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PSICOLOGIA E CARDIOLOGIA Rafael Sitta Rhaysa Fernandes

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Page 1: PSICOLOGIA E CARDIOLOGIA Rafael Sitta Rhaysa Fernandes

PSICOLOGIA E CARDIOLOGIARafael Sitta Rhaysa Fernandes

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• Cardiologia é a especialidade médica que se ocupa do diagnóstico e tratamento das doenças que acometem o coração bem como os outros componentes do sistema circulatório.

• O médico especialista nessa área é o cardiologista.

O QUE É CARDIOLOGIA

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• Para lidar com a dimensão existencial que se potencializa no adoecimento,uma nova área de atuação psicológica denominada Psicologia Hospitalar, vem ganhando força e cada vez mais espaço no Brasil.

PSICOLOGIA HOSPITALAR

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FATORES DE RISCO PARA PROBLEMAS CARDÍACOS

• Inúmeros pesquisadores têm se esforçado para identificar fatores de risco para doenças do coração. Já foram reunidas evidências sobre determinantes biológicos, comportamentais e psicossociais, mas sabe-se, atualmente, que fatores orgânicos – como hipertensão, hipercolesterolemia, obesidade e diabetes – explicam apenas 40% das ocorrências de doenças cardíacas (Kubzansky & Kawachi, 2000).

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FATORES PSICOSSOCIAIS• Muitos estudos empíricos têm demonstrado a relação entre doenças

cardiovasculares e fatores psicossociais, dentre os quais os mais investigados são: nível socioeconômico, suporte social, idade, gênero, padrão de comportamento tipo A, estresse, depressão e emoções negativas e positivas. Essa literatura especializada também aponta que a combinação de fatores psicossociais aumenta significativamente o risco potencial, além de atuar sinergicamente com fatores biológicos incrementando ainda mais a predisposição a eventos cardíacos (Rozanski, Blumenthal & Kaplan, 1999).

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FATOR DE GÊNERO

• No Brasil, ser do gênero masculino é um dos fatores predisponentes para doenças do coração. Porém, a ocorrência de óbitos de origem cardíaca é maior entre mulheres, visto que, em 2000, representou 31,30% do total de mortes, ao passo que este percentual para homens foi de 24,88% (Ministério da Saúde, 2003). Para Frasure-Smith e Lesperance (1998), Kubzansky e Kawachi (2000) e Perez (2004), é preciso apontar que grande parte das pesquisas sobre predisposição é realizada com amostras compostas por homens, quando a taxa de mortalidade é maior entre mulheres.

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FATOR DE GÊNERO

• Estudos a respeito da prevalência de doença coronária indicam que as taxas mais elevadas de mortalidade feminina estão associadas à presença de fatores hormonais, transmissão genética, diferenças de estrutura e funcionamento cerebral, assim como fatores psicossociais, tais como funcionamento psicológico, papel familiar e social (Perez, Nicolau, Romano & Laranjeira, 2005).

• Ao comparar mulheres com e sem doenças cardiovasculares, durante o climatério, Favarato e Aldrighi (2001) obtiveram mais relatos de insatisfação com a vida, tristeza, choro fácil e nervosismo de mulheres coronariopatas do que de mulheres do grupo controle.

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FATOR DE GÊNERO

• Os papéis sociais de gênero fazem com que as reações frente a uma mesma situação sejam diferentes.

• Homens tendem mais a expressar emoções negativas, vivenciando raiva com maior frequência, enquanto reprimem o medo, e expressando as emoções com maiores níveis de ativação fisiológica.

• As mulheres, por sua vez, relatam maior gama de emoções e as verbalizam mais intensamente, reprimindo tanto a experiência quanto a expressão da raiva.

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FATOR DE GÊNERO• Ou seja, a supressão da raiva determinada pela socialização faz com que,

nas mulheres, sentir ou demonstrar raiva gere outras emoções negativas como culpa, ansiedade, vergonha e depressão. Esse somatório de emoções aumenta a reatividade fisiológica, especialmente entre adolescentes e mulheres jovens, tendência que diminui com a idade, principalmente em episódios de raiva e de medo (Kubzansky & Kawachi, 2000; Labouvie-Vief, Lumley, Jain & Heinze, 2003; Lampert & cols., 2002; Lavoiea, Miller, Conwaya & Fleetb, 2001).

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FATOR EMOCIONAL• Na literatura especializada, a descrição conceitual e teórica das

emoções envolve diversas perspectivas, nem sempre consensuais ou convergentes. Entretanto, a maioria dos pesquisadores concorda que as emoções compreendem componentes afetivos, cognitivos e comportamentais, associados a componentes neurobiológicos. Ou seja, as emoções estimulam ações que determinam padrões de atividade fisiológica, os quais subsidiam o comportamento adaptativo. Elas integram o sistema neuro-anátomo-fisiológico e se originam na interação da pessoa com seu ambiente, regulando o comportamento diante das mudanças situacionais (Gallo & Matthews, 2003; Kubzansky & Kawachi, 2000).

