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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Este material é parte integrante da disciplina “Psicologia do Desenvolvimento

Infantil” oferecido pela UNINOVE. O acesso às atividades, as leituras interativas, os

exercícios, chats, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser

feitos diretamente no ambiente de aprendizagem on­line.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Sumário

AULA 01 • OS ESTUDOS DO DESENVOLVIMENTO.....................................................................5 Breve histórico.............................................................................................................................5 Objetivos e métodos atuais do estudo da psicologia do desenvolvimento ...............................5 Como os educadores podem se utilizar da psicologia do desenvolvimento? ...........................6

Exercícios....................................................................................................................................7 AULA 02 • O QUE ESTUDA A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO .......................................8 Conceito de Desenvolvimento .....................................................................................................9 Uma História Interessante ...........................................................................................................9 Exercícios..................................................................................................................................11

AULA 03 • DESENVOLVIMENTO PRÉ–NATAL............................................................................13 O curso do desenvolvimento pré­natal ......................................................................................14 Estágio germinal........................................................................................................................14 O estágio embrionário ...............................................................................................................15 O estágio fetal ...........................................................................................................................16 Exercícios..................................................................................................................................17

AULA 04 • FATORES AMBIENTAIS E DESENVOLVIMENTO FETAL..........................................19 Desenvolvimento fetal mês a mês .............................................................................................20 Exercícios..................................................................................................................................24

AULA 05 • PREMATURIDADE......................................................................................................26 O processo de nascimento ........................................................................................................26 Prematuridade...........................................................................................................................26 Resumo.....................................................................................................................................27 Exercícios..................................................................................................................................28

AULA 06 • PRINCÍPIOS GERAIS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO.......................................29 Exercícios..................................................................................................................................31

AULA 07 • COMO A CRIANÇA ERA VISTA..................................................................................32 Fases do desenvolvimento humano ..........................................................................................33 Período pré­natal.......................................................................................................................34 Período do recém­nascido.........................................................................................................34 Exercícios..................................................................................................................................35

AULA 08 • PRIMEIRA INFÂNCIA ..................................................................................................36 Crescimento do corpo................................................................................................................36 Proporções do corpo .................................................................................................................36 Desenvolvimento do esqueleto..................................................................................................37 Musculatura...............................................................................................................................37 Exercícios..................................................................................................................................37

AULA 09 • AS PRIMEIRAS MEMÓRIAS .......................................................................................39 O sorriso do bebê......................................................................................................................39 Estranhando as pessoas ...........................................................................................................39 Pensamento e planejamento .....................................................................................................39 Capacidades sensoriais e perceptivas ­ Paul H. Mussen...........................................................40 Exercícios..................................................................................................................................41

AULA 10 • DESENVOLVIMENTO MOTOR ...................................................................................42 Aumento geral do controle corporal...........................................................................................43 Locomoção................................................................................................................................43 Exercícios..................................................................................................................................45

AULA 11 • DESENVOLVIMENTO DA PREENSÃO.......................................................................46

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Evolução dos movimentos do bebê de 0 a 18 meses ................................................................47 Aprendizagem das habilidades motoras ....................................................................................48 Exercícios..................................................................................................................................49

AULA 12 • SEGUNDA INFÂNCIA E MENINICE ............................................................................50 Segunda infância.......................................................................................................................50 Meninice....................................................................................................................................52 Exercícios..................................................................................................................................53

AULA 13 • PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA...............................................................................54 Puberdade.................................................................................................................................54 Adolescência .............................................................................................................................54 Exercícios..................................................................................................................................56

AULA 14 • DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM (PARTE 1) ...................................................57 Exercícios..................................................................................................................................59

AULA 15 • DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM (PARTE 2) ...................................................60 Evolução da linguagem segundo Vermeylen.............................................................................60 Desenvolvimento da linguagem.................................................................................................61 Exercícios..................................................................................................................................62

AULA 16 • O DESENVOLVIMENTO MORAL ................................................................................63 A história de Heinz ....................................................................................................................63 Estágios do desenvolvimento moral segundo Lawrence Kohlberg ............................................64 Moralidade pré­convencional.....................................................................................................64 Exercícios..................................................................................................................................65

AULA 17 • MORALIDADE .............................................................................................................66 Moralidade convencional ...........................................................................................................66 Moralidade pós­convencional ....................................................................................................67 Exercícios..................................................................................................................................69

AULA 18 • DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL (PARTE 1) ....................................................70 Estágios do desenvolvimento psicossocial ................................................................................70 Confiança X Desconfiança ........................................................................................................71 Autonomia X Vergonha e Dúvida...............................................................................................71 Iniciativa X Culpa.......................................................................................................................72 Exercícios..................................................................................................................................72

AULA 19 • DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL (PARTE 2) ....................................................74 Domínio X Inferioridade.............................................................................................................74 Identidade X Confusão de papéis..............................................................................................74 Intimidade X Isolamento ............................................................................................................75 Generatividade X Estagnação ...................................................................................................76 Integridade do ego X Desesperança..........................................................................................76 Exercícios..................................................................................................................................76

AULA 20 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO ....................................................................78 1) O autoconceito ......................................................................................................................78 1.1) Como se forma o autoconceito .......................................................................................78 1.2) Conseqüências...............................................................................................................79 1.3) Implicações na educação ...............................................................................................79

Exercícios..................................................................................................................................80 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................81

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AULA 01 • OS ESTUDOS DO DESENVOLVIMENTO

Nesta aula você estudará o histórico da psicologia do desenvolvimento, a situação atual

com objetivos e métodos e a utilidade da psicologia do desenvolvimento para os educadores.

Breve histórico

A preocupação com a criança e de como ocorre seu desenvolvimento é muito antiga.

Começa com o filósofo francês Jean­Jaques Rousseau. Em 1762, foi publicado o romance de

sua autoria, denominado Emílio. Nele, Rousseau descreve a infância e o desenvolvimento de uma

criança imaginária, criada por um preceptor que vivia em contato com a natureza.

Observando Emílio, Rousseau descreve os estágios do desenvolvimento humano do

nascimento à puberdade. No prefácio desse livro escreve: “Começai por estudar vossos alunos,

pois é bem certo que não os conheceis”.

Os estudos sobre o desenvolvimento infantil continuam em 1770, com o professor suíço

Johann Heinrich Pestalozzi que, em forma de diário, escreveu as observações que ia

percebendo no desenvolvimento de seu filho.

Em 1787, na Alemanha, foram publicados por Dietrich Tiedemann os resultados da

primeira observação sistemática da evolução mental da criança. Para isso, Dietrich Tiedemann

observou seu filho desde o nascimento até os três anos de idade.

Outros estudiosos também fizeram registros em forma de diário e o mais conhecido tem

como título A alma da criança, publicado em 1881, por Guilherme Preyer.

Não apenas filósofos e médicos se preocupavam com o desenvolvimento infantil, mas

também biólogos, lingüistas e criminalistas.

Objetivos e métodos atuais do estudo da psicologia do desenvolvimento

Você sabe o que a psicologia do desenvolvimento procura estudar?

De acordo com Barros (1987: 8) ela estuda “as funções psicológicas das crianças (por

exemplo: suas reações intelectuais, sociais e emocionais), em diferentes idades, e descobrir como

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tais funções mudam com a idade”. Atualmente existem tabelas de desenvolvimento motor, da

linguagem, da cognição e da sexualidade.

Os métodos utilizados para esse estudo têm sido os de observação, os de experimentação

e os básicos, que são o longitudinal e o transversal. O método longitudinal utiliza­se dos mesmos

sujeitos por um período de tempo estabelecido. Demanda longo período de tempo e é caro,

porém de grande utilidade para avaliar efeitos posteriores.

O método transversal leva menos tempo e utiliza­se de sujeitos de diferentes idades.

Exemplo: estudar o desenvolvimento motor. Seriam utilizadas diferentes crianças com idades

variadas, por exemplo, entre 2 e 6 anos para observação. Por ser mais fácil e menos dispendioso,

é utilizado freqüentemente.

Como os educadores podem se utilizar da psicologia do desenvolvimento?

É importante que os educadores saibam como ocorre o desenvolvimento infantil a fim de

compreender o comportamento das crianças. Para educá­las, exige por parte de pais e

educadores, além de amor e dedicação, o conhecimento das diferentes etapas do

desenvolvimento. É preciso saber seus interesses, necessidades, motivações e possibilidades.

Além disso, é necessário saber se a atividade elaborada está de acordo com a faixa etária

ou com aquela criança que o professor está trabalhando, pois somente dessa forma a

aprendizagem ocorrerá.

Conforme a criança vai crescendo, seu interesse vai mudando. O que era interessante em

determinada idade não o é em outra. Ela modifica­se em todos os aspectos: físico, emocional,

psicológico, social.

Os professores precisam auxiliar seus alunos a crescer independentes, com autonomia

para que se tornem adultos felizes. Assim, compreender a criança é fundamental, e o estudo da

psicologia do desenvolvimento favorece nesse sentido.

Rousseau foi considerado o “descobridor da criança”.

Pestalozzi decide ser mestre­escola, e vai, então, em sua escola, procurar aplicar suas

idéias educacionais. Para ele, a escola deveria aproximar­se de uma casa bem

organizada, pois o lar era a melhor instituição de educação, base para a formação

moral, política e religiosa.

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Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. a) É importante que os educadores saibam como ocorre o desenvolvimento infantil a fim de

compreender o comportamento das crianças. b) Pestalozzi escreveu a frase: “Começai por estudar vossos alunos, pois é bem certo que não

os conheceis”. c) Os estudos da psicologia do desenvolvimento humano começaram com Tiedemann. d) O método transversal demanda longo período de tempo e é caro.

2. Quais alternativas estão incorretas? I) Pestalozzi escreveu o romance Emílio. II) Rousseau começou os estudos do desenvolvimento infantil. III) O estudo da psicologia do desenvolvimento tem importância somente para os psicólogos. IV) O interesse da criança permanece imutável. Agora assinale a) I e II b) II e III c) I, III e IV d) I, II e III

Respostas dos Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. RESPOSTA CORRETA: A

2. Quais alternativas estão incorretas? RESPOSTA CORRETA: C

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AULA 02 • O QUE ESTUDA A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Nesta aula você aprenderá o que estuda a psicologia do desenvolvimento, o conceito de

desenvolvimento e os termos continuidade e transição.

