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  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

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    O conceito de bullying: levantamento inicial para a anlise da representao do fenmeno no seriado Todo mundo odeia o Chris1

    Joadir Antnio Foresti, Rafiza Luiziani Varo Ribeiro Carvalho, Rosana Nantes Pavarino, Gessica Fernanda Daniel e Jssica dos Santos Xavier2 Universidade Catlica de Braslia (UCB), Braslia, DF

    Resumo A partir da dcada de 1970, o termo bullying ganhou visibilidade e passou a figurar com frequncia nos meios de comunicao, em cenas de violncia. O conceito deste fenmeno, contudo, bastante controverso. Nesse sentido, o presente artigo busca, primeiro, elencar o significado da palavra bullying da forma como entendida por pesquisadores da pedagogia e da psicologia, reas mais comumente interessadas no fenmeno. Em seguida, optou-se por verificar o que no representaria situaes de bullying, visando eliminar possveis distores entre o conceito e suas representaes miditicas. Para isso, analisou-se os primeiros oito episdios do seriado norte americano Todo Mundo Odeia o Chris. Palavras-chave: bullying; meios de comunicao; conceito. Introduo

    O bullying comum nas escolas entre crianas e adolescentes. Na dcada de 1970,

    na Sucia, no entanto, a sociedade passou a ter maior interesse sobre o tema, que passou a

    figurar, inclusive, em discusses acadmicas. Mas se, por um lado, passou-se a discutir

    mais o assunto, por outro, o nmero de situaes confundidas com o fenmeno tambm

    cresceu.

    Para compreender melhor o bullying e trabalhar tcnicas de superao em escolas de

    Ensino Fundamental, o curso de Comunicao Social da Universidade Catlica de Braslia

    criou em 2010 o grupo de pesquisa Educomunicao: Superao do Bullying. O grupo

    composto por professores e estudantes dos cursos de Comunicao Social e Pedagogia e

    prope oficinas de produo de material impresso (um jornal) como preveno violncia

    nas escolas.

    Neste artigo, o objetivo estabelecer o primeiro uma definio mais consistente para

    o termo bullying antes de aprofundar as pesquisas sobre o tema e leva-lo ao pblico alvo do

    projeto, crianas de 9 a 12 anos de idade. Devido a ter verificado pequeno e, em alguns

    1 Trabalho apresentado no GP Comunicao e Educao do XII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicao, evento componente do XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao. 2 Estudante de Graduao 8 semestre do curso de Comunicao Social, Habilitao Jornalismo da UCB, e-mail: [email protected]

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    casos, at inexistente esforo em delimitar conceitos que permitissem compreender o

    bullying, mesmo em bibliografias especficas sobre o tema, decidimos trabalhar um

    conceito a partir do qual o grupo de pesquisa ir trabalhar.

    Poucas pesquisas sobre o assunto foram encontradas e o material existente se

    preocupa com um tratamento mais emprico e menos conceitual do tema, o que no permite

    conhecer o bullying e conseguir delimit-lo de maneira mais cientfica. Cleo Fante (2005),

    por exemplo, a especialista mais citada no pas quando se trata do assunto, tenta entender a

    situao, mas no consegue identificar que casos especficos se referem ao fenmeno ou

    no. Na rea da Comunicao, por outro lado, a bibliografia sobre a matria realmente

    nula.

    Como ensinar crianas a lidar com o bullying e super-lo utilizando-nos de tcnicas

    e meios de comunicao, ento?

    As explicaes que encontramos para o fenmeno em nossa reviso de literatura tm

    sentidos muito amplos e, segundo Vieira (2009, p. 48-49), podem compreender

    colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, assediar, aterrorizar, amedrontar, perseguir, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences.

    Devido a essa situao, definimos como problema de pesquisa a investigao a

    partir de um programa exibido na televiso aberta de que situaes de violncia entre

    crianas em idade escolar no podem ser considerados bullying. O programa escolhido foi o

    seriado norte americano Todo Mundo Odeia o Chris. Um ponto chave de toda a

    investigao so as imagens do bullying propagadas rotineiramente pelos meios de

    comunicao.

