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Setembro 2014 2 R Albano Rosário, diretor técnico, Lurdes Louro, psicóloga, e Ana Silva, socióloga Enquanto resposta social da Cáritas Diocesana de Coimbra, a Comunidade Terapêutica Encontro afirma-se como uma unidade especializada no tratamento e reinserção social de toxicodependentes. Para tal, a Instituição implementa um modelo terapêutico assente em valores humanistas e numa política de otimismo, que permite o desenvolvimento integral do indivíduo. Num espaço onde se «cultiva a arte de aprender a ser pessoa», o residente é visto como o protagonista do seu processo de crescimento pessoal, adquirindo competências que lhe permitam ser um cidadão útil e responsável, plenamente inserido na família, no trabalho e na sociedade. Em entrevista, Padre Luís Costa, presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra, Albano Rosário, diretor técnico da Comunidade, Lurdes Louro e Ana Silva, psicóloga e socióloga da Unidade, apresentam, ao ExLibris ® , este projeto que prova que «tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado» 1 . (CTE), percebemos de imediato que esta é uma Casa habitada por pessoas produtivas e muito criativas, pois em cada recanto somos convidados a contemplar obras de arte da autoria dos seus residentes, que expressam o momento de recomeço que estes estão a vivenciar e a construção de um novo caminho que é feito dia a dia, com perseverança e resiliência. Num universo de simplicidade e afeto, envolto num espaço bucólico muito aprazível, onde se desfruta o ar puro do campo e a serenidade necessária a um processo terapêutico orientado para o integral desenvolvimento do indivíduo, a Comunidade Encontro proporciona, sobretudo, um ambiente verdadeiramente humano. Aqui, num clima de empatia, respeito e compreensão, «cultiva-se a arte de aprender a ser pessoa». Enquanto resposta social da Cáritas Diocesana de Coimbra, a Comunidade Terapêutica tem como missão «prestar um serviço de excelência à população portadora de problemas relacionados com a toxicodependência». Em funcionamento desde 1991, este projeto destina-se a receber adultos dependentes de drogas ou álcool, em regime residencial, apoiando-os no processo de recuperação, com vista a tornarem-se cidadãos autónomos e plenamente inseridos na família, no trabalho e na sociedade. Em entrevista, o presidente da Cáritas de Coimbra, Padre Luís Costa, destaca a importância da Comunidade no investimento que a Instituição realiza na área da toxicodependência [ver caixa de texto]. “Desenvol- vendo um trabalho muito sério, ancorado num acom- panhamento que extravasa os limites do programa terapêutico implementado, a Comunidade representa uma nova oportunidade para estas pessoas. Ultra- passando as suas fragilidades, estas nascem realmente de novo, tornando-se cidadãos mais empenhados, capacitados e, sobretudo, aptos a intervir positiva- mente e a colaborar com a sociedade”, reitera. Situada na freguesia de Maiorca, concelho da Figueira da Foz, a Instituição apresenta capacidade para 32 camas, das quais 25 são convencionadas com o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD). Assim, com instalações Encontra o teu caminho e «vence por ti » A o dar os primeiros passos na Comunidade Terapêutica Encontro responsável, por si e pelos outros, numa dinâmica de interação e entreajuda, cuidando o bem-estar do corpo e do espírito, de forma a alcançar a motivação e a força anímica para uma vida sem drogas e de realização pessoal”, afirma Albano Rosário, diretor técnico da Comunidade. Tomando consciência do seu problema, o residente é estimulado a explorar e a desenvolver as suas capacidades em busca da mudança, sendo este o ponto de partida para a autonomia e para o sucesso na reintegração social. Tal como eternizou William Shakespeare, «em certos momentos, os homens são donos dos seus próprios