Segundo Davis e Oliveira (1994: 19­20), a psicologia do desenvolvimento pretende

“estudar como nascem e como se desenvolvem as funções psicológicas que distinguem o homem

de outras espécies. Ela estuda a evolução da capacidade perceptual e motora, das funções

intelectuais, da sociabilidade e da afetividade do ser humano. Descreve como essas capacidades

se modificam e busca explicar tais modificações [...]”.

Por meio do estudo da psicologia do desenvolvimento é possível perceber que as

manifestações das atividades dos adultos decorrem da infância. Dessa forma, essa disciplina é

importante para os pedagogos, pois explica como ocorre o processo de aprendizagem infantil e o

que se pode esperar em cada fase da vida da criança.

Porém não podemos deixar de considerar que a formação das diferentes habilidades tais

como empilhar, puxar, comparar, classificar ocorre na interação do indivíduo com o mundo social

onde está inserido.

Assim, diferente de outras espécies, as características humanas não são apenas

biologicamente herdadas, mas também formadas no meio social em que o indivíduo atua. O

desenvolvimento alcançado por uma sociedade vai sendo acumulado e transmitido, influindo

desde o nascimento na percepção que o indivíduo constrói sobre a realidade.

Para se estudar o desenvolvimento das crianças, deve­se começar com um

entendimento da unidade dialética entre duas linhas radicalmente diferentes: a biológica

e a cultural. Para adequadamente estudar tal processo, é preciso conhecer estes dois

componentes e as leis que governam seu entrelaçamento a cada estágio de

desenvolvimento infantil. (VYGOTSKY, 1978)

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Conceito de Desenvolvimento

De acordo com Davis e Oliveira (1994: 19), “desenvolvimento é o processo através do qual

o indivíduo constrói ativamente, nas relações que estabelece com o ambiente físico e social, suas

características”.

Para Weiten (2002: 309), o desenvolvimento é a “seqüência das modificações relacionadas

à idade que ocorrem a uma pessoa, desde a concepção até a morte. É um processo

razoavelmente ordenado e cumulativo, que abrange tanto as mudanças biológicas como as

comportamentais decorrentes do envelhecimento das pessoas [...]”.

Dessa forma, a capacidade de um bebê para pegar objetos, o domínio gradual de

matemática em uma criança, o estirão de crescimento de um adolescente, o compromisso de um

jovem com sua profissão e a batalha de um idoso com a perda gradual da visão ou da audição

representam desenvolvimento. Todos esses fatores estão relacionados com a idade.

Uma História Interessante

Archie Leach cresceu em um lar de classe média­baixa britânico, cheio de frustrações e

infelicidade. Sua mãe, obcecada por dinheiro, sempre achara que o marido não ganhava o

suficiente. Quando Archie queria algo, ela lhe repetia constantemente que “dinheiro não nasce em

árvores”. Quando jovem, era um garoto fraco e de olhos tristes. Estava sempre mal­humorado e

acabrunhado. Os pais viviam brigando e a mãe sofria de depressão. Quando ele tinha 10 anos,

seu pai internou a mãe em um hospital psiquiátrico. Archie ficou totalmente desnorteado com o

desaparecimento da mãe. O pai deu­lhe apenas uma explicação vaga, dizendo que ela havia ido

a algum lugar para “descansar”. Archie, que passou vinte anos sem saber a verdade, achava que

ela o abandonara. É compreensível que tenha se sentido profundamente magoado, como se

tivesse sido traído.

Jovem ainda, Archie começou a fazer teatro em Nova Iorque. Mas aos 25 anos possuía

uma opinião negativa de si mesmo como ator. Era um rapaz tímido, taciturno, e especialmente

Acabrunhado:

1) Abatido, quebrantado, prostrado.

2) Que perdeu o ânimo por aflição ou desgosto; aflito, atormentado.

3) Envergonhado, humilhado.

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desajeitado com relação ao sexo oposto. Um conhecido seu afirmou: “Ele ficava literalmente mudo

na presença de mulheres.”

Apesar de um começo tão difícil, Archie Leach pôde, mais tarde, desfrutar enorme sucesso

no mundo do entretenimento. Com porte bonito e clássico, começou a cultivar a imagem de

elegante homem da sociedade. “A princípio, parecia desajeitado, mas sabia que para ser bem

sucedido teria de tornar­se outra pessoa, e não era de desistir fácil.”

Archie mudou­se para Los Angeles e começou a trabalhar em filmes, fez enorme esforço

para transformar­se em um sofisticado conquistador. Aos poucos, foi conquistando o papel

principal e acabou estralando 72 filmes em quatro décadas, com o nome artístico de Cary Grant.

Tornou­se um ídolo das matinês, envolvido em romances com algumas das mulheres mais

bonitas e desejadas. No final da sua carreira, segundo um dos seus biógrafos, chegou a

personificar adjetivos como “alinhado, cortês, charmoso, jovial, eternamente jovem, garboso,

alegre, espirituoso e estiloso”.

A transformação de Archie Leach em Cary Grant foi um triunfo estonteante; porém, muitos

vestígios do seu passado eram aparentes sob a superfície da persona pública de cary Grant.

Sentindo­se traído pela mãe ao desaparecer misteriosamente, durante toda sua vida teve

dificuldade em confiar nas mulheres. Essa falta de confiança e o ensimesmamento que exibia

quando criança contribuíram grandemente para o fracasso de seus quatro casamentos. Embora

pudesse ser desenvolto e charmoso, continuou a se sentir tenso em relacionamentos sociais e

passou muito de sua vida em isolamento. Apesar de seu aclamado talento como astro de cinema ,

continuou terrivelmente inseguro. Nunca foi capaz de livrar­se da obsessão materna por dinheiro.

De fato sua sovinice era lendária. Acumulou uma fortuna estimada no valor de 40 milhões de

dólares, mas “guardava os barbantes dos pacotes e o ouropel das árvores de Natal, arrancava os

botões das camisas das quais ia se desfazer, para futuro uso, e fazia marcas na garrafa de vinho

para se assegurar que ninguém beberia na sua ausência”

(Extraído de Wansell, 309.)

Taciturno:

1) Que fala pouco, silencioso, calado

2) Triste, tristonho

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Você sabe quem é o ator cary Grant?

O que você acha que a história de Cary Grant tem a ver com psicologia do

desenvolvimento?

Existem dois temas que permeiam os estudos do desenvolvimento humano e eles são

explicados nessa história. Os temas são transição e continuidade. Vamos ver?

Quando os psicólogos estudam o desenvolvimento humano eles buscam compreender

como as pessoas chegam aos seus destinos na vida. Concentram­se nas transições pelas quais

as pessoas passam no decorrer da vida. Ao analisar essas transições os psicólogos encontram

continuidade com o passado. Entenderam o porquê da história?

Com tudo que viveu, Cary Grant não conseguiu eliminar marcas do passado (continuidade)

apesar de as ter aparentemente superado (transição).

Exercícios

1. Assinale a alternativa verdadeira. a) As características humanas são biologicamente determinadas. b) As características humanas são determinadas biologicamente e historicamente. c) As características humanas são determinadas apenas historicamente. d) Nenhuma das alternativas está verdadeira.

2. Assinale a alternativa falsa. a) O desenvolvimento começa no nascimento e termina com a morte. b) Desenvolvimento é o processo através do qual o indivíduo constrói suas características

ativamente, nas relações que estabelece com o ambiente físico e social. c) A psicologia do desenvolvimento pretende estudar como nascem e como se desenvolvem as

funções psicológicas. d) O desenvolvimento termina na idade adulta.

Ensimesmamento:

1) Meter­se consigo mesmo; concentrar­se, absorver­se.

Sovinice:

1) Avareza, mesquinharia, somiticaria, sovinaria.

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Resposta dos Exercícios

1. Assinale a alternativa verdadeira. RESPOSTA CORRETA: B

2. Assinale a alternativa falsa. RESPOSTA CORRETA: D

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AULA 03 • DESENVOLVIMENTO PRÉ–NATAL

Nesta aula você estudará o desenvolvimento pré­natal e os estágios que o compõem.

O desenvolvimento começa com a concepção, que ocorre quando a fertilização gera um

zigoto As outras células desenvolvem­se a partir desta única célula. Cada uma delas contém

mensagens permanentes de seus pais, contidas nos cromossomos, que ficam dentro do seu

núcleo. Cada cromossomo abriga muitos genes, que são as unidades funcionais na transmissão

hereditária. Os genes carregam os detalhes de seu projeto hereditário que são revelados

gradualmente durante a vida.

Zigoto é um organismo unicelular formado pela união de um espermatozóide e um

óvulo.

Cromossomo é a unidade morfológica e fisiológica, visível ou não ao microscópio e que

contém a informação genética.

Cada espécie animal ou vegetal possui um número constante de cromossomos.

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Veja como é o cromossomo:

O período pré­natal estende­se da concepção ao nascimento, compreendendo geralmente

nove meses de gravidez. O desenvolvimento que ocorre antes do nascimento é muito importante

e rápido

O curso do desenvolvimento pré­natal

O período pré­natal divide­se em três estágios: o germinal, que corresponde as duas

primeiras semanas; o embrionário, de duas semanas a dois meses, e o fetal, que vai dos dois

meses até o nascimento.

Estágio germinal

O estágio germinal é a primeira fase do desenvolvimento pré­natal, que corresponde às

duas primeiras semanas após a concepção. Ele se inicia quando se gera um zigoto por meio da

fertilização. Em 36 horas, ocorre uma veloz divisão celular e o zigoto transforma­se em uma

massa microscópica de células multiplicadoras. Esta massa lentamente migra para a trompa de

Falópio da mãe em direção ao útero. Por volta do sétimo dia, a massa celular começa a se fixar

na parede uterina. Esse processo demora cerca de uma semana e muitos zigotos são rejeitados

nesse ponto.

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Durante o processo de fixação, a placenta começa a se formar. A placenta é uma estrutura

que permite a passagem de oxigênio e nutrientes da corrente sanguínea da mãe para o feto e de

dejetos corporais do feto para a mãe. Esta troca é importante e ocorre por meio de finas

membranas que bloqueiam a passagem de células sanguíneas, conservando separadas as

correntes sanguíneas fetal e materna.

