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26 O crescimento de plantas lenhosas ocorre através de extensão e ramificação. A forma completa e a aparência da planta dependem da freqüência, ritmo e posição da ramificação, e da disposição e longevidade das folhas nos ramos. Neste guia os padrões arquitetônicos são pouco explorados, principalmente porque no campo é difícil reconhecê-los. As características aqui apresentadas são gerais e nosso intuito é apresentar os conceitos básicos sobre ramificação e incentivar o leitor a observar esses caracteres no campo. Durante as fases de crescimento são formadas unidades de extensão, porções de crescimento ininterrupto dos ramos, cujo reconhecimento no campo facilita a compreensão das diferentes formas de ramificação. Você pode reconhecer uma unidade de extensão pela presença de nós ou por uma textura diferenciada da casca em relação à unidade precedente ou posterior. Ramos jovens correspondem à unidade de extensão mais recente. No nível da planta como um todo, o caule pode ter crescimento monopodial, quando o crescimento se dá pela extensão da gema terminal; ou simpodial, quando a extensão se forma a partir de uma gema axilar (lateral) da unidade precedente. A orientação dos galhos maiores é uma importante característica em identificação. Algumas espécies se caracterizam por galhos horizontais, ou plagiotrópicos, geralmente associados a folhas dispostas no mesmo plano (dísticas), como em Annonaceae, Lecythidaceae e Myristicaceae. As folhas de algumas Meliaceae são muito grandes e podem parecer ramos horizontais. Myristicaceae é facilmente reconhecida no campo pelos ramos horizontais e verticilados e a presença de seiva vermelha na casca. Em contraposição, os ramos podem ser verticais, ou ortotrópicos, como na maioria das espécies, ou ainda pendentes, como em Couepia longipendula (Chrysobalanaceae). O crescimento dos ramos pode ser rítmico, quando a unidade de extensão cresce inicialmente sem produzir ramos ou folhas (gemas), que ficam restritos à porção apical das mesmas; ou contínuo, quando gemas são produzidas regularmente. Neste último caso fica mais difícil o reconhecimento das unidades de crescimento. Ramificação Em Lauraceae, Combretaceae e Sapotaceae ( Manilkara), algumas espécies apresentam ramos horizontais por crescimento rítmico apositivo, ou seja, cada unidade de extensão cresce inicialmente na horizontal e logo assume a posição vertical, onde ocorre a produção de folhas. A próxima unidade se origina de uma gema axilar na "base" da porção vertical, que por isso parece um ramo curto. As únicas árvores monopodiais na Reserva são palmeiras e algumas Rutaceae ( Hortia e Spathelia ). Spathelia também floresce apenas uma vez na vida (monocárpica). Em Schefflera, Araliaceae, os ramos são sempre verticais e sempre se dividem em dois em cada módulo de crescimento, dando um aspecto único à copa. Em Cordia (Boraginaceae), sempre há uma folha saindo na bifurcação dos ramos. Na maioria das plantas as unidades de extensão nascem de gemas axilares na base de uma folha. Assim, os ramos terminais da copa, com folhas, são mais finos. Copas de árvores são, assim, geralmente esféricas ou cônicas. A forma da copa pode ajudar em identificação. Árvores emergentes de Mimosoideae, por exemplo, especialmente Dinizia excelsa , Parkia multijuga e Pseudopiptadenia psilostachya, têm copas irregulares com folhagens isoladas. Parkia pendula tem uma copa bem plana e pode ser facilmente reconhecida à distância por essa característica. RAMIFICAÇÃO

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Page 1: Ramificação - botanicaamazonica.wiki.br ocorre a produção de folhas. ... denciam sustentação ao caule, ou ... função de transporte de água

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O crescimento de plantas lenhosas ocorre através de extensão e ramificação. A forma completa e a aparência da planta dependem da freqüência, ritmo e posição da ramificação, e da disposição e longevidade das folhas nos ramos. Neste guia os padrões arquitetônicos são pouco explorados, principalmente porque no campo é difícil reconhecê-los. As características aqui apresentadas são gerais e nosso intuito é apresentar os conceitos básicos sobre ramificação e incentivar o leitor a observar esses caracteres no campo.

Durante as fases de crescimento são formadas unidades de extensão, porções de crescimento ininterrupto dos ramos, cujo reconhecimento no campo facilita a compreensão das diferentes formas de ramificação. Você pode reconhecer uma unidade de extensão pela presença de nós ou por uma textura diferenciada da casca em relação à unidade precedente ou posterior. Ramos jovens correspondem à unidade de extensão mais recente.

No nível da planta como um todo, o caule pode ter crescimento monopodial, quando o crescimento se dá pela extensão da gema terminal; ou simpodial, quando a extensão se forma a partir de uma gema axilar (lateral) da unidade precedente.

A orientação dos galhos maiores é uma importante característica em identificação. Algumas espécies se caracterizam por galhos horizontais, ou plagiotrópicos, geralmente associados a folhas dispostas no mesmo plano (dísticas), como em Annonaceae, Lecythidaceae e Myristicaceae. As folhas de algumas Meliaceae são muito grandes e podem parecer ramos horizontais. Myristicaceae é facilmente reconhecida no campo pelos ramos horizontais e verticilados e a presença de seiva vermelha na casca. Em contraposição, os ramos podem ser verticais, ou ortotrópicos, como na maioria das espécies, ou ainda pendentes, como em Couepia longipendula (Chrysobalanaceae).

