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Índice . 1. Causos contados pela tia Lúcia: - Quintal das Solteironas página 2 - Vingança de uma Aborrecente página 2 - Um susto página 3 - Brincadeira Inusitada nos caixões página 3 2. Causos contados pelo tio Luiz: - Brincando com os Anjos página 4 - Guerra Doce página 5 - Rapunzel página 5 - Causinhos página 6 3. Causos contados pela tia Sônia - Tchones página 7

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Page 1: Quintal das Solteironas - casafiodeouro.com.br · Índice . 1. Causos contados pela tia Lúcia: - Quintal das Solteironas página 2 - Vingança de uma Aborrecente página 2 - Um susto

Índice .

1. Causos contados pela tia Lúcia:

- Quintal das Solteironas página 2 - Vingança de uma Aborrecente página 2 - Um susto página 3 - Brincadeira Inusitada nos caixões página 3

2. Causos contados pelo tio Luiz:

- Brincando com os Anjos página 4 - Guerra Doce página 5 - Rapunzel página 5 - Causinhos página 6

3. Causos contados pela tia Sônia

- Tchones página 7

Page 2: Quintal das Solteironas - casafiodeouro.com.br · Índice . 1. Causos contados pela tia Lúcia: - Quintal das Solteironas página 2 - Vingança de uma Aborrecente página 2 - Um susto

Quintal das Solteironas Cenário da história: Casa na praça principal da cidade de Araguari

Morávamos num sobrado, em cima da agência do Banco de Crédito Real, onde vô Custódio era gerente. Uma escadaria dava acesso por dentro, à porta da rua e outra escada descia por fora, no corpo do sobrado e dava acesso ao quintal. O mesmo quintal de onde fui içada ao segundo andar por uma corda e que terminou em queda, vertiginosa para mim. Do outro lado do muro do nosso galinheiro, moravam umas solteironas. Elas quase nunca vinham ao quintal. Tio Marcelão chegou até a fazer um esconderijo/caverna bem debaixo da mangueira. Certo dia vim de lá soprando um balãozinho super legal. Ao

ver-me, vó Dulce se assustou e me perguntou onde havia encontrado “aquilo”. Quando respondi ter sido no quintal das solteironas ela riu, tornou-se séria, me deu um tapa na boca e lavou minha boca com sabonete. Eu sabia que tinha feito uma coisa ruim, mas não ousei perguntar. E ai de quem perguntasse! No dia do casamento da tia Sônia e, diga-se de passagem, eu já era casada, alguém colocou algumas coisas no bolso do noivo. Tio Hamilton enfiou a mão para ver o que era e caiu tudo no chão. Céus!!!!!!!!!!! Era “aquilo” Acredite quem quiser. Eu não conhecia camisinha.

Vingança de uma Aborrecente Cenário da história – casa na praça central de Araguari

Ser filha do meio é o mesmo que ser como palha de encaixotar – fica espremida entre todos. Se as coisa eram só para os mais velhos eu era pequena. Se eram só para os pequenos eu era grande. Eu vivia chorando, me aborrecendo e aborrecendo todo mundo. Várias vezes quis fugir de casa. Arrumava uma trouxinha com roupas e me escondia debaixo da escadaria onde permanecia até a fome apertar. Um dia, quando brincávamos no quintal, tramei uma vingança que no mínimo ia provocar a atenção e a compaixão de todos. Uma caixa dágua ficava num quartinho, entre o galinheiro e a cozinha de fogão a lenha.

O cano do ladrão (Cano do revólver do assaltante não, gente. Era o cano por onde saia o excesso de água da caixa) dava para o galinheiro. Foi aí que tive a feliz, ou melhor, infeliz idéia de me vingar. Afastei a tampa da caixa, dei a volta pelo galinheiro, coloquei a boca no cano e comecei a gritar, forçando a respiração: Socooorro estou me afogando na caixa dágua! Socoooorro! Ai meu Deus, vou morrer afogada. Claro que não colou. Nem percebi quando o Marcelão chegou devagarzinho descobrindo a falsária. Puxou-me pelos cabelos e jogou-me assentada ao chão sobre as bostas das galinhas.

