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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO REITORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” PSICOMOTRICIDADE A Intervenção Psicomotora nos Casos de Fracasso Escolar por Vania Duarte Costa Santos Orientador: Prof. Marco Antônio Chaves Rio de Janeiro, RJ, agosto/2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

REITORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

PSICOMOTRICIDADE

A Intervenção Psicomotora nos Casos de Fracasso Escolar

por

Vania Duarte Costa Santos

Orientador:

Prof. Marco Antônio Chaves

Rio de Janeiro, RJ, agosto/2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

REITORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

PSICOMOTRICIDADE

A Intervenção Psicomotora nos Casos de Fracasso Escolar

por

Vania Duarte Costa Santos

Trabalho Monográfico apresentado

com requisito parcial para obtenção do

Grau de Especialista em

Psicomotricidade

Rio de Janeiro, RJ, agosto/2001

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AGRADECIMENTOS

A minha menina de ouro, MARÍLIA,

que me conduziu indiretamente a esse

estudo, demonstrando que TODOS

nós temos nossas DIFICULDADES,

mas somos capazes de CRESCER,

quando encontramos pessoas dispostas

a educar, respeitando e buscando sem

desistir, o potencial de cada um.

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Dedico este trabalho de pesquisa a

todos os profissionais que se

envolvem de alguma maneira, com a

Educação Especial ou com os casos de

alunos que apresentam Dificuldades

de Aprendizagem.

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O futuro não é uma coisa escondida na

esquina. O futuro a gente constrói no

presente.

Paulo Freire

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RESUMO

A criança não é um ser apenas em desenvolvimento cognitivo, mas um ser real e

concreto em interação com o mundo que a cerca.

Quando se instalam dificuldades no processo de aprender, percebe-se que algo não

vai bem também com sua expressão corporal, sua relação, seu falar, seu agir, seu agir sobre

o mundo.

O trabalho da Psicomotricidade com crianças que enfrentam o fracasso escolar, visa

recuperar o poder de se movimentar livremente e recriar os laços, as ligações, perturbadas,

e retomar para si mesmo o próprio poder de desenvolvimento.

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SUMÁRIO

Introdução....................................................................................................................... 07

1 - Dificuldades de Aprendizagem................................................................................... 10

1.1 - A Importância da Família na Questão do Aprender............................................ 11

1.2 - A Escola como Principal Referência.................................................................. 12

1.3 - O Papel do Novo Professor............................................................................. 13

1.4 - O Aluno e a Imaturidade para Aprender.......................................................... 15

1.4.1 - Dificuldades na Leitura......................................................................... 17

1.4.2 - Dificuldades Matemáticas..................................................................... 20

2 - O Fracasso Escolar................................................................................................ 25

2.1 - A Falta de Curiosidade.................................................................................. 25

2.2. - A Apatia do Aluno nas Aulas........................................................................ 26

2.3. - Métodos e Práticas de Ensino....................................................................... 27

2.4. - A Avaliação................................................................................................. 28

3 - Psicomotricidade e Aprendizagem.......................................................................... 31

3.1 - Quando o Aluno Fracassa e a Psicomotricidade atua...................................... 32

3.2 - Atividades Psicomotoras que promovem o aluno e devolvem o

desejo de aprender........................................................................................ 34

3.2.1. - Nas Dificuldades de Linguagem........................................................ 34

3.2.2. - Nas Dificuldades Lógico-Matemáticas............................................. 35

3.2.3. - Nas Dificuldades Pessoais............................................................... 36

Conclusão................................................................................................................ 37

Referências Bibliográficas......................................................................................... 39

Bibliografia Consultada............................................................................................. 40

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INTRODUÇÃO

Percorrer escolas hoje e encontrar professores desesperados por “não saber mais o

que fazer” ou como lidar com um grupo de alunos que não aprendem, é uma constância no

dia-a-dia do trabalho do pedagogo e/ou psicopedagogo.

As questões que se levantam para justificar o mau desempenho do educando, são

inúmeras. São fatores e mais fatores influenciáveis. E são mesmo!

A causa tem que ser mesmo investigada, com todo o cuidado e critérios específicos

para que se possa detectar o que impede esse aluno de aprender.

A baixa expectativa que o professor tem sobre o rendimento de seus alunos, terá

influência em seu ritmo de aprendizagem. A concepção que se tem das causas dos

problemas da aprendizagem constitui um elemento importante que expressa sua atitude e

influi em sua prática docente. Atribuir essas dificuldades ou o fracasso do aluno somente a

ele ou a sua família e nunca a escola ou a sua história educacional, é um erro.

É importante que a escola se conscientize de que ela também pode ser responsável

pelas limitações dos alunos e cabe a ela, enquanto instituição, modificar as condições em

que esse aluno vem aprendendo, considerando inclusive, o que vai além da sala de aula.

Avaliar constantemente se o programa inserido, com conteúdos estabelecidos para

cada série, faz parte da vivência dos alunos.

Considerar que a aquisição de novos conceitos, só será possível a medida que

requisitos necessários são construídos anteriormente e que para isso é necessário que o

professor esteja atento a cada etapa construída, percebendo onde está centrada a

dificuldade do aluno.

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Observar os recursos utilizados pelo professor em sala de aula ou fora dela, com o

propósito de motivar o aluno e auxiliá-lo a desenvolver bem seu trabalho. Não somente o

uso de materiais que diferenciam uma aula da outra, mas a aplicação de técnicas onde os

alunos possam se sentir integrantes do processo.

Levantar e analisar fatores sócio-emocionais que possam estar influenciando e

prejudicando a aprendizagem. A relação afetiva que a escola estabelece ou não, com o

grupo de alunos é decisiva, nesse trabalho.

Observar constantemente o desenvolvimento físico dos alunos, levando em

consideração só altura e peso não basta. É necessário também avaliar a percepção

sensorial, espacial e temporal: a motricidade fina e ampla; a evolução do esquema

corporal; a postura, atitudes e movimentos corporais.

É nesta questão que se encontra a justificativa deste trabalho. A questão da

qualidade desses movimentos observados e tratados na escola.

As dificuldades que o aluno encontra em relação a elaboração e construção do

conhecimento, entre outras, pode levá-lo ao fracasso escolar. E quando isso ocorre o que

se constata é que a postura desse aluno se modifica. O corpo reage demonstrando uma

inquietação muito grande ou pouco se manifesta em relação as propostas pedagógicas, se

mostrando apático diante da maioria da atividades sugeridas pelo professor. E aí não basta

o trabalho desenvolvido pela educação física no sentido de ampliar os sentidos, as

percepções, a motricidade.

Todos os profissionais envolvidos no processo, precisam se conscientizar da

importância do trabalho com o corpo naqueles que vem enfrentando o insucesso escolar.

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Vê-se então que é de fundamental importância que a escola inclua em suas

atividades curriculares, a prática psicomotora, através de profissionais qualificados, de

forma a auxiliar o aluno a exprimir-se com segurança, confiança e naturalidade, quando

esbarrar com as dificuldades que possam surgir com relação aos conteúdos explorados e a

forma de avaliação adotada pela escola.

