qualidade da integração sensorial e organização

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  • 7/23/2019 Qualidade Da Integrao Sensorial e Organizao...

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    Universidade do PortoFaculdade de Psicologia e de Cincias da Educao

    Qualidade da Integrao Sensorial e

    Organizao dos Comportamentos

    de Vinculao na Criana

    Maria Antnia de Oliveira Costa

    Porto2000

    Y

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    Universidade do PortoFaculdade de Psicologia e de Cincias da Educao

    ualidade da Integrao Sensorial

    Maria Antnia de Oliveira Costa

    Porto2000

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    Dissertao de Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Educao da Criana

    (Especialidade em Interveno Precoce) apresentada Faculdade de Psicologia e de

    Cincias da Educao da Universidade do Porto, sob a orientao do Professor Doutor

    Pedro Nuno A. Lopes dos Santos.

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    Para atingir a verdade faltaim-nos dados que bastem, e processos

    intelectuais que esgotem a interpretao desses dados."

    Fernando Pessoa

    Livro do Desassossego I

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    IV

    RESUMO

    O presente trabalho procurou ver at que ponto h relao entre a

    segurana da vinculao e a qualidade da integrao sensorial na criana.

    Para o efeito foi seleccionada uma amostra de 40 dades me-beb,

    integrando crianas de baixo risco, com idades compreendidas entre os 11 e

    os 18 meses. Me e filho foram observados no contexto da Situao

    Estranha (Ainsworthet ai, 1978) e as crianas foram avaliadas atravs doTeste de Funes Sensoriais (DeGangi & Greenspan, 1989). Os resultados

    no mostraram relaes entre a qualidade do processamento da integrao

    sensorial e os padres da vinculao. Paralelamente, constatou-se que um

    score agregando quatro factores ambientais predizia o tipo de vinculao

    manifestada pela criana (vinculao segura, insegura e atpica). Apesar do

    Teste de Funes Sensoriais no ter apresentado qualquer valor prognstico

    relativamente ao tipo de vinculao, verificou-se que uma boa qualidade no

    processamento da informao sensorial poderia constituir um factor de

    resilincia no processo de desenvolvimento da vinculao.

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    ABSTRACT

    The current study investigated potential relationships between

    attachment's safety and the quality of child's sensory integration. For this

    purpose a sample of 40 mother-child dyads was selected, comprising low

    risk children between 11 and 18 months old. Mother and child were

    observed within the scope of theStrange Situation (Ainsworthet al, 1978)

    while children were evaluated through the Test of Sensory Functions in

    Infants (DeGangi & Greenspan, 1989). The results did not show

    relationships between the quality of the sensorial integration processing and

    the attachment's patterns. Concurrently it was observed that a rank

    comprising four environmental variables predicted the attachment type

    exhibited by the child (secure, insecure and atypical attachment). Despitethe Test of Sensory Functions in Infants did not show any prognostic

    advantage relatively to the attachment type, it was observed that the quality

    of the processing of the sensory information may constitute a resilience

    factor in the course of the attachment's development.

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    RESUME

    La prsente dissertation cherche vrifier s'il y a un rapport entre la

    scurit de l'attachement et la qualit de l'intgration sensorielle chez

    l'enfant. A cet effet, un chantillon de 40 paires maman/bb, avec des

    enfants hors d'tat de risque, entre 11 et 18 mois a t slectionn. Mres et

    enfants ont t observs en contexte deSituation Etrange (Ainsworthet al.,

    1978) et les enfants ont t valus travers le"Test of Sensory Functions

    in Infants ".(DeGangi & Greenspan, 1989). Les rsultats n'ont pas montr

    des rapports entre la qualit du processus d'intgration sensorielle et les

    modles d'attachement. Paralllement, on a constat qu'un score englobant

    quatre facteurs concernant le milieu prdisait le type d'attachement

    manifest par l'enfant (attachement scurisant, inscurisant et atypique).

    Malgr que le "Test of Sensory Functions in Infants" n'est pas prsent

    quelque valeur prognostique en ce qui concerne le type d'attachement, on a

    vrifi qu'une bonne qualit dans l'attachement de l'information

    sensorielle pourrait constituer un facteur de resilience dans le processus de

    dveloppement de l'attachement.

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    VII

    Agradecimentos

    O desenvolvimento do presente trabalho foi claramente benificiado por umsomatrio de apoios e encorajamentos que tive o privilgio de receber. Manifestando o

    meu sincero reconhecimento a todos os que, por mltiplas formas, facilitaram a sua

    elaborao -me grato salientar alguns contributos.

    Ao Professor Doutor Pedro Lopes dos Santos pelo saber, rigor de anlise,

    entusiasmo e apoio constantes, pela disponibilidade e encorajamento persistente, a

    minha profunda gratido.

    Ao Professor Doutor Joaquim Bairro pelos ensinamentos, pela postura pioneira

    e inovadora, que por si sj uma grande lio.

    Lena Fernandes, Amiga atenta e vigilante que soube alertar para a

    possibilidade de concretizao de uma vontade...

    Pela disponibilidade e colaborao de todas as Mes e Bebs que participaram

    na investigao devo a minha gratido muito especial.

    O processo de seleco da amostra e de recolha de dados s se tornou uma

    realidade devido colaborao amvel e desinteressada de diversas Instituies da

    cidade de Viseu; aos seus Directores e aos profissionais que a exercem actividade,particularmente, aos da Casa Infante D. Henrique e aos de Centro de Sade 2 de Viseu,

    a todos agradeo vivamente.

    Quero exprimir, com afecto, o meu reconhecimento s Educadoras Claudia

    Luclia e Adelaide e Terapeuta Sandra pelo empenho e disponibilidade demonstradas.

    A meu Pai pela ajuda imprescindvel e incondicional no processo de recolha dedados,no esquecendo o dinamismo do resto da "equipa", Joana e ao Virglio, o meu

    obrigada.

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    VIII

    Marina, pela amizade, pelo incentivo, rigor de anlise, e disponibidade, a

    minha gratido.

    B pela colaborao pronta, generosa e de grande valia na reviso do texto, aminha gratido.

    Marta e demais colegas do DAS pelas facilidades e compreenso nas horas de

    sobrecarga de trabalho.

    famlia, aos amigos, pelo encorajamento, ajuda e compreenso.

    Aos colegas do mestrado, grupo unido e divertido, onde a inter-ajuda e

    camaradagem no foram palavras vs.

    Ao T, Sofia e Rute porque em vs que reside a fora para continuar a

    caminhada.

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    IX

    ndice

    Introduo 2

    ParteI- Avinculaoe oimpactodefactores neuro-psico-fisiolgicos

    Captulo1- ATeoriadaVinculao

    1.1- Conceitos introdutriosTeoriadaVinculao 8

    1.2- Comportamentosdevinculao 11

    1.3- Vinculaoeinteriorizaoderelaes 141.4- Situao Estranha 16

    1.4.1- PadresdecomportamentonaSituao Estranha 17

    1.4.2-Estabilidadedospadresdevinculao 18

    1.5-Padresdevinculaoeseus determinantes 20

    1.6-Padresdevinculao atpicos 29

    16.1-Classificao davinculao atpica 30

    1.7-Vinculaoetemperamento 35

    1.7.1- Alguns conceitosdetemperamento 36

    1.7.2-Relaes temperamento-vinculao 37

    1.8- Aestruturaodoprocessodevinculaonocrebroemdesenvolvimento 41

    1.9-Sntese 44

    Captulo2- Aperspectiva constitucio-maturacional

    2.1 -AActividade regulatria 49

    2.1.1-Regulao 49

    2.1.2- Perturbaes regulatrias 50

    2.1.3-Tiposdeperturbaes regulatrias 53

    2.1.4- Dados para discusso 55

    2.2-ATeoriadeIntegrao Sensorial 59

    2.2.1-Definio epostulados base 59

    2.2.2- ConceitosdaTeoriadeIntegrao Sensorial 62

    2.2.3-Oprocessamento centraldaintegrao sensorial 69

    2.2.4- Perturbaesdaintegrao sensorial 75

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    2.2 AA- Perturbaes da modulao sensorial 76

    2.2.4.2- .Perturbaes dos movimentos culo-posturais, de integrao

    bilateral e de sequenciao 80

    2.2.4.3-Dispraxias do desenvolvimento 84

    2.3-Influncias do Sistema Nervoso Autnomo no comportamento 87

    2.4- Sntese 91

    2.4.1-Modulao sensorial e funcionamento autnomo 92

    2.4.2.- Funes sensoriais e vinculao 93

    Parte II - Estudo Emprico

    Captulo 3 - Sntese das questes de investigao

    3.1-Introduo e objectivos do estudo 99

    Captulo 4 - Mtodo

    4.1-Participantes 104

    4.2-Instrumentos de avaliao 107

    4.3-Procedimentos 114

    4.4-Observadores 116

    Captulo 5 - Resultados

    5.1-Padres de vinculao 119

    5.2- Comportamentos de vinculao 121

    5.3-Anlise da funo discriminante 126

    5.4- Teste de Funes Sensoriais 128

    5.5-Grupos de vinculao e integrao sensorial 130

    Captulo 6 - Discusso 138

    Captulo 7. - Concluses 146

    Referncias Bibliogrficas 149

    Anexos

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    MRODUa

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    Introduo 2

    Introduo

    When the sensory integrative capacity of

    the brain is sufficient to meet the demands

    of the environment, the child's response is

    efficient, creative, and satisfying.

    J. Ayres (1979)

    O pressuposto de que o papel do crebro na organizao da informao

    sensorial determinante na qualidade das respostas comportamentais e emocionais da

    criana (Ayres, 1979), foi um dos alicerces na elaborao deste trabalho.

    Tanto por inerncia de abordagem da teoria de integrao sensorial, como por

    resultado de uma opo pela interveno precoce, situmo-nos nos primrdios da

    estruturao das funes sensoriais que, numa perspectiva transaccional, se desenrola na

    interaco entre as competncias do sistema nervoso e o aporte sensitivo/sensorial do

    meio. Neste enquadramento fomos remetidas inexoravelmente, para o campo da

    vinculao, isto , para o estudo do estabelecimento dos laos de apego me-filho. Na

    etapa inicial da vida, o crescimento cerebral associado ao desenvolvimento sinptico, e

    s interaces sociais , constri-se, sobretudo, a partir de uma base de trocas sensorio-

    emocionais entre a criana e o seu prestador de cuidados mais prximo.

