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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2011 Discurso Filosófico II Disciplina na modalidade a distância

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  • Universidade do Sul de Santa Catarina

    PalhoaUnisulVirtual

    2011

    Discurso Filosfico II

    Disciplina na modalidade a distncia

  • CrditosUniversidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educao Superior a Distncia

    ReitorAilton Nazareno Soares

    Vice-Reitor Sebastio Salsio Heerdt

    Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Corra Mximo

    Pr-Reitor de Ensino e Pr-Reitor de Pesquisa, Ps-Graduao e InovaoMauri Luiz Heerdt

    Pr-Reitora de Administrao AcadmicaMiriam de Ftima Bora Rosa

    Pr-Reitor de Desenvolvimento e Inovao InstitucionalValter Alves Schmitz Neto

    Diretora do Campus Universitrio de TubaroMilene Pacheco Kindermann

    Diretor do Campus Universitrio da Grande FlorianpolisHrcules Nunes de Arajo

    Secretria-Geral de EnsinoSolange Antunes de Souza

    Diretora do Campus Universitrio UnisulVirtualJucimara Roesler

    Equipe UnisulVirtual

    Diretor AdjuntoMoacir Heerdt

    Secretaria Executiva e CerimonialJackson Schuelter Wiggers (Coord.)Marcelo Fraiberg MachadoTenille Catarina

    Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendona

    Assessoria de Relao com Poder Pblico e Foras ArmadasAdenir Siqueira VianaWalter Flix Cardoso Junior

    Assessoria DAD - Disciplinas a DistnciaPatrcia da Silva Meneghel (Coord.)Carlos Alberto AreiasCludia Berh V. da SilvaConceio Aparecida KindermannLuiz Fernando MeneghelRenata Souza de A. Subtil

    Assessoria de Inovao e Qualidade de EADDenia Falco de Bittencourt (Coord.)Andrea Ouriques BalbinotCarmen Maria Cipriani Pandini

    Assessoria de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Jnior (Coord.)Felipe FernandesFelipe Jacson de FreitasJefferson Amorin OliveiraPhelipe Luiz Winter da SilvaPriscila da SilvaRodrigo Battistotti PimpoTamara Bruna Ferreira da Silva

    Coordenao Cursos

    Coordenadores de UNADiva Marlia FlemmingMarciel Evangelista CatneoRoberto Iunskovski

    Auxiliares de CoordenaoAna Denise Goularte de SouzaCamile Martinelli SilveiraFabiana Lange PatricioTnia Regina Goularte Waltemann

    Coordenadores GraduaoAlosio Jos RodriguesAna Lusa MlbertAna Paula R.PachecoArtur Beck NetoBernardino Jos da SilvaCharles Odair Cesconetto da SilvaDilsa MondardoDiva Marlia FlemmingHorcio Dutra MelloItamar Pedro BevilaquaJairo Afonso HenkesJanana Baeta NevesJorge Alexandre Nogared CardosoJos Carlos da Silva JuniorJos Gabriel da SilvaJos Humberto Dias de ToledoJoseane Borges de MirandaLuiz G. Buchmann FigueiredoMarciel Evangelista CatneoMaria Cristina Schweitzer VeitMaria da Graa PoyerMauro Faccioni FilhoMoacir FogaaNlio HerzmannOnei Tadeu DutraPatrcia FontanellaRoberto IunskovskiRose Clr Estivalete Beche

    Vice-Coordenadores GraduaoAdriana Santos RammBernardino Jos da SilvaCatia Melissa Silveira RodriguesHorcio Dutra MelloJardel Mendes VieiraJoel Irineu LohnJos Carlos Noronha de OliveiraJos Gabriel da SilvaJos Humberto Dias de ToledoLuciana ManfroiRogrio Santos da CostaRosa Beatriz Madruga PinheiroSergio SellTatiana Lee MarquesValnei Carlos DenardinSmia Mnica Fortunato (Adjunta)

    Coordenadores Ps-GraduaoAlosio Jos RodriguesAnelise Leal Vieira CubasBernardino Jos da SilvaCarmen Maria Cipriani PandiniDaniela Ernani Monteiro WillGiovani de PaulaKarla Leonora Dayse NunesLetcia Cristina Bizarro BarbosaLuiz Otvio Botelho LentoRoberto IunskovskiRodrigo Nunes LunardelliRogrio Santos da CostaThiago Coelho SoaresVera Rejane Niedersberg Schuhmacher

    Gerncia AdministraoAcadmicaAngelita Maral Flores (Gerente)Fernanda Farias

    Secretaria de Ensino a DistnciaSamara Josten Flores (Secretria de Ensino)Giane dos Passos (Secretria Acadmica)Adenir Soares JniorAlessandro Alves da SilvaAndra Luci MandiraCristina Mara SchauffertDjeime Sammer BortolottiDouglas SilveiraEvilym Melo LivramentoFabiano Silva MichelsFabricio Botelho EspndolaFelipe Wronski HenriqueGisele Terezinha Cardoso FerreiraIndyanara RamosJanaina ConceioJorge Luiz Vilhar MalaquiasJuliana Broering MartinsLuana Borges da SilvaLuana Tarsila HellmannLuza Koing ZumblickMaria Jos Rossetti

    Marilene de Ftima CapeletoPatricia A. Pereira de CarvalhoPaulo Lisboa CordeiroPaulo Mauricio Silveira BubaloRosngela Mara SiegelSimone Torres de OliveiraVanessa Pereira Santos MetzkerVanilda Liordina Heerdt

    Gesto DocumentalLamuni Souza (Coord.)Clair Maria CardosoDaniel Lucas de MedeirosJaliza Thizon de BonaGuilherme Henrique KoerichJosiane LealMarlia Locks Fernandes

    Gerncia Administrativa e FinanceiraRenato Andr Luz (Gerente)Ana Luise WehrleAnderson Zandr PrudncioDaniel Contessa LisboaNaiara Jeremias da RochaRafael Bourdot Back Thais Helena BonettiValmir Vencio Incio

    Gerncia de Ensino, Pesquisa e ExtensoJanana Baeta Neves (Gerente)Aracelli Araldi

    Elaborao de ProjetoCarolina Hoeller da Silva BoingVanderlei BrasilFrancielle Arruda Rampelotte

    Reconhecimento de CursoMaria de Ftima Martins

    ExtensoMaria Cristina Veit (Coord.)

    PesquisaDaniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC)Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)

    Ps-GraduaoAnelise Leal Vieira Cubas (Coord.)

    BibliotecaSalete Ceclia e Souza (Coord.)Paula Sanhudo da SilvaMarlia Ignacio de EspndolaRenan Felipe Cascaes

    Gesto Docente e DiscenteEnzo de Oliveira Moreira (Coord.)

    Capacitao e Assessoria ao DocenteAlessandra de Oliveira (Assessoria)Adriana SilveiraAlexandre Wagner da RochaElaine Cristiane Surian (Capacitao)Elizete De MarcoFabiana PereiraIris de Souza BarrosJuliana Cardoso EsmeraldinoMaria Lina Moratelli PradoSimone Zigunovas

    Tutoria e SuporteAnderson da Silveira (Ncleo Comunicao)Claudia N. Nascimento (Ncleo Norte-Nordeste)Maria Eugnia F. Celeghin (Ncleo Plos)Andreza Talles CascaisDaniela Cassol PeresDbora Cristina SilveiraEdnia Araujo Alberto (Ncleo Sudeste)Francine Cardoso da SilvaJanaina Conceio (Ncleo Sul)Joice de Castro PeresKarla F. Wisniewski DesengriniKelin BussLiana FerreiraLuiz Antnio PiresMaria Aparecida TeixeiraMayara de Oliveira BastosMichael Mattar

    Patrcia de Souza AmorimPoliana SimaoSchenon Souza Preto

    Gerncia de Desenho e Desenvolvimento de Materiais DidticosMrcia Loch (Gerente)

    Desenho EducacionalCristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD)Silvana Souza da Cruz (Coord. Ps/Ext.)Aline Cassol DagaAline PimentelCarmelita SchulzeDaniela Siqueira de MenezesDelma Cristiane MorariEliete de Oliveira CostaElosa Machado SeemannFlavia Lumi MatuzawaGeovania Japiassu MartinsIsabel Zoldan da Veiga RamboJoo Marcos de Souza AlvesLeandro Roman BambergLygia PereiraLis Air FogolariLuiz Henrique Milani QueriquelliMarcelo Tavares de Souza CamposMariana Aparecida dos SantosMarina Melhado Gomes da SilvaMarina Cabeda Egger MoellwaldMirian Elizabet Hahmeyer Collares ElpoPmella Rocha Flores da SilvaRafael da Cunha LaraRoberta de Ftima MartinsRoseli Aparecida Rocha MoterleSabrina BleicherVernica Ribas Crcio

    Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Letcia Regiane Da Silva TobalMariella Gloria RodriguesVanesa Montagna

    Avaliao da aprendizagem Claudia Gabriela DreherJaqueline Cardozo PollaNgila Cristina HinckelSabrina Paula Soares ScarantoThayanny Aparecida B. da Conceio

    Gerncia de LogsticaJeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)

    Logsitca de MateriaisCarlos Eduardo D. da Silva (Coord.)Abraao do Nascimento GermanoBruna MacielFernando Sardo da SilvaFylippy Margino dos SantosGuilherme LentzMarlon Eliseu PereiraPablo Varela da SilveiraRubens AmorimYslann David Melo Cordeiro

    Avaliaes PresenciaisGraciele M. Lindenmayr (Coord.)Ana Paula de AndradeAngelica Cristina GolloCristilaine MedeirosDaiana Cristina BortolottiDelano Pinheiro GomesEdson Martins Rosa JuniorFernando SteimbachFernando Oliveira SantosLisdeise Nunes FelipeMarcelo RamosMarcio VenturaOsni Jose Seidler JuniorThais Bortolotti

    Gerncia de MarketingEliza B. Dallanhol Locks (Gerente)

    Relacionamento com o Mercado Alvaro Jos Souto

    Relacionamento com Polos PresenciaisAlex Fabiano Wehrle (Coord.)Jeferson Pandolfo

    Karine Augusta ZanoniMarcia Luz de OliveiraMayara Pereira RosaLuciana Tomado Borguetti

    Assuntos JurdicosBruno Lucion RosoSheila Cristina Martins

    Marketing EstratgicoRafael Bavaresco Bongiolo

    Portal e ComunicaoCatia Melissa Silveira RodriguesAndreia DrewesLuiz Felipe Buchmann FigueiredoRafael Pessi

    Gerncia de ProduoArthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)Francini Ferreira Dias

    Design VisualPedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)Alberto Regis EliasAlex Sandro XavierAnne Cristyne PereiraCristiano Neri Gonalves RibeiroDaiana Ferreira CassanegoDavi PieperDiogo Rafael da SilvaEdison Rodrigo ValimFernanda FernandesFrederico TrilhaJordana Paula SchulkaMarcelo Neri da SilvaNelson RosaOberdan Porto Leal Piantino

    MultimdiaSrgio Giron (Coord.)Dandara Lemos ReynaldoCleber MagriFernando Gustav Soares LimaJosu Lange

    Conferncia (e-OLA)Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)Bruno Augusto Zunino Gabriel Barbosa

    Produo IndustrialMarcelo Bittencourt (Coord.)

