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Raízes de um imaginário: A tradição de João Maria nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Felipe Veber Graduando em História Bacharelado - UFPEL Gabriel Kunrath Graduando em História Bacharelado - UFPEL Pretendemos abordar aspectos ligados à presença do Monge João Maria no imaginário dos moradores do planalto meridional brasileiro. Tem-se, através da historiografia, a informação de que muitos indivíduos peregrinaram pelo sul do Brasil. Entretanto, dois foram os que mais se destacaram e se fixaram na memória dessas comunidades: os eremitas João Maria de Agostini e João Maria de Jesus. Estas figuras estão associadas a diversos conflitos, bem como a imagens, grutas e olhos d’água na região. Todos esses aspectos marcaram de diferentes formas a memória dessa população. Se considerarmos que a memória, tanto individual quanto coletiva, tem a característica de ser mutável, precisamos também considerar que na maior parte das memórias existem marcos ou pontos relativamente invariáveis, imutáveis, pelo processo de preservação dos devotos. Portanto, podemos levar em conta as diversas marcas deixadas pelos “monges” João Maria nas cidades em que passaram e como esses espaços podem ser considerados como locais de referência na construção das memórias dessas populações. Pensando na importância destes locais para os devotos de São João Maria e de como essa devoção se constitui como um patrimônio imaterial desses indivíduos, surge um dos problemas de pesquisa do projeto “Monge João Maria: A trajetória de uma devoção popular no planalto meridional do Brasil (Séculos XIX e XX)”. Esse foi dividido em três partes distintas; sendo as duas primeiras realizadas pelo professor doutor Alexandre Karsburg e a terceira, da qual fazemos parte, pela professora doutora Márcia Espig. Na presente comunicação nos propomos a debater sobre a importância da presença e utilização dos olhos d’água, cruzeiros, fontes santas e grutas, tendo ainda a intenção de localizar e sinalizar em um mapa esses espaços, buscando a salvaguarda dos mesmos. Palavras-chave: Monge João Maria; Patrimônio Imaterial; Locais de Memória; Introdução

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Raízes de um imaginário: A tradição de João Maria nos estados de

Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Felipe Veber

Graduando em História Bacharelado - UFPEL

Gabriel Kunrath

Graduando em História Bacharelado - UFPEL

Pretendemos abordar aspectos ligados à presença do Monge João Maria no imaginário dos moradores do planalto meridional brasileiro. Tem-se, através da historiografia, a informação de que muitos indivíduos peregrinaram pelo sul do Brasil. Entretanto, dois foram os que mais se destacaram e se fixaram na memória dessas comunidades: os eremitas João Maria de Agostini e João Maria de Jesus. Estas figuras estão associadas a diversos conflitos, bem como a imagens, grutas e olhos d’água na região. Todos esses aspectos marcaram de diferentes formas a memória dessa população. Se considerarmos que a memória, tanto individual quanto coletiva, tem a característica de ser mutável, precisamos também considerar que na maior parte das memórias existem marcos ou pontos relativamente invariáveis, imutáveis, pelo processo de preservação dos devotos. Portanto, podemos levar em conta as diversas marcas deixadas pelos “monges” João Maria nas cidades em que passaram e como esses espaços podem ser considerados como locais de referência na construção das memórias dessas populações.

Pensando na importância destes locais para os devotos de São João Maria e de como essa devoção se constitui como um patrimônio imaterial desses indivíduos, surge um dos problemas de pesquisa do projeto “Monge João Maria: A trajetória de uma devoção popular no planalto meridional do Brasil (Séculos XIX e XX)”. Esse foi dividido em três partes distintas; sendo as duas primeiras realizadas pelo professor doutor Alexandre Karsburg e a terceira, da qual fazemos parte, pela professora doutora Márcia Espig. Na presente comunicação nos propomos a debater sobre a importância da presença e utilização dos olhos d’água, cruzeiros, fontes santas e grutas, tendo ainda a intenção de localizar e sinalizar em um mapa esses espaços, buscando a salvaguarda dos mesmos.