    A teoria da vinculao tem dado azo a inmeros estudos e pesquisas,

    essencialmente, focalizadas nas qualidades e competncias da figura materna que

    favorecem o desenvolvimento de uma vinculao segura. no contributo da criana

    para a estruturao do processo de vinculao que a literatura tem sido,

    comparativamente, mais omissa.

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    Introduo 3

    O tema do nosso trabalho surge na tentativa de equacionar os dois aspectos que

    temos vindo a referir: sendo a vinculao um processo de interaco e sincronia em que

    ambos os parceiros afectam a qualidade da relao, suscitou-nos algum interesse a

    anlise mais detalhada do contributo da criana neste processo, relevando,

    especificamente, o papel desempenhado pelas funes de integrao sensorial.

    Estava, pois, decidido o enquadramento da nossa investigao que inicimos

    centrando a nossa ateno na vasta obra de Bowlby e Ainsworth. Na tentativa de

    encontrarmos respostas mais esclarecedoras sobre as influncias neurobiolgicas no

    processo de vinculao tommos como referncia o Modelo Desenvolvimental de

    Greenspan que, tendo como ponto fulcral o ncleo de interaco me-filho, d grande

    relevo s influncias dos padres constitucio-maturacionais sobre a interaco da dade.

    Entramos, assim, no mago das perturbaes regulatrias que, em grande parte,

    tm por base alteraes neuro-vegetativas e situaes de hipo ou hiper-estimulao dos

    sistemas sensoriais.

    O estudo mais aprofundado do processo de integrao sensorial a nvel cerebral

    remete-nos para a teoria de Integrao Sensorial desenvolvida por Jean Ayres, que nos

    oferece perspectivas de investigao relativamente relao entre a actividade neural e

    o comportamento sensrio-motor e emocional.

    Orientmos a nossa pesquisa bibliogrfica no sentido de averiguar a relao

    existente entre a vinculao e os processos de auto-regulao e neuro-sensoriais a nvel

    do Sistema Nervoso Central. Pretendemos verificar em que medida alteraes nos

    processos regulatrios e de integrao sensorial podem, em circunstncias ambientais

    propcias, influenciar os processos de vinculao.

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    Introduo 4

    O presente trabalho foi estruturado em duas partes, cada uma dividida em

    captulos, num total de sete.

    A primeira parte da dissertao que intitulmos - A vinculao e o impacto de

    factores neuro-psico-fisiolgicos- aborda teorias e correntes de opinio que julgmos

    adequadas e, qui, pertinentes, para o estabelecimento de um leque conceptual que

    enquadrasse os nossos pressupostos empricos.

    No primeiro captulo deste trabalho situamo-nos na teoria da vinculao,

    procurando, em diversas perspectivas, os requisitos facilitadores de uma vinculao

    segura, assim como os critrios para a sua avaliao. So, tambm, analisados os

    factores desencadeantes de uma vinculao insegura e atpica.

    Osegundo captuloparte da pressuposta necessidade de analisar o contributo da

    criana no processo de vinculao, incidindo, num primeiro momento, sobre a anlise e

    categorizao das perturbaes regulatrias. Um segundo momento deste captulo

    dedicado Teoria de Integrao Sensorial detendo-se na anlise resumida do processo

    integrativo inter-sensorial, mencionando tambm, algumas perturbaes de integrao

    sensorial.

    Por ltimo, pretende-se equacionar as perspectivas analisadas, procurando

    algumas respostas sobre a influncia dos processos neurobiolgicos na vinculao.

    A segunda parte do trabalho, denominadaEstudo Emprico,concentra em quatro

    captulos o processo de investigao realizado.

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    Introduo 5

    O terceiro captulo apresenta alguns dos pressupostos do desenvolvimento do

    projecto, incluindo a delimitao do tema e preciso do seu contedo, definio de

    objectivos do trabalho e formulao das hipteses de investigao.

    O quarto captulo dedicado metodologia, apresenta o plano de investigao,

    debruando-se sobre os assuntos relacionados com a amostra, instrumentos utilizados e

    procedimentos efectuados.

    Oquinto captulotem como objectivo apresentar e analisar os resultados.

    Osexto captulo, inteiramente, dedicado discusso dos resultados.

    O trabalho encerra com o stimo captulo, onde numa sntese conclusiva,

    procuramos salientar os aspectos considerados como merecedores de realce.

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    A vinculao e o impacto de factores#

    neuro-psico-fisiolgicos

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    Captulo 1- A Teoria da Vinculao

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 8

    1.1 Conceitos Introdutrios Teoria da Vinculao

    Bowlby, (1958, 1969/1982, 1976, 1980) foi um dos primeiros autores, e o autor

    de referncia, a dedicar-se ao estudo da ligao filho-me. As suas observaes, com

    forte pendor etolgico, dando especial ateno s trocas de sinais me-flho em cenrios

    naturais, levaram-no a estruturar a sua teoria da vinculao tendo como base o

    desenvolvimento de fortes ligaes emocionais e afectivas entre o beb e a me (ou o

    prestador de cuidados mais prximo), que funcionam como uma estrutura de proteco,

    segurana e conforto da criana. Bowlby, debrua-se sobre as competncias e

    capacidades de influncia do beb sobre o prestador de cuidados e formula o conceito

    segundo o qual, a dade me-filho constitui uma s unidade interdependente.

    O enquadramento conceptual que, definitivamente, veio esclarecer e descrever

    os laos afectivos entre me e filho que, no dizer de Ainsworth e Bell (1970),"...os liga

    no espao e perdura no tempo...", conhecido por Teoria da Vinculao e foi, como j

    referimos, criteriosamente, concebido por Bowlby (1958, 1969/1982, 1976, 1980) e

    desenvolvido por outros investigadores nos anos subsequentes (e.g. Main Tomasini &

    Tolan, 1979; Main & Solomon, 1990; Barnett & Vondra, 1999).

    Desta forma, podemos, hoje, desfrutar de um vasto e multifacetado campo de

    conhecimentos, perspectivado numa base etolgica-evolutiva e comprovado, nas suas

    traves mestras, pela investigao cientfica.

    Na concepo e elaborao da teoria da vinculao, Bowlby (1969/1982) reuniu

    de forma ecltica as influncias de vrios domnios do conhecimento, desde a

    psicanlise etologia, passando pela teoria geral dos sistemas e pela psicologia

    cognitiva (Colin, 1996).

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 9

    Ao debruar-se sobre a teoria psicanaltica (estudo dos processos afectivos

    inconscientes, dos processos cognitivos e dos seus efeitos na personalidade e

    comportamento) deteve-se na natureza dos laos estabelecidos entre a criana e a me,

    que constituiro a pedra angular para o posterior desenvolvimento inter e intra-pessoal.

    Na etologia Bowlby (1969/1982) encontrou a explicao para a tendncia da

    criana procurar a proximidade e a manuteno de contacto junto do seu prestador de

    cuidados como forma de proteco. O autor justifica estes comportamentos em termos

    da seleco natural e da evoluo da espcie.

    A teoria geral dos sistemas (que se detm na anlise de como os elementos de

    um sistema se influenciam mutuamente) consolidou questes relativas ao

    comportamento, onde salientamos o construto dos sistemas corrigidos para a meta

    "corrected systems" e a utilizao de mecanismos de retroaco (feedback).

    Dapsicologia cognitivaretirou os conceitos relativos s representaes mentais

    e forma com essas representaes so organizadas, interpretadas e armazenadas na

    mente.

    Este quadro de interdisciplinaridade e de convergncia conceptual foi

    enriquecido pelo contributo de Ainsworth ao introduzir na Teoria da Vinculao a

    noo de "base-segurd": a relao de vinculao dever ser uma fonte de segurana

    para a criana (Ainsworthet ai.,1978). A me assume-se junto do beb com um apoio a

    partir do qual este poder aventurar-se na explorao do ambiente, arriscando situaes

    menos conhecidas, implcitas a uma situao de aprendizagem, porque conhece

    antecipadamente a existncia de uma base proporcionadora de tranquilidade e segurana

    a que pode recorrer a qualquer momento.

    A Vinculao entendida como "... um lao afectivo durvel, organizado a

    partir de um sistema de comportamento instintivo, que quando activado, tem como

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 10

    resultado previsvel a criao de uma situao de proximidade espacial entre o

    indivduo e afigura de vinculao... " (Lopes dos Santos comunicao pessoal, Maro

    de 1999).

    A Teoria da Vinculao tal como foi defendida por Bowlby (1969/1982, 1980) e

    Ainsworth (1973), possui equacionados, intrinsecamente, alguns conceitos que a

    definem e lhe do corpo, que nos parece importante realar:

    - analisada a nvel dedesenvolvimento a vinculao reflecte uma necessidade

    primria dispondo de mecanismos inatos para a sua manifestao.

    - olhada por umprisma afectivo, estrutura-se como um forte e durvel lao

    emocional que se desenvolve no tempo.

    - de um ponto de vista biolgico contribui, atravs dos comportamentos que

    origina, para a sobrevivncia do indivduo e da espcie, especialmente na sua funo de

    proteco do perigo. Como salienta Colin (1996), os laos de vinculao perduram e

    mantm-se em qualquer circunstncia, mas os comportamentos que os evidenciam so

    usados, intermitentemente, de acordo com as necessidades de proteco sentidas a cada

    momento.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 11

    1.2 - Comportamentos de vinculao

    A existncia e natureza dos laos de vinculao so indicados pelos

    comportamentos de vinculao, caractersticos da espcie (Colin, 1996), que tendem a

    ser reforados, ou enfraquecidos, por factores situacionais. A sua evoluo progressiva

    tomando formas mais organizadas e complexas ao longo do desenvolvimento, atravs

    do que Bowlby (1969/1982) denominasistemas corrigidos para a meta (goal corrected

    systems).

