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LICENCIATURA EM CIÊNCIAS · USP/ UNIVESP Química 17.1 Introdução 17.2 Água 17.3 Proteínas 17.4 Carboidratos 17.5 Lipídeos 17.6 Ácidos Nucleicos Referências Regiane Cristina Corrêa Ana Cláudia Kasseboehmer Juliano José Corbi A QUÍMICA DA VIDA 17

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Licenciatura em ciências · USP/ Univesp

Quím

ica

17.1 Introdução17.2 Água17.3 Proteínas17.4 Carboidratos17.5 Lipídeos17.6 Ácidos NucleicosReferências

Regiane Cristina CorrêaAna Cláudia Kasseboehmer

Juliano José Corbi

A QuímICA dA vIdA17

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Química

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17.1 IntroduçãoNesta aula, estudaremos alguns dos principais compostos químicos que fazem parte da

“máquina” da vida, um complexo conjunto de reações que geram energia e as biomoléculas

essenciais à vida. Nosso intuito é relacionar alguns dos conceitos que estudamos, neste semestre,

com o que será estudado nos próximos módulos na área de Biologia. Assim, você pode per-

ceber que o estudo da natureza requer diferentes áreas de conhecimento, tudo está conectado.

Bom estudo!

17.2 ÁguaDe acordo com o célebre químico francês Antoine Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada

se perde, tudo se transforma”, e é assim que também ocorre com a química da vida, pois, através

de reações químicas, as substâncias orgânicas são metabolizadas, gerando energia necessária para

todos os processos vitais, e convertidas em outras substâncias com funcionalidades específicas.

Os organismos vivos, desde os muito simples como os unicelulares até os multicelulares,

são formados por células e compartilham características estruturais precisamente organizadas

pelas moléculas que as compõem. Não podemos separar a biologia das células da biologia

das moléculas, pois as células constituem os tecidos, bem como as moléculas se organizam

na constituição das células. A composição química da célula inclui substâncias inorgânicas,

como os sais minerais, e substâncias orgânicas, como proteínas, carboidratos, lipídeos e ácidos

nucleicos, além da água.

A água constitui, em média, 70% das células e a membrana plasmática, que envolve as

células, é formada por proteínas e lipídeos, não ligados covalentemente, permitindo assim

uma importante flexibilidade às células. No citoplasma, encontramos o citosol, meio aquoso

composto por diversas partículas em suspensão que participam de reações que ocorrem nesse

compartimento celular. Outro importante componente celular é o DNA - ácido nucleico, que

carrega a informação genética.

A água é o componente que se encontra em maior quantidade na maioria das células do

organismo, com exceção das células ósseas, dos dentes e das sementes. Em geral, nas células

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mais jovens e naquelas com maior atividade metabólica, como nos embriões e no cérebro,

a quantidade de água é maior. A água é essencial para a ocorrência das reações fisiológicas,

que necessitam do meio aquoso, e também é um importante solvente natural para algumas

substâncias nas células.

Essa importância que a água tem para o organismo pode ser explicada por suas propriedades

físicas e químicas. Como vimos no texto 04 Constituição das substâncias: A Química no

nível submicroscópico, a água – H2O – é uma substância química, cujas moléculas são polares

e interagem entre si por Ligações de Hidrogênio. Como consequência, a água torna-se um bom

solvente para os sais minerais e outras substâncias químicas existentes no organismo. Também possui

ponto de ebulição mais alto que o de outros solventes e alta tensão superficial - veja Figura 17.1.

17.3 ProteínasA palavra proteína, do grego “proteios”, significa primário, que tem prioridade. Assim,

podemos entender a importância desses compostos, pois são indispensáveis às células. As

proteínas desempenham diversas funções em diferentes organismos, essencialmente, como

componentes estruturais e de defesa, como aceleradores das reações químicas, na defesa do

organismo e muitas outras. A Tabela 17.1 apresenta funções das proteínas, alguns exemplos

e as estruturas químicas de algumas moléculas pequenas.

Figura 17.1: a. Ligações de hidrogênio entre moléculas de água envolvem átomos de hidrogênio (polo positivo, δ+) e oxigênio (polo negativo, δ−); b. A elevada tensão superficial da água, resultante das ligações de hidrogênio intermoleculares, permite que o inseto se sustente na sua superfície. / Fonte: a. Adaptado de Campbell et al., 2010; b. Thinkstock.

a b

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Tabela 17.1: Funções das proteínas.

