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RECURSOS EDUCACIONAIS
Metodologias de ensino-aprendizagem
METALINGUAGEM GRAMATICAL NA AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA ON-LINE “OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA: LEITURA E PRODUÇÃO
DE TEXTOS”
Ana Paula Cordeiro Pereira Faculdade de Letras - UFMG
[email protected] Francine de Souza Andrade Faculdade de Letras - UFMG
[email protected] Luana Lopes Amaral
Faculdade de Letras - UFMG [email protected]
Marilane de Abreu Lima Miranda Faculdade de Letras – UFMG
[email protected] Shirlene Ferreira Coelho
Faculdade de Letras – UFMG [email protected]
1 APRESENTAÇÃO
Corrigir a escrita não é tarefa fácil. Torna-se ainda mais difícil corrigir a escrita de alunos que
não conhecem os termos específicos, a metalinguagem da correção. Indicar o que deve ser
corrigido passa a ser um desafio ainda maior em disciplinas em nível de graduação, pois,
nos ensinos fundamental e médio, a metalinguagem tem ênfase na classificação dos
elementos de uma sentença e não na compreensão da estrutura. Dessa forma, os alunos
chegam sem esse tipo de conhecimento no ensino superior. O conhecimento da estrutura é
mais importante para o aprendizado da escrita do que a classificação de elementos
gramaticais.
A cultura acadêmica exige que os graduandos saibam escrever, especialmente,
determinados gêneros específicos da esfera universitária, e a disciplina on-line “Oficina de
Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos” (daqui para frente OLP) enfrenta o
desafio de orientar os alunos de graduação da UFMG no percurso pela prática da leitura e
da escrita de textos de gêneros acadêmicos. Essa disciplina é ofertada para alunos da
graduação de todos os cursos da UFMG, não somente para os alunos de Letras. Assim, os
termos gramaticais utilizados pelos professores na correção das redações nem sempre são
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conhecidos pelos alunos. Por isso, o professor tutor deve fazer uma correção interativa, para
que o aluno possa, a partir da autorreflexão, adequar sua escrita com autonomia.
2 JUSTIFICATIVA
O propósito deste trabalho é, portanto, apresentar um recurso educacional que se proponha
a simplificar a metalinguagem de correção das redações da OLP. O objetivo desse recurso é
ajudar o aluno da disciplina a entender o que há de problemático em suas redações, para
que ele consiga, sozinho ou com o auxílio do professor, aperfeiçoar a sua escrita e alcançar
o nível requerido no universo acadêmico. Entendemos que é necessário que o aluno
consiga esse resultado sem precisar recorrer a outros materiais, diferentes daqueles que
proporcionam acesso à escrita acadêmica, ou à “decoreba” de termos gramaticais. Como a
disciplina em questão é on-line, a capacidade do aluno de entender as correções enviadas
pelo professor e de desenvolver sua própria reescrita com autonomia é imprescindível. A
construção desse recurso se justifica por esses motivos e, como já apontamos, pelo fato de
que alunos de todos os cursos de graduação da UFMG podem se matricular na OLP, não
somente alunos do curso de Letras, que seriam aqueles que dominam a metalinguagem
gramatical. Assim, saber dar feedback nas correções dos textos dos alunos que não são da
Letras, sem “decoreba” e sem uma metalinguagem gramatical específica e técnica é a
proposta que trazemos aqui.
3 OBJETIVOS EDUCACIONAIS
O objetivo central de nosso estudo é apresentar um recurso educacional que vise a
simplificar a metalinguagem de correção das redações da OLP. Metalinguagem, segundo o
dicionário Houaiss, é “linguagem (natural ou formalizada) que serve para descrever ou falar
sobre uma outra linguagem, natural ou artificial”. Com o recurso educacional que propomos,
o aluno estará capacitado para entender o que é preciso melhorar em suas redações e,
dessa forma, conseguirá aperfeiçoar a sua escrita acadêmica.
