re integra cao social

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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ ORLANDO BARRETO NETO A REINTEGRAÇÃO SOCIAL DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO: a devolução do preso à sociedade através do trabalho FLORIANÓPOLIS 2013

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  • CENTRO UNIVERSITRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO

    ITAJA

    ORLANDO BARRETO NETO

    A REINTEGRAO SOCIAL DO SISTEMA CARCERRIO BRASILEIRO: a

    devoluo do preso sociedade atravs do trabalho

    FLORIANPOLIS

    2013

  • CENTRO UNIVERSITRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO

    ITAJA

    ORLANDO BARRETO NETO

    A REINTEGRAO SOCIAL DO SISTEMA CARCERRIO BRASILEIRO: a

    devoluo do preso sociedade atravs do trabalho

    Monografia apresentada ao Curso de Ps-Graduao Lato Sensu em Gesto Penitenciria do Centro Universitrio para o Alto Vale do Itaja como requisito parcial obteno do ttulo de especialista em Gesto Penitenciria.

    Orientador: Prof. Sonia Novaes Estcio

    FLORIANPOLIS

    2013

  • CENTRO UNIVERSITRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO

    ITAJA

    ORLANDO BARRETO NETO

    A REINTEGRAO SOCIAL DO SISTEMA CARCERRIO BRASILEIRO: a

    devoluo do preso sociedade atravs do trabalho

    Monografia apresentada ao Curso de Ps-Graduao Lato Sensu em Gesto Penitenciria do Centro Universitrio para o Alto Vale do Itaja como requisito parcial obteno do ttulo de especialista em Gesto Penitenciria ser avaliada pela seguinte Banca Examinadora:

    _______________________________________ Prof. Sonia Novaes Estcio

    Professor Orientador

    Florianpolis, 28 de janeiro de 2013.

  • DEDICATRIA

    Aos colegas Agentes penitencirios que diariamente

    expem a vida em risco para garantir a segurana do nosso pas em

    busca de uma sociedade mais digna justa para todos.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, pai eterno que me fez diferente e forte

    para superar todas as dificuldades, dotando-me no

    apenas de corpo fsico, mas tambm de inteligncia.

    Aos meus pais, minha esposa, meus filhos, por fim, aos

    meus companheiros de trabalho, estudos, guerreiros, que

    souberam com maestria e pacincia suportar meus

    momentos de descontrole, sempre me incentivando a lutar

    e a vencer.

  • Quando atravs da compaixo, cheguei a reconhecer nos

    piores dos encarcerados, um homem como eu; quando se

    diluiu aquela fumaa que me fazia crer ser melhor do que

    ele; quando senti pesar nos meus ombros a

    responsabilidade do seu delito; quando, anos faz, em uma

    meditao em uma sexta-feira santa, diante da cruz, senti

    gritar dentro de mim: judas teu irmo, ento

    compreendi que os homens no se podem dividir em bons

    e maus, em livres e encarcerados, porque h fora do

    crcere prisioneiros mais prisioneiros do que os que esto

    dentro e h dentro do crcere mais libertos da priso dos

    que esto fora. Encarcerados somos, mais ou menos,

    todos ns, entre os muros do nosso egosmo; talvez, para

    se evadir,no h ajuda mais eficaz do que aquela que

    possam nos oferecer esses pobres que esto materialmente

    fechados entre os muros da penitenciria.

    (Carnelutti)

  • RESUMO

    Por meio do desenvolvimento deste trabalho, tendo como tema A Reintegrao Social do detento atravs do trabalho, feito um estudo terico e histrico, a qual teve sua origem na antiguidade como consequncia da necessidade da sociedade em punir os que desobedeciam as regras impostas por ela. Assim, aps os primeiros passos, a priso firmou-se como instrumento inibidor, pois, com a priso imediata do causador de um delito, mesmo antes da sentena condenatria, inibia os que pretendiam seguir o mesmo caminho. Mas como forma de trazer esse indivduo a sociedade, criou-se o instituto da reintegrao social, e como forma de fazer valer tal instituto, o trabalho foi um dos meios criados para que se possa devolver o indivduo sociedade de forma digna e honrada.

    Palavras-chave: Reintegrao Social, preso, priso, trabalho e Lei de Execuo Penal

  • ABSTRACT

    Through the development of this work, with the theme "The inmate's rehabilitation through labor," is a study theoretical and historical, which had its origin in antiquity as a consequence of society's need to punish those who disobeyed the rules imposed by that. Thus, after the first steps, the prison has established itself as a tool inhibitor, because with the immediate arrest of the causes of crime even before conviction, inhibited those who intended to follow the same path. But as a way to bring this individual to society, created the institute of rehabilitation, and as a way to enforce such institute, the work was one of the means that can be created to return the individual to society in a dignified and honorable. Keywords: Resocialization, arrest, imprisonment, work and Penal Execution Law

  • SUMRIO

    INTRODUO ..................................................................................................................... 09

    Objetivo geral......................................................................................................................... 09

    Objetivos especficos.............................................................................................................. 09

    Justificativa ............................................................................................................................ 09

    1 PRISO ............................................................................................................................... 11

    1.1 Consideraes introdutrias........................................................................................... 11

    1.2 Breve histrico das prises ............................................................................................. 14

    1.3 Histrico das prises no Brasil ....................................................................................... 17

    1.4 Finalidade......................................................................................................................... 20

    1.5 Fundamentao Legal ..................................................................................................... 20

    2 A LEI DE EXECUO PENAL ...................................................................................... 22

    2.1 Consideraes histricas acerca da Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984 .. .22

    2.2 Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984 comentrios...................................... 23

    3 A RECUPERAO DO SISTEMA PRISIONAL E A REINTEGRAO SOCIAL

    DO DETENTO ATRAVS DO TRABALHO.................................................................... 34

    3.1 Recuperao do sistema penitencirio brasileiro ......................................................... 34

    3.2 O trabalho nas prises..................................................................................................... 36

    3.3 O trabalho e a reintegrao social do preso .................................................................. 38

    3.4 A Lei de Execuo Penal e a reintegrao social do detento ....................................... 45

    3.5 Polticas pblicas penitencirias e trabalho do preso .................................................. 50

    CONSIDERAES FINAIS................................................................................................ 53

    REFERNCIAS .................................................................................................................... 55

  • 9

    INTRODUO

    Objetivo geral

    Demonstrar o que vem a ser o sistema penitencirio nacional com base na Lei de

    Execuo Penal e a Reintegrao Social do apenado atravs do trabalho.

    Objetivos especficos

    Elaborar um histrico sobre o sistema penitencirio, demonstrando sua evoluo.

    Analisar a Lei de Execuo Penal, para que seja alcanado o objetivo de

    demonstrar a finalidade do sistema penitencirio nacional e a Reintegrao Social do apenado

    atravs do trabalho.

    Demonstrar como se pode fazer a Reintegrao Social do apenado atravs do

    trabalho, com base nas teorias jurdicas existentes.

    Justificativa

    Escolheu-se o assunto da presente monografia, por ser um tema que chama muita

    ateno, pelos acontecimentos existentes na sociedade atual, sobre o que vem acontecendo

    com os detentos ao sarem das prises e a ocupao por eles exercidas ps pena.

    Assim sendo, o presente trabalho tende a demonstrar a realidade do sistema

    prisional, fazendo um levantamento histrico dos seus primrdios at os dias atuais, e

    utilizando-se dos ensinamentos dos mais renomados autores para que se consiga comprovar

    que atravs da ferramenta do trabalho, possa-se reintegrar o reeducando a sociedade.

    Tal trabalho ser focado em estudos baseados na legislao atual, modelos

    capazes de serem utilizados dentro das unidades prisionais, com o objetivo de devolverem

    seus internos sociedade de forma digna e honrosa, pois sero profissionalizados e orientados

    a desenvolver seus ensinamentos adquiridos na prpria unidade, na sua vida ps crcere. O tema a ser discutido no caderno monogrfico, tem sua fundamentao voltada

    nos estudos doutrinrios, para a Lei Penal, mais precisamente a Lei de Execuo Penal, para

    demonstrar a efetividade de tal sistema, na tentativa de reintegrao social do detento atravs

    do trabalho.

  • 10

    Assim, por ser um tema que est sempre em discusso na mdia, fez-se necessrio

    elencar qual a finalidade dos presdios nacionais, para que no venham a ser cometidas

    injustias, nas criticas feitas ao sistema nos meios de comunicao nacional.

    Mas tal evoluo do direito do penal de bom alvitre, pois como todas as normas

    do direito evoluem, necessrio que tal regra tambm evolua, para no prejudicar os

    cidados que fazem uso de tal meio.

    Por ser um tema que no requer comparativos jurisprudenciais, este ser somente

    desenvolvido atravs de estudos bibliogrficos e sites especializados. Para que possa analisar

    o tema, no tendo por objetivo dirimi-lo por completo, mas sim estud-lo de forma ampla, o

    mesmo est dividido em trs captulos, formados da seguinte maneira:

    No primeiro captulo, se faz um estudo histrico sobre o sistema penal brasileiro,

    seu surgimento, sua finalidade e definies, necessrio ao desenvolvimento do trabalho.

    Num segundo momento, realiza-se um estudo sobre os principais artigos da Lei de

    Execuo Penal, que versam sobre a reintegrao social do detento.

    Por fim, no terceiro e derradeiro captulo, analisado como poder ser feita a

    reintegrao social do detento atravs do trabalho.

    Elucidando o caderno monogrfico, nas consideraes finais, expe-se as

    observaes sobre o a reintegrao social do detento atravs do trabalho.

