química - cadernos temáticos - interações intermoleculares

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  • 8/14/2019 Qumica - Cadernos Temticos - interaes Intermoleculares

    1/6Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola N 4 Maio 2001

    Interaes intermoleculares

    Introduo

    Quando molculas, tomos ouons aproximam-se uns dosoutros, dois fenmenos po-

    dem ocorrer: (i) eles podem reagir ou(ii) eles podem interagir. Uma reaoqumica por definio requer queligaes qumicas sejam quebradas e/ou formadas. Usualmente as energiasenvolvidas neste processo variam en-tre 50 e 100 kcal.mol-1. Uma interao

    qumica significa que as molculas seatraem ou se repelem entre si, sem queocorra a quebra ou formao de no-vas ligaes qumicas. Estas intera-es so freqentemente chamadasde interaes no covalentes ou inte-raes intermoleculares. As energiasenvolvidas em tais tipos de interaesso muito menores que aquelas envol-vidas em processos reativos, variandousualmente entre 0,5 a 10 kcal.mol-1.

    As interaes intermolecularesesto intimamente relacionadas com

    as propriedades termodinmicas delquidos, slidos e gases. Logo, o en-tendimento de tais foras intermo-leculares de extrema relevncia sequisermos entender o comportamentode sistemas qumicos a nvel molecu-lar. Como exemplo, a Figura 1 mostracomo a temperatura de ebulio dehidrocarbonetos (compostos contendosomente carbono e hidrognio) variacom o nmero de tomos de carbono

    Willian R. Rocha

    Este artigo tem por objetivo fornecer uma descrio qualitativa dos principais tipos de interaesintermoleculares que atuam nos sistemas qumicos, e mostrar como o entendimento de tais interaes podeauxiliar na racionalizao de propriedades macroscpicas observveis.

    propriedades termodinmicas, foras intermoleculares

    presentes na molcula. A temperaturade ebulio de um composto a tem-peratura na qual um sistema lquidopassa para a fasegasosa, que tem umarelao direta com asforas entre as mol-culas constituintes dolquido. Pode-se verna Figura 1 que a tem-peratura de ebuliovaria linearmente com

    o nmero de tomosde carbono.

    interessante per-ceber na Figura 1 queo nico fator diferenciador entre umamolcula e outra a quantidade detomos de carbono presentes. Entre-tanto, estas molculas possuem umcomportamento macroscpico com-pletamente diferente. CH4 um gs

    temperatura ambiente e C8H18 um l-quido. Esta e outras caracterstica, co-mo ser mostrado adiante, esto inti-

    mamente relaciona-das com a naturezadas interaes exis-tentes entre as mol-culas.

    A Tabela 1 ilustracomo as propriedadesde um sistema qu-mico esto intimamen-

    te relacionadas com asua composio e es-trutura tridimensional.Nesta tabela, somostrados compostos

    com massas moleculares aproxima-damente iguais mas, que tempera-tura ambiente existem em diferentesfases: butano (gs), acetona e lcoolisoproplico (lquidos). interessanteperceber que dos dois lquidos, aceto-na e lcool isoproplico, a nica diferen-a entre eles a substituio de um

    grupo C=O por um grupo C-OH. Estamudana suficiente para alterar com-pletamente as caractersticas dos doislquidos. Como pode ser visto, a aceto-na um lquido muito mais voltil queo lcool isoproplico. A substituio dosgrupos funcionais acompanhada deuma mudana na estrutura tridimensio-nal da molcula, que ir afetar com-pletamente a maneira na qual elas irointeragir no lquido. Tambm

    Figura 1: Variao da temperatura de ebu-lio com o nmero de tomos de carbonopara os hidrocarbonetos lineares.

    Uma interao qumica

    significa que as molculas

    se atraem ou se repelem

    entre si, sem que ocorra a

    quebra ou formao de

    novas ligaes qumicas.