A afetividade da criança exprime-se sempre através da postura, das atividades e dos

comportamentos. Assim, a evolução afetiva harmoniosa, os contatos bem sucedidos, a

aceitação integral da criança pelo meio, também operam basicamente na formação de um

esquema corporal adequado. A criança que obter esta integração completa terá muito mais

possibilidade de ser bem sucedida, tanto no ponto de vista da aprendizagem escolar, como

também em questões oficiais e emocionais.

A prática psicomotora viria então, como trabalho de reeducação e apoio, aliada às

intervenções pedagógicas e psicopedagógicas, através de vivências corporais que possam

restabelecer o equilíbrio, a consciência corporal e a auto-estima necessários ao bom

desempenho escolar.

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CAP. I

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

O número de crianças e adolescentes que apresentam durante sua vida escolar,

dificuldades na aprendizagem ou outras perturbações nesse processo, aumenta a cada dia

no contexto da educação brasileira.

O educando que enfrenta o problema é, na maioria das vezes, responsabilizado

integralmente pela sua incapacidade. A escola e a família, acaba se isentando de suas

responsabilidades.

Nos grupos onde a condição sócio-econômica é menor, a questão é ainda mais

grave. A família não dispõe de recursos para investir em seus filhos desde cedo, numa

estimulação na educação infantil, ou quando alguma limitação mais acentuada aparece em

seu desenvolvimento, ele recebe desde cedo o rótulo de deficiente.

Todas essas perturbações, levam o educando a não adaptação ao currículo

estabelecido pela escola, provocando uma ruptura na construção do conhecimento exigido,

com sua realidade. A partir daí o que se tem é uma queda na produção escolar, a auto-

estima desse aluno diminui, abrindo todas as outras portas que levam ao caminho do

fracasso escolar.

Localizar e investigar todos os sintomas do fenômeno do “não aprender”, parece ser

o primeiro passo na tentativa de reduzir os índices de repetência e evasão escolar. No

entanto, novas alternativas devem ser levantadas sobre o problema, reforçando e

ampliando a leitura desses sintomas que inevitavelmente serão encontrados não somente

no portador de dificuldade de aprendizagem, mas em todos os outros veículos que tem

como compromisso e responsabilidade, o ato de ensinar e o ato de aprender.

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1.1. A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA QUESTÃO DO APRENDER

A família é um complexo maior do que a simples soma de suas partes. Reflete, não

apenas os modos individuais do ser, mas acima de tudo na maneira como os diferentes

membros agem e interagem. Tem um jogo permanente de funcionamento global, porém

influenciando nos padrões individuais de cada um.

Como um sistema aberto, ela está em permanente interação com o mundo exterior,

que a influencia e é por ela influenciado. O intercâmbio com outros sistemas e com a

sociedade em geral, a cultura típica de cada sociedade, seus movimentos e sua evolução ou

não, o conjunto de crenças, valores e regras que regem todo seu processo cultural, irá

inevitavelmente interferir na vida familiar.

O indivíduo é portador então, de uma herança não só biológica, mas herdeiro

também de uma história familiar que transcende os limites da própria existência.

Os pais, deliberadamente ou não, vão imprimindo ao longo do ciclo da vida

familiar, uma organização e um modo de funcionamento que vão desempenhar papel

primordial na definição das interações intra e interfamiliares e constituir, em grande parte,

o paradigma das relações que os filhos vão desenvolver nos demais contextos e sistemas

dos quais venham a participar. Pelos ideais e valores que orientam a vida familiar, pelo

posicionamento político dos seus membros como cidadãos; pelo partido político que

apóiam; enfim, pelas decisões que tomam a respeito de aspectos da realidade objetiva, tais

como o que priorizar o dia-a-dia, seus gastos, sua organização e seus modos interacionais

que vão construindo um sistema referencial que a criança/adolescente utilizará no ambiente

escolar. E é com esse referente que vai interagir com seus parceiros de escola,

companheiros de grupo, professores, orientadores, diretor, etc.

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1.2 - A ESCOLA COMO PRINCIPAL REFERÊNCIA

Durante um determinado tempo no Brasil - década 70 - movimentos diversos

associavam os problemas do ensino à teorias sobre a carência cultural. Com isso, a causa

principal do fracasso escolar, estava sempre centrada no aluno. À escola só era atribuída

uma pequena parcela de responsabilidade.

Todos que tinham a chance de estudar, conseguiriam se afirmar na sociedade e

exerceriam uma profissão liberal. Os trabalhos braçais e os serviços pesados eram próprios

das classes desescolarizadas, por se mostrarem incapazes para a cultura.

Mudanças radicais em tempo acelerado, provocam o surgimento de uma outra

sociedade, ou pelo menos com outra história. Nos anos 80, após o fictício milagre

econômico, acabamos por cair em longa recessão. Indústrias investem na automatização,

diminuindo os postos de trabalho e imprimem uma aceleração no ritmo produtivo,

impensável até então.

Com isso o número de desempregados aumenta e se soma ao contingente de novas

gerações em idade de trabalho, em busca de qualquer forma de ganho.

Nem mesmo trabalhadores da chamada classe média ficam impunes às

modificações no modelo novo de produção. Assim, nenhum diploma garante mais nada

ou seja, não significa nenhuma possibilidade de um emprego nobre. Apesar disso, o único

caminho que se apresenta às crianças, é o da Escola. Uma instituição que se apresenta

investida de promessas que ela própria não pode cumprir.

Mas sem o “saber”, existem caminhos favoráveis a formação do verdadeiro

cidadão?

A escola de hoje deve reconhecer que apesar de confuso e de muito problemático,

ela é verdadeira e soberana referência ao aprender, ao saber. Não pode caminhar sozinha,

mas deverá fazer todos os esforços a fim de reduzir o número de crianças e adolescentes

que abandonam a escolaridade por conta de perturbações na aprendizagem.

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A responsabilidade do fenômeno do não aprender, não pode ser atribuída somente a

escola, mas a leitura dos sintomas precisa ser revista por ela, considerando todos os casos

de desinteresse pelo ato de aprender, e não somente os casos classificados como distúrbios.

1.3 - O PAPEL DO NOVO PROFESSOR: APRENDER PARA ENSINAR

“O professor é aquele que aprende ensinando e, neste

sentido, a grande lição do processo científico é a de acabar com o

autoritarismo dos mestres e transformar todos , mestres e discípulos,

em alunos. Ambos precisam aprender a formular problemas, pois

estes não se apresentam por si mesmos.”

- Jaime Paviani, Problemas de Filosofia da Educação -

Editora Vozes - 1990 - 5a. edição.