Palavras-chave: Monge João Maria; Patrimônio Imaterial; Locais de Memória;

Introdução

Em diferentes regiões da América do Sul e Central conseguimos

identificar a presença de João Maria, tanto a presença física do mesmo durante

os séculos XIX e XX, quanto a permanência de devoções à sua figura. Tendo o

conhecimento da importância da imagem do Monge para diferentes populações

em um espaço geográfico tão amplo e com realidades econômicas e culturais

distintas. Através do projeto “Monge João Maria: A trajetória de uma devoção

popular no planalto meridional do Brasil (Séculos XIX e XX)” estamos nos

propondo a construir três mapas que apresentem algumas informações acerca

de pontos imutáveis (pela preservação dos devotos) que sinalizam e simbolizam,

principalmente nos estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do

Sul, a presença destes monges, os quais iremos abordar os objetivos do projeto

e da nossa atual pesquisa nas páginas que seguem.

A partir da localização espacial do nosso objeto de pesquisa, é de suma

importância esclarecermos alguns aspectos ligados à essa crença. Na região

aqui já destacada peregrinaram em diversas épocas diferentes homens, que

eram rotulados pelas populações locais por onde realizaram suas peregrinações

como João Maria, Monge João Maria, ou mais popularmente como São João

Maria. Os termos: monge, eremita ou Santo não é o que apresenta relevância

no nosso entender, mas sim o fato de que a imagem de diversos homens estar

ligada a um só ser mítico, no caso João Maria.

É possível entender como a população acabou sincretizando esses

eremitas uma vez em que eles apresentavam diversas semelhanças entre si,

com isso a imagem que se enraizou no imaginário1 desses cidadãos foi a de um

só ser. Entretanto conseguimos destacar a presença de dois peregrinos como

indivíduos formadores e fortificadores da devoção a João Maria, o primeiro deles

que conseguimos datar as suas peregrinações é Giovanni Maria de Agostini, que

segundo Karsburg era um viajante de origem italiana, com barbas longas e rosto

magro, vestia-se como religioso (manto com capuz e hábito) e usava sandálias,

1 Segundo BACZKO, imaginário social é um conjunto de representações e ideias-imagens de uma sociedade e tudo que nela se relaciona. (ESPIG, 1998. P. 162)

entre seus hábitos cotidianos realizava frequentes jejuns, recusava carne como

alimento, vivendo sujeito as intempéries e negando qualquer tipo de conforto.

Coincidindo com o desaparecimento de João Maria de Agostini do Brasil,

temos o aparecimento de João Maria de Jesus. Sendo assim, o segundo

indivíduo que interpretamos como fundamental para toda a concepção simbólica

ligada a essa figura mítica, seria Anastás Marcaf: um imigrante provavelmente

vindo da Argentina, entretanto de origem Síria. Sua peregrinação durou cerca de

dezoito anos pela região, o mesmo afirmava que estava pagando uma

penitencia. Apresentava uma relativa semelhança física com Agostini, bem como

tendo adotado várias práticas do mesmo. Durante sua estadia pelo sul do Brasil

diversos cruzeiros foram erigidos, “águas santas” foram demarcadas por

Anastás Marcaf, que também evitava aglomerações de fiéis, ficando pouco

tempo em cada localidade. Conforme aponta Paulo Pinheiro Machado em seu

livro as Lideranças do Contestado de 2004.

