radiologia 04 - propedeutica por imagem em obstetrícia - med resumos (jan-2012)

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Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 1 MED RESUMOS 2012 NETTO, Arlindo Ugulino. RADIOLOGIA PROPEDEUTICA POR IMAGEM EM OBSTETRÍCIA (Professora Mariana Muniz) Nos ltimos 15 anos, o diagnstico por imagem em obstetrcia e ginecologia sofreu alteraes significativas, basicamente devido influncia das novas modalidades de imagem. A modalidade isolada que alterou mais significativamente a abordagem diagnstica dos problemas obsttricos e ginecolgicos foi a ultra-sonografia. A notvel capacidade dessa tcnica de mostrar a anatomia a anatomia da pelve feminina grvida e no-grvida, sem o uso de radiao ionizante, motivou o desenvolvimento de tcnicas e instrumentao que substituram quase por completo muitos dos exames radiolgicos. A ressonncia nuclear magntica (RNM), de todas as outras modalidades de imagem, defendida por alguns no diagnstico ginecolgico e obsttrico. No entanto, o alto custo da RNM e a disponibilidade disseminada da USG limitaram ainda mais o uso da RNM. De um modo geral, apresentamos as seguintes modalidades para a propedutica por imagem em obstetrcia: raios-X e tomografia computadorizada (ambas fazem uso de radiao ionizante, o que no interessante para o feto); ultra-sonografia (modalidade mais amplamente utilizada por no envolver radiao ionizante); dopplervelocimetria (recurso adicionado RNM); ressonncia magntica (no faz uso de radiao ionizante, mas sim de pulsos de radiofrequncia; o seu custo e movimento do beb dentro do tero da me so seus fatores limitantes, contudo, novas tcnicas com sequncias novas cada vez mais rpidas diminuem os artefatos causados pela movimentao do feto). USO DE RADIAO IONIZANTE PARA IMAGENS EM OBSTETRCIA A National Council on Radiation Protection and Measurements (1977) considera, como risco desprezvel de irradiao fetal, doses de at 5 rads. A radiao ionizante, base do funcionamento da tomografia computadorizada e dos raios-X, pode causar, no primeiro trimestre de gravidez, aborto e restrio do crescimento fetal. Por esta razo, busca-se evitar este tipo de exposio materno-fetal nos primeiros trs meses de gestao. De fato, durante o perodo de organognese (6 a 10 semana de gestao) que o feto apresenta maior vulnerabilidade. Preconiza-se apenas o uso de USG e RNM. No segundo e terceiro trimestres, os riscos menores, uma vez que o beb j est quase completamente formado. Contudo, independente, tem-se relacionado um pequeno aumento do risco de cncer na infncia. A tomografia computadorizada responsvel por expor a gestante aos maiores ndices de radiao ionizante por um exame de imagem, maior at que os raios-X. Por esta razo, deve-se evitar sempre que possvel a exposio da mesma a estes altos ndices de radiao ionizante. Geralmente, a TC tem indicao limitada avaliao do abdome agudo materno (como para suspeitas de apendicite na me), quando no se dispe de RNM. As doses de radiao so: TC de abdome: 10 mGy (1 rad) TC de abdome e pelve: 30 mGy (3 rads) ULTRASSONOGRAFIA (USG) A ultrassonografia, de fato, o mtodo de diagnstico por imagem mais importante na gestao e faz parte da rotina pr-natal, isto : quer seja uma gestao de curso normal ou uma gestao mais complicada, a USG deve ser utilizada. Contudo, a USG s fornece o diagnstico de gravidez a partir da 5 semana de gestao, sendo necessria a dosagem da frao beta do hormnio gonadotrfico corinico humano (β-hCG), que avalia a funo trofoblstica, para o diagnstico concreto da gravidez com poucos dias de gestao. Segundo a International Reference Preparation, quando o β-hCG alcana valores de 1000 e 2000 mUI/mL (que ocorre por volta da 5 semana), j possvel identificar o saco gestacional intra-uterino por meio da USG transvaginal. Com o uso de USG transabdominal, o diagnstico por imagem acontece por volta da 8 semana. A importncia da USG se baseia na sua capacidade de fornecer os seguintes dados: Estimativa da idade gestacional e crescimento fetal; Vitalidade fetal por meio do perfil biofsico fetal (PBF e Doppler); Rastreamento e diagnstico de anomalias fetais; Avaliao dos riscos de aborto, gestao ectpica, e a neoplasia trofoblstica gestacional (NTG); Diagnstico de gestao mltipla Serve para avaliao da situao fetal (longitudinal ou transversa em relao ao eixo do tero materno), apresentao (ceflica ou plvica), posio do dorso em relao me. Alguns aparelhos marcam o lado direito da me (at mesmo com o logotipo da marca do aparelho), o que facilita a referncia da posio fetal com relao me; Aspectos da placenta; Cordo umbilical (as duas artrias e a veia umbilical);