    Estas interaes so

    freqentemente chamadas

    de interaes nocovalentes ou interaes

    intermoleculares

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    mostrado na Tabela 1, os diferentestipos de interao intermolecular, quesero explicados adiante, para os trscompostos.

    Para finalizar com os exemplos,cabe salientar que as interaesintermoleculares e seu entendimentoganham sua expresso mxima emsistemas biolgicos. As molculasda vida (DNA, RNA, protenas etc.)so mantidas em suas estruturas

    tridimensionais atravs de interaesintra e intermoleculares. Uma vez quea estrutura tridimensional molecular responsvel pela atividade biol-gica especfica destas molculas,percebe-se ento a importncia doentendimento de tais interaes. Umfato interessante, que at hoje no bem entendido, o porqu ou comoestas molculas biolgicas adquiremsua estrutura tridimensional. Comoexemplo, uma protena sintetizadacomo uma seqncia linear de ami-

    nocidos que se enovelam no espa-o dando origem sua estrutura tridi-mensional nica, que ir ditar se estaprotena ter caractersticas estru-turais ou enzimticas. Um outro fatointeressante a ser mencionado quetodos os processos orgnicos vitaisesto relacionados com o reconhe-cimento molecular especfico inter eintramolecular. Estes processos po-dem ser definidos como sendo

    interaes fracas, usualmente rever-sveis e altamente seletivas entreduas molculas (intermolecular) oudentro da macromolcula biolgica(intramolecular). Um exemplo dasinteraes intermoleculares espec-ficas que mantm a estrutura tridi-mensional em hlice do DNA mos-

    trado na Figura 2.Este artigo tem por objetivo fornece

    uma descrio qualitativa dos princpais tipos de interaes intermoleculares que atuam nos sistemas qumcos, e mostrar como o entendimentode tais interaes pode auxiliar naracionalizao de propriedades ma

    Tabela 1: Relao entre a estrutura e propriedades qumicas.

    Nome butano acetona alcool isoproplico

    Frmula molecular C4H10 C3H6O C3H8O

    Massa molecular (g/mol) 58 58 60

    Estrutura bidimensional

    Estrutura tridimensional

    Temperatura de ebulio (oC) -0,6 56 82

    Tipo de interao Disperso Dipolo - Dipolo Ligao de hidrognio

    Figura 2: Estrutura tridimensional da molcula de DNA. (A) modelo de espao preenchido(B) modelo bola e vareta. (C) interaes intermoleculares especficas (ligaes de hidrognio) entre os pares de bases.

    Interaes intermoleculares

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    croscpicas observveis.

    Descrio das foras intermoleculares

    Sob um ponto de vista histrico, oefeito das interaes intermolecularese sua manifestao sobre o comporta-mento de sistemas qumicos comeoua mais de dois sculos atrs com osexperimentos pioneiros em sistemas

    gasosos realizados por cientistas co-mo Robert Boyle, Jacques Charles,Joseph-Louis Gay-Lussac e Johannesvan der Waals. A combinao dasrelaes obtidas por Boyle, Charles eGay-Lussac levou conhecida equa-o de estado dos gases ideais:

    (1)

    Onde P a presso, V o volume,T a temperatura, n o nmero de molesdo gs contidos no recipiente e R aconstante universal dos gases ideais.Um gs ideal , por definio, umsistema gasoso constitudo de partcu-las pontuais e no interagentes, isto ,no existe nenhuma interao entre aspartculas constituintes do gs, quersejam tomos ou molculas. A anliseda equao de estado dos gasesideais (Equao 1) nos revela algumascuriosidades. Por exemplo, a uma da-da presso e temperatura, 1 mol dequalquer gs ocupar o mesmo vol-ume. Isto devido ao fato que a

    equao dos gases ideais no contem-pla nenhuma informao inerente aosistema gasoso sob estudo, o que fazcom que as propriedades termodi-nmicas calculadas sejam as mesmaspara qualquer gs.

