questionário no. 1 - roberto dias pereira

13
ROBERTO DIAS PEREIRA NO USP: 2238792 TURMA 24 - NOTURNO 1. Qual a finalidade da prova no processo civil brasileiro? Qual(is) é(são) o(s) destinatário(s) da prova? R: A finalidade da prova, no processo civil brasileiro, é produzir o convencimento (estado psíquico) do juiz originado quanto a um fato, através do instrumento probatório. Ou seja, formar a convicção no espírito do julgador em torno de um fato demonstrado. Em razão disso, o seu destinatário principal é o próprio magistrado, mas as partes também o são. Uma vez produzida a prova, mesmo que ela tenha sido requerida por uma das partes, ela pertencerá ao processo. bibliografia: - Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III , 6 a . edição, item 780. - Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil Volume I, 53 a . edição, itens 413, 414. 2. Defina o direito à prova. R: Direito à prova é o conjunto de oportunidades oferecidas à parte pela Constituição e pela lei, para que possa demonstrar no processo a veracidade do que afirmam em relação aos fatos relevantes para o julgamento. Ele é exercido mediante o emprego de fontes de prova legitimamente obtidas e a regular aplicação das técnicas representadas pelos meios de prova. bibliografia: - Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III , 6 a . edição, item 782. - Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil Volume I, 53 a . edição, item 413.

Upload: rdpereir

Post on 22-Jun-2015

9 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

ROBERTO DIAS PEREIRANO USP: 2238792TURMA 24 - NOTURNO

1. Qual a finalidade da prova no processo civil brasileiro? Qual(is) é(são) o(s) destinatário(s) da prova?

R: A finalidade da prova, no processo civil brasileiro, é produzir o convencimento (estado psíquico) do juiz originado quanto a um fato, através do instrumento probatório. Ou seja, formar a convicção no espírito do julgador em torno de um fato demonstrado. Em razão disso, o seu destinatário principal é o próprio magistrado, mas as partes também o são. Uma vez produzida a prova, mesmo que ela tenha sido requerida por uma das partes, ela pertencerá ao processo.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 780.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, itens 413, 414.

2. Defina o direito à prova.

R: Direito à prova é o conjunto de oportunidades oferecidas à parte pela Constituição e pela lei, para que possa demonstrar no processo a veracidade do que afirmam em relação aos fatos relevantes para o julgamento. Ele é exercido mediante o emprego de fontes de prova legitimamente obtidas e a regular aplicação das técnicas representadas pelos meios de prova.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 782.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 413.

3. O juiz pode determinar a produção de provas? Por quê? Cite dois exemplos.

R: Sim. Porque o Código de Processo Civil (CPC) o autoriza a tanto (art. 125, I e art. 130). Isto fundamentado no fato de que a visão dispositiva do processo, como “negócio das partes” foi sofrendo mitigações com o desenrolar dos anos, dado ao próprio escopo político, jurídico e social ao qual o processo visa propiciar. Com a publicização do processo, o juiz não pôde mais assistir impassível as partes se digladiarem, principalmente quando a lide versar sobre

Page 2: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

direitos indisponíveis e/ou houver uma disparidade de armas excessiva entre as partes. Neste sentido, dois exemplos podem ser dados:

(i) o juiz deve realizar de ofício a realização de provas quando se aperceber de que a omissão da realização destas é fruto da pobreza, deficiência culturais das partes ou insuficiência do patrocínio que lhes está ao alcance;

(ii) ou quando os elementos de prova já produzidos evidenciem a existência de outros inexplorados pelas partes para o bom julgamento da causa.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 784.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 420.

