qualidade e valor nutritivo das silagens de trÊs...

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QUALIDADE E VALOR NUTRITIVO DAS SILAGENS DE TRÊS HÍBRIDOS DE SORGO (Sorghum bicolor L.) COLHIDOS EM DIFERENTES ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO DANIEL ANANIAS DE ASSIS PIRES 1 , ROBERTO GUIMARÃES JÚNIOR 2 , DIOGO GONZAGA JAYME 2 , LÚCIO CARLOS GONÇALVES 3 , JOSÉ AVELINO SANTOS RODRIGUES 4 , NORBERTO MARIO RODRIGUEZ 3 , IRAN BORGES 3 , ANA LUÍZA COSTA CRUZ BORGES 3 e CRISTIANO GONZAGA JAYME 2 1 Médico Veterinário, Doutorando em Ciência Animal, EV-UFMG. Avenida Montes Claros, nº 316, Pernambuco. Bocaiúva/ MG - CEP: 39390-000. Tel: (38) 3251-3925, [email protected] (Autor para correspondência) 2 Médico Veterinário, Doutorando em Ciência Animal na EV-UFMG. Escola de Veterinária da UFMG. AV. Antônio Carlos 6627, Pampulha. Belo Horizonte/MG - CEP: 30123-970. 3 Professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG. AV. Antônio Carlos 6627, Pampulha. Belo Horizonte,MG - CEP: 30123-970. 4 Pesquisador da EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas,MG. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.5, n.2, p.241-256, 2006 RESUMO - Dois híbridos de sorgo de porte médio e colmo seco e um híbrido de porte alto e colmo suculento foram ensilados em oito estádios de maturação, a partir do florescimento. Foram 24 tratamentos com três repetições cada, sendo os três híbridos (AG 2006 e BR 700 - colmo seco, e BR 601 - colmo suculento) colhidos em oito estádi- os de maturação. Foram determinados os teores de MS, PB, perdas de MS, densidade, pH, nitrogênio amoniacal (N-NH 3 ), fibra em detergente neutro (FDN), hemicelulose, celulose e lignina, DIVMS e porcentagem de fenóis totais. Utilizou-se o teste SNK para comparação das médias, com um delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3x8. Com o avanço do estádio de maturação, ocorreu aumento na produção de MS até o quinto estádio. Houve, ainda, aumento nos teores de MS, que atingiram o nível ideal entre 21 e 28 dias após o florescimento. Os teores de PB e das frações fibrosas reduziram-se com a maturidade. Obtiveram-se baixos níveis de pH e N-NH 3 em todas as silagens, além de baixas perdas de MS. Os híbridos tiveram comportamentos diferentes nos parâmetros lignina e DIVMS. Avaliaram-se os fenóis totais pelo método de azul da Prússia e todas as silagens apresentaram-se com tanino. Não foi encontrada correlação negativa entre os fenóis e a DIVMS. O híbrido AG2006 foi superior aos outros dois híbri- dos em algumas características e o híbrido BR 601 apesar de ser de porte alto, foi superior ao híbrido BR 700, de duplo propósito, nas variáveis DIVMS e frações fibrosas. Palavras-chave: ensilagem, forragem, nutrição animal, ruminantes QUALITY AND NUTRITIONAL VALUE OF SILAGES OF THREE SORGHUM (Sorghum bicolor L.) HYBRIDS HARVESTED IN DIFFERENT MATURATION STAGES ABSTRACT - Two dry stem intermediate height sorghum hybrids and a moist stem high height hybrid were ensiled in eight growing stages after bloom. Twenty four

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QUALIDADE E VALOR NUTRITIVO DAS SILAGENS DE TRÊS HÍBRIDOS DESORGO (Sorghum bicolor L.) COLHIDOS EM DIFERENTES ESTÁDIOS DE

MATURAÇÃO

DANIEL ANANIAS DE ASSIS PIRES1, ROBERTO GUIMARÃES JÚNIOR2, DIOGO GONZAGAJAYME2, LÚCIO CARLOS GONÇALVES3, JOSÉ AVELINO SANTOS RODRIGUES4, NORBERTO

MARIO RODRIGUEZ3, IRAN BORGES3, ANA LUÍZA COSTA CRUZ BORGES3 e CRISTIANOGONZAGA JAYME2

1Médico Veterinário, Doutorando em Ciência Animal, EV-UFMG. Avenida Montes Claros, nº 316, Pernambuco. Bocaiúva/MG - CEP: 39390-000. Tel: (38) 3251-3925, [email protected] (Autor para correspondência)2Médico Veterinário, Doutorando em Ciência Animal na EV-UFMG. Escola de Veterinária da UFMG. AV. AntônioCarlos 6627, Pampulha. Belo Horizonte/MG - CEP: 30123-970.3Professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG. AV. Antônio Carlos 6627, Pampulha.Belo Horizonte,MG - CEP: 30123-970.4Pesquisador da EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas,MG.

Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.5, n.2, p.241-256, 2006

RESUMO - Dois híbridos de sorgo de porte médio e colmo seco e um híbrido de portealto e colmo suculento foram ensilados em oito estádios de maturação, a partir doflorescimento. Foram 24 tratamentos com três repetições cada, sendo os três híbridos(AG 2006 e BR 700 - colmo seco, e BR 601 - colmo suculento) colhidos em oito estádi-os de maturação. Foram determinados os teores de MS, PB, perdas de MS, densidade,pH, nitrogênio amoniacal (N-NH

3), fibra em detergente neutro (FDN), hemicelulose,

celulose e lignina, DIVMS e porcentagem de fenóis totais. Utilizou-se o teste SNK paracomparação das médias, com um delineamento inteiramente casualizado, em esquemafatorial 3x8. Com o avanço do estádio de maturação, ocorreu aumento na produção deMS até o quinto estádio. Houve, ainda, aumento nos teores de MS, que atingiram o nívelideal entre 21 e 28 dias após o florescimento. Os teores de PB e das frações fibrosasreduziram-se com a maturidade. Obtiveram-se baixos níveis de pH e N-NH

3 em todas as

silagens, além de baixas perdas de MS. Os híbridos tiveram comportamentos diferentesnos parâmetros lignina e DIVMS. Avaliaram-se os fenóis totais pelo método de azul daPrússia e todas as silagens apresentaram-se com tanino. Não foi encontrada correlaçãonegativa entre os fenóis e a DIVMS. O híbrido AG2006 foi superior aos outros dois híbri-dos em algumas características e o híbrido BR 601 apesar de ser de porte alto, foi superiorao híbrido BR 700, de duplo propósito, nas variáveis DIVMS e frações fibrosas.

Palavras-chave: ensilagem, forragem, nutrição animal, ruminantes

QUALITY AND NUTRITIONAL VALUE OF SILAGES OF THREE SORGHUM(Sorghum bicolor L.) HYBRIDS HARVESTED IN DIFFERENT MATURATION

STAGES

ABSTRACT - Two dry stem intermediate height sorghum hybrids and a moist stemhigh height hybrid were ensiled in eight growing stages after bloom. Twenty four

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Pires et al.

treatments were made with three repetitions each, being the three hybrids (AG2006 andBR700 – dry stem, and BR601 moist stem) ensiled in eight growing stages. Silages wereevaluated for dry matter (DM), crude protein (CP), DM losses, silage density, pH,ammoniacal nitrogen (N-NH3), neutral detergent fiber (NDF), hemicellulose, celluloseand lignin, IVDMD and total phenols percentages. SNK test was used with a 3 x 8random factorial design. DM production increased until fifth stage. DM values increasedwith growth and the best level occurred between 21st and 28th days after bloom. CP andfibrous fractions were reduced with growth. pH, N-NH3 and DM losses were low for allsilages. Hybrids lignin and IVDMD varied in erratic ways. Silages were evaluated byPrussian blue assay to total phenols and tannins were detected in all of them. There wereno negative correlations between tannins and IVDMD. AG2006 was better than the otherstwo hybrids for some features, and IVDM of BR601, a forage sorghum, was better thanBR700, an intermediate height sorghum.

Key words: animal nutrition, ensiling, forage, ruminants

O sorgo é uma das principais forrageirasutilizadas para ensilagem. Existem, no mercado,muitas cultivares, porém nem todas são aptas paraa produção de silagem de qualidade. Fatorescomo digestibilidade do colmo, qualidade dosgrãos, resistência a doenças, adaptabilidade aoambiente e produção de matéria seca afetam di-retamente a qualidade da silagem a ser produzi-da e o desempenho animal na propriedade. Aqualidade da silagem vai depender, ainda, domomento de colheita da planta de sorgo, pois oteor de matéria seca vai influenciar o processofermentativo.

Segundo Paiva (1976), silagens de boaqualidade devem ter a matéria seca entre 30 e35%. Silagens que apresentem umidade muitoalta têm uma série de desvantagens: primeiro,silagens muito úmidas têm um custo de produ-ção maior, pois o transporte por quantidade dematéria seca fica mais caro; segundo, o pH desilagens muito úmidas tem que ser mais baixopara inibir o crescimento de Clostridio spp. Es-sas bactérias são indesejáveis por produziremácido butírico e degradarem a fração protéica comconseqüente redução do valor nutricional da si-lagem; terceiro, mesmo que o nível de carboi-

dratos solúveis seja o suficiente para promoverfermentação lática, o consumo voluntário é di-minuído; quarto, silagens muito úmidas produ-zem efluentes que levam à perda de nutrientesde alta digestibilidade (McDonald et al., 1991).

Assim como o excesso de umidade é ruimpara qualidade da silagem, o teor de matéria secaacima de 40% também é prejudicial, pois estassilagens são mais susceptíveis a danos por aque-cimento e aparecimento de fungos, porque a re-moção de oxigênio é dificultada, por não permi-tir uma compactação adequada (Van Soest, 1994).Além disso, a fase aquosa da silagem perde mo-bilidade. Assim, produtos da fermentação se di-fundem mais lentamente entre as colônias de bac-térias, não ocorrendo uma redução eficaz do pHpara inibir a ação das enzimas da planta, enquan-to que, próximo às colônias, torna-se tão ácidoque a fermentação é inibida (Moisio & Heiko-nen, 1994).