  • 11

    1 PRISO

    1.1 Consideraes introdutrias

    A priso, em sentido jurdico, a privao da liberdade de locomoo, ou seja, do direito de ir e vir, por motivo ilcito ou por ordem legal. Entretanto, o termo tem significados vrios no direito ptrio pois pode significar a pena privativa de liberdade ("priso simples" para autor de contravenes; "priso" para crimes militares, alm de sinnimo de "recluso" e "deteno"), o ato da captura (priso em flagrante ou em cumprimento de mandado) e a custdia (recolhimento da pessoa ao crcere). Assim, embora seja tradio no direito objetivo o uso da palavra em todos esses sentidos, nada impede se utilize os termos "captura" e "custdia", com os significados mencionados em substituio ao termo "priso".1

    Ainda seguindo os ensinamentos de Mirabete, tem-se as seguintes distines para

    os modelos de prises:

    distino entre as espcies de prises acolhidas pelo direito ptrio: a priso-pena (penal) e a priso sem pena (processual penal, civil, administrativa e disciplinar). A priso penal, cuja finalidade manifesta repressiva, a que ocorre aps o trnsito em julgado da sentena condenatria em que se imps pena privativa de liberdade. A priso processual, tambm chamada de provisria, a priso cautelar, em sentido amplo, incluindo a priso em flagrante (arts. 301 a 310), a priso preventiva (arts. 311 a 316), a priso resultante de pronncia (arts. 282 e 408, 1), a priso resultante de sentena penal condenatria (art. 393, l) e a priso temporria (Lei n 7.960, de 21-12-89). A priso civil a decretada em casos de devedor de alimentos e de depositrio infiel, nicas permitidas pela Constituio (art. 5, LXVII). A priso administrativa, que aps a Constituio de 1988 s pode ser decretada por autoridade judiciria, prevista pelo Cdigo de Processo Penal (art. 319, l) e leis especiais. Por fim existe a priso disciplinar permitida na prpria Constituio para as transgresses militares e crimes propriamente militares (arts. 5, LXI e 142, 2).2

    Neste sentido ensina ento o nobre escritor, que:

    Rigorosamente, no regime de liberdades individuais que preside o nosso direito, a priso s deveria ocorrer para o cumprimento de uma sentena penal condenatria. Entretanto, pode ela ocorrer antes do julgamento ou mesmo na ausncia do processo por razes de necessidade ou oportunidade. Essa priso assenta na Justia Legal, que obriga o indivduo, enquanto membro da comunidade, a se submeter a perdas e sacrifcios em decorrncia da necessidade de medidas que possibilitem ao Estado prover o bem comum, sua ltima e principal finalidade. Por isso foi ela prevista nas Constituies de 1824 (art. 179, 10), de 1891, de 1934 (art. 122), de 1937 (art. 122, II), de 1946 (art. 141, 20), de 1967 (art. 150, 12) e de 1988 (art. 5, LXII). nesse sentido que o artigo 282 do CPP reza que, exceo do flagrante delito, a priso no poder efetuar-se seno em virtude de pronncia ou nos casos determinados em lei, e mediante ordem escrita da autoridade competente, que,

    1 MIRABETE, Julio Fabrini. Processo penal. 14. ed. rev. e atual. at dezembro de 2002. So Paulo: Atlas, 2003. p. 359. 2 Ibidem, p. 359

  • 12

    hoje, apenas a autoridade judiciria (art. 5, LXI, da CF). Mas, por permisso constitucional, pode-se efetuar a priso sem mandado judicial nas hipteses de flagrante (art. 5a, LXI), transgresso militar ou crime propriamente militar (art. 5, LXI), priso durante o Estado de Defesa (art. 136, 3, l) e do Estado de Stio (art. 139, II), alm de se permitir pela lei processual a recaptura do foragido (art. 684 do CPP), caso em que o recolhimento anterior era legal por ter sido ele autuado em flagrante ou por ter sido recolhido em virtude da expedio de mandado de priso.3

    Desta forma a priso tem vrias definies que se resumem em um nico objetivo:

    mostrar que a forma encontrada pelo Estado de retirar da sociedade os indivduos que

    praticam alguma forma de delito penal e por ele so condenados. Cita-se assim duas

    definies de prises:

    Priso, do latim prensione, tanto significa o ato de prender, de deter, de capturar

    o indivduo, como o local onde o sujeito fica retido, fica preso. As nossas (BRASIL, grifo

    nosso) leis empregam indistintamente essas duas acepes.4

    Na terminologia terica jurdica, o vocbulo tomado para exprimir o ato pelo

    qual se priva a pessoa de sua liberdade de locomoo, isto , da liberdade de ir e vir,

    recolhendo-a a um lugar seguro e fechado de onde no poder sair. Assim, juridicamente,

    pena de priso significa pena privativa de liberdade em virtude da qual a pessoa a ela

    condenada recolhida e encarcerada em local destinado para este fim.5

    Como se pode perceber, as definies acima mostram que a priso tem a mesma

    finalidade. Entretanto, os autores colocam uma peculiaridade, vislumbrando na expresso

    priso a definio do local no qual o condenado ir cumprir sua pena, servindo como

    sinnimos de priso os termos: penitenciria, presdio ou cadeia.

    Assim sendo, a priso tem trs finalidades distintas: a) proteger a sociedade de

    maus elementos para que o interesse social seja mantido e a ordem pblica possa prevalecer

    face ao interesse individual, ou seja, retirar das ruas ou do convvio social os indivduos que

    atravs de atos que vo contra os costumes sociais tentam desta forma desregular ou

    desvirtuar o interesse social; b) em sentido jurdico, a priso tem uma importante misso em

    caso de priso em flagrante, qual seja a de apoiar o andamento da justia pois, mantendo o

    suspeito preso, a justia no corre o risco de que ele venha, de alguma forma, tentar desvirtuar

    as investigaes, impossibilitando o trabalho normal e a elucidao dos fatos; c) a priso a

    punio mais justa encontrada pelo legislador para que o criminoso condenado venha a pagar

    3 MIRABETE, Julio Fabrini. Processo penal. 14. ed. rev. e atual. at dezembro de 2002. So Paulo: Atlas, 2003, 360. 4 FARIAS JUNIOR, Joo. Manual de criminologia. 3. ed, Curitiba: Juru, 2002. 5 SILVA, De Plcido e. Vocabulrio jurdico. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

  • 13

    por seus crimes, ou seja, a forma que o legislador encontrou, com apoio social, de punir os

    praticantes de atos ilcitos penais que vo de encontro ao interesse social.6

    Segundo De Plcido e Silva:

    A priso sempre se destinou a manter o individuo cerceado de sua liberdade at que sua situao se resolvesse pelas autoridades competentes. Se a priso foi em flagrante e o crime no afianvel, se se quer manter o individuo sempre acessvel, disposio da justia, ou se o individuo perigoso, tende-se que garantir a sociedade contra o prosseguimento da atividade delituosa do agente, e para evitar manobras de que possa lanar mo o agente para estorvar a produo da prova. A priso uma medida cogente, uma medida de fora, um sacrifcio da liberdade individual, mas reclamada pelo interesse social porque h indivduos que no podem ficar em liberdade.7

    Priso, na viso de Siqueira, citado por Farias Junior, tem a seguinte

    conceituao,

    Para denotar os atos restritivos da liberdade pessoal, em matria de crime, as nossas leis empregam indistintamente o termo Priso, o que no poucas confuses tm produzido. A exemplo da moderna legislao portuguesa poderamos empregar os termos Arrestation e Detention. Os franceses chamam Arrestation priso de algum, unicamente para obrig-lo a comparecer perante a autoridade a fim de ser interrogado sobre o delito que lhe imputado e Detention, especialmente detention preventivo ou pralable conservao de algum em priso at o julgamento ou priso de indiciado para que fique detido at o julgamento.8

    Na terminologia jurdica,

    o vocbulo tomado para exprimir o ato pelo qual se priva a pessoa de sua liberdade de locomoo, isto , da liberdade de ir e vir, recolhendo-a a um lugar seguro e fechado de onde no poder sair. Assim, juridicamente pena de priso significa pena privativa de liberdade em virtude da qual a pessoa a ela condenada recolhida e encarcerada em local destinado para este fim. Diz-se, tambm, pena de recluso ou pena de deteno.9

    As definies acima mostram que o lugar ou estabelecimento em que algum fica

    segregado conhecido atualmente por crcere, cadeia, presdio, penitenciria, casa de

    deteno, custdia etc., ou seja, a priso tem a mesma finalidade. Entretanto, os autores

    colocam uma peculiaridade, vislumbrando na expresso priso, a definio do local no qual o

    6 MIRABETE, Julio Fabrini. Processo penal. 14. ed. rev. e atual. at dezembro de 2002. So Paulo: Atlas, 2003. 7 SILVA, De Plcido e. Vocabulrio jurdico. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 287 8 SIQUEIRA apud JUNIOR, Joo Farias. Manual de criminologia. 3. ed, Curitiba: Juru, 2006, p. 366. 9 SILVA, De Plcido e. Vocabulrio jurdico. 26. ed./ rev. e atual. por Nagib Slaibi Filho, Glucia Carvalho, 4. tiragem. Rio de Janeiro: Forense, 2006 . vol. III J-P. p. 448.

  • 14

    condenado ir cumprir sua pena, servindo como sinnimos de priso os termos penitenciria,

    presdio ou cadeia. Assim, tem-se a seguinte definio:

    Priso, extensivamente, o local fechado e seguro, destinado a recolher as pessoas privadas da liberdade por condenao ou interesse da justia. Em sentido estrito, priso o crcere, isto , o lugar fechado e seguro em que se recolhem as pessoas que devam ser presas. Em sentido geral, porm, designa todo lugar ao qual a pessoa condenada perda da liberdade deve ser recolhida. Assim, a penitenciaria uma priso, os presdios so prises como so prises as clulas em que se cumprem penas de priso mais graves10.

    1.2 Breve histrico das prises

    O sistema carcerrio, ou seja, o sistema penitencirio um dos mais antigos que

    se tem conhecimento dentro da historia mundial, pois a prpria historia do mundo moderno

    ou antigo se confunde com a priso.