4. Quais fatos devem ser objeto de prova?

R: Existem duas respostas para essa pergunta. Para alguns doutrinadores, como o prof. Cândido, nenhum fato deve ser objeto da prova, uma vez que o objeto versa sobre as alegações que as partes fazem com relação aos fatos litigiosos e não aos fatos em si mesmos. Outra corrente, seguida pelo prof. Humberto, diz que os fatos que devem ser objeto de prova são os fatos litigiosos em si mesmos, apenas obedecendo à ressalva do art. 331 do CPC, aos quais mesmo que sejam relevantes para a demanda, não dependem de prova os fatos que são: (i) notórios; (ii) afirmados por uma parte e confessados pela outra; (iii) admitidos como incontroversos; (iv) os que possuem presunção legal de existência ou veracidade.

Logo, os fatos que devem ser objeto de prova são aqueles que são relevantes, ou seja, aqueles cujo reconhecimento seja capaz de influir nos julgamentos a proferir no processo. Mais precisamente, são as condutas ou acontecimentos que, havendo sido alegados na demanda inicial ou na defesa do réu, tenham em tese a desejada eficácia constitutiva, impeditva, modificativa o extintiva pretendida por aquele que as alegou.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, itens 786 e 790.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 416.

Page 3: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

5. Quais fatos independem de prova?

R: Conforme indicado na resposta da questão anterior, os fatos que independem de prova são:

(i) os notórios: que de conhecimento geral (mesmo seteriolizado e limitado a um dado estrato da sociedade), inexiste a dúvida;

(ii) afirmados por uma parte e confessados pela outra; (iii) admitidos como incontroversos; (iv) os que gozam de presunção de existência ou veracidade:

as ditas presunções legais (sempre relativas, no caso do art. 334, IV, do CPC) e judiciais (art. 335, CPC).

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 789.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, itens 416 e 419.

6. O que é ônus da prova? Como ocorre a distribuição do ônus da prova no CPC?

R: Ônus da prova é o encargo, atribuído pela lei a cada uma das partes, de demonstrar a ocorrência dos fatos de seu próprio interesse para as decisões a serem proferidas no processo. No processo civil dispositivo, em que não é prioritariamente do Estado-juiz a função de diligenciar e trazer provas ao processo (processo inquisitivo), ao ônus de afirmar fatos segue-se esse outro, de provar as próprias alegações sob pena delas não serem consideradas verdadeiras. Já a distribuição do ônus da prova, segundo o art. 333 do CPC, cabe ao autor a prova relativa aos fatos constitutivos de seu alegado direito e ao réu, a dos fatos que de algum modo atuem ou tenham atuado sobre o direito alegado pelo autor, seja impedindo que ele se formasse, seja modificando-o ou mesmo extinguindo-o. A síntese deste dispositivo consiste na regra de que o ônus da prova incumbe à parte que tiver interesse no reconhecimento do fato a ser provado. É o princípio do interesse que leva a lei a distribuir o ônus da prova pelo modo que está no art. 333.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volumes II e III, 6a. edição, itens 792 e 794.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, itens 421 e 422.

Page 4: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

7. É cabível a inversão do ônus da prova?

R: Sim. Segundo o prof. Cândido, a inversão do ônus da prova consiste na alteração da regra legal sobre a distribuição deste, imposta ou autorizada por lei. Ele ainda distingue as inversões em: (i) legais (presunções relativas), (ii) convencionais (vontade das partes), e, (iii) judiciais (por determinação dos juízes). De acordo com o magistério do prof. Cândido, “os fenômenos de inversão do ônus da prova são mais complexos que o nome insinua. Todas as causas de inversão atuam num primeiro momento sobre o objeto da prova e não sobre as regras de distribuição do ônus de provar. Atuam sobre o objeto, excluindo dele o fato afirmado – por exemplo, porque presumido em lei. A prova desse fato não precisará ser feita e, consequentemente, ninguém terá o ônus de fazê-la. A parte contrária recebe, isso sim, o ônus de provar a sua própria alegação – ou seja, de provar a negativa do fato presumido ou os fatos integrantes de uma versão colidente com os fatos presumidos. (...) Só num segundo momento, portanto, e mediante prévia alteração do objeto da prova, essas inversões atuam sobre o ônus probatório.”

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 796.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 422-b.

8. É necessário provar o direito?