Os valores de pH das silagens bem con-servadas variam entre 3,6 e 4,2. Estas apresen-tam altas proporções de ácido lático, em relaçãoaos outros ácidos, desde que não se usem aditi-vos para restringir a fermentação (Fairbairn et al.,1992). Por outro lado, a presença de acetato em

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grandes quantidades está relacionada à ação pro-longada de coliformes e das bactérias heterofer-mentativas, com prejuízo para o balanço energé-tico entre a forragem verde e ensilada (Moisio &Heikonen, 1994). Segundo Paiva (1976), uma si-lagem muito boa apresenta valores de pH entre3,6 e 3,8; uma silagem boa entre 3,8 e 4,2; umasilagem média, entre 4,2 e 4,6; uma silagem ruimapresenta valores de pH maiores que 4,6. Segun-do McDonald et al. (1991), as bactérias láticaspodem ser homofermentativas ou heterofermen-tativas. As primeiras convertem glicose e frutoseem ácido lático e são predominantes no início doprocesso fermentativo de silagens bem conser-vadas. Já as bactérias heterofermentativas pro-duzem, além do ácido lático, ácido acético, eta-nol e dióxido de carbono, não sendo, por isso,tão eficientes quanto as homofermentativas parapromover a redução do pH.

Segundo Leibensperger & Pitt (1987), nasilagem com alto teor de matéria seca (acima de35%), o pH é um critério menos útil para medirqualidade, uma que a falta de água e a alta pres-são osmótica podem restringir a fermentação e aprodução de ácido; portanto, mesmo com pH alto,estas silagens podem ser consideradas de boaqualidade. Por outro lado, o aumento de pH comalto teor de umidade está associado com proteó-lise, produção de aminas e ácido butírico.

O objetivo deste experimento foi avaliar aqualidade e o valor nutritivo das silagens de trêshíbridos de sorgo, em três estádios de maturação.

Material e Métodos

Os híbridos de sorgo avaliados neste ex-perimento, dois híbridos de duplo propósito, portemédio, com colmo seco, AG 2006 e BR 700, eum híbrido forrageiro de porte alto, com colmosuculento, BR 601 foram semeados na área ex-perimental da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete

Lagoas, Minas Gerais. A semeadura foi realiza-da em 27 de dezembro de 1994, em 72 canteirosexperimentais de 7,0 m x 3,5 m, utilizando-secinco linhas por tratamento, espaçadas 0,70 m.Cada genótipo foi semeado em vinte e quatrocanteiros, sendo três canteiros as repetições paracada estádio. A adubação de plantio foi equiva-lente a 350 kg/ha de 8-28-16 (NPK) e a de cober-tura a 100 kg/ha de uréia, de acordo com a análi-se de solo e a necessidade da cultura.

Os híbridos foram ensilados em oito es-tádios de maturação (E

1, E

2, E

3, E

4, E

5, E

6, E

7 e

E8), que foram 0, 7, 14, 21, 28, 35, 42 e 49 dias

após o florescimento, correspondendo à condi-ção dos grãos no florescimento, estádio de bo-cha do pré-leitoso, leitoso, leitoso/pastoso, pas-toso, farináceo, duro e seco, respectivamente. Nomomento de ensilagem, cortou-se rente ao soloo material das linhas centrais, descartando-se 1mnas cabeceiras. O material colhido foi moído empicadeira estacionária e imediatamente ensilado.Utilizaram-se 72 silos de laboratório, feitos de“PVC”, com 10 cm de diâmetro e 40 cm de com-primento. Os silos foram compactados, fechadoscom tampas de “PVC” dotadas de válvulas tipo“Bunsen” e lacrados com fita crepe. Pesaram-seos silos vazios e logo após foram lacrados.

Os silos foram novamente pesados eabertos 151 dias após a ensilagem, sendo as aber-turas feitas a cada sete dias, durante oito sema-nas. Após a abertura, fez-se uma avaliação visu-al, anotando-se alterações como a presença defungos na superfície do material, retirando-se edesprezando-se a camada superficial da silagem.Parte da silagem foi acondicionada em bandejasde alumínio, pesada e levada à estufa de ventila-ção forçada, à uma temperatura < 60º C, por 72horas. Após ficarem à temperatura ambiente, asamostras pré-secas foram pesadas e moídas emmoinho estacionário “ThomasWiley”, modelo 4,

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utilizando-se peneira de l mm. Em seguida fo-ram guardados em vidros com tampa para as de-mais determinações laboratoriais.

Imediatamente após a abertura, outra par-te da silagem foi prensada, utilizando-se umaprensa hidráulica Carver, modelo C. Uma partedo suco foi utilizada imediatamente, para deter-minação do pH, em potenciômetro Beckman, edo nitrogênio amoniacal, utilizando-se óxido demagnésio e cloreto de cálcio (Horwitz, 1980).

Nas amostras pré-secadas e moídas empeneira de 1 mm, foram determinadas a matériaseca 1050C, proteína bruta (Horwitz, 1980), di-gestibilidade in vitro da matéria seca (Tilley &Terry, 1963), fenóis totais (Price & Butler, 1977),porção fibrosa, pelo método seqüencial segun-do, Van Soest et al. (1981), utilizando-se 2 ml de

amilase “temamil 120l” do laboratório NovoNordisk a 1% na determinação da fibra em de-tergente neutro.

