recensÕes crÍticas reseñas / recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, são paulo,...

28
RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas Nancy dos Santos Casagrande, A implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI: Um percurso historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos 1 PUC/SP [email protected] As funções doutrinárias dos padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, pautadas em suas cartas missionárias, revelam a realidade sobre o processo de implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI. Essas cartas, do período seiscentista, divididas em dois grupos, delimitados de 1554 a 1584, missivas de José de Anchieta, de 1549 a 1561, missivas de Padre Manoel da Nóbrega, são objetos de estudo da pesquisadora Professora Doutora Nancy dos Santos Casagrande, em seu trabalho intitulado A implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI: Um percurso historiográfico. Mais do que evidenciar como se deu o processo de implantação da língua portuguesa na colônia, a autora reflete sobre as questões linguísticas a partir dos primeiros “sistematizadores” da língua, a saber: Fernão de Oliveira e João de Barros. Em sua pesquisa, o percurso historiográfico é um facilitador para a compreensão dos caminhos seguidos pelos portugueses, nas questões alusivas à educação da época e, evidentemente, à política linguística subordinada à política expansionista imposta pela metrópole. Assim, para a relevância, a professora se baseia nos preceitos historiográficos traçados por Konrad Koerner e Pierre Swiggers, na Europa, e Cristina Altman e Neusa Barbosa Bastos, no Brasil. 1 Mestre e Doutorando pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa da PUC/SP.

Upload: others

Post on 02-Oct-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

Reseñas / Recensões críticas

Nancy dos Santos Casagrande, A implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI: Um percurso historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp.

Jefferson Lucena dos Santos1

PUC/SP

[email protected]

As funções doutrinárias dos padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, pautadas em suas cartas missionárias, revelam a realidade sobre o processo de implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI.

Essas cartas, do período seiscentista, divididas em dois grupos, delimitados de 1554 a 1584, missivas de José de Anchieta, de 1549 a 1561, missivas de Padre Manoel da Nóbrega, são objetos de estudo da pesquisadora Professora Doutora Nancy dos Santos Casagrande, em seu trabalho intitulado A implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI: Um percurso historiográfico.

Mais do que evidenciar como se deu o processo de implantação da língua portuguesa na colônia, a autora reflete sobre as questões linguísticas a partir dos primeiros “sistematizadores” da língua, a saber: Fernão de Oliveira e João de Barros.

Em sua pesquisa, o percurso historiográfico é um facilitador para a compreensão dos caminhos seguidos pelos portugueses, nas questões alusivas à educação da época e, evidentemente, à política linguística subordinada à política expansionista imposta pela metrópole. Assim, para a relevância, a professora se baseia nos preceitos historiográficos traçados por Konrad Koerner e Pierre Swiggers, na Europa, e Cristina Altman e Neusa Barbosa Bastos, no Brasil.

1 Mestre e Doutorando pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa da PUC/SP.

Page 2: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

262

Levando em conta os preceitos da historiografia linguística, o trabalho é apresentado em quatro capítulos: Capítulo 1 – A concepção de historiografia linguística e de política linguística, Capítulo 2 – O quadro de definição do ensino em língua portuguesa em Portugal, Capítulo 3 – O quadro de definição do ensino em língua portuguesa no Brasil e Capítulo 4 – Análise de documentos.

No primeiro, temos a concepção de historiografia linguística e de política linguística. A autora demonstra cuidado em apresentar as breves concepções de historiografia e, posteriormente, a concepção de historiografia linguística. Essa preocupação gira em torno do surgimento recente da HL, disciplina que surgiu a partir do Movimento dos Annales cuja preocupação era uma nova forma de se fazer história, pautada na despreocupação com a periodização.

Diante disso, a investigadora - ciente do campo ainda não conhecido por muitos estudiosos brasileiros - busca evidenciar as concepções de historiografia, a definição de historiografia linguística e os possíveis métodos dessa disciplina. Dessa forma, seu caráter pedagógico se faz presente ao expor no que consiste a historiografia linguística, assim como todos os entorno dessa disciplina.

Como evidencia a pesquisadora, na perspectiva de Swiggers (1990), a HL é uma disciplina cujos objetivos correspondem ao descrever e explicar o conhecimento linguístico através dos tempos. Assim, entendemos que o historiógrafo da linguística analisa os conceitos apresentados em uma dada obra e reconstrói o contexto que propiciou o aparecimento daquele conceito, de seu conhecimento ou de sua rejeição.

A partir dessa perspectiva, o estudo A Implantação da língua portuguesa deixa transparecer as categorias de análise, buscando detectar em que medida há um comprometimento da Igreja, na instauração de uma política de implantação da língua portuguesa no Brasil. Para tanto, faz-se necessário mencionar que os demais capítulos correspondem aos princípios traçados por Konrad Koerner (1996): contextualização, imanência e adequação.

Conforme os princípios metodológicos, na contextualização – traça-se o clima de opinião, observando a época em que o documento foi escrito (dados contextuais); no princípio de imanência – levantamento de informações (produz efeito restaurador do passado que possibilita a compreensão do documento); e no princípio de adequação – possibilidade de o historiógrafo da linguística reatualizar

Page 3: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

263

o documento, sendo assim, um realce dos fatos do passado, mediado pelas preocupações do presente.

E, quanto a isso, acrescenta-nos Bastos (2004, p. 80), arrolados esses princípios como fios condutores do trabalho historiográfico, resta-nos afirmar que o historiógrafo deve detectar, analisar e explicar as mudanças, sem se deixar envolver.

Sendo assim, Casagrande segue criteriosamente os princípios metodológicos, evitando-se interpretar os fatos passados com interesses e olhares atuais.

Em seu trabalho, temos a valorização do contexto, que se pulveriza no decorrer do segundo e terceiro capítulos, ressaltando-se a sua magnitude para o estudo da historiografia, por estar conectado ao movimento social e intelectual do período analisado.

Assim, levando em consideração os passos metodológicos koernerianos, a autora apresenta a contextualização nos capítulos 2 e 3, a imanência e adequação são apresentadas concomitantemente no capítulo 4.

No capítulo 2, denominado O quadro de definição do ensino em língua portuguesa em Portugal, além de encontrarmos o quadro de ensino da língua em Portugal, temos uma retomada histórica do processo de expansão marítima e de suas consequências no estabelecimento de política linguística. Aqui, é apontada a magnitude das publicações a Gramática da Linguagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira, publicada em 1536, e a Gramática da Língua Portuguesa – Cartinha, Gramática e Diálogo da Viçiosa Vergonha, de João de Barros, publicada em 1540, para a concretização dessa política de implantação da língua portuguesa no Brasil.

Ao trabalhar com as primeiras gramáticas portuguesas, a pesquisadora demonstra conhecimento das preocupações linguísticas e políticas manifestadas por Oliveira e Barros. O primeiro evidencia suas preocupações em suas “anotações”: enaltecer a língua portuguesa, aproximando-a das línguas de prestígio, como o latim e o grego e a tentativa em descrevê-la. O segundo, João de Barros, tem como objetivo a preocupação com o ensino do bem falar e do bem escrever, apresentando no decorrer de sua obra um sentimento patriótico em relação às demais línguas.

O terceiro capítulo faz referência ao quadro de definição do ensino de língua portuguesa no Brasil. Para isso, a autora buscou na

Page 4: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

264

história, daí a importância da ciência história para uma pesquisa historiográfica, o reflexo que a expansão marítima teve no país, no tocante à instauração de uma política linguística. A partir dessa exposição, são apresentadas as cartas jesuíticas confeccionadas no estabelecimento de uma política educacional da colônia, com a implantação dos primeiros colégios.

É possível visualizarmos que a autora concilia os estudos linguísticos portugueses de Fernão de Oliveira e João de Barros com as cartas missionárias de José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, cumprindo assim com o princípio da adequação, quarto capítulo da pesquisa.

No quarto e último capítulo, temos a análise, realizada por meio de categorias expostas no primeiro capítulo, das gramáticas portuguesa do período seiscentista, fontes primárias de consulta, em Portugal, e as cartas jesuíticas, fontes primárias de consulta no Brasil. As gramáticas, datadas em 1536 e 1540, assim como as cartas, enviadas a Portugal no período de 1549 a 1584, serviram como corpus no estabelecimento do caminho historiográfico da língua portuguesa, no Brasil do século XVI.