R: Não. O que ocorre no art. 337 do CPC (a parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro, ou consutuedinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz) é uma ressalva à regra iura novit curia. Essa disposição reconhece a dificuldade que podem ter os juízes para conhecer normas não integradas na ordem jurídico-positiva federal. Nem sempre haverá acesso razoavelmente fácil aos atos e publicações dos Estados federados e, menos ainda, de Estados estrangeiros ou dos municípios em geral; o direito costumeiro, nem sempre objeto de registros idôneos e suficientemente divulgados, também pode ser uma incógnita para quem for julgar. Logo, não se trata de provar o direito, mas o fato consistente na existência de determinado texto legal e o fato dele estar em vigor. E por exigência do juiz, a alegação desses fatos pode vir a integrar o objeto da prova. Deste modo, a regra iura novit curia vem à tona, mais uma vez, quando o juiz, agora conhecedor dos textos e informado de sua vigência, faz sua própria interpretação e impõe sua decisão com fundamento nela.

bibliografia:

Page 5: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 791.

- Theodoro Jr., Código de Processo Civil Anotado – 2012, 16a. edição, comentário ao art. 337.

9. Defina as fontes de prova e dê dois exemplos.

R: Fontes de prova são pessoas ou coisas das quais de possam extrair informações capazes de comprovar a veracidade de uma alegação. São elementos, ou meios instrumentais externos que, quando trazidos ao processo, o juiz e as partes submetem às investigações necessárias a obter tais informações. Estas informações são fornecidas diretamente pelas pessoas (fontes pessoais, ativas) que se dirigem ao juiz (partes em depoimento pessoal, testemunhas), ou no caso de coisas (fontes reais, inativas), emanam das fontes de prova e vêm a ser interpretadas por aqueles que as examinam (peritos etc). Exemplos de fontes: testemunha, documento.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, itens 804 e 805.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 415.

10. Defina os meios de prova e dê dois exemplos.

R: Meios de prova são técnicas destinadas à investigação de fatos relevantes para a causa. Diferentemente das fontes, eles são fenômenos internos do processo e do procedimento. Atuam sobre as fontes e cada um deles é constituído por uma série ordenada de atos, realizados em contraditório, com observância das formas que a lei estabelece e dirigidos pelo juiz. Cada meio de prova é uma técnica procedimental específica, composta de atividades mais ou menos complexas, disciplinadas em lei e repartidas em fases, ou momentos da prova. Exemplos: prova testemunhal e prova documental.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, itens 804 e 806.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 415.

11. A confissão é meio de prova?

Page 6: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

R: Depende da doutrina. Segundo o prof. Cândido, ao qual sou partidário, a confissão não é meio de prova. A confissão é uma declaração de conhecimento, destinada a informar o juiz sobre a admissão da ocorrência de fato contrário ao próprio interesse da parte que confessou e favorável ao interesse do adversário. Ela atua exclusivamente no campo dos fatos e por isso se assemelha a um meio de prova mas na verdade não o é, embora o CPC a inclua como tal. Do contrário, qual seria o meio de prova no caso de confissão prestada em depoimento pessoal da parte: confissão ou depoimento pessoal? Se confissão fosse meio de prova, ao especificar provas seria lícito a cada uma das partes pedir que o adversário fosse intimado a confessar, o que seria um despautério.

Já segundo o prof. Humberto, a confissão seria um meio de prova, apesar dele reconhecer que ninguém está obrigado a confessar e a fazer prova em favor do adversário.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volumes II e III, 6a. edição, item 812.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 433.

12. O que são provas atípicas?

R: São aqueles meios de prova não elencados e disciplinados em lei, porém admitidos no processo civil, desde que moralmente legítimos. O art. 332 do CPC abre espaço para a admissibilidade de meios não tipificados em lei, desde que moralmente legítimos. Podem-se citar como exemplos: a prova emprestada; a inquirição de testemunhas técnicas (expert witnesses), as constatações realizadas por oficial de justiça com o objetivo de verificar o eventual estado de abandono de imóvel locado (lei do Inquilinato, art. 66) etc.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volumes II e III, 6a. edição, item 808.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 416.