O que nos ajuda a entender toda essa simbologia ligada a João Maria, e

nesse caso não necessariamente a Agostini e/ou Marcaf, mas sim a figura

central dessa devoção da região sul, é que o desaparecimento misterioso aliado

ao aparecimento de outro indivíduo com características tão semelhantes,

influenciou para a fortificação desse imaginário. Bem como o aumento da

devoção à São João Maria. Machado nos aponta aspectos ligados ao cotidiano

de crenças caboclas na medida em

[...] que auxiliou de forma irresistível o aumento da devoção a são João

Maria fora as inúmeras referências às suas prerrogativas e poderes

sobrenaturais. Pela tradição cabocla, muitas curas são atribuídas

diretamente à ação do monge, ou indiretamente, através da cura nas

“águas santas”, do chá que era feito a partir das cinzas de suas

fogueiras das casas das árvores onde ele “pousava”. João Maria, como

Cristo, tinha poderes especiais, como atravessar rios caminhando

sobre as águas, sofrer tempestades e tormentas sem nunca se morar,

realizar curas milagrosas, adivinhar os pensamentos das pessoas e

profetizar sobre o futuro. (MACHADO, 2004, p. 168)

Esses aspectos citados por Machado ainda estão presentes nos dias

atuais, ensinamentos de como conduzir a vida, como se relacionar com a

natureza e os aprendizados de como curar enfermos foram transmitidos pela

oralidade entre os devotos de João Maria. Os locais onde João Maria sinalizou

as “águas santas”, as grutas em que pernoitou, as diversas marcas deixadas por

ele no território brasileiro durante sua peregrinação, na medida do possível,

foram preservadas por essas comunidades e hoje se constituem como locais de

memória, espaços simbólicos da crença, pontos relativamente imutáveis2, que

na construção de suas narrativas que reforçam todo um imaginário ligado ao

monge. Constituindo-se assim como um patrimônio cultural e imaterial do

planalto meridional brasileiro.

Temos alguns conceitos chave para entender a continuidade da crença

no Santo Monge, como por exemplo: imaginário social, locais de memória e

patrimônio cultural imaterial. Já tendo explicitado o que entendemos como

imaginário social, se faz necessário ressaltarmos como ele contribui para o

entendimento da crença no monge, na medida que

o imaginário de uma sociedade ou grupo será parte fundamental de sua existência, uma vez que próprio sentido conferido ao universo social encontra-se a ele ligado. [...] É através dos imaginários sociais, que um grupo não apenas caracteriza sua identidade e elabora uma representação de si mesmo, como também distribui papéis e funções sociais, [e] expressa crenças comuns. (ESPIG, 1998, p.162)

Ao analisarmos o que representa o imaginário para determinado grupo e

ao contrapormos com relatos de devotos de São João Maria, conseguimos

constatar que realmente os ensinamentos de João Maria estão enraizados na

memória dos moradores da região estudada, uma vez em que os encontramos

na expressão de suas formas de devoção.

Ao percebermos que a crença no monge é transmitida pela oralidade, que

ela está presente no imaginário das populações locais, que os lugares de

2 Sabendo que a memória tem como uma de suas características o fato dela ser mutável, entretanto Pollack diz que devemos levar em conta que em grande parte das memórias existem pontos relativamente imutáveis, como se houvesse elementos irredutíveis, que o trabalho de solidificação da memória foi tão importante que impossibilitou a ocorrência de mudanças. (POLLACK, 2002, p. 201)

memória são importantes tanto para a manutenção da crença, quanto para a

transmissão dos ensinamentos de João Maria, a crença no santo e os seus locais

de materialização são um patrimônio imaterial dessa região. Utilizando o

conceito mais breve dado pela Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Patrimônio Cultural Imaterial é

qualquer manifestação de um modo de vida de um grupo ou indivíduo que tenha

sido passado pelos seus antepassados e que será transmitido para seus

descendentes por meio de oralidade e tradição culturais. Ressaltamos que o

patrimônio das populações é a crença no monge e os locais de fé se constituem

como uma materialização dessa devoção se tornando também lugares de

memória.