Por fim, as considerações finais cumprem seu papel ao demonstrarem o alcance dos objetivos iniciais propostos pela investigadora: estabelecer o quadro de definição do ensino de língua portuguesa em Portugal e no Brasil, perceber em que medida a Igreja serviu como instrumento do Estado na implantação de uma política linguística e colaborar para a definição de um método de trabalho para a historiografia do ensino de língua portuguesa.

Assim, o quadro de definição do ensino de língua, tanto em Portugal quanto no Brasil, no século XVI, foi evidenciado ao leitor. Em suma, em Portugal, a questão educacional ficou a cargo da Igreja, mais precisamente dos dominicanos. Quanto ao ensino de língua portuguesa, não tínhamos ainda uma formalização nas escolas até a publicação das gramáticas mencionadas anteriormente.

No Brasil colônia, a educação foi implementada pelos jesuítas, cuja finalidade era a catequização dos índios. No que concerne ao ensino de língua no Brasil, a pesquisadora conta que os padres aprendiam a língua indígena ao mesmo tempo em que ensinavam a língua do colonizador.

Contudo, atrelada às questões educacionais e linguísticas, percebemos que a Igreja servia sim como instrumento do Estado na

Page 5: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

265

medida em que ela precisava do apoio da Coroa para instituir a organização escolar nas capitanias, quando de sua chegada em 1549.

Dessa forma, a pesquisa apresentada em A implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI: Um percurso historiográfico deu-se em função do estabelecimento de categorias específicas para análise das fontes produzidas no século XVI. Portanto, entendemos que o historiógrafo tem autonomia para a realização de uma atividade no âmbito da HL, a partir do momento em que necessita buscar meios para a realização de seu estudo. No entanto, para análise de um documento, é necessário um conhecimento enciclopédico para que a compreensão não ocorra erroneamente.

Com essa visão, a pesquisadora cumpre seu papel de historiógrafo com maestria, descrevendo, explicando as mudanças que houve, durante o percurso investigado, sem se deixar envolver pela novidade, pela originalidade e pela criatividade nos dias de hoje.

Assim, na Implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI: um percurso historiográfico a língua é observada por diversos prismas desde a sua função doutrinária das cartas de Anchieta e Nóbrega, passando pelas gramáticas de Oliveira e Barros, no século XVI, até os estudos historiográficos do século XXI.

Bibliografia

Bastos, Neusa M. O. Barbosa. (Org.). (2004). O Fazer Historiográfico em Língua Portuguesa. Língua Portuguesa em Calidoscópio. (Série Eventos). São Paulo: EDUC.

Bastos, Neusa M.O.B.; Palma, Dieli (Orgs.). (2004). História Entrelaçada: a construção de gramáticas e o ensino de língua portuguesa do século XVI ao XIX. Rio de Janeiro: Lucerna.

Casagrande, Nancy dos Santos. (2005). A implantação da Língua Portuguesa no Brasil do século XVI: um percurso historiográfico. São Paulo: Educ.

Koerner, Konrad. (1987). On the problem of influence in Linguistic Historiography. In: Aarslleff et al. (eds), p.13-28.

______. (1996). Questões que persistem em historiografia lingüística. In: Revista da ANPOLL, nº 2, p.47-70.

Page 6: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

266

Swiggers, P. (1990). Histoire et Historiographie de l’ensignemente du français: modèles, objets et analyses. Coste, D. (ed). Études de Linguistique Appliquée, n. 78.

Neusa Barbosa Bastos/Dieli Vesaro Palma (orgs.), Beatriz Santana... [et al.], História Entrelaçada 5: Estudos sobre a linguagem em materiais didáticos – década de 1950, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2012, 349 pp.

Leonardo P. Valverde Universidade Federal Fluminense

[email protected] www.leonardovalverde.com

O livro História Entrelaçada, em seu quinto volume, é fruto das pesquisas de um grupo (Grupo de Pesquisa Historiográfica da Língua Portuguesa) do IP-PUC/SP; os oito capítulos da obra foram escritos por pesquisadores vinculados ao instituto, professores e especialistas em língua portuguesa, todos lecionando em universidades brasileiras. É um quinto fruto de uma trajetória que começou em 2004, com o primeiro volume de H.E, já consolidando, portanto, a divulgação bienal das pesquisas deste grupo (GPeHLP). Sob a organização das professoras-pesquisadoras Neusa Barbosa Bastos e Dieli Vesaro Palma.

Neste quinto volume, os autores centraram suas pesquisas “sobre a linguagem em materiais didáticos da década de 1950”, selecionando, para tanto, livros publicados entre 1950 e 1960 cujos autores fossem representativos do período nos três níveis escolares: o primário, o ginásio e o colégio (clássico e científico). A pesquisa foi feita sob a pergunta “Como a investigação dos estudos da linguagem se manifesta nos materiais didáticos, a partir da lei de 1946?”, donde se estabeleceram análises a partir dos itens: concepções de linguagem e o ensino da língua portuguesa; b) concepções de linguagem subjacentes a propostas pedagógicas: anterior a 1940, até 1950 e 1960. Todas relacionadas aos mais recentes estudos sobre História do Presente, Memória e Historiografia Linguística.

Em relação à metodologia usada pelos pesquisadores, deixam claro que sua pauta fixa-se na Historiografia Linguística de acordo com

Page 7: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

267

Koerner, Swiggers e Altman, donde reiteram uma concepção desta área como “o modo de refletir sobre o saber linguístico produzido, tendo como objetivo descrever/explicar como se desenvolveu tal saber em um determinado contexto” (p.14), embora adotem “ a corrente que for mais adequada ao corpus selecionado, dependendo do objeto linguístico sob análise” (p.14), dando ênfase ao que é conhecido como história do presente. Os critérios de análise usados pelo grupo para a pesquisa imprimem cientificidade ao trabalho, e trazem até novos princípios para a historiografia do tempo presente.

O livro começa com um capítulo dando as implicações da “História do Presente e historiografia linguística”, em ensaio embasado nos estudiosos da área, para nos colocar cientes do percurso seguido pelos pesquisadores para encontrar seus métodos, análises, e reafirmar com Koerner que “os historiadores da ciência linguística terão de desenvolver seu próprio quadro de trabalho, tanto o metodológico, quanto o filosófico” (p.31). Desta forma, introduzem o livro e o segundo capítulo, o primeiro a entrar especificamente no assunto da pesquisa, contextualizando a década estudada tanto educacionalmente quanto linguisticamente, a partir da legislação e do conceito. No caso, as autoras vão buscar em 1942 e 1946 a legislação educacional vigente da década de 50 para tratar do ensino, de modo geral e de língua portuguesa, e não deixam de abordar as correntes linguísticas da época no Brasil. Os dois primeiros capítulos servem, portanto, para contextualizar todos os capítulos seguintes, já que tratam da teoria e da história de modo geral, sem fazer uso dos materiais didáticos a que se propõem.

A partir do terceiro capítulo, os leitores são convidados a observar diretamente os materiais didáticos e o procedimento teórico-metodológico usado pelos pesquisadores; e já neste capítulo, o ensino primário é abordado segundo o ideário da Escola Nova, sob o parâmetro da Série de leitura graduada, de Manuel Bergström Lourenço Filho, coleção de cinco livros adotados à época como “um suporte para as aulas de português”, tanto a leitura, quanto a ampliação lexical, a formação de palavras e a sistematização gramatical são abordados no nível escolar proposto. No quarto capítulo, com base no livro de Aída Costa, Português para a admissão ao ginásio, a admissão ao ginásio é abordada, com a reflexão dos autores “sobre como se estabeleceram os movimentos sociais, educacionais e linguísticos, especialmente, de como eles se refletiram na produção didática” (p.85), e confrontam com Lições praticas de

Page 8: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

268

Grammatica Portugueza, de Gaspar Freitas, com o intuito de “estabelecer analogias e distinções” (p. 98). Ambos os capítulos organizados para a primeira fase educacional, com análises de obras importantes para a época.

