nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da doença de Alzheimer: uma nova estratégia terapêutica Dissertação de Mestrado Mestrado em Bioquímica ANDREIA DANIELA ROSA VELOSO Orientador: Prof. Dr. Romeu António Videira Coorientadora: Profª Dr.ª Maria Cristina Oliveira Vila Real, 2016

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Page 1: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o

tratamento da doença de Alzheimer: uma nova

estratégia terapêutica

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Bioquímica

ANDREIA DANIELA ROSA VELOSO

Orientador: Prof. Dr. Romeu António Videira

Coorientadora: Profª Dr.ª Maria Cristina Oliveira

Vila Real, 2016

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o

tratamento da doença de Alzheimer: uma nova

estratégia terapêutica

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Bioquímica

ANDREIA DANIELA ROSA VELOSO

Orientador: Prof. Dr. Romeu António Videira

Coorientadora: Profª Dr.ª Maria Cristina Oliveira

Composição do juri:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Vila Real, 2016

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Page 5: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

Este trabalho foi realizado no Departamento de Química da Escola das Ciências da Vida e do

Ambiente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro sob a supervisão do Professor

Doutor Romeu António Videira e da Professora Doutora Maria Cristina Fialho Oliveira.

Este trabalho foi suportado pela Fundação Calouste Gulbenkian no âmbito do Programa

Estimulo à Investigação 2014, processo nº 137021.

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Este trabalho foi expressamente elaborado como Dissertação original para o efeito de

obtenção de grau de Mestre em Bioquímica na Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro

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i

Agradecimentos

Foram várias as pessoas que me ajudaram na realização desta dissertação, como tal

gostaria de lhes expressar os meus mais sinceros agradecimentos.

Aos meus orientadores, Professor Doutor Romeu António Videira e Professora

Doutora Maria Cristina Fialho Oliveira pela oportunidade de realizar esta dissertação, por

todos os conhecimentos que me transmitiram e por toda a disponibilidade, paciência,

otimismo e orientação que prestaram sempre ajudando para que o meu trabalho ocorresse da

melhor forma.

À Fundação Calouste Gulbenkian agradeço a bolsa concedida no âmbito do Programa

Estímulo à Investigação 2014, do qual emergiu esta dissertação.

À Professora Doutora Maria Manuel Oliveira pela ajuda, disponibilidade e

conhecimentos transmitidos.

À Professora Doutora Carla Maria Amaral, coordenadora do mestrado em Bioquímica,

e aos restantes professores que lecionaram neste mestrado por toda a disponibilidade prestada.

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e ao Centro de Química por me

terem proporcionado as condições necessárias à realização desta dissertação

À Professora Doutora Ana Rego e à Professora Doutora Ana Ferraria pelos dados de

XPS obtidos no Centro de Química Física Molecular do Instituto Superior Técnico de Lisboa.

À Professora Doutora Ana Viana pelos dados de AFM obtidos no Centro de Química e

Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

À Professora Doutora Marta Ferro pela análise de HRTEM efetuada no Centro de

Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos da Universidade de Aveiro.

Ao Professor Doutor Pedro Tavares pela realização análise de TEM realizada na

Unidade de Microscopia Eletrónica da Univesidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

À Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto pela oportunidade de realizar os

ensaios in vitro com células em cultura.

.

Page 10: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

ii

Ao Sr. Carlos, técnico de laboratório, pela disponibilidade, simpatia e pela boa

disposição com que sempre me recebeu.

Aos meus colegas de laboratório, Tiago, Cláudio e Mónica, agradeço o bom ambiente

de trabalho que me proporcionaram, simpatia e boa disposição. Agradeço em especial à

Daniela e à Tânia pela boa disposição, amizade e entreajuda dentro e fora do laboratório que

tornaram este percurso mais fácil.

A todos os meus amigos, e em especial à Catarina, Andreia e ao Jorge, pelo

companheirismo, apoio e incentivo.

À minha família, em especial aos meus pais pela oportunidade, apoio e esforço que

fizeram para eu concluir esta etapa.

A todos, muito obrigada!

Page 11: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

iii

Trabalhos apresentados com base nesta dissertação

Patente Nacional:

M. C. Oliveira, A. Veloso, P. Tavares, J. Ramiro, R. Videira, Preparação de nanomateriais de

carbono à base de grafeno e suas propriedades redox. Patent nº 20161000026580. (submetido

a 20.4.2016)

Artigo cientifico:

Oliveira M. C., Viana A. S., Rego A. M. B., Ferraria A. M., Tavares P. B., Veloso A. D.,

Videira R. A. (2016) Dual Behaviour of Amorphous Carbon Released Electrochemically from

Graphite. Chemistry Select. Vol 1 (13), 4126-4130. DOI: 10.1002/slct.201600965

Comunicação oral:

A. Veloso, M.C. Oliveira, R. Videira, “Nanopartículas de grafeno no tratamento da doença de

Alzheimer: uma nova estratégia terapêutica”, VIII Jornadas de Bioquímica da UTAD,

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 15 e 16 Abril 2015. (convidada)

Comunicação em poster:

A. Veloso, M. C. Oliveira, R. Videira “Boosting the antioxidant properties of graphene-

quantum dots” apresentado no 5° Encontro Português de Jovens Químicos (5th PYCheM),

26-29 Abril 2016, Guimarães. Poster nº 147.

Page 12: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 13: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

v

Resumo

A doença de Alzheimer é a doença neurodegenerativa progressiva mais comum que

afeta milhões de pessoas em todo o mundo. É caracterizada por um processo

neurodegenerativo que promove a perda de sinapses e neurónios, principalmente em áreas

associadas com a memória e a aprendizagem. Dados recentes suportam a hipótese de que a

doença de Alzheimer emerge de um desequilíbrio bioenergético associado ao stresse

oxidativo, a um perfil lipídico mitocondrial anormal e a disfunções mitocondriais, detetado,

principalmente, pela perda de funcionalidade do complexo I mitocondrial. Assim sendo, a

modelação da funcionalidade mitocondrial e do potencial redox das células cerebrais por

agentes externos não-tóxicos apresenta-se como uma estratégia terapêutica atrativa para

prevenir (ou interromper) o fenótipo patológico dependente da idade da doença de Alzheimer.

Neste contexto, o principal objetivo deste trabalho consistiu no desenvolvimento de uma nova

estratégia terapêutica baseada na utilização de nanomateriais hidrofílicos de carbono (NHC)

com propriedades redox modeláveis. Os nanomateriais foram sintetizados por um novo

método eletroquímico desenvolvido recentemente pelo nosso grupo.

Na primeira parte deste trabalho foi demonstrado que as propriedades redox do

material hidrofílico podem ser seletivamente modeladas pela simples modificação da natureza

do eletrólito utilizado na síntese eletroquímica. Assim, foram preparados dois tipos de

nanomateriais, um que apresenta uma elevada capacidade para doar eletrões (NHC-o) e outro

que apresenta, simultaneamente, a capacidade de doar e de receber eletrões (NHC-i). Com

base na técnica de voltametria cíclica foram avaliadas as propriedades redox destes

nanomateriais, a sua estabilidade química, a reversibilidade das reações de transferência de

eletrões, os potenciais de eléctrodo e a sua dependência do pH. Os nanomateriais foram

caracterizados quanto ao seu tamanho, forma, espessura, estrutura cristalina, natureza dos

grupos funcionais e propriedades óticas utilizando as técnicas de TEM, HRTEM, AFM, XPS,

UV-Vis e fluorescência.

Relativamente às propriedades redox dos NHC-i, concluiu-se que estes exibem um

comportamento redox quase-reversível, que ocorre num intervalo de potenciais onde a cadeia

respiratória mitocondrial opera. Esta característica sugere que os NHC-i poderão ser

utilizados para promover, na fase aquosa da membrana interna mitocondrial, a oxidação do

NADH e transferir os eletrões diretamente para o complexo III da cadeia respiratória

mitocondrial, ultrapassando o défice de eletrões no complexo I. Por outro lado, foi

demonstrado por testes antioxidantes (e.g. DPPH, ABTS, Folin-Ciocalteau) que os NHC-o

Page 14: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

vi

apresentam uma elevada atividade de sequestro de radicais, comparável ao trolox. Tendo em

conta estes resultados, a solução de NHC-o foi escolhida para prosseguir os estudos.

Posteriormente, foi avaliada a capacidade dos NHC-o em ajustar o estado redox dos sistemas

biológicos em condições de stresse. Os resultados revelaram que os NHC-o têm a capacidade

de evitar a peroxidação lipídica e a oxidação dos grupos tiol celulares (proteínas e GSH)

induzida por agentes oxidantes externos (e.g. tert-butil-hidroperóxido, par ascorbato/Fe+2).

Ensaios in vitro em que se utilizaram duas linhas tumorais humanas, AGS proveniente

de carcinoma gástrico e SH-SY5Y proveniente de neuroblastoma, demonstraram a não-

toxicidade dos NHC-o. Para além disso, mostrou-se que os NHC-o apresentam uma elevada

capacidade para proteger as células contra a toxicidade do tert-butil-hidroperóxido, um

indutor de morte celular associado a stresse oxidativo.

Em suma, concluiu-se que os NHC podem preservar ou recuperar o estado redox

funcional das células e evitar a oxidação de biomoléculas (DNA, proteínas e lípidos), abrindo

a possibilidade de serem aplicados como agentes terapêuticos em terapias upstream e

downstream para prevenir/atenuar o fenótipo dependente da idade da doença de Alzheimer.

Palavras-chave: Nanomateriais Hidrofílicos de Carbono, Propriedades Redox, Toxicidade,

Atividade Antioxidante, Stresse Oxidativo, Doença de Alzheimer

Page 15: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

vii

Abstract

Alzheimer´s disease is the most common progressive neurodegenerative disease

affecting millions of people worldwide. The Alzheimer’s brain is marked by

neurodegeneration, comprising loss of synapses and neurons particularly in areas associated

with memory and learning. Recent data support the idea that Alzheimer´s disease emerges as

consequence of bioenergetics metabolism unbalance associated with oxidative stress,

abnormal mitochondrial lipid profile and mitochondrial dysfunctions, mainly detected by the

decline of complex I activity. Considering this framework, the modulation of both

mitochondrial functionality and redox potential of brain cells by non-toxic external agents

emerges as an attractive approach to prevent (or decrease) the age-dependent pathological

phenotype of Alzheimer´s disease. In this context, the main motivation of this work was the

development of a new therapeutic strategy based on the use of hydrophilic carbon

nanomaterials (NHC) with tunable redox properties. The nanomaterials were prepared via a

new electrochemical route recently developed in the group.

In a first stage of this work, it was demonstrated that the redox ability of the

hydrophilic material could be selectively tuned by simply modifying the nature of the

electrolyte used in the electrochemical synthesis. In this way, it was prepared two pools of

nanomaterials, one that can display a very high electron-donating ability (NHC-o) and another

that displays simultaneously electron-accepting and electron-donating ability (NHC-i).

Evaluation of the redox properties, their long-term stability, reversibility of the electron-

transfer reactions, pH dependence, as well as electrode potentials, was provided by cyclic

voltammetry technique. Characterization of their size, shape, thickness, crystallinity, surface

functional groups and optical properties were accomplished by TEM, HRTEM, AFM, XPS

and UV-vis, PL techniques.

Considering the redox properties of the synthetized NHC-i, it was concluded that they

exhibit a quasi-reversible redox behaviour within a narrow range of redox potentials, where

the mitochondrial respiratory chain operates. This feature suggests that they might be used to

promote the oxidation of NADH in aqueous interface of inner-mitochondrial membrane and

deliver the electrons to complex III, overcoming deficiencies at complex I. On the other hand,

it was demonstrated by antioxidant tests (e.g. DPPH, ABTS, Folin-Ciocalteau) that NHC-o

exhibit a very high radical scavenging activity, comparable to trolox. In view of these results,

the NHC-o solution was chosen to pursue the studies. Subsequently, it was evaluated the

ability of NHC-o to modulate the redox state of biological systems under stress conditions.

Page 16: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

viii

The results revealed that the NHC-o have the capacity to prevent the lipid peroxidation and

cellular thiol groups oxidation (protein and GSH) induced by external oxidant agents (e.g.

tert-butyl-hydroperoxide and ascorbate/ Fe+2).

In vitro assays, performed with two human tumor cell lines, AGS cells from gastric

carcinoma and SH-SY5Y cells from neuroblastoma, demonstrated the non-cytotoxicity of

NHC-o. Moreover, it was also shown that the NHC-o exhibit high capacity of protection of

cells against the toxicity of tert-butyl-hydroperoxide, known as a cell death inducer associated

with oxidative stress.

Summing up, it was concluded that hydrophilic carbon nanomaterials can preserve or

restore the functional redox state of cells and avoiding the oxidation of biomolecules (DNA,

protein and lipids), opening the way to be employed as therapeutics agents in upstream and

downstream therapy to prevent/attenuate the age-dependent phenotype of Alzheimer´s

disease.

Keywords: Hydrophilic Carbon Nanomaterials, Redox Properties, Toxicity, Antioxidant

Activity, Oxidative Stress, Alzheimer’s disease

Page 17: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

ix

Índice geral

Agradecimentos .................................................................................................................................. i

Trabalhos apresentados com base nesta dissertação ........................................................................... iii

Resumo ..............................................................................................................................................v

Abstract ........................................................................................................................................... vii

Índice geral ....................................................................................................................................... ix

Índice de Figuras ............................................................................................................................ xiii

Índice de Tabelas .............................................................................................................................. xv

Lista de abreviaturas e símbolos ......................................................................................................xvii

Capítulo I – Introdução ......................................................................................................................1

1. Nanomateriais ........................................................................................................................3

2. Materiais nanoestruturados de carbono ...................................................................................4

2.1. Grafenos ..........................................................................................................................4

2.2. Pontos de carbono (carbon dots-CDs) e pontos quânticos de grafeno (graphene quantum

dots-GQDs) ................................................................................................................................6

3. Toxicologia dos CDs e GQDs ............................................................................................... 10

Estudos in vitro .................................................................................................................... 12

Estudos in Vivo .................................................................................................................... 13

4. Aplicações biológicas dos CDs e GQDs ............................................................................... 15

4.1. Meios de Diagnóstico .................................................................................................... 15

Sensores ............................................................................................................................... 16

Imagiologia .......................................................................................................................... 17

4.2. Aplicações terapêuticas .................................................................................................. 18

Aplicação dos CDs e GQDs como veículos para o transporte de fármacos ............................ 18

Aplicação dos CDs e GQDs em terapia fotodinâmica............................................................ 19

Aplicação como agentes antibacterianos ............................................................................... 20

Aplicação como antioxidantes .............................................................................................. 20

4.3. Aplicações Teranósticas ................................................................................................. 21

Page 18: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

x

5. Atividade antioxidante de nanomateriais de carbono ............................................................. 21

6. Importância da descoberta de novos antioxidantes ................................................................ 26

7. Doença de Alzheimer ........................................................................................................... 29

Capítulo II – Objetivos ..................................................................................................................... 31

Capítulo III – Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização ......................................... 35

1. Síntese de nanomateriais hidrofílicos de carbono .................................................................. 37

2. Determinação do teor de carbono e concentração mássica ..................................................... 38

2.1. NHC-i ........................................................................................................................... 38

2.2. NHC-o ........................................................................................................................... 38

3. Caracterização física e química ............................................................................................. 39

3.1. Caracterização química e estrutural ................................................................................ 39

3.1.1. Microscopia Eletrónica de Transmissão (TEM e HRTEM) ..................................... 39

3.1.2. Microscopia de Força Atómica (AFM) ................................................................... 40

3.1.3. Espectroscopia de fotoeletrões excitados por raios X (XPS).................................... 41

3.2. Caracterização ótica ....................................................................................................... 42

3.2.1. UV-Vis .................................................................................................................. 42

3.2.2. Fluorescência ......................................................................................................... 42

3.2.3. Rendimento quântico ............................................................................................. 43

3.2.4. Coeficiente de absortividade aparente ..................................................................... 43

3.3. Caracterização eletroquímica ......................................................................................... 44

4. Avaliação da atividade antioxidante ...................................................................................... 45

4.1. Ensaio com radical DPPH .............................................................................................. 45

4.2. Ensaio com radical ABTS .............................................................................................. 46

4.3. Ensaio com reagente Folin-Ciocalteau - Conteúdo total em fenóis .................................. 47

4.4. Avaliação da ação protetora dos NHC face ao stresse oxidativo induzido por agentes

externos .................................................................................................................................... 48

4.4.1. Conteúdo total de tióis............................................................................................ 48

4.4.2. Ensaio com cis-parinárico ...................................................................................... 49

5. Ensaios in vitro .................................................................................................................... 50

Page 19: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xi

5.1. Cultura de linhas celulares ............................................................................................. 50

5.1.1. Determinação da viabilidade celular ....................................................................... 51

5.1.1.1. Ensaio com o MTT ............................................................................................ 51

5.1.1.2. Avaliação da integridade da membrana plasmática: Atividade da LDH libertada

para o meio de cultura........................................................................................................ 52

5.1.2. Avaliação da capacidade dos NHC-o para proteger as células AGS e SH-SY5Y dos

efeitos citotóxicos induzidos pelo tBHP ................................................................................ 53

5.2. Análise estatística .......................................................................................................... 53

Capítulo IV – Resultados e Discussão .............................................................................................. 55

1. Síntese dos nanomateriais hidrofílicos de carbono ................................................................ 57

2. Caracterização dos NHC ...................................................................................................... 58

2.1. Caracterização morfológica e estrutural.......................................................................... 58

2.2. Caracterização química .................................................................................................. 62

2.3. Caracterização ótica ....................................................................................................... 63

3. Caraterização eletroquímica.................................................................................................. 67

3.1. Estudo voltamétrico da solução NHC-i .......................................................................... 68

3.1.1. Avaliação do poder oxidante e redutor da solução .................................................. 68

3.1.2. Caracterização voltamétrica do poder oxidante ....................................................... 71

3.1.2.1. Efeito do tempo de síntese.................................................................................. 71

3.1.2.2. Efeito do pH da solução ..................................................................................... 73

3.1.2.3. Avaliação da estabilidade química da solução .................................................... 75

3.1.3. Caracterização voltamétrica do elétrodo SPE modificado com NHC-i..................... 76

3.2. Estudo voltamétrico da solução NHC-o .......................................................................... 78

3.2.1. Avaliação do poder oxidante e redutor de NHC-o ................................................... 78

3.2.2. Efeito do pH da solução ......................................................................................... 80

3.2.3. Efeito da velocidade de varrimento......................................................................... 82

3.2.4. Avaliação da estabilidade química da solução......................................................... 83

3.3. Caracterização voltamétrica do elétrodo SPE modificado com NHC-o ........................... 84

4. Caracterização das propriedades antioxidantes e da interação com os meios biológicos ......... 85

Page 20: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xii

4.1. Métodos Químicos ......................................................................................................... 85

4.1.1. Ensaio com o radical DPPH ................................................................................... 85

4.1.2. Ensaio com o radical ABTS ................................................................................... 87

4.1.3. Ensaio com reagente Folin-Ciocalteau - Conteúdo total em fenóis .......................... 88

4.2. Avaliação da ação protetora dos NHC do stresse oxidativo induzido por agentes externos

91

4.2.1. Conteúdo total de tióis............................................................................................ 91

4.2.2. Ensaio com cis-parinárico ...................................................................................... 93

5. Ensaios in vitro com células em cultura ................................................................................ 95

5.1. Citotoxicidade ............................................................................................................... 95

5.2. Avaliação do efeito protetor dos NHC-o no stresse oxidativo induzido por tert-butil-

hidroperóxido em células em cultura ......................................................................................... 97

Capítulo V – Conclusões Finais e Perspetivas Futuras ...................................................................... 99

Capítulo VI – Referências Bibliográficas ........................................................................................ 105

Capítulo VII – Anexos ................................................................................................................... 125

Page 21: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xiii

Índice de Figuras

Figura 1- Representação esquemática das estruturas dos grafenos e dos óxidos de grafeno. ................6

Figura 2- Representação esquemática da estrutura do Carbon Dot ......................................................8

Figure 3- Representação conceptual de estratégias para preparação de CDs. a: abordagem “top down”,

b: abordagem “bottom-up”. ............................................................................................................... 10

Figura 4- Principais áreas biológicas de aplicação dos CDs e GQDs.. ............................................... 15

Figura 5- Aplicação dos GQDs e CDs em sensores........................................................................... 16

Figura 6- Princípio de funcionamento da deteção de glucose. ........................................................... 17

Figura 7- Esquema da deteção de Zn2+ utilizando o nanosensor baseado nos CDs. ............................ 17

Figura 8- Mecanismo de sequestro de radicais superóxido por ação da quercetina. ........................... 26

Figura 9- Fotografia da solução de NHC-i (A) e NHC-o (B) em cuvete de quartzo. .......................... 57

Figura 10- Evolução do potencial (linha a preto) e do pH (linha a vermelho) ao longo do processo de

síntese eletroquímica galvanostática da solução NHC-o (A) e NHC-i (B). ......................................... 58

Figura 11 - Imagens típicas de TEM (a) e de HRTEM (b, c) dos materiais de carbono produzidos no

tampão inorgânico (NHC-i). .............................................................................................................. 59

Figura 12- Imagens típicas de TEM (a) e HRTEM (b, c, d, e) dos materiais de carbono produzidos no

tampão orgânico (NHC-o). b, c: estrutura cristalina; d, e: estrutura amorfa. Inset magnification e FFT.

......................................................................................................................................................... 60

Figura 13- (A) Imagens típicas de AFM dos materiais de carbono produzidos na presença do tampão

inorgânico (NHC-i) e respetivos perfis de espessuras. (B) Imagem típica de AFM dos materiais de

carbono produzidos na presença do tampão orgânico (NHC-o) e respetivo perfil e distribuição de

espessuras. ........................................................................................................................................ 61

Figura 14- Espectro de XPS dos NHC-i (a) e dos NHC-o (b). ........................................................... 62

Figura 15- Caracterização ótica dos NHC-i (A) e NHC-o (B). Espectro de absorção UV-Visível (a) e

espectros de excitação e emissão de fluorescência (b). ....................................................................... 64

Figura 16- Espectros de emissão de fluorescência dos NHC-i (A) e dos NHC-o (B) registados a

diferentes comprimentos de onda de excitação com incrementos de 20 nm. ....................................... 67

Figura 17- Voltamogramas cíclicos sucessivos de um elétrodo SPE numa solução NHC-i obtida após

1 hora de síntese (A e C) e dos respetivos brancos (B e D). Início do varrimento do potencial no

sentido catódico (A, B) e no sentido anódico (C, D). Voltamograma registado no 1º ao 5º varrimento,

=50mV s-1. ..................................................................................................................................... 69

Figura 18- Voltamogramas cíclicos do primeiro varrimento no sentido catódico dos NHC-i (linha

azul) e do branco (linha preta) registados após uma hora de síntese, =50mV s-1. ............................. 70

Figura 19- (A-C) Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE em alíquotas de solução recolhida no

compartimento anódico após diferentes tempos de síntese (linha azul) e respetivas solução-branco

Page 22: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xiv

(linha preta): 12,5 minutos (pH 6,55), 41,7 minutos (pH 2,59) e 55 minutos (pH 2,30). (D) Evolução

do potencial e do pH ao longo do processo de síntese galvanostático. = 50 mV s-1. ......................... 72

Figura 20- Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE em alíquotas de solução recolhida no

compartimento anódico após diferentes tempos de síntese e após ajuste do pH da solução (pH 2,58): 1

hora (linha azul), 2 horas (linha vermelha) e 3 horas (linha verde). Inclui voltamograma cíclico com

solução branca (linha preta). = 50 mV s-1. ...................................................................................... 73

Figura 21- Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE na solução NHC-i (linha azul) obtida após 1

hora de síntese após diferentes ajustes de pH: pH 2,22 (A); 2,65 (B); 3,78 (C); 5,75 (D); 6,23 (E) e pH

9 (F) e dos respetivos brancos (linha preta), = 50 mV/s. ................................................................. 74

Figura 22- Voltamogramas cíclicos dos NHC-i registados no dia de síntese (10º varrimento, linha

preta), 12 dias após síntese (8º varrimento, linha azul) e o branco (6º varrimento, linha verde). = 50

mV/s. ................................................................................................................................................ 75

Figura 23- (A) Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE (linha azul) e de um elétrodo SPE

modificado com solução NHC-i dialisada (linha vermelha), numa solução tampão fosfato pH 7. (B)

Voltamogramas cíclicos sucessivos do elétrodo SPE modificado (1º varrimento- linha vermelha; 2º -

linha azul). = 50 mV s-1. .................................................................................................................. 77

Figura 24- Voltamogramas cíclicos sucessivos do elétrodo SPE numa solução NHC-o (obtida após 1

hora de síntese) e respetivos brancos (linha castanha a tracejado). Início do varrimento do potencial

no sentido catódico (A) e no sentido anódico (B)). Início do varrimento no sentido anódico com janela

de potencial alargada até -1,5 V (C). =50mV s-1. ............................................................................ 79

Figura 25- (A e B) Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE numa solução NHC-o obtida após 1

hora de síntese, após diferentes ajustes do pH. (B) Gráfico de Ip e Ep em função do pH. = 50 mV s-1.

