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Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Mestre em Ensino de Português e de Línguas Clássicas no
3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário ou de Espanhol nos
Ensinos Básico e Secundário, realizado sob a orientação científica
da Professora Doutora Maria Antónia Coutinho, Professora
Associada, e do Professor Doutor Alberto Madrona
Fernández, Professor Auxiliar Convidado.
AGRADECIMENTOS
À Professora Doutora Maria Antónia Coutinho e ao Professor Doutor Alberto
Madrona Fernández, Orientadores do presente relatório, pela partilha de
conhecimentos, pelo rigor, pela fonte de inspiração, pela disponibilidade e pelo
encorajamento, que se mostraram fundamentais no desenvolvimento deste trabalho
de investigação.
À Professora Isabel Aleixo, Orientadora de Português na Escola Básica e
Secundária Ibn Mucana, pela orientação, pelos conselhos, pela disponibilidade e pelo
apoio. À Professora María Ruiz, Orientadora de Espanhol na mesma escola, pelo
acompanhamento e pela ajuda. A toda a comunidade educativa da Escola Básica e
Secundária Ibn Mucana pela simpatia e atenção que sempre me dedicaram.
FORMAS DE INTERAÇÃO ENTRE ESCRITA E ORALIDADE
NO ENSINO DE GÉNEROS DE TEXTO
Relatório da Prática de Ensino Supervisionada
Aurora Maria Barradas Teles Antunes
RESUMO
O presente relatório divide-se em duas partes essenciais. Na primeira parte, é apresentado o enquadramento teórico que subjaz à didática de géneros de texto no ensino da língua materna e estrangeira, atendendo à sua dimensão pragmática e comunicacional. Neste contexto, é dada relevância a atividades pedagógicas estruturadas – designadas como sequências didáticas – e às vantagens decorrentes do recurso a géneros textuais escritos, orais e mistos para o desenvolvimento de competências associadas à escrita e à oralidade, duas dimensões linguísticas cuja importância é defendida.
Na segunda parte deste relatório, procede-se à descrição e análise reflexiva da implementação de sequências didáticas relativas a géneros escritos, orais e mistos numa turma de 8.º ano e noutra de 10.º ano, no âmbito das disciplinas de Português e Espanhol. No caso do Português, é evidenciada a eficácia pedagógica de processos de retextualização do registo oral para o escrito em relação a um género textual misto – a entrevista. No caso do Espanhol, é avaliada sobretudo a eficácia da passagem de um género escrito para um género oral, através da exposição oral de cartazes informativos.
PALAVRAS-CHAVE: géneros de texto, ensino, português, espanhol, escrita, oralidade, sequência didática.
INTERACTIONS BETWEEN WRITING AND ORALITY
IN TEXT GENRE TEACHING
Supervised Teaching Practice Report
ABSTRACT
This report is made out of two main parts. First, the theoretical background behind the teaching of textual genres in native and foreign language education is brought forth, bearing in mind the pragmatic and communicational aspects of language. A special kind of structured teaching activities – the so-called didactic sequences – is then highlighted alongside the usage of oral, written and mixed textual genres as they promote the development of written and oral skills, which are assumed to be extremely important from an educational point of view.
In the second part of this report, the practical implementation of didactic sequences concerning oral, written and mixed textual genres is described and reflected upon, in the learning context of an 8th grade and a 10th grade of Portuguese and Spanish language classes. As far as the Portuguese language is concerned, the effectiveness of using retextualization processes in a mixed genre – the interview – is shown. With the Spanish language, the efficiency of converting a written genre to an oral genre, through the oral presentation of informative posters, is also assessed.
KEYWORDS: Textual genres, education, Portuguese, Spanish, written skills, oral skills, didactic sequence.
ÍNDICE Introdução Capítulo 1 – Os géneros de texto, a escrita e a oralidade 1. 1. Géneros de texto e competência comunicativa
1. 1. 1. A noção de géneros de texto 1. 1. 2. A importância da competência comunicativa
1. 2. O papel dos géneros de texto como instrumentos didáticos 1. 2. 1. Abordagem comunicativa e didática de géneros de texto 1. 2. 2. Os géneros de texto nos documentos orientadores da prática pedagógica 1. 2. 3. O recurso aos géneros de texto no processo de ensino-aprendizagem 1. 2. 4. As sequências didáticas
1. 3. Escrita e oralidade 1. 3. 1. Diferenças e correlações entre escrita e oralidade 1. 3. 2. O aperfeiçoamento da escrita e da oralidade e atividades de retextualização
Capítulo 2 – Contexto da Prática de Ensino Supervisionada 2. 1. Escola EB/SEC Ibn Mucana: meio escolar e comunidade educativa 2. 2. Prática de Ensino Supervisionada em Português 2. 2. 1. Caracterização das turmas 2. 2. 2. Aulas observadas e lecionadas: descrição e reflexão 2. 2. 3. Participação nas atividades da escola cooperante 2. 3. Prática de Ensino Supervisionada em Espanhol 2. 3. 1. Caracterização das turmas 2. 3. 2. Aulas observadas e lecionadas: descrição e reflexão 2. 3. 3. Participação nas atividades da escola cooperante Capítulo 3 – PES: interação entre escrita e oralidade no ensino de géneros de texto 3. 1. Géneros de texto: uma visão de conjunto 3. 1. 1. Panorama geral das atividades realizadas 3. 1. 2. Metodologias aplicadas na prática e na avaliação 3. 2. Géneros de texto trabalhados em Português 3. 2. 1. Géneros e modos de realização escrita e oral 3. 2. 2. Interação entre escrita e oralidade 3. 3. Géneros de texto trabalhados em Espanhol 3. 3. 1. Géneros e modos de realização escrita e oral 3. 3. 2. Interação entre escrita e oralidade 3. 4. Questionários aos alunos: análise e reflexão de resultados Conclusão Referências bibliográficas Anexos
1 3 3 3 5 6 6 7 10 14 17 17 19 24 24 25 25 26 29 30 30 31 33 35 35 35 39 40 40 43 45 45 46 47 50 55
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: Figura 1 – Contínuo dos géneros de texto no contexto da fala e da escrita, In: Marcuschi (2001).
ANEXO 2: Figura 2 – Aspetos envolvidos nos processos de retextualização, In: Marcuschi (2001).
ANEXO 3: Figura 3 – Fluxo das ações de retextualização, In: Marcuschi (2001).
Português
ANEXO 4: Exemplo de atividades de planificação e revisão textuais (leitura de imagem – O Grito de Edvard Munch).
ANEXO 5: Exemplo de instrumentos de revisão textual e de autoavaliação da competência de produção escrita (leitura de imagem/autorretrato).
ANEXO 6: Planificações de aulas de Português relacionadas com a produção da entrevista.
ANEXO 7: Vídeo de uma entrevista (TVI) à diretora da escola sobre a problemática abordada pelos alunos no trabalho relacionado com este género textual (vídeo disponível no CD incluído no relatório).
ANEXO 8: PowerPoint3 – Etapas da realização da entrevista (estabelecidas em conjunto com os alunos).
ANEXO 9: Guião da entrevista.
ANEXO 10: Vídeo da entrevista realizada pelos alunos à diretora (disponível no CD incluído no relatório).
ANEXO 11: Transcrição fiel da entrevista à diretora.
ANEXO 12: Textualização final da entrevista (exemplar de um dos alunos do grupo responsável pela realização da introdução).
ANEXO 13: Entrevista final à diretora do Agrupamento de Escolas Ibn Mucana para integrar o jornal escolar.
ANEXO 14: Jornal escolar – Jornalando – e entrevista à diretora (site da escola).
ANEXO 15: Ficha de autoavaliação do aluno.
ANEXO 16: Questionário anónimo de avaliação do trabalho realizado pela professora estagiária.
ANEXO 17: Questionário a aplicar aos alunos antes e após o estágio.
Espanhol
ANEXO 18: Grelhas de observação de aulas de Espanhol – expressões e instruções orais utilizadas pela professora cooperante.
ANEXO 19: Planificações de aulas de Espanhol relacionadas com a produção de cartazes informativos e sua apresentação oral.
ANEXO 20: Ficha 7 – Reflexão conjunta sobre os erros de textos produzidos.
ANEXO 21: Imagens para integrar os cartazes informativos.
ANEXO 22: Grelha de organização dos grupos de trabalho.
ANEXO 23: FOTOS – Produção em grupo de cartazes informativos para integrar a exposição “Cascais antes y ahora”, na Semana do Patrono da escola.
ANEXO 24: FOTOS – Apresentação oral dos cartazes informativos pelos grupos de alunos.
ANEXO 25: FOTOS – Exposicão “Cascais antes y ahora” apresentada à comunidade educativa na Semana do Patrono.
ANEXO 26: Grelhas de avaliação da expressão oral.
ANEXO 27: Ficha de avaliação da expressão escrita.
ANEXO 28: Grelhas de avaliação da expressão escrita.
ANEXO 29: Ficha de autoavaliação do aluno.
ANEXO 30: Questionário anónimo de avaliação do trabalho realizado pela professora estagiária.
ANEXO 31: Questionário a aplicar aos alunos antes e após o estágio.
Resultados
ANEXO 32: Resultados da PES – gráficos baseados na análise de dados fornecidos pelos alunos de 10.º ano através de fichas de autoavaliação (anexos 15 e 29) e de um questionário (anexos 17 e 31) aplicado antes e após o estágio.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho faz parte da componente não letiva de estágio com relatório, no
âmbito do Mestrado em Ensino de Português e de Línguas Clássicas no 3.º Ciclo do
Ensino Básico e no Ensino Secundário ou de Espanhol nos Ensinos Básico e Secundário
da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O presente relatório, intitulado Formas de Interação entre Escrita e Oralidade
no Ensino de Géneros de Texto, apresenta uma reflexão sobre a Prática de Ensino
Supervisionada (PES) que decorreu no Agrupamento de Escolas Ibn Mucana, em
Alcabideche, sob a orientação da Dra. Isabel Aleixo, na disciplina de Português, e da
Dra. María Rubio Ruiz, na disciplina de Espanhol. No âmbito do Português, a prática
pedagógica incidiu numa turma de décimo ano de escolaridade; no âmbito do
Espanhol, envolveu a mesma turma de décimo ano e ainda uma outra de oitavo ano.
Propôs-se aqui investigar sobretudo qual o papel dos géneros de texto como
instrumentos didáticos no ensino do Português e do Espanhol; descrever como se
podem estruturar as sequências didáticas em torno dos géneros textuais escritos, orais
e mistos; averiguar os modos de interação entre escrita e oralidade em géneros
textuais; e ainda elucidar a contribuição dos géneros de texto para o desenvolvimento
de competências relacionadas com a produção escrita e oral dos alunos.
O relatório é estruturado em três capítulos (aos quais se acrescenta esta
introdução, a conclusão, as referências bibliográficas e os anexos). No primeiro
capítulo, Os géneros de texto, a escrita e a oralidade, faz-se referência a perspetivas
pedagógicas relacionadas com o tema a investigar. Este capítulo é dividido em três
subcapítulos. No primeiro, é definida a noção de géneros de texto e realçada a
importância da competência comunicativa. No segundo subcapítulo, é avaliado o papel
dos géneros textuais como instrumentos didáticos no ensino da língua, atendendo à
real dimensão comunicativa da linguagem; é abordada a aplicabilidade didática dos
géneros de texto estatuída pelos documentos normativos da prática pedagógica; e são
apresentadas propostas sobre a estrutura das sequências didáticas no trabalho
relacionado com os géneros de texto. No terceiro e último subcapítulo, explicam-se as
diferenças e correlações entre escrita e oralidade; é estudado o aperfeiçoamento de
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competências relacionadas com a escrita e com a oralidade dos alunos; e são ainda
elucidadas atividades de retextualização.
O segundo capítulo, intitulado Contexto da Prática de Ensino Supervisionada,
inicia-se com a caracterização do meio escolar e da comunidade educativa.
Posteriormente, são apresentados em separado o estágio em Português e o estágio
em Espanhol, cujo tratamento é organizado mediante três subcapítulos. No primeiro, é
feita uma apreciação global sobre as turmas que foram alvo da nossa prática
pedagógica. No segundo subcapítulo, elabora-se uma descrição reflexiva acerca das
aulas observadas e lecionadas, atendendo às planificações, estratégias, recursos,
atividades implementadas, produtos, avaliações e relação pedagógica. No terceiro
subcapítulo, procede-se ainda à descrição da nossa participação ativa nas atividades da
escola durante o estágio.
No terceiro e último capítulo deste relatório, PES: interação entre escrita e
oralidade no ensino de géneros de texto, procura-se averiguar de que modo a teoria
gizada no primeiro capítulo veio a ser aplicada na prática letiva do Português e do
Espanhol. No primeiro subcapítulo, é articulada uma visão de conjunto, mediante o
suporte de figuras esquemáticas, das atividades e de processos pedagógicos. No
segundo e terceiro subcapítulos, distinguem-se mais uma vez os estágios em
Português e em Espanhol, sendo cada um deles analisado separadamente quanto aos
géneros textuais trabalhados e respetivas dinâmicas entre escrita e oralidade face ao
desenvolvimento das competências dos alunos. O quarto subcapítulo termina com o
balanço final dos exercícios escolares implementados.
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CAPÍTULO 1 – OS GÉNEROS DE TEXTO, A ESCRITA E A ORALIDADE
1. 1. Géneros de texto e competência comunicativa
1. 1. 1. A noção de géneros de texto
A problemática da natureza e funcionalidade das formas de enunciação terá
surgido primeiramente na Antiguidade Clássica, com as reflexões de Aristóteles sobre
a arte retórica. No entanto, é uma abordagem contemporânea desta problemática que
aqui nos ocupará, da qual Voloshinov se assume como importante precursor. Na
década de 50 do século passado, Voloshinov (1992) defendeu que os géneros de texto1
consistem em formas enunciativas diferenciáveis pelo seu propósito temático,
composição e estilo, as quais resultam de diferentes áreas da prática social da língua.
A explicação de Voloshinov sobre os elementos constituintes que conferem
estabilidade e existência próprias aos géneros de texto é entretanto aprofundada e
alargada por outros pensadores, como Maingueneau (2004) e Adam (1992). Por
exemplo, Adam concebeu oito componentes diferenciadoras dos géneros de texto, a
saber, semântica, enunciativa, pragmática, estilística e fraseológica, composicional,
material, peritextual e metatextual (Adam, 2001: 40-41 cit. In Coutinho, 2005: 5).
Sobre esta questão, porém, em detrimento de uma análise aturada sobre a validade
dos muitos modelos de formatação genérica de textos, consideramos relevante
limitar-nos somente às vantagens didáticas decorrentes do uso de géneros textuais no
ensino da língua, materna ou estrangeira.
Assim, importa desde já adotar um conceito de género de texto que seja
globalizante e ao mesmo tempo pertinente e operacional no âmbito da reflexão
didática. Talvez a melhor maneira de aqui definirmos o conceito de género de texto
seja mediante a sua distinção relativamente ao que veio a ser convencionado como
tipo de texto. Esta distinção é evidenciada por Marcuschi (2003: 22), Pereira et al.
(2013: 40) e Miranda (2015: 219-220) que, neste ponto, se posicionam ao lado de
outros investigadores, como Biber (1988), Swales (1990), Adam (1992) e Bronckart
(2010). Segundo Marcuschi, a noção de tipo de texto tem servido para denominar
1 Seguimos aqui a designação partilhada por autores como, por exemplo, Rastier (2001), Dolz (2004),
Coutinho (2005) e Bronckart (2010).
