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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS/MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia – Licenciatura RAFAELA DO ROSÁRIO DAVI MEMÓRIAS DA EVOLUÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE ALFENAS- MG, ENTRE 1874 E 1952 Alfenas/MG 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS/MGInstituto de Ciências da NaturezaCurso de Geografia – Licenciatura

RAFAELA DO ROSÁRIO DAVI

MEMÓRIAS DA EVOLUÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE ALFENAS- MG, ENTRE 1874 E 1952

Alfenas/MG

2017

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Trabalho de conclusão de cursoapresentado como parte dos requisitospara obtenção do grau de bachareladoem Geografia pela UniversidadeFederal de Alfenas.Orientador: Dr. Gil Carlos Silveira Porto.

RAFAELA DO ROSÁRIO DAVI

MEMÓRIAS DA EVOLUÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE ALFENAS-

MG, ENTRE 1874 E 1952

Alfenas/MG

2017

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A Banca examinadora abaixo-assinadaaprova o Trabalho de Conclusão deCurso apresentado como parte dosrequisitos para obtenção do título deLicenciado em Geografia pelaUniversidade Federal de Alfenas. Áreade concentração: Geografia Histórica.

RAFAELA DO ROSÁRIO DAVI

MEMÓRIAS DA EVOLUÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE ALFENAS-MG,

ENTRE 1874 E 1952

Aprovada em 13 de dezembro de 2017.

Prof. Gil Carlos Silveira Porto Instituição: UNIFAL Assinatura:

Prof. Evânio dos Santos Branquinho

Instituição: UNIFAL Assinatura:

Prof. Flamarion Dutra Alves

Instituição: UNIFAL Assinatura:

Alfenas/MG

2017

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de conclusão de curso a minha vó, Maria do Rosário Cordeiro,

de 78 anos, nascida no município de Campo do Meio- MG, e atualmente residente

do município de Alfenas. Minha vó sempre foi um exemplo de mulher para mim, pois

com toda sua simplicidade, ela se revela uma mulher forte. É uma mulher que foi

impossibilitada de ter acesso à educação, mas incentiva à todos da família a buscar

o conhecimento.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter sido meu conforto perante os momentos difíceis, e por ter

me ajudado a não desistir dos meus objetivos.

Agradeço pelo apoio da minha família, pelo incentivo a busca de meus sonhos.

A Universidade Federal de Alfenas, por ter me recebido bem no Curso de Geografia.

Ao professor Gil Carlos Silveira Porto, por ter me orientado e ajudado a trilhar o

caminho da sabedoria geográfica.

Ao professor Mário Danieli Neto, por me supervisionar nas pesquisas de estágio.

A todos os professores do curso, que contribuíram para minha formação.

A todos os amigos que permaneceram mesmo nos momentos difíceis.

E a todos os funcionários que fazem o seu melhor para nós alunos do Instituto de

Ciências da Natureza, e do Museu Histórico da Unifal.

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RESUMO

Em fins do século XIX e início do século XX, ocorreram mudanças estruturais e

sociais em diversas localidades brasileiras, principalmente onde as ferrovias haviam

chegado, uma dessas localidades foi a cidade de Alfenas. Esta pesquisa teve como

principal objetivo compreender através dos relatos de moradores antigos, o processo

de evolução socioespacial da cidade de Alfenas a partir da malha ferroviária no sul

de Minas, também analisar o processo de expansão da cafeicultura que foi uma das

principais fontes de dinamização econômica do município em fins do século XIX e

começo do século XX. Na metodologia foram consultados documentos antigos

disponibilizados pela prefeitura da cidade ao museu da Unifal, artigos, livros, sites,

biblioteca municipal, e também foram realizadas entrevistas com moradores antigos

que possuíam muitas lembranças que ajudaram a recuperar a memória da pretérita

cidade.

Palavras-chave: evolução urbana; ferrovia; cafeicultura; geografia histórica.

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ABSTRACT

In the late XIX and early XX century, there were structural and social changes in

several Brazilian locations, especially where the railroads had arrived, one of these

locations was the city of Alfenas. This research had as main objective to understand

through the reports of ancient residents, the process of socio-spatial evolution of the

city of Alfenas from the railway network in the south of Minas, and to analyze the

expansion of coffee production, which was one of the main sources of economic

dynamization of the municipality in the late XIX century beginning of the XX century.

In the methodology, the old documents made available by the city hall to the Unifal

museum, articles, books, websites, a municipal library were consulted, as well as

interviews with ancient residents who had many memories that helped to recover the

memory of the past city.

Keywords: urban evolution; railroad; coffee cultivation; historical geography.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização dos bairros estudados…………....…...………. 6

Figura 2 - Localização do município de Alfenas..……………….…… . 20

Figura 3 - Linha Tronco e Ramal da Campanha da Estrada de Ferro

Muzambinho………….………………………………………………………….. 30

Figura 4 - Estação ferroviária de Alfenas, 1932.………………………. 31

Figura 5 - Prédio da estação ferroviária de Alfenas………………….… 31

Figura 6 - Igrejas católicas de Alfenas em 1950……………………….. 36

Figura 7 - Igreja Matriz de São José e Dores em 1916……………. .. 37

Figura 8 - Atual Igreja Matriz de São José e Dores..…………………… 37

Figura 9 - Atual Igreja ou capela de Santos Reis………………………… 39

Figura 10 - Grupo Escolar Minas Gerais..………………………..…….….. 44

Figura 11 - Atual localização do antigo Grupo Escolar Minas Gerais…. 44

Figura 12 - Expansão urbana de Alfenas………………………………… .48

Figura 13 - Vista de Alfenas em 1950………………………………….…. 49

Figura 14 - Casa antiga reformada em 2017……………………………. 52

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………….… 1

2 CONTEXTO TEMPORAL, OBJETIVOS E PROCESSO METODOLÓGICO DA

PESQUISA………...…………………………………………………………….……… 3

3 REFERÊNCIAS TEÓRICAS PARA A PESQUISA………………………….…… 7

4 ASPECTOS DA GEOGRAFIA HISTÓRICA DO BRASIL……………….…….. 12

4.1 Aspectos da ocupação territorial de Minas Gerais...…………………….…. 14

4.2 Aspectos da ocupação territorial do Sul de Minas……....……………….… 16

5 ORIGEM DAS CIDADES…………………………………………………………… 18

6 HISTÓRICO DE ALFENAS………………………………………………………… 19

6.1 Agentes econômicos……………………………………..……………………. 22

6.2 Papel das ferrovias……………………………………………………………. 27

7 A PARTICIPAÇÃO DAS IGREJAS,DAS ESCOLAS E DOS HOSPITAIS NA

EVOLUÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE…………………………………….. 34

7.1 As igrejas…...……………………….……………….………………………. 34

7.2 A contribuição das escolas…………..………………...……………….…. . 41

7.3 O papel da Santa Casa……………….……………………………….……. 47

8 ASPECTOS DA INFRAESTRUTURA DA CIDADE NO PERÍODO E

PERMANÊNCIA DE CONSTRUÇÕES ANTIGAS……………………...…….….. 47

8.1 Edificações antigas……………………...…….………………………….…… .51

9 CONCLUSÃO………………………………………………………………..…….. 52

REFERÊNCIAS………………………………………………………………..……. 54

APENDICE…………………………………………………………………………… 59

ANEXOS……………………………………………………………………………… 60

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1 INTRODUÇÃO

A formação de uma cidade se dá pela atuação e interação de diferentes

agentes. Suas características históricas vão interferir no rumo pelo qual uma

determinada localidade irá tomar e as formas de uso de seu espaço, que vão desde

a função da moradia, ao desenvolvimento de atividades econômicas, que são

distintas daquelas realizadas no campo. Na medida que as cidades foram

crescendo, e a sociedade se urbanizando, o campo passou a ser o fornecedor de

alimentos para a população da cidade, e a cidade passou a ser o local de compra e

vendas de mercadorias, de serviços de saúde e educação, dentre outros. Essa

evolução esteve presente na formação da cidade de Alfenas.

O núcleo inicial da cidade de Alfenas se formou por volta de 1805, com a

fixação de seus primeiros habitantes. Um marco desse processo foi a doação de um

terreno por Francisco Siqueira de Araújo e sua mulher para a construção da Capela

de Nossa Senhora das Dores e São José. A partir daí começou-se a surgir um

povoamento no entorno da referida capela, chegando a formar mais tarde uma vila.

Adiante, em 15 de outubro de 1869 a vila se eleva à categoria de cidade, com o

nome de Formosa de Alfenas, que em 23 de setembro de 1871, foi simplificado para

Alfenas (ATLAS HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MUNICÍPIO DE ALFENAS,

2002).

Atualmente, o município de Alfenas se localiza na mesorregião do Sul-

Sudoeste Mineiro. O município faz divisa com os municípios “ao Norte - Alterosa,

Carmo do Rio Claro Campos Gerais e Campo do Meio; a Leste -Paraguaçu e Fama;

ao Sul - Machado e Serrania e a Oeste - Divisa Nova e Areado” (Leitura técnica do

plano diretor, 2006).

De acordo com o censo de 2010 sua população total é de 73.774 hab, sendo

que 69.176 hab. residem na sede municipal e 4.598 no campo.

Alfenas está a 840 m acima do nível do mar, nas coordenadas geográficas 21°25’’44’

latitude sul e 45°56’’49’´W , possui uma densidade demográfica de 86,75 hab/km² e

73.774 habitantes (IBGE, 2010)

O presente estudo discorre sobre a memória da evolução socioespacial da

cidade de Alfenas entre 1874 e 1952, considerando o papel dos agentes formadores

dessa cidade no período proposto, a partir de sua área central e dos bairros

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Aparecida, Santos Reis, Chapada e São Vicente. Esses bairros estão representados

na figura 1, que aparece mais adiante (p. 5). Como resultado desse processo, o

espaço urbano da cidade em questão foi construído de maneira fragmentada,

também apresentando desigualdades sociais, econômicas vistas até os dias de hoje.

Para entender como se deu sua formação, recorreu-se à Geografia Histórica.

Através da pesquisa na Geografia Histórica foi possível a recuperação de

memórias individuais e coletivas através da consulta de documentos antigos e de

relatos de moradores idosos da cidade de Alfenas.

Como resultado da pesquisa, identificou-se que a expansão de Alfenas a

partir dos bairros se deu à medida que foram surgindo os principais agentes que

atuaram nesse processo: as igrejas, as escolas, as atividades comercias em

diferentes áreas da cidade e a população. Assim, buscou-se recuperar a memória da

cidade de Alfenas, através dos principais agentes modificadores e atuantes no

espaço dessa cidade sul-mineira.

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2 CONTEXTO TEMPORAL, OBJETIVOS E PERCURSO METODOLÓGICO DA

PESQUISA

Sabe-se que na perspectiva da Geografia Histórica há necessidade de se lançar o

olhar geográfico sobre o que aconteceu em determinado período, observando o

fenômeno que modificou o espaço e a sociedade tanto no início desse período,

como no seu fim. Escolheu-se estudar Alfenas entre 1874 e 1952, porque neste

intervalo de tempo se deu o início da construção da primeira ferrovia que chegaria

ao sul mineiro. De acordo com Sá (1874), apud Castilho (2012),

No ano de 1874 o governo da Província de Minas expediu a Lei nº 2.062, de4 de outubro do mesmo ano, autorizando-o a contratar a construção de umaestrada de ferro que, partindo de Cruzeiro, na província paulista, se dirigisseà confluência dos rios Verde e Sapucaí. Dessa autorização originou-se aEstrada de Ferro Rio Verde, cuja concessão foi dada pelo governo Imperial,em 1875, ao Brigadeiro Couto de Magalhães e a Irineu Evangelista deSouza, o Visconde de Mauá.

O fim do período analisado corresponde ao princípio de decadência dos

trilhos, no começo da década de 1950. De acordo com Porto (2016), no início do

século XX, com os atrasos em trabalhos nas ferrovias, na construção de novos

trechos e na obsolescência de bitolas, a população estava insatisfeita com as

ferrovias. Logo algumas corporações internacionais dos Estados Unidos que

trabalhavam com aço, borracha e petróleo influenciam o Estado brasileiro na

substituição das ferrovias pelas rodovias. Relatos e imagens da cidade de Alfenas,

comprovam que antes de 1950 já havia a presença carros pela cidade, alguns eram

de passeio, outros de taxistas. O autor ainda relata que, apenas em 1959 é

construída inaugurada a Rodovia Fernão Dias, que passaria a substituir

paulatinamente o uso da ferrovia que passava pelas proximidades da cidade de

Alfenas.

Logo, o período de 1874 à 1952 foi de grandes transformações na cidade de

Alfenas e no Sul de Minas, desencadeadas pelo maior envolvimento na cultura

cafeeira, expansão de outras localidades através do movimento populacional

(principalmente após a abolição da escravatura em 1888), e criação de comércios.

Um fato importante que aconteceu no período que estudamos foi a

Proclamação da República, que ocorreu em 15 de novembro de 1889. A partir dela

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estabeleceu-se um novo sistema de governar, que contribuiu para a modernização

do Estado brasileiro em formação. Esse fato possibilitou a criação de novas

localidades e oferta/ampliação de muitos serviços de saúde, educação,

infraestrutura, dentre outros.

De 1889 a 1930 ocorreu a denominada República Velha, no qual o poder

político e econômico estava nas mãos das oligarquias paulista e mineira. Cabe

informar que em 1891 passa-se a existir o voto aberto, o presidencialismo se instala,

porém, as mulheres e analfabetos eram excluídos do direito ao voto. Em relação à

economia, nesse período o café era o principal produto de exportação.

Em 1930 Getúlio Vargas chega à presidência através de um golpe de estado,

ficando no poder entre 1930 a 1945; nesse período o governo fez grandes

mudanças, como a criação da Justiça do Trabalho (1939), instituição do salário-

mínimo, a Consolidação das Leis do Trabalho, investiu na área de infraestrutura,

como na criação da Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Vale do Rio Doce

(1942), e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945). Nesse período também foi

criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1936, com fim de

coletar dados populacionais, econômicos visando, dentre outros aspectos, avançar

no planejamento das cidades, municípios e das regiões brasileiras.

Todos os acontecimentos mencionados anteriormente marcam o período por

nós estudado, e em certa medida condicionaram a expansão socioespacial da

cidade de Alfenas.