O crescimento dos ramos pode ser rítmico, quando a unidade de extensão cresce inicialmente sem produzir ramos ou folhas (gemas), que ficam restritos à porção apical das mesmas; ou contínuo, quando gemas são produzidas regularmente. Neste último caso fica mais difícil o reconhecimento das unidades de crescimento.

Ramificação

Em Lauraceae, Combretaceae e Sapotaceae (Manilkara), algumas espécies apresentam ramos horizontais por

crescimento rítmico apositivo, ou seja, cada unidade de extensão cresce inicialmente na horizontal e logo assume a posição vertical, onde ocorre a produção de folhas. A próxima unidade se origina de uma gema axilar na "base" da porção vertical, que por isso parece um ramo curto.

As únicas árvores monopodiais na Reserva são palmeiras e algumas Rutaceae (Hortia e Spathelia). Spathelia também floresce apenas uma vez na vida (monocárpica).

Em Schefflera, Araliaceae, os ramos são sempre verticais e sempre se dividem em dois em cada módulo de crescimento, dando um aspecto único à copa.

Em Cordia (Boraginaceae), sempre há uma folha saindo na bifurcação dos ramos.

Na maioria das plantas as unidades de extensão nascem de gemas axilares na base de uma folha. Assim, os ramos terminais da copa, com folhas, são mais finos. Copas de árvores são, assim, geralmente esféricas ou cônicas.

A forma da copa pode ajudar em identificação. Árvores emergentes de Mimosoideae, por exemplo, especialmente Dinizia excelsa, Parkia multijuga e Pseudopiptadenia psilostachya, têm copas irregulares com folhagens isoladas.

Parkia pendula tem uma copa bem plana e pode ser facilmente reconhecida à distância por essa característica.

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Fenestrado

Geissospermum argenteum

Apocynaceae

Minquartia guianensis

Troncos fenestrados são mais raros que troncos acanalados, ocorrendo apenas em Apocynaceae, Olacaceae, Icacinaceae e Flacourtiaceae. Um tronco fenestrado é geralmente também acanalado. Os exemplos mais conhecidos de tronco fenestrado na Amazônia são as plantas conhecidas por acariquara, especialmente Minquartia guianensis (Olacaceae), que é muito utilizada nas cidades como postes de energia elétrica.

É o caule lenhoso de árvores, em geral a parte sem ramos ou galhos. Os caracteres de tronco e casca, descritos nesta e nas páginas seguintes, se aplicam principalmente às árvores com um

Troncos inteiramente acanalados ocorrem em várias famílias, mas são exceções dentro delas, o que facilita o reconhecimento das espécies. Principalmente Apocynaceae e Leguminosae (Swartzia) apresentam troncos assim, mas também Euphorbiaceae, Melastomataceae, Rubiaceae, Sapotaceae, Myrtaceae, Moraceae, Duckeodendraceae e Sapindaceae. A base do tronco acanalada é uma característica muito mais freqüente, mas menos importante em identificação.

Tronco

A forma do tronco pode variar entre a base, junto ao solo, e a primeira ramificação da copa. As características da base, que são importantes em identificação, são exemplificadas separadamente. O aspecto do tronco como um todo pode ser circular, quando a secção horizontal tem forma aproximada ao círculo; acanalado, quando a secção é irregular, com depressões e elevações longitudinais, formando canais; fenestrado, do latim "o que tem janelas", quando apresenta cavidades profundas formando buracos no tronco; arestado ou cristado, quando tem projeções longitudinais em geral agudas na forma de cristas ou arestas; nodoso, quando com nós salientes, em geral arredondados e resultantes de caulifloria; tortuoso, quando apresenta sinuosidades longitudinais; e torcido, quando se desenvolve de maneira espiralada sobre o mesmo eixo.

Em geral as plantas têm um tronco único e solitário, mas algumas espécies têm a capacidade de produzir diversos troncos e, neste caso, a planta é denominada cespitosa. O hábito cespitoso é freqüente em palmeiras e arbustos, principalmente em áreas abertas ou alagadiças.

O caule de lianas, que também pode ser fenestrado, acanalado, torcido etc., apresenta outras formas (p. 73).

diâmetro de 10 cm ou mais, pois é difícil observar isso nos troncos finos de arvoretas e arbustos.

FORMA DO TRONCO

Acanalado

Aspidosperma nitidum

Apocynaceae

Duckeodendron cestroides

Duckeodendraceae

Pausandra macropetala

Euphorbiaceae

Miconia splendens

Melastomataceae

Amaioua guianensis

Rubiaceae

A única árvore na Reserva com tronco cristado é Ocotea olivacea (Lauraceae). Esta característica é mais freqüente em caule de lianas, especialmente de Leguminosae Mimosoideae.

Cristado

TR

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Eugenia subterminalis, Myrtaceae, é um arbusto cespitoso freqüente em áreas abertas de solo arenoso.

Olacaceae

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A base do tronco pode apresentar características que ajudam no reconhecimento de espécies ou até mesmo famílias. Pode ser reta, dilatada, digitada, acanalada ou apresentar raízes modificadas como sapopemas e raízes escoras.

Digitada: apresenta pequenas projeções em forma de "dedo" onde as raízes superficiais se juntam ao tronco.