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Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2

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MED RESUMOS 2012NETTO, Arlindo Ugulino.RADIOLOGIA

PROPEDEUTICA POR IMAGEM EM OBSTETRÍCIA(Professora Mariana Muniz)

Nos �ltimos 15 anos, o diagn�stico por imagem em obstetr�cia e ginecologia sofreu altera��es significativas, basicamente devido � influ�ncia das novas modalidades de imagem. A modalidade isolada que alterou mais significativamente a abordagem diagn�stica dos problemas obst�tricos e ginecol�gicos foi a ultra-sonografia. A not�vel capacidade dessa t�cnica de mostrar a anatomia a anatomia da pelve feminina gr�vida e n�o-gr�vida, sem o uso de radia��o ionizante, motivou o desenvolvimento de t�cnicas e instrumenta��o que substitu�ram quase por completo muitos dos exames radiol�gicos. A resson�ncia nuclear magn�tica (RNM), de todas as outras modalidades de imagem, � defendida por alguns no diagn�stico ginecol�gico e obst�trico. No entanto, o alto custo da RNM e a disponibilidade disseminada da USG limitaram ainda mais o uso da RNM.

De um modo geral, apresentamos as seguintes modalidades para a proped�utica por imagem em obstetr�cia: raios-X e tomografia computadorizada (ambas fazem uso de radia��o ionizante, o que n�o � interessante para o feto); ultra-sonografia (modalidade mais amplamente utilizada por n�o envolver radia��o ionizante); dopplervelocimetria (recurso adicionado � RNM); resson�ncia magn�tica (n�o faz uso de radia��o ionizante, mas sim de pulsos de radiofrequ�ncia; o seu custo e movimento do beb� dentro do �tero da m�e s�o seus fatores limitantes, contudo, novas t�cnicas com sequ�ncias novas cada vez mais r�pidas diminuem os artefatos causados pela movimenta��o do feto).

USO DE RADIA��O IONIZANTE PARA IMAGENS EM OBSTETR�CIAA National Council on Radiation Protection and Measurements (1977) considera, como risco desprez�vel de

irradia��o fetal, doses de at� 5 rads.A radia��o ionizante, base do funcionamento da tomografia computadorizada e dos raios-X, pode causar, no

primeiro trimestre de gravidez, aborto e restri��o do crescimento fetal. Por esta raz�o, busca-se evitar este tipo de exposi��o materno-fetal nos primeiros tr�s meses de gesta��o. De fato, � durante o per�odo de organog�nese (6� a 10� semana de gesta��o) que o feto apresenta maior vulnerabilidade. Preconiza-se apenas o uso de USG e RNM.

No segundo e terceiro trimestres, os riscos menores, uma vez que o beb� j� est� quase completamente formado. Contudo, independente, tem-se relacionado um pequeno aumento do risco de c�ncer na inf�ncia.

A tomografia computadorizada � respons�vel por expor a gestante aos maiores �ndices de radia��o ionizante por um exame de imagem, maior at� que os raios-X. Por esta raz�o, deve-se evitar sempre que poss�vel a exposi��o da mesma a estes altos �ndices de radia��o ionizante. Geralmente, a TC tem indica��o limitada � avalia��o do abdome agudo materno (como para suspeitas de apendicite na m�e), quando n�o se disp�e de RNM. As doses de radia��o s�o:

TC de abdome: 10 mGy (1 rad) TC de abdome e pelve: 30 mGy (3 rads)

ULTRASSONOGRAFIA (USG)A ultrassonografia, de fato, � o m�todo de diagn�stico por imagem mais importante na gesta��o e faz parte da

rotina pr�-natal, isto �: quer seja uma gesta��o de curso normal ou uma gesta��o mais complicada, a USG deve ser utilizada.