O capítulo cinco trata das “formas do ensino de língua portuguesa” voltadas para o nível ginasial, utiliza-se, para tanto, o manual de Mansur Guérios, Português ginasial, como objeto de investigação historiográfica; o autor do ensaio contextualiza o autor do manual e a época em que foi escrito, com intuito de “identificar e mapear” a prática e o pensamento “a respeito do ensino de língua materna, tendo em vista a constituição de um saber nacional sobre a própria língua e o cidadão que a utiliza” (p.106). Gramática e exercícios do manual são analisados, bem como a concepção de ensino de língua de seu autor. Já no capítulo seis, e ainda em nível ginasial, a análise é feita em cima da obra do autor Enéias Martins de Barros, Volumes I e II do Coleção Didática do Brasil; o ensaio verifica a relação do ensino-aprendizagem da época e “como eram ensinadas: a leitura, a produção textual e a análise linguística” (p.128). Com base nos princípios de “imanência e adequação” da HL, as autoras do ensaio fazem um estudo pormenorizado destes dois princípios em cima do material estudado.

Com o capítulo sete, o livro entra em nível específico: o ensino técnico. O que dá ao livro uma completude excelente da educação na época. O autores tratam este ensino com base na obra Português para o curso técnico, de José Cretella Júnior; para analisar as “pontes possíveis entre a formação técnica e a global”, contextualizam não apenas o período histórico estudado, mas este “tipo de ensino desde suas origens, no século XVI” (p.149). Leitura, gramática e produção de texto são analisados com base nestes mesmos princípios da HL, imanência e adequação, com uma abordagem minuciosa dos três anos do ensino secundário técnico (também colegial, à época). Excelente introdução para um tipo de capítulo como o oitavo, e último do livro, que aborda este nível de ensino de um modo mais geral, e, portanto, não técnico. As autoras buscam no decreto-lei n. 4.244 de 09 de abril de 1942 (vigente na década de 50), a Lei orgânica do ensino secundário, mas também em uma produção didática da época, as “questões formadoras dos sujeitos escolarizados em Língua Portuguesa na segunda metade do século XX” (p.172); com os princípios da HL, apoiados em Koerner, e na descrição e explicação de seu corpus, com base em Swiggers, o espírito da época é retratado, um quadro do

Page 9: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

269

conteúdo programático dos três anos deste ensino, junto com uma análise do português para cada ano são dados e explicados. Finalizam, assim, um livro que cobre todo o ensino de língua portuguesa e também alguma história da educação da década de 50.

O livro como um todo, escrito de forma técnica, direcionado para estudiosos e/ou simples interessados, aborda de forma excelente tanto a educação da década em questão, com suas obras mais reconhecidas e até suas leis vigentes, quanto nos deixa à vista toda espécie de usos técnico-metodológicos, dentro dos parâmetros da HL, tendo como base os renomados estudiosos no assunto, ótima oportunidade de observarmos análises feitas na prática, tipo de estudo que vem há pouco crescendo na área da linguística brasileira. Os pesquisadores do GPeHLP cumprem de forma excelente, em seu quinto volume, o papel de destacar a Historiografia Linguística, feita no Brasil, não só para o Brasil, mas para além de nossas fronteiras, dando, assim, uma bela contribuição a esta ciência.

María Victoria Navas Sánchez-Élez, El barranqueño. Un modelo de lenguas en contacto, Madrid, Editorial Complutense, 2011, 319 pp.

Juan M. Carrasco González Universidad de Extremadura

[email protected]

Se reúnen en este libro 25 trabajos (artículos, comunicaciones a congresos, capítulos), ya publicados o en vías de publicación, salvo dos inéditos, que María Victoria Navas ha ido elaborando desde 1988. Esta prolongada producción barranqueña se basó, fundamentalmente, en los resultados de las entrevistas realizadas a 30 habitantes de Barrancos, escogidos según determinadas variables de sexo, edad y escolarización, mediante un cuestionario cerrado. Las entrevistas se llevaron a cabo en 1988 y 1990, y cada una de ellas se completaba con “una conversación semidirigida de temas relacionados con los intereses de los entrevistados: el trabajo, la familia, las costumbres y los problemas de la comunidad, entre otros” (p. 12). Estoy convencido de que todo el caudal informativo de la conversación semidirigida habrá proporcionado un material mucho más rico que el cuestionario

Page 10: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

270

y, por ello, tendrá que haber supuesto una contribución fundamental, puesto que el cuestionario es muy breve (aunque bien escogido) y posee una característica que (en mi opinión) puede distorsionar algo el resultado: se basa en la lectura, por parte del entrevistado, de textos, frases y pares de palabras. El mero acto de lectura (por su carácter formal y por la referencia gráfica inmediata de cada término) puede alterar la pronunciación espontánea del informante, por no hablar de las dificultades para aplicar el cuestionario a los dos grupos de entrevistados no alfabetizados. La autora aprovecha también el material disponible en el Centro de Lingüística de la Universidad de Lisboa, como es el reunido por Lindley Cintra en 1965, así como las grabaciones de José Vítor Adragão (de 1973 y 1977) y las del Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (de 1981). Finalmente se tiene en cuenta también todo el material ya publicado sobre el barranqueño, sobre todo los trabajos de Leite de Vasconcelos, la reseña de Manuel Alvar a la obra póstuma de aquél y el ALPI, entre otros.

Es interesante constatar que la encuesta (al menos la parte cerrada) se lleva a cabo, fundamentalmente, mediante la lectura de formas estrictamente normativas del portugués. Si de ahí se van a deducir las características del dialecto, cabe preguntarse sobre la naturaleza del mismo, que no acaba de ser resuelta ni en este libro ni en los otros trabajos anteriores a éste. Naturalmente que existe una definición comúnmente admitida como “dialecto mixto” en el que confluyen características propias del español y del portugués, y así, por ejemplo, leemos en la página 192 que el “dialecto es el resultado, como ya hemos visto repetidas veces, del contacto de variedades meridionales del portugués (alentejano) y del castellano (extremeño y andaluz)”. Sin embargo, la participación de ambas lenguas no es paritaria, y bien merecería la pena, a mi modo de ver, que se realizara algún estudio de carácter dialectométrico para comprobar lo que corresponde a cada una en la configuración del barranqueño, como ya se ha hecho sobre el portuñol o dialecto fronterizo americano (y cuya comparación ha merecido un estudio por parte de María Victoria Navas en las pp. 194-200). Baste advertir a este respecto que si, en vez de confeccionar una encuesta en portugués, elaborásemos una encuesta de textos, frases y pares de palabras en español, no conseguiríamos establecer las características propias del barranqueño. Y de ahí podríamos deducir que el dialecto barranqueño es, sobre todo, un modo de hablar la lengua portuguesa, como veremos a

Page 11: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

271

continuación, aunque con numerosos elementos de influencia española. Concuerda esto con la afirmación de Leite de Vasconcelos recogida por la autora: el barranqueño sería una variedad “do falar do Alentejo Baixo, devida principalmente à influencia espanhola […] ainda que sobrepujada pela portuguesa” (p. 179, nota 191). Definiciones como “dialecto mixto”, “idioma intermedio” u otras similares, normalmente empleadas para referirse al barranqueño, deberían revisarse convenientemente.

Otra reflexión interesante sobre la naturaleza de este dialecto nos la proporciona el capítulo titulado “El barranqueño, un modelo de lenguas en contacto” (pp. 49 y ss.) Muéstrase en él una población muy heterogénea lingüísticamente en el uso de las tres opciones que conviven en la población (barranqueño, portugués y español), dándose la circunstancia de que no todos los habitantes son usuarios activos de las tres. No se puede decir, por lo tanto, que los barranqueños sean trilingües (como afirmaba Leite de Vasconcelos); por el contrario, en palabras de la autora, “se refleja mejor la realidad lingüística si se dice que en la citada villa se puede oír hablar portugués, español y el dialecto en cuestión” (p. 49). El portugués solo lo hablan las personas escolarizadas y es la lengua de uso en la administración y en los oficios religiosos. El dialecto lo utilizan los oriundos de la localidad hijos de padres barranqueños cuando hablan con otros barranqueños, incluso si dominan el portugués. Además, “hablan el dialecto los barranqueños con los restantes vecinos con los que no se establece el diálogo en español” (p. 50) – afirmación ciertamente ambigua que no me resulta fácil de interpretar, y aún más cuando viene seguida de la siguiente revelación: “En mi experiencia en la comunidad sólo encontré una persona de 72 años, analfabeta, nacida y criada en Barrancos, de padres barranqueños, que no conseguía decir una frase completa ni en el dialecto ni en portugués, pues rápidamente se trasladaba al español” (pp. 50-51).