......................................................................................................................................................... 81

Figura 26- Voltamogramas cíclicos a diferentes velocidades de varrimento de um elétrodo SPE numa

solução NHC-o. ................................................................................................................................ 82

Figura 27- Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE numa solução NHC-o, registados ao longo de

9 dias após a síntese. = 50 mV/s. ..................................................................................................... 83

Figura 28- (A) Voltamogramas cíclicos, iniciados no sentido anódico, de um elétrodo SPE (linha

vermelha) e de um elétrodo SPE modificado com solução NHC-o dialisada (linha preta - 1º

varrimento; linha azul- 2º varrimento), numa solução tampão fosfato pH 7. (B) Voltamograma cíclico,

iniciados no sentido catódico, de um elétrodo SPE modificado com solução NHC-o dialisada, numa

solução tampão fosfato pH 7. = 50 mV/s. ........................................................................................ 85

Figura 29- Atividade anti-radicalar dos NHC-o. Efeito do aumento da concentração de NHC-o na

supressão do radical DPPH. (A) Avaliação feita um dia e (B) quatro dias após síntese. Os segmentos

de reta em volta de cada símbolo representam o desvio padrão. ......................................................... 86

Page 23: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xv

Figura 30- Atividade anti-radicalar dos NHC-o. Efeito do aumento da concentração de NHC-o na

supressão do radical ABTS. (A) Avaliação feita um dia e (B) quatro dias após síntese. Os segmentos

de reta em volta de cada símbolo representam o desvio padrão. ......................................................... 88

Figura 31- Voltamogramas cíclicos da solução de NHC-o (linha azul) e dos antioxidantes de

referência: trolox (linha preta) e ácido ascórbico (linha vermelha). = 50 mV/s. ................................ 89

Figura 32- Mecanismo de aniquilação de radicais num domínio grafítico das nanopartículas de

carbono. ............................................................................................................................................ 90

Figura 33- (A) Conteúdo total em tióis (nmoles/ mg proteína) na ausência e presença de NHC-o, antes

e após a ação do agente oxidante ascorbato/ Fe+2. * Diferente da amostra biológica com p<0,05 #

Diferente da amostra biológica tratada com agente oxidante com p<0,05. (B) Relação linear entre a

[NHC-o] mg/L e o conteúdo de tióis totais (nmoles/ mg proteína). .................................................... 92

Figura 34- (A) Quantidade de grupos sulfridilo (-SH) formados pela ação dos NHC-o. (B) Relação

linear entre a concentração de NHC-o mg/L e a quantidade de grupos SH (pmoles). .......................... 93

Figura 35- (A) Variação da fluorescência normalizada (F/F0) do ácido cis-parinárico, incorporado em

membranas mitocondriais, em função do tempo antes de depois da adição de tert-butil-hidroperóxido

(tBHP), na ausência e na presença de concentrações crescentes de NHC-o. (B) Percentagem de

proteção da oxidação da sonda (cis-parinárico) conferida pelos NHC-o. ............................................ 94

Figura 36 - Efeito do aumento da concentração de NHC-o na viabilidade de células de

adenocarcinoma gástrico humano AGS (A, C) e de células de neuroblastoma humano SH-SY5Y (B,

D), após 24 horas de incubação. ........................................................................................................ 96

Figura 37– Avaliação da capacidade dos NHC-o para proteger as células AGS (A) e SH-SY5Y (B)

dos efeitos citotóxicos induzidos por 250 µM de tert-butil-hidroperóxido (tBHP). ............................. 98

Índice de Tabelas

Tabela 1-Revisão da literatura sobre CNTs com atividade antioxidante. ........................................... 22

Tabela 2- Revisão da literatura sobre grafeno e GO com atividade antioxidante. ............................... 23

Tabela 3- Revisão da literatura sobre CDs e GQDs com atividade antioxidante. ............................... 25

Tabela 4- Conteúdo total em fenóis dos NHC-i e NHC-o expresso em μmol EAG/g. ........................ 89

Tabela 5- Volumes adicionados para preparação dos tubos da amostra. .......................................... 128

Tabela 6- Volumes adicionados para a preparação dos tubos de Trolox. ......................................... 129

Tabela 7- Volumes adicionados para a preparação dos tubos de ácido ascórbico. ............................ 129

Tabela 8- Volumes adicionados para preparação dos tubos. ............................................................ 130

Tabela 9- Volumes adicionados para preparação dos tubos de Trolox. ............................................ 130

Tabela 10- Volumes adicionados para a preparação dos tubos de ácido ascórbico. .......................... 131

Tabela 11- Volumes utilizados para a preparação dos padrões e amostras. ...................................... 132

Page 24: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 25: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xvii

Lista de abreviaturas e símbolos

Ф − Rendimento Quântico

− Desvio de Stokes

− Velocidade de varrimento

ABTS − Ácido 2,2’-azinobis-(3-etilbenzotiazolina-6-sulfónico)

AFM − Microscopia de Força Atómica (do inglês, Atomic Force Microscopy)

ATP − Adenosina trifosfato

BCNTs − Nanotubos de Carbono dopados com Boro

BHT − Hidroxitolueno butilado (do inglês, Butylated Hydroxytoluene)

CAT − Catalase

CDs − Pontos de Carbono (do inglês, Carbon Dots)

CNTs − Nanotubos de Carbono (do inglês, Carbon Nanotubes)

CTE − Sistema de Transporte de Eletrões

DNA − Ácido desoxirribonucleico

DMEM − Dulbecco’s Modified Eagle Medium

DPPH − 2,2-difenil-1-picril-hidrazilo

DSC − Calometria de Varrimento Diferencial (do inglês, Differential Scaning Calorimeter)

DTNB − Ácido 5,5-ditiobis-(2-nitrobenzóico)

EC50 − Concentração de composto necessária para suprimir 50% dos radicais

EAG − Equivalentes de ácido gálico

EDTA − Ácido etilenodiamina tetra-acético (do inglês, Ethylenediamine tetraacetic acid)

Ep − Potencial de pico

Ep/2 − Potencial de meia-altura

Page 26: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xviii

EPR − Ressonância Paramagnética Eletrónica (do inglês, Electron Paramagnetic Resonance)

ESCA – Espectroscopia de Eletrões para Análise Química (do inglês, Electron Spectroscopy

for Chemical Analysis)

ESR − Espectroscopia de Ressonância de Spin Eletrónico (do inglês, Electron Spin

Resonance Spectroscopy)

FCR − Reagente de Folin-Ciocalteau

FFT – Transformada Rápida de Fourier (do inglês, Fast Fourier Transform)

FLG − Grafeno de algumas camadas (do inglês, Few-Layer Graphene)

FTIR − Espectroscopia de Infravermelhos por Transformada de Fourier (do inglês, Fourier

Transform Infrared spectroscopy)

GO − Óxidos de Grafeno (do inglês, Graphene oxide)

GPx − Glutatião Peroxidase

GR − Glutatião Redutase

GSH − Glutatião forma reduzida

GSSG − Glutatião forma oxidada

GQDs − Pontos Quânticos de Grafeno (do inglês, Graphene Quantum Dots)

HOMO – Orbital Molecular Ocupada com Maior Energia (do inglês, Highest Occupied

Molecular Orbital)

HRTEM − Microscopia Eletrónica de Transmissão de Alta Resolução (do inglês, High

Resolution Transmission Electron Microscopy)

HBSS − Hank’s buffered salt solution

i − Intensidade de corrente

LD50 − Dose mínima necessária para matar 50% dos elementos de uma população exposta ao

agente tóxico

LDH − Lactato Desidrogenase

Page 27: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xix

LUMO – Orbital Molecular Desocupada com Menor Energia (do inglês, Lowest Unoccupied

Molecular Orbital)

MTT − Brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il) -2,5-difeniltetrazólio

MWCNTs − Nanotubos de Carbono com Múltiplas Camadas (do inglês, Multiwall Carbon

Nanotubes)

NAD+ − Nicotinamida adenina dinucleótido forma oxidada

NADH − Nicotinamida adenina dinucleótido forma reduzida

NADPH − Nicotinamida adenina dinucleótido de fosfato

N-GQDs − Pontos Quânticos de Grafeno dopados com Azoto

NHC − Nanomateriais Hidrofílicos de Carbono

NHC-i − Nanomateriais Hidrofílicos de Carbono sintetizados a partir do tampão inorgânico

NHC-o − Nanomateriais Hidrofílicos de Carbono sintetizados a partir do tampão orgânico

NOAEL − Dose máxima que não produz efeitos adversos observáveis (do inglês, No

Observed Adverse Effect Level)

OIT − Tempo de Indução Oxidativa (do inglês, Oxidative Induction Time)

ORAC − Capacidade de Absorção do Radical Oxigênio (do inglês, Oxygen Radical

Absorbance capacity)

PEG − Polietilenoglicol

rGO − Óxido de Grafeno reduzido

ROS − Espécies Reativas de Oxigénio

RNS − Espécies Reativas de Azoto

SOD − Superóxido Dismutase

SPE − Elétrodo Impresso de Carbono (do inglês, Screen Printed Electrode)

SWCNTs − Nanotubos de Carbono de Camada Única (do inglês, Single-Walled Carbon

Nanotubes)

Page 28: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

xx

TBARs − Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico

tBHP − tert-Butil-hidroperóxido

TEM − Microscopia Eletrónica de Transmissão (do inglês, Transmission Electron

Microscopy)

TOC − Carbono Orgânico Total

Trolox − Ácido 6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcromano-2-carboxílico

UV-Vis − Ultravioleta-Visível

XPS − Espectroscopia de Fotoeletrões Excitados por Raios X (do inglês, X-ray Photoelectron

Spectroscopy)

Page 29: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

___________________________________________________________________________

Capítulo I

____________________________________

Introdução

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento

da doença de Alzheimer: uma nova estratégia

terapêutica

Page 30: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 31: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

3

1. Nanomateriais

A nanotecnologia é um campo de pesquisa multidisciplinar que agrega conhecimentos

de diversas áreas, desde a ciência dos materiais e engenharias à biomedicina passando pela

física, química e biologia [1]. Com a nanotecnologia ou engenharia à escala última da matéria

ordinária, o Homem tem por objetivo dominar e/ou imitar o virtuosismo da natureza na

organização da matéria, átomo por átomo, molécula por molécula para produzir novos

“nanomateriais” e “nanodispositivos” que sejam capazes de promover o bem-estar material e

a saúde das pessoas, aumentar a eficiência na utilização de energia e reduzir o impacto das

atividades humanas sobre o planeta [2]. De facto, espera-se que a nanotecnologia seja o motor

do desenvolvimento económico e social do século XXI. Por exemplo, a área médica que

envolve a utilização de materiais nanotecnológicos, com a denominação de nanomedicina,

está a expandir-se rapidamente sendo já considerada por algumas universidades de

investigação dos Estados Unidos como uma área de especialidade médica emergente [3].

Nanomaterial é uma palavra utilizada para designar todo e qualquer material que,

independentemente da sua natureza química, apresente uma organização estrutural com

diâmetro inferior a 100 nm em pelo menos uma das suas dimensões. Por outro lado, o termo

nanopartículas é um conceito mais restrito, utilizado para designar materiais que apresentem

um tamanho inferior a 100 nm nas três dimensões espaciais [4].

A utilização de nanopartículas em biomedicina já tem um historial de várias décadas.

Numa primeira fase, as nanopartículas foram concebidas e desenvolvidas para melhorar a

farmacocinética de fármacos. Nessa fase, procurava-se sintetizar nanopartículas com

características para assegurar o transporte do agente farmacológico através dos fluídos

biológicos e permitir a sua a libertação de um modo controlado. De facto, as características

das nanopartículas (particularmente o tamanho reduzido e elevada área superficial) conferem-

lhes propriedades adequadas ao transporte de vários agentes terapêuticos (e.g. péptidos e

compostos de baixo peso molecular). Note-se que fármacos com baixa solubilidade nos

fluídos biológicos e baixa biodisponibilidade, sendo rapidamente eliminados do organismo

pelo sistema reticuloendotelial e/ou biotransformados pelas enzimas e células circulantes,

encontram nos sistemas nanoestruturados proteção e estabilidade no seu percurso, dos locais

de administração (ou absorção) até aos locais alvo de ação. Adicionalmente, a toxicidade

associada aos fármacos (efeitos secundários) é normalmente reduzida com a utilização de

nanopartículas [4-5].

Page 32: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

4

Desde a década passada, previu-se que os nanomateriais no geral, e as nanopartículas

em particular, podem vir a constituir uma alternativa viável para o diagnóstico, monitorização

e tratamento de diversas doenças, com inúmeras vantagens em relação aos sistemas

convencionais [1-6], destacando-se os seguintes aspetos:

i. Ao contrário das pequenas moléculas usadas em imagiologia ou na preparação das

formulações farmacológicas tradicionais, as nanopartículas podem integrar mais do

que um tipo de agente de imagiologia e/ou mais do que um tipo de fármaco, podendo

funcionar como nanoplataformas multifuncionais com potencial para serem usadas em

processos combinados de diagnóstico e terapia;

ii. As nanopartículas podem transportar uma quantidade considerável de agentes de

imagiologia e/ou farmacológicos devido às suas dimensões nanométricas que lhe

proporcionam uma elevada razão área de superfície/volume e, em alguns casos, devido

a organizações estruturais particulares que as dotam também com um elevado volume

interno livre suscetível de ser ocupado.

iii. As nanopartículas são suscetíveis de uma modificação química seletiva da sua

superfície para albergar determinadas moléculas que lhe permitem interagir

preferencialmente com determinado tipo de células-alvo e/ou com determinados

organelos intracelulares permitindo a entrega dos fármacos no seu local de ação ou do

agente de imagiologia no local pretendido.

iv. A modificação apropriada da sua superfície e do seu tamanho pode melhorar o tempo

de circulação nos fluídos biológicos reduzindo a quantidade que é eliminada pelo

sistema reticuloendotelial.

Em suma, a síntese de nanomateriais com tamanho, forma e uma química de superfície

bem definidas, associada a propriedades óticas e eletrónicas particulares e únicas, é a base da

nanotecnologia e das suas aplicações biológicas [6].

2. Materiais nanoestruturados de carbono

2.1. Grafenos

A grafite consiste numa estrutura cristalina tridimensional de átomos de carbono

dispostos em camadas que se mantêm unidas por forças de van der Waals, sendo cada camada

composta por anéis com seis de átomos de carbono, todos com hibridação sp2. Quando uma

destas camadas é isolada das restantes, dá origem a um novo material, designado por grafeno.

Page 33: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

5

Assim, a grafite pode ser considerada como uma entidade regular que emerge de folhas de

grafeno empilhadas com um espaçamento de, aproximadamente, 0,34 nm. Uma vez que a

força de atração entre as camadas é relativamente fraca, estas podem ser separadas pela

aplicação de uma força mecânica externa ou pela intercalação de espécies químicas que

provoquem um aumento da distância entre as camadas de grafite [7]. De facto, a descoberta

do grafeno (2004) resultou de um processo em que os cientistas utilizaram uma fita adesiva

para arrancar da grafite, por processos mecânicos, uma folha de carbono com a espessura de

um átomo de carbono. Em 2008, constatou-se que também é possível desagregar a grafite em

monocamadas individuais de grafeno utilizando várias espécies atómicas ou moleculares que,

posicionando-se entre as camadas de grafite, aumentam a distância entre elas para valores

superiores a 0,5 nm. Neste contexto, surgiu a electroexfoliação [8]. Contudo, este processo

apenas permite produzir pequenas quantidades de grafeno, sendo por isso não compaginável

com a sua utilização em processos industriais.

O potencial do grafeno para inúmeras aplicações industriais conduziu ao

desenvolvimento de várias metodologias alternativas, a maioria das quais baseadas na

exfoliação química da grafite [9], que numa primeira etapa envolve a produção de grafenos

quimicamente modificados pela ação de agentes oxidantes fortes. Deste processo químico

resulta a formação de folhas de óxidos de grafeno, as quais podem ser posteriormente

convertidas, por reações de redução, a grafeno. Assim, as folhas de óxido de grafeno resultam

da funcionalização do grafeno com grupos funcionais contendo oxigénio, tais como: grupos

hidroxilo, epóxido, álcool, cetona e ácido carboxílico. A presença destes grupos funcionais

pode alterar significativamente a solubilidade destes compostos em água e em solventes

orgânicos. A presença de grupos carbonilo, hidroxilo e carboxílicos nas extremidades das

folhas dos óxidos de grafeno (Figura 1) torna-os fortemente hidrófilos, permitindo-lhes

facilmente entumecer e dispersar em água, conferindo-lhe potencial para aplicações

biológicas [2,10]. De facto, os grupos carboxílicos presentes no grafeno são muitas vezes

utilizados para promover a sua conjugação com DNA, proteínas, polímeros e fármacos [6].

A descoberta do grafeno gerou um enorme interesse na comunidade científica, dadas

as invulgares propriedades eletrónicas, óticas e mecânicas apresentadas por este material de

carbono de duas dimensões.

Em termos óticos, o grafeno é um material considerado muito transparente por exibir

apenas uma opacidade de 2,3%. O grafeno apresenta também uma elevada área específica,

Page 34: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

6

capacidade de armazenamento de energia e elevada resistência mecânica, podendo ser

considerado tanto um material mais fino como um material mais forte [2,10].

Figura 1- Representação esquemática das estruturas dos grafenos e dos óxidos de grafeno. Adaptado de [11].

As propriedades eletrónicas do grafeno resultam da sua estrutura de banda. O grafeno

é um material do tipo “zero-band gap”, o que significa que a diferença de energia entre a

banda de valência e a banda de condução, ou seja, o seu hiato energético, é praticamente nulo.

Esta propriedade torna-o num bom condutor de eletrões, contudo não lhe permite ter estados

eletrónicos excitados passíveis de excitação ótica e emissão no visível. O hiato energético

apenas surge por dopagem ou quando a estrutura bidimensional do grafeno se aproxima da

estrutura discreta das moléculas, ou seja, quando a folha de grafeno é “cortada” em

fragmentos com dimensões na ordem dos poucos nanómetros. Devido ao efeito do

confinamento quântico, os eletrões passam a ter a sua energia quantizada em valores

discretos, à semelhança do que ocorre nos átomos e moléculas. Esta situação também ocorre

quando as folhas de grafeno são reduzidas a pontos quânticos de grafeno (na designação

anglo-saxónica “graphene quantum dots”) [11].

2.2. Pontos de carbono (carbon dots-CDs) e pontos quânticos de grafeno (graphene

quantum dots-GQDs)

A grafite permite não só a produção de grafeno, como também a síntese de uma nova

classe de nanopartículas com dimensões muito reduzidas, os pontos de carbono, mais

conhecidos pela sua designação anglo-saxónica Carbon Dots (CDs) (Figura 2). De um modo

geral, os CDs são definidos como nanopartículas de carbono com dimensão inferior a 10 nm,

forma quase esférica e uma estrutura amorfa ou cristalina, sendo usualmente sintetizados por

Page 35: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

7

processos do tipo “bottom-up” (de baixo para cima). No entanto, é importante salientar que o

conceito de “Carbon Dot” não é consensual entre a comunidade científica. Por outro lado, a

terminologia “pontos quânticos de grafeno”, na designação anglo-saxónica “graphene

quantum dots” (GQDs), é utilizada para designar nanopartículas “achatadas” com estrutura

cristalina, constituídas por 1 a 3 camadas de grafeno (0,34-2 nm) e que podem apresentar uma

grande diversidade de formas (e.g. circular, elíptica, triangular, quadrada ou hexagonal). O

método de síntese destas nanopartículas está associado a processos “top-down” (de cima para

baixo), tendo como material de base a grafite, grafeno ou nanotubos de carbono. A dimensão

lateral deste tipo de nanopartículas e o seu grau de cristalinidade são aspetos de divergência

entre vários grupos de investigadores. Alguns investigadores defendem que o grau de

cristalinidade dos GQDs é muito superior ao dos CDs cristalinos [12], embora ambos

revelem, por HRTEM, um espaçamento de rede característico das distâncias interatómicas do

grafeno (0,14-0,24 nm) e das distâncias interplanares características da grafite (0,334 nm). Por

outro lado, alguns investigadores defendem que os GQDs têm maiores dimensões, podendo

atingir os 100 nm [13,14], enquanto outros defendem precisamente o contrário, ou seja, que

os GQDs têm geralmente uma dimensão lateral menor que os CDs [15]. Também há

investigadores que de uma forma mais generalista descrevem os GQDs como sendo uma

subclasse dos CDs [16].

Como descreveremos mais adiante, o material que foi sintetizado no âmbito da

presente dissertação corresponde a um conjunto diversificado de nanomateriais que, numa

mesma preparação, reúne domínios desordenados de carbono amorfo com espessura

nanométrica e nanopartículas, em que algumas têm as características típicas dos GQDs e

outras dos CDs amorfos. Estes nanomateriais têm em comum o facto de apresentarem uma

elevadíssima solubilidade em água. Assim, no âmbito do presente trabalho adotou-se pela

designação genérica de “nanomateriais hidrofílicos de carbono” (NHC). Portanto, a utilização

dos termos CDs e GQDs será apenas aplicada no âmbito da revisão da literatura, de modo a

respeitar a denominação utilizada pelos autores.

Os GQDs e os CDs caracterizam-se por terem uma quantidade elevada de ligações

carbono-carbono, predominantemente, com hibridação sp2, podendo, no entanto, também

apresentar uma quantidade apreciável de carbonos com hibridação sp3. Isto sugere que a

conjugação eletrónica ao longo das folhas de grafeno pode ser irregular, ou seja, a estrutura

pode apresentar defeitos. Normalmente, os carbonos com ligação sp2 e sp3 encontram-se

ligados a átomos de oxigénio, sob a forma de grupos carboxilo, carbonilo, epóxido ou

Page 36: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

8

hidroxilo. A existência destes grupos funcionais é responsável pela solubilidade em água

destas nanopartículas, condicionando também as suas propriedades fluorescentes.

Adicionalmente, estes grupos podem também funcionar como “âncora” nos processos de

funcionalização seletiva das nanopartículas [11].

Figura 2- Representação esquemática da estrutura do Carbon Dot. Adaptado de [11].

Os GQDs e o CDs, tal como o grafeno, apresentam uma elevada razão área de

superfície/volume e uma grande estabilidade térmica e química [17]. Além disso, possuem um

forte confinamento quântico e defeitos de superfície que permitem fenómenos de

fluorescência que não podem ser observados no grafeno [18-19]. Em termos óticos, estes

nanomateriais caracterizam-se por emitirem fluorescência quando excitados por radiação

ultravioleta ou visível e, em alguns casos, as posições dos máximos de banda dependem do

comprimento de onda de excitação. Normalmente, os tempos de vida do estado excitado

destes nanomateriais é de apenas alguns nanosegundos e o seu rendimento quântico (Ф) de

fluorescência é relativamente baixo (inferior a 7%). Todavia, se forem seletivamente

funcionalizados o rendimento quântico pode chegar aos 30 - 40% [11]. Embora o mecanismo

subjacente à fluorescência dos GQDs e CDs não esteja completamente esclarecido, existem

duas explicações possíveis: emissão devido à existência do estado de defeito (defeitos na

superfície) e devido ao estado intrínseco (recombinação eletrão-buraco e/ou confinamento

quântico). A emissão de radiação azul (comprimento de onda mais curto) é usualmente

atribuída ao estado intrínseco enquanto a emissão de radiação verde (comprimento de onda

mais longo) é atribuída à presença de defeitos. Do ponto de vista operacional é mais fácil

modular as propriedades de fluorescência destes nanomateriais através do controlo dos grupos

funcionais na superfície (defeitos na superfície) do que através do tamanho da partícula

(estado intrínseco) [20].

Embora a diferença de energia entre as orbitais HOMO (highest occupied molecular

orbital) e LUMO (lowest unoccupied molecular orbital) dependa do tamanho da partícula, o

Page 37: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

9

que significa que GQDs e CDs com diferentes tamanhos exibem diferentes espectros de

excitação/emissão, dificilmente se consegue um controlo fino deste parâmetro. Com efeito,

alguns investigadores mostraram que GQDs com tamanho entre 3-5 nm exibem

fotoluminescência verde enquanto outros detetaram em GQDs com 5 nm fotoluminescência

azul [19, 21].

As características de fluorescência também estão estritamente relacionadas com o

número de camadas de grafeno. Neste sentido, a fotoluminescência, dependente da excitação,

está associada com o tamanho e com os locais de emissão dos GQDs. Observou-se

recentemente que GQDs de camada única, preparados por oxidação química, emitem

fotoluminescência verde enquanto GQDs com múltiplas camadas obtidas pelo mesmo método

exibem fotoluminescência amarela [19]. De acordo com dados da literatura, a

fotoluminescência dos GQDs pode ser suprimida (quenching) tanto por moléculas dadoras de

eletrões como por moléculas deficientes em eletrões (aceitadoras), indicando que os GQDs

fotoexcitados são excelentes dadores e aceitadores de eletrões [22].

Várias metodologias têm sido utilizadas para sintetizar estas nanopartículas, sendo, de

acordo com a abordagem utilizada, agrupadas em duas categorias, nomeadamente: “bottom-

up” e “top-down” (Figura 3). A abordagem “top-down”, que pretende chegar à nanoestrutura

desejada partindo de um bloco de material com tamanho macroscópico, consiste na

fragmentação de uma fonte de grafeno tal como a grafite, folhas de grafeno, folhas de óxido

de grafeno, nanotubos de carbono ou fibras de carbono, em pequenas partículas de grafeno. A

exfoliação química em meio ácido, a qual pode ser coadjuvada por micro-ondas, ultrassons ou

por processos hidrotérmicos, é a metodologia mais utilizada. No entanto, os métodos de

electroexfoliação e de ablação por laser são também representativos desta abordagem [23-24].

Os processos “bottom-up” procuram aproveitar as propriedades de auto-organização de

átomos e moléculas para produzir estruturas “supramoleculares” que exibam as propriedades

desejadas. Normalmente, utilizam-se, como material de partida, derivados do benzeno ou

substratos orgânicos que por carbonização, pirólise ou tratamento hidrotérmico assistido por

micro-ondas dão origem a percursores orgânicos que são posteriormente utilizados na síntese

dos CDs e GQDs por condensação oxidativa. De acordo com alguns autores, os processos

“bottom-up” têm a vantagem de produzirem nanopartículas passivadas, ou seja, com grupos

funcionais de oxigénio na superfície, o que se reflete numa luminescência com rendimento

quântico elevado [24-25].

Page 38: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

10

Na presente investigação, utilizou-se a exfoliação eletroquímica, abordagem do tipo

top-down, para sintetizar os NHC a partir da grafite. Na electroexfoliação podem ser

utilizados variados tipos de eletrólitos (e.g. sais inorgânicos, compostos orgânicos, líquidos

iónicos) e solventes (e.g. água, etanol, líquidos iónicos). Se, por um lado, o eletrólito

influencia a composição química dos CDs e GQDs, o solvente parece ser determinante no

mecanismo subjacente ao processo de electroexfoliação. Genericamente, a exfoliação

eletroquímica pode ocorrer por meio de dois mecanismos: a) por intercalação de iões, que

leva à expansão do elétrodo e subsequente separação de camadas de grafeno [26]; b) pela

geração de radicais hidroxilo e superóxido resultantes da eletrólise da água que atuam como

''tesoura'', especialmente em locais com defeitos de superfície [27]. Enquanto o primeiro

mecanismo requer, inevitavelmente, no eletrólito agentes de intercalação (e.g. SO42-), o

segundo mecanismo é omnipresente na presença de água.

Figure 3- Representação conceptual de estratégias para preparação de CDs. a: abordagem “top down”, b:

abordagem “bottom-up”. Adaptado de [28].

3. Toxicologia dos CDs e GQDs

As propriedades exibidas pelos materiais nanoestruturados de carbono, como CDs e

GQDs, proporcionam não apenas potenciais benefícios na área da imagiologia, bioanalítica e

analítica, mas também apresentam riscos para o ambiente e saúde humana [29]. Assim, a

avaliação da toxicidade destes materiais é um requisito fundamental para que se possa fazer

uma análise do binómio custos/benefícios (análise de risco) com o objetivo de salvaguardar a

saúde pública e ambiental sem comprometer o desenvolvimento económico e social. Em

Page 39: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

11

geral, o risco, ou probabilidade de ocorrer um efeito adverso, atribuído a um dado agente

químico (e.g. nanomaterial) é função das propriedades tóxicas intrínsecas desse agente

(perigo) e da magnitude, duração e frequência da exposição. Para cada agente tóxico, as

características da exposição e o espectro de efeitos indesejados (resposta biológica) são

normalmente a expressão de uma correlação designada por curva de dose-resposta [30]. Do

ponto de vista operacional, as curvas dose-resposta são utilizadas para obter dois parâmetros

fundamentais em toxicologia, os quais são utilizados para comparar a toxicidade de diferentes

compostos e para estabelecer os limites de segurança para a sua exposição, nomeadamente:

LD50, dose mínima necessária para matar 50% dos elementos de uma população exposta ao

agente tóxico, e o NOAEL, dose máxima que não produz efeitos adversos observáveis (na

designação anglo-saxónica “No Observed Adverse Effect Level”). No entanto, os estudos

toxicológicos também mostram que a toxicidade de algumas substâncias não segue a natureza

determinista prevista pelas curvas dose-resposta, apresentando efeitos adversos de natureza

estocástica ou probabilística (e.g. cancro). Abordagens específicas para avaliar estes aspetos

probabilísticos requerem estudos de longo prazo em populações com um grande número de

indivíduos (e.g. estudos epidemiológicos). Portanto, a análise do binómio custos/benefícios

passou a ser um processo dinâmico que altera os limites de exposição para cada agente tóxico

de acordo com a informação disponível a cada momento [31]. Neste contexto, a

racionalização dos impactos toxicológicos dos nanomateriais de carbono em geral, e dos CDs

e GQDs em particular, apresenta inúmeras dificuldades resultantes do facto destes materiais

serem muito recentes e, estarem a ser produzidos maioritariamente para fins de investigação

científica centrada no seu potencial de aplicações e não no seu potencial toxicológico.

Apesar dos dados toxicológicos disponíveis serem escassos, as propriedades físico-

químicas dos nanomateriais de carbono capazes de condicionar o seu potencial toxicológico

são [32-34]:

i) Composição química, organização estrutural, morfologia e natureza química

dos grupos funcionais de superfície. Têm impacto na solubilidade

(hidrofilicidade/hidrofobicidade) e na reatividade química das nanopartículas;

ii) Razão entre a área superficial e o volume, a qual aumenta com a redução do

tamanho das nanopartículas. Tem efeito na capacidade do nanomaterial

interagir com iões e moléculas do meio envolvente, regulando os aspetos

relacionados com a adsorção;

Page 40: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

12

iii) Carga superficial que adquire em meio aquoso, normalmente avaliada pelo

potencial Zeta. Condiciona a estabilidade (e.g. processos de aglomeração) nos

meios aquosos, influenciando a biodisponibilidade e o modo como interagem

com as membranas biológicas (as quais apresentam normalmente uma carga

superficial negativa) incluindo o mecanismo de entrada nas células.

Os CDs e GQDs são normalmente apresentados como materiais biocompatíveis e

biodegradáveis, essencialmente pelo facto de serem compostos por carbono e oxigénio. No

entanto, estudos sobre a biocompatibilidade destes materiais não existem apesar de alguns

dados experimentais indicarem que estes podem ser degradados por granulócitos e

macrófagos [35]. O reduzido tamanho destes nanomateriais (inferiores a 10 nm) é

considerado uma vantagem para a sua utilização em aplicações biológicas pelo facto de

permitir a sua excreção através dos rins [36]. De facto, está bem esclarecido que a massa

molecular (tamanho) dos xenobióticos é um dos fatores que determina os processos

subjacentes à destoxificação existentes nos mamíferos, os quais incluem reações de

biotransformação e processos excreção (eliminação do organismo) [37]. Assim, partículas

com dimensões superiores a 10 nm são dificilmente eliminadas pelos mecanismos biológicos

normais, o que pode levar à sua bioacumulação [36, 38]. A toxicidade dos CDs e GQDs tem

sido avaliada principalmente por ensaios in vitro, utilizando células em cultura. Os estudos

têm-se centrado, essencialmente, nos efeitos sobre a viabilidade/proliferação celular e, de um

modo geral, revelam que na gama de concentração utilizada não apresentam toxicidade [39-

44]. No entanto é importante salientar que o número de estudos realizados para avaliar, in

vivo, a toxicidade destes nanomateriais de carbono, é bastante reduzido [35, 45-48],

desconhecendo-se qual a influência da via de administração na interação dos nanomateriais

com os sistemas biológicos bem como se apresentam efeitos adversos transgeracionais [47,

49-50]. A seguir apresenta-se uma compilação dos resultados mais representativos dos

estudos toxicológicos in vitro e in vivo efetuados com CDs e GQDs.

Estudos in vitro

A citotoxicidade de GQDs com dimensões inferiores a 10 nm foi avaliada em

fibroblastos de embrião de rato (NIH-3T3) e em células epiteliais de adenocarcinoma humano

alveolar basal (A549). Os resultados deste estudo indicam que o aumento da concentração de

CDs até 320 μg.mL-1 não promove efeitos adversos significativos nas células A549 e NIH-

Page 41: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

13

3T3, dado que a viabilidade/proliferação celular foi preservada acima dos 90%, mesmo com

tempos de exposição de 48 horas o que corresponde, a cerca de duas gerações celulares [40].