O delineamento experimental utilizadofoi o inteiramente ao acaso, em um fatorial 8 x 3(idade de corte x genótipos), com três repetições,sendo as médias comparadas pelo teste SNK, a5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 é mostrada a porcentagemde matéria seca da silagem, e na Tabela 2, encon-tram-se os dados de perdas de MS. Pode-se ob-servar que não houve efeito do estádio de matu-ração sobre as médias. Entre os híbridos, houvediferença com o híbrido BR 601, apresentandoas maiores perdas de MS. No entanto, os valores

TABELA 1. Porcentagem de matéria seca das silagens de três híbridos de sorgo colhidos em oitoestádios de maturação.

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 9,03

TABELA 2. Perdas de matéria seca das silagens de três híbridos de sorgo colhidos em oito estádiosde maturação (dados expressos em porcentagem).

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 44,94

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podem ser considerados extremamente baixos.Borges (1995) encontrou valores de perdas de MSvariando entre 8,22 e 12,09%, trabalhando comsorgo ensilado em silos semelhantes aos desteexperimento. Nogueira (1995) não acrescentouresultados conclusivos de perdas de MS, mas osvalores encontrados por esse autor foram no má-ximo 8%. Os baixos valores de perdas de MSpodem ser em parte, justificados pela ausênciade perdas de efluentes; no entanto, essa não podeser apontada como única causa, pois Borges(1995) trabalhou com o mesmo tipo de silo eobteve valores mais altos.

Os valores de percentuais de proteína bru-ta (PB) na matéria seca da silagem encontram-sena Tabela 3. Observou-se redução significativadessas porcentagens com o avanço do estádio dematuração, nos três híbridos. Andrade & Carva-lho (1992) relataram a ocorrência de pouca alte-ração na porcentagem de PB com o avanço doestádio de maturação, avaliando os estádios degrãos leitoso, farináceo e duro. Esmail et al.(1991), trabalhando com sorgo consorciado comsoja, também não encontraram efeito do está-dio de maturação sobre a porcentagem de PBdo material ensilado. No entanto, vários outrostrabalhos (Meeske et al, 1993; Bishnoi, 1993 eTonani, 1995) mostraram queda do nível de PB

do sorgo com o avanço do estádio de matura-ção.

Essa queda pode, em parte, dever-se àredução dos níveis de PB das frações folha e col-mo, devido à mobilização do seu nitrogênio paraa formação das panículas (Ferraris & Charles-Edwards, 1986). Carvalho et al. (1992) mostra-ram queda na porcentagem de PB do colmo de1,62%, no estádio de grão leitoso, para 0,64 e0,85%, nos estádios de grãos farináceo e duro,respectivamente, e queda na porcentagem de PBdas folhas de 9,97% para 5,83 e 4,96% nos mes-mos estádios, respectivamente. Bruno et al.(1992) mostraram que a parte com teor mais ele-vado de PB, em várias cultivares de sorgo, eramas folhas, seguidas pelas panículas e, posterior-mente, pelos colmos. Essa observação, associa-da àquela de Carvalho et al. (1992), que mostrouredução na participação das folhas e aumento daparticipação das panículas com o avanço do es-tádio de maturação, permite afirmar que a redu-ção na participação das folhas também pode terlevado à queda da PB com o avanço do estádiode maturação. Vale ressaltar que esse declíniopoderia ser contraposto por uma concomitantequeda na porcentagem de colmo, que é a fraçãomenos protéica. No entanto, nas condições desteexperimento, não se observou diferença signifi-

TABELA 3. Porcentagem de proteína bruta das silagens de três híbridos de sorgo colhidos em oitoestádios de maturação.

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV=11,54

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cativa na porcentagem de colmo a partir da se-gunda semana.

Sabe-se que a fermentação provoca alte-rações na composição das frações nitrogenadas,reduzindo os níveis de proteína verdadeira e au-mentando os níveis de aminoácidos livres ou pro-dutos da quebra desses aminoácidos, incluindoamônia, CO

2 e animas (Oshima & McDonald,

1978). O nível em que essa proteólise ocorre de-pende de diversos fatores relacionados ao pro-cesso de fermentação (Fairbairn et al., 1992) e aavaliação de silagens quanto aos compostos ni-trogenados deve incluir métodos que possam in-dicar os níveis em que essa proteólise ocorreu.Neste experimento, dosou-se o nível de N-amo-niacal no suco das silagens como indicativo dograu de proteólise.

Na Tabela 4, encontram-se os dados deN-amoniacal, expressos em porcentagem do N-total. Pode-se observar que não houve diferençaentre os híbridos e que os níveis diminuíram como avanço do estádio de maturação. Um impor-tante fator que leva a aumento da proteólise é aalta umidade (McDonald et al., 1991), sendo,provavelmente, esse o motivo do maior nível deN-amoniacal nas primeiras semanas.

Apesar de os níveis de N-amoniacal se-rem maiores que os encontrados por Nogueira

(1995) e Borges (1995), estes estão abaixo de 10%do N-total, nível considerado por Oshima &McDonald (1978) como normal em silagens comfermentação lática. Tjandraatmadja et al. (1993)consideram níveis abaixo de 6% do N-total comocaracterísticas de silagem de alta qualidade.

Segundo Van Soest (1994, a associaçãode pH e umidade pode ser um critério simples deavaliação da qualidade das silagens, sendo que,em silagem com baixo teor de MS, a melhor qua-lidade é obtida com valores de pH abaixo de 4,4.Em silagens com alto teor de MS ( > 35% MS) opH é menos importante, podendo-se obter sila-gens de boa qualidade mesmo com valores depH mais alto. McDonald et al. (1991) classificacomo ideal a obtenção de silagem com pH abai-xo de 4,0.