13. O que é prova emprestada? Quais são os requisitos para o seu cabimento?

R: Provas emprestadas, conceito elaborado na doutrina e tribunais sem qualquer previsão legal específica, são traslados da documentação da prova constituída em outro processo de natureza jurisdicional. Através dela aproveitam-se em um processo os atos de

Page 7: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

realização da prova já consumados em outro, sem necessidade de repetição e com a vantagem de tornar possível o conhecimento oriundo de fontes talvez até não mais disponíveis quando o processo destinatário dessa prova é realizado (testemunhas que morrem ou desaparecem, vestígios que não existem mais etc). Não se incluem no conceito de provas emprestadas as meras cópias de documentos existentes em outros autos, porque cada documento vale por si próprio e pela eficácia que tiver. Só as provas constituídas no processo são suscetíveis de autêntico empréstimo, a saber, a oral, a pericial e a inspeção judicial.

A eficácia da prova emprestada, até por sua excepcionalidade e atipicidade no sistema, sujeita-se a uma série de requisitos bastante rigorosos e ligados à observância do princípio do contraditório. Em primeiro lugar, é obviamente indispensável que já no processo de origem essa garantia haja sido observada. Exige-se também que naquele processo tenha estado presente, como parte, o adversário daquele que pretenda aproveitar a prova ali realizada – porque do contrário esse sujeito estaria suportando a eficácia de uma prova de cuja formação não participou. Exige-se também que a prova emprestada venha de um processo regido pela publicidade, sendo ilegítima a captação de transcrições tiradas de autos de processo celebrado em segredo de justiça. É também indispensável que a prova haja sido constituída em processo jurisdicional, não importando se civil, penal ou trabalhista etc, ou mesmo se esse processo foi realizado em primeiro ou segundo grau de jurisdição, por juiz brasileiro ou no exterior. Não importa se a prova a ser trasladada teve ou não o poder de convencer o juiz do processo de origem, nem se a sentença já foi proferida ou se já passou em julgado ou não.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volumes II e III, 6a. edição, item 811.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 424.

14. Quais são os sistemas de valoração das provas? Qual é o sistema adotado pelo Código de Processo Civil brasileiro?

R: Três são os sistemas de valoração da prova no Direito Processual:

(i) Sistema da prova legal: nele o juiz é quase um autômato, apenas afere as provas seguindo uma hierarquia legal e o resultado surge automaticamente.

(ii) Sistema do convencimento moral (ou íntimo): é o oposto da prova legal. O que deve prevalecer é a íntima convicção do juiz, que é soberano para investigar a verdade e apreciar

Page 8: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

as provas. Não há nenhuma regra que condicione esta pesquisa, tanto quanto aos meios de prova como ao método de avaliação.

(iii) Sistema do convencimento racional e motivado à luz dos autos: neste o julgamento deverá ser fruto de uma operação lógica armada com base nos elementos de convicção existentes no processo. Neste sistema a convicção do magistrado fica condicionada aos fatos nos quais se funda a relação jurídica controvertida; às provas desses fatos, colhidas no processo; às regras legais e máximas de experiência; à motivação exposta na sentença.

O CPC adota principalmente o sistema de convencimento racional e motivado à luz dos autos, mas há reminiscências dos outros sistemas no nosso direito, como por exemplo, art. 401 do CPC, no qual a exclusão de prova testemunhal em relação à existência e teor de determinados contratos acima de determinado valor (resquício do sistema da prova legal); ou quando o tribunal do júri condena ou absolve uma pessoa sem necessitar motivar a decisão (resquício do sistema de convencimento moral).

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, itens 813, 814, 815 e 816.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, itens 418 e 419.

