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5 UNIDADE 5 Questões do conhecimento no pensamento moderno e contemporâneo Objetivos de aprendizagem Identificar características da formação do pensamento moderno e contemporâneo. Conhecer as questões do conhecimento com que se ocuparam os filósofos modernos Descartes, Hume e Kant. Identificar a questão do conhecimento científico contemporâneo, em função da ótica de Kuhn e Feyerabend. Seções de estudo Seção 1 A redescoberta da racionalidade Seção 2 Caminhos possíveis para o conhecimento Seção 3 Questões da teoria do conhecimento na contemporaneidade

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5UNIDADE 5

Questões do conhecimento no pensamento moderno e contemporâneo

Objetivos de aprendizagem

Identifi car características da formação do pensamento moderno e contemporâneo.

� Conhecer as questões do conhecimento com que se ocuparam os fi lósofos modernos Descartes, Hume e Kant.

Identifi car a questão do conhecimento científi co contemporâneo, em função da ótica de Kuhn e Feyerabend.

Seções de estudo

Seção 1 A redescoberta da racionalidade

Seção 2 Caminhos possíveis para o conhecimento

Seção 3 Questões da teoria do conhecimento na contemporaneidade

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Para início de conversa

Nesta unidade, você estudará, brevemente, a passagem do pensamento antigo para o pensamento moderno e de que modo as mudanças sociais, que compreendem a decadência do feudalismo e o nascimento do capitalismo, interferiram no pensamento dos fi lósofos daquela época.

Também estudará a ruptura que houve com o pensamento medieval, as velhas formas de concepção do mundo e do homem e a organização social e econômica baseada no feudalismo. Compreenderá a passagem para o pensamento moderno através do Renascimento, que signifi cou o despertar da racionalidade no Ocidente.

Estudará as principais características da Teoria do Conhecimento na modernidade, pelo pensamento dos seguintes fi lósofos modernos: Descartes, Hume e Kant, no que se refere às bases modernas para o estudo contemporâneo do conhecimento científi co; e contemporâneos: Kuhn e Feyerabend, no que se refere às questões da Ciência e aos limites da razão.

Seção 1 – A redescoberta da racionalidade

A tradição da Teoria do Conhecimento iniciada com os fi lósofos gregos percorreu a história ocidental inspirando todos os períodos subseqüentes.

A passagem do pensamento clássico grego para o pensamento medieval foi marcada por uma controvertida ruptura que alterou o modo dos homens entenderem a realidade. Por um lado, a cultura grega incluía uma tradição racionalista e especulativa no conhecimento da natureza, o que oferecia risco aos dogmas cristãos. Os gregos cultuavam vários deuses, eram politeístas, enquanto o cristianismo surgiu como culto monoteísta, isto é, culto a um único Deus. Por outro lado, a cultura grega era magnífi ca, mesmo aos olhos dos dogmáticos doutores da Igreja.

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Além do que, a dialética dos gregos, sobretudo a platônica, serviu de poderoso meio de argumentação e fundamentação das verdades da fé.

Inicialmente, grande parte dos fi lósofos cristãos da Idade Média se ocuparam em conciliar fé e razão no conhecimento da natureza.

Há certo consenso entre os estudiosos de que os dogmas religiosos exerceram uma infl uência profunda no pensamento medieval. Sobretudo na primeira parte desse período, a Escritura Sagrada representava uma das fontes mais confi áveis de conhecimento.

A natureza era interpretada como uma escritura divina na qual ciência, moral e realidade se fundiam. Mais do que conhecer e dominar a natureza, a Ciência deveria ser um modo de ilustrar a verdade teológica. Não deveria buscar a causa primeira dos fenômenos, mas decifrar as mensagens divinas expressas diretamente nos seres da natureza. O homem era considerado uma criatura privilegiada que poderia ter a alma iluminada pela verdade divina.

Os religiosos proibiam a investigação da natureza e a aplicação livre desse conhecimento. Alguns aspectos deveriam continuar velados aos homens para que não fosse apresentada nenhuma contradição com as escrituras sagradas. Era o caso da Cosmologia e da Anatomia, por exemplo.

Saiba mais sobre o período medieval

Poucos sabiam ler e escrever no período medieval, e os homens letrados participavam do clero. Afi nal, a Igreja dominou os meios de educação e formação intelectual desde o século IV, quando o imperador romano Constantino reconheceu e deu liberdade ao cristianismo, até, aproximadamente, o século XII -quando todo panorama cultural, político e econômico do Ocidente começou a mudar.

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Mas o pensamento medieval não consistiu unicamente na obediência cega aos dogmas cristãos. A força do pensamento humano, subordinada a estes dogmas por longa data, não permaneceu inerte e ressurgiu a partir do que os historiadores denominaram de Pré-renascimento do século XII.

Conforme Abbagnano (2000), quando os doutores da Igreja retomaram a dialética com a fi nalidade de fortalecer a fé, acabaram infl uenciando o próprio sistema dogmático, uma vez que reestruturaram o conteúdo dogmático dentro de um sistema conceitual coerente.

A dialética foi introduzida nos debates cristãos pela Patrística e, mais tarde, foi revitalizada pela Escolástica.

Entre os séculos XII e XIII surgiram as primeiras universidades, praticamente dominadas pela Escolástica, que ensinavam as sete artes liberais: o trivium, que eram os conhecimentos literários (Gramática, Retórica, Dialética) e o quadrivium, que eram os conhecimentos científi cos (Aritmética, Geometria, Astronomia, Música).

Foi neste período, também, que começaram a ser traduzidas as obras gregas que haviam sido proibidas durante quase toda a Idade Média, além das obras árabes sobre as ciências da natureza, que chegavam à Europa por meio dos navios mercantes ou por

Figura 5.1 – Cavaleiros das Cruzadas e a disseminação de livros “restritos”

(www.portalplanetasedna.com.ar)

cavaleiros que retornavam das cruzadas. Estes fatores, juntamente com outros de ordem política e econômica, como a decadência do feudalismo e o crescimento das cidades, deram início a uma revolução cultural que fi cou conhecida como Renascimento.

De modo geral, o Renascimento foi um período histórico marcado pelo desejo do homem de produzir conhecimentos e orientar sua vida de forma autônoma, pela sua capacidade própria de conhecer, superando o conhecimento mitológico cristão.

Patrística refere-se a um núcleo

de estudos dos fundamentos e

doutrinas do Cristianismo que

perdurou do século II até o VIII.

Reunia doutores da Igreja cujo

principal objetivo era fundamentar racionalmente as verdades da fé, conciliando fé e razão.