    Gerncia Servio de Ateno Integral ao AcadmicoMaria Isabel Aragon (Gerente)Ana Paula Batista DetniAndr Luiz Portes Carolina Dias DamascenoCleide Incio Goulart SeemanDenise FernandesFrancielle FernandesHoldrin Milet BrandoJenniffer CamargoJessica da Silva BruchadoJonatas Collao de SouzaJuliana Cardoso da SilvaJuliana Elen TizianKamilla RosaMariana SouzaMarilene Ftima CapeletoMaurcio dos Santos AugustoMaycon de Sousa CandidoMonique Napoli RibeiroPriscilla Geovana PaganiSabrina Mari Kawano GonalvesScheila Cristina MartinsTaize MullerTatiane Crestani Trentin

    Avenida dos Lagos, 41 Cidade Universitria Pedra Branca | Palhoa SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: [email protected] | Site: www.unisul.br/unisulvirtual

  • PalhoaUnisulVirtual

    2011

    Design instrucional

    Ana Claudia Ta

    1 edio revista

    Sergio Sell

    Discurso Filosfico II

    Livro didtico

  • Edio Livro Didtico

    Professor ConteudistaSergio Sell

    Design InstrucionalAna Claudia Ta

    Assistente AcadmicoRoberta de Ftima Martins (1 edio revista)

    Projeto Grfico e CapaEquipe UnisulVirtual

    DiagramaoAnne Cristyne Pereira

    Patrcia Fragnani de MoraisFernanda Fernandes (1 edio revista)

    RevisoAmaline Boulus Issa Mussi

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul

    Copyright UnisulVirtual 2011

    Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prvia autorizao desta instituio.

    100S46 Sell, Sergio

    Discurso filosfico II : livro didtico / Sergio Sell ; design instrucional Ana Claudia Ta ; [assistente acadmico Roberta de Ftima Martins]. 1. ed. rev. Palhoa :UnisulVirtual, 2011.

    158 p. : il. ; 28 cm.

    Inclui bibliografia.

    1. Filosofia. I. Ta, Ana Claudia. II. Martins, Roberta de Ftima. III. Ttulo.

  • Sumrio

    Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7

    Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

    Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    UNIDADE 1 - Uma leitura interpretativo-histrica do Novo rganon de Bacon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    UNIDADE 2 - Das antecipaes da natureza interpretao da natureza e a teoria dos dolos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

    UNIDADE 3 - Um panorama do Livro II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

    Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

    Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    Respostas e comentrios das atividades de autoavaliao . . . . . . . . . . . . . . 69

    Anexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

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    Apresentao

    Este livro didtico corresponde disciplina Discurso Filosfico II.

    O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autnoma, aborda contedos especialmente selecionados e relacionados sua rea de formao. Ao adotar uma linguagem didtica e dialgica, objetivamos facilitar seu estudo a distncia, proporcionando condies favorveis s mltiplas interaes e a um aprendizado contextualizado e eficaz.

    Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, ser acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a distncia fica caracterizada somente na modalidade de ensino que voc optou para sua formao, pois na relao de aprendizagem professores e instituio estaro sempre conectados com voc.

    Ento, sempre que sentir necessidade entre em contato; voc tem disposio diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espao Unisul Virtual de Aprendizagem, que o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe tcnica e pedaggica ter o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem o nosso principal objetivo.

    Bom estudo e sucesso!

    Equipe UnisulVirtual.

  • Palavras do professor

    Carssimo(a) aluno(a),

    Seja bem-vindo(a) ao estudo da disciplina Discurso Filosfico II.

    A leitura de um texto filosfico no uma tarefa simples de se realizar. Deter-se diante de uma produo filosfica e ser capaz de compreender a mensagem proposta pelo autor algo que exige certo conhecimento terico prvio, a contextualizao da obra e a identificao dos problemas que motivaram a sua escritura. Principalmente, a leitura de um texto filosfico requer treinamento.

    Propiciar esse treinamento, essa prtica, o objetivo desta segunda disciplina de Discurso Filosfico.

    Nesta disciplina, voc ter a oportunidade de ler uma obra clssica, escrita por um dos maiores filsofos de todos os tempos, uma obra revolucionria.

    O Novum Organum uma obra-prima da literatura filosfica. Escrita num estilo literrio inovador, um convite reflexo e um desafio inteligncia do leitor perspicaz. Enfim, uma obra cuja leitura atenta e detalhada fundamental para qualquer um que almeje alcanar um conhecimento mais profundo sobre essa atividade chamada filosofia.

    Por tudo isso, voc est convidado(a) a dar um mergulho nas razes da nossa concepo contempornea de cincia. E est convidado(a) a ler mais que um livro didtico; est convidado(a) a ler uma legtima obra filosfica.

    Desejo a voc uma boa leitura.

    Um forte abrao,

    Professor Srgio Sell

  • Plano de estudo

    O plano de estudos visa a orient-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudaro a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

    O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construo de competncias se d sobre a articulao de metodologias e por meio das diversas formas de ao/mediao.

    So elementos desse processo:

    o livro didtico;

    o Espao UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

    as atividades de avaliao (a distncia, presenciais e de autoavaliao);

    o Sistema Tutorial.

    Ementa

    A compreenso e utilizao dos mtodos e tcnicas da investigao na filosofia. Leitura orientada, anlise e interpretao de textos filosficos da filosofia moderna e contempornea. Redao de textos filosficos. Projeto de Prtica da disciplina.

  • 12

    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Objetivos

    Geral:

    O principal objetivo desta disciplina exercitar a leitura de textos filosficos, desenvolvendo a capacidade de identificar conceitos, situando-os em suas interrelaes tericas.

    Especficos:

    compreender a mentalidade moderna e contempornea a partir de uma anlise gentica de alguns dos seus ideais;

    propiciar o contato com uma obra representativa da filosofia moderna;

    desenvolver o rigor metodolgico na leitura filosfica;

    estimular o debate e a reflexo;

    permitir o contato diferenciado com estilos literrio e filosfico;

    estimular e desenvolver a produo textual filosfica.

    Carga Horria

    A carga horria total da disciplina 60 horas-aula.

  • 13

    Nome da disciplina

    Contedo programtico/objetivos

    Veja, a seguir, as unidades que compem o livro didtico desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Esses se referem aos resultados que voc dever alcanar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que voc dever possuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias necessrias sua formao.

    Unidades de estudo: 3

    Unidade 1 Uma leitura interpretativo-histrica do Novo rganon de Bacon

    A unidade traz uma contextualizao da obra Novum Organum. Comea com uma breve apresentao das principais questes filosficas do Renascimento, depois o foco vai se dirigindo, aos poucos para os aspectos biogrficos mais marcantes de Francis Bacon, incluindo a sua produo literria, cientfica e filosfica. Por fim, apresenta-se um plano de trabalho para fazer uma leitura sistematizada da obra de Bacon.

    Unidade 2 Das antecipaes da natureza interpretao da natureza e a teoria dos dolos

    A unidade consiste basicamente em um guia de leitura do Livro I do Novum Organum. A leitura desta unidade deve ser realizada paralelamente leitura do texto de Bacon, o qual faz parte deste guia didtico, sob a forma de anexo.

    Unidade 3 Um panorama do Livro II

    A unidade traz um resumo dos principais assuntos discutidos no Livro II do Novum Organum.

  • 14

    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Agenda de atividades/Cronograma

    Verifique com ateno o EVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorizao do tempo para a leitura, da realizao de anlises e snteses do contedo e da interao com os seus colegas e professor.

    No perca os prazos das atividades. Registre no espao a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA.

    Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina.

    Atividades obrigatrias

    Demais atividades (registro pessoal)

  • 1UNIDADe 1Uma leitura interpretativo-histrica do Novo rganon de Bacon

    Objetivos de aprendizagem

    Identificar as principais caractersticas do ambiente intelectual em que foi escrita a obra Novum Organum..

    Conhecer alguns dados relevantes da biografia de Francis Bacon.

    Compreender a proposta de trabalho para uma leitura interpretativa histrica do Novum Organum.

    Sees de estudo

    Seo 1 O nascimento da filosofia moderna

    Seo 2 Francis Bacon (1561 - 1626)

    Seo 3 Plano de trabalho

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    H, certamente, diversas formas de se ler um texto filosfico, desde aquelas que privilegiam apenas os aspectos lgicos dos problemas e dos argumentos apresentados de forma explcita at aquelas que se embrenham nos labirintos e encruzilhadas dos contextos, passando, desta maneira, anlise das influncias e das intertextualidades.

    A leitura interpretativo-histrica uma dessas formas de interpretao e consiste em situar o texto filosfico dentro do debate em que ele constitudo. Nesse sentido, cada obra deve ser compreendida como um discurso construdo segundo uma lgica interna, mas tambm dentro de uma tradio de querelas, problemas e discusses (SILVA, 2009, p. 235).

    Usando esse mtodo de leitura, vamos nos debruar sobre a principal obra de um dos fundadores da filosofia moderna: o Novum Organum, de Francis Bacon. Para contextualizar a leitura desse livro, voc estudar nesta unidade as principais caractersticas da fase de transio da filosofia medieval para o pensamento moderno, e tambm poder conhecer alguns dados biogrficos do autor da obra que vamos ler.

  • 17

    Discurso Filosfico II

    Unidade 1

    Seo 1 O nascimento da filosofia moderna

    As obras contemporneas de histria da filosofia costumam situar na passagem do sculo XVI para o sculo XVII o incio da filosofia moderna. comum tambm apontar Francis Bacon (1561 - 1626) e Ren Descartes (1596 -1650) como os fundadores dessa nova forma de refletir sobre os problemas tericos mais fundamentais.

    Uma preocupao fundamental se faz presente na obra desses dois filsofos: a necessidade de formular um novo mtodo para a obteno do conhecimento seguro.

    Para compreender de que forma se d essa preocupao na obra desses autores, necessrio voc entender algumas consideraes sobre o contexto cultural e filosfico em que ambos viveram.

    O humanismo e o antiescolasticismo

    Ao longo do sculo XVI, a tradio medieval da Escolstica ainda se fazia presente como principal paradigma cultural, principalmente a partir de sua influncia nas instituies educacionais. Mas essa tradio j no conseguia camuflar totalmente o fato de estar em decadncia no que diz respeito fundamentao do conhecimento.

    De fato, desde o sculo XIV um novo fenmeno cultural emergia na Europa: o Renascimento. Buscando resgatar os valores centrais da cultura da Grcia clssica, o renascimento defende o antropocentrismo1 em oposio ao teocentrismo2 escolstico.

