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Publicação bimestral - Ano VI - N 0 30 - AGOSTO/SETEM B RO <)3 Preço em todo território nacional: CRS 85,00 O Jornal que fala a sua língua ~ ^ ~ m o massacre dos Candelária: trabalhadores precoces - Milton Gonçalves págna3 CUT entra na luta contra o racismo Exclusivo: entrevista com Vicentinho púgínu? Casamento inter-racial: derrubando preconceitos páginas 8 e 9 Enquanto os governos federal, estadual e municipal discutem o caos social, de olho nas próximas eleições presidenciais, crianças e adolescentes negros e mestiços continuam sendo exterminados EDITORIAL - página 2 ^ Christovam e Tatheena estão casados sete anos

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Publicação bimestral - Ano VI - N0 30 - AGOSTO/SETEM B RO <)3 Preço em todo território nacional: CRS 85,00 O Jornal que fala a sua língua

~ ^ ~m o massacre dos Candelária: trabalhadores

precoces-

Milton Gonçalves págna3

CUT entra na luta contra o racismo Exclusivo: entrevista com Vicentinho púgínu?

Casamento inter-racial: derrubando preconceitos páginas 8 e 9

Enquanto os governos federal, estadual e municipal discutem o caos social, de olho nas próximas eleições presidenciais, crianças e adolescentes negros e mestiços continuam sendo exterminados

EDITORIAL - página 2

^

Christovam e Tatheena estão casados há sete anos

MAIORIA FALANTE AGOSTO/SETEMBR093

EDITORIAL

Vergonha histórica A instituição da Lei do Ventre Livre, em 1871, ao

libertar os filhos de escravos, não previu um programa social que permitisse a conquista de sua cidadania. O mesmo ocorreu em 1888, com o fim

legal do trabalho escravo. Assim, 104 anos depois, a reforma agrária, a descentralização de renda, a educação, a saúde e o trabalho digno ainda não são benefícios que contemplam a maioria dos brasileiros.

Desse modo, tanto tempo depois, o que se observa é que o Estado pouco mudou na maneira de tratar os filhos das classes espoliadas: através do sentido "caritativo", copiado dos setores conservadores da igreja católica, ou mediante a ação punitiva, não lhes garante o ensino básico com qualidade. Ambas as alternativas geram políticas e serviços públicos sem nenhuma intervenção na realidade da juventude pobre, fato diferente do que ocçrre com os filhos da classe dominante, mostrando a existência do separatismo à brasileira.

Dentro desse espírito, o Estado destinou aos jovens pobres^os "depósitos para menores", fixando-os como mão-de-obra Uetrada e desqualificada, desde os tempos do Serviço de Atendimento ao Menor (Sam), passando pela Funabem e a versão neoliberal do Centro Brasileiro para a Infância è Adolescência - CBIA. Enquanto ao empresariado da indústria e comércio coube a contribuição na condução do Senai, Senac, Sesi e Sesc.

Passados 50 anos do estabelecimento de políticas, programas e serviços públicos, tanto do Estado quanto da iniciativa privada, verifica-se que a vontade política das elites econômicas é determinante ao garantir somente a um pequeno segmento de pobres a ascensão social, condicionando a grande maioria ao analfabetismo, tornando-as presas fáceis dos grupos de narcotráfico e de extermínio. Os crimes ocorridos contra os meninos de Acari, o linchamento e morte de três jovens em Olaria e o massacre de crianças e adolescentes na Candelária, em pleno Centro do Rio de Janeiro, comprovam isto.

A comoção nacional não pode servir de pretexto para que as sombras dos defensores do antigo Código de Menores retomem com o aceno de que a simples retirada dos meninos e meninas das ruas resolverá a situação. O crime hediondo cometido na Candelária deve servir de alavanca para toda sociedade civil, no sentido de reivindicar medidas profundas na estrutura social e urgenciais no imcdiatismo de soluções para estes meninos e meninas que procuram as ruas como última alternativa sócio-econômica.

O extermínio da Candelária aponta para o absurdo quadro social brasileiro, onde uma juventude - geralmente branca - é pertencente à nação brasileira, com acesso garantido à educação, lazer, etc. Enquanto uma outra, constituída por negros, mestiços, nordestinos e miseráveis, forma a nação de marginalizados, premida a buscar aos seis, sete, dez anos a complementação do salário indigno que seus pais ou mães solteiras recebem.

O massacre dos trabalhadores precoces não pode continuar.

• Em relação à sua carta, apraz-me comunicar-lhe que esta Embaixada esli interessada na subscrição por um ano, parabenizando os senhores pelo propósito e qualidade do Jornal.

José Toral Goyanes/Adido Administrativo da Embaixada da Espanha/DF. ÒM ' Vimos através desta agradecer o envio do JMF, fazendo-lhe ciente da grande satisfação que sentimos em relação aos artigos publicados.

Gilda Almeida Souza/Prcs. Sindicato dos Farmacêuticos do Est. SP

• Tenho a grata satisfação de informar a V.Sas que no dia 16.06.93 fui nomeado para o cargo de Titular da Delegacia do Meio Ambiente. Unidade

de Polícia Judiciária, integrante da Estrutura do Departamento Federal de Polícia Especializada da Secretaria do Estado de Polícia Civil do RJ. Devido aos objetivos em comum, em diversos pontos da legislação, acredito ser oportuno colocar a mim e a DMMS à disposição de V.Sas para comungar o trato dos assuntos pertinentes à competência da DMMA.

Luiz Alberto Antunes/Delegacia Móvel do Meio Ambiente/RJ

■ Queremos renovar nossa assinatura e dizer que continuamos disponíveis como um ponto de venda do JMF em nossa livraria Afro Alternativa. Frei David/RJ

• É muilo bom saber que nem tudo está perdido. Recentemente tive a sorte de ficar conhecendo o JMF. Foi uma grande alegria. Parabéns à equipe.

Maria José/Viçosa

* Estamos, através da presente, comunicando o início do funcionamento da Biblioteca do Meio Ambiente e Urbanismo da Área. Solicitamos seu apoio para enriquecimento do acervo jã existente.

José Chacon de Assis/Coordenador de Comissão de Urbanismo/RJ

• O Movimento de Resistência Ecológica Boto Negro, agradece o recebimento do JMF e aproveita para solicitar a renovação da assinatura

Adroaldo Reis Caldas/Movimento de Resistência Ecológica Boto Negro/RJ .

■ Nós, Comunidade Indígena Kaingag de Irai, estamos solicitando o apoio do JMF para pressionar o Ministério da Justiça para homologação de nossa terra, através de cartas, abaixo-assinado, telegramas, etc.

Comunidade Indígena Kaingang/RS

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riAimiÁ FALANTE

o massacre dos Candelária: trabalhadores

precoces

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SERVIÇO MAIORIA FALANTE DE COMUNICAÇÃO RACIAL E POPULAR

Presidente: Togo laruba; Vke-Presklenle: AiieteSilva; l* Secretário: Paulo Roberto; 2*Sccretário:QiaDeScuza;lcTcMiniroe JuliaTheodcro;

2* Tesoureiro: Fátima Fernandes; Conselho Fiscal: Valdete Lima, WeUinglan da Silva. José Anísio (efetivos); libero Neto e Ycdo Ferreira (suplentes): Conselho Consultivo: Mayté Silva e Geuza Madd.

JORNAL MAIORIA FALANTE Jornalista responsável: Valdete Lima - MTb n' 17.483. Conselho Editorial: Juiia Thcodoro, Togo lamba. ArleteSilva, Valdete Lima, BianeSouza, Paulo Roberto, Yedo Ferrara, Azoilda Trindade, José Anísio. Valéria Borges e Mcnica Montara Caderno de Educação: Azoilda Trindade

(coordenadora), Qiane Souza e Janete Santos. Colaboradores: Chico Uno (TO). Jurad de Olivcira(RS\ Valdo Lumumba (BA), Edmdre Exaltação, Ricardo Tavares (RJ). Correspondente cm Nova Iorque: Paulo Afonso Duarte. Fotografia: Paulo Robcrto/Maiona Imagens. Revisão: Valdete

Lima e Aríete Silva. Composição c Arte Ofídna da Imagem (021)401-5817. Consultores internacionais: Kdth Jenning e Brady Tyson. Circulação e Distribuição: Willian Nonata Apoia Chnsüan Aid, Agen, Cesc, Radsa Fasee Iser. Endereço: Rua da Lapa, n9 200 - Sala 808 -

Tdcfonr (02D 224-20M - Lapa - Rio (fc Jmdro - OT 20021^^

MAIORIA FALANTE

News of Brazilian Black Community

P.O. BOX 408

New York,

N.Y. 10028-4701

Tel.: 212-517-7025 Paulo Duarte

Correspondent

AGOSTO/SETEMBR093 MAIORIA FALANTE l

Em cena

Milton Gonçalves Um dia ele decidiu:

"Agora quero fazer um papel de gravata". E fez. In-

terpretou o doutor Percival, um psiquiatra, ha novela Pecado Capital, da TV Globo. Milton Gonçalves, 59 anos, é reconhecido hoje como um dos melhores atores brasileiros. Sua trajetória começou cedo, quando ele tinha 20 anos, fazendo o papel de um preto velho na peça Revolta dos Brinquedos, de Pernam- buco de Oliveira. "Repre- sentar é um veneno. Uma vez inoculado, não consegue mais sair", diz.

Muito à vontade, ele nos recebeu em seu apartamen- to, no Flamengo, Zona Sul do Rio, cidade que escolheu para morar. "Sou mineiro de Monte Santo, fui criado em São Paulo, mas optei por ficar definitivamente no Rio de Janeiro", afirma. Antes de se dedicar exclusiva-

mente à arte de representar, Milton foi aprendiz de várias profissões: desde im- pressor de revistas a funcionário de uma fábrica de doces. "Minha mãe sempre me incentivou para ir ao cinema, assisti muitas coisas. No dia >\\ie assisti a uma peça de teatro, levei um susto. Fiquei super en- tusiasmado e descobri que tinha talento para repre- sentar", conta. E não parou mais.