Sapopemas ou raízes tabulares são extensões achatadas (tabulares) da parte superior das raízes superficiais, que funcionam como estruturas de sustentação das árvores. Sapopemas ajudam as árvores a resistir ao vento etc. O termo é de origem tupi-guarani e significa "raiz chata". Sapopemas grandes são mais comuns em Elaeocarpaceae, as três subfamílias de Leguminosae, Anacardiaceae, Vochysiaceae, Humiriaceae, Sapotaceae, Lecythidaceae. Em Chrysobalanaceae as sapopemas são em geral pequenas ou a base é apenas dilatada. As famílias maiores que raramente têm sapopemas incluem Apocynaceae, Clusiaceae, Olacaceae, Rubiaceae, Moraceae, Flacourtiaceae e Annonaceae. Sapopemas podem ser caracterizadas quanto à forma da aresta, simetria, dimensões, diluição e presença de lenticelas. Quanto às arestas, na maioria das espécies, são retas ou côncavas, sem um padrão óbvio caracterizando famílias. Sapopemas com arestas convexas são menos freqüentes, ocorrendo principalmente em Elaeocarpaceae, Lauraceae e Chrysobalanaceae, e raramente em outras famílias.

Acanalada: com depressões longitudinais formando canais, acompanhando o diâmetro do tronco, sem expandir-se. Às vezes todo o tronco é acanalado, não apenas na base, como ilustrado na página anterior.

Sapopemas

BASE DO TRONCO

D i l a t a d a : o tronco é mais grosso rente ao solo.

Reta: com a mesma forma do tronco, sem expansão na base.

Características das sapopemas

Assimétricas: sapopemas com formas ou tamanhos diferentes a cada lado do tronco.

Simétricas: sapopemas mais ou menos da mesma forma e tamanho a cada lado do tronco.

Ramificadas: as sapopemas se dividem.

Convexa: a crista apresenta uma linha convexa.

Reta: a crista apresenta uma linha reta.

Côncava: a crista apresenta uma linha côncava. É a forma mais comum.

Annonaceae

Xylopia nitida Xylopia emarginata var. duckei

Protium decandrum

Burseraceae Chrysobalanaceae

Licania gracilipes

Couepia longipendula

Elaeocarpaceae

Sloanea schomburgkii

Sloanea rufaSloanea nitida Licaria martiniana

Lauraceae

Vantanea micrantha

Humiriaceae

Sclerolobium setiferum

Caesalpinioideae

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NC

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Raízes superficiais

Raízes adventícias

Raízes escoras

São raízes grossas que ficam visíveis sobre o solo a uma longa distância do tronco. Ocorrem principalmente em Lecythidaceae (Cariniana), Moraceae (Clarisia), Leguminosae e Caryocaraceae. Em floresta de baixio muitas plantas apresentam raízes superficiais densamente lenticeladas, às vezes formando pequenos "joelhos".

Raízes escoras ou suportes são raízes que saem do tronco e alcançam o solo, deixando um vão. Raízes escoras altas são encontradas em Arecaceae (Iriartella e Socratea exorrhiza), Clusiaceae (Tovomita) e Cecropiaceae. Além desses grupos, essas raízes também ocorrem em várias outras famílias, especialmente Annonaceae (Xylopia), Chrysobalanaceae (Licania), Myristicaceae, Moraceae, Sapotaceae e Euphorbiaceae.

Sloanea synandra (sapopemas e raízes escoras)

Elaeocarpaceae

Micrandra spruceana

Euphorbiaceae

Virola pavonis

Myristicaceae

Blepharocalyx eggersii

Myrtaceae

Pleurothyrium vasquezii

Lauraceae

Xylopia spruceana

Annonaceae

Socratea exorrhiza

Arecaceae

Licania latifolia

Chrysobalanaceae Clusiaceae

Tovomita sp. 1Tovomita caloneura

São raízes finas que saem a certa altura do tronco e não alcançam o solo, e são muito frágeis para dar sustentação. Ocorrem em algumas palmeiras (Mauritia) e às vezes em Myrtaceae, Sapotaceae, Euphorbiaceae, Melastomataceae, Moraceae, Malpighiaceae, Caryocaraceae e Annonaceae. Também ocorrem perto da base em cipós, especialmente Bignoniaceae.

Mauritia flexuosa

Arecaceae

Amanoa guianensis

Euphorbiaceae

Clarisia racemosa apresenta raízes superficiais alaranjadas muito características.

BA

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O T

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NC

O

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A identificação de muitas plantas é facilitada pelas características das várias camadas do caule. O caule de uma planta ereta tem duas funções: propicia suporte às partes aéreas e nos seus vasos são transportados nutrientes e água entre as raízes e a copa. Em uma secção transversal de um caule de qualquer dicotiledônea, pode-

Anatomia do caulese reconhecer três camadas principais de dentro para fora: madeira, casca viva e casca morta. Entre estas, existem duas finas camadas de células meristemáticas (ativas), que produzem as novas células das camadas mais externas, providenciando o crescimento em diâmetro do tronco (crescimento secundário).

Ritidoma, neste livro, é usado somente para a superfície da casca. Este termo é aplicado também para toda a casca morta.

Casca morta é constituída por células produzidas pelo câmbio cortical, ou de partes mortas da casca viva, dependendo do desenvolvimento do câmbio.

Câmbio cortical (felogênio) são células meristemáticas que produzem novas células, que imediatamente morrem e formam a casca morta. Estas podem formar uma única ou várias camadas de diferentes idades.

Casca viva velha é formada por células velhas do floema, geralmente inativo.

Casca viva jovem é formada por células vivas de floema, que funcionam na condução de açúcares e outros metabólitos produzidos nas folhas, ou como depósito de nutrientes.

