questão clínica: tratamento/prevenção estudos de...
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Questão clínica: Tratamento/prevenção
Estudos de intervenção (experimentais)Ensaios clínicos randomizados
Questões referentes a tratamento e prevenção
• Diante do uso de um novo tratamento ou uma nova vacina, surgem as perguntas:
• O tratamento é eficaz? (o medicamento vai “curar” a doença? Ou vai diminuir os sinais e sintomas?)
• É mais eficaz que o tratamento padrão?
• O medicamento é seguro? (ou pode ter efeitos colaterais?)
•A vacina é eficaz? (a vacina vai diminuir ou eliminar os novos casos de doença?)
• A vacina é segura? (a vacina pode provocar efeitos adversos indesejáveis?)
Ameaças à validade interna
Confundimento
Fatores que podem interferir no desfecho e que estão distribuídos desigualmente entre expostos e não expostos
Viés de seleção
erro na seleção dos participantes do estudo
Viés de informação
erro na coleta dos dados do estudo
População de estudo
• Elegibilidade – critérios de inclusão e exclusão
Após a definição dos elegíveis, seleciono
aleatoriamente os participantes nos grupos
Randomização
Estudos de Intervenção (Experimentais)Ensaios (trials) Randomizados
O investigador manipula o fator de exposição
Os indivíduos são alocados de forma aleatória:
. grupo exposto (a um fator de proteção ou
tratamento)
. grupo controle (placebo ou tratamento
convencional)
Exposição em ensaios clínicos
Intervenção
• Grupo exposto (grupo tratamento)– Tratamento – medicamento, cirurgia, psicoterapia
– Profilaxia – vacina, atividade física
• Grupo não-exposto (ou grupo controle ou grupo de comparação)– Tratamento padrão, conservador
– Placebo
RANDOMIZAÇÃO
É a alocação aleatória dos indivíduos aos grupos de comparação, geralmente realizada através de uma tabela de números aleatórios.
Garante a comparabilidade dos grupos – todos os indivíduos têm a mesma probabilidade de estar no grupo exposto ao fator profiláticoou terapêutico em teste ou ao grupo controle.
Garante a seleção não enviesada dos participantes – não há auto-seleção nem interferência do investigador
RANDOMIZAÇÃO
• Sucesso depende de:
• Geração adequada de um sequência imprevisível (porém reprodutível)
• Ocultamento desta sequência até o momento da alocação -O sistema deve funcionar de forma que os participantes e a equipe de campo não saibam, com antecedência, a que tratamento a próxima pessoa será alocada.
• Tamanho da amostra
Caso o tamanho da amostra seja insuficiente, os grupospodem não ficar comparáveis, sendo necessário controlarfatores de confundimento
Ocultamento (concealment)
• O ocultamento do processo de randomização é importantepara evitar manipulações da alocação que podemcomprometer a comparabilidade dos grupos.
• Num ensaio clínico bem conduzido, a decisão de incluir ounão um paciente no estudo deve anteceder a suarandomização.
• Consequências do não ocultamento:
Estudos com proteção inadequada contra desvendamentoapresentaram resultados favoráveis 30% a 40% maiores doque ensaios com esquemas adequados.
Ensaio clínico: diagrama
População
de estudo
(elegíveis)
Alocação
randomizada
Intervençãoem estudo
Placebo ou Tratamento padrão
(controle)
Desfecho+
Desfecho(-)
Desfecho+
Desfecho(-)
t = 0 t = final
Sigilo ou ocultamento
Ameaças à validade interna
Confundimento
Com grupos comparáveis, os fatores de confundimentoestão equitativamente distribuídos
Viés de seleção é minimizado:
escolha aleatória dos participantes e sigilo da randomização(não há manipulação)
mas pode ocorrer: perda seletiva e não-cooperação
MASCARAMENTO (ou cegamento)
Ensaios abertos vs. ensaios cegos ou mascarados
A verificação do desfecho deve ser cegada ou mascarada, paranão influenciar o indivíduo, os profissionais examinadores, o avaliador.