    Essa valorizao do ser humano s vezes tambm chamada de Humanismo, na medida em que retoma o ideal da homo mensura, ou seja, o ideal da medida humana defendido na Grcia clssica pelo sofista Protgoras.

    1 O antropocentrismo a perspectiva filosfica e cultural centrada no homem

    2 O teocentrismo refere-se perspectiva filosfica e cultural centrada em Deus e na religio.

  • 18

    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Sobre o humanismo renascentista...

    O Renascimento, fiel sua valorizao dos clssicos, foi buscar o lema do humanismo no filsofo grego da sofstica, Protgoras, em seu clebre fragmento: O homem a medida de todas as coisas. Este lema marca de forma decisiva a ruptura com o perodo medieval, com sua viso fortemente hierrquica de mundo, com sua arte voltada para o elemento sagrado e com sua filosofia a servio da teologia e da problemtica religiosa.(MARCONDES, 2001, p. 141).

    [...]

    Embora a escolstica, como dissemos, no tenha desaparecido e preservasse ainda sua influncia, o humanismo representa o surgimento de uma nova alternativa de pensamento, um novo estilo e uma nova temtica. Mesmo as questes religiosas recebem um tratamento diferente, como na Teologia platnica de Marslio Ficino, que se inspira nos neoplatnicos, Plotino e Proclo, para tratar de questes como a Santssima Trindade. A lgica aristotlica, identificada com as sutilezas dos argumentos escolsticos e a defesa dos dogmas, d lugar a um interesse maior pela retrica, pela gramtica e pela dialtica, vista como arte de argumentar em pblico, discutir questes polticas e refutar os adversrios. Lorenzo Valla (1407-57), um dos mais influentes humanistas desse perodo, foi um fillogo que discutiu a interpretao de textos clssicos, um especialista em retrica e oratria, adversrio da lgica aristotlica e defensor de uma moral inspirada no epicurismo contra o que considerava a verso superficial do estoicismo adotada por muitos nesta poca.

  • 19

    Discurso Filosfico II

    Unidade 1

    Talvez o que melhor ilustre a importncia da redescoberta dos clssicos pelo humanismo renascentista e do desenvolvimento de uma interpretao desses pensadores, independente da feita pela escolstica, encontre-se no clebre afresco de Rafael, A Escola de Atenas, pintado em 1510, no Vaticano, para o papa Jlio II. O afresco rene os mais importantes filsofos gregos da Antiguidade, tendo ao centro as figuras de Plato, que aponta para o alto e segura o texto do Timeu, e de Aristteles, que aponta para o cho e tem em suas mos a tica. Os filsofos e sbios se dividem em dois grupos, que representam, por um lado, a tendncia abstrao e espiritualidade, Pitgoras e Parmnides, p. ex., prximos a Plato, e da esttua de Apolo; e, por outro lado, os que representam o interesse pelas coisas prticas e pela cincia natural, p. ex., Euclides e Cludio Ptolomeu, prximos a Aristteles. Rafael situou a si mesmo e a seu mestre Leonardo da Vinci do lado de Aristteles, talvez porque Plato desvalorizasse as artes plsticas como meras cpias do real. curioso que esse afresco se encontre na Stanza della Segnatura, a biblioteca do Papa, e no represente, na imagem central, santos ou telogos, os padres da Igreja ou os apstolos, mas pensadores pagos. (MARCONDES, 2001, p. 144).

    No campo da teologia, o humanismo influenciar o surgimento do protestantismo. Uma das teses fundamentais da Reforma iniciada por Lutero (1483 - 1546) a ideia de que o indivduo no necessita da mediao de terceiros para se relacionar com Deus, bastando-lhe a f e o conhecimento da revelao divina contida nas escrituras sagradas.

    embora no seja dos sofistas, e sim de uma interpretao de Santo Agostinho que Lutero toma essa ideia, o fato que ela s pode florescer porque o ambiente cultural de sua poca j no era to hostil ao individualismo como fora nos sculos anteriores.

  • 20

    Universidade do Sul de Santa Catarina

    importante voc compreender que a Reforma Protestante contribui para o declnio da Escolstica. Se, antes, a autoridade do Papa e dos cardeais conseguia resolver, ou, pelo menos, apontar uma sada de consenso para as questes controversas a respeito dos fundamentos da f e mesmo da cultura, com o surgimento das religies protestantes o debate sobre questes fundamentais deixa de ter uma instncia superior de deciso.

    Figura 1.1 LuteroFonte: Luteranos, 2011.

    Quando os telogos j no se entendem mais, certa desconfiana em relao prpria possibilidade de se conhecer a verdade comea a pairar sobre a civilizao europeia. Aos poucos, o ceticismo vai ganhando fora entre os intelectuais descontentes com a tradio escolstica.

    O renascimento do ceticismo

    Ao longo da Idade Mdia, a tradio das escolas cticas da Antiguidade foi inicialmente combatida e, mais tarde, quase que totalmente esquecida. Afinal, de maneira simplista, possvel classificar o ceticismo como o estado de esprito diametralmente oposto f. No entanto, no ltimo sculo do medievo, ainda no perodo de maior influncia da Escolstica, surge uma defesa filosfico-crist do ceticismo.

  • 21

    Discurso Filosfico II

    Unidade 1

    Em 1440, Nicolau de Cusa publica a obra De Docta Ignorantia, na qual defende a posio ctica na filosofia. Segundo Nicolau, o conhecimento humano constitudo por dois graus distintos:

    o intelectual;

    o racional.

    De acordo com o autor, a razo s nos possibilita alcanar conhecimentos conjecturais e incapaz de nos dar verdades definitivas. Mas o intelecto, bem orientado pela f, pode nos levar noo mstica de Deus. Sendo assim, Nicolau de Cusa defende que:

    O ceticismo, longe de ser a negao da f, justamente a posio filosfica mais sensata a ser assumida por quem de fato acredita em Deus.

    V-se aqui uma ruptura na mentalidade crist que levar, sculos mais tarde, a mudanas substanciais na mentalidade europeia. Sem romper com o cristianismo, Nicolau de Cusa foi um dos precursores do antiescolasticismo.

    Em 1581, Francisco Sanchez, um mdico e filsofo portugus, publica De Que Nada se Sabe. Crtico severo do aristotelismo escolstico, Sanchez rejeitava a doutrina medieval da auctoritas, a qual defendia que a simples meno a determinados autores, investidos de autoridade, j seria uma prova conclusiva na sustentao de um argumento. Portanto Sanchez, ao contrapor essa ideia, sustenta que uma coisa no verdadeira s porque algum a disse (BERNARDO, 2004, p. 149).

    Apenas um ano antes da obra de Sanchez, Michel de Montaigne havia publicado, os seus Ensaios, sua obra mais famosa. Nela, o autor faz uma resenha dos argumentos e princpios fundamentais dos cticos antigos.

    Observe que as obras de Sanchez e de Montaigne trazem um elemento novo para a filosofia, que o fato de a palavra das autoridades religiosas j no poder ser tomada como a fonte da verdade.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    O ceticismo, portanto, ter duas consequncias imediatas:

    certa descrena na cincia;

    o crescimento do misticismo.

    A descrena na cincia far surgir um esforo conjunto de intelectuais em busca de um novo mtodo para a cincia. desse esforo que surgem as obras filosficas de Francis Bacon e de Descartes.

    Observe que o misticismo proporcionar um ambiente propcio para uma profunda reformulao da viso de mundo do homem renascentista, culminando com o antropocentrismo e abrindo as portas para uma viso materialista da realidade, conforme voc poder acompanhar a seguir.

    O misticismo e o esoterismo renascentista

    Na medida em que a tradio escolstica se perde em discusses, que so ou interminveis ou inteis, e enquanto muitos perdem gradativamente a confiana na racionalidade, alguns intelectuais mais vidos por resultados prticos acabam aproximando-se das tradies esotricas e msticas.

    O esoterismo se caracteriza fundamentalmente pelo carter inicitico dos seus conhecimentos. Ao longo da Idade Mdia, diversas formas de interpretar a realidade e de realizar pesquisas foram consideradas incompatveis com os dogmas oficiais da Igreja. No campo teolgico, surgiram as chamadas heresias (como a ideia de que Deus seria um ser feminino ou andrgino). Para alm da teologia, j no mbito das pesquisas empricas, certas prticas foram consideradas inaceitveis pela tradio escolstica, na medida em que estavam associadas a prticas pags ou mesmo por terem surgido ligadas a prticas religiosas expurgadas da prpria tradio judaico-crist, ao longo dos primeiros sculos da nossa era.

    O carter inicitico d-se atravs da iniciao, que consiste num conjunto de ritos e de ensinamentos orais, repassados apenas a pessoas escolhidas e mantidos em sigilo. Para ter acesso a esse conhecimento secreto, o iniciante (nefito) passa por ritos cerimoniais e jura lealdade aos mestres e aos ensinamentos.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 1

    Entre as principais tradies iniciticas do final da Idade Mdia, merecem destaque a ordem dos templrios, as fraternidades maon e rosacruz.

    O misticismo, que, no Renascimento, surge como uma consequncia do esoterismo, a defesa de que h uma unidade indissolvel entre Deus, o universo e o ser humano. em outras palavras, o macrocosmo e o microcosmo so apenas manifestaes de uma realidade una.

    Entre as diversas correntes esotricas e msticas que se desenvolvem no Renascimento, merecem destaque a alquimia e a cabala.

    A necessidade de um novo mtodo cientfico

    A cincia antiga, que teve o seu auge nas culturas grega clssica e helenstica, no encontrou espao para se desenvolver nos primeiros sculos da Idade Mdia. A partir da Escolstica (sculos XIII a XV), a redescoberta das obras de Aristteles e o contato com a cultura rabe modificam um pouco esse menosprezo cristo pela investigao cientfica. Mesmo assim, as investigaes mais abstratas tinham uma grande preferncia em detrimento da experimentao emprica. Nesse contexto, notvel o desenvolvimento alcanado pela lgica aristotlica.

    Os escolsticos promoveram grandes progressos na lgica, tornando-a mais sistemtica e progressiva. Entre os principais representantes desse desenvolvimento da lgica destacam-se Pedro Hispano, Duns Escot, Guilherme de Occam e Ramn Llull. A partir dos trabalhos desses filsofos, a lgica chegou a ser considerada a cincia de todas as cincias, qual se deveria subordinar todo o conhecimento cientfico.

    Coerente com essa concepo, os escolsticos passaram a defender a tese de que o mtodo cientfico por excelncia o mtodo dedutivo.

    Alguns autores defendem a tese de que Francis Bacon foi membro da fraternidade rosacruz e que, inclusive, teria alcanado o posto de Imperator, o mais alto da sua hierarquia.