    Bowlby (1969/1982) enumera os comportamentos de vinculao que, nos

    primeiros meses de vida, j se dirigem para uma figura em particular (o prestador de

    cuidados), agrupando-os emcomportamentos de sinalizao - chorar, sorrir, pairar ou

    chamar - que pretendem trazer a me, ou figura de vinculao, para perto e

    comportamentos de aproximao - procurar, seguir ou agarrar - que tm como fim

    levar a criana junto da figura de vinculao.

    medida que as capacidades cognitivas e de autonomia da criana se vo

    desenvolvendo, os comportamentos de vinculao tornam-se mais sofisticados,

    flexibilizando-se e adaptando-se s circunstncias desencadeadoras, permanecendo o

    objectivo principal que atingir ou manter um grau satisfatrio de proximidade ou

    contacto com a figura de vinculao (Colin, 1996).

    Subjacente ao conceito de evoluo da vinculao est a noo que o beb

    possui intrinsecamente, de origem biolgica, capacidades de interaco e de auto-

    regulao constitudos por padres de aco fixos, que, posteriormente, se organizam e

    desenvolvem nos contextos ambientais segundo uma sequncia ordenada, na qual

    Bowlby (1969/1982) distingue quatro fases:

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 12

    Iafase - Orientao e sinais com discriminao limitada das figuras

    Esta fase de reactividade social indiscriminada tem lugar durante os primeiros

    dois/trs meses. caracterizada por comportamentos indiscriminados, indiferenciados e

    ainda rudimentares que incluem o choro, o sorriso, o olhar e o alcanar, utilizados como

    forma de atrair a presena do adulto.

    2afase - Orientao e sinais dirigidos para uma ou mais figuras discriminadas

    Entre os trs e os seis meses observa-se uma reactividade social discriminada,

    em que os comportamentos susceptveis de promoverem a aproximao "do outro" so

    coordenados em sequncias simples de aces de orientao diferenciada de acordo

    com o grau de familiaridade e vinculao s figuras que rodeiam o beb. Estes

    comportamentos no so, ainda, considerados de vinculao mas sim, comportamentos

    percursores (Ainsworth, 1972).

    3a fase - Manuteno da proximidade com uma figura discriminada atravs da

    locomoo e de sinais

    a partir dos sete meses, e estendendo-se at aos dois anos de idade, que se

    inicia a fase de iniciativa activa ou de procura activa da proximidade e do contacto.

    A evoluo verificada a nvel motor e cognitivo, vem facilitar a procura activa

    da proximidade figura de vinculao, assim como a estruturao em grau crescente de

    complexidade dos comportamentos de sinalizao e das formas de comunicao.

    Neste perodo o beb aprende a organizar o seu comportamento tendo como

    referncia uma figura preferencial, normalmente, a figura materna que funciona como

    base segura ou de refgio na explorao dos contextos circundantes.

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    Captulo 1A Teoria da Vinculao 13

    4afase - Formaodeuma relao recprocacorrigida paraobjectivos

    Este perodo desenvolve-se a partir do segundo ano de vida. As sequncias

    comportamentais inerentes vinculao adquirem formas progressivamente mais

    elaboradas, dado o alargamento das capacidades cognitivas, de autonomia e de

    linguagem. A criana j faz inferncias sobre os objectivos e intenes do

    comportamento materno tentando influenci-lo ou ajustar-se a ele. A proximidade com

    a figura de vinculao agora mantida por um sistema de objectivos corrigidos em

    crescendo de complexidade e flexibilidade.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 14

    1.3 - Vinculao e Interiorizao de Relaes

    Subjacente ao conceito de relaes de vinculao esto as representaes

    mentais construdas pela criana com base nas experincias vivenciadas com as suas

    figuras de vinculao.

    Este construto equacionado por Bowlby (1973, 1980) prev a formao de

    modelos internos oumodelos representacionais (working models) da me e do prprio

    Eu de acordo com as experincias passadas junto da figura de vinculao. A forma

    como a me foi sensvel, disponvel, e predizvel, isto , a segurana emocional que

    transmitiu (Meins, 1997), gera na criana uma srie de representaes mentais que lhe

    permitem formar expectativas sobre situaes novas, sobre si prpria e sobre as suas

    interaces sociais. Por outro lado, a aceitao e o afecto recebidos por parte da figura

    de vinculao e, fundamentalmente, a forma com so percebidos pelo beb constituem

    os alicerces da construo do modelo representacional de si prprio.

    Tanto os modelos internos da figura de vinculao como de si prprio so

    construdos com base na interaco didica pelo que so considerados complementares

    (Bretherton & Munholland, 1999). Para estes autores, o modelo representacional de si

    prprio edificado com base numa relao emocionalmente estvel e gratificante

    constitui-se como suporte para as actividades exploratrias do beb.

    A existncia de um modelo representacional de vinculao permite criana

    antecipar as reaces do prestador de cuidados face s suas solicitaes de proteco e

    conforto e implementar as estratgias comportamentais de vinculao (Barnett &

    Vondra, 1999).

    Os modelos representacionais interiorizados durante a infncia tendem a

    persistir, resistindo a mudanas sensveis, funcionando no registo inconsciente.

    Bretherton e Munholland (1999) ao realarem a progressiva estabilidade e

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 15

    complexidade dos modelos representacionais ao longo do desenvolvimento, chamam,

    tambm, a ateno para o facto destes no serem imutveis e poderem sofrer

    modificaes "...When one partner's interactive behavior changes, the other's

    expectations are violated. In response, the first may at least initially resist or

    misinterpret a partner's unexpected interactive behaviors be they positive or negative.

    These normal stabilizing processes usually give away, however, once a child (or adult)

    becomes conscious that the old model no longer works. " (Bretherton & Munholland,

    op.cit., p. 92)

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    Captulo 1- A Teoria da Vinculao 16

    1.4 - Situao Estranha

    As diferenas individuais na qualidade e organizao da vinculao foram

    estudadas por Ainsworth e Wittig's (1969), que desenvolveram um procedimento

    laboratorial -Situao Estranha - para avaliar a relao de vinculao me-filho.

    Falamos de uma prova estruturada e "standartizada", baseada em observaes

    precisas, feitas em ambiente familiar e inseridas em contextos scio-culturais diversos

    (Ainsworth, 1963, 1967; Ainsworth, Bell & Stayton, 1971).

    Atravs da identificao, categorizao e do estabelecimento de escalas de

    graduao dos acontecimentos indicadores da qualidade da relao de vinculao,

    Ainsworth (Ainsworth et ai, 1978) esquematizou os episdios do procedimento

    Situao Estranha e definiu os critrios para a sua avaliao (Quadro-1).

    Quadro-1Situao Estranha - Esquema de ProcedimentosAinswortheWittig's (1969)

    1- Me e beb so introduzidos na sala.

    2- Meebeb sozinhos - beb livre para explorar (trs minutos).

    3- Entra a pessoa desconhecida, senta-se, fala com a me e tenta brincar com o

    beb (trs minutos).

    4- Primeiro perodo de separao - a me sai; a pessoa desconhecida fica

    sozinha com o beb (at trs minutos).*

    5- Primeira reunio - a me regressa, tenta confortar o beb, se necessrio, e

    instiga-o a voltar a brincar. A pessoa desconhecida sai discretamente (trs

    minutos).

    6- Segunda separao - a me deixa a sala, o beb permanece sozinho (at trs

    minutos).*

    7- A pessoa desconhecida entra na sala e tenta interagir com o beb (at trs

    minutos).*

    8- Segunda reunio - a me regressa, sada e pega no beb, a desconhecida sai

    calmamente.

    * Seame sentir que o seu beb est demasiado inconformado, estes episdios devem

    terminar antes de se esgotar o tempo previsto (trs minutos).

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 17

    A sequncia fixa de acontecimentos com aumento gradual dos nveis de stress,

    induzidos atravs da Situao Estranha, alm de criar condies para a observao do

    comportamento exploratrio do beb, permite a activao do seu sistema de vinculao

    que o levar a utilizar estratgias para regular a proximidade com a figura materna.

    1.4.1 - Padres de Comportamento na Situao Estranha

    A classificao deste teste foi equacionada por Ainsworthet ai.(1978), focando-

    se em quatro categorias de comportamento:procura de proximidade, manuteno de

    contacto, evitamento e resistncia.Os dois primeiros comportamentos sero tpicos de

    uma vinculao segura, estando os restantes relacionados com uma vinculao insegura.

    A partir da anlise dos comportamentos interactivos verificados durante o teste,

    particularmente, nas respostas encontradas durante os episdios de reunio com a figura

    de vinculao, Ainsworth et ai. (1978), definiram uma tipologia classificativaconstituda por trs grupos principais-ABC-e por vrios sub-grupos : quatro para o

    grupoBe dois para cada um dos gruposA e B.

    O padro B- constitudo pelos bebsseguros,representa cerca de 65% a 70%

    do total dos casos de Ainsworth em amostras de baixo risco. Utilizam a me com base

    segura de explorao e interaco com o meio ambiente. Nos episdios de separao

    intensificam o seu comportamento de ligao me, diminuindo os comportamentos de

    explorao. Na reunio procuram interaco com a me (BI e B2) ou proximidade e

    contacto (B3 e B4). A preferncia pela me em relao pessoa desconhecida

    marcante.

    Os bebs do grupo A - inseguros-evitantes constituem 20% do total dos casos

    de Ainsworth em amostras de baixo risco. No procuram proximidade, contacto ou

    interaco com as suas mes nos episdios de reunio. Parecem ignorar o regresso da

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 18

    figura de vinculao, podendo existir um esboo de saudao ou aproximao casual,

    seguida se comportamento de evitamento (A2), ou uma situao de total desinteresse

    pela presena da me (Al) . A pessoa desconhecida tem um nvel de aceitao muito

    semelhante ao que dado me.

    Os bebs do grupo C - inseguros-resistentes,preenchendo 10% a 15% do total

    dos casos em anlise, demonstram uma ansiedade de separao permanente, mesmo nos

    perodos de pr-separao. Nos momentos de reunio demonstram uma atitude

    ambivalente para com a me, procurando e, simultaneamente, resistindo ao contacto.

    Um sub-grupo Cl combina resistncia com procura de proximidade; os bebs C2

    caracterizam-se por maiores ndices de resistncia associada a um comportamento

    passivo. A pessoa desconhecida para o beb C motivo de receio.

