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23/03/2017
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PUC Goiás - Psicologia Social I
A PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA E SEU DESDOBRAMENTO NA AMÉRICA LATINA
Resgate histórico - Brasil
DÉCADA DE 1950
Psicologia Social: disciplina no curso de Filosofia da USP, após a vinda de Otto Klinenberg (EUA).
Primeira obra de Psicologia Social (Otto Klinenberg-1959) a ser traduzida para o português.
Modelo norte-americano: comportamento social dos animais, motivação, comportamento emocional, fatores sociais e culturais na personalidade, interação social etc.
PUC - SP funda o seu Instituto de Psicologia: sob a direção do Prof. Enzo Azzi , que trouxe da Itália um laboratório de psicofísica (base da psicologia experimental).
Resgate histórico - BrasilDÉCADA DE 1960:
Regulamentação da profissão e criação de cursos de psicologia (1962).
Golpe Militar (1964): levou ao questionamento sobre as práticas psicológicas e a de metodologias que pudessem empreender a transformação da sociedade (ação em comunidades).
Movimentos Universitários (1968): Questionamentos sobre o ensino e o papel da academia e contribuiu para uma reflexão crítica sobre a função da universidade em países de terceiro mundo.
Crise da Psicologia Social: percepção da inviabilidade da tendência positivista, na análise dos fenômenos sociais.
Crise da Psicologia Social
Alguns professores começavam a questionar a sua prática em toda a Europa:
França: Críticas feitas por Moscovisci. Psiquiatria democrática.
Inglaterra: Desenvolvimento da Teoria da identidade Social (Tajfel), e o crescimento do movimento da antipsiquiatria.
França e Inglaterra são berço das críticas mais incisivas ao modelo reproduzido da PSO (Foucault, Goffman, Deleuze, Guattari).
Brasil: Desenvolvimento da Psicologia Comunitária (mas ainda sem perspectiva crítica). Reprodução do modelo dos EUA.
DÉCADA DE 70 – REVISÃO CRÍTICA
Como a psicologia social poderia ajudar a criar uma nova sociedade -movimento de resistência à ditadura militar.
A Crise da PSO na América Latina – “assume o caráter político, de militância e defesa dos menos favorecidos” (Silvia Lane,1984) .
Prática nas comunidades: teoria ainda marcadamente de perspectiva individualista. Primeiro livro brasileiro de psicologia social (1972) é de Aroldo Rodrigues.
Silvia Lane - Psicologia Social CríticaSó havia um livro de PSO em português (Otto Klinenberg).
Propunha aos alunos ir a campo e fazer pesquisas.
Revisão críticas dos conceitos e preceitos da psicologia.
Necessidade de superação da PSO tradicional também no plano teórico.
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DÉCADA DE 1980
Se caracterizou por dois aspectos:
Intercâmbio intenso entre os países da América Latina -intervenção não assistencialista e uma atuação que desenvolvesse a consciência e a autonomia de grupos marginalizados social e economicamente.
Melhor definição metodológica: melhor sistematização da Pesquisa Participante como método de estudo de processos psicossociais onde a história de indivíduos e grupo é registrada, é testada enquanto práxis científica.
PSO Latino AmericanaRuptura real com a visão de uma psicologia harmônica, adaptativa e individualista sobre o homem e a vida social.
Compromisso com a transformação social da realidade.
Congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia - SIP (1979): críticas incisivas e propostas concretas de redefinição do modelo da PSO LA:
Criação do Núcleo de Psicologia Comunitária (reuniu profissionais de toda a AL) e de Associações nacionais de PSO.
Institucionalização da Perspectiva Latino-Americana
Anos 1960: Criação da Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO) por Varela e A. Rodriguez, formados nos EUA.
O objetivo desses autores era aplicar e desenvolver o tipo de Psicologia Social aprendido por eles em seus estudos de doutorado realizados nos EUA.
1979 em Lima: a representatividade da ALAPSO foi questionada e proposta a criação de Associações Nacionais.
Ano de 1980: Rompimento de um grupo de psicólogos com a ALAPSO e a criação da Associação Brasileira de Psicologia Social – ABRAPSO.