Conforme demonstrado na Tabela 5, to-das as silagens tiveram pH abaixo de 4,0, poden-do, por isso, ser classificadas como ótimas emrelação ao valor de pH. Outros autores, comoBorges (1995) e Nogueira (1995) encontraramvalores de pH semelhantes aos deste trabalho,após o término do processo de fermentação desilagens de sorgo. Gaggiotti et al. (1992) e Muck& O’kiely (1992) encontraram valores de pHentre 4,0 e 4,4, em silagens com padrão de fer-mentação considerado satisfatório.

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 15,95

TABELA 4. Teores de N amoniacal expressos em porcentagem do N total das silagens de trêshíbridos de sorgo colhidos em oito estádios de maturação.

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Está bem definido que os sorgos utiliza-dos para silagem, no Brasil, geralmente têm umnível de carboidratos solúveis suficiente para umaboa fermentação, com conseqüente queda do pH(Nogueira, 1995; Borges, 1995). Conforme eraesperado, os valores de pH encontrados permi-tem afirmar que, nas condições deste experimen-to, em todos os tratamentos, houve disponibili-dade de carboidratos solúveis para uma adequa-da fermentação. Vale ressaltar que as condiçõesde ensilagem com silos de laboratório são ideaise que, em condições de campo, a necessidade decarboidratos solúveis pode ser maior, em virtudedas piores condições de ensilagem (Petterson &Lindgren, 1990).

Como consta na Tabela 5, apesar de to-das as silagens apresentarem valores baixos depH, houve aumento significativo do pH com oavanço do estádio de maturação, nos três híbri-dos. Esmail et al. (1991) encontraram efeito sig-nificativo do estádio de maturação dos grãos so-bre o pH de silagens de sorgo, no entanto, no tra-balho desses autores, não houve um efeito claro,pois o pH caiu do estádio de florescimento parao estádio de grãos leitosos e subiu do estádio degrãos leitosos para grãos farináceos. Uma possí-vel explicação para o efeito do estádio de matu-ração sobre o pH é o efeito da umidade. Para Van

Soest (1994), a acidificação é inibida pela faltade água, sendo que o pH é inversamente correla-cionado com o teor de umidade. Essa explicaçãoé sustentada pela alta correlação (r = 0,86, p < 0,01)encontrada entre pH e matéria seca da silagem.Além disso, o híbrido BR 601, que teve menoraumento no teor de MS com o avanço do estádiode maturação, apresentou menor aumento nosvalores de pH. Outra possível explicação seria onível de carboidratos solúveis do material; noentanto, neste trabalho, não se dosaram os níveisdesses carboidratos.

A determinação das frações fibrosas émuito importante na caracterização de forragensquanto ao seu valor nutritivo. Segundo Minson(1990), as frações FDN, FDA e lignina são nega-tivamente correlacionadas com a digestibilidadee, conseqüentemente, com o valor energético dasforragens. Além disso, Van Soest (1994) afirmouque os teores de FDN das forragens são negati-vamente correlacionados com o consumo dasmesmas. A digestibilidade e o consumo de umaforragem são determinantes do valor dessa paraa nutrição animal e, sendo esses dois parâmetrosde difícil determinação em nível de rotina de la-boratório, o uso das frações fibrosas para esti-má-los pode ser de grande utilidade. Assim, sila-gens com menores frações fibrosas tendem a ter

TABELA 5. Valores de pH das silagens de três híbridos de sorgo colhidos em oito estádios dematuração.

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 1,72

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maior digestibilidade e maior consumo, desde quenão existam outros fatores envolvidos (Minson,1990; Van Soest, 1994).

A Tabela 6 mostra os valores de FDN,hemicelulose e celulose das silagens e pode-seobservar que os níveis de FDN reduziram-se àmedida que avançou o estádio de maturação, nostrês híbridos. Houve uma redução significativadas três primeiras para a quarta semana, quandohouve uma tendência de estabilização até a oita-va semana. No híbrido BR 700, houve reduçãoda porcentagem de FDN da sétima para a oitavasemana. Os valores de FDN observados encon-tram-se em uma faixa semelhante aos relatadospor outros autores, como Bruno et al. (1992),Sanderson (1993) e Borges (1995). Com relaçãoao efeito do estádio de maturação sobre os teoresde FDN, existem resultados diversos na literatu-ra. Hart (1990) não detectou diferença do estádio

de grão leitoso para o estádio maduro. No entan-to Danley & Vetter (1973) registraram aumentodo nível de FDN com o avanço do estádio dematuração de um sorgo forrageiro. Já Tonani(1995) encontrou uma tendência de queda do ní-vel de FDN do estádio de grãos leitosos para grãospastosos e tendência de aumento do estádio degrão pastosos para grãos farináceos. Os resulta-dos de Esmail et al. (1991) e Bishnoi et al. (1993)concordam com os deste trabalho, ou seja, mos-tram redução nos níveis de FDN das silagens como avanço do estádio de maturação.