O objetivo central da pesquisa que resultou neste trabalho de conclusão de

curso foi compreender a memória da evolução espacial e socioeconômica da cidade

de Alfenas no período ferroviário (1874-1952) e os objetivos específicos foram: a)

Descrever aspectos da formação territorial de Minas Gerais e do Sul de Minas; b)

Analisar o papel da ferrovia e da cafeicultura na dinâmica econômica de Alfenas no

período em foco; c) Relacionar as mudanças espaciais ocorridas na cidade a partir

dos agentes modeladores do espaço (igreja, comerciantes, população residente e

estado, etc); e d) Resgatar a geo-história da formação de bairros da cidade a partir

da memória de seus moradores.

Para a realização da pesquisa foram consultados os Relatórios dos

Presidentes da Província de Minas Gerais de 1874 à 1930, disponibilizados no site:

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http://www- apps.crl.edu/brazil/provincial/minas_gerais . Estes documentos continham

informações sobre a população, a economia, as escolas, a saúde e sobre a

sociedade mineira do período. Foram lidos livros, artigos e também foram analisados

documentos antigos da cidade que se encontram no acervo do curso de História,

disponível para consulta no Museu da Unifal, situado no antigo prédio da Escola de

Farmácia e Odontologia (Efoa), atual Universidade Federal de Alfenas (Unifal). O

guia que nos auxiliou na busca dessas informações foi “Fontes para estudo da

história de Alfenas. A documentação manuscrita do executivo e do legislativo

municipais 1860- 1982”, de Alysson Eugênio, professor do curso de História da

Unifal e coordenador do acervo; esse livro é dividido por tópicos, como Prefeitura,

educação, saúde, etc.

Também foi de fundamental importância a realização de entrevistas, mas

antes da realização das entrevistas, foi perguntado à moradores antigos quais eram

os bairros mais velhos, e eles disseram que era o Centro, Aparecida, Santos Reis,

Chapada e São Vicente. Por isso foram realizadas entrevistas nos bairros

mencionados acima com os moradores idosos. Foram realizadas 25 entrevistas

parcialmente estruturadas, ou seja, onde além de perguntas o entrevistador pode

explorar pontos importantes dos relatos dos moradores ao longo da entrevista.

Foram realizadas 5 (cinco) entrevistas em cada bairro. Buscou-se entrevistar

moradores com mais de 67, pois os com menos dessa idade não teriam lembranças

do período de 1874 a 1952.

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Figura 1- Localização dos bairros estudados.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi.

Assim como em muitas pesquisas geo-históricas no Brasil, procura-se nesse

trabalho compreender o processo de expansão do município de Alfenas através da

evolução dos agentes modeladores do espaço, enfocando a participação das

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ferrovias na dinâmica econômica, analisar as mudanças espaciais através da

cafeicultura, compreender a evolução funcional da cidade no período, analisar a

evolução social e demográfica no período proposto.

Acima de tudo, o objetivo é resgatar a memória de um período pretérito, e

para isso os geógrafos históricos, se recorrem aos estudos sobre as memórias de

uma cidade.

3 REFERÊNCIAS TEÓRICAS PARA A PESQUISA.

Muitas pessoas pensam na definição do que é uma cidade, e qual a sua

função, e várias são as respostas dadas em senso comum. Muitos autores,

consideram a cidade como um local onde as pessoas moram, produzem e

consomem suas mercadorias, é também o espaço de vivência formada por diversos

povos que os apropriam de riquezas, trabalham e realizam outras atividades da vida

cotidiana como estudar, lazer, consumo, etc.

Existem vários tipos de cidades, de diferentes formas e tamanhos, com

contextos geo-históricos diferentes; essa variação se dá por processos naturais ou

influenciados, que impulsionaram sua formação. Por exemplo, o surgimento natural

de uma cidade, pode ocorrer quando uma família se instala numa área rural que

logo vai sendo povoada até alcançar o status de cidade. Já o surgimento

influenciado, é quando se tem um projeto por trás do surgimento da cidade, como

por exemplo, a instalação de uma ferrovia na região pode favorecer o surgimento de

povoados, que mais tarde podem virar uma cidade.

Para Ana Fani A. Carlos (1992, p.26), a cidade é uma materialidade, o

resultado do trabalho da população, da divisão do trabalho e também social, “ é

materialização de relações da história de homens, normatizada por ideologias; é

forma de pensar, sentir, consumir; é modo de vida, de uma vida contraditória”.

Grande número de cidades possui diferentes espaços, área residencial, do

comércio e indústrias. Na primeira é onde as pessoas se fixam em termos de

moradia e muitas vezes realizam atividades como fazer compras no comércio do

bairro, sem que seja preciso se deslocar até o centro da cidade. Na área comercial,

fica localizado o centro da cidade, e é nele onde se concentra vários

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estabelecimentos comerciais e atividades para atender aos moradores da cidade,

como exemplo, loja de roupas, supermercados, móveis, comércio informal, entre

outros. Já na área industrial se situam as indústrias, sejam elas de pequeno a

grande porte; elas geram empregos e lucro e influenciam na dinâmica da cidade

(CARVALHO & CÉSAR, 2010).

A cidade atual é formada pela junção de diferentes usos do solo. Nela se

desenvolvem atividades comerciais variadas e outras relacionadas ao lazer, aos

serviços e às demandas dos grupos que nela residem. Os agentes sociais

contemporâneos que participam de sua produção são os proprietários dos meios de

produção (incluindo os grandes industriais), os proprietários fundiários, os

promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos (CORRÊA, 1995).

Os grandes proprietários industriais possuem atividades que demandam

terrenos amplos e baratos, e ainda necessitam de boa localização e acessibilidade

(como acesso a vias férreas, portos, etc.). Já os proprietários de terras se

interessam pelo valor de troca da terra, e através de suas propriedades procuram

obter altas rendas fundiárias. Quanto aos promotores imobiliários, esses produzem

habitações diferenciadas e inovadoras, excluindo as camadas populares. O Estado

possui uma ação complexa, pois ele utiliza de alguns instrumentos para realizar

algumas atividades complicadas como a desapropriação do solo, o controle do preço

das terras, dentre outros. Por fim, se situam os grupos sociais excluídos, compostos

por pessoas que não possuem dinheiro para ter um imóvel e nem pagar aluguel; a

maioria destas pessoas ficam em cortiços, favelas (IDEM, 1995), esses últimos

situados normalmente nas áreas periféricas das cidades. Diante da consideração

feita acima, questiona-se: Quais agentes atuavam na formação das cidades no

passado? Como a Geografia Histórica pode contribuir com esse tipo de fenômeno?

A Geografia é uma disciplina que teve seu desenvolvimento teórico através

dos seus diversos ramos, como aos estudos urbanos, regionais, econômicos, etc. E

a geografia além de tratar sobre o conhecimento espacial, trata também de questões

temporais, ou seja, da relação entre tempo e espaço (ERTHAL, 2003).

A organização atual do espaço reflete dois movimentos inter-relacionados: a

dinâmica atual da sociedade e a materialização de processos ocorridos no passado.

Nesse sentido, a atual configuração espacial da cidade de Alfenas e sua dinâmica

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interna reflete a atuação de muitos agentes históricos e a dinâmica atual e passada

do capitalismo. Para se compreender a evolução da cidade no período estudado, foi

preciso recorrer á Geografia Histórica, que é um campo da Geografia que trata das

questões espaço-temporais.

A Geografia Histórica é um dos ramos mais importantes da geografia. Ela

busca recuperar espacialidades pretéritas que marcam os espaços atuais, e para

isso ela se preocupa em utilizar metodologias apropriadas, utilizando a categoria

tempo. A Geografia Histórica chegou a ser marginalizada por muitos geógrafos que

até chegaram a considerá-la como um campo da Antropologia, mas depois de um

tempo seus pesquisadores passaram a revalorizá-la (ERTHAL, 2003).

Em relação ás pesquisas da Geografia Histórica, Carneiro (2011, p.2) ressalta

que o “geógrafo histórico deve se preocupar com o estudo das mudanças no

espaço e no tempo, além de investigar como e por que algumas das expressões

pretéritas persistem no presente”. Os geógrafos históricos hoje, buscam

compreender as transformações e as modificações da terra, e tem abandonado a

predileção anterior para o determinismo ambiental (WILLIANS, 1994, apud

CARNEIRO, 2011).

No que se refere aos agentes que produziram a cidade no passado,

Vasconcelos (2000) acredita que os principais agentes modeladores ou sujeitos que

contribuíram para a formação das cidades naquela época foram: a Igreja, as ordens

leigas, o Estado, os agentes econômicos, a população e os movimentos sociais.

No período colonial a Igreja fazia um acordo entre o Papado e a Coroa

Portuguesa. Ela ficava responsável pelo recebimento do dízimo, e manutenção das

despesas da Igreja no Brasil. O Bispado (ou Arcebispado) realizava a escolha das

matrizes e catedrais, delimitando áreas territoriais, e essas divisões logo serviriam

para se definir as freguesias que influenciariam as consequentes divisões

administrativas da cidade. Assim, a igreja tinha uma importante função social, tanto

nas questões de socialização como na parte de fazer registros civis.

Já os homens do Clero Regular, viviam em comunidades e obedeciam a

ordens religiosas; eram missionários e tinham o papel de ensinar também.

Recebiam bens de fiéis de posses, como dinheiro, terras, casas, fazendas,

escravos, engenhos e gados (IDEM, 2000). Os conventos também serviriam de

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hospedaria no início da colonização, mas também eram lugares que serviam de

depósito de dinheiro e valores (OTT, 1955 apud Vasconcelos, 2000).

Outro fator importante que atuava na dinâmica e formação das cidades no

passado eram as ordens leigas, que apesar de muitos estarem ligados a igreja,

eram independentes. Eram compostas por leigos, homens e mulheres, e tinham

como objetivos a ajuda mútua.

As Ordens Terceiras também eram importantes, e exigiam o pagamento dejóias de entrada, o que impedia o acesso de candidatos de poucas posses.Um membro de uma terceira podia se beneficiar de seus serviços emqualquer local do império português onde existisse a mesma ordem(MARTINEZ, 1979 apud VASCONCELOS, 2000).

O Estado tinha o papel complexo de apoio às atividades econômicas, de

manter os funcionários, o clero e de realizar obras e controlar as tropas. As Câmaras

conduziam os negócios das cidades. O Estado controlava e intervinha nas

atividades produtivas. Sempre contava com a ajuda da população, tanto para pagar

impostos, quanto para as obras, como as fortificações (VASCONCELOS, 2000).

Sobre os grupos sociais excluídos, há poucos registros da participação dos

mais pobres, como escravos e de despossuídos em geral. Por exemplo, sabe-se

que em muitos momentos esses grupos desencadeavam movimentos

reivindicatórios na Colônia e no Império, como a Revolta de Canudos entre 1896 a

1897, na comunidade de Canudos, localizada no interior do estado da Bahia. Esse

foi um confronto de fundo sócio-religioso da população menos favorecida contra o

Exército da República, agravado pela crise econômica e social daquela região.

Uma das formas de se reconstruir a geografia do passado dos lugares e das

cidades é resgatar, por meio da memória individual e coletiva de uma determinada

sociedade, fatos e situações ocorridos em determinados momentos pretéritos. Para

valorizar o passado também pode se observar o que restou dele na paisagem, ou

através das instituições de memória que incluem bibliotecas, museus, arquivos, etc.

(NORA, 1984, apud ABREU, 1998).

No final do milênio passado, buscava-se valorizar as cidades, e no Brasil, isso

era algo inédito, pois ocorriam mudanças sociais significantes. Antes vivíamos um

período onde era de suma importância retratar e se preocupar com coisas novas, e

pouco se investigava heranças de tempos pretéritos; mas desde o final do século XX

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no Brasil, tem surgido muitos projetos que trataram de restaurar, revalorizar e

preservar traços do que já aconteceu, e essa ideia vem do pensamento e

“necessidade de preservar a memória urbana” (ABREU, 1998, p.5). De acordo com

Duvignaud, 1990 (apud IDEM, p.7) “nos momentos de ruptura da continuidade

histórica que as atenções tendem a se direcionar mais para a memória”. Seus

estudos foram feitos para entender o Período da Primeira Guerra Mundial, mas

atualmente outros autores estudam outros acontecimentos também mais específicos

de uma região que podem influenciar na busca da memória das cidades. Nesse

sentido, pode se afirmar que a chegada da ferrovia em Alfenas, bem como seu

declínio, marcou o imaginário coletivo da sociedade, sobretudo no momento final do

período que se estudou, ou seja, na década de 1950.

O passado se materializa na paisagem, na cultura, nos lugares e nas instituições de

memórias. É difícil de se encontrar materiais das antigas cidades brasileiras, porém,

hoje em dia, várias cidades vêm buscando preservar o que resta do passado,

mostrando que a população tem se preocupado com as memórias. No Brasil, com

vistas a modernidade no século XIX buscava-se esquecer o passado, como por

exemplo, a abolição da escravidão e seus resultados; assim, buscava-se através

das ideias de conquistar as terras vazias, difundir a crença num futuro melhor,

negando o passado. Um bom exemplo dessa negação, foram as reformas

urbanísticas, ocorridas, sobretudo, na primeira metade do século XX, que fizeram

com que várias cidades fossem modificadas (ABREU, 1998).

Hoje em dia se busca revalorizar, preservar, restaurar e recuperar

monumentos e casas antigas, embora tem sido difícil o incentivo para tombar os

patrimônios. A memória urbana é algo que permite que a cidade tenha sua

identidade preservada; a memória de uma cidade ou lugar é uma memória coletiva.

A memória está relacionada ao armazenamento e conservação de informação. Já o

lugar é então considerado o locus do coletivo do intersubjetivo (IDEM, 1998).

Assim a memória individual, ajuda na memória das cidades, através dos

registros e lembranças de momentos que já se passaram, assim tem tido bastantes

histórias orais de pessoas mais velhas no Brasil. A memória coletiva pode ser

considerada como “um conjunto de lembranças construídas socialmente e

referenciadas a um conjunto que transcende o indivíduo” (HALBWACHS, 1990, p.12,

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apud ABREU, 1998). Desse modo, a memória coletiva está relacionada a um espaço

que foi compartilhado por algumas pessoas em um mesmo tempo, seja o local de

trabalho, a residência familiar, etc. Ela também pode se transformar, pois as pessoas

antigas podem desaparecer.

Por fim, Abreu (1990) relata que os escritos de Halbwachs (1990) mostra a

importância da memória compartilhada; menciona também que as memórias

coletivas estão sempre se transformando, e que os momentos de ruptura podem

trazer a preocupação com as memórias de coletividade. E é nesse momento de

transição do período em estudo 1874-1952, do século XIX para o XX que buscou-se

recuperar a memória da cidade de Alfenas, através dos principais agentes

modificadores e atuantes na produção da cidade de Alfenas.