    Os padres de vinculao A B C englobam 85% a 90% da populao de baixo

    risco (Main & Solomon, 1986; Main & Weston, 1981). Persiste, no entanto, um

    pequeno grupo de crianas cujos padres de comportamento (mltiplos, desorganizados

    e por vezes anmalos) so difceis de enquadrar na tipologia acima descrita, tendo sido

    designados como atpicos -tipo D.

    1.4.2 Estabilidade dos padres de vinculao

    Bowlby viu, mais uma vez, consolidada a sua tese universalista atravs de

    estudos que tm vindo a ser desenvolvidos com base no procedimento Situao

    Estranha. Estes, advogam a existncia de uma propenso universal para a criana

    desenvolver estratgias de vinculao seguras (van IJzendoorn & Kroonberg, 1988).

    Existiro alteraes a esta norma em bebs expostos a factores adversos, aquando do

    estabelecimento da sua relao de vinculao.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 19

    Brenner (1994) releva os factores scio-culturais na organizao

    comportamental da vinculao, assinalando que as tendncia biolgicas universais

    sofrem alguma s alteraes de carcter adaptativo em funo de factores de ordem

    cultural. Como exemplo podem referir-se os estudos de Takahaski (1990) no Japo e

    Sagi et ai. (1985) em Israel, em que a proporo de sujeitos inseguros ,

    significativamente, superior ao que temos vindo a descrever.

    Tambm a estabilidade e qualidade da vinculao de todos reconhecida (Main

    & Weston, 1981 ;Vaughn, Egeland, Sroufe & Waters, 1979), sabendo-se que mudanas

    na qualidade da vinculao ocorrem quando acontecimentos tais como aumento do

    stress familiar, alterao da personalidade parental ou do suporte social, so

    suficientemente agressivos para alterar os modelos representacionais de vinculao

    previamente estabelecidos.

    Para Meins (1997) o procedimento Situao Estranha, apesar das suas

    qualidades de fidedignidade e estabilidade, apresenta algumas limitaes, sendo uma

    delas a reduzida faixa etria que abrange (zero aos dois anos) e o facto de, como teste

    laboratorial, necessitar de uma base institucional para a sua aplicao.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 20

    1.5 - Padres de Vinculao e seus Determinantes

    Deve-se a Ainsworth (Ainsworth et ai., 1978) a identificao de trs padres de

    vinculao e das condies que os favorecem. Aqueles distinguem-se pelas estratgias

    comportamentais utilizadas pela criana, em ambiente desconhecido, para regular a

    proximidade com a me e utiliz-la como base segura de explorao.

    Consoante as caractersticas especficas de interaco me-filho, estabelecem-se

    diferenas individuais na relao da dade, que so agrupadas sob a forma de padres de

    vinculao. Assim, a vinculao ser segura se a me for sensvel s necessidades e

    sinais da criana e se lhe responder de forma positiva, rpida e fivel. A criana ser

    insegura e vitante se a me for insensvel e se impuser criana de forma intrusiva.

    Apresentar um perfil resistente se a me alternar as suas manifestaes entre uma

    atitude de rejeio e demonstraes excessivas de afecto.

    Estudos desenvolvidos por Ainsworth (1985), Main e Weston (1981), Main,

    Kaplan e Cassidy (1985), Sroufe (1983, 1985) e Waters, Vaughn e Egeland (1980)

    demonstraram que os padres de vinculao so influenciados pela forma como decorre

    a interaco com a figura prestadora de cuidados mais prxima, considerada com papel

    proeminente no desenvolvimento social e emocional da criana.

    Contudo, estas consideraes tm vindo a suscitar controvrsia junto de outros

    autores que enfatizam o contributo da criana no desenvolvimento do processo de

    vinculao, salientando os factores congnitos e constitucio-maturacionais como

    influentes primordiais neste contexto.

    Portugal (1998), comenta que "...dadas as capacidades, competncias e

    diferenas individuais dos bebs, estes tm com certeza, um papel crucial na

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 21

    vinculao, pelo que a ausncia de investigao e reflexo a este nvel parece ser uma

    lacuna importante nos estudos em questo... " (p.67).

    Sobre este assunto deter-nos-emos em captulos posteriores.

    A vinculao segura

    O padro de vinculao seguro que est associado a um desenvolvimento

    emocional equilibrado emerge de uma histria de cuidados responsivos. As mes de

    bebs seguros respondem mais consistente e contingencialmente s solicitaes de

    interaco social dos seus filhos: percebem os sinais do beb (choro, riso, vocalizaes,

    etc), interpretam-nos correctamente, seleccionam e implementam uma resposta

    adequada (Ainsworth et ai, 1978; Bowlby, 1988/1992; Isabella & Belsky, 1991;

    Portugal, 1998). Por outro lado, tm capacidade para manter a amplitude dos nveis de

    excitabilidade da criana, dentro dos limites necessrios, de forma a estabelecer a

    interaco sem atingir intensidades que possam causar situaes de perturbao (Shore,

    1996).A mesma autora comenta que o nvel de excitabilidade ptimo est associado a

    um equilbrio na aco dos sistemas simptico e parassimptico e a uma modelao

    correcta dos nveis de afectividade e ateno. A criana constri desta forma um

    conceito de me predizvel, permitindo-lhe desenvolver capacidades de antecipao e

    um sentimento de eficcia.

    So ainda Ainsworthet ai. (1978) na prossecuo da sua investigao sobre as

    qualidades interactivas do comportamento materno que desenvolvem uma escala de

    avaliao em que so consideradas dimenses como: sensibilidade/insensibilidade;

    aceitao/rejeio; cooperao/interferncia; acessibilidade/ignorar; qualidade do

    contacto corporal com o beb e reactividade ao choro do beb. Os resultados da

    investigao com a utilizao dos parmetros referidos, bem como os trabalhos

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 22

    subsequentes desenvolvidos por Main et ai, (1979); Belsky, Rovine e Taylor (1984);

    Grossmann, Grossmann, Spangler, Suess e Unzner (1985); Isabella (1993), demonstram

    que asensibilidade materna(capacidade para perceber e interpretar os sinais da criana

    e responder-lhe pronta e adequadamente) so determinantes no estabelecimento de

    padres de vinculao seguros na criana.

    No entanto, na mesma linha de pesquisa a meta-anlise de Goldsmith e Alansky

    (1987) vem sugerir a existncia de uma fraca relao entre vinculao segura e a

    sensibilidade parental.

    Ao avaliar a qualidade da vinculao, a teoria de Bowlby (1969/1982) foca-se

    essencialmente na dinmica da relao didica em detrimento das caractersticas

    individuais de cada um dos elementos. Por outro lado, a meta-anlise de Wolf e van

    Uzendoorn (1997), ao centrar-se na vinculao e sensibilidade materna releva aspectos

    da qualidade do comportamento materno, tais como a sensibilidade e a sincronia.

    Com efeito, conceitos como mutual idade (orientao da dade para o mesmo

    objectivo),sincronia(reciprocidade e gratificao das trocas didicas),apoio (ateno e

    auxlio), atitude positiva (expresso materna da afecto positivo) e estimulao

    (entendida como aces dirigidas ao beb) surgem como reas a considerar, com forte

    influncia, no desenvolvimento da vinculao segura.

    Miller (1997) analisou numerosos estudos realizados nas ltimas dcadas, cujos

    resultados sugerem que as mes, cujos bebs estabelecem uma relao de vinculao

    positiva interpretam os seus sinais, atribuindo-lhes intencionalidade e respondendo-lhes

    em conformidade. Mostram prazer em estar com eles, em pegar-lhes ao colo, tm

    contactos face a face mais abundantes e mais prolongados, so mais sensveis na

    alimentao. Refere, ainda, a importncia dos contactos corpo a corpo (contactos

    tcteis) e dos afectos, no desenvolvimento da vinculao.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 23

    Este quadro tctil-afectivo remete-nos para os trabalhos de Ainsworth et

    a/. (1978), que comentam ser a me da criana segura usada como base para a

    explorao do ambiente (o que proporciona criana mais oportunidades de interaco

    com o exterior), encorajando a criana a agir por si prpria, oferecendo-lhe ajuda s

    quando solicitada.

    Como concluso final do seu estudo sobre a criana segura e desenvolvimento

    cognitivo, Meins (1997) refere que os contextos de interaco da dade centrados em

    objectos (ou seja, mediados por brinquedos e pela aco conjunta da dade sobre estes),

    so os mais importantes para o estabelecimento de uma vinculao segura e que o

    aspecto mais importante do comportamento materno, que concorre para o

    estabelecimento de uma vinculao segura, a propenso para tratar o filho como

    "mental agent" (p.137), isto , como um indivduo com pensamento prprio,"...one of

    the most factors in mothers'ability to interact with their children in a sensitive way is

    their greater mind-mindedness, or proclivity to treat their infants as individuals with

    minds" (Meins, 1997, p.139).

    Siegel (1998), ao estabelecer a relao entre os processos mentais e os de

    vinculao, insiste que para a constituio de uma vinculao segura primordial existir

    por parte do prestador de cuidados uma capacidade razovel de reflexo sobre emoes,

    percepes e atitudes. A existncia no prestador de cuidados desta capacidade reflexiva

    sobre a actividade da mente ser, segundo Siegel, fundamental, para a emergncia de

    uma forte componente de interaco emocional na dade, onde pressuposto que a me

    responda de forma contingente s solicitaes da criana.

    Meins (1997), ao realizar diversos estudos nos quais procurou estabelecer

    relaes entre a segurana da vinculao e algumas caractersticas do desenvolvimento

    encontrou, nas crianas seguras, uma aquisio de linguagem mais precoce,

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 24

    acrescentando que elas beneficiam, aplicam e compreendem melhor as instrues dadas

    pelos adultos em relao realizao de tarefas. Acrescenta, ainda, que estas crianas

    tm mais oportunidades de vivenciarem interaces didicas centradas no objecto,

    devido sua capacidade em utilizarem a me como base segura de explorao,

    mostrando maior interesse e permanecendo maior espao de tempo em actividades de

    explorao mediadas por objectos.

    A vinculao insegura-evitante

    O padro de vinculao inseguro-evitante gerado pela representao interna da

    me como rejeitante, no correspondendo s solicitaes de conforto, proteco e

    contacto por parte dos seus filhos (Bowlby, 1988/1992; Colin, 1996; Portugal, 1998).

