso, aparecem na maioria das redações

o uso de histórias pessoais e não a opinião embasada em

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conhecimentos. O que demonstra falta de leitura e de

conhecimentos gerais."

Em poucas palavras, a ilustre professora resumiu o

segredo de uma boa redação: conhecimentos aliados à

prática da leitura. E, muito embora o diagnóstico seja

correto quanto à falta de recursos do aluno para a leitura,

pessoalmente julgamos que obstáculos como esse pode ser

superado pela força de vontade e pela criatividade. Uma

delas é organizar um clube de leitura, em que amigos

adquirem a assinatura e uma revista, pagando pouquíssimo a

cada mês. Além disso, jornais, revistas e livros podem ser

consultadas nas bibliotecas públicas e escolares. Se a sua

biblioteca não está atualizada, que tal promover, com seus

amigos, uma campanha para atualizá-la com novos títulos?

E os velhos e sempre úteis "sebos"? Você já visitou algum?

Com pouco dinheiro você e seus amigos podem adquirir

livros importantes para aumentar seus conhecimentos. O

importante é agir!

Em janeiro de 2000, o vestibular da Universidade

Estadual de Londrina teve o seguinte tema em sua prova de

redação: "A preguiça é a mãe do progresso; se o homem não

tivesse preguiça de caminhar não teria inventado a roda."

Um dos candidatos entrevistados ao final do vestibular

disse: "Abordei a questão do desenvolvimento do

transporte...", enquanto que outro firmou: "Defendi a tese de

que os países do primeiro mundo seriam mais desenvolvidos

porque lá a preguiça é menor." (Gazeta do Povo,

11/01/2000, p.13) Obviamente as duas abordagens estão

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corretas, dependendo da maneira como foram desenvolvidas

e embasadas, sem fugir do tema proposto. Ambas, no

entanto, para serem válidas, precisariam ser embasadas em

conhecimentos sólidos. A segunda proposta nos parece a

mais temerária, pois precisaria provar a tese de que os países

do segundo e terceiro mundos são mais preguiçosos.

Na realidade, o tema não foi surpresa. A Universidade

Estadual de Londrina tem seguido um modelo ao longo de

seus vestibulares, como se pode notar pelos temas exigidos

em suas últimas provas de redação:

A maneira de trajar reflete os costumes de uma

sociedade.

A rebeldia sem causa não produz transformação

alguma.

A oportunidade só chega para quem sabe reconhecê-la.

A verdadeira liderança está no saber repartir

responsabilidades.

Nossas palavras são o que somos?

Existe, no mundo atual, alguma guerra tão longínqua

que não nos atinja?

A adolescência é ao mesmo tempo um fim e um

começo.

Que se pode esperar de uma sociedade que ignora as

crianças e despreza os idosos?

Do engajamento da mulher no mercado de trabalho

decorrem muitas consequências.

As ideias são como as epidemias: alastram-se.

O homem cresce cada vez que se dispõe a recomeçar.

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Conservar hábitos significa reconhecer-lhes o valor?

O amanhã começou ontem.

A lição dos exemplos vale mais que a dos conselhos.

Nada existe de tão fácil, que não se torne difícil, se

você o faz de má vontade.

O que importa não é alcançar a sociedade ideal, é

caminhar para ela.

Possíveis causas e consequências da situação do

desemprego no país.

O grande vencedor é aquele que não se deixa abater

pela derrota.

Fatos históricos: quem os conta? Quem os sofre?

Pagam o preço do progresso aqueles que menos o

desfrutam.

A Escola é o melhor caminho para o exercício pleno da

cidadania.

Os homens de fato se comunicam por meio dos

computadores ou apenas trocam informações?

Não basta saber interpretar o que se lê num texto; é

preciso saber interpretar o mundo em que se vive.

Num noticiário de TV, tão veloz e tão variado, todas as

notícias parecem ter o mesmo peso.

Muitos homens, neste final de século, duvidam de que

a humanidade possa caminhar para melhor sem a

recuperação daquilo que a competição vem insistentemente

abafando: a ideia de coletividade.

Muitos homens, neste final de século, duvidam de que

a humanidade possa caminhar para melhor sem a

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recuperação daquilo que a competição vem insistentemente

abafando: a ideia de coletividade.

Num noticiário de TV, tão veloz e tão variado, todas as

notícias parecem ter o mesmo peso.

Não basta saber interpretar o que se lê num texto, é

preciso interpretar o mundo em que se vive.

Os homens de fato se comunicam por meio dos

computadores ou apenas trocam informações?

A Escola é o caminho necessário para o exercício

pleno da cidadania.

Pagam o preço do progresso aqueles que menos

desfrutam dele.

Fatos históricos: quem os conta? quem os sofre?

O grande vencedor é aquele que não se deixa abater

pela derrota.

As Novas Tendências

Enquanto que os professores são unânimes em afirmar

que a redação é um instrumento precioso de avaliação da

qualidade dos candidatos a qualquer curso, alunos batem na

mesma tecla de que essa prova deveria ser excluída do

vestibular. Compare os argumentos:

1º - "Uma das questões pedia a opinião do candidato e

acho que é muito difícil alguém conseguir julgar se a minha

opinião está certa ou errada."

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2º - "Acho que a prova de redação não julga o

conhecimento do aluno, principalmente se ele estiver

nervoso. Porque aí, ele acaba escrevendo qualquer coisa,

mesmo que tenha se preparado."

Vejamos o que disse sobre o assunto o professor Braz,

do Curso Positivo, em matéria da Gazeta do Povo: "Para se

comunicar oralmente, explanar um projeto, é preciso seguir

a mesma sequencia lógica de uma redação. É preciso

ordenar as ideias no papel; e só consegue fazer isso quem

sabe redigir. Para redigir um texto, é preciso ter

conhecimento de gramática, hábito de leitura e raciocínio

lógico. Por isso, antes de saber escrever, é preciso saber ler."

Argumentos como este do professor dão a indicação

clara de que a redação não só vai continuar, mas como

passará a exigir cada vez mais dos alunos. Afinal, o

vestibular é um espécie de funil, por onde apenas os

selecionados acabam passando. Quem estiver preparado terá

maiores chances de sucesso.

O reitor em exercício da Universidade Estadual de

Londrina, citado no início do capítulo, informou também

naquela ocasião que a UEL está buscando parcerias para a

elaboração de suas provas e que uma das possíveis parceiras

seria a Universidade Federal do Paraná, que está inovando

no modelo de sua prova de redação, tornando-a ainda mais

seletiva. Tanto que, embora merecendo elogios da maioria

dos professores que acompanharam o vestibular 2000

daquela instituição, todos foram unânimes em reconhecer

que se tratava de uma prova inexequível. Preferimos, aqui,

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classificá-la como altamente seletiva, uma vez que a

redução do tempo, de certa forma incoerente em relação ao

número e à dificuldade das questões, tornou-a dificílima,

como você mesmo poderá verificar: Foram estas as

questões:

Questão 1

Na Mostra Comemorativa dos 20 anos de anistia no

Brasil, foi apresentada uma charge, resumida no quadro

abaixo. A partir de sua leitura, escreva um texto, de até 10

linhas, que compare os dois períodos da história recente do

Brasil contrapostos na charge, focalizando os contraste

explorado pelo humorista.

ANISTIA

ONTEM HOJE

PENDURADO NO PAU-DE-ARARA PENDURADO

NO CHEQUE ESPECIAL

PELA VOLTA DOS EXILADOS! PELA VOLTA DOS

EMPREGADOS!

ABAIXO A DITADURA DOS MILITARES! ABAIXO

A DITADURA DO DÓLAR

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Questão 2

Foi publicada na revista ISTO É, em 04/08/99, uma

reportagem sobre a previsão de que o mundo acabaria no dia

11 de agosto do mesmo ano. Um trecho da reportagem diz o

seguinte:

Cristãos fanáticos acreditam que o eclipse é o indício

do "fim dos tempos" pregado na Bíblia.

Seguidores de Nostradamus vislumbram o sinal que

deverá marcar a vinda do Grande Rei do Terror, anunciada

nas famosas Centúrias. Dizem que os extraterrestres já

estariam preparando os terráqueos para uma "alteração

vibracional do planeta". Astrólogos e esotéricos falam em

sérias transformações na terra e no surgimento de uma nova

consciência no homem. Tudo isso viria com o eclipse,

também citado nas escrituras dos povos celtas e no Vishnu

Purana, um dos textos sagrados do hinduísmo. Indiferente

ao fato de que a contagem do ano 200 só exista para o

cristão — no calendário dos islâmicos, chineses e judeus

não consta mudança de século nos próximos meses —, essa

turma de supersticiosos, catastrofistas, milenaristas e

fundamentalistas acendeu o pisca alerta.

O astrofísico Carl Segan, em seu livro. O Mundo

Assombrado pelos demônios (1995), apresenta o seguinte

ponto de vista:

"Durante grande parte da nossa historia tínhamos tanto

medo do mundo exterior, com seus perigos imprevisíveis,

que aceitávamos de bom grado qualquer coisa que

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prometesse suavizar ou atenuar o terror por meio de

explicações. A ciência é uma tentativa, em grande parte

bem-sucedida, de compreender o mundo, de controlar as

coisas, de ter domínio sobre nós mesmos, de seguir um

rumo seguro. A microbiologia e a meteorologia explicam

hoje o que há alguns séculos era considerado causa

suficiente para queimar mulheres na fogueira. (...)"

Minha preocupação é que, especialmente com a

proximidade do fim do milênio, a pseudociência e a

superstição parecerão mais sedutoras a cada novo ano, o

canto de sereia do irracional mais sonoro e atraente. Onde o

escutamos antes? Sempre que nossos preconceitos étnicos

ou nacionais são despertados, nos tempos de escassez, em

meio a desafios à autoestima ou à coragem nacional, quando

sofremos com nosso diminuto lugar no Cosmos, ou quando

o fanatismo ferve ao nosso redor — então, hábitos de

pensamentos conhecidos de eras passadas procuram se

apoderar dos controles."

Escreva um texto, de até 10 linhas, confrontando a

posição dos apocalípticos com o ponto de vista do cientista

Carl Segan.

Questão 3

Alguns veículos de comunicação, como a revista ISTO

É de 25/08/99 e a Folha de S. Paulo de 12/09/99, noticiaram

a decisão do comitê de educação estadual do Estado de

Kansas, EUA, de excluir de seus exames questões sobre a

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teoria da evolução de Darwin e o modelo do Big Bang, para

desencorajar o ensino dessas teorias nas aulas. Um dos

argumentos do comitê foi o fato de que ninguém pode voltar

no tempo para observar diretamente como a vida ou o

Universo se originaram e, por isso, qualquer teoria sobre

essas origens é especulação. Esse movimento é

impulsionado pelos criacionistas, que procuram justificar a

Bíblia como um texto descrito em ciências naturais, ou seja,

que aceitam literalmente as descrições bíblicas das origens

do Universo e da vida no Gênese.

Alguns leitores da revista ISTO É, diante das críticas

que a reportagem apresentou em relação à decisão tomada

pelo comitê, se manifestaram a respeito:

O autor ignora completamente algumas questões

fundamentais. Primeiro: a teoria da evolução ainda é uma

mera teoria, porque não pode ser demonstrada. Segundo,

que ensinar uma teoria nas escolas públicas, como se fosse

já comprovada, é uma imposição grosseira, como as

cometidas na Idade Média. Terceiro, crer na teoria

evolucionista exige uma dose gigantesca de fé por causa das

inúmeras perguntas sem respostas, das incontáveis

incoerências internas e das abundantes descobertas

cientificas que apoiam a explicação criacionista.

(J.M.S. - Goiânia/GO)

"É simplesmente absurdo tratar as descobertas de

Charles Darwin como teorias. Qualquer biólogo sabe que

elas são fatos cientificamente provados e incontestáveis.

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Situações como esta só provam a ignorância do povo mais

rico do planeta."

(M.W.S.D. - Brasília/DF)

Posicione-se a respeito, escrevendo um texto de até 10

linhas. Qualquer que seja sua opinião, o importante é

apresentar argumentos para sustentá-la.

Questão 4

É bastante frequente a afirmação de que o inglês é a

língua mais falada no mundo. Considerando as informações

que aparecem na tabela, redija um texto, de até 10 linhas,

comentando essa afirmação.

As línguas mais faladas

Há mais de 4.000 idiomas, mas um grupo de apenas

dez é falado — como primeira ou segunda língua — por

mais da metade da população mundial (em milhões de

pessoas)

Chinês

Inglês

Hindi

Espanhol

Russo

Árabe

Bengali

Português

Indonésio

Alemão

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Fonte: Sidney Culbert / University of Washington,

Seattle

(Adaptado de Veja - 19/09/99 - p. 86)

Uma prova como esta, como um tempo reduzido para

sua realização, exige do candidato rapidez de leitura,

facilidade de interpretação, análise e comparação de dados,

raciocínio lógico, argumentação e conhecimento da língua.

É uma prova difícil, mas não impossível de ser realizada,

mas apenas conseguirão superá-la aqueles que estiverem

devidamente preparados.

Nervosismo e outros fatores não interferem quando se

tem a segurança que advém do conhecimento, quando

tarefas como essa já estão automatizadas. Isso exige

dedicação, esforço, empenho e superação. Se dificuldades

existem, devem ser superadas com criatividade, método e

disciplina.

Vejamos, agora, os temas de dois vestibulares recentes

da Universidade de Londrina, que mudam a visão e a

abordagem do teste como forma de aferir a capacidade do

candidato.

Redação

1. Leia o tema dado a seguir e analise as ideias nele

contidas.

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TEMA

“A preguiça é a mãe do progresso; se o homem não

tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.”

2. A frase acima é do escritor Mário Quintana. Trata-se

apenas de um pensamento bem-humorado ou de uma antiga

verdade, que a tecnologia moderna vem confirmando?

3. Faça uma dissertação, na qual você argumentará

para esclarecer sua posição diante dessa frase.

4. A dissertação deve ter a extensão mínima de 20

linhas e máxima de 30, considerando-se letra de tamanho

regular.

Redação

1. Leia o tema dado a seguir e analise as ideias nele

contidas.

TEMA

O espaço que o homem habita diz muito de seu modo

de ser.

2. Considerando essa afirmação, leia atentamente o

texto publicitário abaixo.

Apartamento pronto para morar

Zona nobre - 1 dormitório, 2 vagas em garagem

privativa coberta

Central de vendas: Rua Guapuruvu, 503 - Fone:

1052-5616

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3. Faça uma dissertação em que você, tendo refletido

sobre a relação entre os dois textos, exponha o que pensa a

respeito do tema.

4. A dissertação deve ter a extensão mínima de 20

linhas e máxima de 30, considerando-se letra de tamanho

regular.

Assim, se você tem dificuldades com a Redação, não

espere facilidades nos próximos vestibulares. A tendência

será exigir conhecimentos abrangentes não apenas na

habilidade de redigir, mas também nas de interpretar textos

e de usar informações.

Em muitos casos, a redação trará temas abstratos,

polêmicos e atuais que podem ser que qualquer natureza,

desde filosóficos e sociológicos a temas sobre a essência

humana, modernidade, redes sociais, trabalho, amizade,

bulling, internet, linguagem telefônica (comparada aos

antigos telegramas), crises nacionais e mundiais de toda

ordem e meio ambiente.

Para não ser pego de surpresa, você precisa estar

preparado e esta parede ser uma tarefa impossível. Antes de

qualquer coisa, afaste de sua mente todo e qualquer

pensamento negativo, pois nem tudo estará perdido, se você

tiver força de vontade e estiver disposto a aprender Redação

Passo a Passo.

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REDAÇÃO PARA O ENEM

VESTIBULAR E CONCURSOS

REDAÇÃO PASSO A PASSO

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202

DESENVOLVENDO UM ESTILO PRÓPRIO

Estilo, primitivamente, era o nome de um instrumento

em forma de agulha, usado para escrever sobre tábuas

untadas de cera. Modernamente, significa a maneira de cada

escritor ou pessoa ao exprimir seus pensamentos,

sentimentos ou fatos, seja pela escrita ou através da fala,

exigindo de cada um a aplicação de todas as suas

faculdades: inteligência para dar solidez e encadeamento, a

imaginação para dar brilho, vontade para a força e o ouvido

e a língua para exercitar.

Sendo algo tão pessoal, pode-se afirmar que existem,

tantos estilos quantos são os escritores, pois cada um é

único em sua formação, conhecimentos, criatividade,

temperamento, vontade e talento. Para se afirmar que um

escritor tem um bom estilo, acima de tudo, é preciso que, ao

escrever, toda palavra tenha origem na ideia e toda frase

encerre um pensamento. Adaptando isso ao nosso objetivo

específico que é a redação para o vestibular ou para

concursos, podemos afirmar que toda palavra deve ter sua

origem no tema proposto e toda frase deve encerrar um

pensamento vinculado a este objetivo.

A importância do estilo reside no fato de permitir que

possamos dizer alguma coisa de uma forma diferente de

uma outra pessoa. Muitas vezes, não é o que escrevemos,

mas a forma como escrevemos que impressiona mais. Todos

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temos mais ou menos as mesmas ideias e pensamos as

mesmas coisas. O que nos diferencia está na forma como

expressamos isso de maneira individual. Uma ideia

transmitida por uma pessoa pode parecer uma coisa trivial e

sem importância, enquanto que a mesma ideia, transmitida

por uma outra pessoa, pode ganhar uma importância fora do

comum.

Sendo algo tão pessoal, não se pode, porém, afirmar

que cada um nasce com um estilo próprio. Ele é formado,

juntamente com o gosto que, como diz o célebre ditado,

"não se discute", pois é próprio de cada um. Para ser um

bom escritor, é preciso aprimorar-se e isso exige

transpiração. Não há dom que consiga passar para sua

cabeça toda a beleza literária de uma poema ou o conteúdo

de um livro de história, sem que você tenha que se debruçar

sobre ele e lê-lo do princípio ao fim.

Para se desenvolver um estilo próprio e adequado,

suficiente para fazê-lo enfrentar sem temor qualquer prova

ou concurso em que a redação seja exigida, você pode

seguir alguns passos importantes. Lembre-se sempre que

nada nem ninguém conseguirá fazê-lo se tornar um bom

escritor, exceto a minha fórmula mágica do CHA que pode

ser reduzida nos seguintes componentes básicos: Inspiração

10%, Transpiração 90%.

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COMO DESENVOLVER UM ESTILO PRÓPRIO

É preciso aprender a gostar de escrever e isso só se

consegue através da formação do gosto pessoal. É preciso

provar de tudo e gostar de tudo, independente de

preferências. A educação do gosto pode ser feita pela

leitura, pelos exercícios de análise e de crítica literária, pela

participação em debates ou pela simples troca de ideias com

pessoas que apreciem as letras de modo geral. Buscando

uma forma prática de fazer isso, podemos desenvolver nosso

próprio estilo através de três passos básicos: a observação, a

leitura e a imitação.

A Observação

Inicialmente, para você escrever, a condição inicial é

que você tenha alguma coisa para dizer. Quando se impõe

um tema, é preciso que você tenha conhecimento desse tema

para poder escrever sobre ele. A observação é o primeiro

meio de adquirir conhecimentos e isso pode ser usado em

literatura. Como devemos fazer isso com um certo método,

não basta observar. É preciso aprender a observar.

A observação é tão essencial em redação como na

própria vida. A todo momento somos vitimas dos mesmos

erros que muito bem poderiam ter evitado, se estivéssemos

atentos? Por que erramos constantemente no uso da

pontuação, quando podemos apanhar a gramática e tirar as

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dúvidas de uma vez por todas? Ou recorrer ao professor

definitivamente? Assim, linha após linha, redação após

redação vamos cometendo os mesmos erros. E o que é pior:

temos ao nosso alcance, nas prateleiras das bibliotecas,

exemplos de especialistas nessa arte e não aprendemos a

procurá-los, conhecê-los e imitá-los.

Quantos erros podemos evitar, se aprendermos a

observar? Quantos se julgam incapazes de escrever e não

percebem que lhes falta o hábito de observar. Veem as

coisas, mas não as observam, sempre à procura de fórmulas

mágicas que possam transformá-los em bons redatores da

noite para o dia. Infelizmente não existe isso.

Didaticamente, podemos dividir a observação em

material e moral. Na material, aprenda a observar a

natureza, os pormenores de sua obra, os contornos, as cores

e os sons. Seja curioso e procure ver tudo com novos olhos.

Aquela árvore velha próxima de sua casa, por onde tantas

vezes você passou, pode ganhar uma nova dimensão se você

olhá-la com novos olhos, atentando para as diferenças de

cores entre o tronco, os galhos, as folhas e os frutos. Veja

como o vento a movimenta. Acompanhe uma folha que cai.

Note os pássaros movimentando-se por entre os ramos.

Você só vai conseguir descrever com naturalidade uma

árvore, se um dia parar para observar uma com cuidado.

Aprenda a fazer isso com as casas e ruas de sua cidade,

com as pessoas que conhece, enquadrando-as em tipos

semelhantes. Quando viajar, use isso para alargar seu campo

de observação, fazendo comparações entre o que conhece e

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o que está conhecendo, incorporando novas imagens e

experimentando sensações desconhecidas.

Não é algo difícil de ser feito. Apenas olhe as coisas

como se tivesse que descrevê-las e, se quiser ir mais fundo

nesse aprendizado, mentalmente faça uma rápida descrição

do que vê ou sente. Se lhe faltar palavras ou expressões,

assim que possível busque-as num dicionário ou peça

sugestões a um amigo ou ao seu professor.

Além da observação material, é importante também a

observação moral. O ser humano revela-se através de seus

atos. Aprenda a reconhecê-los. Saiba o que traduz a cólera

ou alegria. Observe como as pessoas reagem às emoções.

Uma franze a testa, denotando enfado. Outra torce o nariz,

demonstrando contrariedade. Outra pisca fecha os olhos por

algum tempo, para demonstrar prazer. Vá além. Veja como

as pessoas podem ser intransigentes. Como se recusam a

aceitar opiniões contrárias por pura teimosia. Comece a

descrever o perfil moral das pessoas que conhece ou que vir

a conhecer, sempre as observando e comparando as

informações assim obtidas.

Para isso, nada melhor que conversar com as pessoas,

trocar informações com elas, descobrir seus gostos e

preferências, estimulá-las a falar do que apreciam e

desafiando-as a encarar o que não gostam. Sonde suas

reações. Compare isso com as reações de outras pessoas na

mesma situação. Você só conseguirá descrever uma pessoa

irada, se observar uma atentamente. Fora disso, tudo será

intuitivo, empírico, desprovido de originalidade,

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naturalidade e com tremendo sabor de coisa falsificada ou

arrancada a fórceps da imaginação.

Finalmente, não limite sua observação exclusivamente

aos que o cercam. Analise-se para se conhecer melhor.

Observe como pensa, como reage diante de determinadas

situações, como ama, como fala, como se comporta e age.

Quando observar uma cena, analise a impressão que ela lhe

causa, se o deixou admirado, satisfeito, triste. Se aprova ou

desaprova, descubra o motivo.

Tenha em mente que a observação é indispensável,

pois vai lhe dar elementos para ter o que dizer, quando for

redigir, mas não deve ser ela o único elemento de formação

de seu gosto e de seu estilo. Uma forma indireta de

observação, a leitura, certamente vai tornar isso mais fácil,

pois poderá suprir a observação direta das coisas, dos

homens e de nós mesmos.

A Leitura

Experimente fazer um simples exercício, na próxima

vez em que estiver fazendo uma redação e sentir que lhe

escasseiam as ideias e que as imagens não lhe ocorrem.

Deixe o trabalho de lado e apanhe um livro qualquer. Leia-o

durante algum tempo e sentirá as ideias brotando, a

imaginação voando solta e a sensibilidade aflorando

espontaneamente.

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Após essa experiência, você certamente entenderá

porque os grandes mestres recomendam a leitura para

aqueles que desejam aprender a arte de escrever.

Pela leitura você ganha experiências, você observa

como um escritor tratou habilmente uma situação difícil,

como usou as palavras e as expressões, como descreveu,

como gerou expectativa, como arrancou emoções. Leia e

aprenda. Leia observando, como quem observa a natureza.

A leitura deve ser variada e certamente você gostaria

de fazer isso com um certo método e pode estar esperando

por uma lista do que ler. Não há problema. Isso não é difícil

de ser elaborado. O difícil será você segui-la e isso será feito

na medida exata de sua preocupação com o futuro ou na

importância que dá a seu aprendizado.

Comece lendo bons autores modernos, no gênero que

você mais aprecia. Se gosta de histórias em quadrinhos,

comece com elas. Leia os cronistas de jornal, os

comentários e editoriais, que são pequenos e rápidos.

Observe sempre como eles estruturam o texto, como usam

as palavras e como constroem as imagens.

Sempre que for ler, faça do seu dicionário o

companheiro constante. Jamais deixe passar a oportunidade

de conhecer o significado de uma palavra nova e de

incorporá-la ao seu vocabulário.

Leia depois um livro de contos ou de crônicas. Quem

sabe um romance com capítulos curtos, que motivam a

leitura. Vá ampliando gradativamente, antes de iniciar um

plano de leitura para valer mesmo.

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Plano de Leitura

Procure segui-lo, estabelecendo um cronograma de

leitura. Esse conjunto de conhecimentos será o básico

necessário para seu bom desempenho em qualquer prova de

redação.

Literatura Cristã — Leia a Bíblia, Novo e Velho

Testamentos, observando como eram as pessoas naquela

época, como agiam, quais eram seus sentimentos, o que as

movia, como se relacionavam umas com as outras, que

emoções demonstram e tudo o mais que julgar importante.

Literatura Grega — Procure na biblioteca textos dos

seguintes autores: Homero, Heródoto, Platão, Demóstenes,

Plutarco e Epicteto. Leia e pratique suas observações.

Literatura Latina — Leia Vergílio, Cícero, Sêneca, Tito

Lívio, Tácito e Horácio, pondo em prática seus dotes de

observador.

Literatura Europeia — Não deixe de ler obras de

Shakespeare e Milton, de Dante, Cervantes, Victor Hugo,

Goethe e Schiller.

Literatura de Língua Portuguesa — Procure ler Garrett,

Herculano, Castilho, Rebelo da Silva, Latino Coelho, José

de Alencar, Castelo Branco, Machado de Assis, Oliveira

Martins, Eça de Queirós, Rui Barbosa e Euclides da Cunha.

Literatura Atual — Procure conhecer as obras dos

autores que estão em evidência ou que se evidenciaram na

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literatura mundial nas últimas décadas. Leia pelo menos

trechos de suas obras, observando seus estilos.

Se você não tem o hábito da leitura, com certeza

enfrentará certas dificuldades para se iniciar. Não se deixe

intimidar por isso. O que basta nesse estágio é sua

ATITUDE, sua vontade de aprender.

Para ajudá-lo nesse processo. Aqui estão algumas

regras básicas, mas simples para você praticar a leitura:

1 - Leia atentamente e devagar, pois a leitura exige,

para ser proveitosa, reflexão nos pensamentos e sentimentos

do autor para que possamos assimilá-los. Assim, não lhe

escaparão a beleza dos sentimentos, a justeza dos

pensamentos, a arte da composição e a perfeição do estilo a

obra. Deve vez em quando, pare e pergunte-se: "Vi isso

antes? Compreendi bem? Como eu teria dito isso?"

2 - Pratique ao máximo suas observação, procurando

achar no obra que lê os elementos da composição literária e

as ideias apresentadas e os argumentos utilizados para

validá-las. Acompanhe as definições, analise os raciocínios,

verifique as descrições e as narrativas, entenda e compare as

personagens, descubra o plano da obra, examine as

expressões e os diálogos, sempre acompanhado de seu

dicionário para não deixar passar nada. Para isso, são

excelentes os exercícios incluídos nos livros escolares. Quer

ir além? Vá a um sebo e compre uma porção de livros

didáticos que contenham textos com exercícios de

interpretação. São ótimos para você se desenvolver e, ao

mesmo tempo, ampliar seus conhecimentos e experiência.

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3 - Tome notas e consulte-as sempre que possível,

mantendo viva em sua mente aquela obra. Isso é

particularmente importante para as provas de Literatura,

onde são fornecidas listas de livros para serem lidos.

4 - Se você tiver alguns amigos com os mesmos

interesses, objetivos ou necessidades, fundem o Clube de

Leitura, onde farão em conjunto todas as atividades de

leitura, anotações, troca de ideias, experiências e

observações e poderão elaborar suas redações e submetê-las

ao julgamento. Além de ser estimulante e altamente

motivador, seguramente apressará seu desenvolvimento, sua

formação e seu aprendizado.

Ao fazer anotações, tenha em mente que, são

importantes porque suprem a memória. Se não fizer isso,

após algum tempo terá esquecido a maior parte do que leu, a

menos que tenha uma memória fotográfica. Além disso,

essas anotações são a garantia da precisão em suas citações,

quando se reportar a um texto, um livro ou uma página,

dando valor e autoridade aos seus escritos, economizando

tempo quando necessitar fazer isso.

Ao fazer suas anotações, marque o que julgar

importante e interessante para você, conforme seu gosto e

seu temperamento. Lembre-se que as anotações são para seu

uso pessoal, portanto você decide o que elas devem conter e

de que forma serão feitas. No entanto, para impor um certo

método, há algumas observações que você pode seguir, se

julgá-las oportunas:

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1 - Se está se preparando para o vestibular e lê uma

obra que faz parte da relação de livros obrigatórios, tome

notas sobre tudo e a propósito de tudo.

2 - Se ao escrever você tem dificuldades de encontrar a

imagem adequada ou exprimir uma emoção corretamente,

anote como aquele autor tratou esses aspectos, qual a ideia

usada, que metáfora foi selecionada por ele, que sentimento

ele fez aflorar e de que forma.

3 - Se pretende formar um banco de dados para uso

futuro em suas redações, anote ditos históricos, citações,

anedotas, palavras características, observações, meditações

pessoais, reflexões e juízos emitidos pelo autor naquela

obra.

4 - Finalmente, em qualquer um dos casos, anote bons

fragmentos daquela obra, decorando-os para ilustrar ou

incluir, no momento oportuno, como argumento em suas

redações. Não se acanhe e trocar anotações com seus

amigos. Ampliará seu campo de visão e certamente

contribuirá para a formação de seu estilo.

5 - Para facilitar seu trabalho, veja o capítulo Modelos,

onde são apresentadas algumas fichas que poderão ser

utilizadas ou adaptadas segundo sua conveniência. O

importante é que você anote sempre.

O melhor método para você fazer suas anotações é à

medida que vai lendo, marcando a lápis, desde que o livro

seja seu, as passagens ou aspectos dignas de serem anotadas,

transcritas ou admiradas, classificando-as segundo o autor

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ou a ideia, em fichas ou num arquivo específico do seu

computador, caso tenha um.

Exemplo: a) Por autor: Antônio Vieira, Castelo

Branco, Manuel de Melo, Rui Barbosa. b) Por ideia:

Anedotas, Artes, Biografias, Descrições, Ensino, História,

Imagens, Literatura, Palavras Célebres, Pedagogia,

Filosofia, Psicologia, Retratos, Ciências.

Se você não dispõe de um computador ou de fichas

apropriadas, pode fazer isso num caderno com índice

alfabético ou em folhas soltas, que arquivará na ordem mais

prática para suas futuras consultas.

Praticando a leitura dessa forma você tornará mais fácil

a formação de seu estilo pela imitação.

A Imitação

Imitar é adaptar ao seu estilo as imagens, as ideias ou

as expressões de um estilo alheio, explorando-as conforme

as suas qualidades pessoais e o seu modo de ver. É uma

prática quase que necessária ao aprendizado e não se um

grande escritor que não tenha praticado a imitação e nenhum

se envergonha de o confessar.

Os mestres do estilo recomendam a imitação, sendo a

paráfrase seu exercício mais eficiente. Quando se fala de

imitação, não se recomenda a reprodução pura e simples,

mas a assimilação das ideias e das imagens usadas por um

autor.

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Pode-se imitar o plano de uma obra, parte dele ou

numa simples passagem. É sabido, inclusive, que para

compor a Eneida, Vergílio imitou da Ilíada, de Homero,

duas obras que devem ser lidas por qualquer aprendiz de

escritor.

Pode-se também imitar uma ideia alheia e, para isso, é

preciso assimilá-la e desenvolvê-la de um modo pessoal. Da

mesma forma, pode-se imitar uma imagem, expressão,

pensamentos, sentimentos, mas frisá-los e modificá-los até

se lhes dar outra feição.

Um exercício prático que você pode fazer e que em

muito o ajudará é pegar um poema e transformá-lo em prosa

ou selecionar um trecho em prosa e transcrevê-lo na forma

de um poema. Você pode também reescrever uma anedota,

dando-lhe uma nova versão ou mudando as personagens,

adaptando-as a sua realidade.

Conclusão

Longe de ser um processo instintivo, um dom que se

recebe ao nascer, o estilo e a arte de escrever é um processo

que deve ser desenvolvido com certo método, exigindo

esforço e dedicação pessoal. Considerando a importância da

redação no vestibular e nos concursos públicos, nada mais

lógico e inteligente, para quem deseja alcançar a aprovação,

que impor certa disciplina ao seu aprendizado, esquecendo

antigos conceitos e práticas erradas. A formação e o

desenvolvimento de um estilo próprio é fundamental nesse

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processo, garantindo originalidade, conteúdo e correção a

seus escritos, exigências básicas para a uma boa nota.

Entender o processo de formação e desenvolvimento do

estilo é um dos passos mais importantes e isso passa pelo

conhecimento e entendimento das qualidades do estilo.

Para completá-lo, não deixe de ler os textos do capítulo

Leitura Obrigatória, que certamente acrescentarão

importantes conhecimentos ao seu repertório.

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QUALIDADES DO ESTILO

A Originalidade

Um estilo original surpreende e impressiona por suas

imagens e seu colorido. A originalidade está na maneira

própria de exprimir suas ideias e de fazer valer os

pensamentos. Sem ela não há grande escritor. Para ser

alcançada você deve, inicialmente, escrever com

naturalidade, estabelecendo uma perfeita relação entre

pensamentos e sentimentos, imagens e palavras com a

realidade.

Originalidade implica num compromisso com

reprodução exata e fácil da verdade, sem aparatos e

requinte. Isso leva automaticamente à simplicidade, que é a

ausência de exageros e inutilidades, caracterizando-se por

uma construção de frase simples, fluente, elegante, correta,

clara e concisa, com o uso das palavras que, embora

conhecidas, devem ser escolhidas e apropriadas.

Escrever com originalidade é dizer o que os outros

ainda não disseram, empregando uma linguagem inesperada

e viva, de forma variada e atraente, prendendo a atenção

pela vibração da ideia e pela vida das palavras, fugindo das

armadilhas que caracterizam a afetação, a ênfase e a

perífrase.

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A afetação é o uso excessivo de termos inesperados ou

de construções complicadas, dando a impressão de muita

cultura ou erudição, exigindo que o leitor recorra

permanentemente a um dicionário para entender o que lê.

Quem escreve assim fatalmente não é lido.

A ênfase é o exagero desnecessário ou a eloquência

sem nexo ou propósito, como no exemplo abaixo:

Era um grande homem, capaz de atingir o mais

ferrenho espírito, o mais cruento coração. Seu talento

galgava os píncaros da imaginação e ele se apoderava da

força do trovão e da pureza das nuvens para transmitir suas

ideias. Quando iniciava seu trabalho, tinha o fôlego dos

mergulhadores que descem aos pélagos marinhos mais

profundos para apanhar as mais alvas pérolas do saber. Era

um gênio na acepção maior, mais pura e completa desse

termo!

Finalmente, a última das grandes armadilhas é a

perífrase ou toda explicação extensa de algo que pode ser

expresso em poucas palavras ou até mesmo numa só. Um

exemplo disso é dizer "o cantor das madrugadas" ao invés

de simplesmente usar a palavra "galo". Ao usar a perífrase,

mesmo quando ela pode parecer útil, lembre-se que suas

referências e sua experiências podem ser diferentes daquelas

do corretor de sua redação.

Ao citar, por exemplo, "o pedreiro da floresta", ao

invés de "joão-de-barro", fazendo uma referência à celebre

música sertaneja, você precisaria ter certeza absoluta de que

o leitor desse texto conhece a música. Caso contrário, a

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clareza do que foi escrito estará irremediavelmente

prejudicada, pois dicionário algum explicará o significado

dessa expressão e clareza e concisão são também atributos

essenciais de todo estilo.

A Clareza

Clareza significa lucidez na exposição dos

pensamentos e dos sentimentos, que devem ser

compreendidos sem esforço e, para isso, duas condições são

indispensáveis, a pureza da língua e a propriedade das

palavras.

A pureza da língua consiste no emprego de construções

e de palavras aprovadas pela sintaxe e consagradas pelo uso.

Seus principais obstáculos são as construções estranhas,

caracterizadas pelo emprego de estrangeirismos. Isso pode

ser visto facilmente nas fachadas de lojas, que anunciam o

"Peter's Bar", o "Grill Lanches", o Aparecido's

Hamburguers e outros ainda piores.