Essa associação, juntamente com outras desenvolvidas no interior dos países latino-americanos, surgiu em contraposição à Psicologia Social veiculada na ALAPSO.
A perspectiva latino-americana
Concepção: representa um conjunto de esforços de psicólogos sociais com a finalidade de desenvolver estudos sobre conceitos psicossociais (representações sociais, saúde mental, identidade, consciência social, subjetividade), em perspectiva universal e não dicotomizada.
Objetivo: abrir caminhos teóricos e metodológicos comprometidos com os grandes problemas sociais vividos na América Latina, em busca da transformação da realidade.
Principais Autores da PSLA na atualidade
Inácio Martin-Baró – Esse autor defendia a não neutralidade da ciência e o compromisso político do pesquisador;
Outros nomes no Brasil: Sílvia Lane; Bader Sawaia; P. Guareschi; A. Ciampa; Leoncio Camino.
Áreas de Estudo que Permitiram o Desenvolvimento da PSLA:
Psicologia Comunitária (da comunidade, na comunidade, com a comunidade)
Psicologia Política.
Quadro Comparativo das Perspectivas em Psicologia SocialAspectos
Comparáveis
Perspectiva
Americana
Perspectiva
Européia
Perspectiva
Latino-
Americana
Teórico Comportamento e
Cognição dos
Indivíduos
Relações entre os
grupos
Manifestação da
subjetividade do
indivíduo
Metodológico Defende a
experimentação e
quantificação
Adota postura
multimetodológica
Nega a
experimentação
e a quantificação.
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A perspectiva latino-americana crítica
Concepção: busca compreender a subjetividade em interface com o contexto social, sob perspectiva universal e não dicotomizada.
Objetivo: produzir conhecimento (teórico e metodológico) comprometido com os grandes problemas sociais vividos na América Latina, com a história dos sujeitos, em busca da transformação da realidade.
Conceitos Centrais da PSLA
Linguagem: É o pensamento em ação, promove a consciência e reproduz a ideologia (Psicologia Sócio-Histórica de Vigotski).
Identidade Social: Conceito inserido nas relações interpessoais, ao mesmo tempo reprodutor e transformador.
Atividade: Práxis Social (Ação e Reflexão).
Processo Grupal: Supera a concepção de grupo como algo estável e reificado - visão topológica.
Análise de relações de dominação e de poder, busca ajudar os sujeitos a desenvolverem suas consciências e seus potenciais críticos e transformadores
Posicionamento Metodológico da PSLA Crítica
Objetivo: Estudar a subjetividade do indivíduo se manifestando no conjunto de suas relações sociais e no cotidiano de suas ações.
Meta: Superar a dicotomia entre a vida interna e externa, compreender o sujeito contextualizado (espaço social e histórico).
Identidade da PSO latino-americana: Compromisso com os setores mais desfavorecidos e com a busca pela mudança social, métodos participativos de intervenção, crença no poder da ação.
Psicologia Social - “Estuda a subjetividade do indivíduo se manifestando no conjunto de suas relações sociais e no cotidiano de suas ações” (Lane, 2001)
Que indivíduo é esse?
Sujeito sócio-historicamente constituído – capaz de criar e recriar a sua história (criatividade/transformação).
De materialidade histórica: sujeito concreto produzido pelos homens e ao mesmo tempo produtor dos homens.
Papel da Psicologia Social: recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade, sujeito não natural.
O Homem como sujeito concretoA ciência positivista, ao valorizar a objetividade dos fatos, perde o ser humano, como sujeito constituinte e constituído socialmente.
Superação da Visão Dualista do Homem (Psicologia Social Psicológica)
◦ socialmente determinado (sociologismo)
◦ ou causa de si mesmo (biologismo)
Psicologia Social Sociológica versus Psicologia Social Psicológica
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A partir das críticas à Psicologia Social “tradicional” observa-se...
Dois fatos fundamentais para o conhecimento do sujeito:
1. O homem não sobrevive a não ser em relação com outros homens - dicotomia indivíduo X grupo é falsa.
2. A sua participação, as suas ações, por estar em grupo, dependem fundamentalmente da aquisição da linguagem que preexiste ao indivíduo como código produzido historicamente pela sociedade.
O psicólogo social analisa o indivíduo concreto, constituinte e constituído nas relações grupais, na linguagem, no pensamento e nas
ações.