    No surgimento da sociedade moderna se tem relatos da existncia das prises,

    desta forma usando as palavras de Nunes que fora citado por Santos tem-se a seguinte ideia da

    existncia das prises:

    Na idade mdia, a igreja, foi precursora na aplicao da priso, como forma de castigo queles que infringissem seus preceitos, fazendo recolher os monges rebeldes ou infratores em celas individuais, onde merc de oraes e reflexos reconheciam seus prprios pecados e no voltava a comet-los.11

    Corroborando com esse entendimento ser feito uma cronologia do sistema

    prisional mundial, baseado no artigo das autoras Batistela e Amaral (2013), no qual percebe-

    se que seu incio ocorre na antiga Grcia o bero da civilizao mundial, onde nas palavras de

    seu mais ilustre habitante o pensador politico Aristteles se tem a seguinte colocao:

    Em sua obra Poltica, Aristteles apresentava a pena como carter intimidatrio, porque o castigo alm de intimidar o ru para que no voltasse novamente a cometer delitos, devia tambm servir de exemplo para os demais que por ventura estivessem prestes a cometer um crime. Este filsofo fez penetrar, por fim, nas suas construes

    10 SILVA, De Plcido e. Vocabulrio jurdico. 26. ed./ rev. e atual. por Nagib Slaibi Filho, Glucia Carvalho, 4. tiragem. Rio de Janeiro: Forense, 2006 . vol. III J-P, p. 448. 11 NUNES apud SANTOS, Valmira Ferreira. A inefetividade da Constituio Federal e lei de execues penais no sistema prisional brasileiro. Disponvel em: . Acessado em: 05.fev.2013

  • 15

    ticas e jurdicas, a idia do livre arbtrio, sem que se saiba que papel teve nas prticas gregas. Esta idia, entretanto, veio exercer considervel influncia no Direito Penal do Ocidente. A pena alcanou o seu fundamento civil tornando-se pblica, e no Direito de Atenas distinguia-se o que defendia um bem do Estado ou da religio, ou apenas um bem particular, reservando-se para o primeiro o mximo rigor penal. Finalmente, os filsofos gregos trouxeram a debate uma questo geralmente ignorada pelos povos anteriores: a da razo e fundamento do direito de punir e da finalidade da pena, questes que preocuparam pensadores diversos e que vieram a ser mais detidamente considerada no movimento iniciado por Scrates, com o particular interesse que ento se tomou pelos problemas ticos. As opinies mais ponderveis so de Plato e Aristteles, sendo que aquele se baseava nas leis, j este na tica. Estas questes se constituram em objeto de preocupao por parte dos filsofos, mas deve-se observar que no houve Cincia do Direito na Grcia antiga.12

    J indo em direo a civilizao vizinha da Grcia, ou seja, a Roma antiga, foi ai

    que segundo as autoras supra citadas, teve-se os primeiros rascunhos do que vem a ser um

    direito penal inicialmente formulado, com algumas de suas principais caratersticas a baixo

    enumeradas:

    a) A afirmao do carter pblico e social do Direito Penal; b) O amplo desenvolvimento alcanado pela doutrina da imputabilidade, da culpabilidade e de suas excludentes; c) O elemento subjetivo doloso se encontrava claramente diferenciado. O dolo, que significava a vontade delituosa, que se aplicava a todo campo do direito, tinha, juridicamente, o sentido da astcia, reforada, a maior parte das vezes, pelo requisito da conscincia da injustia; d) A teoria da tentativa, que no teve um desenvolvimento completo, embora se admita que fosse punida nos chamados crimes extraordinrios; e) O reconhecimento, de modo excepcional, das causas de justificao (legtima defesa e estado de necessidade). f) A pena constitua uma reao pblica, cabendo ao Estado a sua aplicao; g) A distino entre crimina publica, delicta privata e a previso dos delicta extraordinria; h) A considerao do concurso de pessoas, diferenciando a autoria xxx e a participao;13

    Segundo as autoras Batistela e Amaral, a idade mdia foi marcada por um perodo

    cruel no que se refere ao cumprimento das penas, pois os juzes eram pessoas dotadas de um

    poder infinito que no tinham de ser apresentadas justificativas pelas penas aplicadas, fazendo

    assim com que muitos indivduos, a bel prazer desses julgadores, fossem mortos e viessem a

    desaparecer.

    12 BATISTELA, Jamila Eliza, Marilda Ruiz Andrade AMARAL. Breve histrico do sistema prisional. Disponvel em: . Acessado em: 05.fev.2013 13 Ibidem.

  • 16

    Outro ponto importante a ser mencionado que a unidade prisional da idade

    mdia no tinha nenhum interesse em manter seus encarcerados vivos, ou seja, eram

    verdadeiros depsitos de gente.

    Mas nem tudo fora negatividade neste perodo histrico, o que pode ser citado

    como uma evoluo, a diviso do sistema punitivo, ou seja, separando o que vem a ser Estado

    e igreja:

    Surgiram neste momento dois tipos de prises: a priso do Estado e a priso eclesistica. A primeira com a modalidade de priso-custdia, utilizada no caso em que o delinquente estava espera de sua condenao, para os casos de priso perptua ou temporal ou, at receber o perdo. J a segunda, era destinada aos clrigos rebeldes, que ficavam trancados nos mosteiros, dentro de um aposento subterrneo, para que, por meio de penitncia e meditao, se arrependessem do mal causado e obtivessem a correo.14

    Seguindo a anlise do que vem a ser o surgimento do modelo atual de conteno

    de delinquentes, ou seja: a criao de prises onde seriam alocadas essas pessoas, com o

    objetivo de cumprirem as penas impostas pelo judicirio, Batistela e Amaral, fazem a seguinte

    colocao:

    Foi na segunda metade do sculo XVI que surgiu um importante movimento para desenvolver as penas privativas de liberdade: a criao de prises para correo dos condenados. Cita-se o House of Corretion, construda em Londres, na Inglaterra, entre 1550 e 1552, tendo por objetivo a reeducao dos delinquentes, atravs de disciplina e trabalho severo. Em 1556 surgiu em Amsterdam, na Holanda, a casa de correo para homens; e no ano de 1557, uma casa de correo para mulheres; e em 1600 uma priso especial para homens.15

    Como se pode perceber o modelo de ideologia penitenciria conseguiu

    corresponder as expectativas dos seus criadores, uma vez que fora seguido por muitos outros

    pases, sendo um ponto de referencia para a criao de novos modelos.

    Seguindo assim a cronologia histrica do presente estudo, depois da criao do

    modelo ingls (criao nossa), se deu em meados do sculo XVII a criao do modelo

    americano de penitencirias, onde se destacam os seguintes:

    14 BATISTELA, Jamila Eliza, AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. Breve histrico do sistema prisional. Disponvel em: . Acessado em: 05.fev.2013 15 Ibidem

  • 17

    Sistema Pensilvnico ou Filadlfico era utilizado o isolamento celular absoluto, no podendo os presos manter qualquer forma de comunicao com seus companheiros. Este sistema foi muito criticado porque era retirado do ser humano uma necessidade humana: a de se comunicar. No dizer de Edgar Magalhes Noronha, a cela um tmulo do vivo. O Sistema Auburniano, que prevaleceu nos Estados Unidos, surgiu em Auburn em 1818, tambm chamado de Silent System. Neste sistema, o isolamento era noturno, o trabalho era inicialmente realizado nas suas prprias celas e, posteriormente, em tarefas grupais, durante o dia, isso tudo em absoluto silncio, sendo proibido visitas, lazer e prtica de exerccios.16

    O sistema auburniano como se percebe, foi um sistema que pode ser considerado

    um divisor de guas para a sobrevivncia do sistema prisional naquele tempo, mas para a sua

    sobrevivncia em longa escala, como acontece at os dias de hoje, fora necessrio uma

    implementao na sua forma de atuao.

    Para isso fora criado pelos ingleses o sistema progressivo, que utilizado at os

    dias de hoje, mais conhecido como o sistema de progresso de regimes, onde na teoria era

    para se conseguir a diminuio da populao encarcerada nas unidades prisionais, atravs da

    progresso para regimes como o semiaberto e o aberto.17

    1.3 Histrico das prises no Brasil

    Segundo Fragoso, citado por Neto, pode-se perceber que

    a priso como pena de aparecimento tardio na histria do Direito Penal. No Brasil no foi diferente. A princpio, no sentido de crcere, era onde os acusados permaneciam temporariamente espera da condenao. Essa situao perdurou, passando pelas Ordenaes Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, acrescidas das leis extravagantes, baseando-se na brutalidade das sanes corporais e na abundncia absurda de ilcitos, at a introduo do Cdigo Criminal do Imprio do Brasil, em 16 de dezembro de 1830, sancionado por D. Pedro I.18

    O Cdigo Criminal do Imprio reduzia a quantidade para somente trs infraes:

    insurreio de escravos, homicdio agravado e latrocnio.

    16 BATISTELA, Jamila Eliza, AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. Breve histrico do sistema prisional. Disponvel em: . Acessado em: 05.fev.2013. 17 Ibidem 18 FRAGOSO apud NETO, Osvaldo Alves de Ataides. O sistema prisional brasileiro e o seu efeito ressocializador. Projeto de Monografia apresentado ao Programa de Graduao em Direito da Faculdade Capixaba de Nova Vencia Disponvel em: . Acessado em: 02.fev.2013.

  • 18

    Ainda colhendo as informaes sobre a presente instruo histrica, Neto faz uso

    das palavras de Doti, quando ressalva que:

    o Cdigo Criminal do Imprio (...) florescendo em bases de justia e equidade, constituiu um documento de admirvel sntese de foras plasmadas pelas lutas contra Portugal, pelo reconhecimento das idias liberais que dominavam a Inglaterra, a Frana, os Estados Unidos e outros pases. Afirma ainda Doti que, com o novo Cdigo (...) a priso como autntica pena ingressava nos costumes brasileiros no como um simples instrumento de proteo da classe dominante, mas tambm passaria a ser vista como fonte de emenda e de reforma moral para o condenado. A preocupao em torno do regime penitencirio mais adequado traduziu o empenho de acompanhar o progresso revelado em outros pases. 19

    O Cdigo do Imprio o reflexo, no Brasil, das profundas modificaes que

    ocorreram na Europa, projetadas pelas novas correntes de pensamento.

    Em meados de 1888, acontece a abolio da escravatura no Brasil, e

    consequentemente no ano seguinte, 1889, o Brasil declara sua independncia de Portugal.

    Estes dois acontecimentos histricos, trazem grandes mudanas para o sistema penal

    brasileiro, ocasionando mudanas peculiares no Cdigo penal de 1890, onde comea a ser

    previsto os seguintes modelos de prises: priso celular; recluso; priso com trabalho

    obrigatrio; priso disciplinar. Cada uma cumprida em um estabelecimento especfico.20

    No entanto, os estabelecimentos j se encontravam em pssimas condies, de

    acordo com o que relata Lemos de Brito21, baseado em visitas aos principais presdios do pas.

