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QUINTA TURMA

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Page 1: QUINTA TURMA...CRER (Relator): O recorrente ale ga, para efeito de trancamento da persecutio criminis in iudicio: a) o pagamento antes de ofereci mento da denúncia; b) dúvida quan

QUINTA TURMA

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RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 6.152 - RS

(Registro n Q 97.0000163-6)

Relator: O Sr. Ministro Felix Fischer

Recorrente: Alonso Machado Lopes

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Paciente: Benvindo Odilon Prates Nunes

Advogado: Alonso Machado Lopes

EMENTA: Processual Penal. Recurso ordinário em habeas corpus. Peculato e falsidade ideológica. Ressarcimento antes do oferecimen­to da denúncia. Dúvida quanto à autoria. Especial fim de agir.

I - O ressarcimento antes do oferecimento da exordial acusa­tória não extingue, no peculato doloso, a punibilidade e nem ca­racteriza o arrependimento eficaz.

11 - A alegada dúvida quanto à autoria, valoração que é em sede de provas, não permite a antecipação do iudicium causae.

In - A asseverada inocorrência do especial fim de agir, exigin­do o minucioso cotejo analítico do material cognitivo, não pode ser aqui reconhecida na estreita via do habeas corpus.

Recurso conhecido e desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Vo­taram com o Relator os Ministros

Edson Vidigal, José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e José Arnaldo.

Brasília, 19 de agosto de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro FELIX FISCHER, Relator.

Publicado no DJ de 29-09-97.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 313

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RELATÓRIO

o SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER: Trata-se de recurso ordiná­rio de habeas corpus interposto contra o v. acordo do egrégio Tribu­nal de Justiça do Estado do Rio Gran­de do Sul, pelo qual foi considerado, em parte, prejudicado e, em outra, indeferido um writ impetrado em favor de Benvindo Odilon Prates Nunes.

A quaestio está delineada às fls. 339/341, in verbis: "1. Alonso Ma­chado Lopes impetrou habeas cor­pus junto ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em mercê de Benvindo Odilon Prates Nunes, que teve sua prisão preventiva decreta­da pelo Juízo de Direito da I;! Vara Criminal de Alegrete/RS, nos autos da ação penal a que responde pela prática dos delitos tipificados nos artigos 312, caput, 299, caput e parágrafo único, c/c o art. 69, do CP.

2. O writ perseguia a revogação da medida acauteladora, bem como o trancamento do processo por fal­ta de justa causa. Aduzia, em sínte­se, que, a) inexistiu manifestação concernente à nulidade do feito por cerceamento de defesa, sustentada nas alegações preliminares, b) o réu, em momento algum, tentou obstaculizar a ação da justiça e, em seu benefício, ainda milita a presun­ção da inocência, c) não há prova concreta da existência de dolo na configuração dos ilícitos, nem indí­cios suficientes da autoria, d) care­ce de fundamentação o despacho constritivo da liberdade do acusa­do. (fls. 02/24).

3. O TJ/RS, por unanimidade, julgou prejudicado o pedido no to­cante à revogação da medida cau­telar, em face da pretensão já ha­ver sido atendida pelo juízo mono­crático em 30 de setembro de 1996 e denegou a ordem no sentido de tracamento da ação penal, por falta de justa causa, asseverando que:

"3.1 Não há dúvida de que, em sede de habeas corpus, é possí­vel analisar-se provas, por se constituir este remédio heróico em garantia constitucional da li­berdade do indivíduo. Mas para isso, contudo, os elementos deve­rão ser evidentes, incontestes e incontroversos.

"4. No caso em exame, porém, a questão levantada pela defesa depende de uma análise aprofun­dada do contexto probante, o que é vetado pela via eleita. Esta Câ­mara Criminal, por diversas ve­zes, já proclamou que, em proce­dimento desta espécie, não se pode abrir ádito à discussão, exa­me e comparação de provas para resolver sobre se é ou não inocen­te o paciente, ora acusado peran­te o juizado de origem; e somen­te quando essa inocência ressal­ta de provas inequívocas, ou pelo menos, não postas em dúvida por outras, é que a liberdade indivi­dual pode ser amparada via ha­beas corpus." (fls. 326/327).

4. Inconformado, o paciente in­terpôs o presente recurso, que se enquadra na previsão da Carta Mag­na (art. 105, II, a) e deve ser conhe­cido no Colendo STJ.

314 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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5. No apelo, a defesa insiste em trancar a ação penal. Alega que o paciente pagou o numerário antes do oferecimento da denúncia e, di­ante da ausência de prejuízo, da incerteza relativa à autoria dos de­litos e da inexistência de dolo, " ... seria perfeitamente aplicável ao caso o disposto no art. 15 do CP, vis­to que houve arrepend-tmento efi­caz ... " (fls. 3311333)."

A douta Subprocuradoria Geral da República se pronunciou pelo desprovimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER (Relator): O recorrente ale­ga, para efeito de trancamento da persecutio criminis in iudicio: a) o pagamento antes de ofereci­mento da denúncia; b) dúvida quan­to à autoria; c) inocorrência do de-

nominado "dolo específico", hoje, na doutrina hodierna, especial fim de agir.

Pois bem, quanto ao item a, não há que se falar de arrependimento eficaz. Poderia ser discutida a minorante prevista no art. 16 do CP. Além do mais, em sede de peculato doloso, o ressarcimento não extin­gue a punibilidade. E não é só. Como ficaria o delito do art. 299, caput do CP? Carece de sentido o primeiro argumento. Quanto ao item b, a dúvida quanto à autoria é matéria de valoração na fase do iudicium causae. Nunca de juízo antecipado na via excepcional do writ. Quanto ao derradeiro item, c, a existência do especial fim de agir, por igual, implica no precoce cotejo analítico do material cognitivo, o que, a toda evidência, não é permi­tido em sede de habeas corpus.

Voto, portanto, pelo conhecimen­to e desprovimento do recurso.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 6.251 - SP

(Registro n Q 97.0007943-0)

Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo

Recorrente: Alonso Campoi Padilha

Recorrido: Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo

Paciente: José Fernando Mazzuca

Advogado: Dr. Alonso Campoi Padilha

EMENTA: Recurso em habeas corpus. Depositário infiel. Prisão civil. Possibilidade.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 315

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- Não constitui constrangimento ilegal a decretação de prisão, formalmente escorreita, por dívida alimentar ou infidelidade no depósito. O alienante fiduciário é o possuidor direto e depositá­rio com todas as responsabilidades e encargos legais. "Daí a pri­são civil, não pelo inadimplemento relativo ao mútuo, mas pela infidelidade resultante do não cumprimento das obrigações re­sultantes do depósito."

- Recurso conhecido, mas improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Felix Fis­cher, Edson Vidigal, José Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília, 01 de abril de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.

Publicado no DJ de 26-05-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO: Contra o acórdão da Oitava Câ­mara do 1 Q Tribunal de Alçada Ci­vil que indeferiu ordem de habeas corpus, renova o paciente o seu pe­dido perante esta superior instân­cia, sustentando, em abreviado, que adquirira, em 6 de setembro de 1993, um veículo Ford Tipo Corcel, ano 1979, sob garantia de alienação fiduciária. No mês subseqüente, o

veículo foi furtado, consoante Bole­tim de Ocorrência da Delegacia Po­licial da capital de São Paulo. O Banco Martinelli S.A. ingressou, então, em juízo com ação de busca e apreensão, e decorridos 30 dias sem efetivação da liminar concedida, converteu-se em ação de depósito, julgada procedente com fixação de prazo de 24 horas para apresentar o bem ou consignar o equivalente em dinheiro, sob pena de prisão.

Arrola precedentes jurispruden­ciais do STF e do STJ no sentido do descabimento da prisão civil se o bem adquirido por alienação fidu­ciária vem a ser furtado.

Aqui, o Parquet Federal propen­de, com remissão ajulgados do STJ, para a denegação do pedido.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO (Relator): Extrai-se do aresto recorrido às fls. 54:

"No mérito, contudo, a pretensão não pode ser acolhida.

Em primeiro lugar, o argumento atinente ao fato de ter sido fur-

316 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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tado o bem objeto do contrato de alienação fiduciária foi lançado em contestação à ação de depósi­to, mas desacolhida pela r. senten­ça de primeiro grau. Demonstran­do estar conformado com tal fato, não recorreu o paciente, transi­tando em julgado aquela decisão.

Se assim é, cuidando-se de deci­são imutável, não mais subsiste a possibilidade de acolhida do argumento, que deveria ter sido objeto de recurso próprio. Não se pode transmudar o habeas cor­pus em recurso de apelação. A de­finição contida na sentença mere­ce mantida."

Quanto ao cabimento da prisão civil, na espécie, constitui matéria já pacificada, consoante os prece­dentes apontados na promoção mi­nisterial às fls. 102:

"Processual Penal - Habeas corpus - Alienação fiduciária - Depositário infiel.

- No contrato de alienação fidu-ciária, o devedor fiduciante equi­para-se à figura do depositário, de vez que, embora não proprie­tário, fica de posse do bem, tor­nando-se infiel depositário se não salda o débito e deixa de devolvê­lo quando lidimamente reclama­do, sujeitando-se, assim, a prisão prevista no dispositivo constitu­cional.

- Ordem denegada." (STJ, HC 2.794/94-SP, 5ª Turma, reI. Min.

Cid Flaquer Scartezzini, unâni­me, DJ 26/09/94, pág. 25.658)

"Alienação fiduciária. Depositá­rio infiel. Prisão civil.

1 - Inviabilidade do reexame, na via do habeas corpus, de maté­ria sobejamente decidida pelo juí­zo cível.

2 - A atual ressalva constitucio­nal da prisão civil do depositário infiel (art. 5Q

, LXVII) não diver­ge da constante do texto anterior (art. 157, parágrafo 17, da Cons­tituição de 67), razão pela qual houve recepção da legislação or­dinária que rege a matéria (art. 66 da Lei 4.728/65, na redação que lhe deu o art. 1 Q do Decreto­lei 911/69), segundo a qual a alie­nação fiduciária transforma o alienante ou devedor "em possui­dor direto e depositário com to­das as responsabilidades e encar­gos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal". Legítima, pois, nos termos da jurisprudên­cia precedente, a decretação da prisão civil do devedor-fiduciante que, injustificadamente, descum­pre o mandado judicial para en­tregar a coisa ou o seu equivalen­te em dinheiro. Habeas corpus indeferido." (STJ, 5ª Turma, HC 2.987/94-SP, ReI. Min. Assis To­ledo, DJ 12/12/94, pág. 34.354, unânime).

Ante o exposto, conheço e nego provimento ao recurso.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 317

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RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 6.482 - SP

(Registro nº 97.0034899-7)

Relator: O Sr. Ministro Felix Fischer

Recorrente: Ronilson Dias Simões

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Paciente: Ivo da Silva Moraes

Advogado: Ronilson Dias Simões - Defensor

EMENTA: Processual Penal. Recurso ordinário em habeas cor­pus. Sedução simples (inexperiência) e qualificada (justificável confiança). Falta de justa causa.