    Por essa razo, a deciso para entendermos o significado do bullying foi abordarmos

    o que no caracteriza tal situao. Para tanto, contamos com uma reviso de literatura que

    aponta conceitos e definies e posteriormente, a partir de um produto de comunicao

    (seriado Todo Mundo Odeia o Chris), vamos apontar quando as agresses vivenciadas pelo

    personagem principal podem ser representativas do que no bullying.

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    O seriado Todo mundo odeia o Chris uma produo do ator e comediante

    estadunidense Chris Rock, onde so narradas as dificuldades dele durante a adolescncia

    devido ao preconceito por ser negro. Na trama, Chris (Chris Rock) agredido pelos colegas

    na escola, pelos vizinhos e familiares e reage de forma positiva a essas situaes. Como

    recorte, vamos analisar apenas as situaes de agresso em ambiente escolar.

    A violncia sofrida por Chris, inclusive, uma das caractersticas vistas entre

    vtimas de bullying. Segundo Vieira (2009, p. 41) e Chagas (2008, p. 158), crianas

    diferentes tendem a ser excludas do convvio do grupo nas escolas. Assim, constatamos

    que a partir do seriado teremos a chance de verificar empiricamente o que nos dizem os

    pesquisadores do tema.

    Embora a amostra tenha sido pequena (cerca de 10%, oito episdios3), ela

    representativa por que consegue descrever a maioria das situaes que Chris enfrenta na

    escola durante todo o high school (equivalente ao Ensino Mdio no Brasil). A anlise

    objetiva identificar possveis posturas defensivas em relao ao bullying. Como pode ser

    demasiadamente audacioso investigar as razes que levam o Chris a no se preocupar com

    o tratamento que recebe dos colegas, pretende-se apenas identificar momentos em que a

    criana vtima pode se preocupar com outras questes que no a intimidao e, portanto,

    combat-la.

    Entendemos esse estudo como vlido por que ele pretende analisar um produto

    disponibilizado pelos meios de comunicao para compreender como tem se dado as

    relaes entre a sociedade e esse contedo. A televiso, principalmente, entra com grande

    facilidade na casa das pessoas, mas pouco se tem estudado sobre que interferncias essa

    assistncia pode trazer ao pblico.

    A anlise que fizemos foi superficial. Como o objetivo do trabalho no verificar

    caractersticas do produto de comunicao, mas compreender o tema e usar o seriado como

    uma forma de compreender as informaes catalogadas, a verificao de alguns

    acontecimentos com o personagem principal suficiente para exemplificar o que foi

    percebido durante as leituras.

    3 Os episdios analisados foram: "Todo Mundo Odeia o Piloto (1982)", "Todo Mundo Odeia Keisha (1982)", "Todo Mundo Odeia Basquetebol (1982)", "Todo Mundo Odeia Linguia (1982)", "Todo Mundo Odeia Miko (1982)", "Todo Mundo Odeia Halloween (1982)", "Todo Mundo Odeia a Bab (1982)" e "Todo Mundo Odeia a Lavanderia (1982)".

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    Reviso Terica - O que o bullying?

    O termo bullying deriva da expresso bully, que pode ser traduzida como 1.

    valento, -ona; 2. (bullied) provocar, intimidar algum 4. Chagas (2008, p. 158) tem um

    material sobre jovens talentosos que aponta que as habilidades deles fazem com que

    frequentemente sofram agresses dos colegas. O estudo dela vai numa direo contrria a

    nossa, mas confirma o que dito por Cleo Fante. Segundo essa autora, caractersticas

    diferentes da maioria do grupo, sobretudo timidez e retrao, fazem com que os jovens

    passem a ser perseguidos por outros alunos.

    Se h na classe um aluno que apresenta caractersticas psicolgicas como ansiedade, insegurana, passividade, timidez, dificuldade de impor-se, do tipo bode expiatrio... ele logo ser descoberto pelo agressor (FANTE, 2005, p. 48).