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Câmbio vascular é uma única camada de células ativas que produzem células de xilema internamente e de floema externamente.

Cerne é a parte central do caule, formado por células mortas do xilema, preenchidas por substâncias como lignina, que provi-denciam sustentação ao caule, ou substâncias para proteção contra o ataque de cupins e microorganismos.

Medula é um cilíndro de tecido mole no centro do tronco. Ocorre sempre em ramos jovens, e, às vezes, também no tronco de árvores velhas, mas em árvores de florestas tropicais pode ser tão pequena que é imperceptível.

Fissuras ocorrem quando a casca velha não se desprende. Com o aumento da circunferência e devido a ausência de elasticidade da casca morta, aparecem essas rachaduras.

Alburno é madeira formada por células vivas do xilema com função de transporte de água das raízes para a parte aérea.

Tecido de dilação é um tecido parênquimático depositado pelos raios nos espaços criados pelo crescimento em diâmetro do tronco. Ocorre principalmente em árvores com casca grossa, e está situado imediatamente abaixo dos sulcos das fissuras.

Raios são celulas parenquimáticas, com paredes finas. Transportam nutrientes entre o centro do tronco ao tecido de dilatação.

Marcas de chamas são áreas de tecido da casca viva que não funcionam mais para transporte. São freqüentemente coloridas em razão do depósito de substâncias de proteção.

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A forma de desprendimento do ritidoma depende principalmente do comportamento do câmbio cortical. Ao contrário do câmbio vascular que é sempre vivo, o câmbio cortical morre à medida que novas camadas são formadas em direção ao centro do tronco. O esquema abaixo mostra o que acontece nos principais padrões. A linha verde representa o câmbio cortical, que produz o periderme.

Se os novos câmbios se formam menos freqüentemente e são mais ou menos contínuos, a casca se desprende em placas grandes, cuja regularidade e forma dependerão do comportamento do câmbio.

DESENVOLVIMENTO DO CÂMBIO CORTICAL

Peridermes velhas são representadas por linhas vermelhas. Quando o câmbio cortical morre, as camadas externas isoladas e com o tempo se desprendem. Em plantas com ritidoma liso, o novo câmbio é formado imediatamente adjacentes ao anterior e a casca desprende em placas finas. Se forem um pouco maiores, esse desprendimento pode dar um aspecto rugoso ao ritidoma.

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Se o câmbio forma camadas mais ou menos contínuas e a distância entre os câmbios sucessivos é pequena (são freqüentemente produzidos), o desprendimento resultante será em placas papiráceas grandes (como é característico em Myrtaceae). Se os câmbios forem menos contínuos, as placas serão menores ou mais finas.

Se a casca morre e não se desprende logo depois que o novo câmbio é formado, o ritidoma aumenta em espessura e a casca morta fica composta de camadas superpostas. Isso pode resultar num desprendimento em placas grossas laminadas, às vezes formando fendas, como em Lecythidaceae. As camadas superpostas ficam unidas em função da presença de fibras radiais entre elas.

Se os novos câmbios são curtos e descontínuos, o desprendimento será em placas pequenas. A espessura dessa placas depende da profundidade em que o novo câmbio se forma.

Se o câmbio cortical tem tendência a ser côncavo, as placas de desprendimento são também côncavas, deixando cavidades ou depressões como cicatrizes no tronco. Normalmente o centro dessas depressões são mais claros logo depois que as placas caem.

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A classificação dos padrões de casca externa, ou ritidoma, é difícil. Embora alguns sejam claros e facilmente identificáveis, a variação existente entre indivíduos da mesma espécie pode ser muito grande, especialmente quando comparando indivíduos de diferentes idades ou em diferentes ambientes. Além disso, o ritidoma de muitas espécies apresenta características intermediárias de difícil classificação.

O aspecto do ritidoma pode ser liso, rugoso, escamoso, fissurado, reticulado, lenticelado etc., dependendo do tipo de desprendimento ou de suas cicatrizes, ou ainda de estruturas como lenticelas, acúleos, espinhos e anéis transversais proeminentes.

Quando da elaboração deste guia pretendia-se usar ao máximo os caracteres da casca para identificação, mas isso não foi possível para todas as famílias devido à grande

A grande maioria das árvores apresenta o ritidoma em tons de cinza ou marrom. A cor cinza é muitas vezes definida pelos liquens que recobrem o tronco. Algumas espécies apresentam o tronco branco, em Myrtaceae e Bombacaceae pode ser verde. Definir cores é, no entanto, muito subjetivo. Depende do observador, da idade da planta e também da umidade. Em dias chuvosos os troncos ficam em geral mais escuros. A casca de algumas poucas espécies, no entanto, apresenta uma coloração de destaque na fisionomia interna da floresta, e em função disso podem ser facilmente reconhecidas. Cores em combinação com as outras características do tronco e da casca ajudam em identificação. Assim, por exemplo, Pradosia cochlearia (Sapotaceae) é facilmente reconhecida pela casca alaranjada com manchas (depressões) mais claras. Ritidoma avermelhado e liso é comum em Leguminosae. Peltogyne paniculata, conhecida como escorrega-macaco, é uma das espécies mais marcantes na floresta por apresentar o ritidoma liso e completamente avermelhado.