I - Se a imputatio facti, amparada em peça indiciária, descreve conduta típica, a persecutio criminis in iudicio não pode, a rigor, ser obstada através de habeas corpus.

11 - A inexperiência, que caracteriza a denominada sedução simples, não significa ignorância das coisas do sexo sob enfoque teórico mas, isto sim, a "incapacidade de avaliação ética do ato sexual e de suas conseqüências".

111 - Ajustificável confiança, própria da chamada sedução qua­lificada, pode existir, independentemente da inexperiência, bas­tando que as demais exigências típicas estejam preenchidas.

IV - Quanto à aplicação do art. 217 do CP, é sabido que, em nosso sistema, uma regra incriminadora só pode ser revogada por lei e não por simples considerações pessoais (v. arts. 2 g e 4 g da LICC).

Recurso conhecido e desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Edson Vidigal, José Dantas, Cid Flaquer Scartez­ziní e José Arnaldo.

Brasília, 10 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro FELIX FISCRER, Relator.

Publicado no DJ de 04-08-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER: Versam os autos sobre re-

318 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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curso ordinário interposto contra v. acórdão do egrégio Tribunal de Jus­tiça do Estado de São Paulo pelo qual foi indeferido o habeas cor­pus impetrado em favor de Ivo da Silva Moraes r.om o objetivo de tran­car a ação penal movida em razão da prática do delito previsto no art. 217 do Código Penal. Na inicial e no recurso assevera-se, tão-somen­te, a atipia da conduta descrita na prefaciaI acusatória.

A denúncia apresenta a seguinte imputatio facti, a saber: "Consta dos inclusos autos de inquérito po­licial, que no mês de janeiro de 1996, em horário indeterminado, na Rua Francisco José Sales, n Q 246, nesta capital, Ivo da Silva Moraes, qualificado às fls. 19, seduziu Pa­trícia Moreira da Rocha, virgem, com 14 (catorze) anos de idade, con­forme certidão de fls. 39, e teve com ela conjunção carnal, aproveitando­se de sua inexperiência ou justifi­cável confiança.

Apurou-se que a vítima conheceu o denunciado e com ele passou a namorar. O denunciado aparente­mente mostrando intenção honesta, pediu permissão ao genitor da ofen­dida e após um mês de namoro ofe­receu aliança de noivado à ofendi­da, compromissando-se, portanto, a com ela estabelecer matrimônio. Com o novo compromisso, o denun­ciado passou a residir na casa da noiva com anuência dos pais dela e, aproveitando-se dessa situação, não teve dúvida em seduzi-la e com ela ter conjunções carnais, acabando por engravidá-Ia, conforme laudo de fls. 09/10.

Apurou-se ainda que após a notí­cia da gravidez da vítima, o denun­ciado rompeu o noivado, fugindo de suas responsabilidades." (Fls. 5).

O writ foi indeferido pelos moti­vos abaixo transcritos, in verbis: "O douto impetrante sustenta que, nos dias atuais, u'a moça de 14 anos, criada e educada na cidade de São Paulo, onde, inclusive, a sexualida­de seria disciplina escolar, não pode ser considerada inexperiente em assuntos sexuais.

Contudo, a inexperiência de que trata a lei, no crime de sedução, não é relativa a assuntos sexuais, mas, a de vida. Cite-se, a propósito, jul­gado deste Tribunal, que bem escla­rece a questão:

"Inexperiência não se equipa­ra à falta de esclarecimentos so­bre as coisas do sexo. É a falta de conhecimento próprio, de expe~ riência prática, sensível, sobre o domínio físico-psíquico da libido" (RT 585/288).

Além disso, há ainda o outro re­quisito do abuso da justificável con­fiança.

Segundo consta dos elementos indiciários, o paciente teria pedido autorização ao pai da vítima, Aure­liano Dias da Rocha, para o namoro e teve o consentimento deste. Ele chegou a ficar noivo da ofendida e, inclusive, passou a coabitar na mes­ma casa dos pais dela, dormindo, a princípio, em camas separadas.

É possível, portanto, que o paci­ente, com esse comportamento, re­velando um compromisso sério e

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criando a esperança de um casa­mento breve, tenha captado a con­fiança da menor e a levado, assim iludida, a entregar-se a ele sexual­mente.

Tudo, porém, é questão de produ­ção e avaliação profunda de provas, não podendo ser resolvida em ha­beas corpus, que, como é sabido, tem limites estreitos, não permitin­do análise aprofundada de elemen­tos probatórios.

No mais, adota-se como razões de decidir o excelente parecer da no­bre Procuradoria de Justiça, nos trechos que abaixo se transcrevem:

"Não convence, assim, data venia de seu posicionamento, a asserção do impetrante no senti­do de que o recebimento da de­núncia ofertada contra o pacien­te configura ato ilegal, caracteri­zador de constrangimento ao pa­ciente. Muito menos convence a assertiva de que a "inexperiência" da vítima em assuntos sexuais deveria ter sido comprovada, an­tecipadamente, pelo órgão minis­terial.

Não se incluindo no rol daque­les fatos típicos que admitem a "conciliação" ou a "transação", em relação a qualquer outro crime que independa de condição de procedibilidade, vige para o Mi­nistério Público o princípio da obrigatoriedade da ação penal. Assim, 'Existindo elementos que indiquem a prática de um crime, é ele obrigado a promover a ação penal. Não pode, assim, recusar­se a agir, quando identifique hi-

pótese na qual a lei exige sua atuação; nesse sentido se pode dizer, corretamente, que sua atuação é um dever, seja quando se trate de ajuizar uma ação pe­nal ou civil, seja de interpor um recurso', conforme ensina Júlio Fabbrini Mirabete, com apoio de lição de Hugo Nigro Mazzi­Ui. (Código de Processo Penal In­terpretado, Atlas, 2ª edição, atua­lizada até julho de 1994, pág. 63).

Ora, não poderia mesmo o ór­gão ministerial deixar de ofere­cer a denúncia contra o paciente. Havia elementos mínimos de con­vicção a apontar que o então in­diciado, ora paciente, perpetrara, em tese, o delito de sedução, ca­pitulado no artigo 217, do Códi­go Penal. Com efeito, do que se colhe da denúncia ofertada (fls. 42/43), na conduta praticada pelo paciente evidenciavam-se todas as elementares do tipo penal. Ha­via indícios, senão de sua inex­periência, ao menos da justificá­vel confiança da vítima. Tanto que o paciente, após permissão do pai dela, passou a namorar a ví­tima e decorrido um mês de na­moro, ofereceu-lhe aliança de noi­vado, comprometendo-se a com ela se casar. Patente, aqui, a in­tenção de lhe captar a confiança, que mais se reforçou, na medida em que o paciente passou a resi­dir na residência da vítima. Cap­tada sua confiança, o congresso sexual era a conseqüência natu­ral do envolvimento afetivo, re­sultando por engravidá-la.

320 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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Ora, nos termos da lição cola­cionada, havendo elementos mí­nimos que indiquem a prática delitiva e identificado seu autor, é obrigação do Ministério Públi­co, satisfeitas as condições para a ação penal, oferecê-la, sob pena de incidir ele, em prática delitiva.

Exatamente o que ocorreu na hipótese em testilha. Defluía das provas amealhadas, que um de­lito de sedução havia sido come­tido e que o paciente era seu au­tor; de outro lado, caracterizadas, quantum satis, as elementares do tipo, era mesmo indeclinável ao Ministério Público o ofereci­mento da denúncia.

Indeclinável era também ao ilustre Magistrado, acoimado autoridade coatora, o recebimen­to da inicial acusatória. Daí por que, conduzindo-se com elogiável ponderação, assentou no seu r. despacho de recebimento da incoativa, que, 'Havendo indícios suficientes de materialidade e autoria sobretudo em face dos de­poimentos da vítima e testemu­nhas colhidos no inquérito policial e demais peças informativas, re­cebo a denúncia.' (fls. 44)" - (fls. 51/53).

Por fim, diga-se que não desca­racterizaria o delito de sedução o fato de o hímen da vítima ser com­placente, pois, conforme também já teve oportunidade de decidir esta Corte:

"De3piciendo à configuração do delito de sedução o fato de ser

a vítima portadora de hímen complacente. A circunstância não afasta o contato sexual, cer­to que, por constituição da mem­brana himenal, permite a intro­dução do falo, sem haver o rom­pimento" (RT 512/354).

N a espécie, existe ainda a cir­cunstância de que a ofendida fi­cou grávida, o que, por si, já cons­tituiria indício de que teria havi­do conjunção carnal." (Fls. 60/62).

Daí, o recurso. E, a douta Sub­procuradoria Geral da República se pronunciou pelo desprovimento da súplica.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CHER (Relator): Tanto o Parquet local, em duas minuciosas manifes­tações da lavra do culto Procurador de Justiça Dr. Ivan Elias da Silva, fls. 49/53 e fls. 73/77, como o MPF, através da ilustre Subprocuradora­Geral da República Dra. Julieta E. Fajardo Cavalcanti de Albuquerque examinaram a questão mostrando a improcedência da pretensão ins­culpida, com louvável esforço, na petição recursal.

A prefaciaI acusatória descreve em detalhes um comportamento tí­pico. Na verdade, a imputatio apre­senta as duas situações próprias da sedução: a simples, calcada na com­batida inexperiência e a qualifica­da, alicerçada na justificável con­fiança (v. "Lições de D. Penal", de

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 321

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H. C. Fragoso, PE, vol. lI, n Q 673, Ed. Forense). Quanto à inexperiên­cia, o recurso, como está lamenta­velmente, em moda, procura levar o caso para o jocoso (parodiando, de maneira infeliz, o Homo ludens de Huizinga). Como existem crimes mais graves, os menos atentatórios são considerados nessa linha de ar­gumentação, banalidades. Os ofen­didos são os outros, é claro. Procu­ra-se, por exemplo, olvidando aspec­tos basilares, fazer crer que a inex­periência seja desconhecimento, sob enfoque material, da atividade se­xual; que seja ignorância acerca do tema, como se a vítima ali estives­se mais adequada ao contido no art. 224, alínea b do C. Penal. A objeti­vidade jurídica, na sedução, se re­fere, claramente, à integridade se­xual dos menores. E, inexperiência, percebe-se de pronto, não é a da vida, mas, isto sim, a falta da "per­feita noção do sentido e das conse­qüências do ato sexual", a "incapa­cidade de avaliação ética do ato se­xual e de suas conseqüências" (He­leno C. Fragoso, op. cit., n Q 673). N a mesma linha, tem-se as ensinan­ças de Damásio E. de Jesus, (in "Direito Penal", PE, vol. 3, págs. 109/111, 10ª ed., 1994) para quem o

objeto de tutela é a honra sexual dos menores, no caso do art. 217 do C. Penal. Mas, de qualquer forma, a imputação, comojá dissemos, apre­senta outra causa de pedir, conexa, que é a forma qualificada de sedu­ção (justificável confiança). E, para evidenciar a falta de amparo fático, dejusta causa, o que nem restou ten­tado, o feito exigiria o vedado cotejo antecipado do material de conheci­mento.