Com um currículo de mais de 100 filmes, sete produções americanas, diversas novelas, aos 40 anos Milton Gonçalves resolveu concluir seus estudos. "Fui fazer Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Faculdade Hélio Alonso. No 8° período fui obrigado a abandonar o curso. Na época, eu estava dirigindo a novela Escrava Isaura, e não tive como conciliar as duas coisas",

diz. Aliás, pouca gente conhece o lado diretor de Milton. "Tem quem aposte, na própria TV Globo, que eu não dirigi Irmãos Coragem. Eu não tenho uma máquina que fica me elogiando. O próprio público é cruel com o ator negro. Os nossos escaninhos só têm cartas fazendo cobranças, nunca elogios", critica.

Política: Presidente do Conselho Municipal do PMDB/RJ, Milton analisa como crítica a atual situação do Brasil. "Enquanto a classe dominante não modificar a ótica da relação capital e trabalho, não vai adiantar medidas paliativas. É preciso se investir na criação do mercado interno", acredita. Candidato nas próximas eleições? "Por que não? Se meu nome for indicado pelo partido, aceito sim. Tenho consciência que posso contribuir muito", avalia.

Movimento Negro: Fundador do IPCN - Instituto de Pesquisa da Cultura Negra - como diretor cultural, Milton Gonçalves critica o discurso do movimento negro. "Está distante das grandes bases. O fato de usar cabelo rasta ou roupas africanas, não significa que seja mais negro do que as outras pessoas. Minha contribuição para a população negra eu dou trabalhando.

sendo respeitado na profissão, participando de momentos históricos do país", diz.

Como acabar com racismo? "A educação é o único caminho de liberdade de um povo. O negro tem que tirar o pé da senzala, mudar este tipo de discurso. Ele é um cidadão que vota, paga seus impostos, e só bem informado ele pode fazer valer os seus direitos", conclui.

SEMANA DA MAIORIDADE DO IPCN 5 A 9 DE JULHO DE 93

em que tivemos a oportunidade de refletir a nossa trajetória como En- tidade, a situação atual do Movimento Negro, e as nossas peispectivas de intervenção mais eficaz na realidade em que vivemos para contribuir- mos com a transformação da sociedade brasileira.

O que havíamos projetado era muito maior - desvio de trânsito e ocupação da rua em frente ao IPCN, com uma feira

afro; apresentação de 3 bandas afro; de grupos de dança, e show musical... Deixamos para outra ocasião. O falecimento da sócia Liz (Elizabeth Dantas), presença constante e sempre disposta a ajudar; e o brutal assassinato de Batistinha, um verdadeiro símbolo dos ferroviários, para o sin- dicalismo combativo e para todos aqueles comprometidos com o avanço das lutas sociais

- exemplo de dignidade e coragem - foram choques que leva tempo para absorver.

Mesmo assim, conseguimos prestar sensíveis homenagens aos Sócios Fundadores, às En- tidades e parlamentares negros e a militantes que têm se des- tacado em nossa luta. A emoção dominou a todos, quan- do finalizamos homenageando a memória de Batistinha, com a presença de seus familiares.

Márcio Negros, a Roda de Capoeira de Angola - com o "Quilombo dos Areies"; e a Banda Afro-Mirim Dudu Obá, deram o toque final de sensibilidade e descontração à comemoração dos 18 anos do IPCN.

Axé IPCN - Axé para todos que lutam contra o racismo e todas as fomias de exploração.

Amauri Mendes Pereira

Que beleza! A alegria estava estampada na face de todos que disseram "presente" à comemoração dos 18 anos do IPCN. Foi o momento culminante da Semana de Debates - que contou com a participação de Benedito Sérgio (primeiro Presi- dente), na terça-feira; Ivanir dos Santos, na quarta; Benedita da Silva e Yedo Ferreira, na quinta -

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MAIORIA FALANTE AGOSTO/SETEMBRO 93 ^fljMffVfflC"^ yy-1^*:-

O SAMBA PEDE PASSAGEM Ela Diane Souza

Ela é jornalista, com- positora e gerente do Museu do Carnaval Eleé industriário e presidente do Clube Car- navalesco e Escola de Samba Canários das Laranjeiras. Vera Lúcia Gonçalves Correia e Ismael Moreira dos Santos têm em comum o fato de serem cariocas e amantes do samba. Reconhecidos pela comunidade sambista, os dois fizeram da sua paixão um campo de trabalho permanente.

A gente sabe. O samba não tem pintado muito em nos- sas páginas nos últimos tem- pos. A partir desta edição, no entanto, estaremos res- gatando esta falta. A gente começa com um bate-bola com Vera Lúcia e Ismael.

De uma família tradicional no mundo do samba, ainda com 16 anos Vera Lúcia Gonçalves já conquistava o 2o lugar no concuiso "A Embaixatriz do Samba" pela União de Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Em 1960 foi nomeada a primeira mulher relações públicas de uma escola.

Vera gosta de destacar a Portela como sua base de vida, onde vivenciou tudo sobre samba, dedicação ao próximo e trabalho com a comunidade.

• Filosofia: "Deixe de ser rei só por um dia" (Candeia). • Escola de samba:Portela. Todo

mundo que é Tradição, no fundo é Portela.. •l\)rta-handeira: Viüua Nascimento. •CamavahO produto mais vendido no Brasil para o exterior, gerador de muitos empregos em todos os níveis sociais. •Iiijiistiça:Cobrartaxa pela fantasia das baianas.

•Um carinho especial: Escola de Samba Mirim Corações Unidos dos Cieps. (Vera é vice-presidente da escola).

•Televisão: Não mostra os verdadeiros talentos da comunidade..

•Rainha da bateria: Tem de ser da comunidade!

•Museu do Carnaval: É o centro de memória e animação do carnaval. Possui um acervo de oito mil fotograflas, guardando um histórico sobre todas as escolas de samba do Rio de Janeiro. Expõe fantasias das escolas vencedoras, além de manter intercâmbio com escolas de outros estados e países como Japão, Dinamarca e Inglaterra. Anualmente faz exposições na Univeisidade de Nova York. O Museu fica na Rua Frei Caneca, Praça da Apoteose e está aberto à visitação pública de terça à sexta-feira, no horário de ll:00h a lg:00h.

Ele Em 1994, a Escola de Samba

Canários das Laranjeiras desfilará no Giupo I. Isso é motivo de orgulho para Ismael Moreira, atual presidente, que destaca o empenho e a dedicação da comunidade como importantes para esta conquista.

• Onde nasceu o Canários? Numa cabeça.de-porco, em Laranjeiras (RJ), em 1949, como Bloco Carnavalesco. • E a quadra? Ainda não temos. Provisoriamente ensaiaremos na quadra do Unidos da Lapa, aos sábados. Nosso tradicional Almoço Dançante será aos domingos, na Escola Tia Qata.

•Agenda para o próximo carnaval: Faremos pagodes, excursões, baile de aniversário (setembro), festa da vitória, futebol de salão (time formado por adolescentes da comunidade) e festa das bandeiras.

•Como se faz o carnaval? Isto é segredo! É importante ter um

barracão bem organizado e grana. Por isso mesmo realizamos muitos eventos. Recebemos subvenção da Riotur e apoio do nosso patrono, Orlando Alves Pereira.

• Como é a articulação com a comunidade? A maioria dos nossos componentes mora em Laranjeiras, Botafogo, Mono Azul, Cosme Velho, Santo Amaro, Tavares Bastos e Pereira da Silva. Vem gente até de Santa Cruz para desfilar. • O melhor enredo; Ganga Zumba. • E para 1994:0 enredo será "Quem é bom já nasce feito", de Sérgio e Armando Martins. Fala de brasileiros

ilustres na música, na dança, futebol, literatura, arquitetura, etc.

• Ala das Baianas: O conjunto dos presidentes das Escolas de Samba decidiu manter a nota para a Ala. Infelizmente o amor pela escola estava sendo trocado pelo dinheiro. Agora as baianas não podem estar estilizadas. Tem de ser tradicional.

• Figuras notórias do Canários: Infelizmente já se foram: Merrinho, grande compositor, e o presidente Papinha. Atualmente temos o nosso carnavalesco Armando Martins.

• O que é ser presidente? É ter muita dor de cabeça, muito trabalho. Quando a escola está armada na Sapucaí a gente se sente realizado em 60 minutos. • Samba e racismo: No nosso grupo não há racismo, mas dificilmente se vê um presidente negro. Não sei se pelo poder aquisitivo ou por preconceito mesmo. • O que é ser canariano: Eu já sou há 23 anos. É igual a ser negro e brasileiro.

Agenda • USAFRICAREB - Coração da Deusa do Ébano do Bloco Orumila,na Psicose (Rua Mariz e Barros, 1050 - Tijuca,RJ),dia 6 de setembro, a partir das 22h.

• Exposição Coração Suburbano - Artista plástico Galvão Preto. Mostra de vários trabalhos e interação com o público. Sesc da Tijuca - Rua Barão de Mesquita, 539 - Tijuca - RJ De 10 a 29 de agosto, às 20h. • Sociedade Afro Cultural LEM1 AVÓ- Apresenta todos os domingos

Oficinas comunitárias. Percussão e Danças. Rua Periantã, 70 - Inhaúma - RJ - A partir das 16h.

• Olodumaré

Aula de danças e percussão Todos os domingos, de 18h às 22h. Praça Prefeito Eneas de Castro - Barreto Niterói

• Reggae Rock Café Music Noites latino-americanas Todas as quintas, a partir de 21h Largo de São Conrado, 20 - RJ

•Reggae Night Todas as versões dançantes do reggae com DJ Tião Brasil .Todas as quartas-feiras, a

partir de 22h. Rua Rodolfo Dantas, 102 - Copacabana - RJ

•Terça Amada Especial Apresentação de uma personalidade do meio artístico com a participação especial de Mart'nalia eMombaça. Todas as terças na Cerveja Amada Cerveja Av. Professor Manoel de Abreu, 834 - Vila Isabel - RJ

AGOSTO/SETEMBRO 93 MAIORIA FALANTE

Um charm de programa Domingo. 17 horas.