Seus reflexos mais contundentes aparecem nas

construções em que falta uma unidade e campeia a

incoerência. Seus exemplos mais clássicos são as

construções em que as palavras não têm sequencia lógica,

levando a ambiguidades às vezes até cômicas. Aparece

também nas construções em que se misturam, no mesmo

período, a voz ativa e a passiva, com erros de acentuação, de

pontuação e ortografia e não se obedece ao mesmo

tratamento, começando pela segunda pessoa e terminando

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pela terceira do singular. Aliás, esse detalhe está muito

presente em várias letras de música, que usam o pronome de

tratamento "você" em determinados momentos e "tu" em

outras, com os verbos flexionando ora de uma ora de outra

maneira.

O que se deve ter em mente é que a escrita deve ser

simples, sem construções intrincadas, mais condizentes com

a linguagem poética, em que o exemplo mais interessante é

o do nosso hino nacional. Você sabe exatamente qual é o

sujeito da primeira oração da primeira estrofe dele?

Fugir ao uso de estrangeirismos não significa, porém,

cair no outro extremo, o purismo, caracterizado pelo amor

exagerado à pureza da linguagem, não aceitando como

vernáculas senão as construções e palavras consagradas

pelos mestres de determinada época literária, distante de nós

há dois ou mais séculos. Afinal, as línguas evoluem,

progridem e renovam-se continua e gradualmente com os

povos que as falam. Não falamos hoje como falava Camões,

nem o Padre Vieira, nem Tomás Antônio Gonzaga. Muito

menos como Fagundes Varela, Castro Alves ou até mesmo

Machado de Assis. Novas construções surgiram, assim

como novos vocábulos foram formados ou incorporados ao

nosso vocabulário. Temos de aceitar isso e fugir daquilo que

é antiquado e ultrapassado.

A propriedade das palavras refere-se à perfeita relação

entre a palavra e o pensamento. Quem não escolhe bem as

palavras, expõe-se a usar as palavras impróprias, que são os

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estrangeirismo, já que temos um rico vocabulário em nossa

língua a nossa disposição.

Nesse particular, o estudo dos sinônimos é de suma

importância para quem deseja escrever com acerto,

objetivamente, expressando com clareza e exatidão as

concepções do seu espírito. Que isso seja feito com cautela,

pois boa parte dos sinônimos, que parecem exprimir uma

mesma ideia, não o fazem, se examinados com atenção e

rigor. Nesse particular, o uso do dicionário é a melhor

medida a ser adotada.

É preciso que você tenha em mente definitivamente

que escrever não é um dom, mas uma arte que exige o

desenvolvimento de habilidades e técnicas específicas, da

mesma forma como o exigem a pintura, a escultura, a dança,

a música e todas as outras artes.

A Concisão

A concisão consiste em encerrar um pensamento no

menor número de palavras possível e dois graves defeitos

podem afetá-la. Um é a repetição e ocorre quando se julga

incompleta ou inexata uma frase escrita e alinha-se uma

outra na sequencia para reforçar o pensamento. A melhor

maneira de fugir disso é, quando for fazer o polimento de

sua redação, eliminar tudo que for repetido ou que nada

acrescentar ao que já foi dito. Lembre-se que dissertar é um

ato progressivo. Novas ideias vão se somando às anteriores

para formar um todo harmônico e convincente.

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Fuja do palavreado inútil e redundante e terá um estilo

agradável e eficiente, adequado a seus propósitos. Tudo que

estiver repetido, como determinados verbos, expressões ou

palavras, substitua por sinônimos, use uma outra construção

ou simplesmente evite usar.

Quer entender isso? Veja este exemplo, tirado de

Eusébio Macário, obra de Camilo Castelo Branco

"Moscas zumbiam com asas lampejantes em giros

idiotas; gatos agachados como velhos sicários pinchavam

com muitas perfídias à caça dos pássaros nas densas

verduras, desbotadas, dos arvoredos; carros chiavam nas

terras baixas, barrentas, com grandes gretas das calcinações

do grande sol; os lentos bois nostálgicos vergastavam, com

as caudas ásperas, os moscardos que os atacavam dentre os

tapumes com grandes sedes impetuosas de frescores de

sangue. Havia moleza e estonteamento abafadiços no

recheio de sensualidades mordentes."

É sempre bom lembrar, porém, que todo excesso é

prejudicial, assim como todo extremismo. A concisão

exagerada levará seu texto à secura e ao laconismo, podendo

sua imaginação ou negando a magia das palavras.

Conciliando originalidade, clareza e concisão você

conseguira o que existe de mais importante para quem

escreve: a harmonia, qualidade indispensável a todo estilo.

Pratique o que foi aprendido até agora, antes de partir

para a próxima etapa do seu aprendizado, que será a de

conhecer os aspectos mais específicos do tema Redação. Vá

com calma! Estabeleça seu plano de estudos e não fuja dele.

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O importante é que você assimile todas as etapas do

processo de aprendizagem. Afinal, você está fazendo tudo

isso porque tem que aprender e precisa aprender, pois será

avaliado por isso e todo o seu futuro depende dessa

avaliação.

Reflita: se você não investir em seu futuro, quem o

fará?

Para terminar, você deve conhecer a principais figuras

de estilo, isto é, processos de expressão destinados a dar

mais graça e força ao pensamento e ao sentimento, devendo

ser encarados como parte do estilo. A maneira como você

vai usá-las caracterizará seu estilo.

Vejamos quais são as mais importantes e significativas:

Figuras de Estilo

Alusão: desperta no espírito a ideia de um fato, de uma

pessoa ou de uma história, sem referir-se a ela diretamente.

Para usá-la é preciso que você tenha sólidos conhecimentos

e que o seu leitor saiba a que você se refere. Um exemplo

foi o caso já citado do "pedreiro da floresta". Numa redação

você poderia criar uma frase assim: "Tenho trabalhado

incansavelmente, como o "pedreiro da floresta", mas sinto-

me feliz em fazê-lo."

A alusão pode ser tirada da historia, da mitologia, das

lendas, das obras literárias ou dos usos e costumes.

Antítese: consiste em tirar de um pensamento o seu

oposto, engendrando contrastes e de oposições. Para ser

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bem empregada e surtir efeito, deve resultar do embate das

ideias e não do mero jogo das palavras. Um autor famoso

por suas antíteses é o Padre Vieira. Procure ler alguma coisa

dele. Um exemplo: "Amor é espinho que fere e me faz rir."

Apóstrofe: esta figura caracteriza-se quando o escritor

interpela a si mesmo, alguma pessoa e até objetos

inanimados. Exemplo: "Por que sofres, coração?"

Correção: esta figura surge quando o autor corrige,

modifica ou explica um pensamento, como neste exemplo:

"A maior dor de todas as dores, isto é, das dores espirituais,

é o vazio da saudade."

Exclamação: é pura e simplesmente a expressão de

todo sentimento vivo e súbito, manifestado livremente

através das palavras. Por exemplo: "Que bom é amar! Que

deliciosa e livre prisão ela representa!"

Eufemismo: consiste em abrandar ideias tristes e

desagradáveis, como neste exemplo, ao abrandar-se a ideia

da provocada pela palavra "cemitério": "Nesta mesma tarde,

seu corpo foi levado ao campo santo." É preciso muito

cuidado e critério no uso dessa figura, pois seu excesso ou

uso inadequado pode dar a impressão de um estilo frouxo,

sem naturalidade, prejudicando até a clareza, se o

eufemismo não for bem construído.

Hipérbole: é um pensamento exagerado com o objetivo

de produzir uma forte impressão no espírito do leitor.

Exemplo: "Sofri mil dores num só momento e mil espinhos

cravaram-se em meu coração. Ela partia. A solidão pesou-

me com a força de mil noites escuras."

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Interrogação: utiliza-se perguntas com o fim de dar

força ao argumento ou ao discurso. Deve ser empregado

com critério, pois pode dar a impressão de insegurança ou

de "enchimento de linguiça". Por exemplo: "Quem vai

sofrer com sua partida? Eu, apenas eu. Quem vai chorar a

sua ausência? Eu e mais ninguém."

Ironia: este pode ser um poderoso recurso, se utilizado

com sabedoria. Consiste em exprimir o contrário daquilo

que as palavras dizem no sentido natural. Percebe-se isso

pelo modo de falar da pessoa que a emprega e pelo caráter

daquela a quem se dirige. Exemplo: "Acredite na palavra

dele! Está se esforçando e fazendo o máximo. Preocupa-se

com o desemprego e trabalha de sol a sol para reverter o

quadro atual. Vamos confiar nele. Com certeza tudo vai

melhorar, como vem melhorando. Basta olhar ao redor!"

Litotes: consiste em dizer menos, para dar a entender

mais, como neste exemplo: "Vamos lá, a coisa não está tão

feia quanto parece!"

Metáfora: trata-se de uma expressão de sentido, por

meio da qual se aplica a uma palavra o significado de outra,

em virtude de uma comparação implícita e subentendida.

Não deve ser confundida com uma simples comparação.

Quando dizemos que "a juventude é a primavera da vida",

temos uma metáfora. Se dissermos "a juventude é como a

primavera da vida", temos uma simples comparação.

É preciso muito critério e cautela no uso das metáforas

que são, sem dúvida, um dos mais frequentes recursos

utilizados por quem escreve. Devem ser claras para serem

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entendidas, justas e verdadeiras, baseadas numa semelhança

real e próxima, evitando-se a afetação e a incoerência.

Chamar o espelho de "conselheiro da beleza", por

exemplo, resulta numa metáfora que exigiria um contexto à

altura para ser expressiva.

Seu uso indiscriminado pode levar facilmente ao

chavão e às frases feitas, enquanto seu uso com criatividade

e originalidade embeleza e dá força expressiva a um texto.

Para usar esse recurso com acerto, valha-se da observação

indireta, através da leitura de bons escritores, registrando-as

em suas anotações para uso futuro.

Preterição: nesta figura, o autor supostamente finge que

não quer falar de determinado assunto, mas o faz. Exemplo:

"Não vou falar das qualidades dela, de sua beleza, de sua

bondade e de sua ternura, presentes mesmo nos momentos

mais incertos."

Reticência: faz-se presente quando o autor suspende o

pensamento e deixa-o incompleto. Exemplo: "Vendo-a

vestida daquela forma, pensei até que fosse uma..."

Suspensão: interrompe inesperadamente a frase,

provocando curiosidade ou destacando um pensamento,

como em: "Quando olhei, você não sabe o que vi."

O conhecimento e o uso criterioso dessas figuras com

certeza dará força de expressão ao seu estilo. Nunca é

demais lembrar, no entanto, que você seja exigente consigo

mesmo no que se refere à qualidade das figuras, fugindo ao

preciosismo e ao mau gosto.

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LEITURA OBRIGATÓRIA

DISCURSO SOBRE ESTILO

(Pronunciado por Buffon no dia 25 de Agosto de 1753,

por ocasião de sua posse na Academia Francesa, na vaga do

Arcebispo do Sena)

Senhores:

Vós me cumulastes de honra, elegendo-me como um

dos vossos; mas a glória não é um bem senão quando somos

dignos dela e não creio que alguns ensaios, escritos sem arte

e sem outro ornamento que o da natureza, sejam títulos

suficientes para ousar ocupar um lugar entre os mestres da

arte, entre os homens eminentes que representam aqui o

esplendor literário da França e cujos nomes, celebrados hoje

pelo consenso das nações, repercutirão ainda com brilho na

boca do último de nossos descendentes. Tivestes, senhores,

outros motivos, lembrando-vos de mim; quisestes dar à

ilustre Companhia a que tenho a honra de pertencer há

muito tempo, nova demonstração de respeito; meu

reconhecimento, ainda que partilhado, nem por isso, será

menos vivo. Mas como satisfazer o dever que ele me impõe

no dia de hoje? Não tenho, senhores, para oferecer-vos,

senão o que já é vosso; algumas ideias sobre o estilo,

hauridas em vossas obras; foi lendo-vos, foi admirando-vos

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que elas foram concebidas; e é submetendo-as a vossas

luzes que produzirão alguns resultados.

Houve, em toda as épocas, homens que souberam

dirigir os outros pelo poder da palavra. Mas só nos séculos

brilhantes, foi que se falou e escreveu bem. A verdadeira

eloquência pressupõe o exercício do gênio e a cultura do

espírito. Ela é muito diferente dessa facilidade natural de

expressão que é um simples talento, uma qualidade cedida a

todos aqueles cujas paixões são fortes, os órgãos flexíveis e

a imaginação viva. Esses homens sentem vivamente,

sensibilizam-se da mesma maneira e revelam-no fortemente;

e, por uma impressão puramente mecânica, transmitem, para

os outros, seu entusiasmo e sentimentos. É o corpo que fala

ao corpo; todos os movimentos e todos os sinais igualmente

cooperam e servem. Que é necessário para comover a

multidão e arrebatá-la? Que é necessário para abalar a maior

parte dos demais homens e persuadi-los? Um tom veemente

e patético, gestos expressivos e frequentes, palavras rápidas

e sonoras. Mas, para a minoria daqueles cuja cabeça é

equilibrada, o gosto delicado e os sentidos apurados, e que,

como vós, senhores tem, em pouca valia, o tom, o gesto e a

sonoridade verbal, são necessários fatos, pensamentos,

razões; é preciso saber apresentá-los, matizá-los, ordená-los;

não é necessário agradar ao ouvido ou ocupar os olhos; é

preciso atingir a alma e comover o coração falando ao

espírito.

O estilo nada mais é do que a ordem e o movimento

que se põe nos pensamentos. Se eles se encadeiam

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estreitamente e são concisos, torna-se firme, nervoso e

conciso o estilo; se sucedem lentamente — e seu único laço

é a torrente de palavras — por mais elegantes que elas

sejam, — o estilo difuso, frouxo e arrastado.

Mas, antes de procurar a ordem em que se apresentarão

os pensamentos, é necessário precedê-los de outro mais

geral e estável, em que só devem entrar as primeiras vistas e

as principais ideias: é assinalando seu lugar sobre este

primeiro plano que um assunto será circunscrito e que se lhe

conhecerá a extensão; é relembrando incessantemente seus

primeiros delineamentos que se determinarão os justos

intervalos que separam as ideias principais e que nascerão as

ideias acessórias e secundárias que servirão para preenchê-

los. Pela força do gênio, serão representadas todas as ideias

gerais e particulares sob seu verdadeiro ponto de vista; por

grande finura de discernimento, distinguir-se-ão os

pensamentos estéreis das ideias fecundas; pela sagacidade

que o grande hábito de escrever proporciona, sentir-se-á,

com antecedência, qual será o produto de todas essas

operações de espírito. Por menos vasto e complexo que seja

o assunto, é raro que se possa abarcá-lo dum golpe de vista

ou penetrá-lo inteiro com um único e simples esforço de

gênio; e é raro ainda que após bastante reflexões, se

apreendam todas as suas relações. Não podemos, pois,

ocupar-nos muito disso; é mesmo o único meio de afirmar,

de generalizar e elevar os pensamentos; quanto mais lhes

dermos de substância e de força pela meditação, mais fácil

será de os realizar pela expressão.

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Este plano não é ainda o estilo, mas é sua base; ele a

sustenta, dirige, regula-lhe os movimentos e o submete a

leis; sem isso, o melhor escritor se extravia, sua pena

marcha sem diretriz e cria, aqui e ali, traços irregulares e

figuras discordantes. Por mais brilhante que sejam as cores

que ele empregue e as belezas que semeia nos detalhes,

como o conjunto chocará ou não se fará sentir bastante, não

se construirá a obra; e, admirando o espírito do autor,

poderemos supor que lhe falta gênio. É por esse motivo que

aqueles que escrevem como falam, embora falem bem,

escrevem mal; que aqueles que abandonam ao primeiro

ímpeto da imaginação, revelam uma tonalidade que não

conseguem sustentar; que os que temem perder pensamentos

isolados, fugitivos e que escrevem, em diferentes horas

trechos isolados, jamais conseguem reuni-los sem transições

forçadas; em uma palavra, que há tantas obras feitas de

fragmentos de relatos e tão poucas fundidas num só jato.

Entretanto todo o assunto é uno; e, por mais vasto que

pareça, pode ser encerrado num único discurso. As

interrupções, os repousos, as divisões, não devem existir

senão quando grandiosas, escabrosas e dispares, a marcha

do gênio é interrompida pela multiplicidade dos obstáculos

e constrangida, pela necessidade das circunstâncias; doutro

modo, o grande número de divisões, longe de tornar mais

sólida à obra, destrói-lhe o conjunto; o livro parece mais

claro aos olhos, mas torna-se obscuro, o objetivo do autor;

não consegue impressionar o espírito do leitor; não pode

mesmo fazer-se sentir senão pela continuidade da trama,

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pela dependência harmônica das ideias, por um

desenvolvimento sucessivo, uma gradação continuada, um

movimento uniforme que qualquer interrupção destrói ou

diminui.

Porque são tão perfeitas as obras da natureza? É que

cada obra constitui um todo, e ela trabalha sob um plano

eterno do qual jamais se afasta; prepara em silêncio o germe

de suas produções; esboça por um simples ato, a forma

primitiva de qualquer ser vivo; desenvolve-a, aperfeiçoa-o

por um movimento contínuo e num tempo prescrito.

Encanta-nos a obra, mas é o vestígio divino cujos traços ela

revela o que nos desperta a atenção. Nada pode criar o

espírito humano; não produzirá senão após ter sido

fecundado pela experiência e pela meditação; seus

conhecimentos são os germes de suas produções; mas se ele

imita a natureza, em sua marcha e trabalho, se ele se eleva

pela contemplação das verdades mais sublimes, se os reúne,

se as encadeia, se delas forma um todo, um sistema, pela

reflexão, criará, sobre alicerces indestrutíveis, monumentos

imortais.

É por falta de plano, é por haver refletido

suficientemente sobre seu assunto que um homem de

espírito se embaraça ou não sabe por onde começar a

escrever. Acode-lhe, a um tempo, grande número de ideias;

e como ele não as comparou, nem as subordinou, nada há

que o induza a preferir umas ou outras; permanecerá na

perplexidade; mas, quando se fez um plano, se houver posto

em ordem e reunido todos os pensamentos essenciais ao

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assunto, sabe-se, facilmente, o momento em que se deve

pegar da pena; sente-se o ponto de madureza da produção

do espírito; é-se obrigado a dar-lhe vida; só se sente prazer

ao escrever; suceder-se-ão facilmente as ideias, e o estilo

será natural e fácil; o entusiasmo nascerá desse prazer,

espalhar-se-á toda a parte e dará vida a cada expressão; tudo

se animará cada vez mais; elevar-se-á o tom, os objetos

tomarão cor e o sentimento, juntando-se à luz, aumentá-la-á,

levá-la-á mais longe, fá-la-á transmitir-se do que dissemos

para o que vamos dizer, e o estilo tornar-se-á interessante e

luminoso.

Nada se opõe mais ao entusiasmo que o desejo de pôr,

em toda a parte, traços salientes; nada se opõe mais à luz

que qualquer corpo deve fazer e que deve espalhar

uniformemente por todo o escrito, que essas centelhas

produzidas à força, fazendo-se chocar as palavras umas

contra as outras e que não nos deslumbram, senão durante

breves instantes, para nos deixar em seguida nas trevas. São

pensamentos que não brilham senão pelo contraste;

apresentam apenas uma faceta do objeto; põem na treva

todas as outras faces; e, o mais das vezes, essa faceta que

escolhemos é uma ponta, um ângulo sobre o qual se faz

convergir o espírito com tanto mais facilidade quanto se

afasta ele das grandes faces sob as quais o bom senso tem o

costume de considerar as coisas.

Nada mais contrário à verdadeira eloquência que o uso

desses pensamentos finos, e a luta por essas ideias

superficiais, desligadas, sem consistência e que, como a

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folha de um metal batido, não tomam brilham senão

perdendo a solidez. Assim, quanto mais se usar desse

espírito superficial e brilhante numa produção, menos nervo,

luz, calor e estilo ela terá; a menos que esse espírito não seja

ele mesmo o fundo do assunto e que o escritor não tenha

outros objetivo senão divertir. Nesse caso a arte de dizer

pequenas coisas se torna, talvez mais difícil, que a de dizer

grandes coisas.

Nada mais contrário ou belo natural que o trabalho em

exprimir coisas simples ou comuns de maneiras singular ou

pomposa. Nada degrada mais o escritor. Longe de admirá-

lo, lamentamo-lo de haver gasto tanto tempo a fazer novas

combinações e silabas, para só dizer o que todo o mundo

diz; Esta a falta dos espíritos cultivados mas estéreis; têm

palavras em abundância, e não ideias; trabalham, pois, sobre

palavras e julgam haver combinado ideias apenas porque

agruparam frases e ter apurado a língua quando a

corromperam, adulterando as acepções. Tais escritores não

têm estilo ou — se o quiserem — só sombra dele. O estilo

deve gravar o pensamento e eles só sabem traçar palavras.

Para bem escrever, é preciso pois dominar

completamente o assunto; é preciso refletir nele para poder

ver claramente a ordem de seus pensamentos e formar com

eles uma sequencia, uma cadeia ininterrupto em que cada

ponto representa uma ideia; e, quando se toma da pena, é

preciso conduzi-la sucessivamente sobre o primeiro traço,

sem permitir que ela se afaste, sem a apoiar desigualmente,

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sem lhe dar outro movimento que o determinado pelo

espaço que deve percorrer.

É isso que consiste a severidade do estilo; é também o

que faz sua unidade e lhe regulará a rapidez; e só isso será

suficiente para torná-lo preciso e simples, igual e claro vivo

e unitário. A esta primeira regra, ditada pelo gênio, se

acrescentarmos delicadeza e gosto, o escrúpulo na escolha

das expressões, o cuidado de só dar às coisas os nomes mais

genéricos, o estilo terá nobreza. Se acrescentarmos a

desconfiança ao primeiro impulso, o desprezo por tudo

quanto só é brilhante, e a repugnância constante ao equivoco

e à brincadeira, o estilo terá gravidade terá mesmo

majestade. Enfim, se escrevermos como pensamos, se

estamos convencidos do que queremos persuadir, está boa fé

para consigo mesmo, que constitui decência para com os

outros e a verdade do estilo, far-lhe-á produzir todo seu

efeito, enquanto esta persuasão interior não se assinale por

um entusiasmo muito forte, por haver nela mais candura que

confiança mais razão que calor.

É assim, senhores, que me parece, lendo-vos, que vós

me falais, que me instruis. Minha alma, que recolheu com

avidez esses oráculos da sabedoria, quis alçar e elevar-se até

vós: Vãos esforços! As regras — vós dizeis — não podem

substituir o gênio; falando ele, elas se tornarão inúteis. Bem

escrever é, ao mesmo tempo, bem pensar, bem sentir e bem

reproduzir; e ter, a um tempo, espírito, alma e gosto. O

estilo supõe a reunião e o exercício de todas as faculdades

intelectuais: somente as ideias formam a base do estilo; a

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harmonia das palavras não é senão o acessório e só depende

da sensibilidade dos órgãos. Basta ter um pouco de ouvido

para evitar dissonâncias. E basta praticar, aperfeiçoar com a

leitura dos poetas e dos oradores para que, mecanicamente,

se seja levado à imitação da cadência poética e dos torneios

oratórios. Ora, jamais a imitação criou algo. A harmonia das

palavras também não constitui nem o fundo, nem o tom do

estilo, e é encontrada frequentemente em composições

vazias de ideias.

O tom nada mais é que a adaptação do estilo à natureza

do assunto. Jamais deve ser forçado; nascerá forçosamente

do próprio fundo das coisas e dependerá muito da

generalização dos pensamentos. Se nos elevarmos às ideias

gerais, e se o assunto, em si mesmo, for grandioso, o tom

parecerá elevar-se à mesma altura; e se, mantendo-o nessa

elevação, consegue o gênio dar, a cada objeto, luz forte, se

consegue juntar à beleza do colorido a energia do desenho,

se consegue representar cada ideia por uma imagem viva e

bem concebida, e tomar de cada série de ideias um quadro

harmonioso e movimentado, o tom será não somente

elevado, mas sublime.

Aqui, senhores, a adaptação fará mais do que a regra;

os exemplos instruirão melhor que os preceitos. Como,

porém, não me é permitido citar trechos sublimes que, lendo

vossas obras, tantas vezes me arrebataram, sou forçado a

limitar-me a reflexões. Somente as obras bem escritas

passarão à posteridade. A quantidade dos conhecimentos, a

singularidade dos fatos, a própria novidade das descobertas,

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não são garantias seguras da imortalidade. Se as obras que

as contêm, não versam senão sobre pequeninos assuntos, se

são escritas sem gosto, sem nobreza, sem gênio, perecerão,

pois os conhecimentos, os fatos, as descobertas são

arrebatados facilmente, transportam-se e conseguem ser

escritos por mãos mais hábeis. Tais coisas estão fora do

homem e o estilo é o próprio homem. O estilo não pode,

pois, nem elevar-se, nem transportar-se, nem alterar-se; se

ele for elevado, nobre e sublime, o autor será igualmente

admirado em todos os tempos. Pois só a verdade é

duradoira, e mesmo eterna. Ora, um estilo só é efetivamente

belo pelo número infinito de verdades que apresentar. Todas

as belezas intelectuais que nele se achem, todos os laços de

que se compõe, não só são verdades, como úteis, e talvez

mais preciosas para o espírito humano, que os que podem

constituir o fundamento do assunto.

O sublime só pode ser encontrado nos grandes

assuntos. A poesia, a história e a filosofia têm todas o

mesmo objeto, e um grande objeto, o homem e a natureza.

A filosofia descreve e pinta a natureza; a poesia descreve e

pinta; pinta também os homens engrandece-os e exagera-os;

cria ela o herói e os deuses. A historia pinta o homem e

pinta tal qual é. Assim, o tom da historia não se tornará

sublime senão quando pintar os grandes homens, quando

expuser as grandes ações, os maiores movimentos, as

maiores revoluções e, sempre atem disso, bastará que seja

majestosa e grave. O tom do filósofo poderá tornar-se

sublime todas as vezes que falar das leis da natureza dos

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seres em geral, do espaço, da matéria, do movimento e do

tempo, da alma, do espírito humano, dos sentimentos das

paixões; no resto, deverá ser nobre e elevado. Mas o tom do

orador e do poeta, desde que o assunto seja grandioso, deve

sempre ser sublime porque eles são os mestres de aliar à

grandeza de seu assunto, tanta cor, tanto movimento, tanta

ilusão quanta lhes apraz; e que, devendo sempre pintar e

sempre engrandecer os objetos, devem também e sempre

empregar toda a força e exibir toda a amplidão do gênio.

PERORAÇÃO

Aos senhores da Academia Francesa

Que de grandes assuntos, senhores, me ferem aqui os

olhos! E que estilo, e que tom é preciso empregar para

pintá-los e representar dignamente! A escol dos homens está

reunida, a sabedoria à frente. A glória, sentada no meio

deles, espalha seus raios sobre cada um e os cobre a todos

com um brilho sempre igual e sempre novo. Raios de uma

luz mais viva ainda, partem de sua coroa imortal, e vão

convergir sobre a fronte augusta do mais poderoso e melhor

dos reis. Não vejo este herói, este príncipe adorável, este

senhor tão querido. Que nobreza em todos os seus traços!

Que majestade em toda sua pessoa! Que de alma, que de

doçura natural em seus olhares! Ele os dirige para vós,

senhores, e vós brilhais com novo brilho; um ardor mais

vivo voz abrasa. Ouço, os vossos divinos acentos e os

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acordes de vossas vozes. Vós os reuníeis para celebrar suas

virtudes, para lhe contar as vitórias, para aplaudir a nossa

felicidade. Vós os reunis para fazer brilhar vosso zelo,

exprimir vosso amor, transmitir à posteridade os

sentimentos dignos desse grande príncipe e de seus

descendentes. Que concertos! Penetram eles meu coração.

Serão imortais como o nome de Luiz.

Ao longe, que outra cena de grandes assuntos! O gênio

da França que fala a Richelieu e lhe dita, a um tempo, a arte

de iluminar os homens e de fazer reinar os reis. A justiça e a

ciência que conduzem Seguier e, de concerto, o elevam ao

primeiro lugar de seus tribunais. A vitória que se aproxima a

grandes passos e precede o carro triunfal de nossos reis,

onde Luiz, o Grande, sentado sobre troféus, com uma mão

cede às nações vencidas e com a outra reúne neste palácio as

musas dispersas. E, perto de mim, senhores, que outro

assunto interessante! A Religião em lágrimas, que vem pedir

emprestado o órgão da eloquência para exprimir sua dor e

parece acusar-me de interromper, durante tanto tempo,

vossos lamentos por uma perda que todos devemos chorar

com ela.

(Traduzido de "Discours sur le Style" — Paris —

Librairie de la Bibliothéque Nationale — 1893)

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OPINIÃO DE UM TORTURADO DA FORMA

(Da Correspondência de Fradique Mendes e Eça de

Queiroz)

— Não! Não tenho sobre a África, nem sobre coisa

alguma neste mundo, conclusões que, por alterarem o curso

do pensar contemporâneo valesse a pena registrar... Só

podia apresentar uma série de impressões, de paisagens. E

então pior! Porque o verbo humano, tal como o falamos é

ainda impotente para encarnar a menor impressão intelectual

ou reproduzir a simples forma d’um arbusto... Eu não sei

escrever! Ninguém sabe escrever!

Protestei, rindo, contra aquela generalização tão

inteiriça, que tudo varria, desapiedadamente. E lembrei que

a bem curtas jardas da chaminé que me aquecia naquele

velho bairro de Paris, onde se erguia a Sorbonne, o Instituto

de França, a Escola Normal, muitos homens houvera, havia

ainda que possuíam do modo mais perfeito a "bela arte de

dizer".

— Quem? — exclamou Fradique.

Comecei por Bossuet. Fradique escolheu os ombros,

com uma irreverência violenta que me emudeceu. E

declarou logo, num resumo cortante, que nos dois melhores

séculos da literatura francesa, desde o meu Bossuet até

Beaumarchais, nenhum prosador para ele tinha relevo, cor,

intensidade, vida... E nos modernos nenhum também o

contentava. A distensão retumbante de Hugo era tão

intolerável como a flacidez oleosa de Lamartine. A Michelet

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faltava gravidade e equilíbrio; a Renan solides e nervo; a

Taine fluidez e transparência; a Flaubert vibração e calor. O

pobre Balzac, esse, era de uma exuberância desordenada e

barbárica. E o preciosismo dos Goncourt e do seu mundo

parecia perfeitamente indecente...

Aturdido, rindo, perguntei àquele "feroz insatisfeito"

que prosa pois concebia ele, ideal e miraculosa, que

merecesse ser escrita. E Fradique, emocionado — porque

estas questões de forma desmanchavam a sua serenidade —

balbuciou que queria em prosa "alguma coisa de cristalino,

de aveludado, de ondeante, de marmóreo, que só por si,

plasticamente, realizasse uma absoluta beleza — e que

expressionalmente, como verbo, tudo pudesse traduzir desde

os mais fugidos tons de luz até os mais sutis estados

d'alma..."

— Enfim — exclamei — uma prosa como não pode

haver!

— Não! — gritou Fradique, uma prosa como ainda não

há. Depois, ajuntou concluindo:

— E como ainda a não há, é uma inutilidade escrever.

Só se podem produzir formas sem beleza; e, dentro dessas

mesmas só cabe metade do que se queria exprimir, porque a

outra metade não é redutível ao verbo.

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UMA CARTA DE EÇA DE QUEIROZ

Bristol, 8 de Abril de 1888.

Meu caro Pina

Recebi a ILUSTRAÇÃO de 5 de Abril, e com ela, e

nela, a curta, mas pavorosa demolição que V. faz da minha

pobre pessoa! Famosa sova, na verdade! É desse gênero o

que nós chamamos em Lisboa — dizer as últimas. Porque

enfim até agora, os críticos mais hostis concediam-me ao

menos uma certa arte de escrever; — enquanto V. nega

desde logo, terminantemente, que eu possua sequer os

rudimentos dessa arte — a gramática e a sintaxe. As páginas

dos meus livros, diz V. com ferocidade, estão cheios de

erros de gramática e de erros de sintaxe! E isso é realmente

dizer as últimas.

Há longos anos que um crítico não pronuncia palavras

tão violetas. Em primeiro lugar, porque a doçura e a palidez

crescente dos costumes impede de romper nesses excessos.

E em segundo lugar porque um escritor que não tem

gramática e que não tem sintaxe não é de fato um escritor —

e portanto os críticos não têm ocasião de se ocupar dele,

nem em bem, nem em mal. em todo o caso, se essa é a sua

opinião, caro Pina — que não tenho nem gramática, nem

sintaxe — fez V. admiravelmente em a dizer. O primeiro

dever de quem tem uma pena é escrever aquilo que julga a

verdade.

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O que eu não compreendo muito bem é quando V. diz

que os meus livros, cheios de erros de gramática e de erros

de sintaxe, prendem e dominam o público! Aqui, perdoe-me

V., caro amigo, mas creio que há trapalhada! V. de certo não

liga a estes termos gramática e sintaxe a ideia que lhes ligam

as Mestres-Régias de Trás-os-Montes. Sem penetrar mesmo

muito nos requintes da Filosofia da Linguagem. V. conhece

tão bem como eu, ou melhor talvez, o que hoje se entende

por estes termos gramática e sintaxe; e sabe bem que, sem

aquilo que hoje se chama gramática não há clareza de

linguagem e sem aquilo que hoje se chama sintaxe não há

coordenação de pensamento. Ora como é que um livro, sem

gramática e sem sintaxe — isso é um livro composto de

pensamentos desconexos expressos numa linguagem

obscura, pode jamais prender e dominar o público?

Parece-me, pois, — pedindo outra vez perdão do termo

— que houve aí trapalhada.

Toda essa passagem é confusa — e o que ainda a

complica mais é V. dizer que "os gramáticos são os

verdadeiros cultores da língua, os verdadeiros escritores

retoricamente falando." Que diabo quis V. dizer com tudo

isso?

É perfeitamente incompreensível, a não recairmos na

suposição de que V. liga os termos Gramática e Sintaxe a

mesma ideia que lhe ligam as Mestras-Régias, se é que, com

a difusão dos conhecimentos, elas mesmas não têm, já hoje,

uma noção mais elevada dessas coisas. Quero dizer — que

não se pode compreender o que V. diz — a não supor que

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V. entende por Gramática e Sintaxe um conjunto de regras

fixas e inalteráveis deduzidas da maneira especial dos

primeiros escritores que apuraram e fixaram uma língua;

definição essa de Gramática e Sintaxe que me levaria a

concluir que Renan, o primeiro escritor da França moderna,

é um trapalhão, sem gramática e sem sintaxe, porque

escreve com uma construção inteiramente diferente da desse

outro grande escritor que se chama Montaigne, e que viveu,

se não me engano, no tempo de Luiz XIII. Sendo assim, se

V. liga, com efeito, essa ideia à gramática e sintaxe — então

toda a passagem da sua crônica se torna clara e lógica; e

com efeito então os meus são cheios de erros de gramática e

de erros de sintaxe — porque não são realmente construídos

com a sintaxe e a gramática de Sá de Miranda e de

Bernardim Ribeiro. E aí está porque, como V. diz, eles

comovem o público.

Quer que lhe diga o que penso, caro Pina? É que V.

escreveu esse começo da sua crônica à noite, muito tarde,

derreado de cansaço, e a cair de sono! E se a for agora reler

fica furioso consigo.

Não o fique comigo, por causa dessa maçada, dê-me

notícias suas e creia-me sempre.

muito dedicado,

EÇA DE QUEIROZ.

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ESTILO

José Engenieros

Há estilo em toda a forma que expressa com lealdade

um pensamento — As artes são combinações de gestos que

se destinam a objetivar adequadamente os modos de pensar

ou de sentir; quando a forma exprime o que deve e nada

mais do que isso, revela estilo. Não basta, em qualquer arte,

possuir concepções originais; é necessário procurar a

estrutura formal que fielmente as interprete.

Qualquer ritmo de pensamento humano que alcança

expressão adequada, cria um estilo. Cada característica

intelectual, de um povo ou de uma época, é sentida com

maior intensidade por homens originais que lhe dão forma,

renovando a técnica de expressão; em torno deles os

imitadores se multiplicam e formam escolas, até que a

sociedade sente a sua influência, adapta a ela o gosto e surge

a moda. Seguir uma escola é a maneira infalível de não se

ter estilo pessoal; entregar-se a uma moda é o método mais

eficaz para se carecer de originalidade. Em qualquer arte, só

pode adquirir estilo próprio aquele que repudia escolas e

desdenha modas, pois uma e outras tendem a colocar marcas

emprestados às inclinações naturais.

Não se adquire estilo glosando a forma alheia para

exprimir as ideias próprias, nem torcendo a expressão

própria para adular os sentimentos alheios. Estilo é

afirmação de personalidade; aquele que combina palavras,

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cores, sons ou linhas para exprimir o que não sente ou

aquilo em que não crê, carece de estilo, não pode tê-lo.

Quando o pensamento não é íntimo e sincero, a expressão é

fria e amaneirada, ruminam-se formas já conhecidas,

retorcem-se, alambicam-se, procurando em vão suprir a

ausência da virilidade criadora com estéreis artifícios.