Funções Exemplos

Armazenamento A albumina, presente no ovo, é fonte de aminoácidos para o desenvolvimento do embrião.

Recepção de sinais químicos

Proteínas das membranas das células nervosas, os neurônios, detectam sinais químicos emitidos por outros neurônios.

Motoras e contráteis Actina e miosina participam da contração muscular.

Defesa Anticorpos agem na proteção contra doenças, combatem microrganismos.

Funções Exemplos Exemplos de estruturas químicas

Aceleração de reações A enzima sacarase acelera a reação de hidrólise da sacarose, a qual gera glicose e frutose

Estrutural/Sustentação

O colágeno constitui muitos tecidos, como a pele. A queratina é encontrada nas unhas. A membrana plasmática é formada por fosfolipídeos e proteínas.

Fonte: The Role of Chemistry in History, 2007.

Transporte

A hemoglobina transporta oxigênio e gás carbônico. Há proteínas, constituintes da membrana plasmática, que são essenciais para o transporte seletivo de nutrientes e metabólitos.

Fonte: Adaptado de Misodor.

HormonalInsulina e Glucagon regulam a concentração de glicose no sangue.

Estrutura da insulina. / Fonte: adaptado de Bromato em Saúde, UFRJ.

Fonte: adaptado de Campbell et al., 2010.

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As proteínas são macromoléculas formadas por aminoácidos unidos por ligações peptídicas.

Há 20 aminoácidos, que são denominados essenciais, cujas estruturas químicas diferem apenas

quanto à cadeia lateral (R). Assim, todos os aminoácidos possuem uma estrutura comum, que

consiste de um grupo amina (NH2) e um grupo carboxila (COOH) ligados a um mesmo

átomo de carbono (carbono α), o qual também está unido a um hidrogênio e a uma cadeia

lateral (Figura 17.2).

O carbono alfa (α) é denominado um centro quiral, pois está no centro de um tetraedro e

se combina a quatro ligantes diferentes (na Figura 17.2: H, R, H3N+ e COO-), formando uma

estrutura assimétrica, isto é, que não tem nenhum plano de simetria. Tal característica, isto é,

possuir um centro quiral, determina que existam dois tipos de estruturas para cada aminoácido,

denominados estereoisômeros, que diferem apenas na disposição espacial dos quatro ligantes

diferentes em torno do carbono quiral. As diferentes disposições espaciais dos estereisômeros se

relacionam como objeto e imagem refletida em um espelho e determinam que haja aminoácidos

das séries D e L, sendo que os últimos são os constituintes das proteínas.

Os aminoácidos são classificados de acordo com as características da cadeia lateral (R) e,

assim, podem ser polares (hidrofílicos) ou apolares (hidrofóbicos), ácidos ou básicos. Os nomes

dos aminoácidos usualmente são abreviados em três letras (observe na Tabela 17.2). As fórmulas

e os respectivos nomes dos 20 aminoácidos podem ser observados na Figura 17.3.

Figura 17.2: Estrutura geral dos aminoácidos. / Fonte: Adaptado de Campbell; Farell, 2007.

a

b

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Tabela 17.2: Nome, abreviação e natureza dos principais aminoácidos.

Nome Abreviação Natureza Nome Abreviação NaturezaÁcido aspártico Asp Ácido Isoleucina Ile Apolar**

Ácido glutâmico Glu Ácido Leucina Leu Apolar**

Alanina Ala Apolar** Lisina Lys Básico

Arginina Arg Básico Metionina Met Apolar**

Asparigina Asn Polar* Prolina Pro Apolar**

Cisteína Cys Apolar** Serina Ser Polar*

Fenilalanina Phe Apolar** Tirosina Tyr Polar*

Glicina Gly Apolar** Treonina Thr Polar*

Glutamina Gln Polar* Triptofano Trp Apolar**

Histidina His Básico Valina Val Apolar**

*hidrofílicos e **hidrofóbicos. / Fonte: Adaptado de Campbell; Farrell, 2011.

Grupos R apolares, alifáticos

Grupos R polares, não carregados

Grupos R aromáticos Grupos R carregados positivamente

Grupos R carregados negativamente

Figura 17.3: Aminoácidos agrupados de acordo com a natureza da cadeia lateral. / Fonte: Adaptado de NelsoN-leNiNgher, 2011.