Quanto à não aplicação do texto, a pretensão carece de supedâneo jurí­dico. Anorma incriminadora inserida no art. 217 do C. Penal não fere re­gra constitucional e, ex hypotheis, nem se choca com qualquer princí­pio geral ou direito fundamental universalmente reconhecido. Como não há, in casu, problema de su­cessão de leis, só resta asseverar que, entre nós, uma regra penal in­criminadora só pode ser revogada por outro texto legal (ex vi arts. 2 9

e 4 9 da LICC). Isto é próprio do sis­tema romano-germânico ou europeu continental, por nós seguido.

A persecutio criminis guerrea­da deve, pois, continuar.

Voto, portanto, pelo desprovi­mento do recurso.

RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 6.593 - MG

(Registro n Q 97.0048415-7)

Relator: O Sr. Ministro Felix Fischer

Recorrente: Adriana Renata Ferreira Lima

Recorrido: Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais

322 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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Paciente: Adriana Renata Ferreira Lima

Advogado: Ricardo Luiz Tavares Victor

EMENTA: Habeas corpus. Alienação fiduciária. Prisão civil.

I - Não é cabível a prisão civil do devedor fiduciante porquan­to não está ele equiparado ao depositário infiel.

11 - Consoante recente entendimento da 3~ Seção desta Cor­te, a prisão civil do devedor-fiduciante não foi recepcionada pela atual Carta Magna.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento para conceder a ordem, nos termos do vo­to do Ministro-Relator. Votaram de acordo os Ministros José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e José Ar­naldo. Ausente, justificadamente, o Ministro Edson Vidigal.

Brasília, 05 de agosto de 1997 (data do julgamento).

Ministro JOSÉ DANTAS, Presi­dente em exercício. Ministro FELIX FISCRER, Relator.

Publicado no DJ de 08-09-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CRER: Tratam os autos de recurso ordinário de habeas corpus inter­posto contra v. acórdão do e. Tribu­nal de Alçada do Estado de Minas

Gerais pelo qual foi indeferido writ em que se buscava a cassação do decreto de prisão civil por depósito infiel (alienação fiduciária).

A quaestio está evidenciada às fls. 49/50, in verbis: "Argumenta a recorrente estar configurado, na espécie, a ilegalidade na decretação da prisão em face do art. 5Q

, inciso LXVII, da Constituição Federal. Aduz que somente é admissível a prisão civil por dívida em caso de inadimplemento voluntário e ines­cusável de obrigação alimentícia e de depositário infiel, certo que o con­trato de depósito, disciplinado pe­los arts. 1.265 a 1.287 do Código Ci­vil não se equipara, em absoluto, ao contrato de alienação fiduciária."

O v. julgado recorrido está assim ementado:

"Prisão civil - Depositário infiel - Alienação fiduciária - Decre­to-lei 911 / 69 - Busca e apreen­são - Sua conversão em ação de depósito - Execução de sentença - Citação válida e silêncio do depositário - Observância do de­vido processo legal - Não resti-

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tuição do bem ou seu equivalente e ausência de justificativa da im­possibilidade de fazê-lo - Lega­lidade e oportunidade da prisão civil - Alegação de constrangi­mento ilegal- Inocorrência - Ha­beas corpus - Conseqüente de­negação da ordem.

Nenhum constrangimento ilegal há na decretação da prisão civil do depositário infiel, se os encar­gos e responsabilidades emana­dos do contrato de alienação fi­duciária foram por ele assumidos, e se, uma vez tornado inadimplen­te, o respectivo credor adotada as medidas judiciais cabíveis (bus­ca e apreensão, convertida em ação de depósito), não tendo ele (depositário), - mesmo citado e aposto sua assinatura no manda­do -, se dignado restituir o bem ou seu equivalente, nem justifi­cado sua impossibilidade de fazê­lo, preferindo silenciar-se (ainda mais se, posteriormente, intima­do da sentença, e, a seguir, em exe­cução, é novamente citado, mas con­tinua em silêncio).

Evidenciada salienter tantum a observância do devido processo legal, não há falar-se em cons­trangimento ilegal, à míngua de caracterização.

DL 911/69 - Sua plena harmo­nia com as Constituições Fede­rais de 1967 e 1988 - Sua recep­ção por esta última - Conseqüen­temente plena vigência do DL 911 /69.

De conformidade com o art. 1 Q do DL 911/69 (que dera nova reda­ção ao art. 66 da Lei 4.728/65), o

devedor, por força do contrato de alienação fiduciária, passa a ter a posse direta do bem, ou seja, torna-se possuidor direto e depo­sitário, impondo-se-Ihe, em con­seqüência, todos os encargos le­galmente definidos. Logo, se ele, ao tornar-se inadimplente, deixa de restituir o bem alienado fidu­ciariamente (cujo domínio e pos­se indireta cabem ao credor em decorrência do contrato) ou não paga o equivalente, ou, ainda, não justifica sua impossibilidade de fazê-lo, legitimada fica sua prisão civil. Ademais, se a vigen­te Lei Magna não discrepa da an­terior, no que concerne à prisão civil do depositário infiel, e se o DL 911/69, por ter sido baixado em consonância com a Constitui­ção Federal então vigente (a de 1967) e por não conflitar com a de 1988, infere-se ter sido por esta recepcionado. Daí estar o DL 911/69 em plena vigência.

Por outro lado, não se estabele­cera em lei, para fins de prisão civil, nenhuma distinção entre depositário infiel judicial ou ex­trajudicial." (Fls. 31/32).

A douta Subprocuradoria Geral da República se pronunciou pelo desprovimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FELIX FIS­CHER (Relator): O assunto, objeto do recurso, é bastante controverti­do. A divergência entre as Turmas

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da 3ª Seção desta Corte foi solucio­nada no HC 5.583-DF, em que é relator para o acórdão o Exmo. Sr. Ministro William Patterson. Por ocasião do julgamento, interessan­te foi a argumentação do Exmo. Sr. Ministro Vicente Leal que, confor­me notas, assim se manifestou: "Sr. Presidente, com a devida vênia ao Ilustre Ministro-Relator, mantenho a posição já afirmada, reiterada­mente, na Sexta Turma após longa reflexão que fiz sobre o tema ao to­mar assento naquele Colegiado.

Na oportunidade, a questão ain­da se encontrava ao nível do deba­te. Pedi vista, fiz um judicioso es­tudo sobre o tema, e convenci-me de que, efetivamente, na hipótese de alienação fiduciária em garantia, não se configura o caso de deposi­tário infiel no sistema como é regi­do na nossa lei comum, no Código Civil. Por isso, na hipótese, confi-

gura-se uma evidente pnsao por dívida, instrumentalizada por um diploma arcaico que foi inspirado pelos detentores do poder econômi­co, que encontraram esse instru­mento legal para obter o pagamen­to pronto de suas dívidas pela cons­trição física dos devedores.

Trata-se de tema que afronta nos­sa tradição constitucional que sem­pre, desde a Constituição de 1934, consagrou como uma de suas garan­tias proibir a prisão civil por dívi­da.

Pedindo vênia aos ilustres inte­grantes da Quinta Turma, continuo a manter entendimento de que, no caso, não há depositário infiel e, por isso, a prisão é ilegal."

Conseqüentemente, acatando o entendimento da 3ª Seção, voto pelo provimento do recurso, cassando-se a prisão civil decretada.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 1.446 - SP

(Registro nº 91.0024154-7)

Relator: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Impetrado: Juízo de Direito da Infância e da Juventude de Presidente Prudente-SP

Interessado: Vandecir Clever Martins

EMENTA: RMS - Mandado de segurança - Ministério Público - Titularidade.

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- Constitui prerrogativa dos membros do Ministério Público uti­lizar-se do mandado de segurança, na defesa de suas atribuições legais, quando lesadas por ato ilegal de autoridade administrati­va ou judiciária.

- Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por maioria, conhecer do re­curso e lhe dar provimento, nos ter­mos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Mi­nistros José Arnaldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José Dantas.

Brasília, 03 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator.

Publicado no DJ de 04-08-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CID FLA­QUER SCARTEZZINI: Trata-se de recurso em mandado de segurança impetrado contra o v. acórdão da Câmara Especial do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que, por votação unânime, julgou extin­to o processo sem apreciação do mérito.

Subiram os autos e, nesta Supe­rior Instância a douta Subprocura­doria Geral da República (fls. 72), assim relatou o feito:

"1. Por entender que a compe­tência para conceder remissão a menor sem antecedentes crimi­nais era do juiz, não do Ministé­rio Público - pois que em con­trário importaria em invasão a prerrogativa própria do Judiciá­rio - o Dr. Juiz proferiu decisão que embora outorgando-a consi­derou irritada a anterior expedi­da pelo Dr. Promotor.

2. Impetrado por este Manda­do reivindicando a sua indiscutí­vel competência nos termos do art. 126 do Estatuto da Criança e do Adolescente, - e embora o órgão do Ministério Público em segunda instância encampasse o mesmo entendimento - o Eg. Tribunal de Justiça de São Paulo vem sistematicamente não co­nhecendo do recurso. Ora susten­ta que discutindo-se o "resguar­do de uma atividade de agente público" - e, não, o próprio "di­reito individual de que seja titu­lar", o elemento autorizador do writ, nega ao Dr. Promotor titu­laridade para o serviço da ação. Ora entende que a competência para requerer a Segurança em segunda instância seria do Dr. Procurador-Geral ou dos Procu­radores de Justiça, não do Dr. Promotor, conforme dispõe lei es­tadual.

326 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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3. Neste caso o Dr. Procurador­Geral da Justiça do Estado de São Paulo ratificando o pedido de segurança, demonstrou a impro­cedência do v. entendimento." (fls. 72173).

Afinal opinou pelo provimento do recurso, a fim de o Tribunal a quo conhecer e julgar a espécie.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CID FLA­QUER SCARTEZZINI (Relator): Sr. Presidente, este o parecer do órgão do Ministério Público Federal (fls. 73175), que me permito transcrever e adotar, na íntegra:

"Realmente, está hoje consagra­da a titularidade do uso do writ não só pelas pessoas de direito privado, como também pelas de direito público, visto que, como acentua o magnífico recurso (par­te integrante deste):

"Com efeito, no campo de di­reito subjetivo público os bens, por se revestirem de essencia­lidade à vida na sociedade po­liticamente organizada e não permitirem uma fruição com caráter absoluto e exclusivo, se relacionam não só com o indi­víduo mas preponderantemen­te com a sociedade. E, na maio­ria das vezes, em um dos pólos da relação de subordinação es­tará colocado um órgão ou ins­tituição, que representam, a

um só tempo, o indivíduo e a coletividade. Neste caso, embo­ra a norma estabeleça, clara­mente, uma relação de subor­dinação entre o bem e aqueles sujeitos, estes atuam para as­segurar a fruição para a co­letividade e não para si mes­mos.