    Os desvios do comportamentoideal dos gases podem ser vistosquando o fator de compressibilidade,Z, que definido como mostrado naEquao (2), representado grafica-mente em funo de P a vrias tempe-raturas.

    (2)

    As foras de interao intermole-culares fazem com que Z desvie do va-lor ideal de 1.

    As interaes intermolecularessurgem devido s foras intermo-leculares, que so essencialmente denatureza eltrica, e fazem com queuma molcula influencie o comporta-

    mento de outra molcula em suas pro-ximidades. Estas foras so respons-veis pelo desvio do comportamentoideal dos gases, e so mais efetivasnas fases lquida e slida da matria.Uma vez que estas foras intermole-culares se originam do contato noreativo entre duas molculas, naturalpensarmos que as foras intermolecu-

    lares tenham um comportamento quevarie com o inverso da distncia deseparao entre as molculas intera-gentes, isto , as interaes sero maisfortes para pequenas distncias deseparao entre as molculas. Tal fatofaz com que as interaes intermole-culares possam ser agrupadas eminteraes de curto alcance (aquelasque atuam a pequenas distncias deseparao intermolecular) e interaesde longo alcance, que atuam a gran-des distncias de separao intermo-lecular.

    Para ilustrarmos como se d a for-mao de um complexo intermolecu-lar (espcie formada pela interao en-tre duas molculas), considere a se-guinte situao: uma molcula A inte-rage com uma molcula B, produzin-do a espcie A-B, como exempli-ficado na Figura 3.

    O ganho adicional de energia de-vido s interaes intermoleculares nocomplexo A-B, pode ser obtido da se-

    guinte forma:E(intermolecular) = EA-B (EA + EB)

    Esta energia intermolecular podeento ser decomposta nos seus vrioscomponentes:

    E(intermolecular) = E(longo alcance)+ E(curto alcance)

    Logo, as principais contribuiesenergticas para a estabilizao docomplexo intermolecular A-B podemser encontradas. A pergunta que se

    torna imediata : quais so as forasintermoleculares responsveis pelasinteraes (energias) de curto e longo

    alcance? A seguir, alguns tipos de inte-raes intermoleculares sero descri-tas.

    Interaes inicas

    So interaes eletrostticas fortesque ocorrem entre ctions e nions,que so grupos funcionais com cargaspositivas e negativas, respectivamente.

    Geralmente os compostos onde estetipo de interao predominante soditos serem compostos inicos. Comoexemplo podemos citar os compostosabaixo:[Na]+Cl- (cloreto de sdio)[CH3CO2]

    -Na+ (acetato de sdio)[CH3NH3]

    +Cl- (cloreto de metil amnio)As interaes deste tipo (carga-car-

    ga) podem ser atrativas ou repulsivas.A fora eletrosttica associada comeste tipo de interao descrita mate-

    maticamente como (Lei de Coulomb):(3)

    onde q1 e q2 so as cargas daspartculas (ctions ou nions) intera-gentes. r a distncia que separa estascargas e a constante dieltrica domeio. Esta constante reflete a tendn-cia do meio em blindar uma carga daoutra, isto , uma carga ir sentir commaior ou menor intensidade a presen-a da outra. A constante dieltrica as-

    sume valores de 1 no vcuo, ao redorde 4 no interior de protenas e 80 nagua. A energia eletrosttica envolvidaneste tipo de interao dada por:

    (4)

    Logo, a contribuio eletrostticapara a energia intermolecular varia como inverso da distncia de separaointermolecular, 1/r. As foras eletrost-ticas conferem aos slidos caracters-ticas como alto ponto de fuso e ebuli-

    o.Interaes do tipo dipolo-dipolo

    Em molculas constitudas de to-mos diferentes, os eltrons no socompartilhados de maneira equivalen-te. O comportamento de tomos emmolculas pode ser entendido atravsde uma srie de conceitos. Por exem-plo, a tendncia de um tomo em atraireltrons para si, em um ambiente mole-

    Figura 3: Formao de um complexo inter-molecular entre duas molculas de bezeno.