Escolástica refere-se a um núcleo

de estudos cristãos que sucedeu a

Patrística, perdurou do século IX

até, aproximadamente, o século

XVI e teve o mesmo objetivo da sua

antecessora: conciliar a Teologia com a Filosofi a e fundamentar as

verdades das escrituras sagradas.

Uma marca da Escolástica é a

infl uência aristotélica.

As sete artes liberais que

compreendem o trivium e o

quadrivium constituem um

programa de educação criado

por Alcuíno de York, estudioso e

catedrático que viveu no século VIII.

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Se você quiser saber mais sobre as mudanças ocorridas no século XII, que culminaram no Renascimento Clássico do século XIV, busque livremente na internet pelos termos “Renascimento do século XII” e “Renascimento Clássico”.

Sobre este último, pesquise, também por “imagens” e você encontrará uma série de obras de arte, inventos e personagens interessantes deste período da história.

Também pode consultar o livro O Renascimento de Nicolau Sevcenko. Este livro oferece uma leitura introdutória do assunto e apresenta motivos políticos e econômicos que favoreceram o Renascimento. Outro livro interessante sobre a Idade Média é O pensamento medieval, de Inês C. Inácio e Tânia Regina de Luca.

Sobre a questão cosmológica do Renascimento, busque livremente na internet pelos termos: Galileu Galilei, Copérnico e Ptolomeu.

Saiba mais sobre o Renascimento

Com o Renascimento, o conhecimento passou a espelhar a autonomia do homem para pesquisar livremente a natureza. Este era o foco de atenção de diversos estudiosos renascentistas, especialmente dos anatomistas e astrônomos.

Durante a Idade Média, era proibida a dissecação de corpos humanos, e médicos como Claudius Galeano exerciam a clínica fazendo dissecações e experimentos em animais. Ele tratava o corpo humano como suporte da alma e sua obra foi considerada defi nitiva para a prática da medicina durante toda a Idade Média. No Renascimento, porém, cada vez mais estudiosos, como o médico belga Andreas Vesalius, passaram a efetuar seus estudos anatômicos diretamente em corpos humanos e a apontar os erros de anatomistas anteriores.

Figura 5.2 - Andreas Vesalius e o anatomismo

(www.discoveriesinmedicine.com/General-Informa...)

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A preparação para a Modernidade

A Modernidade não foi fruto somente da transformação intelectual ocorrida no Renascimento, mas, primeiramente, das transformações econômicas e políticas que decorreram daquele período.

Foram mudanças importantes como: a introdução de um comércio basicamente monetário, que agilizava muito a circulação de mercadorias e a acumulação de riquezas; a descoberta de novas terras e as técnicas de navegação na corrida para a apropriação dessas terras; e a invenção da prensa, que favoreceu a publicação de documentos e livros.

Estes foram alguns fatores que exigiram e fomentaram um tipo diferenciado de conhecimento que não era o conhecimento religioso medieval nem o fi losófi co grego, seja porque o primeiro estava irremediavelmente submetido à censura dos dogmas, o segundo, vinculado às especulações metafísicas e pouco concretas para atender às exigências da nova ordem social.

Nas universidades medievais, centros produtores do conhecimento da época, o debate prevalecia sobre a experimentação. As diversas idéias e teorias eram apresentadas e as questões divergentes resolvidas, preferencialmente, por meio da argumentação lógica.

Não havia demonstração empírica que não fosse para ilustrar os tratados antigos, validados pela cristandade. Além disso, os doutores que se envolviam nesses debates apoiavam-se, além das escrituras sagradas, nas idéias de Platão e Aristóteles, fundamentalmente naqueles aspectos que não contrariassem as verdades reveladas.

Este tipo de prática intelectual não dava conta da “vida real”, que exigia do homem moderno um conhecimento aplicável e efi ciente na invenção de tecnologias de produção, no domínio e exploração da natureza, na urbanização das cidades etc.

Francis Bacon, fi lósofo inglês do século XVI, foi um dos principais defensores de uma nova ciência, baseada em experimentações empíricas, que não estivesse presa aos dogmas religiosos e nem aos enganos do senso comum.

O termo metafísica se refere àquilo

que está além da física, de nossa

realidade. Muitas das fi losofi as

gregas antigas são denominadas

metafísicas por procurarem explicar

a realidade a partir de fundamentos

que são difíceis de serem explicados

a partir do que percebemos como

realidade.

Figura 5.3 – Esquema da Prensa de Gutenberg

(www.sabbatini.com)

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Bacon acreditava que o conhecimento dá ao homem poder sobre a natureza. Neste sentido, a Ciência deveria servir para o progresso e a expansão do império humano. Enquanto o conhecimento dos gregos tinha um fi m em si mesmo, ou seja, era conhecer por conhecer, para a Modernidade o conhecimento tinha um fi m prático, de melhoramento das condições da vida humana, de progresso.

Na sua obra, Novum Organum, Bacon propõe novas bases para a Ciência. Critica a Filosofi a grega e sugere como fonte do conhecimento as informações objetivas, obtidas por meio da experimentação. Diz ele (BACON apud VERGEZ, 1984):

Aqueles dentre os mortais, mais animados e interessados, não no uso presente das descobertas já feitas, mas em ir mais além; que estejam preocupados, não com a vitória sobre os adversários por meio de argumentos, mas na vitória sobre a natureza, pela ação; não em emitir opiniões elegantes e prováveis, mas em conhecer a verdade de forma clara e manifesta; esses, como verdadeiros fi lhos da ciência, que se juntem a nós, para, deixando para trás os vestíbulos da ciência, por tantos palmilhados sem resultado, penetrarmos em seus recônditos domínios.

Como “previu” Bacon, na Modernidade nasceram as principais ciências que conhecemos hoje, e as questões sobre o conhecimento permaneceram sendo fundamentais para fi lósofos e cientistas desta época tornando-se, inclusive, mais complexas.

De modo geral, a Teoria do Conhecimento, na Modernidade, foi polarizada por três grandes vertentes que mantiveram vivo o debate acerca da relação entre sujeito e objeto: o Racionalismo, o Empirismo e o Criticismo.

As três vertentes guardam entre si semelhanças e diferenças. Primeiramente, é preciso enfatizar que nenhuma delas nega a atividade sensível, nem a atividade racional. Além disso, aquilo que conhecemos não são as coisas mesmas, mas são nossas representações subjetivas, idéias, das coisas.

No entanto, elas diferem no que se refere à passagem das sensações para as idéias.