    Falconi, citado por Neto, faz um importante relato:

    [...] neste momento, o sistema presidial abarca trs modalidades de priso: a correcional ou policial, que a detestvel Priso Temporria, a priso processual, que se realiza via priso em flagrante, a priso preventiva e a priso judicial, que a prpria condenao, indiferente se com ou sem trnsito em julgado. Porm, devido precria situao dos estabelecimentos, todos os presos se misturavam no mesmo espao fsico, no possibilitando a distino entre o preso correcional, o processual e o condenado. 22

    19 DOTI, apud NETO, Osvaldo Alves de Ataides. O sistema prisional brasileiro e o seu efeito ressocializador. Projeto de Monografia apresentado ao Programa de Graduao em Direito da Faculdade Capixaba de Nova Vencia Disponvel em: . Acessado em: 02.fev.2013. 20 NETO, Osvaldo Alves de Ataides. O sistema prisional brasileiro e o seu efeito ressocializador. Projeto de Monografia apresentado ao Programa de Graduao em Direito da Faculdade Capixaba de Nova Vencia Disponvel em: . Acessado em: 02.fev.2013. 21 BRITO, Lemos, apud FALCONI, Romeu. Sistema presidial: reinsero social? So Paulo: cone, 1998, p. 64. 22 FALCONI, apud NETO, Osvaldo Alves de Ataides. O sistema prisional brasileiro e o seu efeito ressocializador. Projeto de Monografia apresentado ao Programa de Graduao em Direito da Faculdade

  • 19

    Com o passar dos anos, foram se deteriorando cada vez mais as prises, chegando

    ao ponto de em meados de 1932 estar deveras dificultosa a aplicao da lei penal dentro do

    sistema judicirio brasileiro. Para tentar corrigir tal problema, fora baixado o Decreto 22.213

    de 14 de dezembro de 1932, o qual tinha por objetivo a condensao das leis penais

    extravagantes em uma consolidao.23

    Em 31 de dezembro de 1940 publicado o novo Cdigo Penal (Decreto lei 2.848 de 7 de dezembro de 1940) atravs do qual as penas foram simplificadas em duas categorias: principais, que se subdividiam em recluso e deteno (que so as espcies da pena privativa de liberdade) e multa. As penas acessrias, se subdividiam em perda de funo, interdio de direitos e publicao das sentenas. Desde ento, muitos avanos ocorreram na legislao, relacionados proteo do indivduo, moderando o poder punitivo do Estado. Porm, pouco se buscou como alternativa pena de priso. O nosso Cdigo Penal vem mantendo-na como principal forma de punio e defesa da sociedade. 24

    Por fim cabe aqui fazer uso das palavras de Martins, o qual faz a seguinte

    colocao,

    sabendo-se das mazelas que advm da simples aplicao da pena de priso, dos problemas que decorriam do encarceramento, tanto em funo das superlotaes e da bvia concorrncia de promiscuidades e desrespeito aos mais comezinhos princpios de relacionamento humano, como da inexistncia de um programa de acompanhamento, aconselhamento, educao e encaminhamento do preso a um novo caminho, ampliou-se, com a Lei 7.209/84, o leque dos tipos de penas aplicveis no pas. Estatui-se no art. 32, do Cdigo Penal, que as penas eram as privativas de liberdade, as restritivas de direito e a multa. 25

    Aps analisar o histrico do sistema prisional brasileiro, passa-se a seguir a

    verificar qual a finalidade da priso, para uma melhor compreenso do tema em tela.

    Capixaba de Nova Vencia Disponvel em: . Acessado em: 02.fev.2013. 23 NETO, op cit. 24 Ibidem 25 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas alternativas. 2. ed. ampl. e atual., 3. Tiragem, Curitiba: Juru, 2003, p. 35. apud NETO, Osvaldo Alves de Ataides. O sistema prisional brasileiro e o seu efeito ressocializador. Projeto de Monografia apresentado ao Programa de Graduao em Direito da Faculdade Capixaba de Nova Vencia Disponvel em: . Acessado em: 02.fev.2013.

  • 20

    1.4 Finalidade

    Segundo Plcido e Silva:

    A priso sempre se destinou a manter o individuo cerceado de sua liberdade at que sua situao se resolvesse pelas autoridades competentes. Se a priso foi em flagrante e o crime no afianvel, se se quer manter o individuo sempre acessvel, disposio da justia, ou se o individuo perigoso, tende-se que garantir a sociedade contra o prosseguimento da atividade delituosa do agente, e para evitar manobras de que possa lanar mo o agente para estorvar a produo da prova. A priso uma medida cogente, uma medida de fora, um sacrifcio da liberdade individual, mas reclamada pelo interesse social porque h indivduos que no podem ficar em liberdade.26

    A priso tem trs finalidades distintas: a) proteger a sociedade de maus elementos

    para que o interesse social seja mantido e a ordem pblica possa prevalecer face ao interesse

    individual, ou seja, retirar das ruas ou do convvio social os indivduos que atravs de atos vo

    contra os costumes sociais que tentam dessa forma desregular ou desvirtuar o interesse social;

    b) em sentido jurdico, a priso tem uma importante misso em caso de priso em flagrante,

    qual seja a de apoiar o andamento da justia, pois, mantendo o suspeito preso, a justia no

    corre o risco de que ele venha de alguma forma tentar desvirtuar as investigaes,

    impossibilitando o trabalho normal e a elucidao dos fatos; c) a priso a punio mais justa

    encontrada pelo legislador para que o criminoso condenado venha a pagar por seus crimes, ou

    seja, a forma que o legislador encontrou, com apoio social, de punir os praticantes de atos

    ilcitos penais que vo de encontro ao interesse social.

    Assim, a priso uma medida indispensvel, uma medida de fora, um sacrifcio

    da liberdade individual, mas reclamada pelo interesse social porque h indivduos que no

    podem ficar em liberdade.

    1.5 Fundamentao Legal

    A priso, como anteriormente demonstrado, tem por finalidade inibir o aumento

    do crime na sociedade e, como instituio, privar da liberdade o indivduo criminoso. A

    prpria Constituio Federal do Brasil declara que o indivduo s ser privado de liberdade se

    tiver lei anterior que o condene.

    26 JUNIOR, Joo Farias. Manual de criminologia. 3. ed, Curitiba: Juru, 2006, p. 366.

  • 21

    Cada modalidade de priso existente no ordenamento jurdico tem determinada

    fundamentao legal, sendo, no entanto, colocada quando estudarmos cada tipo de priso em

    particular.27

    De um modo geral, para que um indivduo seja preso, tem que se respeitar a

    Constituio Federal e o Cdigo de Processo Penal, entre outras leis.

    Com a Constituio de 1988, a priso passou a ser de inteira responsabilidade do

    poder judicirio, ou seja, a priso s pode ser decretada ou efetuada com autorizao do juiz,

    quando presentes os pressupostos para que tal ato seja cometido, tendo a pessoa que foi presa,

    legalmente a garantia constitucional do habeas corpus, art. 5, LXVIII da CF/88.28

    Assim, findo este captulo em que foram abordados os aspectos histricos e legais

    das prises, arguir-se- no prximo captulo, a historicidade da Lei de Execuo Penal, e

    comentrios sobre alguns artigos inerentes ao desenvolvimento do presente trabalho.

    27 JUNIOR, Joo Farias. Manual de criminologia. 3. ed, Curitiba: Juru, 2006. 28 Ibidem.

  • 22

    2 A LEI DE EXECUO PENAL (n 7.210, de 11-7-1984)

    2.1 Consideraes histricas

    No Brasil, a primeira tentativa de codificao a respeito das Normas de Execuo

    Penal foi o projeto de Cdigo Penitencirio da Repblica de 1933, elaborado por Cndido

    Mendes, Lemos de Brito e Heitor Carvalho, que veio a ser publicado no Dirio do Poder

    Legislativo, Rio de Janeiro, edio de 25-2-1937.

    Estava ainda em discusso ao ser promulgado o Cdigo Penal de 1940, sendo

    abandonado, alm do mais, porque discrepava do referido Cdigo. Em 1970, Benjamim

    Moraes Filho elaborou o novo anteprojeto do Cdigo de Execues Penais, submetido uma

    subcomisso revisora. Encaminhado ao Ministro da Justia em 29 de Outubro daquele ano,

    no aproveitado.

    Enfim, em 1981, uma comisso instituda pelo Ministro da Justia e composta

    pelos professores Francisco de Assis Toledo, Ren Ariel Dotti, Miguel Reale Junior, Ricardo

    Antunes Andreucci, Rogrio Lauria Tucci, Srgio Marcos de Moraes Pitombo, Benjamim

    Moraes Filho e Negi Calixto apresentou o anteprojeto da nova Lei de Execuo Penal. Foi ele

    publicado pela portaria n 429, de 22-7-1981, para receber sugestes e entregue, com estas,

    comisso revisora constituda por Francisco de Assis Toledo, Ren Ariel Dotti, Janson Soares

    Albergaria e Ricardo Antunes Andreucci, que contaram com a colaborao dos professores

    Everardo da Cunha Luna e Srgio Marcos de Moraes Pitombo. O trabalho da comisso

    revisadora foi apresentado em 1982 ao Ministro da Justia.29

    O que se vislumbrava eram indcios de que a lei de execuo penal poderia surgir

    no Brasil, com a tentativa de melhorar a situao do sentenciado, tentando de uma forma

    tcnica, conseguir devolver sua dignidade, mas para conseguir alcanar tal expectativa, fora

    necessrio mais alguns anos de luta jurdica at chegar aos dias atuais, como pode ser

    vislumbrado no histrico a seguir:

    Finalmente, em 1981, uma nova comisso apresentou anteprojeto da nova Lei de Execuo Penal (LEP), que como ensina Boschi (1989, p. 14), transformou-se em

    29 GOMES, Jorge Roberto. O sistema prisional e a Lei de Execuo Penal: uma anlise do ser ao dever ser. Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade Estcio de S de Juiz de Fora MG. Disponvel em: . Acessado em: 10.fev.2013

  • 23

    projeto e mais tarde na Lei 7.210, promulgada em 11 de julho de 1984, para entrar em vigor concomitantemente com a reforma da parte geral do Cdigo Penal, em 13 de janeiro de 1985, o que de fato aconteceu. Diga-se que a referida lei surge com o escopo de normatizar o processo de execuo penal e como afirma Boschi (1989, p.14), diploma de profundo rigor cientfico e de ideologia avanada e progressista. Essencialmente nasce com o propsito de suprir as falhas do Cdigo Penal e do Cdigo de Processo Penal, bem como, amenizar uma poltica penal repressiva, pois alm de estabelecer regulamento para execuo de penas e medidas privativas de liberdade, assegura direitos fundamentais aos reclusos. Tal tendncia definitivamente confirmada em 1988 com a nova Constituio do Pas, a qual recepcionou a Lei de Execues Penais que havia sido promulgada sob o imprio de constituio anterior, fato este que lhe conferiu validade plena. Promulgada a Constituio de 1988, a mesma vem coroar a efetivao de um Estado democrtico de direito, bem como firmar um rol de direitos individuais, alm de que, trouxe em seu bojo mudanas substanciais concernentes a proteo da pessoa humana, os quais se coadunam amplamente com as objetivos da LEP. Em suma, contemporaneamente temos uma LEP e uma Constituio Federal que entre seus fins tem a garantia de direitos daqueles indivduos que tiveram a liberdade restringida pelo estado, visando um processo de ressocializao. Entretanto, a referida proposta de ressocializao enfrenta o paradigma de um sistema prisional em decadncia, ao que se pressupe, por no serem aplicadas as leis postas, caracterizando-se, assim, uma omisso do Estado e um afrontamento ao objetivo principal do ordenamento que a proteo da pessoa humana.30

    Depois de ter-se analisado uma pequena base do que vem a ser o surgimento da

    Lei de Execues penais no Brasil, far-se- uma analise de alguns de seus artigos.