4 EMBASAMENTO TEÓRICO Dahlet (2002) aponta que “é possível, mesmo adotando o espírito das gramáticas,
racionalizar, reorientar” (p. 30) e é nesta linha que a metodologia da OLP se desenvolve. A
proposta do presente recurso educacional se sustenta em trabalhos como os de Serafini
(1994), Ruiz (1998) e Dahlet (2002), que sugerem uma correção textual que dialogue com o
texto e o autor, uma correção que leve o aluno à reflexão sobre sua escrita: por que, para
quê e para quem. Serafini (1994) aponta que a maioria dos professores fazem uso de dois
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tipos de correções, denominadas resolutiva e indicativa. A resolutiva recorre à correção dos
erros, através da reescrita dos termos corrigidos ou das frases, enquanto que a indicativa
apenas aponta os erros, sem alterar o texto. As duas correções não são eficientes, segundo
a autora, pois apenas prescrevem os erros. Desse modo, ela propõe um novo modelo de
correção, a correção classificatória, que adota uma atitude operativa e baseia-se na
identificação do erro na escrita, especificando a operação que o aluno errou, através de uma
classificação.
Ruiz (1998), em sua tese de doutorado, identifica as correções apontadas por Serafini
(1994) e propõe mais uma categoria à qual ela designou de textual-interativa. Essa
correção, segundo a autora, consiste no parecer do professor sobre o texto do aluno,
tecendo elogios sobre o trabalho ou indicando melhorias. O objetivo ao adotar este tipo de
correção é promover o diálogo com o autor, apontando os problemas discursivos presentes
no texto e convidando-o a refletir sobre seu texto através de indagações, sem solucionar o
problema pelo aluno, mas incentivando-o a reelaborar seu texto. Em seu trabalho, a autora
contrasta a correção resolutiva com as correções classificatórias, indicativa e textual-
interativas. Enquanto na resolutiva o professor é monofônico, pois ele apresenta as
alterações a serem feitas, desconsiderando as ideias do aluno (autor do texto), nos outros
tipos de correções ele é polifônico, pois adota uma metalinguagem que considera a
participação do autor do texto nas alterações a serem realizadas.
Desse modo, a OLP, respaldada pelos estudos anteriormente citados, emprega uma
metalinguagem para correção das produções textuais de seus alunos, privilegiando uma
correção polifônica, ora textual-interativa, ora resolutiva-indicativa, ou a conjugação de
todas, centrada nos aspectos discursivos do texto e na simplificação da nomenclatura
gramatical, no que se refere aos aspectos formais da língua.
Vejamos alguns exemplos das correções realizadas pelos tutores da OLP:
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Exemplo 6-B
5 RESULTADOS ESPERADOS
Embora as professoras coordenadoras tenham pontuado a respeito da necessidade de os
tutores realizarem correções com metalinguagem simples, que pudessem ser entendidas
por estudantes de áreas diversas, os exemplos de 1 a 4 demonstram que ainda há
correções que se caracterizam como tipos indicativa, resolutiva ou resolutiva/indicativa. No
entanto, os exemplos de 5 a 6B demonstram que alguns tutores adotam a abordagem
textual-interativa e apresentam uma linguagem simples e de fácil de compreensão em suas
correções. Estes últimos dados mostram que o tutor não fez a correção para o aluno, nem
somente a indicou, mas argumentou e forneceu pistas para que o próprio aluno assumisse
sua função de autor do texto e fizesse, ele próprio, a correção. Por isso, torna-se urgente a
necessidade de o professor/tutor simplificar a linguagem de interação com o aluno para que
ele assuma o seu papel de autor do texto. Desse modo, o aluno será capaz de repensar a
sua forma de escrever e readequá-la ao meio acadêmico. Espera-se que o aluno esteja
apto, inclusive, a repensar a língua, enquanto ferramenta nesse meio, e refletir sua própria
postura com relação a isso.
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REFERÊNCIAS
DAHLET, Véronique. A pontuação e sua metalinguagem gramatical. Revista de Estudos da Linguagem, [S.l.], v. 10, n. 1, p. 29-41, jun. 2002. Disponível
em: <http://periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2330/2279>. Acesso
em: 17 jul. 2017.
RUIZ, E. Mª S. D. Como se Corrige redação na escola. 2 v. Tese (doutorado em Linguística Aplicada). Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem, UNICAMP, 1998.
SERAFINI, M. T. Como escrever textos. São Paulo: Globo, 6 ed., 1994.