A interação de duas populações de GQDs com células A549 foi caracterizada,

considerando concentrações de nanopartículas até 400 μg.mL-1, ou seja, concentrações muito

superiores às necessárias para aplicação destes nanomateriais em imagiologia ótica. Ambas as

populações de GQDs foram preparadas a partir de óxidos de grafeno e apresentam um

tamanho médio de 5,6 nm. No entanto, elas distinguem-se pela fluorescência que emitem:

uma emite fluorescência verde-amarela (gGQDs) e outra emite fluorescência na região do

azul (cGQDs). Os resultados obtidos indicam que ambas as populações de GQDs

apresentaram baixa citotoxicidade, mas as nanopartículas que emitem na região do azul

apresentam maior toxicidade, dado que a taxa de viabilidade/proliferação das células A549

expostas aos cGQDs foi inferior à obtida na presença de pGQDs [43].

A toxicidade de GQDs, sintetizados a partir do óxido de grafeno, também foi avaliada

em células de cancro da mama MCF-7 e células de cancro gástrico humano MGC-803 e

comparada com a toxicidade dos óxidos de grafeno (GO) [44]. Neste trabalho, os

investigadores mostram que, em ambos os tipos de células, concentrações elevadas de GQDs

(400 μg.mL-1) reduziram a viabilidade celular em apenas 30%. Adicionalmente, os efeitos dos

GQDs são significativamente inferiores aos efeitos citotóxicos promovidos pelo GO. Com a

caracterização do ciclo celular mostraram que ambos, GQDs e folhas de óxido de grafeno,

estimulam o processo apoptótico que conduz à morte celular. Todavia, na presença das folhas

de óxido de grafeno a extensão dos efeitos apoptóticos são muito superiores aos detetados na

presença de GQDs. Aparentemente, a morte celular por apoptose parece ser desencadeada

pelo stresse oxidativo, dado que os efeitos adversos destes nanomateriais estão estritamente

associados a um aumento da produção intracelular de espécies reativas de oxigénio (ROS) e a

danos na organização funcional das mitocôndrias, os quais são detetados maioritariamente na

presença das folhas de óxidos de grafeno [44].

Estudos in Vivo

Os modelos animais utilizados nos estudos toxicológicos são, maioritariamente,

pequenos roedores (e.g. murganhos e ratos) [35, 45-46]. No entanto, também já foram

efetuados alguns estudos em peixe zebra e no nemátodo Caenorhabditis elegans (C. elegans)

[47-48]. Estudos realizados com murganhos revelaram que a administração intravenosa de

uma dose 20 mg/Kg de CDs a uma população de animais não induziu, nos três meses

Page 42: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

14

seguintes, alterações significativas na massa corporal dos animais nem a morte de qualquer

animal. Os ensaios bioquímicos e histológicos efetuados pós-morte também não revelaram

quaisquer sinais de toxicidade [45]. Um estudo conduzido por Wang e colaboradores (2013)

reforça esta ideia de não-toxicidade dos CDs [46]. Estes investigadores testaram, em

murganhos, duas doses (5,1 e 51 mg/Kg de peso corporal) de CDs com diâmetros entre 1 e 3

nm e avaliaram os efeitos tóxicos considerando análises bioquímicas, histológicas e genéticas.

Concluíram que, nas doses testadas, os CDs não induzem genotoxicidade nem alterações

bioquímicas e histológicas significativas nos principais órgãos dos murganhos [46]. Os

estudos realizados em peixes zebra e em C. elegans também suportam a ideia, generalizada na

comunidade cientifica, de não toxicidade (ou baixa toxicidade) deste tipo de nanomateriais de

carbono [47-48].

Todavia, recentemente, foi publicado um artigo que caracteriza a interação de óxidos

de grafeno e de GQDs dopados com azoto (N-GQDs) com os glóbulos vermelhos que permite

questionar a segurança da utilização de CDs e GQDs em aplicações biológicas [51]. Neste

artigo mostrou-se que ambos GO e N-GQDs, numa dose de 50 μg/mL, promovem alterações

morfológicas nos glóbulos vermelhos, caracterizadas pela perda da sua forma bicôncava

funcional. Contudo, apenas os GO reduzem de um modo significativo os níveis de ATP

intracelulares e induzem hemólise grave dos glóbulos vermelhos, isto é, rutura da membrana

plasmática e libertação da hemoglobina citoplasmática. Os autores concluíram que tanto o GO

como os N-GQDs apresentam toxicidade, mas exercem-na por mecanismos diferentes.

Propõem que o GO, com dimensão muito superior à espessura da membrana, interage, através

de interações hidrofóbicas com a bicamada lipídica, removendo lípidos ou criando poros que

comprometem a integridade funcional da membrana citoplasmática dos glóbulos vermelhos e,

consequentemente a hemólise das células. Por outro lado, os N-GQDs com dimensões

inferiores à espessura da membrana são incorporados na membrana, perturbando a sua

organização funcional que, apesar de afetar o funcionamento celular, não promovem a lise das

células [51].

Pelo exposto, pode-se afirmar que continua a ser necessário o esclarecimento de

múltiplos aspetos relacionados com a toxicocinética (absorção, distribuição, metabolismo e

excreção) e a toxicodinâmica (potência toxicológica em diferentes alvos) dos CDs e GQDs

antes da utilização generalizada deste tipo de materiais nanoestruturados de carbono em

aplicações biológicas.

Page 43: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

15

4. Aplicações biológicas dos CDs e GQDs

As nanopartículas utilizadas em aplicações biológicas devem apresentar, idealmente,

uma série de características, tais como: biocompatibilidade, estabilidade química e coloidal,

não toxicidade, capacidade de manutenção das suas propriedades óticas no meio biológico,

não serem suscetíveis à fotodegradação, possibilitarem a funcionalização com biomoléculas

(e.g. péptidos, ácidos nucleicos, lípidos) que facilitem ou permitam a interação com

componentes celulares ou o encapsulamento de outro tipo de moléculas, como por exemplo

fármacos [52]. Os nanomateriais de carbono, tais como os GQDs e os CDs, exibem muitas

destas características e, por isso, a sua utilização em aplicações biológicas tem tido cada vez

mais interesse por parte da comunidade científica [11]. A figura 4 ilustra, de um modo

esquemático, algumas destas aplicações.

Figura 4- Principais áreas biológicas de aplicação dos CDs e GQDs. Adaptado de [28].

4.1. Meios de Diagnóstico

O desenvolvimento de nanomateriais fluorescentes como os CDs e GQDs tornou-se

numa área emergente de investigação uma vez que a deteção baseada na fluorescência é um

método muito utilizado em diagnóstico devido à sua elevada sensibilidade, simplicidade e

diversidade [53]. De facto, a deteção sensível, eficaz e rápida de biomoléculas específicas é

um requisito fundamental no diagnóstico médico [54]. Assim, a utilização deste tipo de

nanopartículas com propriedades óticas únicas abriu uma nova janela para o desenvolvimento

da imagiologia de fluorescência e de nanossensores [53].

Page 44: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

16

Sensores

O facto destes nanomateriais serem sensíveis a pequenas perturbações externas (e.g.

propriedades óticas, eletrónicas e eletroquímicas) e de terem um tamanho similar ao de muitos

componentes celulares permite a sua utilização na construção de sistemas integrados para

deteção seletiva de biomoléculas com elevada sensibilidade [12]. Assim, os CDs e GQDs têm

sido utilizados para preparar vários tipos sensores, como ilustrado na Figura 5.

Figura 5- Aplicação dos GQDs e CDs em sensores. Adaptado de [55].

Sistemas integrados contendo CDs e GQDs têm sido utilizados para detetar, em

matrizes biológicas e ambientais, uma ampla gama de moléculas, iões e fármacos, incluindo:

colina, glutatião, sulfato de hidrogénio, L-cisteína, ovalbumina, DNA, ATP, ácido ascórbico,

colesterol, histonas, dopamina, antigénio carcinoembrionário humano, glucose, fosfato,

nitrito, α-fetoproteína, tetraciclinas, Cu2+, Hg2+, Pb2+, Fe3+, Zn2+, Cr6+ e variações de pH [20,

22, 55-61]. A deteção destas moléculas e iões baseia-se, na maior parte dos casos, na sua

capacidade para suprimir a fluorescência emitida pelo nanomaterial de carbono [20]. Os CDs

e os GQDs podem apresentar uma grande variedade de estruturas intrínsecas e,

consequentemente, permitem interações seletivas com diferentes tipos moléculas/iões que se

refletem em processos de supressão de fluorescência diferenciados, os quais podem ser

utilizados para a deteção e a quantificação de diferentes iões/biomoléculas [58].

De seguida apresentam-se, a título de exemplo, alguns estudos da aplicação de CDs e

GQDs em sensores nos quais se destaca a importância da funcionalização da nanopartículas

na interação seletiva com o analito.

Page 45: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

17

CDs funcionalizados com ácido bórico foram utilizados para detetar, seletivamente, os

níveis de glucose no sangue. Este sensor tira partido do facto da agregação dos CDs, que

ocorre como resultado da reação dos grupos cis-dióis da glucose com os grupos de ácido

bórico na superfície dos CDs (Figura 6), ser acompanhada por uma supressão da sua

fluorescência [59].

Figura 6- Princípio de funcionamento da deteção de glucose. Adaptado de [59].

Noutro estudo a funcionalização de CDs derivados de quinolina permitiu a construção

de um nanosensor altamente sensível e seletivo para iões Zn2+. A ligação do Zn2+ ao

nanosensor promove um forte desvio para o vermelho na emissão da fluorescência dos CDs,

passando a emissão dos 450 nm (luz azul) para os 510 nm (luz verde), como ilustrado na

Figura 7 [60].

Figura 7- Esquema da deteção de Zn2+ utilizando o nanosensor baseado nos CDs. Adaptado de [60].

Imagiologia

A imagiologia biológica é um instrumento importante no processo de diagnóstico de

tumores, para avaliar a capacidade dos fármacos em alcançar as células alvo e para seguir o

seu percurso no interior dessas células [62]. As propriedades óticas, a baixa citotoxicidade e a

elevada estabilidade dos materiais nanoestruturados de carbono abre muitas possibilidades

para o desenvolvimento desta área [11].

Page 46: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

18

A aplicação de CDs e GQDs em imagiologia biológica tem sido amplamente

explorada e diversos estudos utilizando culturas de células de mamíferos e bactérias mostram

o seu potencial de aplicação [12, 22, 29, 50]. Adicionalmente, também foram utilizados em

imagiologia ótica para monitorizar o ciclo de vida de células estaminais [62] e para

acompanhar in vivo, e em tempo real, processos celulares dinâmicos [12, 63].

A interação de CDs com linhas celulares de cancro da mama humano avaliada por

fotomicroscopia luminescente mostrou que estas nanopartículas são internalizadas pelas

células, provavelmente por endocitose, conferindo-lhe potencial para serem usados em

imagiologia celular [64]. CDs, sintetizados por um método solvotérmico utilizando glucose

como percursor primário, foram ligados a anticorpos específicos para células de carcinoma

hepatocelular humano. A deteção destas células através da fluorescência dos CDs mostrou

uma sensibilidade superior à das técnicas convencionais [65].

No entanto, é importante salientar que estes nanomateriais apresentam também

algumas desvantagens, nomeadamente: i) a sua emissão de fluorescência ocorre, por norma,

na região “verde” e/ou “azul”, estando por isso a sua fluorescência sujeita a fenómenos de

interferência resultantes da autofluorescência dos componentes celulares; ii) apresentam um

rendimento quântico de fluorescência pequeno; iii) apresentam uma heterogeneidade

relativamente elevada de tamanhos; iv) o mecanismo subjacente ao processo de fluorescência

ainda não está totalmente clarificado [11, 50, 62].

4.2. Aplicações terapêuticas

As propriedades óticas e a baixa toxicidade destes nanomateriais conferem-lhes

potencial para uso clínico [14]. Neste contexto, os CDs e GQDs têm sido principalmente

explorados como veículos para o transporte de fármacos e genes. Todavia, estas

nanopartículas também têm sido estudadas como fotossensibilizadores em terapia

fotodinâmica, como materiais ativos para terapia fototermal, como fármacos antibacterianos e

antioxidantes [12,14, 62].

Aplicação dos CDs e GQDs como veículos para o transporte de fármacos

As folhas de grafeno apresentam uma excelente capacidade para serem veículos de

transporte de fármacos/genes devido à elevada razão área de superfície/volume e por

permitirem interações estáveis com vários tipos de moléculas dado que apresentam um

Page 47: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

19

elevado número de eletrões nas orbitais moleculares π sobreponíveis e planares com elevada

mobilidade. Tal como as folhas de grafeno, os CDs e GQDs também apresentam estas

caraterísticas e, apresentam ainda outras vantagens, incluindo: i) dimensões inferiores o que

facilita a sua incorporação nas células; ii) maior biocompatibilidade e menor toxicidade.

Adicionalmente, os grupos funcionais na superfície dos CDs e GQDs permitem a ligação a

fármacos podendo, consequentemente, serem utilizados como transportadores de fármacos e

genes, com uma elevada versatilidade. Assim, é expectável que tanto os CDs como os GQDs

sejam vetores seguros, efetivos e visíveis de fármacos/ genes [11-12].

A maioria dos estudos encontrados na literatura combinam a capacidade de CDs e

GQDs em atuarem como vetores de fármacos e as suas propriedades de fluorescência

intrínsecas podendo, deste modo, serem utilizados como nanopartículas multifuncionais que

conjugam a imagiologia celular com a entrega de fármacos/genes pelo que devem ser

incluídas nas aplicações teranósticas. Assim, estudos que envolvem a aplicação destas

nanopartículas em apenas transporte de fármacos/ genes ainda são bastante escassos.

Aplicação dos CDs e GQDs em terapia fotodinâmica

A terapia fotodinâmica é um processo terapêutico, considerado pouco invasivo,

concebido para promover toxicidade seletiva nas células tumorais. Este processo requer a

administração de um agente fotossensibilizador que é internalizado pelas células tumorais

seguida de irradiação dos tecidos tumorais com luz ao comprimento de onda correspondente à

banda de absorção do sensibilizador. A irradiação do agente sensibilizador estimula a

produção de ROS (e.g. oxigénio singleto) que desencadeiam uma série de eventos oxidativos

capazes de promover a morte das células tumorais, mas também danos na microvasculatura e

indução de resposta inflamatória [66].

Um estudo recente mostra que GQDs funcionalizados com polietilenoglicol (PEG)

apresentam atividade antioxidante, mas quando irradiadas com luz azul têm a capacidade de

produzir ROS, conferindo-lhe potencial para serem usados como fotossenbilizadores em

terapia fotodinâmica [67]. No entanto, outros estudos apontam que tanto os CDs como os

GQDs não funcionalizados poderão ser utilizados de forma efetiva como agentes

sensibilizadores em terapia fotodinâmica [68-70]. É disso exemplo o estudo de Markovic e

colaboradores, os quais avaliaram a capacidade de GQDs, com diâmetro de 56,6 ± 8,7 nm e

sintetizados a partir da grafite, em induzir a morte de células de mamíferos quando sujeitos a

foto-irradiação. Por espectroscopia de ressonância paramagnética eletrónica (EPR) revelaram

Page 48: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

20

que estes nanomateriais produzem ROS, em particular o oxigénio singleto quando

fotoestimulados. Utilizando células de glioma humano U251 detetaram que a toxicidade

fotodinâmica dos GQDs é mediada por stresse oxidativo e envolve a ativação dos dois tipos

de morte celular programada (tipo I- apoptose e tipo II- autofagia) [68]. Noutro estudo, Ge e

colaboradores mostraram que GQDs, sintetizados a partir de derivados de politiofeno,

induzem a produção de oxigénio singleto com um rendimento quântico maior do que 1,3, isto

é: um valor cerca de duas vezes superior ao apresentado pelos fotossensibilizadores

convencionais, utilizados em terapia fotodinâmica [69].

Aplicação como agentes antibacterianos

Entre os poucos estudos demonstrativos da aplicação dos nanomateriais de carbono

com efeito antibacteriano destacam-se os que incidem nas bactérias M. urealyticum, E. coli e

S. aureus [71-72].

GQDs funcionalizados com grupos amina revelaram capacidade para restaurar a

proliferação celular de células HeLa comprometida por infeção com micoplasma M.

urealyticum. A concentração de GQDs utilizada (10 μg.mL −1) foi tão efetiva quanto o agente

anti-micoplasma comercial [71]. A combinação de GQDs com H2O2 (os quais por si só

apresentam uma baixa atividade antibacteriana) também revelou um largo espectro de

atividades antibacteriana tanto para bactérias Gram- (e.g. E. coli) como bactérias Gram+ (e.g.

S. aureus). Neste estudo os autores concluíram que a atividade antibacteriana dos CDs não

emerge diretamente das suas propriedades intrínsecas, mas sim como resultado da sua reação

com o H2O2 na qual se produzem radicais •OH, os quais têm uma atividade antibacteriana

muito superior ao H2O2 [72].

Aplicação como antioxidantes

Alguns estudos recentes que mostram que os CDs e GQDs apresentam capacidade de

sequestro de radicais [67, 73-81] e, são, por isso, um material promissor podendo vir a ser

utilizados em nanomedicina como alternativa aos antioxidantes tradicionais. Este tema será

abordado de uma forma mais intensiva na secção seguinte deste capítulo.

Page 49: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

21

4.3. Aplicações Teranósticas

A multifuncionalidade dos nanomateriais permite integrar, num mesmo sistema, o

processo de diagnóstico e o efeito terapêutico. Este campo, denominado de teranóstico,

representa um salto significativo no caminho da ambicionada medicina personalizada, sendo

considerado um campo emergente na nanomedicina [1]. Nos últimos anos, sistemas

fotossensíveis com a capacidade de regular a libertação espacial e temporal do fármaco têm

captado especial atenção [82].

Apresentam-se de seguida alguns estudos que mostram o potencial dos CDs e GQDs

para serem utilizados como vetores de transporte de moléculas com atividade farmacológica

para alvos específicos e, simultaneamente, como fonte emissora de luz (ação de diagnóstico).

Karthikal e colaboradores desenvolveram uma nanoplataforma tecnológica contendo

CDs e um fármaco, cuja libertação é controlada pela ação da luz. A molécula anticancerígena

7-(3-bromopropoxi)-2-quinolilmetilclorambucil foi ligada à superfície de CDs e a sua

libertação foi controlada, de um modo preciso, por irradiação com luz. No entanto, apesar de

este sistema ser eficaz na entrega e libertação controlada de fármacos, o seu potencial de

aplicação em ensaios in vivo é restrito devido à necessidade de se utilizar luz com

comprimentos de onda inferiores a 500 nm [82].

A ação combinada, de diagnóstico e tratamento do cancro foi testada considerando CDs

fotoluminescentes contendo moléculas bioativas do chá (e.g. catequina) adsorvidas à sua

superfície. Estudos com linhas celulares mostraram que estes CDs promovem a morte das

células cancerígenas por apoptose enquanto os estudos in vivo permitiram acompanhar o seu

percurso no organismo (do local de administração até à excreção), determinar a localização

dos tumores e avaliar a sua eficácia terapêutica (monitorizando a variação temporal do

tamanho do tumor ou tumores) [83].

5. Atividade antioxidante de nanomateriais de carbono

Antioxidantes são substâncias que têm a capacidade de suprimir radicais livres, e/ou a

atividade de outras espécies oxidantes, como por exemplo as espécies reativas de oxigénio

(ROS) e de azoto (RNS), as quais apresentam grande relevância biológica. Assim, os

antioxidantes são caracterizados por prevenir ou atrasar a oxidação de um substrato oxidável,

tendo-lhe sido atribuído um papel crucial na prevenção de doenças degenerativas relacionadas

Page 50: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

22

com a idade, as quais são caracterizadas pela acumulação progressiva de sinais de stresse

oxidativo [84].

Materiais à base de grafeno, tais como GO, nanotubos de carbono (CNTs), CDs e

GQDs têm sido bastante explorados para evitar a corrosão de certos materiais atuando como

barreiras bidimensionais que restringem o acesso dos agentes oxidantes a essas superfícies.

Todavia, o seu potencial como agentes capazes de conferir, de um modo sistémico, a proteção

dos organismos vivos contra o stresse oxidativo tem sido pouco explorado [85].

Tabela 1-Revisão da literatura sobre CNTs com atividade antioxidante.

Material Teste antioxidante EC50 e outras informações Grupos funcionais

à superfície Ref.

MWCTs

e

BCNTs

Quimiluminescência;

Termogravimetria

A oxidação de polímeros é retardada pela presença

dos nanomateriais.

Material dopado com boro é ligeiramente mais

eficiente.

Sem informação [86]

MWCNTs

Sequestro de radicais

hidroxilo e aniões

superóxido.

Elevada capacidade em sequestrar estes radicais

quando em contacto com uma fonte externa. Sem informação [87]

SWCNTs

ORAC

SWCNTs não funcionalizados e funcionalizados

com derivados do BHT apresentam elevada

capacidade antioxidante. A capacidade antioxidante

depende do tipo de funcionalização.

Sem informação [88]

MWCNTs

Ensaio do

fosfomolibdato;

DPPH;

Sequestro de radicais

hidroxilo;

Descloração do β-

caroteno

3,9 ± 0.3 mg/g CNTs;

92 ± 2 %

63 ± 1 %

98 ± 1 %

Nota: funcionalizados com ácido gálico

−OH, −C=O,

−COOH

(por FTIR)

[89]

MWCNTs

DPPH;

ABTS;

Sequestro de radicais

hidroxilo;

Poder redutor;

Quelatação dos iões

metálicos

0,06 a 0,09 mg/mL;

MWCNTs não funcionalizados: 43,5%; MWCNTs

com aminoácidos: 80-90% nas mesmas condições;

0,07 a 0,2 mg/mL;

MWCNTs funcionalizados apresentam maior poder

redutor

0,05 a 0,4 mg/L

−OH, −C=O,

−COOH, −NH

(por FTIR)

[90]

MWCNTs

Sequestro de radicais

hidroxilo;

DPPH

51,1 a 99,5 %;

45,5 a 95,5 %

−OH, −C=O,

−COOH

(por XPS e ESCA)

[91]

MWCNTs DPPH 3,8 mg de MWCNTs Sem informação [92]

Page 51: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

23

Entre os vários materiais à base de grafeno, os que têm sido mais estudados como

potenciais agentes antioxidantes são os CNTs. A tabela 1 resume os principais resultados

obtidos com este tipo de nanomaterial, indicando o tipo de ensaio utilizado para avaliar a

atividade antioxidante dos CNTs, o valor de EC50 e a natureza dos grupos funcionais ligados à

sua superfície [86-92].

Comparativamente com os CNTs, o número de estudos desenvolvidos com o grafeno e

GO é significativamente inferior, tabela 2. Devido à sua capacidade em sequestrar radicais, o

grafeno e GO também têm sido aplicados com sucesso como agentes químicos que

promovem proteção contra a oxidação de alguns materiais, tais como elastómeros, hidrogéis e

compósitos, conferindo-lhes um aumento da resistência ao processo de envelhecimento [93-

95].

Tabela 2- Revisão da literatura sobre grafeno e GO com atividade antioxidante.

Material Teste antioxidante EC50 e outras informações Grupos Funcionais na

superfície Ref.

Grafeno

Sequestro do radical

hidroxilo

Sequestro do anião

superóxido, e radicais peróxidos/ peroxilo

DPPH, ABTS

FLG > rGO > GO

GO: inativo contra

peroxido de hidrogénio e radicais lipídicos.

Atividade fraca em relação aos aniões

superóxido e ao DPPH e ABTS.

-OH

(por FTIR)

[85]

Tempo de indução

oxidativa (OIT) por medição DSC

Formação de grupos

carbonilo e ligações dupla por FTIR

Razão atómica O/C por

XPS

OIT é atrasada 30 minutos

Suprime a formação de

grupos oxigenados e de ligações

Atrasa a oxidação termal

dos elastómeros

Sem informação [93]

DPPH 1337 mg/L (rGO)

-OH, -C-N

-C=O

(por FTIR)

[96]

DPPH 1590 mg/L (rGO) Sem informação [97]

No entanto, os nanomateriais de carbono podem promover a formação de ROS através

de reações que podem ocorrer na sua superfície, provocando stresse oxidativo [93]. Estudos

recentes mostram que os CNTs apresentam a capacidade de desativar antioxidantes através da

reação direta entre o O2 dissolvido e os locais ativos na superfície dos CNTs, formando

intermediários que reagem com os antioxidantes naturais (e.g. glutatião), e assim aumentar a

Page 52: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

24

propensão para stresse oxidativo. Este tipo de atividade foi descrito numa ampla gama de

materiais à base de grafeno, incluindo carbono negro, carbono ativado e GO [98].

As dimensões relativamente elevadas dos nanotubos de carbono e do grafeno e a sua

propensão para promover a formação de ROS torna-os pouco adequados para aplicações em

meios biológicos.

De acordo com a literatura, os CDs e GQDs também podem exibir atividade

antioxidante, sendo esta muito superior ao grafeno e GO [67, 73-81]. A tabela 3 sumariza os

dados encontrados na literatura, referentes às propriedades antioxidantes destas

nanopartículas. A análise destes dados permite constatar que apesar de existirem muitos

métodos para se avaliar a atividade antioxidante de uma amostra [99-100] apenas alguns têm

sido aplicados aos CDs e GQDs.

Constata-se ainda que os processos de síntese utilizados para obter CDs e GQDs com

propriedades antioxidantes são, maioritariamente, baseados no tratamento hidrotermal de

percursores naturais de carbono (tabela 3). Apesar de muitos autores considerarem que este

método é ecológico e económico, na realidade utiliza agentes oxidantes muito fortes, que não

permite o controlo das propriedades físicas e químicas dos CDs e GQDs e requer vários

processos de separação e purificação. Por exemplo, a diálise é fundamental para garantir que a

atividade antioxidante exibida pelo nanomaterial não é proveniente da existência de

fitoquímicos residuais.

Os nanomateriais de carbono podem promover a proteção contra a oxidação

promovida pelos radicais livres de diferentes formas: sequestro de radicais ou por quelatação

(complexação) de metais de transição. Por sua vez, o sequestro de radicais pode ocorrer

segundo um mecanismo que envolve a formação de ligações covalentes entre o radical e os

carbonos da estrutura aromática, ou a transferência de eletrões, ou a doação de hidrogénios a

partir dos grupos funcionais. Estes nanomateriais podem apresentar atividade antioxidante

segundo um ou mais do que um destes mecanismos [85].

De acordo com alguns autores, as propriedades antioxidantes dos nanomateriais de

carbono dependem da natureza dos grupos funcionais, da curvatura e dos defeitos da

superfície [101]. Os CNTs, tal como, os CDs e os GQDs são compostos por átomos de

carbono como ligações C=C conjugadas e, por isso, é espectável que apresentem uma elevada

capacidade de aceitar ou doar eletrões [102-103, 67]. Por outro lado, os ensaios com radical

DPPH sugerem que os CDs e GQDs são bons doadores de hidrogénio, uma vez que, a

Page 53: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

25

supressão de fluorescência do DPPH ocorre, normalmente, através da doação de hidrogénio

[92].

Tabela 3- Revisão da literatura sobre CDs e GQDs com atividade antioxidante.

Material Teste antioxidante EC50 e outras informações Grupos Funcionais na

superfície Diálise Ref.

CDs

e

GQDs

Redução KMnO4

DPPH

Sequestro do radical OH-

Inibição do anião

superóxido

900 mg/L

40 mg/L

250 mg/L

< 1200 mg/L

OH, C=O, C(=O)H

(por FTIR)

Não [73]

DPPH 15 mg/L

OH, C=O, COOH,

NH (por FTIR) Não [74]

DPPH

Sequestro do radical OH-

80 mg/L

Baixa capacidade de

sequestro

COOH, OH,

NH, CS (por FTIR

and XPS)

Sim [75]

DPPH

Ensaio de TBARs

56 mg/L

Retardou a oxidação dos

lípidos

OH, C=O, COOH,

C-N, OCO

(por FTIR)

Sim [76]

DPPH Cerca de 100 mg/mL

Funcionalizado com

etilenodiamina Não [77]

ORAC

Propriedades antioxidantes

em soluções contendo radicais livres. Atividade mais direcionada para o

oxigénio singleto. Capacidade de produzir ROS.

Funcionalizados com

aminopolímeros

oligoméricos ou PEG.

Não [67]

Espectroscopia EPR

Ensaio da hemoglobina e

do pirogalol

Elevada eficiência em

sequestrar radicais superóxido

Não reagem com o NO• nem

ONOO-

Funcionalizado com

PEG Não [78]

ORAC

Quelatação de metais

(hidroxilação do benzoato e oxidação do

ascorbato)

Ensaio in vitro

> atividade antioxidante que

Vitamina C; < que catequina e ácido cafeico

Reduzem a hidroxilação do

ácido benzoico

São pro-oxidantes

Reduzem o stresse oxidativo

em células endoteliais de cérebro mesmo quando

administrados após antimicina A (indutor de

stresse oxidativo)

Funcionalizado com

PEG Não [79]

Ensaio in vivo em ratos Normalizam o perfil de

radicais oxidativos

Funcionalizados com

PEG Não [80]

Efeito protetor contra o

stresse oxidativo induzido pelo H2O2 em

cultura de células

Os CDs protegem as células

do stresse oxidativo de forma dependente da concentração

OH, C=O, COOH,

C-N, C-O, N-H,

C(=O)N, C-O-C

(por FTIR e XPS)

Sim [81]

Page 54: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

26

A maioria dos antioxidantes, tal como, a quercetina, o glutatião, o ácido ascórbico,

ácido gálico, trolox, entre outros, são compostos fenólicos que atuam doando átomos de

hidrogénio. Após a doação do átomo de hidrogénio, o radical que se forma é estabilizado por

estruturas de ressonância, na qual o eletrão não emparelhado reside no átomo doador (e.g.

oxigénio, azoto) ou nos carbonos orto ou para do anel aromático adjacente. (Figura 8).