4 ASPECTOS DA GEOGRAFIA HISTÓRICA DO BRASIL

Em 22 de abril de 1500 Pedro Álvares Cabral e sua tripulação chega nas

atuais terras brasileiras. Somente a partir de 1530 começa-se a colonizar essas

terras, pois antes desse ano, algumas expedições portuguesas vieram para

conhecer melhor o território, e instalar feitorias para a exploração de pau-brasil.

Primeiramente os portugueses se deslocavam apenas pelo litoral, não se fixavam no

território, ficavam alguns dias ou meses nessas terras e logo retornavam para

Portugal.

Nessa fase os lusitanos tiveram os primeiros contatos com os indígenas que

habitavam essas terras, e que passaram a ser explorados por aqueles. Muitas

vezes, em troca davam aos nativos objetos simples que eles nunca haviam visto,

como espelhos, apitos, etc.

Martim Afonso de Souza a mando do rei de Portugal, Dom João III, veio com

sua expedição ao Brasil com o objetivo de colonizar, pois o rei estava com medo do

território encontrado ser invadido por franceses, holandeses e por homens de outros

países.

Durante a colonização desenvolveram-se atividades econômicas na colônia,

com o objetivo de enviar produtos à metrópole. Dentre os itens de maior produção

destacam-se o pau-brasil, o tabaco e a cana-de-açúcar. No final do século XVIII as

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terras brasileiras passam a mandar para Portugal o ouro extraído na região das

atuais cidades de Ouro Preto, Mariana, São João del Rei e Tiradentes.

A colonização brasileira, foi diferente de outras partes do mundo, Caio Prado

Júnior (2008) relata que houve uma diferença na colonização de áreas tropicais e de

áreas temperadas. Nestas o povoamento se deu como uma forma de escoar o

excesso de pessoas da Europa, onde seria formada uma sociedade semelhante ao

país de origem. Já nas áreas tropicais, seria formada uma sociedade de

característica mercantil, onde o colono branco aproveitaria dos recursos, e recrutaria

indígenas e negros africanos para o trabalho.

No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dostrópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completaque a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela , destinadaa explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito docomércio europeu ( PRADO JÚNIOR, 2008, p.29).

A expansão do povoamento pelo interior do país se deu pelo bandeirismo,

que explorou as terras e buscou pedras preciosas e metais, e no norte do país, as

missões católicas, e ainda leigos que buscaram explorar produtos naturais na

floresta amazônica. Os principais fatores que impulsionaram o povoamento no

interior do Brasil colônia foram a mineração e as fazendas de gado (IDEM, 2008).

Andrade (2004, apud PORTO, 2014, p.53), relata que o início do povoamento

no Brasil, a formação de vilas e cidades se deu desde o século XVI, com a criação

do sistema de Capitanias Hereditárias “que inaugurou a exploração sistemática da

nova Colônia, estimulando os donatários a iniciar o povoamento em cada um de

seus lotes”.

De início as localidades se encontravam no litoral, depois surgiram outras no

interior do país no território da Coroa Portuguesa. Para a apropriação e uso de terras

na América a coroa Portuguesa levou em consideração, características físicas como

a localização e a presença de rios. Dentre as cidades litorâneas, cabe citar Salvador

(primeira capital do Brasil, fundada em 1549), e outras cidades como Rio de Janeiro,

Vitória, Recife, Belém, dentre outras.

No Brasil, os aspectos naturais como a presença de água e outros fatores

foram importantes no processo de povoamento do território. A presença de um rio,

de uma baía ou mesmo de uma colina eram observados e definidores da construção

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do local, que depois se tornaria um povoado, uma vila ou cidade. Os principais

incentivos para se povoar as localidades foram as Capitanias Hereditárias, as

missões católicas, o bandeirismo, e a exploração nas minas (PORTO, 2014).

Ainda segundo Porto (2014), as terras da colônia brasileira desde o século

XVI foram divididas objetivando uma boa administração e controle das novas levas

em processo de ocupação..

A capitania era a maior unidade administrativa da colônia, que erasubdividida em unidades judiciárias, as comarcas. Estas subdividiam-se emtermos ou municípios cujas sedes eram vilas ou cidades. Por sua vez, ostermos desagregavam-se em freguesias, divisão eclesiástica, tambémutilizada para fins de gestão do governo (FERREIRA 1999, p.39; PRADOJÚNIOR, 1994,p.306; PAULA,1988,p.56-58 apud PORTO, 2014, p.68).

4.1 Aspectos da ocupação territorial de Minas Gerais

No século XVIII, houve uma “explosão demográfica” após a descoberta de

ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás; nesses núcleos se concentraram

grande número de pessoas. Esse incremento populacional resultou da migração de

grupos de pessoas de origem diversificada, mas sobretudo vindos da Bahia,

Pernambuco e demais estados do Nordeste.

Até o século XVI, a região de Minas Gerais era ocupada por povos indígenas,

da língua macro-jê. Tempos depois, ainda no século XVI a região começou a ser

desbravada por europeus, que saíam de lugares como São Paulo e Bahia, que

estavam em busca de pedras preciosas, ouro e índios. Assim, a formação das Minas

Gerais se deu a partir de duas frentes migratórias, originárias de São Paulo (pelo

Sul) e da Bahia (pelo Norte).

A Serra do Espinhaço de Minas Gerais, é uma das principais estruturas

geológicas com afloramentos de ouro no Brasil, esse fator influenciou no

povoamento e aglomeração inicial da província de Minas Gerais, onde as principais

foram “as vilas de São João e São José del-Rei (Tiradentes), Vila Rica (Ouro Preto),

a cidade de Mariana, Caeté, Sabará, vila do Príncipe (Serro) e Arraial do Tejuco

(Diamantina, onde como se sabe, exploraram-se os diamantes”(PRADO JÚNIOR,

2008, p.55).

Após o descobrimento de recursos naturais e ouro na província, a Coroa

Portuguesa decidiu fundar uma vila em Minas Gerais em 1711, na cidade de

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Mariana. Logo a população começou a crescer e se espalhar por toda província, e

passaram a aumentar o cultivo agrícola e a criação de gado. Uma cultura que era

muito cultivada e comercializada na província de Minas Gerais era o milho que

muitas vezes além de ser vendido era utilizado para as refeições das famílias.

Muitos o transformavam em farinha e também o utilizavam para alimentação de

animais como galinhas, porcos, etc.

No século seguinte, mais precisamente em 1874 a província já comercializava

o café com o Rio de Janeiro, e já havia problemas e reclamações na regularização

do café. A província sofria prejuízos pela falta inspeção dos dados dos empregados

da Província do Rio, e até chegou a ser considerado de procedência fluminense o

café exportado de Minas (RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS, 1874).

No século XIX, o café avançava para a Serra da Mantiqueira, e no planalto

continuava a criação de gado, produção de milho, fumo, etc. Enquanto algumas

cidades da Mantiqueira e cidades próximas como Pouso Alegre, Itajubá, Poços de

Caldas, Guaxupé e Passos faziam parte da faixa da fronteira com São Paulo se

relacionavam a economia paulistana e ao comércio com o Porto de Santos, outras

áreas do planalto sul-mineiro como Alfenas, Três Corações, Varginha e Campanha,

“até meados do século 20” possuíam relações mais próximas com Rio de Janeiro

(COSENTINO et al, 2012).

Tabela 1- Quantidade de café e nº de rezes exportados na província de Minas

Gerais

Exercícios Quantidade de café em

quilogramas

Número de rezes

1875-1876 30.015.423 72.2301876-1877 39.355.320 69.2301877-1878 39.958.672 66.1281878-1879 60.887.533 87.9241879-1880 42.596.469 89.1861880-1881 80.368.802 76.1861881-1882 52.753.726 70.1731882-1883 84.128.141 100.7551883-1884 53.888.731 145.1381884-1885 87.796.663 127.474

Fonte: Adaptado do relatório do vice-presidente José Antônio Alves de Brito (RELATÓRIO DA

PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS, 1885).

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Como se observa na tabela acima, a província entre 1875 e 1885, aumentava

a quantidade de café exportados até 1879, após esse ano passou a variar o número

de exportação. Esse café era transportado de início no lombo de burros, mulas, e

logo com a maior produtividade, grandes proprietários passaram a investir na

construção de linhas férreas que passaria próxima de suas propriedades e os

ajudaria a transportar mais suas culturas agrícolas e o café.

4.2 Aspectos da ocupação territorial do sul de Minas

No século XVI chegam os primeiros europeus em Minas Gerais, logo no

século seguinte é descoberto o ouro na província, aumentando a população e

formando vilas. mineração entra em decadência, e a agricultura passa a ser

favorecida, e também correntes migratórias se acentuam no decorrer do século

XVIII. Também ocorreram migrações devido a “...decadência da pecuária nos

sertões do Nordeste, assolados pela seca, o florescimento dela no Extremo Sul da

colônia...”. Também vários outros fatores provocaram a redistribuição do

povoamento ( PRADO JÚNIOR, 2008, p.70).

A região do Sul de Minas no século XIX, era conhecida devido a grande

produção agropastoril que abastecia o mercado interno, entre o final do século XVIII

e a primeira metade do século XIX. Já, ao final do século XIX e XX, se destacou

com a produção cafeeira (CASTILHO, 2009).

Na transição do século XIX para o XX, o Sul de Minas passou por grandes

transformações que o fez articular com país com outras regiões do país e com a

economia mundial. Foi um momento de introduzir técnicas novas, reajustar a divisão

trabalhista e manter relações capitalistas; além disso, a região buscava se urbanizar

e crescer as atividades mercantis (COSENTINO et al 2012). É desta época a

implantação do modal ferroviário na região que ampliou as atividades urbanas,

anexando muitas de suas localidades ao centro econômico do país que se

despontava (a cidade de São Paulo, na província de São Paulo).

Do século XIX para o XX, já era possível observar no espaço urbano uma

consciência diferente do rural, e nessa transição muitas cidades viram a construção

de praças, cinemas, teatros. As maiores cidades do país como o Rio de Janeiro já

estavam avançadas no processo de modernização.

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Em relação ao Sul de Minas, Simmel (1987, p.10-11), apud Cosentino et al

(2012) relata que as cidades desta região não tinham um nível de aglomeração que

fosse significativo, pois não chegavam a se comparar com as metrópoles onde

ocorriam vários fenômenos e grandes diversidades.

As maiores cidades no Sul de Minas na transição do século XIX para o XX,

contavam com 30 a 40 mil habitantes, mas ainda tinham o pensamento cotidiano de

cidade pequena (MINAS GERAIS ,1909 apud COSENTINO et al 2012).

Em 1872 o Sul Mineiro já contava com quase 260 mil habitantes, e em 1907

quase 739 mil, em 1920 quase 1 milhão. Essa região abrigou por volta de vinte por

cento da população da província de Minas Gerais e teve dois grandes ciclos

econômicos, que ajudaram no crescimento urbano, sendo a “primeira fase por conta

dos circuitos de abastecimento da Corte, e uma segunda fase, por conta da

expansão econômica cafeeira” (COSENTINO et al 2012, p.11).

Com o crescimento de atividades econômicas (dentre elas a cafeicultura), e

da população surgiram novos municípios entre 1860 e 1880 como, Alfenas, Três

Corações, Varginha e Boa Esperança.

Também houve outros fatores que intervieram no processo de urbanização,

como a lei n º 546, de 27 de setembro de 1910, no qual o Estado emprestava

dinheiro para as cidades fazerem melhorias, assim muitas destas foram estimuladas

a construírem jardins, teatros, hotéis, cafés, e a realizarem melhorias no

abastecimento de água, calçamento, iluminação e transportes.

Na passagem para o século XX, o Brasil vivia sua belle époque, com o fim da

escravidão, o capital urbano, e as condições de produção e circulação de produtos e

força de trabalho, permitiram a dinamização da economia.

O início do século XX revela o crescimento das atividades econômicas, a

introdução de novas técnicas, e consumos modernos. O surgimento das ferrovias,

dos bancos e indústrias na região mostram que o Sul de Minas estava se integrando

ao mercado brasileiro e externo.

No período em estudo, houve mudanças econômicas, sociais e políticas nas

cidades do Sul de Minas, em outras cidades do estado, e até mesmo em outros

estados. Muitas das cidades viram a necessidade de organização política, por isso

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foram criadas prefeituras, fóruns, cadeias, entre outros, para o bom andamento das

cidades.

5 ORIGEM DAS CIDADES.

A expansão urbana ocorre de áreas naturais, ou de áreas que antes eram

utilizadas pela agricultura ou pastagens, e esse espaço passa a ser utilizado para

atividades produtivas ou habitação.

Segundo Matias & Nascimento (2011, p.67) a urbanização está relacionada à

presença de “acumulação e concentração do capital na cidade e reproduz a

aglomeração ao demandar cada vez mais espaço”.

A cidade européia antes da passagem do feudalismo para o capitalismo, já

possuía a divisão do trabalho entre o rural e o urbano. A cidade de início foi fundada

pela necessidade do comércio por mercados na Idade Moderna que depois

expandiram suas rotas de comércio, somente tempos depois com processos

“manufatureiros e industriais, a longa transição para o capitalismo tomaria definitiva

forma, com a internalização da realização da renda por meio do processo produtivo”

(COSENTINO et al 2012 ,p.4).

No Brasil, o surgimento das primeiras vilas e cidades esteve relacionado ao

projeto lusitano de ocupar as terras recém-descobertas. A partir do século XIX

amplia-se a importância dessa porção do espaço, que passou a responder às

demandas da elite econômica do Império.

Antes no mundo rural o camponês era subordinado ao senhor na sociedade

feudal, depois com o crescimento das relações comerciais houve o “nascimento de

uma nova sociedade”, mais modernizada (COSENTINO et al 2012, p. 4).

A sociedade cada vez mais se via na necessidade de consumir, assim

passou-se a depender mais de outras pessoas devido a divisão social do trabalho.

Nessa parte o campo era o fornecedor de mercadorias para as pessoas que

moravam nas cidades.

A cidade só passa a existir com o desenvolvimento de forças produtivas e

através da produção de excedente. As cidades passaram por processo de

urbanização intensa, para as cidades foram pessoas que antes eram das áreas

rurais, eram pessoas dispostas ao trabalho livre. A cidade é um lugar que possui

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diversas atividades, sendo econômicas, sociais e ambientais. E o espaço urbano da

cidade possui diversos usos e é disputado por diferentes pessoas, segundo Singer

(1978).