Comparando-se a educação brasileira com uma peça teatral em cartaz há muito

tempo, notar-se-á que a história começa a passar por uma revisão e a “apresentação” hoje,

já indica algumas mudanças:

Œ O texto foi reformulado. A contribuição de vários pesquisadores contribuíram

enormemente para tais mudanças e a publicação dos Parâmetros Currículares Nacionais

vem demonstrar a importância da nova postura do professor na sala de aula;

Œ Os atores, no caso os alunos, entram em cena agora em número bem maior,

graças a política de universatização do acesso à escola;

Œ O papel da escola ganha mais importância e autonomia para gerir o sistema

garantido pela nova LDB 99394/96);

Œ A ética, cidadania, contextualização e interdisciplinaridade, são termos que

forma incorporados a fala das agentes educacionais;

Œ A platéia - sociedade - passa a se interessar quanto ao rumo do “espetáculo”;

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Œ E o professor - personagem principal dessa peça - o que muda em seu papel?

Quase tudo. Ao contrário do professor tradicional que se intitulava a autoridade maior da

sala de aula e dono do saber, hoje ele pensa em sua qualificação, porque está consciente de

que o perfil exigido no mercado é outro.

Os referenciais para a formação de professores mudaram. O Conselho Nacional de

Educação (CNE) vem trabalhando para a aprovação de novas diretrizes para as

licenciaturas. As antigas Escolas Normais sofrem mudanças. Pela nova LDB, a formação

do professor de Educação Infantil - 4a. série do Ensino Fundamental deverá ser feita nos

Cursos Normais Superiores, com a intenção de permitir o aprimoramento do profissional

que deve ser capaz de produzir e transmitir qualidade.

Ao contrário do que se via a alguns anos em que nos programas e planejamentos

educacionais somente o aluno deveria ser capaz de demonstrar suas habilidades, o

professor do novo milênio tem que demonstrar também sempre, através de suas ações, sua

capacitação para lidar com diferentes mentalidades, diferentes ritmos e situações.

O novo perfil do professor, inclui características e habilidades tais como:

ΠDominar tecnologias que facilitem a aprendizagem dos alunos;

Œ Contextualizar os conteúdos e articulá-los nas diferentes disciplinas;

Œ Utilizar novas metodologias, estratégias e materiais de apoio, para enriquecer

suas

aulas;

ΠAcolher e respeitar a diversidade em sala de aula;

ΠGerir a classe e saber lidar com o imprevisto;

ΠAdministrar seu desenvolvimento profissional, criando planos de estudo e

trabalho;

Œ Envolver-se nas questões da escola;

ΠEstabelecer uma parceria constante com pais de alunos e comunidade;

ΠTrabalhar em equipe com os outros profissionais da escola (professores,

orientadores, etc).

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Œ Enfrentar dilemas éticos da profissão;

ΠDesenvolver projetos com a turma, tendo como ponto de partida a realidade

local;

Œ Realizar uma auto-avaliação periódica, refletindo sobre a própria prática.

1.4 - O ALUNO E A IMATURIDADE PARA APRENDER.

A aprendizagem, como parte de um processo social de comunicação, requer a

participação de elementos como o comunicador ou emissor, mensagem, receptor da

mensagem e o meio ambiente.

Se houver falha em qualquer um desses elementos, a comunicação se fará com

obstáculo, o que poderá causar problemas na aprendizagem.

A aprendizagem é gradual, já que adquire-se novas experiências e conhecimentos

durante toda nossa vida. É um processo constante e contínuo. Cada indivíduo apresenta

um ritmo próprio para aprender. Um ritmo biológico que aliado ao seu esquema próprio de

ação, constituirá sua individualidade.

Alguns alunos levam mais tempo para aprender, enquanto outros são mais rápidos.

A aprendizagem é, portanto, um processo pessoal, individual, tem fundo genético e

depende de vários fatores.

Depende dos esquemas de ação inatos do indivíduo; do estágio de maturação de seu

sistema nervoso; do tipo psicológico constitucional (introvertido ou extrovertido) e do grau

de envolvimento, de seu esforço e interesse.

Aprende-se então por si mesmo, não se pode aprender pelo outro.

As novas aprendizagens do indivíduo dependem de suas experiências anteriores, ou

seja, dos conceitos que já constituem em relação ao novo. A aprendizagem é então um

processo cumulativo, ou seja, cada nova aprendizagem vai se juntar ao repertório de

conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui como bagagem.

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O processo de armazenamento de conteúdos não é uma coisa estática. A cada nova

aprendizagem o indivíduo reorganiza suas idéias, estabelece relações entre as

aprendizagens anteriores e as novas, faz juízos de valor, colocando seus sentimentos em

julgamento (certo ou errado/bom ou mal, etc); tratando-se portanto de um processo

integrativo e dinâmico.

Para que todo esse processo ocorra, o aluno deverá estar cercado de certas

condições favoráveis e de fatores fundamentais para que a aprendizagem seja efetiva:

Œ saúde física e mental

Œ motivação

Œ prévio domínio

Œ maturação

Œ inteligência

Œ concentração e atenção

Œ memória.

As dificuldades de aprendizagem manifestadas pelos alunos ao longo do processo

educativo, tem sido estudada a partir de inúmeras perspectivas e vem gerando conceitos e

teorias explicativas diversas.

A princípio seja qual for a teoria da aprendizagem considerada, não se pode deixar

de valorizar os fatores citados e a importância da harmonia do conjunto de todos os

elementos mencionados, quando se pensa na eficiência da aprendizagem. No entanto, do

ponto de vista psicológico, a criança deverá estar suficientemente amadurecida para que

ocorra essa eficiência no aprender, ou seja, é impossível que uma criança com deficiência

mental acentuada possa realizar aprendizagens no tempo de sua idade cronológica.

A inteligência é um exemplo de comportamento adaptativo que vai se

desenvolvendo desde os primeiros anos de vida, em um processo contínuo. É a

capacidade que o indivíduo tem de interagir com o meio ambiente e se desenvolve através

de estágios ou fases que sucedem sempre em uma mesma ordem, mas que, devido às

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diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades diferentes, dependendo do ritmo

de cada aluno.

17

Essas diferenças ocorrem em virtude das diferentes potencialidades de cada

indivíduo, indicada por sua herança genética e influenciada pela motivação que recebe, do

meio ambiente cultural e social que vive, além da exercitação de suas potencialidades.

O grupo de crianças e adolescentes que manifestam dificuldades significativas na

aprendizagem, demonstram transtornos na aquisição e uso da língua falada e escrita,

raciocínio ou habilidades matemáticas.

1.4.1 - DIFICULDADES NA LEITURA

Quando uma criança não lê bem, surge logo a primeira referência: ela não aprendeu

a ler. A leitura mecânica ou aquela que somente extrai de frases e/ou textos elementos

superficiais, são diagnósticos que afetam dimensões diferentes sobre a leitura.

Muito ao contrário do que parece, a leitura não é uma atividade simples. Exige

coordenação de uma ampla variedade de complexas atividades. Algumas, não são

específicas das leitura, mas intervêm quando a linguagem está em jogo.

A mais evidente é o reconhecimento de palavras, pois àqueles símbolos gráficos

num conjunto, atribuímos um significado.

O outro passo, mais complexo no ato de ler, está relacionado a compreensão do

texto.