Ante-sala ou preparação

para a ciência. Aquela, para

Bacon, ainda não era a

ciência propriamente dita.

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Para o Racionalismo, a atividade cognoscente constitui e organiza o mundo objetivo.

Para o Empirismo, a atividade cognoscente apreende a constituição e a ordem do mundo objetivo, apreendido pelos sentidos. Por fi m, para o Criticismo, a atividade cognoscente é tal que jamais poderemos conhecer as coisas mesmas, uma vez que nossas estruturas e categorias mentais, que são inatas, que fazem parte do modo humano de conhecer, sempre irão infl uenciar o conhecimento das coisas.

Para o Empirismo, quando nascemos a mente é tal e qual uma tábula rasa, o que signifi ca dizer que nascemos com a mente vazia e que somente com a experiência algo é escrito nela.

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Para o Racionalismo, a mente pode, de fato, alcançar as verdades universais. E isto é possível porque, de algum modo, as idéias universais podem ser desenvolvidas pelo pensamento racional.

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Para o Cristicismo, o conhecimento é a síntese do dado na nossa sensibilidade e daquilo que o nosso entendimento produz por si mesmo. Porém, o conhecimento nunca é o conhecimento das coisas “em si”, mas de como elas se dão no sujeito, ou seja, os objetos do conhecimento são determinados na natureza do sujeito pensante. O criticismo não propõe uma posição cética, mas crítica e, digamos, desconfi ada, em relação ao conhecimento, ou, como afi rma Kant, o criticismo é o método fi losófi co que consiste em investigar as fontes das afi rmações e das objeções que fazemos, bem como, as razões em que as mesmas se baseiam.

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Seção 2 – Caminhos possíveis para o conhecimento

Nesta seção você estudará, brevemente, alguns caminhos possíveis sobre o conhecimento, desenvolvidos pelos modernos René Descartes e sua perspectiva Racionalista, Hume e sua ótica Empirista, Kant e a proposta Criticista. Também verá as perspectivas dos fi lósofos contemporâneos Kuhn e Feyerabend.

Descartes e o Racionalismo

Uma das principais características do pensamento moderno é a consideração do sujeito racional como fundamento para o conhecimento e o reconhecimento da atividade cognoscente como o princípio que constitui e ordena o mundo objetivo.

O fi lósofo René Descartes (1596-1650), conhecido como fundador do racionalismo moderno, considera que apesar da possibilidade inegável de se obter informações dos corpos por meio dos órgãos dos sentidos, a essência dos corpos é acessível somente pela razão.

É o caso do conceito de extensão. Podemos defi nir um corpo qualquer como uma coisa extensa. As características como forma, cor, odor, textura, não servem para defi nir este corpo, pois elas não permanecem nele. No entanto, a extensão sempre permanece como seu atributo, visto que todo corpo a tem.

Veja o exemplo.

Considere um ramalhete de rosas brancas esquecido sobre a mesa. Ao cabo de dez dias suas características se alteraram, mas mesmo mudando a forma, a cor, o cheiro etc., é possível continuar afi rmando que estamos diante de uma determinada extensão ou de determinada quantidade de matéria orgânica vegetal.

Figura 5.4 – René Descartes

(www.ime.unicamp.br/.../descartes/descartes.html)

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Alguma coisa se conservou. Se absolutamente nada se conservasse, se tudo mudasse a todo o instante, o conhecimento seria impossível.

O que se conservou, no caso do ramalhete de fl ores, foi justamente a extensão, visto que é um conceito e não uma simples imagem.

Observe que o ramalhete de fl ores tem sua extensão alterada a cada dia que passa, mas a extensão não desaparece. Pensa Descartes que a extensão dos corpos não decorre da percepção sensorial, mas somente pode ser captada pelo entendimento.

Os corpos materiais se transformam constantemente e os sentidos captam destes justamente as características que não permanecem, enquanto a razão capta as noções essenciais refl etidas nas coisas concretas. Para Descartes, a Matemática é considerada a base do conhecimento científi co porque esta “ciência precisa rigorosa” é a que melhor nos apoiaria no conhecimento da natureza.

Para Descartes, ser humano é uma junção de:

um corpo (res extensa),

e uma alma (res cogitans).

A res extensa refere-se à extensão do corpo e nisso os seres humanos são como as coisas em geral. A res cogitans refere-se à alma, que é a parte pensante do ser humano, diferindo, então, das coisas e dos outros animais.

Este pensador defende que os dados obtidos pelos sentidos são imprecisos demais para serem tomados como base do conhecimento científi co. Já os conhecimentos obtidos pela via do raciocínio lógico, sobretudo o matemático, são racionalmente demonstráveis, precisos, universais e seguros para sustentar a Ciência.

Os aspectos próprios dos objetos, como forma, textura, cor etc., são retirados diretamente dos objetos ou das ações humanas sobre estes, mas eles não são sufi cientes para explicar as relações que estabelecemos quando conhecemos. Os conceitos dos quais não

O termo cogito signifi ca

pensamento.

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temos referência sensível, como é o caso dos princípios da Física e da Matemática, as idéias de extensão, infi nitude, unidade, número, espaço, tempo, causalidade etc., somente são alcançados com a atividade racional.

Descartes iniciou sua investigação sobre o conhecimento examinando se suas opiniões eram verdadeiras ou se eram meras ilusões, partindo da identifi cação do erro, por meio da radicalização da dúvida.

Qual é a origem do erro? Por que algumas pessoas erram e outras acertam? Por que uma mesma pessoa ora acerta, ora erra? Seria possível acertamos sempre?

Sim, responderia Descartes. Para tanto, precisamos reconhecer que a fonte de nossos erros é a falta de um método perfeito e defi nitivo, que nos conduza ao conhecimento verdadeiro e não nos deixe sucumbir ao erro, pela precipitação e pela prevenção.

As pessoas erram porque se precipitam, não observam e não refl etem pausadamente sobre aquilo que desejam conhecer. Se o fi zessem, então, seriam capazes de encontrar os aspectos do objeto que não comportam nenhuma dúvida, ou seja, poderiam encontrar as evidências. A partir destas evidências, seria possível conhecer o objeto, mas as pessoas costumam emitir juízos superfi ciais e tirar conclusões aligeiradas acerca da realidade, e assim, perdem-se dele.

Também as pessoas erram por prevenção, isto é, se apegam a preconceitos e opiniões ingênuas e, antes mesmo de abordar o objeto do conhecimento, acreditam saber algo sobre ele, deixando, assim, de continuar investigando a realidade.

Porém, uma vez que seja aplicado corretamente o método perfeito, é possível confi ar na veracidade do conhecimento obtido por meio dele.