A Psicologia Comunitária no Brasil
Posicionamento Metodológicoda PSLA Comunitária
Objetivo: Estudar a subjetividade do indivíduo se manifestando no conjunto de suas relações sociais e no cotidiano de suas ações.
Meta: Superar a dicotomia entre a vida interna e externa, compreender o sujeito contextualizado (espaço social e histórico).
Identidade da PSO latino-americana: Compromisso com os setores mais desfavorecido e com a busca pela mudança social, métodos participativos.
Psicologia Social Comunitária
Preocupa-se com a cidadania efetiva (escolarização, saúde,
trabalho, questões de gênero) e auxilia as políticas públicas nas
proposições subjetivas e equitativas, não igualitárias.
Psicologia Social Comunitária (PSC) no Brasil, nos últimos 50 anos:
Marcada pela contraposição aos dispositivos conceituais, aos locais de trabalhado consagrados e às práticas da psicologia social norte-americana ao longo do século XX.
Marcada pela inserção da noção de comunidade em seu conjunto de princípios.
Novas diretrizes da Psicologia Social Comunitária Deselitizar a Psicologia.
Aproximar-se da realidade concreta da população.
Historiciza a vida social – consciência do sujeito da ação.
Trabalha com os seguintes conceitos: Fortalecimento dos grupos
minoritários, consciência social e de classe, relações de poder,
identidade social, subjetividade auntônoma.
Histórico da aproximação da Psicologia aos setores denominados menos favorecidos ou populares
Concretizou-se a partir do final da década de 80 - processo de redemocratização do País, a promulgação da nova Constituição e a consolidação de um conjunto de políticas sociais.
No setor de saúde - com a organização do SUS, a abertura dos campos de atuação foi favorecida pela abertura de campo de trabalho nas instituições públicas de saúde.
A instituições públicas de saúde - atendiam, sob o primado das ações territoriais, a populações menos favorecidas economicamente.
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Nos territórios norte-americano e europeu...
O surgimento da Psicologia comunitária ocorreu em meados da década de 60:
Relacionado aos movimentos sociais comunitários, em especial os de saúde mental, com a constituição dos serviços de saúde mental de base comunitária.
Críticas às intervenções exclusivamente médicas e hospitalocêntricas nos casos de doença mental.
Inspirados nos pressupostos da psiquiatria preventiva, esses movimentos tinham como objetivo não somente tratar as doenças mentais mas também preveni-las.
Intervenções expandem o foco para as comunidades compreendendo-se como produtoras de adoecimento mental.
As origens da Psicologia comunitária na América Latina
Vinculação com a Psicologia social - atenção voltada aos graves problemas socioeconômicos da região buscando superá-los.
Tem sido relacionado, também, à Psicologia social crítica, à teologia da libertação e à educação popular.
Década 70 - alguns psicólogos sociais começaram a se aliar a movimentos comunitários que surgiam no Brasil (Comunidades Eclesiais de Base e os movimentos na área de saúde mental)
Aumenta o índice do envolvimento dos psicólogos com as questões sociais.
O desenvolvimento da PSC no Brasil -contexto
Fim da ditadura militar:
As discussões sobre os trabalhos realizados em comunidades foram objeto de mais atenção.
Era uma atividade não remunerada, clandestina e voluntária (engajamento e militância política).
O termo Psicologia comunitária passou a ser adotado por profissionais em debates e reflexões.
Psicologia ComunitáriaPsicologia da Comunidade (sai do espaço elitista de atuação)
Psicologia da Comunidade (envolve com processos coletivos e públicos e também institucionais)
Psicologia Comunitária (modelo de psicologia crítica, não adaptacionista, tomada de consciência e identidade cultural)
O que é a Psicologia Social Comunitária?
Não é uma extensão da clínica, não é uma Psicologia na comunidade, e nem uma tecnologia social.
Objeto central: “o reflexo psíquico da vida comunitária (...) no psiquismo de seus membros e a potencialização da consciência a partir das condições de vida da comunidade”.
Questão central: “o desenvolvimento do indivíduo como sujeito histórico, social e comunitário (...)”,
Não faz relação entre saúde e doença ou prevenção e tratamento.