Assim, a presença de grupos funcionais doadores de hidrogénio como grupos hidroxilo e

grupos amina parecem ser fundamentais para a sua atividade sequestradora de radicais [85,

89].

Figura 8- Mecanismo de sequestro de radicais superóxido por ação da quercetina Adaptado de [104].

Embora se encontrem na literatura diversos estudos teóricos sobre o efeito da natureza

de grupos funcionais na capacidade sequestradora de radicais pelos nanomateriais de carbono

[105-106], existem poucos estudos experimentais para suportar as previsões. Num dos poucos

estudos práticos foi observado que após funcionalização com diferentes aminoácidos a

atividade antioxidante dos CNTs é melhorada, o que está claramente associado aos grupos

funcionais desses aminoácidos (grupos OH e NH) [90].

Apesar dos estudos sobre as propriedades antioxidantes dos CDs e GQDs ainda

estarem numa fase embrionária, os resultados apresentados na tabela 3 são muito promissores

para aplicação destes materiais na área biomédica e farmacêutica.

6. Importância da descoberta de novos antioxidantes

O stresse oxidativo emerge quando a formação de espécies reativas de oxigénio/azoto

(ROS/RNS) ultrapassa a capacidade das células em neutralizá-los através do sistema de

Page 55: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

27

defesa antioxidante (enzimático e não enzimático) [107]. O sistema de transporte de eletrões

(CTE) da membrana interna da mitocôndria é a maior fonte celular de ROS.

Aproximadamente 1 a 2% do oxigénio molecular que chega à mitocôndria é convertido em

radicais superóxido (O2•−). Os radicais superóxido reagem dando origem a outras formas de

ROS, incluindo peróxido de hidrogénio (H2O2) e radicais hidroxilo (OH•). A reação dos O2•−

com o óxido nítrico (NO) também produz RNS como por exemplo peroxinitrito (ONOO−), o

qual por reações consecutivas origina outros tipos de RNS, como o dióxido de azoto (NO2) e

nitrosoperoxidocarbonato (ONOOCO2−) [107-108].

Nos sistemas biológicos, os ROS e RNS desempenham um papel duplo, uma vez que

podem promover efeitos benéficos e prejudiciais. Os seus efeitos benéficos estão associados a

respostas fisiológicas que permitem a defesa contra agentes infeciosos e a ativação de várias

vias de sinalização celular. Todavia, quando produzidas em concentrações que excedem a

capacidade de depuração do sistema de defesa antioxidante, os ROS e RNS promovem a

oxidação de lípidos, proteínas e ácidos nucleicos, afetando a organização e o funcionamento

das células, originando diversas patologias [109].

Nos mamíferos, o sistema de defesa antioxidante é classificado em dois grupos:

enzimático e não enzimático. O sistema de defesa antioxidante enzimático é constituído por

um número limitado de enzimas, incluindo a catalase (CAT), a glutatião peroxidase (GPx) e a

superóxido dismutase (SOD). Já o sistema de defesa antioxidante não enzimático inclui uma

grande variedade de moléculas com atividade antioxidante e/ou com a capacidade de

quelatação de metais divalentes (e.g. ferro, cobre) que catalisam a formação de espécies

reativas, algumas das quais são provenientes da dieta (e.g. ácidos ascórbico e lipóico,

polifenóis e carotenoides) e outras são sintetizadas pelas células (e.g. glutatião) [110].

Contudo, o sistema de defesa antioxidante endógeno (e.g. SOD, CAT, glutatião,

vitamina C e E, entre outros) apresenta diversas limitações, nomeadamente [111]:

(i) necessidade de enzimas adicionais a jusante para eliminar o produto radical de

uma molécula a montante;

(ii) baixo número de radicais eliminados por molécula de antioxidante;

(iii) necessidade da presença de enzimas para regenerar o antioxidante que podem

ser consumidas no meio tóxico;

(iv) formação de outros radicais através do mecanismo de ação do antioxidante

[112].

Page 56: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

28

Com efeito, o mecanismo de ação da maioria dos antioxidantes, tais como o glutatião,

vitamina C e vitamina E baseia-se na doação de eletrões para o radical livre e, durante este

processo, há formação de outros ROS (vitaminas C e E oxidadas) sendo necessárias enzimas

adicionais para regenerar a molécula à sua forma com atividade antioxidante. Por outro lado,

na maioria das terapias usadas no combate ao stresse oxidativo, os antioxidantes exógenos

administrados não produzem os efeitos desejados devido a diversos fatores: baixa

solubilidade em água, biodisponibilidade insuficiente, tempo de vida curto e insuficiente

concentração no local de ação [111-112].

Para aumentar a solubilidade da maioria dos antioxidantes naturais (i.e., provenientes

de fontes naturais como plantas) utilizam-se solventes orgânicos ou excipientes que permitam

a sua administração, o que pode aumentar a toxicidade do produto natural. Adicionalmente, o

solvente orgânico/excipiente pode provocar efeitos secundários indesejáveis e, como

apresentam baixo peso molecular são facilmente excretados, sendo necessário administrar

doses terapêuticas elevadas, o que pode causar uma toxicidade aguda [113].

Outra limitação dos antioxidantes exógenos prende-se com o facto dos radicais livres

poderem ser transferidos para proteínas, ácidos nucleicos e lípidos, pelo que os antioxidantes

clássicos não conseguem dar uma resposta adequada e a sua regeneração fica comprometida.

Além disso, em condições de intenso stresse oxidativo, seria mais eficaz a utilização de

antioxidantes com a capacidade de extinguir ou dismutar várias espécies de radicais, ou seja,

antioxidantes que atuem como aceitadores finais de um elevado número de ROS, do que

antioxidantes que necessitem de regeneração [110].

O stresse oxidativo desempenha um papel chave não só no processo de

envelhecimento normal, mas também no envelhecimento patológico evidenciado pela

progressão de inúmeras doenças degenerativas crónicas, tais como: arteriosclerose, artrites,

diabetes tipo-2, doença renal crónica e doenças neurodegenerativas (e.g. doença de

Alzheimer, doença de Parkinson, demência frontotemporal) [109]. Portanto, a utilização de

moléculas e nanomateriais com atividade antioxidante constituem a base de estratégias

terapêuticas e preventivas para repor e/ou assegurar o normal estado de oxidação das células e

assim tratar, retardar e/ou prevenir estas patologias [84, 88-89, 102].

Assim, a utilização nanomateriais de carbono hidrossolúveis com propriedades

intrínsecas que lhe conferem uma atividade antioxidante diversificada poderá ser uma

alternativa promissora aos antioxidantes clássicos.

Page 57: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

29

7. Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer, a mais comum forma de demência relacionada com a idade, é

caracterizada por um processo neurodegenerativo progressivo que promove a perda de

memória e afeta várias capacidades cognitivas. Com o aumento da esperança média de vida

das populações humanas, a prevalência da doença de Alzheimer tem crescido

exponencialmente, tornando-se um problema de saúde pública de dimensão global [114].

A análise post mortem de cérebros de pacientes com esta doença revela,

invariavelmente, na região do neocórtex duas marcas patológicas: placas senis, resultantes da

deposição extracelular de péptidos β-amilóide (Aβ), e tranças neurofibrilares intracelulares

formadas maioritariamente pela proteína tau hiperfosforilada. Adicionalmente, a doença de

Alzheimer está também associada a uma perda massiva de sinapses nas redes neuronais que

suportam os processos de memória e de aprendizagem. Pelo menos nas etapas iniciais da

doença, a perda de sinapses tem uma amplitude muito superior à prevista pela redução do

número de neurónios nas regiões cerebrais afetadas, sugerindo que as deficiências nos

processos subjacentes à transmissão de sinais entre os neurónios precedem a morte das células

envolvidas nessas redes neuronais. A disfunção mitocondrial, o stresse oxidativo, as

alterações na composição lipídica das membranas e a neuroinflamação crónica são os

principais marcadores bioquímicos da patologia [115]. Apesar destes marcadores patológicos

serem reconhecidos por todos os investigadores, a importância de cada um deles no

aparecimento da doença bem como o modo como se correlacionam durante a progressão da

doença permanecem, no essencial, por esclarecer. Desde a primeira descrição da doença feita

por Alois Alzheimer, em 1906, alterações em diferentes vias bioquímicas têm sido detetadas e

associadas com a etiologia da doença. No entanto, a comunidade científica tem divergido

quanto aos elementos chave subjacentes ao processo neurodegenerativo e, consequentemente,

várias hipóteses têm sido formuladas para explicar a doença. Baseado nestas hipóteses

surgiram também várias estratégias terapêuticas que infelizmente não se revelaram capazes de

interromper o processo degenerativo nem de atenuar a sua progressão. De facto, as estratégias

terapêuticas atuais são apenas de carácter sintomático [116]. Os resultados obtidos no nosso

laboratório suportam a hipótese de que a doença de Alzheimer emerge de um desequilíbrio

bioenergético associado à perda de funcionalidade do complexo I mitocondrial e de alterações

no perfil lipídico das mitocôndrias sinápticas (e.g. cardiolipinas). Este desequilíbrio

desencadeia uma cascata patológica que inclui stresse oxidativo, alteração na composição e

organização funcional das membranas plasmáticas, sobreprodução de beta-amilóide,

Page 58: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

I-Introdução

30

desregulação dos fluxos celulares de cálcio e toxicidade associada, incluindo a

hiperfosforilação da proteína tau e a neuroinflamação crónica [117]. Portanto, a intervenção

sobre estes alvos bioquímicos primários utilizando agentes externos não-tóxicos apresenta-se

como estratégia terapêutica atrativa para evitar/interromper o processo neurodegenerativo.

Page 59: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

___________________________________________________________________________

Capítulo II

____________________________________

Objetivos

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento

da doença de Alzheimer: uma nova estratégia

terapêutica

Page 60: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 61: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

II-Objetivos

33

O presente projeto tem subjacentes as seguintes hipóteses: i) as doenças degenerativas

relacionadas com idade, de natureza crónica (e.g. Doença de Alzheimer), emergem de

disfunções mitocondriais que retiram a capacidade das células em controlar o seu estado de

oxidação-redução, desencadeando uma cascata de eventos patológicos que afeta não só essas

células como também as células vizinhas, comprometendo de um modo progressivo o

desempenho funcional do tecido/órgão/sistema; ii) a utilização de agentes externos capazes de

restaurar o normal estado de oxidação-redução das células é uma estratégia eficaz para

prevenir e/ou retardar a progressão destas patologias.

O presente trabalho tem como objetivo geral conceber uma nova estratégia terapêutica

tendo por base a utilização de nanomateriais de carbono hidrossolúveis com atividade de

oxidação-redução modelável.

São objetivos específicos deste trabalho:

i) Desenvolver uma metodologia para sintetizar, em soluções aquosas, nanomateriais

de carbono com propriedades de oxidação-redução modeláveis, mas bem definidas

e controláveis pela metodologia de síntese. Pretendem-se nanomateriais para

operar em diferentes vias metabólicas e diferentes processos de sinalização celular

para regular o estado de oxidação-redução das células;

ii) Caracterizar os diferentes nanomateriais sintetizados em termos de: a)

Propriedades estruturais, morfológicas e óticas; b) Composição química e natureza

dos grupos funcionais; c) Propriedades de oxidação-redução;

iii) Avaliar a atividade antioxidante dos diferentes nanomateriais sintetizados,

conjugando ensaios químicos com bioquímicos para selecionar as mais

promissoras para aplicação biológica;

iv) Caracterizar as interações dos nanomateriais selecionados com os sistemas

biológicos, utilizando duas linhas celulares humanas de tecidos distintos (uma

neuronal e outra do epitélio do estômago) encarando esta sob uma perspetiva

toxicológica, para determinar a gama de concentrações que não promovem efeitos

citotóxicos observáveis;

v) Avaliar a ação protetora dos nanomateriais selecionados face ao stresse oxidativo

induzido por um agente oxidante e lesivo da função mitocondrial, o tert-butil-

hidroperóxido, tanto em células humanas, opondo-se à perda de viabilidade das

células, como ao nível da membrana (de mitocôndrias isoladas de tecido animal),

contrariando a peroxidação lipídica.

Page 62: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 63: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

___________________________________________________________________________

Capítulo III

____________________________________

Metodologias Experimentais e

Técnicas de Caracterização

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento

da doença de Alzheimer: uma nova estratégia

terapêutica

Page 64: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 65: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

37

1. Síntese de nanomateriais hidrofílicos de carbono

Os nanomateriais hidrofílicos de carbono (NHC) foram produzidos por um método

eletroquímico desenvolvido pelo nosso grupo, estando em curso o registo de patente do seu

processo de síntese [118]. Muito resumidamente, utilizou-se uma célula eletroquímica

convencional contendo um elétrodo de trabalho de grafite, um elétrodo secundário de grafite e

um elétrodo de referência (elétrodo saturado de calomelanos). Como solução eletrolítica

utilizaram-se duas soluções tampão biocompatíveis, com molaridade semelhante e com um

pH semelhante ao pH fisiológico, um preparado a partir de sais inorgânicos (pH 7) e outro a

partir de sais orgânicos (pH 6,5). Aplicou-se o método galvanostático, ou seja, a síntese

eletroquímica decorreu sob uma intensidade de corrente constante, aplicada por um

potencióstato/galvanostato Autolab PGSTAT100, controlado pelo software GPES. A síntese

eletroquímica decorreu sob atmosfera de ar e à temperatura ambiente. Após a síntese a

solução de NHC foi armazenada em frascos de vidro de cor âmbar, sob atmosfera de árgon, à

temperatura ambiente.

No presente trabalho de dissertação utilizaram-se os NHC provenientes do elétrodo de

trabalho. A amostra sintetizada usando a solução tampão preparado a partir de sais

inorgânicos foi designada por NHC-i e a amostra sintetizada utilizando a solução tampão

preparado a partir de sais orgânicos foi designada por NHC-o.

Após a síntese, caracterizou-se a atividade redox e bioquímica das amostras de NHC

assim como as suas propriedades óticas, estruturais, morfológicas e composição química.

Sempre que possível, durante a caracterização foi utilizada diretamente a amostra, tal como

esta é obtida no processo de síntese. Contudo, em algumas situações, como por exemplo na

caracterização por XPS e TEM, foi necessário remover previamente o eletrólito de suporte.

Assim, para esse efeito, uma porção da amostra foi submetida a um processo de diálise,

tendo-se utilizado uma membrana de celulose com poro 3,5-5 kD (Biotech). As membranas

de diálise foram sujeitas a um pré-tratamento de lavagem e/ou ativação antes de serem

utilizadas com objetivo de se remover a camada de glicerina que normalmente contêm. Este

processo consistiu em imergi-las em água destilada e desionizada à temperatura de 100 °C

durante 10 minutos. Após este período, a água quente foi rejeitada e substituída e o processo

repetido mais 4 vezes. A amostra foi transferida para o interior da membrana e submetida a

diálise durante pelo menos 24 horas, sob agitação constante, e com renovação periódica da

água (um processo equivalente a ter-se 3 mL de amostra num total de 1250 mL de água).

Page 66: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

38

2. Determinação do teor de carbono e concentração mássica

2.1. NHC-i

Avaliou-se o teor total de carbono na solução NHC sintetizada electroquimicamente

no tampão inorgânico (NHC-i) pelo método analítico TOC. Na construção da curva de

calibração utilizaram-se padrões de hidrogenoftalato de potássio com concentrações de 0,5 a

10 mg C/L, que foram preparados a partir uma solução mãe de hidrogenoftalato de potássio a

1000 mg C/L. Nesta análise foi utilizado um analisador elementar de carbono e azoto modelo

Formacs TOC analyser com detetor tipo CA16.

Uma vez que a análise TOC requer um volume considerável de solução e implica um

tempo de análise relativamente longo, implementou-se, a partir da determinação prévia do

coeficiente de absortividade da solução dos NHC-i (Anexo A), um método de rotina para

avaliar o teor total de carbono em cada uma das amostras sintetizadas utilizando o tampão

inorgânico como eletrólito. O método de determinação do coeficiente de absortividade

aparente será descrito de uma forma mais detalhada no tópico da caracterização ótica no

subtópico coeficiente de absortividade aparente.

2.2. NHC-o

Relativamente às amostras sintetizadas a partir do tampão orgânico (NHC-o) não foi

possível determinar o TOC, dada a contribuição do próprio eletrólito de suporte no teor total

de carbono da amostra, pelo que se determinou apenas a sua concentração mássica. Assim,

após a síntese transferiu-se 10 mL da solução aquosa de NHC-o para um balão previamente

pesado e evaporou-se num evaporador rotativo a 50 ºC. Após secagem, o balão foi transferido

para um exsicador com uma atmosfera saturada em azoto, onde permaneceu durante dois dias

e, posteriormente, foi colocado numa estufa a 110 ºC durante um dia. Após este período o

balão foi transferido, novamente, para o exsicador durante uma hora para atingir a

temperatura ambiente sem que ocorressem processos de condensação de água associados à

diferença térmica. A massa do balão contendo os NHC-o foi depois determinada com recurso

a balança analítica de alta precisão e a massa dos NHC-o determinada pela diferença de

massas do balão. Realizou-se o mesmo procedimento para 10 mL de tampão orgânico, de

forma, a poder retirar a massa de eletrólito existente na amostra.

Contudo, pelas razões já referidas acima, foi necessário implementar um método de

rotina para avaliar a concentração mássica em qualquer amostra sintetizada utilizando o

Page 67: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

39

tampão orgânico como eletrólito. Para esse efeito, utilizou-se uma curva de calibração

preparada partir de medições voltamétricas (Anexo B) de um conjunto de soluções resultantes

da diluição de uma amostra fresca cuja concentração mássica foi determinada pelo processo

descrito anteriormente.

Todas as medições voltamétricas foram realizadas à temperatura ambiente e a uma

velocidade de varrimento de 50 mV/s, num potencióstato/ galvanostato Autolab. Os ensaios

foram realizados em elétrodos impressos de carbono (modelo C110 da Dropsens) contendo 50

μL da solução a analisar. Na construção da curva de calibração utilizou-se como sinal

analítico a área integrada do pico de oxidação a 0,300 V. Assim, recorrendo a esta curva de

calibração foi possível determinar de uma forma expedita a concentração mássica em

qualquer solução gerada electroquimicamente em tampão orgânico. Embora também

tivéssemos inicialmente recorrido ao cálculo do coeficiente de absortividade da solução a

partir da medição da absorvência a 263 nm (Anexo C), constatou-se posteriormente uma certa

incongruência entre os valores de concentração mássica obtidos a partir da absortividade e os

obtidos pelo método gravimétrico, pelo que se optou pela utilização do método voltamétrico

em detrimento do método ótico.

3. Caracterização física e química

3.1. Caracterização química e estrutural

No decorrer deste trabalho foram utilizadas várias técnicas experimentais que tiveram

como objetivo fornecer informação sobre a morfologia, tamanho, espessura, cristalinidade,

estrutura cristalina, composição química e natureza dos grupos funcionais dos nanomateriais

de carbono gerados electroquimicamente. As técnicas utilizadas foram:

a) Microscopia Eletrónica de Transmissão (TEM e HRTEM);

b) Microscopia de Força Atómica (AFM);

c) Espectroscopia de fotoeletrões excitados por raios X (XPS);

3.1.1. Microscopia Eletrónica de Transmissão (TEM e HRTEM)

A microscopia eletrónica de transmissão permite identificar os tamanhos, a forma,

defeitos, a cristalinidade e as distâncias interplanares em materiais cristalinos, sendo, por isso,

uma ferramenta essencial na análise estrutural dos nanomateriais. Baseia-se na utilização de

um feixe de eletrões emitido por um canhão no cimo de uma coluna sob vácuo, e acelerado

Page 68: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

40

em direção à parte inferior da coluna, por uma diferença de potencial elevada. Utilizam-se

lentes eletromagnéticas para condensar o feixe até atingir a amostra que deverá ser de

espessura muito reduzida para que o feixe de eletrões seja transmitido através dela. Depois de

atravessar a amostra, o feixe de eletrões é focado, ampliado e projetado numa tela

fluorescente ou detetado por um sensor com câmara CCD [119-120].

As análises de TEM foram efetuadas na Unidade de Miscrocospia Electrónica da

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Já as análises de HRTEM foram realizadas no

centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos da Universidade de Aveiro.

As imagens de Microscopia Eletrónica de Transmissão (TEM) foram obtidas num

microscópio de transmissão Leo/Zeiss 906E com filamento W a 120 kV equipado com uma

camara digital TRS de 4 Mpixel (resolução de 0,33 nm) e as imagens de Microscopia

Eletrónica de Transmissão de Alta Resolução (HRTEM) foram obtidas num microscópio de

transmissão JEOL 2200FS a 200 kV, com uma câmara digital de 16 Mpixel. Utilizaram-se

grelhas de Formvar / carbono da Agar, as quais foram preparadas por imersão na solução

amostra e secas à temperatura ambiente.

3.1.2. Microscopia de Força Atómica (AFM)

A caracterização morfológica das superfícies dos NHC foi realizada por microscopia

de força atómica (AFM do inglês, Atomic Force Microscopy). Esta técnica consiste na

utilização de uma ponta afiada (sonda), normalmente, de silício ou nitrito de silício, montada

na extremidade de um cantilever (braço flexível) que varre a superfície de interesse nas

direções X, Y e Z. Através da interação física desta ponta com a superfície da amostra é

contruído um mapa topográfico da superfície que é, posteriormente tratado obtendo-se uma

imagem [121-122]. Um microscópio de força atómica apresenta três modos de

funcionamento: modo de contacto, modo de contacto intermitente (tapping) e modo de não

contacto. Neste trabalho o modo utilizado foi modo de tapping. Neste modo operativo, a

ponta oscila a uma dada frequência próxima da sua frequência de ressonância e entra em

contacto com a superfície da amostra por um período de curta duração a cada ciclo de

oscilação. A interação da ponta com a amostra provoca alterações na amplitude, frequência de

ressonância e no ângulo de fase do cantilever [121].

As análises de AFM foram realizadas em locais distintos: a análise morfológica das

superfícies dos NHC-i foi realizada no Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade

Page 69: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

41

de Ciências da Universidade de Lisboa. Já a análise morfológica das superfícies dos NHC-o

foi realizada no Centro de Materiais da Universidade do Porto (CEMUP).

Na análise dos NHC-i utilizou-se um microscópio Nanoscope IIIa Multimodo

produzido pela Digital Instruments (Veeco, Santa Barbara, CA). Todas as medições foram

realizadas colocando uma gota da solução sobre a mica clivada de fresco. Após secagem à

temperatura ambiente lavou-se a amostra com água ultrapura e secou-se com N2 puro. As

imagens foram obtidas por medição em modo tapping, usando pontas de silício de 8 nm, com

uma frequência de ressonância de ca. 300 kHz, a uma velocidade de varrimento de ca. 1.5 Hz

à temperatura ambiente (~21 °C).

Na análise dos NHC-o utilizou-se um microscópio Nanoscope IVa Multimodo

produzido pela Digital Instruments (Veeco, Santa Barbara, CA). O modo de preparação da

amostra foi idêntico ao da amostra em tampão inorgânico. As imagens foram obtidas por

medição em modo tapping, usando pontas de silício (RTESP) de 10 nm, com uma frequência

de ressonância de ca. 350 kHz à temperatura ambiente (~21 °C).

3.1.3. Espectroscopia de fotoeletrões excitados por raios X (XPS)

A espetroscopia de fotoeletrões excitados por raios X (XPS do inglês, X-ray

Photoelectron Spectroscopy) é uma técnica amplamente utilizada na análise de superfícies.

Esta técnica permite caracterizar a composição química de uma superfície e obter informação

relativa ao estado químico dos elementos a partir de pequenas variações nas energias de

ligação. A técnica baseia-se na emissão de eletrões pelo efeito fotoelétrico e, consiste,

essencialmente, na análise do espectro de eletrões emitidos de um dado material como

resultado da sua interação com raios-X de energia igual ou superior à necessária para a sua

ionização. Apresenta elevada sensibilidade à composição química da superfície devido aos

eletrões com energias até cerca de 2 Kev [119, 123].

As análises de XPS foram efetuadas no Centro de Química Física Molecular do

Instituto Superior Técnico do Instituto Superior Técnico de Lisboa.

Assim, com o objetivo de determinar a natureza dos grupos funcionais presentes nos

NHC, utilizou-se o espectrómetro de XPS XSAM 800 de Kratos, operado no modo FAT e

com uma energia de 20 eV. Irradiaram-se as amostras com a radiação não-monocromática Mg

Ka radiação-X (h = 1253,7 eV) usando uma potência de 120 W. Depositaram-se

sucessivamente gotas da solução de amostra sobre um substrato de Si (111) dopado com boro

(sem pré-tratamento) até este ficar uniformemente coberto, secou-se sob vácuo (2x104 Pa) e,

Page 70: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

42

foram imediatamente, transferidas para a câmara de XPS. As amostras foram analisadas

usando um ângulo de 450 em ultra alto vácuo (~10-7 Pa) à temperatura ambiente. Para corrigir

o deslocamento de carga, os carbonos alifáticos foram definidos com energia de ligação de

285 eV. Para fins de quantificação, os fatores de sensibilidade utilizados foram 0,25 para 1s

C.

3.2. Caracterização ótica

3.2.1. UV-Vis

O espectro de absorção dos NHC-i foi registado à temperatura ambiente num

espetrofotómetro UV-Vis (Varian, Cary 50) num intervalo de comprimento de onda de 200 a

800 nm numa cuvete de quartzo, utilizando a solução tampão inorgânica como referência.

O espectro de absorção dos NHC-o foi registado à temperatura ambiente num leitor

de microplacas Multiskan Ascent (Thermo Electron Crporation) num intervalo de

comprimento de onda de 200 a 800 numa microplaca, utilizando a solução tampão orgânico

como referência.

3.2.2. Fluorescência

A análise espectrofluorimétrica das soluções de NHC foi efetuada num

espectrofluorímetro Varian Cary Eclipse, equipado com um bloco de termostatização para

cuvetes e um sistema automático de agitação magnética, tendo-se utilizado uma cuvete de

quartzo com as quatro faces polidas. Os espectros de excitação e de emissão, com a resolução

de 1 nm, foram obtidos à temperatura de 25 °C, nos intervalos de comprimentos de onda

indicados nas figuras apresentadas na secção dos resultados. A velocidade de varrimento foi

de 60 nm/minuto e as larguras de banda (“slits”) de excitação e de emissão alternaram entre

2,5 e 5,0 nm. Para cada amostra foi preparado um branco contendo o volume equivalente da

solução aquosa utilizada para preparar e/ou diluir os NHC e os respetivos espectros de

excitação e de emissão foram registados nas mesmas condições utilizadas com as amostras.

Desta forma assegurou-se que a fluorescência obtida com as amostras não resulta de eventuais

moléculas fluorescentes presentes nos solventes ou depositadas nas paredes da cuvete, isto é,

de contaminações. Entre medidas, a cuvete foi lavada considerando um procedimento

envolvendo sequencialmente solventes de polaridade variável, nomeadamente: água destilada,

etanol, acetona, etanol, água destilada. No final de cada dia de trabalho, a cuvete lavada foi

Page 71: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

43

guardada numa solução aquosa, preparada com ácido nítrico concentrado (1:1, v/v), para que

eventuais vestígios de partículas fluorescentes fossem destruídas por ação do ácido nítrico.

3.2.3. Rendimento quântico

Uma característica importante de um fluoróforo é o seu rendimento quântico. O

rendimento quântico (Φ) é definido pela razão entre o número de fotões emitidos e o número

de fotões absorvidos, ou seja, representa a probabilidade do estado excitado em ser desativado

preferencialmente pela fluorescência do que por outro mecanismo não reativo [124-125].

O rendimento quântico dos NHC foi determinado com base na equação (1):

Фx = (mx

mST) . (

ηx

ηST)

2

(1)

Na qual, ST e x representam o padrão e a amostra, respetivamente. Ф corresponde ao

valor de rendimento quântico, m é o declive do gráfico da intensidade de fluorescência

integrada em função da absorvência da amostra a 330 ou 363 nm ou do padrão a 346 nm com

diferentes concentrações e η representa o índice de refração do solvente. Para estas soluções

aquosas ηx

ηST =1 uma vez que o índice de refração molar do H2SO4 e da água ultrapura é 1,33.

Como solução padrão foi utilizada uma solução de sulfato de quinina dissolvida em 0,1 M

H2SO4. Este padrão apresenta um valor de rendimento quântico de 54%. Assim, a partir de

uma solução-mãe de 0,5 g/L preparou-se uma série de padrões e registou-se o respetivo

espectro de absorção num espetrofotómetro de duplo feixe Lamba 25 e o respetivo espectro

de emissão de fluorescência com excitação fixada a 346 nm, com fendas de emissão e

excitação fixas a 5,0 nm. Foi repetido o mesmo procedimento para a solução aquosa de NHC-

i e de NHC-o, mas registou-se o espectro de emissão de fluorescência com excitação fixada a

330 e 363 nm, respetivamente.