No século XIX já estava sendo introduzido o Capitalismo Industrial no Brasil, e

este ajudou no surgimento de cidades, pois as pessoas iam para onde elas

encontrassem empregos. Também surge o decreto da Lei de Terras de 1850 que

regulamentou as propriedades privadas em todo o país; a abolição da escravatura, o

surgimento da energia elétrica, das ferrovias, e o surgimento e expansão de

fábricas.

O avanço comercial teve grande participação na formação de cidades, pois

com a oferta de vagas para o trabalho nas lavouras, e depois com o surgimento das

ferrovias, alguns municípios cresceram tanto economicamente quanto em relação ao

número populacional.

Num processo que se acelera ao longo do século XIX, a incorporação dosetor comercial às estruturas nacionais possibilitou que as cidadespassassem de simples portos exportadores à função de centros comerciaisde relevante peso. O mercado interno cresceu, e consequentemente, ovolume de importações e de relações comerciais. O crescimento dascidades foi reforçado com o início da construção das ferrovias nos anos1850 e a mudança paulatina do mundo rural para as cidades. Emergia umnovo grupo social formado pelos fazendeiros e pelos grandes comerciantesde importação e exportação que no meio urbano passariam a diversificarseus investimentos: nascia o grande capital urbano (COSENTINO et al ,2012, p.7)

E com a cidade em estudo, o processo de urbanização não foi diferente. É no

Sul de Minas, que se localiza o município de Alfenas. Situado na mesorregião do

Sudoeste Mineiro e na microrregião de Furnas

6 HISTÓRICO DE ALFENAS

O Alferes Domingos Vieira e Silva nasceu em 1760 em Portugal e

estabeleceu-se em 1781 no Brasil, na Vila de São João Del-Rei. Em 1793, através

do Visconde de Barbacena ele recebe “por documento da carta de Sesmaria uma

concessão requerida por ele mesmo. As terras eram devolutas e foram concedidas

de acordo com as ordens reais de D. Maria I” (Atlas Alfenas, p.22).

Em 25 de setembro de 1793, o Visconde de Barbacena dava posse aoAlferes Domingos Vieira e Silva de 1 légua quadrada de terra desde, queesta fosse demarcada no prazo de 1 ano, povoada e cultivada no prazo de 2

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anos. O documento levado e selado foi registrado no livro do secretário doGoverno da Capitania.O Alferes toma posse das terras e constrói a nova casa de morada, àsmargens do rio Gambá (hoje encoberto pelas águas da Represa de Furnas)(Atlas Alfenas, p.22).

Logo o Alferes com sua segunda esposa e seu filho Domingos se

estabeleceram na região e passaram a cultivar cana, criar gado, porcos e cultivarem

outras culturas.“A sesmaria começava nas margens do Rio Cabo Verde, seguia pelo

Muzambinho, indo da demarcação que se chamou Divisa Nova até à foz do Rio

Cabo Verde” (Atlas Alfenas, p. 22). A figura 2, representa o contexto locacional de

Alfenas no estado de Minas Gerais.

Figura 2- Localização do município de Alfenas.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi (2017).

Antes do surgimento da cidade de Alfenas, já havia moradores dispersos

nas áreas rurais do município. A história da cidade citada é marcada por Domingos

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Vieira e Silva, que no ano de 1799 leva ao Vigário da cidade de Cabo Verde um

pedido para ele construir uma capela no lugar que ele denominou de Pedra Branca.

Logo, o Alferes recebe a autorização para a construção, assim em 1803, ele chama

seus amigos e conhecidos para ajudar na construção da capela, e também decidem

formar um povoado no local. O Alferes doou 200 alqueires para a capela, e esta

doação foi registrada “no primeiro livro aberto, em 1803, pelo Padre Joaquim

Francisco, seu primeiro sacerdote” (Atlas Alfenas, p.23).

Com a construção da igreja ela passa a se chamar Nossa Senhora das Dores

e São José da Pedra Branca, e era filial da Paróquia de Cabo Verde. Em 1805 o

Alferes, doou uma parte de terras que havia perto das nascentes do Ribeirão de

Pedra Branca, e o local passou a se chamar São José e Dores da Pedra Branca.

Além da construção da capela, o Alferes Domingos Vieira e Silva junto de seus

amigos iniciaram os arruamentos, praças e outras edificações.

Em 1832, por resolução de imperador D. Pedro II, foi criada a Paróquia deSão José e Dores de Alfenas, com a denominação de Vila Formosa, econforme lei nº 1611 de 15 de outubro de 1869, lei que eleva à categoria decidade Formosa de Alfenas, sendo em 23 de setembro de 1871 conforme leinº 1791, a carta lei que denomina simplesmente- Cidade de Alfenas , porforça da legislação que proíbe a duplicidade de topônimos (Atlas Alfenas, p23-24).

Sobre o nome “Alfenas” o Atlas Municipal relata que tem origem da expressão

“vamos nos Alfenas”, que era dito pelos povos da região quando se dirigiam a este

povoado onde morava a família Martins Alfenas, os primeiros moradores brancos.

Em 1873, Alfenas foi incorporada à comarca de Três Pontas, e já em 1871 ela é

anexada a comarca de Jacuí. Segundo VEIGA (1874, p 157-158), em 1871, o

município era composto pelos termos ou distritos de:

São Sebastião do Areado (atual município de Areado), Carmo doEscaramuça (atual município de Paraguaçu), Douradinho (hoje distrito domunicípio de Machado), São Francisco de Paula do Machadinho (atualmunicípio de Poço Fundo), Machado, São Joaquim da Serra Negra (atualmunicípio de Alterosa), São João do Barranco Alto e Serrania.

Após a construção da capela central, a população começou a povoar no seu

entorno, e depois que o centro já tinha bastante casas, a população começou a

habitar em outros locais que anos depois viraram bairros. As tabelas 1 e 2 indicam a

evolução populacional de Minas Gerais e o município de Alfenas.

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Tabela 2- Evolução populacional de Minas GeraisMinasGerais 1872 1880 1900 1920 1940 1950

2.039.735

3.181. 099

3.594. 471

5.994. 471

6.786. 416

7.717. 702

Fonte: Relatórios da província de Minas Gerais apud DAVI & PORTO (2016), e IBGE.

Tabela 3- Evolução populacional do município de AlfenasAlfenas

1872 1880 1900 1920 1940 195021.135 _ _ _ 17.835 19.803

Fonte: Relatórios da província de Minas Gerais apud DAVI & PORTO (2016), e IBGE.

6.1 Agentes econômicos

Após a colonização do país, o objetivo dos colonizadores eram de fornecer a

Europa produtos tropicais ou minerais de grande valor: algodão, açúcar, ouro, etc.

Em relação ao uso da terra para a produção, ocupação e aproveitamento no Brasil,

PRADO JÚNIOR (2008, p. 117-118) relata:

[…] o caráter tropical da terra, (condicionou) os objetivos que animam oscolonizadores, as condições gerais desta nova ordem econômica do mundoque se inaugura com os grandes descobrimentos ultramarinos, e na qual aEuropa temperada figurará no centro de um vasto sistema que se estendepara os trópicos a fim de ir buscar neles os gêneros que aquele centroreclama e que só eles podem fornecer. São estes, em última análise, osfatores que vão determinar a estrutura agrária do Brasil- Colônia. Os trêscaracteres apontados: a grande propriedade, monocultura, trabalho escravo,são formas que se combinam e completam; e derivam diretamente e comconsequência necessária daqueles fatores. Aliás em todas as colônias emque concorrem, não só no Brasil, tais caracteres reaparecem.

Segundo Cosentino (2013) Minas Gerais no século XIX, era grande

exportadora de gado, suínos, toucinho, ouro e outros produtos, e isso mostra a

importância da demanda de escravos, e da produção de mantimentos. De acordo

com o censo de 1872, a população escrava em Minas Gerais era de 199.434

homens, 171.025 mulheres, totalizando 370.459 pessoas. Já a população livre era

de 847.592 homens, 821.684 mulheres, e o total era de 1.669.276 pessoas.

Muitos relatos históricos e geográficos de Minas Gerais eram contados por

estrangeiros que viajaram pela província, e através desses relatos, a província pode

ser dividida na época oitocentista em regiões. Estas regiões foram definidas pelos

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seus aspectos geográficos, populacionais e econômicos que mostraram seus níveis

de desenvolvimento; também consideraram o grau de mercantilização e escravidão.

O objetivo era de entender as diversidades e as diferenças dos oitocentos em Minas

Gerais (COSENTINO et al, 2012).

A economia mineira oitocentista possuía fortes vínculos com mercados

externos, como o Rio de Janeiro. A exportação de produtos agrícolas e pecuária se

dava de diferentes localidades. Em relação ao abastecimento interno, a

agropecuária e as atividades de beneficiamento e transformações, estavam

espalhadas por todo o território. Algumas culturas agrícolas tinham localidades

específicas (como os cafezais), e esses lugares com o tempo passaram a ser

exportadores, sendo os seus produtos exportados para outras regiões, outras

províncias e até para outros países.

Os principais agentes econômicos do período colonial eram, os proprietários

rurais, os comerciantes, os financistas e os artesãos. Alguns proprietários, rurais

apesar de passar boa parte de tempo longe das cidades, ainda faziam parte da

Câmara, devido a realização de atividades de grande porte (como produção de

açúcar, criação de gado). Eles também faziam doações para os religiosos, e também

ajudavam nas fortificações das cidades (IBIDEM, 2000).

É relatado que a região do Sul de Minas era de campos, e lugares onde

haviam matas, muitas eram derrubadas para o desenvolvimento da agricultura, para

atender ao auto-consumo, ou aos mercados intra e inter-regionais. E alguns gêneros

eram exportados da região (COSENTINO et al, 2012).

O Sul de Minas inicialmente fazia parte da comarca do Rio das Mortes, teve

progresso na pecuária devido as características ambientais. Em relação a essa

região, Caio Prado Júnior relata:

E já em 1756 descia gado daí para São Paulo, concorrendo com ofornecimento dos campos do sul-Curitiba e Rio Grande. Aliás, a par dapecuária, pratica-se na comarca do Rio das Mortes alguma agricultura, e oRio de Janeiro se abastecerá aí de muita coisa, de modo que a populaçãose adensa bastante (PRADO JÚNIOR, 2008, p. 55-56).

A região da capitania de Minas Gerais, na Bacia do Rio Grande, também sul

mineiro, que constituía a comarca do Rio das Mortes tinha bastante destaque por ser

uma região com água abundante.

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Rios volumosos como o rio Grande e seus principais afluentes, Mortes,Sapucaí, Verde, ramificados todos numa densa rede de cursos d’ água,todos ao contrário do Nordeste, perenes; uma pluviosidade razoável e bemdistribuída , fazem desta região, em oposição à outra, uma área de terrasférteis e bem aparelhadas pela Natureza para as indústrias rurais (PRADOJÚNIOR, 2008 , p.196).

O Sul de Minas além dos recursos d’ água, possuía muitas circunstâncias

favoráveis à agricultura, criação de gado (que também estava relacionado à indústria

de laticínios), criação de animais, e logo depois para o café. Esse aspecto denota

como as características naturais definiram o tempo de organização das atividades

econômicas, ao lado da produção do espaço.

E com Alfenas que é um município dessa região, o avanço econômico não foi

diferente. Segundo Eugênio, o município tinha um destaque econômico para

atividades agrícolas, cujos seus produtores se destacavam como agentes

dinamizadores da localidade.

O censo das atividades produtivas municipais de 1920 revela que parteconsiderável dos seus 736 estabelecimentos agrícolas se dedicava aocultivo de mais de um produto. Entre eles, 563 produziam milho (5909,5 t.),419 arroz (941,2 t.), 324 laticínios (1711,9 litros de leite, 2155 litros de nata,44094 quilos de manteiga e 185000 quilos de queijo), 314 feijão (832 t.) e 88café (646,1 t.) Além disso, tinha o maior rebanho bovino do Sul de MinasGerais, com 18826 animais nascidos no referido ano censitário (EUGÊNIO,2015, p. 130).

Sobre a cafeicultura, sabe-se que o seu principal produto tenha sido

introduzido no Brasil no começo do século XVIII no Pará, depois foi transportado

para Maranhão, Rio de Janeiro, depois pelo Vale do Paraíba em zonas limítrofes de

Minas Gerais e São Paulo (PRADO JÚNIOR ,2008).

Segundo o Almanach Sul Mineiro (1874) publicado por Bernardo Saturnino da

Veiga em Campanha, os lugares que tinham a cafeicultura em destaque eram,

Alfenas, Camanducaia e Pouso Alegre.

Em relação á implantação do café em Alfenas, Martins (2012) alguns relatos

mostram que o café tenha surgido em fins de 1860 e começo de 1870, através de

investimentos realizados por fazendeiros dessas terras. O trabalho na cafeicultura

contou com a mão de obra imigrante no final dos oitocentos, como os italianos que

chegaram no Brasil na época para o trabalho assalariado, mas é preciso avançar no

entendimento desse fato.

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Alfenas possuía uma agricultura diversificada e mista, onde a cafeicultura

direcionada ao mercado externo e outra parte ao mercado interno. Dessa forma

pode-se considerar que o capital acumulado pelas atividades agrárias possuía duas

frentes, o que ajudou em investimentos urbanos, e o que contribuiu para serviços

urbanos também, na “segunda metade da Primeira República”, com o auge do

crescimento da modernidade.

O café entrava timidamente em Alfenas no século XIX, como é relatado no

seguinte trecho sobre uma chácara com cafezal do Major Francisco Gonçalves Leite

“situada no largo da Matriz de Alfenas, que possuía casa coberta de telhas,

envidraçada e assoalhada, quintal cercado de muros e plantado com muitos pés de

café, avaliada em 3:500$000” (MARTINS & SOUZA, 2012,p.165)

Também havia grandes proprietários, como o de Francisco Ferreira de Assis,

de 1875 em 17 de abril:

[…]possuía plantações avaliados em 1:900$000, distribuídos da seguinte forma: a) batatal no valor de 60$000; b) dois feijoais no valor de 240$000; c)2 roças de milho no valor de 600$000; d) canavial no valor de 600$000; e) cafezal velho no valor de 400$000(MARTINS & SOUZA, 2012, p.167).

Além da introdução da cafeicultura, Lenharo retratou que entre 1808 e 1842

Alfenas estava entre as principais cidades do Sul de Minas que abastecia o

mercado carioca “produzia e exportava grande quantidade de gado em pé, além de

porcos, galinhas, carneiros, toucinhos, queijos e cereais” (LENHARO, 1979, apud

MARTINS e SOUZA, 2012). Além das atividades agrícolas do município, havia

muitos comércios na cidade.