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espécies de enunciação diferenciáveis pela sua dimensão linguística, entendida na sua
formalidade lexical, sintática, verbal e lógica. Neste âmbito, os tipos textuais podem
categorizar-se em: narrativo, argumentativo, expositivo, descritivo, dialogal e
injuntivo. São, portanto, formas enunciativas com determinadas propriedades
linguísticas intrínsecas. Por seu turno, os géneros de texto referem-se aos
variadíssimos textos empíricos materializados pela prática discursiva e caracterizados
pela sua dimensão sócio comunicativa, isto é, de acordo com o seu conteúdo temático,
a função pragmática, o canal adotado, a estrutura composicional e o estilo (não
individual mas associado ao género). Os géneros de texto surgem-nos, assim, como
sendo virtualmente ilimitados. Alguns exemplos de géneros são o horóscopo, a lista de
compras, o relato futebolístico, o romance, o telefonema de natureza profissional, etc..
Como salienta Coutinho (2011: 196-197), fazer a distinção somente entre tipos de
texto incorre em omissões graves, tais como identificar um conto tradicional ou uma
entrada de enciclopédia tão-só como textos de tipo narrativo e descritivo,
respetivamente, sem atender aos seus géneros específicos, ou às suas funções sociais,
tão díspares e certamente significativas.
Importa ainda traçar aqui uma outra distinção, relativamente à expressão
domínio2 discursivo, que Marcuschi (2008: 155) e Miranda (2012: 126) também têm o
cuidado de explicitar. Os domínios discursivos são campos bem definidos da prática
discursiva, que geram formas enunciativas específicas respeitando rotinas
institucionalizadas próprias de cada atividade em particular. Segundo Marcuschi (2008:
155), cada atividade discursiva, que está ligada a um determinado domínio discursivo,
pode propiciar géneros de texto distintos; e em cada domínio discursivo, no seio de
um determinado contexto de atividade social, podem circular diferentes tipos de
discurso: por exemplo, o cruzamento entre discurso jornalístico, discurso político e
discurso publicitário. A este respeito, Miranda acrescenta que os géneros podem
pertencer a mais que um domínio discursivo e que tais “lugares sociais” são
caracterizados pela sua “diversidade e heterogeneidade” (Miranda, 2012: 135).
2 Importa distinguir a noção de domínio discursivo aqui em destaque da noção de domínio de referência,
proposto por Buescu (2014: 5). No documento normativo da prática docente Programa e Metas
Curriculares de Português – Ensino Secundário, Buescu propõe o trabalho de “cinco domínios –
Oralidade, Leitura, Escrita, Educação Literária e Gramática”.
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Com estas distinções em mente, ganha forma uma noção intencionalmente
vaga e globalizante de género de texto, a qual, em nosso entender, deverá assumir
protagonismo metodológico no ensino da língua, materna ou estrangeira. Para
compreendermos melhor que protagonismo seria esse, interessa considerarmos a
chamada competência comunicativa e qual a sua relevância possível para o processo
de ensino/aprendizagem.
1.1.2. A importância da competência comunicativa
O conceito de competência comunicativa surge pela mão de Hymes (1972) em
reação contra a noção de competência linguística teorizada por Chomsky (1965). Para
Chomsky, a competência linguística é distinta e deve ser avaliada separadamente da
performance linguística (Campos, 1991: 22-31), reduzindo-se apenas ao conhecimento
lógico e gramatical da língua do falante-ouvinte. Ainda que Chomsky tenha mais tarde
admitido uma competência pragmática, a qual incide em aspetos regrados do uso da
linguagem, é todavia notória a subalternização da dimensão interpessoal e
comunicativa da linguagem ao ideal de uma exatidão lógica e gramatical (Cenoz, 2004:
449-452). Com efeito, a teoria de Chomsky não admite as diferentes realidades
comunicacionais dos falantes-ouvintes, procedentes dos seus estatutos e contextos
sociais específicos ou do facto de serem ou não nativos da língua. Não será pois de
estranhar que a figura idealizada por Chomsky de um falante-ouvinte competente
tenha vindo a ser encarada como reducionista e limitadora para a lecionação da língua,
materna ou estrangeira (Cenoz, 2004: 451-455).
Apostado em conferir um maior relevo ao contexto sociolinguístico, Hymes
(1972) avança a noção de competência comunicativa, em que os critérios de
comunicação, a par dos preceitos gramaticais, também incluem a adequação ao
contexto, o que pressupõe a habilidade subjacente de atender às características dos
interlocutores e das suas relações socioculturais (Hymes, 1991: 25). Esta viragem na
forma de conceção do uso da língua envolve, como sublinha Cenoz (2004: 451), não
um mero acréscimo, mas uma “ampliación cualitativa”. Deste modo, a competência
comunicativa, enquanto parte intrínseca da atividade linguística, integra uma faceta
dinâmica, de negociação de significados no interior de um sistema simbólico partilhado
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(Bronckart, 2008). A competência comunicativa apresenta, assim, uma natureza
processual e interativa, ultrapassando o caráter estático e absoluto – lógico e
intrapessoal – da competência linguística ideal definida por Chomsky.
1. 2. O papel dos géneros de texto como instrumentos didáticos
1. 2. 1. Abordagem comunicativa e didática de géneros de texto
A partir dos anos 80 do século passado, a abordagem relacionada com a
didática da língua ganhou uma nova perspetiva, que opunha o tradicional ensino
baseado em conteúdos gramaticais a um ensino mais pragmático e baseado na
dimensão comunicativa da língua. Esta nova perspetiva valoriza o ensino centrado nos
alunos e nas suas necessidades reais, na sua autonomia, na importância da relação
entre a língua e o contexto sociocultural e no uso da língua como meio de
comunicação e de interação.
Deste modo, autores como Hymes (1972) e posteriormente Canale e Swain
(1980) contribuíram para o estudo e valorização da competência comunicativa no
ensino da língua (Giovannini, Martín, Rodríguez e Simón, 1996: 9-11). Sobre esta
questão, Canale destaca a abordagem comunicativa pela perspetiva de diferentes
competências: a gramatical, relacionada com o domínio do código linguístico; a
sociolinguística, respeitante à adequação dos enunciados ao significado e à forma; a
discursiva, relacionada com a capacidade para combinar as estruturas e os significados
no desenvolvimento de um texto oral ou escrito; e a estratégica, associada ao domínio
de estratégias comunicativas de caráter verbal e não verbal, utilizadas para equilibrar
as deficiências na comunicação e para tornar a comunicação mais eficaz (Canale, 1983,
cit. in Giovannini et al. 1996: 11).
Na mesma linha, Fonseca e Fonseca (1990: 59) defendem que a lecionação
deve ter em conta os “influxos recíprocos dos vários elementos que, compresentes no
ato verbal, condicionam e determinam a mensagem estruturada e atualizada por um
falante real situado numa comunidade não homogénea, mergulhado numa complexa
rede de relações”. Estes autores acrescentam que neste “processo intervêm estruturas
linguísticas que não cabem no limite da frase e elementos que não se resumem aos
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conteúdos referencial e conotativos explicitamente realizados” (Fonseca e Fonseca
1990: 59).
Segundo esta abordagem, são privilegiados o dinamismo comunicativo, o
implícito, o sugerido, o pressuposto, bem como todas as nuances próprias dos
comportamentos sociais que constituem a essência da linguagem como comunicação.
Reclama-se, assim, um ensino mais vocacionado para a aprendizagem de atos de
comunicação e não apenas para a apropriação de elementos isolados, temas ou
estruturas formais, interessando mais as situações de comunicação e a sua real
contextualização. Deste modo, prosseguem Fonseca e Fonseca, a competência
comunicativa a desenvolver em aula deve incluir “a capacidade de construir e
reconhecer unidades mais extensas que a frase e alcançar e reconhecer a adequação
destas unidades às condições do uso em situações concretas, preenchendo, em
articulação com outros códigos não verbais, que igualmente se atualizam no acto
comunicativo, funções diversas nelas suscitadas” (Fonseca e Fonseca 1990: 60).
Assim, os autores propõem uma “abertura da Escola ao meio”, uma “abertura à
pluralidade dos discursos produzidos na comunidade” (Fonseca e Fonseca, 1990: 46-
47), tendo em conta a diversidade comunicativa da língua (Hymes, 1991: 52). Eis, por
esta via, a importância do recurso à didática de géneros de texto em aula, pois a sua
utilização possibilita uma contextualização autêntica da língua (Cuq, 2003: 29), que
promove a competência comunicativa dos alunos. Como se tornará mais evidente no
remanescente deste relatório, o papel dos géneros de textos, como instrumentos
didáticos, é crucial para o desempenho eficaz dos alunos, num conjunto variado de
cenários sociais. Conforme se verá também mais adiante, esta opção metodológica
colhe vantagem em considerar ambas as dimensões oral e escrita. Segue-se a
apreciação do protagonismo dos géneros de texto nos documentos orientadores da
lecionação do Português língua materna e do Espanhol língua estrangeira.
1. 2. 2. Os géneros de texto nos documentos orientadores da prática pedagógica
Pretendemos aclarar, muito brevemente, algumas das diferenças entre o
Programa de Português do Ensino Secundário (PPES), homologado em 2001, e o que
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está previsto ser aplicado, de forma faseada3, no ano letivo de 2015/2016. Com base
na mudança do novo programa prevista para o próximo ano letivo, este relatório visa
ser um trabalho de “fronteira” entre o programa em vigor e o que será aplicado. É
pertinente sublinhar que o novo Programa e Metas Curriculares de Português do
Ensino Secundário (PMCPES) define com clareza a noção de género de texto,
distinguindo-a agora da noção de tipo (ao invés dos antigos programas dos ensinos
básico e secundário), imprimindo, assim, maior relevância à sua pedagogia na sala de
aula (PMCPES, 2014: 8-9):
Fazendo parte da experiência dos alunos, que ouvem e leem, por exemplo,
reportagens, artigos de divulgação científica, poemas ou contos, a noção de
género não é exclusiva do discurso literário, na medida em que todo o texto
consubstancia um género que adota e recria (cf. Adam e Heidmann 2007;
Coutinho e Miranda 2009). Nela se concretiza um primeiro nível de complexidade,
que diz respeito ao facto de todos os textos envolverem a interação de fatores
diversos: temáticos, linguísticos, estruturais, relativos ao contexto de produção e
às disposições dos leitores. Justifica-se deste modo a articulação do trabalho
sobre os textos com a noção de género, entendido aqui como género textual.
Em certa medida, é possível encontrar uma assimetria na representação e na
aplicabilidade didática dos géneros de texto no novo PMCPES, porque são
sistematizadas (pelo menos de forma explícita) as marcas de género comuns e
específicas nos textos não literários mas não são atribuídas marcas de género aos
textos literários. Por outro lado, quando comparado com o Programa em vigor, o novo
PMCPES parece, de um modo geral, dar mais importância ao enquadramento
contextual dos textos.
Em nosso entender, e portanto é um assunto discutível, o PMCPES parece
evitar subalternizar os textos não literários em relação aos literários, ainda que
reconheça a importância da maior sofisticação conceptual dos segundos. A ênfase
recai sobre a necessidade de contextualizar histórica e culturalmente os textos
literários, de maneira a permitir o estudo da “rede de relações (semânticas, poéticas e
simbólicas), da riqueza conceptual e formal, da estrutura, do estilo, do vocabulário e
3 Com início no 10.º ano de escolaridade.
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dos objetivos que definem um texto complexo” (PMCPES, 2014: 8). Na nossa opinião,
também aqui existe o esforço de ultrapassar a dimensão meramente linguística do
texto e procurar mensurar o seu pleno alcance comunicativo. Pertence ainda dizer que
o PMCPES, apesar de se mostrar, a nosso ver, prescritivo e redutor, sem proporcionar
uma margem adequada de liberdade executória para o professor, parece recorrer ao
estudo da multimodalidade do texto (na variedade de formatos e de recursos), o que é
certamente salutar do ponto de vista da captação dos interesses dos alunos.
Para o ensino das línguas estrangeiras, também é possível encontrar um
protagonismo significativo dos géneros de texto nos documentos normativos. Veja-se
o Marco Común Europeo de Referencia para las Lenguas (MCER, 2002: 91), que refere
explicitamente:
[N]o puede haber un acto de comunicación por medio de la lengua sin un texto
[…]. Los textos tienen muchas funciones diferentes en la vida social, lo que conlleva las
diferencias correspondientes en forma y sustancia. […]Por consiguiente, los textos
pueden clasificarse en distintos tipos de texto que pertenecen a distintos géneros.
No caso concreto do Espanhol, encontramos o Plan Curricular del Instituto
Cervantes (PCIC) (AA. VV., 2007), que é baseado no MCER, e que serve para orientação
e consulta de conteúdos relacionados com a didática do Espanhol como língua
estrangeira. Este documento expõe de forma muito clara o tema relacionado com o
ensino de géneros textuais. Com efeito, o PCIC define o conceito de género textual
como “una forma de comunicación reconocida como tal por una comunidad de
hablantes” ou como “clases de textos identificados por el hablante como tales a lo
largo de la Historia” (PCIC, 2007: 277-278). Assim, no documento, os géneros de texto
são caracterizados segundo uma realidade de carácter sociocultural sujeita a variações,
se bem que, dentro de cada comunidade, um determinado género partilhe
características que permitem a sua estabilidade, descrição e análise.
Deste modo, consoante o PCIC, o reconhecimento do género de texto permite
uma interação rápida e eficaz entre os indivíduos que conhecem as suas
características, já que uma vez identificada a sua estrutura e a sua função
comunicativa tanto o emissor como o recetor podem antecipar parte das intenções do
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seu conteúdo, o que facilita a possibilidade de aceder ao objetivo comunicativo
previsto. (PCIC, 2007: 277-279). Assim, nas palavras do documento:
El tratamiento de los textos desde el punto de vista del género al que
pertenecen facilita que el alumno perciba de forma global, y en sus distintos
componentes, la función comunicativa que cumplen en el contexto social para el
que fueron creados. […]La pertenencia de un texto a un determinado género
permite adaptar la propia necesidad o creatividad a las expectativas de la
audiencia a la que va dirigida. Este aspecto adquiere relevancia en la didáctica de
lenguas en cuanto que los alumnos poseen sus propios esquemas de géneros, que
han desarrollado por medio de la interacción en su lengua materna, de modo que
se parte de un concepto familiar para ellos (PCIC, 2007: 279-280).
Não obstante, no Programa de Espanhol do Ensino Básico (1997) e no
Programa de Espanhol do Ensino Secundário - Iniciação (2001) atualmente em vigor, as
noções de tipo e de género de texto confundem-se, associando-se os dois conceitos à
noção de tipo de texto. De facto, a expressão género de texto não surge sequer nestes
documentos normativos. Daqui se infere que ambos os programas necessitariam de
ser reformulados urgentemente. No entanto, pelo que sabemos, a sua atualização não
está prevista para os próximos anos, o que é certamente lamentável.