    Os comportamentos que predominam na criana so de evitamento da proximidade e do

    contacto, sendo a resposta chegada da me (na Situao Estranha), inexistente ou dada

    tardia e contraditoriamente; nesta ltima situao a procura de proximidade surge

    associada ao comportamento de evitamento.

    A me da criana vitante tendo mais dificuldade em expressar afecto, manifesta

    um comportamento introvertido algo resistente e relutante organizao do

    comportamento e ateno do filho. Similarmente, mantm, habitualmente, uma postura

    em que a cabea se situa acima do nvel da criana impedindo as transaes afectivas

    atravs do olhar (Shore, 1996).

    Poder existir alguma averso ao contacto fsico, o que levar a atitudes de

    bloqueamento dos comportamentos de procura de proximidade e manuteno de

    contacto por parte da criana. Joseph (1992) comenta que a interaco entre uma dade

    que no responde apropriadamente ao contacto fsico pode induzir uma atrofia a nvel

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 25

    de parte dos ncleos lmbicos, responsveis por dfices emocionais e introverso no

    domnio social.

    Para Joseph (op. cit.), esta transmisso de averso efectuada atravs dos

    hemisfrios direitos de ambos os elementos da dade. J Davidsonet ai. (1990) referem

    a activao especfica da regio fronto-orbital direita durante esta situao de

    evitamento.

    A criana com vinculao insegura-evitante no tenta atrair a ateno do adulto,

    no parece interessada na manuteno de contacto, dificilmente expressando os seus

    sentimentos em situao de perigo ou de stress. Segundo Shore (1996), a criana

    insegura vitante tem representaes de insatisfao e rejeio relativamente ao

    contacto didico, evitando a forma de comunicao emocional transmitida pela face da

    me.

    Em termos de regulao autnoma verifica-se na criana vitante um aumento

    do tnus parassimptico, sendo o equilbrio do SNA regulado pelo ramo parassimptico

    (Izardet ai, 1991). Este quadro implica a diminuio dos nveis de estimulao scio-

    emocional, sentimentos de tristeza, diminuio do ritmo cardaco e da capacidade para

    experienciar afectividade, tanto positiva como negativa.

    A tendncia, por parte da me, para a adopo de comportamentos de

    sobrestimulao e intrusividade, no deixando espao para os desejos de autonomia do

    seu beb, desencorajando-o de explorar o meio, um outro aspecto a considerar na me

    da criana insegura-evitante (Isabella & Belsky, 1991).

    O desenvolvimento de um comportamento vitante, funciona, para a criana,

    como uma defesa face s expectativas de rejeio e/ou comportamentos de intruso porparte da figura de vinculao, manifestando-se por uma aparente imperturbabilidade,

    com baixos ndices de reactividade emocional negativa.

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    Bowlby (1988/1992), define em traos largos o perfil comportamental destas

    crianas com sendo, por vezes, pouco sociveis e carentes de ateno. O

    comportamento exploratrio menos orientado para o objecto e pouco criativo.

    A vinculao inseguro-resistente

    O terceiro padro de vinculao denominado inseguro-resistente.

    A incerteza sobre a disponibilidade psicolgica da figura de vinculao o

    aspecto dominante desta categoria.

    A imprevisibilidade do comportamento materno em que os momentos com

    caractersticas de sensibilidade, inacessibilidade e intrusividade vo alternando ao longo

    da interaco, provocam na criana o desenvolvimento da representao da figura de

    vinculao como uma pessoa imprevisvel (Isabella, 1993), que levar a sentimentos de

    angstia de separao, determinando comportamentos de excessiva proximidade que

    impedem a explorao do ambiente (Bowlby, 1988/1992; Colin, 1996).

    O comportamento destas crianas descrito como procurando insistentemente a

    ateno, habitualmente impulsivo e tenso com um baixo limiar de resistncia

    frustrao. Podero, tambm, apresentar uma atitude passiva e sentimentos de

    impotncia.

    A me da criana insegura-resistente no adequa a qualidade e quantidade dos

    estmulos s necessidades especficas, de momento, expressas pela criana. Esta falta de

    sensibilidade interfere com a tentativa da criana para manter o equilbrio dos seus

    limiares de excitabilidade, ultrapassando-os e desorganizando-se, o que lhe diminui a

    capacidade de assimilar novas experincias.

    Esta me revela-se com atitudes comunicativas inconsistentes e inconstantes

    tornando-se difceis de interpretar por parte da criana que se depara com uma situao

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 27

    de permanente imprevisibilidade em relao responsividade e disponibilidade

    emocional maternas.

    Deste modo, as alteraes temperamentais so inerentes criana insegura-

    resistente, com alteraes de humor expressas de forma intensa, dificuldades de

    adaptao mudana e irregularidades nas funes biolgicas (Shore, 1996). O

    equilbrio autnomo pende para um favorecimento do ramo simptico com nveis

    elevados de excitabilidade e distrbios regulatrios.

    No dizer de King (citado por Shore, (1996), as vinculaes inseguras-resistentes

    esto associadas a personalidades descontroladas e impulsivas com elevada actividade

    hormonal, a nvel do sistema lmbico, durante as situaes de stress.

    A vinculao atpica - grupo D

    Referenciamos, ainda, um quarto grupo (D), distinto dos padres anteriores (que

    tentavam enquadrar formas de insegurana organizada), pois rene comportamentos

    desorganizados e incoerentes.

    Main e Solomon (1986, 1990) caracterizaram este grupo pela ausncia de uma

    estratgia de vinculao coerente e organizada, evidenciando expresses de confuso e

    desorientao, estereotipias, sequncias de comportamento contraditrio, expresses e

    movimentos incompletos, assimtricos ou despropositados.

    Face ao comportamento acima descrito, bvio que estas crianas so difceis

    de enquadrar nos padres de vinculao originais, sendo por isso aglutinadas na

    categoria D.

    Embora enfermando de uma base emprica robusta sobre a qualidade da resposta

    materna nesta categoria, alguns estudos permitem apurar que (a) as figuras de

    vinculao das crianas D diferem nas representaes das suas experincias de

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 28

    vinculao de infncia devido a no terem resolvido qualquer evento traumtico com

    elas relacionado (Ainsworth & Eichberg, 1991; Main & Hesse, 1990) (b) poder-se-o

    encontrar histrias de maus tratos e abuso na infncia (Carlson, Cicchetti, Barnett, &

    Braunwald, 1989a), problemas psicossociais maternos, incluindo a depresso (Radke-

    Yarrowet ai, 1995), experincia parental de luto no resolvido (Main & Hesse, 1990) e

    outras situaes traumticas no ultrapassadas.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 29

    1.6 - Padres de Vinculao Atpicos

    Embora estando bem definido e identificado o padro de vinculao seguro

    (padro B), tm vindo a ser referenciados na literatura diversos tipos de vinculao

    insegura inconsistentes com a categorizao do sistema de classificao de Ainsworthet

    ai.(1978): padro A vitantes e padro C ambivalentes/resistentes.

    Inicialmente, as crianas cujos comportamentos no se identificaram com os

    critrios e classificao tradicional foram designados como inclassificveis.A primeira

    referncia publicada sobre esta dificuldade de enquadramento classificativo remete-nos

    para 1977, com os trabalhos de Sroufe e Waters (citados por Main & Soloman, 1990).

    Na dcada de oitenta, comeam a aparecer estudos nos quais algumas crianas

    eram classificadas, formalmente, como inclassificveis (U) (Grossman, Huber &

    Warmer, 1981; Main & Weston, 1981). Do debate sobre o que constitui um padro de

    vinculao atpico emergem, posteriormente, diversas perspectivas de abordagem dada

    a complexidade da temtica em estudo (Crittenden, 1985, 1988; Lyons-Ruth, Connell,

    Zoll & Stahl, 1987; Main & Solomon, 1990). Sobre este assunto deter-nos-emos

    seguidamente.

    Barnett e Vondra (1999), propem trs parmetros para a anlise da vinculao

    atpica, considerando que estes no se excluem mutuamente:

    -a relao entre os diferentes sistemas comportamentaisque, numa situao de

    vinculao segura, manifestam um equilbrio ptimo entre os comportamentos

    exploratrio e os de vinculao, surgem de forma desestruturada na vinculao atpica

    em que o padro de vinculao activado explicitamente na ausncia da me, ou

    dirigido para a pessoa desconhecida, ou ainda, acompanhado de reaces de medo e

    receio;

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 30

    -os padres interactivos a nvel comportamental e emocional,so descritos em

    crianas seguras como tendo a intensidade e durao da angstia de separao

    directamente proporcional procura de proximidade e manuteno de contacto

    (Thompson & Lamb, 1984). Num quadro de vinculao atpica verifca-se uma

    proporcionalidade inversa nesta relao.

    Numa dimenso afectivo/emocional baixos nveis de evitamento e resistncia

    devem coexistir com sinais de emoo positiva - sorrisos, vocalizaes - (Waters,

    Wippman & Sroufe, 1979), enquanto uma classificao de vinculao atpica deixa

    prever a existncia de comportamentos de vinculao seguros associados a reactividade

    emocional negativa (Crittenden 1988);

    - a existncia de comportamentos invulgares considerados pelos investigadores

    como no normativos e indicadores de padres de vinculao atpicos (expresses de

    receio, medo e depresso direccionados figura de vinculao).

    1.6.1 - Classificao da Vinculao Atpica

    Uma das hiptese classificativas da vinculao atpica est descrita no Quadro-2

    e corresponde a uma sntese das diferentes metodologias e teorias que tm vindo a

    tomar forma ao longo da histria de pesquisa da vinculao no tradicional.

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    Quadro- 2Critrios de classificao da vinculao atpica

    (adaptado de Barnett&Vondra, 1999)

    Desorganizado

    TipoD

    (Main&Solomon,1990)

    Evitante/Ambivalente

    TipoA/C

    (Crittenden, 1985, 1988)

    Instvel-Evitante

    TipoU-A

    (Lyon-Ruthe/i/.,1987)

    Manifestaes frequentes ouintensas,

    de umoumais,dosseguintes

    comportamentos:

    1- exibio sequencialdepadres de

    comportamento contraditrios;

    2- exibio simultnea de padres decomportamento contraditrios;

    3- expresses e movimentos indirectos,

    mal orientados, incompletose

    interrompidos;

    4- estereotipias, movimentos

    assimtricos, movimentos

    inoportunos, posturas anmalas;

    5- imobilidade provocada pelo medo,"ficar petrificado"emovimentose

    expresses lentos;

    6- ndices directos de apreenso em

    relao aos pais;

    7- ndices directos de desorganizaoe

    de desorientao.