A arte de escrever, particularmente, carece de

excelência quando visa acariciar o ouvido ou enganar a

razão com sofisticas dissimulações. Uma máxima de

Epíteto, despida, sem advérbios pomposos, nem adjetivos

sibilinos, tem estilo e deixa uma impressão de serena beleza,

jamais igualada pelos retorcidos discursos que abundam nas

épocas de mau gosto; sobra, na simples sentença, a

acomodação inequívoca da forma ao sentido, conseguindo

uma harmonia jamais alcançada pela prosa torturada para

dissimular a vacuidade. O mais nobre estilo é aquele de que

transparecem ideais profundamente notados, expressados

em forma contagiosa, capaz de transmitir a outros o próprio

entusiasmo por aquilo que embeleza a vida humana: saúde

moral, firmeza de querer, serenidade otimista.

A CORREÇÃO PRECEPTIVA É A NEGAÇÃO

DO ESTILO ORIGINAL

Em todas as artes, a tempo acumula regras técnicas que

constituem a sua gramática e permitem evitar as mais

frequentes incorreções de expressão; qualquer pessoa de

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inteligência mediano pode aprendê-las e aplicá-las, sem

contudo, adquirir a capacidade de exprimir seu pensamento

de maneira adequada. A ninguém dão estilo as estéticas,

nem as retóricas que regulamentam a expressão, tornando-a

tanto mais impessoal quanto mais perfeita for.

Os modelos, os cânones só ensinam a exprimir-se

corretamente, sem que a correção seja estilo. As academias

são sementes de mediocridade diversas e opõem fortes

obstáculos ao florescer dos temperamentos inovadores. A

aquisição do estilo pessoal só e começar quando se violam

cânone convencionais do pensamento e da expressão.

Em cada arte ou gênero existem normas de correção,

porém não há arquétipos se estilo, pois qualquer novo

pensar requer nova expressão; as normas que o tempo

consagrou as de épocas, foram, em sua origem, rebeldias

contra as de épocas precedentes. Falar de estilo, em si, é

abstrair, de todos os estilos individuais seu caráter comum

de criação, omitindo as diferenças que caracterizam a cada

um e sem as quais nenhum existiria.

O estilo é o individual, o que não se aprender de

outros, ou o que permite reconhecer o autor na obra, sem

necessidade de a ter firmado. Por isso, tanto há estilo na

expressão de um artista, como caráter em sua personalidade;

e sendo a síntese de toda a sua mente que vibra na expressão

inteira, não pode ser forma sem ser, antes, pensamento.

A técnica perfeita é uma qualidade que aformoseia a

obra como a ornamentação o monumento, sem que, por isso,

tenha valor próprio fora da mesma obra. A correção é

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anônima, não eleva, embora impeça de descer; raramente

requer verdadeiro talento. Um exercício suficiente permite

escrever, delinear ou construir com perfeição; é um

adestramento físico, e, para isso, não se requer maior

engenho do que o de atingir o centro dez vezes seguidas

atirando ao alvo.

Muitos professores exímios conhecem as intimidades

da preceptiva e possuem a técnica corretas de sua arte; sem

embargo são banais prosadores, pintores ou músicos, sem

personalidade e sem estilo, por falta de ideia e de

sentimentos originais. Ao contrário sem correção técnica,

costumam resultar admiráveis as formas de dizer de um

Dante ou de um Pascal, porque o seu estilo exprime uma

nova orientação de ideias ou de sentimentos, impossível de

arremedar com mosaicos de palavras.

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MODELOS

Elementos para uma Ficha de Leitura

Interpretação

Cenário (ambiente, local)

Personagens (retrato físico e psicológico)

Enredo (resumo geral - resumo por capítulos)

Final (desfecho)

Tempo (real e/ou psicológico)

Sentimentos envolvidos

Ideias principais

Vocabulário

Estudo do significado das palavras novas (dicionário)

Análise das expressões significativas usadas pelo autor.

A Obra

Autor

Época

Período

Características do período literário

Características do período literário presentes nas obra

Referências e Comentários sobre a obra

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Roteiro para Leitura de Textos Curtos

Primeira leitura

Compreensão do conjunto

Segunda leitura

Divisão em partes

Retirada dos termos acessórios

Copiar o texto, excluindo os termos supérfluos,

deixando

apenas aqueles essenciais à compreensão

Terceira leitura

Resumo das ideias principais

Resumo das ideias secundárias

Estrutura utilizada

Gênero, forma, aspectos gramaticais e outros

Enredo

Forma de apresentação e desenvolvimento do enredo

Encaminhamento do desfecho ou da conclusão

Aspectos relevantes

Conclusão pessoal

Roteiro de Leitura

Leitura atenta do texto

Releitura e levantamento

Dados da obra

Gênero literário

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Vocabulário (denotativo e/ou conotativo)

Assunto ou enredo

Resumo (o que o autor diz e como sentimos o texto e o

recriamos)

Divisão do texto em partes e resumo de cada uma delas

Desenvolvimento

Como o autor desenvolve o texto

Tema

Ideia básica

Ideias secundárias

Aspectos relevantes

Ressaltar aspectos sociais, políticos, religiosos e

econômicos e outros que auxiliem no entendimento do tema

sob o ponto de vista do autor

Mensagem do Autor

Problemas apresentados e suas soluções

Atividades

Assinalar o que considerar importante

Roteiro para Leitura e Análise de um Texto Narrativo

Cenário

Personagens

Descrição física e psicológica

Tempo

Enredo (intriga)

Desfecho

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Vocabulário

Denotativo e conotativo

Resumo

Geral e por partes

Ideia principal

Desenvolvimento das ideias

Ideia secundárias

Aspectos sociais, políticos, econômicos e outros

Mensagens

Crítica

Conteúdo e forma

Estilo

Opinião pessoal

Expressões e imagens significativas

Conclusão

Roteiro para Análise de uma Obra Literária

Autor

Obra

Personagens

Principais e secundárias

Enredo

Resumo geral e por capítulos

Caracterização das personagens

Ação

Diálogo

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Descrição direta do autor

Descrição por uma das personagens

Confissões pessoais das personagens

Apresentação simbólica

Temas

Principal e secundários

Tempo

Tempo cronológico

Tempo psicológico

Tempo imaginário

Estilo

Estrutura - conto, novela ou romance

Técnicas da narração:

ação

diálogo entre o autor e o leitor

discurso direto, indireto ou livre

ponto de vista narrativo

Linguagem Empregada

aspectos normativos a ressaltar

vocabulário denotativo e conotativo

linguagem figurada e figuras de estilo

tom da obra (triste, trágico ou outro)

simbolismo presente na obra

Características do Período Literário

gerais

presentes na obra

Crítica Pessoal

Conclusões

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Roteiro para Análise de uma Obra Poética

Informações Gerais

Autor e Obra

Gênero

Prefaciador e Tradutor (se for o caso)

Edição, editora e data

Estrutura

Síntese ou Resumo (geral e por partes)

Tema ou ideia central

Desenvolvimento do tema

Ideias paralelas

Desenvolvimento das ideias paralelas

Psicologia do autor

Aspectos políticos, sociais, religiosos etc., presentes na

obra

Mensagem do autor

Forma

Som, ritmo, rima e métrica

Figuras de estilo

Estudo das estrofes ou divisões

Forma e intenção

Expressão

Vocabulário

Palavras e expressões significativas

Simbolismo das palavras e expressões

Conotação e denotação

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Linguagem figurada

Recursos expressivos

Tom

Período Literário

Características gerais

Características presentes na obra

Identificação do período literário através do texto

Opinião Crítica

Sobre a obra e sobre o autor

Opinião Pessoal

Conclusão

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TEMAS PARA REDAÇÃO

Utilize essas sugestões para facilitar seu aprendizado e

seu treinamento. Lembre-se que é bom estar preparado para

qualquer tipo de tema. Na fase de preparação para o

vestibular ou para um concurso, procure abordar todos os

temas aqui propostos, até e principalmente aqueles com os

quais não tiver afinidade alguma.

Escolha o tema e, se nada souber a respeito dele,

pesquise, leia e observe para incorporar preciosas

informações ao seu conhecimento. Pode ser que sejam

aquelas que farão toda a diferença, quando você precisar de

sua memória.

2011: Ano Internacional das florestas

A atualidade de Dumas: Um por todos, todos por um

A Bíblia tinha razão?

A Comissão da Verdade no vestibular

A conquista do espaço

A construção da Usina de Belo Monte

A contemporaneidade do Panis et Cirsenses

A criança de rua e a qualidade do ensino

A ditadura no Brasil. Por que os crimes ainda não

foram punidos?

A escola como educadora e formadora de caráter

A escola moderna

A expansão da cultura da individualidade

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A favela que eu conheço

A flor que mais aprecio

A fragmentação do homem pós-moderno

A ilusão perversa

A incivilidade dos gentílicos sem utopia

A indústria cultural e a massificação dos gostos

A justiça social, a solidariedade e o cristianismo

A língua portuguesa na atualidade

A liquidez contemporânea

A manipulação nos meios de comunicação

A natureza nos fez altruístas

A necessidade do altruísmo

A pedofilia e o poder

A pedofilia e os meios de comunicação

A pedofilia na Igreja

A pedofilia na sociedade atual

A pessoa mais importante em minha vida

A pracinha da cidade

A saída para o futuro

A sociedade primordial contemporânea

A solidariedade do mundo efêmero

A Teologia da Prosperidade

A vida social na idade da pedra

A violência na sociedade brasileira: como mudar as

regras desse jogo

A violência urbana.

Abnegação solapada

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Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: quais as

mudanças?

Acredite se quiser... ou se puder

Ajude-me a viver

Além da superfície: a essência das relações humanas

Altruísmo e pensamento a longo prazo como obrigação

Altruísmo individual

Altruísmo na essência humana

Altruísmo nos tempos de cólera

América Latina: uma vocação para a ditadura

América Latina: caminhos do MERCOSUL

Amizades virtuais

Amizades, por que cultivá-las?

Analfabetismo, você acredita nele?

Antigamente tudo era mais fácil

Aquela foi a coisa mais bonita que já vi

Arco-íris

As aventuras de um ladrão moderno

As catástrofes do mundo atual

As drogas e a infância perdida

As maravilhas do mundo moderno

As perspectivas para o próximo milênio

As superbactérias e a infecção hospitalar

As superbactérias em questões do vestibular

As Torcidas Organizadas e a violência.

As tragédias naturais.

Ascensão da mulher na sociedade

Autodestruição

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Autorretrato

Barack Obama no poder: o que mudou na política

internacional?

Bioética

Brasil da copa e Brasil na copa do mundo.

Bulling: um ato de violência e preconceito

Bulling: um sinal de fraqueza ou um pedido de ajuda

Chove no jardim

Cidadania e participação social

Cidadania: eleições municipais

Código Florestal Brasileiro

Coisas que não sei explicar

Comissão da Verdade

Como garantir a liberdade de informação e evitar

abusos?

Como preservar a floresta Amazônica

Conferência das Nações Unidas realizada no Rio de

Janeiro

Confesso minha incapacidade

Consequências da crise econômica mundial

Contemporaneidade: Fragmentação social,

individualismo e reconhecimento do outro

Controle de natalidade e religião

Coragem além do dever

Crack no Brasil

Crack, droga cinco vezes mais potente que a cocaína: o

vilão que assola a juventude brasileira

Crise econômica mundial

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Cultivar para crescer

Da fluidez da solidariedade

Desemprego e entreguismo

Desemprego

Desenvolvimento e justiça social

Desenvolvimento e preservação ambiental: como

conciliar os interesses em conflito?

Desmatamento na Amazônia

Destinos compartilhados

Diálogo de mendigos

Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar

esse desafio nacional

Direitos humanos: criminoso x vítima

Ditadura militar no Brasil: Onde está a verdade?

Ditadura pessoal

Diversidade e igualdade

E quando acabarem-se os cemitérios?

É uma vergonha!

Educação: a base para a justiça social

Educação: em que mundo vivemos?

Educação: princípio para a igualdade social

Ela

Ele

Em que mundo você quer viver?

Energia Nuclear e Vulcões

Energia: acidente nuclear no Japão

Eram os deuses astronautas?

Erotismo e comércio, qual é a novidade?

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Estatização de empresas de petróleo

Eu tenho a solução para...

Falar línguas estranhas, fato científico ou mistificação?

Fatos e boatos, como lidar com eles?

Ficha limpa

Filho, um dia isso tudo será seu

Finalmente, é tempo de praia

Foi quando eu me senti importante

Fome, miséria e doença

Fontes limpas de energia. Como?

Frágil, superficial e efêmero

Futuro do planeta

Geopolítica: 30 anos da Guerra das Malvinas

Geopolítica: papel do Brasil no cenário internacional

Gostaria de ser um bicho

Gostaria de ter vivido em outra época

Grampos, telefones, sigilo e política

Há coisas realmente difíceis na vida

Há uma outra pessoa dentro de mim

Haverá uma imprensa livre no Brasil

Homofobia e os direitos humanos

Homofobia: violência contra os direitos humanos.

Igreja e comércio, onde se separam?

Igualdade de gênero

Imagem: o mundo por imagens (Ter x Ser)

Imprensa x democracia.

Inclusão digital: um direito de todo brasileiro

Inclusão social

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Individualismo predominante

Individualismo x solidariedade

Indivíduo e imediato: imperativos do status quo

Instabilidade econômica

Internet e solidão

Jamais esqueço...

Juventude e responsabilidade social: é assim que se faz

um Brasil para todos

Juventude: tempo de mudanças e tempo de mudar

Legalização da maconha: este é o caminho?

Liquefação social

Livros eletrônicos: uma revolução digital e tecnológica

Maquiavel, Bauman e Machado

Maravilhas da ciência

Marte, por que ir até lá?

Meio ambiente: catástrofes naturais

Meio ambiente: Código Florestal, derramamento de

petróleo e Rio+20

Meios de comunicação e compromisso com a verdade

Meninos trabalhadores

Meu ídolo

Meu primeiro amigo

Milagres ao vivo na TV

Minha cidade é especial

Minha sogra é um anjo

Minhas pequenas coisas

Movimento sem terra

Naquela noite, os sinos não bateram

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Necessidade de mudança

Noites de lua cheia

Nós

Novas necessidades: altruísmo e visão coletiva

O assunto do momento

O caminho da caixa maldita

O coletivo em detrimento do individualismo

O desafio de se conviver com as diferenças

O despejo

O dia em que tremi de verdade

O direito de votar

O Evangelho na era eletrônica

O fabuloso destino

O fim das relações humanas

O futebol e a desigualdade salarial

O homem não é uma ilha

O impossível às vezes acontece

O indivíduo frente à ética nacional

O jovem e a democracia

O mundo lá do alto

O novo altruísmo

O paradoxo entre a imagem externa do Brasil e os

problemas sociais enfrentados em nível interno

O poder de transformação da leitura

O que foi, afinal, o Mensalão?

O recém-nascido e a floresta

O respeito ao ser humano

O ser político e ser político

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O sonho impossível

O trabalho escravo no Brasil: uma realidade intrigante

O trabalho infantil na sociedade brasileira

O trabalho na construção da dignidade humana

O troféu

O vaso de cristal e a flor murcha

O voto: exercício de cidadania

Obstáculos que terei se superar

Olimpíadas e Copa do Mundo no Brasil

Oriente Médio: o princípio de uma nova era

Oriente Médio: origens do desentendimento

Oriente Médio: qual a saída?

Os benefícios da prática esportiva para o indivíduo e

para a sociedade

Os desastres naturais no Brasil: acidentes ou resposta

da natureza?

Os filhos esquecidos

Os heróis anônimos

Palmeira ou Narciso?

Papel do Brasil (diversas áreas)

Para depois, por que fazer agora?

Para que exista o amanhã, é preciso que o nós triunfe

Parece que foi ontem

Participação Política: um ato de cidadania

Passatempos e manias

Pensar no amanhã: prática de hoje

Pequeno catador de papel

Perspectivas

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Perspectivas da nossa economia

Plantar e não colher

Poderia ter sido fácil e agradável...

Política e responsabilidade social

Por que cantar no chuveiro?

Por que me atiram pedras?

Por um império fênix

Porque acredito no Coelhinho da Páscoa

Porque não acredito em Papai Noel

Precisamos encarar isso de uma vez por todas

Preocupação e organização

Pré-sal x sustentabilidade.

Preservação ambiental

Problemas na camada de ozônio

Problemas que atrapalham o homem

Professores e qualidade de ensino

Profissionais em ação

Prostituição infantil e subnutrição

Protesto dos estudantes no México

Quais as perspectivas políticas e sociais da juventude

nacional?

Quando eu era inocente

Quando olho pela janela...

Que coisa mais esquisita!

Que esperar da vida?

Que pena!

Que sorte!

Quero viver

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Recontando a nossa História

Redes sociais Bulling: um ato de violência e

preconceito

Redescobrindo a premente arte de ver com o coração

Religião e futebol

Renascimento tardio

Respeito à diversidade: fim da homofobia

Reunião de mentirosos

RIO + 20: qual o legado, afinal?

Rodovias e ferrovias no Brasil

Se eu fosse presidente

Segredos devem ser guardados

Sexo por computador

Sobre equívocos, Narcisos e imediatismos

Sobre percorrer o caminho inverso

Sobrevivendo as crises

Sociedade fragilizada pelos efeitos da crise

Sonhos de uma noite de verão

Sustentabilidade conjunta

Tecnologia: internet x livros eletrônicos

Tenho um vizinho intragável

Trabalho escravo

Trabalho infantil

Transição econômica

Travessuras de criança

Tudo começou naquele dia

Um casal de...

Um dia em minha vida

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Um dia interminável

Um fato lamentável

Um presente de grego

Uma caçada impossível

Uma fábula do meu tempo

Uma história bem maluca

Uma história de arrepiar

Uma lenda local

Uma paisagem inesquecível

Uma parábola atual

Uma perspectiva positiva para o ECA

Vantagem a longo prazo

Viagem ao país da impunidade

Viagem ao país da justiça

Viagem ao redor de um sonho

Viver e aprender

Viver em rede no século 21: os limites entre o público

e o privado

Você acredita em orações?

Voto adolescente: exercício de cidadania ou exploração

política?

Vulcões e caos aéreo

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A REDAÇÃO

Depois de ter sido professor de língua portuguesa,

língua inglesa, literatura brasileira, portuguesa, inglesa,

norte-americana e de teoria da literatura, após ter escrito

mais de 900 livros de bolso, ao longo de 35 anos de carreira,

fui desafiado a provar que era possível ensinar alguém a

escrever.

Pois bem. A grande dificuldade de se ensinar alguma

coisa para alguém é saber se essa pessoa quer aprender. Se

ela quiser, tudo se torna mais fácil.

Há pessoas, porém, que não querem e não gostam, mas

precisam aprender. O grande desafio é ensinar também a

essas pessoas e esse pode ser o seu caso. Você não gosta de

ler, não gosta de escrever, mas precisa aprender a fazer uma

redação para garantir o mínimo necessário para o vestibular

ou para um concurso público.

Se você quer aprender o mínimo, isso é possível.

Escrever uma composição é como fazer uma construção.

Você precisa de alicerce, de cimento, de tijolos e de

cobertura. Você pode não contar com recursos ilimitados

para garantir um bom acabamento, mas é possível se fazer

uma boa construção, apresentável, com tijolos à vista e

pouco material de acabamento. Tudo depende do habilidade

do construtor.

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Quando você faz uma redação, o processo é o mesmo.

Os substantivos são os tijolos da construção. Os verbos são

argamassa que os une. Os complementos são o acabamento

e a cobertura. O conhecimento do vocabulário e da

gramática são os alicerces.

Em minhas palestras, quando ensino que é possível

para qualquer um escrever bem, usando 10% de inspiração e

90% de transpiração, as pessoas pedem alguma coisa mais

fácil, mais imediata, mais milagrosa. Eu recomendo, então,

meu chá especial, uma fórmula mágica que desenvolvi para

conseguir escrever aproximadamente 70.000 páginas ao

longo de minha carreira.

Obviamente, todos querem a receita desse poderoso

chá, capaz de transformá-los em escritores da noite para o

dia. Por isso afirmo que você pode ser um escritor da noite

para o noite e, com um pouco de treinamento, tornar-se um

bom escritor, desde que use criteriosamente essa minha

receita.

Quer conhecer a fórmula? É simples e leva apenas 3

ingredientes.

C - c de conhecimento, necessário para alicerçar seu

trabalho.

H - h de habilidade, que você desenvolve praticando.

A - a de atitude, sem o que você nada fará.

O conhecimento você adquire com seu esforço pessoal.

Se está no segundo grau, com certeza tem conhecimentos

suficientes de gramática e de vocabulário para fazer uma

boa redação. Se não costuma escrever, sua habilidade está

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atrofiada e quanto mais você treiná-la, mais hábil ficará. O

importante é saber que conhecimento você adquire,

habilidade você desenvolve, mas se não tiver a atitude de se

empenhar e usar seus recursos, isso de nada lhe adiantará.

Você pode aprender nos livros e com os professores. Mas

somente vai conseguir fazer uma boa redação, quando

quiser realmente fazê-la.

Este livro vai tornar as coisas mais fáceis para você.

Não estamos preocupados em apresentar grandes lances de

gramática nem altos exemplos literários. Queremos apenas

fornecer-lhe o necessário para você entender o processo,

situar-se nele e caminhar com certa naturalidade no assunto.

A partir daí, desenvolver seu talento será uma decisão

pessoal.

Não pense que escrever é um dom. Escrever é um

trabalho que exige horas e horas de dedicação diante do

papel, preenchendo-o, polindo o texto, criticando o

resultado e buscando sempre melhorar. Por maior que seja o

dom, se é que ele existe, você pode ficar sentado diante de

uma folha de papel, de uma máquina de escrever ou de um

computador, mas se seus dedos não se moverem e você não

se concentrar no que faz, nada fará com que o texto seja

criado.

O trabalho pode ser mais fácil para uns do que para

outros, cujas habilidades estejam mais desenvolvidas ou

cujos conhecimentos sejam maiores. O trabalho, porém, é o

mesmo. Qualquer um dos dois que tenha de escrever uma

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redação de 30 linhas, terá que escrever as 30 linhas por si

mesmo. Nada fará surgir no papel um trabalho pronto.

Frequentemente perguntam-me como eu consigo

escrever um livro de 100 páginas em alguns dias. Após

tantos anos de prática, desenvolvi minhas habilidades ao

máximo. Tendo sido professor, assimilei os conhecimentos

gramaticais necessários. Como sempre li muito, tenho um

vocabulário razoável. Minha imaginação trabalha solta,

aprendi a fazer isso com o tempo. Não preciso de inspiração

e, sim, da transpiração. Finalmente, quando escrevo um

livro, faço porque quero fazê-lo ou porque preciso fazê-lo.

Em qualquer das duas hipóteses tenho a motivação

necessária. Quando querem saber por onde eu começo,

sempre respondo: "pela primeira letra da primeira palavra da

primeira oração do primeiro período do primeiro parágrafo

da primeira folha."

Eu afirmo que você pode escrever, que é capaz de

produzir uma redação para o vestibular que, mesmo não

sendo brilhante, em nada vai comprometer seu desempenho

e seguramente contribuirá com o resultado final. Para isso,

só preciso que você queira fazer isso. Vou tornar todo o

processo o mais suave e acessível possível. Se acredita

nisso, prossiga. Caso contrário, feche este livro e vá fazer o

que mais gosta.

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Informações úteis

Se você está se preparando para o vestibular,

preocupado com sua redação, é interessante que tenha

algumas informações iniciais, para começar a interiorizá-las

a partir de agora. Uma delas, da máxima importância, é

saber o que ocorre com sua redação, a partir do momento

em que ela é entregue, após sua conclusão.

Dependendo do curso a que esteja concorrendo, sua

redação terá peso ou nota diferente, mas certamente em

todas as hipóteses, acrescentará pontos importantes para sua

aprovação.

Após a realização da prova, seu trabalho é

encaminhado a um professor que corrigirá sua redação,

baseando-se em três princípios básicos: conteúdo, forma e

correção. Vejamos cada um desses itens isoladamente.

O conteúdo

Pesarão neste aspecto o seu enfoque pessoal ou a

maneira como abordou o assunto, a lógica e a coerência das

ideias apresentadas, sua relação com o tema, sua atualidade

e sua argumentação. Para se sair bem nessa etapa, você

precisa refletir sobre o tema, relacionar e encadear

informações atuais sobre ele, desenvolver a composição

coerentemente, sem se afastar de seu propósito inicial. Para

isso você precisará de um esquema de trabalho e esta é uma

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das coisas que aprenderá fazer no decorrer da leitura.

Lembra-se das notícias do início?

A forma

Você deve desenvolver seu trabalho com concisão e

clareza, tendo em mente que concisão é a exposição das

ideias em poucas palavras e clareza é a qualidade do que é

claro ou inteligível. O domínio das formas da língua e a

fluência na construção das frases, orações e períodos são

decisivos, assim como um bom domínio e riqueza de

vocabulário. Finalmente, um toque de criatividade para

temperar tudo isso, não se esquecendo jamais de que o

professor que fará a leitura e pontuará seu trabalho

certamente gostará de entender tudo facilmente, razão pela

qual, ao passar a limpo seu trabalho, faça-o com caligrafia

legível e caprichada, sob pena de pôr em risco todo o

resultado.

A correção

Seu trabalho deve ser o mais correto possível. Isso

significa que deverá estar isento de erros gramaticais e

ortográficos, corrigido com atenção, elegante e adequado ao

seu propósito. Os aspectos que mais saltam à vista, nesse

momento, são a acentuação gráfica, a ortografia, pontuação,

concordâncias verbal e nominal, regência e colocação

pronominal.

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Quanto mais harmoniosas forem essas etapas de sua

redação, mais chance de sucesso, e de boa nota, você terá.

Para chegar a isso, não se esqueça de que terá de fazer uso

de muito CHA. A questão, agora, é perguntar: você está

disposto(a) a seguir em frente? Está disposto(a) a adquirir

conhecimentos e desenvolver suas habilidades? Se a

resposta for positiva, você está pronto(a) para continuar.

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ENTENDENDO OS CONCEITOS

Sempre insisti que o ato de escrever é uma atividade

que exige ação, um processo que deve ser estruturado e

obedecer a um método. A partir do momento em que você

pratica, você vai internalizando paradigmas ou modelos que

serão utilizados automaticamente em seus trabalhos.

Saber como isso ocorre é importante, pois pode

permitir que você assuma o controle de algo que, por falsas

informações ou conceitos errados, julgue ser um ato

instintivo, inato, um "dom" que privilegia poucos e penaliza

muitos.

Se tiver um pouco de paciência, garanto-lhe que tudo o

que conhecer e aprender quanto aos aspectos teóricos da

redação tornarão sua tarefa mais fácil e mais produtiva.

Aceitando essa premissa, tenha em mente que escrever

é argumentar e para fazer isso, alguns requisitos básicos são

necessários. Vejamos quais são!

Pensamentos

A justeza do espírito é uma qualidade indispensável em

qualquer pessoa que pretenda fazer uma argumentação. Da

mesma forma, pode-se afirmar que não existe obra literária

sem sentimento. Por mais impessoal que tente ser,

fatalmente essas qualidades ou a ausência delas vão se

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refletir em seu trabalho. Assim, é importante que você

entenda isso, uma vez que pode afetar diretamente o seu

estilo e sua obra.

Pensamento é toda concepção do espírito. Deve ser

verdadeiro, isto é, conforme com a realidade, já que um

pensamento falso pode fazê-lo enveredar por uma

argumentação totalmente equivocada.

Exige-se que seja claro para ser compreendido sem

esforço. Por isso, todos os bons manuais de redação

recomendam que se busque a simplicidade na comunicação,

fugindo a tudo que possa comprometer sua clareza. Devem

ser ainda naturais, espontâneos, ajustados ao assunto e ao

caráter das pessoas que os expressam.

Numa redação objetiva, como a do vestibular e a de um

concurso público, recomenda-se evitar os pensamentos por

demais profundos, que não podem ser concebidos senão por

espíritos superiores e cuja exatidão só será medida por séria

e profunda reflexão.

Os professores que corrigirão seu trabalho podem não

dispor de tempo para tais mergulhos. Da mesma forma,

deve-se evitar todos que vulgares e triviais, evocando coisas

ou aspectos grosseiros ou comum demais.

Sentimento

O sentimento pode ser religioso, quando tem Deus ou

as coisas santas por objeto, natural, se nasce da

contemplação do mundo exterior e sentimento propriamente

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dito, como amor, ódio, amizade, gratidão, alegria, tristeza,

admiração, ternura, compaixão, esperança, inveja.

A primeira qualidade do sentimento é a naturalidade,

devendo estar adequado ao assunto e corresponder aos

estados de alma dos autores ou das personagens envolvidas.

À naturalidade opõe-se a exageração, quando o autor

se deixa seduzir pela sonoridade das palavras e pela ousadia

das expressões que substituem a justeza e a sinceridade do

sentimento.

Os sentimentos são também nobres e sublimes, quando

próprios a realçar as melhores tendências da alma, as suas

heroicas resoluções e elevadas aspirações para a verdade, o

bem e o belo.

Ao redigir uma redação, deixe aflorar aqueles

sentimentos que possam contribuir para o seu sucesso,

evitando a todo custo deixar-se contagiar pela ira, pela

ironia, pela revolta, que seguramente o levarão a

pensamentos obscuros, falsos, confusos ou totalmente

desviados da realidade.

Linguagem Oral e Linguagem Escrita

A linguagem escrita tem identidade própria e seu

caráter formal distancia-se da linguagem oral. Ao redigir,

usa-se o significado das palavras para transmitir conteúdos.

Assim, a redação é a expressão de ideias, por escrito. Para

atingir seus objetivos, precisa ser feita de forma clara,

organizada e coerente.

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Simplificadamente, redigir bem é utilizar

conhecimentos de gramática e de vocabulário para discorrer

sobre um tema. Para se discorrer sobre um tema, é preciso

entendê-lo, refletir sobre ele, associar ideias, usar a memória

e a imaginação. Em seguida, ainda que mentalmente, é

preciso estabelecer um roteiro para essa redação,

obedecendo aos seguintes passos:

1 - Seleção da forma a ser utilizada (dissertação,

descrição, narração ou correspondência comercial).

2 - Reflexão sobre o tema, organizando e associando

ideias.

3 - Escolha de palavras significativas e atreladas ao

tema para expor as ideias de forma concatenada, conforme

as regras do idioma e seguindo seu próprio estilo.

Num vestibular ou num concurso público, a seleção da

forma será automática, como exigência da prova. Refletir

sobre o tema, no segundo passo, implica em usar a memória,

lembrando-se de leituras ou de informações recebidas de

outras fontes. Ao fazer isso, faça uma análise cuidadosa o

assunto a ser tratado, sob todos os aspectos, sejam eles

concretos, emocionais ou filosóficos. Após isso, faça o

rascunho inicial, ponto de partida para seu trabalho.

Um dos aspectos mais importantes, tendo em vista que

a originalidade é um dos pontos cruciais de toda redação, é

o de criar e desenvolver um estilo próprio. A capacidade de

observar, analisar, compilar e apresentar dados de forma

própria e individual determinará seu grau de criatividade.

Para isso, não há como fugir da leitura de jornais, revistas e,

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principalmente, dos grandes nomes da língua portuguesa em

todos os tempos. Lembre-se que quanto maior for o seu

vocabulário, mais fácil será a tarefa.

Nesse aspecto, algumas regras são básicas: evitar

arcaísmos e neologismos, dando preferência a um

vocabulário atualizado, fugindo das cacofonias, do uso

repetitivo de palavras e expressões. Afinal, uma frase

gramaticalmente incorreta, sintaticamente mal estruturada e

grafada com erros não atinge o seu objetivo.

Para desenvolver sua habilidade, crie o hábito de

escrever diariamente, revisando e corrigindo o texto em

seguida é passo imprescindível para automatizar o processo

e desenvolver a habilidade, pois essa familiaridade com o

ato de escrever torna fácil a capacidade de expressar-se de

forma clara, coerente e correta.

Para que sua redação consiga atingir o objetivo

proposto, que é o de discorrer eficazmente sobre o tema, é

preciso que você esteja atento ao fato de que ela será lida

por alguém com características específicas, conforme pode

ver no capítulo inicial, quando falamos das notícias e

apresentamos as opiniões de professores que trabalham na

correção de redações de vestibular. Lembra-se? Tenha em

mente que são pessoas altamente cultas e, por isso, você

deve empregar um vocabulário à altura, respeitando o limite

de linhas exigidos, com um bom nível de complexidade nas

informações, uso correto da língua e de suas estruturas.

Uma boa forma de treinar é automatizar os paradigmas

da língua, através da elaboração de paráfrases. Para isso,

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comece copiando uma trecho de um livro e depois o

reproduza, mudando o sentido, sem mudar as estruturas das

frases, como no exemplo a seguir:

"O corpo se agitou no colchão de palha: ruído de

ventania arrastando folhas." (L P Baçan, Sassarico)

Paráfrase:

"O carro se agitou no lamaçal: barulho de animal

brincando na água."

Comece com frases simples e vá aumentando, até

conseguir trabalhar textos entre 20 e 30 linhas. Use tudo que

tiver a sua disposição, desde trechos de escritores famosos

até reportagens de revistas ou de jornais. Verá que, com o

tempo, torna-se mais fácil fazer isso. Quando eu disse que

para aprender a escrever usava-se 10% de inspiração e 90%

de transpiração, estava me referindo a isso: trabalho

constante, sistemático e organizado.

É importante que você jamais se esqueça de que uma

redação é um texto objetivo, um instrumento para você

transmitir informações, devendo fazê-lo da forma mais clara

possível. Como é um texto com um número limitado de

linhas, um esforço extra poderá ser exigido para concentrar

essas informações no corpo da redação, evitando alongar-se

desnecessariamente, o que implicaria em riscos de cometer

mais erros, desviar-se do assunto ou perder-se nele. Por isso

recomenda-se um pequeno roteiro da redação, que pode ser

feito no rascunho. O esquema mais simples é:

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1 - Início (relacione palavras-chaves para introduzir o

assunto)

2 - Meio ou desenvolvimento (relacione ideias a serem

desenvolvidas, lembrando-se sempre de analisar a questão

por prismas diferentes, buscando enfoques originais).

3 - Conclusão (fuja à tentação de transformar sua

conclusão numa lição de moral ou em apresentar

simplesmente a "moral da história". À luz dos argumentos,

escolha sua opção).

Tudo isso, porém, deve ser parte de um processo

natural. Se você está lendo este livro é porque não tem

familiaridade com o assunto e precisa aprender tudo desde o

princípio. Assim, nada como procurar criar dentro de si um

método de trabalho.

Analisando o Tema

De fato, a primeira regra para uma boa redação é a

análise do tema. Para isso, são necessárias algumas etapas

que devem ser automatizadas e praticadas com frequência,

buscando o desenvolvimento e aprimoramento dessa

habilidade.

Pode, aparentemente, parecer uma coisa difícil de ser

feita, mas, na verdade, não envolve nenhum grande segredo.

Antes de tudo, é importante manter a calma. Muitos

estudantes acabam ficando nervosos e perdendo a

concentração ao se deparar com um tema inesperado e isso

compromete todo o seu desempenho posterior.

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Fique calmo. Leia o tema como algo impessoal, como

um degrau a ser vencido ou um obstáculo a mais a ser

superado. Siga os seguintes passos, respondendo às

seguintes perguntas:

1) Qual é o tema, o que é, qual é a sua definição, o que

visa ou busca, onde quer chegar e qual é a sua abrangência?

Faça a si mesmo perguntas desse tipo e vá ordenando as

respostas. Pode fazer um pequeno rascunho com essas

respostas, apenas para orientar-se. Se aprender a fazer isso

logo no início, com o tempo fará todas essas questões e

associará todas as respostas mentalmente, usando suas

habilidades.

2) De que se compõe, pode ser enumerado, há pontos

de vista divergentes ou convergentes?

3) Quais seus aspectos principais, como descrevê-lo,

quais são as suas palavras-chaves?

4) Quem? O quê? Onde? Como? Por quê? De que

forma? Quando?

5) Quais são as suas causas e efeitos.

6) Que fatos, notícias, relatos ou informações tenho na

memória a respeito?

7) Que exemplos, modelos, bibliografia ou

informações complementares posso usar?

8) Que compara comparações posso fazer?

9) Há teses, antíteses e alusões possíveis?

10) Que hipóteses podem ser formuladas sobre o tema?

Ao fazer isso, respondendo a essa série de questões,

possivelmente você terá entendido o tema, seu objetivo, seu

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conteúdo e esboçado a forma como vai abordá-lo,

desenvolvê-lo e concluí-lo.

Quer testar? Peça a alguém próximo de você que lhe dê

um tema, por mais imprevisível que possa ser e percorra

todos os passos recomendados acima.

A Memória

A memória é um de seus maios preciosos aliados

quando se trata de redigir. Ela pode guiá-lo na seleção das

informações, lembrando-se instintivamente tudo que se

referir tema. A reflexão fará o resto. Não espere que sua

memória encontre sozinha as informações de que necessita.