Uma multidão de jovens dança ao som da mais autêntica

black music, o charm, uma música com muito suingue que agita a domingueira mais concorrida do Rio: a Cassino Disco Club, no Disco Voador, em Marechal Hermes, Zona Norte da cidade. Com 10 anos de existência, a Cassino se orgulha de ser considerada pelos seus freqüentadores como o templo do charm.

"Nossa intenção é poder proporcionar ao nosso público um ambiente de lazer tranqüilo, onde se pode ouvir boa música, dançar e ainda curtir shows nacionais e internacionais como Vesta Willians, Gerald Alston, After Seven, The Cover Girls", explica Jorge Alves, promotor do baile.

Chevete Funk Show: "Final de semana è so charm"

Cassino Disco Club, domingo à tarde: com jeitinho você encontra um lugar para dançar

Com quatro discos gravados pela todos os sábados, de 18h às 19h, Poligram, a Cassino Disco Qub tem pela Imprensa FM, referência um programa de rádio, que vai ao ar obrigatória para os charmeiros.

O casal Luiz Carlos, 39 anos, e Maria de Fátima, 33, formam junto com a filha Evelina, 12 anos, e a amiga Jane Flávia, o grupo Chevete FunkShow, presença freqüente nos bailes de charm. "Eu e minha mulher nos conhecemos desde os tempos do Renascença Clube, na época do soul. Agora curtimos o charm, um som que transmite

harmonia, prazer", diz Luiz. O grupo é apenas mais um dos vários que se apresentam todos os finais de semana no Cassino. As coreografias dos dançarinos dão brilho maior à festa. Quem vai pela primeira vez a um baile de charm, quer irtodo final de semana. Que o diga a equipe do Jornal Maioria Falante.

Só-Mix: nas batidas do charm E como é tempo de charm, é

claro que a Só-Mix Disco Club não poderia ficar de fora. A equipe, comandada por Corello, Femandinho, Wilson e Alexandre, promove seus bailes toda sexta-feira, a partir das 22h, no Grêmio Recreativo Vera Cruz, na Abolição, Zona Norte do Rio. Com uma média de dois mil freqüentadores por noite, a Só-Mix está no ar há 5 anos.

"O charmeiro brasileiro está de olho no que acontece fora do Brasil. O negro aqui se espelha muito no negro americano, procurando ocuparum espaço que lhe é negado. Por isso ele a nda bem vestido, é bem comportado, para ser respeitado", acredita Corello. Entrando neste espírito, além do charm tradicional, a Só-Mix toca New Jack Swing, nova vertente da música, e rap.

A apresentação dos grupos na pista de dança é um show à parte. Mas sem rivalidades. "Não existe essa do branco dançar separado do negro no charm. O clima é super família", diz Ana Cristina, branca, com 18 anos. Ela fez questão de nos

A Só-Mix Disco Club esquenta as noites da Abolição

apresentar Eduardo, Luciano e Chocolate, os rapazes do The Black Brothers, ganhadores do Festival Inter Colegial de Música, que aconteceu no Imperator, em junho de 92. "Éramos a única banda de rap e ganhamos o festival", diz Eduardo. A dança do Boyz'n the hood também faz muita gente parar para olhar. O grupo, formado por Jean, Cezar, Víctor, Bebeto, André e Matquinho, que faz show de rap, diz que tendo charm o final de semana fica perfeito.

Mixagem: Muita gente ouve falar em mixagem mas não entende bem

o que significa. Corello, especialista no assunto, explica: "É o ato de colocar a batida da próxima música dentro do andamento da batida da música que está terminando. O discotecário, além de conhecer todos os ritmos, tem que sentir o que o público está querendo para poder criar um clima gostoso entre as pessoas".

Charmeiro de nascença, Corello convida todo mundo para comemorar os cinco anos da Só-Mix, no próximo dia 24 de setembro, com "A noite do flash back". Um programa imperdível.

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MAIORIA FALANTE AGOSTO/SETEMBR093

Vibrações: Um Ano de Sucesso

Op F

^programa "Vibrações 'Positivas", do Centro de

Articulação de Populações Mai^nalizadas - CEAP -, que divulga música e informações sobre a comunidade negra, comemorou, em 28 de maio passado, no anfiteatro da UERI, o primeiro ano no ar, na Rádio Imprensa FM do Rio de Janeiro, Iodos os domingos, das 14 às 16 horas. A festa contou com a presença de sete blocos afio, quatro grupos de Rape uma banda de reggae.

Inovador em sua área, o programa tem a direção de Jorge Damião, coordenador do Programa Radal/Ceap, e conta com a seguinte equipe: Raimundo Santa Rosa (locutor), Mônica Lopes e Ana Paula Macedo (produção), Fábio Conceição (discotecário), Josdina da Silva (colunista) e Carlos Borges (operador). O programa se firmou como porta-voz radiofônico da comunidade negra.

O secretário-executi vo do Ceap, Ivanir dos Santos, disse que "Vibrações Positivas" se dedica a divulgar a pluralidade de opiniões do Movimento Negro e as manifestações da cultura negra brasileira. Ivanir acrescentou que a mídia alternativa que o Ceap produz vem se tomando veículo importante para canalizar as questões, manifestações e organizações do Movimento Negro e Popular.

Jorge DamJão,diretordo programa, explicou que o "Vibrações Positivas" surpreendeu os programadores de rádio que

Ivanir discursou ao lado da equipe do programa: Jorge, Ana Paula Fábio, Mônica, Joselina e Raimundo

passaram também a dedicar generosos espaços à música negra de diversos segmentos - axé music, rap, reggae, entre outros. O programa, com duas horas de duração, lembrou ele, tem jornalismo, debates, uma colun2k.sobre mulher negra e divulga atos, shows, manifestações e festas dos negros cariocas.

A plasticidade e o ritmo dos

blocos afro deram o tom da festa

Mães de Acari: livro conta a sua luta

Vera (apoiada na porta). Marilene. Ana Maria e Teresa no velório de Edméia. no alio

O livro As Mães de Acari na Terra da Impunidade, do jor- nalista Carlos Nobre, com prefácio da primeira-dama fran- cesa, Danielle Miterrand, a ser lançado em agosto deste ano durante a Bienal Internacional do

Livro, no Rio de Janeiro, conta a trajetória de oito mulheres da favela de Acari e bairros próximos, que, há três anos procuram os corpos de 11 filhos seqüestrados e exterminados na Baixada Fluminense.

A luta obstinada das mulheres provocou uma baixa no gmpo de mães: Edméia da Silva Eusébio, 47 anos, foi assassinada, em janeiro passado, no Centro, após sair de um presídio, onde fora levantar pistas sobre a

lriBR%00 DOMINGO 14h às 16h

IMPRENSA

FM/ 102,2 Vibrações Positivas é um Programa Produzido Pelo CEAP-Centro de Articulação de Populações Marginalizadas.

localização dos corpos dos jovens exterminados. A Anistia Internacional, pouco depois, transformou Edméia no símbolo internacional de luta contra a im- punidade e as injustiças sociais eip todo o mundo.

Com 20 capítulos, e introdução da promotora de Justiça Tânia Maria Salles Moreira, da 4a Vara Crimina! de Caxias, o livro segue as mães procurando cadáveres dos filhos em matagais, mor- ros e locais de desova de Magé e municípios periféricos da Baixada Fluminense. Conta ainda os bas- tidores da investigação policial, onde, em depoimentos prestados ao autor, detetives contam que não puderam ir a fiindo no caso por pressões de integrantes da cúpula da Polícia Civil.

Em alguns capítulos, o livro mostra como foi o impacto da dor das mães coma perda dos filhos, a maioria adolescentes, que trabal- havam para ajudara família. Dona Fuzilar Joana dos Santos, mãe de Hudson, 16 anos, um dos desaparecidos, conta que passou meses sonhando que o filho estava vivo e sendo torturado. Dona Teresa Souza Costa, mãe de Edin- ho, 16, foi vítima de uma gravidez psicológica e chorava diariamente querendo o retomo do filho para casa.

A busca dos corpos, segundo o livro, envolveu as mães por ter- reiros de candomblé e igrejas evangélicas de bainos da periferia do Rio de Janeiro, na procura de conforto espiritual. Em alguns casos, as palavras dos pais de santo e pastores evangélicos confundiam mais a cabeça das mulheres: alguns diziam que os meninos estavam vivos, en- quanto outros alegavam que todos haviam morrido.

As mães fortaleceram o grupo por vários fatores, segundo o livro. Um deles foi a ausência de corpos. Isto motivou as mulheres a caçarem os cadáveres dos filhos em locais perigosos do Rio. Elas queriam cumprir um ritual cristão: sepultar os corpos.

Jornalistas estrangeiros que es- tiveram em Acari entrevistando as mulheres compararam-nas às "locas da Plaza de Mayo", mães de desaparecidos argentinos que buscavam os corpos dos filhos durante a ditadura militar naquele país. A lula das Mães de Acari gan- hou repercussão internacional e atraiu a atenção da primeira-dama francesa, Danielle Miterrand, que através do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), conversou com as mul- heres e financiou a produção do livro.

AGÕSTO/SETEMBR093 MAIORIA FALANTE

^11

Cut faz seminário: um avanço na luta contra o

Togo loruba ""^ •

A Central Única dos Trabalhadores - CUT - realizou, nos dias 5, 6, 7 e 8 deste mês, o seminário ^ £1 ^ J. Í3 -l-ü VF "O Papel da CUT no Combate ao Racismo ". O encontro, que reuniu 140 delegados - sindicalistas e ativistas do movimento negro-de todo o Brasil, foi promovido pela Comissão Nacional de Luta contra —_ • A m

a Discriminação Racial, Secretaria Nacional de Formação da CUT e CUT-Minas G*n.is,e contou com |rr| frP VIS tfl . o apoio do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades e da Escola Sindical 7 de M^jKlVM. X, Y lOlCl. •

U A definição do papel da CUT na luta contra o racismo poderá ampliar a dimensão da atuação do XrêS DCrSUntaS 0*1^ movimento negro brasileiro. Assim, a onda neofascista no mundo e no Brasil começa a estimular um IT O *.

novo reordenamento ideológico em substituição à polarização capitalismo x comunismo. X • l»

A parceria da CUT junto ao movimento negro poderá, em breve, repercutir dentro das centrais V ICentUlIlO sindicais CGT e Força Sindical, pois a relação capital x trabalho recebe, há séculos, tratamento ▼ *^^ diferenciado quando se trata do trabalhador e trabalhadora negra.