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Um susto Cenário da história: Na casa principal da Fazenda do Ananás, do nosso querido João

Batista acontecia tudo de normal e de anormal que catorze crianças podiam provocar. E na casa do retiro é onde armazeno parte dos meus sonhos de infância.

(Lúcia Beatriz ainda não tinha completado 10 anos de idade)

Fomos na carroceria da caminhonete, para a casa do retiro. As crianças gritavam agitadas. João, ao volante, passava pelos buracos sacolejando a meninada. Não havia cinto de segurança e nem cadeirinha “aprisionando criança”. Assim que o veículo parou no grande pátio de frente da casa, saltaram crianças de todos os lados. Marcelo e João Roberto já esperavam em seus cavalos. Todos passaram por dentro do casarão para chegar até o quintal de onde fazíamos grandes colheitas quando as goiabeiras carregadas pareciam agradecer nossos jacás que retornavam repletos de goiabas para os famosos doces em caixetas de madeira, da Maria e da vó Dulce. Aguardei que todos entrassem e passei pela minha

passagem secreta – um pau da cerca que se erguia com facilidade e que me conduzia ao quintal. Ninguém notou. A cena era de um grande pomar com laranjeiras, goiabeiras, jabuticabeiras e mangueiras. Cada um de nós tinha sua

árvore. Subi na do Luiz e roubei uma manga. Furioso ele correu atrás de mim. Mais rápida que ele, cruzei o mandiocal rumo à

passagem secreta. Retirei a porta, ou melhor, o pau e avancei meio corpo, ao mesmo tempo em que olhei

para trás certificando-me de que não estava sendo seguida. De repente dei um grande grito e fui descoberta. Pisei num porco que tomava sol, justo encostado na minha passagem e que neste momento deixou de ser secreta.

Brincadeira Inusitada nos caixões Galerinha do “fogão encerado” foi a que viveu nos idos de Araguari. Éramos muitas crianças agitando a pacata cidade. Nossos brinquedos eram criados por nós mesmos, e nossas brincadeiras, além de muito criativas, eram no mínimo inusitadas. Os donos da única funerária eram amigos de nossos pais. Os caixões eram de madeira grosseira e revestida com tecido nas cores convenientes ao tipo do cliente, ou melhor, do defunto - preto para os homens, roxo para as senhoras, branco para as virgens (!!??) e crianças. Aguardando o tecido, os caixões eram colocados de pé, um ao lado do outro,

encostados na parede, num salão no fundo da loja. O bando de crianças chegava para o pique de esconder e cujas regras eram as seguintes: Sorteado o pegador através do unidunitê, ele deveria contar até 20, com

os olhos fechados e virado para a parede enquanto os demais se escondiam nos caixões, mantendo a porta fechada. O pegador batia a mão em um deles, corria para o pique e dizia rapidamente 1, 2, 3. Se tivesse uma criança lá dentro, abria a porta e se tornava o pegador. Caso o caixão estivesse vazio, o pegador... que nada

pegou, saía da brincadeira. Ganhava o que ficasse por último.