3.2.4. Coeficiente de absortividade aparente

Na determinação do coeficiente de absortividade das soluções NHC-i e NHC-o

recorreu-se ao registo dos espectros de absorção de um conjunto de soluções resultantes da

diluição de uma amostra de concentração conhecida previamente calculada pelos processos

descritos anteriormente. Assim, foram preparadas várias diluições da amostra e traçaram-se os

espectros de absorção UV-Vis num espetrofotómetro UV-Vis (Varian, Cary 50) num

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III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

44

intervalo de comprimentos de onda de 200 a 800 nm numa cuvete de quartzo. Posteriormente,

representou-se num gráfico a absorvência a 230 e 263 nm em função da concentração do

analito, que permitiu, através da lei de Beer-Lambert determinar o valor do coeficiente de

absortividade aparente para as soluções NHC-i e NHC-o, respetivamente.

3.3. Caracterização eletroquímica

A voltametria cíclica é uma técnica eletroquímica que permite analisar processos de

transferência de eletrões entre compostos químicos e um material condutor que se designa de

elétrodo de trabalho. Esta técnica baseia-se no varrimento, a uma velocidade constante, do

potencial aplicado ao elétrodo de trabalho, em forma de uma onda triangular. Esta onda pode

ser aplicada uma única vez ou em múltiplos ciclos. Durante o varrimento é registada a

intensidade da corrente em função do potencial aplicado (I = f (E)), dando origem ao

voltamograma cíclico. No caso de existirem espécies eletroactivas em solução ou adsorvidas

sobre o elétrodo, surgem no voltamograma picos de oxidação e/ou de redução que se

caracterizam pelas respetivas correntes de pico e potenciais correspondentes. A quantidade de

carga obtida da integração da intensidade de corrente em função do tempo (ou seja, a

integração dos picos) permite conhecer o número de moles da espécie eletroactiva reduzida

e/ou oxidada, desde que se conheça o número de eletrões envolvidos por mole daquele

composto. A partir do efeito da velocidade de varrimento, pH da solução, variação do limite

catódico, variação do limite anódico, número de ciclos, número de picos, diferença de

potencial entre os picos de oxidação e de redução, obtém-se informação de natureza

mecanística [126]. Assim, a voltametria cíclica é uma técnica eletroanalítica muito utilizada

no estudo de processos redox de sistemas químicos e bioquímicos, que permite obter

informação qualitativa e quantitativa sobre as espécies eletroactivas e informação mecanística

sobre os processos interfaciais dependentes do potencial do elétrodo [127].

A caracterização eletroquímica foi realizada com um potencióstato/ galvanostato

Autolab PGSTAT 100, controlado pelo software GPES. Nestes ensaios foram utilizados

elétrodos impressos de carbono (modelo C110 da Dropsens) em que o elétrodo de trabalho e

secundário é constituído por uma tinta de carbono grafítico e o elétrodo de referência é de

prata. Os potenciais foram registados relativamente a um pseudo-elétrodo de referência

Ag/Ag+. Neste dispositivo colocou-se 50 µL de solução eletrolítica, como por exemplo a

solução de NHC. Antes da realização dos ensaios voltamétricos foram definidos os limites do

Page 73: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

45

potencial, a direção do varrimento inicial e o número de ciclos voltamétricos. De um modo

geral, todos os ensaios voltamétricos tiveram início ao potencial de circuito aberto, e

consoante se pretendia analisar a capacidade do material doar ou ceder eletrões, assim iniciou-

se o varrimento no sentido anódico ou catódico, respetivamente. Os ensaios foram realizados

à temperatura ambiente e a uma velocidade de varrimento de 50 mV/s. Foram ainda

realizados ensaios com os respetivos brancos (tampão inorgânico e tampão orgânico) com pH

semelhante ao da amostra.

Nos ensaios voltamétricos em que se utilizou as amostras após diálise foi realizado o

método drop-casting, recorrendo a um tampão de fosfato como solução eletrolítica. Assim, de

acordo com o método drop-casting, colocou-se 50 μL de solução de NHC-i ou NHC-o (após

diálise) e deixou-se evaporar totalmente o solvente. No caso da solução de NHC-i repetiu-se o

processo mais duas vezes Posteriormente, adicionou-se 50 μL de uma solução tampão fosfato

pH 7 e realizou-se o ensaio. Repetiu-se o mesmo procedimento para os NHC-o mas em vez de

150 μL da amostra, utilizou-se apenas 50 μL.

De salientar ainda que, salvo raras exceções, utilizou-se um elétrodo impresso de

carbono novo por cada ensaio realizado, mesmo quando se efetuaram diferentes ensaios sobre

a mesma amostra, tal como os realizados a diferentes velocidades de varrimento.

4. Avaliação da atividade antioxidante

4.1. Ensaio com radical DPPH

O DPPH• (2,2-difenil-1-picril-hidrazilo) é um radical livre estável que em soluções

alcoólicas apresenta uma cor púrpura. Na presença de uma molécula com capacidade de doar

átomos de hidrogénio (antioxidante), o DPPH• é reduzido a 2-difenil-1-picril-hidrazina

(DPPH). Esta reação de redução é acompanhada pela alteração da cor da solução, que passa

de púrpura para amarelo e pode ser acompanhada pela diminuição da absorvência a 517 nm.

Portanto, a redução do radical DPPH, acompanhada por espectrofotometria do visível, foi

utilizada para avaliar, de um modo rápido, simples e barato, a atividade antioxidante dos

nanomateriais hidrofílicos de carbono (NHC) [128].

A uma série de 7 tubos contendo 2 mL de uma solução etanólica de DPPH a 0,002%,

foram adicionados volumes crescentes de solução aquosa de NHC com concentração

conhecida. O volume de todos os tubos foi ajustado a 2,5 mL pela adição de uma solução

tampão (KCl 50 mM, Hepes 5 mM, pH=7,29). Em paralelo, preparam-se duas séries de tubos

Page 74: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

46

para avaliar a atividade antioxidante de duas moléculas de referência, nomeadamente: Trolox

(ácido 6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcromano-2-carboxílico) testado numa gama de

concentrações de 0 a 20 μM e o ácido ascórbico testado na gama de concentrações entre 0 a

0,011 μM, como resumido no Anexo D. Os tubos foram agitados e após 30 minutos de

incubação, no escuro, à temperatura ambiente, as absorvências das soluções foram avaliadas,

contra a correspondente referência (vulgarmente designado por branco) preparado sem DPPH,

mas com igual volume de etanol, num espetrofotómetro UV-Vis, Varian, Cary 50, a 517 nm.

Estes dados foram utilizados para determinar a Atividade Supressora de cada solução de

NHC, pela equação (2):

Atividade Supressora (%) = (AD517−AS517

AD517) x 100 (2)

Na qual, AD e AS são a absorvência da solução na ausência e presença de NHC,

respetivamente. O EC50, a concentração de NHC necessária para suprimir 50% dos radicais de

DPPH em solução, foi determinado tendo em conta a variação da Atividade Supressora em

função da concentração de NHC.

4.2. Ensaio com radical ABTS

A avaliação da atividade antioxidante de uma molécula ou material pela sua

capacidade em suprimir os radicais ABTS requer duas etapas. Uma primeira etapa para

formar o radical ABTS•+, o qual corresponde a um cromóforo azul-esverdeado, pela reação do

ácido 2,2’-azinobis-(3-etilbenzotiazolina-6-sulfónico) com persulfato de potássio. Numa

segunda etapa, a redução do ABTS•+ por ação de compostos com capacidade de doar eletrões

ou hidrogénios promove a descoloração da solução, podendo ser acompanhada por

espectrofotometria pela diminuição da absorvência a 734 nm [129-130].

Inicialmente, prepararam-se uma solução aquosa 7 mM em ABTS e outra solução

aquosa 140 mM em K2S2O8. O radical ABTS foi produzido pela adição de 88 μL da solução

de K2S2O8 a cada 5 mL da solução aquosa de ABTS. A mistura foi incubada durante cerca de

16 horas no escuro, à temperatura ambiente. A solução de trabalho de radical ABTS foi

preparada por adição de 1 mL da mistura preparada no dia anterior a 88 mL de uma solução

tampão de acetato (100 mM em acetato de sódio, pH = 4,4) de forma, a obter uma solução

com um valor de absorvência a 734 nm, próxima de 0,7. Para avaliar a capacidade dos NHC

em suprimir o radical ABTS, preparou-se uma série de 8 tubos contendo 2 mL da solução de

trabalho de radical ABTS aos quais se adicionaram volumes crescentes de solução aquosa de

Page 75: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

47

nanomateriais hidrofílicos de carbono com concentração conhecida. O volume de todos os

tubos foi ajustado a 2,5 mL pela adição de uma solução tampão de acetato. Em paralelo,

preparam-se mais duas séries de tubos, uma para avaliar a atividade antioxidante de

concentrações crescentes de Trolox (0 - 20 μM); e, outra para avaliar a atividade antioxidante

do ácido ascórbico (0 – 0,034 μM), como resumido no anexo E. Amostras e padrões foram

incubados, à temperatura ambiente, durante 10 minutos e as absorvências lidas a 734 nm num

espectrofotómetro UV-Vis Cary 50. Os dados obtidos foram utilizados para determinar a

Atividade Supressora de cada solução de NHC, pela equação (2).

4.3. Ensaio com reagente Folin-Ciocalteau - Conteúdo total em fenóis

O método do Folin-Ciocalteau descrito em 1965, por Singelton e Rossi, foi desenhado

para determinar o conteúdo total em fenóis de extratos naturais, mas corresponde, de facto, a

uma metodologia para avaliar a atividade antioxidante de composto ou de misturas de

compostos. Nesta metodologia, o reagente do Folin-Ciocalteau, de cor amarela, é oxidado em

meio alcalino por ação de compostos fenólicos reduzidos, promovendo a formação de

compostos de cor azul que podem ser quantificados por espetrofotometria [131].

Preparou-se uma solução “stock” de ácido gálico com a concentração de 587,8 µM

(0,01 g/100 mL), a qual foi utilizada para preparar padrões (0 -14,28 mg/L) e obter uma curva

de calibração.

Como resumido no Anexo F, volumes conhecidos de solução de ácido gálico

(padrões) e das soluções de NHC foram transferidos para tubos de vidro rotulados. A cada um

destes tubos adicionou-se o volume necessário de uma solução metanol:água (1:1, v:v) para

perfazer 1 mL. Os tubos foram agitados em vórtice e, de seguida 1 mL de reagente do Folin-

Ciocalteau (FCR) foi adicionado a cada tubo, os quais foram novamente agitados em vórtice.

Adicionou-se a cada tubo 2 mL de uma solução de Na2CO3 a 25%, as misturas foram agitadas

em vórtice e diluídas pela adição 3 mL de água. Os tubos foram novamente agitados em

vórtice e incubados, durante 30 minutos, à temperatura de 70 ºC utilizando um banho de água

termostatizado. Após arrefecimento à temperatura ambiente, os tubos contendo os padrões e

as amostras foram centrifugadas a 3000 rpm/minutos, durante 5 minutos, usando uma

centrífuga de bancada (Hettich EBA 8S). O sobrenadante de cada tubo foi recolhido e a sua

absorvência avaliada a 750 nm, usando um espectrofotómetro UV-Vis Cary 50.

Page 76: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

48

4.4. Avaliação da ação protetora dos NHC face ao stresse oxidativo induzido por

agentes externos

4.4.1. Conteúdo total de tióis

O conteúdo total de tióis presente em amostras biológicas foi determinado pelo

método colorimétrico de Ellman, 1959, com algumas modificações. De acordo com este

método, os grupos sulfridilo (-SH) das proteínas e do glutatião (GSH) reagem com o ácido

5,5’-ditiobis-(2-nitrobenzóico) (DTNB) originando um derivado de cor amarela, com um

máximo de absorção a 412 nm, o qual pode ser quantificado espectrofotometricamente [132].

Para determinar se os NHC apresentam a capacidade de proteger as amostras

biológicas de processos oxidativos, homogeneizados de fígado de murganhos foram oxidados

pela adição do par ascorbato/ Fe+2 na ausência e na presença de NHC, antes da determinação

do conteúdo total em tióis.

Assim, preparou-se uma série de tubos, adicionando 0,5 mg de proteína de

homogeneizado de fígado de murganhos dispersos em 500 uL de tampão de homogeneização

(tampão fosfato 10 mM, KCL 50 mM, pH = 7,20) e volumes crescentes de solução de NHC

(0 - 1000 uL) para obter as concentrações indicadas nas Figuras apresentadas no capítulo dos

resultados. O volume dos tubos foi equilibrado com tampão usado na síntese dos NHC e as

misturas agitadas, a velocidade constante, numa placa de agitação durante 5 minutos para

promover a interação dos NHC com as membranas biológicas e organelos citoplasmáticos

presentes no homogeneizado de fígado.

Após o período de incubação, 50 μL de uma solução de 50 mM Fe+2 e 50 μL de uma

solução de 100 mM ascorbato foi adicionada a cada tubo para induzir o processo oxidativo.

As misturas foram incubadas, à temperatura ambiente, durante 2 horas sob agitação constante

numa placa de agitação do tipo vaivém. Em paralelo, preparou-se um controlo negativo

contendo 0,5 mg de proteína de homogeneizado de fígado em 500 uL de homogeneização,

tampão utilizado na síntese dos NHC, mas sem indutor de oxidação e outro controlo negativo

sem amostra biológica, mas com o tampão de homogeneização e indutor de oxidação. Estes

controlos foram submetidos a tratamento similar às amostras.

Após o período, adicionaram-se 100 μL de DTNB e tampão fosfato (100 mM

KH2PO4, 5 mM EDTA, pH = 8), para perfazer um volume final de 2,5 mL. Em simultâneo,

preparou-se uma série de padrões de cisteína (0 a 6 μM) em 2,4 mL de tampão fosfato aos

quais se adicionou 100 μL de DTNB. As misturas foram homogeneizadas em vórtice e

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III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

49

incubadas durante 15 minutos, no escuro, à temperatura ambiente. Após incubação, as

absorvências das amostras e padrões de cisteína foram avaliadas a 412 nm, num

espectrofotómetro UV-Vis Cary 50, utilizando como “branco” o padrão 0 μM de cisteína. O

conteúdo total de tióis foi determinado a partir da curva padrão de cisteína e expresso em

nmoles de grupos SH por mg de proteína.

Adicionalmente, realizou-se um segundo ensaio para avaliar a capacidade dos NHC

em reduzir a glutationa oxidada (GSSG). Assim, preparou-se uma serie de tubos adicionando

62,5 μL de uma solução de GSSG 1 mM a 437,5 uL de tampão de homogeneização (tampão

fosfato 10 mM, KCL 50 mM, pH = 7,20) e volume crescentes de solução de NHC (0 - 1000

uL) para obter as concentrações indicadas nas Figuras apresentadas no capítulo dos

resultados. O volume dos tubos foi equilibrado com o tampão usado na síntese dos NHC e as

misturas agitadas, a velocidade constante, numa placa de agitação durante duas horas. Após o

período, adicionaram-se 100 μL de DTNB e tampão fosfato (100 mM KH2PO4, 5 mM EDTA,

pH = 8), para perfazer um volume final de 2,5 mL. Utilizando a curva de calibração do ensaio

anterior, determinou-se a quantidade de grupos sulfridilo que se formaram expressos em

pmoles.

4.4.2. Ensaio com cis-parinárico

O ácido 9,11,13,15-octadecatetraenóico, também conhecido como ácido cis-

parinárico, é uma molécula que quando incorporada nas membranas biológicas expressa

fluorescência devido às quatro ligações duplas conjugadas que possui. Estas 4 ligações duplas

quando sofrem oxidação promovem uma perda das propriedades fluorescentes da molécula,

sendo por isso um bom indicador das etapas iniciais da oxidação lipídica. Assim, a oxidação

da sonda pode ser observada espectrofluorimetricamente, registando-se a diminuição da

intensidade de fluorescência da sonda incorporada em membranas biológicas, como por

exemplo as das mitocôndrias, à medida que ocorre a sua oxidação [133]. Para avaliar a ação

protetora dos NHC na oxidação lipídica utilizaram-se mitocôndrias de murganho e tert-butil-

hidroperóxido (tBHP) como agente indutor da oxidação.

Numa célula de quartzo adicionaram-se 2,5 mL de tampão (KCl 50 mM, Hepes 5 mM,

pH 7,2) e 0,5 mg de proteína mitocondrial, utilizado como referência ou zero do

espectrofluorímetro. De seguida, adicionou-se 4 μL de uma solução concentrada de cis-

parinárico (1,5 μM), a mistura foi incubada sob agitação magnética durante 5 minutos, à

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III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

50

temperatura de 25 ºC, para promover a incorporação da sonda nas membranas mitocondriais

antes de se iniciar o registo. Um minuto após o início do registo, iniciou-se o processo

oxidativo pela adição de 25 μL de tBHP a 70% (Sigma Chemical Co.) e registou-se o

decréscimo da intensidade da fluorescência num espectrofluorímetro Varian Cary Eclipse,

durante 10 minutos. O comprimento de onda de excitação foi fixado a 324 nm e a emissão foi

detetada a 413 nm com a largura de bandas de excitação e emissão fixas a 5 nm. Para a

avaliação do efeito dos NHC efetuaram-se ensaios usando um procedimento semelhante,

adicionando concentrações crescentes de NHC após a adição das mitocôndrias e antes de se

“fazer o zero”.

Para comparação dos resultados, a intensidade de fluorescência foi normalizada

(F/F0), considerando-se unitária a intensidade de fluorescência no momento da adição do

tBHP.

5. Ensaios in vitro

5.1. Cultura de linhas celulares

No presente estudo utilizaram-se duas linhas celulares tumorais humanas provenientes

de tecidos distintos, nomeadamente: AGS proveniente de carcinoma gástrico (Sigma-Aldrich,

St. Louis, MO, EUA) e SH-SY5Y proveniente de neuroblastoma (Sigma-Aldrich, St. Louis,

MO, EUA). Ambas as linhas celulares foram cultivadas em frascos de 75 cm2 contendo meio

DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle Medium) enriquecido com glutamina (GIBCO®

DMEM+GlutaMAX™) e suplementado com 1% de estreptomicina/penicilina e 10% de soro

bovino fetal (Gibco®), mantidos a 37 °C numa incubadora com 5% de dióxido de carbono e

atmosfera com humidade controlada. Quando as culturas de células atingiram uma

confluência de, cerca de, 80% o meio foi removido e as células lavadas com a solução salina

HBSS (Hank’s buffered salt solution) (GIBCO®). As células aderentes ao fundo dos frascos

foram retiradas pela adição de 2 mL de uma solução de tripsina/ácido etilenodiamino tetra-

acético (EDTA) a 0,25%. As células tripsinizadas foram recolhidas com meio de cultura (5

mL) e centrifugadas (ThermoFisher Scientific, Osterode am Harz, Alemanha) a 1500 rpm

durante 4 min à temperatura ambiente. O sobrenadante foi rejeitado e o pellet ressuspendido

em 4 mL de meio de cultura. A partir das suspensões celulares obtidas, procedeu-se a uma

diluição na proporção de 1:10 com uma solução de azul tripano 0,4 % (v/v) e após um minuto

de incubação para o corante penetrar nas células com a membrana fragilizada, a densidade

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III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

51

celular na suspensão foi determinada por microscopia ótica utilizando uma câmara de

Neubauer.

Para a realização dos ensaios de citotoxicidade dos nanomateriais bem como para a

avaliação do potencial efeito protetor no stresse oxidativo induzido por tert-butil-

hidroperóxido, as células foram semeadas (em DMEM+GlutaMAX) em microplacas de 96

poços a uma densidade celular de 15 000 células por poço no caso das células AGS e 30 000

células por poço para as células SH-SY5Y.

5.1.1. Determinação da viabilidade celular

Na maioria das investigações celulares, a determinação da contagem de células e a

avaliação da viabilidade celular é essencial. Assim, foram desenvolvidos diversos métodos,

tais como, métodos que se baseiam na integridade da membrana, na atividade metabólica, na

taxa de proliferação ou no conteúdo de proteína da população de células [134]. O teste ideal

para avaliar a proliferação celular in vitro e citotoxicidade deve ser uma medição simples,

rápida, eficiente, confiável, sensível, segura e rentável da viabilidade celular e que não

interfira com o composto em estudo [135].

Para os estudos de viabilidade e citotoxicidade celular, recorreu-se a dois testes: o

ensaio do azul de tetrazólio, MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il) -2,5-difeniltetrazólio)

e o ensaio de avaliação da integridade membranar: libertação da Lactato desidrogenase (LDH)

para o meio de cultura.

5.1.1.1. Ensaio com o MTT

O ensaio com o MTT baseia-se na capacidade das células viáveis, com equilíbrio

oxidação-redução adequado, reduzirem o brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il) -2,5-

difeniltetrazólio (MTT). O MTT de cor amarela entra nas células e é reduzido pelas enzimas

dependentes do NADPH (e/ou do NADH) a formas insolúveis de formazan, de cor violeta, os

quais só podem ser excretados das células pela via exocitótica. Portanto, trata-se de um teste

que mede a capacidade metabólica geral das células, sendo também utilizado como medida da

viabilidade celular. Todavia, para solubilizar os cristais de formazan é necessário matar as

células, pelo que é um ensaio de fim de linha [136].

As células semeadas nas placas de 96 poços foram incubadas, a 37 °C, numa

atmosfera com 5% de dióxido de carbono, durante 24 horas para promover a sua adesão ao

Page 80: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

52

fundo das placas. Após este período de tempo, o meio de cultura das células foi removido e

substituído por novo meio de cultura suplementado com concentrações crescentes de

nanomateriais, como indicado nas Figuras.

Em cada placa, cada concentração de nanomaterial foi testada em triplicado (série de

três poços) e corresponde apenas a 1 n. Após 24 horas de incubação com os nanomateriais, o

meio das células foi removido para retirar os nanomateriais que não entraram nas células e

substituído por meio de cultura suplementado com 0,5 mg/ml de MTT (100 uL por poço) e, as

placas tapadas foram incubadas por mais um período de 2 horas. Ao fim deste período de

tempo, os cristais de formazan foram solubilizados pela adição de 200 uL de uma solução de

DMSO:isopropanol (3:1, v:v) e homogeneizados por ressuspensões sucessivas com a

micropipeta. A densidade ótica em cada poço foi avaliada em um leitor de microplacas

Multiskan Ascent (Thermo Electron Crporation) a 570 nm. Os dados foram processados com

o Software Ascent, versão 2.6, e expressos em percentagem de um controlo, pela equação (3):

Viabilidade celular (%) = Absorvência das células tratadas

Absorvência das células não tratadas x 100 (3)

5.1.1.2. Avaliação da integridade da membrana plasmática: Atividade da

LDH libertada para o meio de cultura

A lactato desidrogenase (LDH) é uma enzima presente numa grande variedade de

organismos e catalisa a conversão do piruvato a lactato com uma concomitante conversão do

NADH a NAD+. Este ensaio baseia-se na determinação da atividade da LDH no meio

extracelular [136], uma vez que, a redução da viabilidade celular conduz ao aumento da

permeabilidade da membrana citoplasmática das células, e assim à libertação da enzima para

o meio de cultura celular [137].

A atividade da LDH foi determinada seguindo a oxidação do NADH, pela redução da

densidade ótica a 340 nm (espectrofotómetro). Após as células terem sido incubadas com os

nanomateriais, 50 uL de sobrenadante de cada poço foi transferido para uma nova placa para

determinar a LDH extracelular. Em cada placa fez-se um controlo positivo, adicionando uma

solução de lise (Triton X-100 a 1% em tampão fosfato 10 mM, pH=7,0,) a uma série de 6

poços contendo células, mas sem nanomateriais (controlos) para determinar a LDH total ou a

LDH intracelular. Para determinar a LDH intracelular, o meio de cultura destes poços foi

removido e substituído por 100 uL da solução de lise. A placa foi incubada durante 15

Page 81: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

III- Metodologias Experimentais e Técnicas de Caracterização

53

minutos na incubadora antes de se retirar os 50 uL para avaliar a atividade da LDH

intracelular.

A reação foi iniciada pela adição de 200 uL de uma solução contendo NADH 0,3 mM

e 10 mM de piruvato em tampão fosfato 0,05 M (pH 7,4). A atividade da LDH foi avaliada

num leitor de microplacas, registando a redução da densidade ótica a 340 nm resultante da

oxidação do NADH, durante 3 minutos, com aquisição de dados de 10 em 10 segundos. A

atividade da LDH libertada para o meio extracelular foi calculada pela equação (4):

LDH libertada (%) = LDH extracelular

(LDH intracelular+LDH extracelular) x 100 (4)

5.1.2. Avaliação da capacidade dos NHC-o para proteger as células AGS e SH-

SY5Y dos efeitos citotóxicos induzidos pelo tBHP

Para a avaliação do potencial efeito protetor no stresse oxidativo induzido por tert-

butil-hidroperóxido as células AGS e SH-SY5Y foram semeadas nas condições previamente

mencionadas e após um período de 24 horas de incubação (para garantir a adesão das células

ao fundo dos poços), foram submetidas à substituição do meio de cultura por um meio de

cultura suplementado com concentrações crescentes de nanomateriais, como indicado nas

Figuras no capítulo dos resultados. Após este período, o meio de cultura foi removido, para

retirar os NHC-o que ficaram no meio extracelular, e substituído por um meio de cultura

suplementado com 250 μM de tBHP ou por meio de cultura sem indutor de oxidação. As

células foram incubadas durante duas horas e, de seguida, foi avaliada a viabilidade celular

pelo ensaio do MTT, anteriormente descrito.

5.2. Análise estatística

Os dados foram analisados usando o programa GraphPad Prism (versão 6.01) e os

resultados expressos pela média ± erro padrão da média. O teste t-Student foi usado para

determinar diferença significativas entre células tratadas e células não tratadas. O nível de

significância foi fixado com um valor de p<0.05. Os resultados foram obtidos a partir de pelo

menos 4 ensaios independentes no qual cada concentração foi usada em triplicado.

Page 82: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 83: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

___________________________________________________________________________

Capítulo IV

____________________________________

Resultados e Discussão

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento

da doença de Alzheimer: uma nova estratégia

terapêutica

Page 84: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 85: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

57

1. Síntese dos nanomateriais hidrofílicos de carbono

No presente trabalho utilizou-se um processo eletroquímico para sintetizar, a partir da

grafite, duas amostras de NHC: uma, sintetizada numa solução tampão formada por sais

inorgânicos (pH = 7,0), designada por NHC-i e a outra, sintetizada num tampão orgânico (pH

= 6,5), designada por NHC-o. Do ponto de vista macroscópico, a solução de NHC-i

apresenta-se límpida e transparente e sem sinais de partículas de grafite em suspensão, Figura

9A. Por outro lado, a solução de NHC-o apesar de límpida apresenta uma coloração amarelo

claro, Figura 9B, sugerindo uma composição qualitativa e/ou quantitativa distinta da solução

de NHC-i. Após a síntese de ambos os NHC o ânodo de grafite apresenta sinais de desgaste,

ostentando visivelmente um aumento da microporosidade, sem aparentar sinais de expansão

volúmica. Tipicamente, a solução de NHC-i é obtida com uma concentração de carbono total

no intervalo entre 21 a 35 mg de C/L, já a solução de NHC-o é obtida, normalmente, com

uma concentração entre 900 a 1200 mg/L.

Figura 9- Fotografia da solução de NHC-i (A) e NHC-o (B) em cuvete de quartzo.

Durante o processo de polarização galvanostática dos elétrodos observou-se uma forte

evolução do gás tanto no compartimento anódico como no compartimento catódico e

registou-se a evolução do potencial do elétrodo de trabalho (ânodo) e do pH da solução do

compartimento anódico, Figura 10. Os resultados revelam que o potencial ao longo da síntese

é sensivelmente o mesmo em ambas as soluções eletrolíticas, mantendo-se praticamente

Page 86: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

58

constante ao longo da síntese de NHC-o e sofrendo ligeiras oscilações na síntese de NHC-i.

Adicionalmente, observa-se que a solução NHC-i sofre uma acentuada diminuição de pH ao

longo da polarização eletroquímica (pH 5) contrariamente à solução NHC-o (pH 2).

Estes valores de pH sugerem que a capacidade tamponizante da solução de eletrólitos

inorgânicos é inferior à do tampão orgânico.

Figura 10- Evolução do potencial (linha a preto) e do pH (linha a vermelho) ao longo do processo de síntese

eletroquímica galvanostática da solução NHC-o (A) e NHC-i (B).