O seminário, apesar de não ser deliberativo, apontou para a maior participação dos sindicatos na luta contra o racismo, buscando uma intervenção na plenária nacional da CUT realizada nos dias 24, 25, 26 e 27 deste mês, em São Paulo, e ainda na alteração do conteúdo programatico e ações capazes de combater a discriminação.

O relatório do seminário será enviado aos delegados e sindicatos, assim como será produzido um jornal da CUT Nacional abordando com mais detalhes o que foi o encontro.

Com plenárias cheias, o seminário reuniu mais de 140 pessoas

Quando a combatívidade é a única opção

O Jornal Maioria Falante, presente no seminário, entrevistou Vicente Paulo da Silva, o Vicenlinbo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista.

JMF: Qual a sua opinião sobre a entrada da CUT na luta contra o racismo?

Vkentinho: Primeiro, quero lembrar que no último congresso da Central foi aprovada uma tese onde fica claro que a CUT não deverá atuar apenas na luta economicista e corporativista, assumindo as questões da mulher, da criança, do negro, etc, buscando aliança com o movimento popular. A CUT, ao perceber isto, estará introduzindo ações concretas. A direção - e eu sou um dirigente - já está sensível, pois é uma deliberação da base. JMF: A revolução industrial deixou o negro fora do mercado de trabalho. Agora, com a revolução eletrônica, não poderá ocorrera mesma coisa?

Vkentinbo: Isto é um feto. Eu visitei recentemerte os EUA e estive em duas empresas: uma estamparia, com trabalho manual e com 90% de negros, e uma produtora de transmissão eletrônica, onde 90% dos trabalhadores eram brancos. Eu penso que a participação dos iguais

deve ir pelo lado humano. O presente seminário é algo concreto. A CUT, ao assumir a luta contra a discriminação, poderá interferir em casos semelhantes no Brasil. JMF: Vbcê acredita que a campanha pela privatização, executada pelo governo Itamar, poderá gerar uma armadilha, dividindo a cla.;se trabalhadora entre os que são da iniciativa privada e os do serviço público? Vkentinho: O servidor público é tido como marajá ou como vagabundo. As elites econômicas podem querer usar esta tática realmente. Por exemplo, a Previdência Social: se fizermos uma pesquisa veremos que o povo prefere mais os convênios do que a rede social. Anossa luta deveser no sentido de não privatizar, e sim moralizar, fazendo com que os cargos passem a ser ocupados por profissionais e não por políticos.

O dirigente sindical Nélio Cabral Pimenta já foi colocado à prova pelo patronato. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, ele foi demitido por justa causa, em abril de 1990, mesmo tendo estabilidade. "Eu fazia parte dos quadros do meu sindicato, o SINTECT/RJ, quan- do ocorreu a demissão. Nós somos muito perseguidos porque a empresa não admite movimento de trabalhadores. Foi uma época dificil. A minha família pedindo para que eu largasse o movimento sindical, eu sem condições financeiras. Foi uma barra", diz Nélio.

O lado sindicalista foi mais forte. Ele continuou na briga, e no

dia 19 de julho deste ano, por decisão judicial, foi reintegrado aos quadros da empresa na mesma função que exercia anteriormente.

"Nós temos travado uma batalha ferrenha pela reintegração de todos os demitidos. Até agora pelo menos 60 pessoas já foram readmitidas", revela.

Participante do seminário sobre o papel da CUT no combate ao racismo, Nélio acredita que esta discussão já devia ter sido feita há mais tempo. "Todos estão caminhando juntos porque a luta classista é contra a discriminação. Nas agências dos Correios, por

exemplo, não se vê uma pessoa negra trabalhando na recepção. Isto é preconceito e tem que ser combatido". Segundo ele, o movimento negro, sindicatos e a CUT podem formar uma

corrente de trabalho forte, o que só dará resultados positivos.

Um recado final: "Mesmo diante de todas as pressões do patrão, o trabalhador nunca deve

esmorecei e deixara luta sindical de lado. Só a nossa participação neste campo, com combatívidade, é que faz com que nossos direitos sejam respeitadoá1, conclui Nélio Pimenta.

Nélio, durante uma manifestação do SINTECT/RJ

AGOSTO/SETEMBRO 93 MAIORIA FALANTE

Relaç inter-racial: ^

com a cara e a coragem O casamento entre raças diferentes é visto com muito

preconceito. De um modo geral, tanto a visão do grupo dominante quanto do dominado busca garantir a en- dogamia, ou seja, a relação entre as pessoas da mesma etnia.

Este mesmo pensamento procura encontrar jus- tificativas para o fato de um negro casar-se com uma branca, um índio com uma branca, uma sansei com um branco. "O amor é cego" ou "o dinheiro falou mais alto" são exemplos de explicações encontradas.

Isto sem falar nos que adotam um discurso separatis- ta, não aceitando qualquer justificativa.

A realidade é que apesar dos tabus e das diferentes interpretações, a cada dia mulheres e homens rompem com esta ordem social e encontram seus parceiros, apesar de toda a discriminação.

Assim, a diversidade do povo brasileiro tem produzido diferentes relações, que independente do gosto da maioria, esboçam, em um anarquismo, a atitude inconsciente de revolucionar os hábitos e os costumes.

Com a palavra alguns dos protagonistas dos casamen- tos inter-raciais que têm quebrado os padrões, conven- cionais para a existência de uma relação afetiva.

"Um encontro espiritual"

" Para quem gosta, não existe diferença de

cor n

"Nós nos conhecemos quan- do ele era cobrador em uma empresa de ônibus. Eu o via passar todos os dias em frente à loja que eu trabalhava. Gostei dele e comecei a viajar com ele. É, fui eu quem o paquerou primeiro", revela Ivaunete.

Silvestre confessa que não levou a sério no início. "Eu dizia pra ela que eu era escuro e ela branca, não ia dar certo. Eu conheço casais onde um é branco c o outro negro, e quan- do tem uma briga o branco sempre diz que isto acontece porque o parceiro é negro", diz.

Só que com eles deu certo. Viúvo, Silvestre tem dois fi - lhos do primeiro casamento. "Nós resolvemos não ter filhos porque a situação não está boa. Além do que os filhos do meu marido são como se fossem meus. Pra mim, mãe é a que cria", diz Ivaunete.

Casados apenas no civil - sempre foram evangélicos, apesar de hoje estarem afas-

tados da igreja - eles formaram um novo grupo de amizade depois do casamento. "Atual- mente temos mais convivência com a família do Silvestre, até porque a minha mora toda no Norte". Neste novo grupo eles percebem que algumas pessoas têm um pouco de inveja pelo fato de eles viverem tão bem, em harmonia. "Um amigo até já me disse que eu tinha mesmo que ser feliz porque casei com uma branca", diz Silvestre.

Invejas à parte. Silvestre c Ivaunete acreditam que "para quem gosta, não existe diferença de cor". Racismo no Brasil? "Claro que ainda ex- iste. Mas somos felizes assim mesmo", respondem em concordância.

- Vai chegar um ponto que só vai haver branco e moreno no Brasil. Isso pode ajudar o preto, que não vai ser tão humilhado e ficará igual aos outros, teoriza Ivaunete.

Ivaunete Oliveira Borges e Silvestre Avelino Borges estão casados há oito anos. Trabalhando juntos como feirantes, eles votam na honestidade como requisito número um para que uma relação afetiva dê certo

Tatheena, branca, viúva, descendente de árabes, enfrentou uma verdadeira barra com a entrada de Christovam na família.' Ele sempre freqüentou a casa de seus pais e, enquanto era apenas um amigo, tudo bem. Só que a gravidez veio, e aí, o caso ficou sério.

Já Christovam diz que seu encontro com ela foi mais que mero acaso. A espiritualidade foi a tônica."Oque mais me agrada nela c o lodo, o modo de ser. Sempre quis morar sozinho, nunca pensei cm casar c ela não é exala mente o tipo de mulher com que sempre namorei", diz o ator.

Ele começou a paquera c ela, seria, não deu muita importância. Depois c que percebeu que realmente seria uma coisa definitiva. "Nunca fui preconceituosa, apenas nunca pintou um relacionamento com um negro. Minha filha do primeiro casamento, hoje com 22 anos, encarou numa boa e foi o motivo da minha reaproximação com a família, depois do nascimento da Danny", revela Tatheena.

Ambos acreditam que os amigos, tanto os antigos quanto os novos, não vêem com nenhum espanto a relação.

Christovam Netto e Tatheena são atores e se conheceram há sete anos. Com uma filha de quatro anos, Danny, não permitem que interferências extemas atrapalhem seu casamento, "um encontro espiritual e bonito"

Tatheena diz que, pelo fato dos dois serem atores, a relação não gera nenhum constrangimento no trabalho. "Nossa relação quebrou padrões convencionais. Os olhares na rua detemúnam a incompreensão".

" Os preconceitos estão caindo"

O casal se conheceu na Copa do Mundo de 70, na estação da Embratel, em Itaboraí, onde ele trabalhava como engenheiro. Ela sentou-se num lugar reser- vado aos convidados dele c começou a paquera- voltaram no mesmo ônibus e quatro anos depois se casaram na Igreja Católica.

Contam que não só man- tiveram os amigos como também ocorreu um aumento de novas amizades, sem predominância étnica. "Um fato curioso é que a maioria dos amigos que freqüentam a nossa casa é de pessoas oriun- das de outros Estados ou países", informa Célia.

- A maioria dos parentes mora em outros Estados, in- clusive os avós, mas sempre nos comunicamos em datas nobres, não temos grupos mais próximos. As pessoas encaram a nossa relação do modo mais natural possível; ficam apenas admirados, diz Willon.

Com relação ao filho, Célia diz que ainda não pôde obser- var a curiosidade de uma união

interétnica porque ele só tem 1 ano e 2 meses. Já Wilton diz que o filho se distingue porque "Yuri é a atração, bonilão, se destaca pelos traços orientais da mãe".