Você precisa municiá-la com a leitura de bons autores, boas

fontes, atualidades, novidades e tudo que puder ser

explorado ou necessário no futuro. Isto porque se você

souber aplicar bem um pensamento alheio, terá quase tanto

talento como o autor dele.

Apesar disso, apenas faça citações se as souber desde

que sejam exatas. Evite expressões como "se não me falha a

memória", "li algures", "no dizer de célebre critico, de

conhecido historiador, do filósofo, do famoso poeta", que

muitas vezes podem ser expedientes para tentar reforçar

afirmações de sua própria autoria. Lembre-se de que quem

corrigirá seu texto possui um certo grau de cultura e

conhecimento, dificilmente engolindo esse tipo de artifício.

Na descrição de uma paisagem, recorra à memória para

adaptar a essa paisagem as particularidades pitorescas de

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outra semelhante, da natureza real. Para dar vida a um

dialogo, recorda-se de palestras espirituosas e de réplicas

inteligentes que possa ter ouvido recentemente.

A Disposição

Dá-se o nome disposição, na composição literária, à

distribuição ordenada de seu conteúdo. Pode ser interior e

exterior. A primeira resulta da ligação real das ideias e tem

como partes principais o principio ou introdução, o meio ou

desenvolvimento e o fim ou conclusão. A segunda consiste

nas divisões visuais feitas para tornar a leitura possível,

como partes, seções, livros, capítulos, artigos, parágrafos e

pontuação.

Isso porque não basta expor à inteligência muitas

ideias, mas também é preciso apresentá-las com ordem, uma

das exigências básicas de um trabalho bem feito.

A primeira qualidade que se observa numa redação e

sua unidade, isto é, se é coerente com o tema proposto,

mantendo-se ligada a ele pela pertinência. Um pensamento

mal colocado é uma tolice, mas pode ser, noutro lugar, um

pensamento elevado e original.

A disposição ou plano varia segundo o gênero de

composição, o fim desejado, o autor e a condição das

pessoas a quem ele se destina, mas existem regras básicas

aplicáveis a todos os gêneros.

Inicialmente, o plano deve nascer do tema e ligar-se a

ele, evitando a inclusão de ideias estranhas.

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Suponhamos que você esteja dissertando sobre os

meios de comunicação e introduza uma brilhante mais

inoportuna apreciação sobre a competição entre as empresas

de ônibus e as de aviação.

Após refletir sobre o tema, reunindo informações,

escolha as ideias principais e de cada uma delas faça o

centro em torno do qual se agrupam uma série de ideias

menos essenciais e mais particulares, esmiuçando seu

entendimento.

Faça divisões entre essas ideias, de modo a formar

parágrafos, esgotando cada uma delas neles e evitando que

uma ideia se misture ou se confunda com outra. Numa

segunda etapa, veja quais dessas ideias são realmente

importantes e interessam ao tema proposto, excluindo

aquelas que não se prestarem a isso.

Não inclua nada que não conheça satisfatoriamente,

que não possa desenvolver ou provar.

Altere a ordem das ideias apresentadas, de forma que

sua disposição resulte num todo coerente, progressivo e

elucidativo. Jamais peça crédito ao corretor da redação,

incluindo afirmações semelhantes a "como pretendo provar"

ou "como já esclareci anteriormente".

A lei essencial de toda argumentação é o movimento

progressivo, que pode ser ascendente ou descendente.

Indivíduo, família, pátria, humanidade estão colocados

numa gradação ascendente. Descendente seria o inverso.

Não se veja nessa gradação, porém, graus de importância. É

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apenas uma forma de apresentar suas ideias, indo do menor

para o maior, do particular para o geral ou vice-versa.

O resultado final de um trabalho assim planejado será a

manutenção da unidade na variedade, o equilíbrio dos

elementos da composição e a originalidade e clareza do

conjunto.

Tipos de planos

Podemos diferenciar os seguintes tipos de planos de

composição: o simétrico, o cronológico e geográfico, o

retrospectivo e o artístico ou orgânico.

O plano simétrico estabelece um equilíbrio entre as

partes da composição, criando entre elas uma

correspondência. Pode ser subdividido em plano simétrico

por antítese, por paralelo e por progressão ascendente ou

descendente.

O plano por antítese, ou ideias contrárias, produz, em

geral, um bom efeito. No plano por paralelo procura-se

analisar as semelhanças e as diferenças entre duas

personagens, duas épocas ou dois aspectos relevantes de um

tema. Pode compor-se a paralelo em quadros separados que

se correspondem, como dois medalhões.

O plano cronológico reúne os fatos conforme sua

sucessão no tempo e na ordem em que se realizaram. O

plano geográfico descreve o tema de acordo com sua

posição ou situação em diversos países ou na superfície do

globo.

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Já o plano retrospectivo opõe-se ao cronológico e

consiste em lançar o leitor no meio de acontecimentos ou no

centro de uma argumentação, explicando, depois, os fatos

anteriores.

O plano artístico ou orgânico torna mais intima a

unidade da composição, movendo-a em volta de certos

sentimentos, de um pensamento ou de um concerto de

pensamentos que lhe unem todas as partes e é conveniente

ao teatro e ao romance.

Cada um desses planos exige o desenvolvimento de

habilidades específicas e o uso de conhecimentos

direcionados. Você pode treiná-los, criando modelos que

poderão ser utilizados posteriormente, depois de passados

por todas as fases do polimento.

Ao elaborar um plano, é como se você montasse o

esqueleto de sua redação e isso vai se mostrar extremamente

útil no futuro, pois um mesmo esqueleto pode servir de

modelo para qualquer tema.

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TIPOS DE REDAÇÃO

A DESCRIÇÃO

Descrever é representar um objeto (cena, animal,

pessoa, lugar, coisa, etc.) por meio de palavras, procurando

explorar os cinco sentidos humanos — visão, audição, tato,

olfato e paladar —, através dos quais mantemos contato

com o mundo. Assim como em qualquer redação, é

importante elaborar um roteiro a ser seguido e a melhor

maneira de fazer isso é selecionando perguntas específicas e

pertinentes sobre o tema. Apesar de raramente ser exigida

num vestibular, sugiro que você a pratique para estar

preparado para qualquer eventualidade.

Um bom elenco de perguntas a ser utilizado é o

seguinte:

1 - O que a sua visão assimila do tema proposto?

2 - O que o sua audição recolhe desse tema?

3 - O que o seu tato sente desse tema?

4 - O que o seu olfato capta desse tema?

5 - O que o seu paladar percebe desse tema?

Como a originalidade é um aspecto importante de toda

reação, principalmente daquelas utilizadas como avaliação,

seja no vestibular ou num concurso público, experimente

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fazer o seguinte exercício, após ter feito o rascunho inicial

de sua redação.

1 - Anote os adjetivos e expressões que usou ao

descrever cada um dos sentidos. Quais foram os utilizados

para a visão, para a audição e assim por diante.

2 - Veja o que pode ser excluído, por estar implícito no

sentido abordado. Exemplo: Vi com os olhos.

3 - O que foi repetido e pode ser trocado por um

sinônimo.

Ao fazer esse trabalho, você estará polindo seu texto,

disciplinando-se quanto ao uso excessivo de adjetivos e de

expressões repetidas e desnecessárias. Se gostou desta

sugestão, haverá muitas ainda, todas muito úteis para você

se tornar um bom escritor.

Quer um exemplo prático? Imagine um homem caído

num poço, à noite. Coloque-se no lugar dele. Pense no frio,

na água, na noite, na sufocação, cansaço, nas horas, no som

da voz, no eco, no tempo, no silêncio, na vista lá de baixo,

nos gritos de desespero, no abandono das forças, na

extenuação lenta, nos movimentos inúteis do homem, que se

conserva à tona da água e que mergulha, quando se agita, no

medo da morte e outras sensações. Vá anotando as

sensações e percepções possíveis.

Uma certa ordem pode ser imposta à descrição, como

parte do plano, como forma de facilitar ou antes sistematizar

sua tarefa. Se você for descrever uma paisagem, terra, mar e

céu poderão estabelecer três divisões. Se a sua paisagem não

tiver mar, você pode dividir em próximo, afastado e

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distante, ou planície, montanhas e céu. Pode utilizar o

mesmo critério dos pintores, dividindo em primeiro plano,

segundo plano e fundo. Essa divisão permitirá que você dê

ao seu trabalho uma certa progressão.

Uma boa descrição é viva, animada, realista, sem ater-

se aos aspectos negativos ou ao vulgar. Os detalhes devem

ser empolgantes e escolhidos, dispensando-se de comentar o

óbvio. Ninguém dirá, na discrição de um cavalo, que se trata

de um animal com quatro patas, uma cabeça e um rabo, a

menos que isso seja absolutamente necessário no contexto

da descrição.

Para descrever de forma natural e realista, você usa a

observação direta e a indireta. A primeira, anotando tudo o

que vê e sente, as coisas, as cores, os sons e os movimentos,

impressão provocada por tudo isso, suas reações, dando a

isso uma certa ordem, a partir de um plano definido de

trabalho. Na observação direta você usa a sua memória ou

as informações obtidas através de outros meios, como a

leitura, por exemplo.

Para simplificar e facilitar seu trabalho, memorize os

modelos abaixo para usá-los quando preciso ou adapte-os ao

seu estilo. Muito embora o esquema recomende dois

parágrafos para o desenvolvimento, nada impede que, sendo

necessário, você use mais um ou dois.

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Descrição de Pessoas

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Dê suas primeira impressão ou aborde algum aspecto

de ordem geral.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Dê suas características físicas, como altura, peso, cor

da pele, idade, cabelos, traços do rosto, voz e roupas, depois

trace seu perfil psicológico, abordando personalidade,

temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura e

objetivos.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Finalize ressaltando uma dessas características ou

algum aspecto de ordem geral que a torna única.

Descrição de objetos

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Comente a procedência ou a localização do objeto a ser

descrito.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Detalhe o formato, comparando-o com figuras

geométricas e com objetos semelhantes. Cite suas

dimensões, tais como largura, comprimento e altura.

Descreva o material de que é feito, peso, cor, brilho, textura

e impressões que provoca à visão e ao tato.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

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Faça observações quanto à utilidade ou sobre o objeto

como um todo.

Descrição de ambientes

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Comentário de caráter geral.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Dê todos os detalhes da estrutura do ambiente,

destacando paredes, janelas, portas, chão, teto,

luminosidade, cheiros e outras impressões. Relacione os

objetos ali existentes, como móveis, aparelhos elétricos,

decoração e outros aspectos relevantes.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Teça considerações sobre a atmosfera que paira no

ambiente ou as sensações que ele provoca.

Descrição de paisagens

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Faça comentário sobre a localização ou qualquer outra

referência de caráter geral a respeito da paisagem.

2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Divida a paisagem e explique o que vê do mais perto

para o mais longe ou vice-versa. Se preferir, pode fazê-lo

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movendo o foco de observação da direita para a esquerda ou

ao contrário.

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Conclua comentando a impressão que a paisagem

causou em você ou causará em quem a contemplar.

A DISSERTAÇÃO

A dissertação é uma exposição de ideias a respeito de

um tema, com base em raciocínios e argumentações,

discutindo um tema e defendendo uma posição a respeito

dele, o que exige coerência entre as ideias e a clareza na

forma de expressão. Pode ser dividida em:

1 - Introdução, quando se apresenta o tema.

2 - Desenvolvimento, quando se expõem os

argumentos e ideias sobre o assunto, fundamentando-se com

fatos, exemplos, testemunhos e provas o que se quer

demonstrar.

3 - Conclusão, que é o desfecho.

Vamos ver isso detalhadamente.

O Princípio

O principio é a introdução ao tema, quando você

procura dispor favoravelmente o leitor, atraindo sua

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simpatia, conciliando-lhe a atenção e preparando-o para que

compreenda o assunto.

Todo principio deve ser breve e simples, fugindo a

ricochetes, que se apegam a uma ideia estranha ao tema,

rumando para ele através de um mirabolante jogo de

palavras ou de ideias. Deve-se evitar também as chamadas

cascatas, que se iniciam numa ideia muito geral e vai se

afunilando, até chegar, finalmente, ao tema. Deve-se evitar,

também, iniciar o trabalho com longas histórias ou anedotas

O título ou enunciado do trabalho não deve fazer parte

do assunto nem considerar-se como uma primeira . Procure

ser modesto e, por isso, nada de fazer apologia ao tema nem

anunciar suas pretensas maravilhas. Para terminar, o

princípio jamais deve deixar transparecer a conclusão,

antecipando-a.

O Desenvolvimento

O desenvolvimento é o corpo da redação, em que se

manifesta plenamente a ideia geral ou o fato principal,

estando sujeito a três leis: unidade, movimento e progressão,

interesse.

Unidade é o vinculo que torna afins e enlaça as várias

partes, para formarem um todo completo, já que a qualidade

de uma redação não deve estar somente na excelência em

cada um dos pensamentos, como também no estreito nexo

que os liga e torna coerentes em torno do tema proposto.

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Jamais pense numa redação como um amontoado de

linhas ou uma sequencia de parágrafos, sem ligações

internas nem compromissos e coerência entre elas.

Movimento e progressão

Tudo que for incluído numa redação deve ser

pertinente, importante e acrescentar movimento a ela, num

processo natural de evolução das ideias para um arremate

que sintetize os argumentos apresentados. É importante que

o leitor, a cada instante, sinta que as ideias caminham para a

conclusão. Sem esse andamento, facilmente se percebe o

famoso e problemático "enchimento da linguiça", que a

nada conduz e jamais chega a um ponto final.

Dois excessos devem ser evitados: o movimento

rapidíssimo e o movimento arrastado. Para evitar o

primeiro, acrescente ligeiras mas pertinentes observações,

relatos, fatos ou informações. Para escapar do segundo, fuja

das reflexões profundas, das adições inúteis e das digressões

que, ainda que brilhantes, enveredam por trilhas longas e

traiçoeiras.

O ritmo correto implica em fazer da sua composição

uma ideia em marcha, de forma que, à medida que for

ganhando terreno, venham unir-se novas ideias relacionadas

intimamente com ela.

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Lei do interesse

O interesse consiste em manter o espírito do leitor em

constante expectativa, evitando a monotonia ou tornando o

desenvolvimento ou a conclusão facilmente presumíveis.

O interesse pode ser natural e artificial. Natural quando

nasce da importância ou pertinência dos fatos. Artificial

quando intimamente ligado ao talento do escritor que sabe

explorar engenhosamente o assunto, por meio de diversos

recursos.

O interesse deve ser sempre crescente e estar

habilmente distribuído em toda a composição.

A conclusão

A conclusão é o final da composição, em que se

recapitula a essência do que se desenvolveu e produz-se

uma derradeira impressão favorável no espírito do leitor.

A conclusão deve ser breve, ainda que se faça a

recapitulação das principais ideias. Escolha, para finalizar,

dentre os pensamentos e sentimentos que o tema inspirou,

os mais apropriados para persuadir e convencer.

Necessidade das correções

Tenha sempre em mente que aprender é exercitar-se e

que isso implica em 90% de transpiração e 10% de

inspiração. Sem trabalho constante não se alcança o pleno

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desenvolvimento das habilidades. Tudo isso para lembrar a

necessidade das correções, condição básica para o sucesso

de todo trabalho escrito.

Fialho de Almeida revela um importante segredo.

"O meu primeiro trabalho é o de tornar a prosa

elegante de maneira que não tropece em quês, evitar que as

palavras se repitam ou que haja palavras rimadas. Então

emendo muito, chego a desesperar. Depois, passo a outro

papel e tantas vezes quantas eu entender que fica bem e me

der por satisfeito. Então leio em voz alta e retoco até que o

artigo está de pronto para a tipografia" (Serões).

Isso passa a ser, também, parte de um trabalho

planejado de desenvolvimento das habilidades, que

enfrentará algumas etapas. São elas:

Primeira versão

Pegue seu dicionário, escolha um tema no capítulo

Sugestões de Temas e Atividades e comece escrevendo com

cautela, a partir do plano elaborado. Você pode ir

escrevendo, lendo e corrigindo ou escrevendo tudo e depois

corrigindo. Tente as duas opções e veja em qual você se

sente mais à vontade, adotando-a como método de trabalho.

O importante é que, uma vez terminada a primeira versão,

você faça a primeira correção. Para isso, use o Roteiro para

Correção, nos capítulos finais.

Terminada essa primeira etapa, passe a limpo e guarde

a redação e só volte a ela após ter escrito duas ou três outras.

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Isso é importante para que você se desvincule de ideias,

modos e construções utilizadas, tendo uma visão mais

imparcial do que escreveu

Segunda versão

Retome a redação, juntamente com seu dicionário, e

analise-a, observando aspectos mais sutis. Inicialmente,

revise cada período, cada frase e até cada palavra, retocando

e substituindo onde julgar apropriado.

Observe os períodos muito extensos, dividindo-os,

depois junte aqueles muito curtos.

Busque novas associações para fortalecer o

pensamento. Amenize sentimentos muito fortes, arrisque

combinações novas, com palavras mais expressivas.

Examine os verbos que utilizou. Veja se são

expressivos o bastante ou se há alternativas de substituição,

que deem força aos argumentos e beleza ao texto.

Veja se as expressões e palavras empregadas são claras

e se fácil e rápido entendimento, não deixando margem a

duplas interpretações. Evite a linguagem conotativa.

Após isso, passe novamente a limpo e guarde.

Terceira versão

Duas ou três redações após esta, retome-a e, desta vez,

sempre com seu dicionário à mão, submeta-a ao Roteiro

para Correção, depois novamente aos conselhos da segunda

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versão. Concentre seus esforços no sentido de dar

naturalidade, leveza, fluência e harmonia ao conjunto. Leia

e releia e resultado, depois passe a limpo.

Feito isso, peça a alguém capacitado para lê-la,

apontando imperfeições e fazendo comentários. Ouça com

atenção tudo que lhe for dito, procurando entender o

objetivo de cada conselho dado. Isso não significa que deva

correr e mudar toda a sua redação, conforme a opinião

recebida, mas experimente fazê-lo para ver se o resultado é

melhor. Se for, incorpore esses conselhos. Se não for,

ignore-os.

Terminando esse trabalho, passe a limpo sua redação e

guarde-a para reler no futuro. Não queira buscar, com ela,

uma perfeição inatingível. O que você precisa é desenvolver

ao máximo suas habilidades para enfrentar um vestibular ou

um concurso e isso só será atingido com o constante

trabalho de redigir e corrigir, até que esses procedimentos

sejam incorporados e você passe a utilizá-los

automaticamente, como quem anda de bicicleta ou aprende

a nadar. O processo é mais ou menos o mesmo.

Este processo se presta a qualquer tipo de composição,

seja uma dissertação, uma descrição ou uma narração.

Quer um modelo simplificado para a dissertação? Que

tal este?

1º Parágrafo - INTRODUÇÃO

Comente o tema e apresente dois ou três argumentos

significativos em relação a ele.

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2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO

Desenvolva os argumentos apresentados na introdução.

Se for conveniente, pode usar mais um ou dois parágrafos.

No vestibular ou numa prova de concurso, tenha sempre em

mente que "quanto mais se faz, mais se erra".

4º Parágrafo - CONCLUSÃO

Síntese das argumentações e observação conclusão

final.

A NARRAÇÃO

Narrar é relatar um fato, real ou imaginário, seguindo

um tempo cronológico ou um tempo psicológico.

O narrador, ou ponto de vista, pode ser o protagonista

da história, um observador neutro, alguém que participou do

acontecimento de forma secundária ou ainda um espectador

onisciente, que aparentemente esteve presente em todos os

lugares, conhece todos os personagens, suas ideias e

sentimentos.

A apresentação dos personagens pode ser feita

diretamente, descrevendo-os, ou de forma indireta, por suas

ações e comportamentos deste, quando é dita indireta.

Os diálogos ou as falas podem ser apresentadas de três

formas:

1 - Discurso direto — o narrador transcreve de forma

exata a fala do personagem.

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2 - Discurso indireto — o narrador conta o que o

personagem disse, usando verbos chamados dicendi ou de

elocução, que indicam quem está com a palavra. Exemplo:

"disse", "perguntou" e "afirmou", "retrucou".

3 - Discurso indireto livre — o narrador usa os dois

tipos anteriores.

O conjunto dos acontecimentos chama-se enredo e

pode ser linear, seguindo a sucessão cronológica dos fatos,

ou não linear, com cortes na sequencia dos acontecimentos.

Normalmente pode ser dividido em exposição, complicação,

clímax e desfecho.

Tendo em vista que uma das melhores maneiras de

desenvolver seu estilo é lendo de forma ordenada e

metódica, tomando notas e analisando o que está sendo lido,

é importante que você conheça todos os detalhes a respeito

da narração. Esse conhecimento será de suma importância

quando você fizer suas leituras suas anotações.

Conhecendo e familiarizando-se com os elementos

principais da narrativa, você compreenderá melhor o texto e

estará atento a detalhes que até então não eram percebidos.

Inicialmente, é preciso entender que a condição

essencial de toda narração é a unidade. Ao narrar um fato,

faça-o sem incluir nisso digressões ou longas ou pouco

interessantes ou estranhas à ação, não se alongando em

descrições nem em reflexões. Deixe apenas o que for

absolutamente necessárias ao desenvolvimento do assunto,

fazendo-as fluir de modo natural.

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Elementos da Narração

Para traçar o plano de uma narração, não pense em

termos de introdução, desenvolvimento e conclusão, mas de

exposição, enredo e desfecho, pondo isso num cenário com

algumas personagens.

Segundo Olavo Bilac, "a exposição dá a conhecer o

local e o momento da ação, apresenta as personagens e

fornece todos os antecedentes que prepararam o enredo e

podem influir sobre o desfecho".

A exposição deve ser curta e rápida, indo

preferivelmente direto ao assunto e pode ser iniciada por

uma ação já em andamento. De preferência não deverá dar a

entender qual será o desfecho, a menos que isso seja parte

do plano da obra, pois há aquelas que se iniciam com o

desfecho dos acontecimentos e em seguida narram todos os

acontecimentos que o antecederam.

Ainda segundo Bilac, "o enredo é a própria ação, o seu

desenvolvimento. Começa no momento em que as

personagens entram em cena e se encontram, em que tudo se

põe em movimento e em que o interesse aumenta e se

complica".

Pode ser simples ou complicado, conforme a

quantidade de cenas, mas deverá ser cheio de movimento.

Cada parte evoluirá dentro de uma progressão ordenada,

rumo ao desfecho, que é a última parte da narrativa, quando

se resolve enredo da ação. Deve ser breve e surpreender. Se

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for deduzido antecipadamente pelo leitor, tirará deste o

interesse pela leitura.

Se você acha interessante, aqui vai um esquema muito

simples e fácil de ser memorizado para usar se tiver que

fazer uma narração.

1º Parágrafo - EXPOSIÇÃO

Comente o que vai ser narrado e determine tempo e

cenário. Explique a causa dos fatos e apresente as

personagens.

2º e 3º Parágrafos - ENREDO

Detalhe como tudo aconteceu.

4º Parágrafo - DESFECHO

Relate como tudo terminou ou quais foram as suas

consequências.

O cenário

A ação contida em uma narração deverá estar

localizada em algum ponto geográfico real ou imaginário.

Se for uma narração baseada na história, será importante

que guarde estreita relação com os fatos históricos, sem

distorcê-los ou mudá-los, a menos que isso seja intencional

e parte do plano da obra. É importante conhecer os usos e

costumes das personagens, conforme o país ou o local onde

se passa a ação, para dar-lhes cor local. Falar sobre ciganos

sem conhecer seus usos e costumes seguramente será uma

temeridade e soará falso e forçado.

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Personagens

Podem ser introduzidas da história diretamente, através

de uma descrição completa de suas características ou de

uma forma indireta, quando essas características ficarão

evidenciadas através de suas ações e atitudes. Na forma

direta usa-se traçar p retrato físico, indicando roupas e

outros detalhes pessoais. Na indireta, realça-se o seu caráter,

seu valor moral e suas ações mais significativas, deixando

para o leitor o trabalho de imaginar essa personagem

conforme suas próprias referências.

Espécies de Narrações

Ao escrever uma narração, você poderá optar entre as

diversas espécies existentes, escolhendo aquela que melhor

atinge os objetivos pretendidos. Você poderá usar:

Narração Histórica: exposição de fatos tal como

aconteceram, verdadeiros e passíveis de comprovação. Ao

fazê-lo, procure ser imparcial e evitar comentários críticos,

pois essa crítica caberá ao leitor, após a leitura.

Conto: trata-se de uma pequena narrativa fictícia, cuja

característica mais acentuada será a da verossimilhança, ou

fidelidade ao real. Você não escreverá um conto em que os

navios da esquadra de Cabral eram aparelhados com

metralhadoras, entre outros absurdos.

Romance: uma obra de imaginação em prosa, baseada

ou não em fatos reais, contendo aventuras fantásticas ou

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acontecimentos capazes de interessar o leitor. Nele podem

estar reunidos gêneros diferentes, como a poesia, o conto, a

critica, a filosofia, a história e a ciência social.

Ao escrevê-lo, deve o autor relatar acontecimentos

pouco comuns, mas verossímeis, introduzindo situações

particulares, movimentos, ação e emoções.

A ação preferivelmente deverá fluir com rapidez,

revelando um vivo, variado e animado.

Fábula: é uma curta narrativa, contendo uma lição

moral sob o véu da ficção, diferindo do conto, pois seu

objetivo é o ensinamento moral e não apenas o desfecho.

Suas personagens são, via de regra, animais, vegetais ou

seres alegóricos, em que cada um é representado por suas

características mais marcantes: o leão poderá simbolizar a

coragem e a força. A raposa será a encarnação da astúcia. O

cão representará a fidelidade e assim por diante.

Novela: é uma narração mais extensa que o conto e

menor que o romance e não deve ser confundida com as

novelas de televisão, que é coisa completamente diferente.

Deve ser trágica, inspirando emoções fortes, podendo

utilizar a inverosimilhança para atingir seus objetivos, desde

que coerente com o contexto.

Correspondência Comercial

A linguagem usada em redação comercial é específica,

existindo modelos para os mais diferentes momentos das

relações comerciais. Nesse aspecto, criatividade e

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originalidade ficam prejudicadas em função da objetividade

e da brevidade desse tipo de redação. Ofícios,

requerimentos, pedidos, referências, memorandos e muitos

outros exigem de seu redator conhecimento do modelo

específico e das fórmulas comumente empregadas em seu

conteúdo.

Para simplificar seu aprendizado, há neste livro um

capítulo específico sobre Correspondência Comercial, com

modelos para serem parafraseados como forma de exercitar-

se, principalmente se o seu objetivo é prestar um concurso

público ou candidatar-se a um emprego.

Em resumo, esse tipo de redação caracteriza-se pela

objetividade, coerência e clareza, com predominância da

linguagem denotativa.

Finalizando

Como pôde ver, o objetivo deste trabalho é ser prático,

fornecendo-lhe elementos para uma rápida assimilação dos

princípios básicos de uma boa redação, capacitando-o a

superar bloqueios e a preparar-se adequadamente para

enfrentar os desafios de um vestibular ou de um concurso

público.

É importante salientar que, quanto mais cedo você

começar e quanto mais você transpirar, melhores serão os

resultados. Não fique esperando pela "inspiração" nem pelo

"dom". Comece fazendo paráfrases, que independem de

qualquer estímulo sobrenatural. Automatize estruturas, leia

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bastante, ouça os noticiários, principalmente aqueles em que

as notícias são comentadas, troque ideias, mostre suas

redações para os amigos e professores, peça avaliações e

sugestões.

Se tiver mais dúvidas, não hesite em pedir ajuda on-

line, através do meu endereço eletrônico.

Boa sorte e sucesso em todos os seus projetos!

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ROTEIRO PARA CORREÇÃO

Após ter escrito sua redação, passe a correção.

Verifique se os aspectos de introdução, desenvolvimento e

conclusão foram observados. Se as ideias estão coerentes, se

o texto flui com naturalidade e se há harmonia no conjunto.

Passe, depois, a observar os seguintes aspectos, obedecendo

aos conselhos fornecidos:

Ambiguidade

Esta é uma das maiores inimigas de um bom texto,

presente nas expressões ou construções com duplo sentido,

resultando numa ideia imprecisa. Exemplo:

"O policial apanhou o bandido com o produto do roubo

que ele havia cometido".

Nessa construção, pergunta-se: quem cometeu o roubo,

o policial ou o bandido? Ou, ainda:

"Ouvi um latido. Era a cachorrinha da minha

namorada."

Antecipação

Você pode, no primeiro período do parágrafo, adiantar

o que dirá a seguir. Isso ajuda a não perder de vista o tema

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proposto na redação ou estabelecido no seu esquema de

trabalho. Exemplo:

"Aquela seria uma noite de pesadelos e sustos para

todos os moradores da fazenda. Tudo começou quando o sol

começou a se esconder atrás das montanhas assombradas..."

Cenas estáticas

Para descrever uma cena estática ou um conjunto de

cenas, empregue adjuntos adverbiais de lugar. Exemplo:

"À direita viam-se os bandos de sacis, perseguindo os

animais em fuga, montando cavalos com as crinas eriçadas

de pavor. À direita, na direção do pomar, os cachorros eram

acuados por quatro ou cinco lobisomens, que rosnavam

ameaçadoramente. Ao longe, ouvia-se o tropel das mulas-

sem-cabeça. Nas bandas do rio, Iara, a mãe d'água, cantava

sua canção predileta de encantamento e fatalidade..."

Começo, meio e fim

Essa sequencia recomendada para todos os textos pode

parecer simples, mas encerra dificuldades intransponíveis

para quem não está preparado para desenvolver suas ideias

ou não tenha percebido a simplicidade do esquema.

Comece indo direto ao assunto, dentro do que planejou

escrever. Rodeios e floreios apenas retardam o verdadeiro

trabalho, aborrecem e irritam quem o lê ou terá que ler para

avaliar.

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Para desenvolver um assunto, é necessário que você

tenha refletido sobre ele e usado os recursos que aprendeu

ao longo deste livro. Se estiver devidamente preparado, vai

encontrar as ideias exatas e usá-las com acerto e correção.

Um dos maiores problemas no desenvolvimento de qualquer

composição é a falta de assunto, que leva ao excesso de

rodeios e artifícios.

Ao encerrar, procure algo original, de impacto, que

resuma todo o conteúdo e seja expressivo. Não saber

terminar uma redação e tão ruim quanto não saber começá-

la.

Uma boa maneira de trabalhar é esquematizando as

etapas a serem percorridas até o produção final. Tente

memorizar o seguinte roteiro, que se inicia no momento em

que você toma conhecimento do tema da redação.

Procure entender tema, lendo com calma a proposta da

redação. Mantenha-se alerta, pois há temas tendenciosos,

que encerram armadilhas.

Quando o tema é objetivo, faça uma rápida tempestade

cerebral, buscando lembrar-se de ideias e informações a

respeito, antes de iniciar. Se o tema for subjetivo, faça

relações e associações com assuntos de seu conhecimento e

domínio.

Assim que reunir o material que usará para trabalhar a

sua redação, faça um esboço inicial do seu texto, depois dê o

polimento, observando detalhes como estes, enumerados ao

longo deste capítulo.

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Como na prova de redação do vestibular conta muito a

concatenação de ideias, tenha em mente que a melhor

maneira de alcançar um bom resultado está em selecionar os

aspectos ou detalhes a serem enfocados na sua composição.

Estruture a redação por parágrafos, sem perder de vista

a coerência e mantendo o conteúdo estreitamente ligado ao

tema proposto. Tudo o que não for importante ou nada

acrescentar ao desenvolvimento do tema deve ser polido ou

retirado. Uma boa técnica é contrapor ideias no texto,

buscando relacionar aspectos favoráveis e desfavoráveis,

argumentando sobre eles. Isso se você tem conhecimento e

segurança a respeito do assunto abordado. Caso contrário,

fique no terreno que lhe é conhecido e favorável.

Finalmente, nada como uma leitura crítica, enquanto

faz uma revisão gramatical apurada. Habitue-se a fazer isso,

observando se todos os elementos ali presentes contribuem

no desenvolvimento do tema. Corte todo que julgar inútil.

Passe a limpo com uma caligrafia legível e, antes de

entregar, faça uma última leitura do trabalho terminado.

Comentários

Quando quiser um comentário à parte dentro de um

texto, empregue parênteses ou travessão, realçando a citação

fora do contexto. Exemplo:

"Uivavam na noite as assombrações — e como isso é

assustador— atrás dos incautos."

Ou:

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"Nas casas (eu também faria o mesmo), todos

mantinham as cabeças cobertas e tremiam."

Comparações

Empregue, sem abusar e quando for conveniente,

comparações que facilitem a compreensão do texto e fixem

uma impressão, tornando-o mais claro e sugestivo. Para

isso, use "como", "qual", "feito", "que nem". Exemplo.

"As assombrações chegavam feito o tropel de mil

cavalos." "Eram que nem pedras rolando pelas encostas,

onde os pés de café secavam após a geada."

Você pode também empregar metáforas, comparações

e linguagem figurada para embelezar seu texto e dar-lhe um

colorido especial. Exemplos:

"A noite era um manto negro e trêmulo. A fazenda

parecia um caldeirão fervente, prestes a explodir em preces

desesperadas."

Descrição de um cenário

Ao descrever um cenário, alterne cenas estáticas com

cenas dinâmicas, usando traços breves, mas precisos, sem

adjetivação ou advérbios ou alongar-se em considerações

desnecessárias. Exemplo:

"Animais imóveis no pasto, sombras por entre as

árvores do pomar, um cheiro de medo no ar. Uma criança

chora numa das casas, as folhas farfalham lá fora, o

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pesadelo vai começar. A noite das assombrações havia

chegado."

Destacar um momento

Se quiser dar destaque e um determinado momento de

sua descrição, experimente pormenorizar a cena. Exemplo:

"No alto da árvore, a brisa sopra e um frágil caule

estala. A pequena folha seca oscila de um lado para outro,

resvala nos galhos, toca outras folhas e, leve como uma

pluma, desliza mansamente no ar até pousar na grama

orvalhada para ser esmagada repentinamente pelos cascos

de fogo da mula-sem-cabeça."

Dissonâncias, cacofonias

Muitas vezes, ao construir-se uma oração, o resultado

pode ser perfeito no papel, mas desastroso quando lido ou

pronunciado. Pequenos cuidados podem afastar esse tipo de

problema de suas redações, tornando-as elegantes e fáceis

de serem lidas e pronunciadas. Não se descartam, porém, o

seu uso consciente, quando o contexto assim o exigir.

Palavras com a mesma terminação. Exemplo: "O pão

escorregou de minha mão e caiu no chão, junto ao balcão."

Repetição de vogais. Exemplo: "Vai sair a aia da aula."

Repetição de consoantes. Exemplo: "O pai pediu pão

ao padeiro."

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Duas ou mais palavras formando uma terceira de

sentido ou som desagradável. Exemplo: "Alguém poderia

fechar a boca dela?" Ou: "O custo de uma mão é alto demais

para ser avaliado."

Frases nominais

Para descrever de forma elegante, experimente usar

frases nominais, sem um verbo que indica ação. Exemplo:

"A noite, um tempo assustador. A floresta, um mundo

de ruídos impressionantes. O rio, um marulhar constante e

perturbador."

Harmonia

Na construção de um período é importante observar a

ordem natural dos pensamentos e as regras gramáticas.

Seguramente você jamais irá escrever "assustavam os

fantasmas com suas presenças constantes, nossas noites",

pondo o complemento tão distante do verbo. Melhor seria

"os fantasmas assustavam nossas noites com suas presenças

constantes". A isso chamamos harmonia e sua presença

força, naturalidade e expressividade e um texto. Uma boa

maneira de verificar se o texto é harmônio é lendo-o em voz

alta.

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Humorismo

Um estilo leve e com uma pitada de humorismo pode

ser de grande efeito, desde que se evite a imoralidade e as

expressões pesadas ou chulas e se possa apresentar algo que

seja inédito. Incluir num texto uma piada "batida" ou muito

conhecida vai comprometê-lo.

Inversões

"Aos vencedores, pelos organizadores do evento

grandes recompensas prometidas foram."

Esta afirmação está construída usando o recurso da

ordem indireta, que é a inversão violenta ou forçada dos

termos da oração. Trata-se de um recurso arriscado e de

gosto duvidoso, nem sempre surtindo o resultado esperado.

Ao invés disso, é preferível a boa e tradicional ordem direta,

que, no exemplo acima, resultaria numa afirmação menos

pomposa, porém mais elegante.

"Grandes recompensas foram prometidas aos

vencedores pelos organizadores do evento."

Lugar comum

O lugar comum é o tempero do recheio da linguiça, a

expressão já pronta, acessível, fácil de ser usada e, por isso,

tentadora. Seu uso tira toda a elegância e a originalidade de

um texto, comprometendo o resultado. Nosso vocabulário é

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rico e existem alternativas para fugir ao lugar comum,

bastando estar atento e fugir à tentação de usá-los.

Para verificar isso, releia suas redações anteriores,

procurando frases feitas e expressões estereotipadas, como

"políticos inescrupulosos", "grandiosa festividade",

"perseguidor implacável". Procure também situações como

"exalar o último suspiro", "encontra-se engalanado", "abriu

o coração", "tomar a resolução", "envolto num ar de puro

romantismo", "tradicional festa de fim de ano" e coisas

semelhante.