1. 2. 3. O recurso aos géneros de texto no processo de ensino-aprendizagem
Como explica Coutinho (2013), os contornos epistemológicos da didática de
géneros de texto estão relacionados com a corrente do Interacionismo Sociodiscursivo
(ISD), marcada pelo interacionismo social, onde predomina a centralidade da relação
entre linguagem e desenvolvimento pessoal. As perspetivas de Vygotsky e de Saussure
são fundamentais para a perceção do interacionismo social, ao atribuir-se a ideia de
que é a interiorização e a apropriação dos signos que possibilita o pensamento e a
consciência. Assim, o ISD define-se particularmente como uma abordagem
logocêntrica, centrada no papel fundamental da linguagem na formação da pessoa
consciente e no desenvolvimento ao longo da vida (Coutinho, 2013: 17-19).
Ora, cada texto empírico pertence a um género ou a um modelo abstrato,
integrado na memória textual interiorizada a partir da experiência comunicativa dos
11
sujeitos de determinada sociedade. Portanto, a leitura e a escrita podem ser
concebidas como processos de reformulação em que o domínio de géneros de texto
permitiria ao sujeito organizar e desenvolver novas formas de conhecimento (de
índole mais teórica ou prática), gradualmente mais adequadas aos propósitos e
exigências da vida em sociedade. Seria justamente a relativa estabilidade dos géneros,
presente numa dada época e cultura, que facilitaria e promoveria essa aprendizagem.
Em consonância com os objetivos atuais do ensino da língua, Miranda (2005)
partilha da convicção de que é vantajoso diversificar os géneros de texto trabalhados
em aula. Na opinião da autora, a escola moderna não deve ignorar o verdadeiro valor
da língua, cuja riqueza reside justamente na ampla variedade de usos que se
manifestam através da multiplicidade existente de géneros de texto. É claro que a aula
de língua materna representa o espaço de eleição para o desenvolvimento de
determinadas práticas linguísticas, pelo que o trabalho da literatura deve
desempenhar um papel programático essencial, pautado por desígnios de aquisição
cultural e de contacto com paradigmas do uso da língua. No entanto, não se deve
menorizar o estatuto de outros géneros textuais porque o seu estudo poderá
contribuir para a formação da atitude crítica, a qual deve ser assumida como um dos
desideratos fundamentais da aprendizagem escolar (Miranda, 2005: 19-21).
Miranda constata que a diversificação de usos que se manifestam através da
variedade de géneros de texto é acalentada sem reservas no ensino da língua
estrangeira, o qual recorre sistematicamente aos géneros do quotidiano (diálogos de
compras, menus, cartazes informativos, etc.). No entanto, tal não costuma suceder na
aula de língua materna. Contudo, esta autora adverte que “[p]ara decidir que géneros
introduzir nas aulas não deveremos partir do pressuposto de que existem géneros
social ou culturalmente melhores ou piores” e que o recurso à didática de géneros
deveria equacionar os textos escolares e os extraescolares, tanto no ensino da língua
estrangeira, como no ensino da língua materna.
Assim, Miranda defende que deve ser dada a devida importância a géneros
textuais não-literários, não só àqueles que pertencem à esfera da discursividade dos
alunos, mas também a outros que poderão vir a ser úteis para as necessidades sociais
futuras dos discentes. Neste contexto, é possível situar os géneros não escolares,
12
suscetíveis de serem trabalhados em sala de aula, em três grupos: os “géneros que
fazem parte da vida quotidiana dos alunos”, os “géneros que poderão vir a fazer parte
das necessidades futuras dos alunos enquanto membros da sua comunidade […]
(curriculum vitae, anúncios de emprego, carta de apresentação, entrevista de trabalho)
e outros, como os géneros “jornalísticos, jurídicos, políticos” (Miranda, 2005: 21-22).
Lopes (2011) tece algumas considerações pertinentes em torno da formatação
genérica de textos e da interação sociopsicológica. Esta autora refere-se aos atos de
fala, ou seja, às formas elementares do uso da linguagem mediante intenções
comunicativas concretas (Lopes, 2011: 224). Segundo a sua explicação, diferentes
géneros textuais “convocam suportes linguísticos prototipicamente associados à
realização de distintos atos de fala”, por exemplo, “numa notícia ou numa reportagem,
predominarão as asserções, numa receita de culinária ou num folheto com instruções
de utilização, os atos diretivos, numa crónica de opinião, asserções e atos expressivos”
(Lopes, 2011: 227). Deste modo, parece-nos que o recurso aos géneros de texto em
aula possibilitaria o adequado desenvolvimento linguístico-comunicativo e a
maturação cognitiva dos alunos no que concerne ao enquadramento interpretativo,
por exemplo, de diferentes valores assertivos, da fronteira entre descrição factual e
opinião, ou da nivelação entre permissibilidade e obrigatoriedade. O equacionar
apropriado destas e doutras modalizações far-se-ia através de atividades de escrita e
de oralidade, cuja sinergia possível as próximas secções irão procurar explorar.
Também Pereira e Cardoso (2013) advogam o ensino de diferentes géneros de
texto e justificam a sua importância no ensino da escrita principalmente por três
motivos diversos relacionados entre si:
sociais – espera-se que o público escolar fique capaz de agir por escrito, em
diferentes circunstâncias comunicativas, desde as mais formais às mais
informais […]; processuais – porque o modo como os textos são gerados difere […]
consoante os géneros em que esses textos se inscrevem […]; motivacionais –
porque os progressos na produção de texto(s) estão diretamente relacionados
com os motivos pessoais para escrever e com a relação com essa escrita que os
processos vividos forem gerando nos sujeitos (Pereira et al., 2013: 10).
13
Esta tríade de razões parece-nos muito elucidativa das vantagens decorrentes
da formatação genérica de textos em aula. O desígnio fundamental é o de
proporcionar ao aluno a competência comunicativa para desenvolver-se integralmente
na sua relação com a linguagem, nos planos da interação concreta, da eficácia
procedimental e do cultivo de motivações e gostos pessoais. Ou seja, o desígnio é o de
ajudar o aluno a formar-se enquanto pessoa operante na comunidade linguística.
A problemática dos géneros implica ter em conta a importância da articulação
dinâmica entre a perspetiva global da organização do texto (macroestrutura textual) e
a perspetiva particular das unidades linguísticas (microestrutura textual), relacionada
com a análise gramatical (Coutinho, 2013: 191-201). Da nossa parte, concordamos com
os vários autores referidos neste capítulo quando propõem priorizar a dimensão
macrolinguística, comunicacional e social no tratamento dos géneros de texto em aula.
Esta abordagem precede, no desenvolvimento das tarefas, os níveis de análise
microlinguística das componentes da língua, da sua estrutura, coerência e
especificidade (Coutinho, 2013: 202-216). No nosso entender, uma tal abordagem
revela-se promotora das aprendizagens, pois permite introduzir os objetos de estudo
em moldes mais próximos da experiência comunicacional concreta dos alunos. Ao
invés, a abstração própria do exame microlinguístico, caso este seja isolado do nível
textual, afasta os alunos do ambiente linguístico que lhes é familiar.
É por esse motivo que Bronckart (2010: 174) recomenda um maior
investimento na interação entre a didática do texto e a didática da língua (ou da
gramática). A primeira deve contextualizar a segunda, ou seja, o texto deve ajudar a
explicitar o estatuto e a função dos componentes gramaticais. Neste ensejo, o autor
aponta para níveis diversos de análise das produções textuais que podem ser
explorados didaticamente: nível da ação de linguagem (a linguagem como unidade
psicológica que inclui o intuito de obter um efeito através da comunicação); nível do
texto (o texto como o componente linguístico da ação de linguagem, pois é por ela
condicionado e indexado às regras do género textual em que se inscreve); nível dos
tipos de discurso (a noção de que todos os textos são compostos por segmentos
distintos que se interconectam, os quais são analisáveis enquanto produtos de um
agente, e como decorrentes da própria situação produtora do agente); e nível dos
14
mecanismos de textualização (a constatação de procedimentos linguísticos da
coerência temática – mediante elementos nominais – e enunciativa – através das
vozes e modalizações – de um texto) (Bronckart, 2010: 169-171).
1. 2. 4. As sequências didáticas
No âmbito do presente estudo, considera-se que uma sequência didática (SD) é
um conjunto de atividades escolares sistematicamente organizadas em função de um
género textual oral ou escrito (Dolz, Noverraz e Schneuwly, 2004a e Miranda, 2005). As
propostas de SD apresentadas de seguida podem ser adaptadas e aplicadas tanto nas
aulas de língua materna como nas aulas de língua estrangeira. Dolz et al. (2004a)
apresentam uma proposta de SD cujo objetivo é o de auxiliar o aluno a dominar
melhor os géneros de texto que não conhece adequadamente, de maneira a que possa
escrever ou falar de forma mais apropriada consoante as diversas situações
comunicativas. A estrutura da SD apresentada por estes autores divide-se em quatro
fases interrelacionadas: a apresentação da situação, a produção inicial, os módulos e a
produção final (Dolz et al., 2004a: 97-98).
Na apresentação da situação, os alunos constroem uma «representação da
situação de comunicação e da atividade de linguagem a ser executada» que envolve a
proposta explícita do género a ser abordado, os seus destinatários, a preparação dos
seus conteúdos, a forma que o género textual irá assumir e os intervenientes que irão
participar na sua realização (Dolz et al., 2004a: 99-100).
A primeira produção oral ou escrita é realizada pelos alunos após a
apresentação da situação, revelando as representações que têm da atividade. Assim, a
produção inicial tem um papel regulador do processo, tanto para o professor como
para os alunos, porque o docente pode detetar as fragilidades e potencialidades dos
estudantes e estes ganham consciência do seu trabalho. Neste sentido, os “pontos
fortes e fracos são evidenciados; as técnicas de escrita ou de fala são discutidas e
avaliadas; são buscadas soluções para os problemas que aparecem” (Dolz et al., 2004a:
101). A primeira produção surge, assim, como um eixo estruturador do trabalho a ser
realizado posteriormente, nos módulos.
15
Nos módulos trabalham-se os problemas detetados na primeira produção e
dão-se os instrumentos adequados aos alunos para que os possam superar. É suposto
que em cada módulo o aluno desenvolva as capacidades necessárias para o domínio
do género textual trabalhado. A seleção e a organização didática dos módulos são da
responsabilidade do professor que deve ter em conta as dificuldades dos seus alunos,
saber adaptar cada módulo ao trabalho específico de cada problema e sistematizar os
conteúdos e as aprendizagens realizadas. Nesta fase, os problemas podem ser tratados
em quatro níveis diferentes: a representação da situação de comunicação, a
elaboração dos conteúdos, a planificação do texto e a sua produção. É também
necessário variar as atividades e os exercícios realizados e simultaneamente capitalizar
as aquisições realizadas ao longo dos módulos que podem ser sistematizadas num
momento de síntese, antes da produção final (Dolz et al., 2004a: 103-106).
A produção final constitui a última fase da SD e possibilita ao aluno “pôr em
prática as noções e os instrumentos elaborados separadamente nos módulos”,
permitindo ao professor realizar a avaliação sumativa, mais restrita e objetiva, das
aprendizagens. Assim sendo, esta fase funciona para o aluno como um instrumento
regulador das aprendizagens e de avaliação dos seus progressos e para o professor
como um momento de observação, de avaliação sumativa e de planificação (Dolz et
al., 2004a: 106-108).
É importante sublinhar que os autores acima referidos circunscrevem a SD
apresentada “numa perspectiva construtivista, interacionista e social que supõe a
realização de atividades intencionais, estruturadas e intensivas que devem adaptar-se
às necessidades particulares dos diferentes grupos de aprendizes” (Dolz et al., 2004a:
110-111). Neste sentido, o caráter modular das atividades deve ser associado à
diferenciação pedagógica, tendo em conta a heterogeneidade dos saberes,
capacidades e necessidades particulares dos alunos.
Para adaptar as sequências didáticas aos alunos, o professor deve analisar as
suas produções textuais tendo em conta os objetivos e as características do género de
texto adotado e optar pelas atividades mais apropriadas. Dolz et al. não estabelecem
restrições quanto ao tempo ou ao percurso das sequências pois “o princípio
fundamental da proposta [é] partir do que já está adquirido pelos alunos para visar
16
objetivos de aprendizagem relacionados com suas capacidades reais” (Dolz et. al.,
2004a: 127). Deste modo, é da responsabilidade do professor fazer as escolhas
acertadas relativamente às sequências e aos módulos a trabalhar com os seus alunos,
em função do contexto concreto da situação educativa.
Por sua vez, Miranda (2005: 22-23) refere a vantagem de desenvolver em aula
sequências didáticas que permitam (1) compreender ou produzir um género na sua
especificidade, (2) tratar questões linguísticas transversais a géneros distintos (por
exemplo, questões relativas ao tipo de descrição próprio de cada género) e/ou ainda
(3) estudar diversos géneros de texto que estejam pontualmente interligados no
âmbito de uma situação global. Miranda explica que enquanto os tipos de sequência
(1) e (2) envolvem um trabalho unificado (no qual um ou mais géneros são tratados em
simultâneo), o tipo de sequência (3) implica já uma abordagem assumidamente
diversificada de diferentes géneros.
Miranda sugere ainda que estes três tipos de SD podem ser aplicados de acordo
com quatro modalidades distintas, passíveis de articulação mútua (Miranda 2005: 23-
27). Por motivos de escopo, mencionamos aqui apenas as primeiras três modalidades
(análise, análise/simulação e análise/recontextualização). A análise, enquanto
abordagem inicial, incide unicamente na compreensão textual sem que haja quaisquer
atividades relativas à produção de textos. Tal sucede numa perspetiva quer estilística,
quer de comparação entre géneros textuais, quer de reflexão sobre os
constrangimentos sociais e de suporte da linguagem. Miranda esclarece que a segunda
modalidade, análise/simulação, e as restantes, porque implicam a produção textual,
requerem sempre a compreensão (a análise) das especificidades dos textos
produzidos. Neste caso particular, a simulação corresponde ao estabelecimento de
parâmetros situacionais ficcionais na produção de texto, segundo os quais os alunos
podem assumir outros pontos de vista, por exemplo, os de cidadão, de publicitário, de
comentador desportivo. Desta forma, as hipóteses de trabalho podem multiplicar-se,
possibilitando aos alunos conhecer os meandros de várias situações criadoras de texto.
Na abordagem análise/recontextualização, os géneros de texto que operam fora do
âmbito escolar são recontextualizados e inseridos no seio institucional e procedimental
17
da escola. Por exemplo, debates, discursos, questionários, entrevistas, jornais e sites
podem ser direcionados para situações intraescolares criadas para o efeito.
1. 3. Escrita e Oralidade
1. 3. 1. Diferenças e correlações entre escrita e oralidade
Veremos, nesta secção, as especificidades próprias da oralidade e da escrita
bem como as suas correlações possíveis no tratamento dos géneros de texto.
Efetivamente, existem diferenças significativas entre as sequências didáticas aplicáveis
ao ensino da escrita e as que podem ser utilizadas no aperfeiçoamento da expressão
oral. Dolz et al. (2004a: 112) explicam que na “atividade de escrita, o processo de
produção e o produto final são […] separados” porque o texto permanece provisório
até ser submetido ao trabalho de revisão e reescrita. Porém, no caso de um texto oral,
o “processo de produção e o produto constituem um todo”. Deste modo, enquanto a
escrita é “corrigida no final”, a “fala é corrigida antecipadamente, numa atividade de
preparação intensa, cujos instrumentos o aluno deve aprender a dominar”.