Mas qual seria este método?

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O próprio Descartes responde:

[...] assim, em vez desse grande número de preceitos de que se compõem a lógica, julguei que me bastariam os quatro seguintes, desde que tomasse a fi rme e constante resolução de não deixar uma só vez de observá-los. O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que não conhecesse evidentemente como tal [...], e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. O segundo, o de dividir cada uma das difi culdades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, [...] E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir. (DESCARTES, 1973, p. 37).

Portanto, o método cartesiano consiste em estabelecer uma evidência a partir da dúvida, realizar o exercício da análise e da síntese assim como da enumeração/revisão. Estes são os procedimentos que, segundo o fi lósofo, conduzem os homens ao conhecimento seguro e científi co.

Para Descartes, somente podem ser aceitas como verdadeiras as proposições que se apresentarem à razão como indubitáveis. Portanto, é necessário antes submeter todo conhecimento à dúvida, exatamente para descartar o que não resiste a ela. Observe que o primeiro passo do método cartesiano é a dúvida.

A dúvida cartesiana é a dúvida metódica, isto é, utilizada como meio para testar o conhecimento e separar o válido do inválido, o verdadeiro do falso. É uma dúvida que coloca em cheque as sensações, as opiniões e os pensamentos, a fi m de encontrar as evidências e não para negar a possibilidade do conhecimento.

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Considere a seguinte situação, que lhe permite refl etir sobre a importância da dúvida para conhecermos.

Imagine que você e seus colegas de curso estão conversando a respeito das aulas e o tema é a relação entre o desempenho dos professores e a aprendizagem dos alunos. O diálogo poderia ser mais ou menos o que segue:

Aluno 1 – Quando o professor explica bem a matéria, a gente não fi ca com dúvidas e consegue se sair bem na prova. Quando o professor fi ca em dúvida, a gente não confi a no que ele está ensinando.

Aluno 2 – Mas tem professor que explica bem a matéria e nem sempre responde às perguntas que a gente faz, às vezes ele também não sabe a resposta. Assim, a gente tem que perguntar para os colegas, pesquisar e tentar responder sozinha.

Aluno 1 – Isso é muito chato, a gente pensa, pensa e fi ca sem saber qual é a resposta certa. Ora, professor bom é aquele que não deixa a gente com dúvidas.

Você pensa que a dúvida do aluno deve ser sempre sanada e a dúvida do professor sempre ocultada? Será que a ausência da dúvida é sempre sinal de aprendizagem e de conhecimento? Registre aqui sua perspectiva.

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O racionalismo cartesiano teve críticos de valor, como o fi lósofo John Locke (1632-1704), considerado o maior representante do empirismo inglês. Para Locke, o conhecimento é a percepção da ligação, do acordo e do contraste entre a idéia e a coisa. Esta conformidade entre idéia e coisa, para o Empirismo, somente é possível por meio da experiência empírica.

Saiba um pouco mais sobre o Empirismo, em função das idéias de John Locke!

Para o Empirismo o objeto é, em última análise, o que determina o conhecimento, e por mais que nossa mente seja habitada por idéias diversas, nada existe na razão que não tenha antes passado pelos sentidos.

O Empirismo afi rma que os seres humanos nascem com a mente vazia. A partir das primeiras experiências que temos é que surgem as primeiras idéias, que nada mais são do que representações das coisas concretas, percebidas através dos órgãos dos sentidos e acumuladas desde o nascimento.

Segundo o fi lósofo empirista John Locke, a partir do contato físico com os objetos a mente transforma os dados obtidos em idéias simples. Por exemplo, você vê um livro sobre a mesa, fecha os olhos e percebe que guardou uma imagem mental idêntica do que viu. Bem, estas idéias simples vão sendo combinadas pela própria atividade racional e vão formando outras idéias que são denominadas idéias complexas. Assim é sucessivamente até que se possa chegar a idéias com alto grau de complexidade lógica. Mas, por fi m, tudo o que habita a mente humana, de alguma forma, tem sua origem na experiência concreta.

Figura 5.5 – John Locke

(www.biografi asyvidas.com/)

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Hume e o Empirismo

Outro conhecido empirista é David Hume (1711-1776). Para este fi lósofo, a fonte do conhecimento é a percepção e a associação mental das idéias que dela decorrem.

Mas você sabe o que é percepção?

As percepções são ocorrências mentais e podem ser de duas classes, que se diferenciam entre si pelo grau de vivacidade com que se apresentam ao sujeito do conhecimento. São elas:

as impressões ou sensações; e

as idéias.

As impressões são consideradas mais vivas e imediatas, pois penetram com mais força e evidência na consciência. Por exemplo:

Quando vamos à sauna, sentimos em nosso corpo o calor do vapor e o choque térmico da ducha fria, estas são sensações externas.

Mas também é possível ter sensações internas, como um sentimento de ciúmes, que se for forte pode ser avassalador para o corpo e o pensamento.

Estas são impressões ou sensações que se dão ao sujeito sem que ele pense nelas, elas não obedecem a qualquer lógica e toda conclusão que decorre delas são suposições, probabilidades.

Já as idéias nada mais são do que cópias das impressões. As idéias são consideradas as percepções mais fracas da mente.

Figura 5.6 – David Hume

(www.empiricism.com)

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Retomando o exemplo anterior:

Estando na sauna, podemos lembrar das sensações que esta nos causou quando estávamos em casa, podemos antecipá-las pela imaginação, ou podemos até explicar a sauna como um fenômeno físico-químico, porém, estas lembranças ou representações mentais jamais terão a força da sensação original, do fenômeno vivenciado.

O mesmo ocorre quando lemos um poema de amor e traição e nos lembramos do sentimento de ciúmes, não é possível dimensionar a diferença de intensidade que há entre um e outro.

Preste atenção nas seguintes palavras de Hume.

À primeira vista, nada parece mais ilimitado do que o pensamento humano [...] examinando o assunto mais de perto vemos que em realidade ele se acha encerrado dentro de limites muito estreitos e que o poder criador da mente se reduz à simples faculdade de combinar, transpor, aumentar ou diminuir os materiais fornecidos pelos sentidos e pela experiência [...] Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam da sensação interna ou externa; só a mistura e composição destas dependem da mente e da vontade. (HUME, 1992, p.70).

Para Hume, toda a nossa atividade mental consiste em fazer associações de percepções derivadas da experiência. A mente parte de idéias simples, oriundas das impressões sensíveis, e, por meio de operações associativas, dá origem a outras idéias complexas.