Contudo, a USG s� fornece o diagn�stico de gravidez a partir da 5� semana de gesta��o, sendo necess�ria a dosagem da fra��o beta do horm�nio gonadotr�fico cori�nico humano (β-hCG), que avalia a fun��o trofobl�stica, para o diagn�stico concreto da gravidez com poucos dias de gesta��o. Segundo a International Reference Preparation, quando o β-hCG alcan�a valores de 1000 e 2000 mUI/mL (que ocorre por volta da 5� semana), j� � poss�vel identificar o saco gestacional intra-uterino por meio da USG transvaginal. Com o uso de USG transabdominal, o diagn�stico por imagem acontece por volta da 8� semana.

A import�ncia da USG se baseia na sua capacidade de fornecer os seguintes dados: Estimativa da idade gestacional e crescimento fetal; Vitalidade fetal por meio do perfil biof�sico fetal (PBF e Doppler); Rastreamento e diagn�stico de anomalias fetais; Avalia��o dos riscos de aborto, gesta��o ect�pica, e a neoplasia trofobl�stica gestacional (NTG); Diagn�stico de gesta��o m�ltipla Serve para avalia��o da situa��o fetal (longitudinal ou transversa em rela��o ao eixo do �tero materno),

apresenta��o (cef�lica ou p�lvica), posi��o do dorso em rela��o � m�e. Alguns aparelhos marcam o lado direito da m�e (at� mesmo com o logotipo da marca do aparelho), o que facilita a refer�ncia da posi��o fetal com rela��o � m�e;

Aspectos da placenta; Cord�o umbilical (as duas art�rias e a veia umbilical);

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Avalia��o da quantidade do l�quido amni�tico; Doen�as ginecol�gicas (como miomas) e n�o ginecol�gicas (infec��es do trato urin�rio); Guia para procedimentos invasivos (amniocentese, pun��o de cord�o umbilical, transfus�es de sangue, etc).

A Federa��o Brasileira de Ginecologia e Obstetr�cia (FEBRASGO) recomenda que a USG pr�-natal seja realizado entre a 10� – 14� semanas de gesta��o, entre a 18� – 24� de gesta��o e entre a 34� – 38� semana (pr�ximo ao termo). Se s� for poss�vel realizar um �nico exame (devido �s precariedades do sistema de sa�de p�blico), que este seja feito, preferencialmente, em torno da 20� semana de gesta��o.

Devido � import�ncia da USG para a gesta��o, abordaremos a sua validade e principais propriedades para cada trimestre de gesta��o.

BIOMETRIA FETAL E IDADE GESTACIONAL (IG)A biometria fetal � o par�metro que relacionada a

idade gestacional com o crescimento fetal (medidas antropom�tricas). Os principais par�metros no exame de rotina s�o: comprimento cabe�a-n�dega (CCN), di�metro biparietal (DBP), circunfer�ncia cef�lica (CC), a circunfer�ncia abdominal (CA) e o tamanho do f�mur. Todos estes par�metros avaliados apresentam valores tabelados pr�-determinados para a rela��o com a idade fetal. Por isso, deve-se selecionar a tabela adequada para cada ra�a avaliada.

Para estipular a idade gestacional, utilizaremos a medida do comprimento cabe�a-n�dega (CCN). Considera-se aqui a idade gestacional como a idade menstrual, isto �, se a paciente tem a gesta��o intrauterina com idade gestacional de 10 semanas, isto significa que passaram 10 semanas desde o primeiro dia do �ltimo per�odo menstrual normal e, presumindo-se que ela tenha tido um ciclo menstrual normal de 28 dias, esta � a 8� semana desde a fertiliza��o (uma vez que a idade da fecunda��o � estimada a partir do dia da ovula��o, cerca de 14 dias depois da �ltima menstrua��o).