Para falarmos sobre a importância dos locais de memória espalhados

pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, precisamos

distinguir a história da memória com base nos dizeres de Nora (1993), na medida

em que ele classifica a história como a reconstrução sempre problemática e

incompleta do que não existe mais, pertencendo a todos e à ninguém. Enquanto

afirma que a memória é afetiva e mágica, que se alimenta de lembranças vagas,

que se enraíza no concreto, na imagem e no objeto. É esse enraizamento nos

objetos, nas imagens que torna necessário a existência de locais de memória na

sociedade atual. Uma vez em que estes locais se constituem em meios de

preservação das memórias legitimas, para esse fim, é preciso possuir “vontade

de memória”; sem isso se tornariam “lugares de história”

[...] a razão fundamental de ser de um lugar de memória é parar o tempo, é bloquear o trabalho do esquecimento, fixar um estado de coisas, imortalizar a morte, materializar o imaterial para [...] prender o máximo de sentido num mínimo de sinais, é claro, e é isso que os torna apaixonantes: que os lugares de memória vivem de sua aptidão para metamorfose, no incessante ressaltar de seus significados e no silvado imprevisível de suas ramificações (NORA, 1993, p.22)

A relevância do trabalho realizado e sua contribuição acadêmica e social

veio sendo explicitada através dos conceitos debatidos anteriormente,

promovendo o debate sobre patrimônio imaterial, as mutações da memória, a

importância dos locais de memória. Todavia, ainda é importante ressaltar que todos

esses locais de memória acabam formando, atualmente, um mapa da cultura popular

dessa região, nesse sentido o mapa que pretendemos apresentar visa servir como

contribuição à preservação de uma longa e importante tradição cultural, a devoção de

São João Maria. Bem como contribuir para chamar a atenção do poder público e das

autoridades competentes para garantir a salvaguarda desse patrimônio cultural imaterial

e sua materialidade, também servindo para colaborar com estudos futuros que também

entendam a crença no santo monge como um patrimônio imaterial e visam estudá-la.

Objetivos

O projeto como um todo visa compreender como a crença no Monge João

Maria se estabeleceu no planalto meridional brasileiro, especialmente nos

estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, enfocando os seus

reflexos, tanto nos séculos XIX e XX, quanto nos dias atuais. Porquanto, faz-se

também uma interlocução com os conflitos armados (a Guerra do Contestado, o

caso dos Monges Barbudos, em Soledade (RS), o caso dos Monges do

Pinherinho, em Encantado (RS), etc.), visando entender sua ligação com à

imagem de João Maria, como contribuíram para fortificar ou apagar a crença,

quais os reflexos que temos nos dias atuais, em virtude desses eventos.

Focando mais precisamente na terceira etapa do projeto, em que estamos

trabalhando, o principal objetivo é construir um mapa que apresente a devoção

em São João Maria nos três estados, tendo assim o mapeamento através das

notícias em jornais e site institucionais referente aos locais de memória ou

entrevistas em trabalhos acadêmicos sobre os ensinamentos do monge.

Também nessa terceira fase, destaca-se a importância de promover o

debate em eventos acadêmicos sobre patrimônio imaterial e material, os lugares

de memória, visando entender como as populações se relacionam atualmente

com esses locais. Por fim, pretende-se produzir um site, como espaço de arquivo

de todos os dados coletados ao longo do projeto de pesquisa, onde serão

apresentados os três mapas construídos, com o objetivo de tornar público e

divulgar todas os avanços produzidos ao longo desse trabalho.

Resultados

É importante ressaltar que a pesquisa segue em andamento e que todos

os resultados são parciais até o momento. O resultado final da pesquisa só

teremos quando finalizarmos o mapa e conseguirmos disponibiliza-lo no futuro

site do projeto. Entretanto, pretendemos desenvolver um debate dos resultados

obtidos até aqui e como conseguimos analisar os mesmos.