O estágio embrionário

O estágio embrionário é o segundo estágio do desenvolvimento pré­natal, que perdura de

duas semanas até o final do segundo mês. Durante esse estágio, a maioria dos órgãos vitais e

sistemas corpóreos começa a se formar no organismo em desenvolvimento, que passa a ser

chamado de embrião. Órgãos como o coração, a coluna dorsal e o cérebro surgem aos poucos, à

medida que a divisão das células se torna mais especializada. Ao final desse estágio o embrião

mede apenas 25 centímetros de comprimento, porém já se parece com um ser humano. Já é

possível perceber os braços, pés, mãos, pernas, dedos, olhos e orelhas.

O estágio embrionário merece cuidados, pois praticamente todas as estruturas fisiológicas

básicas estão se formando. Se algo acontecer nesse período, os efeitos podem ser graves. Muitos

abortos e parte das deficiências estruturais de nascença ocorrem nesse estágio.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Veja o embrião em desenvolvimento:

O estágio fetal

O estágio fetal é o terceiro estágio do desenvolvimento pré­natal, que perdura de dois

meses até o nascimento. Nos dois primeiros meses desse estágio ocorre acelerado crescimento

corporal, iniciando a formação de ossos e músculos. O organismo em desenvolvimento, que agora

denomina­se feto, é capaz de movimentos físicos, o que faz fortalecer a estrutura esquelética. Os

órgãos crescem e passam a funcionar, e os órgãos sexuais começam a se desenvolver durante o

terceiro mês.

Nos três meses finais desse estágio as células cerebrais multiplicam­se muito rápido.

Ocorre o amadurecimento dos sistemas respiratório e digestivo e uma camada de gordura é

depositada sob a pele para proporcionar isolamento. Todas essas mudanças ocorrem para

preparar o feto para a vida fora do ambiente uterino.

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Veja na figura o desenvolvimento fetal do primeiro ao nono mês de gravidez.

Leia texto complementar no ambiente de aula.

Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. a) O desenvolvimento começa com a concepção, que ocorre quando a fertilização gera um

zigoto. b) Os cromossomos abrigam muitos genes, que são as unidades funcionais na transmissão

hereditária. c) O estágio fetal é o terceiro estágio do desenvolvimento pré­natal, que perdura de dois meses

até o nascimento. d) Todas as alternativas estão corretas.

2. Leia as alternativas para assinalar abaixo. I) Nos três meses finais do estágio fetal, as células cerebrais multiplicam­se muito rápido. II) O estágio embrionário é o primeiro estágio do desenvolvimento pré­natal. III) A placenta é uma estrutura que permite a passagem de oxigênio e nutrientes da corrente sanguínea da mãe para o feto e de dejetos corporais do feto para a mãe. IV) Os cromossomos abrigam poucos genes. Agora assinale a alternativa correta a) I e II estão corretas b) II e IV estão incorretas c) I e IV estão corretas

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d) II e III estão incorretas

Respostas dos Exercícios

1. Assinale a alternativa correta Resposta correta: D

2. Leia as alternativas para assinalar abaixo. Resposta correta: B

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AULA 04 • FATORES AMBIENTAIS E DESENVOLVIMENTO FETAL

Sabemos que o feto se desenvolve no aconchego do útero, porém ele não está totalmente

protegido, pois acontecimentos no ambiente externo podem afetá­lo indiretamente por meio da

mãe.

A mãe precisa preocupar­se com a nutrição, pois o feto em desenvolvimento necessita de

diferentes nutrientes essenciais à sua saúde. Severa subnutrição da mãe pode aumentar os riscos

para o feto, trazendo complicações na hora do parto e comprometendo o sistema neurológico do

recém­nascido.

Outro cuidado que a mãe deve tomar referem­se ao uso de drogas, pois a maioria delas

pode passar pelas membranas da placenta, prejudicando o feto. O uso do cigarro durante a

gravidez deve ser evitado, pois as grávidas que fumam correm maior risco de aborto, de ter um

bebê natimorto e de complicações no parto.

Consumir álcool em excesso durante a gravidez também pode trazer riscos. De acordo

com Weiten (2002: 312) “A síndrome alcoólica fetal é um conjunto de problemas congênitos

associados ao uso excessivo de álcool durante a gravidez” O bebê pode apresentar microcefalia,

deficiências cardíacas, irritabilidade, hiperatividade e retardamento no desenvolvimento mental e

motor. Estudos recentes têm mostrado que beber socialmente também pode ser nocivo para o

feto.

Natimorto significa nascer morto ou morrer logo após o nascimento

Microcefalia é uma anormalidade onde o bebê nasce com cérebro de tamanho menor

que o noemal. Veja uma cabeça de tamanho normal e uma com microcefalia.

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Muitos agentes infecciosos perpassam a barreira placentária. Assim, doenças maternas

podem interferir no desenvolvimento pré­natal. A rubéola, a sífilis, a cólera, a varíola, a caxumba e

a gripe podem trazer riscos para o feto.

Desenvolvimento fetal mês a mês

Neste momento você visualizará o desenvolvimento fetal mês a mês e entenderá porque

os cuidados maternos acima devem ser tomados. Órgãos vitais se desenvolvem rapidamente.

Primeiro mês: primeiros batimentos cardíacos e início da circulação placentária. Mede

aproximadamente 6 mm.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Segundo mês: Formação do cérebro, diferenciação de ovários e testículos.

Terceiro mês: Já se observa o aspecto humano do embrião; os rins iniciam seu

funcionamento; os órgãos genitais, embora não estejam totalmente formados, já evidenciam

características femininas ou masculinas; início da formação das unhas das mãos. Os dedos estão

bem desenvolvidos. Já consegue movimentar as pernas, pés, mãos e cabeça. Apresenta vários

reflexos básicos. Pode sorrir, sistema circulatório funcionando. Mede aproximadamente 50mm

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Quarto mês: Rede vascular cada vez mais desenvolvida; o aparelho digestivo começa a

funcionar e o fígado produz bile; aparece a lanugem. O batimento cardíaco é forte; a mãe sente

os movimentos. Nesse período as feições faciais começam a aparecer.

Lanugem significa: o conjunto de pêlos finos que cobre totalmente o corpo do feto a

partir de 20 semanas.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Quinto mês: Início da formação das unhas dos pés; as glândulas sebáceas e sudoríparas

começam a funcionar; surgem os cabelos e começam os soluços.

Sexto mês: A retina é sensível à luz; forma­se a gordura subcutânea. Sentidos visuais e

auditivos funcionais, olhos abertos.

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Sétimo mês: Percepção dos sons e aperfeiçoamento dos movimentos coordenados.

Gordura corpórea é adicionada; especialização cerebral.

Oitavo mês: Períodos de sono e vigília.

Com 38 semanas o bebê está completo e pronto para nascer.

Exercícios

1. Quais das afirmações abaixo estão corretas? I) O fumo e a bebida moderados não causam prejuízos ao feto. II) A membrana placentária protege o feto de todos os males. III) A nutrição materna é fundamental para o bom desenvolvimento fetal. IV) Severa subnutrição da mãe pode aumentar os riscos para o feto, trazendo complicações na hora do parto, comprometendo o sistema neurológico do recém­nascido. Estão corretas as alternativas: a) I e II b) I e III c) III e IV d) II e III

2. Assinale a alternativa falsa. a) No sétimo mês de gestação o feto já possui a percepção dos sons e aperfeiçoamento dos

movimentos coordenados. b) No quarto mês há o início da formação das unhas dos pés; as glândulas sebáceas e

sudoríparas começam a funcionar; surgem os cabelos e começam os soluços.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

c) Doenças maternas podem interferir no desenvolvimento pré­natal. A rubéola, a sífilis, a cólera, a varíola, a caxumba e a gripe podem trazer riscos para o feto.

d) O uso do cigarro durante a gravidez deve ser evitado, pois as grávidas que fumam correm maior risco de aborto, de ter um bebê natimorto e de complicações no parto.

Respostas dos Exercícios

1. Quais das afirmações abaixo estão corretas? Resposta Correta: C

2. Assinale a alternativa falsa. Resposta correta: B

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AULA 05 • PREMATURIDADE

Nesta aula você estudará o processo de nascimento precoce e suas conseqüências, a

prematuridade.

O processo de nascimento

Além dos fatores vistos na aula passada como nutrição materna, uso de medicamentos,

álcool e tabagismo durante a gravidez que podem influenciar o desenvolvimento do feto, temos

também de levar em consideração o processo do parto, isto é, a facilidade com que ocorre o

nascimento e a rapidez com que o recém­nascido começa a respirar. Os dois perigos principais

neste processo estão relacionados à ruptura dos vasos sanguíneos do cérebro (hemorragia),

provocada por pressões na cabeça do feto, e à falta de oxigênio suficiente para o bebê conseguir

respirar, logo após a separação da mãe.

Tanto a ruptura dos vasos sanguíneos quanto a demora ao respirar afetam a quantidade

de oxigênio transmitido às células nervosas do cérebro, podendo provocar defeitos psicológicos.

Sem oxigênio, alguns neurônios podem morrer e, nesse caso, o bebê poderá sofrer lesões

cerebrais sérias e em alguns casos vir a óbito.

A anóxia pode provocar também lesões no tronco cerebral, podendo causar defeitos

motores tais como: paralisia dos braços e pernas, tremor do rosto e dedos, e problemas nos

músculos vocais. Nesse caso, a criança pode ter dificuldades para aprender a falar.

Perceberam como o momento do parto também é fundamental para um normal

desenvolvimento da criança?

Prematuridade

A prematuridade é outro fenômeno que merece atenção quando falamos em

desenvolvimento futuro da criança. Ao definir prematuridade, leva­se em consideração o número

Anóxia: falta de oxigênio ao nascer.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

de semanas de gestação. Uma criança que nasce com menos de 37 semanas é classificada como

prematura. Muitos cientistas também utilizam o peso da criança para definir a prematuridade. Ao

utilizar esse critério, um bebê que nasça com menos de 2,400Kg é considerado prematuro, e os

que nascem com 1,800Kg são classificados como severamente prematuros.

O bebê prematuro apresenta pele transparente e enrugada, cabeça e língua muito

grandes, tônus muscular deficiente e olhos salientes e espaçados. Estudos revelam que as

crianças prematuras continuam menores em altura e peso até aproximadamente 5 ou 6 de idade.

Essas crianças também tendem a obter resultados mais baixos em testes de desenvolvimento

motor e cognitivo durante os primeiros cinco anos de vida.

A criança prematura difere da nascida a termo. Pode ser mais inquieta e distraída. Se

nascer de 6 ou 7 meses, pode apresentar um desenvolvimento cognitivo e motor ligeiramente

atrasados durante o primeiro ano de vida.