A possibilidade de combinações de idéias é tão grande que pode nos levar a crer que algumas idéias nada têm a ver com a experiência concreta. De fato, há idéias obtidas pela aplicação do raciocínio, pelas construções das relações lógicas que não necessitam de experiência prévia e não podem ser verifi cadas no mundo concreto. É o caso da Lógica e da Matemática.

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Os verdadeiros objetos de conhecimento da razão não são aquilo que percebemos, mas as relações entre as coisas que percebemos. Elas se dividem em:

relações de idéias; e

relações ou questões de fato.

Estas relações ou associações não são aleatórias, mas seguem alguns princípios universais de associação.

As primeiras, as relações de idéias, englobam as proposições cujas relações acontecem unicamente entre idéias, sem existirem de fato na natureza (são números, formas geométricas, fórmulas matemáticas etc.).

Estas relações seguem princípios de:

semelhança,

contrariedade,

graus de qualidade e

quantidade ou número.

É possível realizar longos raciocínios a partir delas sem se alterarem, porque não dependem dos fenômenos concretos. São proposições consideradas certas por demonstração lógica e por intuição, independentemente do nível de complexidade a que são levadas, conservam sempre sua exatidão, produzindo um conhecimento universal e logicamente necessário, e, por isso mesmo, não podem ser obtidas por meio de experiência concreta, já que toda experiência é particular. Portanto, estas relações entre idéias não tratam do conteúdo do mundo.

As segundas, relações ou questões de fato, englobam as relações que descrevem os acontecimentos concretos, e estas não estão sujeitas às regras lógicas, apenas se revelam, da forma como são percebidas, no momento da experiência vivida. Estas relações seguem princípios de semelhança, contigüidade (no tempo e no espaço) e causa e efeito.

Que está próximo, é adjacente, que

avizinha.

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O princípio da semelhança faz com que, ao vermos um objeto, imediatamente nos remetamos a outro que lhe é semelhante. Por exemplo, quando um caipira na cidade grande visita um jardim botânico e lembra de seu sítio, ou quando o vinho derramado na camisa lembra ao médico uma mancha de sangue.

O princípio de contigüidade faz com que, ao vermos um objeto, automaticamente venha à mente outro objeto que lhe é contíguo. Por exemplo, quando vemos alguém se ferir gravemente logo imaginamos a dor que deve estar sentindo, ou então, quando visitamos um apartamento de um prédio logo imaginamos os outros apartamentos.

O princípio de causa e efeito nos leva a relacionar o que antecede e o que sucede um objeto observado. Por exemplo, quando um médico legista investiga a causa da morte de alguém, analisa o ferimento e imagina que instrumento pode tê-lo causado, ou, quando alguém nos diz que derramou água fervente sobre a mão e imediatamente supomos que deve ter ocorrido uma queimadura.

No entanto, a relação de causa e efeito que o homem julga perceber na natureza é fruto da indução, que não garante a permanência das coisas. Para Hume, a causalidade somente existe no pensamento e é decorrente do hábito. Nada existe na experiência concreta que garanta esta relação. Hume chama atenção para os equívocos que o hábito pode produzir.

O fato de um fenômeno acontecer muitas vezes faz com que o homem se acostume com ele e passe a esperar que ele se repita; assim, se cria o hábito. Todas as vezes que uma pedra é jogada para cima, ela cai, o homem já se acostumou a ver esse fenômeno em toda sua vida, mas disto não decorre que este fenômeno ocorrerá sempre. Pode ser, quem sabe, que um dia ela não caia. Podemos supor, por exemplo, que daqui a algumas centenas ou milhares de anos, as condições atmosféricas mudem e a Lei da Gravidade seja negada. A certeza no que é observado é conseqüência de nosso treinamento, desde a infância, em decifrar e classifi car as mensagens do meio ambiente, para nossa adaptação e sobrevivência neste meio.

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Avisa Hume que o hábito pode nos levar a conclusões precipitadas sobre as coisas e suas relações.

Se todo conhecimento se origina das percepções, algumas de impressões sensíveis e particulares e que não servem como referência universal e outras de idéias complexas que não derivam da experiência concreta, então o conhecimento humano não é certo, mas apenas provável. Para Hume, certo seria se admitíssemos que, realmente, não conhecemos nada.

Observe que Hume nos apresenta uma crítica ao método indutivo. Ele afi rma que não é possível justifi car nenhuma das verdades obtidas por indução. O fato do homem presenciar fenômenos que se repetem não signifi ca que ele pode inferir que os fenômenos sempre acorrerão da mesma maneira. Pela indução a partir de ocorrências particulares não é possível fazer juízos universais, visto que não é possível experimentar o universal, apenas o particular e específi co.

Refl ita!

Pense no seu conhecimento sobre as cores. Certamente você conhece diversas cores e em diversos matizes. Imagine que entre tantas cores que você conhece não está o vermelho; ou seja, hipoteticamente falando, você simplesmente nunca viu o vermelho.

Agora imagine que lhe fosse apresentada uma escala de diversos matizes de vermelho, do mais fraco para o mais forte, porém, faltando um dos matizes.

O que vai ocorrer é uma distancia maior entre aqueles dois matizes contíguos em que falta um mais do que entre os outros matizes da escala.

Responda:

Você pensa que, mesmo sem conhecer a cor vermelha, seria possível identifi car a falta de um matiz na escala de vermelho? Justifi que sua resposta.

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Segundo Hume sim, visto que a mente humana é capaz de identifi car a descontinuidade e tentar, idealmente, suprir a falta percebida.

Kant e o Criticismo

Immanuel Kant (1724-1804) é conhecido como um dos mais rigorosos fi lósofos de todos os tempos. No que se refere à Teoria do Conhecimento, pode-se dizer que a sua fi losofi a ao mesmo tempo em que critica as teorias anteriores (Empirismo inglês e Racionalismo cartesiano), de certa forma, aglutina os seus aspectos mais importantes.

Kant, ao contrário do Empirismo, considera a existência de idéias a priori, ou seja, antes da experiência.

De modo diferente do Racionalismo de Descartes, nega que possa haver conhecimentos seguros que tenham origem na metafísica, no plano divino, em Deus – pois afi rma que desses assuntos não podem haver provas, de modo que tudo pode ser afi rmado.

Figura 5.7 - Immanuel Kant

(www.fredsakademiet.dk)

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Considera que o fenômeno vivenciado é fonte necessária de conhecimento, ao contrário do Racionalismo, mas não que seja a única fonte, ao contrário do Empirismo.