Ainda recentemente o Co­lendo Pretório Excelso conhe­ceu de ação de mandado de se­gurança ajuizada pelo Procu­rador-Geral da República con­tra ato do Senhor Presidente da República, que violara sua prerrogativa de designar Mem­bro da Instituição para exercer atribuições junto à Justiça do Trabalho."

Quanto à competência do Dr. Pro­motor para requerer segurança,

"A referida lei estadual não po­de servir de fundamento legal à respeitável decisão porque dispõe, expressamente, serem atribuições dos Promotores de Justiça "impetrar habeas cor­pus e mandado de segurança, inclusive perante os Tribunais locais competentes, contra atos de autoridades administrativa ou judiciária, praticados em sua área de atribuições funcio­nais" (art. 39, V). A compatibi­lidade deste dispositivo com os artigos 10 e 14 da LC n Q 40/81 veio afirmada por Ada Pene­grini Grinover em magnífi­ca síntese: "não obstante, não há conflito entre a lei federal e a estadual porquanto no exer-

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cício de funções perante os Tri­bunais locais. O ato corresponde à interposição de um recurso -pois os writs nesses casos fazem as vezes de recursos -, por par­te do promotor que funciona em 1 Q grau e que tem o imediato conhecimento do constrangi­mento ou abuso de poder, a serem imediatamente sustados da ma­neira mais eficaz".

E, mais adiante, de forma la­pidar:

"Inobstante o Ministério Públi­co seja uno e indivisível, é es­truturado em cargos com defi­nições de atribuições quer no tocante ao aspecto territorial quer no tocante às diversas funções institucionais. No exer­cício dessas atribuições, o mem­bro do Ministério Público, quer de primeira quer de segunda instância, fica investido de to­das as prerrogativas, faculda­des, poderes e deveres confe­ridas à Instituição. Ocorre, pois, a personalização dessas prer­rogativas, faculdades, poderes e deveres, cujo exercício é plas­mado pela independência fun­cional. É esta independência funcional- prevista constitu­cionalmente - que legitima o Promotor de Justiça a usar de todos os recursos legais para defender e fazer respeitar aque­le feixe de atribuições, lesados por ato ilegal de autoridade administrativa ou judiciária, sem qualquer prévio assenti­mento ou concordância dos ór-

gãos superiores da administra­ção e execução."

Tal entendimento está ratificado pela Excelsa Suprema Corte pois, no HC n Q 66.794/SP, relatado pelo emi­nente Ministro Moreira Alves, em seção de 16 de dezembro de 1988, o v. acórdão ficou assim ementado:

"Habeas corpus - Mandado de segurança impetrado pelo Mi­nistério Público para a obtenção de efeito suspensivo para apelação.

Esta Corte tem admitido man­dado de segurança contra ato ju­dicial no âmbito criminal (RE n Q

85.278, RTJ 83/255 e segs.). Por outro lado, sendo o Ministério Pú­blico parte na relação jurídica processual, pode ele utilizar-se do mandado de segurança. E a im­petração compete ao Promotor de Justiça quando o ato atacado ema­na do juiz de primeiro grau de ju­risdição.

Ausência de ilegalidade na con­cessão de mandado de segurança que deu efeito suspensivo à ape­lação do Ministério Público con­tra a concessão da sentença, para o cumprimento de pena de reclu­são, ao regime de prisão albergue domiciliar.

Habeas corpus indeferido." (in RTJ 128/1.199)."

Desta forma, dou provimento ao recurso para que baixem os autos e o Eg. Tribunal de Justiça de São Paulo conheça e julgue o Mandado de Segurança.

É como voto.

328 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA NQ 2.402 - RJ

(Registro n Q 92.0032122-4)

Relator: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Recorrente: Júlio César Gomes da Silva Advogado: Evandro Luis de Sousa Oliveira

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Impetrado: Presidente do Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

EMENTA: Administrativo - Concurso público - Revisão de pro­vas_

- Concede-se a revisão de provas em concurso público com o fito de preservar a probidade administrativa.

- Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, dar provi­mento ao recurso para garantir ao recorrente candidato o direito de ter a sua prova revisada. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Ar­naldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José Dantas.

Brasília, 28 de abril de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator.

Publicado no DJ de 30-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO CID FLAQUER SCARTEZZINI: Trata-se de Recur-

so Ordinário Constitucional inter­posto contra o v. acórdão do 3Q Gru­po de Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o qual denegou mandado de seguran­ça em que se impugnava a recusa de vista das provas em concurso para Defensor Público, bem como a inad­missibilidade da revisão das notas, atribuídas ao recorrente.

Nesta Superior Instância, o douto MPF é pelo conhecimento e provi­mento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO CID FLA­QUER SCARTEZZINI (Relator): Sr. Presidente, presentes os requisitos de admissibilidade (art. 105, lI, b, da CF), admito o recurso.

N o mérito deve ser provido, e nos exatos termos do parecer do douto

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Subprocurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel San­tos, quando às fls. 146/147, assim se pronunciou:

"Com inteira procedência, ob­servou o ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri, em seu voto, vencido:

A liberdade ou poder discri­cionário da Administração en­tretanto, não vai ao ponto de poder violar a Constituição, por isso que toda lei, decreto, regulamento ou qualquer ato normativo encontra a sua base de validade na Lei Maior. Im­porta dizer que o regulamento é a lei do concurso, pelo que de­ve ser cumprido, salvo se con­flitante com preceitos constitu­cionais ou legais, no que se tor­na inoperante. E tal é o caso dos autos.

Tenho para mim que a farta jurisprudência trazida à cola­ção pela honrada autoridade impetrada tornou-se inaplicá­vel em face da nova ordem cons­titucional, e ainda porque não está o Judiciário a alterar os cri­térios de aferição das provas es­tabelecidos pela Administra­ção, nem a fazer arredonda­mento de notas, mas tão-so­mente a assegurar ao impe­trante o direito de recorrer e ver reexaminada, na própria esfera administrativa, a deci­são da banca examinadora que o reprovou. Os motivos que ensejaram tal decisão hão de ser conhecidos do impetrante,

pois está em causa o seu direi­to constitucional de ampla de­fesa e de acesso competitivo aos cargos públicos, não podendo prevalecer o puro arbítrio da Administração.

Em memorável julgamento do Colendo Supremo Tribunal Federal, no recurso de Manda­do de Segurança n Q 17.999, o saudoso Ministro Victor Nunes Leal, uma das mais fulguran­tes inteligências que já passa­ram pela nossa Suprema Cor­te, assim se expressou:

Ora, um concurso não pode ser público apenas pela me­tade, vale dizer, apenas para aferição dos méritos dos can­didatos, ficando a sua outra parte, isto é, aquela que se relaciona com os deméritos ou faltas pessoais de cada concorrente, ao puro e reser­vado arbítrio das autorida­des processantes do concur­so. O concurso sigiloso em relação aos deméritos dos candidatos, ensejaria, por via de discriminação, o mes­míssimo favoritismo, cuja proibição foi colimada atra­vés da publicidade ...

Inegavelmente, cabe ao ju­diciário verificar se o ato le­sivo a direito subjetivo do cidadão está ou não motiva­do. E se a autoridade impe­trada não quer, ou não pode justificar a legitimidade de seu ato, a conclusão que im­põe será sempre no sentido

330 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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de tratar-se de abuso ou ar­bítrio, sanável pelo remédio heróico" (RTJ, voI. 44/580-583). (fls. 114/116).

Da mesma forma, as decisões dos nossos Tribunais, são de entendi­mento idêntico, haja vista os ares­tos colacionados pelo MP, nos se­guintes teores:

"Administrativo. Concurso públi­co. Controlador de arrecadação federal. Vista de prova.

1. Em respeito à moralidade da atividade administrativa, impõe­se a concessão de vista das pro­vas em qualquer concurso públi­co.

2. Remessa oficial conhecida e improvida" (REO nº 107.827/DF, ReI.: Min. Jesus Costa Lima, DJ 26.2.87).

"Administrativo. Concurso públi­co. Revisão de prova.

I - Norma de edital de concur­so, que inadmite revisão de pro­va, compromete a transparência do certame e põe sob suspeita a lisura na correção das provas.

II -Anorma editalícia, in casu, não pode prevalecer sobre o bem jurídico maior a ser protegido, que é a probidade administrati­va." (AMS nQ 125.282/MT, ReI.: Juiz Hermenito Dourado, DJ 16.4.90).

Com estas considerações, dou provimento ao presente recurso para garantir ao recorrente-candi­dato o direito a ter a sua prova re­visada, reformando-se, com isso, o v. acórdão.

É como voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA NQ 2.780 - RJ

(Registro nº 93.0008836-0)

Relator: O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Recorrente: Sílvio Lopes de Magalhães

Advogado: Ricardo Guimarães dos Santos

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Impetrado: Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de Volta Redonda-RJ

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social- INSS

EMENTA: RMS - Assinatura de termo de gratuidade judicial - Ilegalidade - Renovação periódica de procuração e não acei­tação de procuração com poderes para receber e dar quitação -Imposição limitativa da lei processual civil.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 331

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- Ofende o comando constitucional, inserto no art. 59, inciso 11, da Constituição Federal, o provimento que exige a assinatura de Termo de Gratuidade Judicial, quando a lei não o prevê.

- Da mesma forma, não se admite a renovação periódica de pro­curação, quando tal exigência, também através de provimento, constitui imposição limitativa aos termos do art. 38 da lei proces­sual civil.

- Constitui, igualmente, imposição limitativa ao teor da norma processual do art. 38, a não aceitação de procuração com poderes para receber e dar quitação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Mi­nistros José Arnaldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José Dantas.

Brasília, 28 de abril de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, Relator.

Publicado no DJ de 30-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI: Trata-se de recur­so ordinário em mandado de segu­rança dirigido contra o v. acórdão da 7ª Câmara Cível do E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de J anei­ro, cuja ementa restou assim redi­gida:

"Ordinária. Despacho que man­da cumprir Provimento da Cor­regedoria Geral da Justiça deste Estado. Ilegalidade. Inexistência. Denegação do mandado."

A impetração originária demons­tra a recusa do ora impetrante con­tra exigência de atualização de pro­curação sem data ou datada há mais de seis meses, bem como contra a imposição de assinatura de termo judicial de gratuidade de justiça e ainda contra a proibição de outorga de poderes ao patrono, para receber importância.

Após as contra-razões pelo MP estadual, subiram os autos e mere­ceram parecer da douta Subprocu­radoria Geral da República no sen­tido do seu provimento.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FLAQUER SCARTEZZINI (Relator): Sr. Presi­dente, o parecer da douta Subpro­curadoria Geral da República, da lavra do Dr. Edinaldo de Holanda

332 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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Borges, é de uma clareza ímpar e, assim, merece ser transcrito, quan­do não, tecer comentários sobre a matéria em foco, haveria de ser re­petitivo com a tese do ilustre Sub­procurador-Geral. Assim, eis o tre­cho fundamental:

"A gratuidade judicial, regula­da pela Lei l.060/50, com a reda­ção dada pela Lei 7.510, de 04 de julho de 1986, decorre, segundo o art. 4Q

, da simples afirmação, na petição inicial, da falta de condições para pagamento das custas do processo e honorários de advogado. A exigência, por Provimento e não por lei, de as­sinatura de termo é descabida e metajurídica, incidindo no co­mando constitucional proibitivo de que ninguém é obrigado a fa­zer, senão o que a lei determina.