    2.2 Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984 comentrios

    O que segue, trata-se de artigos distintos que versam sobre direitos assegurados

    aos presos, possibilitando condies diversas para acreditar-se, na possibilidade de uma

    eventual reintegrao social no s do sistema, mas tambm do prprio preso, de seus valores,

    de sua tica e de sua honra. Atravs da utilizao destes artigos na prtica, poder-se-ia

    alcanar o objeto precpuo da LEP, que devolver o detento ao convvio social.

    Da Assistncia SEO I Disposies Gerais Art. 10. A assistncia ao preso e ao internado dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno convivncia em sociedade. Pargrafo nico. A assistncia estende-se ao egresso.31

    30 VIDAL, Marcia Salente Nicolodi. As sadas temporrias no processo de execuo penal. Monografia apresentada ao curso de Graduao em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Disponvel em: . Acessado em: 10.fev.2013 31 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013.

  • 24

    Se a reabilitao social constitui a finalidade precpua do sistema de execuo

    penal, evidente que os presos devem ter direito aos servios que a possibilitem, servios de

    assistncia que, para isso, devem ser-lhes obrigatoriamente oferecidos, como dever do Estado.

    manifesta a importncia de se promover e facilitar a reinsero social do

    condenado, respeitadas suas particularidades de personalidade, no s com a remoo dos

    obstculos criados pela privao da liberdade, como tambm, a utilizao, tanto quanto seja

    possvel, de todos os meios que possam auxili-lo nessa tarefa.32

    No h dvida de que a prestao de assistncia ao liberado, concedendo-lhe

    meios adequados de subsistncia e amparo social, um trabalho essencialmente

    complementar do desenvolvido na instituio penitenciria, pois a insensibilidade da

    Administrao e da prpria sociedade pode anular o resultado das tarefas realizadas no

    estabelecimento com a finalidade de reeducar o condenado em sua reinsero social.

    Necessria, pois, a assistncia ao egresso, com vistas a promover seu

    reajustamento consigo mesmo e com os outros, numa adaptao racional ao seu meio scio

    cultural.

    Esse processo tcnico-cientfico de assistncia foi definido pelas regras mnimas

    do conselho de Europa com o tratamento que se proporciona ao sujeito, uma vez que obtm

    sua liberdade, e deve ser considerado como um prolongamento do tratamento a que esteve

    sujeito durante a priso, j que formam ambos uma unidade independente, constitudo,

    portanto, a continuao ou a sequncia do tratamento intramuros.33

    Art. 11. A assistncia ser: I - material; II - sade; III - jurdica; IV - educacional; V - social; VI - religiosa.34

    Preveem as Regras Mnimas da ONU que, para obter a reinsero social do

    condenado, o regime penitencirio deve empregar, conforme as necessidades do tratamento

    individual dos delinquentes, todos os meios curativos, educativos, morais, espirituais e de

    outra natureza, e todas as formas de assistncia de que pode dispor. Nesse sentido, o art. 11 da

    32 MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008 33 Ibidem 34 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013.

  • 25

    Lei de Execuo Penal enumera as espcies de assistncia a que tem direito o preso e o

    internado: material, sade, jurdica, educacional, social e religiosa, em obedincia aos

    princpios e regras internacionais sobre os direitos da pessoa presa, especialmente aos que

    defluem das regras mnimas da ONU.35

    Diga-se, porm, que a assistncia material, moral e social ao preso, excetuada

    aquela indispensvel subsistncia e dignidade humana do preso, estar sempre condicionada

    s possibilidades materiais e humanas do Estado.

    SEO II Da Assistncia Material Art. 12. A assistncia material ao preso e ao internado consistir no fornecimento de alimentao, vesturio e instalaes higinicas.36

    A assistncia material, segundo a lei, consiste no fornecimento de alimentao,

    vesturio e instalaes higinicas aos presos e internados. Um dos direitos do preso, alis, a

    alimentao suficiente e vesturio, que corre a cargo do Estado.

    Segundo as Regras Mnimas da ONU, todo preso dever receber da

    Administrao, nas horas usuais, uma alimentao de boa qualidade, bem preparada e servida,

    cujo valor seja suficiente para a manuteno de sua37 sade e de suas foras. Uma boa

    alimentao no vai fazer feliz um homem que est na priso, mas evita os motins e, por isso,

    no deve ser descuidada, mas, pelo contrrio, escrupulosamente atendida.38

    A higiene pessoal e o asseio da cela ou alojamento um dever do preso, devendo

    ele tambm conservar seus objetos de uso pessoal. Dessa forma, a Administrao deve dar

    condies para que os presos e internados, no cumprimento de tais deveres, disponham dos

    elementos indispensveis para a limpeza e higiene das celas e das demais dependncias do

    estabelecimento.39

    Art. 13. O estabelecimento dispor de instalaes e servios que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, alm de locais destinados venda de produtos e objetos permitidos e no fornecidos pela Administrao.

    35MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008 36 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013 37 BATISTELA, Jamila Eliza, AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. As regras mnimas para o tratamento de prisioneiros da ONU e a lei de execuo penal brasileira: uma breve comparao. Disponvel em: . Acessado em: 05.fev.2013 38 MIRABETE, op cit. 39 BATISTELA, e AMARAL, op cit.

  • 26

    As instalaes sanitrias devem ser tais que o preso possa satisfizer a suas

    necessidades naturais quando quiser e, bem assim, asseadas e decentes, enquanto os banheiros

    e chuveiros devem ter temperatura adequada ao clima, em nmero suficiente para que cada

    preso possa fazer uso deles com a frequncia exigida pela higiene pessoal conforme a estao

    do ano e regio geogrfica.40

    Diante da natural dificuldade de aquisio pelos presos e internados de objetos

    materiais, de consumo ou de uso pessoal, determina a lei, no final do art. 13, que deve ser

    mantido em cada estabelecimento um local destinado venda desses produtos e objetos

    permitidos pelos regulamentos e no fornecidos pela Administrao.41

    SEO III Da Assistncia Sade Art. 14. A assistncia sade do preso e do internado de carter preventivo e curativo, compreender atendimento mdico, farmacutico e odontolgico. 1 (Vetado). 2 Quando o estabelecimento penal no estiver aparelhado para prover a assistncia mdica necessria, esta ser prestada em outro local, mediante autorizao da direo do estabelecimento.42

    Um dos mais graves problemas, no s carcerrio, como de toda a populao

    livre, justamente a assistncia a sade.

    No h dvida de que fundamental para a vida de uma instituio prisional a

    existncia de servio mdico eficiente e adequadamente equipado para fazer frente s

    necessidades quotidianas da populao. As Regras Mnimas da ONU preconizam que cada

    estabelecimento penitencirio deve dispor dos servios de, pelo menos, um mdico, com

    conhecimento de psiquiatria e que os servios mdicos devem ter sua organizao

    estreitamente relacionada com a administrao geral dos servios de sade da comunidade ou

    da nao. De acordo com essa orientao, determina o art. 14 da Lei de Execuo Penal que

    se prestar a assistncia sade do preso e do internado, de carter preventivo e curativo,

    compreendendo atendimento mdico, farmacutico e odontolgico.43

    SEO IV Da Assistncia Jurdica

    40 MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008 41 BATISTELA, Jamila Eliza, AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. As regras mnimas para o tratamento de prisioneiros da ONU e a lei de execuo penal brasileira: uma breve comparao. Disponvel em: . Acessado em: 05.fev.2013 42 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 43 BATISTELA, e AMARAL, op cit.

  • 27

    Art. 15. A assistncia jurdica destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para constituir advogado.44

    A assistncia jurdica deve ser prestada no s aos presos e aos internados, mas

    principalmente aos acusados, na fase probatria ou instrutria de processos-crimes, quando,

    talvez, mais necessitem de defesa, pois se o ru no tiver uma defesa criminal bem-feita estar

    fadado a ser condenado.45

    A adequada assistncia jurdica de evidente importncia para a populao

    carcerria. A assistncia, desde que seja bem prestada, poder livrar muitos indivduos de

    serem confinados nos j falidos sistemas carcerrios brasileiros.

    Assinala-se, que a principal dificuldade que se v no a qualidade dos

    defensores, mas sim a falta de recursos dos detentos para que tenham condies de pagarem

    por esses servios, nesse sentido a LEP institui que deve o Estado fornecer tal servio,

    garantido, tambm, pela Constituio Federal vigente.46

    Art. 16. As Unidades da Federao devero ter servios de assistncia jurdica nos estabelecimentos penais.47

    Pela Lei Complementar n 89, de 12-1-1994, que organiza a Defensoria Pblica

    da Unio, do Distrito Federal e dos Territrios e prescreve normas gerais para a sua

    organizao nos Estados, funo institucional das defensorias, entre outras, atuar juntos aos

    estabelecimentos policiais e penitencirios, visando assegurar pessoa, sob quaisquer

    circunstncias, um exerccio dos direitos e garantias individuais.48

    Como a deciso jurisdicional produz a extino do direito do condenado ou do

    Estado, estabelecendo a imutabilidade da deciso, impe-se que o condenado tenha

    preservadas as garantias constitucionais de ampla defesa e do contraditrio, e isso somente

    ocorre quando tiver a assistncia do advogado. A interveno do defensor tcnico que torna

    efetivas tais garantias, inscritas na lei processual, quando determina que nem um acusado

    deve ser processado ou julgado sem defensor (art. 261 do CPP).49

    44 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 45 MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008 46 Ibidem 47 BRASIL, op cit. 48 MIRABETE, op cit. 49 MIRABETE, op cit.