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FATOR EMOCIONAL

• Considera-se que há, pelo menos, duas dimensões das emoções: intensidade e frequência. A intensidade refere-se à força das experiências emocionais e a frequência, à percentagem do tempo em que a emoção avaliada predomina sobre as demais. Vale salientar que as pessoas se lembram melhor da frequência de determinada emoção, o que as leva a superestimar a intensidade, tanto das emoções positivas quanto das negativas, mas, em especial, das negativas. Assim, situações com carga emocional seriam mais lembradas do que situações neutras (Thomas & Diener, 1990).

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FATOR EMOCIONAL

• Há grande variabilidade na expressão de emoções entre pessoas. Acredita-se que tanto a expressão exagerada quanto a inibição das emoções têm consequências para a saúde. Inibir a manifestação das emoções demanda esforço psicológico que, com o tempo, acarreta estresse cumulativo (Kubzansky & Kawachi, 2000).

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FATOR EMOCIONAL

• Todavia, ao se estudar a relação entre a expressão e a inibição das emoções e incrementos da pressão arterial, em situações de role playing verificou-se que a expressão das emoções estava mais associada a aumentos da pressão arterial (Lipp, Pereira, Justo & Matos, 2006). Mas, em outro trabalho, notou-se que quando o estilo de regulação é mais expressivo, a reatividade fisiológica é menor (Labouvie-Vief & cols., 2003). Segundo alguns pesquisadores, a reatividade emocional que se desvia da norma, em ambas as direções, está relacionada com o risco de hipertensão e, provavelmente, com arritmias (Carels & cols., 1999; Kubzansky & Kawachi, 2000).

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SIGNIFICADO DO CORAÇÃO• Na cultura ocidental, a figura do coração carrega várias conotações. Ao

mesmo tempo, é considerado fisiologicamente o órgão motor do corpo e a sede da vida, das emoções, do caráter do indivíduo. A concepção dual do coração implica em se pensar também nos aspectos míticos que envolvem sua percepção. Culturalmente, menciona-se o coração em diversas esferas, seja em obras literárias (aquele que encerra razões que a própria razão desconhece) ou em imagens religiosas (Sagrado Coração de Jesus).

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SIGNIFICADO DO CORAÇÃO• Ainda, correntemente utiliza-se expressões vinculadas à figura do

coração para assinalar experiências. Fala-se em “coração partido” mediante situações de perdas ou sofrimento,assim como comumente refere-se a algo feito “ de coração” para matizar atos de intenção genuína e sincera. Nesse contexto, pode-se compreender como as afecções cardíacas exercem forte impacto sobre os sentimentos e comportamentos humanos (OLIVEIRA e LUZ,1992, RAGOZINI et al., 2005, ROMANO, 2002).

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SIGNIFICADO DO CORAÇÃO• Quando este órgão tão cheio de simbolismos, e que associamos tão

diretamente às nossas emoções, adoece, o paciente se vê diante de uma grande ameaça. Ameaça à vida muito primeiramente, ameaça à integridade do corpo e da saúde e da qualidade de vida. Conviver com o coração adoecido é conviver com uma série de restrições, sintomas necessária. Conviver com o coração adoecido é conviver com uma série de restrições, sintomas, medicações,idas ao médico, dietas etc.

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SIGNIFICADO DO CORAÇÃO• Conforme ROMANO (2002), embora novas tecnologias tenham

surgido para tratar de doenças cardíacas, cabe ressaltar que as fantasias e pressupostos individuais a respeito do órgão não desvanecem. Nesse sentido, podem ser consideradas as representações e fantasias individuais que são trazidas pelos pacientes em momento de adoecimento, internação hospitalar e necessidade de tratamento cirúrgico, já que elas poderão repercutir na forma de enfretamento das situações impostas pela doença e/ou tratamento.

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COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO• O início da doença cardíaca, caracterizado pela tentativa de cura inicial, o

começo da convivência com os sintomas, a negação da cronicidade ou existência da mesma, a procura de diferentes médicos e tratamentos e a esperança intensa da cura marcam o momento em que o paciente não se vê ainda espelhado em sua atual realidade em relação ao seu corpo e à sua saúde.

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COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO• O momento pré-cirúrgico não raramente é enfrentado com carga

significativa de ansiedade, o que muitas vezes implicaria numa situação de “paralisação” (ROMANO, 2002). Ainda, a cirurgia pode ser concebida como último recurso para a manutenção da vida, pois procura recuperar um órgão mitificado.

• Segundo refere ROMANO (2001), o impacto psicossocial da internação cirurgia no doente é assustador. Por isso, saber como o paciente elabora seus conteúdos internos no período pré-cirúrgico é importante para se pensar na vivência no período posterior ao procedimento. Dessa forma, a existência de ansiedade paralisadora e falta de inquietação no momento anterior à cirurgia pode ser índice de desadaptação em período pós-cirúrgico.