Segundo Kant, o conhecimento inclui o mundo físico percebido sensivelmente e as faculdades mentais do sujeito cognoscente, no contexto de uma experiência.

A experiência é o momento em que o sujeito atinge sensivelmente o objeto e intui a sua existência. Ela é fundamental para o conhecimento, nutre o entendimento e provoca a imaginação e as operações mentais do sujeito. De modo geral, o conhecimento começa com a experiência.

No entanto, não se tem certeza da existência do mundo, exatamente como ele é, visto que a experiência não nos permite conhecê-lo, em si. Tudo o que chega do mundo físico ao sujeito é o que consegue passar pelos seus sentidos e suas faculdades cognitivas. Aqui está uma questão que interessa a Kant.

Ele está menos interessado na constituição da realidade do mundo físico do que nas operações mentais e faculdades do conhecimento do sujeito que conhece.

A participação do sujeito é fundamental no processo do conhecimento, visto que as categorias de análise da realidade, pelas quais ela se torna conhecida, estão no sujeito, são forjadas em sua mente, que é abastecida pelo mundo percebido através dos sentidos. O meio pelo qual o mundo é percebido, as ferramentas de organização da experiência externa e interna são, para Kant, puras, a priori, e é a elas que ele se dedica especialmente.

Ele identifi ca quatro faculdades do sujeito, pelas quais é possível produzir o conhecimento. São elas:

sensibilidade/intuição,

imaginação,

entendimento e

razão.

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Segundo Kant, a sensibilização é a capacidade de obter representações a partir do modo diverso como o objeto nos afeta. E a sensação é justamente o efeito que o objeto produz sobre os órgãos dos sentidos e sobre a capacidade de representação do sujeito. Isto signifi ca que a experiência com o objeto exige condições a priori

de sensibilização, capacidade de representação imediata do sujeito. Neste sentido, Kant afi rma que os objetos aparecem para nós em função de como estes afetam nossos sentidos.

Kant chama de intuição o modo como o conhecimento se refere imediatamente ao objeto.

A imaginação é entendida como uma faculdade intermediária entre a sensibilização e o entendimento e se refere à capacidade de representar o objeto mesmo quando ele não está presente. É a capacidade de representação de um objeto intuído, mediante um conceito, o que signifi ca que, pela imaginação, é possível fazer uma síntese da multiplicidade das coisas percebidas, ou dadas pela intuição.

O entendimento é o que opera as categorias e princípios a priori, que vão permitir realizar a síntese do múltiplo experimentado em conceitos universais. É ele que dá unidade ao trabalho das faculdades anteriormente citadas.

Finalmente, a razão é faculdade que, por natureza, em nada se refere à experiência, mas ao próprio processo do entendimento. A razão faz, praticamente, a mesma tarefa do entendimento, mas não lida com as representações intuídas e a organização de conceitos. A razão lida antes com as regras que dão unidade a estas representações e aos conceitos. É a razão que dá unidade às regras do entendimento. Por meio de sínteses internas, a razão pode chegar aos seus próprios princípios, que são idéias puras.

Para Kant, o conhecimento produzido sobre o mundo interno e externo é expresso pelo sujeito que conhece, por meio de juízos (que você pode entender aqui como proposições, tal como estudou na unidade 2). Os juízos são frases formadas por um sujeito do qual se declara algo e por um predicado que é aquilo que se diz do sujeito.

Conforme Morente (1970,

p. 229), conceito para

Kant é uma unidade

mental dentro da qual

estão compreendidos um

número indefi nido de

seres e de coisas. Portanto,

é universal e não pode ser

atingido pela sensação

que somente nos mostra

a multiplicidade de coisas.

Por exemplo, os diversos

homens concretos e o

conceito único de homem.

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Segundo Kant, estes juízos podem ser:

analíticos ou

sintéticos.

Os juízos analíticos não dependem da experiência, estão ligados aos conceitos e são juízos a priori. Neste caso, o predicado já está contido no sujeito, ou seja, basta saber quem é o sujeito para saber, antes de qualquer experiência, o predicado que se aplica a ele.

Veja o exemplo:

Quando pronuncio a frase: “Nos dias em que neva faz frio”, o predicado, que é o “faz frio”, já está contido em “Nos dias em que neva”, que é sujeito da oração. Observe que o atributo “frio” já está contido, implícito, no conceito “neve”.

Portanto, os juízos analíticos a priori não acrescentam nada de novo ao conhecimento.

Os juízos sintéticos, pelo contrário, necessitam das informações intuídas pela sensação para juntá-las, sintetizá-las. São juízos a posteriori. Eles acrescentam ao sujeito da oração um predicado novo, que lhe acrescenta uma qualidade, não incluída no sujeito. Retomando o exemplo anterior para transformá-lo em um juízo sintético a posteriori, fi caria assim:

“Nos dias em que neva é preciso usar agasalhos”. Neste caso, o predicado não está previamente dito no sujeito, pois se não houver a experiência de sentir frio em dias de neve não é possível afi rmar aquele predicado.

Há, também, os juízos sintéticos a priori. Ocorrem porque os juízos sintéticos que dependem da experiência, que são a posteriori (como foi explicado no parágrafo anterior), são

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universalizados e tomados como leis da natureza. Kant considera os juízos sintéticos a priori, apesar de ligados aos conceitos e às sensações não estão limitados à experiência, por isso são universais e necessários. Estes são os juízos mais adequados às proposições científi cas. Pode-se dizer que, com estes juízos, Kant junta razão e experiência.

A Filosofi a de Kant infl uenciou a ciência moderna até os dias atuais, pela sua crítica às teorias do conhecimento anteriores, que polarizaram a discussão moderna sobre o conhecimento, pela sua própria explicação de como ocorre o conhecimento e pelo brilho e pela genialidade da lógica interna de seu pensamento.

Seção 3 - Questões da Teoria do Conhecimento na Contemporaneidade

Descartes, em sua época, e não se pode esquecer que era uma época de crença no poder da razão, estava preocupado em construir um método assentado na Matemática, que garantisse um conhecimento verdadeiro. Hume, por seu lado, estava preocupado em frear a confi ança na razão como fonte única de conhecimento, questionando a relevância do método dedutivo e do conhecimento puramente abstrato, questionando, também, a possibilidade do conhecimento das coisas em si e apontando as falhas da aplicação do método indutivo.

Estas duas teorias protagonizaram uma questão primordial para o conhecimento científi co contemporâneo, não tanto pelo seu aspecto teórico, é claro, mas pelo abalo que elas provocam, ainda hoje, na confi abilidade que o homem adquiriu no conhecimento científi co.