No que toca à quebra de padrões, Wilton acredita que "a nossa unidade foi, sem dúvida, uma quebra dos preconceitos e acho que a cada dia estes preconceitos vêm caindo".

- O falo de eu ser sansei nos permite sentir maior liberdade cm relação à democracia racial. Houve grandes mudanças no grupo étnico com a inclusão de pes- soas de etnias diferentes. Podemos sentir isto no âmbito familiar, com enriquecimento tanto a nível cultural, quanto social. Mas para que estas mudanças ocorressem, as gerações anteriores tiveram que lutar para vencer imensas bar- reiras, quebrando assim os padrões convencionais esperados pela comunidade, pois a tentativa de todo grupo étnico é de preservar as suas oritens, finaliza Célia.

Superando as diferenças há 38 anos

llatuitim e Ecila se conheceram na Igreja Batista de Tombos, em Minas Gerais, duraníe uma série de conferências, onde ele Ia/ia uma palestra sobre cullura indígena. "Havia o interesse de outras moças, aluiuis dela, mas eu eslava de olho era na professora Ecila", conléssa llaluitim.

- No início não houve paquera e sim curiosidade cm relação à vida daquele índio simples e puro como demonstrava. Começou quando ele veio à minha tasa, acompanhado do pastor Adiei Louzada e de outros membros da Igreja. Duvidei que a paquera fosse continuar, pois eu, com 27 anos, gostava de festas e bailes, era católica, mais velha que ele, não podia ser! Acho que ele faria melhor escolhendo uma das minhas alunas evangélicas, teoriza Ecila.

Depois de 4 meses de namoro, casaram-se no civil e 2 anos depois no religioso cm Mato Grosso, quando ele trabalhava com os índios Kaducús, no Pantanal. Viajaram por alguns Estados do Brasil em função do trabalho do sertanista. "Visitei aldeias, postos

indígenas e tive contato direto com várias tribos. Adquirimos também novas ami/ades e continuamos com algumas", diz Ecila.

Itatuilim revela que, pelo falo de ser só - órlão . sofreu a integração do índio na sociedade, "os juninas estão no fim, restam mais ou menos umas 150 pessoas" -, tem mais contato com a lamília da mulher. "Nossos grupos de amigos se têm formado na estrada da vida: a clássica seviedade brasileira", di/ ele.

"O índio, mesmo sendo civilizado, não consegue atender às exigências de um casamento tradicional. Aprioridadc dele é o Ix-m-esla r sívial da comunidade, sendo ela indígena ou não. Ele é despa-ndido de bens materiais, é tcmenlc a Deus, muito amoroso com a família, mas se preocupa mesmo é com cducação,alimentaçãoesaúde",diz Ecila Brum.

O casal revela que, quando as crianças eram pequenas - Italoema, Itaeci, Itaciara e Itacila -, perguntavam porque não tinham olhos azuis, porque

- Esta pseudodemocracia racial, este racismo velado é que não dá chance ao negro brasileiro, ao contrário dos Estados Unidos. Estou preparada para a barra que vou enfrentar com a minha caçula. Já houve um conflito na escola.

No presépio ela queria ser a virgem e a professora disse a ela que não poderia, pois não tinha o tipo físico para isto. Trabalhei a cabecinha dela no sentido de que ela tem todo um lado musical, era melhor sair de pastorinha e ela aceitou. Temos que mostrarsempre que \ a dignidade é o que é importante, diz, Tatheena.

Christovam, eclético, vai ensaiar Esquina dos Prazeres, de Luiz Carlos Maciel (ex-Pasquim) e está na produção de Além da Vida. Começou como manequim, ganhou três prêmios em São Paulo, dois no Rio. Atuou em Sinhá Moça e, ultimamente, viajou o Brasil com a peça Colombo, ao lado de Rubens Corrêa. Seus projetos são interiorizar a arte da moda, fazendo cureos de modelo no projeto Revele-se. Começará por \blta Redonda e Barra Mansa. Sua esposa, além de estar amando no SESC, com a peça Thinsa Brasil, tem um consultório de massagem indiana em Ipanema.

Tatheena buscou na índia suas raízes, o que derivou seu nome em sânscrito. Christovam encontrou no candomblé a explicação para sua trajetória. "Vivemos em harmonia", afirmam.

Célia Asato e Wilton Raimundi estão casados há 19 anos. Ela tem 41 anos e é sansei (39 geração de imigrantes japoneses). Ele é brasileiro, branco e tem 47 anos. Ambos afirmam que o companheirismo é a maior qualidade do outro

Itatuitim Ruas, sertanista, índio da nação Juruna, 63 anos, e Ecila Brum Ruas, professora primária aposentada, branca, 66, estão casados há 38 anos. Acreditam que só o amor pode superar as diferenças culturais nas relações inter-radais

ela era branca e ele não, por que a mãe havia casado com ele. No trabalho da professora a curiosidade não era menor

- No início sim, perguntavam muito. Depois se acostumaram e passaram a estimá-lo, principalmente no meio político e estudantil, desde que ele iniciou a criação do 1° ginásio de Tombos, depoisoiganizou a Faculdade de Carangola e a de Além-Paraíba e fundou o ginásio do Município de Pedra Dourada, completa Ecilia.

Se o casamento dos dois foi uma ruptura nos padrões convencionais? Ambos concordam que sim. A

discordância aparece quando se fala em democracia racial no Brasil. "Não acredito muito nesta história. O que há é o amor e somente com ele se é capaz de eliminar as questões de ordem social, moral e cultural", afirma Itatuitim. Ecila pensa diferente:

- É claro que há democracia racial no Brasil. Todas as nações podem assumir postos importantes, desde que tenham capacidade e cultura para tal, finaliza.

Valdete Lima, Aríete Silva e Togo loruba.

10 MAIORIA FALANTE AGOSTO/SETEMBRO 93

Parlamentares negros não conseguem organizar fórum no Rio

Pensando na criação de um fórum de discussão suprapartidário com os parlamentares negros do Estado do Rio de Janeiro, o gabinete do deputado estadual Marcelo Dias (PT) convocou um encontro, em novembro de 1992, entre vereadores, deputados estaduais e federais, além de entidades do movimento negro, com o objetivo de se criar uma ação conjunta que pudesse ter uma repercussão global e mais eficaz junto à comunidade negra. Passados mais de nove meses, o que seria hoje o I Fórum de Parlamentares Negros do. Rio de Janeiro, não mais existe.

"Nossa intenção era, em uma primeira etapa, trabalhar nossos objetivos e nossas ações nos parlamentos, e numa segunda formarmos um rede para troca de informações e apoio para a luta contra o racismo. Só que a disputa de espaço para ver quem é o dono da idéia levou as pessoas e entidades a não quererem levar o Fómm para frente", desabafa Marcelo Dias. Dos 12 parlamentares convidados, estiveram presentes os vereadores José Garcia (PT/Volta Redonda),

Jurema Batista (PT/RJ), Maria Inez (PDT/Magé-RJ), Wilson Novaes (PUT/Juiz de Fora-MG), além do próprio Marcelo Dias. Os demais mandaram seus assessores.

A primeira rodada de discussão levou às seguintes conclusões acerca das experiências dos parlamentares: falta de informação sobre a população negra; a importância do grau de formação da assessoria; a necessidade de eleger prioridades no apoio às lutas; e como agir fiente às necessidades da população negra e do movimento negro. "Foi uma discussão proveitosa e que encaminhou propostas impçrtantes como a realização de um encontro nacional, em 1994, com atuais e ex-parlamentares e executivos; que o Fórum tivesse a tarefa de dar sustentação ao movimento negro; que fosse dado prioridade às telecomunicações, à saúde e CPI sobre o racismo e a discriminação", diz Lúcia Xavier, assessora do Marcelo Dias para a questão racial.

Falta de quorum: As discussões iniciais ficaram só no

papel. Por falta de quorum, os dois encontros seguintes nada deliberaram, e no último, dia 1 de abril, o deputado Marcelo Dias decidiu abrir mão da convocação do Fórum: "O que pretendíamos era avançar na participação política partidária de negros nas diversas instâncias do poder público, mas infelizmente os companheiros ainda

estão brigando por espaço. É preciso que as pessoas se libertem das vaidades pessoais para levar uma idéia como esta para frente", acredita Marcelo.

Por que não deu certo? Para Edson Santos, verador reeleito pelo PCdoB/RJ, a idéia do Fómm só tem que ser aplaudida. "Só é preciso

melhorar os objetivos e discutir mais para que os parlamentares envolvidos com a questão racial dêem prosseguimento", diz. A vereadora Jurema Batista também acredita que precisa haver mais discussão. "Falta ao parlamentar negro a priorização de um espaço próprio para o político negro. Por isso mesmo o Fórum não deve parar". O também vereador Antônio Pitanga (PT/RJ) concorda com a vereadora, criticando no entanto a falta de infra-estrutura e organização. "Nada contra ter sido uma iniciativa do Marcelo Dias, mas qualquer iniciativa não pode ser de maneira isolada", diz.

Apesar do consenso quanto à importância do Fórum de Parlamentares Negros, o feto é que depois de abril deste ano, nada mais foi feito para reativá-lo. E enquanto milhares de crianças de rua, na maioria negras, continuam sendo chacinadas, este fómm, que poderia ser uma grande frente catalizadora de ações programáticas que fortalecessem o combate ao racismo, sequer saiu de uma única reunião.

Direito Alternativo:, os negros cabem aqui?

Os afro-brasileiros têm sido objeto preferencial do sistema jurídico quando este se propõe a "limpar", "sanear" e "libertar" a sociedade do crime, do tráfico de drogas, dos ladrões, enfim, dos bandidos, dos criminosos. Ou, ao contrario, somos invisíveis para as políticas jurídicas ou ações do judiciário que viabilizem direitos e garantias de exercício de cidadania quando, por exemplo, recorremos ao direito para exigir igualdade de tratamento nos diversos setores da vida pública ou privada, ou garantia de cumprimento de leis anti-racistas (lembrando que essas leis pertencem ao próprio sistema).