O processo da leitura não acaba no reconhecimento de palavras. Ele é um

fenômeno extremamente importante e não é exclusivamente perceptivo.

Na interpretação de texto, quando o aluno lê uma palavra ele deve analisá-la e

reconhecê-la dentro de uma unidade mais ampla.

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Na frase - “Maria rasgou a boneca cor de rosa - estão contidas duas preposições ou

duas afirmações separadas, a saber que Maria rasgou a boneca e que a boneca era cor de

rosa.”

æ César Coll. Desenvolvimento Psicológico e Educação. Art Med. - Porto Alegre, 1995.

18

Isso significa que nossa mente não opera com conceitos isolados: Maria - bola - cor

- de - rosa; o que ocorre é que estes se interelacionam, formando estruturas mais amplas

como as propostas. Desta forma, compreende-se a oração anterior, ao atribuir a Maria e

boneca um predicado, rasgar, com o que as duas entidades mantêm relações específicas e

diferentes: uma delas, Maria, opera como o executor ou agente da ação expressa pelo

predicado, e a outra boneca como receptor desta ação.

Não basta então, encontrar uma relação nos significados das palavras, mas perceber

que elas estão vinculadas entre si. A leitura aparece então como um processo interativo e

para tal deve-se considerar diferentes componentes além do reconhecimento de formas

(letras, sílabas, palavras):

¬ a tradução dos códigos fonológicos;

¬ a comparação com uma representação armazenada em nossa memória;

¬ ativação e atribuição dos significados semânticos;

¬ a construção de uma proposição;

¬ a vinculação entre as proposições apresentadas;

¬ a construção do significado global.

Os alunos que lêem mal podem não encontrar dificuldades em todos os

componentes indicados. Alguns podem estar insuficientemente desenvolvidos e outros

operantes; por isso é comum encontrarmos alunos que lêem com uma certa fluência, num

ritmo considerado, sem no entanto, entender o significado global do texto.

Isso confirma o que já foi abordado anteriormente; a origem das dificuldades na

leitura não se prende às funções perceptivas. Há uma outra linha de estudo que sustenta

que a dificuldade tem caráter psicolingüístico.

A teoria psicolingüistica mostra que a escrita é um sistema que representa a

linguagem oral e se, por algum motivo, uma criança tiver deficiências em sua linguagem,

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maiores serão as deficiências que surgirão ao adquirir um sistema como a escrita, que serve

exatamente para representar a linguagem oral.

19

O domínio deste sistema de regras pressupõe dar-se conta de que os grafemas

representam “categorias de sons”, e isto pode ser algo mais complicado do que parece à

primeira vista. Por exemplo, na palavra /bote/ e na palavra /cubo/ há um “som” em

comum: [b]. Nessas duas palavras há dois sons fisicamente diferentes ( o b de bote tem um

traço oclusivo, enquanto o b de cubo é fricativo), que pertencem a um mesmo fonema ou a

uma mesma categoria, e como conseqüência, recebeu a mesma representação gráfica.

Em outras palavras, as dificuldades podem aparecer na hora de estabelecer o que se

representa em cada grafema. Para se estabelecer a equivalência entre os sons, é necessário

isolá-los da corrente de sons que constituem essas palavras, e decompor as palavras em

sílabas e as sílabas em seus sons.

Convêm advertir que, para muitos autores, os problemas na aprendizagem da leitura

não tem explicações simples. Defendem a existência de distúrbios como a dislexia, onde a

criança pertence a um grupo disfonético, que corresponde às deficiências na leitura

ocasionadas por uma lesão cerebral. No entanto nada é exposto como fato, com dados que

confirmem que os disléxios têm danos cerebrais.

A leitura, concebida em seu sentido mais amplo, está presente em toda a educação e

como tal não pode residir na incapacidade do aluno em criar um significado global e

ordenar a informação segundo a lógica organizacional do texto.

As diferenças entre os tipos de problemas aqui abordados, mostram que aprender a

ler é algo mais que adquirir um sistema de representação, envolvendo a capacidade de usar

a linguagem de maneira mais consciente, deliberada, formal e contextualizada. Como

conseqüência, os objetivos educacionais não deveriam concentrar-se somente na

aprendizagem dos códigos ou no uso adaptativo desse sistema de comunicação. O uso da

língua hoje, implica em pelo menos um objetivo claro e concreto: A capacidade de expor

nossos pensamentos por escrito, deforma criativa.

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“ A comunicação por escrito repousa no significado formal das palavras e requer

um número maior de vocábulos que a linguagem oral para expressar a mesma idéia. É

dirigida a uma pessoa ausente, que raramente tem em mente o mesmo tema do escritor.”

æVygotsky, L.S. Pensamento, Lenguaje (1985) Buenos Aires:

Pléyade apud Cesar Cool, Jesus Palácios e Álvaro Marchesi.

Desenvolvimento Psicológico e Educação-vol.3-pág.114-Art Med Edit.1995-Porto Alegre.

1.4.2 - DIFICULDADES MATEMÁTICAS

O conhecimento e as habilidades matemáticas fazem parte da vida do indivíduo

desde a mais tenra idade. Nas tarefas diárias, habituais ou relacionadas com o trabalho,

entra-se em contato com as habilidades quantitativas. Bebês a partir de 6 meses trabalham

com quantidades, quando empilham objetos, retiram ou acrescentam os mesmos, dos

grupos que manipulam.

Meninos menores de 6 anos, que em sua maioria ainda não tem vida escolar,

vendem de tudo nos sinais, nas esquinas e com muita categoria dão troco, trocam notas,

barganham seus produtos sem nenhuma dificuldade aparente, na atividade exercida.

Mas o fato é que, o ensino da matemática constitui o núcleo de preocupações das

escolas e a causa de muitas reformas educativas na educação brasileira.

Alguns requisitos são considerados básicos para o êxito em atividades que

envolvem raciocínio e cálculos matemáticos. Manuseando-se guias ou manuais de livros

didáticos, com orientações ao professor da referida disciplina, observa-se que é comum

apresentar-se idéias, sugestões de jogos e desafios e ainda a análise e avaliação desses

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requisitos, que demonstram o comportamento necessário para a aprendizagem das noções

matemáticas.

21

A intenção é de integrar as idéias clássicas de Piaget e outros colaboradores com

relação ao conceito de número, baseadas na teoria naturacionista. Para cada faixa etária

vê-se a necessidade de demonstração de algumas capacidades.

Na idade infantil de 3 a 6 anos o aluno deverá ser capaz de:

¬ compreender igual e diferente;

¬ ordenar objetos pelo tamanho, cor e forma;

¬ classificar objetos por suas características;

¬ compreensão dos conceitos de: longo, curto, pouco, algum, grande, pequeno,

menos que, mais que;

¬ ordenar objetos pelo tamanho;

¬ compreender a correspondência 1 a 1;

¬ usar objetos para somas simples;

¬ reconhecer números de 0 a 9;

¬ contar até 10;

¬ reproduzir figuras com cubos;

¬ copiar números;

¬ agrupar objetos pelo nome do número;

¬ nomear formas;

¬ reproduzir formas e figuras complexas.