    Na filosofia, essa concepo vai influenciar profundamente a viso pantesta de Espinosa, bem como a teoria das mnadas de Leibniz.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    O mtodo dedutivo d-se a partir de um conjunto de princpios universais admitidos como verdadeiros, procura-se encontrar a explicao para todos os fenmenos particulares.

    Embora o mtodo dedutivo j tivesse sido desenvolvido por Aristteles, ele aparece como um mero instrumento (rganon) da cincia na obra do Estagirita. Segundo essa perspectiva, o fundamento de todo conhecimento a experincia. Na Idade Mdia, a base emprica proposta por Aristteles praticamente eliminada da investigao cientfica, e a teoria do silogismo passa a ser a parte central do mtodo da cincia.

    Mas essa concepo de cincia centrada na lgica dedutiva tinha suas limitaes. A principal delas era a sua falta de resultados concretos aplicveis na vida prtica. Por isso, a partir do sculo XV, com a ascenso da burguesia, se intensificam as crticas lgica aristotlica (que, de fato, so crticas metodologia escolstica). Aos poucos, os mtodos dedutivos da escolstica passam a ser questionados, ao mesmo tempo em que surgem novas propostas de unir cincia e experimentao. Pesquisadores como Coprnico (1473 1543), Tycho Brahe (1546 1601), Kepler (1571 1630) e Galileu (1564 1642) so os arautos dessa nova forma de se buscar o conhecimento. Os filsofos Francis Bacon (1561-1626) e Ren Descartes (1596-1650) sero os principais tericos dessa nova concepo de mtodo cientfico.

    Seo 2 Francis Bacon (1561 - 1626)

    Nesta seo, veremos algumas informaes fundamentais acerca de Francis Bacon. O objetivo da breve anlise biogrfica desse filsofo fornecer algumas informaes importantes que iro ajud-lo(a) a compreender a obra Novum Organum, que ser discutida nas unidades seguintes. Acompanhe:

    Francis Bacon foi poltico, filsofo e ensasta. Por suas atividades polticas e sua ligao com o trono ingls, recebeu os ttulos de Baro de Verulam (ou Verulmio) e de Visconde de Saint Alban.

    Por ter nascido na cidade de Estagira, Aristteles tambm conhecido como o Estagirita.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 1

    considerado como um dos fundadores da cincia moderna. Bacon nasceu em Londres, em 22 de janeiro de 1561. Era o filho mais novo de um alto funcionrio pblico. Seu pai, Sir Nicholas Bacon, ocupava o cargo de Lord Guardio do Selo Real; sua me, Ann Cooke Bacon, falava cinco idiomas e foi considerada como uma das mulheres mais eruditas de sua poca.

    Figura 1.2 Francis BaconFonte: Random 1881, 2011.

    Francis Bacon foi educado para seguir a carreira do pai. Aos 12 anos, ingressou no Trinity College, em Cambridge, onde permaneceu por 3 anos. Em 1576, com 15 anos, entra como estudante na Gray s Inn, uma associao de advogados que tambm oferecia cursos prticos de Direito. Mas, no mesmo ano, parte para a Frana na comitiva de um embaixador, Sir Amyas Paulet. Com a morte inesperada de seu pai, em 1579, Bacon retorna a Londres e retoma os estudos na Gray s Inn, na qual se forma em Direito em 1582. Passa, ento, a sustentar-se atuando como advogado.

    Em 1584, foi eleito para a Cmara dos Comuns. Mais tarde, durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funes de procurador-geral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo (1617) e grande chanceler (1618). Ainda em 1618, foi nomeado Baro de Verulam e, em 1621, baro de Saint Alban. Acusado de corrupo, Bacon foi condenado a pagar uma pesada multa e impedido de exercer cargos pblicos. Paralelamente sua atuao poltica, Bacon se destacou como grande escritor.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Juntamente com Montaigne, Bacon considerado um dos criadores do estilo literrio conhecido como Ensaio. enquanto os ensaios de Montaigne so subjetivos e recheados de fantasia, os de Bacon se caracterizam pela objetividade e pelo rigor estrutural. entre os seus ensaios mais famosos esto as obras Of Friendship (Da Amizade) e Of Beauty (Da Beleza)

    Como filsofo, dedicou-se princialmente a desenvolver uma nova metodologia cientfica, baseada na induo e na experimentao. Sua principal obra filosfica o Novum Organum (publicada em 1620), a qual discutiremos aqui. Em outras obras, como a Nova Atlntida, enalteceu a cincia como forma de conhecimento capaz de melhorar a vida do homem.

    Francis Bacon ficou conhecido como um homem socivel e bem-humorado, exageradamente liberal nos gastos. Sobre o seu carter moral, h algumas controvrsias. Foi conselheiro e homem de confiana da Rainha Elizabeth I e do seu sucessor, o Rei Jaime I. Por outro lado, acusado de deslealdade para com os seus amigos (principalmente por no ter hesitado em condenar seu ex-protetor, o conde de Essex, num caso de traio Rainha) e de improbidade (por ter recebido presentes de pessoas envolvidas em processos que estavam sob seu julgamento).

    Em funo de seus supostos atos de improbidade, acabou perdendo o seu prestgio junto corte e foi forado a abandonar a vida pblica. Dedicou os ltimos 5 anos da sua vida ao trabalho intelectual, escrevendo sobre diversos assuntos, incluindo o direito, a histria da Gr-Bretanha, a medicina, a biologia, a qumica e reflexes sobre a cincia. Nesse perodo, Thomas Hobes foi seu secretrio e amigo pessoal.

    O maior projeto de Bacon foi Instauratio Magna, uma obra ambiciosa que no chegou a ser concluda, mas que pretendia tornar-se um compndio completo, abrangendo todas as cincias.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 1

    Embora tenha ficado inacabado, esse projeto inspirou diversos intelectuais contemporneos e posteriores. Uma das partes da Instauratio Magna a obra Novum Organum, na qual Bacon prope uma nova metodologia para a cincia.

    Bacon morreu em 1626, vtima de uma bronquite desencadeada pela sua exposio ao frio intenso, enquanto fazia experimentos sobre o uso da neve na conservao da carne.

    Seo 3 Plano de trabalho

    Nesta seo, vamos apresentar brevemente o plano de trabalho referente ao estudo das prximas unidades.

    A partir da Unidade 2, voc far uma leitura interpretativa da obra Novum Organum, de Bacon. Esse trabalho envolver duas tarefas:

    1. uma anlise textual, buscando identificar e discutir os principais conceitos da nova concepo de cincia proposta por Bacon;

    2. uma interpretao histrica da obra a partir da sua contextualizao e da sua influncia na filosofia moderna e contempornea.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Figura 1.3 frontispcio do Novum OrganumFonte: Maindonald, 2011.

    O ponto de partida deste trabalho ser a leitura de uma parte da prpria obra de Bacon. Para isso, o Livro I do Novum Organum apresentado na Unidade 2. Para evitar uma sobrecarga de leitura, e considerando os objetivos da disciplina, a Unidade 3 traz uma resenha dos principais temas discutidos no Livro II do Novum Organum.

    Alm da leitura da primeira parte da obra de Bacon, ser fundamental a realizao das tarefas propostas no EVA, principalmente a publicao de pesquisas na Exposio e a participao nas discusses do Frum.

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    nome da disciplina

    Sntese

    Nesta unidade, foram abordados alguns elementos que nos permitem identificar, de forma resumida, o contexto cultural e intelectual no qual foi escrita a obra Novum Organum. Voc viu que esta obra de Francis Bacon parte de um projeto inacabado, denominado Instauratio Magna. Tal projeto foi concebido a partir dos anseios do autor por uma nova concepo de cincia numa poca em que a filosofia medieval e a concepo escolstica de cincia entram em crise.

    Voc tambm pde ver que, no Renascimento, com o ressurgimento do humanismo e do ceticismo e com a propagao do misticismo, alguns intelectuais sentiram a necessidade de rever os mtodos de obteno de conhecimento. Herdeiro dessas inquietaes, Bacon produziu uma obra que considerada um marco no nascimento da concepo moderna de cincia.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Atividades de autoavaliao

    Ao final de cada unidade, voc realizar atividades de autoavaliao. O gabarito est disponvel no final do livro didtico. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, voc estar promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

    Voc viu que, na Idade Mdia, com a escolstica, ocorre uma retomada de alguns elementos da metodologia aristotlica. No entanto, a concepo aristotlica no foi assumida em sua totalidade pelos escolsticos. No Renascimento, a concepo de cincia medieval duramente criticada pelos precursores da cincia moderna. Sendo assim, considere as informaes apresentadas nesta Unidade e responda os itens abaixo:

    1) Quais foram os principais formuladores da mentalidade cientfica escolstica?

    2) Quais foram os principais precursores da cincia moderna?

    3) Faa um quadro comparativo entre a concepo metodolgica de Aristteles, da escolstica e aquela desejada pelos precursores da cincia moderna.

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    nome da disciplina

    Saiba mais

    Se voc desejar, aprofunde os contedos estudados nesta unidade consultando as seguintes referncias:

    BACON, Francis. Novum organum, ou, verdadeiras indicaes acerca da interpretao da natureza. So Paulo: Nova Cultural, 2000. (Os pensadores)

    BERNARDO, Gustavo. A fico ctica. So Paulo: Annablume, 2004.

    FIKER, Raul. O conhecer e o saber em Francis Bacon. So Paulo: Nova Alexandria, 1996.

    MARCONDES, Danilo. Iniciao histria da filosofia: dos pr-socrticos a Wittgenstein. 6. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

    REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Histria da filosofia. 2. ed. So Paulo: Paulus, 2005. 7 v. (v.3)

    SILVA, Fernando Maurcio da. Discurso filosfico I: livro didtico. Palhoa: UnisulVirtual, 2009.

  • 2UNIDADe 2Das antecipaes da natureza interpretao da natureza e a teoria dos dolos

    Objetivos de aprendizagem

    Distinguir os conceitos de antecipao da natureza e interpretao da natureza

    Aprender a definio do conceito dolo.

    Compreender os quatro dolos identificados por Bacon.

    Compreender as principais metforas utilizadas por Bacon.

    Sees de estudo

    Seo 1 Nem arrogncia nem desespero: a necessidade de um novo rganon

    Seo 2 Uma concepo pragmtica da cincia

    Seo 3 A teoria dos dolos

    Seo 4 Pelos frutos se conhece a rvore

    Seo 5 Aranhas, formigas e abelhas

    Seo 6 A nova proposta metodolgica

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Nesta unidade, voc dever fazer uma leitura analtica do prefcio e do primeiro livro da obra Novum Organum de Francis Bacon. Aqui, voc encontrar comentrios a respeito das principais passagens da obra. No final do livro, voc encontra uma traduo do texto de Bacon, com as notas do tradutor.

    Boa leitura!

