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47 O tratamento e a gestão de resíduos, por desempenharem um papel importante na gestão ambiental urbana, são, actualmente, um tema relevante que atrai a atenção global. Para melhorar a gestão dos resíduos, na RAEM, o Governo tem vindo a melhorar a recolha, o transporte, o tratamento e deposição de resíduos, a optimizar as infra-estruturas ambientais relacionadas, a promover a educação sobre reciclagem e redução de resíduos na fonte e a reforçar a cooperação regional. Actualmente, está, entre outras formas, a elaborar o “Plano de Gestão de Recursos de Resíduos Sólidos de Macau” e a implementação gradual da política do poluidor pagador. De facto, Macau é uma cidade muito pequena. Para lidar adequadamente com a questão dos resíduos, para além da elaboração de políticas eficazes, é necessária a participação de todos os residentes e empresas, para reduzir na fonte a produção de resíduos proveniente quer da vida quoditiana da população, quer do funcionamento das empresas, e fazer a separação e recuperação de resíduos recicláveis. Só em conjunto será possível promover a rentabilização de recursos e a gestão eficiente dos resíduos. Neste capítulo será analisada a tendência de mudança em diversos indicadores de resíduos. Produção de Resíduos Reutilização de Resíduos Recicláveis e Tratamento e Destino Final dos Resíduos Indicadores utilizados neste capítulo para análise do estado ambiental

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O tratamento e a gestão de resíduos, por desempenharem um papel importante na gestão

ambiental urbana, são, actualmente, um tema relevante que atrai a atenção global. Para melhorar a

gestão dos resíduos, na RAEM, o Governo tem vindo a melhorar a recolha, o transporte, o

tratamento e deposição de resíduos, a optimizar as infra-estruturas ambientais relacionadas, a

promover a educação sobre reciclagem e redução de resíduos na fonte e a reforçar a cooperação

regional. Actualmente, está, entre outras formas, a elaborar o “Plano de Gestão de Recursos de

Resíduos Sólidos de Macau” e a implementação gradual da política do “poluidor pagador”.

De facto, Macau é uma cidade muito pequena. Para lidar adequadamente com a questão dos

resíduos, para além da elaboração de políticas eficazes, é necessária a participação de todos os

residentes e empresas, para reduzir na fonte a produção de resíduos proveniente quer da vida

quoditiana da população, quer do funcionamento das empresas, e fazer a separação e recuperação de

resíduos recicláveis. Só em conjunto será possível promover a rentabilização de recursos e a gestão

eficiente dos resíduos. Neste capítulo será analisada a tendência de mudança em diversos

indicadores de resíduos.

Produção de Resíduos

Reutilização de Resíduos Recicláveis e

Tratamento e Destino Final dos Resíduos

Indicadores utilizados neste capítulo para análise do estado ambiental

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4.1 Produção de Resíduos

Modelo DPSIR

Os resíduos gerais produzidos em Macau (principalmente os resíduos urbanos) são

transportados para tratamento na Central de Incineração de Resíduos Sólidos de Macau (CIRS). Na

figura 4.1 e na tabela 4.1 podemos constatar que os resíduos transportados para serem tratados na

CIRS têm aumentado constantemente nos últimos anos. Em 2015 registou-se um crescimento de

dois dígitos, 11,3%; no entanto, a taxa de crescimento mostra um ligeiro abrandamento em

comparação com 2014. A produção média de resíduos urbanos per capita, registou uma subida de

8,1% em relação ao ano anterior, sendo muito superior a outras regiões, por isso, esta situação

merece a nossa atenção.

Figura 4.1 Resíduos transportados para tratamento

na CIRS ao longo dos anos e Média de

resíduos urbanos produzidos per capita

(Fonte: DSPA, 2016)

Tabela 4.1 Valores e variação dos resíduos transportados para tratamento na CIRS, da

média de resíduos urbanos produzidos per capita, dos resíduos especiais e

perigosos e dos resíduos produzidos pela CEM, entre 2014 e 2015

2014 2015 Variação

Resíduos especiais e perigosos (t) 3.118 3.101 -0,5%

Média dos resíduos urbanos produzidos per capita

(kg/pessoa por dia)

1,97 2,13 +8,1%

Resíduos transportados para tratamento na CIRS (t)1 457.420 509.152 +11,3%

Resíduos produzidos pela CEM (t) 2.164 6.721 +210,6%

Nota:(1) 1 Os resíduos transportados para tratamento na CIRS são os seguintes: resíduos urbanos, resíduos

médicos e lamas desidratadas.

(Fonte: DSPA, 2016)

D Força Motriz PP PPrreessssããoo S Estado I Impacto R Resposta

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Tabela 4.2 Conhecimento ambiental

Média de resíduos urbanos produzidos per capita em 2014

Cidade/ Região

Média de resíduos urbanos

produzidos per capita

(kg/pessoa por dia)

Fonte

Macau1 2,13 “Relatório do Estado do Ambiente de Macau

2015”, Macau

Pequim2 0,93 Bejing Statistical Yearbook 2015, Pequim

Xangai2 0,69 Direcção Nacional de Estatística – Dados

nacionais (2014), China

Cantão2 0,90 “Manual de Estatística de Cantão de 2015”,

Cantão

Hong Kong3 1,35 “Monitoring of Solid Waste in Hong Kong 2014”,

Hong Kong

Singapura4 1,52 Yearbook of Statistics Singapore, 2015, Singapura

Notas:

(1)1

Média dos resíduos urbanos produzidos em 2015, per capita = valor dos resíduos urbanos ÷

(população em meados do ano × número de dias do ano).