2. Caracterização dos NHC

2.1. Caracterização morfológica e estrutural

Os nanomateriais foram investigados por microscopia eletrónica de transmissão

(TEM), por microscopia eletrónica de transmissão de alta resolução (HRTEM) e por

microscopia de força atómica (AFM) com objetivo de obter informação quanto à sua estrutura

e a morfologia. Na Figura 11 estão representadas imagens típicas de TEM (a) e HRTEM (b, c)

dos materiais de carbono produzidos em tampão inorgânico. A microscopia eletrónica revela

que as soluções de NHC-i apresentam, maioritariamente, nanomateriais na forma de flocos

que podem atingir algumas centenas de nanómetros de comprimento e uma largura bastante

variável (entre 10 e 100 nm). Estas estruturas desordenadas não serão, provavelmente,

constituídas por carbono grafítico, mas pelos produtos resultante da extensa fragmentação e

oxidação da grafite. Todavia, por HRTEM também se deteta nas soluções NHC-i uma

população de nanopartículas arredondadas com estrutura cristalina e um espaçamento de rede

Page 87: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

59

de 0,223 nm, característico das distâncias interatómicas do grafeno (Anexo G). A partir das

imagens obtidas não foi possível obter dados suficientes para criar histogramas de dimensões,

no entanto, são indicativos de que os NHC-i cristalinos apresentam um diâmetro médio de 7,2

± 3,8 nm.

Figura 11 - Imagens típicas de TEM (a) e de HRTEM (b, c) dos materiais de carbono produzidos no tampão inorgânico (NHC-i).

À semelhança da solução NHC-i, os resultados obtidos por TEM também permitem

concluir que a solução NHC-o contêm maioritariamente nanomateriais na forma de flocos,

Figura 12a. Contudo, tendo em conta o baixo contraste entre estes nanomateriais e a grelha de

formvar é de prever que tenham uma espessura muito menor do que os da solução de NHC-i.

Embora estas estruturas desordenadas não sejam detetadas por HRTEM (a elevada tensão do

feixe eletrónico dificulta ainda mais o contraste de imagem), é possível identificar duas

populações de materiais nanoestruturados com forma e tamanho característico de CDs, Figura

12b-e: uma com partículas de estrutura amorfa e diâmetro médio 28,6 ± 2,8 nm (Figura 12d,

e) e outra com partículas cristalinas de diâmetro médio de 5,2 ± 1,5 nm (Figura 12c, d). As

nanopartículas cristalinas apresentam formas variadas e um espaçamento de rede

maioritariamente de 0,133 nm, típico das distâncias interatómicas do grafeno (Anexo G). As

nanopartículas amorfas apresentam uma forma circular e tendência para formar agregados.

Page 88: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

60

Figura 12- Imagens típicas de TEM (a) e HRTEM (b, c, d, e) dos materiais de carbono produzidos no tampão

orgânico (NHC-o). b, c: estrutura cristalina; d, e: estrutura amorfa. Inset magnification e FFT.

Na Figura 13 estão representadas as imagens típicas de AFM obtidas com os

nanomateriais sintetizados. Na amostra NHC-i observa-se um elevado número de partículas

individuais com espessuras entre 0,5 a 2,0 nm (o equivalente a 1-3 camadas de grafeno) [138].

Também foram detetadas zonas com características de fluído, Figura 13(A) b, que deverão

corresponder a agregados de partículas que, devido à sua forte natureza hidrofílica conseguem

reter moléculas de água do vapor de água da atmosfera. Este fenómeno é frequentemente

observado por AFM em amostras muito hidrofílicas. Nas imagens de AFM dos NHC-o

também se deteta uma elevada quantidade de partículas individuais com espessuras entre 0,5 a

3,5 nm, no entanto, a maioria apresenta espessuras entre 0,5 e 1,2 nm, Figura 13(B) b, o que é

equivalente a 1-2 camadas de grafeno [139-140].

Assim, este método permite a síntese de um conjunto diversificado de nanomateriais

que, numa mesma preparação, reúne domínios desordenados de carbono amorfo com

espessura nanométrica e nanopartículas, em que algumas têm as características típicas de CDs

amorfos e cristalinos.

Page 89: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

61

Figura 13- (A) Imagens típicas de AFM dos materiais de carbono produzidos na presença do tampão inorgânico

(NHC-i) e respetivos perfis de espessuras. (B) Imagem típica de AFM dos materiais de carbono produzidos na presença do tampão orgânico (NHC-o) e respetivo perfil e distribuição de espessuras.

Page 90: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

62

2.2. Caracterização química

A caraterização química dos nanomateriais foi realizada pela técnica de XPS. O XPS é

a técnica adequada para a análise química de nanomateriais de carbono dado que fornece

informações sobre a natureza química dos grupos funcionais à sua superfície [141].

Na figura 14 estão representados os espectros de XPS obtidos para os NHC-i e NHC-

o. Os sinais com maior intensidade correspondem a ligações C=C (Sp2) e a ligações C-C

(sp3). Observa-se em ambas as amostras uma quantidade abundante de grupos que contêm

oxigénio. Em particular o sinal a 286 eV que é atribuído a grupos C-O (hidroxilo e epóxido),

o sinal a 288 eV que corresponde a grupos carbonilo (C=O), que parece contribuir a uma

elevada percentagem do sinal C1s. Por último, o sinal detetado a energias de ligação mais

elevadas (290 eV) foi atribuído à presença de grupos carboxílicos (COOH).

Figura 14- Espectro de XPS dos NHC-i (a) e dos NHC-o (b).

Aparentemente, ambas as amostras apresentam os mesmos sinais relativos aos grupos

funcionais contendo oxigénio. Todavia, detetou-se nos NHC-i um pico que pode ser atribuído

a grupos funcionais com carga negativa (carboxilato, COO-). Observa-se, ainda, que os NHC-

i apresentam uma maior proporção de carbono ligado a grupos funcionais que contêm

oxigênio por carbono total que os NHC-o. Para além disso, parece que os NHC-o apresentam

uma menor razão sp2/sp3 que os NHC-i. Contudo, nos NHC-o detetou-se um sinal -* num

intervalo de energia de ligação superior (290-295 eV) característico do carbono sp2

Page 91: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

63

hibridizado [141-142], o qual não foi detetado no espectro dos NHC-i, sugerindo que os

NHC-o poderão apresentar uma maior razão sp2/sp3 não observável após a desconvulsão do

espectro.

Os resultados mostram que este método de síntese permite a síntese de nanomateriais

com numerosos grupos funcionais contendo oxigénio. A presença de grupos OH e COOH na

superfície dos nanomateriais sintetizados torna-os hidrofílicos e suscetíveis a alteações de pH

[143-144].

2.3. Caracterização ótica

A caracterização ótica das amostras foi efetuada por espectroscopia de absorção no

UV-Visível, entre 200 e 800 nm, e por espectroscopia de fluorescência. A Figura 15 ilustra as

características espectrais dos NHC-i e NHC-o.

Os NHC-i apresentam uma banda de absorção na região ultravioleta, com um pico

bem definido a 230 nm, um ombro a cerca de 300 nm e uma longa cauda que se estende por

toda a região do visível, como mostra o espectro da Figura 15A (a). Por outro lado, os NHC-o

apresentam uma forte absorção na região ultravioleta com dois picos bem definidos: um a 227

e outro 265 nm. Adicionalmente, o espectro de UV-Visível dos NHC-o exibe um ombro, de

pequena intensidade, a 365 nm com uma cauda que se estende até aos 450 nm, Figura 15B

(a), o qual deverá ser responsável pela coloração amarelo claro que apresenta a solução.

Com exceção do ombro a 365 nm exibido pelos NHC-o, os perfis de absorção UV-

Visível dos NHC-i e NHC-o estão de acordo com o descrito na literatura para CDs e GQDs,

os quais são interpretados como resultado de transições eletrónicas n-π* e π-π*. No entanto,

deve-se salientar que a heterogeneidade da estrutura química destes nanomateriais dificulta a

atribuição com segurança das transições eletrónicas associadas aos diferentes picos e ombros

detetados nos espectros. De acordo com a literatura, o pico a 227 exibido pelos NHC-o e o

230 nm exibido pelos NHC-i correspondem a uma transição →* em ligações C=C na

estrutura de grafeno [71, 145]. O pico a 265 nm exibido pelos NHC-o é atribuído a uma

transição n→π* em grupos C=O [146]. O ombro a 300 nm é característico da transição →*

em grupos funcionais contendo oxigénio [145] e a longa cauda que se estende na região do

visível está, normalmente, associada a estados de defeitos [147]. O ombro a 365 nm exibido

pelos NHC-o deve corresponder a uma banda de absorção n-* ou a defeitos na superfície dos

nanomateriais [148-149].

Page 92: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

64

Figura 15- Caracterização ótica dos NHC-i (A) e NHC-o (B). Espectro de absorção UV-Visível (a) e espectros

de excitação e emissão de fluorescência (b).

A emissão de luz a partir de estados eletronicamente excitados por uma substância ou

material tem o nome genérico de luminescência. Considerando a multiplicidade de spin do

estado excitado, distinguem-se duas formas de luminescência: a fosforescência - quando a

emissão de luz ocorre a partir de estados tripletos excitados, e a fluorescência - quando a

emissão de luz ocorre a partir de estados singletos excitados. Ao contrário da fosforescência, a

fluorescência envolve um processo permitido por spin (manutenção da multiplicidade de spin

entre os estados inicial excitado e final fundamental) e ocorre rapidamente (tempo de vida do

estado excitado = 1 -10 ns) por emissão de um fotão [150]. Normalmente, a fluorescência

Page 93: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

65

ocorre em substâncias e materiais com estrutura aromática (isto é: com ligações carbono-

carbono alternadas simples e duplas também designados por sistemas conjugados), sendo por

isso espectável que os NHC também sejam fluorescentes. De facto, os dados da Figura 15

(A)b e (B) b mostram que tanto os NHC-i como os NHC-o são nanomateriais fluorescentes

que emitem luz azul com um máximo a 450 nm quando excitados a 326 e 337 nm,

respetivamente. Para além disso, o espectro de emissão de fluorescência dos NHC-i

apresentam um ombro adicional a 530 nm que corresponde a emissão de luz verde. Estes

resultados estão de acordo os dados referidos na literatura para CDs cuja emissão de

fluorescência ocorre normalmente na região azul ou verde quando excitados por luz

ultravioleta e/ou luz com comprimento de onda na região do visível próximo do ultravioleta

[11].

Os NHC-i exibem o máximo de excitação de fluorescência ao comprimento de onda

onde a absorção UV-visível também é máxima (230 nm), sugerindo que as transições →*

associadas à estrutura de grafeno são também responsáveis pelas propriedades fluorescentes

destes nanomateriais. Por outro lado, os NHC-o não exibem fluorescência quando excitáveis

com luz com o comprimento de onda correspondente aos seus máximos de absorção UV-

visível (i.e. 227 e 265 nm). Este comportamento parece ser comum em CDs e é normalmente

explicado pela existência de dois tipos de cromóforos: uns que emitem luz na região da luz

visível e outros não fluorescentes, que estão relacionados com os diferentes elementos da

estrutura das nanopartículas [151].

Os dados da Figura 15 também permitem calcular o desvio de Stokes () pela

diferença entre o comprimento de onda onde ocorre o máximo de emissão e o comprimento

de onda onde ocorre o máximo de absorção no espectro de excitação de fluorescência. Os

NHC-i exibem um desvio de Stokes () de 124 nm, ligeiramente superior ao dos NHC-o que

é de 113 nm. Todavia, ambos os NHC exibem desvios de stokes elevados, os quais são da

mesma ordem de grandeza dos valores descritos na literatura para CDs e GQDs [152-153].

O rendimento quântico de fluorescência (Ф), razão entre o número de fotões emitidos

e o número de fotões absorvidos, é outro parâmetro fundamental para caracterizar o potencial

de utilização de um dado fluoróforo [125]. Na ausência de tecnologia adequada para

determinar o rendimento quântico de fluorescência absoluto, determinou-se rendimento

quântico de fluorescência relativo, utilizando a molécula sulfato de quinina como referência.

Nestas circunstâncias, os valores obtidos foram muitos baixos: 0,25% para os NHC-i e 1,03%

para os NHC-o. Todavia, estes resultados estão de acordo com a literatura [71, 154-155]. O

Page 94: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

66

rendimento quântico dos CDs e GQDs varia muito, uma vez que os métodos de síntese e os

precursores utilizados influenciam fortemente este parâmetro espectroscópico [14, 28].

Normalmente, os CDs apresentam rendimento quântico baixo (inferior a 10%) devido à

presença de defeitos na rede de carbono que originam estados de energia diferentes dos da

restante estrutura. Por outro lado, os GQDs normalmente apresentam rendimentos quânticos

superiores aos CDs devido à sua maior cristalinidade [12, 64]. É possível aumentar o valor de

rendimento quântico através da passivação das nanopartículas, quer seja feita indiretamente

no procedimento de síntese, quer seja efetuada num passo adicional, ou por redução química

[12, 28, 43]. No entanto, na maioria dos casos, a redução química e a passivação são processo

demorados e implicam a utilização de reagentes tóxicos [43]. Por outro lado, tem sido

reportado que numa mistura heterogénea de nanopartículas, as partículas mais pequenas são

mais fluorescentes que as maiores e assim, a sua separação permite o aumento do rendimento

quântico [143].

Nas Figura 16 (A) e (B) estão representados espectros de emissão de fluorescência de

NHC-i e NHC-o, respetivamente, adquiridos com incrementos sucessivos de 20 nm no

comprimento de onda de excitação. Os dados da Figura 16 (A) mostram que o espectro de

emissão de fluorescência dos NHC-i é dependente do comprimento de onda da luz de

excitação. Por exemplo, quando os NHC-i são excitados a luz de 230 nm detetam-se dois

picos: um, de baixa intensidade, com máximo de emissão a 300 nm (de luz violeta) e outro, de

elevada intensidade, com um máximo de emissão a 450 nm (luz azul). O pico de emissão com

máximo a 300 nm já não é detetado quando a excitação é promovida com luz com

comprimentos de onda igual ou superior a 250 nm. Adicionalmente, com o aumento do

comprimento de onda da luz de excitação, a intensidade do pico de emissão com máximo a

450 nm decresce e surge um novo pico com máximo a 535 nm (luz verde), o qual se torna o

pico principal quando a excitação é efetuada com luz com comprimento igual ou superior a

350 nm. Estes dados salientam a heterogeneidade ótica da solução de NHC-i, sugerindo que

possam coexistir, em solução, 3 populações de nanomateriais/fluoróforos com

comportamentos de fluorescência distintos: uma com emissão discreta na região do

ultravioleta próximo, outra com emissão no azul e uma terceira com emissão na região do

verde.

A Figura 16 (B) mostra que os NHC-o apresentam sempre emissão de fluorescência na

região do azul. O máximo de intensidade de fluorescência ocorre a 450 nm quando a

excitação é fixa a 345 nm. Todavia, o aumento do comprimento de onda da luz de excitação

Page 95: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

67

de 265 para 425 nm afeta não só a intensidade da emissão de fluorescência dos NHC-o como

promove um desvio progressivo para o vermelho (maiores comprimentos de onda) do seu

espectro de fluorescência. A dependência da emissão de fluorescência com o comprimento de

onda da luz de excitação é muito comum em CDs e GQDs [153-154, 156-157] e parece estar

relacionado com distribuição de diferentes locais emissivos ou com diferentes tamanhos dos

CDs [75, 154]. Para além disso, este comportamento também pode resultar da presença de

múltiplos sistemas de cromóforos/fluoróforos envolvidos na região conjugada e da presença

de grupos funcionais contendo oxigénio [39].

Figura 16- Espectros de emissão de fluorescência dos NHC-i (A) e dos NHC-o (B) registados a diferentes

comprimentos de onda de excitação com incrementos de 20 nm.

3. Caraterização eletroquímica

Uma das hipóteses subjacentes deste projeto é que a utilização de agentes externos

capazes de restaurar o normal estado de oxidação-redução das células é uma estratégia eficaz

para prevenir e/ou retardar a progressão de certas patologias. Assim, a capacidade dos

nanomateriais sintetizados em doar e/ou receber eletrões foi avaliada qualitativamente através

da caracterização das suas propriedades eletroquímicas pela técnica de voltametria cíclica.

Page 96: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

68

3.1. Estudo voltamétrico da solução NHC-i

3.1.1. Avaliação do poder oxidante e redutor da solução

Na caracterização voltamétrica da solução NHC-i (assim como da solução NHC-o)

utilizou-se um elétrodo de carbono impresso (SPE) ao qual se adicionou 50 L da solução

eletrolítica. Tipicamente, o potencial de circuito aberto deste elétrodo numa solução NHC-i é -

0,02 V. Assim, a fim de avaliar o poder redutor e o poder oxidante desta solução, registaram-

se os voltamogramas iniciando, respetivamente, o varrimento no sentido dos potenciais mais

positivos que -0,05 V (sentido anódico) e no sentido dos potencias mais negativos que -0,03

V (sentido catódico), Figura 17. Registaram-se igualmente os voltamogramas numa solução-

branco, ou seja, contendo apenas o tampão inorgânico, ao mesmo pH que a solução NHC-i (

2). Os ensaios voltamétricos foram realizados sob uma atmosfera de árgon, mas num sistema

aberto.

Observa-se que quando se inicia o ensaio pelo varrimento anódico o comportamento

eletroquímico dos NHC-i é caracterizado por um pico de oxidação a 0,253 V (pico Ib), com

um valor de Ep-Ep/2 de 0,059 V, Figura 17B. Este pico está ausente na solução-branco, o que

indica que a solução NHC-i contém espécies químicas com poder redutor, ou seja, com

capacidade de doar eletrões. Contudo, no segundo e sucessivos varrimentos, este pico de

oxidação é praticamente extinto. Este fenómeno está normalmente associado ao bloqueio da

superfície condutora por espécies químicas que resultam do processo oxidativo [158]. No

entanto, esta interpretação não parece ser coerente com o facto de se observar nos sucessivos

varrimentos um pico de oxidação de intensidade crescente a -0,042 V (pico Ia), o qual está

associado a um pico de redução a -0,262 V (pico Ic). As reações redox associadas a estes dois

picos são intrínsecos ao próprio elétrodo de carbono, como se pode concluir pelos

voltamogramas da solução-branco. Assim, embora a deteção do pico de oxidação Ib seja

reveladora da capacidade que a solução tem para doar eletrões, esta é relativamente efémera.

A não deteção deste pico nos sucessivos varrimentos pode estar relacionada com a rápida

oxidação do nanomaterial em contacto com o oxigénio do ar, apesar da corrente de árgon que

cobre a célula eletroquímica (sistema aberto). Com efeito, quando a síntese eletroquímica é

realizada sob atmosfera de ar, sem corrente do gás inerte, o pico torna-se muito menos nítido.

Quando se inicia o varrimento no sentido catódico o comportamento eletroquímico é

caracterizado por um pico de redução a -0,296 V (pico Ic), ao qual está associado um pico de

oxidação a -0,063 V (pico Ia), num processo de elétrodo quasi-reversível, Figura 17A. Este

Page 97: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

69

par redox, à semelhança do que já foi referido, é igualmente observado na solução-branco.

Todavia, na solução NHC-i, o aumento da intensidade dos picos nos varrimentos sucessivos é

muito superior ao observado com a solução-branco. Este aumento gradual de intensidade dos

picos observa-se durante aproximadamente os primeiros cinco voltamogramas, registando-se

posteriormente um valor de corrente constante.

Figura 17- Voltamogramas cíclicos sucessivos de um elétrodo SPE numa solução NHC-i obtida após 1 hora de síntese (A e C) e dos respetivos brancos (B e D). Início do varrimento do potencial no sentido catódico (A, B) e

no sentido anódico (C, D). Voltamograma registado no 1º ao 5º varrimento, =50mV s-1.

A Figura 18 permite realçar a pequena diferença de amplitude da corrente de redução,

no primeiro varrimento, entre a solução NHC-i e a solução-branco. Embora este

comportamento seja indicativo da capacidade oxidante da solução de nanomateriais de

Page 98: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

70

carbono, ou seja, da sua capacidade de receber eletrões, realizaram-se estudos voltamétricos

adicionais (ver 3.1.2) de modo a poder confirmar este fenómeno. Estes resultados

preliminares indiciam que as espécies solúveis de carbono são sintetizadas

electroquimicamente num estado químico passível de serem oxidadas e de serem reduzidas.

Resumindo, estes resultados são indicativos de que a solução NHC-i tanto apresenta

capacidade de doar como de receber eletrões e que qualquer um destes processos ocorre sem

que este seja induzido fotoquimicamente. No entanto, enquanto que a capacidade de receber

eletrões permanece varrimento após varrimento, a capacidade redutora é apenas evidenciada

no primeiro varrimento, provavelmente devido à fraca estabilidade química do nanomaterial

em contacto com o oxigénio. De realçar que todos os estudos voltamétricos foram realizados

numa caixa de Faraday escura, o que significa que as reações de transferência de eletrões não

foram induzidas fotoquimicamente.

Figura 18- Voltamogramas cíclicos do primeiro varrimento no sentido catódico dos NHC-i (linha azul) e do

branco (linha preta) registados após uma hora de síntese, =50mV s-1.

Na literatura são bastantes reduzidos os estudos sobre a capacidade de CDs e GQDs

em doar e receber eletrões [144, 159-160]. Foi observado que CDs funcionalizados com PEG

tanto podem atuar como excelentes doadores como recetores de eletrões, através de um

mecanismo de transferência de eletrões induzido por fotoexcitação [159]. Os resultados deste

trabalho indicam que os CDs possuem a capacidade de transferência de eletrões, mas esta é

dependente de uma fonte de indução externa, tal como a fotoindução. Recentemente, têm

surgido estudos que mostram que os CDs apresentam capacidade de doar e receber eletrões

Page 99: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

71

através da deteção de espécies reduzidas produzidas pela transferência de eletrões a partir dos

CDs [144, 160].

3.1.2. Caracterização voltamétrica do poder oxidante

A fim de melhor caracterizar o poder oxidante da solução NHC-i estudou-se

qualitativamente o efeito de alguns parâmetros experimentais do processo de síntese no

comportamento voltamétrico da solução, nomeadamente, o tempo de síntese e o pH da

solução final. Estudou-se igualmente o efeito de alguns parâmetros associados à

manipulação destes nanomateriais na etapa pós-síntese, designadamente, o efeito de

submeter a solução a um processo de diálise e a estabilidade química ao longo do tempo de

armazenamento. Em todos os ensaios voltamétricos o varrimento de potencial foi,

naturalmente, iniciado no sentido catódico.

3.1.2.1. Efeito do tempo de síntese

Para poder avaliar a evolução das propriedades oxidantes da solução NHC-i ao longo

do tempo de síntese, retiraram-se alíquotas desta solução a diferentes tempos, designadamente

ao fim de 12, 42 e 55 min, mantendo os elétrodos polarizados. Na Figura 19 estão

representados os voltamogramas obtidos com cada amostra recolhida e respetivas soluções-

branco (linha preta), assim como a evolução do potencial e pH ao longo do processo de

síntese galvanostática durante o tempo de síntese.

Embora não seja possível dissociar os dois efeitos que ocorrem simultaneamente

durante o tempo de síntese, designadamente o aumento da concentração de espécies NHC-i e

a diminuição do pH da solução, os resultados voltamétricos são indicativos que no final da

primeira hora de eletrólise há um aumento acentuado da concentração de espécies com poder

oxidante. Com efeito, entre os 42 e os 55 min de síntese observa-se um aumento na

intensidade do pico de redução de aproximadamente 4 vezes, enquanto o pH decresce apenas

de 2,6 para 2,3.

Page 100: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

72

Figura 19- (A-C) Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE em alíquotas de solução recolhida no

compartimento anódico após diferentes tempos de síntese (linha azul) e respetivas solução-branco (linha preta):

12,5 minutos (pH 6,55), 41,7 minutos (pH 2,59) e 55 minutos (pH 2,30). (D) Evolução do potencial e do pH ao

longo do processo de síntese galvanostático. = 50 mV s-1.

Para melhor poder minimizar o efeito do pH no comportamento voltamétrico das

diferentes alíquotas, realizaram-se adicionalmente alguns ensaios experimentais nos quais os

nanomateriais foram sintetizados ao longo de 3 horas, recolhendo-se alíquotas ao fim de 1, 2 e

3 horas e alterando-se, posteriormente, o pH das alíquotas de modo a que todas apresentassem

o pH 2,58. Os voltamogramas das soluções obtidas, Figura 20, apresentam um desvio do pico

de redução para potenciais mais positivos e um aumento da sua intensidade à medida que o

tempo de síntese aumenta. Este comportamento permite confirmar que ao longo do ensaio

electroquímico há um aumento da concentração de espécies com poder oxidante e sugere que

com o aumento do tempo de polarização do eléctrodo há o aumento da capacidade de redução

dos nanomateriais.

Estes resultados são assim indicativos que as espécies solúveis de carbono são

sintetizadas no ânodo na forma oxidada, como seria espectável, aumentando não só a sua

Page 101: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

73

concentração, como a extensão do seu estado de oxidação ao longo do processo de síntese

electroquímica.

Figura 20- Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE em alíquotas de solução recolhida no compartimento

anódico após diferentes tempos de síntese e após ajuste do pH da solução (pH 2,58): 1 hora (linha azul), 2 horas

(linha vermelha) e 3 horas (linha verde). Inclui voltamograma cíclico com solução branca (linha preta). = 50

mV s-1.

3.1.2.2. Efeito do pH da solução

Para melhor compreender o efeito do pH no comportamento voltamétrico da solução

NHC-i, alterou-se progressivamente o pH da solução resultante de 1 hora de síntese e

traçaram-se os voltamogramas após cada ajuste de pH, Figura 21. Registaram-se igualmente

os voltamogramas de soluções-branco (linha preta) contendo apenas o eletrólito do tampão

inorgânico ao mesmo pH da solução NHC-i. Pese embora o efeito do pH no comportamento

voltamétrico da solução-branco seja bastante invulgar, a sua discussão e interpretação está

fora do âmbito deste trabalho. Ainda assim, o comportamento voltamétrico da solução-branco

permite confirmar e realçar que a corrente de redução observada no varrimento catódico na

solução NHC-i seja intrínseca ao nanomaterial de carbono sintetizado.

Constata-se que quando se aumenta o pH de 2,22 para 3,78 não existe desvio do

potencial do pico de redução ou variação na intensidade do pico de redução, o que permite

concluir que o processo de transferência eletrónica associado a este pico não envolve iões H+.

Todavia, a pH 5,75; 6,23 e 9 o nanomaterial de carbono torna-se aparentemente eletro-inativo,

o que não deixa de ser paradoxal.

Page 102: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

74

Figura 21- Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE na solução NHC-i (linha azul) obtida após 1 hora de

síntese após diferentes ajustes de pH: pH 2,22 (A); 2,65 (B); 3,78 (C); 5,75 (D); 6,23 (E) e pH 9 (F) e dos

respetivos brancos (linha preta), = 50 mV/s.

De realçar, particularmente ao longo do varrimento catódico na solução de pH 6,23, a

deteção de finos picos de corrente, alguns com a forma típica de um transiente de corrente.

Pese embora este tipo de picos seja característico de oscilações na tensão de alimentação do

Page 103: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

75

equipamento, foram sistematicamente observados noutros ensaios similares. Permanece a

dúvida sobre a sua verdadeira origem.

De salientar que o comportamento do próprio elétrodo de carbono impresso, no

eletrólito inorgânico utilizado, também se altera com o pH, sendo a utilização deste elétrodo

de carbono um fator limitativo na caracterização voltamétrica da solução NHC-i. Tentou-se

utilizar um elétrodo impresso de platina (Pt) mas observou-se que o pico característico da

redução do óxido de Pt se sobrepunha à corrente de redução do nanomaterial.

3.1.2.3. Avaliação da estabilidade química da solução

Com o objetivo de avaliar a estabilidade química da solução NHC-i, comparou-se o

seu comportamento voltamétrico imediatamente após a síntese e 12 dias após o dia de síntese.

Na Figura 22 utilizou-se o 10º e 8º varrimento, porque a partir do 5º varrimento o valor de

corrente é constante.

Figura 22- Voltamogramas cíclicos dos NHC-i registados no dia de síntese (10º varrimento, linha preta), 12 dias

após síntese (8º varrimento, linha azul) e o branco (6º varrimento, linha verde). = 50 mV/s.

Os resultados são indicativos que o tempo influencia o comportamento eletroquímico

dos NHC-i. As intensidades do pico de redução, como o de oxidação, decrescem

significativamente após os 12 dias de síntese, o que demonstra que a eletroatividade do

nanomaterial diminui. É possível que este fenómeno esteja associado a reações do

Page 104: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

76

nanomaterial com o próprio solvente, ou a rearranjos inter ou intramoleculares, ou

simplesmente a processos de aglomeração das nanopartículas de carbono.

3.1.3. Caracterização voltamétrica do elétrodo SPE modificado com NHC-i

Tipicamente os nanomateriais são caracterizados electroquimicamente num suporte

inerte e condutor e utilizam uma vulgar solução eletrolítica (e.g. NaOH, H2SO4, KCl,

tampão), contendo ou não, uma sonda eletroquímica (e.g. Fe(CN)62-/ Fe(CN)6

3-). Para

depositar o nanomaterial no suporte inerte utiliza-se usualmente o método drop-casting o qual

consiste em colocar uma gota da solução do nanomaterial num elétrodo inerte e em deixar

evaporar completamente o solvente.