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Nos organismos vivos, os amino-

ácidos se combinam para formar as

proteínas através de ligações covalen-

tes denominadas ligações peptídicas

(-NH-CO-), que resultam da reação do

grupo amina de um aminoácido com o

grupo carboxila de outro. Quando esse

processo se repete muitas vezes, encade-

ando muitos aminoácidos, resulta uma

cadeia polipeptídica, ou polipeptídeo,

que possui em uma das extremidades

um grupo amino (grupo N-terminal)

e na outra, um grupo carboxila (grupo

C-terminal) (Figura 17.4).

Os polipeptídeos diferem quanto

ao número, a natureza e a sequência

de aminoácidos, que se encadeiam,

resultando em grande diversidade de

cadeias polipeptídicas e confere às cé-

lulas a importante habilidade de cons-

truir estruturas com as propriedades e

funcionalidades necessárias. Assim, as

proteínas, que são constituídas por uma ou mais cadeias peptídicas, possuem estruturas peculiares

de acordo com o papel que desempenham, resultando na ocorrência de quatro níveis de organi-

zação que são denominados estruturas primária, secundária, terciária e quaternária.

A sequência dos aminoácidos em uma dada proteína define a sua estrutura primária, o que

é determinado pela informação genética armazenada nos ácidos nucleicos, e também pode

afetar os outros níveis de organização da cadeia proteica e resultar em alterações importantes na

funcionalidade da proteína.

De fato, a ocorrência de um erro na informação genética relacionada à estrutura primária

de uma proteína afeta não apenas a sua estrutura como também a função a ser desempenhada,

a

b

Figura 17.4: Formação da ligação peptídica e eliminação de água por reação entre dois aminoácidos (a); Grupos terminais da cadeia peptídica (b). / Fonte: Adaptado de Campbell et al., 2010.

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tornando-a inativa ou apenas parcialmente funcional. É o que acontece, por exemplo, quando

um erro resulta na inserção do aminoacidovalina (Val) em lugar de ácido glutâmico (Glu) na

estrutura primária da hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio e gás

carbônico no sangue. A consequência desse erro resulta na sequência incorreta de aminoácidos,

isto é, a estrutura primária não é a correta para a função transportadora que a hemoglobina deve

desempenhar, e o indivíduo passa a ser portador de anemia falciforme. Nesse caso, a presença da

hemoglobina “defeituosa”, denominada hemoglobina falciforme, resulta em importante alteração

na forma das hemácias (células do sangue que contêm a hemoglobina), as quais são bicôncavas

no indivíduo sadio, mas possuem formato de foice no portador de anemia falciforme. Essa

alteração nas hemácias pode resultar na obstrução dos pequenos vasos sanguíneos, dificultando

o fluxo sanguíneo, e pode mesmo levar à morte (observe essas alterações na Figura 17.5).

Figura 17.5: Um erro na sequência primária da hemoglobina afeta sua funcionalidade e resulta na alteração da forma das hemácias, o que determina a ocorrência de anemia falciforme. / Fonte: Adaptado de Campbell et al., 2010.

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A estrutura secundária diz respeito à ocorrência de padrões organizados, que são denomi-

nados alfa-hélice, quando a cadeia proteica se dispõe como uma espiral em torno de um eixo

imaginário, formando uma estrutura semelhante à de um cilindro, e folha pregueada quando a

cadeia adota uma conformação semelhante a um ziguezague.

A estrutura terciária corresponde ao dobramento ou enovelamento da cadeia proteica em

torno de si mesma e, assim, há proteínas que têm forma mais compactada, e algumas dessas são

aproximadamente globulares, e outras que adotam conformações mais estendidas, isto é, sua

conformação se assemelha à de cilindros.

Algumas proteínas, como a hemoglobina, são constituídas por mais de uma cadeia peptídica

e a interação entre essas diferentes subunidades que define a estrutura quaternária determina

que a macromolécula seja plenamente funcional (Figura 17.6).

Figura 17.6 Estruturas primária, secundária, terciária e quaternária.