destinos» e esta é, portanto, a altura de decidir caminhar por um novo rumo, aproveitando a oportunidade para reaprender a viver, criar laços e afetos que lhes vão permitir escrever uma estória serena e abstinente de consumos adictos. A Comunidade representa, de facto, o ponto de “Encontro” entre os residentes e uma nova vida, onde a felicidade deve passar a ser uma constante como forma de fazer face aos desafios com otimismo e eficácia. “O residente é protagonista do processo de desenvolvimento” Orientado por Lurdes Louro, psicóloga clínica, e Ana Silva, socióloga, o ExLibris ® teve oportunidade de conhecer as instalações da Comunidade Terapêutica Encontro, os seus residentes, bem como as suas dinâmicas de funcionamento. E, nesta pertinente visita, ficou claro que este é um espaço de abertura, liberdade e responsabilidade de ser e de estar. A Comunidade é “facilitadora do desenvolvimento pessoal e da autonomia, com vista à consecução do sentimento de realização, de felicidade e da libertação do ‘vazio’ de que tanto falam os que utilizam drogas para ‘encher’ a cabeça”, reitera Albano Rosário, mestre em Psicologia da Saúde. Nesta perspetiva assente em valores humanistas e cristãos, a CTE não é uma Instituição para tratar, “mas uma comunidade para compreender, acompanhar e facilitar o processo de autonomização das pessoas que a ela recorrem, ajudando-as, por meio de um reforço positivo das suas capacidades, aptidões e interesses, a encontrar o seu próprio caminho e as suas próprias razões de viver”, refere. Para tal, para além de disponibilizar cuidados médicos em permanência, a Unidade pretende intervir nas vertentes bio, psico, social e espiritual do indivíduo. Ou seja, “é nossa ambição ajudar o utente na construção de um novo sentido de vida”, afirmam os técnicos. Assim, com uma equipa multidisciplinar, altamente qualificada, e supervisão clínica e psiquiátrica, “a CTE incentiva as pessoas a serem protagonistas do seu processo de desenvolvimento”. Tal premissa está patenteada no lema da Comunidade: «Vence por ti». De facto, segundo esta abordagem interventiva, “o toxicodependente é entendido como uma pessoa que precisa de crescer e de se desenvolver, a fim de se tornar capaz de encarar a vida de forma construtiva. E esta evolução depende apenas da sua capacidade de trabalhar a mente e produzir sentimentos positi- vos”, evidencia o diretor técnico. Para cumprir estes objetivos, o modelo terapêutico assenta na responsa- bilidade progressiva de cada residente em relação a si próprio, ao coletivo onde se insere e à Comunidade – este compromisso é a base da vida comunitária. Com efeito, a limpeza e manutenção das instalações, assim como as refeições são inteiramente asseguradas pelos residentes que assumem funções de maior ou menor responsabilidade, conforme as suas capacidades. Desta forma, pretende-se, por um lado, promover a aquisição de competências básicas de higiene, normas de conduta e formas de estar e, por saúde - Comunidade Terapêutica Encontro «Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer os seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência» Augusto Cury Preparação de refeições por residentes Manutenção de espaços verdes realizada por residentes Tarefas domésticas realizadas por residentes Área de lazer Preparação de refeições por residentes modernas e bem equipadas, a CTE dispõe de zonas destinadas à terapia de grupo, ao convívio, ao desporto e ao lazer, bem como uma vasta área verde envolvente que permite atividades como horticultura, jardinagem, criação de aves, entre outras. Além disso, apostando na capacidade criativa de cada um, a Comunidade dispõe também de oficinas para trabalhos manuais, pintura, desenho e reparações. Neste sentido, respondendo a elevados padrões de qualidade, “este é o espaço onde é possível (re)encon- trar o otimismo e a alegria de viver, sentindo-se útil e