    Assim, qualquer diferena em relao ao grupo pode ser responsvel pela

    discriminao e prticas de bullying. Vieira (2009, p. 44) diz que se trata de uma

    manifestao de violncia atravs da afirmao de poder por meio de agresso, seja ela

    fsica ou no. Mesmo dando ao termo uma gama muito ampla de possibilidades, ele alerta

    que para configurar uma situao de bullying necessrio que ocorram

    [...] atos repetitivos e duradouros de natureza humilhante e vexatria, caracterizados por relaes desumanas e autoritrias, onde a vtima hostilizada e ridicularizada diante dos colegas, isolada do grupo e exposta a efeitos perniciosos (VIEIRA, 2009, p. 48-49).

    Outra caracterizao do bullying citada por Chagas afirma que o fenmeno

    [...] uma ao ameaadora, preconceituosa e agressiva. Nesses episdios o agressor pode utilizar fora fsica, ironia, apelidos pejorativos e escrnio sempre no sentido de desqualificar, fragilizar ou intimidar a pessoa-alvo (TORRANCE, 2000 apud CHAGAS, 2008, p. 158).

    Alm disso, algumas caractersticas facilitariam a submisso de alguns indivduos a

    outros quando se fala em bullying. Assim, traos de depresso, ideao suicida, baixa auto-

    estima, e dificuldades nas relaes sociais podem estar vinculados a situaes de bullying

    (NEIHART, 2002; RIMM, 2002; SCHULER, 2002).

    4Dicionrio Oxford Escolar para estudantes brasileiros de ingls.

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    Confirmando esse quadro, que delimita uma vtima potencial de bullying, Peterson e

    Ray (2006 apud CHAGAS, 2008, p. 159) afirmam que a agresso pode ser intensificada

    entre um grupo de jovens mais retrados e distanciados do convvio social e provocar

    reaes agressivas (CHAGAS, 2008, p. 159). Essa afirmao talvez seja a que nos

    possibilite compreender melhor casos de violncia extrema entre estudantes divulgados

    ultimamente5. As vitimas do bullying tendem a ser retradas e mais isoladas que as demais

    crianas. Assim, aps suportar longos perodos de exposio aos maus tratos dos colegas,

    alguns estudantes reagem violentamente e, s vezes, contra pessoas diferentes de seus

    algozes.

    Santos (2007, p. 20) tambm auxilia na compreenso do tema. Sua maior

    contribuio em relao ao conceito proposto por Chagas e Vieira que, alm de ser

    necessrio um quadro de violncia repetitiva para caracterizar o fenmeno, o bullying

    uma agresso da qual a vtima no consegue se livrar sozinha, o que exige

    acompanhamento dos pais e professores (visto que o fenmeno acontece nas escolas) e

    aponta a necessidade de discusso do tema em ambiente escolar.

    A partir do que foi apresentado acima (Chagas, 2008, Vieira, 2009 e Santos, 2007)

    possvel lanar uma ideia do que seja o bullying, mas ainda no um conceito, exatamente.

    Os autores permitem compreender que o fenmeno um tipo de agresso, mas no

    qualquer agresso em qualquer contexto. Especificamente, nenhum dos trs destaca o

    ambiente escolar, mas se referem a um perodo em que as crianas/adolescentes esto

    reunidos com indivduos da mesma idade, o que faz da escola o ambiente mais bvio.

    Santos (2007, p. 20) ainda frisa que o comportamento mais comum entre indivduos dos

    11 aos 14 anos.

    Com esses guias possvel dizer que o bullying um tipo de violncia/agresso que

    acontece em ambiente escolar, onde agressores praticam desde violncia psicolgica at

    fsica contra vtimas que esto fora do convvio da maioria por serem diferentes do restante 5 Essa situao foi percebida no caso do estudante que voltou a Escola Municipal Tasso da Silveira em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde disse ter sofrido bullying durante a infncia e matou doze crianas antes de suicidar O assassinato aconteceu em 7 de abril de 2011, por volta das 8h30min da manh. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a escola armado com dois revlveres e comeou a disparar contra os alunos presentes, matando doze deles, com idade entre 12 e 14 anos. Aps ser interceptado por policiais, Wellington cometeu suicdio. A motivao do crime figura incerta, porm a nota de suicdio de Wellington e o testemunho pblico de sua irm adotiva e o de um colega prximo apontam que o atirador era reservado, sofria bullying e pesquisava muito sobre assuntos ligados a atentados terroristas e a grupos religiosos fundamentalistas. O crime teve ampla repercusso em noticirios internacionais. A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, decretou luto nacional de trs dias em virtude das mortes.