PRIMEIRO TRIMESTREDurante este per�odo, as imagens sonogr�ficas s�o bem caracter�sticas. As estruturas embrion�rias aparecem

em �pocas espec�ficas. � neste per�odo que se realiza a biometria fetal.� justamente durante o 1� trimestre gestacional que se tem a rela��o CCN e idade gestacional mais fidedigna,

uma vez que, a partir deste per�odo, o feto come�a a expressar seus caracteres gen�ticos e, a depender da altura dos pais, por exemplo, pode resultar em algumas margens de erro quanto aos valores tabelados do CCN.

No primeiro trimestre de gesta��o, o ultrassom transvaginal deve ser um exame obrigat�rio. A determinação da idade gestacional pode ser avaliada por estruturas que aparecem em �pocas espec�ficas e pr�-determinadas:

Com 5 semanas de gesta��o, � poss�vel visualizar o saco gestacional, mas � imposs�vel observar o saco vitelino, o embri�o e os batimentos card�acos;

Com 5 semanas e meia, � poss�vel observar o saco gestacional com o saco vitelino em seu interior. Contudo, � imposs�vel observar o embri�o e seus batimentos card�acos;

Com 6 semanas de gesta��o, o saco gestacional, o saco vitelino e o embri�o (maior que 5 mm) s�o identific�veis.

Portanto, para verificar a idade gestacional do concepto durante o primeiro trimestre de gesta��o (0 a 13 semanas) podemos fazer uso dos do Di�metro M�dio do Saco Gestacional (DMSG) e do Comprimento Cabe�a-N�dega (CCN, sendo este o mais importante para este per�odo gestacional). Estes par�metros podem ser avaliados devido a uma menor varia��o biol�gica do tamanho fetal no 1� trimestre e por apresentarem uma maior acur�cia para determina��o da IG.

Em resumo na USG no primeiro trimestre, podemos observar as seguintes imagens, de acordo com a idade gestacional:

4ª semana: com 4 semanas e 3 dias, � poss�vel observar uma pequena esfera anecog�nica (escura) que representa o saco gestacional, que se torna-se vis�vel dentro da dec�dua. N�o � poss�vel medir o CCN neste per�odo uma vez que n�o se observa o embri�o. Mede-se, neste caso, o di�metro m�dio do saco gestacional (o primeiro sinal de gesta��o vis�vel na USG).

5ª semana: com 5,5 semanas, dentro do saco gestacional, j� � poss�vel observar uma estrutura conc�ntrica ao saco gestacional – a vesícula vitelina.

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6� semana: com 6 semanas, o saco gestacional, a ves�cula vitelina e embri�o j� aparecem na USG. O CCN est� em torno de 4 – 8 mm. Com cerca de 6 semanas e 3 dias, os batimentos card�acos j� se mostram na forma de ondas sonoras. Gesta��es m�ltiplas tamb�m podem ser identificadas neste per�odo.

8� semana: com 8 semanas, j� � poss�vel diferenciar claramente o p�lo cef�lico e as n�degas da crian�a. Conhecendo estes dois pontos, verifica-se a CCN mais facilmente para estipular a IG com pouco vi�s.

9� semana: com 9 semanas, � poss�vel separar a cavidade amni�tica da cavidade cori�nica. � neste per�odo que estruturas como as m�os e os p�s do beb� come�am a se definir. Portanto, j� � poss�vel avaliar parte da conforma��o morfol�gica do beb�.

10� – 12� semana: durante este per�odo, o CCN atinge cerca de 32 - 54 mm. J� � poss�vel avaliar, com maior aptid�o, o sexo do beb�. A forma��o dos ventr�culos cerebrais � poss�vel de ser identificada (com cerca de 12 semanas).

No primeiro trimestre de gesta��o, podemos ainda fazer uso de alguns marcadores ultrassonogr�ficoscapazes de identificar anomalias cromoss�micas no beb�. S�o eles:

Transluc�ncia nucal: geralmente, � poss�vel observar esta forma��o quando a CCN atinge 45 a 84 mm (11� a 13� semanas de gesta��o) em um corte sagital adequado. Para melhor visualiza��o deste marcador, faz-se uma magnifica��o (zoom) de 75% da imagem. Deve-se medir a espessura m�xima entre pele fetal e o tecido celular subcut�neo da nuca do concepto (e n�o a membrana amni�tica ou o cord�o umbilical). O feto deve estar em posi��o neutra. Este marcador serve para avaliar, por exemplo, a trissomia do 21 (s�ndrome de Down), com sensibilidade em torno de 80%. A idade materna pode auxiliar no aumento da sensibilidade da transluc�ncia nucal.