Este método foi igualmente aplicado neste trabalho utilizando 150 L da solução

NHC-i dialisada (5,124 µg de Carbono total) para modificar a superfície do elétrodo SPE. A

diálise constitui um processo de separar o nanomaterial de carbono do eletrólito presente no

tampão inorgânico. Durante este procedimento há inevitavelmente uma diminuição do teor de

carbono total da solução pois as nanopartículas com dimensões inferiores ao poro da

membrana utilizada são também removidas. A análise TOC da solução não dialisada e

dialisada apontam para uma perda de aproximadamente 25%. Tipicamente o pH da solução

NHC-i dialisada é quase neutro (6-7).

Os voltamogramas do elétrodo SPE modificado com a solução NHC-i dialisada foram

registados utilizando como solução eletrolítica 50 L de uma solução tampão fosfato a pH 7,

Figura 23. Estes ensaios foram realizados sob atmosfera de árgon, mas num sistema aberto.

Para efeitos de melhor interpretação dos resultados registou-se igualmente o voltamograma do

elétrodo SPE não-modificado, na mesma solução eletrolítica (linha azul). Os resultados

mostram um comportamento eletroquímico caracterizado por dois picos faradáicos muito

afilados, nomeadamente um pico de redução a -0,186 V e um pico de oxidação a 0,215 V, que

são atribuídos ao comportamento redox do nanomaterial NHC-i. A forma destes picos reflete

um potencial de pico muito próximo do potencial de meia-onda (os valores de Ep-Ep/2 são

0,017 e 0,005 V, respetivamente), o que sugere um processo de transferência eletrónica muito

rápido [142], à semelhança dos processos de voltametria de redissolução (stripping

voltammetry). No segundo varrimento observa-se uma diminuição acentuada da intensidade

destes picos acompanhada de um desvio do pico de redução para valores mais positivos (-

0,118 V) e de um desvio do pico de oxidação para valores mais negativos (0,203 V). Nos

Page 105: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

77

varrimentos seguintes este par de picos acaba por desaparecer e simultaneamente observa-se o

aparecimento de um pico de oxidação largo, mas de baixa intensidade a -0,013 V (IIc).

Os resultados obtidos são coerentes com os obtidos anteriormente (Figura 17), no

sentido em que confirmam a presença de grupos funcionais passíveis de serem reduzidos na

solução NHC-i, assim como a presença de grupos funcionais passíveis de serem oxidados. De

salientar que o potencial do pico de redução IIb sofreu um desvio positivo de

aproximadamente 100 mV, face ao observado com a solução NHC-i não dialisada (Figura

17A). A diminuição do sobrepotencial é indicativa de que a cinética do processo de

transferência eletrónica no nanomaterial dialisado melhora face ao nanomaterial misturado

com o eletrólito inorgânico. O mesmo se observa relativamente ao pico de oxidação IIa. Pese

embora não se tenha realizado um ensaio voltamétrico com varrimento inicial do potencial no

sentido anódico, a deteção do pico a 0,215 V, é consistente com os resultados obtidos com a

solução não dialisada, na qual também se detetou no primeiro varrimento de potencial um

pico de oxidação a 0,253 V (pico Ib), indicativo do poder redutor do nanomaterial. Neste caso,

a diminuição do sobrepotencial reflete-se num desvio de potencial de 38 mV.

Figura 23- (A) Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE (linha azul) e de um elétrodo SPE modificado com

solução NHC-i dialisada (linha vermelha), numa solução tampão fosfato pH 7. (B) Voltamogramas cíclicos

sucessivos do elétrodo SPE modificado (1º varrimento- linha vermelha; 2º - linha azul). = 50 mV s-1.

Curiosamente, o pico IIc surge na forma de um pico alargado, detetável apenas a partir

do segundo varrimento, o que permite confirmar que corresponde a um processo que não

envolve diretamente nenhum grupo funcional inicialmente presente no nanomaterial. Este

resultado atesta a hipótese de este pico resultar de um processo electródico de uma espécie

Page 106: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

78

que apenas está presente em solução, provavelmente resultante da redissolução do próprio

nanomaterial (na forma reduzida) na solução aquosa (Figura 17).

Estes resultados contrastam com os obtidos por Lim e colaboradores, os quais

caracterizaram voltametricamente GQDs e CDs depositados na superfície de um elétrodo de

grafite pirolítica de plano basal (BPPG). Para esse efeito, os autores utilizaram como solução

eletrolítica um tampão fosfato 50 mM de pH 7,2. Observaram que os CDs apresentavam um

pico de oxidação a aproximadamente 0,4 V e um pico de redução a cerca de -0,5 V. Nos

GQDs não observaram nenhum pico [15].

Tendo em conta o objetivo inicial deste trabalho de investigação, o conjunto de

resultados voltamétricos obtidos com NHC-i permite concluir que este nanomaterial apresenta

propriedades redox que são, à partida, compatíveis com a nova proposta terapêutica para a

doença de Alzheimer, ou seja, potencial de redução (-0,26 V), potencial de oxidação (-0,06 V)

e quasi- reversibilidade de oxidação-redução, onde opera o segmento NADH-complexo III da

cadeia respiratória (-0,49 a 0,01 V vs Ag/AgCl). Assim sendo, de acordo com estas

propriedades redox é expectável que este nanomaterial consiga ultrapassar as disfunções ao

nível do complexo I, promovendo na fase aquosa a oxidação do NADH e a posterior entrega

dos eletrões ao nível no complexo III da cadeia respiratória.

3.2. Estudo voltamétrico da solução NHC-o

3.2.1. Avaliação do poder oxidante e redutor de NHC-o

À semelhança do estudo realizado com a solução NHC-i, o poder redutor e oxidante

da solução NHC-o foi avaliado com base no comportamento voltamétrico da solução com um

elétrodo impresso de carbono (SPE). Tipicamente o potencial de circuito aberto do sistema

SPE/sol. NHC-o é -0,10 V. Assim, o poder redutor do nanomaterial, ou seja, a sua capacidade

para doar eletrões, foi avaliada varrendo inicialmente o potencial para valores mais positivos

que o potencial de circuito aberto, Figura 24B. Por conseguinte, o poder oxidante, ou seja, a

sua capacidade para receber eletrões, foi avaliada varrendo o potencial para valores mais

negativos que -0,12 V, Figura 24A. Registaram-se igualmente os voltamogramas numa

solução-branco, contendo apenas o tampão orgânico, ao mesmo pH que a solução NHC-o (pH

4,3).

A Figura 24 revela que quando o varrimento de potencial é iniciado no sentido

anódico o comportamento eletroquímico dos NHC-o é caracterizado por um pico de oxidação

Page 107: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

79

largo (Ep-Ep/2 = 71 mV), centrado a 0,300 V. Todavia, se o varrimento de potencial é iniciado

no sentido catódico, não se observa qualquer pico de redução até ao limite catódico de -0,5 V.

Quando se alarga a janela de potencial até -1,5 V, deteta-se um pico de redução a cerca de -

0,730 V, característico do próprio elétrodo de trabalho, Figura 24C.

Figura 24- Voltamogramas cíclicos sucessivos do elétrodo SPE numa solução NHC-o (obtida após 1 hora de

síntese) e respetivos brancos (linha castanha a tracejado). Início do varrimento do potencial no sentido catódico

(A) e no sentido anódico (B)). Início do varrimento no sentido anódico com janela de potencial alargada até -1,5

V (C). =50mV s-1.

Contrariamente ao observado com a solução NHC-i (ver 3.1.1), a intensidade do pico

de oxidação diminui aproximadamente 25% do primeiro para o segundo varrimento, mas

permanece quase constante nos sucessivos varrimentos. Este tipo de comportamento revela,

por um lado, a capacidade de doação de eletrões do NHC-o, indicativo de que o nanomaterial

é sintetizado na forma reduzida, e por outro lado, a elevada capacidade de difusão do

Page 108: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

80

nanomaterial, tanto na forma reduzida, como na forma oxidada. Estas duas características

tornam este material potencialmente atraente para aplicações biomédicas, e indiciam o seu

cariz antioxidante. Esta descoberta conduziu ao trabalho de investigação que é apresentado na

secção 4. De salientar que a sistemática caracterização eletroquímica da solução gerada

electroquimicamente pelo uso deste tampão orgânico permitiu inferir sobre a elevada

reprodutibilidade do método de síntese eletroquímica. Tipicamente, o pico de oxidação tem

uma carga de 25,6 ± 0,5 µC (resultado obtido a partir de 14 ensaios independentes).

Conclui-se a partir do conjunto de resultados voltamétricos obtidos com a solução

NHC-i e NHC-o que é possível modelar as propriedades redox dos nanomateriais de carbono

a partir da variação da composição química do eletrólito utilizado na síntese eletroquímica.

Esta descoberta abre inovadoras e excitantes perspetivas de aplicação na área da medicina,

farmácia e cosméticos, entre outras.

3.2.2. Efeito do pH da solução

Para melhor compreender o mecanismo de transferência de eletrões que envolve o

novo nanomaterial de carbono, NHC-o, e avaliar simultaneamente o pH que mais potencia as

suas propriedades redutoras, estudou-se o comportamento voltamétrico da solução NHC-o a

diferentes valores de pH. Para esse feito, o pH da solução recolhida após a síntese

eletroquímica (pH inicial 4,3) foi ajustado com uma solução diluída de H2SO4 ou de NaOH.

Os resultados, Figura 25A e Figura 25B, mostram que tanto a diminuição como o aumento do

pH provocam uma diminuição acentuada da intensidade do pico e um desvio do mesmo para

potenciais mais positivos, o que significa que conduzem a uma diminuição da velocidade de

transferência eletrónica. Este comportamento é igualmente ilustrado pela representação

gráfica do Epa e do Ipa em função do pH, Figura 25C, onde é possível reconhecer um ponto de

inflexão a valores de pH entre 4 e 5.

O facto do aumento do pH (entre 1,5 e 4,3) conduzir a um aumento do potencial, e

simultaneamente à diminuição da corrente do pico de oxidação, é consistente com um

mecanismo de transferência eletrónica que envolve previamente um equilíbrio ácido-base em

que a forma protonada é menos eletroactiva que a forma ionizada [161]. Nessas condições, é

plausível admitir que o pH que maximiza a velocidade de transferência eletrónica é o pKa

desse equilíbrio. A partir da relação linear entre o potencial e o pH obtêm-se declives de -

0,072 e 0,083 V por unidade de pH, o que indica que a reação eletroquímica envolve

aproximadamente o mesmo número de eletrões e protões ( 1,2 eletrões por H+).

Page 109: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

81

Figura 25- (A e B) Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE numa solução NHC-o obtida após 1 hora de

síntese, após diferentes ajustes do pH. (B) Gráfico de Ip e Ep em função do pH. = 50 mV s-1.

Assim, admitindo que a dependência do pH pode ser atribuída à ionização de grupos

funcionais com pKa próximo de 4, procurou-se investigar, a partir dos resultados XPS, o tipo

de grupos funcionais orgânicos que poderiam ser responsáveis pelo comportamento

observado. Dos grupos funcionais que foram identificados por XPS, os grupos carboxílicos

podem apresentar um valor de pKa de aproximadamente 4, no entanto, é sabido que os ácidos

carboxílicos e os carboxilatos são electroquimicamente inativos a não ser que sejam utilizados

ânodos à base de iridio ou diamante [162]. Pese embora os compostos fenólicos e fenolatos

possam ser oxidados electroquimicamente, e tenham sido detetados grupos OH, o pKa destes

grupos funcionais é usualmente 8-9, o que não é compatível com os resultados obtidos. Uma

possível interpretação dos resultados obtidos tem por hipótese que os nanomateriais de

carbono são sintetizados na forma de radicais fenoxilo e que a estabilidade destes radicais é

anormalmente elevada, sendo oxidados electroquimicamente a grupos quinona, o que está de

Page 110: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

82

acordo com a reação de 1 e- por 1 H+ e com o pKa 4. Todavia, para confirmar esta hipótese

seria necessário suporte adicional de outras técnicas tais como espectroscopia de ressonância

de spin eletrónico (ESR) ou espectroscopia de ressonância eletrónica paramagnética (EPR).

3.2.3. Efeito da velocidade de varrimento

Dada a elevada reprodutibilidade dos resultados voltamétricos, e a não atividade

eletroquímica da solução-branco, foi possível realizar alguns estudos que não chegaram a ser

efetuados com a solução NHC-i, nomeadamente a avaliação do efeito da velocidade de

varrimento.

Para estudar este efeito selecionaram-se as seguintes velocidades de varrimento: 50,

100, 150, 200 e 250 mV s-1. Os voltamogramas cíclicos obtidos no primeiro varrimento estão

representados na Figura 26. Observa-se que à medida que se aumenta a velocidade de

varrimento ocorre um aumento na intensidade de corrente do pico de oxidação e um pequeno

deslocamento do potencial do pico para valores mais positivos, típico de um processo

eletródico irreversível. A relação entre a intensidade do pico de oxidação e a raiz quadrada da

velocidade de varrimento é linear (Figura 26 B), o que significa que a reação de elétrodo é

controlada pelo processo de difusão do nanomaterial de carbono.

Figura 26- Voltamogramas cíclicos a diferentes velocidades de varrimento de um elétrodo SPE numa solução

NHC-o.

Apesar da irreversibilidade da reação eletródica, constatou-se que aplicando uma

velocidade de varrimento muito baixa (e.g 5 mV s-1) ou fazendo uma pequena pausa entre

Page 111: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

83

sucessivos varrimentos (3-4 min), obtêm-se voltamogramas exatamente idênticos, ou seja,

com a mesma intensidade do pico de oxidação ao longo dos sucessivos varrimentos. Este

comportamento é muito interessante pois reflete uma elevada capacidade de difusão do

nanomaterial antes e após ter sido oxidado, contrariamente ao que é usualmente observado

com os compostos orgânicos que apresentam capacidade de se oxidarem electroquimicamente

(tipicamente os polifenóis).

3.2.4. Avaliação da estabilidade química da solução

Na Figura 27 está representada uma compilação de voltamogramas que ilustram a

evolução temporal das propriedades eletroquímicas dos NHC-o ao longo de 9 dias. Como

discutido anteriormente para a solução NHC-i, o tempo de armazenamento da solução após a

síntese do nanomaterial NHC-o influencia as suas propriedades redox, neste caso a

capacidade dos nanomateriais se oxidarem. A maior diminuição da atividade do nanomaterial

ocorre nos primeiros dois dias. Após este período, o sistema tende a tornar-se mais estável,

mas significativamente menos eletroactivo. Estes resultados demonstram que, tal como

discutido com a solução NHC-i, devem existir reações ou rearranjos moleculares no período

pós-síntese que são responsáveis pela diminuição de atividade dos NHC-o.

Figura 27- Voltamogramas cíclicos de um elétrodo SPE numa solução NHC-o, registados ao longo de 9 dias

após a síntese. = 50 mV/s.

Page 112: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

84

3.3. Caracterização voltamétrica do elétrodo SPE modificado com NHC-o

Na Figura 28 estão representados os voltamogramas obtidos para os NHC-o após o

processo de diálise, na qual o eletrólito foi removido. Assim, após a diálise colocou-se 50 μL

de amostra sobre o elétrodo impresso de carbono e deixou-se secar sob atmosfera de árgon.

De seguida, adicionou-se 50 μL de tampão fosfato que funciona como eletrólito de suporte.

Os ensaios voltamétricos foram realizados sob atmosfera de árgon, num sistema aberto. Os

resultados, Figura 28, comprovam a presença de um pico de oxidação de elevada intensidade

de corrente quando se inicia o varrimento de potencial no sentido anódico. À semelhança do

que foi observado com o elétrodo SPE modificado com a solução NHC-i dialisada, também

aqui se constata que o pico é muito fino (Ep-Ep/2= 0,007 V) e que surge a um potencial (0,063

V) que é 0,240 V mais negativo que o detetado com a solução não dialisada. Estes resultados

são demonstrativos de que a cinética da reação de transferência eletrónica no NHC-o é

substancialmente favorecida na ausência do tampão orgânico e confirmam uma vez mais que

o pico de oxidação detetado na solução não dialisada é exclusivamente atribuído ao

nanomaterial de carbono.

Quando o potencial é inicialmente varrido no sentido catódico, Figura 28B, observa-se

ainda um pequeno pico de redução a cerca de -0,09 V e algum ruído na janela de potencial -

0,17 a -0,45 V. Este ruído surge sistematicamente apenas na zona de potenciais mais

catódicos e é aparentemente intrínseco ao nanomaterial. A deteção do pequeno pico de

redução revela que o nanomaterial tem alguma (mas pouca) capacidade de se reduzir. Nos

sucessivos varrimentos a intensidade do pico de oxidação diminui, mas apenas ligeiramente,

desde que o limite catódico se mantenha menor ou igual que -0,45 V. Este comportamento

está associado ao facto de surgir um segundo pico de redução, a cerca de -0,40 V que deverá

corresponder à redução do produto formado no varrimento anódico. Isto significa que a

reação de elétrodo é quasi-reversível. Muito provavelmente, na voltametria da solução não

dialisada de NHC-o o pico de redução encontra-se desviado para potenciais de redução mais

negativos, sobrepondo-se a uma corrente de redução intrínseca ao próprio elétrodo,

aparentando uma falsa irreversibilidade da reação.

Em súmula, a solução NHC-o apresenta propriedades redox distintos dos da solução

NHC-i, apresentando maioritariamente o nanomaterial na forma reduzida (provavelmente na

forma de sequinona), o que significa que tem um elevado potencial para preservar, ou repor

em caso de doenças como a doença de Alzheimer, o ambiente redutor nas células, o que é

Page 113: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

85

fundamental para em situações de stresse oxidativo evitar a oxidação de DNA, proteínas e

lípidos.

Figura 28- (A) Voltamogramas cíclicos, iniciados no sentido anódico, de um elétrodo SPE (linha vermelha) e de

um elétrodo SPE modificado com solução NHC-o dialisada (linha preta - 1º varrimento; linha azul- 2º

varrimento), numa solução tampão fosfato pH 7. (B) Voltamograma cíclico, iniciados no sentido catódico, de um

elétrodo SPE modificado com solução NHC-o dialisada, numa solução tampão fosfato pH 7. = 50 mV/s.

4. Caracterização das propriedades antioxidantes e da interação com os meios

biológicos

Uma vez que a caracterização eletroquímica dos nanomateriais sintetizados revela que

estes têm poder redutor, procedeu-se à avaliação da sua atividade antioxidante.

4.1. Métodos Químicos

4.1.1. Ensaio com o radical DPPH

O método do radical DPPH• é um método muito utilizado na avaliação da capacidade

antioxidante de um determinado composto, ou de uma mistura de compostos, dado que

permite avaliar a capacidade anti-radicalar da amostra a ser testada. O DPPH• apresenta uma

forte coloração roxa com um máximo de absorvência a 517 nm. Quando este recebe um

átomo de hidrogénio de um agente redutor (substância com propriedades antioxidantes)

transforma-se numa molécula de cor amarela. Assim, através do registo da variação de

absorvência utilizando diferentes concentrações do composto é possível determinar a

percentagem de supressão que traduz a capacidade anti-radicalar total da amostra [128].

Page 114: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

86

Embora os testes de atividade anti-radicalar tenham sido realizados para os dois tipos

de amostras sintetizadas, NHC-i e NHC-o, só serão apresentados os resultados obtidos com a

amostra de NHC-o pois, não foi detetada qualquer atividade antioxidante com a solução de

NHC-i na gama de concentrações entre 0 e 4 mg C/L.

Na Figura 29 está representada a capacidade de concentrações crescentes dos NHC-o

em suprimirem o radical DPPH medida um dia após a síntese, Figura 29A, e quatro dias após

a síntese, Figura 29B. A Figura 29 mostra que a atividade anti-radicalar dos NHC-o é

dependente da concentração. Na avaliação da atividade anti-radicalar 1 dia após síntese, para

um aumento da concentração de 4,9 até 25 mg/L houve um aumento progressivo da atividade

anti-radicalar de 30 até 67%. Baseado na relação linear (y= 0,36048 +2.7515x) estimou-se

que o EC50 é 18,04 mg/L. Já 4 dias após síntese, observou-se que com o aumento da

concentração de 8 até 62 mg/L houve um aumento progressivo da atividade anti-radicalar de

10 até 84% e de acordo com a relação linear (y= -0,14735 + 1,3546x) o EC50 foi estimado em

37,02 mg/L. Estes resultados mostram que estes nanomateriais apresentam atividade anti-

radicalar dependente do tempo, uma vez que, a concentração necessária para inibir 50% dos

radicais passou a ser mais que o dobro (razão entre declives é 2,03).

Figura 29- Atividade anti-radicalar dos NHC-o. Efeito do aumento da concentração de NHC-o na supressão do

radical DPPH. (A) Avaliação feita um dia e (B) quatro dias após síntese. Os segmentos de reta em volta de cada

símbolo representam o desvio padrão.

Com o objetivo de comparar a atividade anti-radicalar dos NHC-o com antioxidantes

de referência, determinou-se o EC50 do trolox e ácido ascórbico (Anexo H). Os valores de

Page 115: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

87

EC50 obtidos foram 8,78 e 0,0097 μM, respetivamente. Admitindo que os NHC-o sintetizados

apresentam uma massa molar de 1800 g/mol (admitindo que os nanomateriais são

constituídos por pelo menos 53 anéis aromáticos e 12 oxigénios com carga negativa) os EC50

obtidos são 10,02 μM e 20,57 μM. Estes resultados mostram que os NHC-o apresentam uma

atividade anti-radicalar comparável com a do Trolox quando avaliada um dia após síntese. No

entanto, apresentam uma atividade radicalar inferior ao ácido ascórbico, uma vez, que o seu

EC50 é muito superior ao EC50 obtido para o ácido ascórbico.

4.1.2. Ensaio com o radical ABTS

O método de descoloração do radical ABTS é outro método muito utilizado na

avaliação da capacidade antioxidante de compostos. O ABTS•+ apresenta uma forte coloração

azul-esverdeada com um máximo de absorvência 734 nm. Este passa de azul-esverdeado a

incolor quando é reduzido por ação de compostos com capacidade de doar eletrões ou

hidrogénios. Assim, através do registo da variação de absorvência em função de diferentes

concentrações de amostra é possível determinar a percentagem de inibição que traduz a

capacidade anti-radicalar total da amostra [129-130].

Na Figura 30 está representada a capacidade de concentrações crescentes dos NHC-o

em suprimir o radical ABTS medida um dia após síntese, Figura 30A, e 4 dias após síntese,

Figura 30B. A Figura 30 mostra que a atividade anti-radicalar em relação ao radical ABTS

dos NHC-o também é dependente da concentração. Na avaliação da atividade anti-radicalar 1

dia após síntese, com o aumento da concentração de 15 até 46 mg/L houve um aumento

progressivo da atividade anti-radicalar de 35 até 92%. Baseado na relação linear (y=3,4379

+2,0321x) estimou-se que o EC50 é 22,91 mg/L. Já 4 dias após síntese, observou-se que com o

aumento da concentração de 9 até 93 mg/L houve um aumento progressivo da atividade anti-

radicalar de 9 até 93% e o EC50 foi estimado em 43,30 mg/L. Tal como observado no ensaio

do radical DPPH também neste ensaio a atividade anti-radicalar é dependente do tempo, uma

vez que, 4 dias após síntese, o EC50 passou quase para o dobro (a razão entre declives é 1,80).

Foi também determinado o EC50 do Trolox e ácido ascórbico (Anexo I). Admitindo

que os NHC-o sintetizados apresentam uma massa molar de 1800 g/mol os EC50 obtidos são

12,73 μM e 24,06 μM. Estes resultados mostram, tal como aconteceu no ensaio do radical

DPPH, que os NHC-o apresentam uma atividade anti-radicalar comparável com o Trolox cujo

EC50 é 11,82 μM quando avaliada um dia após síntese. No entanto, apresentam uma atividade

Page 116: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

88

radicalar inferior ao ácido ascórbico, uma vez, que o seu EC50 é muito superior ao EC50 obtido

para o ácido ascórbico (0,013 μM).

Figura 30- Atividade anti-radicalar dos NHC-o. Efeito do aumento da concentração de NHC-o na supressão do

radical ABTS. (A) Avaliação feita um dia e (B) quatro dias após síntese. Os segmentos de reta em volta de cada

símbolo representam o desvio padrão.

Os resultados obtidos a partir destas metodologias não podem ser comparados entre si

devido a diferenças na natureza química dos radicais, no entanto, observa-se claramente que

os NHC-o apresentam uma elevada atividade antioxidante. Todavia, esta é pouco estável uma

vez que quando avaliada apenas 4 dias após síntese o EC50 duplica. Estes resultados estão de

acordo com os obtidos na caracterização eletroquímica na qual se observou uma diminuição

de aproximadamente 63% da atividade dos NHC-o dois dias após a síntese. (ver 3.2.4).

4.1.3. Ensaio com reagente Folin-Ciocalteau - Conteúdo total em fenóis

O conteúdo total em fenóis foi determinado pelo método de Folin-Ciocalteau e os

resultados expressos em µmol de equivalentes de ácido gálico (EAG) por grama de

nanomaterial. Este método baseia-se numa reação de oxidação entre os compostos redutores

de natureza fenólica e os ácidos fosfotúngstico e fosfomolíbdico presentes no reagente de

Folin-Ciocalteau, em meio alcalino, que origina produtos de cor azul, cuja intensidade de

absorvência a 740-750 nm permite a determinação da concentração das substâncias redutoras

presentes na amostra. [89]. Na realidade, este método permite a determinação da capacidade

redutora da amostra. Neste ensaio, o molibdénio do complexo é reduzido de Mo(VI) a Mo(V)

Page 117: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

89

após a doação de um eletrão por um antioxidante levando à formação dos produtos de cor azul

[163].

Na tabela 4 estão representados os resultados obtidos para os dois tipos de

nanomateriais sintetizados. Obteve-se uma concentração de compostos fenólicos na solução

de NHC-i de 22,799 μmol EAG/g enquanto a concentração de compostos fenólicos na

solução de NHC-o foi de 187,894 μmol EAG/g, o que mostra que a solução de NHC-o

apresenta, claramente, um maior conteúdo de grupos fenóis, e por conseguinte maior

quantidade de espécies oxidáveis. Estes resultados estão de acordo com os obtidos nos ensaios

eletroquímicos.

Tabela 4- Conteúdo total em fenóis dos NHC-i e NHC-o expresso em μmol EAG/g.

Amostra μmol EAG/g

NHC- i 22,799

NHC-o 187,894

Foi ainda comparado o poder redutor dos NHC-o com o de duas moléculas

antioxidantes modelo, o trolox e ácido ascórbico. Para esse efeito, utilizou-se a técnica de

voltametria cíclica e comparou-se os Ep de oxidação.

Figura 31- Voltamogramas cíclicos da solução de NHC-o (linha azul) e dos antioxidantes de referência: trolox

(linha preta) e ácido ascórbico (linha vermelha). = 50 mV/s.

Page 118: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

90

Neste estudo utilizou-se um elétrodo de carbono impresso para cada amostra ao qual

se adicionou 50 µL da solução eletrolítica de NHC-o (405 µM ou 728, 88 µg/mL), trolox (100

µM ou 25,029 µg/mL) e ácido ascórbico (56,77 µM ou 10 µg/mL). Os valores de Ep obtidos

para os NHC-o, trolox e ácido ascórbico foram 0,295; 0,08 e 0,206 V, respetivamente, o que é

indicativo que o poder redutor da solução de NHC-o é comparável com o do ácido ascórbico,

mas menor que o do Trolox.

Existem alguns estudos recentes encontrados na literatura [67, 73-81] na qual foi

avaliada a atividade anti-radicalar de CDs por diferentes métodos. Destes, apenas alguns [73-

77] mostram que os CDs apresentam capacidade de sequestrar radicais pelo ensaio do radical

DPPH, com valores compreendidos entre 40 e 100 mg/L (ver tabela 3). Em comparação com

estes estudos, os NHC-o apresentam, claramente, uma atividade anti-radicalar superior tanto 1

como 4 dias após síntese (18,04 e 37,02 mg/L, respetivamente). De salientar, que num dos

estudos [73] o EC50 obtido foi 15 mg/L, no entanto, os CDs avaliados nesse trabalho foram

sintetizados por um método baseado no tratamento hidrotermal de folhas de coentros e não

foram submetidos a nenhuma etapa posterior de purificação pelo que esta atividade

antioxidante poderá resultar da existência de fitoquímicos residuais.

O mecanismo de ação da atividade antioxidante dos nanomateriais de carbono ainda

está por esclarecer. Bitner e colaboradores [80] sugerem que devido aos domínios da estrutura

grafítica dos nanomateriais de carbono estes exibem a sua atividade antioxidante através de

um mecanismo que envolve a ligação de dois radicais RO• aos carbonos envolvidos em duas

ligações , no que resulta a formação de duas ligações , e consequentemente a neutralização

dos radicais. Assim, os nanomateriais de carbono podem neutralizar muitos radicais em cada

um dos seus domínios de grafite (Figura 32). No entanto, outros autores sugerem que os

nanomateriais de carbono exibem a sua atividade antioxidante através da doação de protões e

eletrões a partir dos grupos funcionais presentes na sua superfície [73, 76].

Figura 32- Mecanismo de aniquilação de radicais num domínio grafítico das nanopartículas de carbono.

Adaptado de [80].