De 6 aos 12 anos, deverá adquirir capacidade para:

¬ agrupar objetos de 10 em 10;

¬ ler e escrever de 0 à 999;

¬ reconhecer e dizer hora de diferentes formas;

¬ resolver problemas com elementos desconhecidos;

¬ compreender meios e quartos;

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¬ medir objetos;

¬ nomear o valor do dinheiro;

¬ medir o volume;

22

¬ executar operações aritméticas básicas;

¬ usar reagrupamento;

¬ compreender números ordinais;

¬ completar problemas mentais simples;

¬ iniciar as habilidades com mapas;

¬ analisar linhas de tempo.

A partir dos 12 anos, os requisitos são mais complexo se necessários em toda vida

escolar futura. Capacidade para:

¬ usar os números na vida cotidiana (receitas, medidas, troco, etc);

¬ usar o sistema métrico decimal;

¬ reconhecer os números romanos;

¬ usar cálculos, com ou sem calculadora;

¬ usar estimativas de custos comerciais e domésticos;

¬ ler quadros, gráficos, mapas;

¬ compreender direções;

¬ utilizar em projetos caseiros, a solução de problemas;

¬ compreender a probabilidade;

¬ desenvolver soluções flexíveis em diferentes problemas.

A conquista e aprendizagem dessas habilidades matemáticas exige conhecer com

clareza os processos e passos no desenvolvimento dos conceitos relacionados com o

número.

Diversos trabalhos acadêmicos identificam a situação e apontam como uma das

causas a utilização de livros didáticos inadequados, alguns até bastantes radicais sugerem o

desaparecimento dos mesmos, que incentivam a memorização e a aplicação mecânica de

fórmulas, algorítmos e outros procedimentos que não estimulam o exercício do raciocínio.

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Tem-se então até aqui duas descrições: meninos se saindo muito bem em

experiências matemáticas, sem auxílio da escola e a escola com um grande número de

alunos que acha a matemática difícil ou enfadonha.

23

Seria então a matemática uma disciplina objetivamente difícil ou será que não é

bem ensinada?

O que impede ou dificulta a aprendizagem das operações matemáticas mais

elementares?

Pedagogicamente o que se vê hoje é um movimento grande no sentido de avaliar os

conteúdos priorizados e as alternativas metadológicas adotados pelo professor, no sentido

de rever estratégias onde a criança possa estar em contato com a matemática por meio do

desenvolvimento do cálculo mental, da prática de estimativas, no estabelecimento de

relações, da formulação e resolução de problemas, através de situações reais de seu dia-a-

dia - a aplicabilidade da matemática.

Todas essas medidas, no entanto, não alteram ainda as investigações sobre a

Dificuldade de Aprendizagem em Matemática.

Os estudos específicos sobre o tema também são escassos e a análise rigorosa mais

ainda.

Os conceitos tradicionais de “discalculia” descritos por clínicos e investigadores,

concebem uma definição da dificuldade, como uma “entidade”; algo como uma doença ou

infecção, e que provavelmente seria causado por alguma alteração neurológica.

Recentemente estudos mais conclusivos, demonstram que podem ser produzidas

alterações e perdas das capacidades de representação numérica e cálculo, associadas a

lesões inequívocas em determinadas zonas cerebrais (parietal inferior, parieto-occipital,

setores frontais, etc). O que os críticos que defendem a disfunção cerebral - discalculia -

negam é que estes conceitos sejam explicativos, e que possam ser aplicados a esta alta

porcentagem de crianças que, apesar de suas funções intelectuais, emocionais e perceptivas

normais, adquirem com lentidão os conceitos, representações e operações matemáticas.

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Não se tem então definido com clareza diferenças neurológicas de grupos

indicados, mas foram reunidas certas diferenças cognitivas que atualmente são pesquisadas

em programas desenvolvidos em Universidades Brasileiras, inclusive, quanto as

competências de memória, raciocínio e déficts de aprendizagem de um modo geral.

Além de estar atenta aos resultados dessas investigações e pesquisas a respeito, é

necessário que a escola esteja preparada para dar mais importância à aquisição de

conceitos para facilitar a aprendizagem significativa, trabalhando a solução de problemas e

diminuindo o hábito de cálculos abstratos, dando a criança a oportunidade de experimentar

uma matemática viva e dinâmica.

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CAP. II

O FRACASSO ESCOLAR

Como no capítulo anterior, a questão do fracasso escolar também não será tratada

aqui em relação àqueles alunos que apresentam problemas neurológicos, e que por conta

disso apresentam diversas dificuldades no processo ensino aprendizagem. O objeto de

estudo é a postura que o aluno, que enfrenta o problema do insucesso na escola adota, e

como esse movimento postural pode ser prejudicial a sua vida. Portanto, o fracasso escolar

será abordado, sob o aspecto pedagógico.

A partir de uma prática pedagógica bem cuidada, compromissada com a educação,

será possível impedir que pequenas dificuldades se transformem em transtornos escolares.

Para isso é necessário que se analise alguns sintomas do insucesso escolar.

2.1 - A FALTA DE CURIOSIDADE

Observando crianças de diferentes faixas etárias, é comum notar-se uma constante e

fantástica curiosidade a cerca de fatos e fenômenos, que ocorrem no seu dia-a-dia, mas que

ainda não conseguem entender.

Dependendo da idade a curiosidade infantil é demonstrada de diversas maneiras.

Perguntas sem fim, comparações, experimentações, tudo é utilizado por eles, na ânsia de

descobrir a resposta ou o caminho mais adequado, que os levem a compreender e entender

o que se passa a sua volta, com a natureza, com o mundo. Isso é incontestável: A criança é

por si, muito curiosa!

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Essa curiosidade, que seria um excelente instrumento no auxílio à aprendizagem;

não parece tão persistente, no ambiente escolar. A participação e reação de alunos,

incluindo escolas da rede privada ou do ensino público, já não aparecem de forma tão

intensa. Mesmo os alunos matriculados, nas diversas turmas de Educação Infantil, onde a

faixa etária vai de 2 a 6 anos, quando a curiosidade é ainda maior, o que se observa é que

ela, no mínimo, não é tão constante, na Escola. A vontade de conhecer e experimentar as

novidades que a Escola traz, não aparecem com a mesma intensidade que as coisas “lá de

fora”.

A preocupação dos professores vem acompanhada de queixas, quanto ao

rendimento de seus alunos e é comum comentários como: - Tudo é motivo para desviar a

atenção desses pequeninos, durante as aulas. Basta um pequeno ruído, uma voz diferente,

para que já não participem mais de corpo presente das atividades.

Acompanhando mais de perto esse comportamento, poderá se notar que não são as

normas que elas rejeitam. A sua recusa se dirige a atitude não criativa que delas é exigida

perante essas normas.

Não há jogo sem regras, nem civilização sem leis; isso as crianças já vivem,

intuem, pressentem. Mas, o que vivem na escola é a impossibilidade de escolher, de

decidir, de inventar. Outras já decidiram por elas o que devem vestir, a sala onde ficarão, a

professora, os colegas com os quais terão que conviver, o que terão que absorver em

informações, como com o que ocuparão seu tempo.