Osso nasal: n�o existem tabelas de medida para o osso nasal. Avalia-se apenas a sua presen�a ou aus�ncia.Atualmente, v�m sendo desenvolvidas algumas tabelas que comparam o comprimento do osso nasal com o di�metro biparietal, por exemplo, mas que ainda n�o s�o utilizadas.

Frequ�ncia card�aca Curva de crescimento: para avaliar se h� restri��o de crescimento. Doppler do ducto venoso: o ducto venoso

� uma comunica��o (shunt) entre a veia umbilical e a veia cava inferior. � poss�vel avaliar, por meio deste Doppler, a s�stole (S) e di�stole ventricular (D) e a contra��o atrial (A). Geralmente, a velocidade do fluxo no ducto venoso � cerca de 3 vezes maior que o fluxo da veia cava inferior e da veia umbilical. A Vmax sist�lica do ducto venoso � de 40 a 80 cm/seg. A onda normal registrada pelo Doppler deve apresentar-se

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em uma �nica dire��o e que seja trif�sica (tr�s fases: S, D e A). Em algumas altera��es, o componente atrial aparece abaixo da linha de base, o que pode predizer a exist�ncia de alguma malforma��o.

As tr�s altera��es que falam a favor de altera��es gestacionais intrauterinas s�o, portanto: aus�ncia do osso nasal, presen�a do componente atrial invertido na Doppler e transluc�ncia nucal aumentada.

SEGUNDO E TERCEIRO TRIMESTRES DE GRAVIDEZNos segundo e terceiro trimestres de gravidez, a biometria fetal pode ser feita atrav�s dos seguintes par�metros:

Di�metro Bi-parietal (DBP), Per�metro Cef�lico (PC), Per�metro Abdominal (PA) e tamanho do F�mur (F). Para todos os par�metros, devemos realizar uma t�cnica precisa, uma vez que todos eles apresentam valores tabelados pr�-determinados.

DBP: os pontos de refer�ncia para a medi��o do DBP s�o: eco m�dio (da foice do c�rebro), t�lamos e III ventr�culo, cavum do septo pel�cido, fissura de Sylvius e cisterna ambiens. O eco m�dio, os t�lamos e parte dos ventr�culos laterais formam um tipo de “seta” cuja ponta fica voltada para o dorso do beb�. O DBP n�o � medido pelo di�metro m�ximo. Mede-se o DBP da face interna do osso parietal de um lado at� a face externa do osso parietal oposto (de t�bua interna do parietal para t�bua externa). A t�bua �ssea deve medir aproximadamente 2mm. Os marcadores eletr�nicos dever�o ser colocados na t�bua externa e na t�bua interna contralateral, cruzando os t�lamos. O DBP consiste no par�metro de elei��o no 2� trimestre, caso seja escolhido isoladamente.

Medidas dos ossos longos: geralmente, mede-se o f�mur ou o �mero, sendo o primeiro o mais utilizado. Consiste no par�metro de elei��o no 3o trimestre de gesta��o. Deve-se identificar com nitidez as extremidades do osso.

PC: o per�metro ou circunfer�ncia cef�lica � medida no mesmo plano do DBP, circundando a t�bua externa, desde a glabela at� a protuber�ncia occipital externa. A medi��o pode ser autom�tica ou utilizando a f�rmula: (DBP + DOF) x 1.62, sendo DOF a dist�ncia retil�nea entre o osso frontal e o osso occipital (Dist�ncia Occipito Frontal). O PC � muito utilizado para corrigir medidas alteradas devido � algumas malforma��es do cr�nio.

PA: o per�metro abdominal � medido atrav�s do corte transversal do abdome fetal ao n�vel da inser��o docord�o umbilical. Na USG, observa-se uma estrutura anecog�nica que representa o est�mago distendido por l�quido amni�tico. O par�metro correto consiste na medi��o do di�metro em n�vel do cord�o umbilical. Em alguns casos de atresia esof�gica, pode-se n�o observar a distens�o g�strica por l�quido.