    1- Evitamento moderadoa

    alto,combinado com

    resistncia moderadaa

    alta duranteasreunies.

    2- Procura de proximidadee

    manuteno de contacto

    moderadoaalto como

    tpicodascrianas com

    padro de vinculao

    seguro.

    Marcado evitamento

    na primeira reunio (5

    a 7 na escala de

    classificao de

    Ainsworth) seguido

    de, pelo menos, 4

    pontos a menos na

    segunda reunio (1a 3

    na escaladeclassifica

    o).

    O padro desorganizado/desorientado que pode encontrar-se em cerca de 80%

    das crianas de alto-risco, especialmente, vtimas de maus tratos (Carlson, Cicchetti,

    Barnett & Braunwald, 1989b), apresenta uma ausncia de estratgias de comportamento

    associado presena de uma experincia emocional consistente - o medo relacionado

    com a figura de vinculao - caractersticos do padro D (Main & Hesse, 1990).

    Habitualmente, encontram-se neste grupo histrias de abuso, abandono e maus tratos,

    alteraes psiquitricas na me e outros acontecimentos traumticos.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 32

    As crianas enquadradas nopadro Evitante/Ambivalente (A/C) definido por

    Crittenden (1985, 1988) demonstram uma estratgia comportamental organizada,

    caracterizada por uma super-vigilncia centrada na me, de forma a ajustar o seu

    comportamento permanente alterao de emoes e humor da figura de vinculao.

    Esta, imprime interaco caractersticas de inconsistncia, insensibilidade e falta de

    afecto, podendo-se verificar episdios de abuso da criana. Crittenden (1988), ao

    estudar amostras de risco encontrou elevada percentagem de sujeitos situados no padro

    A/C:60% nos casos de abuso e abandono e 32%. em crianas com baixo peso devido a

    situaes de pobreza.

    O padro Instvel-Evitante (U-A) predominante em amostras de alto risco em

    vtimas de maus tratos e depresso materna (40%) (Lyon-Ruthet ai. 1987). Identificam-

    se somente atravs da situao estranha a nvel dos comportamentos interactivos, pois

    no mantm a estratgia vitante durante a segunda reunio. Pensa-se que o

    estabelecimento deste tipo de vinculao est fortemente relacionado com distrbios na

    relao parental (Lyon-Ruthet al.op. cit.).

    Admitindo, baseados em Bowlby (1969/1982), que existe uma determinao

    biolgica associada sobrevivncia da espcie para o processo de vinculao, este

    desenvolver-se- mesmo perante circunstncias adversas provindas quer do contexto

    ambiental, quer da prpria criana.

    Padres de vinculao atpicos podem inscrever-se em quadros de perturbaes

    do desenvolvimento e de alteraes neurolgicas (Pipp-Siegel, Siegel & Dean, 1999;

    Atkinsonet ai.1999). Os mesmos autores advertem para a necessidade de diferenciar os

    sinais de perturbao biolgica (coreia, dispraxia, distonia, epilepsia focal, hipotonia,

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 33

    estereotipias e tiques) daqueles que caracterizam os comportamentos atpicos de

    vinculao, sob pena de, particularmente na classificao do padro D, surgirem

    situaes de falsos positivos.

    Uma constelao de processos de ordem interna ou externa pode contribuir para

    o estabelecimento de um padro de vinculao atpico. Barnett, Butler & Vondra (1999)

    distinguem os factores biolgicos, emocionais, cognitivos, comportamentais e de

    representao, coadjuvados pela influncia dos contextos ambientais.

    De acordo com os conceitos que temos vindo a discutir sobre a determinao

    mltipla da vinculao e existindo, basicamente, dois grandes grupos de factores que a

    influenciam - os relativos criana e aqueles que dizem respeito ao comportamento da

    figura de vinculao - possvel, ao cruzar este grupo de dados (Quadro-3), identificar

    os determinantes dos principais padres de vinculao atpica (Barnett, Butler &

    Vondra, 1999).

    Quadro- 3Padres de vinculao: determinantes e classificao

    (adaptado de Barnett, Butler & Vondra, 1999).

    esoaes

    cuesO

    c**ao

    U

    Contributo da figura de vinculao

    Contributo

    positivo

    Contributo positivo

    Vinculao Tradicional

    Padres ABCI

    Contributo negativo

    Contributo

    negativo

    Falsa vinculao atpica

    III

    Vinculao atpica comestratgia comportamentalorganizada.

    PadresA/C eDII

    Vinculao atpica semestratgia comportamentalorganizada.

    Padres U-AeD

    IV

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 34

    Observando o quadrante I verifica- se a existncia de um contributo positivo, da

    parte de ambos os elementos da dade, para o estabelecimento de laos de vinculao. A

    classificao desta cair, obviamente, nos padres tradicionais de Ainsworth et ai.

    (1978).

    O quadrante II, pretende referir-se classificao atpica de Crittenden (1988) -

    A/C - e de Main e Solomon (1990) - D - . A figura de vinculao ao mostrar-se

    insensvel, assustadora, contraditria, punitiva, favorece na criana sem perturbaes

    prvias, o desenvolvimento de um padro de vinculao atpico, mas com uma

    estratgia de comportamento definida.

    No quadrante III consideramos as crianas que, por razes biolgicas, no tm

    capacidade para desenvolver os comportamentos de vinculao esperados, mas que no

    manifestam uma vinculao desorganizada. Os comportamentos que evidenciam so

    fruto de uma determinada patologia ou perturbao e no de alteraes no

    estabelecimento de laos de vinculao. Estamos perante uma falsa classificao de

    vinculao atpica.

    O IV quadrante descreve situaes em que o conjunto da dade apresenta

    impedimentos ao desenvolvimento das estratgias de vinculao tradicionais. A criana

    tem mais dificuldade em estabelecer laos de vinculao, quer seja por imaturidade,

    atraso, perturbao do desenvolvimento, ou outras razes e a figura de vinculao no

    desenvolve, tambm, os comportamentos necessrios para ajudar o filho, dadas as suas

    prprias incapacidades. a situao classificada como Instvel-Evitante, englobando

    tambm alguns casos do padro D.

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 35

    1.7 - Vinculao e Temperamento

    A complexidade inerente s relaes vinculao-temperamento, associada ao

    facto de os resultados da pesquisa serem, em grande medida, contraditrios tem

    contribudo para o florescimento de diferentes perspectivas acerca do assunto. Neste

    domnio os debates centram-se, sobretudo, na questo fundamental de se saber at que

    ponto as disposies temperamentais afectam a expresso dos comportamentos de

    vinculao, determinando a configurao dos padres de segurana ou insegurana.

    Enquanto alguns autores sustentam que o estilo comportamental se reflecte directamente

    na qualidade das interaces mantidas entre o indivduo e a figura de vinculao (e.g.

    Kagan 1982, 1984; Thomas, Chess, Birch, Hertzig e Korn, 1963), outros no lhe

    atribuem qualquer relevo significativo (e.g. Grossmann,et ai.,1981; Sroufe, 1985).

    Bowlby (1969/1982) e Ainsworth (Ainsworth et ai., 1978) olharam sempre os

    fenmenos da vinculao como processos contextualizados especificidade de cada

    relao da criana. Esta posio serve de suporte tese que postula que o vnculo

    infantil determinado pelas caractersticas das interaces didicas e no pelas

    variveis que, de alguma maneira , as condicionam (Barnett, Ganiban & Cichetti, 1999;

    Meins, 1997; Vaughn & Bost, 1999).

    Vaughn e Bost (1999) defendem, no obstante, que o temperamento dever ser

    encarado como um factor importante no desenvolvimento do sistema de vinculao.

    Conforme enfatizam "...there is more to temperament than can be explained by

    individual differences in parent-child relationships ..." (Vaughn & Bost, op. cit., p.218).

    Sendo em princpio dois domnios diversos, vinculao e temperamento tm, at

    certo ponto, universos sobrepostos, pois ambos lidam com emoes e comportamentos

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 36

    num registo que os coloca como referncias indispensveis para a compreenso do

    desenvolvimento inter ou intra-pessoal (Vaughn & Bost, op. cit.).

    1.7.1 - Alguns Conceitos de Temperamento

    S por si, a questo do temperamento no pacfica e tem sido alvo da ateno

    dos investigadores. De facto, os contributos trazidos pelas vrias perspectivas fizeram

    do temperamento mais um conjunto de construtos do que um nico conceito. Contudo,

    todos os autores, reforam a noo de individualidade, ou seja, a especificidade da

    varivel temperamento quando analisada no conjunto das interaces. Esta "...reflecte o

    contribuio individual (distinta da relao ou aspectos situacionais ) e que se refere a

    diferenas individuais no estilo comportamental (Portugal, 1998. p. 37). A mesma

    autora comenta que "...o temperamento um modo de ver a criana como trazendo

    contribuies nicas para o mundo... "(p.33).

    O temperamento do beb tem vindo a ser descrito como a forma de expresso de

    emoes especficas (Goldsmith & Campos, 1987; Fox et ah, 1996) ou, no dizer de

    Bates (1987), como o conjunto de padres observveis de comportamento. Concorrem

    para a formao das caractersticas temperamentais aspectos constitucio-maturacionais,

    ambientais e hereditrios.