¿Se puede deducir de esto que, en realidad, la lengua tradicional de Barrancos no es el dialecto barranqueño, sino el español meridional según la variedad hablada en las localidades vecinas de las provincias de Badajoz y Huelva? La situación de convivencia de las tres opciones lingüísticas a la que asistimos en la actualidad retrata quizás un momento de tránsito entre el español de la localidad y el portugués oficial que acabará imponiéndose. El español, según la profesora Navas Sánchez-Élez, es aún la lengua de uso en bastantes familias en la primera y segunda generación, especialmente entre las

Page 12: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

272

mujeres (es decir, las abuelas y las madres). Sin embargo, estas mismas familias se expresan en barranqueño con sus hijos jóvenes: prefieren dejar de transmitir la lengua propia, como ocurre frecuentemente en situaciones de minorías lingüísticas. En definitiva, quizás estemos tentados a creer que el barranqueño ni nunca fue la lengua tradicional de Barrancos (que debió ser el español desde su fundación en la Reconquista), ni nunca fue de uso generalizado por parte de toda la población. Parece ser que el barranqueño nace como un modo de aproximación a la lengua portuguesa por parte de una población hispanohablante que no tenía la posibilidad de aprenderla mediante una escolarización adecuada: “El barranqueño, en otras palabras, sería el aprendizaje que hicieron los castellanos del portugués” (p. 180). Ahora bien, antes de culminarse este proceso asimilatorio, el acceso a la educación por parte de las generaciones más recientes propició un proceso de mera sustitución: adquieren directamente el portugués. Todo ello (pues aún hay vestigios de barranqueños unilingües en español) habrá tenido lugar en época muy reciente, quizás solo desde el siglo XIX. Las fechas y los modelos de asimilación / sustitución son coincidentes con otras hablas fronterizas extremeñas, como yo mismo he tenido la oportunidad de mostrar en varios estudios recientes. La autora retrasa la aparición del barranqueño a la Edad Media (v. esp. pp. 179-181), lo que no concuerda con los procesos descritos.

El libro de María Victoria Navas es interesantísimo, está lleno sugerencias sobre la naturaleza del dialecto y sobre diversos aspectos de su análisis lingüístico que sin duda deberían propiciar nuevas aproximaciones (algunas de ellas anunciadas por la autora) y, sin duda, muestra un encomiable rigor científico en la metodología y gran seriedad cuando se aplican los modelos de análisis. Llama la atención a este respecto la variedad de técnicas desplegadas, quizás como consecuencia de los distintos orientadores que ha tenido su trabajo a lo largo de tanto tiempo: más tradicional en el caso de su maestro Zamora Vicente y de Lindley Cintra, quien inicialmente dirigiría su investigación en Portugal; más innovador sin duda el que se debe a los desvelos de Isabel Hub Faria y al auxilio de Alan Baxter. Del mismo modo encontramos en la obra capítulos más tradicionales (como “El espacio geográfico y su historia”, “El barranqueño, un modelo de lenguas en contacto” o toda la parte dedicada a la “Literatura oral y tradicional. Testimonios de música tradicional”), al lado de otros más innovadores (como “El efecto del contexto lingüístico en la presencia, aspiración o elisión de la -/s/” y “Factores lingüísticos y

Page 13: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

273

extralingüísticos que determinan la alternancia de las variantes de -/s/”), en los cuales se siguen modelos de análisis estadísticos, llevados a cabo con técnicas informáticas, con el propósito de establecer los procesos de variación lingüística conforme a distintas variables.

No encontramos defectos en libro tan meritorio y recomendable como éste. Hay, sin embargo, algunas opciones discutibles y numerosos despistes y erratas que podrían ser corregidos. No todo lo que aparece en la Bibliografía (que mejoraría mucho si hubiese sido clasificada) me parece que merece estar allí o que es pertinente, aunque no sobrarían otras referencias ausentes. Observo, a propósito de esto, alguna pequeña descompensación en el apoyo bibliográfico, a veces usado con cierto énfasis de doctorando. Así, por ejemplo, no creo necesario buscar sesudos estudios en varias lenguas para decir solo que Barrancos está en la orilla izquierda del Guadiana, ni reproducir descripciones de carácter geoeconómico de Huelva y Extremadura para explicar lo que debe ser la realidad portuguesa de esta localidad. En cuanto a los despistes o erratas, me llamaron la atención, por su relevancia, algunos que aparecen en el cuestionario (pp. 307-309), como es As vezes (sin acento) y la aparición de dos pares extraños: avó-avós y avô-avôs (naturalmente, el plural de avô es también avós). También creo que merecería una mayor regularidad la forma de recoger la bibliografía: unos autores aparecen con los dos apellidos y otros solo con uno (de los que tienen dos), unas actas de congresos se citan con los coordinadores y otras no, algunas editoriales se refieren de forma distinta (completa o abreviada) en distintos libros, etc. Entre la bibliografía sobre dialectos extremeños (no del todo completa), me llamó la atención cómo se cita el libro de José Enrique Gargallo Las hablas de San Martín de Trevejo..., pues parece como si se referiese a un vol. I de varios que tuviese, y como si Estudios y documentos sobre “A Fala” formase parte del título, cuando no es más que el nombre de la colección. La obra de Maria da Conceição Vilhena, Falares de Herrera e Cedilho, se cita de la siguiente manera: “Reed. en cast. y port. 2000. Mérida: Gabinete de Iniciativas Transfronterizas”. En realidad no es una reedición, sino la primera edición de su tesis de licenciatura, hasta entonces inédita, preparada por la autora con el auxilio del Centro de Lingüística de la Universidad de Lisboa; por otro lado, y en otra colección diferente, se publicó la traducción española, con una introducción de mi responsabilidad y, por exigencias de la editorial, sin dibujos ni fotografías. Son, en definitiva, pequeños ejemplos de estos despistes o

Page 14: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

274

detalles mejorables con que nos vamos tropezando al leer la obra, pero que en nada empañan la extraordinaria calidad investigadora de la autora. Mi enhorabuena por ello.

Juan M. Carrasco González, Mª Jesús Fernández García, Iolanda Ogando González y Mª Luísa Trindade Madeira Leal, Historia de la literatura portuguesa. Coord. Mª Jesús Fernández García. Mérida, Junta de Extremadura. Gabinete de Iniciativas Transfronterizas, 2011, 521 p.

Miguel Ángel Lama Universidad de Extremadura

[email protected]

Para quien desde España se asoma a la literatura portuguesa como aficionado y desde un lugar fronterizo, casi cualquier gesto de aproximación y transferencia, por pequeño que sea, es motivo de celebración. Así escribo, y no como experto; y confío en que nadie considere mi rango lector y mi natural entusiasmo atenuantes del obligado rigor crítico de una recensión de esta Historia de la literatura portuguesa que ha elaborado el área de Filologías Gallega y Portuguesa de la Universidad de Extremadura y ha publicado el Gabinete de Iniciativas Transfronterizas de la Junta de Extremadura. Una Historia que tiene un propósito preferentemente divulgativo y una orientación académica para estudiantes de portugués; una Historia de la literatura portuguesa publicada en España, desde Extremadura; y que, con esos caracteres, es un acontecimiento editorial reseñable por su significación en el contexto del conocimiento aquí de la lengua y la cultura portuguesas. Finalmente, es una tarea difícil, sin duda, redactar una historia así en un volumen de poco más de quinientas páginas.