Nesse contexto, qual o espaço, criado pela Escola, para que a criança possa

exercitar seu pensamento, seu desejo e sua imaginação?

2.2 - A APATIA DO ALUNO NAS AULAS

Essa é uma outra observação importante feita durante esse estudo. Alunos que

embora permaneçam fisicamente presente na sala de aula, abandonam psicologicamente o

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processo escolar. São casos de alunos que passam pela Escola, alguns com aproveitamento

até exemplar, mas apresentando pequeno interesse pelas aulas, pela pesquisa, pelo estudo.

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É bastante comum encontrar alunos discutindo entre si, sobre a falta de

aplicabilidade dos diversos conteúdos adquiridos, à sua vida diária. Consideram uma

prática inútil e por conta disso tomam uma atitude de resistência passiva, conformando-se

com a simples transmissão de informações, ao invés da troca. O passar dos anos escolares

é somente um passaporte para um curso superior ou emprego.

O fato de não enfrentarem problemas no aproveitamento, não indica, que tenham

tido uma aprendizagem satisfatória. O mercado de trabalho virá numa escala muito mais

exigente e cruel, onde vencerá o mais dinâmico, o mais polêmico, aquele que

desempenhar-se de maneira mais construtiva e mais criativa no mercado.

Por que essa vontade de conhecer e experimentar, muitas vezes se apaga na escola,

fazendo daquele ser curioso, um aluno totalmente disperso e apático?

2.3 - MÉTODOS E PRÁTICAS DE ENSINO

A condição básica da aprendizagem controlada, clara tanto para professores como

para os alunos, é a submissão. Esta palavra é, entretanto, raramente usada na escola; ao

contrário, dizemos que as crianças devem ser ensinadas a agir em cooperação, a tornar-se

cidadãos conscientes de seus direitos e a agir como pessoas amadurecidas.

Essa submissão é a mais grave, prática, onde o que se exige do aluno é que ele

falsifique o seu comportamento, distribuindo sua liberdade de pensar, de sentir e de atribuir

valores, abdicando do direito de se apresentar como um ser participante, livre e autêntico

da realidade que conhece.

Mas, cada professor tem suas próprias teorias a respeito do por que os alunos se

comportam e se desempenham de maneiras diferentes. São essas teorias que lhe servem

de base para o emprego de métodos também próprios, nas sala de aula. Pode-se então

deduzir que uma das maiores causas do insucesso escolar é encontrada nas pressuposições

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injustificadas acerca da aprendizagem humana e do desenvolvimento, sustentadas pelos

professores, e nas práticas de ensino que delas derivam.

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De todas as convicções a respeito da aprendizagem humana e do desenvolvimento,

a mais difundida no âmbito escolar e sobre a qual de fundamentam diversos métodos e

processos de ensino indefensáveis, é a de que sem um conjunto predeterminado de

condições, os alunos não tem possibilidade de aprender e de desenvolver-se de forma

construtiva e válida para si mesmos e para a sociedade. Esta idéia está baseada em quatro

suposições errôneas:

1 - a de que uma cuidadosa manipulação é necessária para que o aluno aprenda;

2 - a de que o adultos sabem melhor o que o aluno vai aprender;

3 - a de que existe um processo determinado de aprendizagem, através do qual

todos os alunos devem ser orientados;

4 - a de que existe um determinado nível de conhecimento e de desempenho que

todos os alunos devem alcançar.

Haverá, no entanto, necessidade dessa cuidadosa manipulação, para que o aluno

aprenda e se desenvolva de forma construtiva?

2.4 - A AVALIAÇÃO

Os alunos diferem um dos outros quanto à média de desenvolvimento de suas

capacidades físicas, emocionais e intelectuais; quanto à sua experiência com companheiros

da mesma idade, com os pais e irmãos; quanto às suas atitudes, interesses e ambições; e

quanto à forma pela qual todas estas características agem entre si. Em compensação, essas

características de interação, particulares de um estudante, individualmente, resultam na

existência de uma única forma de aprender, que ele traz consigo para a situação de

aprendizagem.

Deduz-se então que nem um único conjunto de objetivos, nem um único processo

de aprendizagem e nem uma época determinada e adequada para que todos os educandos

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aprendam e se desenvolvam da mesma forma. Nenhum método de agrupar estudantes,

quer por idade, sexo, tamanho ou rendimento é capaz de, sozinho, lidar com as

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predisposições de aprendizagem significativa que cada aluno traz consigo para o trabalho

escolar. Para tornar possível que cada aluno extraia de sua permanência na escola o

máximo benefício, para assegurar objetivos, conteúdos e processos de aprendizagem

válidos para cada estudante, a administração e os professores da escola devem construir

condições e oportunidades para o tipo de desenvolvimento e para o quadro único das

predisposições de aprendizagem de cada estudante. Na prática diária, isto significa que

conceitos de práticas isoladas e de provas e testes ocasionais, não resultam sempre na

maneira mais adequada de avaliar o desempenho de cada aluno. Em muitos casos, o

estudo independentemente, grupos de trabalhos orientadas e auto-selecionados, a

aprendizagem natural de acordo com a construção de conceitos significativos e a boa

relação professor x aluno, garantem uma melhor e mais adequada maneira de se avaliar o

desempenho de cada aluno.

Avaliar todos os educandos, de uma determinada idade, através dos mesmos

conteúdos, na mesma época e do mesmo modo, é um ERRO. É a suposição de que um

padrão fixo de desempenho é igualmente aplicável a todos os alunos de um grupo, a

despeito das diferenças individuais de capacidade e motivação. Isso indica que o emprego

de um único critério de avaliação, com relação ao aproveitamento dos alunos é absurdo e

destrutivo, quanto aos efeitos que produz na evolução da aprendizagem de cada um.

O aluno quando reprovado, é alvo de uma grave injustiça. Por se encontrar abaixo

do nível de sua série, em capacidade e motivação, não vão nunca ao encontro do sucesso.

Teriam então, que desempenhar-se além de sua capacidade?

Esta idéia, de que um determinado conjunto de condições de aprendizagem deve ser

imposto a todos os alunos é injusta e constitui, uma premissa básica, na qual se

fundamentam uma prática de se avaliar o educando, destruindo, sua capacidade de

questionar e criticar, aceitando como sua verdade aquilo que lhe foi imposto como

verdade.

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Os sintomas levantados neste capítulo, que sinalizam o problema do insucesso ou

fracasso escolar, são discutidos e analisados em diversas obras sobre a questão da

avaliação no educação brasileira e resultariam em material para análise de várias outras

questões decorrentes de nosso sistema educacional. No entanto foram abordadas de

maneira mais superficial para que se tenha uma idéia de que o próprio sistema pode estar

provocando esse insucesso.