Para finalizar, é importante salientar a possibilidade de que as diferenças de

comportamento entre crianças prematuras e as nascidas a termo possam ser provocadas pelo

comportamento da mãe, pois existe a tendência de superprotegê­los e, com medo da fragilidade

em que se encontra o bebê, deixa de estimulá­los e encorajá­los o suficiente em seu

desenvolvimento cognitivo e motor.

Cuidado! Isso não é regra. Muitos bebês prematuros apresentam desenvolvimento normal

desde o nascimento. Você sabia que um bebê prematuro quando acariciado na encubadeira

aumenta de peso mais rapidamente que outro que não é acariciado?

Resumo

Como vimos, o desenvolvimento do bebê ainda por nascer pode ser influenciado por

diversos fatores, inclusive a má­alimentação materna, o uso de drogas, doenças. Se esses fatores

ocorrerem até o terceiro mês de gestação, mais suscetível estará o feto. A pior ameaça ao recém­

nascido, é a anóxia, que tanto pode ser provocada por fatores químicos quanto por mecânicos. A

falta de oxigênio pode lesionar as células do sistema nervoso central, causando diversas

anormalidades ao bebê. Embora os bebês prematuros sejam diferentes dos bebês nascidos a

termo nos primeiros meses de vida, tais diferenças vão diminuindo com o tempo e atualmente é

difícil estabelecer quais as conseqüências em longo prazo.

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Exercícios

1. Assinale a alternativa incorreta: a) O bebê prematuro apresenta pele transparente e enrugada, cabeça e língua muito grandes,

tônus muscular deficiente e olhos salientes e espaçados. b) A criança prematura pode ser mais inquieta e distraída. c) Tanto a ruptura dos vasos sanguíneos quanto a demora ao respirar afetam a quantidade de

oxigênio às células nervosas do cérebro podendo provocar defeitos psicológicos. d) A criança prematura nunca terá desenvolvimento normal

2. Assinale a alternativa correta. a) Os bebês prematuros costumam ser superprotegidos pelos pais. b) É preciso não mexer muito no bebê prematuro devido a sua fragilidade. c) Um bebê de 2,600Kg é considerado prematuro. d) Um bebê que nasce com 37 semanas de gestação é considerado prematuro.

Respostas dos Exercícios

1. Assinale a alternativa incorreta Resposta Correta: D

2. Assinale a alternativa correta Resposta correta: A

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AULA 06 • PRINCÍPIOS GERAIS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Nesta aula você estudará os princípios gerais do desenvolvimento. Vimos anteriormente

que o desenvolvimento é um processo contínuo que começa com a concepção e vai até a morte.

A seqüência do desenvolvimento no período pré­natal é fixa e invariável. A cabeça, os olhos, os

braços, as pernas, os órgãos genitais e os órgãos internos se desenvolvem na mesma ordem.

Embora os processos subjacentes ao crescimento sejam muito complexos, tanto antes

quanto depois do nascimento, o desenvolvimento ocorre seguindo alguns princípios gerais.

1) O crescimento e as mudanças no comportamento seguem uma ordem invariável.

• todos os fetos viram a cabeça antes de estender as mãos

• depois do nascimento, existem padrões definidos de crescimento físico e de aumento das

capacidades motoras e cognitivas

• toda criança senta­se antes de ficar em pé

• fica em pé antes de andar

• desenha um círculo antes de desenhar um quadrado

• todos os bebês balbuciam antes de falar

• todas as crianças classificam e colocam objetos em série de acordo com a cor, o formato,

o tamanho, antes de pensar logicamente e formular hipóteses

• o desenvolvimento físico e motor seguem uma determinada direção. Uma é a direção

cefalocaudal, ou seja, da cabeça aos pés.

• a outra direção é a proximodistal, isto é, de dentro para fora, as partes centrais do corpo

amadurecem mais cedo que as partes da periferia do corpo.

Subjacente significa:

1) Que jaz ou está por baixo.

2) Que não se manifesta, mas está oculto ou subentendido.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

2) O desenvolvimento é padronizado e contínuo, mas nem sempre é gradual.

Existem períodos em que o crescimento é rápido.

• o peso e a altura do bebê aumentam rapidamente no primeiro ano de vida

• os pré­adolescentes e os adolescentes também crescem aceleradamente

• os órgãos genitais desenvolvem­se lentamente na infância e rapidamente na

adolescência

• o vocabulário e as habilidades motoras aumentam no período pré­escolar

• na adolescência, a pessoa consegue resolver problemas lógicos e hipotéticos com

facilidade

3) Existem períodos críticos no desenvolvimento de alguns órgãos do corpo e de

algumas funções psicológicas.

• há períodos críticos no desenvolvimento do coração, dos olhos, dos pulmões e dos rins

do feto. Se algo acontecer com a mãe nesse período, a criança pode sofrer lesões

irreversíveis

• o primeiro ano de vida é considerado decisivo para que o bebê desenvolva confiança em

outras pessoas

4) As experiências que a criança vivencia em determinado estágio do

desenvolvimento influem em seu desenvolvimento posterior. Ex.: se a mãe sofrer

desnutrição grave, o bebê não desenvolverá o número normal de células

cerebrais, podendo nascer com deficiência mental.

• os bebês que vivem os primeiros meses em ambientes poucos estimulantes podem

apresentar deficiências nas habilidades cognitivas

• a criança que carece de cuidado, de amor e de atenção durante o primeiro ano de vida

possivelmente não desenvolverá autoconfiança e confiança nos outros, podendo vir a ser

um adolescente emocionalmente desajustado

5) Todas as características e habilidades das pessoas são produto de dois

processos: maturação e experiência.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

• aprendizagem e maturação sempre interagem

• a maturação determina quando a criança esta pronta para andar, falar etc.

• aquisição da linguagem e das habilidades cognitivas também é resultado da interação da

experiência com a maturação

6) Quase todas as características humanas são produto da hereditariedade (fatores

genéticos) e do ambiente (experiência).

• Uma criança com QI elevado pode ser produto de hereditariedade e de ambiente

doméstico estimulante

• Os fatores genéticos influem em características de comportamento, tais como ser calmo

ou nervoso. No entanto, o ambiente onde a criança está pode estabelecer que

comportamento seguirá

Exercícios

1. As experiências que a criança vivencia em determinado estágio do desenvolvimento influem em seu desenvolvimento posterior. Assim: a) Uma criança que for mal estimulada fisicamente não terá comprometimento motor. b) Uma criança que vive em ambiente apático desenvolverá suas habilidades cognitivas

normalmente. c) Uma criança que for bem amada e bem cuidada não será autoconfiante. d) Todas as alternativas estão incorretas

2. Levando em consideração os princípios gerais do desenvolvimento, o que podemos afirmar? a) Todas as características e habilidades das pessoas são produto de dois processos:

maturação e experiência b) O vocabulário e as habilidades motoras aumentam no período pré­escolar. c) Todas as crianças classificam e colocam objetos em série de acordo com a cor, o formato, o

tamanho, antes de pensar logicamente e formular hipóteses. d) Todas as alternativas estão corretas

Respostas dos Exercícios

1. As experiências que a criança vivencia em determinado estágio do desenvolvimento influem em seu desenvolvimento posterior. Assim: Resposta correta: D

2. Levando em consideração os princípios gerais do desenvolvimento, o que podemos afirmar? Resposta correta: D

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AULA 07 • COMO A CRIANÇA ERA VISTA

Nesta aula você estudará como a criança era vista nos séculos XVII e XVIII e as fases do

desenvolvimento humano.

Foi necessário muito tempo para que a criança fosse percebida como um ser em

desenvolvimento e, portanto, diferente do adulto. Essa descoberta abriu caminhos para estudos

tanto na área da Psicologia quanto da Pedagogia.

À medida que a criança cresce, seu organismo se modifica, as proporções físicas

aumentam, sua capacidade cognitiva melhora, muda também seu comportamento motor,

emocional e social. Atualmente pais e professores sabem disso e procuram tratar a criança

respeitando sua idade e as fases de desenvolvimento na qual se encontra. Porém nem sempre foi

assim.

Até o século XVII, filósofos e educadores consideravam a criança como se fosse igual ao

adulto, apenas um pouco menor. Esperava­se que ela tivesse comportamentos, interesses e

capacidades iguais a dos adultos, como se ela fosse um adulto em miniatura.

Acreditava­se na identidade física e mental entre a criança e o adulto repercutindo nos

costumes e na indumentária da época. No século XVIII, o vestuário infantil pouco diferia do

vestuário do adulto, de modo que os meninos mais abastados “freqüentavam a escola vestidos de

casaca, calções curtos presos ao joelho, tricórnio e espadim e as meninas, imitando suas mães,

usavam crinolina, corpete, cabeleira empoada e sapatos de saltos altos” (SANTOS, 1954: 51).

Indumentária:

1) Arte do vestuário.

2) História do vestuário; uso do vestuário em relação às épocas ou povos.

3) Traje, indumento, induto; vestuário.

4) Roupas.

Tricórnio:

Chapéu de três bicos.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Naquela época, os pintores também consideravam a criança como adulto em miniatura

tanto é que em suas pinturas desenhavam adultos e crianças com as mesmas proporções

corporais. Veja como o sistema escolar enxergava o educando, de acordo com Barros (1987: 16):

Essa forma de ver a criança perdurou por muito tempo, mas como vimos na aula 1

surgiram pensadores que iniciaram estudos sobre o desenvolvimento infantil e o panorama foi se

modificando. Nesse sentido, comenta Santos (apud Barros, 1987: 16):

Fases do desenvolvimento humano

Os estudos em Biologia e em Psicologia dividem a evolução do ser humano em 9 fases.

São elas:

1) período pré­natal

2) período do recém­nascido

3) primeira infância

Crinolina:

1) Tecido feito de crina.

2) Tecido resistente próprio para forro.

3) Anágua de crinolina, usada para armar e entufar a saia.

“Os currículos das escolas, os programas das diferentes disciplinas, os horários das

aulas, os métodos de ensino, as formas de avaliação da aprendizagem, os métodos de

manter a disciplina, os livros usados em classe, a formação dos mestres, todos esses

aspectos do sistema escolar resultavam do conceito do educando como sendo um

adulto em miniatura. O sistema escolar tradicional não atendia às características da

criança. Era organizado levando em conta apenas o adulto.”