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As ligações covalentes que unem os aminoácidos e determinam a estrutura primária são

muito fortes (ligações covalentes: 200-460 kJ/mol) quando comparadas às fracas interações

(ligações hidrogênio: 4-30 kJ/mol), que estabilizam as estruturas secundária e terciária das

proteínas; mas, nesse último caso, ligações covalentes também podem ser importantes, como

ocorre na insulina, na qual ligações -S-S- unem resíduos de cisteína (Cis) que estão distantes

na estrutura primária.

17.4 CarboidratosDas biomoléculas existentes na Terra, os carboidratos são os mais abundantes, pois o saldo

anual da conversão de CO2 e H

2O em celulose, na fotossíntese, chega a 100 bilhões de toneladas

métricas. São compostos por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio, apresentando a fórmula

geral Cn(H

2O)

n. Desempenham importantes funções nas células como elementos estruturais, na

reserva de energia e de nutrientes.

Os carboidratos mais simples são os monossacarídeos ou açúcares simples, como a glicose

(hexose, com seis carbonos) e a frutose (pentose, com cinco carbonos). A Figura 17.7 mostra

que, em solução, a glicose existe como duas estruturas isômeras, que correspondem a uma

cadeia alifática e outra cíclica, as quais têm reatividades muito diferentes.

Na estrutura alifática, há um carbono (C1) unido por dupla ligação a oxigênio, formando o

grupo carbonila, no qual um dos ligantes desse carbono é o hidrogênio, como ocorre na classe

de compostos orgânicos classificados como aldeídos, e a glicose é classificada como uma aldose.

No caso da forma alifática da frutose, o carbono da carbonila não se une diretamente a nenhum

Figura 17.7 Formas linear (alifática) e cíclica da glicose. / Fonte: Adaptado de Campbell, 2010.

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hidrogênio, como ocorre na classe de compostos orgânicos classificados como cetonas, e a frutose

é classificada como uma cetose. Como o grupo carbonila dos aldeídos e cetonas tem caráter

redutor, isto é, doador de elétrons, a glicose e a frutose são classificadas como açúcares redutores.

Na formação da estrutura cíclica da glicose, o carbono C1 reage como grupo hidroxila

(-OH) ligado ao carbono 5 (C5) e as duas disposições espaciais possíveis para o grupo –OH

e o hidrogênio ligados a C1 na estrutura cíclica correspondem aos anômeros alfa, nos quais o

grupo –OH assume a disposição axial em relação ao plano médio definido pelo ciclo ou anel,

e beta, em que o grupo –OH adota a disposição equatorial. A exemplo do que ocorre com os

aminoácidos, nos monossacarídeos como a glicose, também há um carbono quiral, isto é, carbono

unido a quatro ligantes diferentes, e duas diferentes disposições espaciais dos ligantes em torno

desse carbono devem ser consideradas. Assim é, por exemplo, com a glicose e a galactose, as

quais diferem apenas no arranjo espacial dos ligantes em torno do carbono 4 (Figura 17.8).

Trioses (C3H6O3) Pentoses (C5H10O5) Hexoses (C6H12O6)

Aldoses

GliceraldeídoProduto inicial da

clivagem da glicose

RiboseComponente do RNA

GlicoseFonte de energia

para os organismos

GalactoseFonte de energia

para os organismos

Cetoses

DiidroxiacetonaProduto inicial da

clivagem da glicose

RibuloseIntermediário da

fotossínteseFrutose

Fonte de energia para os organismos

Figura 17.8 Estrutura e classificação de monossacarídeos. Exemplos de aldoses e cetoses. / Fonte: Adaptado de Campbell, 2010.

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Os dissacarídeos são carboidratos compostos por dois monossacarídeos, exemplificando a

sacarose, conhecida como açúcar de mesa, que é formada por glicose e frutose unidas covalen-

temente por uma ligação glicosídica α(1,2) (Figura 17.9).

Os polissacarídeos são formados pela união de centenas, e até de milhares, de monossacarídeos,

resultando em longas cadeias macromoleculares, e desempenham, principalmente, a função de arma-

zenamento de energia e o papel de elementos estruturais e de proteção dos organismos em que

ocorrem. Os tipos de monossacarídeos e a forma como se encadeiam determinam a arquitetura

macromolecular e a função desempenhada por um dado polissacarídeo. Assim, os polissacarídeos

podem ser classificados como homopolissacarídeos, se constituídos por apenas um tipo de monos-

sacarídeo, e heteropolissacarídeos, se constituídos por dois ou mais tipos de monossacarídeos.