Ritidomavariação existente. Os mateiros reconhecem espécies ou famílias a distância apenas pelos caracteres do tronco, mesmo para aqueles cujos padrões não podem ser classificados como os apresentados aqui. Utilizando fotografias é difícil mostrar alguns padrões que com a experiência passa-se a reconhecer facilmente no campo. Nas páginas seguintes são exemplificados os padrões mais óbvios e comuns entre as espécies da Reserva. A intenção destas páginas é também estimular o uso da terminologia existente e a observação dos caracteres da casca, pouco utilizados até mesmo por botânicos experientes.

Ao observar a casca das árvores, procure as características principais que definem o aspecto geral e não se atenha a detalhes que engordam as descrições e não ajudam na identificação.

COR DO RITIDOMA

Swartzia longistipitata

Inga alba Vouacapoua pallidior

Leguminosae

Myrcia aliena Calyptranthes aff. macrophylla

Myrtaceae

Chrysophyllum sanguinolentum ssp. spurium

Sapotaceae

Peltogyne paniculata

Leguminosae Caesalpinoideae

RIT

IDO

MA

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Quando o aspecto é definido pela presença de muitas dobras (anéis horizontais proeminentes, ou "hoop-marks") que tornam a superfície acidentada. Essas linhas horizontais aparecem com freqüência na casca de muitas espécies e em alguns casos podem ajudar em identificação. Em Lauraceae, por exemplo, muitas espécies apresentam esses anéis, mas raramente definem o ritidoma como rugoso, por serem espaçados e irregulares. Algumas espécies podem apresentar esses anéis regularmente espaçados, definindo internós, como em Cecropiaceae.

RUGOSO

LISO

Marcas de olho são cicatrizes de quedas de galhos ou folhas, que podem ser características da casca de algumas espécies. Muito evidente no tronco de Cecropiaceae.

LecythidaceaeMimosoideae

Licaria pachycarpa

Endlicheria pyriformis

Lauraceae

Eschweilera romeu-cardosoi

Abarema adenophora

Em muitas espécies não se pode definir o tipo de ritidoma, pois embora apresentem estruturas como lenticelas, fendas ou alguma forma de desprendimento, essas não definem o aspecto da casca. Neste caso

SUJO E ÁSPERO

optamos por denominar de áspero ou sujo, este último termo aplicado especificamente àqueles casos em que o ritidoma apresenta fendas profundas e irregulares que dão um aspecto de desorganização à casca.

Áspero Sujo

Aspidosperma spruceanum

Apocynaceae

Licania impressa

Chrysobalanaceae

Enterolobium schomburgkii

Mimosoideae

Diplotropis triloba

Platymiscium duckei

Vatairea sericea

Leguminosae Papilionoideae

Protium altisonii

Burseraceae

Parinari parvifolia

Chrysobalanaceae

Diospyros vestita

Ebenaceae

Aldina heterophylla

PapilionoideaeLauraceae

Aniba hostmanniana

Euphorbiaceae

Conceveiba martiana R

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OM

A

O ritidoma é liso quando não apresenta nenhuma forma de desprendimento, fissuras, lenticelas, rugosidades, cicatrizes ou outras características que definem os padrões apresentados nas páginas seguintes. Em espécies de Myrtaceae, por exemplo, o ritidoma pode ser completamente liso, embora apresente-se

assim em geral sob as lâminas de desprendimento (veja laminado). Cascas completamente lisas são, no entanto, exceções na floresta. Exemplos de casca lisa e avermelhada são mostrados na página anterior.

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COM DEPRESSÕES

Quando o ritidoma fica marcado por depressões irregulares, em geral de bordas arredondadas, que são cicatrizes deixadas pelas placas de desprendimento. Essas cicatrizes, geralmente lisas, apresentam uma coloração distinta e mais viva que a casca envelhecida. É uma característica

Poucas espécies têm o desprendimento do ritidoma em placas muito grandes, grossas e lenhosas, que em algumas espécies atingem até 1 m de comprimento. Em alguns casos essas placas deixam cicatrizes impressas em sua inserção, mas o ritidoma não fica manchado como nos casos apresentados abaixo

COM PLACAS LENHOSAS GRANDES

(depressões). Exemplos extremos desse tipo de casca ocorrem em Dinizia excelsa (Leguminosae) e Sextonia rubra (Lauraceae), cujas placas desprendidas ficam acumuladas ao redor da base do tronco, em plantas de grande porte, formando um amontoado.

Caraipa odorata

Clusiaceae

Caryocar villosum

Caryocaraceae

Parkia pendula

Dinizia excelsa

Leguminosae

Aspidosperma schultesii

Apocynaceae Lauraceae

Sextonia rubra

Rubiaceae

Henriquezia verticillata

Botryarrhena pendula

Pouteria maxima Pouteria vernicosa

Sapotaceae

marcante de algumas espécies, ocorrendo espe cialmente em Lecythidaceae e Sapotaceae. Placas grandes (ver acima) podem deixar depressões como cicatrizes, mas estas são em geral muito grandes e menos importantes que as placas na definição do aspecto do tronco.

Pradosia cochlearia

Sapotaceae Meliaceae

Guarea cf. cinnammomea

Myrtaceae

Eugenia sp. 2 Ocotea rhynchophylla

Licaria guianensis

Lauraceae Lecythidaceae

Eschweilera carinata

Zygia racemosa

Leguminosae

Talisia vera-luciana

SapindaceaeOlacaceae

Ptychopetalum olacoides

Pradosia decipiens

Pradosia decipiens

Sapotaceae

RIT

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papiráceas, ou rígidas e coriáceas, mas em ambos os casos facilmente distinguíveis das placas de ritidoma escamoso, por enrolarem ou pelo menos apresentarem as bordas fortemente recurvadas.