É preciso lembrar, porém, de uma outra corrente de pensamento, que buscou sintetizar o empirismo e o racionalismo e estabelecer a Ciência como um conhecimento positivo sobre a natureza e defi nitivo quanto a sua validade. Esta corrente é o Positivismo.

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Para saber mais sobre o Positivismo, você pode procurar livremente na internet pelos verbetes: Positivismo, Augusto Comte, Sociologia. Você também pode fazer uma busca mais apurada, nos sites especializados indicados ao fi nal desta unidade.

É inegável que a partir do século XIX o conhecimento científi co tenha se consolidado e determinado signifi cativamente a caminhada da humanidade. As possibilidades que a Ciência oferece para a explicação dos fenômenos da natureza, de interferência na ordem dos acontecimentos naturais e de modifi cação das maneiras de viver não têm precedentes.

No entanto, desenvolveu-se juntamente com as descobertas científi cas e as invenções tecnológicas a complexidade das questões do conhecimento.

Saiba mais sobre o Positivismo

O Positivismo, sistema proposto pelo fi lósofo Augusto Comte, propõe levar em consideração tanto a experiência empírica do mundo físico quanto as formulações lógicas puramente racionais. Para o Positivismo, a ciência é, entre tantos tipos de conhecimento desenvolvidos pelo homem, o único conhecimento universalmente válido.

Neste sistema, acreditava-se ser possível “evoluir” no conhecimento científi co, de modo progressivo e linear.

Entre as principais características do conhecimento científi co, de acordo com o Positivismo, estão a objetividade, a neutralidade e o progresso - aspectos já abordados quando foram tratados os tipos de conhecimento, na terceira unidade deste livro.

É interessante salientar que estas características aqui citadas estão entre as mais criticadas pelos teóricos contemporâneos da Ciência.

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Assim, surgiram questões como:

Quais são as possibilidades do conhecimento científi co para o homem contemporâneo? Quais são as conseqüências das descobertas e invenções científi cas para a vida humana e para o meio ambiente? É possível confi ar na objetividade e na veracidade do conhecimento científi co, assim como defendiam grande parte dos pensadores modernos?

A confi ança que a modernidade depositou no conhecimento científi co não permaneceu igual para os cientistas e fi lósofos contemporâneos. Os avanços científi cos e o impacto destes na vida humana originaram uma série de indagações quanto aos procedimentos e a veracidade do conhecimento científi co.

Muitos fi lósofos contemporâneos dedicam-se exclusivamente ao estudo do conhecimento científi co, em outros casos, cientistas, refl etindo sobre seu próprio trabalho, tornam-se teóricos do conhecimento.

Thomas Kuhn e o paradigma

Um dos mais importantes fi lósofos da Ciência é o contemporâneo Th omas Kuhn (1922- 1996). Na realidade, ele é um físico de formação, ou seja, um cientista. Porém, por uma contingência de seu trabalho na Universidade, especifi camente numa situação em que teve que preparar um curso de ciências para não cientistas, Kuhn precisou rever o conhecimento científi co em uma perspectiva história e aproximou-se irremediavelmente da Filosofi a. Foi por este

caminho que alcançou notoriedade.

As idéias mais divulgadas de Kuhn acerca da Ciência são a noção de ciência normal, ciência revolucionária ou revolução científi ca e paradigma.

Figura 5.8 - Thomas Kuhn

(huizen.daxis.nl/~henkt/kuhn-thomas-biography.html)

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Segundo Kuhn, o desenvolvimento do conhecimento científi co ocorre pela alternância da ciência normal e da ciência revolucionária. É a idéia de que a Ciência não progride gradualmente de forma linear - como se afi rmava e defendia no Positivismo -, mas através de saltos qualitativos provocados pelas mudanças de paradigma.

Você sabe o que é um paradigma?

Segundo o autor, o paradigma é um conjunto de princípios, postulados e metodologias que regem todas as pesquisas de uma determinada disciplina científi ca. Um paradigma cientifi co é partilhado pela comunidade científi ca e representa uma matriz a partir da qual cada cientista, em sua especialidade, desenvolve suas pesquisas.

É importante salientar que uma comunidade científi ca é um grupo de cientistas de uma determinada área, entre os quais há o controle do conhecimento produzido e das informações veiculadas no grupo, que partilham da mesma formação teórica, dos mesmos juízos profi ssionais e dos mesmos paradigmas. Observe que o paradigma acaba direcionando as pesquisas e apontando sua perspectiva de desenvolvimento e seus limites.

Um paradigma também pode surgir de um conjunto de

realizações científi cas concretas, incorporado pela tradição científi ca e tornado modelo para outras pesquisas.

O período em que um paradigma é unanimemente aceito pela comunidade científi ca é denominado, por Kuhn, de ciência normal. Nesse período, os cientistas não estão preocupados em comprovar o paradigma ou em estudar aspectos que fogem a ele. É um período de aprofundamento no objeto da pesquisa e que permite a consolidação de resultados e a acumulação de conhecimentos, não é um período de alteração das “regras do jogo”.

Mesmo que no entendimento de um cientista ou de outro pairem desconfi anças sobre o paradigma que rege suas pesquisas, raramente um deles suscitará um ponto de desacordo entre

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eles. Se não houvesse períodos de estabilidade quanto aos paradigmas, não seria possível estudar profundamente nenhum aspecto da realidade.

No entanto, pode ser que no desenvolvimento da ciência normal comecem a aparecer incongruências. Como afi rma Kuhn (2006), para o cientista normal pode ocorrer um problema que investiga não só não tem solução, em função do âmbito das regras em vigor, como o mesmo não pode, por isto ser qualifi cado de inepto ou despreparado.

Se essa situação estender-se ao âmbito de outras pesquisas, sem que os cientistas consigam encontrar soluções para os impasses, começa a nascer a suspeita de que o paradigma deve ser substituído, começa um período de crise. Muitas vezes, as incongruências encontradas nas pesquisas dão origem a descobertas que promovem o avanço científi co, porém, sem que os paradigmas instituídos sejam alterados.

Os avanços que ocorrem pela mudança de paradigma são de outra natureza. Observe a citação que segue.

As mudanças revolucionárias são diferentes e bem mais problemáticas. Elas envolvem descobertas que não podem ser acomodadas nos limites dos conceitos que estavam em uso antes delas terem sido feitas. A fi m de fazer ou assimilar uma tal descoberta, deve-se alterar o modo como se pensa, e se descreve, algum conjunto de fenômenos naturais [...] Quando mudanças referenciais desse tipo acompanham mudanças de lei ou teoria, o desenvolvimento científi co não pode ser inteiramente cumulativo. Não se pode passar do velho ao novo simplesmente por um acréscimo ao que já era conhecido. Nem se pode descrever inteiramente o novo no vocabulário do velho ou vice-versa. (Kuhn, 2006, p. 25).