Se você padece desse mal, corrija-o fazendo duas

coisas: retire dessas expressões todos os adjetivos e

expressões adjetivas e terá um texto mais leve, elegante,

sem prejuízo algum do entendimento e da ideia inicial;

substitua expressões por um verbo. Ao invés de "abriu o

coração", por exemplo, confessou. Em lugar de "exalar o

último suspiro", use "morrer", "falecer" ou "finar".

Para completar o aprendizado deste item, fale com seus

amigos e iniciem uma disputa para ver quem consegue

anotar o maior número possível de lugares comuns. Feito

isso, apliquem as duas regras acima e transformem tudo isso

em pura originalidade.

Quer mais alguns exemplos?

inflação galopante

vitória esmagadora

esmagadora maioria

caixinha de surpresas

caloroso abraço

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silêncio sepulcral

nos píncaros da glória

Opinião pessoal

Fuja à tentação de rechear seus textos com opiniões

pessoais, procurando expor suas ideias sem fazer

comentários, limitando-se a registrar os fatos. Se o texto

exigir uma opinião, faça-a fundamentada e jamais baseada

na emoção ou no "ouvi dizer". No vestibular, você será

avaliado pela capacidade de usar a língua e expor suas

ideias, jamais pelo brilhantismo de suas opiniões pessoais.

Verifique em suas últimas redações se não escreveu

algo parecido com "os políticos são todos desonestos" ou "o

governo não se importa com o povo", que refletem emoção,

mas carecem de uma fundamentação sólida para ser

validada. Nesse mesmo tema, evite generalizações. No

exemplo acima, afirmar que "todos os políticos são

desonestos" é, no mínimo, falso, pois certamente haverá

pelo menos um que é honesto.

Opiniões contrárias

Se pretende apresentar opiniões ou ideias contrárias,

trate-as em parágrafos separados. Comente a primeira,

depois inicie o segundo parágrafo usando uma conjunção

adversativa. Exemplo:

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"Lá fora, tudo era liberdade e as assombrações corriam

soltas pelos pastos, por entre os cafezais ressequidos e no

velho pomar. Mas, dentro das casas, tudo era silêncio e

opressão..."

Ordem inversa

A ordem natural dos termos da oração é sujeito, verbo,

complemento e adjuntos adverbiais. Observar isso é

produzir um texto elegante sem comprometê-lo. Em

determinadas ocasiões, porém, pode ser necessário valorizar

um elemento e, nesses casos, uma das formas de fazê-lo e

tirando-o da ordem natural e colocando-o no início da

oração. Veja como isso funciona, nos exemplos a seguir:

"A mãe calou-o com um severo movimento da mão

que segurava o chinelo."

Comparado a:

"Com um severo movimento da mão que segurava o

chinelo, a mãe calou-o."

Palavras certas

Muita gente acaba se confundindo ao escrever, pois

tenta utilizar um vocabulário que desconhece, recheando sua

composição com palavras difíceis, tornando-a ininteligível.

Um segredo simples para evitar isso é jamais utilizar num

texto uma palavra que não tenha coragem de usar numa

conversa informal. Além disso, jamais hesite em consultar o

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dicionário, onde estão as respostas definitivas para todas as

suas dúvidas.

Ao confundir "tráfego" com "tráfico", "conserto" com

"concerto" ou "acento" com "assento" você pode prejudicar

toda o entendimento de uma ideia. Evite sempre

demonstrações de erudição, arcaísmos ou o uso de

expressões e nomes científicos, a menos que sejam

absolutamente necessários. Já frases ou expressões em

língua estrangeira, neologismos e citações em latim,

somente com autorização do bispo.

Se estiver falando do "sol", diga "sol" mesmo, "estrela"

ou qualquer outro termo adequado, fugindo à tentação de

usar apelidos, como "astro-rei".

Períodos longos

É bem possível que você já tenha deixado de ler um

livro simplesmente porque ele lhe parecia muito

complicado. Há livros que, em verdade, parecem exigir uma

"tradução" para serem entendidos. Isso acaba afastando o

leitor e desestimulando a leitura. Se você se lembra de

alguns livros assim, com certeza eles têm uma característica

em comum: os períodos muito longos, tornando o

entendimento difícil e provocando confusão. Fuja desse erro

comum. A elegância e a simplicidade dos períodos curtos

facilitam seu trabalho, pois são fáceis de serem compostos,

escritos, pontuados e entendidos.

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Confirme isso pesquisando e comparando, numa

biblioteca, livros diferentes, observando este detalhe com

atenção, tirando suas próprias conclusões.

Quando escrever, fique atento para fugir à tentação de

usar advérbios e conjunções. Revise seus textos, retirando

todos os "ora, logo, entretanto, contudo, efetivamente, por

outro lado, de fato, certamente, assim, pois" e outros

semelhantes.

Personificação

Ao descrever a natureza, procure dar vida às coisas,

personificando-as. Isso acrescenta vigor e vivacidade a sua

descrição. Exemplo:

"A noite chorava o lamento dos desesperados. A terra

se encolhia de medo e as árvores emudeciam no pomar."

Pessoas falando ao mesmo tempo

Para dar a impressão de várias pessoas falando ao

mesmo tempo, empregue uma sequencia de frases

acumuladas. Exemplo:

"Quando tudo começou, ninguém mais se entendia e

todos falavam ao mesmo tempo: Alguém ponha um fim

nisso. É o fim do mundo. Quem poderá nos ajudar? Onde

estão as velas bentas? Onde está meu rosário? Alguém viu a

minha bíblia?"

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Pleonasmos

Este é um problema muito sério, porque decorre de um

vício de linguagem muito comum. Seu uso, além de tirar

toda a beleza de um texto, prejudica a concisão e tem sua

origem num vocabulário pobre e pouco exercitado. O

melhor remédio para curar-se deles é a leitura e a revisão

atenta e constante de tudo que escrever, automatizando o

sentido das palavras. Eliminar adjetivos e advérbios

desnecessários é também uma boa medida.

Os exemplos são muitos. Quer alguns: "subir para

cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora,

deferimento favorável, ver com os olhos, comer com a boca,

dividir em duas metades, um duo de dois, um par de dois, a

mim me parece, a ele nada lhe direi" e muitos outros.

Quer se divertir? Reúna-se com seus amigos de

vestibular e organizem uma lista de pleonasmos. Depois,

para encerrar, criem alternativas para corrigi-los.

Pontuação

Este é um ingrediente importante em qualquer

composição, pois seu mau uso pode comprometer o sentido.

Há muitos exemplos disso, mas este é um dos mais

eloquentes. No período a seguir, a posição da vírgula pode

determinar o destino do prisioneiro:

"Matem o prisioneiro, não tenham piedade" significa a

morte.

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"Matem o prisioneiro não, tenham piedade" significa a

vida.

Numa redação, principalmente no vestibular, tenha em

mente que, para ser elegante, conciso, claro e objetivo você

só precisa conhecer mais profundamente a utilização da

vírgula. Ponto final, pontos de exclamação e de

interrogação, reticências, travessão e outros são de uso

automático.

Alguns deles podem e devem mesmo ser evitados, pois

nada acrescentam ao desenvolvimento da composição, como

o ponto de exclamação e as reticências.

Este é um assunto que você pode estudar mais

detalhadamente e consultar sempre que necessário para tirar

suas dúvidas no Apêndice deste livro, à página 192.

Apenas para adiantar, podemos dizer o seguinte a

respeito dos principais sinais de pontuação:

Vírgula — sinal de pontuação que marca uma pausa

de curta duração ou separa termos de uma oração ou orações

de um período. A ordem normal dos termos numa frase é

sujeito, verbo, complementos. Essa ordem é chamada ordem

natural ou ordem direta. Quando a frase é escrita em ordem

direta, não separamos seus termos imediatos e por isso pode

haver vírgula entre o sujeito e o verbo, nem entre o verbo e

complemento. Esta só é usada quando usamos a ordem

indireta, o que ocorre basicamente em dois casos: ao

intercalarmos uma palavra ou expressão entre os termos

imediatos, quebrando a sequencia natural da frase ou

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quando algum termo, principalmente o complemento, surgir

deslocado de seu lugar natural na frase.

Ponto-e-Vírgula — marca uma pausa maior que a

vírgula, sendo utilizado para separar orações coordenadas

que já apresentem vírgula em seu interior ou que tenham

certa extensão. Nunca pode ser usado dentro de uma oração,

pois serve justamente para separar uma oração de outra.

Dois-Pontos — usa-se quando se vai iniciar uma

sequencia que explica, identifica, discrimina ou desenvolve

uma ideia anterior ou quando se quer dar início a uma fala

ou citação.

Aspas — utilizadas para isolar citação textual colhida

de outrem, palavras ou expressões que não pertençam à

língua culta, como gírias, estrangeirismos e neologismos.

Travessão — serve principalmente para indicar que

alguém fala de viva voz, no discurso direto e é usado em

textos narrativos em que os personagens dialogam. Pode ser

usado para substituir a vírgula dupla quando se quer dar

ênfase ao termo intercalado.

Reticências — marcam uma interrupção da sequencia

lógica do enunciado, deixando ao leitor a responsabilidade

de complementar o pensamento suspenso. Não devem ser

usadas nas dissertações objetivas, que exige clareza e

objetividade na exposição.

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Pormenores

A representação de um texto que considero das

melhores ainda é o de uma construção. Você tem que ter um

alicerce sólido, boa argamassa unido os tijolos e uma

cobertura condizente, para que o conjunto seja perfeito e

útil. Num texto, tudo o que não for importante e

indispensável deve ser evitado. O detalhamento de uma

situação ou de uma descrição apenas servirá para alongar a

composição e pouco reflexo terá no resultado final.

Para exemplificar isso, nada melhor que fazer um

exercício de memória agora e lembrar-se daquele amigo ou

daquela amiga que, quando conta alguma coisa, retorna no

tempo, no princípio de tudo e vai narrando todos os

detalhes, até chegar ao fato em si.

Além disso, você deve conhecer alguém que seja tido

como um "desmancha-rodinhas", pois quando entra na

conversa, todos se afastam, porque sabem que sua paciência

será testada ao limite.

Preocupação com a forma

Uma das maiores fontes de bloqueio para quem escreve

é, sem dúvida, a preocupação com a forma que, muitas

vezes, acaba comprometendo todo o resultado do trabalho,

pois limita o pensamento e prejudica o desenvolvimento das

ideias. Ao escrever, concentre-se inicialmente em expor seu

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pensamento da forma mais clara, simples, concisa e

elegante. Depois de pronto o texto, dê o acabamento,

atendo-se aos aspectos formais, como pontuação, ortografia,

regência, concordância e outros, indo ao dicionário e à

gramática tantas vezes quantas forem necessárias. Com a

prática, verá que os aspectos formais são automaticamente

incorporados e a cada vez você precisa consultar menos a

sua gramática e o seu dicionário.

Projeto de Redação

Faça um projeto de redação, criando uma sequencia,

como no seguinte exemplo de uma descrição, em que cada

uma das partes sugeridas ocupará um parágrafo.

Descrição da natureza

Introdução de uma personagem

Relação da personagem com a natureza

Descrição da personagem

Conclusão

Que

Esta palavrinha pequena e muito útil, quando

corretamente utilizada, pode vir a ser um transtorno,

comprometendo sua redação. Cuide-se, procurando

substituir seu emprego por alternativas mais elegantes e

significativas. Vejamos alguns exemplos disso:

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Orações adjetivas. Ao invés de "uma roupa que estava

cheia de buracos", use "uma roupa cheia de buracos."

Repetições. Em lugar de "a mulher que chegou e que

trouxe a novidade", use "a mulher que chegou e trouxe a

novidade."

Verbos. Use "gritou ser urgente" em lugar de "gritou

que era urgente."

Rapidez

Para dar rapidez a uma descrição, utilize verbos sem

repetir o sujeito e em sequencia. Exemplo:

"E a hora das assombrações. Vêm, correm, atravessam

o rio, batem as porteiras, assobiam nos telhados, estalam a

madeira seca das paredes e arrancam orações apressadas de

cabeças cobertas na escuridão."

Esta mesma técnica pode ser usada para transmitir a

ideia de variedade de ações ou multiplicidade. Exemplo:

"Ouvia-se todo tipo de barulho, o tropel dos cascos que

arrancavam fagulhas das pedras, os urros longos dos

lobisomens, o coro de gritos dos sacis, o ranger das paredes,

o assobiar das frestas..."

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Sequência de fatos

A repetição de conjunções, em frases curtas e

coordenadas, pode ser usada para transmitir uma noção de

uma sequencia de fatos rápidos. Exemplo:

"E gritam, e uivam, e arrastam correntes, e quebram

galhos, e pisam folhas secas..."

Você pode usar também os pronomes "um", "outro",

"algum", "nenhum" para estabelecer uma ordem ou uma

sequência. Exemplo:

"Um rezava o Pai Nosso, outro puxava uma ladainha e

alguns até desencavavam velhas orações contra encosto.

Nenhum, porém, deixava de se apegar ao seu santo como

última e única proteção."

Síndrome geográfico-atmosférica

Há textos em que as condições climáticas e geográficas

recebem um grande destaque, um destaque tão grande que

ocupam todo o espaço, não deixando muito para o

desenvolvimento do assunto. É mais um componente do

"enchimento de linguiça" que deve ser evitado.

"Era manhã. O orvalho primaveril ainda umedecia as

graciosas pétalas das flores, rebrilhando aos primeiros raios

do som nascente. Pássaros cantavam nas árvores frondosas

e, ao longe, nas colinas pontiagudas, graciosas nuvens

bailavam, saudando a chegada de um novo dia."

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Tudo isso poderia ser resumido em algo mais ou menos

parecido com "Amanhecia", que é o que realmente

interessa.

Sinonímia

Com certeza vai acontecer de, num determinado

momento de sua composição, você necessitar repetir uma

palavra. Faça-o com naturalidade, sem tentar buscar

sinônimos e sem violentar o pensamento que tenta

transmitir. Se um sinônimo for adequado, use-o sem receio,

mas não faça disso uma preocupação.

Transições

Transições são passagens de ligação — frases ou

locuções, — que guiam o espírito do leitor de um

pensamento ou de um desenvolvimento a outro, dando nexo

à composição. Quando os pensamentos têm uma ligação

necessária, são fáceis as transições, porque os primeiros são

fontes dos segundos e este o desenvolvimento daqueles.

Mas, numa longa composição, são mais difíceis, porquanto

as relações entre as ideias são mais longínquas e abrem-se

intervalos na ordem dos pensamentos. Isto, por si só, é uma

recomendação para que se evite redações longas. Quando

estas relações se tornam de tal modo remotas que há nelas

incoerência e disparate, nada poderá ligar tais ideias.

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Quaisquer transições, são, neste caso, esquisitas e ridículas.

Por isso, algumas regras devem ser seguidas:

1- Não substituir as transições, no encadeamento dos

parágrafos, por divisões ou subdivisões como 1, 2, 3, A, B,

C ou a), b), c).

2 - Não iniciar os parágrafos e os períodos pela mesma

palavra, expressão, locução ou conjunção, a menos que isso

tenha um bem planejado objetivo.

3 - Não antecipar, na transição, o que vai ser dito à

frente ou o que se pretende fazer ou aonde se quer chegar.

4 - Evitar marcar a transição ou o novo parágrafo com

expressões ou palavras sem necessidade, como: Ainda

mais... Não só... Mas também... Mas... Com efeito...

Entretanto... Na verdade... Falemos agora... Continuai a

ouvir-me... e outras.

À medida que se acompanha a evolução das ideias

numa composição, é importante que esse progresso seja

marcado visualmente e este é o objetivo do uso dos

parágrafos ou das alíneas. Aliás, a palavra alínea é derivada

do latim a + línea, que significa passe a outra linha. Cada

alínea ou parágrafo encerra um pensamento que pode ser

expresso por uma oração, por um período ou por muitas

orações e por vários períodos.

Emprega, portanto, o parágrafo cada vez que se passa

de uma ideia importante para outra. Isso ocorre notadamente

no corpo ou no desenvolvimento da redação, uma vez que a

introdução e a conclusão, por não encerrarem ideias muito

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distantes e por serem de pequena extensão, não exigem

nenhuma alínea.

10 Regras Simples Para Uma Boa Redação

O trabalho a seguir foi elaborado por D. Roberts, um

escritor americano e é muito útil para compararmos quais

são as preocupações de um americano ao escrever, em

relação às nossas e fazem parte de seu seminário "10

REGRAS PARA UMA BOA REDAÇÃO". Segundo ele,

uma boa redação depende de um entendimento sólido de

gramáticas e das regras para composição que são as

seguintes.

1. Prefira a descrição simples à elegante:

— Ela era bochechuda, com mãos pequenas e pálidas.

— Ela era como um anjo barroco, com mãos diminutas

e incolores.

2. Prefira a palavra familiar ao exótico:

— Ele segurou o frasco de vinho negligentemente.

— Ele segurou a ampola negligentemente.

3. Prefira um estilo de escrita direto ao estilo

romântico:

— O beijo dele era terno.

— Os lábios dele, fazendo beicinho, roçaram com

suavidade a boca da jovem.

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Observação: A menos que você esteja escrevendo um

romance, use descrições curtas.

4. Prefira substantivos e verbos a adjetivos e

advérbios:

— Ao pendurar o quadro acima da escrivaninha, ela

pensa em Walter.

— Enquanto pendura a pintura pitoresca no alto, acima

da escrivaninha vermelha envernizada, ela sente seu coração

transbordar apaixonado, pensando em Walter.

5. Use substantivos sem adjetivação e verbos de

ação:

— Era um dia de verão, mas debaixo do guarda-chuva

Jonathan Adams podia se resguardar do calor.

— Aquele agosto estava particularmente quente, mas

debaixo do guarda-chuva listado de azul e branco que cobria

Jonathan Adams, o calor se tornou menos intolerável.

6. Nunca use uma palavra longa quando um

pequeno fará como bem:

— "Era uma missiva para mim, Watson".

— "Era uma carta para mim, Watson".

7. Busque a originalidade na metáfora simples:

— Ele era duro como um ano na prisão.

— O fim era liso como madeira flutuante.

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8. Prefira o período simples ao período composto:

— A produção de comida do mundo pode ser

aumentada com o uso de substâncias químicas comuns.

— A forma de aumentar a produção de comida do

mundo, nas mesmas áreas medida em acres utilizadas

atualmente, é com a aplicação de substâncias químicas

relativamente baratas, mas que podem ser maciçamente

produzidas nas fábricas.

9. Divida um período em orações menores.

— O Presidente chamou o conselheiro dele. Discutiram

as opções para a crise estrangeira. Eram todas difíceis e

arriscadas.

— O Presidente chamou o conselheiro dele para

discutir as opções que tinham para solucionar a crise

estrangeira, mas todas elas eram muito difíceis e arriscadas.

10. Use a voz ativa.

— O Congresso fixou os limites orçamentários.

— Os limites orçamentários foram fixados pelo

Congresso.

Como complemento, leia no Apêndice, à página 294,

sobre Vícios de Linguagem.

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APÊNDICE

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ERROS MAIS COMUNS

Erros gramaticais e ortográficos devem, por princípio,

ser evitados. Alguns, no entanto, como ocorrem com maior

frequência, merecem atenção redobrada. Veja os mais

comuns e use esta relação como um roteiro para fugir deles.

"Aluga-se" casas. O verbo concorda com o sujeito:

Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se

evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se

empregados.

"Ao meu ver". Não existe artigo nessas expressões: A

meu ver, a seu ver, a nosso ver.

"Causou-me" estranheza as palavras. Use o certo:

Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é

comum o erro de concordância quando o verbo está antes do

sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as

obras (e não "foi iniciado" esta noite as obras).

"Cerca de 18" pessoas o saudaram. Cerca de indica

arredondamento e não pode aparecer com números exatos:

Cerca de 20 pessoas o saudaram.

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"Dado" os índices das pesquisas... A concordância é

normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o

resultado... / Dadas as suas ideias...

"Entrar dentro". O certo: entrar em. Veja outras

redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação,

monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva

do falecido.

"Existe" muitas esperanças. Existir, bastar, faltar,

restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem

muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas

peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam ideias.

"Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é

impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15

dias.

"Fica" você comigo. Fica é imperativo do pronome tu.

Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. /

Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui.

"Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado

na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás.

"Haja visto" seu empenho... A expressão é haja vista

e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus

esforços. / Haja vista suas críticas.

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"Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir,

também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia

muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais.

"Inflingiu" o regulamento. Infringir é que significa

transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não

"inflingir") significa impor: Infligiu séria punição ao réu.

"Mal cheiro", "mau-humorado". Mal se opõe a bem

e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-

humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-

intencionado, mau jeito, mal-estar.

"Obrigado", disse a moça. Obrigado concorda com a

pessoa: "Obrigada", disse a moça. / Obrigado pela atenção. /

Muito obrigados por tudo.

"Porisso". Duas palavras, por isso, como de repente e

a partir de.

"Porque" você foi? Sempre que estiver clara ou

implícita a palavra razão, use por que separado: Por que

(razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. /

Explique por que razão você se atrasou. Porque é usado nas

respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava

congestionado.

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"Todos" amigos o elogiavam. No plural, todos exige

os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas

as contradições do texto.

"Tratam-se" de. O verbo seguido de preposição não

varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissionais. /

Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-se

com os amigos.

"Venda à prazo". Não existe crase antes de palavra

masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda:

Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a

bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter.

A artista "deu à luz a" gêmeos. A expressão é dar à

luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado

dizer: Deu "a luz a" gêmeos.

A corrida custa 5 "real". A moeda tem plural, e

regular: A corrida custa 5 reais.

A feira "inicia" amanhã. Alguma coisa se inicia, se

inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã.

A festa começa às 8 "hrs." As abreviaturas do sistema

métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2

km (e não "kms."), 5 m, 10 kg.

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À medida "em" que a epidemia se espalhava... O

certo é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe

ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso

cumprir as leis, na medida em que elas existem.

A moça "que ele gosta". Como se gosta de, o certo é:

A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que

dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de

que participou, o amigo a que se referiu, etc.

A moça estava ali "há" muito tempo. Haver

concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia

(fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia

(fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três

meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito

e no mais-que-perfeito do indicativo.)

A modelo "pousou" o dia todo. Modelo posa (de

pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda

também iminente (prestes a acontecer) com eminente

(ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito).

A promoção veio "de encontro aos" seus desejos.

Ao encontro de é que expressa uma situação favorável: A

promoção veio ao encontro dos seus desejos. De encontro a

significa condição contrária: A queda do nível dos salários

foi de encontro às (foi contra) expectativas da categoria.

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A questão não tem nada "haver" com você. A

questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da

mesma forma: Tem tudo a ver com você.

A realidade das pessoas "podem" mudar. Cuidado:

palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância.

Por isso: A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de

agressões entre os funcionários foi punida (e não "foram

punidas").

A temperatura chegou a 0 "graus". Zero indica

singular sempre: Zero grau, zero quilômetro, zero hora.

A tese "onde"... Onde só pode ser usado para lugar: A

casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças

brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele

defende essa ideia. / O livro em que... / A faixa em que ele

canta... / Na entrevista em que...

A última "seção" de cinema. Seção significa divisão,

repartição, e sessão equivale a tempo de uma reunião,

função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de

brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão

do Congresso.

Acordos "políticos-partidários". Nos adjetivos

compostos, só o último elemento varia: acordos político-

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partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas,

medidas econômico-financeiras, partidos social-democratas.

Andou por "todo" país. Todo o (ou a) é que significa

inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a

tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo

quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é

mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos.

As pessoas "esperavam-o". Quando o verbo termina

em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma

no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos,

convidam-na, põe-nos, impõem-nos.

Atraso implicará "em" punição. Implicar é direto no

sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. /

Promoção implica responsabilidade.

Blusa "em" seda. Usa-se de, e não em, para definir o

material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de

alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira.

Chamei-o e "o mesmo" não atendeu. Não se pode

empregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo:

Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos

reuniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos

servidores (e não "dos mesmos").

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Chegou "a" duas horas e partirá daqui "há" cinco

minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a

exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído

por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a

(tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a

(distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz)

pouco menos de dez dias.

Chegou "em" São Paulo. Verbos de movimento

exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao

cinema. / Levou os filhos ao circo.

Comeu frango "ao invés de" peixe. Em vez de indica

substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de

significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu.

Comprei "ele" para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles

não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você.

Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-

me.

Comprou uma TV "a cores". Veja o correto:

Comprou uma TV em cores (não se diz TV "a" preto e

branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho

em cores.

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Disse o que "quiz". Não existe z, mas apenas s, nas

pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram,

quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos.

É hora "dele" chegar. Não se deve fazer a contração

da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos

de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo

convidado... / Depois de esses fatos terem ocorrido...

Ela "mesmo" arrumou a sala. Mesmo, quanto

equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou

a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia.

Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia:

meio louca, meio esperta, meio amiga.

Ele "intermedia" a negociação. Mediar e intermediar

conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a

negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem

essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio.

Ele foi um dos que "chegou" antes. Um dos que faz a

concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes

(dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que

sempre vibravam com a vitória.

Eles "tem" razão. No plural, têm é assim, com acento.

Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e

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vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele

põe, eles põem.

Entre "eu" e você. Depois de preposição, usa-se mim

ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti.

Espero que "viagem" hoje. Viagem, com g, é o

substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de

viajar): Espero que viajem hoje. Evite também

"comprimentar" alguém: de cumprimento (saudação), só

pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão.

Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado).

Estávamos "em" quatro à mesa. O em não existe:

Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na

sala.

Evite que a bomba "expluda". Explodir só tem as

pessoas em que depois do d vêm e e i: Explode, explodiram,

etc. Portanto, não escreva nem fale "exploda" ou "expluda",

substituindo essas formas por rebente, por exemplo.

Precaver-se também não se conjuga em todas as pessoas.

Assim, não existem as formas "precavejo", "precavês",

"precavém", "precavenho", "precavenha", "precaveja", etc.

Favoreceu "ao" time da casa. Favorecer, nesse

sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão

favoreceu os jogadores.

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Ficou "sobre" a mira do assaltante. Sob é que

significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. /

Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a

respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação.

E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda.

Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai

para trás.

Ficou contente "por causa que" ninguém se feriu.

Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou

contente porque ninguém se feriu.

Foi "taxado" de ladrão. Tachar é que significa

acusar: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano.

Governo "reavê" confiança. Equivalente: Governo

recupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos

casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá,

reouvesse. Por isso, não existem "reavejo", "reavê", etc.

Já "é" 8 horas. Horas e as demais palavras que

definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não "são") 1

hora, já é meio-dia, já é meia-noite.

Já "foi comunicado" da decisão. Uma decisão é

comunicada, mas ninguém "é comunicado" de alguma coisa.

Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão.

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343

Outra forma errada: A diretoria "comunicou" os empregados

da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a

decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos

empregados.

Lute pelo "meio-ambiente". Meio ambiente não tem

hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, pronta

entrega, etc. O sinal aparece, porém, em mão-de-obra,

matéria-prima, infra-estrutura, primeira-dama, vale-refeição,

meio-de-campo, etc.

Ministro nega que "é" negligente. Negar que

introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro

nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse

cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. /

Embora tente negar, vai deixar a empresa.

Não "se o" diz. É errado juntar o se com os pronomes

o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz

(não se diz isso), vê-se-a, etc.

Não há regra sem "excessão". O certo é exceção.

Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma

correta: "paralizar" (paralisar), "beneficiente" (beneficente),

"xuxu" (chuchu), "previlégio" (privilégio), "vultuoso"

(vultoso), "cincoenta" (cinqüenta), "zuar" (zoar), "frustado"

(frustrado), "calcáreo" (calcário), "advinhar" (adivinhar),

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"benvindo" (bem-vindo), "ascenção" (ascensão), "pixar"

(pichar), "impecilho" (empecilho), "envólucro" (invólucro).

Não queria que "receiassem" a sua companhia. O i

não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da

mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só

existe i quando o acento cai no e que precede a terminação

ear: receiem, passeias, enfeiam).

Não sabiam "aonde" ele estava. O certo: Não sabiam

onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento,

apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos?

Não viu "qualquer" risco. É nenhum, e não

"qualquer", que se emprega depois de negativas: Não viu

nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca

promoveu nenhuma confusão.

Ninguém se "adequa". Não existem as formas

"adequa", "adeque", etc., mas apenas aquelas em que o

acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc.

Nunca "lhe" vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a

vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto:

Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o

ama.

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345

O fato passou "desapercebido". Na verdade, o fato

passou despercebido, não foi notado. Desapercebido

significa desprevenido.

O governo "interviu". Intervir conjuga-se como vir.

Assim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha,

intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados:

entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse,

conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc.

O homem "possue" muitos bens. O certo: O homem

possui muitos bens. Verbos em uir só têm a terminação ui:

Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue:

Continue, recue, atue, atenue.

O ingresso é "gratuíto". A pronúncia correta é

gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento

não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma:

flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo.

O pai "sequer" foi avisado. Sequer deve ser usado

com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse

sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar.

O peixe tem muito "espinho". Peixe tem espinha.

Veja outras confusões desse tipo: O "fuzil" (fusível)

queimou. / Casa "germinada" (geminada), "ciclo" (círculo)

vicioso, "cabeçario" (cabeçalho).

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346

O processo deu entrada "junto ao" STF. Processo

dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do

(e não "junto ao") Guarani. / Cresceu muito o prestígio do

jornal entre os (e não "junto aos") leitores. / Era grande a

sua dívida com o (e não "junto ao") banco. / A reclamação

foi apresentada ao (e não "junto ao") PROCON.

O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa

com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do

jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas

denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e o

complemento: O prefeito prometeu novas denúncias.

O time empatou "em" 2 a 2. A preposição é por: O

time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde

por. Da mesma forma: empate por.

Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser

sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.

Preferia ir "do que" ficar. Prefere-se sempre uma

coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma

norma: É preferível lutar a morrer sem glória.

Quebrou "o" óculos. Concordância no plural: os

óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns,

meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.

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347

Queria namorar "com" a colega. O com não existe:

Queria namorar a colega.

Se eu "ver" você por aí... O certo é: Se eu vir, revir,

previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu

tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele

fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer),

predissermos.

Sentou "na" mesa para comer. Sentar-se (ou sentar)

em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa

para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador.

Soube que os homens "feriram-se". O que atrai o

pronome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se

realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções

subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum

dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no

assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz,

aqui se paga. / Depois o procuro.

Tinha "chego" atrasado. "Chego" não existe. O

certo: Tinha chegado atrasado.

Todos somos "cidadões". O plural de cidadão é

cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores,

seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres.

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348

Tons "pastéis" predominam. Nome de cor, quando

expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas

rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o

plural é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas

amarelas.

Vai assistir "o" jogo hoje. Assistir como presenciar

exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros

verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à

população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. /

Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. /

Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos

estudantes.

Vendeu "uma" grama de ouro. Grama, peso, é

palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois

gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a

atenuante, a alface, a cal, etc.

Venha "por" a roupa. Pôr, verbo, tem acento

diferencial: Venha pôr a roupa. O mesmo ocorre com pôde

(passado): Não pôde vir.

Vive "às custas" do pai. O certo: Vive à custa do pai.

Use também em via de, e não "em vias de": Espécie em via

de extinção. / Trabalho em via de conclusão.

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349

Vocês "fariam-lhe" um favor? Não se usa pronome

átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do

presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou

particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um

favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca

"imporá-se"). / Os amigos nos darão (e não "darão-nos") um

presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo "formado-

me").

Vou "consigo". Consigo só tem valor reflexivo

(pensou consigo mesmo) e não pode substituir com você,

com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor.

Igualmente: Isto é para o senhor (e não "para si").

Vou "emprestar" dele. Emprestar é ceder, e não

tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou:

Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta

concordância: Pediu emprestadas duas malas.

Vou sair "essa" noite. É este que designa o tempo no

qual se está ou objeto próximo: Esta noite, esta semana (a

semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que

estou lendo), este século (o século 21).

Observação: Material disponível na Internet, sem

indicação do autor.

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A PONTUAÇÃO

Na linguagem escrita, o sinal de pontuação é cada um

dos sinais utilizados para reconstituir os recursos rítmicos e

melódicos da língua falada. Pode ser entendido também

como o conjunto dos sinais gráficos ou notações que

buscam discriminar os diversos elementos sintáticos da

frase, visando a clareza, as pausas e as modulações próprias

na leitura. Na língua portuguesa, podemos distinguir,

fundamentalmente, três grupos deles.

a) aqueles destinados a marcar as pausas, chamados de

Notações Objetivas, (a vírgula [,], o ponto [.] e o ponto-e-

vírgula [;]);

b) os chamados de Notações Subjetivas, destinados a

marcar a melodia, a entoação (os dois-pontos [:], o ponto de

interrogação [?], o ponto de exclamação ou ponto de

admiração [!] e as reticências [...]);

c) outros sinais, as notações distintivas, com fins

diversos, como as aspas ["], os parênteses [()]. os colchetes

[.], o travessão [—], a chave[{] e o parágrafo.

É preciso que se diga que não há uniformidade entre os

escritores, no que se refere à teoria da pontuação é vária.

Uns exibem um pontuação mais forte e abundante, outros

não. Salvo alguns poucos casos, não há regras absolutas.

Júlio Ribeiro assim definiu a pontuação: "arte de

dividir, por meio de sinais gráficos, as partes do discurso

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que não têm entre si ligação íntima, e de mostrar do modo

mais claro as relações que existem entre essas partes".

Para entender bem esse conceito, lembre-se que têm

ligação íntima entre si os termos da oração: o sujeito com o

verbo e o verbo com o seu complemento. Entre o sujeito e o

verbo, assim como entre o verbo e o complemento, não

pode haver vírgula.

Exemplo:

Errado: O rio, descia a serra. (vírgula entre o sujeito e

o verbo)

Correto: O rio descia a serra.

Errado: O fogo devorava, as casas. (entre o verbo e seu

complemento)

Correto: O fogo devorava as casas.

A PONTUAÇÃO EXAGERADA

Uma pontuação exagerada, embora correta, deve ser

evitada, pois acaba por travar a leitura, que não flui

agradavelmente, mas é interrompida de fragmento a

fragmento. Talvez nesse aspecto, o melhor crítico seja o

ouvido. Embora possa não afetar o estilo, vale lembrar a

velha máxima de que todo exagero é prejudicial. As

vírgulas, principalmente, não devem separar com rigor os

complementos circunstanciais, sem escapar um só. Basta

que separem os complementos de maior tamanho, que

possam provocar confusão ou obscurecer o sentido da frase.

Exemplos:

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"Não sei quem era, se gente daqui ou não, a pessoa

que, naquela noite, sozinha, atreveu-se, arriscando a

vida, a atravessar, sem medo, as águas do rio."

"A menina veio, como uma avezinha assustada, de

cabeça erguida, no entanto, pelas mãos da mãe, para a

frente da casa; ali recebeu, com estremecimento, o beijo

que, inesperadamente, o pai depositou em sua fronte."

De acordo com as regras gramaticais estes dois

exemplos estão rigorosamente bem pontuados. Quem os ler,

porém, detendo-se a cada vírgula, sentirá que a pontuação

exagerada trunca a leitura, tornando a expressão difícil e

entrecortada. Os dois trechos não perderiam nada se fossem

pontuados desta forma:

"Não sei quem era, se gente daqui ou não, a pessoa

que naquela noite sozinha atreveu-se, arriscando a vida,

a atravessar sem medo as águas do rio."

"A menina veio como uma avezinha assustada, de

cabeça erguida no entanto, pelas mãos da mãe para a

frente da casa; ali recebeu com estremecimento o beijo

que inesperadamente o pai depositou em sua fronte."

Como todo exagero é prejudicial, a pontuação escassa,

com economia de vírgulas e dos demais recursos gráficos

pode ser um defeito, principalmente nos períodos longos.

Neles, a pontuação deficiente traz sonolência, obscuridade e

exigem fôlego para sua leitura. Isso ocorre com frequência

com os oradores. Acostumados a manter o sopro por muito

tempo, disfarçam com a eloquência seus defeitos de estilo.

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Ao pontuar suas redações, tenha em mente que elas

serão lidas e que a distribuição dos sinais gráficos deve

privilegiar os seguintes aspectos:

— Assinalar as pausas e as inflexões da voz (a

entonação) na leitura;

— Separar palavras, expressões e orações que devem

ser destacadas;

— Esclarecer o sentido da frase, afastando

qualquer ambiguidade.

A IMPORTÂNCIA

O uso inadequado dos sinais de pontuação podem levar

a uma inversão total no sentido desejado para um

pensamento ou expressão. No anedotário popular há

diversos exemplos disso. Veja alguns deles:

1) Verão uma andorinha só não faz verão.

2) Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do

fazendeiro era também o pai do bezerro.

3) Enforquem o réu não tenham piedade.

4) Deixo os meus bens à minha irmã não a meu

sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos

pobres.