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CAP. III

PSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM

O desenvolvimento da criança tem início no momento da concepção, cerca de nove

meses antes do nascimento. O desenvolvimento fetal se dá por meio de processos

regulados exclusivamente pela lógica biológica, vindo entretanto, a ter continuidade após o

nascimento, quando um por um, os órgãos e sistemas assumem suas funções no organismo,

ainda que muitos deles ainda se manifestem de forma parcial.

Após o nascimento, a motricidade, já manifesta na vida intra-uterina, prossegue em

desenvolvimento constante, de forma paulatina e gradual, inicialmente de forma elementar

e indiferenciada, passando posteriormente para um estágio mais organizado, com precisão

do controle mental. Dessa maneira, todos os movimentos que a criança utiliza ao longo do

processo de desenvolvimento pós-natal indicam-nos sua maturidade e sua integridade

psicofísica. As etapas de maturidade obedecem ao que se compreende como processo de

maturação, que ocorre no interior do cérebro e tem uma relação estreita com a evolução do

controle postural e do outro controle motor.

Quando se boceja, se espirra ou se saliva, demonstra-se uma manifestação primitiva

de gestos. Os hábitos higiênicos são comportamentos copiados em aprendizagens básicas

no convívio social. Já o grito, é um comportamento inato que se manifesta ao longo de

toda vida do homem, de diversas maneiras e pode significar dor, medo, prazer, mas

representa em qualquer situação a resposta do corpo - uma reação - que implica num

determinado movimento.

Esse movimento é então a chave da relação que faço da psicomotricidade com a

aprendizagem, buscando recuperar a qualidade dos gestos corporais, a medida em que o

aluno se fecha para um sistema que impõe regras e lhe cobra posturas e atitudes, ainda não

reconhecidos por ele.

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A aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo, que se

expressa, diante de uma situação - problema, sob a forma de uma mudança de

comportamento em função da experiência. Somente saber sobre “algo”não capacita a

pessoa a realizar esse “algo” de maneira adequada. Saber sobre algo significa o indivíduo

colocar-se a si mesmo e ao objeto em um sistema de relações, partindo de uma ação

executada sobre o mesmo. A construção do conhecimento não é algo adquirido de fora

para dentro. Depende das ações sensório-motoras que, coordenadas, ativam, organizam e

estruturam o sistema nervoso do organismo humano. E é a partir daí que se faz a diferença

no agir sobre as coisas que aprende.

3.1. - QUANDO O ALUNO FRACASSA E A PSICOMOTRICIDADE ATUA.

Na fase escolar, aproximadamente aos 6 anos, início de escolarização, a criança já é

capaz de atender, e responder às exigências da escola nos aspectos motor, cognitivo e

afetivo, e seu interesse principal volta a ser direcionado ao conhecimento da realidade. No

entanto, inicia-se uma fase de apreensão de conhecimento produzido e sistematizado pela

escola, que não analisa o aproveitamento e rendimento de cada um. O desenvolvimento

não pode ser mais gradativo e de acordo com o ritmo individual. Todos serão avaliados

sob um mínimo de conteúdos estabelecidos e para alcançar o sucesso, terão que atingir

uma média também estabelecida pela escola. E aí aquela capacidade afetiva

principalmente, cognitiva e motora antes adquirida, já não é a mesma.

O esforço que todos tem que fazer, é muito grande, mesmo os mais inteligentes,

pois estarão sob o julgamento constante do adulto. A esse julgamento, algumas crianças

resistem, fazendo logo de início uma forma de rejeitação a aprendizagem.

Essa resistência pode tomar a forma de passividade; a falta de interesse, de

atenção, mas também esconder-se atrás de outros sintomas, alguns já citados em capítulos

anteriores, que tornam inexplicável, seu fracasso.

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A prática psicomotora na escola, deverá surgir nesses casos para levantar a auto-

estima desse aluno e melhorar sua postura que na maioria das vezes se mostra com as

seguintes características:

¬ costas arcadas e curvadas;

¬ ombros fechados e rígidos;

¬ cabeça sempre baixa;

¬ braços e mãos soltos sem expressão ou atados um ao outro.

Deve-se então trabalhar o que há de positivo na criança, reforçar o acerto, aquilo

que faz de melhor; ajudando-o a superar suas dificuldades, o que acarretará em princípio,

no reencontro com a confiança e segurança.

Existe na criança, múltiplas potencialidades positivas que podem ser desenvolvidas

ao longo de um trabalho, permitindo que aquela dificuldade apresentada se torne pequena

diante de suas conquistas, não esquecendo de que cada criança, como todo ser, tem seu

ritmo e sua individualidade.

O contexto pedagógico deve incluir o trabalho psicomotor formando um meio

coerente e estimulante à aprendizagem, com o propósito de liberar a criança da constante

vigília do adulto. Formar criaturas criativas que questionam o conhecimento recebido, e

constroem da maneira que lhe é possível, a aquisição desses conhecimentos.

Fazer com que professores e outros profissionais envolvidos no processo de ensino,

vivam situações e vivências simbólicas em diferentes etapas de integração e movimento,

também contribuirá para a reformulação de todas as questões que envolvem o fracasso

escolar.

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3.2. - ATIVIDADES PSICOMOTORAS QUE PROMOVEM O ALUNO E DEVOLVEM O DESEJO

DE APRENDER

As atividades psicomotoras devem ser inseridas com o objetivo de penetrar no

processo criativo de construção e expressão do movimento, do conhecimento e da

personalidade do educando. Ao psicomotricista cabe resgatar o desejo de aprender, a

curiosidade e a autonomia para que o desenvolvimento harmônico se faça e a criança seja

capaz de desenvolver a contento, suas competências, dentro de suas possibilidades. A

partir da ação, jogos e vivências, a prática psicomotora favorecerá a maturação psicológica

e cognitiva do educando.

3.2.1. - NAS DIFICULDADES DE LINGUAGEM

A capacidade de utilizar a linguagem para expressar e entender pensamentos,

sentimentos, valores e idéias, só é adquirida se a criança obtiver um mínimo de

coordenação motora ampla e fina, de verbalização, de memorização, análise e síntese,

acuidade visual, coordenação visual, lateralidade, orientação especial e temporal.

A atuação do psicomotricista deverá ser baseado num programa que leve em

consideração os seguintes aspectos:

¬ Compreensão de conceitos: as crianças entendem os conceitos, por

experimentação. Pegar, puxar, encaixar, jogar, pular, empurrar e outras atividades que se

possa construir essas noções.

¬ Organização do pensamento: através de um jogo, real ou imaginário, o

psicomotricista promoverá o uso da linguagem verbal e oral. Descrever personagens,

vivências após os jogos, o que sentiram durante as brincadeiras, o que mais gostaram e o

que não gostaram e outras questões que provoquem a verbalização.

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¬ Percepção e estruturação espacial: quando a criança é levada a se orientar, a

organizar e desenvolver a percepção e a relação espacial, adquire melhores condições para

desenvolver a linguagem. A percepção deficiente ocasiona a troca de fonemas e grafemas.