Do mesmo juiz é a exigência, por Provimento, de renovação periódica da procuração. Tal im­posição é implicativa de limita-

ção dos termos do art. 38 do Có­digo de Processo Civil, importan­do em denegação de sua plena eficácia.

Finalmente, a não aceitação de mandado com poderes para rece­ber importâncias é também limi­tativa do teor da norma proces­sual do art. 38, o que não se coa­duna com a regra regulamenta­tiva de Lei."

Com toda razão o bem elaborado parecer do digno representante do Ministério Público Federal, o que me faz adotá-lo como razões de de­cidir, assim, dou provimento ao pre­sente recurso para, reformando o v. acórdão recorrido, conceder a segu­rança pleiteada no sentido de fazer cessar os efeitos do Provimento n Q

262/91, da Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Rio de Janei­ro contra o ora recorrente, e que se prossiga no feito, normalmente.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 36.944 - RO

(Registro n Q 93.0019976-5)

Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Antonio Morimoto

Advogado: Antonio Morimoto

Recorridos: Mauricio Calixto da Cruz e outro

Advogados: Carlos Augusto Gomes Lobo e outro

EMENTA: Lei de Imprensa. Direito de resposta. Descumprimen­to. Multa prevista no § 52 do art. 32.

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1. A multa prevista no § 52 do art. 32 da Lei de Imprensa decorre do descumprimento de uma obrigação de natureza civil- a recu­sa em publicar a resposta-retificação enviada pela parte - sen­do, portanto, devida ao ofendido, e não ao Estado.

2. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator, os Srs. Mi­nistros José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini, José Arnaldo e Felix Fischer.

Brasília, 28 de abril de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente e Relator.

Publicado no DJ de 09-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL: Sentindo-se ofendido em sua honra em razão de fatos caluniosos e difamatórios contra si publicados pelo Jornal "O Estadão do Norte", que circulou nos dias 23 e 24 de abril de 1989, Antônio Marimoto, advo­gado e suplente de Senador - de­pois de fracassada a via direta -pleiteou judicialmente o seu direi­to de resposta.

O Juiz de primeiro grau conde­nou Mario Calixto Filho e Maurício

Calixto Cruz, respectivamente pre­sidente e vice-presidente daquele jornal, a publicar a resposta-retifi­cação no prazo de 24 horas, sob pena de multa por dia de atraso, no do­bro do seu valor legal.

O Tribunal de Justiça de Rondô­nia não conheceu da apelação inter­posta pelos requeridos ao funda­mento de que a resposta não foi pu­blicada, sendo que o recurso não tem efeito suspensivo.

Devolvidos os autos ao juízo de primeiro grau para cumprimento da decisão, os ora recorridos impugna­ram os cálculos referentes a multa e custas.

O recorrente manifestou-se pela rejeição da impugnação, sendo que os cálculos foram atualizados a seu pedido.

Inconformado com a decisão que apreciou a impugnação dos ora re­corridos, mandando efetuar novos cálculos, manifestou o recorrente Apelação, que foi parcialmente pro­vida no Tribunal de Justiça de Ron­dônia. O Acórdão, no que interessa, está assim ementado:

"Apelação criminal - Lei de Im­prensa (Lei n 2 5.250 / 67) -Direi­to de reposta - Omissão do ape­lado - Pena de multa - Cálcu­los - Competência do juiz das

334 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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execuções penais - Pena pecu­niária devida ao Estado.

C .. ) O valor da pena pecuniária des­tina-se ao Estado e não ao parti­cular, a quem remanesce íntegro, o direito de reivindicar repara­ções de danos na órbita civil a teor do disposto no art. 35 da Lei n Q 5.250/67."

Rejeitados seus Embargos Decla­ratórios, interpôs o vencido, Recur­so Especial, alegando violação à Lei 5.250/67, art. 32, § 5Q

Sustenta que o beneficiário da multa prevista no referido disposi­tivo é o ofendido e não o Estado.

Admitido na origem o recurso vieram os autos a esta Corte. '

O Ministério Público Federal opi­nou pelo não conhecimento do ape­lo especial.

Relatei.

VOTO

SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL (Relator): Senhores Ministros , a multa prevista no § 5Q do art. 32 da Lei de Imprensa não tem natu­reza penal. Decorre ela do descum­primento de uma obrigação civil imposta pela lei.

Com efeito, pleiteado extrajudi­cialmente o direito de resposta, não obteve sucesso o requerente, que teve que recorrer à via judiciária para satisfação do seu direito.

A multa surge, então, como san­ção civil ao periódico, que se recu-

sou a publicar a resposta que lhe foi dirigida diretamente.

Não é outra a posição de Darcy Arruda Miranda, que afirma em sua obra "Dos Abusos da Liberdade de Imprensa", verbis:

"Essa multa será aplicada em benefício do ofendido, sendo exi­gível a partir do prazo dado na sentença, nada importando o provimento que venha a ser con­cedido pela superior instância à apelação do jornal ou periódico. (Dos Abusos da Liberdade de Im­prensa, Revista dos Tribunais, 1959, pág. 435)"

N este sentido também o Acórdão proferido na Apelação 103.537, pela Primeira Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, do qual ex­traio o seguinte trecho:

"Esse processo da retificação compulsória independe do pro­cesso criminal. Antecede-o e pode o ofendido satisfazer-se com essa providência sem iniciar queixa­crime pelas ofensas que imputa o jornal. C .. ) À evidência, portanto, que a mul­ta cominada pela falta da publi­cação da resposta compulsória, nada tem de comum com a que é imposta por infração penal. Pela infração o responsável fica sujei­to, além das penas detentivas à multa, caso não publique a s~n­tença condenatória (art. 50, § 1 Q). Quanto à outra, embora aplica­da pelo juiz criminal, é de inte­resse exclusivo do ofendido no exercício do seu direito de p~dir

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 335

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a retificação e, conseqüentemen­te de reclamar o pagamento se não cumprida a ordem judicial."

Assim, reputo violado o art. 32, § 5º da Lei de Imprensa e dou pro­vimento ao recurso para declarar que a multa prevista no referido dis­positivo é devida ao recorrente.

É o voto.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: Senhor Presidente, vou acom­panhar o voto do Sr. Ministro-Rela­tor, com possíveis ressalvas futuras.

RECURSO ESPECIAL Nº 68.134 - SP

(Registro nº 95.0030050-8)

Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo

Recorrido: Geraldo Alves Pereira

Advogado: José Rodolfo Furlan

EMENTA: Penal. Contravenção. Porte ilegal de arma de fogo. Confisco.

1. Ressalta do artigo primeiro da Lei das Contravenções Penais a possibilidade de confisco da arma de fogo, inexistindo, nessa lei, disposição sobre os efeitos da condenação.

2. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator, os Srs. Mi­nistros José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini, José Arnaldo e Felix Fischer.

Brasília, 14 de abril de 1997 (data do julgamento)

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente e Relator.

Publicado no DJ de 09-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL: Condenado ao pagamento de 10 (dez) dias-multa por porte ilegal de arma (LCP, art. 19), Geraldo Al-

336 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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ves Pereira requereu, após o trân­sito em julgado da sentença, a res­tituição do revólver apreendido em seu poder.

Indeferido o pedido, interpôs Ape­lação que foi provida no Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, que considerou "incabível o confisco em se tratando de contravenção, pois, em obediência ao princípio da estri­ta legalidade, a expressão crime deve ser entendida em sentido es­trito, como espécie do gênero infra­ção penal, e não o contrário."

Manifestou o Ministério Público Recurso Especial fundado na Cons­tituição, art. 105, III, a e c. Alega que o Acórdão do Tribunal local, ao deferir a restituição da arma, vio­lou o CP, art. 91, II, a e a Lei das Contravenções Penais, art. 1 Q, além de divergir de julgados de outros Tribunais.

Admitido na origem o recurso, sem contra-razões subiram os au­tos.

O Ministério Público, nesta ins­tância, opinou pelo seu provimen­to.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL (Relator): Senhores Ministros, sustenta o recorrente que o art. 91, II, a, do Código Penal, é aplicável também em caso de condenação por contravenção penal, e não apenas em caso de crime, como entendeu o Acórdão recorrido.

Razão assiste ao recorrente.

É tranqüilo o entendimento des­ta 5ª Turma no sentido de que apli­ca-se o referido dispositivo do Diplo­ma Penal também às hipóteses de condenação por contravenção. A propósito:

STJ, 5ª Turma, REsp 75.566-SP, Relator Ministro José Dantas, DJ 24/3/96.

"Criminal. Contravenção. Porte ilegal de arma.

- Confisco. Legalidade da perda da arma portada sem a devida autorização, conforme a orienta­ção do STJ, assentada em aplica­ção do art. 91, II, a, do Cód. Pe­nal, com o art. 1 Q da LCP."

STJ, 5ª Turma, REsp 7.713-RJ, Relator Ministro Cid Flaquer Scar­tezzini, DJ 17/6/91.

"Penal. Contravenção. Porte ile­gal de arma de fogo. Confisco.

- A condenação por contraven­ção de porte de arma, impõe a aplicação, por analogia, do con­fisco autorizado pelo art. 91, II, a, do cód. Penal.

- Recurso conhecido e provido."

Assim, na esteira desses e de ou­tros precedentes da Corte, dou pro­vimento ao recurso para cassar o Acórdão recorrido e restabelecer a decisão de primeiro grau que inde­feriu a restituição da arma.

É o voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 337

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RECURSO ESPECIAL Nº 86.290 - SP

(Registro nº 96.0003878-3)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas

Recorrente: Nelson Rodrigues

Advogados: Drs. Nunzio Monaco e outro

Recorrido: José Jorge Neves

Advogados: Drs. Paulo Calixto Bartolomeu Simoni e outro

EMENTA: Locação revisional. Curso do prazo premonitório de doze meses.

- Ressalva do art. 68, § 1 º, da Lei 8.245/91. Incensurabilidade da interpretação dos novos dispositivos locatícios, na conclusão de que o prazo superior a 30 dias para desocupação do imóvel não obsta a ação revisional.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso. Votaram com o Re­lator os Ministros Cid Flaquer Scar­tezzini, José Arnaldo, Felix Fischer e Edson Vidigal.

Brasília, 03 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.

Publicado no DJ de 30-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: Eis como a espécie restou bem

esclarecida no despacho de admis­são do recurso, lavra do Juiz Boris Padron:

"Conquanto não tenha o recor­rente declinado o dispositivo cons­titucional de interposição do ape­lo, passo ao exame prévio de sua admissibilidade.

Interposto recurso especial por locatário, em autos de ação revi­sional de aluguel, sob a alegação de ofensa às Medidas Provisóri­as 566 e 596, bem como interpre­tação do artigo 68, § 1 º, da Lei 8.245/91 em confronto com o dis­posto no artigo 78, da mesma lei.