OBS1: A ep�fise distal do f�mur se ossifica acima de 32 semanas, enquanto a ep�fise proximal da t�bia se ossifica acima de 35 semanas. Os ossos do carpo se ossificam apenas depois do nascimento, tanto � que a solicita��o de raios-X de punho serve para avalia��o da idade �ssea.OBS2: Conhecer o tempo de ossifica��o das principais estruturas �sseas � importante uma vez que a USG � utilizada ainda para avalia��o da maturidade fetal. Este par�metro � importante para casos de risco de parto prematuro e que o obstetra necessita manter a gravidez ao m�ximo para evitar um sofrimento fetal, como pela s�ndrome da membrana hialina (desconforto respirat�rio do rec�m-nascido) pela falta de surfactante. De fato, como a partir de 32 semanas, a ep�fise distal do f�mur come�a a se ossificar, j� temos um bom par�metro de viabilidade ou matura��o fetal.

Os principais marcadores ultra-sonogr�ficos para avalia��o de poss�veis anomalias no segundo trimestre s�o: osso nasal; Prega nucal; Intestino hiperecog�nico; �mero curto / f�mur curto; Pielectasia; Foco ecog�nico intra-card�co; Dilata��o ventricular cerebral; Cisto de plexo cor�ide; Clinodactilia; Alargamento do �ngulo p�lvico; Higroma c�stico; Hidropisia fetal; Anomalias estruturais.

Existe ainda um exame para o terceiro trimestre de gesta��o que � a ultra-sonografia morfol�gica, que se baseia na medida de todos os ossos do metacarpo da crian�a.

PLACENTAPara avaliar a placenta, faz-se uso de uma gradua��o que varia do grau 0 ao grau III de maturidade. Como

sabemos, a placenta � a estrutura respons�vel por realizar as trocas art�rio-venosas materno-fetais por meio do cord�o umbilical. Esta avalia��o � importante para avaliar a matura��o e, assim, o funcionamento da placenta. Se esta placenta envelhece muito cedo, as trocas sangu�neas tamb�m estar�o comprometidas.

A placenta grau 0 � aquela morfologicamente uniforme, com poucas ondula��es e haustra��es. A placenta grau I j� apresenta pequenos pontos hiperecog�nicos, mostrando-se um pouco mais ondulada. A placenta grau II, bem mais ondulada, apresenta uma maior densidade de pontos hiperecog�nicos. No grau III, a placa cori�nica da placenta j� apresenta muito mais ondula��es e com uma massa menos

homog�nea, repleta de pontos ecog�nicos. Costuma-se observar vasos sangu�neos dentro da placenta. Encontramos a placenta grau III em apenas 15% das gesta��es a termo. Se com 20 semanas de gesta��o, por exemplo, se encontra uma placenta caracter�stica do grau III, diz-se que ela est� envelhecida.

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Na maior parte das gestações a termo, a placenta chega ao máximo no grau I. O fluxo dos vasos na placenta e no cordão umbilical pode ser avaliado por meio do Doppler. Além disso, preconiza-se que a espessura da placenta não pode exceder os 4 cm.

COLO UTERINOA avaliação do colo uterino por meio de uma USG transvaginal é importante para prever ameaças de aborto

através da abertura do colo uterina, detectada pela USG.

LÍQUIDO AMNIÓTICOPara avaliação do líquido

amniótico, divide-se o abdome da gestante em 4 quadrantes a partir da cicatriz umbilical. Depois de traçadas as linhas imaginárias, deve-se pesquisar com o transdutor da USG, quadrante por quadrante, a região com maior quantidade de líquido amniótico sem nenhuma estrutura fetal contida nesta área. Deve-se somar, em cm, esta maior área de líquido amniótico sem estruturas fetais com as demais bolsas amnióticas livres. A medida varia de 8 a 18, valores preconizados por tabela, determinados pelo chamado Índice de Líquido Amniótico (ILA). Abaixo de 8 cm, temos um quadro de oligoamnio, relacionado, muito provavelmente, por um problema do sistema urinário do bebê ou na placenta; acima de 18 cm, polidrâmnio, relacionado, muito provavelmente, com um distúrbio no trato gastrointestinal, como uma estenose de piloro ou atresia de esôfago.