Ese grado más de divulgación y el perfil del lector – estudiante y español – son los que hacen singular esta obra en relación con algunos de sus precedentes. Como en tantas otras formas de mirar a Portugal, fue pionero José Antonio Llardent desde su editorial Istmo al editar como Breve historia de la literatura portuguesa (1971) una versión de la de António José Saraiva, que fue un ya lejano gesto para la activación del interés de España por la literatura de Portugal. Más

Page 15: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

275

recientemente, Ángel Marcos de Dios y Pedro Serra propiciaron una Historia de la literatura portuguesa (Salamanca, Luso-Española de Ediciones, 1999), que casi coincidió en su publicación con la Historia de la literatura portuguesa coordinada por José Luis Gavilanes y António Apolinário Lourenço (Madrid, Ediciones Cátedra, 2000), la de mayor difusión de las mencionadas, a las que viene a sumarse ésta coordinada por la profesora Mª Jesús Fernández García, que se edita como manual de literatura lusa para lectores no iniciados. En él colaboran, además de la coordinadora, Juan M. Carrasco González, Mª Luísa Trindade Madeira Leal y Iolanda Ogando. Está organizado en seis grandes capítulos correspondientes a seis grandes tramos cronológicos que historian la literatura portuguesa, desde la Edad Media, con la formación del Reino de Portugal y el estudio de la lírica y la prosa medievales – a cargo de Mª Luísa Leal y Mª Jesús Fernández –, hasta la literatura de los siglos XX y XXI con nuevos nombres como Gonçalo Tavares, José Luís Peixoto o valter hugo mãe.

La obra está llamativa y justificadamente desequilibrada en sus contenidos, pues casi la mitad de todo el volumen la ocupa el capítulo VI “La literatura de los siglos XX y XXI”, redactado por María Jesús Fernández; lo que contrasta mucho con las quince páginas del capítulo sobre la literatura del siglo XVIII, escrito por Iolanda Ogando, que subraya oportunamente figuras como la de la Marquesa de Alorna, la Madame de Stäel portuguesa, como la llama. Ese desequilibrio no es solo porque la propia materia así lo exija. Por ejemplo, no es lo mismo escribir – Juan Carrasco, María Luísa Leal y Mª Jesús Fernández– sobre el gran siglo XVI de Camões y Os Lusíadas, de la novela de Bernardim Ribeiro o del teatro de Gil Vicente, que hacerlo sobre el ciertamente raquítico siglo XVII, que tanto se resiente de la presencia española, en un capítulo breve, de Juan Carrasco, que no llega a las treinta páginas. La obra, en fin, tiene esas diferencias de tratamiento por su carácter divulgativo y su afán de lograr lectores para tan cercana y extraordinaria literatura; y de ahí que el acento se ponga en lo más próximo, lo más actual. Por eso, medio libro se dedica, partiendo de la vanguardia modernista de Orpheu, a cumbres como Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes, Miguel Torga, Carlos de Oliveira, Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Cesariny, António Ramos Rosa, José Saramago, Herberto Hélder, António Lobo Antunes...

Sus fines divulgativos – nótese que todas las citas de fragmentos literarios están traducidas al español a pie de página – no obstan para que se aprecie en la redacción de estos capítulos un afán de

Page 16: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

276

exhaustividad y una voluntad de aportar aunque sea en esbozos algo al estudio de la historia literaria portuguesa. Es, sí, una obra que nace dirigida a un tipo de lector, el español. Y un tipo de lector español que puede que se acerque a la mayor parte de los contenidos del libro por vez primera. Pero al mismo tiempo, y eso honra el proyecto, quiere ser rigurosa con el objeto de estudio, y creo que el historiador de la literatura portuguesa no quedará defraudado por algunos tratamientos. Igualmente, esta historia permite repasar el eco que la literatura portuguesa ha tenido y tiene en España, al ofrecer información sistemática – en las notas al pie – sobre las ediciones en español de los principales autores tratados, privilegiando las referencias más actuales, sean de nombres antiguos, como el caso de Gil Vicente, del que se menciona la trilogía As Barcas, modernamente difundida en la edición y traducción de Andrés Pociña López (Universidad de Alcalá de Henares, 2002); sean de nombres de la literatura de los siglos XX y XXI, desde Fernando Pessoa a Miguel Torga o Manuel Alegre. En este caso, en el conjunto de los autores más cercanos a nuestra contemporaneidad, se aprecia claramente este afán informativo que busca ofrecer al lector unos datos muy actualizados, con novedades muy recientes. Así ocurre cuando se recoge esa muestra de la difusión de Teixeira de Pascoaes en la antología poética traducida por Antonio Sáez Delgado de Saudade. Antología Poética 1898-1952 (Gijón, Trea, 2006) o la muy citada antología bilingüe Alma Minha Gentil, de Carlos Clementson (2009); la novedad de la edición en España de una obra como Uma abelha na chuva, de Carlos de Oliveira, publicada por KRK en 2009; o, finalmente, la traducción poética folclore íntimo de valter hugo mãe por Martín López-Vega (2011). Son muchos los ejemplos de esta información muy útil que a veces puede resultar demasiado redundante, como ocurre cuando se alude a la mencionada antología de Clementson, que el lector encuentra en la primera nota (p. 19) del libro y que posteriormente será un lugar común referido de maneras distintas en numerosas notas, sobre todo de la sección “La literatura de los siglos XX y XXI”. La cohesión necesaria de una obra así se resuelve con solvencia, no solo por la reducción del número de colaboradores a cuatro autores; sino por una eficaz labor de coordinación, que desfallece en muy pocos momentos, como en la innecesaria reiteración de la nota en la que se informa al lector – ya avisado en la “Presentación” – de que las “traducciones de los textos son debidas a los autores de cada capítulo” y que solo “excepcionalmente se reproducen traducciones publicadas, en cuyo

Page 17: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

277

caso se indica la procedencia” (página 149, nota 1; pero también en página 180, nota 2; y en página 256, nota 1). Pocas son también las inevitables erratas, minucias todas salvo en el caso del apellido del crítico y traductor extremeño Enrique Díez-Canedo (Díaz en p. 501) y muy contadas las ocasiones en las que cabría añadir alguna referencia más a la información que se nos sirve. Así ocurre con la que se da de la poesía de Ruy Belo, que, sí, a pesar de lo que se dice (p. 394, nota 116), conoció la traducción de un libro como País posible, vertido al español por Ángel Campos Pámpano en la feliz colección “Cuaderna de poesía portuguesa” dirigida por Adolfo Navas en Madrid en los años noventa.

El volumen se cierra con un índice onomástico con voluntad de guía; pues no contiene todos los nombres citados en la obra, sino solo la nómina de escritores portugueses, de tal manera que un vistazo a la lista resuelve cualquier duda sobre la selección y da una representación del canon. Prueba evidente y final de distinción entre lo que es puramente un listado de autores y la lograda pretensión de esta Historia de la literatura portuguesa de ofrecer un análisis sucinto de sus principales movimientos y tendencias estéticos.

Carlos Manuel Ferreira da Cunha (ed.), Escrever a nação: literatura e nacionalidade (uma antologia), Guimarães, Opera Omnia / Carlos Cunha, 2011, 202 pp.

Iolanda Ogando Universidad de Extremadura

[email protected]

La paradoja constituida por la intrínseca sencillez y complejidad de la organización nacional tiene, desde hace ya dos siglos, un interesante reflejo en los discursos literarios, paraliterarios y teóricos de los principales intelectuales y/o escritores europeos. En efecto, a través de diversos posicionamientos y sus consecuentes reformulaciones paradigmáticas a lo largo de los siglos XIX y XX, las culturas del viejo continente han ido configurando y estableciendo sus retratos, sus imágenes nacionales, sus modos de (deber) ser. De este modo, y

Page 18: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

278

definitivamente ‘instaurada’ esa identidad nacional, el mismo estado y sus nuevos ciudadanos podrían pasar, de manera más o menos consciente, a borrar, diluir, disimular... esos procesos de construcción, naturalizando (banalizando, como diría Billig) el proceso de legitimación nacional de tal manera que, casi sin excepción, quedaban munidos de una ‘realidad nacional eterna’ que les permitía no sólo presentarse ante el concierto de las naciones con total seguridad, sino también utilizar esa perenne identidad como arma arrojadiza con la que poner en evidencia el proceso configurador/constructor de las nuevas formaciones nacionales.