A redução nos níveis de FDN com o avan-ço do estádio de maturação provavelmente ocor-reu em função do aumento de participação daspanículas e redução da participação de colmos efolhas no material ensilado. Bruno et al. (1992)mostraram que o maior teor de FDN foi encon-trado nas folhas seguidas pelos colmos. Hart

TABELA 6. Teores de FDN, hemicelulose e celulose das silagens de três híbridos de sorgo colhidosem oito estádios de maturação (dados expressos em porcentagem da matéria seca).

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 6,26

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(1990) provocou aumento na porcentagem degrãos da silagem elevando a altura de corte e cons-tatou redução dos teores de FDN à medida queaumentou a porcentagem de grãos. As correla-ções encontradas entre teor de FDN e porcenta-gem de folhas (r = 0,66, p < 0,0l), porcentagemde colmo (r 0,48, p < 0,0l) e porcentagem de pa-nícula (r = -0,78, p < 0,01) sustentam a afirma-ção de que a queda do teor de FDN foi provoca-da pela alteração na participação das diferentespartes no material ensilado, à medida em que cres-cia a porcentagem de panículas.

Na Tabela 6, observa-se que o híbridoAG2006 apresentou os menores valores de FDN,seguido pelo híbrido BR 601 e, posteriormente,pelo híbrido BR 700. Existe uma tendência de seassociar à altura do híbrido a maior ou menorporcentagem de panículas na massa ensilada, e,conseqüentemente, a maior ou menor nível defibra na silagem. Essa afirmativa pode ser con-firmada por resultados como o de Nogueira(1995), que, trabalhando com híbridos de portebaixo, encontrou teores de FDN mais baixos queoutros autores, como Gaggioti et al. (1992) eBorges (1995), que trabalharam com híbridos deporte alto. Neste trabalho, ao contrário do que seesperava, o híbrido BR 700, apesar de ser de portemais baixo que o híbrido BR 601 não apresentoumaior proporção de panículas e apresentou teo-res mais elevados de FDN, que o híbrido BR 601.

Conforme a Tabela 6, onde estão os da-dos de porcentagem de hemicelulose na MS dassilagens, determinada pela diferença entre FDNe FDA, o híbrido AG 2006, teve queda dos ní-veis de hemicelulose até a quarta semana e, daquarta a oitava semana, não houve diferença sig-nificativa. No híbrido BR601 a queda aconteceuaté a terceira semana e a partir dai não houve di-ferença significativa. No híbrido BR 700, apesarde haver queda com o avanço do estádio de ma-

turação, só houve diferença significativa entre asétima e oitava semanas.

Os híbridos AG 2006 e BR 601 apresen-taram teores médios de hemicelulose das silagensiguais entre si e inferiores ao teor médio do hí-brido BR 700. Quando se considera os híbridosdentro de cada estádio de maturação, o maior ní-vel de hemicelulose do híbrido BR 700 compa-rado aos outros dois híbridos só foi encontradono terceiro, quarto e quinto estádios. No sétimoestádio, o híbrido AG 2006 apresentou nível dehemicelulose menor que os outros dois híbridos,que não diferiram entre si.

Os valores de porcentagem de hemicelu-lose são semelhantes aos de outros autores, comoTjandratmaja et al. (1993) e Nogueira (1995).Borges (1995), trabalhando com sorgo de portealto, encontrou valores de hemicelulose superio-res aos deste trabalho. McBee & Miller (1990)encontraram valores de hemicelulose das folhase dos colmos de sorgo variando de 27,4 a 31,0%e 21,6 a 26,5%, respectivamente.

Os teores de celulose nas silagens, emporcentagem da MS, foram determinados pordiferença, subtraindo da FDA a lignina e as cin-zas insolúveis. Esses valores encontram-se naTabela 6. À medida em que avançou o estádio dematuração, houve queda nos teores de celulose.Esse efeito está diretamente ligado ao ocorridocom FDN e FDA, pois a celulose é um importan-te componente dessas duas frações. Assim, ascausas desse efeito devem ser as mesmas que le-varam à ocorrência de comportamento semelhan-te nos parâmetros FDN e FDA.

O híbrido AG 2006 apresentou porcen-tagem de celulose inferior aos outros dois híbri-dos, que não diferiram entre si. Os valores en-contrados são semelhantes aos encontrados porDanley & Vetter (1973) e Tjandraatmadja et al.(1993). Valores inferiores aos deste trabalho fo-

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ram encontrados por Nogueira (1995) e Borges(1995).

Os níveis de lignina de uma forrageira sãoinversamente correlacionados com a digestibili-dade da mesma (Hanna et al., 1981; Nogueira,1995). O efeito antinutricional da lignina pareceser modulado pela natureza e pelo grau de suasassociações com a parede celular, na forma decomplexos lignina-carboidratos (Goto et al.,1991). Os teores de lignina nas silagens, expres-sos em porcentagem da MS, estão apresentadosna Tabela 7.

Com o avanço do estádio de maturação,houve aumento na porcentagem de lignina noshíbridos BR 601 e BR 700. No híbrido AG 2006,não houve diferença entre os estádios, na por-centagem de lignina, com o avanço do estádio dematuração. Diversos autores encontraram aumen-to no teor de lignina do sorgo com o avanço doestádio de maturação (Danley & Vetter, 1973;Hanna et al., 1981; Goto et al., 1991), esse au-mento provavelmente ocorre em função da ligni-ficação das partes vegetativas, da planta com oavanço da maturação (McBee & Miller, 1993).No híbrido AG 2006 pode ter ocorrido uma com-pensação do aumento do teor de lignina nas par-tes vegetativas pelo aumento na participação dosgrãos, já que esse híbrido possui maior porcenta-

gem de grãos. Além disso, o avanço do estádiode maturação pode ter efeito diferente com rela-ção ao acúmulo de lignina em diferentes materi-ais (Danley & Vetter, 1973).