Antes de conhecer as respostas, tente encontrar a

pontuação correta para cada um dos exemplos. Depois que

fizer isso, vamos às respostas:

1) Verão: uma andorinha só não faz verão.

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2) Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe; do

fazendeiro era também o pai do bezerro.

3) Neste exemplo, a mudança na pontuação

determina o sentido. "Enforquem o réu; não tenham

piedade" vai condená-lo. "Enforquem o réu não; tenham

piedade" vai salvá-lo.

4) Neste exemplo, a mudança na pontuação altera

radicalmente o sentido, beneficiando cada um dos

citados:

Versão do sobrinho: "Deixo os meus bens à minha

irmã, não; a meu sobrinho; jamais será paga a conta do

alfaiate; nada aos pobres".

Versão da irmã: "Deixo os meus bens à minha irmã,

não a meu sobrinho; jamais será paga a conta do

alfaiate; nada aos pobres".

Versão do alfaiate: "Deixo os meus bens à minha

irmã, não; a meu sobrinho jamais; será paga a conta do

alfaiate; nada aos pobres".

Versão dos pobres: "Deixo os meus bens à minha

irmã, não; a meu sobrinho, jamais; será paga a conta do

alfaiate nada; aos pobres".

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N0RMAS GERAIS

A leitura constante e a observação atenta permitiram

que se definissem normas gerais no uso da pontuação.

Vejamos as mais importantes e comuns:

ETC

Abreviatura da expressão latina et cetera (ou caetera),

que significa "e outras coisas". A expressão evoluiu do

sentido original, referindo-se a coisas, passando também a

ser usada para designar pessoas. Assim, não é correto

escrever ou dizer "e etc." Antes da abreviatura, deve haver

sempre um sinal de pontuação, podendo ser o mesmo usado

para separar conjuntos da enumeração ou um outro,

dependendo do contexto. Exemplos:

Trouxe a espada, a lança, o bacamarte, as adagas,

etc. (precedido de vírgula.)

Acordar cedo. Vestir a roupa. Lavar o rosto. Tomar

café. Etc. (precedido de ponto final.)

Lembre-se que a abreviatura etc, isoladamente, não é

acompanhada de ponto (etc.), comum a outras abreviaturas.

Isso tem levado muita gente ao erro de pontuar assim uma

frase onde ela apareça:

Tinha comida, bebida, música, alegria, etc..

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Isso ocorre porque em fim de frase declarativa, não se

usam lado a lado o ponto abreviativo e o ponto-final. A

tradição consagrou a simplicidade e o ponto acumula as

duas funções.

DIÁLOGOS

Inexistem regras oficiais, mas Othon M. Garcia, em

seu livro Comunicação em Prosa Moderna, assim resumiu a

pontuação dos diálogos:

"Nas obras mais recentes, ou em muitas reedições

atualizadas de antigas, se vêm firmando as seguintes

normas, segundo pudemos observar em inúmeros

autores:

a) travessão inicial em vez de aspas;

b) oração do verbo dicendi [Ex.: — Vamos — disse

ela] precedida por travessão;

c) aspas só para fala isolada dentro de parágrafo em

discurso indireto, quando não seguida de réplica;

d) o travessão torna prescindível qualquer outro

sinal de pontuação, salvo os pontos de interrogação, de

exclamação e as reticências;

e) novo período de fala no mesmo parágrafo, após a

oração do verbo dicendi; deve vir precedido por

travessão, para que não se confundam palavras do autor

com as da personagem;

f) a oração do verbo dicendi, quando intercalada na

fala, pode vir também cercada por vírgula, em vez de

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travessões, desde que o fragmento da fala que a preceda

não exija ponto de interrogação ou de exclamação ou

reticências;

g) Quando a oração do verbo dicendi precede toda a

fala, deve vir obrigatoriamente seguida de dois-pontos."

(Othon M. Garcia. Comunicação em Prosa

Moderna. Rio de Janeiro, Fund. Getúlio Vargas, 1967. p.

137-8.)

Trata-se de uma verdadeira aula sobre o uso da

pontuação nos diálogos e merece que nos detenhamos um

pouco mais para entender todo esse conteúdo. Inicialmente,

vamos relembrar o que são os verbos dicendi:

"Cada um dos verbos como, p. ex., dizer, afirmar,

exclamar, perguntar, responder, redarguir, que

antecedem, mediata ou imediatamente, uma declaração,

pergunta, etc. O processo mais simples para isso [para o

narrador dar a conhecer ao leitor palavras ou

pensamentos de outrem] é apresentar-nos o indivíduo e

deixá-lo expressar-se, acrescentando-se um verbo

dicendi (disse, perguntou, respondeu) para anunciar a

entrada do novo falante." (J. Matoso Câmara Jr., Ensaios

Machadianos, p. 25.)

Vejamos, agora, uma a uma essas regras:

a) travessão inicial em vez de aspas. Isso significa que

os diálogos devem ser marcados com um travessão e não

com aspas, como nos seguintes exemplos:

Errado: "Serão os vagalumes?" indagou a menina.

"Não, são os olhos do boitatá" respondeu o velho.

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Correto: — Serão os vagalumes? — indagou a menina.

— Não, são os olhos do boitatá — respondeu o velho.

b) oração do verbo dicendi (Ex.: — Vamos — disse

ela.) precedida por travessão. Nos exemplos corretos

acima, observe que antes dos verbos dicendi "indagou" e

"respondeu", é usado o travessão. Na verdade, os dois

travessões, o inicial e o que precede o verbo dicendi, isolam

o registro da fala das personagens.

c) aspas só para fala isolada dentro de parágrafo em

discurso indireto, quando não seguida de réplica. Vamos

relembrar o que é discurso direto e discurso indireto.

Discurso direto é reprodução das palavras de alguém nos

termos exatos em que foram ditas, como nos exemplos

corretos já citados. Discurso indireto é a reprodução das

palavras de alguém na terceira pessoa, quer atribuindo-as

claramente a outra pessoa em orações subordinadas a um

verbo dicendi, quer dizendo-as por sua própria conta em

orações independentes. Por exemplo: Ela disse que não iria

viajar, mas ele garantiu que ela iria. Na regra definida por

Othon M Garcia, aspas seriam utilizadas para marcar uma

fala em exemplos como este:

Quando perguntada se iria viajar, ela disse

categoricamente "eu vou." Já o marido dela foi

igualmente firme ao dizer "ela não vai."

d) o travessão torna prescindível qualquer outro sinal

de pontuação, salvo os pontos de interrogação, de

exclamação e as reticências.

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Esta é uma regra fácil de entender, uma vez que seria

exagero colocar dois sinais de pontuação juntos.

Não usar: — Eu digo que será menina, — falou a mãe.

O correto: — Eu digo que será, menina — falou a mãe.

Se a frase comportar Notações Subjetivas (pontos de

interrogação, exclamação ou reticências), estas deverão ser

registradas antes do travessão. Exemplos:

— Venha para dentro, menina! — ordenou a mãe.

— Quem será esse sujeito? — indagou o professor.

— Talvez eu vá... — murmurou ela, com um sorriso.

e) novo período de fala no mesmo parágrafo, após a

oração do verbo dicendi; deve vir precedido por travessão,

para que não se confundam palavras do autor com as da

personagem. Fica fácil de entender essa regra com o

seguinte exemplo.

— Às vezes eu me pergunto onde vamos parar —

começou ele, cofiando a barba. — A cada dia as coisas

ficam piores.

Após o registro da fala inicial, segue-se um travessão e

o verbo dicendi (... começou ele...). Em seguida, a

personagem continua falando. Isso é marcado com o uso de

um novo travessão.

f) a oração do verbo dicendi, quando intercalada na

fala, pode vir também cercada por vírgula, em vez de

travessões, desde que o fragmento da fala que a preceda

não exija ponto de interrogação ou de exclamação ou

reticências. Veja nos exemplos a seguir as duas opções

possíveis.

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— Nunca quis isso — disse ele — pois nunca me

pareceu correto.

— Nunca quis isso, disse ele, pois nunca me

pareceu correto.

Isso não será possível que o trecho inicial da fala

terminar com uma notação subjetiva, como nos exemplos a

seguir.

— Nunca quis isso? — indagou ele. — Pois nunca

me pareceu correto.

— Nunca quis isso! — exclamou ele. — Nunca me

pareceu correto.

— Nunca quis isso... — murmurou ele. — Nunca me

pareceu correto.

g) Quando a oração do verbo dicendi precede toda a

fala, deve vir obrigatoriamente seguida de dois-pontos.

Veja nos exemplos:

Ela disse energicamente:

— Você precisa plantar logo!

Após observar todo o horizonte com os olhos

semicerrados, ele se voltou para ela e comentou

tristemente:

— Mais um dia de seca... Mais um dia sem chuva!

Plantar como?

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ASPAS

As aspas, também chamadas vírgulas dobradas ou

comas, usam-se:

1) No princípio e no fim de uma citação textual

(palavra, expressão, frase ou trecho), para distingui-la da

parte restante do discurso, como neste exemplo:

Conforme o dicionário, canjica é "papa de

consistência cremosa, feita com milho verde ralado, a

que se acrescenta açúcar, leite de vaca ou de coco, e

polvilha com canela. "

2) Põem-se entre aspas palavras e expressões

estranhas ao nosso vocabulário, estrangeiras ou termos

da gíria, títulos de obras literárias ou artísticas, jornais ou

revistas ou qualquer expressão que deseje destacar:

Nos anos sessenta, ser "hippie" estava na moda.

Erasmo Carlos era conhecido como

"Tremendão".

"Lusíadas" canta a alma portuguesa.

"Veja" é uma das revistas mais lidas do país.

O "Estadão" trouxe a notícia na sua edição de

hoje.

Parece que o tema na ordem do dia é "a miséria

do país".

3) Para chamar a atenção do leitor a certas palavras

que pretendemos fazer sobressair:

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"Para bens" não é a mesma coisa que

"parabéns".

Não confunda "conhaque de alcatrão" com

"catraca de canhão".

4) Para caracterizar nomes e apelidos:

O "Almirante Tamandaré" ganhou o mar.

Viajamos pela "Panair".

Era tão corajoso que recebeu o apelido de "João

Bravo".

5) Marca expressões, vocábulos, palavras, letras

(substantivadas pelo contexto) citadas ou

exemplificadas:

Para mim, aquilo soou como um "até nunca

mais"

Palavras escritas com "x" e com "ç" provocam

muitas confusões.

Vamos estudar hoje as funções do "que".

6) Segundo o Pequeno Vocabulário Ortográfico da

Língua Portuguesa, "quando a pausa coincide com o

final da expressão ou sentença que se acha entre aspas,

coloca-se o competente sinal de pontuação depois delas,

se encerram apenas uma parte da proposição." Exemplo:

Aquele olhar tinha o significado de um "eu te

pego depois".

Note que primeiro fecham-se as aspas, depois

acrescenta-se o ponto final. O mesmo ocorreria se, ao

invés do ponto final, tivéssemos um ponto de

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interrogação, dois pontos, ponto de exclamação,

reticências ou qualquer outro sinal de pontuação.

"Quando, porém, as aspas abrangem todo o período,

sentença, frase ou expressão, a respectiva notação fica

abrangida por elas."

Diz o ditado popular: "quem tudo quer, tudo

perde."

Ou:

Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume!

"Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"

(Machado de Assis.)

7) Antenor Nascente, em seu livro "O Idioma

Nacional", recomenda:

"Se o trecho contiver diversos parágrafos, as aspas

de abertura deverão estar antes da primeira palavra de

cada parágrafo e as de fechamento depois da última

palavra do derradeiro parágrafo:"

"Disse D. Antônio de Macedo Costa:

"Restaurar moral e religiosamente o Brasil!

"Esta é a obra das obras; a obra essencial, a

obra fundamental sobre que repousa a estabilidade

do trono e o futuro da nossa sociedade. "

"Se o trecho contiver por sua vez alguma citação,

deverá esta trazer aspas de abertura no começo de cada

linha e aspas de fechamento unicamente no fim da

derradeira palavra da última linha.

"Disse D. Antônio de Macedo Costa:

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"Um grande escritor protestante, cujo nome não

preciso declinar, porque todos o conheceis, confessa

em uma de suas obras esta verdade: "Lavra na

sociedade "moderna, diz ele, um grave mal que é o

desrespeito à autoridade. A Igreja Católica "é a

maior e mais santa escola de respeito que há sobre a

terra".

"A França precisa de catolicismo".

Se for preciso recorrer a aspas dentro de um trecho

já aspado, usa-se aspas simples: "Quando ele dizia

'agora’ queria dizer 'agora’ mesmo e não admitia

demoras." (Memórias Jamais Escritas.)

8) Frequentemente sublinha-se, na escrita, as

citações e os dizeres para os quais se quer chamar a

atenção, dispensando as aspas. As palavras sublinhadas,

ou grifadas, correspondem, nas obras impressas, ao tipo

diferente, sendo mais frequentes o uso do negrito ou

normando (letras de corpo mais cheio) e do itálico

(letras inclinadas).

DOIS PONTOS

O sinal chamado "dois pontos" (:) indica, na leitura,

uma pausa maior que o ponto e vírgula. É empregado nos

seguintes casos:

a) Anunciar uma citação. Exemplo:

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Disse Jesus: amai-vos uns aos outros.

b) Indicar uma enunciação ou uma enumeração.

Nesses casos, os objetos enumerados ou o enunciado

pode vir depois do verbo da oração. Exemplo:

Há duas formas de se chegar ao amor: a

dedicação e a renúncia.

O prefeito finalizou, dizendo: o progresso nos

espera.

Há casos, porém, em que o enunciado ou a

enumeração vêm antes do verbo.

Trabalho e economia: eis o caminho para a

recuperação econômica.

E haverá casos em que o verbo poderá estar

elíptico ou nem existir:

Primeiro passo para a boa saúde: levantar

com o sol e dormir com as galinhas.

c) Evidenciar uma reflexão ou uma explanação.

Exemplos:

Fique calmo: a cólera sempre foi uma

funesta conselheira.

O amor é perigo e prazer: perigoso como o

espinho de uma rosa, prazeroso como o perfume

dessa mesma rosa.

d) Separar, na redação de leis, decretos,

portarias, alvarás, sentenças, acórdãos e diplomas

sociais, o preâmbulo do corpo do documento, após

uma série de considerandos. Exemplo:

O Presidente da República,

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Considerando a atual estado dos municípios

brasileiros;

Considerando a disponibilidade de caixa:

Considerando as necessidades da educação;

Decreta:

Fica criado o Fundo Nacional para a

Educação...

O Prefeito Municipal, no uso de suas

atribuições legais, faz saber que a Câmara

Municipal aprovou e ele sanciona a seguinte lei:

Art. 1o. Fica criado o Conselho Municipal de

Educação...

e) Anunciar a fala dos personagens nas histórias

de ficção. Exemplos:

Disse o menino:

— Se Papai Noel existe, porque nunca passou

por aqui?

Após examinar todos os presentes, o homem

começou:

— A todos os que vieram, a minha gratidão;

àqueles que se ausentaram, o meu mais profundo

rancor.

f) Introduzir aposto e orações apositivas. A

oração apositiva funciona como um aposto. Para

entender isso, é preciso saber o que é aposto. Aposto:

"Nome, ou expressão equivalente, que exerce a

mesma função sintática de outro elemento a que se

refere. Ex.: Joana, irmã de Pedro, sofreu um acidente.

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Seu objetivo é, via de regra, esclarecer ou ampliar o

sentido de um termo ou expressão já citado. Exemplo:

Sócrates, o jogador de futebol, pendurou as

chuteiras.

A expressão "jogador de futebol" é um aposto

que amplia o sentido da palavra anterior "Sócrates".

Como exemplo do uso de dois pontos para

indicar oração apositiva, temos:

A causa final da violência é esta: a miséria

desumaniza o homem.

Tenho uma condição: você será o primeiro.

É doloroso esta verdade: o amor um dia

acaba.

Como exemplos de aposto, temos:

Fez por merecer tudo aquilo: a dor e a

solidão.

É difícil encarar isso: o fim da felicidade.

g) Indicar esclarecimento, um resultado ou

resumo do que foi dito. Exemplos:

Tenho tudo que quero: esposa, filhos, uma

boa casa e um carro confortável.

Fez tudo por merecer: a riqueza, a felicidade

e o amor.

Resultado: depois de todo aquele trabalho,

veio a chuva e lavou todo o terreno.

Em resumo: perdemos tudo.

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h) Substituir o Ponto e Vírgula no período

composto e complexo, evitando a sua repetição em

excesso. Exemplo:

As crianças corriam pelos corredores,

desfazendo as filas formadas no pátio, embrenhando-

se nas salas pelas portas escancaradas, esbarrando-

se e tropeçando uns nos outros; avançam para as

carteiras, cada qual procurando escolher o melhor

lugar; vinham afoitos e quase em desespero: diante

do quadro-negro, com ar impassível, o professor

apenas observava aquela avalanche de rostos alheios

a sua presença.

HÍFEN

Veja o Novo Acordo Ortográfico, onde se especifica o

uso do hífen. Lembrando que o tema é complexo, é

recomendável seu conhecimento.

HÍFEN ESTILÍSTICO

Para transmitir certos matizes semânticos, com o

intuito de tornar uma o texto mais expressivo, escritores

empregam o hífen de modo não previsto nas normas oficiais

e, não raro, até contrário a ela. Exemplos:

Fernando Pessoa — Álvaro de Campos:

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"o grande cobertor não-cobrindo-nada das

aparências."

Carlos Drummond de Andrade:

"como a um não-morrer-morrido."

Gustavo Corção, Liçòes de Abismos:

"um homem-que-sabe-que-vai-morrer"

Na poesia, a divisão silábica tem sido usada

expressivamente:

"E estava até um fumo, que subia,

Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado."

(Mario Quintana.)

"[...] donzelas opulentas

que ao piano abemolavam

‘bus-co a cam-pi-na-se-re-na

pa-ra-li-vre-sus-pi-rar’"

(Carlos Drummond de Andrade.)

PARÁGRAFO

Parágrafo ou alínea é a "seção de discurso ou de

capítulo que forma sentido completo, e que usualmente se

inicia com a mudança de linha e entrada." (Parágrafo, do

grego: para=perto, grafo=escrevo; alínea, latino: a=de

(afastamento), linea=linha.) São as seções de um livro,

capítulo ou discurso, podendo conter um ou mais períodos.

Normalmente encerra um pensamento ou grupo de

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pensamentos e indica uma pausa mais forte. Seu conteúdo

guarda certa relação entre o parágrafo antecedente e o

subsequente. Literariamente, as regras para uso do parágrafo

não são arbitrárias, dependendo do critério e do estilo do

autor. Por exemplo:

"Mas o sino o atraía, naquela manhã cinzenta.

Voltou a olhá-lo. Ouvia seu repicar, sentado à porta de

seu rancho, lá na Fazenda.

A Fazenda...

Cafezal do bom!

A geada...

Que tristeza!"

(Sassarico, L. P. Baçan.)

Isso não ocorre, porém, em decretos, leis e outros

documentos formais, em que os parágrafos são

determinados pelo assunto exposto. Nesses casos, é costume

assinalar o parágrafo com o símbolo formado por dois ss

entrelaçados, inicias das palavras latinas signum sectionis =

sinal de secção, de corte. Quando, porém, houver a

necessidade de se assinalar a existência de um único

parágrafo, o sinal não é utilizado e o parágrafo é assinalado

por escrito. Exemplo:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada

pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do

Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

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III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo,

que o exerce por meio de representantes eleitos ou

diretamente, nos termos desta Constituição.

(Constituição da República Federativa do Brasil.)

Caso sejam relacionados mais de um parágrafo,

obrigatoriamente eles serão numerados, como no exemplo

abaixo:

Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da

República Federativa do Brasil.

§ 1º São símbolos da República Federativa do

Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.

§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

poderão ter símbolos próprios.

(Constituição da República Federativa do Brasil.)

PARÊNTESES

São sinais "()" usados para isolar palavras ou frases

intercaladas num período. Segundo o dicionário, são sinais

de pontuação que encerram (isolam) frases intercaladas num

período ou períodos intercalados num texto, formando

sentido à parte. Exemplo:

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Todos aguardavam o começo da história (ele tomou

um gole de café e acendeu o pito lentamente), cumprindo

um ritual conhecido de todos.

Podem ser utilizados também, juntamente com as

reticências, para indicar a supressão de uma frase ou de um

trecho de uma transcrição. Exemplo:

Lê-se claramente no livro: "A cidade (...) é o berço

e o túmulo do homem."

Os parênteses também podem ser utilizados em sua

forma angular "[]", sendo chamados de colchetes ou

parênteses quadrados.

Observe, no exemplo acima, que a vírgula foi colocada

após o segundo parêntese e não antes desse, pois a

intercalação coincidiu com esse ponto do período. Sem a

intercalação, teríamos:

Todos aguardavam o começo da história,

cumprindo um ritual conhecido de todos.

Obviamente, se a intercalação fosse num outro ponto

do período, não haveria necessidade de colocação da

vírgula, uma vez que o período continua tendo sua

pontuação normal e uso dos parênteses não exige tratamento

especial nesse sentido.

Veja como ficaria o exemplo, com a intercalação em

outro ponto do período:

Todos aguardavam (ele tomou um gole de café e

acendeu o pito lentamente) o começo da história,

cumprindo um ritual conhecido de todos.

Ou:

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Todos aguardavam (ele tomou um gole de café) o

começo da história, cumprindo um ritual (acendeu o pito

lentamente) conhecido de todos.

Quando uma frase inteira ou uma unidade autônoma se

acha isolada pelos parênteses, deve ser pontuada

normalmente. Exemplos:

Ela me disse (finalmente!) que me amava.

Voltou a gritar o lema (Viva a França!) que o

levaria à morte.

Isso é muito frequente quando, ao final de uma citação,

menciona-se o nome do livro, do autor ou ambos.

Exemplos:

(Memórias Póstumas de Brás Cubas.)

(Gonçalves Dias, "Canção do Exílio".)

(Fernando Pessoa, Mensagem.)

(Mario Quintana.)

Quando isso acontece, não pode haver

simultaneamente pontos finais antes e depois dos

parênteses. Se houver um ponto final antes, o próximo

ponto final antes do segundo parênteses. Exemplo:

Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico.

Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue

aos pensamentos. (Sassarico, L. P. Baçan.)

Ou:

Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico.

Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue

aos pensamentos (Sassarico, L. P. Baçan).

Jamais:

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Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico.

Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue

aos pensamentos. (Sassarico, L. P. Baçan).

Ou:

Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico.

Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue

aos pensamentos (Sassarico, L. P. Baçan.).

A oração intercalada, quando for completa, encerrando

uma consideração ou um pensamento independente será

iniciada por letra maiúscula. Exemplo:

Quando o lobo mau sentiu o calor do fogo em suas

calças (Ele imitou o desespero da personagem.) e ouviu

os latidos dos cachorros, tratou de fugir logo.

Estilisticamente, parênteses muito longos podem

prejudicar a clareza de um período. Recomenda-se critério

no seu uso, principalmente nas dissertações. Quando a frase

intercalada for curta, pode ser mais conveniente substituir os

parênteses por vírgulas ou travessão. Exemplos:

Ela me disse, finalmente!, que me amava.

Eu não sabia — quem sabe, afinal de contas,

depois de ter amado tanto? — o significado do amor.

Parênteses também são utilizados com frequência para

incluir um número (1) de referência ou de ordem num texto,

uma data (8 de janeiro de 1950), uma letra (a) de referência

ou de ordem, um asterisco (*) ou qualquer outro sinal fora

do contexto.

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Na indicação dos diversos itens de um texto, é comum

iniciar o período usando apenas o segundo semicírculo: a)

— b) — c).

O asterisco entre parênteses serve para chamar a

atenção do leitor para as observações ou notas no final do

texto ou da página.

Preste atenção a este detalhe: parênteses, plural, indica

os dois semicírculos; parênteses, singular, indica o conjunto

dos dois semicírculos e de seu conteúdo, parêntese, singular,

cada um dos sinais gráficos. Exemplos

Entre os parênteses, intercale a oração exclamativa.

Abrimos um parênteses para explicar o significado

da palavra.

Após o último parêntese, coloque a vírgula.

Se você estiver lendo um texto em voz alta ou fazendo

um discurso onde surja uma oração intercalada por

parênteses, lembre-se de que esse trecho deve ser lido ou

proferido num tom um pouco mais baixo do que o do

contexto.

PONTO DE EXCLAMAÇÃO

O Ponto de Exclamação ou de Admiração marca as

palavras, frases, orações ou expressões que exprimem

admiração, espanto ou surpresa. Para melhor entender,

vejamos qual é o conceito de exclamação, segundo o

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dicionário: "Ato de exclamar; voz, grito ou brado de prazer,

alegria, raiva, tristeza, dor." Exemplos:

Viva, ganhei meu presente!

Isto é muito bom!

Aquilo me deu um ódio!

Deus, como eu sinto a falta do meu amor!

O Ponto de Exclamação é empregado também depois

das interjeições. Vamos ver o que é uma interjeição: palavra

invariável que exprime as manifestações vivas e súbitas da

alma, como a dor, a alegria, o medo, o espanto, etc. É uma

palavra invariável porque não flexiona em gênero

(masculino e feminino), número (singular e plural) ou grau

(aumentativo e diminutivo).

Podem ser classificadas conforme os sentimentos que

exprimem. Por exemplo:

a) de alegria: ah! oh! eh!

b) de animação: eia! sus! coragem!

c) de apelo: ó! olá! psit! psiu! alô!

d) de aplauso: bom! Muito bem! bravo! Apoiado!

e) de aversão: ih! chi! irra! apre!

f) de desejo: oxalá! oh! tomara!

g) de dor: ai! ui!

h) de silêncio: chitão! caluda! psiu! tá!

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Há também interjeições imitativas ou onomatopaicas.

E você sabe o que é uma onomatopeia? É: "Palavra cuja

pronúncia imita o som natural da coisa significada

(murmúrio, sussurro, cicio, chiado, mugir, pum, reco-reco,

tique-taque.)

Exemplo de interjeições onomatopaicas:

zás! bam! vupt!

Além disso, as interjeições podem ser Simples — ai,

oh! — e Compostas ou Locuções interjetivas — aqui-pra-

ele! coitado de mim!

Estilisticamente, o ponto de exclamação pode vir junto

do ponto de interrogação para indicar, ao mesmo tempo,

uma indagação e uma admiração ou vice-versa. Exemplos:

Se o amor está no coração, por que ter um

coração?!

Dizem que estamos aprendendo inglês para

navegar na Internet!?

Quando você escrever, fique atento à diferença entre ó

e oh!

Ó: "Usado para chamar alguém, para conciliar-lhe

atenção, para invocar, e, ainda, para exprimir vários afetos e

impressões da alma: "Deus! ó Deus!" É usado junto a um

vocativo. (Para recapitular o que é "Vocativo", veja em

"Vírgula".)

Oh!: "Exprime espanto, surpresa, alegria, tristeza,

admiração, lástima, repugnância e outras impressões vivas

ou súbitas: Oh! você por aqui?; "Oh! que saudades que

tenho."

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É usado obrigatoriamente no encerramento de uma

oração com verbo no imperativo. (Imperativo – modo

verbal: forma assumida pelo exprimir uma ordem,

imposição, ditame, dever, etc. Exemplos:

Ouça-me agora mesmo!

Devo esquecê-la!

Faça isso!

Siga seu coração!

PONTO DE INTERROGAÇÃO

O sinal chamado Ponto de Interrogação (?) é usado no

fim de uma palavra, oração ou frase, indicando uma

pergunta direta. Na leitura, deve ser marcada com uma

entonação ascendente. Exemplos:

Quem foi o culpado?

Quer alguma coisa aqui?

Observe que o ponto de interrogação não é usado,

quando se tratar de uma pergunta indireta. Exemplos:

Quero que me digas tudo agora!

Vou esperar você me dizer tudo.

Nem sempre esse ponto encerra o. Nos diálogos, por

exemplo, indica a pergunta, sempre que o período tiver

sequencia e a letra que vem depois dele deve ser minúscula,

a menos que seja um nome próprio. Nas palavras, frases ou

orações intercaladas ocorre o mesmo. Exemplos:

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— Quem fez isso? — indagou o professor.

— Ficamos sem resposta, e quem saberia

responder?, diante daquele enigma.

A Lei (quem pode desmentir?) é a único

instrumento de justiça a ser preservado.

Pode surgir combinado com o ponto de exclamação ou

com as reticências. Exemplos:

— Eu?! Quem me dera!

Poderia ser a mesma pessoa que...? Não, jamais!

PONTO E VÍRGULA

A melhor maneira de entender o uso do Ponto e

Vírgula (;) é comparando-o ao ponto (.) e à virgula (,)

isoladamente. Inicialmente, em termos de leitura, situa-se

num ponto intermediário entre os outros dois.

Funcionalmente, a vírgula separa conceitos, ideias e frases;

o ponto e vírgula separa juízos e orações; o ponto final

indica o término do raciocínio ou do período.

É usado nos seguintes casos:

a) Para separar orações absolutas de certa extensão,

sobretudo se possuem partes já separadas por vírgula.

Lembra-se o que é uma oração absoluta?

Oração absoluta é a que forma, por si, sentido

completo ou independente. Exemplo:

A vida é uma caminhada na direção da morte.

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Vim, vi, venci.

Podemos ter duas orações com sentido completo,

unidas por uma conjunção coordenativa. Exemplo:

O estudo abre a mente e os livros desvendam o

mundo.

Vim, vi e venci.

Exemplos do emprego de ponto e vírgula nesses casos:

O estudo abre a mente; os livros desvendam o

mundo.

De tudo que há no mundo, nada pode ser mais

perigoso que uma palavra mal empregada; nada mais

terrível, nada mais abominável.

Todos descendemos do pecado original; pecadores

já no nascimento.

b) Para separar as partes principais de uma frase cujas

partes complementares estão separadas por vírgulas.

Exemplo:

A falta era grave, todos sabiam, embora não

mencionassem; talvez isso fosse mais grave que a

própria falta.

Os mais velhos traziam seus rosários, seus livros,

suas riquezas; os mais novos, apenas a esperança.

c) Para separar considerados no preâmbulo de um

decreto, portaria, sentença, acórdão ou documento

semelhante. Exemplo:

Considerando o que faculta a lei 1234, de 01/02/34;

Considerando as necessidades da Escola:

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Considerando as últimas resoluções aprovadas pelo

Grêmio Estudantil:

Ficam os alunos da escola liberados do uso de

uniformes no período noturno...

Note que, após o último considerando, a pontuação

correta é com Dois Pontos.

PONTO FINAL

Acreditamos que, em relação aos sinais de pontuação,

este é um dos mais fáceis de ser entendido. O ponto final é

empregado para fechar ou finalizar um período gramatical.

Exemplos:

O navio fez-se ao mar e uma grande apreensão

invadiu os habitantes da aldeia.

Vim. Vi. Venci.

É usado, também, nas abreviaturas. Exemplos:

Sr. (senhor), a.C. (antes de Cristo), pág. (página),

P.S. (Post scriptum), etc.

Quando o período, oração ou frase termina por uma

abreviatura, não se coloca o ponto final adiante do ponto

abreviativo, que tem, nesses casos, dupla serventia.

Exemplos:

A erupção do vulcão deu-se em 65 a.C.

Os alunos traziam, como sempre, canetas,

cadernos, livros, pastas, etc.

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Eduardo Carlos Pereira, em sua Gramática Expositiva,

ministra uma breve e significativa aula a respeito do uso do

ponto final na divisão dos período. Vale a pena transcrevê-

la:

Mais comumente os períodos se relacionam entre si

para constituírem o discurso. Neste caso devem eles

conter um pensamento completo e gramaticalmente

independente da série dos pensamentos parciais, cuja

totalidade forma o discurso. Não há, nem pode haver,

regras fixas para a divisão dos períodos assinalados

pelos ponto final. Em nosso clássicos havia a tendência

de amplificar o pensamento em longos períodos,

recheados de multiplicadas circunstâncias, dificultando

a inteligência da frase.

A tendência moderna é resolver essas

circunstâncias em novos períodos, encurtando-os e

multiplicando-os, e tornando, destarte, a expressão do

pensamento geral mais analítica e mais clara. Do

critério e traquejo literário do escritor depende a boa

divisão dos períodos no desenvolvimento de qualquer

assunto."

Não menos significativa e complementar é a opinião de

Napoleão Mendes de Almeida, em sua Gramática Metódica

da Língua Portuguesa:

"Indica o ponto final a conclusão do período

gramatical. São desnecessários, para o caso, exemplos;

uma observação, no entanto, devo fazer; tome o aluno

um trabalho literário de clássicos nossos, e veja o

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período: longo, "recheado de múltiplas circunstâncias,

de compreensão árdua". Modernamente, o período se

resolve, multiplica-se em períodos mais curtos, de

acordo com as circunstâncias, tornando-se mais claro,

rápido e incisivo. Regra, porém, não há, nem pode

haver, para a divisão dos períodos gramaticais. É

assunto que depende em grande parte do autor,

pertencendo-lhe ao estilo. "Do critério e traquejo

literário do escritor depende a boa divisão dos períodos

no desenvolvimento de qualquer assunto".

Não devemos levar ao exagero a multiplicação dos

períodos. Se os longos períodos dos clássicos produzem

cansaço, os períodos demasiadamente curtos de certos

modernistas causam fastio. Se coisa bela existe em

literatura é saber o escritor concatenar subordinadas e

coordenadas, dando ao período um todo harmonioso,

fluente, natural.

Quando, terminado um período, podemos começar

o outro na mesma linha, e quando começá-lo na linha

seguinte? A sequencia do pensamento é que deve servir

de critério. Havendo separação, havendo corte no

pensamento, começa-se o período seguinte na outra

linha; se o pensamento continua constituindo o período

seguinte consequência ou continuação do período

anterior, o novo período se inicia na mesma linha."

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RETICÊNCIAS

As reticências (...) indicam uma interrupção no

pensamento, a desnecessidade de exprimi-lo ou uma

hesitação. São usadas, principalmente para indicar:

a) suspensão, interrupção do pensamento ou corte da

frase de um personagem pelo interlocutor, nos diálogos.

Exemplos:

— Por muito tempo eu pensei que ele fosse o

culpado... mas estava enganado.

Não me diga que... A saudade dói...

b) hesitação ou breve interrupção do pensamento no

meio do período.:

— Não sei... tudo isso aconteceu de repente.

c) sugerir o prolongamento da ideia no fim de um

período gramaticamente completo. Exemplos:

Estes sonhos todos, juro, não serão em vão...

Silêncio... A cidade dorme... A lua derrama-se

sobre as ruas vazias... A brisa sopra suavemente... Mal

balança os galhos da roseira...

d) sugerir movimento ou a continuação de um fato.

Exemplos:

E os dias se sucedem sempre iguais...

As folhas caiam... caiam... caiam... Anunciava-se o

inverno.

e) substituir o ponto de interrogação para indicar

chamamento ou interpelação. Exemplos:

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— José... — chamou ela.

— Maria... Onde estará você?

f) assinalar a supressão de palavra(s) numa frase

transcrita ou num excerto. Pode vir ou não entre parênteses.

Exemplos

A vida... foi feita para ser vivida.

Ali constava a declaração: "Declaro (...) que sou

culpado.

É bom lembrar que, nesses casos, as reticências são

meramente gráficas e não interferem na entonação, durante

a leitura.

Além disso, como recurso estilístico, as reticências,

tanto quanto o ponto de exclamação, são sinais gráficos que

podem ser sugestiva e criativamente explorados, pelos seus

matizes, na linguagem afetiva e poética, de modo arbitrário

e subordinado ao estado emotivo do autor.

Por outro lado, numa dissertação, seu uso pode

comprometer o sentido, tornando-o vago e frouxo. O bom

senso deve ditar sempre sua utilização, adequando-o ao

contexto.

TRAVESSÃO

Travessão (—) é um traço maior do que o hífen para:

a) indicar o início da fala de um personagem ou a

mudança de interlocutor num diálogo. Exemplos:

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— Quem vem lá?

— Um solitário que deseja companhia.

b) separar expressões ou frases explicativas ou

apositivas. Exemplos:

Ali estava o símbolo de uma nova vida — a

América.

Mostrou a casa — sinistra mansão — onde morava.

O travessão substitui o parênteses, as vírgulas e os dois

pontos num recurso estilístico muito expressivo, isolando

palavras ou orações, enfatizando o pensamento ou

chamando a atenção do leitor. Exemplos:

1) Chegaram, afinal, ao porto seguro: Rio de

Janeiro.

Chegaram, afinal, ao porto seguro — Rio de

Janeiro.

2) Era um homem severo (muito) aquele porteiro.

Era um homem severo — muito — aquele porteiro.

3) — Não sei, disse ele, quem é o responsável.

— Não sei — disse ele — quem é o responsável.

c) ligar palavras que formam um encadeamento,

indicando um itinerário. Exemplos:

A fronteira Brasil — Paraguai.

Voo São Paulo — Lisboa — São Paulo todo mês.

d) evitar a repetição de um termo já mencionado.

Exemplos:

Xavier (José Joaquim da Silva —).

Ser (Sintaxe do verbo —).