  • 28

    Cabe lei o regulamento local, ao cuidar da assistncia jurdica, estabelecer um

    sistema em que possibilite, com eficincia, a indicao de defensor pblico para acompanhar

    o processo dos cidados condenados.

    SEO V Da Assistncia Educacional Art. 17. A assistncia educacional compreender a instruo escolar e a formao profissional do preso e do internado.50

    A assistncia educacional deve ser uma das prestaes bsicas mais importantes

    no s para o homem livre, mas tambm quele que est preso, constituindo-se, neste caso,

    em um elemento do tratamento penitencirio como meio para a reinsero social.51 Dispe,

    alis, a Constituio Federal que a "educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia,

    ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno

    desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para

    o trabalho" (art. 205), garantindo ainda o "ensino fundamental, obrigatrio e gratuito,

    inclusive para os que a ele no tiverem acesso na idade prpria" (art. 208,1).52

    Art. 18. O ensino de 1 grau ser obrigatrio, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa.53

    A tarefa do Estado no se resume simplesmente a propiciar a instruo dos presos

    em sua alfabetizao, mas proporcionar-lhes o ensino fundamental, evidentemente tendo-se

    em conta as limitaes decorrentes da limitao da pena que lhes for imposta.

    Art. 19. O ensino profissional ser ministrado em nvel de iniciao ou de aperfeioamento tcnico. Pargrafo nico. A mulher condenada ter ensino profissional adequado sua condio.54

    Determina a lei, tambm, que o ensino profissional, este facultativo, seja minis-

    trado em nvel de iniciao ou de aperfeioamento tcnico. A assistncia educacional exerce

    50 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 51 SOUZA, Danielle Priscila Tobias, SOUSA, Edna Maria de, BRITO, Herogina Arajo, et al. A Assistncia Social ao Preso: Lei de Execuo Penal 7210 Art. 22. Disponvel em: . Acessado em: 10.fev.2013 52 MIRABETE, op cit. 53 BRASIL. Op cit. 54 BRASIL. Op cit.

  • 29

    hoje uma extenso em profundidade maior que h alguns anos, j que no s se ocupa dos as-

    pectos educativos tradicionais, mas tambm se estende a atividades de formao profissional

    e de ndole cultural.55

    Assim, se houver continuadamente grande nmero de sentenciados em condies

    de receber o ensino tcnico de habilitao profissional, o estabelecimento penal dever manter

    o funcionamento da escola destinada a essa formao, para que quando este detento venha a

    sair no volte a cometer novos delitos, mas sim, tenha condies de exercer uma profisso

    que possa lhe abrir novas portas e um futuro promissor.

    Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convnio com entidades pblicas ou particulares, que instalem escolas ou ofeream cursos especializados.56

    As atividades profissionais integradas no sistema escolar do Estado, prev a

    possibilidade da realizao de convnios com entidades pblicas ou particulares para que

    possam oferecer cursos especializados em todos os estabelecimentos penais.

    SEO VI Da Assistncia Social Art. 22. A assistncia social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepar-los para o retorno liberdade.57

    O servio social, como arte, consiste na aplicao do conhecimento, teorias e

    doutrinas que, subordinadas a princpios, constituem a Cincia do Servio Social, para

    alcanar, como resultado, a soluo dos problemas humanos que acarretam infelicidade e,

    assim, obter bem estar.58

    As frustraes relativas s necessidades de afeio, segurana, realizao e

    aceitao em um grupo fundamentam a interveno do servio social. Os presos sofrem

    dessas mesmas frustraes, como pessoas que so, e tm as mesmas necessidades humanas

    bsicas do homem livre, j que deste se distinguem apenas por sua situao vital e jurdica, e

    55 MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008. 56 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 57 Ibidem. 58 SOUZA, Danielle Priscila Tobias, SOUSA, Edna Maria de, BRITO, Herogina Arajo, et al. A Assistncia Social ao Preso: Lei de Execuo Penal 7210 Art. 22. Disponvel em: . Acessado em: 10.fev.2013.

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    dos mais necessitam diante das maiores dificuldades ditadas pelas limitaes decorrentes da

    privao de liberdade.59

    Art. 23. Incumbe ao servio de assistncia social: I - conhecer os resultados dos diagnsticos ou exames; II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido; III - acompanhar o resultado das permisses de sadas e das sadas temporrias; IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponveis, a recreao; V - promover a orientao do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno liberdade; VI - providenciar a obteno de documentos, dos benefcios da Previdncia Social e do seguro por acidente no trabalho; VII - orientar e amparar, quando necessrio, a famlia do preso, do internado e da vtima.60

    Dentro da concepo penitenciria moderna, corresponde ao Servio Social uma

    das tarefas mais importantes no processo de reinsero social do condenado ou internado,

    pois ao assistente social, compete acompanhar o delinquente durante todo o perodo de

    recolhimento, investigar sua vida com vistas na redao dos relatrios sobre os problemas do

    preso, promover a orientao do assistido na fase final do cumprimento da pena etc., tudo

    para colaborar e consolidar os vnculos familiares e auxiliar na resoluo dos problemas que

    dificultam a reafirmao do liberado ou egresso em sua prpria identidade.61

    SEO VII Da Assistncia Religiosa Art. 24. A assistncia religiosa, com liberdade de culto, ser prestada aos presos e aos internados, permitindo-se-lhes a participao nos servios organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instruo religiosa. 1 No estabelecimento haver local apropriado para os cultos religiosos. 2 Nenhum preso ou internado poder ser obrigado a participar de atividade religiosa.62

    Na atualidade, a assistncia religiosa no mundo prisional no ocupa lugar

    preferencial, nem o ponto central dos sistemas penitencirios, tendo-se adaptado s

    circunstncias de nossos tempos. No se pode desconhecer, entretanto, a importncia da

    religio como um dos fatores da educao integral das pessoas que se encontram internadas

    59 SOUZA, Danielle Priscila Tobias, SOUSA, Edna Maria de, BRITO, Herogina Arajo, et al. A Assistncia Social ao Preso: Lei de Execuo Penal 7210 Art. 22. Disponvel em: . Acessado em: 10.fev.2013. 60 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 61 SOUZA, SOUSA, BRITO, et al. Op cit. 62 BRASIL, op cir.

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    em um estabelecimento penitencirio, razo pela qual prevista nas legislaes mais

    modernas.63

    Nas Regras Mnimas da ONU, diz-se que, dentro do possvel, deve ser autorizado

    todo preso cumprir os preceitos de sua religio, permitindo-se que participe dos servios

    organizados no estabelecimento e que tenha seus livros religiosos ou de instruo religiosa de

    seu credo.64

    Capitulo IV Dos deveres, dos direitos e da disciplina Seo I Dos deveres Art. 38 Cumpre ao condenado, alm das obrigaes legais inerentes ao seu estado, submeter-se s normas de execuo da pena.65

    Segundo a exposio de motivos da Lei de Execuo Penal, a instituio dos

    deveres gerais do preso e do conjunto de regras inerentes boa convivncia, representa uma

    tomada de posio da lei em face do fenmeno da prisionalizao, visando a depur-lo, tanto

    quanto possvel, das distores e dos estigmas que encerra. Por isso, sem caracterstica

    infamante ou aflitiva, os deveres do condenado se inserem no repertrio normal das

    obrigaes do apenado como nus naturais da existncia comunitria.66

    Art. 39 - Constituem deveres do condenado: I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentena; II - obedincia ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; IV- conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subverso ordem ou disciplina; V - execuo do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submisso sano disciplinar imposta; VII - indenizao vtima ou aos seus sucessores; VIU - indenizao ao Estado, quando possvel, das despesas realizadas com a sua manuteno, mediante desconto proporcional da remunerao do trabalho; IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservao dos objetos de uso pessoal. Pargrafo nico. Aplica-se ao preso provisrio, no que couber, o disposto neste artigo.67

    63 MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008. 64 Ibidem 65 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 66 MIRABETE, op cit. 67 BRASIL, op cit.

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    Ao Estado cabe a aplicao da pena, isto , o direito de execut-la,

    correspondendo ao condenado o dever de sujeitar-se a mesma. A execuo devida ao Estado

    ou - o reverso da medalha - o Estado tem o direito de executar a sentena.

    E porque apenas o Estado tem o direito de promover a execuo: pois sendo o

    Estado o sujeito ativo necessrio, ao qual compete a execuo penal, ou seja, somente o

    Estado pode ser sujeito do direito de executar a pena, de modo que nem preciso que isso

    conste da sentena. Os limites desse direito, porm, so traados pelos termos da sentena

    condenatria, que o ttulo executivo da execuo penal.68

    SEO II Dos Direitos Art. 40 - Impe-se a todas as autoridades o respeito integridade fsica e moral dos condenados e dos presos provisrios.69

    Com a condenao, cria-se especial relao de sujeio que se traduz em

    complexa relao jurdica entre o Estado e o condenado em que, ao lado dos direitos daquele,

    que constituem os deveres do preso, encontram-se os direitos deste, que devem ser

    respeitados pela administrao. Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se em

    situao especial que condiciona uma limitao dos direitos previstos na Constituio Federal

    e nas leis, mas isso, no quer dizer que perde, alm da liberdade, sua condio de pessoa

    humana e a titularidade dos direitos no atingidos pela condenao.70

    Como qualquer dos direitos humanos, os do preso so inviolveis, imprescritveis

    e irrenunciveis.

    Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentao suficiente e vesturio; II - atribuio de trabalho e sua remunerao; III - Previdncia Social; IV - constituio de peclio; V - proporcionalidade na distribuio do tempo para o trabalho, o descanso e a recreao; VI - exerccio das atividades profissionais, intelectuais, artsticas e desportivas anteriores, desde que compatveis com a execuo da pena; VII - assistncia material, sade, jurdica, educacional, social e religiosa; VIII - proteo contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

    68 MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008. 69 BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 70 BATISTELA, Jamila Eliza, AMARAL, Marilda Ruiz Andrade. As regras mnimas para o tratamento de prisioneiros da ONU e a lei de execuo penal brasileira: uma breve comparao. Disponvel em: . Acessado em: 05.fev.2013.