Cinge-se a controvérsia em sa­ber se é possível a propositura de ação revisional de aluguel contra locatário que foi notificado para desocupar o prédio locado em doze meses, na medida em que o venerando acórdão entendeu

338 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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que, no caso dos autos, o prazo de doze meses concedido ao inqui­lino é o previsto no artigo 78 da Lei Inquilinária, o qual não se enquadra na restrição legal im­posta no artigo 68, § 12 , do mes­mo diploma legal. Acrescentando que essa norma aplica-se a perío­do inferior a trinta dias para de­socupação. Assim, concluiu que o prazo superior a trinta dias para desocupação do imóvel não obsta à ação revisional.

Assim sendo, não obstante a razoabilidade da interpretação conferida nesta instância à ques­tão federal ora suscitada, presen­tes os pressupostos constitucio­nais a ensejar a abertura da via especial, já que a aplicação da Súmula 400 do Pretório Excelso vem sendo rejeitada pelo Supe­rior Tribunal de Justiça (cf. AI 15.531-SP - STJ -1ª T. - ReI. Min. Pedro Acioli - J. em 13.11.91 - DJU de 18.11.91, págs. 16.721/22; AI 15.786-SP­STJ - 1ª T. - ReI. Min. Demó­crito Reinaldo - J. em 3.2.92 -DJU de 12.2.92, pág. 999).

Cuidou o recorrente de apon­tar julgados deste Tribunal a fim de caracterizar eventual dissídio, os quais desdejá ficam afastados ante o teor da Súmula 13 do Su­perior Tribunal de Justiça. Ade­mais, com relação aos julgados de Porto Alegre, verifico que não res­taram cumpridos os ditames im­postos pelo artigo 255 do Regi­mento Interno do Superior Tribu­nal de Justiça.

Pelo exposto, admito o recur­so especial pela alínea a do per-

missivo constitucional. Encami­nhem-se os autos ao Superior Tri­bunal de Justiça.

Anote-se a interposição de re­curso extraordinário, não admi­tido por decisão em separado." -fls. 80/81.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS (Relator): Senhor Presidente, começo por apoiar a restrição da admissão do recurso por carência de demonstração do alegado dissídio jurisprudencial.

Quanto à letra a, por mais que o recorrente tenha-se estendido em malsinar o rigor normativo da nova lei locatícia, sem se fixar, porém, nesse ou naquele dispositivo con­frontado dentre os diversos textos legais arrolados, vejo que, ainda quando se permita o exame do re­curso sem referência ao permissivo, sua inviabilidade é manifesta.

Manifesta porque, embora singe­la a proposição do acórdão, a mes­ma se revela incensurável na apli­cação dos arts. 68, § 12,46, § 22 , 57 e 78, numa gama associativa da melhor hermenêutica. Tenho, pois, incensurável o teor do voto condu­tor do acórdão, relatoria do Juiz Jo­sé Malerbi, assim concebido:

"Não obstante os ponderáveis argumentos da sentença, tem ra­zão o apelante.

A atual Lei do Inquilinato não admite, efetivamente, o ajuiza-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 339

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mento de ação revisional de alu­guel na pendência de prazo para desocupação, nas hipóteses que especifica.

A norma do art. 68, § 1 Q, da Lei 8.245/91 é expressa nesse senti­do. Faz remissão aos arts. 46, 2Q, e 57. Ambos cuidam de denúncia vazia, com prazo de 30 dias para desocupação. Ainda que não se entenda taxativa a enumeração legal, no mínimo a norma do art. 68 aplica-se a período igualou inferior a 30 dias para desocupa­ção.

No caso dos autos, o prazo con­cedido ao inquilino é o de 12 me­ses, previsto no art. 78 do mes-

mo diploma. A hipótese não se enquadra portanto na restrição legal. A propósito, em país de his­tórica espiral inflacionária, seria totalmente desarrazoado o inqui­lino permanecer por 12 meses no imóvel, pagando aluguel progres­sivamente defasado. Ocorreria, sem dúvida, enriquecimento sem causa do locatário, o que não se admite.

Em resumo, o prazo superior a 30 dias para desocupação do imóvel não obsta a ação revisio­nal." - fls. 45/46.

Pelo exposto, não conheço do re­curso.

RECURSO ESPECIAL NQ 94.717 - DF

(Registro n Q 96.0027218-2)

Relator: O Sr. Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

Recorrido: Jaciel Pompeu Campos

Advogado: Alair Ferraz da Silva

EMENTA: Penal. Aplicação da pena. Crime autônomo conside­rado como circunstância judicial para elevação da pena-base. Im­possibilidade.

1. Não pode o juiz, no momento da aplicação da pena, elevar a pena-base em face de circunstância que constitui crime autôno­mo.

2. Recurso provido.

340 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator, os Srs. Mi­nistros José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini, José Arnaldo e Felix Fischer.

Brasília, 13 de maio de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente e Relator.

Publicado no DJ de 04-08-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL: Era alta madrugada quando Jaciel Pompeu Cândido, 21 anos, açougueiro, acordou seu irmão Ru­bens e o convidou para passear na pick-up/Toyota que ele havia sub­traído, momentos antes, em Ceilân­dia Norte, depois de forçar o que­bra-vento e fazer uma "ligação di­reta". Mas o passeio automobilísti­co de J aciel durou pouco. Na Av. Sandu Norte, um ônibus freiou abruptamente na sua frente, a coli­são foi inevitável, os dois irmãos fi­caram bastante lesionados.

A sentença condenou Jaciel por crime de furto (CP, art. 155, caput) a 1 (um) ano, 4 (quatro) meses e 15 (quinze) dias de reclusão, com sursis pelo prazo de dois anos.

O Tribunal de Justiça do Distri­to Federal e Territórios negou pro­vimento ao apelo da defesa, em Acórdão assim ementado:

"Furto. Estando a autoria e a ma­terialidade do delito comprova­das, não há como absolver o ape­lante, como também não se pode diminuir a pena tendo em vista inocorrer as causas especiais pre­vistas na parte geral e especial do Código Penal Brasileiro. Desprovi­do o recurso à unanimidade."

Manifestou o Ministério Público Recurso Especial fundado na Cons­tituição, art. 105, lU, a.

Sustenta que o Acórdão do Tribu­nal local, ao manter a sentença de primeiro grau, violou o CP, art. 59, tendo em vista que o juiz senten­ciante levou em consideração, para aumentar a pena do ora recorrido, circunstância caracterizadora de delito autônomo; ou seja, as lesões corporais sofridas pelo menor, o que "poderá acarretar bis in idem e cerceamento de defesa". Aduz, ain­da, que remeteu cópia dos autos à Procuradoria de Justiça para a ado­ção das medidas cabíveis quanto ao possível crime de lesões corporais. Requer seja a pena do recorrido di­minuída para 1 ano e dois meses de reclusão e 40 dias-multa.

Admitido na origem o recurso, com as contra-razões vieram os au­tos a esta instância.

A Subprocuradoria Geral da Re­pública opinou pelo seu provimen­to.

Relatei.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 341

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VOTO

O SR. MINISTRO EDSON VIDI­GAL (Relator): Senhores Ministros, como se viu do relatório, o recorri­do, momentos após a subtração do veículo, veio a chocar-se com a tra­seira de um ônibus, sendo que do acidente resultaram lesões corpo­rais nele próprio e em seu irmão, que ocupava o assento do carona.

O juiz de primeiro grau, no mo­mento da aplicação da pena ao re­corrido pelo crime de furto, elevou a pena-base em razão das lesões corporais sofridas pelo menor no acidente.

Evidentemente, este fato, que constitui crime autônomo, não po­deria ser considerado quando da análise das circunstâncias judiciais previstas no CP, art. 59, sob pena

de verificar-se o chamado bis in idem. Como bem acentuou o pare­cer do MPF, "As lesões ocasionadas no irmão do recorrido devem ser apuradas em ação penal uma vez que constituem um fato típico."

Destarte, o Acórdão recorrido, ao confirmar a decisão de primeiro grau, violou o art. 59 do Código Pe­nal.

Assim, dou provimento ao recur­so para reduzir a pena do recorrido para 1 (um) ano de reclusão e 10 (dez) dias-multa, no valor unitário mínimo.

Presentes os requisitos previstos no Código Penal, suspendo a execu­ção da pena privativa de liberdade pelo prazo de dois anos.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 104.978 - SP

(Registro n Q 96.0052981-7)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social- INSS

Advogada: Dra. Ana Francisca Moreira de Souza Sanden

Recorridos: Marcelino Pereira da Rocha e cônjuge

Advogado: Dr. João Antônio Francisco

EMENTA: Previdenciário. Ação acidentária. Autônomo.

- Pensão por morte. Indevida a dependente de autônomo na vi­gência da Lei 8.213/91 (art. 18, § 1 Q), sem a alteração da Lei 9.032/ 95.

342 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Ministros Cid Flaquer Scartezzini, José Arnal­do, Felix Fischer e Edson Vidigal.

Brasília, 26 de maio de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.

Publicado no DJ de 30-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: A espécie está bem relatada pelas linhas da decisão que admi­tiu o recurso da lavra do Juiz José Horácio, Vice-Presidente do 2Q TAC/ SP, textual:

"Trata-se de recurso especial fundamentado no artigo 105, lII, a, da Constituição Federal, sob a alegação de ofensa aos artigos 11, 18, § 1Q

, da Lei 8.213/91 e 301, § 4Q do Código de Processo Civil porque concedido o benefício da pensão acidentária e pecúlio para dependentes de montador autô­nomo, falecido em virtude de aci­dente de trabalho. No entanto, para esta categoria de segurado obrigatório, a lei não estende

aqueles benefícios. Reclama, ain­da, a incompetência absoluta da Justiça Estadual.

De proêmio, observo, é certo que a incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição. Não menos certo, porém, que trata-se de ques­tão nestes autos já decidida pelo Egrégio Tribunal Regional Fede­ral da 3ª Região, cujo acórdão transitou em julgado, sem qual­quer impugnação recursal das partes naquela esfera jurisdicio­nal." - fls. 103.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS (Relator): Senhor Presidente, assiste inteira razão à decisão ao dar por preclusa a suscitação de in­competência, vez que a questão re­sultou trânsita em julgado pelo acórdão do TRF/3ª Região de fls. 58.

De respeito ao cabimento de pen­são por morte a dependente de tra­balhador autônomo, tema dito ofen­sivo aos arts. 11 e 18, § 1 Q da Lei 8.213/91, tem-se que, embora o au­tônomo seja segurado obrigatório da Previdência Social (art. 11, inciso IV da Lei 8.213/91) está excluído dos benefícios 'resultantes de acidente do trabalho, consoante art. 18, § 1 Q

da mesma lei. É o que se lê:

"Art. 18- .............................. .