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VÍRGULA

Este é, com certeza, o sinal de pontuação que mais

dores de cabeça provoca em quem escreve. Há uma história

de um escritor que, ao ser indagado por um amigo sobre o

que estivera fazendo durante toda uma manhã, respondeu:

— Colocando uma vírgula num poema.

— E o que fizeste a tarde toda? — indagou o outro

— Tirando-a.

Exageros à parte, já vimos, no início deste livro, a

importância da pontuação no sentido e isso nunca é demais

repetir.

A vírgula apresenta dificuldades em seu uso? Sim e

não. Tudo isso vai depender de seu grau de familiaridade

com a língua. Quando mais ler e observar a pontuação

empregada pelos mestres, mais natural lhe será o uso dela. É

possível sistematizar o estudo da colocação da vírgula? Sim,

claro. Para isso, vamos estudá-la segundo sua colocação no

interior de uma oração, separando seus termos, ou no

período, separando orações.

Antes disso, porém, vejamos o que disse Napoleão

Mendes de Almeida, na Gramática Metódica da Língua

Portuguesa, a respeito da vírgula:

"É comum vermos esta doutrina: "A vírgula indica

pequena pausa". — De fato, essa indicação tem a vírgula,

mas não devemos aceitar como certa a recíproca:

"Havendo pausa, há vírgula". Essa recíproca induz a erros;

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pausas existem que na leitura se fazem meramente por

ênfase; vezes há — e isso facilmente poderá comprovar o

aluno — que separamos, na leitura ou em um discurso, o

sujeito do verbo; outras, em que separamos o verbo do seu

complemento, mas erro cometeremos se graficamente

representarmos tais pausas por vírgula, por que não se

pode pôr vírgula entre sujeito e o verbo nem entre o verbo

e o seu complemento, ou seja, não se concebe que se

separem termos que mantém entre si relação sintática.

Em grande número de casos, as vírgulas exercem

papel de parênteses; aberto o parêntese, claro é que o

devemos depois fechar: "Pedro (de acordo com as ordens

recebidas) partiu". — Se por vírgulas substituirmos os

parênteses que entram nesse período, teremos: "Pedro, de

acordo com as ordens recebidas, partiu".

A supressão de uma das vírgulas constituirá erro, pois

virá quebrar a concatenação da oração, por separar o

sujeito Pedro do verbo partiu: OU AMBAS AS VÍRGULAS

SE COLOCAM, OU AS DUAS SE TIRAM.

Essa simples norma engloba várias regrinhas

comumente oferecidas em gramáticas.

Sem que a pessoa saiba o que venha a ser oração

interferente, subordinada adjetiva explicativa, aposto,

vocativo, saberá colocar com precisão as vírgulas.

Exemplos ofereço em que, para mostrar a sequencia do

período, os parênteses aparecem em lugar das vírgulas:

"Damão (condenado à morte) impetrou ir primeiro à sua

casa" — "Vem ( tu que dúvidas da honra) observar o

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proceder deste pobre" — Francisco (com dinheiro ganho no

negócio) comprou uma linda chácara" — "Diógenes

(filósofo cínico) morava dentro de uma cuba"— "Os reinos

e as terras (segundo a sentença do Eclesiástico) passam de

umas a outras gentes"— "Nem mesmo agora (disse deles o

chefe) devemos retroceder" — "O homem (que é mortal) é

apenas forasteiro na terra".

Uma vez, em todos esses exemplos, excluídas a locução

que ficou entre parênteses, aparecerão ligados os termos

essenciais da oração ou os que tenham entre si íntima

relação sintática:

"Damão impetrou ir..." — "Francisco comprou..."

"Vem observar... " — "Diógenes morava..."etc."

Sem dúvida, para os casos citados, a orientação do

Prof. Napoleão pode ajudar muito no caso de uma dúvida.

Mas, para que não reste a menor dúvida, vamos analisar o

emprego da vírgula segundo a proposta inicial: sua

colocação.

A Vírgula é usada no interior da oração para:

a) separar os elementos de uma enumeração.

Exemplos:

A família estava completa: pai, mãe, filhos e o

cachorrinho.

Quero três balões: um azul, um verde e um vermelho.

b) Nos casos de polissíndeto ("Espécie de pleonasmo

que consiste em repetir uma conjunção maior número de

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vezes do que o exige a ordem gramatical. Ex.: "E zumbia, e

voava, e voava, e zumbia." (Machado de Assis, Poesias

Completas, p. 314); "Contra a destruição se aferra à vida, e

luta, / e treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta /

A voz, que na solidão só ele escuta, - só" (Olavo Bilac,

Poesias, p. 269.)" Outro exemplo:

Ou ele, ou eu, ou alguém, afinal, fará o trabalho.

E chove, e troveja, e caem raios, assustando a todos.

Observe que, nos exemplos, a presença da conjunção

"e" não impediu o uso da vírgula. Nesses casos, a

construção é um recurso estilístico empregado pelo autor

para enfatizar os acontecimentos.

c) Isolar o vocativo. Para isso, é importante que você

saiba exatamente o que é o vocativo. Trata-se de um termo

independente, usado para chamar por alguém, interpelar ou

invocar um ouvinte real ou imaginário. Representa um apelo

ou um chamado. Veja o exemplo:

Crianças, deixem de bagunça!

A palavra "crianças" indica um apelo, um chamado,

por isso é um vocativo, que pode vir no começo, no meio ou

no fim de uma oração, sem prejuízo do sentido. Exemplos:

Crianças, deixem de bagunça!

Deixem, crianças, de bagunça!

Deixem de bagunça, crianças!

O que nos interesse, particularmente, no estudo do

vocativo aqui é observar que ele vem sempre acompanhado

de vírgula. Além disso, pode também aparecer sozinho ou

acompanhado da interjeição "ó":

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Crianças, deixem de bagunça!

Ó crianças, deixem de bagunça!

Preste atenção, nesses casos, para a interjeição usada.

Não confunda "ó", que aparece nos vocativos, com "oh!",

usada nas orações exclamativas. Este indica admiração, não

tem acendo e é seguido de "h" e ponto de exclamação.

Pode, também, vir acompanhado de um adjunto.

Exemplos:

Crianças travessas, deixem de bagunça!

Crianças da primeira série, deixem de bagunça!

Ou pode ser constituído de duas ou mais pessoas,

separadas por vírgulas ou pela conjunção aditiva. Exemplos:

José, Manuel, façam o trabalho agora!

José e Manuel, façam o trabalho agora!

d) Isolar o aposto. Aqui também é necessário um

parênteses para que o conceito de aposto fique

perfeitamente entendido. Aposto é um tipo de adjunto

adnominal e pode ser definido como uma palavra ou grupo

de palavras que explica um ou vários termos expressos

numa oração. Ou , ainda, "é o termo que explica,

desenvolve, identifica ou resume um outro termo da oração,

independente da função sintática que este exerça", na

definição do professor Dilson Catarino. Exemplos:

Victor Hugo, escritor, era francês.

Curitiba, capital ecológica e turística do Paraná, é

muito visitada.

No primeiro exemplo, o aposto "escritor" explica quem

era a pessoa citada. No segundo, ele acrescenta explicações

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ao sentido da palavra "Curitiba". Observe, também, que nos

dois exemplos, o aposto, vindo após o fundamental, a

palavra explicada ou modificada (Victor Hugo e Curitiba), é

colocado entre vírgulas.

Pode constituído de títulos profissionais ou

hierárquicos e, como na regra anterior, sempre que vier

depois do fundamental, será separado por vírgulas.

Exemplos:

Caixa, o duque, foi um grande pacificador.

Fernando Henrique, o presidente, estabilizou a moeda.

Francisco, o tenente, era o líder da tropa.

O aposto pode também ser formado por uma Oração

Subordinada Adjetiva Explicativa. Exemplos:

Iracema, que é um livro de José de Alencar, conta a

história de Ceci e Peri.

Todo homem, que é corajoso, também é um pouco de

louco em si.

e) Isolar palavras e expressões explicativas,

resumitivas, continuativas, conclusivas, retificativas,

enfáticas e as conjunções intercaladas de um modo geral.

Exemplos:

Era, sem exagero de minha parte, a coisa mais feia do

mundo.

A mim, com certeza, ninguém desafiaria.

Todos, quero dizer, quase todos são culpados.

f) Separar o adjunto adverbial antecipado. Se você não

conhece bem o assunto, este é o momento de recapitular.

Advérbio é uma palavra invariável cuja função é modificar

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o adjetivo, o verbo e o próprio advérbio, acrescentando-lhe

alguma circunstância. Por exemplo:

Bom (adjetivo) Muito bom (advérbio + adjetivo)

Sintaticamente, os advérbios podem ser simples (aqui,

hoje, talvez, não, etc.) ou conjuntivo, que acumulam a

função de conjunção (onde, quando, como, enquanto,

entretanto, etc.)

Quanto ao sentido, classificam-se em tantas classes

quantas as circunstâncias que indicam. Exemplos:

1) de lugar: aqui, ali, acolá, aquém, longe, perto,

adiante, dentro, fora, onde, algures, nenhures, alhures,

abaixo, acima.

2) de tempo: hoje, ontem, amanhã, cedo, tarde, nunca,

sempre, ora, agora, então, antes, depois, ainda,

entrementes, presentemente, atualmente.

3) de modo: bem, mal, assim, apenas, acinte, adrede,

rente, cerca, ainda, também. Os terminados em "mente" são

formados geralmente de adjetivos: normalmente,

bondosamente.

4) de qualidade: muito, pouco, bastante, assaz, mais

menos, tão, quão, tanto, quanto, que, algo, quase, meio,

metade, todo.

5) de ordem: primeiro, primeiramente,

secundariamente, antes, depois.

6) de afirmação: sim, deveras, certamente.

7) de dúvida: talvez, quiçá, caso, acaso, porventura.

8) de negação: não, nunca, jamais, nada.

9) de designação: eis, eis-que, eis-aqui, eis-aí, eis-ali.

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Quanto à forma, classificam-se em Advérbios

propriamente ditos e Locuções Adverbiais. Advérbios

propriamente ditos são palavras simples ou compostas,

como as vistas acima. Locuções adverbiais são duas ou mais

palavras que exprimem uma das circunstâncias próprias dos

advérbios. Exemplos:

Às claras, às cegas, às tontas, às pressas, ao longe, a

granel, a súbita, a cavalo, à bala, a esmo, a fio, à sorrelfa, à

socapa, a prumo, a olho, ao vivo, a tiro, de primeiro, de

força, de longe, de golpe, de roldão, de chofre, de vagar, de

indústria, de seguro, de gatinhos, de rojo, de improviso, em

barda, sem dúvida, com certeza, pouco a pouco, a pouco e

pouco, de mais, nunca jamais, a seu tempo, a tempo, de

tempos, de tempos a tempos, de juro, de ato, pelo contrário,

ao contrário, em breve, dentro em pouco.

Como palavra que altera o sentido de uma outra, o

normal é que venha logo após a palavra alterada. Quando o

advérbio ou o adjunto adverbial está deslocado de sua

posição natural, deve ser isolado por vírgulas. Exemplo:

O aluno morava longe (longe altera o sentido de

"morava" e sua posição normal é após o verbo).

Longe, morava o aluno (a vírgula assinala o

deslocamento.

A vírgula pode ser dispensada se o adjunto adverbial

tiver pouca extensão, constituído de uma só palavra, por

exemplo. Mantê-la, nesses casos, só se justifica se for para

dar ênfase ao adjunto. Exemplo:

Trabalha-se aqui ( ordem normal).

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Aqui, trabalha-se (adjunto deslocado e isolado por

vírgula).

Aqui trabalha-se (adjunto deslocado sem vírgula).

Depois de "sim" ou "não", colocados no principio da

sentença, ;é obrigatório o uso da vírgula. Exemplos:

— Sim, é nossa obrigação.

— "Não, isso é obrigação do governo.

Da mesma forma, depois de "assim", "então", "demais"

e de outros advérbios e locuções adverbiais, empregados em

princípios de sentenças, com sentido de conjunção.

Exemplos:

Então, o que vai fazer?

Assim, confiamos em você.

Afinal, ninguém pediu aquilo.

g) Separar termos repetidos. Exemplos:

Tudo, tudo justificava uma ação rápida.

Ninguém, ninguém mesmo tinha o direito de fazer isso.

Tudo se resume a nada, nada, nada.

h) Indicar facultativamente a omissão de um termo da

oração, subentendido ou citado anteriormente. Essa figura é

chamada de zeugma. Exemplo:

O carro de Mário era azul e o de Lourenço, vermelho

(a vírgula substitui o verbo "era", evitando a repetição).

i) Separar nomes de lugares nas datas. Exemplo:

Londrina, 1 de outubro de 1999/

Para finalizar o uso da vírgula no interior da oração, é

importante lembrar que ela jamais deve ser usada para

separar:

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1) o sujeito do predicado. Exemplos:

Correto: Mário gosta de estudar.

Errado: Mário, gosta de estudar.

Correto: As alunas e as professoras da escola

correram assustadas.

Errado: As alunas e as professoras da escola,

correram assustadas.

2) o verbo de seu complemento, seja objeto

direto, indireto ou um predicativo. Exemplos.

Correto: Visitamos a casa grande da colina.

Errado: Visitamos, a casa grande da colina.

Correto: Todos nós precisamos de dinheiro.

Errado: Todos nós precisamos, de dinheiro.

Correto: Maria é uma jovem encantadora.

Errado: Maria é, uma jovem encantadora.

A Vírgula é usada entre orações para:

a) Separar Orações Coordenadas

Assindéticas, isto é, orações que não são separadas

por conjunção. Vamos aproveitar o ensejo para

recapitular o assunto?

Período é uma ou mais orações com sentido completo.

Divide-se em período simples, quando constituído de apenas

uma oração, e composto, quando formado por duas ou mais

orações. Os períodos compostos, por seu turno, podem ser

por coordenação ou por subordinação. Por coordenação:

"Modalidade de construção de períodos na qual as orações

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têm sentido independente e são separadas por vírgula ou

ponto e vírgula, ou são relacionadas entre si por conjunções

coordenativas. Ex.: Entrou na sala, olhou apressadamente ao

redor e saiu." Por subordinação: "Modalidade de construção

de períodos na qual uma ou mais orações, ditas

subordinadas, dependem de outra(s) ou da principal: Sei que

ele sairá; Sei que ele é meu amigo e que não me trairá."

Neste último, sem a oração subordinada o período fica

incompleto, sem sentido.

As orações classificam-se em absolutas, principais,

coordenadas e subordinadas. Oração absoluta é a que tem

sentido completo ou independente. Exemplos:

Todos chegaram à mesma hora.

As meninas foram embora cedo e os meninos ficaram.

As crianças ficaram na casa, mas os adultos tiveram

de enfrentar o sol.

Observe que as orações do segundo e do terceiro

períodos, muito embora unidas por conjunções, têm seu

sentido completo se escritas isoladamente (As meninas

foram embora cedo. Os meninos ficaram. As crianças

ficaram na casa. Os adultos tiveram de enfrentar o sol.)

Oração principal tem o sentido principal no período e

embora não dependa de outra oração, é completada por

outra ou outras orações, a ela subordinadas. Por exemplo:

Convém que você venha.

A oração principal "Convém" pode existir por si, mas

seu sentido se amplia e fica mais específico, quando

acompanhada de uma oração subordinada (que você venha).

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Oração coordenada é a que se liga a uma outra de igual

função por uma conjunção coordenativa. Em determinados

casos, pode exercer o duplo papel de oração coordenada e

subordinada. Quando separada da anterior por vírgula,

temos uma oração coordenada assindética. Quando unida

por conjunção coordenativa, temos uma oração coordenada

sindética. Exemplos:

Todos chegaram e realizaram suas tarefas.

Quero que me ouças e que voltes cedo hoje.

No primeiro exemplo, "e realizaram suas tarefas" é

uma oração coordenada sindética, porque separada pela

conjunção aditiva "e". No segundo exemplo, "Quero" é a

oração principal; "que me ouças" e "que voltes cedo" são

orações a ela subordinadas. Além disso, "que voltes cedo" é

uma oração coordenada sindética em relação à anterior,

"que me ouças".

As orações coordenadas sindéticas podem ser aditivas,

adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas,

conforme sua função no período.

Oração subordinada completa o sentido da

principal, de que depende e a qual é ligada por

conjunções subordinativas ou pelas formas

nominais do verbo. Dividem-se em Substantivas,

Adjetivas e Adverbiais, conforme a função.

b) separar Orações Subordinadas

Adverbiais, especialmente quando antepostas à

principal. Exemplos:

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Porque fiz minhas tarefas, fui dispensado da aula.

Ainda que eu fale a língua dos anjos, jamais seria

entendido.

Caso todos compareçam, aprovaremos o projeto.

Se eu pudesse, teria ido imediatamente.

Ao embarcar, sua expressão era de tristeza.

Calando-se a multidão, ele começou seu discurso.

Entendida a lição, o professor passou os exercícios.

c) separar Orações Substantivas, quando antepostas à

principal. Exemplos:

Quanto pede, todos sabemos que é demais.

Aos que começam, apresentamos nossas saudações.

Àqueles que chegam com coragem, saudamos.

d) Isolar orações intercaladas de qualquer natureza.

Exemplos:

Admitir o erro, convenhamos, é a melhor coisa a fazer.

Ele sorriu, todos sorriem sempre, quando a garota

protestou.

e) isolar Orações Subordinadas Adjetivas Explicativas.

As orações subordinadas adjetivas são classificadas em

Explicativa e Restritiva. A Oração Subordinada Explicativa

indica uma qualidade inerente ao substantivo a que se

referem, sendo uma simples explicação, realçando um

detalhe do termo que o precede. São dispensáveis ao sentido

da frase: "O homem, que é mortal, acredita na

imortalidade." A Oração Subordinada Restritiva, por seu

turno, delimita o sentido do termo que a precede,

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particularizando-o. Se eliminada, causa prejuízo ao sentido

da oração principal. Liga-se em sem pausa a um substantivo

ou a um pronome)antecedente, não sendo separado por

vírgula: "O homem que é justo não se afasta dos princípios

da lei e da religião." No primeiro exemplo, "que é mortal", o

sentido é amplo, pois todos os homens são mortais. No

segundo, esse sentido é restringido, pois nem todos os

homens são justos. Exemplos de orações subordinadas

adjetivas explicativas:

f) Separar os membros paralelos de um provérbio ou

ditado. Exemplos:

Mão fria, coração quente.

Banho e cama, doença chama.

Chuva e sol, casamento de espanhol.

Sol e chuva, casamento de viúva.

Casos especiais de uso da Vírgula:

a) Usa-se a vírgula antes da conjunção "e" quando:

1) a conjunção dá início a uma outra oração no período

e o sujeito dessa oração é diferente do sujeito da oração

anterior. Exemplos:

Fomos até lá, e a casa estava fechada.

José havia encontrado um trabalho, e seu patrão pediu

que iniciasse imediatamente.

2) o "e" tem sentido de conjunção adversativa,

equivalendo a "mas". Exemplos:

Tivemos o tesouro nas mãos, e o deixamos escapar.

Vive prometendo, e não cumpre nada.

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3) a conjunção separa complementos de verbos

diferentes. Exemplos:

Fez muitas obras, e mais obras teria feito se tivesse

tempo.

Li aqueles livros, e outros livros iria ler ainda em

minhas férias.

4) como recurso estilístico, deseja-se enfatizar ou

realçar a oração iniciada pela conjunção aditiva. Exemplos:

Providências precisam ser tomadas, e tomadas já.

Vamos fazer o que for preciso, e fazer logo.

5) a conjunção é precedida por uma frase ou expressão

intercalada. Exemplos:

O comandante dos exércitos brasileiros, Duque de

Caxias, e seus comandados, combateram heroicamente.

A escola, sempre agitada, e a lanchonete eram pontos

de encontro dos jovens da cidade.

6) precede a expressão "vice-versa". Exemplos:

Ao pai cabe amar os filhos, e vice-versa.

Devemos confiar em nossos dirigentes, e vice-versa.

b) Usa-se a vírgula depois da conjunção "e" quando

houver uma intercalação após ela. Exemplo:

Chegamos juntos e, ao chegarmos, fomos recebidos

pelos donos da casa.

Iniciou a apresentação e, um tanto nervoso, trocou os

pés pelas mãos.

Se houver uma intercalação antes da conjunção, esta

ficará isolada por vírgulas. Exemplos:

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Chegamos juntos, muito casados, e, ao chegarmos,

fomos recebidos pelos donos da casa.

Iniciou a apresentação, muito breve, e, um tanto

nervoso, trocou os pés pelas mãos.

c) não se usa a vírgula antes de "etc.", já que esta é

uma abreviatura de "et cetera", que significa "e as demais

coisas".

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403

EXERCÍCIOS DE PONTUAÇÃO

Para testar seus conhecimentos e, ao mesmo tempo,

desenvolver seu aprendizado e automatizar o uso das regras

de pontuação, tornando-as fluentes e naturais, nada melhor

que exercitar-se com o auxílio de grandes mestres da

literatura brasileira e portuguesa.

Nas páginas que se seguem há textos de autores

famosos, sem pontuação. Exercite-se, pontuando-os, depois

compare seu trabalho com o deles, na segunda parte deste

capítulo.

Sempre que tiver alguma dúvida, não deixe de recorrer

às regras apresentadas no livro ou de consultar sua

gramática.

Não tente fazer tudo de uma vez só. Vá aos poucos.

Meia página por dia; uma página por semana, que seja, mas

mantenha uma certa regularidade. Esse contato constante

com os textos será sempre benéfico.

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404

O CIÚME

Bocage

Entre as tartareas forjas sempre acesas

Jaz aos pés do tremendo estígio nume

O carrancudo o rábido Ciúme

Ensanguentadas as corruptas presas

Traçando o plano de cruéis empresas

Fervendo em ondas de sulfúreo lume

Vibra das fauces o letal cardume

De hórridos males de hórridas tristezas

Pelas terríveis Fúrias instigado

Lá sai do Inferno e para mim se avança

O negro monstro de áspides toucado

Olhos em brasa de revés me lança

Oh dor Oh raiva Oh morte Ei lo a meu lado

Ferrando as garras na vipérea trança

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AMOR

Camões

Amor é fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer

É solitário andar por entre a gente

É nunca contentar se de contente

É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade

É servir a quem vence o vencedor

É ter com quem nos mata lealdade

Mas como pode causar seu favor

Nos corações humanos amizade

Se tão contrario a si é o mesmo Amor

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CÍRCULO VICIOSO

Machado de Assis

Bailando no ar gemia inquieto vaga lume

Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela

Que arde no eterno azul como uma eterna vela

Mas a estrela fitando a lua com ciúme

Pudesse eu copiar te o transparente lume

Que da grega coluna à gótica janela

Contemplou suspirosa a fronte amada e bela

Mas a lua fitando o sol com azedume

Mísera Tivesse eu aquela enorme aquela

Claridade imortal que toda a luz resume

Mas o sol inclinando a rútila capela

Pesa me esta brilhante auréola de nume

Enfara me esta luz e desmedida umbela

Por que não nasci eu um simples vaga lume

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407

UM APÓLOGO

Machado de Assis

Era uma vez uma agulha que disse a um novelo de

linha

Por que está você com esse ar toda cheia de si toda

enrolada para fingir que vale alguma cousa neste mundo

Deixe me senhora

Que a deixe Que a deixe por quê Porque lhe digo que

está com um ar insuportável Repito que sim e falarei sempre

que me der na cabeça

Que cabeça senhora A senhora não é alfinete é agulha

Agulha não tem cabeça Que lhe importa o meu ar Cada qual

tem o ar que Deus lhe deu Importe se com a sua vida e deixe

a dos outros

Mas você é orgulhosa

Decerto que sou

Mas por quê

É boa Porque coso Então os vestidos e enfeites de

nossa ama quem é que os cose senão eu

Você Esta agora é melhor Você é que os cose Você

ignora que quem os cose sou eu e muito eu

Você fura o pano nada mais eu é que coso prendo um

pedaço ao outro dou feição aos babados

Sim mas que vale isso Eu é que furo o pano vou

adiante puxando por você que vem atrás obedecendo ao que

eu faço e mando

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Também os batedores vão adiante do imperador

Você imperador

Não digo isso Mas a verdade é que você faz um papel

subalterno indo adiante vai só mostrando o caminho vai

fazendo o trabalho obscuro e ínfimo Eu é que prendo ligo

ajunto

Estavam nisto quando a costureira chegou a casa da

baronesa Não sei se disse que isto se passava em casa de

uma baronesa que tinha a modista ao pé de si para não andar

atrás dela Chegou a costureira pegou do pano pegou da

agulha pegou da linha enfiou a linha na agulha e entrou a

coser Uma e outra iam andando orgulhosas pelo pano

adiante que era a melhor das sedas entre os dedos da

costureira ágeis como os galgos de Diana para dar a isto

uma cor poética E dizia a agulha

Então senhora linha ainda teima no que dizia há pouco

Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo

eu é que vou entre os dedos dela unidinha a eles furando

abaixo e acima

A linha não respondia nada ia andando Buraco aberto

pela agulha era logo enchido por ela silenciosa e ativa como

quem sabe o que faz e não está para ouvir palavras loucas A

agulha vendo que ela não lhe dava resposta calou se também

e foi andando E era tudo silêncio na saleta de costura não se

ouvia mais que o plic plic plic plic da agulha no pano

Caindo o sol a costureira dobrou a costura para o dia

seguinte continuou ainda nesse e no outro até que no quarto

acabou a obra e ficou esperando o baile

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409

Veio a noite do baile e a baronesa vestiu se A

costureira que a ajudou a vestir se levava a agulha espetada

no corpinho para dar algum ponto necessário E enquanto

compunha o vestido da bela dama e puxava a um lado ou

outro arregaçava daqui ou dali alisando abotoando

acolchetando a linha para mofar da agulha perguntou lhe

Ora agora diga me quem é que vai ao baile no corpo da

baronesa fazendo parte do vestido e da elegância Quem é

que vai dançar com ministros e diplomatas enquanto você

volta para a caixinha da costureira antes de ir para o balaio

das mucamas Vamos diga lá

Parece que a agulha não disse nada mas um alfinete de

cabeça grande e não menor experiência murmurou à pobre

agulha

Anda aprende tola Cansas te em abrir caminho para ela

e ela é que vai gozar a vida enquanto aí ficas na caixinha de

costura Faze como eu que não abro caminho para ninguém

Onde me espetam fico

Contei esta história a um professor de melancolia que

me disse abanando a cabeça

Também eu tenho servido de agulha a muita linha

ordinária

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MISSA DO GALO

Machado de Assis

Nunca pude entender a conversação que tive com uma

senhora há muitos anos Contava eu dezessete ela trinta Era

noite de Natal Havendo ajustado com um vizinho irmos à

missa do galo preferi não dormir combinei que eu iria

acordá lo à meia noite

A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão

Meneses que fora casado em primeiras núpcias com uma de

minhas primas A segunda mulher Conceição e a mãe desta

acolheram me bem quando vim de Mangaratiba para o Rio

de Janeiro meses antes a estudar preparatórios Vivia

tranquilo naquela casa assobradada da Rua do Senado com

os meus livros poucas relações alguns passeios A família era

pequena o escrivão a mulher a sogra e duas escravas

Costumes velhos Às dez horas da noite toda a gente estava

nos quartos às dez e meia a casa dormia Nunca tinha ido ao

teatro e mais de uma vez ouvindo dizer ao Meneses que ia

ao teatro pedi lhe que me levasse consigo Nessas ocasiões a

sogra fazia uma careta e as escravas riam à socapa ele não

respondia vestia se saía e só tornava na manhã seguinte

Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo

em ação Meneses trazia amores com uma senhora separada

do marido e dormia fora de casa uma vez por semana

Conceição padecera a princípio com a existência da

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comborça mas afinal resignara se acostumara se e acabou

achando que era muito direito

Boa Conceição Chamavam lhe a santa e fazia jus ao

título tão facilmente suportava os esquecimentos do marido

Em verdade era um temperamento moderado sem extremos

nem grandes lágrimas nem grandes risos No capítulo de que

trato dava para maometana aceitaria um harém com as

aparências salvas Deus me perdoe se a julgo mal Tudo nela

era atenuado e passivo O próprio rosto era mediano nem

bonito nem feio Era o que chamamos uma pessoa simpática

Não dizia mal de ninguém perdoava tudo Não sabia odiar

pode ser até que não soubesse amar

Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro Era

pelos anos de 1861 ou 1862 Eu já devia estar em

Mangaratiba em férias mas fiquei até o Natal para ver a

missa do galo na Corte A família recolheu se à hora do

costume eu meti me na sala da frente vestido e pronto Dali

passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar

ninguém Tinha três chaves a porta uma estava com o

escrivão eu levaria outra a terceira ficava em casa

Mas Sr Nogueira que fará você todo esse tempo

perguntou me a mãe de Conceição

Leio D Inácia

Tinha comigo um romance Os Três Mosqueteiros

velha tradução creio do Jornal do Comércio Sentei me à

mesa que havia no centro da sala e à luz de um candeeiro de

querosene enquanto a casa dormia trepei ainda uma vez ao

cavalo magro de D Artagnan e fui me às aventuras Dentro

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em pouco estava completamente ébrio de Dumas Os

minutos voavam ao contrário do que costumam fazer

quando são de espera ouvi bater onze horas mas quase sem

dar por elas Entretanto um pequeno rumor que ouvi dentro

veio acordar me da leitura Eram uns passos no corredor que

ia da sala de visitas à de jantar levantei a cabeça logo depois

vi assomar à porta da sala o vulto de D Conceição

Ainda não foi perguntou ela

Não fui parece que ainda não é meia noite

Que paciência

Conceição entrou na sala arrastando as chinelinhas da

alcova Vestia um roupão branco mal apanhado na cintura

Sendo magra tinha um ar de visão romântica não

disparatada com o meu livro de aventuras Fechei o livro ela

foi sentar se na cadeira que ficava defronte de mim perto do

canapé Como eu lhe perguntasse se a havia acordado sem

querer fazendo barulho respondeu com presteza

Não Qual Acordei por acordar

Fitei a um pouco e duvidei da afirmativa Os olhos não

eram de pessoa que acabasse de dormir pareciam não ter

ainda pegado no sono Essa observação porém que valeria

alguma cousa em outro espírito depressa a botei fora sem

advertir que talvez não dormisse justamente por minha

causa e mentisse para me não afligir ou aborrecer Já disse

que ela era boa muito boa

Mas a hora já há de estar próxima disse eu

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Que paciência a sua de esperar acordado enquanto o

vizinho dorme E esperar sozinho Não tem medo de almas

do outro mundo Eu cuidei que se assustasse quando me viu

Quando ouvi os passos estranhei mas a senhora

apareceu logo

Que é que estava lendo Não diga já sei é o romance dos

Mosqueteiros

Justamente é muito bonito

Gosta de romances

Gosto

Já leu A Moreninha

Do Dr Macedo Tenho lá em Mangaratiba

Eu gosto muito de romances mas leio pouco por falta

de tempo Que romances é que você tem lido

Comecei a dizer lhe os nomes de alguns Conceição

ouvia me com a cabeça reclinada no espaldar enfiando os

olhos por entre as pálpebras meio cerradas sem os tirar de

mim De vez em quando passava a língua pelos beiços para

umedecê los Quando acabei de falar não me disse nada

ficamos assim alguns segundos Em seguida vi a endireitar a

cabeça cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo tendo

os cotovelos nos braços da cadeira tudo sem desviar de mim

os grandes olhos espertos

Talvez esteja aborrecida pensei eu

E logo alto

D Conceição creio que vão sendo horas e eu

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Não não ainda é cedo Vi agora mesmo o relógio são

onze e meia Tem tempo Você perdendo a noite é capaz de

não dormir de dia

Já tenho feito isso

Eu não perdendo uma noite no outro dia estou que não

posso e meia hora que seja hei de passar pelo sono Mas

também estou ficando velha

Que velha o que D Conceição

Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir De

costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas

agora porém ergueu se rapidamente passou para o outro lado

da sala e deu alguns passos entre a janela da rua e a porta do

gabinete do marido Assim com o desalinho honesto que

trazia dava me uma impressão singular Magra embora tinha

não sei que balanço no andar como quem lhe custa levar o

corpo essa feição nunca me pareceu tão distinta como

naquela noite Parava algumas vezes examinando um trecho

de cortina ou concertando a posição de algum objeto no

aparador afinal deteve se ante mim com a mesa de permeio

Estreito era o círculo das suas ideias tornou ao espanto de

me ver espertar acordado eu repeti lhe o que ela sabia isto é

que nunca ouvira missa do galo na Corte e não queria perdê

la

É a mesma missa da roça todas as missas se parecem

Acredito mas aqui há de haver mais luxo e mais gente

também Olhe a semana santa na Corte é mais bonita que na

roça S João não digo nem Santo Antônio

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Pouco a pouco tinha se reclinado fincara os cotovelos

no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos

espalmadas Não estando abotoadas as mangas caíram

naturalmente e eu vi lhe metade dos braços muito claros e

menos magros do que se poderia supor A vista não era nova

para mim posto também não fosse comum naquele

momento porém a impressão que tive foi grande As veias

eram tão azuis que apesar da pouca claridade podia contá las

do meu lugar A presença de Conceição espertara me ainda

mais que o livro Continuei a dizer o que pensava das festas

da roça e da cidade e de outras cousas que me iam vindo à

boca Falava emendando os assuntos sem saber por que

variando deles ou tornando aos primeiros e rindo para fazê

la sorrir e ver lhe os dentes que luziam de brancos todos

iguaizinhos Os olhos dela não eram bem negros mas escuros

o nariz seco e longo um tantinho curvo dava lhe ao rosto um

ar interrogativo Quando eu alteava um pouco a voz ele

reprimia me

Mais baixo Mamãe pode acordar

E não saía daquela posição que me enchia de gosto tão

perto ficavam as nossas caras Realmente não era preciso

falar alto para ser ouvido cochichávamos os dous eu mais

que ela porque falava mais ela às vezes ficava séria muito

séria com a testa um pouco franzida Afinal cansou trocou de

atitude e de lugar Deu volta à mesa e veio sentar se do meu

lado no canapé Voltei me e pude ver a furto o bico das

chinelas mas foi só o tempo que ela gastou em sentar se o

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roupão era comprido e cobriu as logo Recordo me que eram

pretas Conceição disse baixinho

Mamãe está longe mas tem o sono muito leve se

acordasse agora coitada tão cedo não pegava no sono

Eu também sou assim

O quê perguntou ela inclinando o corpo para ouvir

melhor

Fui sentar me na cadeira que ficava ao lado do canapé

e repeti lhe a palavra Riu se da coincidência também ela

tinha o sono leve éramos três sonos leves

Há ocasiões em que sou como mamãe acordando custa

me dormir outra vez rolo na cama à toa levanto me acendo

vela passeio torno a deitar me e nada

Foi o que lhe aconteceu hoje

Não não atalhou ela

Não entendi a negativa ela pode ser que também não a

entendesse Pegou das pontas do cinto e bateu com elas

sobre os joelhos isto é o joelho direito porque acabava de

cruzar as pernas Depois referiu uma história de sonhos e

afirmou me que só tivera um pesadelo em criança Quis

saber se eu os tinha A conversa reatou se assim lentamente

longamente sem que eu desse pela hora nem pela missa

Quando eu acabava uma narração ou uma explicação ela

inventava outra pergunta ou outra matéria e eu pegava

novamente na palavra De quando em quando reprimia me

Mais baixo mais baixo

Havia também umas pausas Duas outras vezes pareceu

me que a vi dormir mas os olhos cerrados por um instante

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abriam se logo sem sono nem fadiga como se ela os

houvesse fechado para ver melhor Uma dessas vezes creio

que deu por mim embebido na sua pessoa e lembra me que

os tornou a fechar não sei se apressada ou vagarosamente

Há impressões dessa noite que me parecem truncadas ou

confusas Contradigo me atrapalho me Uma das que ainda

tenho frescas é que em certa ocasião ela que era apenas

simpática ficou linda ficou lindíssima Estava de pé os

braços cruzados eu em respeito a ela quis levantar me não

consentiu pôs uma das mãos no meu ombro e obrigou me a

estar sentado Cuidei que ia dizer alguma cousa mas

estremeceu como se tivesse um arrepio de frio voltou as

costas e foi sentar se na cadeira onde me achara lendo Dali

relanceou a vista pelo espelho que ficava por cima do

canapé falou de duas gravuras que pendiam da parede

Estes quadros estão ficando velhos Já pedi a Chiquinho

para comprar outros

Chiquinho era o marido Os quadros falavam do

principal negócio deste homem Um representava Cleópatra

não me recordo o assunto do outro mas eram mulheres

Vulgares ambos naquele tempo não me pareciam feios

São bonitos disse eu

Bonitos são mas estão manchados E depois

francamente eu preferia duas imagens duas santas Estas são

mais próprias para sala de rapaz ou de barbeiro

De barbeiro A senhora nunca foi a casa de barbeiro

Mas imagino que os fregueses enquanto esperam falam

de moças e namoros e naturalmente o dono da casa alegra a

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vista deles com figuras bonitas Em casa de família é que não

acho próprio É o que eu penso mas eu penso muita cousa

assim esquisita Seja o que for não gosto dos quadros Eu

tenho uma Nossa Senhora da Conceição minha madrinha

muito bonita mas é de escultura não se pode pôr na parede

nem eu quero Está no meu oratório

A ideia do oratório trouxe me a da missa lembrou me

que podia ser tarde e quis dizê lo Penso que cheguei a abrir

a boca mas logo a fechei para ouvir o que ela contava com

doçura com graça com tal moleza que trazia preguiça à

minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja Falava de

suas devoções de menina e moça Em seguida referia umas

anedotas de baile uns casos de passeio reminiscências de

Paquetá tudo de mistura quase sem interrupção Quando

cansou do passado falou do presente dos negócios da casa

das canseiras de família que lhe diziam ser muitas antes de

casar mas não eram nada Não me contou mas eu sabia que

casara aos vinte e sete anos

Já agora não trocava de lugar como a princípio e quase

não saíra da mesma atitude Não tinha os grandes olhos

compridos e entrou a olhar à toa para as paredes

Precisamos mudar o papel da sala disse daí a pouco

como se falasse consigo

Concordei para dizer alguma cousa para sair da espécie

de sono magnético ou o que quer que era que me tolhia a

língua e os sentidos Queria e não queria acabar a

conversação fazia esforço para arredar os olhos dela e

arredava os por um sentimento de respeito mas a ideia de

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parecer que era aborrecimento quando não era levava me os

olhos outra vez para Conceição A conversa ia morrendo Na

rua o silêncio era completo

Chegamos a ficar por algum tempo não posso dizer

quanto inteiramente calados O rumor único e escasso era um

roer de camundongo no gabinete que me acordou daquela

espécie de sonolência quis falar dele mas não achei modo

Conceição parecia estar devaneando Subitamente ouvi uma

pancada na janela do lado de fora e uma voz que bradava

Missa do galo Missa do galo

Aí está o companheiro disse ela levantando se Tem

graça você ficou de ir acordá lo ele é que vem acordar você

Vá que hão de ser horas adeus

Já serão horas perguntei

Naturalmente

Missa do galo repetiram de fora batendo

Vá vá não se faça esperar A culpa foi minha Adeus até

amanhã

E com o mesmo balanço do corpo Conceição enfiou

pelo corredor dentro pisando mansinho Saí à rua e achei o

vizinho que esperava Guiamos dali para a igreja Durante a

missa a figura de Conceição interpôs se mais de uma vez

entre mim e o padre fique isto à conta dos meus dezessete

anos Na manhã seguinte ao almoço falei da missa do galo e

da gente que estava na igreja sem excitar a curiosidade de

Conceição Durante o dia achei a como sempre natural

benigna sem nada que fizesse lembrar a conversação da

véspera Pelo Ano Bom fui para Mangaratiba Quando tornei

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ao Rio de Janeiro em março o escrivão tinha morrido de

apoplexia Conceição morava no Engenho Novo mas nem a

visitei nem a encontrei Ouvi mais tarde que casara com o

escrevente juramentado do marido

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TEXTOS PONTUADOS

O CIÚME

Bocage

Entre as tartareas forjas, sempre acesas,

Jaz aos pés do tremendo, estígio nume,

O carrancudo, o rábido Ciúme,

Ensanguentadas as corruptas presas.