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Setembro 2014

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Albano Rosário, diretor técnico, Lurdes Louro, psicóloga, e Ana Silva, socióloga

Enquanto resposta social da Cáritas Diocesana de Coimbra, a Comunidade Terapêutica Encontroafirma-se como uma unidade especializada no tratamento e reinserção social detoxicodependentes. Para tal, a Instituição implementa um modelo terapêutico assente em valoreshumanistas e numa política de otimismo, que permite o desenvolvimento integral do indivíduo.Num espaço onde se «cultiva a arte de aprender a ser pessoa», o residente é visto como oprotagonista do seu processo de crescimento pessoal, adquirindo competências que lhe permitamser um cidadão útil e responsável, plenamente inserido na família, no trabalho e na sociedade. Ementrevista, Padre Luís Costa, presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra, Albano Rosário, diretortécnico da Comunidade, Lurdes Louro e Ana Silva, psicóloga e socióloga da Unidade, apresentam,ao ExLibris®, este projeto que prova que «tudo o que um sonho precisa para ser realizado éalguém que acredite que ele possa ser realizado»1.

(CTE), percebemos de imediato que esta é uma Casahabitada por pessoas produtivas e muito criativas,pois em cada recanto somos convidados a contemplarobras de arte da autoria dos seus residentes, queexpressam o momento de recomeço que estes estãoa vivenciar e a construção de um novo caminho queé feito dia a dia, com perseverança e resiliência. Numuniverso de simplicidade e afeto, envolto num espaçobucólico muito aprazível, onde se desfruta o ar purodo campo e a serenidade necessária a um processoterapêutico orientado para o integral desenvolvimentodo indivíduo, a Comunidade Encontro proporciona,sobretudo, um ambiente verdadeiramente humano.Aqui, num clima de empatia, respeito e compreensão,«cultiva-se a arte de aprender a ser pessoa».Enquanto resposta social da Cáritas Diocesana deCoimbra, a Comunidade Terapêutica tem como missão«prestar um serviço de excelência à populaçãoportadora de problemas relacionados com atoxicodependência». Em funcionamento desde 1991,este projeto destina-se a receber adultos dependentesde drogas ou álcool, em regime residencial,apoiando-os no processo de recuperação, com vistaa tornarem-se cidadãos autónomos e plenamenteinseridos na família, no trabalho e na sociedade. Ementrevista, o presidente da Cáritas de Coimbra, PadreLuís Costa, destaca a importância da Comunidadeno investimento que a Instituição realiza na área datoxicodependência [ver caixa de texto]. “Desenvol-vendo um trabalho muito sério, ancorado num acom-panhamento que extravasa os limites do programa

terapêutico implementado, a Comunidade representauma nova oportunidade para estas pessoas. Ultra-passando as suas fragilidades, estas nascem realmentede novo, tornando-se cidadãos mais empenhados,capacitados e, sobretudo, aptos a intervir positiva-mente e a colaborar com a sociedade”, reitera.Situada na freguesia de Maiorca, concelho da Figueirada Foz, a Instituição apresenta capacidade para 32camas, das quais 25 são convencionadas com oServiço de Intervenção nos Comportamentos Aditivose nas Dependências (SICAD). Assim, com instalações

Encontra o teu caminhoe «vence por ti»

Ao dar os primeiros passos naComunidade Terapêutica Encontro

responsável, por si e pelos outros, numa dinâmica deinteração e entreajuda, cuidando o bem-estar docorpo e do espírito, de forma a alcançar a motivaçãoe a força anímica para uma vida sem drogas e derealização pessoal”, afirma Albano Rosário, diretortécnico da Comunidade. Tomando consciência doseu problema, o residente é estimulado a explorar ea desenvolver as suas capacidades em busca damudança, sendo este o ponto de partida para aautonomia e para o sucesso na reintegração social.Tal como eternizou William Shakespeare, «em certosmomentos, os homens são donos dos seus própriosdestinos» e esta é, portanto, a altura de decidircaminhar por um novo rumo, aproveitando aoportunidade para reaprender a viver, criar laços eafetos que lhes vão permitir escrever uma estóriaserena e abstinente de consumos adictos. AComunidade representa, de facto, o ponto de“Encontro” entre os residentes e uma nova vida, ondea felicidade deve passar a ser uma constante comoforma de fazer face aos desafios com otimismo eeficácia.