    Interaes intermoleculares

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    cular, caracterizada por uma quanti-dade denominada eletronegatividade.

    A Tabela 2 mostra valores de eletrone-gatividade para alguns tomos:

    Em uma molcula composta detomos com diferentes eletronegativi-dades, os tomos com menor eletrone-gatividade ficam com cargas parciaispositivas, e os tomos com maior ele-

    tronegatividade ficam com cargas par-ciais negativas. O resultado disto queocorre ento uma polarizao das li-gaes que refletir na maneira comoa molcula ir interagir. Para ilustrareste conceito, considere a molcula deacetona, mostrada na Figura 4.

    Uma vez que o oxignio maiseletronegativo que o tomo de carbo-no, a ligao C=O exibir um dipoloeltrico , (dois monopolos eltricos),com os eltrons tendendo a seremmais atrados pelo oxignio. Ento, aligao C=O ter uma carga parcialnegativa () no oxignio e uma cargaparcial positiva no carbono (+). A re-presentao do dipolo eltrico resul-tante na molcula de acetona mos-trada na Figura 4b. A ponta da seta voltada para o lado negativo do dipolo.Da mesma forma que os lados opostosde um magneto (im) se atraem, os la-dos opostos de um dipolo se atraem,dando origem s interaes dipolo-di-polo. Algumas orientaes possveis

    entre os dipolos na acetona so mos-tradas na Figura 5.Como pode ser visto, a interao

    dipolo-dipolo depende da orientaoespacial dos dipolos interagentes, isto, o momento de dipolo eltrico, , uma grandeza vetorial. Todas as mol-culas polares exibem dipolos eltricosque so ditos serem permanentes. Amagnitude do dipolo molecular nos for-nece uma medida da polaridade damolcula, logo, molculas mais pola-res apresentam maiores dipolos eltri-

    cos, e molculas com dipolo eltricomuito baixo ou zero so ditas seremapolares. A expresso matemtica quedefine a interao dipolo- dipolo mostrada abaixo:

    (5)

    A energia de interao dipolo-di-polo depende ento da orientao en-tre os dois dipolos (dados pelosngulos a e b) e varia com o inversoda terceira potncia da separao in-termolecular, 1/r3. Uma vez que dipolosso propriedades vetoriais, a estrutura

    tridimensional da molcula crucialpara a determinao da distribuio decargas na molcula e, por conseguinte,do momento de dipolo resultante.Como exemplo, algumas molculaspodem ter ligaes polares e, entre-tanto, no exibirem momento de dipoloeltrico resultante. Como por exemploas molculas CF4 e trans-1,2-dicloro-eteno, mostradas abaixo, no exibirodipolo eltrico, pois o arranjo tridimen-

    sional dos tomos nestas molculafaz com os dipolos presentes nas ligaes se anulem no somatrio globapara a determinao do dipolo molecular. Por conseguinte, estas molculano exibiro interaes do tipo dipolodipolo.

    Interaes dipolo-permanentedipolo

    induzido

    Uma molcula com um dipolo pemanente pode induzir um dipolo emuma segunda molcula que estejalocalizada prxima no espao. A fordesta interao ir depender do momento de dipolo da primeira molcule da polarizabilidade, a, da segundamolcula. A polarizabilidade de ummolcula uma grandeza fsica qu

    indica com que facilidade a densidadeletrnica da molcula pode ser polarizada, isto , formando uma distribuo assimtrica de densidade eletrnca (cargas) e por conseguinte ocorrendo a formao de dipolos instantneona molcula. Estes dipolos instantneos podem ento se alinhar de vriamaneiras com o dipolo permanente daprimeira molcula, originando a interao dipolo permanente-dipolo induzido. Este tipo de interao usualment

    Tabela 2: Valores de eletronegatividade paraalguns tomos.

    tomo Eletronegatividade

    H 2,13

    C 2,55

    N 2,98

    O 3,45

    S 2,53

    Figura 4: Momento de dipolo molecular da molcula de acetona. (A) distribuio de cargas, (B) orientao do vetor momento de dipolo resultante.