    Seo 1 Nem arrogncia nem desespero: a necessidade de um novo rganon

    Para acompanhar esta seo, necessrio que voc leia o Prefcio de Francis Bacon ao Novum Organum (pginas de 71 a 74 do ANeXO ), que est em anexo no guia didtico.

    O objetivo desta seo compreender os objetivos assumidos por Francis Bacon ao apresentar ao pblico o seu Novum Organum. Lembre-se de que essa obra foi concebida como parte de um projeto mais amplo, denominado Instauratio Magna.

    Ao ler o Prefcio do livro Novo rganon, preciso compreender que, ao criticar a postura intelectual da escolstica buscando, ao mesmo tempo, um fundamento para o conhecimento cientfico, Bacon assume na prtica uma posio que remonta a Aristteles: a de buscar o justo meio-termo.

    Observe que, dessa forma, o autor inicia a apresentao do seu livro, indicando o seu propsito: o de construir um conhecimento sobre a natureza que evite tanto a arrogncia de pretender compreender tudo quanto o desespero de achar que no possvel compreender nada.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 2

    importante voc notar que existem duas perspectivas centrais nesse discurso:

    1. De um lado, o que se rejeita o dogmatismo acrtico dos escolsticos que, confiando demasiadamente na tradio e na autoridade dos grandes filsofos do passado, assumem sistemas tericos ingenuamente fechados a novas descobertas e possibilidade de inovaes crticas.

    2. Por outro lado, rejeita-se tambm o desespero do ceticismo exacerbado. Ainda que seja prudente a humildade intelectual, a experincia e a histria nos mostram ser possvel alcanar conhecimentos seguros quando se investiga a realidade com empenho e cautela.

    Uma vez apresentada essa postura intermediria entre o dogmatismo acrtico e o ceticismo exagerado, Bacon faz questo de deixar claro que a inteno do seu projeto de reforma do conhecimento o de impressionar e persuadir sem antagonizar. Bacon assume, assim, um estilo argumentativo, que busca evitar qualquer rejeio prvia s suas propostas.

    Segundo Raul Fiker, a escolha desse estilo no foi toa:

    Tal estilo foi responsvel no s pela ampla difuso de sua filosofia como tambm pode ter cumprido um papel protetor anlogo dissimulao de Descartes, pois as dificuldades com discursos inovadores que pretendessem ser diretos existiam tanto na Frana catlica como na Inglaterra anglicana de ento. (FIKER, 1996, p. 144).

    nesse contexto que Bacon prope a coexistncia pacfica entre os dois mtodos, o rganon escolstico e o seu novo rganon: um destinado ao cultivo das cincias e outro destinado descoberta cientfica (BACON, Novum Organum, Prefcio).

    Para finalizar seu prefcio, Bacon aponta o foco da sua proposta: substituir as antecipaes do intelecto pelas interpretaes da natureza, tema que s ser devidamente esclarecido e debatido no livro I.

    Raul Fiker autor da obra O conhecer e o saber em Francis Bacon, um interessante estudo sobre os artifcios retricos e o estilo literrio de Bacon.

    O ttulo original da obra de Bacon Novum Organum, em Latim. Em Portugus, a obra referida como Novo rganon. Em Grego, a palavra rganon significa instrumento, e esse foi o termo originalmente usado por Aristteles para denominar aquilo que hoje ns chamamos de Lgica.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Seo 2 Uma concepo pragmtica da cincia

    A partir desta seo, voc iniciar a leitura do Livro I do Novum Organum. Essa obra possui um estilo literrio peculiar, uma vez que foi escrita em aforismos. Esse estilo incomum em um texto filosfico no sem razo. O autor Francis Bacon tem um motivo: no quer mostrar erudio, e sim a sua disposio para enfrentar problemas prticos. Embora fosse hbil escritor, Bacon quer chamar a ateno para o contedo, e no para a forma.

    Antes de continuar a leitura dessa seo preciso que voc leia Aforismos sobre a interpretao da natureza e o reino do homem. LIVRO I Aforismos I a XXXVII (pginas de 74 a 82 do ANeXO).

    Ao iniciar a leitura do Livro I, observe que, j nos primeiros aforismos, os termos utilizados apontam para o alvo que o autor tem em mira: seguir rumo a uma concepo pragmtica da cincia.

    Para Francis Bacon, a cincia tem de ter uma aplicao prtica.

    Portanto, seguindo essa perspectiva, o primeiro aforismo emblemtico. Bacon comea sua abordagem falando sobre o homem. Como se tratasse de um manifesto antropocntrico, o autor, no por acaso, coloca o homem no incio de tudo. Os termos que se seguem so verbos de ao intelectiva (entende, constata, sabe) e de poder (pode) e expresses igualmente dotadas de uma conotao ativa (observao dos fatos, trabalho da mente).

    Mas Bacon faz questo de tambm deixar claro, neste primeiro aforismo, que o poder humano no absoluto nem ilimitado.

    Para Bacon, o homem no um deus capaz de moldar a realidade segundo sua vontade, e sim um ministro (um subordinado) e um intrprete (algum que precisa fazer um esforo de compreenso) da natureza.

    De acordo com Abbagnano (1998, p. 21), aforismo uma proposio que exprime de maneira sucinta uma verdade, uma regra ou uma mxima concernente vida prtica. Inicialmente, essa palavra foi usada quase exclusivamente para indicar as frmulas que exprimem, de modo abreviativo e mnemnico, os preceitos da arte mdica: p. ex., os A. de Hipcrates. Bacon exprimiu sob a forma de Aforismos as suas observaes (contidas no livro I do Novum organum) sobre a interpretao da natureza e sobre o reino do homem, provavelmente para sublinhar o carter prtico e ativo dessas observaes, enquanto dirigidas a preparar o domnio do homem sobre a natureza.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 2

    Partindo dessa ideia de que o poder humano limitado, o segundo aforismo chama a ateno para a importncia do uso de instrumentos, na medida em que esses ampliam tanto o nosso poder de ao material quanto a nossa capacidade de compreender a realidade.

    No terceiro aforismo, encontramos a frase mais famosa de Bacon, saber poder, ou melhor, encontramos a frase que originou esse bordo atribudo ao autor: cincia e poder do homem coincidem.

    A partir da, at o aforismo XXXVII, o texto desenvolve essas ideias apresentadas nos trs primeiros aforismos.

    Uma das passagens mais importantes do Livro I do Novo rganon o aforismo XXVI, no qual Bacon traa a diferena entre as antecipaes da natureza e a interpretao da natureza.

    Como voc pode notar a partir da leitura dos primeiros 37 aforismos, a discusso sobre o poder do homem frente natureza e a possibilidade de ampliao desse poder por meio do uso de instrumentos d a Bacon uma viso otimista em relao cincia. Essa valorizao dos instrumentos to notvel em Bacon que alguns filsofos do sculo XX utilizam a expresso razo instrumental para referir-se a esse ideal baconiano que perpassar a mentalidade cientfica moderna.

    Mas junto com esse otimismo, Bacon nos exorta a termos muita prudncia em relao a possveis fontes de erro, principalmente aquelas que, muitas vezes, so imperceptveis. Por isso, nos aforismos seguintes, o filsofo ingls nos convida a refletir sobre os nossos preconceitos.

    Mas, antes de continuar a leitura, que tal descansar um pouco os olhos?

    No se esquea de que um dos sentidos da palavra organum instrumento.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Seo 3 A teoria dos dolos

    Aps apresentar de forma mais detalhada o seu projeto de ampliao do conhecimento e do poder humano por meio do uso de instrumentos tericos e prticos (aforismos I a XXXVII), Bacon sente a necessidade de identificar as fontes de erro mais comuns, para evitar que todo o nosso esforo de conhecimento seja em vo.

    Nos aforismos de XXXVIII a LXIX apresentada a teoria dos dolos, a mais importante contribuio filosfica de Bacon e uma das passagens mais famosas da histria da Filosofia.

    Voc, j conhece a teoria dos dolos? Que tal estud-la agora, de forma minuciosa?

    Antes de continuar o estudo desta seo, preciso que voc faa a leitura dos aforismos XXXVIII a LXIX, que se encontram no ANeXO desse guia didtico, nas pginas 82 a 99.

    Marilena Chau, em sua obra Convite Filosofia, resume assim a teoria dos dolos de Bacon:

    Bacon elaborou uma teoria conhecida como a crtica dos dolos (a palavra dolovem do grego eidolon e significa imagem). Descartes, como j mencionamos,elaborou um mtodo de anlise conhecido como dvida metdica.

    De acordo com Bacon, existem quatro tipos de dolos ou de imagens que formam opinies cristalizadas e preconceitos, que impedem o conhecimento da verdade.

    1. dolos da caverna: as opinies que se formam em ns por erros e defeitos de nossos rgos dos sentidos. So os mais fceis de corrigir por nosso intelecto.

    2. dolos do frum: so as opinies que se formam em ns como consequncia da linguagem e de nossas relaes com os outros. So difceis de vencer, mas ointelecto tem poder sobre eles.

    3. dolos do teatro: so as opinies formadas em ns em decorrncia dos poderes das autoridades que nos impem seus pontos de vista e os transformam em decretos e leis inquestionveis. S podem ser refeitos se houver uma mudana social e poltica.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 2

    4. dolos da tribo: so as opinies que se formam em ns em decorrncia de nossa natureza humana; esses dolos so prprios da espcie humana e s podem ser vencidos se houver uma reforma da prpria natureza humana.

    (CHAU, 1997, p. 115).

    A teoria dos dolos a primeira parte daquilo que Bacon considera a fase destrutiva (pars destruens) da sua filosofia. Na prxima seo, voc ver a segunda parte dessa fase destrutiva, na qual Bacon faz uma crtica s propostas filosficas apresentadas ao longo da histria.

    Seo 4 Pelos frutos se conhece a rvore

    Para acompanhar esta seo, preciso que voc leia os aforismos de LXX a XCIV do Livro I Novo rganon Aforismos sobre a interpretao da natureza e o reino do homem que se encontram no ANeXO desse guia didtico, nas pginas 99 a 120.

    Observe que, nos aforismos de LXX a XCIV, Bacon avalia os progressos realizados pela cincia ao longo dos sculos, comeando pela anlise da tradio grega clssica. O mais importante nessa leitura voc atentar para o critrio escolhido pelo autor: a obteno de resultados prticos.

    Mais do que uma anlise isenta, o que Bacon faz uma defesa camuflada da sua prpria concepo de cincia.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Seo 5 Aranhas, formigas e abelhas

    Antes de continuar a leitura dessa seo, preciso que voc leia Aforismos sobre a interpretao da natureza e o reino do homem. LIVRO I Aforismos XCV a CXV Novo rgano (pginas de 121 a 131 do ANeXO).

    Na leitura dos aforismos LXX a XCIV, proposta na seo 4, voc pde acompanhar as crticas severas que Bacon fez s autoridades religiosas e queles que perderam a esperana na capacidade humana de conhecer a natureza de uma forma segura. Trata-se de uma crtica aos sistemas puramente tericos.