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    do grupo. Contudo, essa definio de bullying no abarca sua principal caracterstica, que

    o fato de a vtima ter de aceitar a agresso para que ela seja considerada bullying.

    Cleo Fante (2005, p. 56) destaca esse diferencial. Segundo ela, resultados apontados

    por uma pesquisa feita em uma escola de So Jos do Rio Preto do conta que 15% dos

    alunos no se importavam com as agresses sofridas por considerarem que se tratavam

    apenas de brincadeiras. Reside a a maior confuso causada pelo bullying. De acordo com

    Telma Vinha (NOVA ESCOLA, 2011) os casos de bullying exigem a concordncia do

    alvo com relao ofensa. Quando o alvo supera o motivo da agresso, ele reage ou ignora,

    desmotivando a ao do autor. Logo, qualquer situao de agresso ou violncia no pode

    ser tratada como bullying se a vtima no aceitar a provocao.

    Aprofundando um pouco mais, percebemos que acabamos por falar ao mesmo

    tempo do conceito de bullying e de como se d o fenmeno. Em todas as leituras feitas

    possvel perceber que, na realidade, os autores no fazem distino entre as duas esferas.

    Chagas, por exemplo, une as duas vertentes ao falar da importncia de investigar os efeitos

    das situaes de bullying. A autora, que chega a uma tentativa de aproximao do conceito

    mais a frente, na mesma pesquisa passa a falar do fenmeno.

    Para ela, entender aspectos motivacionais (quem inicia a ao, motivada ou

    provocada por quem), contedo, forma, durao e impacto sobre o desenvolvimento futuro

    das crianas (CHAGAS, 2008, p. 181) permite compreender e prevenir os casos de

    bullying. Assim, conhecendo o que pode ser o fenmeno e quais as suas implicaes em

    vtimas e agressores mais fcil pensar em medidas de preveno e superao do bullying.

    A partir dessa constatao, no entanto, percebemos uma maior dificuldade de falar

    especificamente do bullying, ento optamos por fazer uma anlise do caminho inverso.

    Assim, as explicaes iniciais nos ajudaro a identificar situaes onde no acontece o

    fenmeno. A anlise de um produto comunicacional, que a princpio pode ser caracterizado

    como expositor do bullying nos ajudar a identificar situaes de violncia e formas de

    preveno que podem ser aplicadas em futuras pesquisas do grupo.

    O que no seria bullying: uma anlise do seriado Todo Mundo Odeia o Chris

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    As leituras iniciais apontaram muitos caminhos para o bullying, mas tambm deram

    uma ideia do que no o fenmeno. Assim, ao analisarmos os primeiros oito episdios do

    seriado Todo Mundo Odeia o Chris6, exibido atualmente pela Rede Record de Televiso,

    percebemos que o personagem sofreu agresses durante o perodo escolar, mas nunca

    aceitou tais provocaes.

    O seriado baseado na adolescncia do comediante Chris Rock, perodo em que ele

    se mudou para o bairro de Bed-Stuy, no distrito do Brooklyn, em Nova York e passou a

    frequentar uma escola onde ele era o nico aluno negro. O personagem principal da srie

    tem um irmo mais novo que maior e mais atraente que ele, o que leva alguns de seus

    conflitos da escola para dentro de casa.

    H destaque para Greg Wiliger (Vincent Martella), o melhor amigo de Chris, e Joey

    Caruso (Travis T. Flory). Greg o garoto mais inteligente e rejeitado da escola, o que acaba

    o aproximando de Chris. J Caruso atormenta Chris e o chama por apelidos pejorativos

    durante todo o tempo em que este frequenta a escola. Caruso o valento da escola

    apenas diante de Chris, que um estudante diferente do resto do grupo.

    Nos episdios que analisamos algumas situaes j trazem pistas do comportamento

    de superao do bullying. J no primeiro episdio, Chris comea a narrar sua vida na nova

    escola. Seus irmos so matriculados no bairro, mas ele vai para uma escola que fica a duas

    horas da sua casa para receber uma educao melhor (uma escola de brancos).