    Figura 5: Algumas orientaes dos vetoresmomento de dipolo na acetona.

    Figura 6: Orientao dos dipolos de ligaresultando em um dipolo molecular nulo.

    Interaes intermoleculares

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    varia com o inverso da quarta potnciada separao intermolecular, 1/r4, eocorre entre molculas polares eapolares. A Figura 7 ilustra a interaodipolo permanente-dipolo induzidoentre uma molcula polar e uma mol-cula apolar.

    Interaes de disperso

    Na introduo deste texto foi mos-trado o exemplo dos hidrocarbonetose a variao da temperatura de ebuli-o dos mesmos em funo do nme-ro de tomos de carbono (Figura 1).Estes compostos possuem somenteligaes do tipo C-C e C-H. Uma vezque a diferena entre as eletronega-tividades dos tomos de carbono ehidrognio muito pequena, estescompostos sero apolares. Mas comoexplicar a diferena drstica na tem-peratura de ebulio mostrada na Fi-gura 1? Indo mais alm, como explicaro fato de que CH4 um gs tempe-ratura ambiente e C8H18 um lquido,sendo que a nica diferena entre elesest no nmero de tomos de carbo-no? A resposta, como era de se espe-rar, est no tipo de interao intermo-lecular presente nestes compostos.

    Quando compostos apolares inte-ragem, o contato de uma molculacom a outra faz com que aparea umafora atrativa muito fraca que pode ser

    vista como uma interao dipolo indu-zido-dipolo induzido. Isto , as polariza-bilidades das duas molculas em con-tato que iro determinar a fora detal interao. Uma molcula perturbaa densidade eletrnica da outra, fa-zendo aparecer dipolos momentneosque se orientam e originam esta intera-o fraca. Esta interao tambm co-nhecida como fora de disperso deLondon, em homenagem a Fritz Lon-don, que as descobriu. Trata-se de umainterao muito fraca, que varia com o

    inverso da sexta potncia da separa-o intermolecular, 1/r6. Este tipo defora est presente em todo tipo de

    sistema molecular, mas torna-se apa-rente somente quando as outras intera-es intermoleculares no esto pre-sentes, como no casodos hidrocarbonetos.

    Apesar de ser uma inte-rao fraca, possui umefeito cumulativo e variaproporcionalmente com

    o nmero de contatosmoleculares presentesna molcula. Isto jus-tifica ento o grficoapresentado na Figu-ra 1.

    Ligaes de hidrognio

    A idia que um nico tomo dehidrognio poderia formar uma liga-o qumica com outros dois tomosfoi proposta em 1919 e 1920 por M.L.Huggins e G.N. Lewis, respectiva-mente. Um tomo aceptor (A), quepossua um par de eltrons no ligado,pode interagir favoravelmente com umtomo doador (D) que carrega umhidrognio cido. Duas maneiras dife-rentes de representar uma ligao dehidrognio podem ser vistas na Figura8.

    Uma ligao de hidrogniorequer que A e D sejam tomoseletronegativos (como porexemplo N, O e F). Se o tomo

    de hidrognio est ligado a umtomo muito eletronegativo, ohidrognio fica com uma cargaparcial bastante positiva (oucido), e o outro tomo (D) ficacom carga parcial negativa.Uma vez que o hidrognio omenor tomo da tabela peri-dica, possvel que as duasmolculas entrem em contatomuito prximo uma da outra.