Quanto à opressão do direito sobre grupos economicamente desprivilegiados, há um movimento crescente de juristas, comprometidos com mudanças estruturais nas sociedades ocidentais que vêm lutando bravamente para expor a realidade desse direito e propor um novo (?) direito que dê conta, realmente, do papel para o qual ele é e sempre foi necessário: garantir e organizar a vida nas sociedades, objetivando o bem-estar dos indivíduos. Primeiro tivemos o desabrochar dos juristas socialistas/marxistas. Hoje a corrente dominante de oposição ao direito tradicional é chamada de

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Direito Alternativo.

No Brasil os trabalhos de Direito Alternativo têm crescido e já se pode pensar que os direitos individuais e coletivos, bem como o do Estado (por que não?), caminham para ser respeitados e garantidos independentemente de superioridades sociais. O trabalho é árduo e lento, mas é necessário investir nesse caminho. Advogados, juizes e promotores, em suas práticas; juristas/doutrinadores na criação teórica, ambos em trabalho conjunto, abrem boas peispectivas na direção do Direito e da Justiça.

O Seminário Nacional de Direito Alternativo que aconteceu no Rio de Janeiro de 7 a 9 de junho passado, foi uma das mostras dessa possibilidade. Discussões, trabalhos e, principalmente, um grande número de jovens universitários decididos a criar e trabalhar o Direito, lá esteve presente. É bom o andamento do Movimento.

Mas é preciso uma ressalva: a discussão das relações raciais no Brasil e as violências e violações de direitos do racismo não estão, ainda, na pauta do Direito Alternativo. Esta ausência ou invisibilidade que temos enfrentado em toda a história

Seminário Nacional de Direito Alternativo: na busca dos direitos das minorias

de lutas sociais e políticas, na visão dominante branca, também se faz presente no Movimento de Direito Alternativo. É preciso que esse quadro mude rapidamente.

Essa crítica, porém, só vale se encarada positivamente. A janela do socialismo/marxismo, aqui dirigida especialmente para o Direito, e do Direito Alternativo, deve ser utilizada com competência e determinação como um elemento

de luta contra o racismo. É bom e útil jogar na

possibilidade de, um dia, a sociedade brasileira assumir o racismo como seu componente ativo e destruidor e, enfim, iniciar a batalha pela sua eliminação, juntamente. As mulheres e homens do Direito, também... por que não?

Dora Bertúlio

AGOSTO/SETEMBRO 93 MAIORIA FALANTE 11

Em 92 eles tomaram as ruas 'exigindo o impeachment de Colior. Identificados como os cara-pintadas pela mídia brasileira, os estudantes viraram assunto do dia. Mas qual é o papel do movimento estudantil hoje, além do de or- ganizar passeatas? O que pensa os seus representantes sobre questões como o racis- mo, por exemplo?

As caras do movimento estudantil

- Preconceito bobo, diz Nathalie Cadena, da Ames (Associação Municipal dos Estudantes Secundaris- tas/RJ). Pensando em ampliar

as catas do movimento es- tudantil, apresentamos um raio x das cabeças de quatro lideranças.

Movimento estudantil:

Nathalie de La Cadena, 17 anos, 3* série do 2ograu. Colégio Princesa Isabel.

Ames - diretora de esoolas particulares

Tem que ter vontade de participar; muita garra.

Ideal de ensino:

Escola modelo:

Racismo:

Sexo:

Drogas;

Escola pública, gratuita e de qualidade.

A que pudesse atender a todo tipo de estudante.

Preconceito bobo.

Bemard Batista Brito, 18 anos, 2* série do 2o grau do Colégio Estadual Amaro Cavalcante.

Ames - ex-diretor de assistência ao estudante

É uma fase de aprendizagem importante. Aprende-se muita política e apanha-se muito. É principalmente um movimento formador.

Fotos: Paulo RobotoMaicna Imagem

Marcelo Miranda, 8° período de Engenharia na Faculdade Nuno Lisboa

Senun - Seminário Nacional de Universitários Negros

Leandro Cruz Fróes da Silva, 23 anos, 4° período de Direito da Faculdade Estado de Sá

UNE - vice-presidente regional Sudeste

Deve ser transformação, ação e uma prévia para o futuro dos estudantes, no caso.

Educação adaptada aos dias de hoje, sem desprezar as experiências da vida das pessoas.

Com professores e funcionários ganhando bem, com condições para o aluno aprender e para o professor dar aula.

Uma coisa boa quando é feita com amor e segurança.

Desnecessário.

Engajamento político:

Livro:

A quem daria o impeachment?

Arrastão ou cara-pintada:

Movimento estudantil

x questão racial:

UJS União da Juventude Socialista.

A bolsa amarela.

Ao projeto nealiberal.

Caras pretas, a juventude que nào tem oportunidade.

Eu acho que o ME tem que ajudar a fazer com que isso acabe. Aqui dentro, nas entidades, não existe nenhum tipo de preconceito. Conscientizar as pessoas para que elas mudem de idéia.

Assustador, decepcionante. O homem evoluiu tanto e ainda não venceu suas próprias barreiras.

Com amor. Sem amor é mecânico.

Refúgio para os problemas dos fracos de interior, grande mal. Esconderijo das lutas,que a sociedade exige do indivíduo.

Por uma sociedade justa, com respeito, igualitária, sem nivelar por baixo.

A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera.

E fogo, porque ensino a gente pega desde pequeno, troca de informações, experiências, participação. Não aquela coisa do mestre manda e os escravos obedecem.

Não tem não, atualmente. Existe, mas indicar assim... Pelo que eu já estudei em quantidade de informação, tem o Colégio Militar, onde aprendi um monte de coisa, mesmo não gostando do colégio.

Odeio. Luto para que ele seja abolido da face da Terra, do Universo. Uma idolatria desnecessária, muito horrenda; existem muitas formas de racismo.

Acho uma coisa conseqüente do amor entre duas pessoas, independente de ser homem ou mulher. E é bom se praticado com gosto entre as partes envolvidas, c como forma de reprodução, é melhor ainda, relaxante, lindo!

Não uso e acho que quando uma pessoa é dependente da droga, ela deixa de ser ela mesma. Uso só a droga liberada: Coca-cola, cerveja, o Estado... Não sou contra quem usa; só adio que quem usa é como forma de fuga, existe forma mdhor de viajar.

É luta. O fundamental hoje é o resgate da unidade dos estudantes para se poder aplicar à luta. O sucateamento do ensino público é uma realidade e ao mesmo tempo o estudante é expulso da faculdade.

Público, gratuito e de qualidade.

Onde não existe distância entre o ensino, a pesquisa e a extensão.

Fascismo. K uma forma de opressão, como a opressão do homem contra mulher. Se o cara for negro e muito rico, não vai haver racismo contra ele.

Tenho uma namorada, sou fiel, mas sem dojma. Cada um tem que ter liberdade para trabalhar esta questão como quiser.

Anarquista

Colônia Ceciha, uma história de amor.

Leonel Brizola.

Arrastão, é um movimento espontâneo do povo cansado de suas condições de vida.

O movimento estudantil pode dar uma boa contribuição para a questão racial, com todos juntos convivendo e aprendendo a respeitar as diferenças. Diferenças são saudáveis.

A todos os políticos e poderosos do mundo.

Nenhum dos dois.

O problema está na estrutura, não nas pessoas. A do movimento estudantil no Brasil está falida, nào tem como manter uma forma de movimento com a estrutura que está aí. Todos tem que participar, mas de modo horizontal, nada de só representantes. Sáo necessárias pessoas com idéias de solução c náo de enrolação. de reforma. Se os estudantes querem alguma coisa, têm que partir do ME, dos estudantes e não dos partidos ou outros de fora do movimento. A questão racial sempre é tratada em segundo plano; é vista como secundária, terciána ou ate não é tocada. E os estudantes acabam levando essa secundarização para sua vida profissional.

Não gosto, nunca usei, a nao ser álcool. O consumo não é um caso de polícia. O traficante é que tem de ser preso, o viciado tem que ser tratado.

Membro do UJS (União dí Juventude Socirlista).

Nossa luta em Sierra Maestra, do Che Guevara.

Fernando Henrique Cardoso.

Cara-pintada. Só que não podemos esquecer que tem parcelas da juventude que parlictpam de arrastão, e temos que saber chegar até ele.

Acho que o movimento tem o papel de levar esta questão para dentro da universidade porque ela hoje é formadora de opinião. O movimento estudantil cumpre pouco este papel, até pela dificuldade de estrutura. Poderíamos discutir mais.

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12 MAIORIA FALANTE AGOSTO/SETEMBRO 93

O QUE... ...ROLOU Passeio étnico resgata

presença do negro no Rio Depois de vários dias nublados e frios, no

sábado, 5 de junho; o sol brilhou. Um grupo de crianças, majoritariamente

negras, partiram para o I Passeio Étnico do Rio de Janeiro. O passeio foi um dos prêmios do Concurso de Redação Ilustrada Zumbi dos Palmares e o Dia Nadonai da Consciência Negra promovido pela Editoria de Educação do Jornal Maioria Falante - JMF -, em 1992.

Coordenado e idealizado pelo Projeto Diálogo entre Povos, o evento contou com a consultoria do Prof. Joel Rufino dos Santos e com o apoio do Instituto de Pesquisa da Cultura Negra - IPCN -, da FAMERJ e do PNB/ISER. A idéia é investir numa perspectiva de descolonização da História do Brasil resgatando a memória coletiva dos afro-brasileiros, através da imaginação e da identificação dos traços destes povos presentes no cotidiano da cidade.

O roteiro incluiu, portanto, o IPCN, referência importante no enfrentamento do racismo. No ISER, as crianças riram bastante com o vídeo "Quando o crioulo dança" de Dilma Lóes. Daí desceram no antigo Cais do Valongo, conheceram o Bar João da Baiana, na Pedra do Sal e subiram o morro da Conceição. No Largo de Santa Rita, conheceram as igrejas do Rosário, Santa Efigênea e Lampadosa. Do Campo de Santana saíram em direção à Praça XI, onde contemplaram o monumento a Zumbi dos Palmares.

