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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. [Recensão a] FRANÇOIS CHAMOUX - A CIVILIZAÇÃO GREGA Autor(es): Santos, Maria Carolina Alves dos Publicado por: Annablume Clássica URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24563 DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1984-249X_2_15 Accessed : 13-Jul-2020 04:22:52 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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Page 1: [Recensão a] FRANÇOIS CHAMOUX - A CIVILIZAÇÃO GREGA URL … · CIVILIZAÇÃO GREGA. Lisboa, Portugal: Edição 70, 2003, 344pp. ISBN: 972-44-1139-7. Resenha de Maria Carolina

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Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

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acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s)

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de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste

documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por

este aviso.

[Recensão a] FRANÇOIS CHAMOUX - A CIVILIZAÇÃO GREGA

Autor(es): Santos, Maria Carolina Alves dos

Publicado por: Annablume Clássica

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24563

DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1984-249X_2_15

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digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt

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EDITORIAL

Jonatas R. Alvares Gabriele Cornelli

ARTIGOSUrbanização e a Construção da Paisagem no Alto Império Romano: a Colônia de Augusta EmeritaAiran dos Santos Borges

O Poeta e a Cidade: Platão Enfrenta HomeroAlzira Silvestre dos Santos

A Paixão Política de Platão: sobre Cercas Filosóficas e sua PermeabilidadeGabriele Cornelli

O Desrespeito das Leis Sociais e a Ruína Humana no Hipólito de EurípidesHelena Vasconcelos

Os Tipos de Justiça na KallípolisJosé Wilson da Silva

Cidades Gregas do Ocidente e a Água: estudo comparativo entre os sistemas de captação e dispensa da água nas Poleis de Metaponto e PoseidoniaMaria Elizabeth MesquitaMaria BeatrizBorba Florenzano

Civitas In Civibus Est, Non In Parietibus (De Urbis Excidio 6,6). História e Tempo Eterno na ‘Arquitetura Cívica’ de Roma Antiga em De Civitate Dei de Santo AgostinhoPedro Paulo Alves dos Santos

O Esquema Decorativo da Sala do Trono do Rei Neoassírio Ashurnasirpal IIPhilippe Racy Takla

Diversões Públicas em Roma: da Fase Republicana à Fase ImperialPriscilla Adriane Ferreira Almeida

Lei, Retórica e Democracia – o Uso das Leis no Discurso ForensePriscilla Gontijo Leite

A Natureza do Discurso Verdadeiro a partir de uma Abordagem Convergente em Platão e IsócratesRobson Régis Silva Costa

O Cuidado de Si no EpicurismoThiago Rodrigo de Oliveira Costa

Sobre a Autodidaxía e a Autárkeia de EpicuroMiguel Spinelli

TRADUÇÃO

Performance e Inteligibilidade: traduzindo Íon, de PlatãoMarcus Mota

RESENHA

François Chamoux, A Civilização Grega. Lisboa, Portugal: Edição 70, 2003, 344 pp. ISBN: 972-44-1139-7Maria Carolina Alves dos Santos

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R E V I S T A

ARCHAI JOURNAL: ON THE ORIGINS OF WESTERN THOUGHT

ARCHAI JOURNAL: ON THE ORIGINS OF WESTERN THOUGHT

C L Á S S I C A

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resenha

FRANÇOIS CHAMOUX, A CIVILIZAÇÃO GREGA. Lisboa,

Portugal: Edição 70, 2003, 344pp. ISBN: 972-44-1139-7.

Resenha deMaria Carolina Alves dos Santos*

Notável helenista nascido no início do

século passado, François Chamoux é especialista em

história da civilização, filologia e literatura gregas,

lecionou arqueologia e história da arte em Nancy;

literatura e civilização gregas na Sourbonne. Foi

diretor da Revue d’Études Grecques durante dez anos,

e é autor de inúmeras obras. Nesta, indaga sobre o

que nos foi legado pela vasta a complexa civilização

dos antigos gregos, cujos traços arquetípicos tendem

a se esmaecer em nossa memória, embaçando a visão

que possa haver sido retida das origens do pensar

no Ocidente.

Chamoux apela ao homem do presente para que

se disponha, enfrentando o desafio, a tentar religar-

se mais intimamente ao que nossa cultura originária

tem de perene. De modo abrangente e cristalino,

nos nove capítulos de que a obra se compõe, tece

uma rede de temas essenciais: urde a época arcaica

e clássica - desde as realidades materiais (território,

propriedades, monumentos, túmulos), às maneiras de

ser e às criações da consciência (costumes, crenças,

ritos, linguagem, matemática, literatura, política,

filosofia) - com descrições fundamentadas nas mais

variadas fontes.

Em sua dinâmica a exposição percorre desde

a época micênica (e os séculos obscuros que a ela

* Profa. de Fil. Antiga na FSB

(Faculdade de Filosofia São

Bento).

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se sucederam), a época geométrica de Homero,

caracterizando em pormenor a vida cotidiana, a

produção intelectual, filosófica, literária, artística,

a índole religiosa e política. Sob este particular

aspecto da configuração do poder, a função da guerra

é considerada vital, pois o grego identifica a luta

com a própria vida: os confrontos, desencadeados

por interesses conflitantes, são os geradores do

progresso. Diz Heráclito (fr.53,80):

“A guerra (pólemos) pai e rei de todas as coisas, que

a uns faz deuses e a outros homens, que a uns torna

livres e a outros escravos, é universal”.