Outra diferença apontada por estes autores consiste na observação do próprio
comportamento. Enquanto a escrita pode ser observada de modo permanente, a
oralidade desaparece de imediato, tendo de ser gravada ou transcrita para que possa
ser analisada posteriormente. Nesta sequência de ideias, também os géneros textuais
são observados de forma distinta: o texto escrito pode ser analisado em profundidade,
comparado e criticado porque é um objeto estável, mas o texto oral só pode ser
convenientemente estudado se for repetidamente analisado através de gravações ou
reproduções escritas (Dolz et al. 2004a: 111-113).
Moreno (2002) refere que, embora alguns dos procedimentos psicolinguísticos
relacionados com a oralidade e a escrita sejam compartilhados, existem diferenças
procedimentais: na conceptualização, porque a intenção do que se quer dizer ou do
que se quer escrever não é sempre a mesma; na formulação, porque existem
estruturas linguísticas que se selecionam só para a língua falada e outras só para a
língua escrita; e na articulação, porque os códigos e os mecanismos motores utilizados
nos dois modos de produção são muito diferentes. De facto, a escrita envolve a
18
reinterpretação da própria língua e a ativação de mecanismos diferenciados. Já a
expressão oral depende mais da adequação ao contexto comunicativo, apresenta
menos cuidado com a planificação do discurso e está mais sujeita às convenções
formais (Moreno 2002: 26-30). Também Bustos (cit. in Moreno 2002: 31) e Alonso
(2012: 172-173) avançam algumas características linguísticas que diferenciam a
oralidade da escrita: fónica/gráfica, presente/distante, instantânea/
/permanente, espontânea/reflexiva.
No entanto, há correlações possíveis entre escrita e oralidade que podem e
devem ser exploradas em sala de aula. Dolz, et al. (2004a) esclarecem que os
agrupamentos de géneros textuais escritos e orais não são estanques entre si. Foi
nosso propósito elaborar, como se verá na Prática de Ensino Supervisionada (PES)
descrita no capítulo 3, uma sucessão alternada de atividades de escrita e de oralidade
com finalidades e/ou características semelhantes no interior da mesma SD. Segundo os
autores, é no trabalho dos géneros textuais orais que pode existir uma maior interação
entre escrita e oralidade e os “géneros orais privilegiados […] são os géneros orais
públicos, como o debate regrado, a entrevista, o seminário, a narrativa de uma viagem
diante da classe, etc.” (Dolz et. al., 2004a: 119-122).
Muito a propósito, Marcuschi (2001: 27-33) explora a possibilidade de
articulação entre a expressão escrita e a expressão oral. O autor começa por criticar
várias perspetivas dicotómicas que separam o primeiro tipo de expressão (considerado
explícito, condensado, planeado, abstrato, lógico) do segundo tipo (entendido como
implícito, redundante, não-planeado, prático, concreto). Embora ciente de alguma
insuficiência explanatória, Marcuschi subscreve a perspetiva sociointeracionista,
admitindo deste modo que a escrita e a oralidade apresentam ambas “dialogicidade,
usos estratégicos, funções interacionais, envolvimento, negociação, situacionalidade,
coerência e dinamicidade” (Marcuschi 2001: 33). Sobre este assunto, o autor conclui:
Em suma, […] surge […] a suposição de que as diferenças entre fala e escrita
podem ser frutiferamente vistas e analisadas na perspectiva do uso e não do
sistema. E, neste caso, a determinação da relação fala-escrita torna-se mais
congruente levando-se em consideração não o código, mas os usos do código.
19
Central, neste caso, é a eliminação da dicotomia estrita e a sugestão de uma
diferenciação gradual ou escalar (Marcuschi, 2001: 43).
A ideia central defendida por este autor é a de que “as diferenças entre fala e
escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais de produção textual
e não na relação dicotômica de dois pólos opostos” (Marcuschi 1995: 13 e 2001: 37).
Marcuschi dá-nos o exemplo do discurso jurídico, cuja prática articula intimamente
manifestações textuais escritas e orais. Nesta aceção, escrita e oralidade são
construções idealizadas, ganhando existência real somente nas suas manifestações
comunicacionais concretas. Ambas se situam num contínuo de géneros textuais onde é
possível distinguir uma zona de mistura de produções escritas e orais. Encontramos
nessa zona de géneros mistos a notícia televisiva ou a entrevista publicada: com efeito,
a primeira concilia um meio de produção sonoro (típico do domínio oral) com uma
conceção discursiva escrita, ao passo que a segunda apresenta um meio de produção
gráfico (típico do domínio da escrita) mas tem uma conceção discursiva oral. Marcushi
explicita esta questão graficamente. Na figura n.º 1 (anexo 1), o autor situa diversos
géneros textuais quanto à sua proximidade da fronteira diferenciadora da escrita e da
oralidade. Deste modo, Marcuschi (1995, 2001) diferencia os géneros de texto quanto
ao predomínio da modalidade escrita ou oral, distinguindo, assim, géneros escritos,
orais e mistos.
É pertinente aqui mencionar que também o documento PCIC (AA. VV., 2007:
281) contém exemplos de géneros que permitem a interação entre escrita e oralidade.
Assim, é possível encontrar um género de texto “dicho para ser leído” como a
entrevista ou outro “escrito para ser dicho” como a apresentação oral informativa.
Estes dois géneros de texto, por nós trabalhados nas aulas de Português e de Espanhol,
respetivamente, serão objeto de estudo no capítulo 3 deste relatório.
1. 3. 2. O aperfeiçoamento da escrita e da oralidade e atividades de retextualização
Nesta secção passaremos em revista várias posições teóricas sobre o
aperfeiçoamento das capacidades de expressão escrita e de expressão oral em aula.
Pretende-se assim entretecer o pano de fundo teórico das opções metodológicas que
tomámos durante a nossa prática letiva.
20
Vygotsky (2007) coloca em confronto a aprendizagem da linguagem escrita e a
aprendizagem da linguagem oral, e aponta para a “impossível assimilação” entre a
linguagem escrita e a linguagem oral devido às características que distinguem os
processos de aprendizagem das duas modalidades (2007: 257). O autor refere que,
apesar da relação entre escrita e oralidade não se resumir a uma oposição binária, ao
invés do que se passa com a linguagem oral, a escrita impõe uma “dupla abstração”: a
que resulta da ausência do “material sonoro” e a que se relaciona com um interlocutor
“imaginário ou conceptualizado” (2007: 257-258). Associada a uma identidade mais
reflexiva e abstrata do que a linguagem oral, a linguagem escrita prevê, em inúmeros
contextos específicos de comunicação, um maior desenvolvimento do indivíduo. A este
propósito, Vygotsky (2007: 257) refere:
A investigação indica que o desenvolvimento da linguagem escrita não
reproduz o da linguagem oral. Qualquer semelhança existente entre os dois
processos é exterior e sintomática, mais do que essencial. A linguagem escrita não
é apenas a tradução da linguagem oral pelo signo escrito.
Daqui podemos inferir a necessidade da implementação de exercícios escolares
que sejam devidamente direcionados para o desenvolvimento das competências
específicas tanto da escrita quanto da oralidade. Todavia, parece-nos válido concordar
com Dolz, Schneuwly e Haller (2004b) quando referem que “embora a linguagem oral
esteja bastante presente nas salas de aula, […] afirma-se freqüentemente que ela não
é ensinada, a não ser acidentalmente, durante atividades diversas e pouco
controladas”, que “o ensino escolar da língua oral e de seu uso ocupa atualmente um
lugar limitado”, que “a formação dos professores apresenta importantes lacunas” e
que, neste sentido, “os meios didácticos e as indicações metodológicas são
relativamente raros” (Dolz et al., 2004b: 149-150).
Contudo, os programas oficiais veiculam claramente que a oralidade constitui
um dos aspetos curriculares prioritários das disciplinas de Português e de Espanhol.
Devemos, pois, reconhecer a necessidade de investir nas competências orais no ensino
das línguas materna e estrangeira. Destacamos aqui algumas sugestões metodológicas
úteis para a estruturação da expressão oral em sinergia com a expressão escrita
oferecidas por Dolz et al. (2004b). Os autores pretendem promover o oral “de simples
21
objeto de aprendizagem ao estatuto de objeto de ensino reconhecido pela instituição
escolar, como o são a produção escrita, a gramática ou a literatura”. Assim, importa
“construir um objeto de ensino-aprendizagem claramente delimitado e definido, que
confira ao oral legitimidade e pertinência em relação aos saberes de referência, às
expectativas sociais e às potencialidades dos alunos” (Dolz, et al. 2004b: 151).
A comunicação oral manifesta-se por meios linguísticos e prosódicos, mas
também através de signos de sistemas comunicacionais não linguísticos, como, por
exemplo, as atitudes e posturas corporais, as mímicas faciais, o tom da voz, os
silêncios, o espaço pessoal, o contato físico, etc. Estes recursos utilizados na
comunicação oral influenciam positiva ou negativamente a eficácia da mensagem
enviada ou recebida. Assim, a comunicação oral desenvolve-se não apenas “no plano
verbal e vocal, mas também no plano gestual”, pelo que o ensino da comunicação oral
envolve necessariamente “a tomada de consciência e de controle dos recursos
extralinguísticos (prosódia, silêncios, postura, gestos, mímica facial, distância e posição
dos locutores) e constituem […] uma perspectiva central do ensino do oral” (Dolz et al.
2004b: 160-162).
Cunha e Jorge (2011) acrescentam algumas observações relevantes para o
desenvolvimento da expressão oral. As autoras analisam os aspetos organizacionais e
linguísticos próprios dos géneros textuais orais e focam a sua atenção na interação
social, na sequência, na intervenção e na alternância de fala (Cunha e Jorge, 2011: 153-
154). A ênfase é colocada na modalização das intervenções e no uso de técnicas de
retoma do discurso alheio que condicionam os géneros orais, muito em especial a
entrevista jornalística, um dos géneros que mais nos interessa aqui. Nesta aceção,
existem vários fatores que influenciam de modo profundo o discurso e que não podem
passar despercebidos didaticamente, apesar da sua aparente naturalidade. Veja-se o
exemplo da entoação. De facto, a entoação pode transmitir uma atitude de admiração,
ironia, desprezo ou sarcasmo e assim facilitar a interpretação da intenção
comunicativa. (Cunha e Jorge, 2011: 155). Neste contexto, consideramos que o
trabalho de géneros orais não só possibilita desenvolver a competência da expressão
oral como também da compreensão oral dos alunos.
22
Surge-nos como muito pertinente que Marcuschi (2001: 48-49) tenha elegido a
entrevista publicada e a exposição oral como exemplos de géneros textuais em que a
escrita e a oralidade podem ser aperfeiçoadas mediante “atividades de
retextualização”. No caso da entrevista publicada, opera-se a transformação da fala
em escrita. No caso da exposição oral, ocorre a passagem da escrita para a fala. Como
já foi mencionado anteriormente, estes dois géneros de texto, trabalhados nas aulas
de Português e de Espanhol, respetivamente, serão objeto de estudo no capítulo 3
deste relatório.
Recordemos que Marcuschi (2001) diferencia os géneros de texto como sendo
escritos, orais ou mistos. Nos géneros mistos, como a notícia televisiva ou a entrevista
publicada aqui em destaque, podem ocorrer processos interativos entre a escrita e a
oralidade. Na notícia televisiva, a conceção discursiva é escrita, enquanto o meio de
produção é sonoro. Já na entrevista, pelo contrário, a conceção discursiva é oral, mas o
meio de produção é gráfico. O autor refere que as possibilidades de retextualização
decorrentes destas diferenças envolvem processos sucessivos de transformação,
reformulação e recriação, da escrita para a fala e vice-versa (2001: 40-41), processos
estes que ultrapassam a mera transcrição mas consistem antes numa verdadeira
adaptação, suscetível de respeitar as tendências e as peculiaridades, quer da escrita,
quer da oralidade (2001: 56). Marcuschi acrescenta que a “passagem da fala para a
escrita não é a passagem do caos para a ordem: é a passagem de uma ordem para
outra ordem” e adverte que “antes de qualquer atividade de transformação textual,
ocorre uma atividade cognitiva denominada compreensão” (2001: 47).
Mais concretamente, durante os procedimentos relacionados com a
retextualização – transformação, adaptação e recriação do texto original –, Marcuschi
menciona estarem envolvidos, não de forma separada mas sim de modo gradual,
aspetos “linguísticos-textuais-discursivos”, “de citação” e “cognitivos”. Os aspetos
cognitivos referem-se aos procedimentos inferenciais, de generalização, inversão ou
falseamento, que pressupõem e partem da compreensão do texto. Os procedimentos
de citação interferem na organização do texto original ao transformarem falas (atos
orais) em conteúdos (escritos) ou turnos (sequenciados de forma escrita) em falas. Os
procedimentos de natureza linguística-textual-discursiva remetem para as alterações
23
de eliminação/acréscimo, completude/substituição ou regularização/ reordenação
com repercussão direta no discurso textual original.
Estes aspetos abrangidos pelos processos de retextualização encontram-se
representados graficamente na figura 2 (anexo 2). O quadro apresentado envolve três
subconjuntos diferenciados de operações: os blocos A e B referem-se a operações e
processos de natureza “linguística-textual-discursiva”, o bloco C implica operações de
citação (tratamento dos turnos), e o bloco D diz respeito à compreensão do texto, que
se afigura como o mais complexo e o menos trabalhado, distribuindo-se ao longo de
todas as outras operações (Marcuschi, 2001: 68-70). Já a imagem 3 (anexo 3)
representa o fluxo das ações decorrentes numa SD realizada em torno de uma
entrevista publicada, desde a produção oral original do texto base até à produção
escrita do texto final. Note-se que durante este processo existem momentos
importantes, como a transcrição (processo comparativamente mais simples) e a
retextualização (operação mais complexa) (Marcuschi, 2001: 72-73).
No próximo capítulo deste relatório é apresentado o contexto educativo da
nossa PES, com vista à obtenção de uma ideia generalizada das características do meio
escolar, da comunidade educativa e das turmas onde incidiu a nossa prática letiva.
Haverá ainda oportunidade para descrever os moldes em que as várias atividades
pedagógicas ocorreram em sala de aula.
24
CAPÍTULO 2 – CONTEXTO DA PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA
2. 1. Escola EB/SEC Ibn Mucana: meio escolar e comunidade educativa
A PES aqui em análise decorreu na Escola Básica e Secundária Ibn Mucana
(EBSIM), sede do Agrupamento de Escolas Ibn Mucana, localizada na freguesia de
Alcabideche, a maior e a segunda mais populosa freguesia do concelho de Cascais. O
nome dado a este agrupamento de escolas provém da homenagem ao poeta árabe de
origem berbere Ibn Mucana, que nasceu, viveu e morreu em Alcabideche, entre os
séculos X e XI. Ibn Mucana é o Patrono do agrupamento e a sua obra poética constitui
um relevante património histórico e cultural local. É na Semana do Patrono que a
escola desenvolve diferentes projetos e atividades que envolvem o interesse e a
participação de toda a comunidade educativa do agrupamento.