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¬ Coordenação dinâmica global: a dimensão motora encontra-se interligada a

dimensão cognitiva e deve ser trabalhada através de exercícios fonoarticulatórios,

exercícios respiratórios, exercícios visomotor e coordenação motora específica.

3.2.2 - NAS DIFICULDADES LÓGICO-MATEMÁTICAS

A lógica está relacionada a análise das situações, objetos e símbolos, da ordenação,

da reordenação e da avaliação de quantidades. Desse modo, a atividade motora, a

coordenação ampla e refinada, o equilíbrio, o freio inibitório e a relaxação são capacidades

que necessitam de estímulo por auxiliar a criança na exploração dos objetos, onde irá

desenvolver a capacidade de reconhecer quantidades, de agrupar, classificar, seriar e

estabelecer relações de causa e efeito.

Atividades que trabalham com a noção de quantidade, seriação, coordenação

global, visomotora, específica e equilíbrio:

¬ selecionar e ordenar objetos;

¬ predizer ações e deduções;

¬ formular hipóteses para diversas questões;

¬ propor soluções para determinadas situações;

¬ criar, antecipar e ordenar ações, etc.

3.2.3. - NAS DIFICULDADES PESSOAIS

A habilidade para lidar com sentimentos, emoções e motivações, envolve a

capacidade de observar, fazer distinções entre desejos e intenções, de interagir e influenciar

o outro e o grupo. A afetividade emerge e está presente o tempo todo. Diante do sucesso e

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insucesso do educando nesse processo, o que se vê é a libertação de sentimentos como a

alegria, a tristeza, a angústia, a aflição, o medo, o amor, a raiva, a superação e outros

conflitos. O psicomotricista deve interagir com o aluno/paciente nessas situações.

36

Deve estar atento, ser facilitador, empático, incentivador, acolhedor, solidário, dar

limites e segurança. Deve fomentar atividades que propiciem a construção da imagem

corporal, a auto aceitação, a autoconsciência, o fazer opções conscientes, o conhecer e

interpretar em si e nos outros os sentimentos, a cooperação, a administração dos conflitos,

o lidar com diferentes tipos de personalidade, a interação com o grupo, a participação, a

cooperação, o declínio do egocentrismo, a construção de papéis sociais, o desenvolvimento

da expressão, a percepção das intenções e motivações simples de si e dos outros, o

aprimoramento dos esquemas de comunicação das emoções e sentimentos. Todos esses

aspectos devem estar acoplados à descoberta do corpo, ao desenvolvimento das habilidades

motoras finas e amplas, etc.

Essa proposta de articular a psicomotricidade aos casos de crianças que enfrentam o

fracasso escolar, é uma proposta viva que oferece a escola a oportunidade de transformar a

ação de construção do conhecimento, numa atividade lúdica e prazerosa, que possibilitará

a oportunidade de termos nossas crianças, crianças brasileiras, saindo da escola de asas

abertas- abertas para o mundo - confiante, segura na construção de seu conteúdo psíquico,

como um ser de comunicação e de criação. NUM SER OPERATÓRIO.

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CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho e pela análise dos diversos materiais pesquisados, pode-

se concluir que a educação brasileira, passa por grandes mudanças e reformas.

A Escola, como se sabe, foi criada para resolver a questão da transmissão e

socialmente valorizada. No entanto hoje, nos parece pertinente que essa instituição não

tenha esse único intuito, já que se compromete com a formação e o desenvolvimento de um

público que formará posteriormente uma cidadania.

Confundiu-se também, por muito tempo, o termo ensinar. Esse ato era visto como

sinônimo de transmitir, onde o aluno era agente passivo da aprendizagem e único

responsável pelas dificuldades que encontrava nesse processo e portanto, merecedor do

castigo da reprovação. Atualmente com estudos relacionados a aprendizagem, sabe-se que

essa competência é também da escola e dos profissionais envolvidos. Sabe-se também

que, de algumas questões, a instituição em si, sozinha não dará conta. É preciso que ela

conheça cada aluno, cada história e o encaminhe em todas as direções possíveis, para

alcançar o sucesso. A Escola tem que ser o espaço de levar o indivíduo ao sucesso, não ao

fracasso.

O professor é hoje um gerador de situações estimuladoras e eficazes, que comanda

esse processo através de experiências e descobertas. É nesse contexto que a

psicomotricidade ganha espaço como ferramenta ideal para o desenvolvimento de

diferentes experiências no campo cognitivo e social. Desponta como uma prática que vem

conquistando seu espaço dentro e fora da Instituição Escolar, tornando necessária uma

maior reflexão sobre a importância do conhecimento do itinerário de maturação pela via

motora.

A possibilidade dessa intervenção favorecerá, sem dúvida, o desenvolvimento da

criança, dando-lhe possibilidade de tornar-se uma pessoa única, diferente dos outros em

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sua maneira de se comunicar, de se expressar, de pensar e de crescer. CRESCER a sua

maneira, dentro de suas possibilidades.

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O desenho acima é da menina de ouro, quem eu dediquei esse trabalho.

Marília depois de alguns insucessos, encontrou uma Escola que abraçou as

dificuldades que trazia, como suas. Utilizando a prática psicomotora e revendo sempre sua

proposta pedagógica, investiu o tempo todo em seu sucesso. Respeitou, apostou,

valorizou, incentivou e abraçou a causa.

Tempos depois, esse abraço é devolvido numa atividade de Educação Artística,

com o tema: Essa é a minha Escola!

Uma Escola de braços abertos.

“A criança atrasada, abandonada a si mesma, não pode atingir nenhuma forma

evolucionada de pensamento abstrato, e precisamente por isso, a tarefa concreta da Escola

consiste em fazer todos os esforços para encaminhar a criança nessa direção, para

desenvolver o que lhe falta.”

Vygotsky

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - CÉSAR, Coll. Desenvolvimento Psicológico e Educação. Porto Alegre:

Art Med, 1995.

2 - FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974.

3 - PAVIANI, Jaime. Problemas de Filosofia da Educação. Petrópolis:

Editora Vozes, 1990.

4 - REGO, Tereza C. Vygotsky. Uma perspectiva histórico-cultural da

Educação. Petrópolis: Editora Vozes, 1996.

5 - S.M.E.R.J. Multi-Educação - Núcleo Curricular Básico. Rio de Janeiro,

1996.

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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

1 - FERNÁNDEZ, Alícia. A Inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1991.

2 - FERREIRA, C.A.M.Psicomotricidade- Da Educação Infantil à

Gerontologia. São Paulo: Ed. Lovise, 2000.

3 - GALVÃO, I. Henry Wallon - Uma concepção dialética do

desenvolvimento infantil. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

4 - GARCIA, I.N. Manual de Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1998.

5 - LAPIERRE, A et alli. O adulto diante da criança. São Paulo: Editora

Monole, 1987.

6 - ______________. A simbologia do movimento.Porto Alegre: Artes

Médicas, 1988.

7 - LE CAMUS, Jean. O corpo em discussão. Porto Alegre: Artes Médicas,

1986.

8 - VAYER, Pierre et alli. Linguagem Corporal. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1985.