Em geral são lâminas grandes que ao desprender deixam uma superfície lisa exposta. Ocorrem principalmente em Myrtaceae.

LAMINADO

Lâminas papiráceas

Lâminas coriáceas

Myrcia gigas Myrciaria floribunda

Myrtaceae

Pouteria peruviensis

Pouteria erythrochrysa

Sapotaceae

Calycolpus goetheanus

Myrtaceae

RIT

IDO

MA

LA

MIN

AD

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Eugenia omissa Calyptranthes cuspidata

Myrtaceae

Miconia dispar

Miconia ampla

Melastomataceae

Miconia traillii

Dichapetalum spruceanum

Dichapetalaceae

Alibertia myrciifolia

Rubiaceae

Pouteria hispida (forma B)

Chrysophyllum colombianum

Sapotaceae

Parecem pedaços de papel-velho quebradiço, em geral sob as lâminas finas formando camadas sobrepostas. Ocorrem em poucas famílias, sendo muito evidentes em Melastomataceae.

Quando o aspecto geral do ritidoma é marcado por lâminas de desprendimento. Lâminas são placas, em geral irregulares na forma, mas muito finas. Podem ser maleáveis e por isso chamadas de

Calycolpus revolutus

Eugenia cf. longiracemosa

Eugenia sp. 3 Marlierea umbraticola

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Quando o ritidoma é coberto por placas de desprendimento (veja também depressões e lâminas nas páginas anteriores). É comum estarem associadas a fendas verticais, mas as placas têm mais importância no aspecto geral da casca. Existe grande variação na forma, consistência, espessura, disposição, densidade e aderência dessas placas. Em algumas espécies as placas são rígidas e lenhosas, em outras finas e esfarelam na mão. Quando começam a se desprender do

RIT

IDO

MA

ESC

AM

OSO

ESCAMOSO

tronco, as placas ficam aderidas ao tronco num ponto, que pode ser lateral, central ou apical, e isso ajuda em identificação. Em alguns casos as placas podem ser quadradas, retangulares ou irregulares. Placas podem se constituir de cristas, ou seja, da porção entre fendas longitudinais, e, por isso, às vezes apresentam as bordas laterais retilíneas, mas o ápice e a base são irregulares. Nesta página são apresentados apenas exemplos desse tipo de casca, que pode ser encontrado em muitas famílias.

Mezilaurus duckei

Mezilaurus synandra

Aniba santalodora

Lauraceae

Richeria dressleri

Phyllanthus manausensis

Alchornea discolor

Euphorbiaceae

Couratari stellata

Lecythidaceae

Iryanthera macrophylla

Myristicaceae

Myrcia sp. 1

Myrtaceae

Aptandra tubicina

Olacaceae

Swartzia corrugata

Swartzia panacoco

Leguminosae

Annona amazonica

Xylopia amazonica

Xylopia nitida

AnnonaceaeAnacardiaceae

Campnosperma gummiferum

Licania adolphoduckei

Licania oblongifolia

Chrysobalanaceae

Caryocar glabrum ssp. glabrum

Caryocaraceae

Tabernaemontana muricata

Apocynaceae

Myristicaceae

Iryanthera lancifolia

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Quando o aspecto do tronco é definido por pequenos retículos, geralmente mais ou menos quadrados, formados por fendilhamento fino vertical e horizontal. Em geral os retículos são fortemente

RETICULADO

aderidos e o desprendimento não é evidente. Ocorre em diversas famílias, mas é freqüente em Leguminosae e Chrysobalanaceae.

Pouteria freitasii Pouteria pallens Pouteria reticulata

Pouteria retinervis

Sapotaceae

Allophyllus sp. 1

Sapindaceae

Maytenus guyanensis

Celastraceae

Leguminosae

Hymenolobium heterocarpum

Dimorphandra ignea

Bocoa viridiflora Hymenolobium pulcherrimum

Stryphnodendron guianense

Swartzia recurva

RIT

IDO

MA

RET

ICU

LA

DO

Licania sothersae

Licania prismatocarpa

Couepia magnoliifolia

Couepia guianensis

Chrysobalanaceae

Sloanea pubescens

Elaeocarpaceae

Simaba sp. nov.

Simaroubaceae

Himatanthus stenophyllus

ApocynaceaeAnnonaceae

Duguetia trunciflora

Euphorbiaceae

Pera bicolor

Andira parviflora

Leguminosae

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38 39

Ritidoma com estrias ou sulcos rasos, sem desprendimento evidente

Tapirira guianensis

Anacardiaceae

Xylopia calophylla

Annonaceae

Jacaranda copaia

Bignoniaceae

Croton lanjouwensis

Euphorbiaceae

Eschweilera amazoniciformis

Lecythidaceae

Licania sandwithii

Chrysobalana-

Quando a casca apresenta sulcos longitudinais que definem o aspecto geral do tronco, é denominada de fissurada ou fendida. A casca é estriada quando apresenta apenas linhas superficiais de coloração distinta. Fissuras são sulcos longitudinais em forma de "V", no corte transversal, enquanto fendas correspondem a sulcos mais ou menos retos. Apesar desses diferentes termos, às vezes é difícil diferenciar uma fenda de uma fissura, e árvores jovens de casca tipicamente fissurada ou fendida podem apenas apresentar estrias. Estrias podem também ser formadas por lenticelas agrupadas verticalmente (p. 41). Fendas e fissuras variam não só na forma, mas na profundidade, no tipo da crista e na distância entre si. Ao descrever e observar fendas e fissuras, observe a forma e a largura da crista (côncava, convexa, plana e aguda) e a profundidade do sulco.