A escola deu início à sua atividade letiva no ano 1988/1989, designando-se
inicialmente Escola Secundária da Amoreira e só a 15 de outubro de 1991 recebeu o
seu nome atual. O agrupamento foi criado em julho de 2010, passando a integrar cinco
estabelecimentos de ensino situados nas freguesias do Estoril e de Alcabideche: a
Escola Básica do 1.º Ciclo José Fernando dos Santos (EB1), a Escola Básica do 1.º Ciclo
Amoreira 2 (EB1) com Jardim de Infância (JI), a Escola Básica do 1.º Ciclo Fausto
Figueiredo (EB1), a Escola Básica do 1.º Ciclo com Jardim de Infância Raúl Lino (EB1) e a
Escola Básica e Secundária Ibn Mucana. No ano letivo de 2011-2012, com a
desativação da Escola Básica João de Deus, o 2.º ciclo passou a funcionar na escola-
-sede, o que implicou, por questões de sobrelotação, a necessidade da instalação de
sete monoblocos, onde decorreram todas as aulas de Português, relacionadas com o
presente estágio.
A escola possui seis pavilhões ligados por um corredor aberto e sete
monoblocos, albergando um total de 27 salas de aula, 4 laboratórios, um refeitório,
uma sala de convívio com bar, um Pavilhão Multiusos, uma Biblioteca e Centro de
Recursos Educativos, um gabinete de Serviços de Psicologia e Orientação, uma sala de
Educação Especial, um gabinete médico, um campo desportivo, zonas verdes e
espaços de recreio e lazer, abrangendo uma área total de 26 000 m². A escola funciona
em regime de turno único. Quanto à oferta curricular, a EBSIM disponibiliza o 2.º e 3.º
25
Ciclos do Ensino Básico, o Ensino Secundário, Cursos de Educação e Formação, Ensino
Profissional e Cursos de Educação e Formação de Adultos.
A população de 1488 alunos distribui-se por 57 turmas, apresentando um nível
etário entre os 10 e os 18 anos de idade. As suas famílias pertencem a um escalão
social e económico mediano e do total dos alunos 33% frui de auxílios financeiros. A
percentagem dos alunos de nacionalidade estrangeira é de 11%, oriundos de 30 países,
o que revela alguma diversidade cultural e linguística. Relativamente às habilitações
académicas dos pais e das mães dos alunos, 16% têm formação de nível superior e
14% têm formação ao nível do ensino secundário. No que concerne às suas atividades
profissionais, cerca de 19% exercem funções de nível superior e intermédio.
O Agrupamento possui 168 docentes ao seu serviço, sendo que 91% pertencem
aos quadros e 93,4% lecionam há 10 ou mais anos, dados reveladores de elevada
estabilidade e experiência profissional. No presente ano letivo, a escola reúne 16
professores de Português e 3 de Espanhol. No entanto, ao contrário do que acontece
com os docentes de Português, os professores de Espanhol são contratados, o que
manifesta alguma desestabilização no corpo docente responsável pelo ensino desta
língua estrangeira na escola. O pessoal não docente é constituído por 48
trabalhadores, dos quais 37 são assistentes operacionais, 10 são assistentes técnicos e
um é técnico superior. Todas as turmas da escola beneficiam do ensino do Português.
Com a disciplina de Espanhol, existem 12 turmas do ensino básico e 4 do ensino
secundário, ao passo que apenas existem 7 turmas do ensino básico com a disciplina
de Francês. Esta discrepância e o facto de não haver oferta de Francês no ensino
secundário, apontam para a valorização do ensino do Espanhol como língua
estrangeira nesta escola.
2. 2. Prática de Ensino Supervisionada em Português
2. 2. 1. Caracterização das turmas
A PES de Português envolveu a observação das aulas das turmas 8.º A e 10.º D.
No entanto, todas as aulas lecionadas foram implementadas na turma 10.º D. A turma
8.º A é composta por vinte e dois alunos, onze raparigas e onze rapazes, com idades
26
compreendidas entre os treze e os dezasseis anos e inclui quatro alunos com
necessidades educativas especiais (NEE). No geral, estes alunos apresentam resultados
escolares satisfatórios na disciplina de português. É uma turma que apresenta bom
comportamento e a grande maioria dos alunos mostra-se trabalhadora, participativa e
interessada nas atividades realizadas na aula. Esta turma frui de cinco tempos letivos
semanais de quarenta e cinco minutos.
A turma 10.º D é uma turma que frequenta o curso de Línguas e Humanidades
e é composta por trinta alunos, quinze raparigas e quinze rapazes, com idades
compreendidas entre os quinze e os dezassete anos e inclui dois alunos com NEE. Os
estudantes desta turma evidenciam um índice de insucesso elevado na maior parte
das disciplinas, inclusive em Português, são pouco motivados e empenhados e exigem
da professora uma atitude firme. No entanto, é uma turma que participa oralmente na
dinâmica da aula. Este grupo apresenta um comportamento agitado e pouco
satisfatório e tem quatro tempos letivos de quarenta e cinco minutos por semana.
2. 2. 2. Aulas observadas e lecionadas: descrição e reflexão
A observação constitui uma parte fundamental da PES, na medida em que é
possível ver professores na vida real em situações didáticas autênticas nas quais
impera a imprevisibilidade. Além disso, o conhecimento dos alunos prova-se vantajoso
para uma melhor compreensão da natureza das suas interações, das suas reações e
dos seus comportamentos. Assim, foi possível proceder a uma análise crítica da prática
docente e das características dos alunos por via a definir estratégias em conformidade.
No início do ano letivo ficou decidido que a fase de observação das aulas de Português
iria incidir nos 8.º e 10.º anos de escolaridade, com o objetivo de proporcionar
experiência em dois níveis de ensino (3.º ciclo e secundário). Da minha parte,
considero que esta experiência representou uma mais-valia importante para o
percurso formativo efetuado enquanto professora estagiária.
Durante a fase de observação, acompanhou-se de perto todo o processo de
ensino-aprendizagem e procedeu-se a uma monitorização cuidada das atitudes,
comportamentos, expetativas e conhecimentos dos estudantes perante as atividades
27
propostas. Com isto, procurou-se avaliar as fragilidades, as potencialidades, mas em
particular as necessidades de aprendizagem dos alunos da turma 10.º D, o grupo no
qual foi implementada a PES. Da análise de um questionário (anexo 17) aplicado no
início do ano a esta turma, constatou-se que os alunos revelavam pouco interesse e
fracos resultados no trabalho escolar, principalmente na produção escrita, o que
tornou evidente a necessidade de melhoria sobretudo desta competência. Assim, foi
possível deliberar acerca das atividades e estratégias que poderiam ser aplicadas, do
protagonismo que assumiam nas aulas os diferentes géneros de texto e do trabalho
necessário para o desenvolvimento de diversas competências nos alunos. Refletiu-se
também sobre a prática da professora orientadora que se configurou como modelo
para a nossa PES.
Foram elaboradas diferentes grelhas que permitiram o registo de informações
pertinentes e adequadas às nossas necessidades de formação, nomeadamente os
procedimentos relacionados com a dinâmica das aulas, com a análise de texto e com o
ensino da gramática. A fase de observação foi essencial para a fase de intervenção que
se iria iniciar, pois consolidou aspetos relacionados com a planificação detalhada e
rigorosa das aulas, a gestão do tempo, a importância da relação pedagógica criada
entre docente e aluno e a reflexão analítica e crítica sobre a escolha de metodologias,
atividades e recursos para o desenvolvimento das diferentes competências. Este
momento foi determinante para delinear o caminho a percorrer, de forma autónoma e
reflexiva, que se encontra centrado no tema desenvolvido no presente relatório.
Na turma 8.º A, a nossa prática letiva incidiu, unicamente, no acompanhamento
e orientação do trabalho de um aluno que apresenta NEE. Na turma 10.º D, onde se
centrou toda a PES no ensino da língua materna, foram implementadas duas
sequências didáticas: O retrato e Os textos dos media, no primeiro e terceiro períodos,
respetivamente. A primeira SD convocou, sobretudo, conteúdos relacionados com os
géneros textuais retrato, autorretrato e leitura de imagem. A segunda SD envolveu o
estudo de diferentes géneros de texto relacionados com os media: a crónica literária, a
crónica jornalística, a entrevista, o artigo de apreciação crítica, o texto de divulgação
científica e o resumo. Com o objetivo de planificar esta unidade didática relacionando
de forma equilibrada e harmoniosa a SD anterior e a SD seguinte, foram também
28
trabalhados de forma articulada o poema e o conto. Embora tenha sido mais
aprofundado o texto paraliterário do que o literário, não temos dúvida de que a sua
análise contribui para o desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla, pois
integra as dimensões humanista, social e artística, e salienta as potencialidades e o
valor estético da língua. Ocorreram ainda momentos de reflexão sobre os erros de
escrita mais comuns dos alunos e procedeu-se à sua correção em grupo (anexos 4 e 5).
A realização das planificações da segunda SD foi mais fácil. Enquanto na
primeira foram elaborados diferentes planos de aula para serem vistos pela professora
cooperante até ao resultado final, a concretização das últimas planificações foi mais
autónoma. À semelhança da primeira unidade didática, também nesta houve situações
de reformulação e de ajuste dos planos de aula realizados, comprovando que a
imprevisibilidade da ação pedagógica implica uma constante adaptação das
planificações à realidade do contexto educativo e às necessidades dos alunos. Foram
ministradas 3 aulas de 90 minutos e uma de 45 na primeira SD e na segunda SD foram
dadas 9 aulas de 90 minutos.
Procurou-se planificar atividades com recursos e materiais diversificados,
significativos, genuínos e adequados aos interesses e níveis de aprendizagem dos
estudantes. No caso dos alunos com NEE, foram aplicadas estratégias diferenciadoras
no trabalho e na avaliação. Na gestão da aula, foram integradas diferentes dinâmicas
de trabalho individual, em pares e em pequenos grupos, consoante as atividades, os
conteúdos e os objetivos estipulados. Foram atribuídas tarefas aos alunos diretamente
relacionadas com o funcionamento das aulas, como, por exemplo, distribuir e recolher
fichas e outros materiais ou fazer recados. Esta estratégia motivou uma maior
envolvência e responsabilização dos estudantes face ao trabalho escolar.
Tais experiências ajudaram a consolidar a noção de que é extremamente
importante manter um clima de respeito mútuo, em que o docente possa estimular a
curiosidade e o entusiasmo pelas tarefas escolares. Para isso, importa mobilizar os
alunos com atividades e estratégias motivadoras e gratificantes, sendo que, para
consegui-lo, é por demais imprescindível que o professor detenha uma formação
técnica e científica atualizada dos conteúdos que leciona.
29
Ao longo da nossa prática, apercebemo-nos, também, do pouco tempo que os
professores de Português têm ao seu dispor para a lecionação de tantos conteúdos e o
desenvolvimento de tantas competências, tal como é previsto nos documentos
normativos da prática docente. Dois tempos semanais de noventa minutos não são
suficientes para trabalhar de forma eficaz todos os conteúdos programáticos da
disciplina de português no 10.º ano de escolaridade. Este problema acresce quando os
alunos apresentam um elevado grau de insucesso na disciplina, como sucede com os
desta turma. Surge assim o dilema que muitos professores enfrentam: dever-se-ão
seguir as planificações para completar o programa estipulado, ou acompanhar antes o
ritmo dos alunos para que estes realizem aprendizagens significativas?
Na PES de Português, as competências mais avaliadas, de forma diferenciada e
em diferentes momentos, foram a escrita e a oralidade, aquelas que mais importam
para o presente estudo. A avaliação formativa foi privilegiada a par da avaliação
sumativa e foram contemplados momentos de autoavaliação (anexos 5 e 15) e de
heteroavaliação (anexo 16), relacionada com a apreciação do trabalho realizado pela
professora na sala de aula. Importa acrescentar que houve corresponsabilidade da
nossa parte pela avaliação dos alunos, colaborando na avaliação de processos e
produtos.
2. 2. 3. Participação nas atividades da escola cooperante
Foram várias as atividades e os projetos da comunidade escolar e do
Departamento de Línguas que beneficiaram da nossa colaboração ativa. Participou-se
no Jornal da Escola com vários textos produzidos pelos alunos: a análise descritiva da
obra O Grito de Edvard Munch, o autorretrato e a entrevista Aulas nos monoblocos:
até quando? à diretora da escola. Foi organizada uma pequena exposição com poemas
de Ibn Mucana realizados pelos alunos na Semana do Patrono. Participou-se numa
atividade do Departamento de Línguas “Pitéu das Línguas da Festa do Patrono`15”
com um gaspacho, prato típico do sul de Portugal e de Espanha. Participou-se
igualmente na visita de estudo Lisboa Pessoana com a turma 12.º D, da qual a
professora cooperante é diretora de turma.
30
Para comemorar o Dia do Livro, procedeu-se à organização de uma visita de
estudo à Fundação Calouste Gulbenkian, com as turmas 10.º D e 11.º E. Nesta visita, os
alunos tiveram oportunidade de participar na atividade Julgar um livro pela capa?. Ao
longo da PES foi também possível presenciar 8 reuniões do Departamento de Línguas,
de avaliação dos alunos da turma 10.º D e de direção de turma. A observação destas
reuniões e a colaboração em projetos da comunidade escolar permitiu estabelecer
uma estreita relação e um conhecimento mais profundo da realidade educativa de
professores e alunos, tanto no âmbito da PES de Português quanto na de Espanhol.
2. 3. Prática de Ensino Supervisionada em Espanhol
2. 3. 1. Caracterização das turmas
As aulas observadas e lecionadas na PES de Espanhol envolveram as turmas 8.º
C e 10.º D, sendo esta última a mesma onde foi aplicada a prática de Português. A
turma 8.º C é composta por vinte e oito alunos, dezoito raparigas e dez rapazes, com
idades compreendidas entre os treze e os quinze anos e inclui três alunos com NEE. No
geral, os alunos desta turma apresentam resultados escolares satisfatórios na
disciplina, são atentos, empenhados, mas pouco participativos oralmente. Ao contrário
de outras disciplinas, o seu comportamento revelou-se bom nas aulas de Espanhol,
tanto nas observadas como nas lecionadas. Esta turma usufrui de dois tempos letivos
semanais de quarenta e cinco minutos.
Sendo a disciplina de Espanhol opcional, apenas 24 alunos da turma 10.º D, dez
raparigas, treze rapazes e um aluno com NEE, frequentam esta disciplina. Este grupo,
comparativamente reduzido, difere em termos globais da turma de Português,
anteriormente referida. Ao contrário daquilo que sucede na disciplina de língua
materna e em outras disciplinas, estes alunos evidenciam, de modo geral, um índice de
sucesso elevado e um comportamento satisfatório tanto nas aulas observadas como
nas lecionadas, apresentando-se mais empenhados, trabalhadores e participativos na
dinâmica das aulas. Esta turma encontra-se no nível A1/A2 de iniciação da
aprendizagem do Espanhol (tal como acontece com a turma de 8.º ano) e tem sete
tempos letivos de quarenta e cinco minutos por semana.
31
2. 3. 2. Aulas observadas e lecionadas: descrição e reflexão
Ao longo da observação das aulas, foram registadas, em grelhas criadas para o
efeito, informações ajustadas às minhas próprias necessidades de formação enquanto
professora estagiária de Espanhol. Consciente da necessidade de melhorar a minha
competência linguística, os pontos observados incidiram, principalmente, nas
instruções orais utilizadas pela professora cooperante para explicar conteúdos ou
atividades e para orientar o comportamento e as atitudes dos alunos perante as
tarefas escolares. Com efeito, devido ao facto da professora cooperante ser nativa, foi
possível observar quais as expressões linguísticas mais usadas e mais significativas para
o sucesso e motivação dos alunos. Assim, foi percetível a necessidade da elaboração
de grelhas que registassem e sistematizassem tais instruções e expressões,
determinantes no desempenho da nossa própria prática docente. Alguns exemplos das
expressões mais utilizadas pela professora cooperante encontram-se no anexo 18
deste relatório. Foram também elucidados diferentes aspetos pedagógicos, como a
organização dos alunos, a gestão do tempo, do espaço e das atividades, a condução do
desenvolvimento das diferentes competências, o tipo de interação pedagógica entre
docente e alunos, as estratégias, os recursos educativos e a avaliação.