    A combinao de alta pola-ridade da ligao H-D e o con-

    tato muito prximo resulta emuma interao particularmenteforte. Na verdade, a interao

    to forte que diferente das intera-es dipolo-dipolo convencionais, e re-cebe o nome especial de ligao de

    hidrognio. A geo-metria de uma liga-o de hidrogniopode ser descritaatravs de trs par-metros: a distncia

    D-H, representadapor r1 na Figura 8a,a distncia H-A, r2, eo ngulo entre D-H-A. As ligaes de

    hidrognio no so necessariamentelineares, correspondendo a = 180,e um mesmo tomo aceptor podeformar mais de uma ligao de hidro-gnio, como mostrado na Figura 8b.Quando a tcnica de raios X, que nospermite determinar o arranjo tridimen-sional dos tomos em uma molcula, aplicada a sistemas contendo hidro-gnio, no possvel determinarmosa posio dos tomos de hidrognio.Desta forma, a descrio geomtricada ligao de hidrognio determi-nada atravs da distncia de sepa-rao D-A (rDA na Figura 8a). comum

    Figura 7: Interao de uma molcula polar com uma molcula apolar.

    Figura 8: Arranjo geomtrico das ligaes de hidrognio.(A) interao entre duas molculas de gua. (B)interao entre uma molcula modelo de ligaopepitdica (trans-N-Metilacetamida) com trs molculasde gua, mostrando que o tomo de oxignio pode estarenvolvido em mais de uma ligao.

    Interaes intermoleculares

    Quando compostos

    apolares interagem, o

    contato de uma molcula

    com a outra faz com que

    aparea uma fora atrativa

    muito fraca que pode servista como uma interao

    dipolo induzido-dipolo

    induzido

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    atribuir a existncia de uma ligao dehidrognio em uma molcula se adistncia entre os tomos D e A formenor que a soma dos seus raios devan der Waals. Usual-mente, em sistemasenvolvidos em ligaode hidrognio, a dis-tncia D-H, se encon-

    tra na faixa de 1,8 a 2,0 e a distncia D-A nafaixa de 3 a 3,5 .

    A fora das liga-es de hidrognio es-t relacionada com a natureza dos to-mos doadores (D) e aceptores (A) deprtons envolvidos na interao. Li-gaes de hidrognio fortes, com aenergia de interao variando entre 20a 40 kcal.mol-1, so geralmente for-madas quando os tomos D e A estocarregados, sendo to fortes quantouma ligao covalente. Ligaes dehidrognio moderadas (energia varian-do entre 5 a 15 kcal.mol-1) so as maiscomuns, e so formadas entre doa-dores e aceitadores neutros. Ligaesde hidrognio fracas (de 1 a 5 kcal.mol-1)so usualmente formadas quando a di-ferena de eletronegatividade entre otomo doador e o hidrognio peque-na. As propiedades da gua, lcoois,cidos orgnicos, aminas e as macro-molculas biolgicas (protenas, DNA

    e RNA) esto intimamente relacionadascom a formao de ligaes de hidro-gnio.

    Tendncias observadas nas interaes

    intermoleculares

    Enquanto as foras intramolecu-lares mantm os tomos em uma mo-lcula, e constituem a base para a raci-onalizao das propriedades qumicas,as foras intermoleculares so respon-sveis por todas as propriedades fsi-cas da matria. Como foi mostrado,

    as foras intermoleculares aumentamem fora da seguinte forma:

    disperso < dipolo-dipolo < ligaesde hidrognio

    medida que a magnitude das for-as intermoleculares aumenta, ficamais difcil de afastarmos uma mol-cula da outra. Portanto, podemos es-perar que o ponto de fuso, por exem-plo, seja maior para aquelas substn-

    cias que possuam interaes intermo-leculares mais fortes. Ns sabemosque necessrio fornecermos energiapara transformarmos um slido em um

    lquido e um lquidoem um gs. Estasenergias esto dire-tamente relacionadascom a fora de atra-

    o entre as mol-culas nas fases con-densadas (lquida eslida). Uma vez quea energia direta-

    mente proporcional temperatura,cada um destes processos ir variarcom a magnitude das foras intermo-leculares. Isto , medida que a mag-nitude das interaes intermolecularesaumenta, as energias necessrias parafundir, vaporizar ou sublimar uma subs-tncia aumentam.