Bocageopsis multiflora (Annonaceae) apresenta ritidoma com fissuras de crista aguda.

FISSURADO, FENDIDO E ESTRIADO

Cortes transversais esquemáticos de casca sulcada

CristaProfundidade

Fissuras com crista aguda

Fendas com crista plana

Fissuras com crista plana

Fissuras com crista convexa

Fissuras com crista côncava

Em Lecythis parvifructa (Lecythidaceae) a forma dos sulcos se aproxima à definição de fenda.

Scleronema micranthum (Bombacaceae). Quando adulto o ritidoma apresenta fissuras de crista plana, quando jovem é claramente estriado.

Em muitas espécies como Calophyllum aff. brasiliense

(Clusiaceae), as fissuras são longitudinalmente

descontínuas, formando alvéolos.

RIT

IDO

MA

FIS

SU

RA

DO

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Ritidomas com sulcos profundos e sem desprendimento evidente

Loreya riparia Miconia pyrifolia

Henriettea ramiflora

Miconia affinis

Melastomataceae

Siparuna decipiens

Siparunaceae

Pouteria laevigata

Sapotaceae

Virola venosa

Myristicaceae

Guarea silvatica

Meliaceae

Pterandra arborea

Malpighiaceae

Vouarana cf. guianensis

Leguminosae

Licaria chrysophylla

Ocotea floribunda

Lauraceae

Pouteria minima Pouteria aff. gardneri

Chrysophyllum manaosense

Pouteria caimito (forma

Manilkara bidentata

Pouteria virescens

Sapotaceae

Lecythis pisonis Corythophora rimosa

Cariniana micrantha

Lecythidaceae

Miconia elaeagnoides

Bellucia grossularioides

Melastomataceae

Dulacia guianensis

Olacaceae

Unonopsis stipitata

Annonaceae

Licania unguiculata

Chrysobalanaceae

Calophyllum aff. brasiliense

Clusiaceae

Virola multinervia

Myristicaceae

Buchenavia guianensis

Combretaceae

RIT

IDO

MA

FIS

SU

RA

DO

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Lenticelas são estruturas usadas para respirar. Ritidoma densamente lenticelado é denominado verrucoso, pois as lenticelas parecem "verrugas" na superfície. Lenticelas podem ser elípticas, circulares ou menos freqüentemente lineares, apresentam uma abertura (fenda ou espocação), mas esta abertura pode não ser muito evidente. Podem, ainda, ser dispersas ou agrupadas, em linhas horizontais ou verticais. Em muitas espécies podem caracterizar o aspecto do tronco, em outras são esparsas ou escondidas pelo desprendimento. Variam também em quantidade, tamanho, proeminência e cor (principalmente pretas, brancas ou vermelhas). Ocorrem principalmente nos troncos e ramos, raramente na raque de folhas compostas (p.e. em Mimosoideae e Meliaceae) ou no pecíolo (e.g. Passifloraceae: Dilkea, Araceae). Algumas vezes um tronco pode parecer verrucoso em função da presença de lenticelas, mas isso pode variar muito entre indivíduos da mesma espécie e até mesmo em função de fatores ambientais.

RIT

IDO

MA

LEN

TIC

ELA

DO

Muito comuns em Lauraceae. Freqüentes em Leguminosae e Chrysobalanaceae e ajudam a diferenciar Meliaceae das demais Sapindales, mas ocorrem também em muitas outras famílias. Indivíduos da mesma espécie podem apresentar lenticelas ora dispersas ora agrupadas vertical ou horizontalmente. Essa variação pode ocorrer no mesmo tronco, e é importante notar qual disposição caracteriza o aspecto geral do tronco.

Lenticelas dispersas ou não nitidamente agrupadas

RITIDOMA LENTICELADO

Hymenolobium modestum

Leguminosae

Parkia velutina Monopteryx inpae

Inga obidensis Ormosia grandiflora

Dicorynia paraensis

Goupia glabra

Celastraceae

Diospyros carbonaria

Ebenaceae

Caraipa grandifolia

Clusiaceae

Ruizterania albiflora

Vochysiaceae

Licania pallida Licania micrantha

Chrysobalanaceae

Ocotea aciphylla

Lauraceae

Lauraceae

Aniba williamsii Ocotea cujumari Ocotea guianensis

Rhodostemonodaphne peneia

Elípticas verticais e

fendidas (Odontadenia puncticulosa)

Circulares (Sextonia rubra)

Lineares verticais (Mezilaurus itauba)

Lineares horizontais (Inga lateriflora)

Elípticas horizontais(Inga grandiflora)

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Ocorrem principalmente em Leguminosae, especialmente no gênero Inga, e menos freqüentemente em outras famílias como Moraceae e Lauraceae. Em alguns casos as lenticelas formam um anel contínuo ao redor do tronco e podem ser confundidas com dobras ("hoop-marks") que caracterizam troncos rugosos, mas que ao contrário das primeiras não apresentam fendas ou espocações.

RIT

IDO

MA

LEN

TIC

ELA

DO

Ocorrem em várias famílias. A casca de algumas espécies com esses ritidomas, pode ser chamada de estriada quando as lenticelas são muito pequenas e formam linhas de coloração distinta. Em outros casos as lenticelas podem aparecer associadas a fissuras ou fendas.