(Góis, 1990)
Como veio se desenvolvendo o trabalho da PSC? Atuação junto a sujeitos sociais concretos nas áreas de saúde, saneamento e urbanização das comunidades carentes.
Intervenções realizadas com associação de moradores, grupo de mulheres, grupo de jovens, grupo de idosos, centros de cultura, lazer, etc.
Caracterizando-se como um trabalho realizado junto aos movimentos sociais com vistas ao cooperativismo e à autonomia das comunidades.
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Quem é o Psicólogo Comunitário? Deve estar preparado para lidar com os problemas que afligem as comunidades (poluição, ausência de infraestrutura de saneamento, ausência de áreas de lazer, precariedade dos meios de transporte e trânsito congestionado).
Age no fortalecimento de lideranças comunitárias.
Visão Crítica: compreender a contradição das mobilizações comunitárias, que surgem por demandas concretas e que, quando atendidas, tendem a desmobilizar os grupos.
“o trabalho do psicólogo comunitário é um trabalho psicossocial dirigido à melhoria da qualidade de vida” (Bomfim, 1989, p. 123).
Psicologia Social Comunitária
TRABALHA COM A EMANCIPAÇÃO DOS SUJEITOS (ATORES
SOCIAIS) DO LÓCUS DE INCLUSÃO E DE EXCLUSÃO (Espaço
Social).
FORMAÇÃO DE AGENTES TRANSFORMADORES DA REALIDADE
SOCIAL – Sujeitos Ativos (Práxis).
PARA REFLETIR...
Como é a Realidade Social?
LÓCUS DE EXCLUSÃO - O QUE É ISSO?
LÓCUS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO
PROCESSO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DO CAPITAL.
Toda Psicologia é social (Lane, 1988) – PSC ou Psicologia Social Crítica
O comportamento humano é causado e produzido sócio-historicamente.
Mas que social é esse?
- Não é natural e evidente.
- É o resultado de uma construção histórica decorrente de lutas entre forças contraditórias.
PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA
ENTENDE QUE O LOCUS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO NUNCA ESTÁ “RESOLVIDO”.
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A relação de INCLUSÃO e EXCLUSÃO é dialética
A realidade é uma construção social
A Psicologia Social Crítica…
Diante de um sujeito
histórico-social e de uma
realidade construída
socialmente tem qual
Papel
Psicologia Social Crítica
Preocupa-se com a cidadania
efetiva (escolarização, saúde,
trabalho, questões de gênero).
Auxilia as políticas públicas -
proposições subjetivas e
equitativas, não igualitárias.
Várias Vertentes em Psicologia Social na Atualidade
A diversidade ocorre sob discussões e contrapontos:
Objetividade/Subjetividade
Pesquisa Quantitativa/Qualitativa.
Experimentalismo/Pesquisa Aplicada.
Ciências sociais/Ciências Naturais.
As respostas a essas questões resultaram nas diferentes psicologias sociais (diversos fundamentos epistemológicos e metodológicos) = psicológica X sociológica X crítica.
PSO Crítica
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A PSO na atualidade...América do Norte – os psicólogos sociais continuam se voltando para os temas clássicos: percepção, comunicação, persuasão, atribuições causais, entre outros. Indivíduo e sociedade dicotômicos, polos opostos.
Europa – a psicologia social está mais preocupada com a estrutura social e com o contexto social: identidade social, relações intergrupais e institucionais, representações sociais.
América Latina – a psicologia social está mais voltada para os problemas políticos e sociais, na busca pela transformação da realidade social.
Principais Teorias Contemporâneas
Teoria das Representações Sociais: Moscovici e Denise Jodelet
Construcionismo social: Mary Jane Spink
A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt: Adorno, Horkheimer, Marcuse e Habermas
A Teoria Sócio-Histórica: Vigotski
Tendências na América Latina
A psicologia Social Crítica não é a única tendência na atualidade.
Vários psicólogos sociais na região vêm desenvolvendo seus trabalhos com base em referenciais da Psicologia Social Norte-Americana ou da Psicologia Social europeia.
É possível afirmar a existência de uma Psicologia Social latino-americana que reúna traços próprios de identidade?
Álvaro e Garrido (2006)