§ 1 Q. Só poderão beneficiar-se do auxílio-acidente e das dispo­sições especiais relativas a aci-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997. 343

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dente do trabalho os segurados e respectivos dependentes mencio­nados nos incisos I, VI e VII do art. 11 desta Lei, bem como os presidiários que exerçam ativida­de remunerada."

"Art. 11- São segurados obri­gatórios da Previdência social, as seguintes pessoas físicas:

I - como empregado:

II - como empregado domés-tico: ............................................. .

UI - como empresário: ........... .

IV - como trabalhador autô-nomo: ........................................... .

V - como equiparado a traba-lhador autônomo: ....................... .

VI - como trabalhador avulso:

VII - como segurado especial: "

Ressalte-se que, conquanto a Lei 9.032, de 28.04.95, tenha limitado a proibição ao auxílio-acidente, ex­cluindo, assim, as demais "disposi­ções especiais relativas a acidente do trabalho", no presente caso, o acidente ocorreu em 17.09.91, épo­ca em que vigia a Lei 8.213/91 (tem­pus regit actum).

De notar ainda que a exclusão le­gal aos benefícios acidentários abrangia, também, outras categori­as de segurados obrigatórios, a sa­ber: os domésticos, os empresários e os equiparados aos autônomos.

Pelo exposto, conheço do recurso e o provejo, para julgar improceden­te a ação, sem ônus por se tratar de justiça gratuita.

RECURSO ESPECIAL NQ 112.930 - PR

(Registro n Q 96.0070883-5)

Relator: O Sr. Ministro José Arnaldo

Recorrente: Alceu Pigorim (preso)

Recorrido: Ministério Público do Estado do Paraná

Advogado: Dr. Ercilio Rodrigues de Paula

EMENTA: REsp. Direito Penal. Pena. Regime prisional.

- Ao estabelecer o regime de cumprimento de pena, deve o julga­dor examinar os requisitos objetivos e subjetivos, em atenção ao disposto no art. 59 do Código Penal.

- Recurso conhecido e provido.

344 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Re­lator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Felix Fischer, Edson Vi­digal, José Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília, 14 de abril de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ ARNALDO, Relator.

Publicado no D.; de 26-05-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO: Condenado a 5 anos de reclu­são por ofensa ao disposto no art. 171, da lei substantiva penal, Alceu Pigorim insuflou a instância de 2Q

grau e logrou êxito, em parte, posto a pena foi reduzida a 1 (um) ano de reclusão. Ainda inconformado, vem a esta Corte com base no art. 105, III, c, da Lei Magna, e na violação ao art. 33, § 2Q

, c e § 3Q c/c o art. 59, do Código Penal, à consideração de inexistir fundamentação no atinen­te ao regime fechado imposto como ao regime inicial de cumprimento da pena.

Admitido o recurso, por ocorrên­cia de negativa de vigência à lei fe­deral (art. 33, § 2Q

, c e § 3Q c/c o art.

59, do Código Penal), pronunciou­se o Ministério Público Federal pelo não conhecimento, por não caracte­rizada a divergência, e quanto à vio­lação de lei federal o tema não foi prequestionado.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ ARNAL­DO (Relator): Realmente, não se comprovou o dissídio pretoriano, porquanto o só transcrever a emen­ta do aresto tido por divergente sem o detido exame para confrontá-lo com o acórdão hostilizado - nem sempre é hábil a ensejar conheci­mento do recurso. Por essa alínea, não conheço do recurso.

N o pertinente à infringência dos dispositivos do Código Penal, tenho para mim que ocorreu o prequestio­namento ainda que de forma vela­da. Lendo-se o acórdão recorrido, depara-se com a indicação dos arts. 59 e 33, da lei substantiva penal. Destaque-se esse trecho às fls. 298:

"Diante dessas considerações prévias, fixo a pena-base em 01 (um) ano e 02 (dois) meses de re­clusão, como resultado da valo­ração das circunstâncias judici­ais do artigo 59 do Código Penal, que reduzo de 02 (dois) meses ante a reparação do dano, duran­te a instrução criminal, conforme consta dos autos, perfazendo a pena total de 01 (um) ano de re­clusão, que torno definitiva, ante a impossibilidade do reconheci­mento da circunstância agravan-

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te da reincidência supramencio­nada, bem como, pela ausência das causas de aumento ou dimi­nuição da pena.

Determino o regime inicial fecha­do para o cumprimento da pena privativa de liberdade, consoan­te dispõe o artigo 33 do Código Penal."

Dessarte, o recurso, malgrado não haja invocado a letra a do per­missivo constitucional, alegou vio­lação ao art. 33, § 29 , c e § 3Q

, da Lei Penal.

A decisão, na linha de entendi­mento do STF e do STJ, que esta­belecer regime de prisão mais duro a que o condenado deveria se sub­meter obrigatoriamente, há de tra­zer fundamentação. Leiam-se os precedentes citados pelo il. Presi­dente do Tribunal de Alçada, Dr. Dilmar Kessler, às fls. 315/16:

"REsp - Direito Penal - Pena - Regime de cumprimento ° Juiz, ao fixar o regime inicial de cumprimento da pena, deve ana­lisar os requisitos objetivos e sub­jetivos. Só assim, a pena alcan­çará o fim enunciado no Código Penal (art. 59), ou seja, necessá­ria e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Indispen­sável ponderar o Juízo de conve­niência." (Recurso Especial n Q

22.829-7-PR, ReI. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU 23.8.93, pág. 16.593).

"A fixação do regime inicial de cumprimento da pena deve ser feito, fundamentadamente, com estrita observância dos critérios previstos no art. 59 do Código Penal. Não basta, para esse efei­to, a genérica referência às cir­cunstâncias judiciais indicadas na norma legal mencionada. Quan­do possível, em tese, o início do processo de execução penal em regime semi-aberto, impõe-se ao juízo sentenciante a concreta in­dicação de elementos cuja efeti­va ocorrência torne recomendá­vel, ante as razões constantes do ato decisório, a adoção do regime fechado." (HC 69.118-8-SP, ReI. Min. Celso de Mello, DJU 10.4.92, pág. 4.799).

N a mesma linha de raciocínio, podem ainda ser citados: HC 70.150-7-RJ, ReI. Min. Octavio Gallotti, DJU 18.06.93, pág. 12.112; HC 71.088-3-SP, ReI. Min. Carlos Velloso, DJU 23.9.94, pág. 25.314; HC 72.937-1-SP, ReI. Min. Ilmar Galvão, DJU 01.12.95, pág. 41.685; HC 72.361-6-SP, ReI. Min. Carlos Velloso, DJU 22.9.95, pág. 30.592; HC 69.929-4-SP, ReI. Min. Moreira Alves, DJU 26.3.93, pág. 5.005; HC 1.567-1-GO, ReI. Min. Assis Toledo, DJU 15.2.93, pág. 1.690; entre outros."

Ante o exposto, conheço do recur­so pela letra a e o provejo para, mantendo a condenação, anular a parte do acórdão que fixou o regi­me prisional.

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RECURSO ESPECIAL NQ 116.883 - DF

(Registro n Q 96.0079521-5)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas

Recorrente: Andrea Peixoto de Araújo

Advogados: Drs. José Gomes de Matos Filho e outros

Recorrido: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

EMENTA: Criminal. Sursis Processual. Lei n Q 9.099/95 (art. 89).

- Retroatividade. Sua inviabilidade em relação aos processos jul­gados anteriormente à vigência da norma legal, ainda que não transitada emjulgado a sentença condenatória. STF - Preceden­tes mais recentes.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso. Votaram com o Re­lator os Ministros Cid Flaquer Scar­tezzini, José Arnaldo, Felix Fischer e Edson Vidigal.

Brasília, 03 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro EDSON VIDIGAL, Pre­sidente. Ministro JOSÉ DANTAS, Relator.

Publicado no DJ de 30-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS: A espécie está bem relatada no parecer da Subprocuradora-Geral Zélia Gomes, deste modo:

"A recorrente foi denunciada pelo Ministério Público do Distri­to Federal e Territórios pela prá­tica de crime previsto no art. 121, § 3Q, do Código Penal, porque, em 12 de setembro de 1992, por vol­ta das 17:00h, conduzindo seu veículo automotor de placa BB-0047-DF, pela via DF-025 (Estra­da do Parque Dom Bosco), atro­pelou Pedro Rodrigues Barros, que faleceu em virtude das lesões sofridas, sendo a denúncia rece­bida em 3 de agosto de 1994.

Processada e julgada, sobre­veio-lhe sentença condenatória, em 29 de setembro de 1995, apli­cando pena de um ano de deten­ção e mais sessenta dias-multa, à razão de 1/30 do salário míni­mo vigente à época do fato, sen­do a pena corporal substituída por outra restritiva de direito consistente em prestação de ser­viço à comunidade pelo mesmo período.

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Inconformada com a r. senten­ça, interpôs recurso de apelação, pretendendo ser absolvida, por entender que a prova dos autos aponta para a inexistência de culpa, tudo não passando de me­ra fatalidade.

Protestando pela juntada de suas razões na superior instân­cia, estas vieram aos autos em 21 de novembro de 1995.

Estavam os autos com vista ao Ministério Público para apresen­tar contra-razões ao recurso e conseqüente parecer ao apelo, quando entrou em vigor a Lei n Q

9.099, de 26 de setembro de 1995, dispondo sobre os Juizados Espe­ciais Cíveis e Criminais, em cujo art. 89 prevê a possibilidade de suspensão do processo, median­te proposta do Ministério Públi­co, nos crimes em que a pena mí­nima cominada seja igualou in­ferior a um ano, desde que o acu­sado que preencha determinados requisitos aceite a proposta.

Em vista disso, a Procuradoria de Justiça, ao se pronunciar acer­ca do recurso, argüiu, preliminar­mente, questão prejudicial no sentido de ser oportunizada, no Juízo de Primeiro Grau, a sus­pensão condicional do processo, que foi reiterado pelo patrono da recorrente, na sustentação oral, na sessão de julgamento da ape­lação.

A preliminar foi rejeitada, à unanimidade, por entender ser impossível a suspensão condicio­nal do processo em virtude de comportar a pena corporal subs-

tituição por pena restritiva de di­reito, por se tratar de crime cul­poso. No mérito, foi mantida a r. sentença condenatória.

Inconformada com o v. acór­dão, a ré interpôs recurso espe­cial, fundado na alínea a, do per­missivo constitucional, sob a ale­gação de que a decisão contrariou § 1Q

, do art. 89, da Lei n Q 9.099, de 26 de setembro de 1995, por­quanto deveria ter determinado o retorno dos autos à primeira instância, não podendo, inclusi­ve, adentrar no exame do mérito do cabimento, ou não, do benefí­cio, matéria exclusiva da compe­tência do juiz singular, bem as­sim o caput do aludido disposi­tivo, ao concluir pela sua inapli­cação, quando plenamente cabí­vel na espécie. Entendeu, ainda, contrariado o art. 77, UI, do Có­digo Penal, porque totalmente inaplicável à espécie.

Pretende a reforma do v. acór­dão guerreado a fim de que os autos baixem à primeira instân­cia, para os fins previstos no art. 89, caput, da Lei n Q 9.099/95.