“Os progressos da Biologia e da psicologia experimentais trouxeram um fundamento

científico à concepção atual de criança. A criança é considerada, hoje, não como

simples redução do adulto, mas como um ser que apresenta, em cada fase de sua

evolução, caracteres próprios e reações específicas que lhes dão uma fisionomia

psicológica particular.”

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

4) segunda infância

5) meninice

6) puberdade

7) adolescência

8) maturidade (vida adulta)

9) senilidade ou velhice

Veremos a seguir características de cada fase.

Período pré­natal

Como vimos anteriormente, esse período se inicia no momento da concepção e termina

com o nascimento. Dura aproximadamente 9 meses. Na aula 2 e 3 estudamos as características

desse período. Reveja para recordar.

Período do recém­nascido

Esse período inicia­se assim que a criança nasce, e termina quando cai o coto do cordão

umbilical. Dura, em média, sete dias. Esse período é muito importante para o futuro da criança.

O psicanalista Otto Rank realizou um estudo intitulado “O trauma do nascimento”, no qual

afirma que o medo da morte e de adquirir doenças surge de maneira exagerada em adultos cujo

nascimento foi traumático.

Em 1975, Frederick Leboyer afirmou que práticas suaves de parto (em salas com luz

amena, sem dar tapas nos bebês para iniciar a respiração, que o banhe em água morna assim

que nascer e que seja colocado sobre o ventre da mãe) podem eliminar parte do trauma do

nascimento.

Atualmente, nas maternidades, os recém­nascidos são avaliados pela escala apgar no

primeiro e quinto minutos após o nascimento. A autora dessa escala foi a Dra Virgínia Apgar. Ela

criou cinco subtestes para avaliar o bebê. São eles: aparência, pulso, reflexos, atividade e

respiração. Essa avaliação tem nota máxima 10. Noventa por cento dos bebês normais têm

resultado maior que 7 na escala apgar.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Os recém­nascidos apresentam muitos reflexos ou reações não aprendidas, tais como

espirro, tosse, sucção, movimentos de cabeça, olhos, mãos e pés. Uma das respostas mais

interessantes e importantes que o recém­nascido apresenta é chamada de reflexo de Moro. O

bebê joga os braços para o lado, estende os dedos e, em seguida, recolhe braços e mãos para a

linha intermediária do corpo, como se estivesse abraçando alguém. Em bebês normais, esse

reflexo começa a desaparecer por volta do 3º ou 4º mês de vida.

Exercícios

1. Quais as afirmativas corretas? I) Foi necessário muito tempo para que a criança fosse percebida como um ser em desenvolvimento. II) Até o século XVII, filósofos e educadores consideravam a criança como se fosse igual ao adulto, apenas um pouco menor. III) Os recém­nascidos apresentam muitos reflexos ou reações não aprendidas, tais como espirro, tosse, sucção, movimentos de cabeça, olhos, mãos e pés. IV) Leboyer realizou um estudo intitulado “O trauma do nascimento”. São elas: a) II, III e IV b) I, II e IV c) I, II e III. d) I, II e IV

2. Atualmente, nas maternidades, os recém­nascidos são avaliados pela escala apgar no primeiro e quinto minutos após o nascimento. Essa escala mede: a) aparência, pulso e qualidade do sono. b) aparência, pulso e reflexos. c) aparência, tipo sanguíneo e pulso. d) aparência, pulso, reflexos, atividade e respiração.

Respostas dos Exercícios

1.Quais as afirmativas corretas? Resposta Correta: C

2.Atualmente, nas maternidades, os recém­nascidos são avaliados pela escala apgar no primeiro e quinto minutos após o nascimento. Essa escala mede: Resposta correta: D

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AULA 08 • PRIMEIRA INFÂNCIA

Nesta aula você continuará estudando a primeira infância e suas principais características.

A primeira infância inicia­se com a queda do coto umbilical e termina quando a criança

aprende a falar e a andar e não mais depende de ser amamentada pela mãe. No fim desse

período, surge a primeira dentição.

Crescimento do corpo

Em média, os bebês do sexo masculino, nascidos a termo, são um pouco maiores do que

as meninas em todas as dimensões corporais: medem aproximadamente 50cm e pesam 3,500Kg

ao nascer. No entanto, é preciso considerar que o peso e a altura podem variar e isso dependerá

de vários fatores.

O primeiro ano de vida da criança apresenta mudanças aceleradas no crescimento. O

comprimento do corpo aumenta mais de 1/3 do tamanho original e o peso chega a triplicar, de

modo que por volta de 1 ano de idade o bebê mede de 70 a 72cm e pesa mais ou menos 9Kg.

Proporções do corpo

Também mudam as proporções corporais e as estruturas muscular, neural e esquelética.

As proporções corporais gerais do bebê mudam rapidamente durante a segunda metade do

primeiro ano. Ao nascer, as pernas do bebê têm em média 1/5 do comprimento total que terão

quando for adulto, mas a partir da 8ª semana crescem aceleradamente.

A cabeça e o rosto crescem mais lentamente que o corpo como um todo, embora o

tamanho e a forma do crânio se modifiquem. O comprimento total da cabeça e do rosto do feto de

3 meses tem por volta de 1/3 do comprimento total do corpo; seu peso, ao nascer, é por volta de

1/4 do total e na maturidade mais ou menos 1/10 do total.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Desenvolvimento do esqueleto

Segundo Mussen et al (1977: 114), todos os ossos do corpo se originam de tecido

cartilaginoso mole, que se ossifica, após certo período de tempo. A ossificação se inicia durante o

período pré­natal e continua até a adolescência. A época e a taxa de ossificação variam para os

vários ossos do corpo e entre as pessoas. Alguns dos ossos da mão e do pulso se calcificam

muito cedo.

O crânio do bebê recém­nascido tem seis pontos moles que se calcificam aos poucos e

que não desaparecem antes de a criança ter dois anos de idade. A figura 1 mostra o

desenvolvimento do esqueleto.

Musculatura

Ocorre crescimento contínuo do comprimento, largura e espessura dos músculos e na

maturidade eles são 40 vezes maiores do que eram ao nascer.

O recém­nascido e a criança até o primeiro ano de vida ainda não têm controle sobre os

músculos corporais estriados ou esqueléticos.

Diferentes grupos musculares crescem em ritmos variados e os músculos ao redor da

cabeça e pescoço desenvolvem­se mais cedo do que os dos membros inferiores.

As meninas desenvolvem­se mais rápido que os meninos e esse ritmo já se inicia no

período fetal. As meninas têm menos tecido muscular e, portanto, são mais leves e menores que

os meninos.

Exercícios

1. No primeiro trimestre, as dificuldades em conciliar o sono podem ser causadas por vários fatores. Assinale a alternativa que indica um fator. a) Falta de estímulos em geral. b) Superestimulação capaz de provocar hiperexcitabilidade. c) Ausência de contacto materno. d) Todas as alternativas estão corretas.

2. Assinale a alternativa falsa.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

a) Apenas alguns ossos do corpo se originam de tecido cartilaginoso mole, que se ossifica, após certo período de tempo.

b) O crânio do bebê recém­nascido tem seis pontos moles que se calcificam aos poucos. c) A cabeça e o rosto crescem mais lentamente que o corpo como um todo. d) A primeira infância inicia­se com a queda do coto umbilical e termina quando a criança

aprende a falar e a andar.

Resposta dos Exercícios

1. No primeiro trimestre, as dificuldades em conciliar o sono podem ser causadas por vários fatores. Assinale a alternativa que indica um fator. Resposta correta: D

2. Assinale a alternativa falsa. Resposta correta: A

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 09 • AS PRIMEIRAS MEMÓRIAS

Nesta aula você continuará estudando a primeira infância e suas principais características.

Antes de completar 10 semanas, o bebê começa a apresentar habilidades novas.

Consegue se lembrar de algo ocorrido há poucos momentos, pois se aborrece quando

apresentamos um mesmo estímulo. Os psicólogos dizem que o bebê ficou habituado. O

aparecimento da habituação significa que o bebê está lembrando dos estímulos a ele

apresentados.

Outro fato interessante nesse período é que se apresentarmos por exemplo 15 vezes

seguidas um estímulo a um bebê e depois outro diferente, o interesse da criança muda. Esse

fenômeno recebe o nome de desabituação.

O sorriso do bebê

Por volta do 4º mês devida, o bebê sorri até para fotos que lhe são apresentadas. Segundo

os pesquisadores da psicologia do desenvolvimento, esse fenômeno recebe o nome de sorriso

de reconhecimento, indicando que a criança conseguiu relacionar um evento a um esquema de

eventos. Os bebês sorriem mesmo frente a estranhos.

Estranhando as pessoas

Até 7 meses aproximadamente, o bebê sorri para qualquer pessoa, porém a partir dessa

idade começa a sentir medo das pessoas estranhas.. Dessa forma, a criança chora, enrijece o

corpo e se inibe ao brincar.

Pensamento e planejamento

Por volta dos 8 meses, a criança a criança já é capaz de exibir pensamentos simples.

Passa a perceber a permanência dos objetos, isto é, percebe que embora o objeto desapareça da

sua frente, ele não deixa de existir.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Por exemplo, antes dos 7 meses, se você esconder um objeto mesmo que o bebê esteja

olhando, ele pensa que sumiu e não irá procurá­lo. Após essa idade, se você mostrar um objeto

qualquer para o bebê e escondê­lo atrás do sofá, ele irá procurá­lo. A esse fenômeno Piaget deu

o nome de permanência do objeto.

Capacidades sensoriais e perceptivas ­ Paul H. Mussen

O sistema sensorial do bebê está extraordinariamente bem desenvolvido por ocasião do

nascimento. Ele pode ver, ouvir, sentir dor, e é sensível a dor, tato e mudança de posição. Embora

seu sentido de paladar não esteja inicialmente bem desenvolvido, dentro de duas semanas reage

a diferenças entre substâncias doces e amargas. A sensibilidade à dor, já presente por ocasião do

nascimento, se torna mais aguda dentro de poucos dias.

A coordenação e convergência dos olhos, necessárias para a fixação visual e para

percepção de profundidade, começam a desenvolver­se imediatamente depois do nascimento e

parecem estar bem definidas por volta das oito semanas. Bebês com apenas 15 dias de idade

podem discriminar diferenças em brilho e matiz de cores. Se um objeto brilhante for balançado à

frente do bebê, ou se fizer projeção de ponto colorido em movimento no teto, ele seguirá esses

objetos com os olhos.