Frente a esto, otras realidades adyacentes y/o subsumidas por ese movimiento de equiparación entre los (a veces viejos) estados y las nuevas naciones ha impedido que el polvo de la historia cubriese este proceso bajo capas insondables de olvido, sirviendo así de instrumento de denuncia o de recuerdo del ‘artefacto‘ sobre el que se basa la realidad nacional: desde las nuevas naciones hasta los colectivos queer, pasando por las nuevas identidades (post)coloniales y, por supuesto, por el pensamiento de varios intelectuales descreídos y/o desilusionados (sobre todo a partir de la 2ª Guerra Mundial), podemos rastrear una serie de trabajos de carácter teórico que, analizando estos procedimientos de configuración identitaria, nos han ayudado a desnaturalizar y comprender los mecanismos de la identidad nacional. Esencialistas y constructivistas han establecido así un fecundo e interesantísimo debate que puede ser rastreado en la bibliografía básica de las últimas décadas; aunque a decir verdad, la tendencia general entre los primeros es la de ignorar interesadamente las premisas y conclusiones fundamentales de los segundos; por lo que el debate se establece, con frecuencia, de manera tangencial y solapada.

Siendo uno de los estados más antiguos de Europa, cuyas fronteras en el viejo continente han permanecido casi inalteradas durante siglos, y siendo al mismo tiempo, una de las naciones más fervorosas y creyentes en su propia identidad, Portugal comparte muchas de las características del proceso de construcción nacional e, igualmente, muchas de sus contradicciones. Cabría destacar el constante análisis de la realidad presente y teleológica de la nación portuguesa, reflexión que, ligada a las sucesivas (y nunca bien superadas) crisis políticas, sociales y económicas se presenta inseparable del propio proceso de configuración identitaria. Esta prevalencia del ensayo sobre la identidad nacional ha conocido un

Page 19: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

279

interesante auge en las últimas tres décadas, tornándose por esto mismo, ya no sujeto de ciencia, sino objeto de la misma. En este sentido, resulta clarificador ver como toda esta ‘literatura‘ alrededor del hecho nacional portugués muestra claramente la profunda contradicción entre la creencia depositada en los valores nacionales y la voluntad de objetividad teórico-intelectual; problema con frecuencia resuelto a través de la tercera vía constituída por las propuestas etno-simbolistas que lideraban los estudios de Anthony D. Smith. Nombres de reputados ensayistas e historiadores como Eduardo Lourenço o João Medina, son buena muestra de esta búsqueda; y un paso más allá, se encuentran sin duda obras todavía más banalizadoras de la identidad portuguesa (José Gil, Miguel Real, Santos Pereira, etc.).

En nuestra opinión, pocos son los estudiosos en el ámbito intelectual portugués que asientan su investigación en la perspectiva constructivista; es decir, pocos son aquellos que, a final de cuentas, consiguen sustraerse a la creencia de una realidad nacional trascendente, y por lo tanto, a la contradicción que señalábamos. Uno de los más renovadores y reputados autores de este reducido círculo es, sin duda alguna, el profesor de la Universidade do Minho, Carlos Manuel Ferreira da Cunha. En A construção do discurso da história literária na literatura portuguesa do século XIX publicado en 2004, este autor hacía público el trabajo de su tesis doctoral que, entre otros aspectos, ponía de relieve la participación y colaboración de los intelectuales portugueses en la configuración de la identidad nacional portuguesa, no sólo como literatos, sino también como narradores de la vida intelectual de la nación a través de la historia literaria, disciplina emergente en las instituciones educativas durante la segunda mitad de Oitocentos.

En la línea de los estudios presentados en aquel volumen, Carlos Cunha nos presenta en Escrever a nação: literatura e nacionalidade una antología de textos alrededor de ese proceso de configuración identitaria, todos ellos reunidos bajo un denominador común: la literatura y su participación en este proceso. Como discurso privilegiado en estos dos siglos, gracias a su capacidad de narrar la nación, la literatura y, tras el, la reconstrucción y divulgación de la historia literaria, se han encargado de retratar el espíritu, el alma común, bien fuese a través de los personajes de ficción, bien fuese a través de los escritores (Luís de Camões es el caso paradigmático, pero, obviamente, no el único) transformados también en figuras narrables.

Page 20: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

280

Con clara vocación didáctica, Cunha nos introduce en este tema con la elección de dos conjuntos de textos: una primera serie de ensayos centrados en la descripción del papel de la literatura en la creación de las identidades nacionales; y un segundo grupo formado por textos y paratextos de autores e historiadores lusos que reflexionan sobre la literatura y la nación portuguesa. Así, si en el primer bloque nos encontramos fragmentos de obras fundamentales en este campo como el discurso proferido por Ernest Renan en 1882, o los más recientes clásicos de Benedict Anderson, Eric Hobsbawm, Anne-Marie Thiesse o Itamar Even-Zohar; en un segundo bloque, podemos seguir las ideas y opiniones de autores fundamentales en la configuración del imaginario nacional portugués: desde los románticos Almeida Garrett o Alexandre Herculano, a historiadores literarios del siglo XX, como Jacinto do Prado Coelho o António José Saraiva. Esta selección de pensadores lusos le permite a Cunha ir rastreando la relevancia y la presencia de algunos de los factores fundamentales en la check-list identitaria: la literatura y la cultura populares en Garrett o Saraiva; la historia y la épica en Alexandre Herculano o Fidelino de Figueiredo, etc. Resulta curiosa (y quizás más revisable) la incorporación en este segundo bloque de dos textos sólo relativamente ligados a Portugal o a la Lusofonía, uno relacionado con América Latina, escrito por la profesora Perrone-Moisés; y otro relacionado con Galicia, de la mano del profesor (y director cinematográfico), Manuel Castelao. La posibilidad de revisión o de colocar un pequeño pero a la selección de estas dos aportaciones se debe al carácter descontextualizado y casi anacrónico que ambos textos adquieren en relación al resto: ¿hablamos de textos que nos ayudan a reconocer el papel de la literatura en dos realidades emergentes tan diversas como América Latina y Galicia? ¿se trata de otras muestras del proceso de participación de muchos de los discursos literarios (también los ensayísticos) en el proceso de configuración de las identidades gallega y… brasileña? Como decíamos, es posiblemente el aspecto más ambiguo de la selección del editor. Sin embargo, y sea como fuere, ambos textos resultan interesantes como visiones complementarias a la realidad lusa.

En conclusión, con Escrever a nação Carlos Cunha consigue elaborar un buen punto de inicio para todos aquellos lectores interesados en descubrir el papel de la literatura en el proceso de conformación histórico-cultural de la nación portuguesa, ayudándole a

Page 21: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

281

descubrir no sólo la relevancia de algunos de sus autores, sino también la de sus estudiosos.

Maria José Camões (coord.), Imagotipos literários: Processos de (Des)configuração na Imagologia Literária, Coimbra, Centro de Literatura Portuguesa, 2011, 293 pp.

Mª Jesús Fernández García Universidad de Extremadura [email protected]

No han sido hasta el momento muy frecuentes en el medio académico español y portugués los estudios crítico-literarios desde la perspectiva imagológica, a pesar de que la Imagología como disciplina ligada a la Literatura Comparada ha conocido un importante desarrollo desde que Hugo Dyserink le diera una nueva formulación en los años 60, después seguida, matizada y completada por autores como Joep Leerssen o Manfred Beller, sin olvidar en Francia los trabajos pioneros de Daniel-Henry Pageaux o los más recientes de Jean Marc Moura. El artículo que abre este volumen, debido a la coordinadora de la obra, Maria João Simões, ofrece un esclarecedor resumen de dichas escuelas y de las diversas líneas de trabajo que se dedican hoy en Europa a la Imagología Literaria, con referencia al seguimiento que este dominio de investigación ha tenido entre investigadores portugueses y brasileños. Como señala Maria João Simões, la Imagología interroga a los textos literarios sobre la imagen que construyen del otro, obligándonos a pensar sobre la “estranheza e o estrangeiro” como constructo histórico e invitándonos a leer las representaciones que en ellos circulan como componentes complejos de nuestro imaginario sobre el otro y sobre nosotros mismos. La autora traza un recorrido por los diversos afluentes que se cruzan en esta corriente de indagación sobre las imágenes, desde los postulados filosóficos (con referencia a las reflexiones sobre identidad y alteridad de Emmanuel Levinas) hasta la psicología social y la indagación en la estereotipia, pasando por la contribución de la Lingüística del texto y de los Estudios Culturales, para desembocar en un terreno propio para la investigación en Imagología: los imagotipos como “representação heterogénea e

Page 22: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

282

aglutinante”, esencialmente compleja, cambiante, dialógica y relacional entre la auto-imagen y la hetero-imagen.