  • 33

    X - visita do cnjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto s exigncias da individualizao da pena; XIII - audincia especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representao e petio a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondncia escrita, da leitura e de outros meios de informao que no comprometam a moral e os bons costumes. Pargrafo nico. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV podero ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. 71 [...] SEO II Da Prestao de Servios Comunidade Art. 149. Caber ao Juiz da execuo: I - designar a entidade ou programa comunitrio ou estatal, devidamente credenciado ou convencionado, junto ao qual o condenado dever trabalhar gratuitamente, de acordo com as suas aptides; II - determinar a intimao do condenado, cientificando-o da entidade, dias e horrio em que dever cumprir a pena; III - alterar a forma de execuo, a fim de ajust-la s modificaes ocorridas na jornada de trabalho. 1 o trabalho ter a durao de 8 (oito) horas semanais e ser realizado aos sbados, domingos e feriados, ou em dias teis, de modo a no prejudicar a jornada normal de trabalho, nos horrios estabelecidos pelo Juiz. 2 A execuo ter incio a partir da data do primeiro comparecimento. (Segue explicao detalhada do referido artigo no captulo seguinte ao falar de penas alternativas) Art. 150. A entidade beneficiada com a prestao de servios encaminhar mensalmente, ao Juiz da execuo, relatrio circunstanciado das atividades do condenado, bem como, a qualquer tempo, comunicao sobre ausncia ou falta disciplinar.72

    A entidade beneficiada deve manter uma estrutura administrativa suficiente para

    que examine com frequncia horrios de entrada e sada, desempenho e produtividade, e at o

    comportamento do condenado, dando conta de tudo isso, ao juiz da execuo.73

    Alm do relatrio mensal, a entidade est obrigada a comunicar, a qualquer

    tempo, a ausncia ou o cometimento de falta disciplinar do condenado, afim de que se

    proceda a aplicao da sano competente ou a converso da pena de prestao de servios

    em privativa de liberdade.74

    Finda a discusso sobre a Lei de Execuo Penal, especialmente em relao aos

    artigos que dizem respeito a forma de reintegrao social do detento, passa-se a discorrer no

    prximo captulo sobre a recuperao do preso atravs da produo laborativas, ou seja,

    atravs do trabalho.

    71BRASIL. Lei de Execuo Penal n 7.210, de 11-7-1984. Disponvel em: . Acessada em: 01.fev.2013. 72 Ibidem 73 MIRABETE, Julio Fabrini. Execuo penal: comentrios Lei 7210, de 11.7.1984. 11. ed., 8. reimpr. . So Paulo: Atlas, 2008. 74 Ibidem.

  • 34

    3 A RECUPERAO DO SISTEMA PRISIONAL E A REINTEGRAO SOCIAL

    DO DETENTO ATRAVS DO TRABALHO

    3.1 A recuperao do sistema penitencirio brasileiro

    Para que o sistema prisional tenha uma recuperao no se dizendo linear mas que

    consiga alcanar uma forma satisfatria de reintegrao do reeducando a sociedade, tem-se

    primeiro que analisar algumas colocaes, algumas perguntas que no querem calar, por

    exemplo, o preso tratado com dignidade? Este tem um apoio psicolgico e assistencial

    digno? Sua famlia como vive no seio da sociedade? O mesmo realmente quer ser reintegrado

    sociedade?

    Para melhor entender a questo do sistema penitencirio brasileiro, se faz aqui a

    citao de Augusto Thompson, extrada da obra de Vasconcelos, onde o mesmo relata que o

    sistema prisional brasileiro somente conseguir ressurgir se alcanar dois objetivos

    fundamentais: 1- Propiciar as penitencirias condies de realizar a regenerao dos presos.

    2- Dotar o conjunto prisional de suficientes nmeros de vagas, de sorte a habilit-lo a recolher

    toda clientela, que, oficialmente, lhe destinada.75

    Como se pode perceber, o objetivo de tal medida despenderia do governo tanto

    Federal como Estadual, uma quantidade de verba, muito alm do que se possui hoje, mas

    quem sabe se for feito um sistema de remediao paulatinamente, com aplicaes de verbas e

    construes de presdios e penitencirias ao longo dos anos esse objetivo no possa ser

    alcanado.

    Mas ainda utilizando as palavras do nobre advogado, pode-se perceber que o

    governo brasileiro, no um gestor de futuro, mas sim, um gestor de presente, ou seja, o

    mesmo somente age quando o caos j esta instaurado, ou seja, quando no se pode mais

    realizar solues paliativas. Corroborando com essas palavras Coelho faz a seguinte citao:

    Infelizmente, a situao econmica do Estado Brasileiro no capaz de tornar possvel a concretizao desta realidade, como se nota ao observarmos os sistemas prisionais de pases de primeiro mundo.

    75 COELHO, Daniel Vasconcelos. A crise no sistema penitencirio brasileiro. Disponvel em:. Acessado em: 03.fev.2013.

  • 35

    O governo s investe neste sistema quando no h mais sada, ou seja, quando por imperativo de segurana nacional.76

    Outro ponto levantado no artigo do nobre advogado, que vale a pena ser destacado

    diz respeito classe politica brasileira, e sem necessidade de fazer comentrios utiliza-se o

    mesmo na integra:

    Alm, disso falta vontade poltica de nossos governantes, que na grande maioria das vezes realiza um governo voltado para a ascenso de sua imagem poltica perante a sociedade, pensando assim: para que gastar verba pblica em prol do sistema prisional, criminosos condenados, que em nada sensibilizam a opinio pblica, se em vez disso eu posso usar esse valor realizando uma obra, prestando um servio ou promovendo um evento qualquer que far com que o povo se lembre de min nas prximas eleies.77

    As alternativas para um sistema de penas resultam da preocupao em esgotar o

    limite das possibilidades pessoais diante do tema. No pretendem e nem poderiam ter o

    otimismo eufrico e alienante prprio ideia de salvao do gnero humano consumindo

    tantas vidas e tantas esperanas. As alternativas constituem, to somente, as propostas

    consideradas mais oportunas para a defesa avanada na luta contra a criminalidade.

    Todos os esforos concentrados no profundo e misterioso terreno que envolve o

    crime e a punio lembram em certa medida a obra de inveno de novos deuses e as

    esperanas de v-los protegendo as criaturas humanas contra a fora trgica do destino que

    tantas vezes as conduzem para o sacrifcio da dor, para a incerteza dos caminhos e para o

    sofrimento, no raro sem causa aparente e conhecida.78

    Posta a compreenso do problema nesses termos, conclui-se que as alternativas

    pena de priso abrem novas e fecundas perspectivas. No mbito deste trabalho no se far

    uma anlise sobre cada uma das diversas medidas, pois carecem ainda de ser praticamente

    provadas a fim de que a natureza jurdica e o funcionamento possam merecer avaliao

    crtica ajustada s nossas realidades humanas e sociais. A colocao consiste, na indicao

    das alternativas com a exposio sumria da necessidade e convenincia das reaes que

    devam ser efetivadas.79

    76 COELHO, Daniel Vasconcelos. A crise no sistema penitencirio brasileiro. Disponvel em:. Acessado em: 03.fev.2013. 77 Ibidem 78 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir nascimento da priso. Traduo de Raquel Ramalhete. 29 Ed. Petrpolis: Vozes. 2004. 79 Ibidem

  • 36

    O futuro dir se os caminhos da presente investigao revelam-se aptos para tratar

    do delito e do delinquente com vistas defesa comunitria

    Finalmente, pode-se concluir afirmando que as alternativas propostas e outras

    mais que a experincia e o pensamento revisionista submeterem considerao do legislador,

    traduzem os esforos e os ideais na busca de novos rumos para tratar o dilema criminal. Nem

    sempre fceis e simplificados, mas de qualquer forma, libertos da servido de passagem e do

    hermetismo a que conduz o raciocnio ancorado na priso, como corpo e alma de um sistema

    agonizante.80

    3.2 O trabalho nas prises

    Verifica-se uma estreita relao entre a priso, a pena privativa de liberdade e o

    trabalho, desde a origem da priso como pena, at os dias atuais.

    Foi no sculo XVI que apareceram as primeiras prises legais, e eram destinadas a

    recolher mendigos, vagabundos e prostitutas, que se multiplicavam pelas cidades em razo da

    crise econmica,81 como ocorreu na Frana em 1656, na Blgica em 1775, quando implantou-

    e a Casa de Correo de Gand, aproveitando a infraestrutura do Hospcio de San Michel e

    acrescentando apenas o aprendizado profissional.82

    Em 1818,83 foi criado na cidade americana de Auburn, um modelo de priso, que

    ficou conhecido como modelo Auburniano ou Silent Sistem que aplicava como mtodo

    teraputico o silncio e o trabalho. Os prisioneiros dormiam em celas individuais e

    trabalhavam durante o dia, no podendo se comunicar nem por gestos.

    Segundo Rui Carlos Machado Alvim,84 no final do perodo Medieval, havia

    grande desordem nos feudos e debilidade dos poderes locais, agravados pelas constantes

    migraes da populao e pela pregao crist de venerao pobreza, o que provocou um

    aumento incontrolvel da mendicncia e vagabundagem.

    80 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir nascimento da priso. Traduo de Raquel Ramalhete. 29 Ed. Petrpolis: Vozes. 2004. 81 COSTA, Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegrao social do detento. Florianpolis: Insular, 1999, p.14 82 FALCONI, Romeu. Sistema presidial, reinsero social? So Paulo: cone, 1998 , p. 58-59 83 Ibidem, p. 60 84 ALVIM, Rui Carlos Machado. O trabalho penitencirio e os direitos sociais. So Paulo: Atlas, 1991, p. 25

  • 37

    Com a chegada do protestantismo, que preconizava o apego ao trabalho como

    virtude e como o pior dos vcios a preguia, as penas corporais cederam lugar s penas de

    trabalhos forados nas minas e nas gals85.

    No Brasil, a priso tambm funcionava somente como crcere destinado

    custdia de acusados aguardando a condenao ou a execuo da pena, geralmente a pena de

    morte, tendo sido esta concepo mudada apenas em 1830 aps a instituio do Cdigo do

    Imprio.

    Entretanto, somente em 1850, dezessete anos aps, que surgiram as primeiras

    prises, onde seriam os regulamentos direcionados para o Sistema Auburniano, com

    isolamento celular e trabalho diurno.