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PROCEDIMENTOS INVASIVOS GUIADOS POR USGNas necessidades de realização de procedimentos obstétricos invasivos, tais como punção de líquido amniótico,

a USG é um importante modo de guia para evitar a lesão de estruturas fetais.

DOPPLERFLUXIMETRIAPor meio da dopplerfluximetria, é possível realizar o estudo do fluxo sanguíneo das artérias uterinas, avaliando a

funcionalidade da circulação uteroplacentária e umbílico-placentária e fetal. Normalmente, no útero não-gravídico, por não necessitar de tanto suprimento sanguíneo, o componente da diástole apresenta-se menos cheio. O contrário ocorre no útero gravídico.

A partir da 16ª a 20ª semana de gestação, é preferível que o componente diastólico já esteja cheio nas artérias uterinas. Para avaliar a circulação umbilical, aplica-se o transdutor do Doppler diretamente na artéria umbilical. Normalmente, a artéria umbilical deve apresentar um componente diastólico cheio. Para avaliar a circulação fetal, opta-se por avaliar um órgão nobre do feto, como o cérebro e a sua artéria cerebral média, a qual, normalmente, apresenta um componente diastólico mais vazio (menos intenso e geralmente, invertido).

1. Avaliação do fluxo das artérias uterinasQuando ocorre a segunda onda de migração trofoblástica normalmente,

encontraremos, ao avaliar as artérias uterinas, os componentes sistólicos e diastólicos cheios, sem a presença de incisuras ou artefatos. Caso não ocorra a segunda onda de migração trofoblástica, ocorrerá o aparecimento de uma pequena onda entre o componente sistólico e o diastólico, sendo denominada de incisura protodiastólica (demonstrando uma alteração patológica na perfusão das artérias uterinas). Geralmente, este fato ocorre com pacientes que apresentem patologias vasculares de base, como diabetes ou hipertensão.

Pode ocorrer ainda que a incisura protodiastólica aparece em apenas uma das artérias uterinas. Este fato é mais preocupante quando o fluxo alterado é da artéria localizada no mesmo lado em que se encontra a placenta. Caso a incisura protodiastólica seja encontrada no fluxo da artéria do lado oposto ao de implante da placenta, embora seja um caso menos grave e a gravidez curse sem maiores intercorrências na maioria das vezes, deve-se acompanhar a gestação criteriosamente.

2. Avaliação da centralização de fluxoA centralização de fluxo, isto é, a eleição do destino sanguíneo fetal para os órgãos nobres, pode determinar ou

predizer um caso de sofrimento fetal. Como sabemos, o Doppler normal das artérias umbilicais demonstra um componente sistólico e diastólico cheios. Diferentemente da artéria cerebral média fetal, onde o fluxo apresenta um componente sistólico cheio, mas com um componente diastólico um pouco mais vazio. No quadro em que ocorrecentralização do fluxo, o componente sistólico e diastólico das artérias uterinas esvazia um pouco enquanto que o componente diastólico da artéria cerebral média se intensifica, isto é, fica mais cheio. Isto indica, como vimos, que o feto entrou em sofrimento e o cérebro tem seu fluxo priorizado.

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Para avaliar a gravidade do fen�meno de centraliza��o do fluxo, deve-se calcular o �ndice de resist�ncia das Aa. Umbilicais/ �ndice de resist�ncia da art�ria cerebral m�dia. Como o �ndice de resist�ncia das Aa. umbilicais � menor que o a resist�ncia nas arteriais cerebrais, o valor normal deve ser menor que 1. Contudo, algumas escolas invertem a raz�o (isto � IR da ACM/IR da AU), fazendo com que o �ndice normal seja maior que 1.

3. Avalia��o do fluxo da art�ria umbilicalQuando o obstetra observa a centraliza��o do fluxo, ele deve manter a gravidez na medida do poss�vel at� que o

feto tenha condi��es de vir a termo sem maiores complica��es. Contudo, para isto, ele deve acompanhar diariamente a gesta��o atrav�s do Doppler da art�ria umbilical, principalmente, fazendo uso de cortic�ides para induzir a matura��o fetal.