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Brincando com os Anjos Acredito que esta história tenha se passado em 1959 ou 1960, ou seja, os personagens tinham na época: Lúcia (Dona. Pepina) uns 14, Vicente (Sr. Pepino) 10, Quica (Vaniôdo) 9, e eu Luiz (Viscagadinho) uns 13 anos. Provavelmente o Todinho era o filho da Dona. Pepina com uns 5 anos. Havia um galinheiro desativado no lote ao lado da nossa casa da Oscar Trompowski, onde também havia um campo de voleibol de terra; isto antes do vô Custódio construir o apartamento onde moramos por muitos anos. Pois bem, Dona. Pepina sempre muito criativa resolveu transformar o galinheiro numa linda casinha de brinquedo. O galinheiro, digo casinha tinha uns 4 x 3 metros, era coberta com telhas, apoiadas em ripas e colunas de madeira roliça de construção, tinha as paredes externas em tela de arame, e tinha também uma divisória interna com uma prateleira baixinha feita com paus roliços finos, que provavelmente servira de apoio para os ninhos e que Da. Pepina transformou numa mesa de refeições; não me lembro bem, mas provavelmente enfeitada com muitas flores, senão a história não seria verdadeira ou a dona da casa não seria a Dona Pepina. Para compor a casa ela requisitou um rádio de cabeceira Philips, um top de linha de válvulas, que

chegou a ser utilizado em Guaraparí, um tapete velho tipo persa que estava meio abandonado, e nos contratou para levar eletricidade até a sua “casa”, para iluminar e ouvir rádio. A rede elétrica foi uma obra prima de engenharia, foram usados inúmeros restos de fio e até mesmo a coluna de um abajur estragado, sem remover a fiação para aproveitar o interruptor. Foi aí que os anjos da guarda entraram na brincadeira. A inauguração foi solene com muitos fogos de artifício, estrelinhas e estampidos saindo de todas as emendas; um espetáculo maravilhoso. Para corrigir, colocamos um pauzinho separando as partes metálicas dos fios em todas as emendas e tudo funcionou maravilhosamente. Certamente já tinham inventado a fita isolante, mas ninguém tinha nos avisado. Ah! É claro que os anjos ficaram de plantão para ninguém encostar nas emendas, e até onde eu saiba estes mesmos incansáveis anjos da guarda continuam trabalhando na nossa família há mais de três gerações.

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Guerra Doce

Nós tínhamos comprado uma ou duas caixas de bombom de licor no Makro que os meninos detestaram. Passado alguns dias, num sábado, por volta de umas 9:00 horas da manhã, a Vera tinha saído pra fazer compras no Ceasa quando eu ainda estava dormindo, e me deixou tomando conta das crianças; Gu com uns 5 anos, Gui com uns 3 e Leo com uns 2. Estava tudo “calmo como sempre” quando acordei com alguns gritinhos e risadinhas no quarto ao lado, e fui ver o que era. O Gu e o Gui estavam em

pé nas camas, o Leo também em pé no berço, e estavam terminando uma guerra de bombons de licor; as paredes eram os alvos preferidos, o berço do Leo e o chão eram uma maçaroca de bombons pisoteados. A alegria deles era que

os bombons grudavam na parede e o licor, alguns vermelhos, outros amarelos e outros verdes escorriam até o chão melando tudo, eu não sabia se ria junto ou se brigava com eles, mas acabei foi rindo, brigando e limpando, tudo mais ou menos ao mesmo tempo, e o mais rápido possível pra reduzir o impacto

porque a Vera já estava voltando.

Rapunzel

A minha lembrança me diz que eu era um espectador, mas é possível que eu tenha “vivido” esta história apenas pela emoção de ouvir os outros contá-la tantas vezes. No início dos anos 50, a Sônia devia estar com uns 9 anos, a Ângela com uns 8 e a Lúcia com uns 5 anos, e nós morávamos em Araguari num apartamento em cima do Banco de Crédito Real, onde o vô Custódio era o gerente. Como o pé-direito do banco era muito alto, e a rua da entrada da casa era inclinada, o fundo do apartamento equivalia a um 3º andar. Talvez inspiradas na história da Rapunzel, a Sônia e a Ângela tiveram a

brilhante idéia de proporcionar à Lúcia um “esporte radical”. Fizeram um nó numa das extremidades de uma corda e “convenceram muito fortemente” a Lúcia de que seria super

legal levá-la do piso do quintal até a sacada superior da escada de serviço pela corda, e assim começaram. Quando já tinham passado da metade do caminho, as duas já estavam com muita dificuldade de puxar a corda, e a Lúcia, perdendo as forças, gritava que não estava aguentando mais. Foi aí

que as duas, desesperadas, soltavam a corda aos poucos, enquanto gritavam: “segura firme Lucinha ... nós já estamos te descendo”. Graças aos anjos da guarda de sempre especialmente selecionados e contratados pela vó Dulce mais uma história terminou bem.