Lenticelas em linhas verticais

Lenticelas em linhas horizontais

Brosimum rubescens

Moraceae

Anisophyllea manausensis

Anisophyllaceae

Licania canescens

Chrysobalana-Moraceae

Clarisia racemosa

Brosimum potabile

Inga capitata Inga thibaudiana Inga lateriflora

Leguminosae Mimosoideae

Ocotea tabacifolia

Ocotea ceanothifolia

Endlicheria citriodora

Lauraceae

Sloanea rufa

Elaeocarpaceae

Guatteria sp. 3

Annonaceae

Ocotea immersa

Lauraceae

Eschweilera pseudodecolorans

Allantoma lineata

Lecythidaceae

Sarcaulus brasiliensis

Sapotaceae

Schoenobiblus daphnoides

Thymelaeaceae

Cassia rubriflora Dimorphandra pennigera

Pterocarpus rohrii

Sclerolobium sp. 6

Leguminosae

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Espinhos

São estruturas externas pontiagudas. Espinhos são modificações de folhas, raque de folhas ou estípulas, e por isso apresentam um sistema vascular. Não podem ser destacados do órgão onde são encontrados sem desprender parte de tecido do mesmo. Acúleos são projeções da epiderme, em geral cônicos, sem sistema vascular, que por serem de origem superficial podem ser facilmente destacados. Além disso, pêlos (ou tricomas, ver p. 66) podem ter a forma de espinhos. Estas estruturas têm duas funções principais: proteção contra herbivoria ou, no caso de plantas escandentes, como estruturas para subir em outras plantas. A presença de espinhos ou acúleos pode ajudar em identificação, e neste sentido a terminologia não importa muito. O exemplo mais óbvio disso são palmeiras (Arecaceae), pois a presença de espinhos permite diferenciar os gêneros Bactris, Astrocaryum e Desmoncus dos demais. Dentre as famílias de dicotiledôneas ocorrentes na Reserva, espinhos e acúleos são encontrados apenas em Rutaceae e Solanaceae, e em Chomelia (Rubiaceae), após a queda da folha, parte do pecíolo persiste e torna-se rígido como um espinho. Acúleos aparecem freqüentemente na casca de espécies de Bombacaceae e Anacardiaceae,

COM ESPINHOS OU ACÚLEOS

Astrocaryum aculeatum Astrocaryum gynacanthum

Bactris elegans Bactris maraja

Arecaceae (Palmae)

Solanum fulvidum

Solanaceae

Chomelia malaneoides

Rubiaceae

Zanthoxylum djalma-batistae

Zanthoxylum rhoifolium

Rutaceae (acúleos)

RIT

IDO

MA

CO

M E

SP

INH

OS

como por exemplo a samaúma (Ceiba pentandra) e o taperebá (Spondias mombin), respectivamente, mas não foram observados nas espécies nativas dessas famílias na Reserva.

Solanum crinitum

Solanaceae

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Casca suberosa

Casca interna

CASCA MORTA

As fotografias do corte da casca, utilizadas na ilustração de cada espécie neste guia, foram feitas de um corte tangencial ao eixo longitudinal do tronco. Elas procuram mostrar o aspecto interno da casca (floema) e do alburno (xilema) (p. 30).

Em algumas espécies a espessura total da casca, incluindo tecidos mortos e vivos, é muito fina e de difícil visualização. Outras têm a casca espessa e apresentam fibras de cores e disposição diferentes, formando padrões que ajudam em identificação.

A casca morta é constituída de células mortas com função de proteção, que recobre a casca viva. A superfície externa da casca morta constitui o ritidoma. Independentemente da origem das células que a compõe, as camadas mais externas da casca morta são constituídas de tecidos mais velhos. O aspecto do ritidoma depende do tipo de formação da casca morta. Se essas células mortas são continuamente desprendidas, o aspecto do ritidoma será liso, e no corte transversal a casca

morta será muito fina ou até mesmo imperceptível. Em, geral, quando a casca morta é espessa, dependendo de como se desprende, produz os vários padrões de desprendimento apresentados nas páginas anteriores. Na casca morta, padrões da casca viva podem ser mais evidentes, como, por exemplo, quando é composta de anéis de fibras discolores. A regularidade ou continuidade desses anéis também podem apresentar padrões distintos.

Chrysophyllum amazonicum

Manilkara bidentata Pouteria filipes Pouteria freitasii Pouteria guianensis

Sapotaceae

Platymiscium duckei

Leguminosae

Guarea scabra

Meliaceae

Mouriri collocarpa

Memecylaceae

Pouteria reticulata Pouteria rostrata

Sapotaceae

Clusiaceae

Lorostemon coelhoi Aniba ferrea

Lauraceae

Lecythis pisonis Lecythis zabucajo Lecythis gracieana

Lecythidaceae

CA

SC

A M

OR

TA

Quando a casca morta (e conseqüentemente o ritidoma) tem textura de cortiça ou súber (rolha), ela é denominada de suberosa. Este tipo de casca, comum em plantas do cerrado (à qual se atribui função de proteção contra fogo), é raro entre as espécies da Reserva, tendo sido observado nas famílias exemplificadas abaixo. Em geral, o ritidoma dessas espécies é fissurado e a casca morta suberosa apresenta-se espessa, com textura compacta e coloração bege.

Inga suberosa

Leguminosae

Guarea pubescens

Meliaceae

Miconia affinis

Melastomataceae Myrtaceae

Myrcia paivae Passiflora aff. riparia

Passifloraceae