Na verdade, o evento começou na terça-feira, 1° de junho, quando pesquisadores, professores e alunos discutiram, no IPCN, "A contribuição do Negro na Construção da Cidade do Rio de Janeiro". Apesar do alto nível da

Paulo RobertoMaiona Imagens

...VAI ROLAR

Pedra do Sal: a criançada se interessou na história da região

mesa-redonda, as crianças, por princípio alegres e inquietas, se envolveram muito mais com o passeio. Cantaram, sambaram, jogaram capoeira e atentas ouviram as histórias dos afro-brasileiros.

A coordenação do passeio pretende prosseguir. Outras áreas da cidade, decisivamente influenciadas pela presença negra, a princípio, e por outros povos posteriormente, serão visitadas. Assim, se acredita preencher o vazio deixado pela escola e investir na auto-estima das crianças e adolescentes que diariamente convivem com o preconceito e a discriminação.

Ari Lima

1) Vem aí o próximo Concuiso de Redação Dustrada Zumbi dos Pal- mares e o Dia Nacional da Consciência Negra. Informações no JMF n0 31. Fique ligado!

2) Acontece de 3 a 7 de setembro/93, em Salvador, Bahia, o Io Seminário Nacional de Univereitários Negros (Senun). As inscrições podem ser feitas no período de 0ZO8 à 04/f)9. Informações na Secretaria Nacional do I Senun, Caixa Postal 874—Agência Central Comércio, Salvador-BA Tel.: Í071) 245-7244.

3) O CIEE - Centro de Integração Empiesa-Escola, dando continuidade à sua programação de cursos visando preencher algumas lacunas dos currículos universitários e/ou escolares, apresenta para o 2a

semestre deste ano - História da África. Embora seja de extrema importância para compreensão da formação da sociedade brasileira, este estudo não se inclui na maioria dos currículos dos cursos de História ou Ciências Sociais de nossas universidades. Ao nosso ver, o estudo da História da África se impõe na medida em que é uma forma de resgatar uma faceta da memória de nossas raízes que não nos foi revelada pela História Oficial.

O curso será dirigido a professores de 1° e 2a graus, universitários e para a comunidade em geral.

HORÁRIO: 3a e 5' feiras -19:00 às 21:00. INSCRIÇÕES: a partir do dia 10/07 - 2 x US$ 26 (dólar co- mercial) LOCAL: CIEE - Centro de Integração Empresa-Es- cola/RJ. Av. Maracanã, 1524/1528 Tijuca Tel.: 268 -6447 R: C9 D5. INÍCIO: 24/08 -TÉRMINO: 11/11

4) A Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, através do Centro Cultural José Bonifácio, está patrocinando o concurso de monografias Prêmio Edméia da Silva Euzébio, mãe de Acari, cujo tema é A mulher Negra Hoje, Sua Cidadania, Sua Vida, com o objetivo de ressaltar o papel da mulher negra na sociedade contemporânea, sua transformação social e sua atuação política, econômica e cultural. O concurso está aberto à participação de qualquer pessoa.

O prazo final para a entrega dos originais é 31 de agosto de 1993. Mais informações no Centro Cultural José Bonifácio, Rua Pedro Ernesto, n0 80, Saúde, Rio de Janeiro, no horário de 1 Ih às 17h.

Indicações A partir deste número, a seção Indicações Bibliográficas passará a se chamar Indicações, pois além de livros, in- dicaremos vídeos também.

C LIVROS Os Direitos da Criança - Adaptação do texto da Declaração dos Direitos da Qiança, proclamada pela Assembléia das Nações Unidas em 20 de novembro de 1959. São Paulo. Editora Ática. 1990. 24 pp.

A partir da Declaração dos Direitos da Criança, 12 artistas de várias partes do mundo, com o apoio da Unicef, a ilustraram com inigualável beleza, construindo assim um livro que, com arte, simplicidade e prazer, pode ser um instrumento para quem queira de fato, além de conhecer, discutir e divulgar, transformar em direitos vividos os direitos da criança. O livro é indicado para pessoas de qualquer idade.

VÍDEO

Movimentos Culturais de Juventude - de Antônio Carlos Brandão e Milton Fernandes Duarte. São Paulo. Editora Moderna. 1992.120pp.

Utilizando conceitos como cultura, contracultura, cultura de massa, cultura erudita, cultura popular e as transformações ocorridas com esses conceitos na sociedade capitalista ocidental, os autores traçam a trajetória dos principais movimentos culturais da juventude. Abordando principalmente a produção musical e dnematogtáfica de jovens oriundos das classes médias urbanas, entre as décadas de 50 e 80.

É um livro introdutório às questões jovens no mundo atual.

Os carbonários: Memórias da guer- rilha, de Alfredo Sirkis. Global Editora. 1983.377pp. Nós que amávamos tanto a revolução: Diálogo Gabeira - Cohn Bendit, de Fernando Gabeira. RJ. Editora Rocoo. 1985.92pp. Cultura e participação nos anos 60, de Heloísa B. de Holanda e Marcos A. Gonçalves. SP. Brasiliense. 1982. 102pp.

O preço do desafio: A verdadeira história sobre um milagre moderno, de Ramon Nenendez e Tom Musca. USA Warner Bros. 1988.103 min.

Professor boliviano vai lecionar em escola para hispânicos. A realidade da

turma é de drogas e evasão. Pensando em derrubar o preconceito contra os não brancos, o professor os desafia a aprender e mudar sua vida. O trabalho é árduo e o resultado é o preço do desafio. Onde encontrar Ari Studio Vídeo Rua do Riüdiudo, 232 Centro-' RJ

/JO AGOSTO/SETEMBR093 MAIORIA FALANTE 13

0^ Educação + raça = desigualdades Educação é uma das esferas da

vida social na qual, da forma mais contundente, se reproduzem as desigualdades raciais na sociedade brasileira.

Após um período de grande desenvolvimento, o Brasil atravessou a década de 80 em meio a profunda crise, cujos custos sociais são enormes. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento elaborou um índice de desenvolvimento humano, e classificou em ordem decrescente 160 países. O Brasil está no grupo de médio desenvolvimento, ocupando a 60a posição. Países latino-americanos como Uniguai (32), Costa Rica (38), Chile (40), Argentina (43), Venezuela (44) e México (45) estão entre os de alto desenvolvimento humano. A África do Sul está na 57* posição

0)- Ao olharmos os números da

economia brasileira e os indicadores sociais, poderíamos pensar que se referem a países distintos. Na verdade sabemos que se trata de um modelo social profundamente excludente. E

Há décadas que o movimento negro denuncia a omissão com que os livros didáticos e os meios de comunicação teimam em ignorar a participação do negro na construção do Brasil. E mais que isso, faz uma constatação: a necessida- de das elites econômicas procurarem anular a pluralidade racial no Brasil é um mecanismo de auto-defesa, garantindo a centralização da renda, ao mesmo tempo que procura neutralizar os negros, mestiços, nordestinos, impondo-lhes a carapuça de serem os culpados pelo atraso social e econômico do país.

Que razões não permitiram a ampla divulgação de que Juscelino Kubitschek - JK - tinha origem cigana? Que André Rebouças - nome de um túnel conhecido no Rio de Janeiro - era um competente engenheiro negro?

No sentido de levar tais informações aos leitores do Jornal Maioria Falante, lançamos neste número "Quem constrói o Brasil..." como forma de nunca mais ouvir histórias como aquela de Mario Terena, líder indígena que, para conquistar a permissão de tomar-se piloto de avião, teve que negar sua origem indígena e declarar para as autoridades racistas que ele era japonês.

sabemos que os negros são os grandes excluídos.

A educação é um dos itens da dívida social que se acumula no Brasil. Os diferenciais raciais dos nossos modestos índices educacionais são marcantes. A taxa de alfabetização é de 87,8% para brancos e 70,9% para negros. No outro extremo da pirâmide educacional, 9,2% de brancos e apenas 2,1 % de negros conseguem chegar à universidade(2).

O "X" da questão está no baixo desempenho da escola que, consistentemente, produz elevadas taxas de repetência. Já na 1' série, dramaticamente na Ia série, o número dos que são reprovados é alarmante. Logo, essa etapa inicial significa um poderoso obstáculo à carreira escolar de nossas crianças.

Any Dutra(3) descreve, com riqueza de detalhes, a instabilidade das políticas educacionais de caráter eminentemente pedagógico. É preciso reverter esse quadro, eleger educação como prioridade

entanto, ainda precisamos de > mais iniciativas neste campo, 2 sensibilizar os mais amplos ~ setores sociais para a

centralidade do problema educacional, bem como convencer da especificidade de sua dimensão racial.

(1) Programa de Ias Naciones Unidas para ei Desarrollo - PNUD. "Desarrol- lo Humano: informe 1991". PNUD, 1991. (2) IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD-87; Cor da população. Rio de Janeiro, IBGE, 1989. (3) DUTRA, Any. "Alfabetização no Rio de Janeiro: elites políticas conhecimento especializado e mediação da burocracia. Rio de Janeiro, UFRJ, 1990. (Tese de Doutorado em Educação).

Luiz Cláudio Barcelos

absoluta e traçar, a nível de políticas públicas, propostas consistentes e duradouras.

Todos nós que conhecemos o Movimento Negro sabemos o interesse que a educação tem despertado. Comprovam-no a

constante presença do tema nas pautas dos encontros, chegando a ser o tema central do 8° Encontro de Negros Norte e Nordeste em 1988, e a atuação de entidades como o Grupo de Trabalhos André Rebouças em Niterói, por exemplo. No

Esta seção é voltada ao leitor que queira emitir sua opinião sobre qualquer tema ligado à educação. O texto deverá ter no máximo 45 linhas. Escreva!

Quem constrói o Brasil...

CMBASTA NI5SEI, TÍ2UKA.

14 MAIORIA FALANTE AGOSTO/SETEMBRO 93

ç^* Africanos são S>^ discriminados no Rio

Eles têm entre 20 e 35 anos. São negros, homens na maioria. Moram em hospedagens

popularmente conhecidas como "cabeças-de-porco" e somam uma população de mais de 800 pessoas só no Rio de Janeiro. São os refugiados africanos. Vindos de Angola, Zaire, Libéria e Somália, eles esperam ser reconhecidos como refugiados políticos e puderem assim regularizar sua situação no Brasil.