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Causinhos:

Tio Luiz com uns 4 ou 5 anos - Na garupa de um cavalo subindo uma rampinha na fazenda do João: “A garupa ta ficando pequena... a garupa ta ficando... ploft” - Sozinho em cima do cavalo: “Guarani me leva pro papai”

Tio Luiz com uns 6 anos no arreio, e tio Vicente com uns 3 na garupa do Pretinho.

- Depois de ouvir do Marcelo e do João Roberto inúmeros “seus bosta de cobra”, finalmente conseguem fazer o Pretinho entrar no atoleiro (areia movediça como nos filmes, na cabeça das crianças) para atravessar o córrego. O cavalo dá pulos para soltar as patas atoladas, Luiz é jogado pro pescoço do cavalo, o Vicente cai e o Pretinho cai assentado em cima, e só fica com o rosto fora da lama. A volta pra casa parecia uma cena de retirantes, esculpida pelo Mestre Vitalino. Luiz todo sem graça montado no Pretinho e o Vicente a pé, carregando as sandalinhas com os dedinhos da mão, chorando e dizendo

entre soluços: “eeu nuunca maais aando dee caavalo”. Isto no dia do aniversário dele.

Guilherme com uns 3 anos:

- Depois de ver tanto conserto feito com massa epóxi: “Pai põe durepoxi no elástico do meu pijama”

Gustavo com uns 3 anos:

- Deitado no tapete assistindo um filme sobre a paixão de Cristo... na hora da crucificação: “... não meu filho, as pessoas morrem quando ficam velhinhas de cabelos brancos”“mas papai meu cabelo é branco eu não quero morrer... snif... snif”.

Leonardo com uns 3 anos: - Espetando os grãos de feijão com um garfo na hora do almoço: “Ta doendo feijãozinho”?

Leonardo com 4 anos: - Estava andando numa égua chamada Tangerina no quintal da fazenda do tio Rui quando ela entra debaixo de um limoeiro, ele cai do arreio, mas fica dependurado com o pé preso no estribo e é socorrido pela Thea do Hugo. Entra na casa todo arranhado e chorando “A limonada me jogou no chão...”.

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Tchones Quando o Cine Rex abria as portas para a “matinée”, éramos os primeiros a entrar. Nós já estávamos com nossos bilhetes nas mãos, adquiridos antes mesmo de abrir a bilheteria porque éramos amigos da bilheteira Vânia. Como os “artistas” falavam em inglês e a família repenica era crua na língua, tentávamos imitá-los reproduzindo sons ininteligíveis e que se assemelhavam ao sotaque ouvido nos filmes. Tia Sônia era a troglodita da família (porque poliglota é quem morava nas cavernas). Tio Marcelo, que era um grande crítico, ouviu a Sônia chamar a amiga Marilu. _ Tchones? Ô Tchones? Foi o bastante para continuar as rixas que tinha com ela.

Um dia, quando almoçávamos, ele começou a dizer que ela era filha de criação e, como se não bastasse, começou a chamá-la de Tchones. Irritado, vô Custódio o pôs para fora da mesa. Tia Lúcia começou a rir e o vô mais irritado ainda a mandou para fora da mesa também. Sem graça e para não dar o braço a torcer, imediatamente ela respondeu. É bom porque eu brinco de gatinho. E saiu engatinhando e miando por debaixo da mesa. As gargalhadas dos que restavam foi uníssona e vô Custódio, para não perder a autoridade, mandou que todos saíssem da mesa. Vó Dulce que não endossou a punição levantou-se e foi fazer parte da galera excluída.