A partir da quarta semana, o híbrido BR700 apresentou teores de lignina significativa-mente maiores que os outros dois híbridos. Oshíbridos AG 2006 e BR 601 só diferiram nasduas últimas semanas com os menores teoresde lignina ocorrendo no AG 2006. Na média dosoito estádios de maturação, o híbrido AG 2006apresentou porcentagem de lignina inferior aohíbrido BR 601 que teve valor inferior ao híbri-do BR 700. Os valores encontrados para por-centagem de lignina são semelhantes ao de ou-tros autores, como Nogueira (1995) e Borges(1995)

O potencial de consumo de uma forra-gem por um ruminante é um componente funda-mental da qualidade dessa forragem. Existe umarelação entre o consumo e a digestibilidade daforragem. Além disso, a digestibilidade da forra-gem é uma medida do valor energético da mes-ma, pois existe alta correlação entre energia di-gestível e energia metabolizável (Minson, 1990).Segundo Tilley & Terry (1963), os resultados dedigestibilidade in vitro de matéria seca (DIVMS)são altamente correlacionados com os valores de

TABELA 7. Teores de lignina das silagens de três híbridos de sorgo colhidos em oito estádios dematuração expressos em porcentagem da matéria seca.

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 12,30

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digestibilidade in vivo. Na Tabela 8, encontram-se os valores de DIVMS da silagem.

Pode-se observar que os híbridos tiveramum comportamento diferente quanto a DIVMSnos diferentes estádios de maturação. O híbridoAG 2006 apresentou maior digestibilidade naquarta semana e menor digestibilidade na sextasemana. O híbrido BR 700 apresentou na sétimasemana DIVMS inferior (p < 0,05) às demais,que não diferiram entre si (p > 0,05). O híbridoBR 601 apresentou queda da DIVMS com o avan-ço do estádio de maturação. Apesar da tendênciade queda gradativa da DIVMS com o avanço damaturidade, houve um crescimento na sétimasemana, quando se encontrou a maior média deDIVMS das silagens desse híbrido.

Alguns autores, como Zago (1991), afir-maram que, como as panículas são a fração maisdigestível da planta de sorgo, o aumento da pro-porção dessa fração com o avanço da maturida-de pode ser responsável por aumento da digesti-bilidade. Essa pode ser a explicação para a maiordigestibilidade do híbrido AG 2006 na quarta equinta semanas. No entanto, assim como nestetrabalho, o efeito do estádio de maturação sobrea digestibilidade é variável em diferentes mate-riais. Esmail et al. (1991) não encontraram efei-to de estádio de maturação sobre a digestibilida-de de diversas frações da planta de sorgo. Hart

(1990) e Andrade & Carvalho (1992) não encon-traram diferenças na digestibilidade mesmo quan-do a proporção de grãos era aumentada; o pri-meiro, por elevação na altura de corte e o segun-do, por avanço no estádio de maturação. Hart(1990) afirmou que a queda da digestibilidadedas frações FDN, FDA, PB, amido e conteúdocelular pode ser responsável por redução na DI-VMS com o avanço do estádio de maturação.Danley & Vetter (1973) e Hanna et al. (1981)encontraram redução na digestibilidade comavanço do estádio de maturação e apontaram oaumento da fração lignina como o maior respon-sável por essa queda. Tonani (1995) também en-controu redução na digestibilidade da planta doestádio de grãos leitosos para grãos farináceos,essa autora atribuiu esse efeito à redução da di-gestibilidade da parte vegetativa das plantas e aoaumento da dureza dos grãos.

Comparando-se os três híbridos, pode-seobservar que, na média das DIVMS, o AG 2006foi superior (p < 0,05) ao BR 601 que foi superi-or (p < 0,05) ao BR 700. Não houve diferençaentre os híbridos nos estádios 1, 2, 3 e 7. Nosdemais estádios, o híbrido AG 2006 apresentouos maiores valores de DIVMS.

Zago (1991) apontou o porte dos híbri-dos de sorgo como indicador da proporção degrãos do material, sorgo granífero (porte baixo),

TABELA 8. Digestibilidade in vitro da matéria seca das silagens de três híbridos de sorgo colhidosem oito estádios de maturação, expressa em porcentagem.

1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 3,58

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sorgo duplo propósito (porte médio) e sorgo for-rageiro (porte alto). Salako & Felix (1986) en-contraram maior DIVMS em sorgos graníferosque em sorgos sacarinos de porte alto. No entan-to, os resultados deste trabalho vêm mostrar quea altura da planta pode não retratar a proporçãode grãos e, principalmente, a digestibilidade domaterial, pois o híbrido BR 601, de porte alto,apresentou maior digestibilidade que o híbridoBR 700, de porte médio, e digestibilidade seme-lhante à do híbrido AG 2006, também de portemédio. Pereira et al. (1993) avaliaram sorgos deporte alto, médio e baixo e não encontraram di-ferença na digestibilidade da matéria seca e ma-téria orgânica.