A dopplerfluximetria da art�ria umbilical, com o decorrer do curso do sofrimento fetal, pode passar de um fluxo normal para um momento de “di�stole zero”, de modo que apenas o componente sist�lico seja vis�vel. Geralmente, quando o obstetra encontra a di�stole zero, a gravidez � interrompida por indu��o de parto normal ou cesariana. Caso o obstetra n�o interrompa a gesta��o, observaremos o quadro extremo de “di�stole reversa”, o que traduz em um sofrimento fetal intenso, em que a circula��o fetal entra em descompensa��o e o risco de morte intra-uterina � muito grande.

ULTRASSONOGRAFIA 3D E 4DA USG 3D � capaz de, a partir dos dados obtidos por uma USG

tradicional, construir uma imagem tridimensional, mostrando, de forma mais fiel e bem definida, o concepto. Atualmente, alguns aparelhos de USG 3D fornecem imagens em tempo real, sem ser necess�ria a convers�o da imagem tradicional para a imagem em 3D. A este recurso, deu-se o nome de USG 4D.

As limita��es para a USG 3D/4D s�o poucas: o custo e a falta de disponibilidade. De uma forma geral, as vantagens da USG 3D/4D s�o:

R�pida aquisi��o de dados de volume Melhora a detec��o e suspeita de anomalias fetais Maior acur�cia na identifica��o da extens�o e tamanho das anomalias

complementando planos e orienta��es de dif�cil aquisi��o pela USG 2D Melhora reconhecimento de anomalias por ultrassonografistas menos

experientes Melhora a compreens�o das anomalias fetais pelos familiares Favorece uma melhora na rela��o materno-fetal

PER�ODOS PARA A REALIZA��O DA USG

Fase 1 (0 – 10 semanas): Avalia��o precoce da idade gestacional. Note no gr�fico acima que a fase 1 corresponde � parte do primeiro trimestre, em que a IG pode ser estimada com maior precis�o.

Fase 2 (10 – 14 semanas): USG morfol�gica do 1o trimestre (avaliando a transluc�ncia nucal, presen�a do osso nasal e Doppler do ducto venoso); bi�psia de vilo corial.

Fase 3 (16 – 20 semanas): Amniocentese para estudo gen�tico fetal. Fase 4 (20 – 24 semanas): USG morfol�gica fetal (pesquisa e medi��o de todos os ossos e �rg�os). Fase 5 (28 semanas – termo): Avaliar peso fetal e quantidade de l�quido amni�tico; dopplerfluxometria

(avalia��o da migra��o trofobl�stica por meio do fluxo da Aa. uterinas e avalia��o da centraliza��o do fluxo e sofrimento fetal); perfil biof�sico fetal (movimenta��o, t�nus, responsividade a est�mulos, movimentos respirat�rios fetais, etc); amniocentese para pesquisa de maturidade fetal.

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Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2

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RESSON�NCIA NUCLEAR MAGN�TICAAté o momento, ainda não há risco biológico conhecido para o feto ou para a mãe. Contudo, é prudente evitar o

uso de RNM durante o primeiro trimestre de gestação. Deve-se evitar ainda o uso de Gadolínio (categoria C), contraste utilizado na RNM que atravessa a barreira placentária.

Os artefatos de imagem causados pelo movimento fetal e a contraindicação durante o primeiro trimestre de gravidez são os principais fatores limitantes para o uso de RNM na obstetrícia. O uso de sequências mais rápidas podem evitar estes artefatos de imagem por movimentação fetal.

As principais indicações da RNM são: Avaliação de dor abdominal (abdome agudo materno) Hidronefrose do feto Pelvimetria da mãe (que antigamente era feito pelo uso de raios-X) Avaliação da placenta Malformações fetais

CONSIDERA��ES FINAISConclui-se, ao final de todo nosso estudo acerca do uso de exames por imagem na obstetrícia:

A USG consiste no método de escolha devido ao seu baixo custo, capacidade de avaliar em tempo real, sua disponibilidade e ausência de efeitos deletérios para o feto ou para a mãe.

A TC é um exame limitado na obstetrícia. Geralmente, é utilizado apenas nos casos de dores abdominais (como em risco de apendicite) quando não se dispõe de uma RNM.

O uso de RNM está aumentando devido aos equipamentos mais modernos e rápidos.