Se na cadeia do polissacarídeo não ocorrem ramificações, como é o caso da celulose, ele é

denominado polissacarídeo linear em contraposição aos ramificados, como o amido em que

ocorrem cadeias ramificadas (amilopectina) e lineares (amilose). A ocorrência ou não de rami-

ficações na cadeia do polissacarídeo é definida pelo tipo de ligações que unem as unidades

de monossacarídeos, o que também determina se a cadeia é flexível e capaz de se se enovelar

compactamente, ou se é rígida, e se dispõe segundo uma direção preferencial, favorecendo a

formação de estruturas fibrilares.

Figura 17.9: Dissacarídeo sacarose formado por glicose e frutose por ligação glicosídica α(1,2). / Fonte: adaptado de sadava et al., 2011.

Outros dois importantes dissacarídeos devem ser citados: a. maltose, a qual ocorre no malte que é fermentado para produzir cerveja, em

que duas unidades de glicose são unidas por ligação α(1,4); b. lactose, a qual ocorre no leite, em que a galactose se une à glicose por ligação

β(1,4).

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Os principais polissacarídeos constituídos, exclusivamente, por unidades de glicose são a

celulose, o amido e o glicogênio, sendo que o primeiro é o principal elemento estrutural de

vegetais enquanto os dois últimos são reservatórios de energia, isto é, de glicose disponível para

oxidação e geração de energia em células vegetais e animais, respectivamente.

Na celulose, as unidades de glicose se unem por ligações β(1,4), constituindo longas cadeias

lineares e rígidas, que têm a tendência de se alinharem umas em relação às outras, formando

domínios relativamente organizados em que várias cadeias interagem através de numerosas

ligações de hidrogênio. Assim, aproximadamente oitenta (80) cadeias de celulose se associam

para formar uma microfibra ou microfibrila, a principal unidade estrutural da parede celular

das plantas. Portanto, a estrutura linear e rígida da celulose é especialmente apropriada para

constituir elementos estruturais que envolvem e conferem proteção e resistência mecânica às

células vegetais (Figura 17.10).

Figura 17.10: Estrutura linear e rígida da celulose oferecendo um caráter rígido às células vegetais.

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No amido, ocorre a amilose, cadeia linear e flexível em que 250 - 300 unidades de glicose

se unem por ligações α(1,4), e a amilopectina, em que, ao longo da cadeia linear constituída

por unidades de glicose unidas por ligações α(1,4), ocorrem ramificações que se unem à cadeia

principal por ligações α(1,6), constituindo uma estrutura hiperramificada que pode conter até

1.400 unidades de glicose. No glicogênio, as unidades de glicose se unem pelos mesmos tipos

de ligações glicosídicas que ocorrem no amido; suas cadeias também são flexíveis e ramificadas

e a sua massa molecular do glicogênio pode chegar a 100 mil kDa. O fato de se enovelarem

densamente, em vista do caráter f lexível de suas cadeias, faz com que amido e glicogênio

se disponham como estruturas hipercompactas e que, portanto, ocupam mínimo espaço no

interior das células em que desempenham o papel de reserva de glicose.

17.5 LipídeosOs lipídeos constituem uma classe diversificada de compostos químicos, que têm como

característica comum o fato de serem hidrofóbicos, isto é, de não terem afinidade por meios

polares como a água.

Nos triacilgliceróis ou triglicerídeos, ou simplesmente gorduras, uma molécula de glicerol é

quimicamente combinada a três cadeias de ácidos graxos, iguais ou diferentes, por ligações do

tipo éster (Veja Figura 17.11).

Figura 17.11: Estrutura submicroscópica e simbólica de um triglicerídeo. No ácido graxo, o carbono do grupo carboxila (em azul) se une à longa cadeia hidrocarbônica, contendo 16 – 18 átomos de carbono, o que confere o caráter apolar/hidrofóbico aos lipídeos. / Fonte: Banco de dados LENAQ.

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Os fosfolipídeos, elementos estruturais essenciais das membranas celulares, em consequência

de sua natureza anfifílica, se organizam em meios aquosos, formando estruturas micelares de bica-

madas, como as membranas celulares, em que os grupos fosfato (polares) ou “cabeças polares” se

dispõem de maneira a interagir com o meio aquoso (o interior e o exterior das células), enquanto

as caudas hidrofóbicas (apolares) se dispõem para o interior da bicamada (Veja Figura 17.12).