Page 119: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

91

Os resultados obtidos pelos métodos realizados nesta dissertação mostram que,

provavelmente, o mecanismo de ação antioxidante dos NHC-o consiste na doação de eletrões,

o que está de acordo com os resultados obtidos na caracterização eletroquímica (ver 3.2.1), na

qual se observou que estes apresentam uma elevada capacidade em doar eletrões. Contudo, os

nanomateriais podem apresentar atividade antioxidante por mais do que um mecanismo [85],

e, por isso, os NHC-o também poderão expressar a sua atividade antioxidante de sequestro de

radicais por doação de hidrogénios a partir dos grupos funcionais.

4.2. Avaliação da ação protetora dos NHC do stresse oxidativo induzido por agentes

externos

Uma vez que na gama de concentrações utilizadas para os dois tipos de nanomateriais

sintetizados apenas os NHC-o apresentam atividade antioxidante, estes foram então

selecionados para se continuar os estudos.

4.2.1. Conteúdo total de tióis

Tióis é o nome genérico atribuído aos compostos que contêm na sua composição um

grupo SH ligado a um átomo de carbono. Assim, num sistema biológico o conteúdo total de

tióis inclui os grupos SH das proteínas e também pequenas moléculas como o glutatião

reduzido (GSH). Atualmente, os organismos vivem num meio externo oxidante, mas o seu

funcionamento requer um meio intracelular redutor, por isso, as moléculas com grupos tiol

foram selecionadas pela evolução biológica para preservar o ambiente celular redutor,

protegendo as células contra a oxidação [164]. De facto, este tipo de compostos apresenta

atividade antioxidante, incluindo a supressão direta de radicais livres e de outras moléculas

oxidantes, com impacto em diversas vias metabólicas, nos processos de sinalização intra- e

intercelular e na transcrição genética [165]. Por exemplo, a oxidação de grupos tiol livres

numa dada proteína promove a formação de pontes de enxofre que podem promover

alterações na sua estrutura e/ou atividade e afetar a sua capacidade de interação com outras

proteínas [166]. O glutatião (GSH), um tripéptido formado por ácido glutâmico, cisteína e

glicina, é considerado o principal antioxidante endógeno, tipicamente a sua concentração

intracelular varia entre 2 e 10 mM [98]. O GSH é um excelente doador de um H+ e de um

eletrão a partir do grupo tiol do resíduo de cisteína, sendo esta capacidade redutora utilizada

pela enzima glutatião peroxidase para transformar o peróxido de hidrogénio em água ou

Page 120: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

92

hidroperóxidos em álcoois. Nesta reação duas moléculas de GSH são oxidadas formando um

dímero, designado por glutatião oxidado (GSSG). A oxidação do glutatião não é um processo

irreversível podendo ser regenerado à sua forma reduzida por ação da enzima glutatião

redutase (GR). Assim, o glutatião é considerado o principal “tampão redox” da célula e a

razão GSH/GSSG é usada como medida do stresse oxidativo dos sistemas biológicos

(célula/tecido/órgão/organismo).

A capacidade dos NHC-o para protegerem os sistemas biológicos da oxidação

promovida por agentes oxidantes externos (e.g. ascorbato/ Fe+2) foi avaliada pelo conteúdo

total de tióis. Os resultados da Figura 33A mostram que a adição do par ascorbato/Fe+2 aos

homogeneizados de fígado de murganho promove oxidação do sistema biológico, dado que o

conteúdo total em tióis decresce cerca de 20% e esta diferença apresenta significado

estatístico. Os dados da Figura 33 também mostram que os NHC-o são capazes de proteger a

amostra biológica dos efeitos deletérios promovidos pelo agente oxidante. Apesar deste efeito

protetor aumentar linearmente com o aumento da concentração de NHC-o, Figura 33B, os

efeitos só adquirem significado estatístico para concentrações de NHC-o iguais ou superiores

a 224 mg/L. No entanto, para a maior concentração de NHC-o testada, detetou-se que o

conteúdo total em tióis da amostra biológica aumentou cerca de 8% em relação à amostra

biológica que não foi sujeita à ação do agente oxidante.

Figura 33- (A) Conteúdo total em tióis (nmoles/ mg proteína) na ausência e presença de NHC-o, antes e após a

ação do agente oxidante ascorbato/ Fe+2. * Diferente da amostra biológica com p<0,05 # Diferente da amostra

biológica tratada com agente oxidante com p<0,05. (B) Relação linear entre a [NHC-o] mg/L e o conteúdo de

tióis totais (nmoles/ mg proteína).

Page 121: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

93

Estes dados indicam que os NHC-o têm capacidade para proteger as biomoléculas com

grupos SH da oxidação promovida pelo par ascorbato/ferro e sugerem que estes nanomateriais

possam também apresentar a capacidade intrínseca para reduzir as ligações de enxofre (S-S),

regenerando os grupos SH. Assim, realizámos ensaios adicionais para avaliar se, de facto, os

NHC-o têm capacidade para reagir diretamente com o glutatião oxidado, GSSG, regenerando

a sua forma reduzida, GSH. Dado que nos sistemas biológicos esta reação é catalisada pela

enzima GR e utiliza o poder redutor do NADPH [98], os ensaios foram efetuados na ausência

de amostras biológicas e NADPH, adicionando quantidades crescentes de NHC-o a uma

solução aquosa contendo 62,5 nmoles de GSSG. Os dados da Figura 34 mostram que os

NHC-o conseguem reduzir o GSSG a GSH, e que a quantidade de GSH produzido aumenta

linearmente com o aumento da concentração de nanomateriais. Portanto, os NHC-o são

capazes de mimetizar a reação catalisada pela enzima GR sem necessitarem do cofator

NADPH. No entanto, a quantidade de GSH obtida (corresponde apenas a 0,5% do total

adicionado sob a forma de GSSG) é muito baixa quando comparado com as quantidades

biológicas de glutatião, pelo que o contributo deste efeito para a atividade antioxidante

exibido pelos NHC-o deve ser muito limitado.

Figura 34- (A) Quantidade de grupos sulfridilo (-SH) formados pela ação dos NHC-o. (B) Relação linear entre a

concentração de NHC-o mg/L e a quantidade de grupos SH (pmoles).

4.2.2. Ensaio com cis-parinárico

O tert-butil-hidroperóxido (tBHP) induz a oxidação dos lípidos membranares e

provoca danos ao nível das mitocôndrias sendo, por isso, considerado um agente tóxico para

Page 122: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

94

as células [167-168]. Com o objetivo de avaliar se os NHC-o conseguem proteger os lípidos

membranares da oxidação promovida por este agente oxidante fez-se um ensaio incorporando

uma sonda fluorescente, cis-parinárico, em membranas de mitocôndrias. A sonda cis-

parinárico é um ácido gordo com 4 ligações duplas, que perde as suas propriedades de

fluorescência quando oxidado. Assim, o registo da variação da fluorescência ao longo do

tempo resultante da adição de um agente oxidante ao sistema membranar contendo a sonda,

constitui uma medida indireta da oxidação lipídica. A Figura 35 mostra os efeitos de

concentrações crescentes de NHC-o na oxidação lipídica de membranas mitocondriais

induzida pelo tBHP. A adição de tBHP às suspensões mitocondriais com o cis-parinárico

incorporado nas biomembranas promove uma redução da intensidade de fluorescência da

sonda. Os NHC-o reduzem a oxidação da sonda induzida pelo tBHP, pelo que também devem

proteger os lípidos das membranas mitocondriais do efeito oxidativo. Cinco minutos após a

indução da peroxidação, a ação protetora aumenta com o aumento da concentração de

nanomateriais como ilustrado na Figura 35B. Estes resultados são concordantes com os de

Purkayastha e colaboradores [76] que mostraram, pelo ensaio de TBARS, que a incorporação

de CDs (20 e 30 mg de nanomateriais) em películas formadas por um compósito de proteínas

aumenta a capacidade das películas em preservar os alimentos, reduzindo de modo

significativo a taxa de oxidação dos lípidos.

Figura 35- (A) Variação da fluorescência normalizada (F/F0) do ácido cis-parinárico, incorporado em

membranas mitocondriais, em função do tempo antes de depois da adição de tert-butil-hidroperóxido (tBHP), na

ausência e na presença de concentrações crescentes de NHC-o. (B) Percentagem de proteção da oxidação da

sonda (cis-parinárico) conferida pelos NHC-o.

Page 123: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

95

5. Ensaios in vitro com células em cultura

As dimensões nanométricas, as propriedades óticas e o comportamento de

oxidação-redução exibido pelos NHC-o conferem-lhes potencial para aplicações biológicas.

Assim, estendemos os estudos com estes nanomateriais a sistemas celulares com objetivo de

avaliar a sua putativa citotoxicidade e a sua capacidade para proteger as células de efeitos

tóxicos induzidos pelo tert-butil-hidroperóxido. Para o efeito, utilizaram-se duas linhas

celulares tumorais humanas provenientes de tecidos distintos, nomeadamente: AGS

proveniente de carcinoma gástrico e SH-SY5Y proveniente de neuroblastoma. O tBHP foi

escolhido como agente tóxico, uma vez que é um agente oxidante e lesivo da função

mitocondrial que promove a morte celular por apoptose mediada pela via intrínseca

mitocondrial [168-170].

5.1. Citotoxicidade

Com o objetivo de avaliar a putativa citotoxicidade dos NHC-o estudou-se o efeito

de concentrações crescentes de nanomateriais (0-38 mg/L) sobre a viabilidade celular,

considerando um período de incubação de 24 horas. A viabilidade celular foi avaliada pela

redução do MTT e a integridade membranar pela atividade da Lactato desidrogenase libertada

para o meio extracelular. A Figura 36 mostra o efeito do aumento da concentração de NHC-o

na viabilidade de células de adenocarcinoma gástrico humano AGS (A, C) e de células de

neuroblastoma humano SH-SY5Y (B, D), após 24 horas de incubação. Os resultados da

Figura indicam que os NHC-o, na gama de concentrações 0-38 mg/L, não afetam a

viabilidade das células AGS, avaliada pela sua capacidade de reduzir o MTT, Figura 36 A.

Adicionalmente, o ensaio da LDH mostra que os NHC-o não afetam a integridade membranar

das células AGS, Figura 36 C. Os ensaios com a linha celular SH-SY5Y mostram que os

NHC-o não são tóxicos para estas células neuronais e as maiores concentrações testadas (19 e

38 mg/L) aumentam mesmo de um modo significativo a viabilidade celular, como detetado

pelo aumento da redução do MTT e pela redução da percentagem de LDH libertada para o

meio extracelular como consequência da perda de integridade membranar, Figura 36 B, D.

Os dados existentes na literatura referentes à toxicidade de CDs e GQDs em culturas

de células animais mostram que, na maioria das vezes, os CDs e os GQDs não são tóxicos.

Sendo encontrados resultados muito semelhantes aos reportados nesta dissertação utilizando

diversas linhas celulares, e.g. foi observado viabilidade celular perto de 100% até

Page 124: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

96

concentrações de 50 mg/L em células tumorais de cancro da mama MCF-7 após 24 horas de

exposição [39].

Figura 36 - Efeito do aumento da concentração de NHC-o na viabilidade de células de adenocarcinoma gástrico

humano AGS (A, C) e de células de neuroblastoma humano SH-SY5Y (B, D), após 24 horas de incubação. A viabilidade celular foi avaliada pelo método do MTT (A, B) e os resultados estão expressos em percentagem do

controlo (células cultivadas na ausência de nanomateriais) e pela medição da atividade da enzima lactato

desidrogenase (LDH), libertada do citosol de células danificadas (morte com lise da membrana celular) para o

meio extracelular (C, D), como descrito na secção dos métodos. Os resultados correspondem à média ± desvio-

padrão de triplicados de 3 ensaios independentes. * Significativamente diferente do controlo com p <0,05,

utilizando o teste t-Student.

Page 125: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

97

5.2. Avaliação do efeito protetor dos NHC-o no stresse oxidativo induzido por tert-

butil-hidroperóxido em células em cultura

Considerando a atividade antioxidante e a ausência de citotoxicidade exibida pelos

NHC-o (resultados anteriores), pretendeu-se nesta fase do trabalho avaliar o potencial

terapêutico destes nanomateriais, tendo em consideração que o stresse oxidativo é um

mecanismo envolvido em diversas patologias humanas, incluindo as doenças

neurodegenerativas [113]. Com este objetivo em mente, foram avaliados os efeitos protetores

dos NHC-o no stresse oxidativo induzido por um agente oxidante e lesivo da função

mitocondrial, o tBHP.

Para este efeito, as células foram previamente incubadas com concentrações crescentes

de NHC-o (0 a 38 mg/L) durante 24 horas. O meio de cultura foi retirado e substituído por

meio novo suplementado com 250 μM de tBHP. Duas horas após a adição do agente oxidante,

a viabilidade celular foi avaliada pelo ensaio do MTT. Os resultados da Figura 37 mostram

que, na ausência de pré-incubação com os NHC-o, o tBHP reduz a viabilidade das células

AGS em 30%, Figura 37A, e das células SH-SY5Y em 40%, Figura 37B. Adicionalmente, os

NHC-o, na gama de concentrações 9,5-38 mg/L, são capazes de proteger ambas os tipos de

células (AGS e SH-SY5Y) dos efeitos tóxicos induzidos pelo tBHP. Nas células SH-SY5Y, o

efeito protetor aumenta com o aumento da concentração. Nas células AGS, a concentração de

NHC-o que confere maior proteção é a mais baixa que foi utilizada no estudo (9,5 mg/L). De

salientar, que tanto nas células AGS como nas células SH-SY5Y, os efeitos protetores dos

NHC-o apresentam significância estatística. Outro aspeto que deve ser realçado é a gama de

concentrações de nanomateriais que promove proteção contra a toxicidade promovida por um

agente oxidante externo. Considerando uma massa molar média de 1800 g/mol, a

concentração máxima de NHC-o utilizada neste ensaio corresponde a 21,11 μM, a qual é mais

de 11 vezes inferior à concentração do tBHP (250 μM).

Estes resultados também sugerem que os NHC-o devem ser capazes de entrar nas

células e, uma vez no interior das células, suprimirem diretamente os radicais provenientes do

tBHP evitando os efeitos nefastos. De acordo com esta hipótese, os NHC-o poderão funcionar

como uma “esponja de radicais” tal como foi sugerido para outros nanomateriais de carbono,

nomeadamente fulerenos e nanotubos de carbono [102-103]. Num estudo semelhante foi

avaliado o efeito protetor de CDs dopados com azoto contra o stresse oxidativo provocado por

H2O2 (2 mM), utilizando células do carcinoma gástrico humano SGC-7901 e células do

Page 126: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

IV-Resultados e Discussão

98

epitélio do estômago humanas GES-1. Os investigadores detetaram que a viabilidade de

ambas células “tratadas” com H2O2 aumentou na presença dos CDs, o que indica que estes

são capazes de proteger as células do stresse oxidativo induzido pelo H2O2. Os autores

sugerem que estes efeitos resultam do facto dos CDs apresentarem capacidade para suprimir

diretamente os ROS e de estimular a expressão da SOD, aumentando a capacidade das células

se protegerem contra o stresse oxidativo [81].

Figura 37– Avaliação da capacidade dos NHC-o para proteger as células AGS (A) e SH-SY5Y (B) dos efeitos

citotóxicos induzidos por 250 µM de tert-butil-hidroperóxido (tBHP). Os ensaios decorreram nas seguintes

condições: as células foram incubadas com os NHC-o durante 24 horas. Após este período, o meio de cultura foi

removido, para retirar os NHC-o que ficaram no meio extracelular, e substituído por um meio de cultura

suplementado com 250 uM de tBHP (dados à esquerda) ou por meio de cultura sem indutor de oxidação (dados à

direita). As células foram incubadas com o tBHP durante duas horas antes de se avaliar a viabilidade pelo ensaio

do MTT. Os resultados correspondem à média ± desvio-padrão de triplicados de 3 ensaios independentes. *

Significativamente diferente do controlo com p <0,05, utilizando o teste t-Student.

Portanto, como hipótese alternativa ou adicional para explicar os nossos resultados, a

pré-incubação das células AGS e SH-SY5Y com os NHC-o também pode induzir uma

remodelação metabólica em ambos os tipos de células, dotando-as com maior capacidade para

lidar com os efeitos nefastos provocados por agentes oxidantes externos, como tBHP.

Em suma, estes resultados fazem antever um significativo potencial terapêutico dos

NHC-o, abrindo caminho para novas experiências em condições de maior proximidade a

situações patológicas reais, por exemplo utilizando modelos celulares e modelos animais

relevantes para doenças neurodegenerativas, como por exemplo a doença de Alzheimer.

Page 127: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

___________________________________________________________________________

Capítulo V

____________________________________

Conclusões Finais e

Perspetivas Futuras

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento

da doença de Alzheimer: uma nova estratégia

terapêutica

Page 128: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 129: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

V- Conclusões Finais e Perspetivas Futuras

101

A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva e a causa mais

comum de demência, afetando mais de 50 milhões de pessoas no mundo. Atualmente, não

existe qualquer tratamento efetivo para curar, abrandar a progressão ou retardar o

aparecimento da doença. Assim, o desenvolvimento de soluções terapêuticas eficazes para

tratar e/ou prevenir esta patologia constitui um dos mais prementes desafios da investigação

em biomedicina.

Os materiais nanoestruturados de carbono, em geral, e os grafenos, em particular,

apresentam propriedades físico-químicas intrínsecas que lhe conferem um elevado potencial

para aplicações biológicas, incluindo a racionalização de abordagens terapêuticas inovadoras

para a doença de Alzheimer. Foi neste contexto que o presente trabalho se inseriu e se

desenvolveu, sendo guiado por objetivos que se enquadram numa vertente de interesse

fundamental e noutra de carácter mais aplicado.

Dos estudos realizados, destacamos as seguintes conclusões:

1. O procedimento eletroquímico desenvolvido para a síntese de nanomateriais de

carbono a partir da grafite é uma metodologia robusta e eficaz para obter

nanomateriais hidrofílicos de carbono (NHC) em meios aquosos, preparados de forma

a serem totalmente compatíveis com as condições fisiológicas dos sistemas biológicos.

Acresce que as propriedades físico-químicas dos NHC sintetizadas por esta

metodologia são dependentes da composição química da solução aquosa onde ocorre a

sua síntese, pelo que é um processo versátil, rápido e ecológico para produzir

diferentes tipos de NHC. O potencial de aplicação desta metodologia foi ilustrado pela

síntese duas amostras de NHC: uma, sintetizada numa solução aquosa formado por

sais inorgânicos, designada por NHC-i e a outra, sintetizada num tampão aquoso

formado por compostos orgânicos, designada por NHC-o.

2. Nas soluções (suspensões coloidais) de NHC-i coexistem uma população de

nanomateriais com estrutura amorfa, forma de flocos e tamanho entre 10 e 100 nm

com uma população de nanopartículas de grafeno com estrutura cristalina, forma

arredondada e diâmetro médio de 7,2 nm. Nas soluções (suspensões coloidais) de

NHC-o, os nanomateriais com forma de flocos coexistem com duas populações de

nanopartículas: uma com estrutura amorfa e diâmetro médio 28,6 nm e outra com

estrutura cristalinas, diâmetro médio de 5,2 nm e distâncias interatómicas típicas do

grafeno. Em ambas, NHC-i e NHC-o, os átomos de carbono mantêm maioritariamente

Page 130: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

V- Conclusões Finais e Perspetivas Futuras

102

uma hibridização do tipo sp2, sugerindo que a estrutura aromática é predominante,

sendo também detetados vários grupos funcionais contendo oxigénio, nomeadamente:

hidroxilo (C-OH) e carbonilo (C=O). Todavia, os NHC-i apresentam maior razão

sp2/sp3 que os NHC-o e também grupos funcionais com carga negativa (carboxilato,

COO-).

3. Os NHC-i apresentam propriedades óticas distintas dos NHC-o, apesar de ambos

emitirem fluorescência na região do visível e, consequentemente, potencial para serem

usadas em imagiologia de fluorescência.

4. Os NHC-i tanto apresentam capacidade oxidante como redutora. Contudo, a sua

capacidade redutora é relativamente efémera e por isso não apresentam atividade

antioxidante mensurável pelos ensaios tradicionais (e.g. DPPH, ABTS, Folin-

Ciocalteau). Como agente oxidante, revelam um comportamento de oxidação-redução

de quasi-reversibilidade num intervalo de potenciais com grande relevância

bioenergética, compatível com a possível capacidade de oxidar o NADH e, uma vez

na forma reduzida, transferir os eletrões diretamente para o complexo III da cadeia

respiratória mitocondrial. Assim, os NHC-i têm potencial para ultrapassar as

disfunções mitocondriais associadas à perda de atividade do complexo I da cadeia

respiratória, a qual desempenha um papel importante em inúmeras patologias

humanas, incluindo as doenças de Alzheimer e de Parkinson.

5. Os NHC-o são sintetizados na forma reduzida e revelam uma elevada capacidade de

doar eletrões, apresentando por isso uma excelente atividade antioxidante, como

demonstrado pela sua capacidade para suprimir os radicais de DPPH e ABTS e de

proteger os lípidos e as proteínas das mitocôndrias da oxidação induzida por agentes

oxidantes tóxicos (e.g. tert-butil-hidroperóxido, par ascorbato/Fe+2). De facto, estudos

in vitro com mitocôndrias, mostraram que os NHC-o apresentam não só a capacidade

de preservar, em condições de stresse oxidativo, os grupos tiol das biomoléculas (e.g.

proteínas e GSH) na sua forma reduzida como também a de regenerar o GSH a partir

dos seus dímeros oxidados ou GSSG, mimetizando a reação catalisada pela enzima

GR sem necessidade de utilizar o poder redutor do cofator NADPH. Os NHC-o

também não apresentam citotoxicidade na gama de concentração onde apresentam

atividade antioxidante relevante, como demostrado pelos seus efeitos na viabilidade

celular e na integridade da membrana plasmática de duas linhas celulares humanas:

uma neuronal (SH-SY5Y) e outra do epitélio do estômago (AGS). Adicionalmente, os

Page 131: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

V- Conclusões Finais e Perspetivas Futuras

103

NHC-o são capazes de prevenir e remediar os efeitos tóxicos de um agente oxidante

indutor de morte por apoptose e necrose (tert-butil-hidroperóxido), tanto em células do

epitélio do estômago (AGS) como do sistema nervoso (SH-SY5Y). Portanto, os NHC-

o são materiais não tóxicos com atividade antioxidante intrínseca e um elevado

potencial para preservar, ou repor em caso de desequilíbrio patológico como o que

ocorre na doença de Alzheimer, o ambiente redutor nas células nervosas, evitando

assim a oxidação das biomoléculas e a morte prematura das células.

6. A versatilidade dos NHC em combaterem o stresse oxidativo (NHC-o) e ultrapassar as

disfunções mitocondriais associadas ao complexo I (NHC-i), eventos associados à

etiologia e à progressão das doenças de Alzheimer e Parkinson, surge como suporte a

um desafio interessante: explorar, no quadro de prevenção (terapia upstream) e/ou de

tratamento (terapia downstream) das doenças neurodegenerativas, uma intervenção

antioxidante combinada com terapia mitocondrial dirigida ao complexo I,

considerando formulações contendo NHC-i e NHC-o.

7. Considerando o desafio enunciado acima, planeámos já um conjunto de estudos

adicionais envolvendo ensaios in vitro com células e in vivo com modelos animais

para a doença de Alzheimer, que apresentamos na forma de perspetivas futuras.

Assim, pretendemos avaliar a capacidade dos NHC-i e NHC-o individualmente e em

formulações conjuntas para:

i) Evitar/reduzir a toxicidade celular induzida por péptidos de β-amilóide,

responsáveis pela formação das placas senis na doença de Alzheimer, do

glutamato, um neurotransmissor excitatório envolvido no processo

neurodegenerativo, da rotenona, um inibidor específico do complexo I da

cadeia respiratória. (Os ensaios preliminares já efetuados, não incluídos na

presente dissertação, são bastante prometedores);

ii) Atravessar a barreira hematoencefálica considerando diferentes vias de

administração (e.g. intravenosa, nasal, oral);

iii) Evitar, atrasar ou abrandar a progressão do processo neurodegenerativo que os

animais modelo para a doença de Alzheimer (e.g. murganhos 3xTg-AD)

desenvolvem com a idade, designada por “Alzheimer-like pathology”.

Page 132: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
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___________________________________________________________________________

Capítulo VI

____________________________________

Referências Bibliográficas

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento

da doença de Alzheimer: uma nova estratégia

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Page 152: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 153: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

___________________________________________________________________________

Capítulo VII

____________________________________

Anexos

Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento

da doença de Alzheimer: uma nova estratégia

terapêutica

Page 154: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da
Page 155: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

VII- Anexos

127

Anexo A

Coeficiente de absortividade aparente da solução dos NHC-i determinado pelo registo

dos espectros de absorção de um conjunto de soluções resultantes da diluição de uma amostra

de concentração conhecida.

Anexo B

Curva de calibração dos NHC-o preparada partir de medições voltamétricas de um

conjunto de soluções resultantes da diluição de uma amostra fresca de concentração mássica

conhecida.

Page 156: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

VII- Anexos

128

Anexo C

Coeficiente de absortividade aparente da solução dos NHC-o determinado pelo ao

registo dos espectros de absorção de um conjunto de soluções resultantes da diluição de uma

amostra de concentração conhecida.

Anexo D

Método do radical DPPH.

Tabela 5- Volumes adicionados para preparação dos tubos da amostra.

Volume solução DPPH

(µL) Volume de tampão (µL)

Volume de solução de

NHC (µL)

2000 500 0

2000 450 50

2000 425 75

2000 400 100

2000 350 150

2000 325 175

2000 300 200

Page 157: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

VII- Anexos

129

Tabela 6- Volumes adicionados para a preparação dos tubos de Trolox.

Volume solução

DPPH (µL)

Volume de

tampão (µL)

Volume de

solução de Trolox

(µL)

[Trolox] μM

2000 500 0 0

2000 472 28 1,25

2000 443 57 2.5

2000 386 114 5

2000 329 171 7,5

2000 273 227 10

2000 159 341 15

2000 44 456 20

Tabela 7- Volumes adicionados para a preparação dos tubos de ácido ascórbico.

Volume solução

DPPH (µL) Volume de

tampão (µL)

Volume de

solução de ácido

ascórbico (µL)

[ácido ascórbico]

μM

2000 500 0 0

2000 475 25 0,000568

2000 437 63 0,001431

2000 375 125 0,002839

2000 312 188 0,004258

2000 250 250 0,005678

2000 188 312 0,007086

2000 125 375 0,008516

2000 62 438 0,009936

2000 0 500 0,011355

Page 158: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

VII- Anexos

130

Anexo E

Método do radical ABTS.

Tabela 8- Volumes adicionados para preparação dos tubos.

Volume solução ABTS

(µL) Volume de H2O (µL) Volume de amostra (µL)

2000 500 0

2000 450 50

2000 425 75

2000 400 100

2000 350 150

2000 325 175

2000 300 200

Tabela 9- Volumes adicionados para preparação dos tubos de Trolox.

Volume solução

ABTs (µL)

Volume de H2O

(µL)

Volume de

solução de Trolox

(µL)

[Trolox] μM

2000 500 0 0

2000 472 28 1.25

2000 443 57 2.5

2000 386 114 5

2000 329 171 7.5

2000 273 227 10

2000 159 341 15

2000 44 456 20

Page 159: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

VII- Anexos

131

Tabela 10- Volumes adicionados para a preparação dos tubos de ácido ascórbico.

Volume

solução ABTs

(µL)

Volume de

H2O(µL)

Volume de

solução de

ácido

ascórbico

(µL)

[ácido

ascórbico] μM

A partir de

uma solução-

stock

De

0,057 μM

2000 500 0 0

2000 475 25 0,000568

2000 437 63 0,001431

2000 375 125 0,002839

2000 312 188 0,004258

2000 250 250 0,005678

2000 188 312 0,007086

2000 125 375 0,008516

2000 62 438 0,009936

2000 0 500 0,011355

2000 437 63 0,014194

A partir de

uma solução-

stock De

0,57 μM

2000 425 75 0,017033

2000 412 88 0,019872

2000 400 100 0,022710

2000 375 125 0,028388

2000 350 150 0,034066

Page 160: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

VII- Anexos

132

Anexo F

Método de Folin-Ciocalteau.

Tabela 11- Volumes utilizados para a preparação dos padrões e amostras.

Padrões de

ácido

gálico

[mg/L]

Volume de

ácido

gálico (µL)

Volume de

solução

MeOH:H2O

(50:50) (µL)

Volume de

FCR (µL)

Volume de

solução de

Na2CO3 a

25% (μl)

Volume de

H2O

(μl)

0,000 0 1000 1000 2000 3000

1,4286 100 900 1000 2000 3000

3,5714 250 750 1000 2000 3000

7,1429 500 500 1000 2000 3000

14,286 1000 0 1000 2000 3000

Amostra Volume de

amostra (μl)

250 750 1000 2000 3000

500 500 1000 2000 3000

1000 0 1000 2000 3000

Anexo G

Distâncias interatómicas da grafite

Page 161: Nanomateriais hidrofílicos de carbono para o tratamento da

VII- Anexos

133

Anexo H

Atividade anti-radicalar de dois antioxidantes de referência pelo método do radical

DPPH: (A) Trolox e (B) Ácido ascórbico

Anexo I

Atividade anti-radicalar de dois antioxidantes de referência pelo método do radical

ABTS: (A) Trolox e (B) Ácido ascórbico.

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