    Nos aforismos de XCV a CXV, Bacon estende essas crticas a atitudes que, embora vinculadas prtica, tambm no so capazes de contribuir para o progresso da cincia.

    Para indicar o foco da sua crtica, o iniciador da cincia moderna identifica trs posturas metodolgicas fundamentais e as compara cada uma a um inseto:

    1. A aranha: de si mesma extrai o fio com que constri a sua teia, correspondente a uma metodologia puramente dedutiva, que parte de conceitos tericos para formular interpretaes da realidade igualmente tericas.

    2. A formiga: apenas cata, acumula provises, correspondente mera coleta de informaes da experincia, uma forma ingnua de empirismo desprovida de rigor metodolgico.

    3. A abelha: recolhe a matria-prima das flores e com seus prprios recursos a transforma e digere, correspondente ao mtodo mais adequado de investigao cientfica, representando a coleta de informaes da experincia associada ao rigor metodolgico.

    essa comparao dos trs insetos citados acima tambm est entre as mais famosas passagens da obra de Bacon.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 2

    Seo 6 A nova proposta metodolgica

    Antes de continuar a leitura desta seo, preciso que voc leia os Aforismos CXVI a CXXX (pginas de 131 a 141 do ANeXO).

    Finalizando o Livro I, nos ltimos quinze aforismos, Bacon apresenta as bases da sua nova proposta metodolgica, a qual s ser de fato explicada em suas mincias no Livro II.

    A fase destrutiva (pars destruens) j foi superada. Bacon, a partir de agora, comea a desenhar ante os nossos olhos a fase construtiva (pars construens) do novo rganon.

    O conceito principal dessa nova metodologia o de tbua de descoberta, que recebe aqui as primeiras consideraes de Bacon.

    As tbuas de descoberta so trs tabelas usadas para descrever de modo pormenorizado os fatos observados.

    As trs tbuas apresentadas por Bacon so:

    1. tbua da presena na qual se faz o registro de presena das formas que se investigam;

    2. tbua de ausncia na qual se faz o registro de situaes em que as formas pesquisadas se revelam ausentes;

    3. tbua da comparao na qual se faz o registro das variaes em que as referidas formas manifestam.

    O objetivo das tbuas de descoberta dar suporte ao mtodo indutivo que, dessa forma, transcende a experincia casual (dados empricos recolhidos ao acaso) e se torna uma experincia escriturada (observao emprica metdica e documentada, passvel de verificaes).

    Outra noo aqui utilizada a de histria (histria natural), que corresponde descrio minuciosa dos fenmenos observados na natureza.

    Bacon identifica 2 tipos distintos de histria, a natural (registro descritivo dos fatos da realidade natural) e a civil (registro descritivo dos fatos relativos vida humana em sociedade). Tome cuidado para no confundir esses dois significados.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Sntese

    Nesta unidade, voc realizou a leitura do Livro I do Novum Organum. Voc viu que Bacon divide o seu mtodo em duas etapas. A primeira uma etapa destrutiva, cuja parte principal a teoria dos dolos, que consiste numa classificao dos nossos preconceitos em quatro categorias: dolos da caverna, do frum, do teatro e da tribo. A segunda etapa construtiva e, embora ela ainda no tenha sido suficientemente detalhada, j foi de alguma forma antecipada, a partir de uma discusso preliminar das tbuas de descoberta e do uso da histria natural.

    Atividades de autoavaliao

    Ao final de cada unidade, voc realizar atividades de autoavaliao. O gabarito est disponvel no final do livro didtico. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, voc estar promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

    1) Caa ao tesouro! Nos trs itens a seguir, voc solicitado a localizar informaes escondidas nos primeiros 20 aforismos do Novum Organum. Mas essas informaes no foram simplesmente copiadas do texto de Bacon. Por isso, mais do que achar onde um determinado trecho dado est escrito (tarefa que seria facilmente executada com o auxlio de um computador), preciso compreender o sentido do texto. O objetivo deste exerccio verificar se voc de fato est compreendendo a leitura do texto de Bacon.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 2

    a) Num famoso trecho de Shakespeare, escritor ingls contemporneo a Bacon, Hamlet afirma: H mais mistrios entre o cu e a terra, do que sonha nossa v filosofia. Curiosamente, entre os 20 primeiros aforismos do Novum Organum, h um cujo significado se aproxima bastante do sentido desse proverbial dito de Hamlet. Leia atentamente o texto de Bacon e localize o referido aforismo. Feito isso, indique o seu nmero e o transcreva nas linhas a seguir.

    b) Num dos 20 primeiros aforismos do Novum Organum, Bacon afirma haver to somente dois caminhos possveis para se descobrir novas verdades: a deduo e a induo. Localize, indique o nmero e transcreva a seguir o referido aforismo.

    c) Ainda entre os 20 primeiros aforismos do Novo rganon, Bacon faz uma crtica lgica escolstica, afirmando que ela mais atrapalha do que ajuda, quando se trata de conhecer a realidade.

    Localize, indique o nmero e transcreva a seguir o referido aforismo.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    2) Segundo Bacon, o nosso intelecto encontra dificuldades para interpretar corretamente a realidade na medida em que bloqueado por certos dolos ou falsas noes. Ainda segundo o nosso Lord ingls, esses dolos podem ser classificados em 4 categorias. Nas linhas a seguir, cite e explique cada um dos dolos identificados por Bacon.

    3) No Aforismo LXXXIX, Bacon faz uma crtica contundente interferncia da religio nas questes cientficas. Veja a primeira frase do aforismo: No se deve esquecer de que, em todas as pocas, a filosofia se tem defrontado com um adversrio molesto e difcil na superstio e no zelo cego e descomedido da religio. em outras partes da obra, no entanto, Bacon faz questo de deixar claro que o seu projeto metodolgico no implica atesmo. Levando isso em considerao, nessa abordagem, realize as seguintes tarefas:

    a) Identifique no Livro I do Novum Organum um aforismo em que Bacon assuma explicitamente no ser ateu.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 2

    b) elabore uma pequena dissertao sobre o tema O propsito de Bacon: impressionar e persuadir sem antagonizar

  • 3UNIDADe 3Um panorama do Livro II Objetivos de aprendizagem

    Aprender como se d um panorama dos temas abordados no Livro II do Novum Organum.

    Compreender a mudana no conceito de cincia a partir de Bacon.

    Identificar o novo escopo da cincia proposto por Bacon.

    entender os conceitos de forma, processo latente e esquematismo latente.

    Identificar as caractersticas da induo por eliminao.

    Sees de estudo

    Seo 1 O objetivo e os limites da cincia humana

    Seo 2 O novo mtodo

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Na Unidade 2, voc fez uma leitura do Livro I do Novum Organum. Agora, voc estudar o contedo do Livro II da mesma obra, mas seguindo um procedimento diferente. Ao invs da leitura do prprio texto de Bacon, que demandaria muito tempo, a proposta desta unidade trazer um resumo e uma discusso dos principais temas abordados na segunda parte do Novum Organum. Para traar um panorama do Livro II, esta unidade traz alguns trechos da obra Histria da filosofia: do humanismo a Descartes, de Giovanni Reale e Dario Antiseri. No Espao UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA), voc encontra o texto completo do Livro II do Novum Organum, caso queira fazer alguma consulta ou tenha interesse em confrontar os comentrios desta unidade com o prprio texto de Bacon.

    Seo 1 O objetivo e os limites da cincia humana

    At o sculo XV, os termos filosofia e cincia eram sinnimos. A metafsica, por exemplo, era chamada por Aristteles, no sc. III a.C., de cincia primeira e de filosofia primeira. Assim, a astrologia era a cincia da influncia dos astros; a teologia, a cincia de Deus; e a tica, a cincia da virtude. Todo estudo, na medida em que seguisse algum mtodo, era chamado de cincia.

    Mas, a partir de Bacon, tal situao se altera. O Novum Organum redefine o termo cincia, atribuindo a este o significado de conhecimento capaz de propiciar uma interveno sobre a realidade material, obtido a partir da experimentao.

    Dessa forma, Bacon o fundador da cincia moderna no apenas por ter formulado um novo mtodo (o mtodo cientfico da modernidade no exatamente o mtodo baconiano, e sim uma combinao das propostas de Galileu, Bacon, Descartes, Newton e outros):

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 3

    Bacon o fundador da cincia moderna, principalmente por ter redefinido o conceito de cincia.

    Figura 3.1 Retratos de Coprnico, Galileu, Newton e Descartes, respectivamente

    O novo objetivo e os limites da cincia

    Bacon apresenta, j no primeiro aforismo do Livro II, uma nova delimitao do escopo da cincia:

    Engendrar e introduzir nova natureza ou novas naturezas em um corpo dado, tal a obra e o fito do poder humano. E a obra e o fito da cincia humana descobrir a forma de uma natureza dada ou a sua verdadeira diferena ou natureza naturante ou fonte de emanao (estes so os vocbulos de que dispomos mais adequados para os fatos que apresentamos). A estas empresas primrias subordinam-se duas outras secundrias e de cunho inferior. A primeira a transformao de corpos concretos de um em outro, nos limites do possvel; a segunda, a descoberta de toda gerao e movimento do processo latente, contnuo, a partir do agente manifesto at a forma implcita, e descobrir, tambm, o esquematismo latente dos corpos quiescentes, e no em movimento. (BACON, 2000, p. 101).

    A seguir, veja uma discusso sobre a primeira parte do Livro II do Novum Organum, a partir do trecho selecionado de REALE e ANTISERI (2005). Acompanhe.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    O escopo da cincia: a descoberta das formas

    Um ponto cardeal do pensamento de Bacon

    Descongestionada a mente dos dolos, isto , libertado o esprito das apressadas antecipaes da natureza, na opinio de Bacon, o homem pode ento encaminhar-se para o estudo da natureza. Pois bem, a obra e o fim da fora humana est em gerar e introduzir em um dado corpo uma nova natureza ou mais naturezas diversas. A obra e o fim da cincia humana esto na descoberta da forma da natureza dada, isto , de sua verdadeira diferena, natureza naturante ou fonte de emanao.