Um projeto que importa salientar é o Intercambio de Cartas, desenvolvido pela
professora cooperante em torno do género textual carta. Este projeto revelou-se um
êxito para a motivação, interesse e pretexto para a escrita, com o objetivo de conhecer
outros estudantes de espanhol de outras escolas portuguesas. Além do
aperfeiçoamento da escrita, este projeto converteu-se numa estratégia de
desenvolvimento contextualizado de competências nos alunos, nomeadamente a
oralidade e a leitura. De facto, este é um exemplo de como o trabalho em torno de um
género textual escrito pode ser interessante, produtivo e significativo para as
aprendizagens dos alunos. No final deste projeto, os alunos da nossa escola (10.º e
11.º anos) e os de outra escola tiveram oportunidade de se conhecer e falar
pessoalmente, após trocarem correspondência em espanhol.
Porque ambas as turmas visadas na PES se situavam no nível A1/A2 de iniciação
de aprendizagem da língua espanhola, a unidade didática trabalhada foi comum aos
dois anos de escolaridade das duas turmas (8.º - A2 / 10.º - A1+A2). Assim, mesmo
32
com adaptações nas atividades, nas estratégias, na avaliação e com tarefas finais
diversas, as sequências aplicadas em ambas as turmas relacionaram-se com o tema “La
ciudad antes y ahora”. Mesmo sendo o primeiro ano de aprendizagem do Espanhol, os
estudantes do 10.º ano apresentaram mais maturidade na compreensão e produção
desta língua estrangeira, o que é previsível devido à sua idade e ao facto de usufruírem
de mais horas letivas semanais. No total, foram ministradas 10 aulas de 45 minutos no
8.º ano e 7 aulas de 90 minutos e uma de 45 no 10.º ano.
Em ambas as turmas foram desenvolvidas atividades e lecionados conteúdos
promotores de aprendizagens relacionadas com diferentes géneros textuais escritos,
como a apreciação crítica, o conto, a descrição de uma cidade, a biografia, o itinerário,
o cartaz informativo, a carta e o poema. Foram igualmente trabalhados diversos
géneros orais, através da apresentação dos cartazes produzidos pelos alunos e de três
diálogos com temáticas distintas. Suscitaram-se momentos de reflexão partilhada
sobre os erros mais comuns dos estudantes (anexo 20) e procedeu-se à sua correção
em grupo. Decorreram também situações de planificação, produção e revisão textuais
efetuadas pelos alunos. Foram ainda atribuídas tarefas, como sucedeu na PES de
Português (como a distribuição e recolha de fichas, etc.), de maneira a responsabilizar
os alunos pelo bom funcionamento das aulas.
No que concerne aos conteúdos gramaticais lecionados, trabalhou-se o
pretérito imperfeito, o pretérito perfeito e o uso destes tempos verbais em contexto
comunicativo. Estudaram-se as orações e os advérbios comparativos, a perífrase
seguir+gerúndio, o uso de algumas estruturas de opinião ou valoração e alguns
conectores discursivos. Foi explorado o vocabulário relacionado com os lugares da
cidade, os serviços e os estabelecimentos públicos, os meios de transporte, as lojas, as
cores, a roupa, os dias da semana, alguns adjetivos qualificativos e o tempo
atmosférico. Abordaram-se conteúdos socioculturais referentes à cidade de Barcelona
desde o início do século XX até à atualidade, assim como as regras de mantimento e
limpeza dos espaços públicos da cidade, as normas de cidadania, o intercâmbio
cultural entre jovens de diferentes países hispânicos, as localidades históricas de
Espanha e do Perú e a família real espanhola. Foram também tratados conteúdos
relacionados com cidades portuguesas e com o Patrono e a localidade da escola.
33
Como tarefa final do 8.º ano, os alunos, organizados em pares, escreveram e
planificaram um diálogo que foi apresentado à turma. Nesta atividade, foi avaliada
formalmente a expressão oral e os estudantes tiveram oportunidade de utilizar tudo o
que aprenderam ao longo da unidade didática. Como tarefa final do 10.º ano, os
alunos, organizados em grupos de quatro, produziram textos para cartazes
informativos alusivos aos conteúdos trabalhados durante a lecionação da unidade,
para apresentarem oralmente à turma. Estes cartazes fizeram depois parte de uma
exposição apresentada na sala do bar dos alunos, durante a Semana do Patrono na
escola. A sequência de atividades e o trabalho desenvolvido em redor dos géneros
textuais relacionados com a tarefa final encontram-se pormenorizadamente descritos
no capítulo 3 deste relatório.
Tal como na PES de Português, as competências mais avaliadas nas aulas de
Espanhol foram a escrita e a oralidade, as mais importantes para a presente
investigação. Houve colaboração da nossa parte na avaliação dos alunos e foram
contemplados momentos de auto (anexo 29) e de heteroavaliação. O anexo 30 deste
relatório refere-se à avaliação da professora estagiária de Espanhol pelos alunos e, ao
contrário de Português, não foi elaborado um documento específico para o efeito
porque foi uma atividade experimental, implementada antes das últimas aulas de
Português e inicialmente não estava contemplada nas planificações de Espanhol.
Alguns instrumentos de avaliação são apresentados nos anexos 26, 27 e 28.
Acrescenta-se que, além das aulas referidas anteriormente, ainda lecionámos outras
quatro, pela substituição da professora cooperante, a pedido da diretora da escola.
2. 3. 3. Participação nas atividades da escola cooperante
Contribuímos para o Jornal da Escola com a “Biografía de Ibn Mucana”.
Também participámos na atividade do Departamento de Línguas, já aqui contemplada
na PES de Português, “Pitéu das Línguas da Festa do Patrono`15” com um gaspacho,
prato típico do sul de Espanha. Também já foi referido que fizemos uma visita de
estudo à Fundação Calouste Gulbenkian com as turmas 10.º D e 11.º Esta visita serviu,
no âmbito da disciplina de Espanhol, para comemorar o Dia de Cervantes, celebrado a
23 de abril e também reconhecido internacionalmente como Dia do Livro. Neste
34
ensejo, aquando da marcação da visita à Biblioteca Humanista na Gulbenkian, pedimos
a leitura de um soneto de Garcilaso de la Vega, poeta espanhol do século XVI e cuja
parte da obra foi incluída nesta exposição de livros valiosos e antigos. O poema foi lido
e analisado por nós, juntamente com a participação dos alunos, no decurso da visita.
No final, os alunos conheceram os seus correspondentes do projeto de Intercambio de
Cartas, dinamizado pela professora cooperante. Organizámos uma exposição na escola
intitulada “Cascais antes y ahora” com cartazes produzidos pelos alunos na Semana do
Patrono. A exposição foi o produto final do trabalho escrito e posteriormente
apresentado pelos alunos, em grupos. Ao longo da PES foi também possível presenciar
7 reuniões do Departamento de Línguas e de avaliação dos alunos da turma 10.º D.
De seguida, será apresentado o último capítulo deste relatório, onde serão
descritas, comentadas e avaliadas as práticas relacionadas com o tema aqui em
destaque.
35
CAPÍTULO 3 – PES: INTERAÇÃO ENTRE ESCRITA E ORALIDADE NO ENSINO DE GÉNEROS DE TEXTO
3. 1. Géneros de texto: uma visão de conjunto
3. 1. 1. Panorama geral das atividades realizadas
Neste capítulo serão apresentadas as atividades relacionadas com a didática
dos géneros de texto utilizados nas aulas da PES, as respetivas interações entre escrita
e oralidade, o modo como se procurou desenvolver as diferentes competências nos
alunos e a avaliação das práticas relacionadas com o tema estudado, a partir da análise
de questionários aplicados aos estudantes, antes e após a PES.
Antes de focar a nossa atenção em atividades específicas, importa atentar no
contexto global dos géneros de textos e das relações entre escrita e oralidade
trabalhados em aula. Assim, ao longo da PES de Português e de Espanhol, foram sendo
introduzidos na prática pedagógica diferentes géneros de textos que permitiram
trabalhar textos literários, paraliterários e não literários. Neste âmbito, convém
salvaguardar que as categorizações dos géneros textuais não são estanques e devem
ser percecionadas como sendo maleáveis e gradativas, pois dependem de diferentes
fatores4 que condicionam as suas características comunicativas e textuais. Com vista a
um melhor entendimento dos subcapítulos que se seguem, sugere-se a sua leitura em
paralelo com a análise das figuras 4, 5 e 6, apresentadas de seguida, e com a consulta
das planificações, dos recursos utilizados e dos produtos realizados em aula constantes
nos anexos, apresentados no final deste relatório.
Mostramos em seguida na figura 4, o Mapa dos géneros de texto trabalhados e
respetivas interações entre escrita e oralidade, onde é apresentado o panorama geral
dos géneros explorados nas práticas relacionadas com o ensino das duas línguas e as
respetivas interações entre escrita e oralidade. Na análise deste mapa faz-se uma
leitura vertical e horizontal na interpretação de uma categorização matizada e
gradativa dos diferentes géneros, trabalhados nas disciplinas de Português e de
Espanhol e identificados pela legenda. Por outro lado, faz-se uma leitura circular na
interpretação das interações entre escrita e oralidade mais úteis para este estudo.
4 Função social, forma de enunciação, propósito temático, etc.
36
Da análise desta figura, é possível apurar que as atividades de retextualização
do oral para a escrita foram dinamizadas no estudo da entrevista e, por outro lado, as
atividades de retextualização da escrita para o oral foram desenvolvidas no uso
contextualizado de um género escrito (cartaz informativo) para um género oral
(apresentação informativa desses cartazes). Pode-se igualmente averiguar quais os
géneros escritos estudados através de tarefas orais e quais os géneros orais que foram
trabalhados através de tarefas de escrita. Destaca-se ainda que a divulgação
jornalística da entrevista é realizada através do jornal escolar (anexo 14) e que a
divulgação das apresentações orais dos cartazes informativos à turma, por grupos de
alunos, é realizada pelo meio académico (anexo 24). Na figura, também se verifica a
hipótese da divulgação jornalística ser representada através de cartazes informativos.
Evidencia-se ainda que os processos de análise, interpretação, reformulação,
adaptação, compreensão, preparação e produção assumem um papel central no
trabalho desenvolvido pela didática de géneros.
Figura 4 – Mapa dos géneros de texto trabalhados e respetivas interações entre escrita e oralidade.
37
Da análise da figura 4 podemos distinguir quais os domínios discursivos que
englobam os géneros de texto5 trabalhados em aula. Na imagem 5, apresentada de
seguida, procuramos destacar o dinamismo resultante da circulação de diferentes
domínios discursivos6, relacionado com o trabalho de géneros com funções sociais e
comunicativas de âmbito jornalístico, autobiográfico, quotidiano, literário e escolar.
Mais concretamente, na
análise da figura 5, também é
possível verificar que existem
lugares de interseção entre os
diferentes domínios
discursivos, resultantes da
plasticidade e da instabilidade
das funções comunicativas e
sociais dos diferentes géneros.
Os textos trabalhados em sala
de aula e respetivos domínios
discursivos foram selecionados
segundo os objetivos
estabelecidos para este
relatório e consoante os
critérios programáticos, daí a
razão de muitos textos exibirem um caráter mais escolar que outros. Efetivamente, os
mesmos géneros podem ser incluídos em mais de um domínio discursivo, por
exemplo, o retrato e o autorretrato podem ser encarados como textos autobiográficos
e, simultaneamente, escolares; também a leitura de imagem pode ser considerada um
texto de uso quotidiano, mas igualmente de âmbito escolar; existe ainda o exemplo da
carta, que pode pertencer igualmente aos domínios autobiográfico, quotidiano e
escolar. Nesta figura, também se pretende representar o uso intrincado e dinâmico
dos modos escritos e orais, desenvolvidos de forma equilibrada e eficaz na PES.
5 Uma sugestão de enquadramento dos géneros de texto nos diferentes domínios discursivos é
apresentada na figura 4 pela legenda. 6 Igualmente entendidos por atividades de linguagem ou por esferas de utilização da língua (Miranda,
2012: 122).
38
De seguida é apresentada, na figura 6, a Rede de interações entre escrita e
oralidade no ensino de géneros e desenvolvimento de diferentes competências, que
mostra os processos relacionados com o desenvolvimento da compreensão e
produção escritas e orais nos alunos, previsto nos documentos normativos da prática
docente. Assim, na análise desta figura, através de uma leitura circular, é possível
compreender a rede de conexões entre as atividades desenvolvidas na PES,
responsáveis pelo aperfeiçoamento da escrita e da oralidade nos alunos e
indispensáveis para o sucesso das suas aprendizagens. Com efeito, é também possível
perceber a sequencialização dos processos relacionados com o estudo dinâmico e
diversificado dos géneros de texto trabalhados em aula e respetivas interações entre
escrita e oralidade. No trabalho desenvolvido com os géneros escritos verifica-se o uso
de tarefas orais durante a análise textual e a atividade de compreensão leitora, mas
também durante as etapas de planificação, preparação e revisão da escrita. No
trabalho relacionado com os géneros orais, verifica-se o recurso à produção de textos
Figura 6 – Rede de interações entre escrita e oralidade no ensino de géneros e desenvolvimento de diferentes competências.
39
escritos que servem de apoio à planificação e preparação de textos orais. Destaca-se
também que a entrevista, como género misto, assume maior relevo na dinâmica entre
escrita e oralidade e na apropriação de competências pelos alunos.
Com estas três figuras pretende-se proporcionar uma visão abrangente, mas
também detalhada, das atividades desenvolvidas, das estratégias utilizadas e das suas
finalidades didáticas. Compete ainda referir quais as principais metodologias aplicadas
em sala de aula com os alunos e na avaliação, tanto do seu desempenho comunicativo
escrito e oral, como dos resultados decorrentes das práticas pedagógicas relacionadas
com a didática de géneros textuais, aprofundada nesta investigação.
3. 1. 2. Metodologias aplicadas na prática e na avaliação
As metodologias aplicadas na PES foram selecionadas segundo as
características, necessidades e expetativas dos estudantes. Tendo em conta o
interacionismo socio discursivo subjacente ao estudo de géneros de texto, optou-se
pela abordagem comunicativa7 e pela pedagogia ativa porque situam o aluno no
centro da sua própria aprendizagem, implicando-o na construção dos seus
conhecimentos, promovendo o desenvolvimento da sua autonomia, da sua
responsabilidade, da sua formação crítica e preparando-o simultaneamente para a
vida em sociedade. Foram concretizadas práticas de ensino em contexto de sala de
aula baseadas nas pedagogias construtivistas.
Sempre que possível também se procurou desenvolver a cooperação entre
alunos, através do trabalho em pequenos grupos ou pares, de forma a potenciar o
desenvolvimento de competências sociais e pessoais e um clima de respeito e de
valorização das diferenças, maximizando a aprendizagem de cada aluno e a dos
colegas de trabalho. Com a implementação de atividades de
aprendizagem cooperativa na sala de aula, procurou-se fomentar a comunicação, o
compromisso, a colaboração e a ajuda entre estudantes.