En el origen de esta obra se encuentra un proyecto de investigación dirigido por Maria João Simões, profesora de la Faculdad de Letras de la Universidad de Coimbra e investigadora del Centro de Literatura de dicha universidad, que reunió a un conjunto diverso y variado de investigadores “desafiándolos” (p. 13) a trabajar en torno a cuestiones pertenecientes al ámbito de estudio de la Imagología: imágenes del otro, representación de las relaciones entre identidad y alteridad, figuraciones estereotipadas, etc.

El volumen reúne una decena de trabajos, además del artículo inicial, de los cuales los dos primeros son colaboraciones de investigadores invitados y el resto de los miembros del proyecto de investigación. Esta distinción entre invitados y equipo subraya, en el caso del primer colaborador, la incorporación de un trabajo que no pertenece al ámbito de los estudios literarios y que confirma, por ello, la vocación multidisciplinar con que se enriquece la perspectiva imagológica. En el capítulo de Joaquim Pires Valentim, la noción de representación es abordada desde la perspectiva de la psicología social, ofreciendo los resultados de una encuesta realizada a estudiantes portugueses y africanos cuyos resultados cuestiona el luso-tropicalismo como representación social y su vigencia en la sociedad portuguesa al cotejar las imágenes cruzadas entre estos colectivos.

El resto de los trabajos focalizan en todos los casos textos literarios, si bien atendiendo a problemáticas diversas: desde la tensión entre literatura regional y universal en el sistema literario brasileño y su formulación en la producción de João Simões Lopes Neto y Graciliano Ramos a través del tipo del gaucho, estudiada por João Luis Pereira Ourique, pasando por la construcción literaria del multiculturalismo de la Luanda del siglo XVII, vista por el narrador, esclavo de raza negra de un patrón holandés, en la novela A Gloriosa Família de Pepetela que analiza Maria do Rosário Cunha, hasta el análisis del imagotipo del otro africano en novelas sobre la Guerra Colonial de Lídia Jorge (A Costa dos Murmúrios) e Teolinda Gersão (A Árvore das Palavras) para explorar las formas de esta representación a través de los personajes que afirman o desmienten los estereotipos sobre la raza negra. En unos casos, como este último, se focaliza la construcción de la heteroimagen; en otros, se pretende una aproximación a la autoimagen, como en el trabajo de Cristina Mello sobre la novela O Senhor Ventura de Miguel Torga, en que la experiencia del viaje

Page 23: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

283

enfrenta al protagonista a la maleabilidad de su propia identidad cultural portuguesa; y en otros, ambos procesos son tenidos en cuenta, como hace Maria João Simões, al focalizar el choque cultural que se presenta en novelas como O Vento Assobiando nas Gruas de Lídia Jorge e O Apocalipse dos Trabalhadores de Valter Hugo Mãe, en que los personajes portugueses son confrontados con la inmigración africana y eslava respectivamente, dando cada uno una respuesta diferente al nuevo retrato multicultural de la sociedad portuguesa. También encontramos frente a frente auto-imagen y hetero-imagen en el trabajo de Lola Geraldes Xavier, quien analiza dos novelas que representan miradas cruzadas sobre el mismo acontecimiento, la Guerra Colonial, de dos autores que fueron testigos directos en campos opuestos: Mayombe de Pepetela y Autópsia de um Mar de Ruínas de João de Melo.

La variedad en los estudios alcanza también a la procedencia geográfica, cultural y lingüística de los textos literarios seleccionados. Así, el trabajo de João da Costa Domingues nos aproxima a la narrativa del francés T.B. Jelloun al analizar la construcción de la auto-imagen que el narrador de Les raisins de la Galère, inmigrante magrebí, construye del extranjero árabe en la sociedad francesa contemporánea, mientras que Alberto Sismondini considera la novela de Sélim Nassib, Clandestin, un ejemplo claro de Bildungsroman donde se nos muestra el proceso de aprendizaje y el descubrimiento de la alteridad de un joven judío inserto en el contexto multiétnico del Líbano. Por su parte, Alexia Dotras Bravo indaga en la representación que de lo portugués aparece en la obra Resistencia de la escritora gallega Rosa Aneiros, partiendo de que esta visión del país luso estuvo tradicionalmente marcada por la idealización, como medio para reforzar la propia identidad gallega diferenciándola del bloque castellano.

La Imagología literaria ofrece, como vemos, una vía extraordinariamente fértil para la exploración de los textos, revitalizando en gran medida los estudios literarios comparatistas e impulsándolos en una dirección interdisciplinar que convoca a la sociología, la psicología social o la filosofía. Esta obra surge como pionera en el ámbito ibérico, donde la Imagología tiene aún que ofrecer muchos resultados y lecturas, especialmente en lo que se refiere a las imágenes entre los vecinos ibéricos y más allá de las fronteras peninsulares y europeas, hacia América y África. Los estudios sobre relaciones literarias luso-españolas, con una tradición mucho

Page 24: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

284

más amplia y asentada entre estudiosos de uno y otro país, pueden ser muy bien punto de partida para incorporar una perspectiva imagológica a la investigación literaria comparatista, al mismo tiempo renovadora y atrayente para nuevas generaciones de investigadores más inclinados hacia los problemas que proponen los Estudios Culturales. Un libro imprescindible, por lo tanto, para aquellos interesados en una lectura del discurso literario en cuanto que vehículo de imagotipos, tanto por la base teórica propuesta como por los estudios de caso que se nos ofrecen.

João Medina, Os meus vícios, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2011, 207 pp. e A minha América, Guimarães, Opera Omnia, 2012, 437 pp.

Maria Luísa Leal Universidad de Extremadura

[email protected]

Num espaço de poucos meses, concretamente em dezembro de 2011 e maio de 2012, João Medina publicou dois livros entre os quais existem vários nexos, estando o principal patente no título: o uso dos possessivos – “os meus” e “a minha” – instaura uma subjetividade que se antepõe ao conteúdo de cada uma das obras. O “eu” que se assume nos títulos percorrerá as 644 páginas de uma prosa variada quanto ao género e temática, conferindo-lhe unidade e orquestrando o pacto de leitura.

No próprio corpo dos textos verificam-se pequenas remissões que atestam a existência de uma unidade que, numa espécie de crosta temática, passa despercebida. Na página 86 de Os meus vícios, encontramos uma referência à preparação da segunda obra: “[…] nessa Nova Inglaterra à qual dediquei tantas crónicas entusiásticas no JL (e que ando a reunir para um livro de amor fiel que se há-de chamar A minha América)” (Medina: 2011). Na segunda, podemos ler o seguinte: “[…] relembro que esta minha América é subjectivíssima e não pretende, assim, ser um ensaio sobre a cultura americana, mas um mero catálogo dos “meus amores” ou dos meus vícios” (Medina: 2012, 183). Estas alusões revelam a existência de um núcleo comum, um projeto coerente e muito mais ambicioso do que a simples reunião de crónicas. Observe-se que a expressão “mero catálogo” de vícios ou de

Page 25: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

285

amores deve ser percebida como uma classificação irónica, numa prática de auto-relativização caraterística do autor que, no caso vertente, funciona como armadilha para o leitor desprevenido. Ainda que contenham uma inequívoca dimensão de catálogo ou inventário, visto que estes vícios ou amores estão associados a um “eu” perfeitamente donjuanesco, que se compraz em enumerar as suas conquistas, a profundidade que os carateriza nada tem que ver com o esqueleto de um inventário. Desengane-se o leitor apressado de catálogos se pensa poder ler estes livros em diagonal, detendo-se apenas num ou noutro objeto de culto. São obras que exigem tempo e disponibilidade, mas que garantem aquilo que o livro, enquanto metáfora de viagem, proporciona: a transformação do leitor. Pode mesmo acontecer que se trate de obras que não são para serem lidas de maneira rápida, mas para se irem lendo, sendo neste caso produtiva a metáfora do passeio, da pequena incursão aventurosa.