Como os órgãos sensoriais do recém­nascido funcionam bem, ele é sensível a muitos

estímulos. Mas não presta atenção igualmente a tudo: focaliza muito mais sua atenção em alguns

objetos do que em outros. Os estímulos que se movimentam, com contrastes marcantes entre

claro e escuro e grande contorno, tendem a atrair a atenção do bebê. Quando seus olhos estão

abertos, procura até encontrar algumas linhas de contorno e então as focaliza. Como procura

ativamente e dá atenção diferente a vários estímulos, o recém­nascido parece absorver e guardar

informação, embora seja improvável que perceba o mundo como os adultos.

A percepção exige organização e interpretação de impressões simples do sentido, e de

modo geral a percepção madura exige desenvolvimento neurológico, experiência e aprendizagem.

Esse trabalho de desenvolvimento da percepção visual, tátil, auditiva, gustativa e olfativa

pode ser feito em casa pelos pais e nas escolas pelos professores.

Leia texto complementar no ambiente de aula.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. a) Até 7 meses aproximadamente, o bebê sorri para qualquer pessoa, porém a partir dessa

idade começa a sentir medo das pessoas estranhas. b) A percepção não exige organização e interpretação de impressões simples do sentido. c) Os órgãos sensoriais do recém­nascido não funcionam bem. d) Bebês com apenas 15 dias de idade não podem discriminar diferenças em brilho e matiz de

cores.

2. Assinale a alternativa falsa. a) Ter medo é um estado natural no ser humano. b) Expor a criança a alguma coisa que teme e que não sabe nomear as causas só pode

transformar um temor moderado, provavelmente passageiro, em experiência aterradora, capaz de transformar numa fobia duradoura.

c) O medo funciona também para a nossa sobrevivência psíquica. Dessa forma, é dever dos pais respeitar os medos infantis e procurar ajudar seus filhos a superar esses problemas, sem com isso aumentar ou transformar um simples medo em uma fobia.

d) Para o homem, o medo funciona como insegurança.

Respostas dos Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. Resposta correta: A

2. Assinale a alternativa falsa. Resposta correta: D

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 10 • DESENVOLVIMENTO MOTOR

Nesta aula você continuará estudando a primeira infância. Veremos como ocorre o

desenvolvimento motor. Lembre­se de que a primeira infância vai até os dois anos de idade.

De acordo com Garrison et al (1979) o desenvolvimento da força, coordenação, rapidez e

precisão no uso dos membros superiores e inferiores e dos músculos do corpo foi denominado

“serviçal” do desenvolvimento mental. Sabem por quê? Porque, ao examinar e experimentar o

ambiente, a criança satisfaz suas necessidades intelectuais por meio de atividades motoras.

À medida que ela cresce e aprende, novas habilidades são adquiridas, o que favorece o

desenvolvimento da força muscular e aumenta a força e resistência do coração, dos pulmões, dos

órgãos da digestão e excreção essenciais à saúde.

Além disso, ao desenvolver­se motoramente, a criança passa a cooperar com os outros à

sua volta, aumentando o contato social. A capacidade de pensar, interpretar, solucionar

problemas e tomar decisões fica fortalecida.

Segundo os autores:

“O desenvolvimento motor tem importância no comportamento emocional da criança,

porquanto sua força, rapidez, coordenação e habilidade muitas vezes determinam se

será bem sucedida ou se malogrará, se se sentirá contrariada ou zangada, ameaçada

e amedrontada, ou autoconfiante e ansiosa por desafios. A qualidade dessas

características motoras determina a capacidade para a criança empenhar­se em

esportes de equipe, nas quais as mais fortes emoções de alegria, medo, cólera se

manifestam em formas aceitáveis e sob controles naturais, tais como técnicas especiais,

regulamentos, tradições e autoridades supervisionadas de jogos, sem mencionar o

controle exercido pela própria criança na caminhada para o desenvolvimento dentro de

espírito esportivo.” (Garrison et al, 1979, p. 156­7).

Malograr:

1) Fazer desaparecer ou gorar: esperdiçar, inutilizar, frustrar.

2) Não ir avante; gorar­se, frustrar­se.

3) Perder­se prematuramente.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Aumento geral do controle corporal

Para que uma criança aprenda, toda habilidade motora necessita de dois processos

fundamentais: seqüência de eventos que a levem à locomoção e à preensão ou movimentação

com os dedos.

Essas duas séries de atividades motoras dependem da coordenação de várias partes do

corpo. Vejamos: a coordenação de mãos e olhos é necessária para que ocorra a preensão; a

coordenação de olhos, mãos e cerebelo (coordenação) é fundamental para o ato de andar; a

coordenação de olhos, mãos e boca é requisito fundamental para que a criança se alimente

sozinha.

A capacidade motora começa com o controle da cabeça e do pescoço. As fases de

desenvolvimento da locomoção e da preensão baseiam­se em experiências e erros. O recém­

nascido tem movimentos irregulares e não coordenados, estica as pernas, esperneia e agita os

braços: move o corpo inteiro.

Após três meses, o bebê começa a aprender a dirigir o corpo, porque seus nervos

adquirem a bainha de mielina. Somente após a mielinização a criança pode sentar­se com apoio

até conseguir sentar­se sem apoio.

Locomoção

O desenvolvimento da locomoção dá­se por meio das seguintes fases: arrastar­se,

engatinhar, colocar­se em posição ereta, aprender a largar, caminhar de um lugar ao outro, ficar

de pé sem apoio e por último andar. Nenhuma dessas fases aparece de uma hora para outra.

Cada fase aparece de um movimento anterior e várias fases são utilizadas ao mesmo tempo.

Observe a figura 1.

Preensão:

1) Ato de segurar, agarrar ou apanhar.

Bainha de mielina: A mielina é uma substância lipóide que forma a bainha em torno de

certos nervos. Assim, a bainha de mielina permite que a atividade cerebral seja mais

desenvolvida e rápida, sua presença significa um amadurecimento do cérebro.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

De acordo com Garrison et al (1979: 160), “assim que a criança aprende a andar, começa

a incorporar os elementos do andar em padrões de comportamento motor cada vez mais

complexos, e começa a requintar­se especialmente nessa habilidade básica”. Observe a tabela 1.

16,9 meses Anda para trás 20,3 meses Sobe escada com auxílio 24,3 meses Sobe escada sozinha 30,1 meses Anda na ponta dos pés 32,1 mês Salta da cadeira 39,7 meses Distância do salto: 36 a 60 cm 49,3 meses Pula com um pé só, conseguindo 2 ou 3 saltos *Esse quadro de movimentos em média, como o que se segue, não deve obscurecer a apreciação do leitor relativamente às muito amplas diferenças no desenvolvimento normal. Algumas crianças normais não chegam a andar à idade de 16,9 meses e, mesmo, dos 20,3 meses. Fonte: Garrison et al, 1979: 159.

Com a maturação e prática, a criança desenvolve um modo de andar mais equilibrado.

Mais tarde, consegue andar para cima e para baixo sobre tábuas inclinadas. Em seguida, salta,

pula e galopa, porém essas atividades levam anos para se aperfeiçoar

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. a) A capacidade motora começa com o controle da cabeça e do pescoço. b) Com 20,3 meses a criança anda para trás. c) O recém­nascido move apenas os braços. d) O desenvolvimento da força, coordenação, rapidez e precisão no uso dos membros

superiores e inferiores e dos músculos do corpo não tem relação com o desenvolvimento mental.

2. Após três meses, o bebê começa a aprender a dirigir o corpo, porque seus nervos adquirem a bainha de mielina. Somente após a mielinização a criança pode sentar­se com apoio até conseguir sentar­se sem apoio. Porque mielina é uma: a) substância lipóide que forma a bainha no centro de certos nervos. b) substância lipóide que forma a bainha em torno de certos nervos. c) substância de proteína que forma a bainha em torno de certos nervos d) substância de glicose que forma a bainha no centro de certos nervos.

Respostas dos Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. Resposta correta: A

2. Após três meses, o bebê começa a aprender a dirigir o corpo, porque seus nervos adquirem a bainha de mielina. Somente após a mielinização a criança pode sentar­se com apoio até conseguir sentar­se sem apoio. Porque mielina é uma: Resposta correta: B

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 11 • DESENVOLVIMENTO DA PREENSÃO

Nesta aula você continuará estudando como ocorre o desenvolvimento motor. Dessa vez

sua atenção estará focada para o desenvolvimento da preensão e da aprendizagem das

habilidades motoras.

Logo que nasce, o bebê não consegue usar os dedos como unidades separadas porque

estão sob controle de regiões corticais do cérebro ainda não desenvolvidas. Porém, as mãos

conduzem sensações e são “o mais importante meio para as primeiras impressões que o bebê

tem do mundo que o cerca”. (HALVERSON, apud GARRISON, 1979: 161)

Devido à grande sensibilidade das mãos, aumenta a motivação com que a criança exercita

os músculos dos braços. Após olhar atentamente os dedos das mãos e dos pés, estica os dois

braços para determinado objeto a fim de tocá­lo, prová­lo e verificar suas propriedades

particulares. Assim, a criança começa a perceber diferenças existentes em si mesma e no

ambiente externo.

O final do desenvolvimento da preensão é importante também para o desenvolvimento

intelectual e para sua capacidade motora da criança. Uma pesquisa realizada com bebês de 16 a

52 semanas para verificar a conduta deles em relação a um cubo vermelho provou:

1) Nenhum bebê de 16 semanas tocou no cubo. A exatidão no estender a mão para

agarrá­lo melhora gradativamente da 16ª à 52ª semanas.

2) A idade crítica do bebê para o movimento de preensão é 28 semanas. Nesse período a

mão começa a tornar­se livre do controle do antebraço e, assim, o bebê tende a agarrar

os objetos. É interessante notar que os bebês não dirigem o braço todo para os objetos,

e sim os dedos indicador e médio.

3) Antes de 28 semanas o bebê necessita da ajuda da outra mão para agarrar. Começa

com flexão dos cotovelos e, em seguida, ação dos cotovelos e das mãos.

4) O desenvolvimento do ato de estender a mão e agarrar segue a direção da maturação

começando pelos músculos mais amplos até os mais finos. Os primeiros padrões de

movimento para agarrar consistem em movimentos do ombro e do cotovelo.

5) O acréscimo dos movimentos de agarrar e da quantidade e variedade de manipulações

do cubo com os dedos, pelas crianças de 16 a 52 semanas, são devidos ora ao

desenvolvimento da parte óssea dos dedos, ora à maturação neuromuscular, ora à

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

aprendizagem e à prática e, por último, ao aumento da sensibilidade tátil da ponta dos

dedos.