Procedimento simples (só o paciente)
Procedimento duplo cego (paciente e equipe de campo)
Procedimento triplo cego (paciente, equipe de campo e responsável pela análise dos dados)
Ensaio clínico: diagrama
População
de estudoAlocação
randomizada
Intervençãoem estudo
Placebo ou Tratamento padrão
(controle)
Desfecho+
Desfecho(-)
Desfecho+
Desfecho(-)
t = 0 t = final
Mascaramento ou cegamento
Sigilo ou ocultamento
Desfecho em ensaios clínicos
• Desfecho primário – evento mais importante sobre o qual o investigador quer intervir
• Desfechos secundários – outros eventos que podem ser modificados pela intervenção
• Efeitos adversos – eventos desfavoráveis causados pelos tratamentos em comparação
• Importante: os desfechos devem ser definidos a priori
Exemplo
• Adegnika AA et al. Randomized, controlled, assessor-blindclinical trial to assess the efficacy of single- versus repeated-dose albendazole to treat ascaris lumbricoides, trichuristrichiura, and hookworm infection. Antimicrob Agents Chemother. 2014;58(5):2535-40.
Ensaio clínico: diagrama
População
de estudoAlocação
randomizada
INTERVENÇÃOAlbendazol 2-3 doses
Placebo ou Tratamento padrão
Albendazol dose única
Desfecho+
Desfecho(-)
Desfecho+
Desfecho(-)
Qual o desfecho?
População
de estudoAlocação
randomizada
INTERVENÇÃOEM ESTUDO
Albendazol 2/3 doses
Placebo ou Tratamento padrão
(controle) Albendazol dose única
Desfecho
Cura (%)Cont. ovos
Desfecho(-)
Desfecho
Cura (%)Cont. ovos
Desfecho(-)
Fluxograma de participação
Avaliados quanto à elegibilidade (n=)
Total de excluídos (n)s/ critérios inclusão (n)Recusa (n)Outras razões (n)
Randomizados (n)
Alocados para intervenção em teste (n)Receberam/ não intervenção (n) (dar razões)
Alocados para intervenção convencional ou placebo (n)Receberam/ não a intervenção (n) (dar razões)
Recru
tam
en
toA
locação
Perda seguimento (razões) (n) Descontinuidade (razões) (n)
Aferição do desfecho
Perda seguimento (razões) (n)Descontinuidade (razões) (n)
Aferição do desfecho
Analisados (n)Excluídos da análise (razões) (n)
Analisados (n)Excluídos da análise (razões) (n)
Seg
uim
en
toA
náli
se
Consort statement, 2001
Análise dos resultados
Quanto ao tipo
Análise por intenção de tratamento – para manutenção dos grupos tal qual foram formados pela randomização
– Análise por protocolo - com os que de fato completaram o tratamento
Tabela de Contingência
Grupo DesfechoNão
desfechoTotal
Expostos
(grupo
experimental)
a b a+b
Não expostos
(grupo controle) C d c+d
Total a+c b+d a+b+c+d
Medida de Associação:Risco Relativo
Total de expostosa +b
Total de não expostosc+d
Ine=(ou Rc)
Casos ou cura
entre expostosa
Casos ou cura entrenão expostos
c
Ie=(ou RT)
____________________
Ex: RR =?
COMO MEDIR o EFEITO DO TRATAMENTO?
• Quantos casos a menos da doença ocorreram com o tratamento?
Redução absoluta do risco – RAR
• Proporcionalmente, em quanto foi reduzida a incidência da doença nos que trataram?
Redução relativa do risco – RRR = EFICÁCIA
• Quantas pessoas preciso tratar para evitar um caso da doença?
Número necessário para tratar - NNT
As MEDIDAS DE EFEITO indicam em que medida o efeito observado se deveu à exposição.
Li et al. Human rotavirus vaccine (RIX4414) efficacyin the first two years of life. A randomized, placebo-controlled trial in China. Hum
Vaccin Immunother. 2014;10(1):11-8.
População
de estudoAlocação
randomizada
Intervençãoem estudo
Vacina rotavírus
Placebo ou Tratamento padrão
(controle)
DesfechoDiarreia grave
Hospital
Desfecho(-)
DesfechoDiarreia grave
Hospital
Desfecho(-)
PLACEBO
• Técnica especial de mascaramento (cegamento)
• Os pacientes do grupo controle recebem um tratamento similar em formato, gosto, doses, via de administração porém sem função farmacológica ou terapêutica.