“O residente é protagonista do processode desenvolvimento”Orientado por Lurdes Louro, psicóloga clínica, e AnaSilva, socióloga, o ExLibris® teve oportunidade deconhecer as instalações da Comunidade TerapêuticaEncontro, os seus residentes, bem como as suasdinâmicas de funcionamento. E, nesta pertinentevisita, ficou claro que este é um espaço de abertura,liberdade e responsabilidade de ser e de estar. AComunidade é “facilitadora do desenvolvimentopessoal e da autonomia, com vista à consecução dosentimento de realização, de felicidade e da libertaçãodo ‘vazio’ de que tanto falam os que utilizam drogaspara ‘encher’ a cabeça”, reitera Albano Rosário, mestreem Psicologia da Saúde. Nesta perspetiva assente emvalores humanistas e cristãos, a CTE não é umaInstituição para tratar, “mas uma comunidade paracompreender, acompanhar e facilitar o processo deautonomização das pessoas que a ela recorrem,ajudando-as, por meio de um reforço positivo dassuas capacidades, aptidões e interesses, a encontrar oseu próprio caminho e as suas próprias razões deviver”, refere. Para tal, para além de disponibilizarcuidados médicos em permanência, a Unidadepretende intervir nas vertentes bio, psico, social eespiritual do indivíduo. Ou seja, “é nossa ambiçãoajudar o utente na construção de um novo sentidode vida”, afirmam os técnicos.Assim, com uma equipa multidisciplinar, altamentequalificada, e supervisão clínica e psiquiátrica, “aCTE incentiva as pessoas a serem protagonistas doseu processo de desenvolvimento”. Tal premissa estápatenteada no lema da Comunidade: «Vence por ti».De facto, segundo esta abordagem interventiva, “otoxicodependente é entendido como uma pessoaque precisa de crescer e de se desenvolver, a fim de setornar capaz de encarar a vida de forma construtiva.E esta evolução depende apenas da sua capacidadede trabalhar a mente e produzir sentimentos positi-vos”, evidencia o diretor técnico. Para cumprir estesobjetivos, o modelo terapêutico assenta na responsa-bilidade progressiva de cada residente em relação asi próprio, ao coletivo onde se insere e à Comunidade– este compromisso é a base da vida comunitária.Com efeito, a limpeza e manutenção das instalações,assim como as refeições são inteiramente asseguradaspelos residentes que assumem funções de maior oumenor responsabilidade, conforme as suascapacidades. Desta forma, pretende-se, por um lado,promover a aquisição de competências básicas dehigiene, normas de conduta e formas de estar e, por

saúde - Comunidade Terapêutica Encontro

«Sábio é o ser humano que tem

coragem de ir diante do espelho da

sua alma para reconhecer os seus

erros e fracassos e utilizá-los para

plantar as mais belas sementes no

terreno de sua inteligência»

Augusto Cury

Preparação de refeições por residentes

Manutenção de espaços verdes realizada por residentes

Tarefas domésticas realizadas por residentes

Área de lazer

Preparação de refeições por residentes

modernas e bem equipadas, a CTE dispõe de zonasdestinadas à terapia de grupo, ao convívio, aodesporto e ao lazer, bem como uma vasta área verdeenvolvente que permite atividades como horticultura,jardinagem, criação de aves, entre outras. Além disso,apostando na capacidade criativa de cada um, aComunidade dispõe também de oficinas paratrabalhos manuais, pintura, desenho e reparações.Neste sentido, respondendo a elevados padrões dequalidade, “este é o espaço onde é possível (re)encon-trar o otimismo e a alegria de viver, sentindo-se útil e

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outro, reforçar a coesão e o espírito de grupo. Emanteposição à desorganização e ao caos queimperavam no passado dos residentes, a vida emcomunidade é regulamentada por normas e regras deconduta e funcionamento, de forma a valorizar avivência de sentimentos de honestidade e sinceridade,enquadrados num clima de afeto entre todos. OExLibris® teve oportunidade de assistir à preparaçãode uma refeição e presenciar a forma rigorosa eempenhada como todas as tarefas são realizadas pelosresidentes, assim como o regozijo que estes têm naboa apresentação daquele espaço que, agora, sentemcomo Casa. Esta é a “terapia do quotidiano” que permiteo reforço diário de competências fundamentais comoa autoestima, a autoconfiança e a autonomia. Assim,“quando o residente recebe alta clínica, sente que écapaz de enfrentar os desafios futuros, pois tem plenaconsciência que consegue executar todas as tarefasdo dia a dia, relacionar-se consigo e com os outros e,desta forma, estará plenamente integrado emsociedade”, afirmam Lurdes Louro e Ana Silva.