Quando completa 1 ano a criança utiliza o dedo indicador e o polegar para agarrar objetos

e, logo depois, consegue locomover­se de um lugar ao outro rapidamente. Sente prazer em correr

de um cômodo para outro da casa, manipula todos os objetos que vê pela frente, porém como

nessa idade ainda não consegue fixar a atenção por muito tempo, muda de atividade

constantemente.

Muitos pais e educadores, por receio, acabam por frustrar a curiosidade da criança nesse

período. É importante, nessa fase, deixar que a criança:

• manipule diferentes objeto

• desenhe com lápis adequado (giz de cera)

• enfie contas ou botões em uma linha

•brinque com cubos de construção

• corte papel com as mãos

• faça perfuração

• manipule massa, areia ou argila

Evolução dos movimentos do bebê de 0 a 18 meses

Apresentaremos abaixo uma tabela que pode ser utilizada como padrão de

desenvolvimento, porém não se esqueçam que não é regra. Cada criança tem o seu ritmo.

Você sabia que a expressão “movimento de pinça” é utilizada quando a criança usa o

dedo indicador e o polegar para agarrar objetos?

Para a criança se desenvolver motoramente, devem ser oferecidas diferentes atividades

como correr, pular, saltar, arremessar. O esporte sem competição nessa idade é

fundamental.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Idades Movimentos

0 a 1 mês e meio Raros movimentos reflexos. Os punhos permanecem fechados.

Cerca 2 meses As mãos batem no ar, as pernas se agitam, os punhos permanecem sempre fechados.

De 4 a 6 meses As mãos se estendem para o objeto, abrem­se e chegam a segurá­lo por um momento.

De 7 a 8 meses As mãos pegam o objeto e o levam à boca ou o jogam no chão. O bebê já rasteja.

De 8 a 10 meses A criança mantém­se sentada, engatinha e, mais tarde, põe­se de pé dentro do cercado.

De 10 a 12 meses A criança anda dentro do cercado, apoiando­se nas grades

De 12 a 15 ou 18 meses A criança começa a andar. Fonte: Pontos de Psicologia do desenvolvimento de Célia Silva Guimarães Barros, 1987, p. 43

Aprendizagem das habilidades motoras

A criança desenvolve várias habilidades, tais como correr, saltar, pular, subir em cadeiras

ou escadas antes de freqüentar a educação infantil. Diferentes estudos sobre o desenvolvimento

motor apontam que por volta dos dois a três anos é mais fácil subir do que descer escadas,

rampas, cadeiras.

Aos três anos, cerca de 50% das crianças pesquisadas encontravam facilidade tanto em

subir quanto em descer dos obstáculos. Nessa idade aprendiam a pular e saltitar desde que

fossem dadas oportunidades para desenvolver essas habilidades.

Quarenta por cento das crianças de três anos possuíam habilidade para pular. Com quatro

anos e meio essa porcentagem subiu para 70% e com cinco anos aumentou para 80%.

Antes dos seis anos de idade, a maioria das crianças conseguia pular com um pé só,

porém para pular corda poucas conseguiam com quatro anos. A maioria desenvolveu esta

habilidade aos 6 ou sete anos.

A habilidade para jogar bola foi constatada em crianças de dois anos, porém a eficiência

nessa modalidade ocorre depois dos quatro anos de idade. Apenas 60% das crianças de seis

anos conseguiram arremessar a bola.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Exercícios

1. Até os sete anos de idade, a criança desenvolve várias habilidades. Assinale as corretas para a idade. a) Com três anos metade das crianças encontra dificuldade tanto em subir quanto em descer

diferentes obstáculos. b) 80% das crianças de cinco anos pulam com facilidade. c) Com quatro anos de idade a maioria das crianças pula com um pé só. d) Todas as alternativas estão corretas.

2. Assinale a alternativa incorreta: a) Com 14 semanas bebês já agarram objetos. b) O desenvolvimento do ato de estender a mão e agarrar segue a direção da maturação,

começando pelos músculos mais amplos até os mais finos. c) Quando completa um ano, a criança utiliza o dedo indicador e o polegar para agarrar objetos. d) Com um ano de idade, a criança muda de atividade constantemente.

Resposta dos Exercícios

1. Até os sete anos de idade, a criança desenvolve várias habilidades. Assinale as corretas para a idade. Resposta correta: B

2. Assinale a alternativa incorreta: Resposta correta: A

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 12 • SEGUNDA INFÂNCIA E MENINICE

Você está lembrado que na sétima aula vimos os períodos do desenvolvimento humano?

Estudamos até o momento algumas características da primeira infância. Nesta aula estudaremos

as características gerais dos outros períodos.

Segunda infância

De acordo com Barros (1987), a segunda infância tem início quando a criança começa a

falar, andar e quando surge a primeira dentição. Termina por volta dos seis anos, quando ingressa

na primeira série.

Nessa idade, segundo Piaget, a criança está no estágio pré­operacional, isto é, ela é capaz

de fazer representação mental de objetos ausentes, permitindo assim que ela utilize símbolos.

Podendo representar simbolicamente, a criança já é capaz de falar. (estudaremos em aula adiante

o desenvolvimento da linguagem).

Símbolo significa:

Aquilo que, por um princípio de analogia, representa ou substitui outra coisa.

Aquilo que, por sua forma ou por sua natureza, evoca, representa ou substitui, num

determinado contexto algo abstrato ou ausente.

Existem outras definições. Pesquise.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Nessa fase, o vocabulário da criança é mais rico. É o momento da fala egocêntrica, ou

seja, ela fala sozinha ou com seus brinquedos.

Os valores morais da criança são os de seus pais. Segundo Barros (1987: 20) “o critério

para julgar se um ato é certo ou errado são suas conseqüências e não as intenções de quem

realizou a ação. Para a criança desta fase, um ato é errado quando acarreta castigo, quando é

punido pelos pais”. Ex.: se uma criança quebrar um copo de propósito e outra quebrar dez copos

sem querer, a criança dessa idade acha que quem quebrou os dez copos sem querer é mais

culpada.

Freud percebeu grande progresso nessa etapa quanto ao desenvolvimento psicossexual.

Dos dois aos quatro anos, vive a fase anal, e dos quatro aos seis, a fase fálica. Enquanto vive a

fase anal, aprende a controlar a bexiga e os intestinos. Em seguida, na fase fálica, percebe as

diferenças anatômicas entre os sexos e também vive o conflito emocional causado por grande

afeição pelo progenitor do sexo oposto, fenômeno denominado por Freud de Complexo de Édipo.

Quando a criança identifica­se com o progenitor do seu próprio sexo, assumirá um papel

sexual para o resto da vida.

Quanto ao comportamento social, podemos dizer que é muito rico. Agora não se satisfaz

vendo apenas outras crianças brincarem, mas quer brincar junto.

A criança dessa idade gosta de desenhar, seus rabiscos e garatujas evoluem para

esquemas e representações da realidade, mas seus desenhos apresentam transparências; seu

desenho é desproporcional ao tamanho real, e possui muitos detalhes.

Garatuja

Você sabia que garatuja é um desenho mal feito a que os adultos dão pouca

importância, mas fundamentais no desenvolvimento infantil?

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Meninice

Esse período se inicia com a entrada na primeira série e termina com a chegada da

puberdade (por volta dos 11 anos). Nessa fase, a criança aprende técnicas de leitura e escrita e já

atingiu um certo controle emocional: sabe disfarçar o medo, conter a cólera, reprimir o choro e

controlar suas expressões de alegria.

Cognitivamente, segundo Piaget, a criança encontra­se no estágio das operações

concretas, ou seja, consegue raciocinar em relação a objetos que ela possa ver e pegar. Ela já

lida com conceitos como idade, espaço e tempo, e sua linguagem está socializada.

Segundo Freud, a criança desse período encontra­se na fase da latência, isto é, existe

diminuição das emoções e dos impulsos sexuais. Esse fato ocorre por influência da educação,

então a criança dedica­se à aquisição de habilidades aceitas socialmente.

Material dourado

O Material Dourado destina­se a atividades que auxiliam o ensino e a aprendizagem do

sistema de numeração decimal­posicional e dos métodos para efetuar as operações

fundamentais (ou seja, os algoritmos). No ensino tradicional, as crianças acabam

"dominando" os algoritmos a partir de treinos cansativos, mas sem conseguir

compreender o que fazem. Com o Material Dourado, a situação é outra: as relações

numéricas abstratas passam a ter uma imagem concreta, facilitando a compreensão.

Obtém­se, então, além da compreensão dos algoritmos, um notável desenvolvimento do

raciocínio e um aprendizado bem mais agradável. (fonte: educar.sc.usp.br)

Esse é o material dourado, que contém unidades, dezenas e centenas, que, devido à

proporção entre as peças, permitem que a criança compreenda as relações numéricas, e

visualize que as unidades estão “dentro” das dezenas, as dezenas estão “dentro” das

centenas, etc.e assimile essas relações.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Na meninice, os meninos separam­se das meninas, seus interesses são diferentes. É a

chamada fase do “clube do Bolinha e da Luluzinha”. Os meninos preferem brincadeiras mais

ativas, como correr e pular, e as meninas preferem brincar de casinha, bonecas e escolinha.

Já possuem capacidade de obedecer a regras e esperar a vez. Socialmente já se

submetem a um líder e sabem escolher um quando necessário.

Quanto ao desenvolvimento moral, a criança percebe que uma ação pode ser julgada pela

intenção. Lembra­se do exemplo dos copos? Agora ela sabe que quem quebrou um copo de

propósito é mais culpado que quem quebrou dez sem querer.

Exercícios

1. Segundo Piaget, na segunda infância, a criança está no estágio: a) sensório­motor. b) operacional­concreto. c) pré­operacional. d) nenhuma das alternativas.

2. De acordo com Freud na meninice a criança vive a fase: a) anal. b) oral. c) fálica. d) de latência.

Resposta dos Exercícios

1. Segundo Piaget, na segunda infância, a criança está no estágio: Resposta correta: C

2. Assinale a alternativa incorreta: Resposta correta: D

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AULA 13 • PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA

Nesta aula terminaremos de estudar as fases do desenvolvimento infantil humano.

Veremos as características da puberdade e da adolescência.