Até o presente momento temos catalogadas cerca de oitenta cidades

espalhadas pela região do estudo, as quais apresentam de alguma forma a

devoção ao monge. Essas cidades são localizadas por via de pesquisas na

internet, devido a isso temos o conhecimento das falhas que o projeto apresenta,

uma vez que seria necessário para constatar a devoção ao monge ir aos locais,

entrevistar pessoas devotas que utilizam os espaços de memória. Entretanto,

em razão dos recursos financeiros necessários para se efetuar esse tipo de

trabalho de campo, não temos como realizá-lo.

Ao refletirmos sobre essas dificuldades de realizarmos um trabalho de

campo aprofundado, encontramos a alternativa nessas buscas na internet, já

que nela conseguimos encontrar uma quantidade favorável de informações

referentes aos locais ligados ao monge, com diversos trabalhos acadêmicos que

abordam as temáticas ligadas ao eremita, e que junto de uma metodologia nos

possibilita a realização desse trabalho, conseguimos coletar e analisar todos

esses relatos sobre a presença de João Maria no imaginário das populações.

Cada estado apresenta as suas particularidades, apesar disso, voltamos

a destacar que, tanto no estado de Santa Catarina quanto nos estados do Paraná

e do Rio Grande do Sul, toda a crença e os ensinamentos de João Maria são

transmitidos pela oralidade. A devoção é carregada na memória e no imaginário

dos indivíduos que cultuam João Maria, por isso para poder se localizar as

diferentes cidades onde as materialidades geradas pela fé se encontram, torna-

se necessário a interlocução com os acontecimentos ocorridos durante a história

de desenvolvimento político-social, buscando compreender sua interferência na

figura mítica de João Maria.

No estado do Rio Grande do Sul, de acordo com os apontamentos da

historiografia, que indica episódios e espaços onde João Maria teria ganhado

“fama”, atribuindo aos dois episódios armados: o caso dos Monges Barbudos em

Soledade no ano de 1937 e o conflito dos Monges dos Pinheirinhos na cidade

de Encantado em 1902., o fortalecimento da crença, embora estes tenham

ocorrido em épocas distintas, porém próximas geograficamente. Não

conseguimos localizar uma grande quantidade de cidades que apresentem a

devoção nos dias atuais, talvez pela valorização de outros aspectos culturais e

as criações identitárias ligadas ao “ser gaúcho”, talvez pela repressão e pelo

modo em como esses movimentos foram tratados na época. O fato é que até o

momento localizamos as cidades de Marau, Lagoa Vermelha, Candelária, Santa

Maria, Sobradinho, Lagoão, entre cerca de outras dez cidades além das já

citadas aqui. Como exemplo podemos citar a cidade de Lagoão, o site da

prefeitura traz como ponto de turismo religioso a água santa dos monges,

mostrando imagens de rituais realizados na fonte.

Ao pensarmos na difusão e na forma em como a crença no monge é

apresentada no estado do Paraná, precisamos levar em conta os processos

emancipatórios ocorridos principalmente entre as décadas de 1930 e 1960, ao

analisarmos as informações contidas nos mapas apresentados nos textos de

PIERUCCINI, TSCHÁ, IWAKE cujo o nome é “Criação dos municípios e

processos emancipatórios”, capitulo três da obra, “Estratégias de

desenvolvimento regional: região oeste do Paraná”, constatamos que o estado

do Paraná viu emergir ao longo desse período diversas novas cidades, mudando

assim significativamente o espaço geográfico onde a crença estava já

estabelecida. Devido também a esse fato, no estado do Paraná conseguimos

localizar um número bem mais expressivo de cidades que apresentam a

devoção, neste estado já localizamos cerca de 35 cidades, cidades como Ponta

Grossa, Antônio Olinto, Campo do Tenente, Campo do Mourão, Faxinal, Lapa,

Mallet, entre tantas outras localidades.