-

15. Defina e dê dois exemplos de presunção absoluta.

R: Presunção absoluta é aquela em que a lei impõe a veracidade de certo fato, sem admitir contraprova. Parte de uma fato comprovado, do que se extrai a consequência jurídica para outro fato, porque segundo a experiência, o fato provado é indicativo também da ocorrência do outro. As presunções absolutas consistem em alterações na estrutura da norma ordinária em certos casos, acompanhadas das consequências jurídicas que sem elas não incidiriam. Só indiretamente essas disposições de direito material se relacionam com o direito probatório, na medida em que, ao dispensar algum requisito, tornam irrelevantes os fatos que ordinariamente seriam relevantes.

Exemplos: presunção do conhecimento da lei por todos (art. 3o. da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB); presunção absoluta de boa-fé do possuidor, na posse acima de quinze anos (usucapião extraordinário – art. 1.238 do Código Civil –CC).

Page 9: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 824.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 424-b.

-

16. Defina e dê dois exemplos de presunção relativa.

R: São presunções relativas aquelas que, dispensando embora a prova do fato relevante para o julgamento, podem ser desfeitas pela chamada prova em contrário.

Exemplos: comoriência – se presume até que uma das partes comprove que as pessoas falecidas no mesmo evento não tiveram mortes rigorosamente simultâneas (art. 8o. CC); pagamento de todas as parcelas de uma obrigação anteriores à de vencimento posterior cujo pagamento haja sido provado (art. 322, CC).

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, itens 825 e 826.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 424-b.

-

17. Quais são os sujeitos indispensáveis da audiência de instrução e julgamento?

R: O juiz, auxiliares da Justiça, testemunhas, advogados e partes. O juiz preside todos os trabalhos que compõem a audiência de instrução e julgamento na qualidade de agente estatal encarregado do exercício da jurisdição. Os auxiliares da Justiça que participam dela são: o oficial de justiça, encarregado de apregoar as partes, advogados, testemunhas etc.; e o escrivão, ou o seu preposto. Também podem eventualmente participar o perito, o intérprete etc. Cada um dos advogados participa realizando as atividades postulatórias próprias. Por fim, as partes estão na audiência para a tentativa de conciliação e eventualmente prestar depoimento pessoal quando este houver sido requerido pela parte contrária ou determinado de ofício pelo juiz.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 1.201.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 473.

Page 10: Questionário No. 1 - Roberto Dias Pereira

18. Qual a ordem da produção de provas na audiência de instrução e julgamento?

R: No sistema processual brasileiro, a seguinte ordem deve ser observada: (i) fixação dos pontos controvertidos de fato a serem objeto da prova oral; (ii) esclarecimentos de peritos e assistentes técnicos; (iii) depoimento pessoal do autor; (iv) depoimento pessoal do réu; (v) inquirição das testemunhas arroladas pelo autor; (vi) inquirição das testemunhas arroladas pelo réu.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 1.202.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 480.

19. Explique a regra de “unidade da audiência”.

R: Segundo o art. 455 do CPC, “a audiência é una e contínua”. A unidade da audiência é um dos elementos que caracterizam tradicionalmente o modelo brasileiro de procedimento ordinário, em contraposição com outros ordenamentos jurídicos que incluem mais de uma e também em contraste com o próprio procedimento sumário do próprio sistema brasileiro, que contém duas audiências. Na configuração inicial do CPC, nenhuma outra audiência havia no procedimento ordinário; depois, com a implantação da audiência preliminar, em certa medida o art. 455 deixa de refletir a realidade porque nos casos em que esta é realizada, existem duas audiências e não apenas uma (art. 331, caput e § 3o.). Nesses casos, pode-se afirmar somente a unidade da própria audiência de instrução e julgamento – porque esta, sim, é sempre uma só. Toda a atividade consistente na conciliação, na instrução oral, nos debates e na sentença integra uma única audiência e não é repartida em sessões destinadas a cada uma delas.

bibliografia:

- Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil – Volume III, 6a. edição, item 1.212.

- Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil – Volume I, 53a. edição, item 474.