7 Aliada ao ensino comunicativo da língua estrangeira, deu-se primazia à metodologia relacionada com o
enfoque por tareas (Giovannini et al., 1996), porque incentiva o desenvolvimento da competência
comunicativa nos alunos.
40
Durante a PES, deu-se preferência à utilização das Tecnologias de Informação e
de Comunicação (TIC) – PowerPoints, pequenos vídeos, imagens, pesquisas na
internet, retroprojetor, etc. – porque assumem um papel incontornável no contexto
educativo atual e promovem o desenvolvimento de competências nos alunos,
nomeadamente, a autonomia e a criação própria de conhecimento. A utilização das
TIC, coerentemente contextualizada nos objetivos propostos para as atividades em
sala de aula, permite a simplificação de processos e, simultaneamente, atende aos
interesses reais dos alunos. As práticas educativas, estratégias e metodologias
aplicadas na PES procuraram desenvolver as potencialidades dos alunos e uma
motivação intrínseca que os implicasse e motivasse pelo trabalho escolar.
Como metodologia utilizada na avaliação dos resultados das práticas
defendidas neste estudo, foi feita a análise de questionários aplicados aos discentes
nas disciplinas de Português (anexo 17) e de Espanhol (anexo 31), antes e após a PES, e
de fichas de autoavaliação (anexos 15 e 29) preenchidas pelos estudantes no final das
sequências didáticas. A análise destes documentos permitiu a aferição de resultados
pertinentes para a justificação da didática de géneros de textos, como se comprovará
no final deste capítulo.
3. 2. Géneros de texto trabalhados em Português
3. 2. 1. Géneros e modos de realização escrita e oral
Como vimos, ao longo da PES de Português, foram explorados diferentes
géneros de texto. Na primeira das duas sequências didáticas implementadas nesta
disciplina, O retrato, foram trabalhados os géneros retrato, autorretrato e leitura de
imagem, enquadrados programaticamente no domínio discursivo de textos de carácter
autobiográfico. Na segunda SD, Os textos dos media, procedeu-se ao estudo de
diferentes géneros textuais relacionados com o domínio discursivo de textos
jornalísticos, já indicados anteriormente: a crónica literária, a crónica jornalística, a
entrevista, o artigo de apreciação crítica, o texto de divulgação científica e o resumo.
Também os textos literários poema e conto, normalmente conceituados como géneros
de qualidade estética superior, foram elencados no trabalho desta disciplina.
41
Na figura 4 são representadas duas interpretações: uma ascendente e vertical
de géneros literários, paraliterários e não literários; e outra horizontal, da esquerda
para a direita, de géneros escritos, mistos e orais. Importa acrescentar que, na
disciplina de Português, não foram trabalhados quaisquer géneros de textos orais,
devido ao pouco tempo letivo disponível. No entanto, foi explorado de forma
aprofundada o único género misto tratado na PES: a entrevista. Devido ao tema
adotado para este estudo, foi precisamente a entrevista, como género misto, o género
de texto mais trabalhado na PES de Português. Efetivamente, como é possível aferir da
análise das figuras 4 e 6, em muitos dos momentos de trabalho em torno deste
género, os domínios da escrita e da oralidade convergiram e se relacionaram entre si.
Sempre que possível e de forma adaptada ao contexto didático, a planificação
do trabalho relacionado com o estudo de géneros de texto seguiu a estrutura das
propostas de Dolz et al. 8 (2004) e Miranda9 (2005), referenciadas no capítulo 1.
Porém, muito embora se tenha procurado implementar cabalmente a proposta de
Dolz et al., tal não foi possível por falta de tempo. Com efeito, nenhum dos géneros
trabalhados em aula envolveu a fase de produção inicial. No entanto, a planificação
das atividades relacionadas com a entrevista contemplou todas as outras fases
indicadas por Dolz. Quanto às fases da SD proposta por Miranda, cumpre referir que
todas elas foram contempladas no caso da entrevista, destacando-se a última fase em
que a entrevista foi efetivamente publicada no jornal escolar (anexo 14).
No anexo 6, apresentado no final deste relatório, são mostradas as
planificações das aulas em que foram realizadas atividades relacionadas com a
entrevista. Nos anexos 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14 é possível analisar os recursos
utilizados nessas aulas. Segue-se a elucidação destas atividades.
Na aula 3, como sensibilização para o género textual entrevista, os alunos
tiveram a oportunidade de ver e ouvir uma entrevista (anexo 7), apresentada no modo
oral, que a diretora do agrupamento deu à TVI: Sobrelotação da escola e a instalação
de 7 monoblocos (ver o vídeo da entrevista no CD do relatório). Tratou-se, pois, de
aproveitar uma problemática pela qual os alunos já haviam demonstrado interesse e
8 Proposta da estrutura da SD: apresentação da situação, produção inicial, módulos e produção final.
9 Proposta da estrutura da SD: análise, análise/simulação e análise/recontextualização.
42
que os afeta diretamente. Após o visionamento desta entrevista, abriu-se espaço à
reflexão conjunta, em que os alunos avançaram as suas ideias sobre a estrutura da
entrevista, o tema em apreço e a importância de realizarem eles próprios uma
entrevista à diretora da escola. Ainda na mesma aula foram trabalhados conteúdos
relacionados com a pragmática e a linguística textual e com a interação e adequação
discursivas, determinantes para o estudo da entrevista.
Na aula 4, proporcionou-se outra abordagem do género entrevista, desta vez
mediante a leitura e análise de uma entrevista representada no modo escrito. Os
estudantes puderam assim aplicar os conhecimentos adquiridos na aula anterior em
atividades de escrita. Ainda nesta aula foi elaborada em grande grupo a planificação da
entrevista à diretora (anexo 8), a qual incluiu a realização do guião com o tema, os
objetivos e as questões (anexo 9), a preparação oral do discurso a realizar pelos alunos
e a seleção dos alunos voluntários. As atividades previstas na planificação desta aula
foram concluídas na aula seguinte, devido à falta de tempo. A entrevista à diretora foi
realizada por quatro alunos em tempo não letivo e a conclusão da entrevista só
ocorreu na aula 7, em função da compreensível falta de disponibilidade da diretora.
Os alunos assistiram então ao vídeo da entrevista que realizaram (anexo 10 e
vídeo disponível no CD do relatório) e refletiram sobre o seu conteúdo, com vista a
desenvolverem atividades relativas à sua passagem do registo oral para o escrito
através de processos de retextualização. Por via a agilizar estas atividades, foram
formados grupos de trabalho. Assim, um grupo de alunos realizou o resumo da
entrevista, outro a introdução e outro a transcrição da entrevista através da audição
do vídeo. Após o trabalho em grupos, leu-se a transcrição fiel da entrevista e
procedeu-se à sua textualização final com base nas contribuições orais dos alunos,
tendo em consideração a adequação discursiva e a estrutura do modelo de entrevista
anteriormente analisado.
Na aula seguinte, foi entregue uma cópia da entrevista final a cada estudante
(anexo 13) e foi feita uma reflexão conjunta sobre o processo da sua construção.
Interessa acrescentar que a atividade de transcrição revelou-se muito morosa devido
às constantes paragens e repetições do vídeo, de modo a atender aos diferentes
ritmos dos alunos. Mas de todas as atividades, aquela que se revelou mais difícil de
43
concretizar terá sido a conversão da transcrição da entrevista original (anexo 11) no
texto final que veio a ser publicado no jornal da escola. No final da unidade didática, os
alunos fizeram a sua autoavaliação (anexo 15) e a maioria mencionou que o texto
produzido no âmbito das sequências didáticas que mais preferiram foi precisamente a
entrevista.
3. 2. 2. Interação entre escrita e oralidade
O uso de géneros de texto durante a nossa PES centrou-se no aperfeiçoamento
da escrita e da oralidade mediante sequências didáticas que exigiram a alternância
entre estes dois domínios da expressão linguística. Neste ensejo, foram
operacionalizadas duas vertentes fundamentais de atividades: por um lado, o recurso a
tarefas orais no desenvolvimento do trabalho relacionado com os géneros escritos e,
por outro, os processos de análise, de compreensão, de retextualização e de produção
relacionados com o género entrevista, onde intervêm os dois domínios.
Com efeito, vimos que os alunos tiveram contacto com dois exemplos de
entrevistas, primeiro uma no registo oral e depois outra no registo escrito.
Posteriormente, houve uma preparação (atividade oral durante a planificação textual)
para a realização da entrevista oral, com recurso à realização de textos escritos, como
o guião de entrevista. Após a entrevista à diretora (atividade oral), foi feita a
transcrição da sua gravação e, posteriormente, a respetiva adequação discursiva
(atividade escrita sobre o texto oral). Por conseguinte, podemos encontrar aqui um fio
condutor que direciona a alternância sistemática entre a escrita e a oralidade: o
género misto entrevista aparenta promover uma circularidade relativamente à
realização de atividades escritas e orais. A figura 6 procura representar justamente o
caráter multimodalizado da entrevista face à atividade escrita e oral.
Da observação da figura 6, é possível concluir que toda a dinâmica que
envolveu o trabalho com os géneros escritos implicou a realização de tarefas orais. Por
um lado, foram solicitadas intervenções orais durante a análise dos textos em grande
grupo, potenciando não só o desenvolvimento de competências de leitura, mas
também de compreensão e produção orais. Por outro lado, foram realizadas tarefas
44
orais nos momentos de planificação, preparação e revisão de textos escritos, tarefas
essas que se articularam diretamente com a competência de produção escrita dos
alunos.
Como vimos, o género textual entrevista foi o que assumiu maior protagonismo
nas situações de interação entre escrita e oralidade na disciplina de Português.
Cumpre enfatizar que durante o processo de retextualização do texto oral para o
escrito, as tarefas de transcrição e de adequação discursiva do texto transcrito foram
as que se revelaram mais difíceis para os alunos. Esta circunstância deveu-se, talvez, ao
facto dos alunos nunca terem experienciado este género de tarefa. De qualquer modo,
em retrospetiva, parece-nos notória a necessidade de ter incluído o reforço de
atividades mais específicas relacionadas com os aspetos “linguísticos-textuais-
discursivos”, “de citação” e “cognitivos” teorizados por Marcuschi (2001), os quais
foram mencionados no capítulo 1. Desta forma, ter-se-ia dado azo a uma reflexão
prática mais conducente a procedimentos concretos e sistemáticos de transformação,
adaptação e recriação do texto original. Embora este trabalho tenha sido realizado
com os alunos, o constrangimento do pouco tempo letivo disponível para as atividades
condicionou a sua consolidação. Contudo, haveria vantagem em reforçar, na esteira de
Marcuschi (2001), procedimentos inferenciais, de generalização, inversão ou
falseamento, de transformação das falas em enunciados escritos, e de alteração do
texto original por via da eliminação/acréscimo, completude/substituição ou
regularização/reordenação.
Não obstante, parece-nos legítimo afirmar que, em termos globais, as
atividades na disciplina de Português foram muito satisfatórias e eficazes, logo à
partida pela oportunidade dada aos alunos de contactarem com este tipo de
retextualização, que se afigura vantajoso para a consciencialização da natureza
própria, mais estruturada, do texto escrito quando comparado com o texto oral. Além
disso, julgamos que o recurso ao ensino dos géneros revelou a sua eficácia no terreno,
ao dinamizar o interesse e o empenho dos alunos para a concretização dos objetivos
pretendidos. Aliás, é possível verificar que a reação global dos alunos às atividades
realizadas foi francamente positiva, com base na análise dos resultados apresentados
no final deste capítulo.
45
3. 3. Géneros de texto trabalhados em Espanhol
3. 3. 1. Géneros e modos de realização escrita e oral
Como vimos, ao longo da PES de Espanhol, foram explorados diferentes
géneros de texto, identificados pela leitura da legenda da figura 4, apresentada
anteriormente. Nesta figura, é possível fazer uma leitura ascendente e vertical de
géneros literários, paraliterários e não literários; e uma outra horizontal, da esquerda
para a direita, de géneros escritos, mistos e orais. Importa acrescentar que não foram
trabalhados géneros mistos, devido ao pouco tempo letivo disponível.
Com base na análise da figura 4, é possível verificar que os géneros trabalhados
em Espanhol configuram-se maioritariamente como paraliterários ou não literários e
pertencem ao domínio discursivo de textos de uso quotidiano. Tal facto pode dever-se
ao uso recorrente de géneros mais familiares aos alunos e mais próximos da sua
experiência comunicacional concreta, no ensino dos níveis iniciais de língua
estrangeira.
O principal exemplo de interação entre escrita e oralidade no ensino de
géneros na PES de Espanhol, como é possível aferir da análise das figuras 4 e 6, foi o
trabalho de articulação entre um género escrito e um género oral, a saber, a produção
de cartazes informativos e a sua apresentação oral. Esta foi a tarefa final realizada
pelos alunos do 10.º D. No anexo 19 são apresentadas as planificações relacionadas
com o trabalho destes géneros e da sua análise se pode concluir que houve diversos
momentos de interação e convergência dos domínios da escrita e da oralidade. Nos
anexos 21, 22, 23, 24 e 25 é possível consultar alguns dos recursos, dos processos e
dos produtos utilizados e realizados nas aulas.
Na aula 4 deu-se início à construção de cartazes informativos para expor na
Semana do Patrono na escola. Os alunos foram organizados em grupos de quatro e
cada um dos grupos produziu um cartaz com um dos seguintes temas: “Biografía de
Ibn Mucana”, “Alcabideche antes y ahora”, “Cascais antes y ahora”, “Sintra antes y
ahora” e “Lisboa antes y ahora”. Em seguida, com os materiais disponíveis, os alunos
pesquisaram, selecionaram e organizaram a informação relacionada com o texto e
com a imagem (anexo 22). Durante a produção dos cartazes, os estudantes tentaram
46
comunicar em Espanhol, encorajados e orientados pela professora. Ainda nesta aula,
baseados no texto realizado, iniciaram a preparação da apresentação oral dos
cartazes.
Na aula 5, os alunos concluíram a produção dos cartazes e a preparação da sua
apresentação à turma, orientados pela professora. A produção dos cartazes
informativos (anexo 23), o seu relacionamento com os conteúdos trabalhados ao longo
da unidade didática e a sua apresentação oral (anexo 24) revelaram-se um êxito para
as aprendizagens dos alunos e os produtos decorrentes do seu trabalho foram de
elevada qualidade, tendo em conta o seu nível inicial de língua. Estes cartazes fizeram
parte da exposição “Cascais antes y ahora” (anexo 25), apresentada na sala do bar dos
alunos, durante a Semana do Patrono na escola.
Ao longo das práticas implementadas nas duas turmas, foi trabalhado em três
momentos diferentes um outro género oral: o diálogo. Assim, os estudantes
produziram e apresentaram à turma três diálogos previamente planificados no registo
escrito: um em torno da descrição da cidade e da comparação entre o seu passado e a
atualidade, outro com o tema Quería un billete de tren… e outro, ainda, sobre uma
viagem imaginária.
3. 3. 2. Interação entre escrita e oralidade
Na disciplina de Espanhol, a interação entre escrita e oralidade promovida na
PES ocorreu essencialmente mediante duas vias: a implementação de tarefas orais no
tratamento de géneros escritos e a execução de tarefas escritas no trabalho
concernente a géneros orais. Os processos de retextualização incidiram,
principalmente, na passagem de um género escrito para um género oral.