    O que retratado no seriado Todo Mundo Odeia o Chris no exatamente uma

    situao de bullying. A partir dos conceitos que catalogamos na unidade inicial desse artigo

    foi possvel constatar que se trata mais de uma situao que seria bullying caso a reao do

    personagem fosse diversa da adotada. A intimidao que Caruso faz com Chris por este no

    poder se defender tambm ajuda a identificar situaes limites entre brincadeiras infantis e

    agresso.

    Foi verificado tambm que alm de ter servido a caracterizao do que no

    bullying, o seriado Todo Mundo Odeia o Chris pode ser til para a discusso com crianas,

    6 A srie teve quatro temporadas com um total de 88 episdios e foi exibida originalmente nos Estados Unidos entre os anos de 2005 a 2009. Disponvel em MINHA SRIE. Everybody Hates Chris (Todo Mundo Odeia o Chris). Disponvel em: . Acesso em: 20 abr. 2011.

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    que so o pblico alvo do trabalho proposto pelo grupo de estudo que desenvolveu este

    artigo. O bullying que vitimaria o Chris se refere principalmente ao preconceito que ele

    sofre por ser o nico negro em uma escola norte americana na dcada de 1980. Alm da

    agresso fsica praticada por Caruso, a todo o momento, Chris vitima de agresso verbal e

    psicolgica quando acreditam que ele deva receber algum tratamento especial por ser negro.

    Um ponto importante a ser analisado qual a estratgia discursiva (PEREIRA,

    2006, 171) do programa que consegue dar a ele a possibilidade de ser percebido enquanto

    ferramenta de preveno de um ato violento sem ser estritamente pedaggico. O

    entendimento at aqui que Todo mundo odeia o Chris fala de um tema srio que no

    exatamente o bullying, mas pode ser aplicado em uma discusso por se aproxima e s no

    caracterizar tal agresso por causa de uma postura adotada pelo personagem principal

    (caracterstica essa que pode ser usada como preventiva de casos de violncia comuns entre

    vtimas e praticantes do bullying).

    possvel notar que as ofensas ao personagem comeam j no primeiro dia de aula.

    Caruso o chama de pixaim, ele revida a primeira ofensa e defendido pelo diretor. No

    episdio Todo Mundo Odeia o Piloto (1), Chris tambm conhece Greg, o nico amigo

    que faz na escola. Mesmo sendo nerd (bobo), Greg no se importa tanto quanto Chris pelo

    fato de no ser popular.

    As caractersticas dos personagens ajudam o pblico a entender o contexto em que

    se passa o seriado sem, no entanto, dar peso histria. De acordo com Howard e Mabley

    (1999, p. 50) para ser boa, uma histria no precisa exatamente de um personagem

    admirvel. Outros personagens podem despertar a empatia do pblico e isso ajuda a vender

    a histria.

    A maioria dos personagens, inclusive, fica no meio termo, mas precisa conquistar

    alguma empatia. Esse o caso de Greg que, apesar de atuar mais como uma espcie de

    vilo, dando conselhos que sempre deixam Chris em uma situao ruim, acaba por

    conquistar a simpatia do pblico com as dvidas que ele prprio tem quanto s dicas que d

    ao amigo.

    Ainda do ponto de vista da comunicao, possvel perceber um cuidado para que

    cada situao, por mais que possa ter sido penosa para o ator na poca e possa ser para

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    qualquer criana, seja tratada da forma mais natural possvel. Partindo para uma anlise

    baseada no estudo feito sobre bullying no incio deste trabalho, percebemos que na maioria

    das vezes, Chris mais esperto que o agressor, o que faz com que mesmo quando ele revida

    as situaes no se tornem violentas devido s aes dele.