Em relação aos comércios da cidade, no final da primeira metade do século

XX, em entrevistas com moradores mais antigos , pode-se identificar que os mais

importantes eram o armazém do Engel & Irmãos, que vendiam alimentos, a farmácia

do Nino Bernardes (atual farmácia Bernardes), havia o comércio de um turco

chamado Abuda que ficava na esquina da atual praça Getúlio Vargas, era um

armazém que vendia de tudo, até arma. Alguns comerciantes eram famosos como, o

Hesse Luiz Pereira que tinha um comércio que hoje é uma loja de óculos atrás da

igreja Matriz. Havia também a venda do Boquisar que era uma loja de roupas e

tecidos, e a loja da dona Rosinha de linhas. A população fazia compras em

armazéns antigos, mas os entrevistados não lembram o nome dos donos.

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Ao perguntar sobre a existência de feiras na cidade, os moradores mais

antigos relatam que de início não havia feiras em Alfenas. Somente em 1940 foi

inaugurado o primeiro mercado Municipal , no local onde atualmente se localiza o

Colégio Atenas (DAVI et al 2016, p. 350).

Em relação aos comércios mais antigos, também havia o “Bar do Ponto”,

havia o “Comércio do Casemiro Siqueira”, tem por volta de 80 anos, seu dono, o

senhor Casemiro era um dos primeiros negociantes de Alfenas. O local se localizava

ao lado do atual sindicato de Alfenas, (hoje o comércio é um bar), antigamente ele

possuía açougue, torrefação de café, alimentos.

Dona Dejane, 69 anos, moradora do bairro Aparecida, relata que no mercado

que atualmente é colégio Atenas, dia de domingo tinha leilão de gado no fundo do

mercado, vendia porco, vendia de tudo, ela ainda relata “tinhas as bancas tudo, aí

você entrava por dentro assim aí você descia uma escada aí lá fora tinha porco

pra vender, ovelha, tinha cabritinho”. O senhor Osmar S., 80 anos, morador do bairro

Aparecida, relata que supermercado não existia, barzinho tinha muitos, perto da

igreja Aparecida. Ele se lembra do bar do ponto, que tinha um senhor chamado José

Paraíso que tinha uma serralheria, fazia caixões e móveis, e além da serralheria ele

já tinha funerária.

Muitos comerciantes vendiam na porta das casas, um exemplo é o do irmão

de uma entrevistada, a senhora Ilma Manso Vieira, com mais de 84 anos, moradora

do centro da cidade, ela é uma professora aposentada. Ela lembra que algumas

pessoas passavam nas portas das casas vendendo leite e verduras, o irmão dela

mesmo, vendia leite de casa em casa.

Todos moradores entrevistados no bairro de Santos Reis, lembram que não

havia comércios no bairro. Atualmente ainda se observa poucos comércios. Uma

entrevistada chamada Manoela Maciel Lourenço, 86 anos, aposentada, relata que

seu pai plantava verduras, e vendia por toda cidade, que era a fonte de renda da

família. Os alimentos básicos como arroz, feijão, e outros eles compravam numa

mercearia de um rapaz chamado Toti. Na cidade havia também a loja de tecidos do

senhor Tonico Amaral. O senhor Mauro Vieira da Silva, 78 anos, aposentado, relata

que havia o comércio do Hesse, onde trabalhava o senhor Edmundo que vendia

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coisas de ferragens, serra, prego, parafuso. Também se lembra do Bar do Ponto,

que ficava de frente ao cinema.

No centro havia comércios muitos importantes, como a Moderna Móveis, Davi

Boquisar, tinha uma loja chamada Casa Boquisar que vendia móveis e hoje seu

filho Levi no mesmo local vende discos. Dona Izabel de Azevedo Silva, 78 anos,

moradora do São Vicente relata que lembra da venda do Vitório Martelli, ele era

italiano, ele vendia alimentos. Ela relata que o povo do roça ia na venda comprar

querosene também, que era usado nas lamparinas para acender. Ela relata que o

único lugar que ela ia era nessa venda porque os pais não deixavam as crianças sair

para longe.

Não tinha feira no bairro, ela relata que as pessoas plantavam em sua

hortinha. Na cidade também não tinha feira nessa época. Ela se lembra também do

comércio do senhor Duca e Quinzinho, eles vendiam sapatos, panos.

Dona Benedita de 93 anos, aposentada, moradora do bairro Chapada, relata

que veio aos dez anos de idade para Alfenas. Ela relata que fazia compras na venda

de dona Rita mulher do Senhor Abraão, perto da rua Tiradentes, lá se vendia

alimentos, relata ainda que ela tinha uma conta na venda.

Como se observou, os agentes econômicos que influenciaram na formação

de Alfenas foram os grandes proprietários de terras rurais e urbanas, que com a

agricultura em grande escala, contribuíram no aumento da população das áreas

rurais e da cidade; os comerciantes, que vendiam seus produtos à população,

contratavam pessoas e também atraíram pessoas qualificadas para o serviço na

cidade.

6.2 Papel das ferrovias

As ferrovias foram uma ideia de integração do território brasileiro no período

imperial. Muitos homens da elite brasileira acreditaram que elas trariam o

desenvolvimento para o país em formação, como o ocorrido em França, Estados

Unidos e Inglaterra (LIMA, 2009).

Em relação à introdução da ferrovia no país em terras brasileiras, considera-se que:

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Em 1835, em meio a uma conjuntura política conturbada, com revoltas nonorte e sul do país, o governo central abriu a primeira concessão para umaferrovia entre a Corte e as províncias da Bahia, do Rio Grande do Sul e deMinas Gerais. Todavia, a primeira ferrovia brasileira foi inaugurada apenasem 1854. Desse ano até 1889, foram construídos 9.500 km de linhas férreaspor vinte companhias ferroviárias em todo o país (DAVID, 1958,p:13 apudLIMA, 2009).

A implantação das ferrovias no século XIX, foi justificada por políticos por

discursos de ideia de atraso do país em relação aos países mais industrializados da

década- Estados Unidos, França e Reino Unido, por exemplo. A ideia de progresso

esteve presente nas ideias dos políticos, empreendedores e viajantes. Logo

também, políticos do período em estudo, acreditavam que as ferrovias seriam uma

maneira de unir todo o território nacional (LIMA, 2009).

Os elementos para o progresso eram: o capital, a tecnologia, e o trabalho. A

forte atividade cafeeira exportadora ajudava em questão do capital e trabalho, já a

tecnologia deveria ser completamente importada. As ferrovias precisavam de mais

capital, e os empresários faziam empréstimos na Europa. O Brasil passava a se

integrar cada vez mais ao capitalismo, mas também passa a depender mais dos

países industrializados (LIMA, 2009).

Em 1871 o governo permitiu a construção das estradas de ferro na província

de Minas Gerais; a estrada de ferro D. Pedro era um indício de progresso e já

percorria pequena parte da província mineira (RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DE

MINAS GERAIS,1877).

Em 1893, Minas Gerais contava com 2.450 km de estradas de ferro, 70% deconcessão estadual e 30% de concessão federal. Além da malha em uso,800 km já estavam sendo construídos, 1.763 km haviam sido aprovados e6.693 km de futuras linhas seriam estudadas. Assim a previsão naquelemomento era de que Minas tivesse uma malha de 11.707 km. Esta previsãofoi feita antes de Belo horizonte ser construída, quando o estado contavacom menos de 3 milhões de habitantes. Em vinte anos, entre 1870 e 1890,2.500 km de ferrovias foram implantados na província (LIMA, 2009, p.81)

Em 1894 uma crise econômica assolou toda República, e impediu que as

ferrovias tivessem um bom desenvolvimento. A crise econômica das ferrovias se deu

pelos gastos elevados, juros dos empréstimos e falta de conhecimento econômico.

Assim em 1900 já muitas ferrovias se encontraram estagnadas. Com a Primeira

Guerra mundial foi prejudicada a construção de mais no Brasil, pois houve

dificuldade de importar materiais e obter empréstimos na Europa (IDEM, 2009).

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As políticas ferroviárias de Minas Gerais mudavam de acordo com os

interesses de grupos do governo; pessoas do Estado se uniram a grandes

produtores “financiados por bancos nacionais e europeus, criaram um capital

industrial voltado para uma reestruturação econômica da qual a ferrovia fazia parte

fundamental” ( LIMA, 2009, p.99-100).

As ferrovias mineiras dependiam das redes de outros Estados, ou a e. F. D.

Pedro II ou a Cia. Mogiana para levar os produtos até os Portos do Rio de Janeiro e

Santos.

Em Minas Gerais, as ferrovias se desenvolveram primeiro nas regiões emque o comércio era mais intenso. Depois da Mata e do Oeste, as ferroviaschegam ao Sul da província, na década de 1880, por meio de quatroempresas a saber, a Estrada de Ferro Rio Verde-posteriormente chamadade “Minas e Rio”-, a Viação Férrea Sapucaí, a Estrada de FerroMuzambinho e, finalmente, já nos primeiros anos do século 20, aCompanhia Mogiana de Estradas de Ferro, originária de São Paulo,atenderia o triângulo e o Sul de Minas (MARTINS & SAES, 2002, p.34).

No fim do século 19 o Sul de Minas estava concluindo seu sistema de

transportes (as estradas de ferro), e abrindo seus primeiros bancos. A região ainda

mantinha sua comercialização com o Rio de Janeiro e com Casas Comerciais

paulistas.

Alguns pedidos foram feitos ao governo Imperial, dentre eles um era o de

construir uma linha férrea que ligasse a margem esquerda do Rio Sapucaí que

passa pelo sul de Minas Gerais, até o vale do Paraíba, em São Paulo. A estrada

abrangeria os municípios de Alfenas, Cabo Verde, Caldas, Pouso Alegre, Jaguari e

Itajubá (RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS, 1881). Os municípios de

Ouro Fino, Pouso Alegre, Alfenas e outros do sul de Minas careciam de uma estrada

férrea para os ligar ao litoral e a outras grandes vias. Em relação a implantação de

estradas de ferro, Alfenas teve sua participação:

Posteriormente, em data de 15 de Maio último, o referido concessionáriorequereo à Assemblea Geral Legislativa privilégio para estrada de ferroentre pontos extremos- Alfenas, nesta província, e o que for mais convincente no litoral da de S. Paulo (RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DEMINAS GERAIS, 1882,p. 44)

No relatório de 1882, relata-se um pedido de Agostinho Adolpho de Souza

Guimarães para a permissão da construção de estrada de ferro que saísse do Rio

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Verde indo para Alfenas, Itajubá e Pouso Alegre. O sul de Minas possuía várias

localidades pelos quais passavam as linhas férreas, como se observa na figura 3. A

estrada Machadense que seria ligada de Machado á Alfenas, na Rede Sul- mineira

estava com os trabalhos adiantados. Está última estava sendo construída com

capitais da própria zona,o que mostra que havia fazendeiros com capital acumulado

de suas atividades agrícolas (RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DE MINAS

GERAIS,1925).

O relatório de 1930 faz a seguinte menção da Rede Sul- Mineira:

[...] as estradas de ferro Machadense com a extensão total de 41 kms 760,inclusive desvios, a qual liga as cidades de Alfenas e Machado; aTrespontana, com 20 kms, ligando a estação de Espera á cidade de TresPontas, e a São Gonçalo do Sapucahy, com a extensão total de 31 kms.,dos quaes apenas 19 se acham em trafego, sendo seu objetivo ligar entre sias cidades de Campanha e São Gonçalo do Sapucahy [...] a estrada deferro Machadense foi adquirida pelo Estado, em virtude da autorizaçãocontida na lei n.760 de 6 de setembro de 1929, e de acordo com o dec.n.8556, de 6 de junho de 1928 (RELATÓRIO DA PROVÍNCIADE MINASGERAIS de 1930, p.236)

Figura 3- A Linha Tronco e Ramal da Campanha da Estrada de Ferro Muzambinho em 1907.

Fonte: http://estradas-ferro.blogspot.com.br/p/estrada-de-ferro-muzambinho.html

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Os trilhos chegam em Alfenas no ano de 1897, no distrito de Gaspar Lopes

que fazia parte da Estrada de Ferro Muzambinho (criada em 1892), esta foi

incorporada em 1908 pela Estrada de Ferro Minas-Rio. Em 1928, foi inaugurada

outra estação em Alfenas, mas no centro da cidade, já fazendo parte da Estrada de

Ferro Sul-Mineira, “originada da fusão em 1910 das Estradas de Ferro Sapucaí,

criada em 1889, e Minas -Rio, originada da Estrada de Ferro Rio Verde, 1875”

(EUGÊNIO, 2015).

Tempos depois, em 1931, no Governo de Getúlio Vargas, várias companhias

“foram estatizadas e incorporadas em redes regionais […] a malha mineira maior da

atual região sudeste, passou a compor a Rede Mineira de Viação” (LIMA, 2009,

p.17).

Como na seção anterior, apresenta-se a partir daqui informações sobre a

ferrovia que passava em Alfenas, informações essas obtidas por moradores antigos

de cidade.

João Bosco de Souza, 66 anos, sapateiro no bairro Aparecida, apesar de não

ser um dos moradores mais antigos, se lembra da antiga estação ferroviária do

centro de Alfenas, como se observa na figura na figura 4; ele relata “ ali era cheio de

pensão, onde as turmas faziam pernoite pra pegar o outro trem, então eles usavam

aquelas pensão em volta pra não vir aqui pro centro da cidade, ai ficava por ali

mesmo, ali era cheio de pensão, barzinho”.

Figura 4: Estação ferroviária de Alfenas, 1932.

Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas.

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Figura 5: Prédio da estação ferroviária de Alfenas.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi, 2017.

Havia um local chamado Cruz Preta onde o trem passava, que atualmente é

no trevo de Alfenas, e o trem passava em direção a Machado. Nessa época havia

apenas três ônibus na cidade, as ruas do bairro Aparecida eram de terra.

Já o senhor Osmar Silva, 80 anos, aposentado, morador do bairro Aparecida,

lembra da ferrovia, que vinha daqui a Machado. Ele acredita que a ferrovia ajudava

muito no comércio. Era a ferrovia quem trazia açúcar, farinha de trigo. O trem era de

carga e passageiros. Caminhão tinha poucos. Lembra que a ferrovia, ia de Gaspar

Lopes a Machado. Vinha bastante café pela ferrovia, a produção da região era

transportada pela ferrovia. A ferrovia ajudou bastante no comércio.

Para a senhora Ilma Manso Vieira, com mais de 84 anos, professora

aposentada, se lembra da ferrovia, pois ela já embarcou no trem que saía da

estação de Alfenas que chegava até Cruzeiro em São Paulo.