Como exemplo de materialização da devoção ao monge neste estado

destacamos que na cidade de Ponta Grossa encontramos uma matéria de um

jornal local sobre o olho d’água São João Maria, onde supostamente o santo

popular teria aparecido pela primeira vez na cidade, trazemos a imagem da

matéria do jornal Gazeta do Povo, publicada em 25 de maio de 2012 por Derek

Kubaski3.

Imagem 2 – Foto disponibilizada pelo jornal local, onde o mesmo mostra

a utilização deste local de memória pelos moradores da cidade e região.

Pesquisando as devoções no estado de Santa Catarina, conseguimos

encontrar de forma mais expressiva ainda a presença do monge em diferentes

cidades espalhadas pelo território do estado, entretanto conseguimos perceber

que a maior concentração de locais de memória ou lendas sobre o eremita se

encontra na antiga região contestada e por consequência no espaço geográfico

3 KUBASKI, Derek. Os monges “Joões Marias” de um Paraná caboclo. Especial para a Gazeta

do Povo, 26/05/2012. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/os-monges-jooes-marias-de-um-parana-caboclo-2sqqvmcy0cwmigb0dl9z6fdce Acesso em: 29/06/2016

em que a Guerra do Contestado se desenrolou. Outro fator que pode ser

determinante para entendermos a grande presença e a facilidade de se

encontrar esses locais de fé em Santa Catarina pode estar ligada as políticas

públicas e algumas ações feitas pelo governo estadual catarinense nas gestões

de Esperidião Amim de tornar os locais ligados ao monge ou a guerra do

contestado como pontos turísticos. Em Santa Catarina encontramos até o

momento as cidades de Otacílio Costa, Água Doce, Taguaruçu, Piratuba, Ponte

Alta, Calmon, Matos Costa, Timbó Grande, entre tantas outras. Também com

exemplo de uma das materializações geradas pela fé ao santo popular na região,

tendo acontecido uma cavalgada que passou por diversas cidades e reuniu uma

grande quantidade de participantes4.

Imagem 3 – Foto disponível na matéria do jornal Correio do Norte sobre o

evento que ocorreu nas cidades de Canoinha, Major Vieira e tantas outras.

Considerações Finais

4 Disponível em:http://www.adjorisc.com.br/jornais/correiodonorte/editorias/entretenimento/4-

cavalgada-de-s-o-jo-o-maria-roteiro-passara-por-seis-municipios-1.1082208#.VP97InzF_xQ. Acesso em: 29/06/2016

É importante destacar que o objetivo do projeto não se delimita apenas

em demonstrar em quais cidades existem a crença no Monge João Maria, mas

também gerar uma análise acerca das referências encontradas na internet,

lidando com muita cautela e atenção, possibilitando uma reflexão de como e por

qual motivo tais locais se fazem importantes para os moradores das regiões

destacadas, vinculando esses locais – grutas, olhos d’agua, cruzeiros, etc. – ao

imaginário da população, tratando-os como locais de memória.

A partir dos avanços e resultados alcançados, o projeto tem o intuito de

publicar trabalhos que abordem a problemática entorno da questão de memória

e identidade dos devotos ao Monge, bem como o mapeamento dos locais de

memória para enfatizar a sua contribuição na produção e divulgação de

patrimônios culturais imateriais, abrangendo não somente os sujeitos que o

cultuam, mas também difundindo e expandindo esta fé para novas gerações.

Os progressos alcançados ao decorrer da pesquisa serão divulgados em

eventos, publicações e até mesmo no site citado anteriormente. Site este, no

qual se pretende destinar uma área para expor um mapa que contemple toda a

região destacada, bem como vincular informações acerca dos avanços da

pesquisa, informando e localizando de uma forma eficaz e concisa todos os

espaços de fé.

Bibliografia:

4º Cavalgada de São João Maria: Roteiro passará por seis municípios.

Disponível em:

http://www.adjorisc.com.br/jornais/correiodonorte/editorias/entretenimento/4-

cavalgada-de-s-o-jo-o-maria-roteiro-passara-por-seis-municipios-

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