Além das virtudes do guerreiro (o heroísmo

e a coragem), o grego valoriza sobretudo a firmeza

de alma (exemplificados no Prometeu de Ésquilo e

na Antígona de Sófocles); a criação de obras-primas

da arte e da técnica; a vida moral e, mais ainda,

o humanismo tal como é expresso pelo coro dos

anciãos tebanos na Antígona de Sófocles, que canta

o homem como a maior das maravilhas entre todas

as outras existentes no mundo.

O ritmo ágil e imagético da exposição

revela, assim, como todos esses aspectos - sejam

em forma de crença ou de mentalidade religiosa,

sejam como um modo de racionalidade - embora

irredutíveis entre si, interligam-se estreitamente,

conferindo coesão e unidade à totalidade dessa

cultura: constituem a um só tempo o fundamento e

a condição de sua existência. E, ao ressaltar a força

de sua expressão social e sua presença histórica,

o texto de Chamoux vai dando, gradativamente,

maior visibilidade à sua permanente atualidade na

civilização moderna.

Toda sociedade, enquanto experiência plena

e original não é, paradoxalmente, herança recebida

de seus antepassados à qual se funde, e que com

forte impacto será legada a seus pósteros? Todas as

grandes obras então surgidas que derivam do diálogo

incessante que seus autores mantiveram com seus

antecessores, resultam para nós, em última análise

- no plano da história desse significativo encontro

entre a cultura atual e o conjunto de heranças

distantes que este livro explicita e condensa - em

algo de monumental riqueza. Consagra-se uma

convergência única, irrepetível, que nos revela o

que na verdade somos: com esse livre exercício de

rememoração revivemos extraordinária aventura,

recuperamos algo que, mesmo delineado há muitos

séculos, permanece ainda intacto, a nossa real

identidade. .

Um dos capítulos de especial interesse para

a fecundidade desse exercício é o que se refere à

civilização micênica (instalada na bacia do Mar

Egeu), desenvolvida num período ainda obscuro

e misterioso da Grécia arcaica, conhecido como a

Idade Média helênica. A língua então usada (em

meados do século XV), simbólica (ideogramas

desenhados em plaquetas de argila com um estilete),

só recentemente está sendo decifrada (e nomeada

Linear B). Abrem-se assim novas perspectivas de

compreensão das origens de uma civilização helênica

brilhantemente desenvolvida, com uma população

aproximada de 50 mil habitantes, dando notícia da

pujante vida cotidiana e da organização social e

religiosa que floresceu três mil e quinhentos anos

antes da época de Homero. Este estudo esclarece o

quanto é longo e rico o trajeto iniciado pelos poetas

micênicos que lhe são antecessores, e que se estende

até Platão, mostrando que na corrente temporal

desses 10 séculos, não cessam de fluir esforços

e tentativas, explorações e batalhas, rivalidades

e emulações. Mais que isso, fornece importantes

elementos para uma reflexão e conseqüente

reformulação dos nossos parâmetros a respeito do

período em que se datou, historicamente, como o

das origens da filosofia e das condições culturais

decisivas que propiciaram esse nascimento. Diz

Chamoux, como conclusão de sua exposição:

“Esse pequeno povo simultaneamente uno e diverso,

elaborou de forma paciente, apesar das discórdias

internas e das ameaças externas, uma cultura original,

inovadora e completa, onde os principais aspectos da

condição humana têm seu lugar: fé religiosa, confiança

no homem, sentido do mistério cósmico, vontade

de compreender a natureza, idéias de hierarquia e

igualdade, respeito pelo grupo social, interesse atribuído

ao indivíduo. E, todos esses campos do saber constituem

exigências contraditórias que suscitam incessantes

conflitos tanto entre os espíritos, como entre os Estados,

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gerando progresso: têm proporcionado um comentário

sem fim sobre essa cultura que fundamenta os 20 séculos

de cultura européia nos seus mais variados domínios”.

O autor utiliza-se ao fim de cada capítulo,

didaticamente, referências bibliográficas específicas,

que permitem ao leitor aprofundar-se no assunto

tratado; além de um substancioso índice documental

de 60 páginas, com os verbetes utilizados ao longo

de sua exposição, que constituem um valioso

instrumento de leitura para aqueles que estão se

iniciando neste estudo.

Trata-se de um livro indispensável, um

clássico no sentido usual do termo, que está

ai para ser lido e relido por ser um testemunho

histórico primoroso que põe em relevo aspectos

essenciais da civilização que transcendeu seu tempo

para permanecer historicamente em latência no

nosso e falar através dele. O caráter desse dizer

oferece insights a todo aquele que busca conhecer

mais solidamente o fundamento e os elementos

insubstituíveis do nosso patrimônio cultural. Mais

que uma especulação de caráter geral, o livro é um

convite a um contato direto, pessoal, íntimo com

algo valioso, que propicia o regresso no tempo e o

encontro de sua parte nessa herança para além dos

traços eternos do homem, pelo diálogo com o que

há de mais profundo em si mesmo.

Os comentários de Chamoux nos permitem

renovar nossa compreensão da civilização dos

gregos, naquilo que ela tem de imorredouro, pois,

apesar das lacunas não se mostra petrificada mas

plena de vida, desde que enraizada em nossos

instrumentos intelectuais, a linguagem, o imaginário

(seus mitos misteriosos são ricos de sugestões

que estimulam nossa sensibilidade), as categorias

do nosso pensamento, nossos valores, princípios

políticos e morais: nessa medida, podemos dizer que

o antigo está para sempre em nosso porvir.

Recebido em Setembro de 2008.

Aprovado em Novembro de 2008.