Intervenção terapêutica, passo a passoFundeado numa perspetiva holística, nodesenvolvimento integral da pessoa humana e nocompromisso pessoal que o utente assume, a equipada Comunidade Terapêutica Encontro desenvolve umplano de intervenção individualizado que assentanum programa terapêutico comum, “que tem aduração regular de 12 meses e está dividido em quatrofases”, explica Albano Rosário.Com uma duração aproximada de um mês, “aprimeira fase consiste no corte com a ambiência dasdrogas e na adaptação ao ambiente e dinâmica daComunidade Terapêutica”.O segundo nível do programa apresenta duração decerca de três meses e tem como metas “a participaçãoativa no grupo e na dinâmica; a compreensão de si edos outros; a tomada de consciência e a avaliaçãodo passado e do caminho a percorrer no presente eno futuro; a realização de tarefas de responsabilidadeprogressiva; e a retoma gradual dos contactos comfamiliares e pessoas significativas”, esclarece o diretortécnico. A fase seguinte decorre ao longo de três aquatro meses e, nesta etapa, “os indivíduos deverãoser capazes de assumir progressivamente as funçõesde maior responsabilidade no grupo e na casa;progredir na capacidade de organização pessoal, aonível das ideias, do funcionamento e da afetividade;explorar intensivamente os recursos existentes em simesmo e aprofundar as relações dentro daComunidade Terapêutica”.A última fase centra-se na preparação da saída doutente e tem uma duração média de três meses. Nestesentido, “proporciona-se uma aproximação àrealidade social, com suporte de um pequeno grupoe da mesma equipa técnica; busca e aprofundamentode relações positivas e consistentes fora dacomunidade terapêutica; reforço das competênciase capacidades adquiridas, através de uma ou maisatividades, de carácter laboral ou de formação eelaboração de um plano individual de autonomi-zação definitiva”, explica Albano Rosário, eviden-ciando que, “nesta etapa, o residente tem livre arbítriopara decidir se quer retomar a relação com o seunúcleo familiar, avaliando se este exerce influênciapositiva ou negativa no seu processo de recuperação”.Acima de tudo, espera-se que o crescimento e odesenvolvimento pessoais alcançados mantenhamo indivíduo sóbrio, por forma a intervir enquantocidadão de pleno direito na sociedade.Para que o futuro seja uma unânime evidência deesperança, renovação e prosperidade, o acompanha-mento por parte da equipa técnica da Comunidade

Casos de sucesso traduzem resultados de eficáciaFruto do trabalho desenvolvido e mais fortementedesta aposta na autonomia socioprofissional e noacompanhamento após a alta clínica do ex-residente,a Comunidade Terapêutica Encontro tem conseguidoatingir satisfatórios resultados, que comprovam a suaeficácia no processo de tratamento e reabilitação detoxicodependentes. “Temos o cuidado de realizar o

follow-up dos nossos antigos residentes e verificamostaxas de abstinência total muito positivas”, adiantaAlbano Rosário, com regozijo.Analisando os dados referentes a 2011, pode-seconstatar que foram admitidos 22 novos utentes etransitaram 13 de 2010, totalizando 35 residentes afrequentar a Comunidade nesse ano. Desse grupo, 10obtiveram alta clínica em 2011 e 17 não cumpriram oprocesso até ao fim por diversas razões, tendotransitado oito residentes para 2012. Numa análise atrês anos, verificou-se que oito dos 10 residentes quetiveram alta clínica em 2011 se encontram abstinentese inseridos profissionalmente, o que se consubstancianuma taxa de eficácia de 80%. Além disso, dos 17residentes que tiveram altas não clínicas e que não

finalizaram o processo, 10 encontram-se abstinentes esete inseridos profissionalmente. Ou seja, mesmo nestescasos a taxa de eficácia em relação à abstinência é de58,83% e referente à inserção profissional é de 41,2%[ver Gráficos]. Portanto, “é com orgulho que admitoque a Comunidade Terapêutica Encontro apresentaum bom desempenho. No entanto, não nos podemosdeixar levar por falsas ilusões, e temos que terconsciência que a nossa luta é diária, sempre de mãosdadas com os antigos e os atuais residentes daComunidade”, afiança o diretor técnico da Instituição.Lembrando a citação bíblica «Não te deixes vencerpelo mal, mas vence o mal com o bem», podemosafirmar que é esta crença na mudança, na pessoa ena alegria de viver que motiva a ComunidadeTerapêutica Encontro da Cáritas Diocesana de Coimbraa fazer mais e melhor e a ser uma referência notratamento da toxicodependência, em consonânciacom toda a comunidade médica e científica da áreada Saúde Mental. Com este legado de sucesso, ofuturo será, com certeza, promissor.