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COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO• Por outro lado, baixo grau de ansiedade denotaria baixo grau de

introversão, podendo trazer resistência quanto à compreensão e reafirmação da necessidade da cirurgia. Assim sendo, a faixa de ansiedade desejável seria aquela que conduz o indivíduo e a família à apropriação de informações sobre a doença e o tratamento através do contato com a equipe. Ainda, as reações no pós-operatório são dependentes da forma como as informações foram conduzidas no pré-cirúrgico, ou seja, dependem também das expectativas que o paciente constrói a partir das informações que lhe foram oferecidas (BARROSO, 1992).

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COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO• A espera é rainha de todos estes momentos, e o paciente submisso a

ela teme não ter tempo. Frente à ameaça de morte súbita vivem em angústia constante, sentindo, como disse um paciente, “uma bomba relógio, que pode explodir a qualquer momento sem avisar”.

• Nas primeiras entrevistas, os pacientes se apresentam, na grande maioria das vezes, ainda em estado de choque, caracterizado pelo susto do diagnóstico e a não compreensão total e profunda do que realmente significa tudo isso que lhes foi dito.

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COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO

• Os exames do protocolo vão acontecendo e o paciente começa então a cada vez mais compreender o processo. Por outro lado, vive com ansiedade cada exame realizado, uma vez que procuram-se resultados satisfatórios para que ele possa estar apto a entrar na lista de espera. A espera começa a tomar a forma de paralisia, tudo agora dependendo do transplante.

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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR

• A inserção do psicólogo no programa de transplante cardíaco abarca a avaliação das condições emocionais do paciente para realizar a cirurgia e o atendimento psicoterápico de apoio.

• O momento de avaliação prioriza identificar a história psiquiátrica pregressa e atual (depressão, psicoses, tentativas de suicídio, debilidade mental, etc.), história pregressa e atual de tabagismo, alcoolismo e drogadicção, as relações familiares, a estrutura de personalidade do paciente, como convive com a doença e adesão ao tratamento. É de extrema importância enfatizar que a avaliação psicológica é parte de uma avaliação muito maior, multidisciplinar, sendo a discussão em equipe de cada paciente extremamente necessária.

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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR

• A clínica mostra a importância de proporcionar um espaço de apoio psicoterápico no programa de transplante cardíaco, já que é caracterizada por pacientes convivendo com uma doença crônica grave, cujo órgão doente é o coração.

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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR

• Assim sendo, a partir da compreensão dos aspectos subjetivos que envolvem o adoecimento, o psicólogo pode facilitar a apropriação de informações do paciente e de sua família sobre a doença e o tratamento. Tal prática pode ser efetivada a partir de uma atitude mediadora na comunicação entre o paciente, sua família e a equipe de saúde, de forma que haja uma ampliação do laço que une a equipe assistencial e a díade família-paciente.

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• O tempo de espera é também o tempo para o trabalho de compreensão, aceitação e tomada de atitude em relação à saúde. Muito importante é trabalhar a fantasia de que após fazer o transplante ficar-se-á livre de todas as restrições, podendo se fazer tudo que quiser. Lembrando mais uma vez, estes pacientes sofrem de uma doença crônica que não se extrai junto com o coração adoecido.

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR

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• O momento do chamado da cirurgia também representa extrema angústia para estes pacientes que são tomados por uma mistura de felicidade e medo intensos. Além disso, a impossibilidade da realização da cirurgia lançam o paciente em uma vivência de frustração. Muito importante é a presença do psicólogo nesse momento para proporcionar apoio ao paciente e seus familiares

• O acompanhamento psicológico prossegue após a alta hospitalar uma vez que a adaptação a este novo coração trará uma série de implicações práticas e subjetivas na vida do paciente.

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR

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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR

• BIONDO-SIMÕES et al. (2007) recomendam que a informação dada ao paciente deve ser minuciosa, completa e honesta, porém simples. O profissional de saúde deve certificar-se de que o que foi dito ao paciente foi compreendido por ele. Para tanto, é preciso avaliar as condições de cada paciente, entendendo suas limitações e assim adequando suas explicações. SILVA e NAKATA (2005) discorrem sobre a importância da comunicação no momento cirúrgico.

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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR• A atuação do psicólogo deve se dar, portanto, a partir da compreensão

de uma lógica de assistência pré-existente, pautada no saber sobre o organismo doente, que muitas vezes exclui o sujeito. Entende-se que tal prática não se efetiva mediante enfrentamento agressivo da lógica médica de classificação nosológica da doença e sim mediante a aceitação que esta existe, e que os pressupostos que a amparam podem ser ampliados para um entendimento mais holístico do doente.

• Nesse sentido, o papel do psicólogo é de ampliar o olhar da equipe Mulstidisciplinar, co-construindo, através de suas intervenções, um lugar no psiquismo dessa equipe que considere a existência de um sujeito- muito antes da existência de uma doença - que pode e deve falar sobre si, seus anseios e temores.