O trabalho com o género escrito cartaz informativo requereu a realização de
tarefas orais da parte dos alunos porquanto estes foram estimulados a expressarem-se
em Espanhol durante a sua produção em grupo. Esta circunstância mobilizou
competências no âmbito da compreensão e da expressão oral, as quais interagiram
intimamente com a competência de produção escrita nos momentos de planificação,
47
preparação e revisão dos textos que viriam a constar nos cartazes. Toda esta dinâmica
encontra-se representada na figura 6, anteriormente apresentada.
No que refere ao desenvolvimento da competência da compreensão escrita,
podemos verificar que os alunos consultaram vários textos escritos como suporte para
a produção dos cartazes que, por seu turno, viriam a servir de apoio à construção de
textos orais. Subsequentemente, foram realizadas tarefas escritas10 nos momentos de
planificação e de preparação dos textos orais e a apresentação eficaz destes textos à
turma exigiu mais uma vez o desenvolvimento da competência de produção oral nos
alunos. O recurso a atividades escritas no trabalho de géneros orais constitui assim
uma forma de interação que importa mencionar neste relatório. De facto, foram as
situações de leitura e produção dos textos escritos que serviram de suporte para a
construção dos cartazes, que vieram a fornecer apoio à sua apresentação oral11.
Importa ainda sublinhar que os processos pedagógicos decorreram de modo
eficaz na sala de aula, dada a solicitude dos alunos perante as tarefas propostas. No
final da unidade didática, os estudantes fizeram a sua autoavaliação (anexo 29) e a
maioria revelou que a atividade preferida e mais significativa ao longo de toda a SD foi
precisamente a construção dos cartazes e a sua apresentação em grupo. A nosso ver, a
qualidade destes e de outros produtos realizados em aula durante a PES de Espanhol
atestam o seu grau de relevância para a aprendizagem efetiva dos alunos, como se
pode comprovar através dos resultados apresentados de seguida.
3. 4. Questionários aos alunos: análise e reflexão de resultados
A análise dos questionários aplicados antes e depois da PES (anexos 17 e 31) e
das fichas de autoavaliação (anexos 15 e 29) revelou-se determinante na aferição de
resultados relacionados com as práticas implementadas e descritas neste relatório. A
análise decorrente dos questionários aplicados antes da PES permitiu a avaliação
diagnóstica dos conhecimentos e das representações dos alunos face ao trabalho
escolar, determinantes na delineação das atividades que foram implementadas. Não 10
No caso do trabalho relacionado com a produção de textos orais, não foram realizadas tarefas de revisão textual porque, ao contrário do texto escrito, o texto oral é provisório e impossível de ser revisto, a não ser por meio de gravações. 11
Tal como serviram de suporte à preparação dos diálogos produzidos pelos alunos na PES.
48
foram aplicados questionários durante as práticas pedagógicas porque as
competências a avaliar são de natureza produtiva e, como tal, demoram a ser
consolidadas. A análise dos questionários e de fichas de autoavaliação aplicados aos
alunos no final da PES permitiu contrastar os resultados iniciais e finais e obter uma
ideia mais concreta da evolução dos conhecimentos e das representações dos alunos
ao longo da PES de Português e de Espanhol.
Os resultados obtidos através da análise dos vários gráficos constantes no
anexo 32 centram-se na motivação dos alunos para a produção de textos escritos e de
textos orais, na autoavaliação das competências de produção escrita e de produção
oral e na autoavaliação do trabalho realizado durante a entrevista, na disciplina de
Português, e na produção de cartazes informativos e sua apresentação oral, na
disciplina de Espanhol, face a outras atividades realizadas em estágio.
Na disciplina de Português, é possível apresentar os seguintes resultados
sumários: com base nos dados obtidos através da análise dos gráficos 1 e 2, é possível
concluir que a motivação dos alunos pela produção escrita e pela produção oral
aumentou. No entender dos discentes, a competência de produção escrita e a
competência de produção oral melhoraram (ver gráficos 3 e 4). Salienta-se também
que a autoavaliação feita pelos estudantes do trabalho relacionado com a entrevista,
face a outras atividades realizadas nas aulas de Português, é muito boa (ver gráfico 5).
Vejamos agora os resultados fornecidos pela análise de questionários aplicados
em Espanhol: no gráfico 6 pode verificar-se que a motivação pela produção escrita
diminuiu ligeiramente, talvez pelo facto destes estudantes se encontrarem no nível
inicial de aprendizagem da língua. Por outro lado, a motivação pela produção oral nas
aulas aumentou (ver gráfico 7). Na opinião dos discentes, a competência de produção
escrita e a competência de produção oral melhoraram ao longo da nossa prática
pedagógica (ver gráfico 8 e 9). Também importa ressaltar que a autoavaliação feita
pelos alunos do trabalho relacionado com a produção de cartazes informativos e a sua
apresentação oral, em relação a outras atividades, é igualmente muito positiva (ver
gráfico 10).
A nosso ver, os resultados da análise dos gráficos acima indicados devem-se em
muito à metodologia implementada. Efetivamente, é possível estabelecer uma relação
49
eficaz entre didática de géneros e o desenvolvimento de competências e de
capacidades relacionadas com a produção escrita e oral nos alunos, tanto na língua
materna, como na estrangeira.
50
CONCLUSÃO
O texto, como objeto fundamental do ensino da língua, permite uma
abordagem holística, funcional, significativa e social no desenvolvimento dos domínios
previstos nos documentos normativos da atividade docente. A diversificação e a
sistematização textuais constituem dois objetivos centrais no ensino atual da produção
linguística, corroborando a emergência da didática dos géneros textuais no ensino da
língua materna e da língua estrangeira. A função social e comunicativa aliada ao
trabalho dos géneros textuais implica necessariamente o desenvolvimento de
competências relacionadas com a expressão escrita e com a expressão oral.
Os resultados obtidos através deste estudo indicam que é possível estabelecer
uma relação equilibrada e eficaz entre didática de géneros e o desenvolvimento de
competências e de capacidades relacionadas com a produção escrita e com a produção
oral nos estudantes. Mais concretamente, foram as atividades de retextualização
realizadas no contexto do género misto entrevista (do oral para o escrito) e no âmbito
da transição do cartaz informativo para a sua apresentação oral à turma (da escrita
para o oral) que obtiveram maior realce e melhores resultados na interação entre
escrita e oralidade. Com efeito, na realização das atividades que favoreceram esta
relação (e noutras realizadas durante o estágio) é possível encontrar um fio condutor
que direciona a alternância sistemática e interativa entre a escrita e a oralidade. Estas
atividades revelaram-se significativas e eficazes nas aprendizagens e no aumento da
motivação dos alunos para o trabalho escolar.
A escrita e a oralidade são competências relacionadas com a produção de
linguagem e o seu aperfeiçoamento implica a melhoria da competência comunicativa
dos alunos, vital para o seu sucesso social, pessoal e escolar. Em qualquer caso, a
oralidade não deve ser subalternizada em relação à escrita, porque constitui uma das
competências mais valorizadas socialmente e o domínio da expressão oral nos diversos
géneros textuais determina o sucesso profissional e pessoal. Parece-nos evidente que
um sujeito que saiba discutir ideias e argumentar, saiba falar em público
assertivamente e com segurança, saiba escolher que discurso utilizar nos diferentes
contextos comunicativos, tem maior probabilidade de ter sucesso na sua relação com
os outros.
51
A prática desenvolvida assenta numa visão complexa da realidade escolar, mais
concretamente na circulação do uso da linguagem em diversos géneros de texto, entre
diferentes domínios discursivos e entre o desenvolvimento das duas competências
produtivas. Um dos objetivos previstos com a experiência letiva implementada no
contexto da PES foi conceptualizar uma forma de trabalho dinâmico e significativo para
os alunos. Nesta aceção, a didática de géneros afigura-se-nos como uma metodologia
eficaz e transversal no ensino da língua materna e estrangeira, mas consideramos que
também o poderá ser no ensino da língua nos diferentes ciclos12 de aprendizagem.
Mesmo com as contrapartidas e limitações13 óbvias de um estágio, as práticas
implementadas comprovam a dinâmica, a plasticidade, a volubilidade e a
heterogeneidade que envolvem o ensino de géneros de texto. Assim, este relatório
apresenta um contexto de experiências didáticas concretas e complexas que obteve
resultados muito positivos e que atesta o que refere Miranda (2012: 135) quando fala
da “enorme diversidade, da mobilidade e das interligações” existentes nas práticas
reais relacionadas com os diferentes lugares sociais onde as atividades de linguagem
se desenvolvem.
Este estudo demonstra que a instabilidade, a elasticidade e a diversidade
características do ensino de géneros de texto implicam uma rede complexa, dinâmica,
articulada e globalizante de atividades escolares. À vida pessoal e social dos alunos,
como membros de uma comunidade linguística não homogénea, é acrescida uma
dinâmica e intrincada rede de relações entre diferentes géneros textuais e atividades
de linguagem. Por outro lado, o dinamismo revelado manifesta-se, também, pelo facto
dos géneros poderem pertencer a mais de um lugar social, dependendo do contexto
comunicativo. Efetivamente, não existe uma estabilização entre um determinado
género e um domínio discursivo, como se verifica nas interligações das esferas
discursivas abordadas na PES (figura 5). Neste contexto, não é possível estabelecer
uma relação direta, estável e inalterável entre domínios discursivos, géneros de texto e
atividades de linguagem. Por conseguinte, esta investigação demonstra o que defende
Miranda (2012: 121) quando propõe que “não se pode estabelecer relações biunívocas
12
Como professora de 1.º Ciclo desde o ano de 2006, parece-nos que o ensino de géneros de texto seria, também, favorável na aprendizagem da língua materna em alunos mais novos. 13
Pouco tempo letivo, espartilho programático, orientação diretiva das professoras cooperantes, etc.
52
e simples entre gêneros e atividades práticas, pois diversas atividades podem estar
implicadas em um único gênero e, reciprocamente, um mesmo gênero pode ser
mobilizado em diferentes atividades da vida social”. Assim, é possível concluir que
dentro de cada domínio discursivo existe uma rede diversificada e intrincada de
possíveis e inúmeras relações entre géneros, entre atividades de linguagem e entre
modos escritos e orais.
Importa também destacar que devemos ter em mente a interdependência dos
diferentes domínios linguísticos de referência (oralidade, escrita, leitura, educação
literária e gramática), previstos nos documentos normativos da prática docente, e a
vantagem que a didática de géneros acarreta para o devido enquadramento de todos
estes domínios no plano comunicacional. Efetivamente, do ponto de vista do trabalho
com os alunos, a noção de género não será uma questão programática, mas sim uma
metodologia de compreensão do formato macrotextual da organização do texto, o que
remete para uma abordagem porventura mais pragmática e útil das competências
linguísticas a desenvolver.
Estas considerações enquadram-se nos parâmetros atuais da educação, que
não se deve resumir apenas à instrução, mas implicar um processo de formação
integral dos educandos. Daqui se infere a importância inequívoca da valorização dos
saberes e da cultura que os alunos importam do seu próprio ambiente social,
motivando assim, não apenas a construção do conhecimento, mas também o
crescimento das suas capacidades sócio afetivas e críticas enquanto indivíduos em
sociedade. É este o derradeiro objetivo de uma escola que se pretende permeável, de
forma harmoniosa e equilibrada, aos contributos dos alunos, rejeitando as
características de elitismo, rigidez e indiferença da escola tradicional. A fronteira de
atuação da nova escola procura ter maior alcance, pretendendo ser capaz de implicar a
participação dos estudantes e de interessá-los pelo seu próprio desenvolvimento. É
claro, tal pressupõe a aptidão, não apenas técnica, mas também empática do
professor para avaliar, de forma criativa, quais as melhores escolhas sobre os géneros
textuais a tratar em face das experiências, necessidades e preferências dos alunos. As
dificuldades surgem, porém, quando o próprio espartilho dos programas curriculares
condiciona a versatilidade das práticas de ensino em sala de aula.
53
Concluímos, portanto, ser imprescindível que o tema sobre o qual incidem
muitos dos exercícios escolares parta dos interesses dos alunos, seja adequado à
complexidade dos seus saberes e tenha relevância social. É também importante que os
alunos se apropriem antecipadamente dos conhecimentos necessários à interiorização
do tema, de modo a aumentar o seu repertório acerca do assunto que irão tratar.
Por tudo quanto aqui foi avançado, consideramos portanto indiscutível a
necessidade de se trabalhar os géneros de texto, não só orais e escritos mas
especialmente os géneros mistos, para o aperfeiçoamento interativo da escrita e da
oralidade nas línguas materna e estrangeira. Para que isso aconteça, importa que o
professor integre de modo equilibrado e eficaz o ensino de géneros textuais no vasto
panorama de conteúdos a lecionar nas aulas de Português e de Espanhol e organize as
suas planificações de modo a desenvolver sequências didáticas eficientes e
promotoras de aprendizagem. Miranda (2012: 135-136) sugere que não importa tentar
identificar a que atividades particulares estão associados os géneros de texto, mas sim
“indagar a rede de atividades que influenciam (de modos diferentes) essas formas de
organização da linguagem”. Foi isso mesmo que procurámos fazer, como demonstram
as atividades descritas neste relatório.
Quanto ao nosso percurso formativo, julgamos que a observação das aulas das
professoras cooperantes e a nossa própria prática pedagógica consubstanciaram
aprendizagens significativas para o aperfeiçoamento e sucesso do nosso desempenho
como professora estagiária. No que concerne ao tema deste relatório, a evidente mais-
-valia da didática dos géneros, sobretudo dos géneros mistos, merecerá da nossa parte
futuras investigações, em particular sobre a questão das competências de produção
atinentes aos domínios da escrita e da oralidade. Com efeito, este é um aspeto que se
reveste da maior importância pedagógica e que não pode ser explorado devidamente
noutros domínios linguísticos, como a leitura, a gramática ou a educação literária.
Como hipóteses de futuras linhas de investigação, poderíamos explorar de
forma mais aprofundada as vantagens da aplicabilidade didática de géneros de texto
em sala de aula, ou ainda o modo como a didática de géneros mistos pode influenciar
o desenvolvimento de competências e de capacidades relacionadas com a produção
escrita e a produção oral nos alunos, através do aprofundamento do estudo de
54
atividades de retextualização. Seria também muito interessante investigar como
circulam os géneros de texto e o desenvolvimento de competências nos alunos nos
diferentes domínios discursivos previstos nos documentos normativos da prática
docente, ao longo da escolaridade obrigatória, desde o 1.º Ciclo do Ensino Básico até
ao Ensino Secundário.
Resta um último comentário. No futuro, pretendemos continuar a adotar uma
posição crítica de questionamento e de reajustamento da nossa própria ação
pedagógica. Apenas assim, será possível atingir um conhecimento mais flexível e
completo, que possibilitará melhorar a nossa prestação enquanto docente. Muito à
semelhança daquilo que parece ter sucedido com os alunos, também nós cremos que
a reflexão aturada e sistemática sobre os erros cometidos resultará na superação de
enganos e vícios, bem como na atualização de aptidões técnicas, científicas e
estratégicas, determinantes para o sucesso profissional de uma professora que se
pretende exigente.
55
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español A1 y A2. C. MOLINA, (Dir.). Instituto Cervantes. Madrid: Edelsa. ADAM, J.-M. (2001). En finir avec les types de textes. In: M. Ballabriga (Org.). Analyse
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