A porcentagem de grãos é um importan-te parâmetro de avaliação da qualidade do sorgo.Diversos autores chamam a atenção para essacaracterística e sua correlação positiva com a di-gestibilidade e o valor energético do sorgo (Cum-mins, 1971; Salako & Felix, 1986; Hunt et al.,1993). No entanto, resultados como os de Hart(1990); Andrade & Carvalho (1992) e Hunt etal. (1993), em que não se demonstrou aumentoda digestibilidade com o aumento da proporçãode grãos, chamam a atenção para a existência deoutros importantes fatores que podem ser leva-dos em conta para promover o desenvolvimentode materiais com maior potencial.

Encontrou-se correlação negativa entre aDIVMS e a lignina (r = -0,56, p < 0,0l). A ligninaé apontada como responsável por efeitos negati-vos sobre a digestibilidade em vários trabalhos(Hanna et al., 1981; Lusk et al., 1984; Thors-tensson , 1992). Segundo Thorstensson (1992), acomposição da lignina pode exercer maior influ-ência sobre a digestibilidade que sua concentra-ção. Danley & Vetter (1973) afirmaram que oefeito da lignina está intimamente relacionado àrelação lignina/celulose ou a relação lignina/FDA.

Frações da fibra, como a FDN e a FDA, geral-mente apontados como relacionados à digestibi-lidade não apresentaram correlação significativaneste experimento.

A avaliação do teor de tanino das sila-gens foi realizada utilizando-se o método Azulda Prússia (Price & Butler, 1977). Os dados apre-sentados na Tabela 9 representam a porcentagemde fenóis totais, pois o método não distingue ostaninos dos fenóis de baixo peso molecular (quenão têm efeito adverso na qualidade nutricional).Segundo Hahn et al. (1984), os compostos fenó-licos, nos sorgos, podem ser divididos em trêsgrupos básicos: ácidos fenólicos, flavonóides etaninos. Todo sorgo contém ácidos fenólicos emuitos contêm flavonóides. Somente o sorgo comalto teor de tanino contém tanino condensado.

Como pode-se observar na Tabela 9, aporcentagem de fenóis totais das silagens dimi-nuiu com o avanço do estádio de maturação dostrês híbridos. Montgomery et al. (1986) apudRodrigues (1991), avaliando 12 híbridos de sor-go granífero e forrageiro, observaram reduçõessignificativas no teor de tanino entre as fases degrão leitoso, pastoso e maturação fisiológica, emsorgo com alto tanino. No entanto, não observa-ram diferenças entre os estádios nos sorgos debaixo tanino, no grão. Rogler & Butler (s.d.) tam-bém encontraram redução do teor de tanino dosgrãos com o avanço do estádio de maturação, emsorgo de alto tanino, e ausência desse efeito emsorgo de baixo tanino.

Rodrigues (1991) encontrou valores má-ximos de tanino quando os grãos estavam leito-sos, com redução a partir desse estádio. Esse efei-to ocorreu em diversos materiais, incluindo osde baixo tanino. Segundo esse autor, a reduçãodo teor de tanino ao longo da maturação do grãoprovavelmente se deve ao fato de que os com-postos fenólicos em sorgo são substâncias pre-

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cursoras de outros compostos, como a lignina.Não foi encontrada correlação significativa en-tre a porcentagem de fenóis e a lignina, embora,em dois híbridos, tenha havido aumento no teorde lignina com o avanço do estádio de matura-ção.

Segundo Rodrigues (1996), com a utili-zação do método azul da Prússia, pode-se classi-ficar os grãos que apresentarem níveis superio-res a 0,70% como materiais com tanino e os grãoscom níveis inferiores a 0,70% como materiaissem tanino. Admitindo-se que esse parâmetro sejaválido para silagens, poderia se classificar as si-lagens dos três híbridos nos oito estádios comomateriais com tanino. Apesar de os níveis de fe-nóis totais encontrados estarem acima do limiteestabelecido por Rodrigues (1996), não foi en-contrada correlação negativa com a DIVMS. Esteachado pode ser um indicativo de que o padrãoutilizado para grãos não é adequado para sila-gens, indicando a necessidade de se pesquisar esseparâmetro.

Conclusões

Houve alteração das frações fibrosas como avanço da maturação, especialmente do tercei-ro para o quarto estádio. Com relação à lignina,

houve diferença no comportamento dos híbridos,havendo aumento nos híbridos BR 601 e BR 700com o avanço da maturidade; já para o híbridoAG 2006, não foi observada variação. A DIVMStambém teve um comportamento diferente entreos híbridos, apresentando-se em níveis máximosda segunda à quinta semana para o híbrido AG2006, da primeira à quinta semana, para o híbri-do BR 700 e primeira a quarta semana, para ohíbrido BR 601.

Mesmo nas silagens contendo tanino nãoforam observadas correlações entre o tanino eparâmetros de qualidade como a DIVMS.

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1Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha ou maiúscula na coluna não diferem significativamente entre siseguindo teste.Teste SNK, P < 0,05, CV= 18,48

TABELA 9. Porcentagem de fenóis totais das silagens de três híbridos de sorgo colhidos em oitoestádios de maturação determinados pelo método Azul da Prússia.

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