Dona Maria de Lurdes Souza, 73 anos, aposentada, moradora do Santos

Reis, lembra da ferrovia; ela foi no casamento da cunhada dela em Aparecida do

Norte, ela lembra que o trem passava às sete da manhã aqui na estação. O trem

chegava de um dia pro outro em Aparecida. Parava em Cruzeiro-SP, para as

pessoas dormirem no hotel. Ela relata sobre a ferrovia: “ela seguia, pegava outro de

manhãzinha pra seguir pra frente”. Ela acredita que a ferrovia ajudou muito no

movimento comercial e populacional da cidade.

O trem possuía primeira e segunda classes, e o transporte era barato como

relata alguns moradores. Senhor Ivaneo Danziger, 80 anos, aposentado, morador do

centro, relata que lembra da ferrovia, ela pertencia a Rede Mineira de Viação, que

vinha de Juréia, passava em Gaspar Lopes já em Alfenas”.Tocava lenha, ai parava

em Gaspar Lopes, depois vinha e parava aqui na onde é a estação”. Para Dona

Izabel de Azevedo, moradora do São Vicente, 78 anos, ela ia em Gaspar Lopes de

trem e relata que seus irmãos trabalhavam em Gaspar Lopes com um homem que

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vendia telhas para a cidade. Já o senhor Elias do Rosário Miranda, 79 anos,

morador do bairro São Vicente, lembra que a ferrovia trazia muito movimento pra

cidade. Vinha cereais pra cidade, como o café. Vinha bastante gente de outras

cidades, ele relata: “ela fazia as cidades pequenas e tudo, e depois ela morria, o

final era lá em Três Corações, ela era tocada a lenha né, então a gente ia até lá, e lá

pegava outro trem até Pouso Alegre”, ia até Gaspar Lopes. Ele ainda relata que

Gaspar Lopes era pra ser bem movimentado. Pra chegar na cidade de Aparecida-SP

eles desembarcavam em outro trem.

Dona Benedita dos Santos, 93 anos, aposentada, moradora do bairro

Chapada. Se lembra que o pai dela era turmeiro, colocava trilho, pregava, ele

ajudava a arrumar a estrada. Ele também arrumava outros trabalhadores para

ajudar, e trabalhavam de madrugada, ele chamava Argentino dos Santos Correia.

Por fim, comentou o senhor Vivaldo Ferreira e Brito, 87 anos, morador da Chapada,

Ele lembra da ferrovia, e acha que ela ajudava no comércio da cidade, ela

transportava “café, cereais, lenha, madeira pras oficinas”, ele ainda relata, “a maior

tragédia foi acabar a ferrovia”.

As ferrovias funcionaram até a década de 1960, mas logo com o surgimento

da represa de Furnas, elas pararam de funcionar.

Até a década de 60, a rede urbana do Sul de Minas articulava-sebasicamente através do sistema ferroviário, principal escoador da produçãoagrícola da região, sobretudo a cafeeira. Com a instalação da Hidrelétricade Furnas e a consequente inundação das terras baixas- leito natural dasferrovias- todo o sistema de acesso foi desativado. Foram construídas naépoca, as rodovias como a BR- 491, com o intuito de restabelecer essa redede acesso (ATLAS HISTÓRIICO E GEOGRÁFICO DO MUNICÍPIO DEALFENAS, 2002, p.35)

Como vimos a ferrovia Machadense que passava por Alfenas possibilitou a

dinâmica econômica para a cidade, permitindo sua expansão em termos espaciais.

Acredita-se que a ferrovia contribuiu para o surgimento ou crescimento dos bairros,

principalmente os bairros no entorno da estrada de ferro, pois principalmente perto

da estação ferroviária na área central os entrevistados relatam que havia um maior

movimento de pessoas e de atividades comerciais no período em estudo. Para

Villaça (1998 ), as ferrovias surgiram no país para atender as demandas das regiões,

não eram voltadas para o transporte de passageiros. Elas também dividiam a

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sociedade na qual se inseria, somente aqueles que viviam no centro, ou na área em

que ela passava e dela se beneficiavam.

7 A PARTICIPAÇÃO DAS IGREJAS, DAS ESCOLAS E DOS HOSPITAIS NA

EVOLUÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE

Os agentes sociais, são integrantes de uma sociedade, e muitos procuram o

bem estar do seu local de vivência. Dentre os agentes sociais está a igreja, pois

desde a época colonial ela estava atuando, pois já em 1549 alguns jesuítas vindos

de Portugal vieram para terras brasileiras com o objetivo de catequisar os índios.

Os jesuítas além de ensinar sobre a cristandade ensinaram outras coisas de

sua cultura, como aos índios se vestirem, a conviverem em sociedade, a se

protegerem de bandeirantes, a terem horários para realizar atividades na aldeia, a

aprenderem latim, etc. As igrejas, os jesuítas e outros grupos de evangelização,

também ajudavam as pessoas necessitadas, doando alimentos, roupas e até abrigo.

7.1 As igrejas

A igreja é um dos agentes modeladores que participam na formação histórica

das cidades conforme relata VASCONCELOS (2000). No Brasil colonial ela tinha

fortes relações com a Coroa Portuguesa:

O bispado, realizava a escolha das matrizes e catedrais, e delimitavamáreas territoriais que mais tarde serviriam para se definir as freguesias, queinfluenciariam as divisões administrativas das cidades. As igrejas tambémtinham um importante papel social, tanto nas questões de socializaçãocomo na parte de fazer registros civis, esclarece o autor (VASCONCELOS,2000 apud DAVI & PORTO, 2016, p.590)

A igreja também tinha os homens do clero regular, que representavam as

igrejas “viviam em comunidade e obedeciam às ordens religiosas, eram missionários

e tinham o papel de ensinar a população” (VASCONCELOS, 2000 apud DAVI &

PORTO, 2016, p. 590 p.3).

Em Alfenas desde sua fundação em 1869, pode-se afirmar que através dos

relatos históricos que os povos dessa localidade eram muito religiosos. Um dos

motivos dessa religiosidade, se deve à colonização portuguesa, pois era um

costume dos portugueses ao colonizarem alguma terra levar um santo de sua cidade

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de origem que traziam de Portugal e também de construírem uma capela ou igreja

(AYER, 1991)

Atualmente o município está integrado na Diocese de Guaxupé, e possui as

paróquias, de São José e Dores, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de

Fátima, São Sebastião e São Cristóvão e São Pedro, e ainda possui pastorais,

comunidades e movimentos. Até o ano de 1952, o município de Alfenas contava com

4 igrejas, como pode-se ver na figura a seguir.

Em seguida descreveremos o processo de construção dessas igrejas, e na

medida do possível contribuir para a reflexão sobre o papel deles na

formação/crescimento de bairros atuais na cidade de Alfenas.

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Figura 6- Igrejas católicas de Alfenas em 1950.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi, 2016.

Igreja de São José e Dores (situada na atual Praça Getúlio Vargas)

A primeira igreja de Alfenas como relatado anteriormente foi a de São José e

Dores, onde sua localização é representada pelo número 1 na figura 4.

Primeiramente foi construído uma capelinha com o nome de Nossa Senhora das

Dores e São José, que alguns anos depois teve que ser reconstruída com a

autorização de Dom Mateus de Abreu, era um bispo e residia em São Paulo (AYER,

1991).

Com o tempo a infraestrutura interna da capela foi ampliando-se; um marcodesse processo foi a construção do altar, no qual foram postas imagenstrazidas de Portugal; um costume dos portugueses ao colonizarem oslocais. A capela também ganhou objetos como: candeias de óleo, santos demadeira, castiçais de prata, velas, bancos, toalhas, e o chão se não era deterra era de pedra. Já, no entorno da capela havia tocos de árvore, e trilhasem várias direções (AYER, 1991 apud DAVI & PORTO, 2016, p. 592).

A construção da capela iniciou-se em 1798, e sua inauguração em 1799. O

primeiro batizado foi do filho da segunda esposa do Alferes Domingos e Silva, assim

este convidou um celebrante chamado Joaquim Vieira da Silva para realizá-lo.

Depois do batizado passou-se a realizar missas, casamentos, batizados, enterros,

confissões das pessoas da localidade (AYER, 1991).

Em 1876 o Cônego José Carlos se reuniu com seus amigos paraconversarem sobre a construção de uma nova Matriz. Assim, váriosfazendeiros assim como os moradores do arraial se reuniram e deram umpouco de seu tempo para ajudar na construção da Igreja. A construção danova Igreja já estava bem adiantada, porém surgiu uma geada e fez comque muitas plantações como a de cana-de-açúcar e de café fossemdestruídas, impedindo os grandes proprietários de contribuírem na obra. Noano seguinte, com uma melhora da colheita no campo, os proprietáriosrurais voltaram a ajudar no financiamento da obra (AYER, 1991 apud DAVI& PORTO, 2016, p. 592).

Somente em 30 de setembro de 1883 a Matriz foi finalizada. Não possuía

sinos, torres, nem relógios, mais atraiu vários povos da região quando ela foi

inaugurada, e também era considerada como uma bela igreja (AYER, 1991).

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Figura 7- Igreja Matriz de São José e Dores em 1916.

Fonte: Wanderley Cesarini.

Figura 8- Atual igreja Matriz de São José e Dores.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi, 2017.

A construção dessa igreja se confunde com a formação inicial da cidade de

Alfenas, pois ao colonizar essas terras o Alferes Domingos Vieira e Silva construiu a

capela ao chegar nessa terra. Apesar de já haver moradores nessas terras, após a

construção da igreja na área central que as pessoas passaram a reconhecer o local

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como um povoado, pois para os portugueses e seus descendentes a construção de

uma igreja em novas terras representava o marco da conquista da sesmaria.

Igreja do Rosário (se localizava na atual praça Getúlio Vargas)

A segunda igreja constituída no município foi a igreja do Rosário,

representada pelo número 2 na figura 4, era mais considerada como capela, e foi

construída 12 anos após a construção da Nossa Senhora das Dores e São José. Foi

o padre Venâncio José de Siqueira que havia feito um pedido para construí-la na

localidade, assim, logo o pedido foi aceito, e a capela denominada Nossa Senhora

do Rosário foi construída na praça a frente da primeira capela (AYER, 1991).

A capela era espaçosa e baixa; seu comprimento era de vinte metros e aaltura de suas paredes eram de quatro metros. No seu interior havia umaltar-mor e duas tribunas, a sacristia ficava de lado, e o altar-mor no centro.A capela possuía um estilo diferenciado, e dentro desta, eram enterrados osmortos que eram populares, e nos arredores, os escravos e os pobres. Já oassoalho, possuía quadros que correspondiam as sepulturas, e os quadrostinham o número da cova, e também uma abertura com um cofre, ondeeram depositados dinheiros para celebrar as missas para as almas (AYER1991, apud DAVI & PORTO, 2016, p. 593).

Assim que o padre faleceu, os moradores pediram para demolir a capela, pois

estava bem velha. Assim uma nova capela foi construída em frente ao hospital Santa

Casa. O local foi escolhido por alguns integrantes da comunidade religiosa. Nesse

novo local eram realizadas missas, Semana Santa e outros eventos (AYER, 1991).

De início quando ela se localizava na praça Getúlio Vargas, ela ajudou no

povoamento do centro da cidade, e serviu como um complemento da igreja de São

José e Dores, no sentido de não sobrecarregar somente esta última de povos

durante as missas e celebrações.

Igreja de Santos Reis (situada na praça de Santos Reis)

A capela de Santos Reis, (com sua localização representada pelo número 3

na figura 4), foi criada em 1917, por um homem chamado Antônio Júlio de Souza

Dias, mas conhecido como Tonico Folia. O local onde estava instalado a capela era

conhecido como região dos Aflitos (AYER 1991 apud DAVI & PORTO, 2016, p. 594).

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Segundo relatos históricos de moradores antigos, a primeira missa realizada na

capela data de 27 de dezembro de 1917, pelo Revmo. Vigário Pe. João Batista Van

Roogem.

Figura 9- Atual Igreja ou capela de Santos Reis.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi, 2017.

Antes da criação da capela já havia moradores na localidade, como relatam

alguns moradores do município. Mas não chegava a se considerar um bairro.

Localizado no leste do município, o bairro Santos Reis, foi incorporado ao município

na década de 1950. Acredita-se que a capela de Santos Reis (da figura 9), foi uma

forma de socialização das pessoas residentes no bairro e também com pessoas de

outros lugares, e esse fator ajudou a localidade que era quase rural a se tornar mais

povoado.

Igreja de Nossa Senhora Aparecida (localizada no atual bairro parque das

Nações)

A Capela de Nossa Senhora Aparecida, representada pelo número 4 na figura

4, foi a terceira igreja da cidade, surgiu em torno de 1910, no alto de uma região

periférica, perto do Córrego do Chafariz. As pessoas que ali frequentavam eram os

próprios moradores que já residiam nessa área. Relatos mostram que em 1940, era

o pároco da matriz de São José e Dores quem realizava algumas missas e outros

eventos na igreja.

De início era uma igreja pequena, que muitos chamavam de capela, e

também estava em condições razoáveis, por isso alguns anos depois a população

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decidiu construir uma nova igreja, com a coordenação do padre José Grimminck.

Várias pessoas do bairro ajudaram a reformar o local que era um símbolo religioso

para as pessoas.

De acordo com as entrevistas com os moradores antigos, foi constatado que

após o surgimento da igreja na localidade, aumentou o grau de urbanização do

bairro e também foram valorizados os terrenos ali. Outro fator que demonstra o

crescimento populacional, é a reforma da igreja, pois geralmente se inicia uma

capela, e depois as igrejas aumentam pela necessidade de receber mais fiéis.

Ao entrevistar os moradores para resgatar as memórias das igrejas, todos

moradores relatam que lembram da igreja Matriz de São José e Dores, já a capela

do Rosário ninguém se lembra quando ela existia na praça. Alguns moradores do

Santos Reis relatam que não sabem quando surgiu a Aparecida, e alguns da

Aparecida não tinha conhecimento de quando surgiu a igreja de Santos Reis.

Senhora Dejane, 69 anos, professora aposentada, relata que quando era

pequena já existia a Matriz São José e Dores e a igreja Aparecida. Sobre a igreja

Aparecida ela relata: “Até ficou com o nome de igrejinha e o padre que tava aí o

padre José não gostava que falava que era igrejinha, aí depois ela passou a ser

Matriz”. Senhor Valdir de Luna Carneiro, 96 anos, aposentado, lembra das igrejas

Matriz e da Aparecida. Relata que na Matriz havia missas às sete da manhã, das

dez e meia, cinco horas da tarde e sete da noite, as missionárias eram do Sagrado

Coração, eram holandeses, que falavam português.