    Bates (op. cit.) refere algumas convergncias de opinio em torno de conceitos

    bsicos:

    o aparecimento precoce de caractersticas temperamentais; o temperamento

    geralmente assumido como fenmeno resultante de tendncias inatas que interagem

    com o ambiente (Rothbart & Bates, 1998);

    a formao de padres comportamentais relativamente estveis (Buss & Plomin,

    1975).A reforar esta ideia podemos referir baseadas em Rothbart & Bates (1998),

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    Captu lo 1 - A Teoria da Vinculao 37

    que indivduos relacionados geneticamente mostram alguma semelhana na

    evoluo do seu temperamento. Contudo, e segundo os mesmos autores, hoje

    aceite que o temperamento se desenvolve ao longo do tempo, fruto de mltiplas

    influncias, entre elas as decorrentes dos novos sistemas de organizao

    comportamental que se vo desenvolvendo na criana. A estabilidade

    comportamental , actualmente, expressa em termos de perodos limitados no

    tempo;

    a sua origem hereditria ou constitucional - "...heritability has proven to be

    substancial for most broad temperament and personality traits... " (Rothbart &

    Bates, 1998. p. 127 ). Os mesmos autores definem temperamento como

    "...constitutional)? based individual differences in emotional, motor and attentional

    reactivity and self-regulation" (p. 109). Segundo eles a base de um temperamento

    estvel passa pela manuteno, por parte do beb, da integridade dos mecanismos de

    regulao interna e dos limiares de reactividade sensorial. Tambm Rothbart e

    Derryberry (1981) enfatizam os aspectos da reactividade e auto-regulao no

    temperamento, dando-lhe um cariz de base constitucional e evolutivo, em termos de

    desenvolvimento. Fox (1994) refere que diferenas individuais na dimenso

    comportamento/inibio tm antecedentes no funcionamento do sistema nervoso

    central e autnomo;

    a forte influncia dos contextos ambientais"...temperament is shaped by

    environmental cues and consequences, even though the children themselves have an

    impact on the characteristics of their environment. "(Bates, 1987, p. 1113).

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 38

    1.7.2 - Relaes Temperamento-Vinculao

    Tanto as teorias da vinculao como as do temperamento propem-se explicar as

    funes inter-pessoais e o crescimento da personalidade durante a infncia. Contudo, a

    relao entre base-segura, comportamento e representaes, emoo, reactividade e

    humor pouco robusta.

    O modelo de adequabilidade (goodness-of fit) de Thomas et ai. (1963) que

    considera, explicitamente, que o estilo de comportamento do beb influencia a natureza

    das interaces com a figura de vinculao e transforma a natureza dessas mesmasinteraces enfatiza a forma como o temperamento do beb influencia a auto-estima da

    me, produzindo efeitos sobre as respostas maternas e sobre o sentido de eficcia

    maternas. No caso de um temperamento fcil, a interaco decorre de forma agradvel

    sendo fonte de prazer para a dade, reforando na me os sentimentos de competncia e

    a noo de sucesso na relao com o seu beb. A situao inversa propcia aoestabelecimento de interaces difceis com desadequao progressiva de atitudes,

    produzindo na me sentimentos de incompetncia, culpabilidade e insucesso.

    Kagan (1982), prope mesmo, que as categorias de classificao da Situao

    Estranha so devidas criana possuir disposies inatas para reagir s situaes de

    separao. Em oposio, Sroufe (1985) considera diminutas as influncias

    temperamentais do beb na construo da vinculao. Contudo, analisadas atravs de

    uma perspectiva transaccional indubitvel que as caractersticas individuais tm

    influncia na interaco me-filho (Seifer, Schiller, Sameroff, Resnick & Riordan,

    1996).

    Nesse sentido, Sroufe (1985) considera, apesar de tudo, que o temperamento da

    criana deve ser tido, minimamente, em conta na estruturao dos laos de vinculao,

    pois contribui para o desenvolvimento das relaes da dade "... viewing attachment

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 39

    classifications as reflections of the infant-care giver relationship would not exclude

    viewing temperament as an important concept in explaining many aspects of infant or

    caregiver behavior..."(pp. 2-3).

    As investigaes de van den Boom (1994) e van den Boom & Hoeksma (1994)

    mostram que bebs de temperamento marcadamente irritvel tendem a desenvolver,

    com mais probabilidade, vinculaes do tipo inseguro, essencialmente com

    caractersticas vitantes, mas, em situaes nas quais a interaco com o prestador de

    cuidados tem aspectos pouco harmoniosos, pois se a me for alvo de interveno a

    irritabilidade do beb poder no vir a ser sinnimo de insegurana.

    Korner (1984) salienta a importncia do papel materno em bebs com limiares

    sensoriais desajustados, hipo ou hiper-sensveis aos estmulos do contexto circundante,

    que tendem a desenvolver temperamentos irritveis, imprevisveis e de menor

    envolvimento social, se no houver por parte do prestador de cuidados uma aco de

    reduo de tenses e de ajuda na regulao das reaces face a estmulos menos

    agradveis.

    Os resultados encontrados nos estudos de Belsky e Rovine (1987), ao avaliarem

    a relao entre a expresso emocional negativa e a vinculao, baseados na tipologia

    proposta por Frodi e Thompson (1985)1 - sugerem que o temperamento determina

    muito pouco a segurana da vinculao, mas ter influncia mais robusta na forma

    como a segurana ou insegurana so expressas ao longo da Situao Estranha .

    Estamos longe de um acordo de opinies entre investigadores sobre os

    contributos da criana nos processos de vinculao. As variveis temperamento e

    responsividade materna tm sido a pedra angular dos estudos realizados at ao

    1Fstes autores dividiram os oito grupos de classificao da Situao Estranha em dois nicos grupos :S S ^ S a S S S por K L de baixa expressividade emocional negativa e classificados na

    S i t S E s ^ a T o l A1,PA2, BI eB2; o grupo B3-C2 constitudo por bebs de alta expressmdadeemocional negativa classificados na Situao Estranha como B3, B4, L1, UZ-

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    momento. Ser da sua combinao com outros factores contextuais e individuais que

    podero emergir as primeiras concluses que, segundo Crockenberg (1981), devero ser

    analisadas no contexto do modelo transaccional.

    Resumindo, a vinculao assumindo-se como um processo didico e

    transacional ter que ser, permanentemente, analisada num quadro de influncias

    recprocas provindas das caractersticas da me, do filho e da interaco estabelecida

    entre ambos.

    Concluiremos semelhana de Seifer et ai, (1996), que mais estudos de base

    terica ou emprica devero ser incrementados com vista clarificao sobre os

    mecanismos inerentes ao estabelecimento da vinculao e seus antecedentes durante os

    primeiros anos de vida.

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    1.8- A estruturao do Processo de Vinculao no

    Crebro em Desenvolvimento

    Tanto autores da neurobiologia como da vinculao partilham o conceito que as

    experincias precoces so relevantes nos processos de regulao do comportamento, da

    emoo e da memria. (Derryberry & Reed, 1996; Greenspan & Benderly, 1997; Shore,

    1996;Siegel, 1998).

    As interaces me-filho actuando como facilitadoras do crescimento do sistema

    cortico-lmbico, situado no crtex pr-frontal, tm papel preponderante na formao de

    laos afectivos pr-verbais e actuam como contexto facilitador das funes

    homeostticas, regulatrias e de vinculao (Shore, 1996). A organizao e

    desenvolvimento do crebro da criana ocorre no quadro da interaco com outro

    crebro atravs de trocas afectivas entre o beb e a me; ou, no dizer de Siegel (1998, p.

    2), "...human relationships shape the brain structure from wich the mind emerges... ".

    As experincias afectivas entre o beb e a me so gravadas e armazenadas na

    regio fronto-orbital do crtex da criana e nas suas conexes corticais e sub-corticais.

    (Shore, 1996; Siegel, 1998). Aquela regio cortical, situada entre o sistema lmbico e as

    regies associadas do neocortex, est dependente das experincias de vinculao para o

    seu crescimento, regula o Sistema Nervoso Autnomo (SNA), relacionando-se de perto

    com o processo de formao da mente (Siegel, 1998).

    Devido s suas ligaes com o crtex sensorial e motor e com os centros

    lmbicos e do SNA, a regio fronto-orbital tem uma importante funo adaptativa e

    emocional; constitui-se como determinante na rea afectiva, estando unicamente

    envolvida nos comportamentos emocionais, sociais (Shore, 1996) e nos processos auto-

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    regulatrios (Damsio, 1994). As reas fronto-orbitrias participam, deste modo, nos

    processos de vinculao e de regulao homeosttica.

    A quebra de laos de vinculao considerada por Reite e Capitano (citados por

    Schore, 1996) como comprometedora da homeostasia, causadora de distrbios na

    actividade lmbica e de disfuno hipotalmica. Greenspan (1981), por seu lado, refere a

    influncia negativa de ambientes desfavorveis na ontogense dos sistemas de

    vinculao, homeostticos e auto-regulatrios.

    No decorrer do primeiro ano de vida, especialmente, aps os primeiros trs

    meses, altura em que aumenta a mielinizao do crtex occipital, as interaces mtuas

    me-filho tm papel fundamental no desenvolvimento scio-emocional da criana.

    Neste processo, Bowlby (1969/1982) salienta a importncia da viso no

    estabelecimento do processo de vinculao, no que apoiado teoricamente por Fox

    (1996) que afirma ser a expressividade emocional da face da me o estmulo visual mais

    potente no ambiente da criana e que o interesse do beb na contemplao,

    especialmente, dos olhos da me, representa uma forma intensa de comunicao

    afectiva.

    Cabe me modelar a interaco, em termos de quantidade, variabilidade e

    tempo, ajustando-a s capacidades do beb para integrar os estmulos, de forma a que

    no se estabeleam situaes de hiper ou hipo-estimulao. Por outro lado, a capacidade

    da criana para estabelecer interaces sincrnicas com a me, mesmo ainda que

    emergentes, marca as caractersticas do processo de vinculao (Schore, 1996).

    A me no s actua com modeladora do estado afectivo da criana, mas tambm,

    como reguladora da produo de neuro-hormonas influentes no sistema de genes que

    programam o crescimento estrutural do crebro (Shore, 1996). Para Siegel (1998), estes

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 43

    genes requerem a existncia de experincias para se activarem, influindo assim estas,

    directamente, nos processos de estruturao cerebral.

    A actuao da mente da me tem papel modelador na mente da criana

    ajudando-a a formar circuitos neurais que permitam a auto-regulao cerebral, num

    crescendo de sofisticao, medida que decorre o seu processo de maturao.

    Sintetizando, a relao de vinculao me-criana influencia a actividade da

    regio fronto-orbital que, por sua vez, domina as funes autonmicas tendo estas

    influncia primordial no hemisfrio direito (Dawson, 1994) dominante nos trs

    primeiros anos de vida da criana. Deste hemisfrio esto dependentes funes tais

    como os aspectos no verbais da linguagem (tom de voz e gestos), a expresso facial do

    afecto, a percepo da emoo e regulao do SNA, processos estes, fundamentais para

    a comunicao precoce entre a me e o beb (Thervarthen, 1996).