Em condições de mudança de paradigma ocorre o que Kuhn chama de ciência revolucionária. Todos os cientistas que trabalham sob a luz de um mesmo princípio paradigmático que está sendo substituído param suas pesquisas e aguardam ou verifi cam em sua prática os indícios que invalidem o paradigma em questão.

Ou seja, inconveniências,

incompatibilidades etc.

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É necessário um grande esforço para alterar um paradigma, visto que, apesar dele resolver incongruências aparentemente insolúveis no interior das pesquisas, também exige a revisão dos conhecimentos aceitos como válidos e que foram produzidos sob a proteção do paradigma que está sendo substituído. Além disso, o novo paradigma sempre afronta, de alguma maneira, a tradição e a autoridade de cientistas consagrados dentro da comunidade científi ca e defensores do velho paradigma.

Finalizando, segundo Kuhn, cada disciplina científi ca, em períodos de “normalidade”, resolve seus próprios problemas dentro de uma estrutura fechada, pré-estabelecida por pressupostos metodológicos, convenções lingüísticas e experimentos exemplares acolhidos e validados pela comunidade científi ca, até que os cientistas se deparam com a impossibilidade de resolver um número sempre maior de problemas na base do paradigma vigente. O acúmulo e disseminação de problemas não resolvidos criam, por sua vez, uma situação de crise de onde deve nascer um novo paradigma.

Atenção!

Apesar de Kuhn criticar a crença na acumulação e no progresso gradativo e natural do conhecimento científi co, ele não nega que a Ciência produz um conhecimento cumulativo - nos momentos de ciência normal. Também não nega que os paradigmas, ainda que provisórios, fundam princípios que, se seguidos, permitem o desenvolvimento de pesquisas e o conhecimento da natureza.

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Paul Karl Feyerabend e o anarquismo epistemológico

Um dos fi lósofos contemporâneos mais críticos em relação à objetividade científi ca e à veracidade do conhecimento produzido pelo método científi co é Paul Karl Feyerabend (1924-1994). Ele é considerado um crítico radical do positivismo científi co, entre outros motivos, pelo seu anarquismo epistemológico, por recomendar ao cientista um posicionamento anárquico em relação à rigidez das regras, dos postulados, dos paradigmas e da tradição científi ca.

Feyerabend acredita que em várias situações da história da Ciência, em que foram feitas grandes descobertas e invenções, as regras científi cas não foram respeitadas e somente por isto os cientistas obtiveram êxito. Ele afi rma, também, que o cientista não deve fi car preso entre os limites do método científi co, mas deve utilizar artifícios de qualquer natureza para desenvolver sua pesquisa e alcançar seu propósito. Segundo ele “todas as idéias

valem”. Também não há regras, ou melhor, a única regra que o cientista deve seguir, segundo este autor, é que não há regras, pelo menos não no sentido universal e positivista de método científi co.

Um dos livros mais conhecidos de Feyerabend é Contra o método.

Nele, o fi lósofo expõe suas razões para criticar a submissão do cientista aos preceitos científi cos que são prévios, não acompanham a dinâmica social, direcionam e restringem a atividade científi ca, de certa forma, desumanizam-na.

Para saber mais sobre o conhecimento científi co e questões epistemológicas que o acompanham, você pode consultar as seguintes referências:

• CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. [Polêmica], São Paulo: Moderna, 1994.

• BARBEROUSSE, Anouk; KISTLER, Max; LUDWIG, Pascal. A fi losofi a das ciências no século XX. [Pensamento e Filosofi a], Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

Figura 5.9 - Paul Karl Feyerabend

(www.courses.ex.ac.uk)

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Síntese

Nesta unidade, você estudou a problemática do abandono dos preceitos religiosos e da Filosofi a grega clássica, que prevaleceram, alternadamente, no pensamento medieval e renascentista, e o estabelecimento, na Modernidade, de fundamentos empíricos e racionais para a construção de um novo conhecimento científi co, que atendesse às necessidades e aos desejos do homem moderno.

Você viu que a fonte e o modo como o homem desenvolve o conhecimento, sobretudo o científi co, foram explicados diferentemente pelos fi lósofos modernos Descartes, Hume e Kant. Constatou que Descartes reconhece a razão do sujeito como fonte do conhecimento verdadeiro, enquanto Hume, propõe a experiência como a fonte principal para o conhecimento, mesmo que pela capacidade racional o homem possa chegar a desenvolver idéias complexas. Neste cenário, Kant aparece como um sintetizador destas posições, pois propõe que pela sensibilidade o homem apreende o mundo físico, e, com a razão, organiza este conhecimento.

Você também estudou que, em determinados períodos históricos do pensamento ocidental, um tipo de conhecimento prevaleceu sobre outros, o que teve implicações sobre o modo de vida dos homens de cada período. No caso da Modernidade e dos dias atuais, o conhecimento sobre o qual os teóricos se dedicam a estudar é o conhecimento científi co, provavelmente, pela abrangência das descobertas e invenções atuais da Ciência.

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Atividades de auto-avaliação

1) Caracterize a principal polêmica sobre o conhecimento ocorrida na passagem do pensamento medieval para o pensamento moderno.

2) Baseando-se dos aspectos estudados nesta unidade, identifi que semelhanças e divergências entre o Racionalismo e o Empirismo.

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3) Identifi que algumas questões que ocuparam os fi lósofos da Ciência Kuhn e Feyerabend.

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Saiba mais

Aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade ao consultar as seguintes referências:

DESCARTES, René. Discurso do método. [Os pensadores], São Paulo: Nova Cultural, 1996.

HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. [Os pensadores], São Paulo: Nova Cultural, 1996.

INÁCIO, Inês C.; LUCA, Tânia Regina de. O pensamento medieval. São Paulo: Ática, 1994.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. [Os pensadores], São Paulo: Nova Cultural, 1996.

KUHN, Th omas S. O caminho desde a estrutura. São Paulo: Unesp, 2006.

SEVCENKO, Nicolau. O renascimento. Campinas: Atual, 1988.

SILVA, Porfírio. A fi losofi a da ciência de Paul Feyerabend. [Pensamento e Filosofi a], Lisboa: Instituto Piaget, 1998.

VERGES, André; HUISMAN, Denis. História dos fi lósofos ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1984.

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