1 Citação de Roberto Shinyashiki,médico-psiquiatrae escritor brasileiro

Comunidade Terapêutica Encontro - saúde

Cáritas Diocesana de Coimbra: Modelo integrado e integrador na área da toxicodependênciaA Cáritas Diocesana de Coimbra iniciou a sua intervenção na área da toxicodependência na década de 80,no âmbito da prevenção primária e da educação para a Saúde. Atenta e consciente da sua responsabilidadesocial, constatou necessidades de ação junto dos utilizadores de drogas, às quais foi apresentando respostasespecíficas, nomeadamente no campo do tratamento: uma Comunidade Terapêutica, um Centro de Dia,Apartamentos de Reinserção e uma Equipa de Intervenção Social Direta.Na sequência do trabalho de terreno desenvolvido por estas respostas e da divulgação teórica do paradigmada Redução de Riscos e Minimização de Danos (RRMD), apostou igualmente nesta área de intervenção,implementando assim um Gabinete de Apoio, um Centro de Alojamento Temporário e uma Equipa de Rua.Neste âmbito, “a Cáritas apoia cerca de 70% da população toxicodependente de Coimbra”, adianta o PadreLuís Costa, evidenciando a atuação da Instituição no domínio da prevenção. “No programa de Redução deRiscos e Minimização de Danos, recolhemos e entregamos cerca de 110 mil novas seringas por ano,evitando a sua reutilização e os consequentes riscos para a saúde pública e individual dos utilizadores dedrogas, quer quanto ao declínio da disseminação de doenças infeciosas, quer do número de mortes emesmo da criminalidade associada à toxicodependência . Esta atuação preventiva não tem tradução nasestatísticas e, por isso, tem sido alvo de falta de investimento por parte das entidades tutelares”, alerta.Com uma intervenção multifacetada na área da toxicodependência, a Cáritas de Coimbra criou um modeloem rede e de continuidade, que permite responder à situação-problema de qualquer indivíduo, qualquerque seja o seu enquadramento e percurso. Para além disso, e sem atenuar ou descurar a importância dearticulação com outras instituições, públicas e privadas, este modelo de ação favorece a existência de umarelação privilegiada entre estas estruturas, diminuindo assim as situações de duplicação de respostas ouserviços e favorecendo a troca de experiências e aprendizagem entre os mais de 40 colaboradores que aítrabalham. Por outro lado, possibilita a planificação de uma ação pensada por Setor, permitindo alcançarum maior impacto e otimizar os recursos disponíveis em cada resposta, criando igualmente dados deavaliação relevantes para a implementação de novas atividades.

Terapêutica Encontro não cessa após a alta clínica.Ainda que o residente esteja apto a sair da Comu-nidade, muitas vezes necessita de apoio para fomentaro seu nível de autonomia e para construir os alicercesda sua nova vida. Nestes casos, o utente é inseridoem estruturas de apoio que a Cáritas de Coimbradispõe para o efeito, como o Centro de Dia SolNascente, o Centro de Alojamento Temporário Farol eos apartamentos de reinserção localizados no Areeiroe no Bairro de São Miguel (na cidade de Coimbra).Estes visam proporcionar um ambiente de estabili-dade e conforto, mediante a prestação de apoio técni-co que consolide as competências pessoais e sociaisdos indivíduos previamente adquiridas durante oprocesso de tratamento e que favoreça, aos seus resi-dentes, as condições e meios necessários à concre-tização dos seus projetos de vida e à consequenteautonomização. Além deste apoio, a ComunidadeTerapêutica promove encontros de convívio e partilhacom antigos residentes, bem como consultastelefónicas periódicas, no sentido de, por um lado,dar o apoio e prestar a ajuda necessárias, prevenindoeventuais recaídas e, por outro, assegurar o incentivoaos atuais residentes e à própria equipa técnica.Para além da reintegração social, neste processo temtambém lugar preponderante a formação profissionale a criação de vínculos laborais. Cumprindo estedesígnio, a CTE proporciona, por um lado, programasde formação e, por outro, integra, sempre que possível,os residentes como trabalhadores nas diversasvalências da Cáritas Diocesana de Coimbra, de acordocom as aptidões e os interesses de cada um. A estepropósito, Padre Luís Costa é perentório ao afirmarque “estes trabalhadores são uma mais-valia para aCáritas de Coimbra e para qualquer empresa quedecida apostar neles. Pois, depois de ultrapassado evencido o problema da toxicodependência, revelam-se pessoas de muito valor, capazes e inteligentes.Agarram veemente esta segunda oportunidade eafirmam-se como excelentes profissionais:empenhados, produtivos, fiéis, cooperantes e muitocapacitados. São pessoas que aprenderam a valorizaro respeito por si, pelos outros e pela sociedade. E, porisso, são muitos os casos de sucesso que temosintegrado, com orgulho, no nosso quadro detrabalhadores”, defende o presidente da CáritasDiocesana de Coimbra.