psicopatologia i - aula 3: a constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

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FUNEDI/UEMG Curso de Psicologia Disciplina: Psicopatologia I (72 hs/aula) Período: 5o Professor Alexandre Simões Navio dos loucos. Hieronymus Bosch. 1490-1500. Museu do Louvre ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.

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Page 1: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

FUNEDI/UEMGCurso de Psicologia

Disciplina: Psicopatologia I (72 hs/aula)

Período: 5o

Professor Alexandre Simões

Navio dos loucos. Hieronymus Bosch. 1490-1500. Museu do Louvre ALEXANDRE SIMÕES

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Page 2: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

Tema da aula de hoje:

Observações a partir do texto ´O paradigma psiquiátrico’ (de Paulo Amarante, in: AMARANTE, Paulo. O homem e a serpente; outras histórias para a loucura e a psiquiatria. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996. p. 37-64)

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Page 3: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

As coisas não pararam ...

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Page 4: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

Claude Bernard [1813-1878]:

• Fisiologista e arauto do POSITIVISMO

lançou, em meio ao espírito iluminista e determinista de sua época, as bases para

o estabelecimento definitivo de uma

Medicina Científica

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Page 5: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

No fundo, todas as ciências seguem a mesma linha de raciocínio e tendem ao mesmo objetivo. Todas querem

chegar ao conhecimento da lei dos fenômenos, de maneira a poder prever, variar ou dominar esses fenômenos. (...)

Em uma palavra, o determinismo (...) é um axioma científico que não poderia ser violado tanto nas ciências da vida como nas dos corpos brutos. (...) É ainda tal relação,

estabelecida pela observação e pela experiência, que permite ao físico, ao químico, ao fisiologista, não somente predizer os fenômenos da natureza, mas ainda, modificá-los à sua vontade e com toda segurança, desde que não

saia das relações que a experiência indicou, ou seja, da lei.

(Claude BERNARD. Introduction a l'étude de la médecine expérimentale. Paris: Champs

Flammarion, 1984. p. 47 e 128).ALEXANDRE

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Page 6: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

As doenças são apenas, no fundo, (...) modificações fisiológicas das propriedades dos elementos histológicos

de nossos tecidos. (...) a primeira condição para fazer Medicina Experimental é (...) compreender a relação do

estado patológico com o estado normal ou fisiológico

(Claude BERNARD. Introduction a l'étude de la médecine expérimentale. Paris: Champs Flammarion,

1984. p. 279/80).

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Page 7: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

a Introdução ao estudo da medicina experimental, de Claude Bernard [1813 - 1878]:

testemunha a história do conceito de NORMAL e PATOLÓGICO

em 1865,

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Page 8: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

Ou seja, Claude Bernard aplica o postulado científico dos corpos inertes (domínio das

ciências da natureza) aos

corpos vivos

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Page 9: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

Possibilitador desta transposição:

• redução da qualidade à quantidade

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Page 10: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

O patológico, doravante, será:

• A variação do normal, em termos quantitativos;

• logo, o fora-da-medida, a disparidade em relação à norma;

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A psiquiatria, surge já em meio ao espírito da reforma. E produz uma alquimia:

A transformação da LOUCURA em DOENÇA MENTAL: “Nesse período acontece algo de extremamente novo,

que se pode expressar numa só frase: a loucura é apropriada conceitualmente pelo discurso médico,

tornando-se, a partir de agora, única e exclusivamente, doença mental.”

(AMARANTE, 1996, p. 37)

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Isto implica em tornar a loucura (doravante, doença mental) uma entidade hospitalar:

“Para Machado (1982:63-64), ‘não se trata, malgrado o nome, de uma instituição

médica, mas de uma estrutura semijurídica, entidade assistencial e

administrativa que se situa entre a polícia e a justiça.”

(AMARANTE, 1996, p. 38)

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“Conhecer a loucura é observar, descrever e classificar o que se chama

às vistas do alienista como sendo estranho ao padrão moral. Para

Bercherie (1989:31), Pinel funda uma tradição – a da Clínica – como

orientação consciente e sistemática. Os hábitos bizarros, as atitudes estranhas,

os gestos e olhares são registrados e comparados com o que está perto, com

o que é semelhante ou diferente. Colocado em um lugar da ciência que, acredita-se, não é contaminado pelas influências da cultura, da economia e

da sociedade, o alienista, valendo-se de sua percepção social, determina o que é normal e o que é patológico. Esse é o método do conhecimento, o que opera

a passagem da loucura para a alienação mental.”

(AMARANTE, 1996, p. 41)

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O dilema entre o físico e o moral:

“O desenvolvimento da anatomopatologia e da clínica médica constitui-se obstáculo

para o alienismo, pois permanece sendo um

problema a existência de uma doença exclusivamente moral. Para Birman (1978: 31-32), o

conceito de doença moral significa, de certa forma, uma contradição entre os termos, já que a hegemonia do saber médico determina que, para existir doença, deve haver

lesão.”

(AMARANTE, 1996, p. 51)ALEXANDRE

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Uma certa aliança entre o físico e o moral: por intermédio da doutrina da degeneração

“A ‘doutrina das degenerações’ de Morel impõe nova reviravolta no saber sobre a alienação mental. Com ele o debate entre o físico e o moral encontram um termo comum, uma relação de interdependência.” (AMARANTE, 1996, p. 53)

DEGENERAÇÃO -> RAÇA

-> MAL HEREDITÁRIO

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Page 16: Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigma psiquiátrico

• “... As degenerações levam os indivíduos a entregarem-se com maior facilidade ao mal moral que, ao mesmo tempo uma causa a um efeito, imprime novos atributos degenerados e, assim por diante, conformam um círculo vicioso que termina no ineroxável fim da linhagem.” (AMARANTE, 1996, p. 54)

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Na sequência, temos não só a moralização do louco (ou do indivíduo) , mas a moralização das massas (cf. AMARANTE,

1996, p. 56)

“Com o conceito de endogeneidade, Morel traz para a sociedade a premência de que sejam interrompidas as linhagens degeneradas, donde a origem da eugenia em psiquiatria. No entanto, consolida a noção de prevenção da alienação no meio social e moral, o que desloca a atuação do alienismo do interior do asilo para o meio social e político.” (AMARANTE, 1996, p. 56)

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Até breve! Prosseguiremos na próxima aula.

Prof. Alexandre Simões

Contatos:

[email protected]

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