Segundo Cândido Feliciano, diretor da Cáritas Diocesana do Rio, instituição filantrópica que se interessa pela situação destas pessoas no país, existe um critério internacional para que o refúgio político seja reconhecido pela ONU. "O fato de estar fugindo da guerra não qualifica um refugiado. E preciso que haja ameaça de vida por questões políticas", diz.

A trajetória percorrida pelo refugiado africano no Brasil, até ter sua situação resolvida, €• muito longa. Fugindo do seu país porque este se encontra em guerra ou em situação de distúrbio político, quando ele chega aqui, quase sempre com pouca documentação, procura o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), onde preenche um formulário e passa por uma entrevista. Se o status de refugiado lhe for concedido pela ONU, esta informa o Itamarati que publica a decisão no Diário Oficial. Por último, o Ministério da Justiça comunica à Polícia Federal, local onde são concedidos os documentos.

Cândido Feliciano afirma que em uma situação normal - onde em média existem 100 processos por mês para serem analisados - a resposta é dada em dois meses. Não é este o caso no momento. De janeiro para cá nenhum processo teve resposta definitiva,

Refugiados africanos; à espera de uma decisão

"Não sabemos qual o critério para se conseguiro reconhecimento. Não temos nenhuma segurança, nem social nem cultural", denuncia Afonso Maurício, 35 anos, angolano, no Brasil há sete meses. Ele acredita que na verdade os africanos estão sendo discriminados. "Conheci refugiados cubanos brancos, que chegprem aqui no dia 18 de março deste ano e foram encaminhados ao edifício João Paulo D, da Igreja Católica. Um cubano negro foi colocado num hotel de péssima condição onde só tem africanos", aGrma. Segundo Afonso Maurício, uma questão precisa ser esclarecida:

— Nós temos consciência da, situação vivida pela maioria da população brasileira, sem emprego, sem moradia. Alguns podem, desta forma, dizer que vivemos melhor do que os brasileiros. Acontece que existe uma verba concedida pela ONU para os refugiados que não é devidamente concedida aos africanos. Isto é discriminação racial.

Apartheid à brasileira: No início deste ano, o prefeito do Rio, César Maia, fez declarações à imprensa responsabilizando os refugiados africanos de trazerem o vírus HIV-2 para a cidade. A afirmação do prefeito, sem qualquer comprovação médica da acusação, só acirrou a relação dos refugiados com a população, fazendo daqueles alvo de desconfiança e discriminação. "Nós não entendemos as razões que levaram o prefeito a fazer tais declarações. Ele foi precipitado", diz o diretor da Cáritas. A avaliação do Jornal 13 de Maio-Protesto, publicado pelo Núcleo de Comunicação do Centro de Articulação de Populações

Marginalizadas (Ceap), critica as afirmações do prefeito. Em matéria intitulada "O nazifascismo de César Maia", ele diz:

"Maia, que vem assustando a população carioca com com- portamentos e declarações absurdas, quer transformar o Rio numa cidade de brancos. Para isso, não nega sua intenção de segregar menores, prostitutas, homossexuais, negros, favelados e outros marginalizados. O prefeito administra a cidade com a cabeça voltada para o apartheid, o regime separatista da África do Sul."

O Consulado Geral de Angola não tem informações de quantos

refugiados angolanos estão no Rio atualmente. "O povo angolano não é muito pela migração. Hoje, os poucos refugiados que vêm para o Brasil são fundamentalmente jovens. Eles estão cansados da guerra. Acredito que à maior parte dos africanos que estão vindo para o Brasil são comerciantes. Apenas 20% são realmente refugiados", diz Eduardo Morgado, adido cultural do consulado angolano.

Rejeitados: Um grupo de 35 pessoas, na maioria zairenses e angolanos, tiveram seu pedido de refugio político negado. Em função desta decisão, a Comissão de Direitos Humanos e Assistência Jurídica da Seção do Estado do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil enviou um pedido de recurso para a ACNUR após tomar conhecimento do fato através da entidade Bento Rubião. "Nós não podemos voltar para os nossos países. O que faremos então?", pergunta um refugiado que não quis se identificar. Segundo ele, muitos de seus colegas já pensam em suicídio. "Se formos colocados na rua, sem documentos para trabalhar, não sei o que irá acontecer".

Até o fechamento do jornal nenhuma resposta havia sido dada pela ACNUR com relação ao pedido de recurso dos rejeitados.

Aríete Silva

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AGOSTO/SETEMBRO 93 MAIORIA FALANTE 15

POVOS

Liberdade para a terra dos bascos

Um povo singular, cujas origens pré-históricas até hoje são desconhecidas, fisicamente diferentes dos outros povos europeus. Com um idioma sem parentesco com qualquer outro, sua nação étnica está implantada na dobra estratégica do con- tinente, entre a França e a Península Ibérica. Per- seguidos e espoliados por tiranos e invasores desde a antigüidade, a História do povo basco é tão heróica quanto trágica.

Repeliram visigodos, fran- cos, normandos, mouros e reduziram a frangalhos a retaguarda do exército de Carlos Magno, em 778 a.d.. Nunca foram uma nação independente. No máximo conseguiram um conjunto de bem-guardados fueros , no século XV, com limitada autonomia. Ainda no século XVIII só falavam a língua basca.

Mas foi durante a guerra civil espanhola que tiveram o seu maior batismo de s a n - gue, quando a perseguição étnica atingiu o nível de genocídio e culminou com o massacre da cidade de Guernica, em 15 de maio de 1937. Guernica, cidade santa dos bascos e ponto histórico de reunião desde a Idade Média, foi destruída pela aviação alemã, com o apoio dos fascistas de Francisco Franco - mais tarde ditador na Espanha -, diante do silêncio das "democracias" ocidentais e depois eternizada em quadro por Pablo Picasso.

A idéia de um Estado in- dependente, separado tanto da Espanha quanto da França, onde fosse preservada a cultura basca, surge já em 1894. A partir daí a idéia de separatismo tomou sua forma atual e levou à criação daquela que é ainda hoje a sua maior instituição de defesa e luta política: o Movimento Eus- kadi Ta Askatasuna (ETA) - pátria basca e liberdade.

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ESPAmA

É difícil falar da luta do povo basco sem falar do E.T.A.. Foi criado no final dos anos 50 para resistir à política de extermínio da ditadura franquista, que fazia questão de persegir os bascos antes de todos. Tribunais militares de excessão, com julgamentos sumários e pelotões de fuzilamento, masmorras e câmaras de tortura estavam lotados não só de bascos, mas também de espanhóis que se opunham ao regime.

Em 1970, um julgamento em especial causou grande comoção no exterior..

Dezesseis jovens membros do movimento nacionalista basco foram acusados de subversão. Nove foram condenados à morte e os sete restantes a um total de 519 anos de prisão. Foram acusados de múltiplos crimes contra o Estado fascista, desde reuniões ilegais e demonstrações públicas de

assaltos a bancos, sabotagem e três assassinatos.

Um fato novo, entretanto, veio mudar a situação da ditadura espanhola. Em 1973, a execução em uma rua de Madri, do almirante Carrero Blanco, primeiro-ministro e sucessor de Franco, cortando a continuidade do regime e causando danos irreparáveis à ditadura. Com a morte de Franco, em 1975, não restou outra saída à grande burguesia senão a abertura política.

Com a abertura, tem início a farsa democrática. Em 1976 uma onda de repressão política atingiu os bascos, com prisões indiscriminadas e tor- turas. Em 1979, o governo espanhol fez votar um "Es- tatuto de Autonomia" que con- cedia um pouco de tudo aos bascos, menos... autonomia.

Um terço de abstenção popular não pôde impedir a consumação da farsa e o país Basco continua ligado a uma federação que repudia, agora com o status de província.

Com a chegada do P.S.O.E. (Partido Socialista Obrero Espanhol) ao Poder, uma nova forma de repressão política é implantada, quan- do colocaram em prática sua política de extermínio "branco", em sofisticados cárceres "antiterroristas", o que de certa forma desmascara a social-democracia burguesa e sua política de extermínio dos bascos.

Francisco Artapalo

Direito de resposta José Ricardo d'Almeida

Faço algumas ressalvas ao artigo de Yedo Ferreira "O étnico negro" , publicado neste jornal na última edição. Fundamentalmente, a indefinição do negro para a questão da luta étnica, posta como meta no referido artigo, é divisionista da unidade política que o Movimento Negro e a própria Frente Contra Discriminação requerem construir. O artigo está absolutamente em sentido contrário ao estabelecimento dos objetivos de luta reais e concretos que tenta indicar.

Para nós, negros brasileiros ou afro-brasileiros, nossa unidade política requer por princípio assumir sua condição político-ideológica de raça em detrimento de qualquer condição

étnica no interior desta afirmação (simbólica) como sujeito. Ao contrário, nossa busca das raízes africanas depositadas nas "terras dos pretos rurais" e nos "terreiros" urbanos seria um potencial de disputas por uma hegemonia de identidades mais ou menos autênticas ou avançadas. O que, como tal, é no que se baseiam o tribalismo, o fundamentalismo religioso e as ideologias políticas, notadamente à esquerda.

A condição político-ideológica de negro fundamentada na unidade política que representa a cultura africana no Brasil, é por definição o primeiro requisito para a unidade política que um projeto político do negro requer.

A consideração do autor do artigo, de que "racismo e nazismo, bases de criação da Frente são abstrações e não objetivos concretos" é incorreta. As ideologias são práticas concretas. Toda ideologia possui uma existência material da qual os sujeitos são seus portadores. Portanto, constituem-se em objetivos concretos, na medida em que tem como meta definir um sujeito e suas crenças, segundo um modelo.

Neste sentido a Frente é um esboço de um projeto político plural e democrático, cujo objetivo concreto mais imediato é o combate à violência racista e nazi-fascista. Que a Frente não possua um projeto de mudanças políticas e sociais é uma outra

16 MAIORIA FALANTE AGOSTO/SETEMBRO 93

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