Senhor Osmar Silva, 80 anos, relata que lembra das igrejas Matriz e a

Aparecida. A missa na Aparecida era dia de quarta de manhã, tinha um padre

chamado Cornélio que tem até uma rua com o nome dele, ele quem celebrava as

missas, a missa era de manhã.

Senhora Ilma Manso Vieira Mansur, com mais de 84 anos, aposentada. Se lembra

da igreja Matriz de São José e Dores. Lembra que o sino da igreja dava badalada às

6 da manhã, e às 6 da tarde. Havia missas de manhã, e no dia de domingo. As

missas eram de costas e em latim. Ainda se lembra que na igreja da Matriz, às seis

da tarde alguém dava badalada no sino e quando alguém de status morria também o

sino tocava; esse fato de tocar o sino em falecimentos de pessoas de status, mostra

a diferença de tratamento nas classes sociais que já havia naquela época. Ela

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também relata que um escultor italiano conhecido de sua família esculpiu os doze

apóstolos e colocou dentro da igreja.

Carlos Alberto Mariano Leite, 85 anos, aposentado, lembra da igreja Matriz e

a capela de Aparecida que não se localizava no local atual. As missas na Matriz

eram dia de domingo, e à noite tinham terços. As missas eram só nos domingos e

nas primeiras sextas-feira do mês. Já senhor Ivaneo Danziger, 80 anos, estudou até

o primário, aposentado, nasceu em Serrania, mora aqui desde os sete anos de

idade. Lembra da igreja Aparecida, quando a nova igreja estava sendo construída, e

da igreja Matriz.

Dona Maria de Lurdes Souza, 73 anos, aposentada. Nasceu no bairro Santos

Reis, lembra que desde pequena já tinha a capela lá, tinha missas no dia de Santos

Reis. Tinha um senhor que cuidava da capela, e a chave ficava com ele. O senhor

que cuidava da capela morava no atual bairro da Chapada, e quem quisesse fazer

orações na capela devia se recorrer a ele, depois de um tempo a chave passou a

ficar com a mãe dela.

Em relação à igreja do Rosário, o senhor Mauro, Vieira da Silva, 78 anos,

aposentado lembra que tinha um Cruzeiro que ficava onde é a atual Praça de

Esportes, “aqui na Praça de Esportes tinha um cruzeiro, era pra chamar, era pra

fazer a igreja do Rosário, eu era criança, aí eles pegaram, aquilo demorou muito, fez

até a fundação da igreja, ai depois eles “coisô”, virou a Praça de Esportes que era

do Estado, aí dessa Praça de Esportes tirou o cruzeiro que era a coisa mais bonita

que a gente tinha”. Ele também se lembra que quando era pequeno já existia a

igreja Matriz e a Aparecida. As missas na Matriz eram dia de domingo. Na Aparecida

ele lembra que era dia de domingo também.

As igrejas estudadas como agentes que contribuíram para a organização do

espaço, tiveram papel importante na vida local e no crescimento da cidade de

Alfenas até 1952. Isso se deu porque a instalação de uma igreja atraia mais fiéis

para perto dela, muitos gostavam de morar perto da igreja. A igreja também

valorizava econômica e socialmente os locais, pois ela era um ponto de referência

para as pessoas, quando alguém lhe perguntava o local de sua moradia.

7.2 A contribuição das escolas

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Um outro aspecto que contribuiu para o crescimento de Alfenas foi a oferta de

serviço educacional, pois a localidade passou a atrair alunos e professores para as

escolas criadas.

Após 1822 com o Brasil independente, ele necessitava se estruturar, pois com

a Proclamação da Independência, o país buscava um ordenamento jurídico,

institucional e administrativo. A instrução pública foi uma das ferramentas buscadas

para o Estado formar pessoas civilizadas (ANDRADE & CARVALHO, 2009).

Ao longo do século XIX, vários lugares discutiam sobre a necessidade de

levar a educação à população. Havia leis e decretos que obrigavam os alunos e

professores a terem a frequência. A lei era importante para que instituições

governamentais pudessem ajudar a população com o objetivo de civilizá-la, para

contribuir no progresso do Estado (IDEM,2009)

Em 1874 o ensino primário e secundário estava buscando um maior

desenvolvimento. E em 4 de abril de 1871 a lei de 1.769 havia permitido a criação de

escolas normaes1,o que gerou ampliação do ensino secundário e prejuízo no

primário. Em 1875, o relatório da província mostra que os chefes de família se

opunham ao avanço do ensino às crianças e jovens. Havia falta de recursos para

implantação de escolas na província, os professores não tinham muito estimulo,

eram poucos instruídos, pois eles faziam exames incompletos e superficiais.

Já a lei de 28 de março de 1835, art.12 relatava que o pai era obrigado a dar

instrução primária em escolas ou em casa aos filhos. Havia a lei n. 1769 no art. 2 no

parágrafo 7 e a n. 13 de 1835 art. 12 que estabelecia que os pais que negavam

estudo aos filhos de 8 a 15 anos, pagariam multa de 10$ a 304 por filho e poderia

ser dobrada (RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS, 1875). Muitas

escolas de instrução pública não tinham o número de alunos exigidos pela lei, e

outras nem eram frequentadas, além disso as escolas que não tivessem o número

suficiente de alunos iam ser suspensas ou suprimidas.

Para a formação de professores, eram realizados exames preparatórios; após

a realização dos exames, os resultados eram publicados no Diário de Minas

(RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS, 1876). Para estruturar a

1 Escolas destinadas a formação de professores.

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educação profissional em Minas Gerais, também em 1875 iniciou-se a aprovação de

Leis e Regulamentos. Através da lei, foram criadas 4 Escolas Agrícolas, 3 Institutos

de Menores Artífices e um Liceu de Artes e Ofícios, que ensinavam várias

atividades, dentre elas habilidades de marcenaria, com ferro e agricultura

(ANDRADE & CARVALHO, 2009).

Em 1876 o município de Alfenas já se preocupava com a educação de seus

residentes, e já havia muitos alunos que estavam estudando, para uma melhor

educação. No município foi nomeado para instrução primária Francisco José

Mariano. Na instrução superior da província eram ensinadas matérias como

Gramática Portuguesa, História do Brasil, a Aritmética e suas aplicações práticas.

Para mulheres havia ainda bordados e outros artesanatos. Algumas cidades e vilas

nem possuíam educação, outras existiam mas não havia verba. Sobre as escolas

normais, o relatório de 1878 relata:

Meio eficaz para obtenção de professores e professoras, que preenchãodignamente sua missão, a instituição das escolas normaes vai produzindobenefícios resultados nesta província, si não na escala que fora paradesejar, ao menos quanto se fazia mister para sahirmos do obsoletosystema anteriormente seguido.As duas escolas normaes que funccionão, a de Ouro Preto e Campanha, játem habilitado não pequeno número de professores normalistas, além deoutros diversos alunos aptos para o mesmo fim, que ainda não quizerão oupuderão ser aproveitados (RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DE MINASGERAIS, 1878, p.14).

As primeiras escolas de Alfenas, na verdade eram chamadas de grupos

escolares, havia grupos tanto na cidade como nas áreas rurais. Em 1909 inicia-se a

construção do Grupo Escolar Coronel José Bento, que era presidente da Câmara

municipal e finalizou o Grupo com seu próprio dinheiro. Localiza-se até hoje no

mesmo local, na atual Praça Fausto Monteiro, no Centro da cidade.

Também existia o Grupo Escolar Minas Gerais (figura 10), instalado na antiga

rua Raul Soares, que atualmente se chama Avenida São José. Em 1935 o local foi

incendiado, por isso teve que ser mudado em 1937 para a rua Presidente Arthur

Bernardes na esquina com a Manoel Pedro Rodrigues.

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Figura 10- Grupo Escolar Minas Gerais.

Fonte: Luiz Roberto Paiva, disponível em:

http://fotosantigasdealfenas.blogspot.com.br/2013/05/grupo-escolar-minas-gerais.html

Figura 11- Atual localização do antigo Grupo Escolar Minas Gerais.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi, 2017.

Já a história do Colégio Sagrado Coração é de que em dezembro de 1920

chegam da França irmãs Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração para

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auxiliarem no hospital denominado Santa Casa de Alfenas. Logo elas iniciam suas

atividades no campo educacional. Assim, em 20 de março de 1921, é inaugurado o

Colégio como Escola Normal.

A antiga EFOA (Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas), atual

Universidade Federal de Alfenas, foi fundada em 3 de abril de 1914, por João Leão

de Faria, onde havia apenas o curso de Farmácia e, no ano seguinte, o de

Odontologia. Em 1916 a instituição passou a ter uma biblioteca. Através do Art. 26

do Decreto 19.851, de abril de 1931, a instituição passa a ser reconhecida

nacionalmente. Em 1932, ela tem seus regulamentos aprovados pelas leis federais.

A partir daí ela só cresceu e passou a crescer, criando novos cursos, e em 2005 ela

é transformada em Universidade Federal de Alfenas (Lei 11.154/2005).

Ao entrevistar dona Teresa, de 80 anos, aposentada,moradora do bairro

Santos Reis, ela relata que já trabalhou em uma pensão onde residia estudantes da

EFOA: “eu comecei a trabalhar quando inaugurou a EFOA, que os estudantes

vieram pra cá né, aí meu serviço, hoje se fala restaurante, antigamente falava

pensão, aí eu trabalhava lá, eu saía aqui de casa 6:30 e ia ajudar a patroa a servir

café pra eles ir pra escola, eu lembro era da EFOA, eu alembro que eu era mais

pequena”. Alguns estudantes moravam nessa pensão em que ela ajudava sua

patroa.

Sobre o Grupo Minas Gerais, Dejane, 69 anos relata: “ ele é tão antigo que

pra entrar na sala principal, porque a porta principal era na frente e pro aluno entrar

era debaixo, era pelo porão, lá dentro era igual uma casa de fazenda, se eu fechar o

olho eu lembro tudo”. Ela relata que a escada era uma grande pedra cortada. Ela

ainda conta que naquela época existia o primário, que era do 1º ao 4º ano, e com

sete anos as pessoas entravam no grupo. Lembra que da quinta série até a oitava

série, se chamava ensino secundário. Após o secundário, quem quisesse podia

fazer o 1º científico, o 2º científico e 3º científico, ai só depois vinha a faculdade. O

magistério que a senhora Dejane fez eram divididos em períodos chamados de

primeiro normal, segundo normal, terceiro normal. O ensino normal era pra quem

quisesse lecionar, já o científico era para trabalhar na profissão, o atual bacharel. A

única escola que tinha o ensino normal na época era o Colégio das Irmãs, o atual

Colégio Sagrado Coração de Jesus, logo veio o Colégio do Doutor Roque Tamburini,

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que tinha o ensino científico (atualmente não existe o colégio, mas existe o

laboratório Doutor Roque N. Tamburini localizado na rua Afonso Pena, 710).

O Senhor Valdir de Luna Carneiro de 96 anos, lembra do Grupo Minas

Gerais, do Coronel José Bento, Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas,

Escola de Direito, Sagrado Coração era um internato que ensinava do fundamental

até o magistério. Ela relata: “Esse pessoal da região esses fazendeiros não tinha

onde colocar as crianças, ou eles iam pra Areado no internato, tinha várias

congregações religiosas, aqui em Alfenas era o Sagrado Coração”

Havia o primário, curso de admissão que era a quinta série, ginásio e

magistério. Da primeira a quarta série era primário, tinha que fazer uma prova, que

estudava um livro de admissão. Depois do ginásio você faria o científico ou o

magistério. No Sagrado Coração tinha só o magistério que chamava normalistas.

Depois do científico ainda tinha que fazer um vestibular pra poder entrar em uma

faculdade como a EFOA.

Como vimos as instituições de ensino dinamizaram a vida da localidade. A

criação da EFOA contribuiu para a vinda de muitos estudantes de outras

localidades/estados, imprimindo centralidade em Alfenas. E a ferrovia teve o papel

de ajudar na comunicação com outras localidades, na informação e no transporte de

passageiros que ficaram sabendo sobre a oferta de ensino superior na cidade de

Alfenas.

7.3 O papel da Santa Casa

A Santa Casa era o único hospital em toda a cidade. Foi fundada em 1907

após a doação do terreno por Dr. Gaspar Lopes, com o objetivo de atender a

população mais pobre da cidade. De início eram alguns cidadãos que arrecadaram

fundos para sua construção, com o passar do tempo o governo passou a liberar

verbas para ajudar o hospital.

Os moradores de todos os bairros pesquisados (Centro, Aparecida, Santos

Reis, São Vicente e Chapada), relatam que a Santa Casa era o único hospital da

cidade. O senhor Valdir de Luna Carneiro, 96 anos, aposentado, morador do centro,

relata que na sua atual casa era um consultório médico, onde o pai da mulher dele

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atendia os pacientes. Moradores do bairro Aparecida relatam que também havia

parteiras no bairro, Senhor Osmar Silva, 80 anos, disse que havia uma parteira no

bairro, que morava atrás da igreja, ela se chamava Dona Antônia, tinha mais

parteiras, mas ele não se lembra do nome das outras. Alguns moradores do bairro

Santos Reis, relatam que também tinha parteiras, Dona Rosa, 73 anos, aposentada,

moradora do bairro relata que havia duas, chamadas Leopoldina e Sebastiana.

Dona Izabel de Azevedo Silva, 78 anos, moradora do São Vicente, relata que

não tinha Posto de Saúde em seu bairro. Mas tinha o hospital Santa Casa; ela relata

que quando era pequena ela morava na rua da Santa Casa, ai sempre ela saía de

sua casa e ia pra Santa Casa, ela gostava de ficar perto das irmãs. O pai dela

trabalhava com reformas de casas, e ajudou as freiras, fez forno pra elas.

Ela relata que os curativos, as freiras enterravam na horta. Eram quatro

freiras que moravam e que trabalhavam lá, tinha uma freira que chamava Chica. Ela

também se lembra de um homem negro, alto e magrelo que se chamava Pedro, ele

limpava lá e plantava verduras. Se lembra de dois médicos que trabalhavam lá, o

doutor Gilberto e doutor Emílio, internavam e davam remédios. Ela também se

lembra de uma moça que chamava dona Sinhana que morava lá, era alta e magra,

ela fazia xarope e comprimido composto e baixava a febre das pessoas.

O hospital Santa Casa teve grande contribuição para a dinâmica da cidade. A

existência dele naquela região da cidade (localizado na atual rua Martins Alfenas,

Centro) ajudou na expansão da cidade, pois os moradores ficavam mais tranquilos

de morar perto do hospital, caso precisassem ir ao médico com urgência. A

presença do hospital também valorizou aquela região da cidade, pois ele era uma

referência em saúde em Alfenas.