Admitido o recurso na origem, subiram os autos a essa Colenda Corte, de onde vieram ao Minis­tério Público Federal para pro­nunciamento.

Estes, em síntese, os fatos." -fls. 143/45.

Quanto ao mérito, louvando-se na doutrinação de Fabbrini Mira­bete e Luiz Flávio, a ilustre pare­cerista se manifesta em apoio do re­corrente, nesta conclusão:

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"Assim, restou maltratado o art. 89, da citada Lei nº 9.099/95, pelo que, embora pessoalmente eu entenda que as normas ali contidas não devam ser aplicadas aos processos em curso por cri­mes praticados antes de sua vi­gência, por não vislumbrar o seu caráter mais benéfico ao infrator, certo que com a suspensão do pro­cesso também fica suspenso o curso da prescrição, a hipótese é de provimento do apelo, a fim de que os autos baixem em diligên­cia para que o Ministério Público avalie a possibilidade de propos­ta conciliatória, vez que, segun­do têm decidido nossos Tribunais, em consonância com grande par­te da doutrina, o comando do art. 89, do Diploma Legal em apreço, somente não se aplica quando transitada em julgado a senten­ça condenatória." - fls. 146/47.

Relatei.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DAN­TAS (Relator): Senhor Presidente, no que pertine ao chamado sursis processual instituído pelo art. 89 da Lei 9.099/95, já se avolumam nos Tribunais, dentre outras, as contro­vérsias sobre os parâmetros de sua aplicação retroativa. Até onde pude alcançar, no que interessa ao caso dos autos, vem-se definindo, sem maior receio, a sua incidência retro­ativa, no quanto, independente de sua ordenação instrumental, conte­nha matéria penal favorável ao réu,

tal qual o disse a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, no HC 73.837, ReI. Min. Marco Auré­lio, reportado ao precedente do Tri­bunal Pleno, proferido no Inq. PoI. 1.055, relatado pelo Min. Celso de Mello (DJ de 15.02.96).

Muito mais amplo se mostra o alcance desse preceito retroativo proclamado pelo Pretório Excelso, no acórdão da Primeira Turma, re­latado pelo Min. Octavio Gallotti, conforme esta ementa:

"Habeas Corpus impetrado contra acórdão que, em 13.12.95, sem pedir manifestação do Minis­tério Público sobre a admissibili­dade da suspensão do processo prevista no art. 89 da Lei nº 9.099/95, em vigor desde 27.11.95, confirmou a sentença de 19.06.95, que condenara o paciente a 15 dias de detenção e 50 dias-multa, por infringência do art. 330 do Código Penal.

Efeito retroativo das medidas despenalizadoras instituídas pela citada Lei n Q 9.099 (Prece­dente do Plenário: Inquérito n Q

1.055, D.J. de 24.05.96).

Pedido deferido para, anulados o acórdão e a sentença, determi­nar-se remessa dos autos da ação penal ao Tribunal Especial Cri­minal, para a aplicação, no que for cabível, do disposto nos arti­gos 76 e 89 da Lei nº 9.099/95." - HC 74.017, Informativo de 23 a 27.09.96.

Anote-se, por explícito, que nes­se último julgado, anulou-se o acór-

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dão recorrido e a sentença condena­tória por ele confirmada, pelo que ficou certo que somente a coisa jul­gada escaparia à discutida incidên­cia. Aliás, essa mesma conclusão fora a dos estudos da Comissão Nacional de Interpretação da Lei 9.099/95, presidida pelo Min. Sálvio de Figuei­redo, segundo informação do Minis­tério Público ora recorrido, a fls. 133.

Nessa aberta linha interpretati­va se pôs a 6ª Turma deste Supe­rior Tribunal, embora que em apre­ciação de hipóteses de processos ainda em curso instrutivo no adven­to do examinado diploma - REsps 101.737, relator "vencido" o Min. Vi­cente Leal, e HC 4.780, relator "con­vencido" o mesmo eminente Minis­tro.

Desta 5ª Turma, tem-se notícia de um único caso, relatado pelo Sr. Min. Flaquer Scartezzini, mas que versou denúncia por crime cometi­do já na vigência da discutida lei, pelo que o seu julgamento limitou­se à questão da gravidade do deli­to, matéria imprópria de exame na via do hc, porque constitutiva do próprio elemento subjetivo interes­sado ao mérito da acusação - HC 5.027, sessão de 12.11.96. Outros casos de minha relatoria também não guardam interesse neste julga­mento, porquejá se tratava da apli­cação da regra suspensiva ao revel, com autorização, porém, da nova redação do art. 366 do Código de Processo Penal (HC 6.142 e 6.340 - DJ de 18.02.97 e 28.04.97).

Em face dessa varredura nos anais dos tribunais superiores, ou-

tra não deveria ser a conclusão, se­não a de que os altos pretórios teri­am se posto em declarar a retroati­vidade mais plena da norma, ina­tingível apenas a coisa julgada.

N o entanto, por muito pesar ao tema, o Supremo Tribunal Federal parece ter-se reconsiderado, em ate­nuação daquela primeira abrangên­cia. É o que se pode perceber pela seguinte ementa:

"Habeas corpus - Suspensão condicional do processo penal (sursisprocessual) -Lei n Q9.099 / 95 (art. 89) - Condenação penal já decretada - Impossibilidade de aplicação retroativa da lex mi­tior- Limites da retroatividade - Pedido indeferido.

Condenado o réu, em momen­to anterior ao da vigência e efi­cácia integral da Lei dos Juizados Especiais Criminais, torna-se in­viável a incidência retroativa do art. 89 da Lei nº 9.099/95, eis que, com o ato de condenação penal, ficou inteiramente comprometida a finalidade única para a qual o instituto do sursis processual foi concebido: a de evitar a imposi­ção de decreto condenatório. Pre­cedentes: HC nº 74.463-SP, ReI. Min. Celso de Mello e HC nº 74.305-SP, ReI. Min. Moreira Al­ves." - HC 74.856, STF, Primei­ra Turma, ReI. Min. Celso de Mel­lo, DJ de 25.04.97.

Do voto condutor desse acórdão, extraem-se assertivas deste teor:

"É irrecusável que as prescri­ções normativas benéficas de ca-

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ráter material que veiculam me­didas despenalizadoras, à seme­lhança da norma inscrita no art. 89 da Lei nº 9.099/95, devem pro­jetar-se com eficácia retroativa, para favorecer o réu, em virtude de expressa determinação cons­titucional (CF, art. 5Q

, XL).

Ocorre, no entanto, tratando­se da suspensão condicional do processo penal, que a incidência da norma de direito material mais benéfica - considerada a própria natureza desse novo ins­tituto - encontra limitações que derivam da fase processual em que se acha a persecutio crimi­nis.

É por essa razão -adverte Luiz Flávio Gomes ("Suspen­são Condicional do Processo Pe­nal", pág. 154, 1995, RT) - que "Sejá houve trânsito em julgado, é impossível a retroatividade da lei em tela. Essa impossibilidade deriva da própria natureza das coisas: é impossível suspender um processo que já terminou. A lei cuidou da suspensão, não da ressurreição do processo" (grifei).

Essa mesma orientação é tam­bém perfilhada por autorizados doutrinadores (Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho, Antonio Scaran­ce Fernandes e Luiz Flávio Gomes, "Juizados Especiais Cri­minais", pág. 21, item n. 9, 1996, RT; Damásio Evangelista de Jesus, "Lei dos Juizados Especi­ais Criminais Anotada", pág. 114, 2ª ed., 1996, Saraiva, v.g.), que identificam na existência do trân-

sito em julgado um limite natu­ral para a aplicação retroativa do sursis processual.

O Plenário do Supremo Tribu­nal Federal (HC n Q 74.305-SP, ReI. Min. Moreira Alves), no en­tanto - tendo presente situação idêntica à que ora se examina nesta sede - entendeu que, con­denado o réu, ainda que median­te decisão recorrível, torna-se in­viável a realização dos fins para os quais o instituto do sursis pro­cessual foi previsto e concebido: impedir a prolação de sentença penal condenatória e evitar a con­seqüente imposição da pena pri­vativa de liberdade.

A Primeira Turma do Supre­mo Tribunal Federal, por sua vez, ao julgar o HC n Q 74.463-SP, ReI. Min. Celso de Mello, reiterou esse mesmo entendimento, em acór­dão assim ementado:

"Habeas corpus - Suspen­são condicional do Processo Penal (sursis processual) -Lei n Q 9.099/95 (art. 89)­Condenação penal já decreta­da - Impossibilidade de apli­cação retroativa da lex mitior - Limites da retroatividade -Pedido indeferido.

- A suspensão condicional do processo - que constitui medida despenalizadora -acha-se consubstanciada em norma de caráter híbrido. A regra inscrita no art. 89 da Lei n Q 9.099/95 qualifica-se, em seus aspectos essenciais, como preceito de caráter processual,

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revestindo-se, no entanto, quan­to às suas conseqüências jurí­dicas no plano material, da na­tureza de uma típica norma de direito penal, subsumível à no­ção da lex mitior.

- Apossibilidade de válida aplicação da norma inscrita no art. 89 da Lei n Q 9.099/95 -que dispõe sobre a suspensão condicional do processo penal (sursis processual) - supõe, mesmo tratando-se de fatos delituosos cometidos em mo­mento anterior ao da vigência desse diploma legislativo, a inexistência de condenação penal, ainda que recorrível.

Condenado o réu, ainda que em momento anterior ao da vigência da Lei dos Juizados Especiais Criminais, torna-se inviável a incidência do art. 89 da Lei n Q 9.099/95, eis que, com o ato de condenação penal, fi­cou comprometido o fim precí­puo para o qual o instituto do sursis processual foi concebi­do, vale dizer, o de evitar a im­posição da pena privativa de liberdade. Precedente."

Essa situação - existência de decreto condenatório, ainda que

recorrível - atua como causa obs­tativa da aplicação retroativa do instituto jurídico em referência, pois, em tal hipótese, já não mais existe a possibilidade de útil in­vocação da norma consubstancia­da no art. 89 da Lei n Q 9.099/95."

o vigor dessas afirmativas me convence do impedimento da exis­tência da sentença condenatória, e não o seu trânsito em julgado, como termo ad quem da examinada re­troatividade da Lei 9.099/95, arts. 76 e 89. Na verdade, processo sen­tenciado é processo findo na instân­cia originária, não tendo como suspendê-lo por força do incidente despenalizador sobrevindo à conde­nação.

É bem o caso dos autos, a trato de crime cometido em 12.09.92, e sentenciado a 29.09.95, dias depois da edição da Lei 9.099 (27.09.95), mas anterior à sua entrada em vi­gor (60 dias depois, isto é, 26.11.95).

Em suma, embora que por moti­vação diferente da que embasou a negativa de aplicação daquela lei ao caso, na realidade, o v. acórdão não cometeu a suscitada violação de lei.

Pelo exposto, não conheço do re­curso.

352 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (99): 311-352, novembro 1997.