Traçando o plano de cruéis empresas,

Fervendo em ondas de sulfúreo lume,

Vibra das fauces o letal cardume

De hórridos males, de hórridas tristezas.

Pelas terríveis Fúrias instigado,

Lá sai do Inferno, e para mim se avança

O negro monstro, de áspides toucado.

Olhos em brasa de revés me lança;

Oh dor! Oh raiva! Oh morte!... Ei-lo a meu lado

Ferrando as garras na vipérea trança.

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AMOR

Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como pode causar seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrario a si é o mesmo Amor?

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CÍRCULO VICIOSO

Machado de Assis

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela

Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,

Que, da grega coluna à gótica janela,

Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"

Mas a lua, fitando o sol com azedume:

"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume"!

Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Pesa-me esta brilhante auréola de nume...

Enfara-me esta luz e desmedida umbela...

Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"

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UM APÓLOGO

Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de

linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda

enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo

que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei

sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é

agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?

Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua

vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de

nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose?

Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo

um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou

adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao

que eu faço e mando...

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— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você, imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um

papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho,

vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo,

ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou a casa da

baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de

uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não

andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou

da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou

a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano

adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da

costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto

uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há

pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa

comigo; eu é que vou entre os dedos dela, unidinha a eles,

furando abaixo e acima...

A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto

pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa,

como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras

loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta,

calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na

saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic

da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a

costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no

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outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o

baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A

costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada

no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto

compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou

outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando,

acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe?

— Ora, agora, diga-me quem é que vai ao baile, no

corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância?

Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas,

enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de

ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete,

de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à

pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho

para ela, e ela é que vai gozar a vida, enquanto aí ficas na

caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho

para ninguém. Onde me espetam fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que

me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha

ordinária!

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MISSA DO GALO

Machado de Assis

Nunca pude entender a conversação que tive com uma

senhora, há muitos anos. Contava eu dezessete, ela trinta.

Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos

à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria

acordá-lo à meia-noite.

A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão

Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma

de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe

desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para

o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia

tranquilo, naquela casa assobradada da Rua do Senado, com

os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família

era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas.

Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava

nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao

teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia

ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões,

a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele

não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã

seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um

eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma

senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez

por semana. Conceição padecera, a princípio, com a

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existência da comborça; mas, afinal, resignara-se,

acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.

Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus

ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do

marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem

extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No

capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um

harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo

mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era

mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma

pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo.

Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.

Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era

pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em

Mangaratiba, em férias, mas fiquei até o Natal para ver "a

missa do galo na Corte". A família recolheu-se à hora do

costume, eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali

passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar

ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o

escrivão, eu levaria outra, a terceira ficava em casa.

— Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo?

perguntou-me a mãe de Conceição.

— Leio, D. Inácia.

Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros,

velha tradução, creio, do Jornal do Comércio. Sentei-me à

mesa que havia no centro da sala, e, à luz de um candeeiro

de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez

ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras.

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Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas. Os

minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer,

quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem

dar por elas. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro

veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que

ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo

depois vi assomar à porta da sala o vulto de D. Conceição.

— Ainda não foi? perguntou ela.

— Não fui; parece que ainda não é meia-noite.

— Que paciência!

Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da

alcova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura.

Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não

disparatada com o meu livro de aventuras. Fechei o livro;

ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim,

perto do canapé. Como eu lhe perguntasse se a havia

acordado, sem querer, fazendo barulho, respondeu com

presteza:

— Não! Qual! Acordei por acordar.

Fitei-a um pouco e duvidei da afirmativa. Os olhos não

eram de pessoa que acabasse de dormir; pareciam não ter

ainda pegado no sono. Essa observação, porém, que valeria

alguma cousa em outro espírito, depressa a botei fora, sem

advertir que talvez não dormisse justamente por minha

causa, e mentisse para me não afligir ou aborrecer. Já disse

que ela era boa, muito boa.

— Mas a hora já há de estar próxima, disse eu.

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— Que paciência a sua de esperar acordado, enquanto

o vizinho dorme! E esperar sozinho! Não tem medo de

almas do outro mundo? Eu cuidei que se assustasse quando

me viu.

— Quando ouvi os passos estranhei; mas a senhora

apareceu logo.

— Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o

romance dos Mosqueteiros.

— Justamente: é muito bonito.

— Gosta de romances?

— Gosto.

— Já leu A Moreninha?

— Do Dr. Macedo? Tenho lá em Mangaratiba.

— Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por

falta de tempo. Que romances é que você tem lido?

Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns. Conceição

ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os

olhos por entre as pálpebras meio cerradas, sem os tirar de

mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços, para

umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada;

ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a endireitar

a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo,

tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar

de mim os grandes olhos espertos.

"Talvez esteja aborrecida", pensei eu.

E logo alto:

— D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...

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— Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio;

são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite, é

capaz de não dormir de dia?

— Já tenho feito isso.

— Eu, não; perdendo uma noite, no outro dia estou que

não posso, e, meia hora que seja, hei de passar pelo sono.

Mas também estou ficando velha.

— Que velha o que, D. Conceição?

Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir. De

costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas;

agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou para o outro

lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a

porta do gabinete do marido. Assim, com o desalinho

honesto que trazia, dava-me uma impressão singular.

Magra, embora, tinha não sei que balanço no andar, como

quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu

tão distinta como naquela noite. Parava algumas vezes,

examinando um trecho de cortina ou concertando a posição

de algum objeto no aparador; afinal deteve-se, ante mim,

com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas

ideias; tornou ao espanto de me ver espertar acordado; eu

repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do

galo na Corte, e não queria perdê-la.

— É a mesma missa da roça; todas as missas se

parecem.

— Acredito; mas aqui há de haver mais luxo e mais

gente também. Olhe, a semana santa na Corte é mais bonita

que na roça. S. João não digo, nem Santo Antônio...

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Pouco a pouco, tinha-se reclinado; fincara os cotovelos

no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos

espalmadas. Não estando abotoadas as mangas, caíram

naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muito claros, e

menos magros do que se poderia supor. A vista não era nova

para mim, posto também não fosse comum; naquele

momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias

eram tão azuis, que apesar da pouca claridade, podia contá-

las do meu lugar. A presença de Conceição espertara-me

ainda mais que o livro. Continuei a dizer o que pensava das

festas da roça e da cidade, e de outras cousas que me iam

vindo à boca. Falava emendando os assuntos, sem saber por

que, variando deles ou tornando aos primeiros, e rindo para

fazê-la sorrir e ver-lhe os dentes que luziam de brancos,

todos iguaizinhos. Os olhos dela não eram bem negros, mas

escuros; o nariz, seco e longo, um tantinho curvo, dava-lhe

ao rosto um ar interrogativo. Quando eu alteava um pouco a

voz, ele reprimia-me:

— Mais baixo! Mamãe pode acordar.

E não saía daquela posição, que me enchia de gosto,

tão perto ficavam as nossas caras. Realmente, não era

preciso falar alto para ser ouvido; cochichávamos os dous,

eu mais que ela, porque falava mais; ela, às vezes, ficava

séria, muito séria, com a testa um pouco franzida. Afinal,

cansou; trocou de atitude e de lugar. Deu volta à mesa e veio

sentar-se do meu lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a

furto, o bico das chinelas; mas foi só o tempo que ela gastou

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em sentar-se, o roupão era comprido e cobriu-as logo.

Recordo-me que eram pretas. Conceição disse baixinho:

— Mamãe está longe, mas tem o sono muito leve; se

acordasse agora, coitada, tão cedo não pegava no sono.

— Eu também sou assim.

— O quê? perguntou ela inclinando o corpo, para ouvir

melhor.

Fui sentar-me na cadeira que ficava ao lado do canapé

e repeti-lhe a palavra. Riu-se da coincidência; também ela

tinha o sono leve; éramos três sonos leves.

— Há ocasiões em que sou como mamãe: acordando,

custa-me dormir outra vez, rolo na cama, à toa, levanto-me,

acendo vela, passeio, torno a deitar-me e nada.

— Foi o que lhe aconteceu hoje.

— Não, não, atalhou ela.

Não entendi a negativa; ela pode ser que também não a

entendesse. Pegou das pontas do cinto e bateu com elas

sobre os joelhos, isto é, o joelho direito, porque acabava de

cruzar as pernas. Depois referiu uma história de sonhos, e

afirmou-me que só tivera um pesadelo, em criança. Quis

saber se eu os tinha. A conversa reatou-se assim lentamente,

longamente, sem que eu desse pela hora nem pela missa.

Quando eu acabava uma narração ou uma explicação, ela

inventava outra pergunta ou outra matéria, e eu pegava

novamente na palavra. De quando em quando, reprimia-me:

— Mais baixo, mais baixo...

Havia, também, umas pausas. Duas outras vezes,

pareceu-me que a vi dormir; mas os olhos, cerrados por um

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instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela

os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas vezes

creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembra-

me que os tornou a fechar, não sei se apressada ou

vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me parecem

truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma

das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que

era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima. Estava

de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis

levantar-me; não consentiu, pôs uma das mãos no meu

ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer

alguma cousa; mas estremeceu, como se tivesse um arrepio

de frio, voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me

achara lendo. Dali relanceou a vista pelo espelho, que ficava

por cima do canapé, falou de duas gravuras que pendiam da

parede.

— Estes quadros estão ficando velhos. Já pedi a

Chiquinho para comprar outros.

Chiquinho era o marido. Os quadros falavam do

principal negócio deste homem. Um representava

"Cleópatra"; não me recordo o assunto do outro, mas eram

mulheres. Vulgares ambos; naquele tempo não me pareciam

feios.

— São bonitos, disse eu.

— Bonitos são; mas estão manchados. E depois

francamente, eu preferia duas imagens, duas santas. Estas

são mais próprias para sala de rapaz ou de barbeiro.

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— De barbeiro? A senhora nunca foi a casa de

barbeiro.

— Mas imagino que os fregueses, enquanto esperam,

falam de moças e namoros, e naturalmente o dono da casa

alegra a vista deles com figuras bonitas. Em casa de família

é que não acho próprio. É o que eu penso; mas eu penso

muita cousa assim esquisita. Seja o que for, não gosto dos

quadros. Eu tenho uma Nossa Senhora da Conceição, minha

madrinha, muito bonita; mas é de escultura, não se pode pôr

na parede, nem eu quero. Está no meu oratório.

A ideia do oratório trouxe-me a da missa, lembrou-me

que podia ser tarde e quis dizê-lo. Penso que cheguei a abrir

a boca, mas logo a fechei para ouvir o que ela contava, com

doçura, com graça, com tal moleza que trazia preguiça à

minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja. Falava de

suas devoções de menina e moça. Em seguida referia umas

anedotas de baile, uns casos de passeio, reminiscências de

Paquetá, tudo de mistura, quase sem interrupção. Quando

cansou do passado, falou do presente, dos negócios da casa,

das canseiras de família, que lhe diziam ser muitas, antes de

casar, mas não eram nada. Não me contou, mas eu sabia que

casara aos vinte e sete anos.

Já agora não trocava de lugar, como a princípio, e

quase não saíra da mesma atitude. Não tinha os grandes

olhos compridos, e entrou a olhar à toa para as paredes.

— Precisamos mudar o papel da sala, disse daí a

pouco, como se falasse consigo.

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Concordei, para dizer alguma cousa, para sair da

espécie de sono magnético, ou o que quer que era que me

tolhia a língua e os sentidos. Queria e não queria acabar a

conversação; fazia esforço para arredar os olhos dela, e

arredava-os por um sentimento de respeito; mas a ideia de

parecer que era aborrecimento, quando não era, levava-me

os olhos outra vez para Conceição. A conversa ia morrendo.

Na rua, o silêncio era completo.

Chegamos a ficar por algum tempo, — não posso dizer

quanto, — inteiramente calados. O rumor único e escasso,

era um roer de camundongo no gabinete, que me acordou

daquela espécie de sonolência; quis falar dele, mas não

achei modo. Conceição parecia estar devaneando.

Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, e

uma voz que bradava: "Missa do galo! Missa do galo"!

— Aí está o companheiro, disse ela levantando-se.

Tem graça; você ficou de ir acordá-lo, ele é que vem

acordar você. Vá, que hão de ser horas; adeus.

— Já serão horas?, perguntei.

— Naturalmente.

— Missa do galo! — repetiram de fora, batendo.

— Vá, vá, não se faça esperar. A culpa foi minha.

Adeus, até amanhã.

E com o mesmo balanço do corpo, Conceição enfiou

pelo corredor dentro, pisando mansinho. Saí à rua e achei o

vizinho que esperava. Guiamos dali para a igreja. Durante a

missa, a figura de Conceição interpôs-se, mais de uma vez,

entre mim e o padre; fique isto à conta dos meus dezessete

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anos. Na manhã seguinte, ao almoço, falei da missa do galo

e da gente que estava na igreja sem excitar a curiosidade de

Conceição. Durante o dia, achei-a como sempre, natural,

benigna, sem nada que fizesse lembrar a conversação da

véspera. Pelo Ano-Bom fui para Mangaratiba. Quando

tornei ao Rio de Janeiro, em março, o escrivão tinha

morrido de apoplexia. Conceição morava no Engenho Novo,

mas nem a visitei nem a encontrei. Ouvi mais tarde que

casara com o escrevente juramentado do marido.

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FIGURAS E VÍCIOS DE LINGUAGEM

O uso consciente das figuras de linguagem pode tornar

sua redação mais expressiva, reforçando uma argumentação

e demonstrando domínio da língua, aspectos importantes em

uma avaliação. O uso indiscriminado e de forma

inadequada, no entanto, pode resultar em Vícios de

Linguagem que resultarão em uma péssima avaliação do seu

trabalho. As figuras de linguagem utilizam as palavras em

seu sentido conotativo ou figurado, em oposição ao sentido

Figuras

Aliteração: repetição ordenada de mesmos sons

consonantais. Exemplo: Esperando, parada, pregada na

pedra do porto.

Anacoluto - interrupção na sequência lógica da oração

deixando um termo solto, sem função sintática. Exemplo:

Mães, como não louvá-las?

Anáfora - repetição de palavras. Exemplo: O João é o

bom, o João é o honesto, o João é o abençoado, o João é

tudo.

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Antítese – uso concomitante de ideias, palavras ou

expressões de sentidos opostos. Exemplo: Nobre e plebeus

conviviam na corte. A doença e a saúde compartilhavam os

mesmos corredores.

Antonomásia ou perífrase - substituição do nome

próprio por qualidade ou característica que o distinga. É o

mesmo que apelido, alcunha ou cognome. Exemplo: Todos

aplaudiram o Fenômeno. O Baixinho marcou novamente.

Apóstrofe ou invocação - invocação ou interpelação

de ouvinte ou leitor, seres reais ou imaginários, presentes ou

ausentes. Exemplo: Oh, mar, por que não apagas, com a

esponja de tuas vagas do teu manto esse borrão?

Assíndeto - ausência da conjunção aditiva entre

palavras da frase ou orações de um período, justapostas ou

separadas por vírgulas. Exemplo: Vim, vi, venci. Era uma

confusão de sapatos, meias, camisetas, calças, roupas sujas,

bagunça geral.

Assonância - repetição ordenada de sons vocálicos

idênticos. Exemplo: Sou um mulato nato no sentido lato.

Catacrese - metáfora usada pela inexistência de

palavras mais apropriadas, surgida pela semelhança da

forma ou da função de seres, fatos ou coisas. Exemplo: Céu

da boca; bico do bule, cabeça de prego; asa da xícara; dente

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de alho, pingo de gente. Devido ao uso contínuo, não mais

se percebe o sentido figurado.

Colisão e hiato – representa um efeito sonoro

desagradável produzido pela repetição de fonemas

consonantais idênticos. Exemplo: Cansamos de salientar

sobre isso na semana passada.

Comparação ou símile - aproximação de dois

elementos pela sua semelhança, usando-se comparativos:

como, feito, tal qual, que nem. Exemplo: Doce que nem

mel. Brava como uma abelha.

Elipse - omissão de palavras ou orações que ficam

subentendidas. Exemplo: Ele ganha tudo e eu, nada. Ele

viveu como quis, ela, como deu.

Eufemismo - amenização de um fato ou expressão

triste, chocante ou desagradável. Exemplo: Ele foi morar no

céu.

Gradação ou clímax - é a apresentação de ideias em

progressão ascendente (clímax) ou descendente

(anticlímax). Exemplo: “Um coração chagado de desejos.

Latejando, batendo, restrugindo.

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Hipérbole - exagero proposital com objetivo

expressivo. Exemplo: Estou morto de fome. Sempre foi um

monstro dentro de campo.

Inversão - consiste na mudança da ordem natural dos

termos na frase. Exemplo: De tudo ficou um pouco./Do meu

medo. Do teu asco.

Ironia – ideia contrária com um objetivo irônico é

sarcástico ou depreciativo. Exemplo: Que bonito a senhora

chegar só agora.

Metáfora - comparação sem o uso de um conectivo,

em que o segundo termo valoriza o primeiro. Exemplo:

Aquele carro é (como) um verdadeiro avião.

Metonímia - uso de uma palavra no lugar de sentido

aproximado. Ocorre quando se usa:

a - o autor pela obra. Exemplo: Estou lendo Dalton

Trevisan.

b - o continente pelo conteúdo. Exemplo: Comeu o

prato inteiro.

c - a causa pelo efeito e vice-versa. Exemplo: Come o

pão com o suor do seu rosto (trabalho que provoca o suor).

d - o lugar pelo produto feito no lugar. Exemplo: O

MacDonald é o melhor em minha opinião.

e - a parte pelo todo. Exemplo: Foi quando vi aquela

cabecinha loura surgir diante de mim.

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f - a matéria pelo objeto. Exemplo: Passaram os

prisioneiros a ferro.

g - a marca pelo produto. Exemplo: Veja-me uma Skol

gelada.

h - concreto pelo abstrato e vice-versa. Exemplo: Ele

sempre teve uma boa cabeça para isso. (cabeça por

memória)

Onomatopeia – uso de palavras imitando sons ou

ruídos. Exemplo: O tique-taque daquele relógio enlouquecia

qualquer um.

Paradoxo ou oxímoro – uso de palavras ou ideias de

sentido oposto em apenas uma figura. Exemplo: “’Amor é

fogo que arde sem se ver;/ É ferida que dói e não se sente;/

É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem

doer; (Camões)

Paronomásia: proximidade de palavras de sons

parecidos, mas de significados distintos. Exemplo: Eu que

passo, penso e peço.

Personificação, prosopopeia ou animismo –

atribuição de características humanas a seres inanimados,

imaginários ou irracionais. Exemplo: O mundo me ensinou

a viver.

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Pleonasmo ou redundância - repetição proposital de

uma mesma ideia, podendo ser positiva ou negativa.

Exemplo: Vi com meus próprios olhos as maravilhas

operadas por Ele.

Polissíndeto - repetição de conjunções (síndetos).

Exemplo: Ele trabalha muito e corre atrás de uma coisa e se

preocupa com outra e, no fim, não faz nada.

Silepse - concordância não com o que vem expresso,

mas com o que se subentende, com o que está implícito. A

silepse pode ser:

De gênero. Exemplo: Vossa Excelência está

preocupado.

De número. Exemplo: Os Lusíadas glorificou nossa

literatura.

De pessoa. Exemplo: O que me parece inexplicável é

que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde

e mole que se derrete na boca.

Sinestesia - mistura das sensações em uma única

expressão. Exemplo: Ficou-me na boca um gosto amargo e

triste.

Zeugma: consiste na elipse de um termo que já

apareceu antes. Exemplo: Ele prefere cinema; eu, teatro.

(omissão de prefiro).

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Vícios

Barbarismo: grafia ou pronúncia de uma palavra em

desacordo com a norma culta. Exemplo: bandeija, em vez de

bandeja/ gratuíto, em vez de gratuito/ cidadões, em vez de

cidadãos/ tráfico de veículos, em vez de tráfego.

Solecismo: desvio da norma culta na construção

sintática, infringindo as normas de regência, colocação e

concordância.

De regência – Assistimos o espetáculo, em vez de

assistimos ao espetáculo.

De concordância – Haviam muitos alunos na sala, em

vez de havia, dada a impessoalidade do verbo.

De colocação – Falarei-te aos ouvidos, em vez de falar-

te-ei aos ouvidos.

Ambiguidade ou anfibologia: construção da frase de

um modo tal que ela apresente mais de um sentido.

Exemplo: Maria pediu ao amigo para levar seu mochila.

Não fica claramente identificada a propriedade do livro nem

que vai levá-lo. Reformulando: Maria pediu ao amigo para

levar o livro dela (ou dele, se for o caso).

Cacofonia – encontro ou repetição de fonemas que

resultam em um desagradável efeito sonoro.

Amo a boca dela. Vou-me já, pois já é tarde.

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Pleonasmo vicioso: repetição desnecessária de uma

ideia. Exemplo: descer para baixo, subir para cima, entrar

para dentro.

Eco – sequência de palavras constituídas pela mesma

terminação resultando em um som desagradável.

Fiquei como um bobão quando dei o pai ao cão e ele

disse não.

Estrangeirismo – emprego de palavras de outras

línguas. De acordo com a origem recebem a denominação

de galicismo, anglicismo, italianismo, germanismo e outros.

Por exemplo: pedigree, em vez de raça/ delatar o arquivo/

tuitar/ happy hour, em vez de final de tarde/ démodé, em vez

de fora de moda/ site, em vez de sítio/ socialite.

Prolixidade – representa um acúmulo de palavras

desnecessárias, ou melhor, utilizando uma expressão

coloquial bem conhecida, enchendo linguiça sem nada dizer.

Por exemplo: Os jovens, pela sua juventude, são mais novos

e inexperientes que os mais velhos, estes, sim, mais vividos,

porque nasceram há mais tempo, viveram mais e

acumularam mais experiências. Isso não quer dizer que o

jovem, por ter nascido depois, não tenha também, além da

sua juventude natural, alguma experiência, não extensa

como a dos mais velhos e mais antigos, mas, mesmo assim,

alguma experiência.

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Outra forma de prolixidade é o abuso de chavões:

inflação galopante/ vitória esmagadora/ esmagadora

maioria/ caixinha de surpresas/ caloroso abraço/ silêncio

sepulcral/ nos píncaros da glória.

Plebeísmo – é o uso de gírias, chavões cristalizados

pela convivência em sociedade. Por exemplo: tipo assim/

ninguém merece/ a nível de/ ou mesmo palavras de baixo

calão.

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ERROS GRAVES E DICAS

A colocação deste item no final do livro foi proposital.

Aqui encontrará saídas de emergência quando julgar que

pode fracassar. Tenha sempre em mente, no entanto, que se

seguiu as etapas propostas em seu plano de trabalho para

sua aprendizagem, não há como falhar. Você tem as armas e

a disposição de que necessita para triunfar.

Erro: Fugir do tema

Dica: Leia com calma e atenção o tema proposto. Grife

o que for importante e significativo e que sirva de ponto de

partida para desenvolver sua tese. Mas, de repente, deu

aquele branco. O assunto nada tem a ver com qualquer coisa

que tenha estudado. Esta pode ser a sua impressão no

momento, por isso calma, respire fundo e relaxe. Você está

preparado para qualquer situação e tem como sair disso.

Releia o tema. Busque relação com qualquer coisa que seja

do seu conhecimento ou de seu domínio. Não tente forçar a

relação. Apenas busque ligações. Lembre-se que, ao

desenvolver uma tese, precisa defini-la e depois trabalhar na

argumentação. O assunto é desconhecido de todo?

Impossível. Alguma coisa nele vem de encontro a seus

conhecimentos. Só precisa definir o que é. Grifou algumas

palavras? Analise-as. Veja a direção em que apontam. Veja

a argumentação que pode desenvolver com elas. Tenho

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certeza que vai encontrar um elo para iniciar sua cadeia de

argumentos. Ainda está difícil? Busque nas sequências da

Bíblia, na História, na Geografia, na Literatura, na

atualidade, em suas experiências pessoais, em seus

conhecimentos gerais.

Se nada lhe ocorrer, comece assim mesmo. É um velho

truque que eu uso quando inicio um livro. Muitas vezes nem

sei sobre o que vou escrever, mas começo. Crio um cenário,

invento personagens, coloco-os em um situação onde

aparentemente não há saída e inicio. Em pouco tempo a

história vai se delineando por si só. Sabe por que consigo

isso? Porque já fiz isso antes.

Você poderá fazer o mesmo. Leia os temas de redação

propostos neste livro. Algum lhe parecerá impossível de

desenvolver. Tente com esses. Ou peça a alguém que lhe

proponha um tema, o mais disparatado possível. E vá

praticando. Mais e mais.

Algum tema, depois disso, lhe será difícil: Jamais.

Você estará preparado para qualquer um que surgir.

Erro: usar o gênero de texto inadequado

Dica: analise atentamente o que é solicitado.

Normalmente não será uma poesia, uma descrição ou uma

narração, mas uma dissertação. Nada de diálogos. Use

parágrafos. A dissertação exige argumentos na defesa de sua

tese.

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Erro: usar o estilo inapropriado

Dica: A dissertação não admite coloquialismo nem

bate papo com o examinador. Evite o uso de pronomes

pessoais (eu, você). Seja objetivo. Releia o que fez. Retire

ou refaça adjetivações desnecessárias ao argumento. Se

pretende dizer, por exemplo, que anoiteceu e que este é o

fato importante, não escreva: “O sol descera no horizonte. O

céu perdia suas cores e a escuridão se aproximava célere,

vindo do oriente distante. Os ruídos do dia iam cessando e a

natureza se aquietava...” Se você não está escrevendo um

romance, mas desenvolvendo uma tese, o importante é

dizer: “Anoiteceu.” Pronto e acabou. Todo o resto é

secundário.

Erro: argumentação fraca e uso de chavões

Dica: para uma boa dissertação, exige-se conhecimento

sobre o assunto, por isso a leitura é principal ferramenta a

ser usada, de forma a garantir argumentos e explicação

sólidas e originais, sem banalizações ou generalizações.

Todo político é ladrão, toda loura é burra, todo marido é

beberrão, todo pai é severo e outras tiradas semelhantes

devem ser evitadas.

Erro: falha na coesão e na coerência:

Dica: Um bom rascunho é essencial para ser lido e

relido, observando o encadeamento das ideias, de forma que

não pareçam só um amontoado jogado no texto. Evite

elementos contraditórios. Assuma uma tese e argumente em

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sua defesa gradativa e progressivamente, interligando com

sentido uma frase à outra. Estude e pratique o uso de

conjunções, responsáveis por conectar orações, impedindo

que o texto se torne apenas uma sequência de frases soltas.

Digamos que o tema seja sobre a Preservação Ambiental.

Você tem uma opinião sobre isso. Expresse-a e argumente

sobre ela, provando seu ponto de vista, sem floreios, sem

devaneios e sem desvios. Simples e objetivamente.

Erro: grafia ou concordância das palavras

incorretas

Dica: Se tiver dúvida na grafia de uma palavra, evite-a.

Se uma construção lhe parecer falha ou incorreta, substitua-

a por outra, buscando sempre a originalidade. Lembre-se

sempre de usar as letras maiúsculas quando necessárias.

Evite inserir parênteses, chaves ou traços. Cuidado com a

repetição da mesma palavra: “que”, por exemplo. Apenas

use citações se forem absolutamente necessárias ao

desenvolvimento de sua tese. Nesse aspecto, se lê com

frequência, seguramente não encontrará dificuldade.

Principalmente se, ao ler, tiver a seu lado um dicionário para

eventualmente esclarecer algumas dúvidas. José de Alencar,

o famoso escritor, deseja conhecer os clássicos da época e a

maioria era de autores franceses. O grande autor lia com um

dicionário ao lado. Em francês. No original. Você não

precisa chegar a tanto.

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Erro: transferência da responsabilidade

Dica: a dissertação exige reflexão e argumentos que

não podem nem devem ser transferidas ao

leitor/examinador. Reflita e argumente sem transferir essa

responsabilidade. O uso de perguntas seguidas de respostas

torna o texto prolixo e apenas “enche linguiça”. Lembre-se

de que dispõe de 20 a 30 linhas para desenvolver seu

trabalho e finalizá-lo dentro de uma estrutura adequada.

Erro: uso de diversas pessoas gramaticais

Dica: Se começar um texto de forma impessoal,

termine-o assim. Não alterne as pessoas presentes no testo,

alternando eu, nós, você, eles e assim por diante. Cuidado

para não misturar “tu” com “você” se isso couber o seu

texto.

Erro: coloquialismo, gírias ou clichês

Dica: Seu teste deverá seguir a norma culta, por isso

não há lugar para termos coloquiais, gírias ou clichês, nem

mesmo entre aspas.

Erro: letra ilegível

Dica: escreva com calma e devagar, sem pressa,

caprichando na letra. Lembre-se que se não for entendido,

não será avaliado. A rascunho é importante por isso. Se,

enfim, errar uma palavra ou uma frase, risque-a e corrija

adiante. Riscar, porém, não significa borrar. Faça de forma

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que fique claro que aquela palavra ou trecho não faz parte

de seu texto, apenas isso.

Erro: uso de abreviaturas

Dica: evite usá-las, até mesmo o “etc.”.

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BIBLIOGRAFIA

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CEGALLA, Domingos Paschoal — Novíssima gramática

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NICOLA, José de e INFANTE, Ulisses — Português

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L P Baçan - O Mago das Letras

1975: escreveu e publicou seu primeiro livro de bolso, a

novela Uma Tese para o Amor, pela Editora Cedibra,

Rio de Janeiro, passando, daí, a escrever mensalmente

novelas por encomenda para essa e outras editoras.

1985: teve 11 letras incluídas no LP Saudação ao Mato

Grosso, da dupla Estudante & Caminhoneiro.

1986: teve 6 letras incluídas no LP Oração de Um

Caminhoneiro, da mesma dupla.

1991: participou da Coletânea do I Concurso Nacional de

Literatura da FENAE, com um conto premiado em 1º.

lugar.

1994: participou da Antologia Os Poetas, do V Concurso

Helena Kolody de Poesia, Governo do Paraná, Curitiba

– PR.

1995: traduziu a obra El Contuberneo Judeo-Maçónico-

Comunista, de José Antonio Ferrer Benimelli, em 2

volumes intitulados Maçonaria & Satanismo, para a

Editora "A Trolha".

1996: publicou a novela rural Sassarico, sobre o fim do ciclo

do café, início da rotação de culturas (soja e trigo) e

surgimento dos bóias-frias e editou os livros Vida

Minha, de Emília Ramos de Oliveira (biografia) e

Círculo Vicioso, de Arlene Cirino de Oliveira.

1997: participou da coletânea Poema, Poesia... Maçom,

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Maçonaria, organizada por Mário Cardoso para a

Editora Arte Real.

1998: publicou o livro de poemas Alchimia.

1999: publicou o livro Redação Passo a Passo e editou o

livro URAÍ - Nossa Terra, Nossa Gente, 2 volumes, de

Emília Ramos de Oliveira.

2000: teve 2 letras incluídas no CD Nosso Negócio É

Cantar, da dupla Márcio Rogério & Luciano e 3 letras

no CD Mais, do cantor Cícero de Souza. Publicou,

neste ano de 2000, Brincando nos Caminhos do

Senhor, revista infantil cristã, Editora e Gráfica

Cotação da Construção, Londrina – PR.

2001: editou e prefaciou o livro Templários, de Lori Andrei

Perez Baçan.

2002: foi o autor da letra do hino da Loja Maçônica

Londrina, em parceria com o músico Wilmar Cirino.

2004: organizou, editou e participou do livro I Antologia do

Portal "Cá Estamos Nós".

2006: organizou, editou e participou do livro II Antologia

do Portal "Cá Estamos Nós".

2007: publicou os livros A Sabedoria dos Salmos, A

Sociedade Secreta dos Templários e O Livro Secreto

da Maçonaria, pela Universo dos Livros Editora Ltda.

2010: publicou os livros Manual da Futura Mamãe, Quem

Disse Que Cozinha Não è Lugar de Homem e Receitas

Naturais pela editora Universo dos Livros. Editou o

livro de contos Solidariedade, do autor baiano João

Justiniano da Fonseca. Produziu, dirigiu e apresentou

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uma série de 7 (sete) programas radiofônicos Vila das

Artes, na Rádio Boa Nova FM, de Pérola, PR, sobre

literatura atual.

2012: traduziu, editou e publicou o livro A Origem do

Satanismo na Maçonaria, de Arthur Edward Waite.

2013: traduziu, editou e publicou em formato eletrônico os

livros Carmila, de J Sheridan LeFanu, e Teoria da

Esgrima a Cavalo, de Alex Muller.

2015: teve 18 letras musicadas por Wilmar Cirino e

incluídas no CD Sertão... Raiz, pelo WS Studio,

Londrina, PR. Publicou em formato eletrônico seu

romance Quaresma e a tradução de Carmila, de J

Sheridan Le Fanu, No Tempo da Guerra Fria, ficção, o

Monge Sabbasius, terror, Drácula, O Príncipe das

Trevas, terror, pela Lulu Press, Inc.

1975 até 2015: hoje escreveu mais de 700 livros, publicados

em sua maioria em formato de bolso, sobre os mais

diferentes assuntos, como: romances, erotismo,

palavras cruzadas, charadas, passatempos, literatura

infantil, passatempos infantis, horóscopos, esoterismo,

simpatias populares, rezas, orações, intenções, anjos,

fadas, gnomos, elementais, amuletos, talismãs,

estresse, manuais práticos, religião e outros livros de

bolso com os mais diversos temas e letras para

músicas. Já editou em formato eletrônico mais de 1000

títulos, entre publicações individuais e antologias, de

autores de Língua Portuguesa e Espanhola.

Publicou ao longo dos últimos 40 anos poemas e contos em

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jornais de circulação regional. Ultimamente, está

empenhado em editar todos seus títulos em formato

eletrônico para serem disponibilizados em seu site.

www.acasadomagodasletras.net.