    Concluses e leituras adicionais

    Neste artigo foi mostrado como oentendimento microscpico das intera-es intermoleculares pode auxiliar nacompreenso das propriedades termo-dinmicas macroscpicas de sistemasqumicos. O rea da fisico-qumica quese dedica ao estudo das relaes en-tre propriedades microscpicas e pro-priedades termodinmicas observveis(macroscpicas) chamada de Termo-

    dinmica Estatstica. A termodinmicaestatstica se constitui em uma intensarea de pesquisa em fsica e qumica;a abordagem dos princpios da termo-dinmica estatstica foge dos objetivosdeste captulo. O leitor interessado po-de consultar Hill, 1986, Allen e Tildesley,1987 e Warshell, 1991. A utilizao dosfundamentos da termodinmica esta-tstica em conjunto com tcnicas com-putacionais, abriu uma grande rea depesquisa conhecida como simulaocomputacional de sistemas qumicos.

    Na simulao computacional a premis-sa bsica que se ns conhecemos adescrio analtica (funo matem-tica) do potencial de interao intermo-lecular, como aqueles mostrados nasequaes anteriores, pode-se entofazer a evoluo temporal (ou mapea-mento configuracional) at que o sis-tema atinja o equilbrio; ento podemosutilizar os conceitos da mecnicaestatstica para obtermos as proprie-

    Referncias bibliogrficas

    ALLEN, M.P. and TILDESLEY, D.J.Computer simulation of liquids. Londres:Oxford University Press, 1987.

    BARLETTE, V.E. e FREITAS, L.C.G.Termodinmica estatstica de lquidos

    com o mtodo de Monte Carlo. I. Meto-dologia. Qumica Nova, v. 22, n. 2, p. 254,1999.

    COUTINHO, K. and CANUTO, S. Sol-vent effects from a sequential MonteCarlo-quantum mechanical approach.

    Advances in Quantum Chem., v. 28, p.89, 1997.

    FREITAS, L.C.G. e BOTELHO, L.F. Cl-culo de propriedades termodinmicasde lquidos via simulao computa-cional. Qumica Nova, v. 17, n. 6, p. 489,1994.

    HILL, T.E.An introduction to statisticalthermodynamics. Nova Iorque: Dover,1986.

    ROCHA, W.R. ALMEIDA, K.J. and ALMEIDA, W.B. Chem. Phys. Lett., n.316, p. 510, 2000.

    ROCHA, W.R.; COUTINHO, K.; AL-MEIDA W.B. and CANUTO, S. Chem.Phys. Lett., n. 335, p. 127, 2001.

    WARSHELL, A. Computer modeling ofchemical reactions in enzymes and in

    solution. Nova Iorque: Wiley, 1991.

    dades termodinmicas macroscpicado sistema em equilbrio. As duas grandes tcnicas de simulao utilizadahoje so a dinmica molecular e omtodo de Monte Carlo. O leitor interessado em um maior detalhamentosobre estas tcnicas de simulaodeve consultar Allen e Tildesley, 1987

    Warshell, 1991, Freitas e Botelho, 1994Coutinho e Canuto, 1997 e Barlette eFreitas, 1999. As tcnicas de simulaotambm podem ser utilizadas em conjunto com mtodos fundamentados namecnica quntica, para avaliarmos ainfluncia das interaes intermoleculares em propriedades espectroscpicas, propriedades eltricas e propriedades estruturais de sistemas qumcos em fases condensadas. Tais metodologias podem ser vistas em Barlette Freitas, 1999, Rocha et al., 2000 Rocha et al., 2001.

    Willian R. Rocha ([email protected]), doutor emqumica, professor do departamento de qumica dUniversidade Federal de Juiz de Fora.

    Interaes intermoleculares

    As propiedades da gua,

    lcoois, cidos orgnicos,

    aminas e as macromolculas

    biolgicas (protenas, DNA e

    RNA) esto intimamenterelacionadas com a

    formao de ligaes de

    hidrognio