    Nelson (1994) foca o papel do crtex fronto-orbital como o substracto neural do

    temperamento durante o primeiro ano e meio de vida, sendo nas reas lmbicas,

    temporais e frontais que ocorre a modulao do temperamento em caractersticas de

    personalidade.

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    Captulo 1 - A Teoria

    1.9-Sntese

    Na sua experincia clnica, Bowlby observou vrios quadros de perturbao em

    crianas cujas histrias da relao com as suas mes era conturbada. Pertinentemente, o

    autor questionou-se sobre o papel da relao me-filho no desenvolvimento. Mais tarde,

    com o seu colega Robertson, verifica a crescente perturbao das respostas emocionais

    em crianas hospitalizadas e separadas das mes. natural inquietude e ansiedade

    iniciais destas crianas, seguir-se- a crescente perturbao da ligao me que

    tender para alteraes na organizao da vinculao. Assim, Bowlby (1969/1982)

    conclui que a separao ou perturbao da vinculao me-filho tinha consequncias

    nefastas imediatas e ao longo do processo de desenvolvimento.

    Volvidos 50 anos, a teoria da vinculao justifica em termos filogenticos,

    biolgicos e psicossociais o papel crucial e definitivo do apego me-filho no

    desenvolvimento. A vinculao segura fornece criana a confiana necessria para

    explorar o meio e aceitar a interaco com estranhos. Esta, alis, parece ser a

    justificao das inmeras associaes obtidas entre o vnculo seguro e melhores

    desempenhos cognitivos ( Frankel & Bates, 1990; Meins, 1997) e competncias sociais

    (Main & Weston, 1981).

    Naturalmente, a comunidade cientfica deteve-se sobre as origens da vinculao,

    analisado o contributo materno, o temperamento infantil, os quadros familiares

    alargados, sociais e educativos para concluir que a sensibilidade ou intrusividade

    maternas podem afectar a qualidade da relao, no obstante as considerveis diferenas

    de temperamento infantil e a condicionante variabilidade de quadros familiares, sociais

    e educativos. Por exemplo, a vinculao segura tende a rarear nas crianas de

    temperamento difcil (Thomas et ah, 1963; Kagan, 1982), ou com mes intrusivas

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 45

    (Isabella, Belsky & Eye, 1989), ou criadas em creche (Lamb, Sternberg & Prodromidis,

    1992), ou oriundas de meios scio-economicamente muito desfavorecidos (Colm,

    1996). Na verdade, podemos encontrar diferentes factores de ponderao para todas

    estas variveis desconhecendo, contudo, quais as influncias preponderantes, ou se a

    sua aco conjunta que determinante.

    Ser licito considerar que a vinculao segura funciona como um factor de

    resilincia na criana sujeita a situaes de risco e como um factor de optimalidade

    naquela onde so inexistentes quaisquer tipos de vulnerabilidades. A resilincia, ou seja,

    a invulnerabilidade a efeitos adversos do ambiente, refere-se a uma qualidade individual

    e intrnseca prpria criana sendo, porm, forjada atravs dos factores de proteco

    que influenciam as respostas positivas da criana s agresses do ambiente. Quer a

    vulnerabilidade, quer a resilincia constroem-se de acordo com factores intrnsecos

    criana e todo o ambiente externo, fsico e psico-social. Todavia, no se trata se

    situaes absolutas, ou sequer estticas, mas sim em permanente evoluo e

    transformao. Poulsen (1993) sugere que inerente a cada criana h sempre uma

    resilincia potencial que se ope s caractersticas de vulnerabilidade desta. Assim, o

    equilbrio a nvel individual entre as influncias dos factores de risco e os de proteco

    que ir determinar o grau de risco existente "Mvown theorizing and that of others draw

    attention to the need to consider stresses and supports simultaneously...or, in terms of

    developmental psychopathology, risk and protective factors... "(Belsky, 1999, p. 260).

    Enquanto para Poulsen (1993) a qualidade da interaco criana/prestador de

    cuidados determinante na construo das caractersticas da criana, Bronfenbrenner

    (1979) ao referir-se etiologia dos padres de vinculao, no quadro do paradigma da

    ecologia do desenvolvimento humano, chama a ateno para todas as influncias do

    contexto ambiental da dade, considerando que estas se desenvolvem como um sistema

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 46

    dinmico caracterizado por padres de interaco recprocos em que "the principal

    main effects are likely to be interactions'."(p.38). De acordo com esta perspectiva, a

    harmonia das foras ambientais no o nico determinante dos resultados do

    desenvolvimento. Pessoas diferentes reagem de forma diferente ao mesmo meio, tal

    como diferentes meios reagem diferentemente mesma pessoa.

    Neste complexo processo de interaco dinmica da dade , para muitos

    autores, relevante o papel desempenhado pelas reaces e comportamentos da criana.

    A capacidade de regulao emocional do beb aparenta estar relacionada com as suas

    competncias para modular e integrar a informao sensorial, inserindo-se, desta forma,

    no mbito dos problemas de auto-regulao (Case-Smith, Butcher & Reed, 1998). As

    perturbaes regulatrias, entendidas como dificuldades em regular os processos,

    comportamentos fisiolgicos, sensoriais, motores, de ateno ou afectivos, sero um

    factor a considerar no estudo do contributo da criana para o desenvolvimento de uma

    vinculao segura.

    Os factores determinantes do processo de vinculao tm sido, exaustivamente,

    analisados pelos investigadores, no entanto as razes pelas quais a presena de factores

    de risco afectam os resultados da vinculao ainda no esto totalmente clarificadas.

    Colin (1996) apresenta algumas sugestes para dar resposta a estas questes: "To learn

    more about the relative influences of the various factors that may affect attachment

    outcomes, we need to make some improvements in methodology. First, the D category

    should be used in all new Strange Situation studies. Second, we need to make

    naturalistic observations of infants longer and more often; just two or three glimpses at

    interaction sometime in the first year do not tell us enough. Third,we need improved

    measures of temperament, marriage quality, and social support. Fourth, we need some

    well-designed experiments to test whether relations between variables are causal or

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    Captulo 1 - A Teoria da Vinculao 47

    merelycorrelational"(p.125). Julgamos oportuno acrescentar uma referncia ao estudo

    das funes regulatrias e neurofisiolgicas do beb que, com o avano verificado na

    pesquisa nos ltimos anos, podero vir a tomar uma maior preponderncia na anlise do

    processo de vinculao.

    As implicaes, originadas por perturbaes do sistema neurofisiolgico do

    beb,sero objecto de estudo no prximo captulo.

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    Captulo 2- A perspectiva constitucio-maturacional

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    Captulo 2 - A perspectiva con st it uci o-m at ura don al ^^^ ^^4 9^

    2.1 - A Actividade Regulatria

    2.1.1 - Regulao

    O conceito de regulao refere-se ao processo segundo o qual um sistema

    modula ou governa a reactividade de outro sistema (Derryberry e Reed, 1996).

    Considera-se extensvel noo de regulao a estrutura de ligaes, entre percepo,

    comportamento, emoes e cognio. Assim, uma perturbao regulatria envolver

    dificuldades na modulao do comportamento, da afectividade e dos processos

    sensoriais e motores.

    Perturbaes regulatrias na criana podem aparecer sob mltiplos aspectos

    envolvendo domnios to dspares como o neural, fisiolgico, emocional, cognitivo,

    representacional e o das interaces sociais (Cicchetti, 1996; Greenspan, 1994),

    envolvendo concretamente o processamento sensorial, a comunicao, e o controlo dos

    nveis de excitabilidade.

    Os sintomas patognomnicos destas perturbaes tais como a incapacidade para

    regular os ciclos do sono, irritabilidade, hiper-sensibidade estimulao sensorial,

    reactividade emocional, alteraes no planeamento motor, surgem muitas vezes

    associados a problemas relacionados com o processamento da integrao sensorial

    (Ayres, 1979; DeGangi & Greenspan 1988, 1989; Nelson, 1999) e com o

    funcionamento do Sistema Nervoso Autnomo (Porges, 1995; DeGangi, DiPietro,

    Greenspan & Porges, 1991).

    Os processos de regulao e as perturbaes regulatrias, nos primeiros anos de

    vida, tm sido alvo de inmeros estudos que os tm analisado sob o prisma de diferentes

    teorias. Salientaremos aquelas que mais de perto se relacionam com o nosso trabalho.

    Numa perspectiva bio-psicolgica e comportamental analisaremos os contributos de

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    Captulo 2 - A perspectiva co ns ti tu ci o- ma tu ra do na ^^ ^^ ^5 0^ ^^

    Ayres (1972, 1979) sobre a teoria de integrao sensorial, o de Porges (1995, 1997)

    acerca do papel do SNA e o de Greenspan with Benderly (1997), na regulao do

    desenvolvimento emocional. A esta constelao de abordagens, que embora partindo de

    pressupostos muito prprios e especficos se cruzam e inter-relacionam, daremos,

    seguidamente, ateno mais detalhada.

    2.1.2 - Perturbaes Regulatrias

    Atentando na influncia dos padres constitucio-maturacionais sobre o

    temperamento do beb, debruar-nos-emos, com algum pormenor, sobre a temtica da

    actividade regulatria.

    Podemos caracterizar as perturbaes regulatrias como a dificuldade da criana

    em organizar o comportamento, a expresso emocional, as informaes provindas dos

    diferentes canais sensrias, a ateno e os processos fisiolgicos de forma a propiciar as

    bases mais adequadas ao desenvolvimento e adaptao do indivduo sociedade

    (Cicchetti, 1996).

    Os bebs que constitucionalmente apresentam temperamento difcil, possuem

    luz da perspectiva regulatria caractersticas de hipo ou hiper-sensibilidade, ou

    dificuldades de organizao do sistema nervoso que alm de lhes impedir a adaptao starefas do quotidiano, influenciam negativamente as suas interaces, tornando-os

    vtimas dos seus "padres constitucio-maturacionais" (Greenspan, 1994,1998).

    Os padres ou perfis constitucio-maturacionais podem ser entendidos como o

    apetrechamento, a ferramenta biolgica da criana, que lhe assegura a p