• Os pacientes ficam “cegados” em relação à exposição (não sabem se é a intervenção em teste ou uma intervenção inócua biologicamente)
• O placebo permite melhor definição do efeito da intervenção teste, mas nem sempre pode ser usado.
• Retira a subjetividade do paciente (por também estar sendo “tratado” – efeito placebo) e do investigador
MEDIDAS DE EFEITO
1) Redução Absoluta do Risco - RAR.
A RAR é a diferença entre a incidência de casos entre oscontroles e a incidência de casos entre os tratados
RAR = Ine - Ie
RAR = Rc – Rt
Descreve a magnitude da mudança em termos absolutos.
Diarreia RV grave
RAR = 2,9-0,9 = 2
De cada 100 crianças vacinadas, salvei 2 de terem diarreia grave
MEDIDAS DE EFEITO
2) Redução Relativa do Risco (RRR) = EFICÁCIA
Traduz o percentual da redução da incidência de casos no grupo tratado, comparado com a incidência de casos no grupo controle.
•RRR= RAR / Incidência no Grupo Controle (Rc) * 100.
•RRR = (Ine – Ie / Ine) * 100 = RAR / Ine * 100
Diarreia RV grave
RAR = 2,9-0,9 = 2
RRR = 2/2,9 = 69%
{{
EFICÁCIA DE 69% - a vacina reduz em 69% a diarreia grave na 2ª estação
MEDIDAS DE EFEITO
3) Número Necessário Para Tratar (NNT)
O NNT traduz o número de pacientes que são necessários tratar para evitar um caso (de doença, morte, etc).
Medida de custo/benefício
NNT = 1/ (Ine – Ie) = 1 / RAR (utilizar o RAR em sua forma centesimal).
RAR = 2,9-0,9 = 2 = 0,02
NNT = 1/0,02 = 50
NNT de 50 – Preciso vacinar 50 crianças para evitar 1 caso de diarreia grave
A ÉTICA NO ENSAIO CLÍNICO
Questões:
• garantia de que a relação risco/benefícios do tratamento proposto é favorável.
• conhecimento por parte do paciente das possibilidades de intervenção
• só fazer uso de placebo na ausência de tratamentos convencionais
• inclusão ao acaso dos participantes do estudo nos grupos exposto e controle
• Uso de termo de consentimento informado
Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida
à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa
▪ O tratamento e os procedimentos são decididos a priori e uniformizados na suaaplicação.
▪ Os grupos (de estudo e controle) têm grande chance de serem comparáveis em termosde variáveis de confundimento (se o tamanho da amostra for grande).
▪ A cronologia dos acontecimentos é determinada sem equívocos: existe a certeza deque o tratamento é aplicado antes de aparecerem os efeitos.
▪A qualidade dos dados sobre a intervenção e os efeitos pode ser de excelente nível, jáque é possível proceder à sua coleta no momento em que os fatos ocorrem.
▪Os resultados são expressos em coeficientes de incidência, a partir dos quais sãocalculadas as medidas de associação.
▪Muitos desfechos clínicos podem ser investigados simultaneamente.
Alta credibilidade como produtor de evidências científicas
Vantagens dos ECR
Por questões éticas, muitas situações não podem ser experimentalmente investigadas.
▪ Exigência de população estável e cooperativa: para evitar grandes perdas deseguimento e recusas de participar.
▪ Grupo investigado pode ser altamente selecionado, não-representativo, devido àmúltiplas exigências quanto às características de inclusão e exclusão dos participantes noestudo.
▪Alguns participantes deixam de receber um tratamento potencialmente benéfico, ousão expostos a um procedimento maléfico.
▪Impossibilidade de ajustar o tratamento (dose, duração, etc.) em função dasnecessidades de cada indivíduo.
▪Requerem estrutura administrativa e técnica de porte razoável estável, bem preparadae estimulada, para levar a bom termo um projeto complexo, minucioso e usualmentecaro.
Desvantagens dos ECR