O recurso às metáforas da viagem e do passeio permite-nos avançar a seguinte reflexão: estamos perante duas obras que, sem serem relatos de viagem, têm que ver com a literatura de viagens porque nelas se articula uma relação produtiva entre viagem, exílio e aprendizagem. Apesar de uma assumida e até reivindicada dimensão autobiográfica, tendo mais a recebê-las como constructos de uma subjetividade que viaja com livros (com a postura tão típica do intelectual que vê a sua perceção da realidade mediada pelas suas leituras), construindo-se ficcionalmente no contacto com elementos de uma realidade profusamente representada através de referentes verificáveis se passarmos do texto para o mundo. Porém, e apesar da possibilidade desta verificação através de fontes documentais honesta e profusamente citadas em extensíssimas notas de rodapé, a dimensão que se me afigura como mais interessante para um ulterior estudo destas obras é o filtro subjetivo, a história da construção de um sujeito fictício que, visivelmente, entusiasma o autor, desconfiado dos limites da autobiografia: “Em alguns livros tentei resumir estas peregrinações e aventuras, dando-lhes um sentido e uma lógica, como naquele que se editou em fins de 2006 (Náufragos do Mar da Palha), mas receio que o género autobiográfico não passe duma ficção na primeira pessoa […]” (Medina: 2011, 84-85).

É um sujeito que busca cumplicidade e empatia, que combina complacência e provocação, que estende uma mão pacientemente didática, mas que regressa, tantas e tantas vezes, aos seus cavalos de batalha, mesmo quando estes são suscetíveis de lhe restarem leitores.

Page 26: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

286

Aí reside uma caraterística de uma prosa torrencial e esmagadora quando trata de ajustar contas com o passado, tanto no plano pessoal (dissidência em relação à ditadura e assunção das respetivas consequências) como histórico (perseguição aos judeus e consequente empobrecimento do capital humano em épocas mais distantes da história de Portugal, para dar apenas um exemplo). Uma prosa que, no entanto, também é capaz de conter a sua tendência para o libelo acusatório e assumir uma leveza quase lírica, um olhar particularíssimo sobre o real quotidiano que transfigura objetos banais e os converte em símbolos de uma mitologia pessoal: o encontro, face a face, com uma cigarra da Provença, o jardinzinho do Vert Galant em Paris ou o paredão de Cascais são exemplo da apropriação feliz de paisagens alheias e da respetiva conversão em marcos imaginários da construção do sujeito mediniano. Finalmente, uma prosa disciplinada por um ofício de historiador que se coloca sempre ao serviço dos seus objetos de estudo e que persegue (e alcança) uma clareza invejável, capaz de combinar a pedagogia de uma explicação muito concreta com uma grande erudição. É o que se observa, por exemplo, em todas as páginas que dizem respeito ao cinema de Hollywood em A minha América. Sem que João Medina pretenda estabelecer nenhum cânone nem ser exaustivo e reivindicando sempre como critério único das suas escolhas os seus gostos pessoais, a verdade é que, ainda que os não partilhe, o leitor encontrará nestas páginas uma informação notável tanto em relação ao fenómeno em si e à sua relação com o imaginário americano, como a centenas de pormenores inventariados com a paciência do colecionador e apresentados com o amor empenhado que poderíamos encontrar no comissário de uma exposição temporária de um hipotético museu do saber universal.

Poder-se-á perguntar: porquê temporária? Porque tudo, neste universo, é verve de um sujeito. E este sujeito não escreve tantas páginas apenas por habitus. Constrói-se entre a busca do sentido de um percurso de lugares que vão do exílio ao turismo e a consciência de ser “pó levantado”, como escreveu António Vieira (Apud Medina: 2011, 81). Ou, dito de maneira mais radical: “Mas nem pó somos, afinal, mas mera sombra desse pó, sonho silencioso de um pó que, uma vez, agora ou há séculos atrás, foi pó que se levantou e espera apenas o momento de sermos deitados por terra, devolvidos à nossa final condição de pó caído (Medina: 2011, 83).

Em Os meus vícios, na sua terceira parte intitulada “O bater do meu coração”, encontramos uma questão fundamental: a da razão de

Page 27: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

287

ser da sua existência, questão que acompanha uma tomada de consciência da própria finitude, ao fazer um ecocardiograma: “[…] o meu órgão essencial, aquele que mantém vivo o ser mortal que sou, que o irriga de sangue e o faz pulsar por todo o meu organismo, e me permite, por exemplo, escrever estas linhas numa folha branca, durante umas férias tranquilas na Corrèze, sai da sua modesta obscuridade e dá os primeiros sinais de fraqueza, de fadiga, de envelhecimento natural” (Medina: 2011, 78). É justamente nesta parte que a entidade que diz “eu” – note-se que evito chamar-lhe “autor” – nos oferece uma leitura orientada do seu passado à luz daquilo que chama o “labirinto do exílio”, um “estrangeirismo que acabaria por se tornar numa segunda natureza íntima e indelével” (Medina: 2011, 84). No essencial, fá-lo sob forma de interrogação, uma interrogação ampla, assente numa retórica poderosa, baseada na figura da acumulação. Por isso, não poderemos cortá-la, terminando com essa citação este breve convite à leitura de Os meus vícios e A minha América, de João Medina, não como quem vai apenas à procura dos seus temas mais explícitos, mas como quem se interessa pela figura de sujeito que ambos configuram, uma entidade a cavalo entre mecanismos de veridição próprios da autobiografia ou do ensaio e a ficção que deriva do próprio ato de rememoração e da respetiva narrativização:

Que sentido dar a todas estas viagens e expatriações forçadas ou voluntárias, de barco e de comboio, de avião e de carro, pela Europa, pela África e Américas – onde uma certa família de marranos madeirenses, oriundos de Espanha no tempo da ocupação filipina, deportada durante o oitocentismo para Cabo Verde pela contra-revolução anti-liberal, ali se radicaria e se multiplicaria desde o século XIX, uma vez que os meus bisavós, avós e meu pai nasceram nas ilhas africanas, assim como dois dos meus filhos nasceriam, no exílio, em terras de França, em Estrasburgo e Aix. Como explicar este gene da errância e da viagem compulsiva – recordo o rifão sionista: “Pode tirar-se o judeu do exílio, mas não o exílio do judeu” –, de perder algumas terras e ganhar outras, de ter duas ou mesmo mais pátrias, uma maior, a propriamente nacional, e uma mais pequena e mais íntima, a tal patria chica de que falam os espanhóis, que não é aquela onde viemos ao mundo a mando do cego Acaso, mas o dilecto rincão onde optámos, por fim, voltar a criar raízes, que tornamos realmente nossa por nela residirmos e nos sentirmos bem, como terra escolhida – terra prometida finalmente dada? –, de acolhimento e de preferência, como este meu Monte Estoril onde vivo, há quase duas décadas, e onde, cada vez mais, sinto como o meu húmus verdadeiro e final, não a mera

Page 28: RECENSÕES CRÍTICAS Reseñas / Recensões críticas 6/13rese.pdf · historiográfico, São Paulo, Editora PUC-SP, 2005, 225 pp. Jefferson Lucena dos Santos1 PUC/SP jefflucenas@hotmail.com

RESEÑAS / RECENSÕES CRÍTICAS

288

Ítaca a que mecânica e ritualmente se volta depois dum ciclo de longas peregrinações (que vem de per agros, “pelos campos”) feitas de tantos caminhos, descaminhos e desvios, de alpondras arduamente atravessadas no meio de temporais desfeitos, mas a Ítaca utópica que fundamos ao declará-la como tal, o lugar mítico mas real onde voltamos a ter aquelas raízes verdadeiras, não aquelas onde nos plantaram sem nos consultarem? (Medina: 2011, 87).