ralws e o problema da distribuiÇÃo da riqueza

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John Rawls e o problema da distribuição da riqueza

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John Rawls  e o problema da distribuição da riqueza

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O princípio utilitarista

Age sempre se maneira a produzir o máximo de

bem-estar possível para todos os envolvidos.

Consequência

A consideração imparcial  dos interesses implica

que a maneira como o bem-estar está distribuídonão é importante em si mesmo.

Se uma acção maximiza o bem-estar, não importase o bem-estar está distribuído de maneira igual ou desigual. A teoria utilitarista parece assim

 justificar grandes diferenças de rendimento entre

ricos e pobres e, portanto, grandes desigualdadessociais.

Se a sociedade A tem um nível de riqueza média superior à sociedade B, A é preferível a B mesmose a distribuição da riqueza for mais desigual em

A que em B.

A oposição ao utilitarismo

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Se uma família A tem um rendimento mensalde 5000 euros e a família B um rendimentomensal de 500 euros, o bem-estar da famíliaA não diminuirá muito se 500 euros do seu

rendimento forem transferidos para a famíliaB. O prejuízo para a família A será largamente compensado  pelo aumento debem-estar da família B. Cresce o bem-estargeral.

Esta ideia corresponde à distinção entre utilidade bruta  e  utilidade relativa  de umbem.

A utilidade bruta de 500 euros é constante:500 euros.

A utilidade relativa  de 500 euros podevariar bastante: um aumento de 500 eurostem mais valor para quem tenha umrendimento mensal de 500 euros do quepara quem tenha um rendimento mensal de

5000 euros.

Utilitarismo e distribuiçãoda riqueza

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Se uma família A tem um rendimento mensalde 5000 euros e a família B um rendimentomensal de 500 euros, o bem estar da famíliaA não diminuirá muito se 500 euros do seu

rendimento forem transferidos para a famíliaB. O prejuízo para a família A será largamente compensado  pelo aumento debem-estar da família B. Cresce o bem-estargeral.

No primeiro caso, há um aumento de 100%,obtendo-se o dobro do bem-estar inicial; nosegundo caso, temos um prejuízo de apenas10%.

A mesma quantidade de riqueza produz maisbem-estar se for retirada aos que têm maisrendimentos e atribuída aos que têm menos,contribuindo para uma  sociedade maisigualitária, do que se se mantiver na possedos primeiros.

Utilitarismo e distribuiçãoda riqueza

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Para os utilitaristas, a igualdade tem apenasum  valor instrumental: é apenas um meiopara atingir um fim. O valor da igualdadedepende somente das  consequências  queesta promove.

John Rawls não é utilitarista: a sua teoria da justiça é de inspiração kantiana, não sendo,portanto, as consequências das acções oúnico factor relevante para determinar o seu

valor moral.

Para Rawls, a igualdade vale por si mesma,tem valor intrínseco, e deve ser valorizadapor si mesma e não por promover melhoresconsequências.

As liberdades (de expressão, de voto, etc.),o rendimento e as oportunidades devemser distribuídas de maneira igual excepto sea sua distribuição desigual beneficiar os quemenos têm.

O valor da igualdade

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Algumas regiões têm mais dificuldade queoutras em conseguir médicos.

A ausência de médicos representa umprejuízo importante para os seus habitantes,que estão numa situação desfavorecida emrelação a quem vive em zonas com maisatractivos.

Uma forma de eliminar esta desvantagem,beneficiando os que vivem em regiões maisdesfavorecidas, consiste em pagar mais aosmédicos que aceitem ir trabalhar para essasregiões.

Este tratamento desigual é permitido porquepromove a igualdade,  favorecendo os demenores recursos.

Desigualdades que contribuam para diminuiros rendimentos, liberdades e oportunidadesdos que têm menos recursos  não podemser permitidas.

Desigualdades e benefíciospara os de menos recursos

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Rawls considera que a sociedade deve garantir atodos de forma equitativa o acesso a três benssociais básicos. São os chamados bens sociaisprimários. 

O rendimento, as  liberdades  (de expressão, devoto, de escolha, etc.) e as  oportunidades  (decarreira, etc.) são considerados os bens sociaisprimários.

Bens de tipos distintos podem entrar em conflito,

tornando-se necessário saber quais devem seratendidos em primeiro lugar, ou que bens devemter prioridade. 

Se uma sociedade garante o acesso à educaçãoe em simultâneo exige que ela seja asseguradanuma escola da área de residência, no caso deuma pessoa preferir uma escola fora da sua áreade residência por considerar que essa escola émais exigente e lhe dará maior preparação, há umconflito entre a igualdade de oportunidades e a liberdade de escolha.

Qual deve ser considerado o mais importante?

Bens sociais e conflitos devalor

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 1. Princípio da Liberdade Igual

A sociedade deve assegurar a máximaliberdade a cada pessoa que seja compatívelcom uma liberdade igual para todos osoutros.

2. Princípio da Oportunidade Justa

As desigualdades económicas e sociaisdevem estar ligadas a carreiras e profissõesque sejam acessíveis a todos em condiçõesde igualdade de oportunidades.

3. Princípio da Diferença

A sociedade deve promover a distribuiçãoigual da riqueza, excepto se a existência dedesigualdades económicas e sociais trouxerbenefícios aos de menores recursos.

Os princípios da justiçasocial

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A partir de um nível de bem-estar acima daluta pela sobrevivência, a liberdade temprioridade absoluta sobre o bem-estareconómico ou a igualdade de oportunidades.

A liberdade de expressão, etc., não pode sersacrificada por razões de ordem económica:não é permissível limitar a liberdade mesmose isso contribuísse para tornar a sociedademais igualitária.