(2)2

Média diária de resíduos domésticos recolhidos e transportados, per capita = valor dos resíduos

domésticos recolhidos e transportados ÷ [população residente (no final do ano) × número de dias do

ano].

(3)3 Média diária de resíduos sólidos urbanos per capita = valor de resíduos sólidos urbanos (média diária)

÷ população em meados do ano; os resíduos urbanos sólidos incluem: resíduos domésticos + resíduos

comerciais + resíduos indústriais.

(4)4 Média da deposição de resíduos per capita = valor da deposição de resíduos (domésticos e não

domésticos) ÷ (população em meados do ano × número de dias do ano).

A figura 4.2 e a tabela 4.3 mostram a composição física dos resíduos urbanos. Os resíduos

urbanos de 2015 são principalmente constituídos por matéria orgânica, seguindo-se-lhe o plástico e

o papel/cartão.

Tabela 4.3 Composição física dos resíduos urbanos em 2014 e 2015

(Unidade: %) 2014 2015

Madeira 22,3 5,8

Metais 1,7 2,5

Vidro e Pedras 3,3 6,7

Têxteis 3,1 4,4

Papel/ Cartão 58,7 17,2

Plástico 7,9 18,0

Matéria orgânica 3,1 45,4

(Fonte: DSPA, 2016)

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Nota:(1) A distribuição da composição física dos

resíduos urbanos foi obtida com base nos

resultados de recolha e análise laboratorial de

amostras, que se realizam duas vezes ao ano.

Figura 4.2 Composição física dos resíduos urbanos

ao longo dos anos

(Fonte: DSPA, 2016)

Para além dos resíduos sólidos urbanos, em Macau também produzem outros tipos de resíduos,

nomeadamente os resíduos gerados pela CEM, os veículos declarados inúteis e alguns resíduos

especiais e perigosos. As informações relacionadas encontram-se nas figuras 4.3 - 4.5 e as tabelas

4.1 e 4.4.

Os resíduos produzidos pela CEM triplicaram em 2015, em relação aos valores de 2014, sendo

que uma das razões é o aumento de 73% da produção local de energia eléctrica face ao ano anterior.

O número dos veículos declarados inúteis em 2015 mostra também, face a 2014, um

crescimento significativo. Por outro lado, os resíduos especiais e perigosos transportados para

tratamento mantêm um registo semelhante ao de 2014.

Tabela 4.4 Valores e variação do número de veículos declarados inúteis entre 2014 e 2015

(Unidade: veículos) 2014 2015 Variação

Número total de veículos

declarados inúteis 9.390 11.315 +20,5%

• Ciclomotores 2.597 2.676 +3,0%

• Motociclos 2.709 3.243 +19,7%

• Automóveis ligeiros 3.920 5.143 +31,2%

• Automóveis pesados 153 223 +45,8%

• Semi-reboques 9 21 +133,3%

• Máquinas industriais 2 9 +350,0%

(Fonte: DSAT, 2016)

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Nota:(1) A Estação de Tratamento de Resíduos

Especiais e Perigosos de Macau entrou

em funcionamento a partir de Maio de

2007.

Nota:(1) A Central Térmica de Macau deixou de

funcionar em 2007.

Figura4.3 Resíduos especiais e perigosos

transportados para tratamento

ao longo dos anos

(Fonte: DSPA, 2016)

Figura4.4 Resíduos sólidos produzidos pela

CEM ao longo dos anos

(Fonte: CEM, 2016)

Figura 4.5 Veículos declarados inúteis ao

longo dos anos

(Fonte: DSAT, 2016)

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4.2 Reutilização de Resíduos Recicláveis e Tratamento e Destino final dos Resíduos

Modelo DPSIR

Actualmente, as cinzas volantes e escórias resultantes do processo de incineração, bem como

os resíduos de construção e lamas são transportados para aterro para deposição final. As

informações relativas à situação e evolução ao longo dos anos encontram-se na figura 4.6 e tabela

4.5.

Em 2015,contrariamente à redução verificada na produção de resíduos de construção,

registou-se um aumento do volume de cinzas volantes e de escórcias devido ao incremento da

quantidade de resíduos incinerados. Ao mesmo tempo, dado que o volume de lamas originadas pela

escavação das obras de construção tem aumentado consideravelmente, o volume total de resíduos

enviados para aterro registou também uma subida em relação a 2014.

Nota: (1) As lamas são um material produzido na escavação durante as obras de engenharia

civil. Os dados sobre o volume de lamas foram adicionados em 2009.