    O poder do homem est em produzir em um corpo novas naturezas

    esse elemento central do pensamento de Bacon necessita de alguns esclarecimentos. Antes do mais, o que pretendia dizer Bacon com a expresso gerar e introduzir em um corpo dado uma nova natureza?

    eis alguns projetos que exemplificam a ideia de Bacon: um projeto para fazer ligas de metais para fins diversos; outro projeto para tornar o vidro mais transparente ou inquebrvel; um projeto para conservar os limes, as laranjas e as cidras durante o vero; um projeto para fazer amadurecer mais rapidamente as ervilhas, os morangos ou as cerejas. Outro projeto seu consistia em procurar obter usando o ferro unido slica ou a qualquer outra pedra um metal mais leve que o ferro e imune ferrugem. Para esse composto (o nosso ao), Bacon via os seguintes usos: Em primeiro lugar: para os utenslios de cozinha, como espetos, fornos, assadores, panelas etc.; em segundo lugar, para os instrumentos blicos, como peas e artilharia, comportas, grilhes, correntes etc.

    esses exemplos nos permitem compreender o que significa introduzir em um corpo dado uma nova natureza. e tambm nos permitem compreender o que Bacon quer dizer, quando afirma que a obra e o fim da fora humana esto em gerar e introduzir em um dado corpo uma nova natureza ou mais naturezas diversas. Isso esclarece a primeira parte do trecho citado de Bacon.

    A cincia est na descoberta das formas

    Vejamos ento a segunda parte, onde ele escreve que a obra e o fim da cincia humana esto na descoberta da forma de uma natureza dada, isto , de sua verdadeira diferena, natureza naturante ou fonte de emanao.

    Bacon encontra em Aristteles a doutrina das quatro causas necessrias compreenso de uma coisa qualquer. So elas: a causa material; a causa eficiente; a causa formal; a causa final. Assim, por exemplo, se considerarmos uma esttua, ns a compreenderemos se entendermos de que feita (causa material: por exemplo, o mrmore); quem a fez (causa eficiente: por exemplo, o escultor); sua forma (causa

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 3

    formal: a ideia que o escultor imprime no mrmore); o motivo pelo qual foi feita (causa final: por exemplo, a razo que impeliu o escultor a faz-la).

    Pois bem, Bacon est de acordo com Aristteles sobre o fato de que o verdadeiro saber saber por causas. Mas, entre essas causas, acrescenta ele, a causa final s pode valer para o estudo das aes humanas. Por outro lado, a causa eficiente e a material so de pouca importncia para a cincia verdadeira e ativa.

    O que resta, portanto, a causa formal. essa que ns devemos conhecer, se quisermos introduzir novas naturezas em determinado corpo: Um homem que conhea as formas pode descobrir e obter efeitos nunca antes obtidos, efeitos que nem as mudanas naturais, nem o acaso, nem a experincia, nem a industriosidade humana jamais produziram, efeitos que, de outra forma, a mente humana jamais teria podido prever.

    em suma, conhecer as formas das vrias coisas ou naturezas significa penetrar nos segredos profundos da natureza e tornar o homem poderoso em relao a ela. e Bacon era de opinio que esses segredos da natureza no deviam ser muitos em comparao com a grande variedade e riqueza dos fenmenos, aparentemente to diversos.

    No fundo, Bacon pretendia assenhorear-se daquele alfabeto da natureza que poderia permitir compreender as expresses da linguagem, isto , seus fenmenos variados.

    em outros termos: as palavras da linguagem da natureza seriam os fenmenos, e as letras do alfabeto seriam as poucas e simples formas.

    A ideia baconiana de forma, o processo latente e o esquematismo latente

    Mas o que so essas formas? De que modo Bacon as concebe?

    Pois bem, para compreender a ideia de forma, necessrio falar de dois novos conceitos introduzidos por Bacon: o de processo latente e o de esquematismo latente.

    a) O processo latente no o processo que se v atravs da observao dos fenmenos: Com efeito, no pretendemos falar de medidas, sinais ou escalas do processo visvel nos corpos, mas de processo continuado, que, em sua maior parte, escapa aos sentidos.

    b) Quanto ao esquematismo latente, Bacon escreve que nenhum corpo pode ser dotado de nova natureza, nem se pode transform-lo oportunamente e com sucesso em novo corpo, se no se conhece com perfeio a natureza do corpo a alterar ou a transformar.

    Na opinio de Bacon, a anatomia dos corpos orgnicos, ainda que insuficientemente, d de alguma forma a ideia de esquematismo latente. Brevemente, pode-se dizer que o esquematismo latente a estrutura de uma natureza, a essncia de um fenmeno natural, ao passo que o processo latente pode ser visto como a lei que regula a gerao e a produo do fenmeno.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Assim, compreender a forma significa compreender a estrutura de um fenmeno e a lei que regula o seu processo. Os eventos se produzem segundo uma lei. e, nas cincias, essa prpria lei e a pesquisa, descoberta e explicao da mesma, que constituem o fundamento do saber e do operar. Sob o nome de forma, ns entendemos essa lei e seus artigos [...]. e quem conhece a forma, abrange a unidade da natureza, at nas matrias mais dessemelhantes [...]. Por isso, da descoberta das formas derivam a veracidade na especulao e a liberdade na operao.

    Poder-se-ia quase dizer que, com essas especulaes, Bacon, de certa forma, sonhou a realidade do bioqumico ou at a aventura dos fsicos atmicos contemporneos.

    (REALE e ANTISERI, 2005, p. 272 - 273).

    Como voc pde ver, nesta primeira parte do Livro II, alm de redefinir a prpria ideia de cincia, Bacon tambm define os conceitos de forma, processo latente e esquematismo latente. A compreenso dessas ideias fundamental para estudar a sequncia da obra.

    Na prxima seo, o novo rganon, ou seja, o novo procedimento investigativo proposto por Bacon ser finalmente apresentado em seus detalhes operacionais.

    Seo 2 O novo mtodo

    Aps redefinir o conceito de cincia, atribuindo a ela um novo escopo, Bacon passa a apresentar, de forma mais detalhada, o seu novo mtodo. O autor inicia com uma crtica induo aristotlica e, em seguida, apresenta a sua prpria proposta: a induo por eliminao.

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 3

    A induo por eliminao e o experimentum crucis

    Crtica induo aristotlica

    Purificada a mente dos dolos e fixado no conhecimento das formas da natureza, o verdadeiro objetivo do saber, preciso ver agora atravs de qual mtodo tal objetivo pode ser alcanado. Bacon afirma que o objetivo alcanvel, realizando-se um procedimento de pesquisa composto de duas partes: A primeira consiste em extrair e fazer surgir os axiomas da experincia; a segunda, em deduzir e derivar novos experimentos dos axiomas. Mas que fazer para extrair e fazer surgirem os axiomas da experincia? Para Bacon, o caminho a seguir o da induo, mas a induo legtima e verdadeira, que a prpria chave da interpretao, e no a induo aristotlica. Conforme diz Bacon, a induo aristotlica uma induo por simples enumerao de casos particulares, passando muito rapidamente sobre a experincia e sobre os particulares. A partir de poucos particulares, secundando a m tendncia da mente a subir imediatamente de escassas experincias aos princpios mais abstratos, ela constitui, logo de incio, conceitos to gerais quanto inteis. em poucas palavras: a induo de Aristteles deslizaria sobre os fatos, ao passo que a induo proposta por Bacon, que uma induo por eliminao, estaria em condies de captar a natureza, a forma ou a essncia dos fenmenos.

    A induo aristotlica caracteriza-se pela simples enumerao dos fenmenos e, por isso, produz um julgamento com base em um nmero de fenmenos inferior ao necessrio. esse procedimento leva a concluses precrias e inconclusivas. A verdadeira induo cientfica deve ao contrrio analisar os fenmenos da natureza a partir dos experimentos, mediante eliminaes e excluses dos casos em que o fenmeno em questo est ausente, ou no est presente de modo pleno, para chegar s causas e aos axiomas sempre mais gerais que expressamente a ele se referem. A induo por eliminao a prpria chave da interpretao da natureza. (adaptado de ReALe e ANTISeRI, 2005, p. 275).

    Mais uma vez, vamos utilizar um trecho selecionado de Reale e Antiseri, agora para discutir a segunda parte do Livro II do Novum Organum, que apresenta de forma detalhada a inovadora proposta baconiana.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    As trs tbuas sobre as quais se deve basear a nova induo

    Pois bem, na opinio de Bacon, a pesquisa das formas procede do modo que descreveremos.

    Antes do mais, ao se indagar sobre uma natureza, como, por exemplo, o calor, preciso fazer uma citao, diante do intelecto, de todas as instncias conhecidas que coincidem em uma mesma natureza, ainda que se encontrem em matrias muito diversas.

    Assim, se pesquisamos a natureza do calor, devemos inicialmente compilar uma tbua de presena (tabula praesentiae), onde registramos todos os casos ou instncias em que se apresenta o calor: 1) os raios do sol, sobretudo no vero e ao meio-dia; 2) os raios do sol refletidos e reunidos em pequeno espao, como entre montes, entre muros ou, mais ainda, nos espelhos ustrios; 3) os meteoros incandescentes; 4) os relmpagos ardentes; 5) erupes de chamas das crateras dos montes etc.; 6) toda chama; 7) slidos em fogo; 8) as guas quentes naturais; [...]; 18) a cal viva, borrifada de gua [...]; 20) os animais, sobretudo e sempre nas entranhas etc..

    Compilada a tbua da presena, procede-se compilao da tbua da ausncia (tabula declinationis sive absentiae in proximo), na qual so registrados os casos prximos, isto , afins, aos anteriores, nos quais, porm, o fenmeno, em nosso caso o calor, no se apresenta: o caso dos raios da lua (que so luminosos como os do sol, mas no so quentes), dos fogos-ftuos, do fogo-de-santelmo (que fenmeno de fosforescncia marinha) e assim por diante.

    Concluda a tbua da ausncia, passa-se compilao da tbua dos graus (tabula graduum), na qual so registrados todos os casos ou instncias em que o fenmeno se apresenta segundo uma intensidade maior ou menor. em nosso caso, deve-se atentar para a variao do calor no mesmo corpo, colocado em ambientes diversos ou em condies particulares.

    Como das trs tbuas se extrai a primeira vindima

    Armado com essas tbuas, Bacon procede ento operao de induo propriamente dita, seguindo o procedimento da excluso ou eliminao. escreve ele: O objetivo e a funo dessas trs tbuas so o de fazer uma citao de instncias diante do intelecto [...]. Feita a citao, preciso pr em ao a prpria induo.

    Deus, criador e introdutor das formas, e talvez tambm os anjos e as inteligncias celestes tm a faculdade de captar imediatamente as formas por via afirmativa e desde o incio da especulao. O homem, porm, no possui essa faculdade, sendo-lhe concedido

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 3

    somente proceder primeiro por via negativa e, apenas por ltimo, depois de um processo completo de excluso, passar afirmao. A natureza, portanto, deve ser analisada e decomposta com o fogo da mente, que quase um fogo divino.

    Mais especificamente, porm, em que consiste o procedimento por excluso ou eliminao? Pois bem, por excluso ou eliminao Bacon entende exatamente a excluso ou eliminao da hiptese falsa.

    Retomemos o exemplo da pesquisa da natureza do calor. Considerando as tbuas de presena, ausncia e graus, o pesquisador deve excluir ou eliminar como prprias da forma ou natureza naturante do calor todas aquelas qualidades no possudas por algum corpo quente, as qualidades possudas por algum corpo frio e as que permanecem invariveis sob o aumento do calor.