8 ASPECTOS DA INFRAESTRUTURA DA CIDADE NO PERÍODO E

PERMANÊNCIA DE CONSTRUÇÕES ANTIGAS

A cidade de Alfenas de início, possuía casas esparsas de moradores que

viviam da agricultura. Logo com a construção da capela na área central e após a

vinda do alferes Domingos Vieira e Silva com sua família para essa localidade,

outras pessoas decidiram construir casas no entorno da igreja. Os primeiros

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arruamentos conforme o Atlas Histórico e Geográfico de Alfenas e relatos históricos

da cidade, foram feitos pelo alferes e seus amigos.

No período em estudo apesar de já haver uma área construída consolidada,

conforme mostra a figura 12, no início do século XX havia pouquíssima infraestrutura

básica na cidade, como calçamento nas ruas, tratamento e canalização da água,

tratamento de esgoto, coleta de lixo, entre outros.

Figura 12- Expansão urbana de Alfenas. Ao lado esquerdo expansão urbana até 1949, ao lado

direito expansão urbana até 1959.

Fonte: Leitura técnica do plano diretor, região do Lago de Furnas, 2006.

O Centro da cidade (figura 13), já possuía em seu bairro água encanada,

energia elétrica, ruas, calçadas, mas muitas delas ainda eram de terra ou cascalhos.

Carlos Alberto Mariano Leite, 85 anos, morador do centro, lembra que já havia água

encanada, ele ainda relata que em 1930 foi Ismael Brasil Corrêa quem colocou água

em Alfenas. Também já tinha energia elétrica na cidade, que vinha da usina de

Serrania, da cachoeira das Andorinhas. E as calçadas começaram a ser feitas em

1943, com o prefeito Salomão Barroso.

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Figura 13- Vista de Alfenas em 1950.

Fonte: Luiz Roberto Paiva

No bairro Aparecida tinha encanamento em algumas casas mas a água era

muito precária e não era todas as casas que tinham água encanada, e mesmo as

casas que tinham encanamento, as vezes faltava água. Tinha casas que tinham

poços, algumas pessoas pagavam por ano para receberem água encanada nas

suas casas. Mesmo com encanamento muitas pessoas iam perto do cemitério para

pegar água em um chafariz que tinha perto. Pode-se analisar que na área central as

pessoas tinham mais casas encanadas do que no bairro Aparecida, pois era no

Centro da cidade moravam as pessoas com maior rendimento econômico, por isso

elas tinham condições de pagar o encanamento e porque as infraestruturas básicas

chegam primeiramente nas áreas centrais de todos municípios.

Havia poucas ruas no período em estudo. Senhor Sebastião A. da S, 75 anos,

aposentado, morador do bairro Aparecida, relata que havia apenas três ônibus na

cidade, e que as ruas do bairro Aparecida eram de terra. Havia a estrada de São

Thomé e Gambá, que iam de Alfenas para Serrania. O pai dele era motorista de

ônibus, e ele relata que os ônibus naquela época nem tinham bagageiro, e que para

guardar as malas no ônibus havia uma escadinha, do estilo jardineira.

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Ainda discutindo o bairro Aparecida, senhora Dejane, 69 anos, relata que o

mesmo já tinha água encanada, energia elétrica, tinha cisterna também em algumas

casas. A água encanada não era potável, vinha da caixa d’água que atualmente é a

praça de esportes, lá chamava morro da caixa d’água, ficava só a caixa d’água lá, e

ela que abastecia a cidade. Não existia a Copasa (Companhia de Abastecimento de

Água). Quem quisesse ia lá na caixa d’água pra ligar o próprio cano, na rua, pois na

rua passava um cano. Ela relata também as ruas eram de cascalho, e depois que

calçou a praça Getúlio Vargas que foi calçando os outros locais.

Ela ainda relata que até seus 15 anos de idade havia apenas a igreja e umas

casinhas ao redor. Que pro lado direito da igreja atual nem tinha casas, só se via a

estrada que vai pra Areado. Ela também lembra de umas casas no local chamado

Cruz Preta, que atualmente tem o mesmo nome e é conhecido devido a presença do

hospital Alzira Velano; ela relata que lá pode ter sido o bairro mais antigo. Lembra

que onde se localiza o atual asilo era chamado de bairro da Conferência.

Já em relação ao bairro Santos Reis, Dona Manoela Maciel Lourenço, 86

anos, aposentada, relata que desde quando ela passou a morar no bairro (onde ela

morava antes), não tinha luz, nem água encanada, nem calçamento. O local era

cheio de mina d’ água, por isso eles utilizavam dessa água para consumir, lavar

roupas, e para outros fins. A luz que eles usavam era de lamparina. Ela lembra de

ver poucos carros que circulavam no bairro.

Dona Maria José dos Santos, com 67 anos, aposentada, moradora do bairro

Santos Reis, relata que quando chegou a luz em sua casa ela já tinha 20 anos, já

quando chegou a água ela não se lembra. Em relação ao calçamento das ruas ela

declara que o marido dela trabalhou asfaltando ruas, mas não lembra de quando

isso ocorreu por sua memória não estar boa. Ela disse que era muito difícil ver

alguém com carros no bairro.

Senhor Mauro Vieira da Silva, 78 anos, morador do bairro São Vicente, relata

que já tinha água encanada, “eles botavam uma torneira pra todo mundo, era

municipal”, ele relata que a primeira torneira do bairro ficava onde é a atual Praça

de Esportes. Ainda diz que tinha um chafariz num formato de Leão, aí a água saía

da boca dele. A água encanada existia e a prefeitura que comandava, as pessoas

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pagavam por ano na prefeitura, ele ainda relata que a água de Alfenas tinha muita

ameba, e o povo ficava muito doente.

Em 1952, já possuía energia elétrica, segundo o senhor Mauro, a energia

elétrica vinha de Serrania “Aquilo parecia uma vela, de tão fraca que era”. Ele relata

que a Companhia Sul Mineira colocava um macaquinho2, e aquela única luz ficava lá

em cima da casa e iluminava a casa toda, por isso as paredes não eram altas até o

telhado. “Quando ia escurecendo ai acendia, e quando ia amanhecendo no outro dia

apagava”.

Senhor Vivaldo Ferreira e Brito, 87 anos, relata que em 1952, já tinha água

encanada mas não servia todo mundo, ele relata que era muito ruim, ele relata que a

mulher dele mesmo pegava a bacia e ia lavar as roupas deles em outro local, ele

relata que não tinha energia elétrica ainda. Já em relação às ruas, ele relata que

ainda não eram asfaltadas. As ruas eram até usadas para transporte de carro de boi.

Outra moradora do bairro Chapada era Dona Aparecida, 73 anos. Ela disse

que tinha cisterna, e que a luz demorou muito para chegar. As ruas não eram

calçadas em 1952, e quando chovia a rua ficava barrenta. Não lembra de pessoas

com carro, porque o povo era muito pobre.

8.1 Edificações antigas

Ao caminhar pelos bairros pesquisados, pode-se observar que o centro

continua a ser o local onde há maior número de patrimônios preservados. Mas

também pode ser verificadas edificações antigas nos outros bairros.

Carlos Alberto Mariano Leite, 85 anos, relata que dentre as casas mais

antigas do centro há uma casa azul de esquina da Arthur Bernardes é de 1913, é da

família dele, mostrada na figura 14, e tem outra casa na rua Laurindo Ribeiro, que foi

o mesmo construtor quem construiu, e tem um sobrado em frente ao cinema de

1917.

2 Nome comum dado a um antigo aparelho da rede elétrica que se localizava no teto das casas.

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Figura 14 - Casa antiga reformada em 2017.

Fonte: Rafaela do Rosário Davi, 2017.

Senhora Dejane, 69 anos, professora aposentada relata que ainda tem casas

antigas, mas muitas foram desmanchadas. Ainda salienta que para identificar casa

antiga, é só observar que não tem garagem, tem um portãozinho pequeno e com um

alpendre do lado.

Tereza Lourenço, 80 anos, do bairro Santos Reis, disse que não tem mais

casa antiga, porque antes as casas eram de sapê e pau a pique (Sapê era a telha e

pau a pique a parede), e a prefeitura também ajudou os moradores do bairro na

reforma de suas casas

No bairro São Vicente, Dona Maria Augusta Miranda, relata que não tem

quase nenhuma casa antiga, mas de comércio antigo tem a venda que era do

senhor Vitório Martelli, mas que atualmente é o mercado do Reis.

No bairro Chapada, Dona Benedita, 93 anos, aposentada, revela que tem

bastante casas novas, algumas reformadas, mas também possui várias casas

antigas, na rua Nova Triângulo, por exemplo, ela relata haver algumas antigas.

9 CONCLUSÃO

Ao realizar as pesquisas sobre os principais agentes dinamizadores das

cidades, pode-se observar que assim como no Sul de Minas, a cidade de Alfenas

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teve influência dos agentes econômicos. A agropecuária era uma atividade comum

na cidade, logo no século XIX é introduzida a cafeicultura, que logo passou a trazer

altos rendimentos para o município; esta cultura em sequência, atrai a ferrovia para

a cidade. A ferrovia em Alfenas, que de início tinha o objetivo de transportar os

produtos agrícolas, também passou a transportar pessoas, o que gerou uma maior

interação populacional e econômica das pessoas de Alfenas com outras localidades.

A cidade também teve a participação de agentes sociais como a igreja e a

população, principalmente a com maior poder aquisitivo, os pobres também tiveram

a sua participação, mas é necessário uma outra investigação sobre essa questão. A

igreja de início com o papel religioso realizava missas, batizados, casamentos, etc;

também fazendo seu papel administrativo ao obter e guardar dados como os

nascimentos, as mortes, dados populacionais, entre outros. Já a população teve o

importante papel de povoar lugares que de início eram vazios, mas que com o

passar do tempo foi aglomerando pessoas, e passando a virar um bairro. A

população da cidade, muitas vezes também costumava povoar lugares que tinha

alguma igreja, algum comércio importante, ou outro lugar de referência da cidade.

Através de relatos dos moradores da cidade, pode-se verificar que com a

ferrovia houve uma maior interação do povo de Alfenas com pessoas de outras

localidades da região, através das entrevistas pode-se analisar que a ferrovia

motivou pessoas de outros lugares a se interessar por Alfenas, que era uma cidade

que estava em expansão.

A busca geohistórica dos agentes que participaram na construção da cidade

permite que a população busque revalorizar o passado das cidades, e também a

preservar os monumentos históricos que ainda estão presentes na paisagem atual

da cidade. Podemos observar que a evolução socioespacial de uma cidade não

ocorre somente através de um agente modelador e atuante, pois são vários agentes

que participam na formação de uma cidade.

No caso de Alfenas, através das leituras, pode-se compreender que antes da

formação da vila que mais tarde se tornou cidade, havia várias fazendas dispersas

pelo município, e somente após a vinda do alferes ao tomar posse da sesmaria, ele

decide construir a igreja que ajudou no primeiro núcleo de povoamento. Assim, ele e

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seus amigos decidem construir as primeiras casas no entorno da igreja, e a fazer os

arruamentos.

Com a infraestrutura iniciada e com a oferta de serviços nas fazendas, a

população começa a aumentar, por isso chegam a água encanada e a luz elétrica,

que de início chegam precárias e foram melhorando com o tempo.

Já em relação à formação dos bairros, pode se observar que alguns surgiram

ligados à fé, como o Centro da cidade que começa a ser urbanizado no entorno da

igreja e no bairro Aparecida também no entorno da igreja. Já o bairro de Santos

Reis, através da pesquisa, pode-se observar que não possuía atrativos comerciais e

nem muitas opções de lazer, então presença da capela pode ter contribuído para o

povoamento do local. No bairro São Vicente, pode-se entender que o bairro de início

passou à ser povoado devido a Conferência que hoje é o atual asilo. Já o bairro

Chapada, teve sua formação relacionada a proximidade com a linha férrea que ia da

estação ferroviária do centro da cidade de Alfenas até Gaspar Lopes.

O mais importante do trabalho, é contribuir com o campo científico que

precisa revalorizar as memórias das cidades que vem sendo perdidas com a

sociedade que vem sendo cada vez mais tecnológica, e também ajudar a preservar

o patrimônio histórico das cidades. A Geografia Histórica pode contribuir para a

realização desse tipo de pesquisa.

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APENDICE

APÊNDICE A- Roteiro das entrevistas

Universidade Federal de AlfenasDiscente: Rafaela do Rosário DaviDocente: Gil Carlos Silveira PortoObjetivo da pesquisa: Buscar informações sobre a evolução socioespacial dacidade de Alfenas entre 1874-1952 Roteiro de entrevistaBairro: Número:

Nome:

1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

2.Cor: ( ) Branco ( ) Pardo ( ) Preto ( ) Amarelo

3. Idade:( ) até 15 anos ( ) até 30 ( ) até 45 ( ) até 60 ( ) acima de 60 anos ( )Não

informado

4. Escolaridade: ( )Não frequentou a escola ( ) Ensino fundamental incompleto

( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio

completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Pós-

Graduação

5. Profissão

( )Estudante ( )Professor ( )Servidor Público ( ) Aposentado(a) ( )Autônomo ( )

Empresário ( ) Desempregado ( ) Outros:___________

6. Cidade de origem.

( ) De Alfenas ( ) outras cidades do Sul de MG ( ) outras regiões do estado de MG ( )

zona rural

( )Outro estado___________

7. Desde quando você mora no bairro? Você nasceu nesse bairro?

8. Você lembra se já havia a igreja? Quando aconteciam as missas e como eram?

9. Tinha algum comércio importante no bairro? De quem era os estabelecimentos

comerciais? O que se vendia?

10. Tinha alguma feira no bairro? E em alfenas, tinha?

11. Existiam escolas? Quais eram as escolas?

12. Você lembra da ferrovia? Tinha alguma relação entre a ferrovia e o movimento

comercial e de pessoas no bairro?

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13. Você lembra se na época existiam pessoas que passavam necessidades no

bairro? Como se dava essa pobreza?

14. Existia água encanada, luz e calçamento? Você lembra como chegou no bairro

esses serviços?

15. Existia algum tipo de carro que circulava nas ruas do bairro?

16. Havia serviço de saúde na época? Onde as crianças nasciam?

17.Ainda existem muitas construções antigas (casas, comércios) no bairro? Você

sabe em que rua se localizam?

ANEXOS

ANEXO A- Antiga Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas em 1914.

ANEXO B- Antiga Santa Casa de Alfenas- MG em 1907.

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