    Para Michel Foucault, em sua concepo primitiva, o trabalho dentro dos presdios no objetivava o indivduo, mas sim, ensinar a prpria virtude do trabalho. Para ele, a utilidade do trabalho penal no era o lucro, nem a profissionalizao, mas a constituio de uma relao de poder de forma economicamente vazia, de um esquema de submisso individual e de seu ajustamento a um aparelho de produo. No se procurava reeducar o delinquente, mas sim agrup-lo e rotul-lo, utilizando-o como instrumento econmico ou poltico.86

    Por outro lado, admite a importncia do trabalho quando cita:

    a ordem que deve reinar nas cadeias pode contribuir fortemente para regenerar os condenados, os vcios educao, o contagio dos maus exemplos, a ociosidade... originaram crimes. Pois bem, tentemos fechar todas essas fontes de corrupo: que sejam praticadas regras de s moral nas casas de deteno, que, obrigados a um trabalho de que terminaro gostando, quando dele recolherem o fruto, os condenados contraiam o hbito, o gosto e a necessidade da ocupao, que se dem respectivamente o exemplo de uma vida laboriosa; ela logo se tornara uma vida pura, logo comearo a lamentar o passado, primeiro sinal avanado de amor pelo dever.87

    Ainda seguindo os presentes ensinamentos tm-se as palavras de Beccaria, que

    so emprestadas do trabalho de Wauters,

    O trabalho penitencirio inicialmente propunha-se mais proteo social e vingana pblica, do que a outro fim, razo pela qual eram os prisioneiros remetidos atividades mais penosas e insalubres. Com o advento do Iluminismo e o desenvolvimento industrial e sua exigncia por um mercado de mo de obra livre, as penas centradas no trabalho obrigatrio

    85 GALS: espcie de embarcao, onde os prisioneiros remavam acorrentados. 86 FOUCAULT, Michael. Vigiar e punir. 38 ed, Petrpolis-RJ: Ed. Vozes, 2010, p. 204 apud BRASIL. A histria entre grades: a marginalidade social. Disponvel em:. Acessado em: 13.fev.2013. 87 Ibidem.

  • 38

    diminuem. Paralelamente, desponta cada vez mais a preocupao com os direitos humanos. Cesare Beccaria foi o grande precursor na luta pelos direitos humanos dos presos. Jurista italiano, nascido em Milo em 1738, influenciado por Rousseau, Diderot e Buffon, insurgiu-se contra a tradio jurdica, a crueldade e desproporcionalidade das penas com relao aos delitos. Suas idias foram rapidamente difundidas por todo o mundo e influenciaram de forma decisiva a legislao vigente poca. Atualmente, foram proibidos, praticamente em todo o mundo, os trabalhos forados como pena, sendo a laborterapia considerada como uma eficaz ferramenta para a reinsero social. Desta forma, o entendimento de Romeu Falconi,88 para quem uma das formas mais eficazes de reinsero social, desde que dela no se faa uma forma vil de escravatura e violenta explorao do homem pelo homem, principalmente este homem enclausurado. Para ele, o hbito ao trabalho traz novas perspectivas e expectativas para o preso, que pode vislumbrar uma nova forma de relacionamento com a sociedade. 89

    Obviamente, para que isso ocorra, so necessrios alguns pressupostos: primeiro

    que este preso tenha sido profissionalizado; que esta profissionalizao tenha sido direcionada

    ao mercado de trabalho e, por ltimo, que esse condenado seja recebido pelo mercado de

    trabalho.

    3.3 O trabalho e a reintegrao social do preso

    Do ponto de vista das Cincias Sociais, o trabalho representa, de maneira geral,

    um dos fatores de reabilitao da autoestima, da confiana em si prprio, alm da

    oportunidade de desenvolvimento de competncias, o que leva, por si s, gerao de renda.

    Mas antes de adentrar diretamente na presente celeuma, vale aqui colocar as

    palavras de S,

    Reintegrao social centrada na relao entre seus atores no deixa de ser um pleonasmo, dado o significado e implicaes de reintegrao social, conforme se ver a seguir. Mas o que se pretende expressar com esse ttulo uma mudana significativa de enfoque do chamado tratamento penitencirio, que deixaria de se centrar na pessoa do reeducando, para se centrar nas relaes sociais das quais ele faz parte. a mudana de uma viso individual para uma viso sistmica. Entre os atores da reintegrao social, no existem pessoas-sujeitos e pessoas-objetos. E muito menos observadores, que ficam unicamente na expectativa, numa atitude de quem s tem a exigir, como tem sido tradicionalmente o papel da sociedade, enfatizado e alimentado pela mdia. Todos so sujeitos e devem participar

    88 FALCONI, Romeu. Sistema presidial: reinsero social? So Paulo: cone, 1998, p.71 89 BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 2 ed, So Paulo, Ed. Martin Claret, 2010, p. 126, apud WAUTERS, Edna. A reinsero social pelo trabalho. Trabalho apresentado Coordenadoria de Ps Graduao da Universidade Federal do Paran. Disponvel em: . Acessado em: 01.fev.2013.

  • 39

    ativamente da conduo do processo, sentindo-se todos igualmente comprometidos.90

    Como se pode perceber autor, traz uma viso inovadora do que vem a ser a

    reinsero social do apenado, tirando a viso critica que o mesmo um objeto a ser

    manipulado pelo Estado, o qual tem o dever de dar-lhe condies de construir uma vida aps

    sair das unidades prisionais.

    Para tanto se apresenta ao reeducando que est sendo libertado, ou que veio a

    pagar a sua pena por completo, uma oportunidade de voltar a conviver em sociedade e

    conseguir reconstruir sua vida, ou seja, retornar ao seio social atravs do desenvolvimento de

    um trabalho digno e honesto, assim conseguir-se- de forma mais igualitria diminuir a

    reincidncia criminal.

    Mc Gregor foi da mesma opinio, quando disse que os meios para a satisfao das

    necessidades fisiolgicas e dentro de certos limites de segurana do homem podem ser

    proporcionados ou negados pelo trabalho. O prprio emprego um desses meios. Tambm o

    so os salrios, as condies de trabalho e os benefcios. Atravs desses meios, o indivduo

    pode ser controlado enquanto estiver lutando pela subsistncia.91

    Na associao dessas ideias concepo do tratamento penal, o trabalho surge

    como um elemento, cujo valor, tem um realce maior, na medida em que constitui um

    mecanismo por meio do qual se poder manter ou ampliar a capacidade produtiva do detento,

    restabelecendo seu amor-prprio e, paralelamente, possibilitando sua preparao para o

    acesso ao mercado de trabalho. Alm disso, estimula a possibilidade da remio da pena,

    favorecendo o exerccio de uma atividade sistemtica.

    Mas para que essa etapa da ressocializao do detento venha a proliferar dentro do

    objetivo maior, ou seja, a devoluo a sociedade de um cidado digno e com mo-de-obra

    especializada e pronta para servi-la, pois no nada mais do que isso que se faz ao

    desenvolver suas atividades laborais dignamente.

    O prprio S, usando as palavras de Baratta, faz uma importante colocao, onde

    alerta para o seguinte:

    90 S, Alvino Augusto de. Algumas ponderaes acerca da reintegrao social dos condenados pena privativa de liberdade. Disponvel em: . Acessado em: 03.jan.2013. 91 MCGREGOR, D. Motivao e liderana. So Paulo: Brasiliense, 1973. Apud SANTOS, Elisngela dos. O trabalho no sistema prisional e a ressocializao do detento. Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Servio Social da Universidade Federal de Santa Catarina. Disponvel em:. Acessado em: 01.fev.2013.

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    o termo reintegrao social, para designar o objetivo a ser perseguido no trabalho de assistncia aos presos e de facilitar-lhes o o reingresso na sociedade. Entende ele por reintegrao social todo um processo de abertura do crcere para a sociedade e de abertura da sociedade para o crcere e de tornar o crcere cada vez menos crcere, no qual a sociedade tem um compromisso, um papel ativo e fundamental. A reintegrao social supe ter havido na passado uma marginalizao primria, pela qual o indivduo segregado passou a desenvolver com a sociedade uma relao de antagonismo e de excluso crescente. Com a sentena condenatria e a priso, o Estado veio consagrar e oficializar esta relao de antagonismo e excluso. Ocorre ento a marginalizao secundria. Cabe pois sociedade preocupar-se diretamente para minorar os efeitos da marginalizao secundria e para evitar o retorno do ex-presidirio marginalizo primria, pois, caso contrrio, a marginalizao secundria facilitar o retorno primria, da, prtica de novos crimes e, por fim, o retorno ao crcere.92

    Assim, pode-se perceber que no adianta apenas a colocao desse cidado em

    condies de trabalho, porta afora da unidade prisional, precisa-se sim, fazer com que a

    prpria sociedade evolua de uma forma muito grandiosa, deixando de lado os seus

    preconceitos, demonstrando que a mesma no simplesmente prega a diminuio da

    criminalidade, mas ao mesmo tempo dar condies ao reeducando de ter uma vida digna e

    ordenada as regras por ela imposta.

    Seguindo essa linha de raciocnio, Costa (1999) considera que o ponto-chave no

    desenvolvimento do preso confiar-lhe, em certa medida, algumas responsabilidades. Para

    esse autor, o preso tende a desenvolver um senso de responsabilidade em relao aos servios

    a ele incumbidos. Ele aprende a fazer, fazendo.

    Assim, a atividade laboral, pelo preso, pode ser resumida em dois aspectos: o

    ocupacional e o humano. O aspecto ocupacional refere-se ao trabalho propriamente dito, isto

    , atividade que planeja e executa o trabalho, colhendo seus resultados. Geralmente, seu

    progresso e resultado podem ser quantitativamente reconhecidos. 93

    O aspecto humano, no desenvolvimento do trabalho na penitenciria leva o preso

    a uma vida digna ps-pena. Nesse Contexto, Hoffmann salienta os seguintes aspectos para

    alcanar tal objetivo:

    a) incentivo s atividades ocupacionais que visem empregabilidade quando da sada do Sistema Penitencirio; b) implementao de tcnicas de escoamento da produo e comercializao do trabalho no ambiente prisional, em relao aos produtos resultantes de atividades industriais, agro-industriais, agrcolas, manuais e artesanais, por meio de parcerias com Entidades Especializadas;

    92 BARATTA apud S, Alvino Augusto de. Algumas ponderaes acerca da reintegrao social dos condenados pena privativa de liberdade. Disponvel em: . Acessado em: 03.jan.2013. 93 COSTA, Alexandre M.. O trabalho prisional e a reintegrao social do detento. Florianpolis: Insular, 1999.

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    c) favorecimento a uma cultura de associativismo e cooperativismo junto aos egressos do Sistema Penitencirio, atravs de parcerias com instituies e Organizaes No-Governamentais; d) incentivo a projetos de gerao de renda para os detentos, egressos e familiares, com aplicao de mtodos de empreendedorismo, como: capacitao gerenc