    Para ficar ainda mais claro, a propsito da pesquisa da natureza do calor, o procedimento por excluso poderia assumir o seguinte processo de argumentao: o calor apenas um fenmeno celeste? No, pois tambm os fogos terrenos so quentes. ele , ento, apenas um fenmeno terrestre? No, pois o sol quente. Todos os corpos celestes so quentes? No, porque a lua fria. Ser que o calor depende da presena de alguma parte constitutiva no corpo quente, como poderia ser o antigo elemento chamado fogo? No, pela razo de que qualquer corpo pode ser tornado quente pelo atrito. Ser que depende ento da composio particular dos corpos? No, j que podem ser esquentados os corpos de qualquer composio.

    e assim por diante, at se chegar a uma primeira colheita (vindeminatio prima), isto , a uma primeira hiptese coerente com os dados expostos nas trs tbuas e crivados atravs do procedimento seletivo de eliminao e excluso. No que se refere ao exemplo do calor, Bacon chega a uma concluso como esta: O calor um movimento expansivo e forado, que se desenvolve segundo as partes menores.

    O experimentum crucis

    Chegando primeira colheita, Bacon toma essa primeira hiptese como guia para a pesquisa posterior, que consiste na deduo e no experimento, no sentido de que, da hiptese obtida, devem-se deduzir os fatos por ela implicados e previstos, experimentando em condies diversas se tais fatos implicados e previstos pela hiptese se verificam.

    Desse modo se constri uma espcie de rede de investigao, da qual parte toda uma srie de interrogaes a que a natureza forada a responder.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Com tal objetivo, Bacon cogita um conjunto rico de tcnicas experimentais (ou de instncias prerrogativas), por ele indicadas com nomes muito fantasiosos (instncias solitrias; instncias migrantes; instncias ostensivas; instncias clandestinas; instncias constitutivas; instncias conformes ou proporcionais; instncias mondicas; instncias desviadoras etc.), entre as quais destacam-se particularmente as instncias da cruz, assim chamadas por metfora extrada das cruzes colocadas nos caminhos para indicar uma bifurcao.

    A estratgia do experimentum crucis se d quando, durante a pesquisa de uma natureza, o intelecto est incerto e como que em equilbrio no decidir sobre a qual de duas naturezas, ou mais de duas, deve ser atribuda a causa da natureza examinada; pelo concurso frequente e ordinrio de vrias naturezas, as instncias cruciais mostram que o vnculo de uma dessas naturezas com a natureza dada constante e indissolvel, ao passo que o das outras varivel e separvel. Assim, a questo resolve-se, e acolhida como causa primeira natureza, enquanto a outra rejeitada e repudiada. e Bacon comenta: Tais instncias trazem, portanto, muita luz e apresentam uma como que forte autoridade, de modo que, algumas vezes, chegando a elas, nelas se detm o processo de interpretao.

    No segundo livro do Novum Organum, no faltam exemplos de pesquisas que necessitam de experimenta crucis para serem resolvidas. Detenhamo-nos sobre o exemplo da soluo da questo da forma do peso.

    Para alguns, o peso dos corpos devia-se a uma propriedade intrnseca dos corpos, ao passo que, para outros, devia-se gravidade.

    eis, portanto, para exemplificar, a bifurcao: 1) Ou os corpos pesados e graves tendem para o centro da terra por sua prpria natureza, isto , segundo o seu esquematismo, 2) ou ento so atrados e aprisionados pela prpria fora da massa terrestre.

    Ora, se a primeira hiptese fosse verdadeira, ento todo objeto deveria ter sempre o mesmo peso, ao passo que, sendo verdadeira a segunda hiptese, deveria seguir-se que quanto mais os graves se aproximam da terra, tanto maiores so a fora e o mpeto com que so impelidos em sua direo, ao passo que, quanto mais se afastam dela, mais lenta e fraca se torna aquela fora [...].

    Pois bem, sendo assim, eis a instncia da cruz: Tomam-se dois relgios, um daqueles que se movem por contrapesos de chumbo, outro daqueles que se movem por contrao de uma mola de ferro. experimente-se se um mais veloz ou mais lento que o outro. Depois, coloque-se o primeiro na extremidade de um templo

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 3

    No encerramento do Novum Organum, Bacon retoma o ideal que orientou todo o seu trabalho: a instaurao de um instrumento redeno do ser humano. Redeno do obscurantismo da ignorncia, das grades do preconceito, da opresso do domnio daqueles que se utilizam da superstio para alcanar o poder poltico, da misria das limitaes econmicas.

    O ltimo pargrafo do Novum Organum diz:

    Pelo pecado o homem perdeu a inocncia e o domnio das criaturas. Ambas as perdas podem ser reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida; a primeira com a religio e com a f, a segunda com as artes e com as cincias. Pois a maldio divina no tornou a criatura irreparavelmente rebelde; mas, em virtude daquele diploma: Comers do po com o suor de tua fronte, por meio de diversos trabalhos (certamente no pelas disputas ou pelas ociosas cerimnias mgicas), chega, enfim, ao homem, de alguma parte, o po que destinado aos usos da vida humana.(BACON, 2000, p. 218).

    Todos esses temas sero, mais tarde, retomados em outra obra do filsofo ingls, a Nova Atlntida (publicada postumamente, em 1627).

    altssimo, aps t-lo regulado de acordo com o outro, de modo a que marquem o mesmo tempo, deixando-se ento o outro aqui embaixo. e isso para observar diligentemente se o relgio colocado no alto move-se mais lentamente do que antes, em virtude da menor fora de gravidade. O experimento deve ser repetido, levando-se o relgio para a profundidade de alguma mina, situada muito abaixo da superfcie da terra, para ver se ele se move mais velozmente que antes, em razo do aumento da fora de atrao. e, somente no caso de se concluir que efetivamente o peso dos corpos diminui quando se elevam, ou aumenta quando se abaixam em direo ao centro da terra, que se determinar que a causa do peso a atrao da massa terrestre.

    (REALE e ANTISERI, 2005, p. 274 275).

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Sntese

    Voc estudou nesta Unidade que a funo da cincia descobrir as formas, que podem ser processos latentes ou esquematismos latentes. O esquematismo latente a estrutura essencial de um fenmeno natural. O processo latente a lei que regula o surgimento de um fenmeno. Para descobrir as formas, Bacon props um novo mtodo de investigao, a induo por eliminao, que seria a prpria chave da interpretao da natureza. Esse mtodo consiste em analisar os fenmenos da natureza a partir de experimentos, mediante a eliminao e a excluso dos casos em que o fenmeno em questo est ausente, ou no est presente de modo pleno, para chegar s causas e aos axiomas sempre mais gerais, que expressamente a ele se referem. Para isso, o melhor caminho o uso das tbuas de descoberta, em nmero de trs: a tbua da presena, a tbua da ausncia e a tbua dos graus. O objetivo dessas trs tbuas o de fazer uma citao de instncias diante do intelecto, que possibilite realizar a verdadeira induo.

    Atividades de autoavaliao

    Ao final de cada unidade, voc realizar atividades de autoavaliao. O gabarito est disponvel no final do livro didtico. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, voc estar promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

    1) Baseado(a) na leitura da seo 1, defina os seguintes termos em sua acepo baconiana:

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 3

    a) natureza naturante

    b) esquematismo latente

    c) processo latente

    d) forma

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    2) Quais so as trs tbuas de descoberta propostas por Bacon?

    3) Qual o principal objetivo das tbuas baconianas?

    4) O que Bacon quer dizer com primeira vindima?

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    Discurso Filosfico II

    Unidade 3

    Saiba mais

    Se voc desejar, aprofunde os contedos estudados nesta unidade, consultando as seguintes referncias:

    DELEUZE, Gilles. Francis Bacon: lgica da sensao. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2007.

    JAPIASSU, Hilton. Francis Bacon: o profeta da cincia moderna. So Paulo: Letras & Letras, 1995.

    OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. Francis Bacon e a fundamentao da cincia como tecnologia. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.

    REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Histria da filosofia. 2. ed. So Paulo: Paulus, 2005. 7 v. (v.3)

    ROSSI, Paolo. Francis Bacon: da magia cincia. Londrina, PR: EDUEL; Curitiba: Ed. UFPR, 2006.

    ZATERKA, Luciana. A filosofia experimental na Inglaterra do sc. XVII: Francis Bacon e Robert Boyle. So Paulo: Humanitas, 2004.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

  • Para concluir o estudo

    Ao finalizar o estudo proposto neste guia didtico, voc deu um passo importante.

    Esta disciplina, mais do que outras, foi concebida com uma dupla funo. Ela abrange um contedo terico/conceitual (a filosofia de Bacon), ao mesmo tempo em que busca desenvolver habilidades de leitura pautadas pelo rigor metodolgico (a anlise conceitual, a percepo das relaes entre ideias, as capacidades de sintetizar e de comparar quadros tericos etc.).

    No que diz respeito ao contedo, voc estudou a proposta inovadora de Francis Bacon para a cincia. Aprendeu que esse filsofo redefine o prprio conceito de cincia, apresentando uma nova concepo metodolgica, ao mesmo tempo que redireciona os objetivos da pesquisa cientfica. Assim, voc viu que, com Bacon, nasce a cincia moderna, caracterizada pela busca de formas de interveno na natureza (saber ativo), pelo uso de instrumentos (razo instrumental), por uma nova metodologia (a experimentao e a induo).

    Em relao s habilidades filosficas, voc realizou atividades de conceituao, leitura interpretativa e anlise textual. Identificou crticas, discutiu fundamentos e consequncias de quadros tericos e contextualizou problemas.

    Ao concluir o estudo desta disciplina, voc venceu mais uma etapa em sua formao filosfica. O caminho longo, mas alguns passos a mais acabam de ser dados.

    Um grande abrao!

    Professor Srgio Sell

  • Sobre o professor conteudista

    Srgio Sell

    Bacharel e Licenciado em Filosofia e Mestre em Lingustica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atuou como professor substituto do Departamento de Filosofia da UFSC (1998-1999). Foi professor de Filosofia da Educao e de Epistemologia no Curso de Pedagogia da Universidade do Vale do Itaja (2000-2004). Desde 2007, vem atuando tambm como professor do ensino mdio, na rede pblica da Santa Catarina, lotado na Escola de Educao Bsica Irm Maria Teresa, em Palhoa.

    Desde 2000, est vinculado UNISUL, onde vem atuando no curso de Filosofia, ministrando, entre outras, as disciplinas Lgica I e Lgica II e Histria d Filosofia. Alm disso, atua como professor de Filosofia em diversos cursos da Universidade. Desde 2005, tambm tutor da UnisulVirtual. autor dos livros didticos Histria da Filosofia I e Lgica I, usados no curso de Filosofia, da Unisul Virtual.

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    OLIVeIR