Gorduras saturadas e gorduras insaturadas

Você viu no texto 16 que as cadeias carbônicas podem ser classificadas como saturadas ou insa-turadas. Essa denominação está relacionada a algo que encontramos em nosso cotidiano. Observe a estrutura da Figura 17.11. Nela, há uma cadeia em que há apenas ligações simples entre os 14 carbonos da região que vem do ácido palmítico. Nas cadeias derivadas dos ácidos oleico e linoênico, há uma insaturação, ou seja, uma dupla ligação entre os carbonos.Dependendo da presença de dupla(s) ligação(ões) carbono/carbono na cadeia hidrocarbônica, o ácido graxo é classificado como saturado (não tem dupla ligação) ou insaturado (possui ao menos uma dupla ligação, predominantemente da configuração cis), o que dá origem às denominações gordura saturada e insaturada. Nas gorduras saturadas, as moléculas se associam fortemente e elas são substâncias sólidas à temperatura ambiente, tais como as ceras e gorduras animais, enquanto as cadeias insaturadas não interagem tão favoravelmente e formam substâncias que são líquidas à tem-peratura ambiente, como os óleos de oliva e de peixes. A dieta rica em gorduras saturadas favorece o desenvolvimento de placas que aderem às paredes dos vasos sanguíneos e comprometem o fluxo, podendo acarretar o desenvolvimento de aterosclerose, grave enfermidade do sistema cardiovascular. As gorduras insaturadas, nas quais a dupla ligação carbono/carbono da cadeia hidrocarbônica do ácido graxo assume a configuração trans, denominadas gorduras trans, também contribuem para a ocorrência da aterosclerose, pois afetam os níveis de colesterol no sangue.

Figura 17.12: Estrutura de fosfo-lipídeos: há cadeias carbônicas dos ácidos graxos (como ácido palmítico na figura) de natureza hidrofóbica ou apolar e uma região polar ou hidrofílica, devido à presença do grupo fosfato negativamente carregado. Por isso, os fosfolipídeos apresentam caráter anfifílico. / Fonte: Banco de dados LENAQ.

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Os lipídeos do tipo esteroides são estruturas hidrocarbônicas que contêm quatro anéis fundidos,

como o colesterol, que é um importante hormônio dos vertebrados, a partir do qual são produ-

zidos outros esteroides e também hormônios. Assim, o colesterol é uma molécula de importância

vital para os animais, mas níveis elevados de colesterol no sangue contribuem para a aterosclerose.

17.6 Ácidos NucleicosOs ácidos nucleicos DNA (ácido desoxirribonucleico) e RNA (ácido ribonucleico) são de

grande importância para os seres vivos. Os vírus têm somente um ou outro tipo de ácido nucleico,

porém, os outros organismos possuem os dois tipos. São compostos por uma pentose (açúcar

com cinco carbonos) ligados a um grupo fosfato (PO4-) e a uma base nitrogenada que podem

ser classificadas como púricas: adenina (A) e guanina (G) ou pirimídicas: citosina (C), timina (T)

e uracila (U). Veja as estruturas submicroscópica e simbólica na Figura 17.13. No DNA, o

açúcar é a desoxirribose e a base timina no lugar da uracila, o RNA é composto pelo açúcar

ribose e a base nitrogenada uracila substituindo a timina.

Em 1953, James Watson e Francis Crick postularam o modelo da estrutura do DNA, que

consiste de duas cadeias dispostas em torno de um eixo formando uma dupla-hélice numa

orientação antiparalela. As cadeias encontram-se unidas pelas bases nitrogenadas complementares

(A – T eC – G) por uma ligação de hidrogênio.

Timina (T)

Bases Purinas

Bases Pirimídicas

Adenina (A) Guanina (G)

Uracila (U)Citosina (C)

Figura 17.13: Estruturas submicroscópica e simbólica das bases nitrogenadas.

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17 A Química da vida

Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2

O DNA armazena e transmite toda a informação genética de uma geração para outra.

É encontrado nos núcleos dos eucariontes e associados às proteínas histonas, formando os

cromossomos, e uma pequena quantidade de DNA pode ser encontrada nas mitocôndrias e

cloroplastos no citoplasma. Este tema será abordado na disciplina Genética e Bioestatística,

no Módulo IV.

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Química

Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2

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