Figura 4.6 Resíduos transportados para aterro ao longo dos anos

(Fonte: DSPA, 2016)

Tabela 4.5 Valores e variação dos resíduos de construção, de lamas, de escórias e de cinzas

volantes entre 2014 e 2015

2014 2015 Variação

Resíduos de construção (m3) 2.597.652 1.630.710 -37,2%

Cinzas volantes (t) 19.671r 23.195 +17,9%

Escórias (t) 91.601 122.713 +34,0%

Lamas (m3) 1.708.785 3.098.966 +81,4%

Nota: (1) r Dados rectificados.

(Fonte: DSPA, 2016)

D Força Motriz

P Pressão S Estado I Impacto RR RReessppoossttaa

53

No que diz respeito à recolha de resíduos recicláveis, em 2015, de acordo com os dados

relativos à importação e exportação da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) ,

embora se tenha verificado um aumento no total recolhido (sobretudo, papel, plástico e metais,

entre outros), a respectiva taxa de recolha diminuiu ligeiramente em relação à produção total de

resíduos, comparavativamente a 2014 (vide a figura 4.7), dado que a produção de resíduos

aumentou.

Para estimular a participação da população na separação e recuperação de resíduos recicláveis

e aumentar a taxa de recolha de resíduos recicláveis, a DSPA e o IACM têm promovido diversos

incentivos à recolha dos resíduos recicláveis. Na tabela 4.6 pode-se observar que, a quantidade de

vidro, metais e latas de alumínio/aço recolhidos, em 2015, em Macau reflecte uma subida de dois

dígitos em comparação com 2014. No entanto, devido à eventual influência dos preços de mercado,

a quantidade de papel e de plástico recolhida para reciclagem registou uma descida, em diferentes

graus, em relação a 2014. Em conclusão, a taxa de crescimento da recuperação de resíduos

recicláveis é claramente insuficiente face ao aumento da produção de resíduos.

Notas:

(1) Os resíduos recicláveis incluem, entre outras

categorias, plástico, borracha, papel e metais.

(2)Visto que os resíduos recicláveis recolhidos em

Macau são basicamente transportados para

serem reutilizados no Interior da China e em

outros países, a análise dos valores acima

referidos é realizada tendo por base os dados

relativos à importação e exportação, fornecidos

pela DSEC, nos quais se inclui a quantidade de

papéis (código 4707), de materiais plásticos

(códigos 3915, 4012) e de materiais metálicos

(códigos 7204, 7404, 7602). Os valores

apresentados são apenas valores estimados

devido a uma certa limitação nas estatísticas

disponíveis.

Figura 4.7 Taxa de recolha de resíduos

recicláveis ao longo dos anos

(Fonte: DSEC, 2016)

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Tabela 4.6 Resíduos recicláveis recolhidos em 2014 e 20151

2014 2015 Variação

Plástico (kg) 357.794 293.049 -18,1%

Papel (kg) 3.013.095 2.905.464 -3,6%

Vidro (kg) 504.966 569.040 +12,7%

Metal(kg) 113.273 152,677 +34,8%

Latas de alumínio/aço (n.º) 675.221 965.350 +43,0%

Nota:(1)1

Incluindo os resíduos recicláveis recolhidos sob o “Programa de Pontos Verdes –Efectuar a

separação de resíduos pode ser divertido” da DSPA, o Programa de Recolha Selectiva de

Materiais Recicláveis e o Plano de Recolha de Recipientes de Vidro do IACM.

(Fonte: DSPA, IACM, 2016)

Em Macau, a incineração de resíduos urbanos é utilizada para a a produção de

energia. Nos últimos anos, a média de resíduos urbanos produzidos per capita, em

Macau, tem sido muito superior à de várias cidades das regiões adjacentes. O problema

dos resíduos é, por isso, considerado grave. Os resíduos urbanos transportados para

tratamento na CIRS aumentaram de trezentas mil toneladas em 2011 para quinhentas mil

toneladas em 2015, tendo sido atingida a capacidade máxima de tratamento daquela

Central. Nos últimos anos, também têm aumentado outros tipos de resíduos, tais como

veículos declarados inúteis, resíduos de construção, entre outros.

Em conclusão, em Macau a atitude social relativa à redução de resíduos a partir da

fonte e à recolha selectiva de matériais recicláveis ainda é insuficiente. Apesar de a

recolha de resíduos recicláveis ter aumentado em quantidade, a sua taxa de crescimento é

muito menor do que a taxa de crescimento da produção de resíduos, resultando na

“estagnação” da taxa de recolha de recursos recicláveis. Por isso, sugere-se que sejam

elaboradas e promovidas, o mais rápido possível, diversas políticas e medidas de gestão

de resíduos, designadamente o reforço da divulgação e educação, a promoção da redução

de resíduos na fonte, a optimização das infra-estruturas ambientais, a ponderação de

incentivos económicos, o aperfeiçoamento de legislação regulatória, a introdução da

medida de “Poluidor-pagador” e impulsionamento da cooperação regional, entre outras

medidas, para lidar de forma mais abrangente e a longo prazo com os estes problemas.