Desigualdades (de liberdade, de rendimento,de oportunidades) são permitidas apenas sebeneficiarem os de menos recursos.

A doação de benefícios fiscais, por exemplo,a regiões menos desenvolvidas de modo apermitir-lhes aproximarem-se da média dasregiões mais avançadas corresponde a estaideia.

Isto justifica o princípio da discriminação

positiva.

Hierarquia dos princípios

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O primeiro argumento de Rawls a favor dasua teoria parte da seguinte ideia (que todosaceitamos):

O nosso destino social (a vida que teremos)deve depender das nossas escolhas, e nãodas circunstâncias em que por acaso fomoscolocados.

Não é justo, segundo esta ideia, que alguémnão possa ter acesso a certas profissões porser homem ou mulher, por pertencer a umaraça ou a outra, por ter nascido numa famíliapobre, etc.

Ser homem ou mulher não depende de nós,tal como não depende de nós ser europeu,africano ou asiático.

Também a circunstância de ter nascidonuma família rica ou pobre é fruto do acaso e

não de uma escolha.

O argumento da igualdadede oportunidades

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A ideia de que o nosso destino social (a vidaque iremos ter) deve apenas depender dasnossas escolhas, e não das circunstâncias

em que o acaso nos colocou, implica quetodos tenhamos as mesmas oportunidades,independentemente das circunstâncias departida.

A exigência de oportunidades iguais paratodos destina-se a evitar a influência socialdo acaso.

Assim, se estiver garantida a igualdade deoportunidades, as desigualdades de riqueza

que se observam na sociedade terão de ficara dever-se ao mérito de cada um, aos seustalentos naturais, às suas escolhas (certasou erradas).

E isto parece-nos justo.

O argumento da igualdadede oportunidades

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Rawls pensa que devemos garantir aigualdade de oportunidades e, ao mesmotempo, que as desigualdades de rendimento

apenas se justificam se forem benéficas paraos menos favorecidos. Mas isto não pareceser compatível.

O reconhecimento do mérito individual, emconjunto com a igualdade de oportunidades,convida-nos a concluir que as desigualdadesde rendimentos se justificam mesmo se não beneficiam os que menos têm. Afinal, cadaum obteve o que os seus méritos permitiram,sendo inteiramente justo que beneficie dosseus esforços.

Bastaria, ao invés do que pensa Rawls, queos maiores rendimentos resultassem apenasdo esforço individual de alguns para estarem

 justificados.

O argumento da igualdadede oportunidades

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Por vezes pensa-se que, estando garantidaa igualdade de oportunidades, o mérito e ostalentos individuais justificam as diferençasde rendimento, tornando-as justas.

A ideia é a seguinte: é justo que aqueles quemais mérito possuem beneficiem dos frutosque obtiveram.

Não estará isto certo? Ninguém nega que o

talento e os méritos individuais devem serpremiados, sendo justo usufruir do que seconquistou.

Mas, seguindo a mesma linha de raciocínio,temos de concluir que é justo aqueles que

não têm talentos naturais serem privados desses benefícios.

O problema é: será justo que um deficienteseja desfavorecido só por ser deficiente, oualguém com um QI baixo apenas por ter um

QI baixo?

O argumento da igualdadede oportunidades

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Partimos da ideia de que o nosso destinosocial deve depender das nossas escolhas,e não das circunstâncias em que o acaso nos coloca.

Não é justo não ter acesso a uma profissão,por exemplo, apenas por termos nascidonuma família pobre, por sermos homem oumulher, por pertencermos a uma raça A ouB, porque nenhuma destas circunstâncias foi

escolhida por nós.

Mas ter nascido com um certo talento, comum QI baixo ou com uma deficiência tambémnão é uma escolha pessoal: é algo que nosaconteceu, que não pudemos evitar, que não controlamos.

Se é injusto que o nosso destino social sejadeterminado por desigualdades sociais,também parece injusto que o seja devido adesigualdades naturais, de que não somosresponsáveis.

O argumento da igualdadede oportunidades

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Se é injusto que o nosso destino social sejadeterminado por desigualdades naturais, de quenão somos os responsáveis, que propõe Rawlspara o evitar?

A ideia é que as desigualdades sociais e naturaissó se justificam se isso trouxer benefícios aosmais desfavorecidos.

Portanto, ninguém deve ser o único beneficiáriodos seus talentos: quem teve a sorte de ser

beneficiado deve contribuir para quem foi menosfavorecido.

Se queremos que o nosso destino social dependaapenas das nossas escolhas, e não das nossascircunstâncias (sociais ou naturais), temos deaceitar que:

A sociedade deve promover uma distribuiçãoigual da riqueza, excepto se a existência dedesigualdades económicas e sociais beneficiar osde menores recursos.

Mas este é o princípio da diferença.

O argumento da igualdadede oportunidades

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Em síntese, o argumento proposto por Rawls é oseguinte:

(1) Começamos por aceitar que somos livres na

mesma medida de todos os outros (princípio daliberdade igual).

(2) Em seguida, aceitamos que só as nossasescolhas devem importar para decidir o nossodestino social.

(3) Assim, as circunstâncias que não dependemde nós não devem influir na posição social queviremos a alcançar (princípio da igualdade deoportunidades).

(4) Estas circunstâncias são externas (sexo, raça,classe social de partida, etc.) e internas (talentosnaturais).

(5) Por fim, concluímos que se não escolhemosos nossos talentos (ou a falta deles) não devemosser os únicos a beneficiar deles: é justo contribuirpara os que não tiveram tanta sorte (princípio da

diferença).

O argumento da igualdadede oportunidades