    No episdio Todo Mundo Odeia Basquetebol (3) apresentada uma diferena

    elementar entre Chris e Greg. Chris no se enquadrava em nenhum grupo alm do dos

    CDFs, mas queria ser popular. J o amigo no se importa de estar no grupo dos

    excludos. Assim, Chris acaba sendo convidado para jogar no time de basquete por ser

    negro. Situaes como essas voltam a acontecer ao longo do seriado. Muitas vezes passam

    a mo na cabea de Chris por que ele vem de um bairro pobre, o que significa que

    necessariamente seu pai abandonou a casa e sua me viciada em drogas.

    Depois desse episdio apenas o 7 (Todo Mundo Odeia a Bab) e o 8 (Todo

    Mundo Odeia a Lavanderia) voltam a falar de situaes que aconteceram na escola, mas

    no h acontecimentos expressivos para a nossa reflexo sobre bullying. Se voltarmos s

    explicaes dadas por Telma Vinha (NOVA ESCOLA, 2011) sobre a exigncia de

    concordncia da vtima para que se caracterize um caso de bullying, o personagem sabe agir

    de forma evitar tais acontecimentos. Chris esquivo, consegue no se importar com os

    apelidos pejorativos que recebe e no revida violentamente a nenhuma provocao que

    sofre.

    A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa da Silva no programa Espao Aberto7 afirmou

    que ainda no possvel afirmar que caractersticas levam algumas vtimas do bullying a

    revidar violentamente ou a no se importar com as agresses. Ela destaca tambm que todos

    esses acontecimentos merecem um tratamento mais especfico do ponto de vista da

    preveno.

    Quanto ao seriado, possvel dizer que ele serve de base de pesquisa para o tema

    embora no tenha sido feito pensando em ser um instrumento didtico de combate

    violncia escolar. O personagem principal aparece como um heri diferente do habitual que

    encara de forma descontrada as agresses que sofre. A partir das leituras sobre bullying, o

    7 GLOBO NEWS. Espao Aberto discute formas de enfrentar o problema do bullying. Disponvel em: . Acesso em: 20 abr. 2011.

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    seriado Todo Mundo Odeia o Chris nos permitiu perceber no meio de comunicao

    situaes exatamente iguais s citadas pelos autores. Por conter grande base realista, a

    assistncia do programa pode indicar que as situaes que ocorrem nas escolas so bem

    prximas, se no iguais, as que o seriado apresenta.

    Consideraes Finais: A vida imita a arte?

    Maria Rita Kehl (2004) analisa as crticas que so feitas a certos contedos

    televisivos e diz que existem algumas questes a considerar. Ela pondera entre algumas

    pesquisas e diz que as imagens apresentadas na televiso no podem ser responsabilizadas

    por atos violentos. fato que os meios de comunicao atuam na construo da realidade8,

    mas a autora diz que no possvel afirmar que ao assistir cenas de violncia ou agresso as

    crianas passem a reproduzir tais atos. Apesar disso, Kehl defende que vivemos em um

    modelo de cultura em que a tirania da imagem avassaladora (BUCC & KHEL, 2004, p.

    88).

    Ana Beatriz Barbosa da Silva, no entanto, afirma que a forma como as cenas so

    expostas criam uma espetacularizao da violncia e transformam o agressor em uma

    espcie de mrtir. De certa forma, a exposio desses fatos na mdia faz de seus

    personagens cones. Heris ou viles, aqueles que sempre foram rejeitados e/ou excludos

    se tornam o centro das atenes. No seriado, h valorizao de outro personagem. A vtima

    ao mesmo tempo o heri, no tem as mesmas facilidades de um heri comum, mas

    ainda assim vence os obstculos que tem a frente.

    Assim, verificamos que a anlise do conceito de bullying bem como a compreenso

    do termo nos possibilitou olhar para um produto da comunicao e apontar formas de

    superao do fenmeno e um inicio de discusso sobre a forma como ele retratado nos

    meios de comunicao. Alm disso, a anlise do seriado Todo Mundo Odeia o Chris nos

    deixou aptos a apontar que as imagens da televiso podem ser teis na tentativa de

    discusso de um problema como o bullying.

    9Lippmann apontou que, mesmo sem inteno, o simples fato de os mdia no terem acesso a todas as informaes j uma forma de alterar a imagem do mundo e apresentar imagens que so, na verdade, uma percepo desse mundo. (apud DeFleur, 1993, p. 281)

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