Puberdade

A puberdade se inicia logo após a meninice e precede a adolescência. A menina tem por

volta 12 anos e o menino, 14. Esse período tem como característica o aparecimento dos

caracteres sexuais secundários (veja figuras 1 e 2). Costuma durar cerca de dois anos e o púbere

começa a apresentar preferência afetiva pelo sexo oposto e de idade compatível a dele. Nessa

fase, tanto a menina quanto o menino têm os amigos(as) prediletos(as) e confidentes.

De acordo com Piaget, a criança encontra­se nos estágio das operações formais, isto é,

tem capacidade de formular hipóteses, raciocinar sobre elas e pensar em termos abstratos. (veja

mais sobre esse período no Texto complementar).

Adolescência

O período da adolescência é marcado por diversos fatores mas, sem dúvida, o mais

importante é a tomada de consciência de um novo espaço no mundo, a entrada em uma nova

realidade que produz confusão de conceitos e perda de certas referências. O encontro dos iguais

no mundo dos diferentes é o que caracteriza a formação dos grupos de adolescentes, que se

tornarão lugar de livre expressão e de reestruturação da personalidade, ainda que essa fique por

algum tempo sendo coletiva.

Essa busca do “eu” nos outros na tentativa de obter uma identidade para o seu ego é o

que o psicanalista Erik Erikson chamou de “crise de identidade”, o que acarreta angústias,

passividade ou revolta, dificuldades de relacionamento inter e intrapessoal, além de conflitos de

valores. Para Erikson, o senso de identidade é desenvolvido durante todo o ciclo vital, quando

cada indivíduo passa por uma série de períodos desenvolvimentais distintos, havendo tarefas

específicas para se enfrentar.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A tarefa central de cada período é o desenvolvimento de uma qualidade específica do ego.

Para esse autor, dos 13 aos 18 anos a qualidade do ego a ser desenvolvida é a identidade, sendo

a principal tarefa adaptar o sentido do eu às mudanças físicas da puberdade, além de desenvolver

uma identidade sexual madura, buscar novos valores e fazer uma escolha ocupacional.

Em termos psicológicos, a formação da identidade emprega um processo de reflexão e

observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental,

pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros

o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles;

enquanto ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em

comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele.

Portanto, a construção da identidade é pessoal e social, acontecendo de forma interativa,

através de trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido. Esse autor enfatiza, ainda, que

a identidade não deve ser vista como algo estático e imutável, como se fosse uma armadura para

a personalidade, mas como algo em constante desenvolvimento.

Como vimos, entre os aspectos importantes no desenvolvimento da identidade está o

controle vital, ou seja, as fases ou períodos da vida que o indivíduo atravessa até chegar à idade

adulta, que são marcados por crises apresentadas como situações a ser resolvidas.

Entre as indispensáveis coordenadas da identidade está o ciclo vital, pois partimos do

princípio de que só com a adolescência o indivíduo desenvolve os requisitos preliminares de

crescimento fisiológico, amadurecimento mental e responsabilidade social para atravessar a crise

de identidade. De fato, podemos falar da crise de identidade como o aspecto psicossocial do

processo adolescente.

Desta forma, o grande conflito a ser solucionado na adolescência é a chamada “crise de

identidade”, e essa fase só estará terminada quando a identidade tiver encontrado uma forma que

determinará, decisivamente, a vida ulterior.

É importante entender que o termo crise, adotado por Erikson, não é sinônimo de

catástrofe ou desajustamento, mas de mudança; de um momento crucial no desenvolvimento

onde há a necessidade de se optar por uma ou outra direção, mobilizando recursos que levam ao

crescimento.

É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as construções dos

períodos anteriores, próprios da infância. Assim, o jovem assediado por transformações

fisiológicas próprias da puberdade precisa rever suas posições infantis frente à incerteza dos

papéis adultos que se apresentam a ele. A crise de identidade é marcada, também, por uma

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

confusão de identidade, que desencadeará um processo de identificações com pessoas, grupos e

ideologias que se tornarão uma espécie de identidade provisória ou coletiva, no caso dos grupos,

até que a crise em questão seja resolvida e uma identidade autônoma seja construída.

É exatamente essa crise e, conseqüente confusão, de identidade que fará com que o

adolescente parta em busca de identificações, encontrando outros “iguais” e formando seus

grupos. A necessidade de dividir suas angústias e padronizar suas atitudes e idéias faz do grupo

um lugar privilegiado, pois nele há uma uniformidade de comportamentos, pensamentos e hábitos.

Com o tempo, algumas atitudes são internalizadas, outras não, algumas são construídas e

o adolescente, paulatinamente, percebe­se portador de uma identidade que, sem dúvida, foi social

e pessoalmente construída.

Leia texto complementar no ambiente de aula.

Exercícios

1. A puberdade é caracterizada pelo: a) aparecimento da menarca nas meninas e da semenarca nos meninos. b) aparecimento dos caracteres sexuais. c) estirão no crescimento. d) todas estão corretas.

2. É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as construções dos períodos anteriores, próprios da infância. Assim: a) O jovem assediado por transformações fisiológicas próprias da puberdade precisa rever suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos que se apresentam a ele.

b) O jovem assediado por transformações fisiológicas próprias da puberdade não precisa rever suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos que se apresentam a ele.

c) A crise de identidade é coisa do jovem fragilizado frente às novas expectativas que o espera. d) Nenhuma das anteriores

Resposta dos Exercícios

1. A puberdade é caracterizada pelo: Resposta correta: D

2. É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as construções dos períodos anteriores, próprios da infância. Assim: Resposta correta: A

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 14 • DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM (PARTE 1)

Nesta aula e na próxima você estudará como ocorre o desenvolvimento da linguagem.

A linguagem é um instrumento valioso que apenas a espécie humana possui. Com ela, o

homem apreende a cultura da qual faz parte. Com a linguagem participamos da vida social, pois é

um meio de auto­realização, expressão e comunicação. Com ela também podemos ordenar o

pensamento.

Toda sociedade humana, desde a mais primitiva, possui uma linguagem, porém nenhuma

sociedade animal desenvolveu a sua. De acordo com Kagan et al (1974: 199) a linguagem pode

ser definida como “[...] um sistema arbitrário de símbolos que, em conjunto, possibilitam a uma

criatura humana, com poderes limitados de discriminação e memória, transmitir e compreender

uma variedade infinita de mensagens, apesar dos ruídos e da distração”.

A linguagem está presente em todos os aspectos do comportamento humano. Quase tudo

que sabemos e conhecemos nos foi transmitido por meio de palavras e símbolos. Além disso, a

linguagem está presente em todos os processos mentais superiores tais como pensamento,

memória, raciocínio, solução de problemas, planejamento e formação de conceitos.

A linguagem das crianças tem propriedades definidas e estruturais. O que isto significa?

Os bebês aprendem a língua materna ou outra língua com as pessoas que estão a sua volta. As

crianças só elaboram conceitos de algo que ela presencia na sua cultura. Exemplo: Como fazer

uma criança brasileira elaborar o conceito de um iglu? Não faz parte de sua cultura, portanto, ela

não sabe o que é. Assim, não consegue fazer a representação mental.

Estudos realizados por psicolingüistas apontam que os processos biológicos e de

maturação também têm papel essencial no desenvolvimento da linguagem. Os sons mais

elementares da fala, que são os fonemas, seguem uma seqüência constante que sugere

maturação. As crianças de todas as nações e culturas articulam os mesmos sons e o fazem na

mesma ordem.

Fonema é a unidade mínima distintiva no sistema sonoro de uma língua.

Você sabia que os sons formados no fundo da boca, como o /h/ aspirado, geralmente

são pronunciados antes e diminuem de freqüência à medida que os sons que exigem o

uso dos dentes e lábios se tornam mais freqüentes?

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Todos os bebês desde o terceiro mês até o fim do primeiro ano de vida repetem

(balbuciam) constantemente o mesmo som (exemplo: pa­ pa­ pa; ma­ ma­ ma; da­ da­ da) e

começam a imitar a fala dos adultos por volta dos nove meses, porém o bebê imita apenas os

sons que já emitia espontaneamente, os novos sons não são aprendidos por imitação.

Outro dado importante a ser considerado, observado pelos psicolingüistas, quanto á

maturação, refere­se ao acelerado desenvolvimento da compreensão e do uso da linguagem pela

criança, principalmente o domínio prematuro da gramática. Nesse sentido, ressalta Mussen (1975:

44­5):

A compreensão da língua é anterior à fala. O bebê é capaz de entender ordens simples

com aproximadamente dez meses de idade, mas só emitirá a primeira palavra algum tempo

depois. Geralmente é uma palavra com uma única sílaba repetida (ex.: mama) que funciona como

frase (Quero mama ou onde está a mama).

Por volta dos dezoito meses, as crianças começam a juntar as palavras em frases curtas.

Somente no terceiro ano de vida é que emite frases estruturadas, pois nessa época o vocabulário

da criança cresce em ritmo acelerado. Nessa idade também utiliza regras gramaticais, algumas

complexas.

Com quatro anos, a criança demonstra que adquiriu a maior parte das regras gramaticais,

entre elas, o plural e o tempo verbal no futuro. Mesmo falando errado, a criança demonstra que

adquiriu noção gramatical. Exemplo: Os meninos “ponharam” as caixas de “piãos” no chão. Como

“ponharam” e “piãos” não são a forma correta de pronunciar essas palavras, provavelmente ela

não ouviu de uma pessoa adulta, porém, nessa frase, a criança revela que aprendeu a regra de

verbo no passado e o plural dos substantivos. Esse fenômeno ocorre também com crianças que

falam outras línguas. Há uma generalização de algumas regras, mostrando que a criança pode

não conhecer todas as exceções e toda a riqueza da língua, mas que entende que há regras e

usa as regras que conhece mesmo para formar palavras “erradas”.

Embora não apareça linguagem real antes dos dezoito meses, mesmo regras

complexas de linguagem são adquiridas pela criança com aproximadamente três anos e

meio ou quatro anos de idade. Por isso, os psicolingüistas sustentam que uma base

para a competência rica e complexa da gramática adulta precisa surgir no curto espaço

de vinte e quatro meses.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Exercícios

1. Assinale a alternativa falsa. a) Os sons mais elementares da fala são os fonemas. b) A compreensão da linguagem é anterior à fala. c) Com três anos, a criança demonstra que adquiriu a maior parte das regras gramaticais, entre

elas, o plural e o tempo verbal no futuro. d) Embora não apareça linguagem real antes dos dezoito meses, mesmo regras complexas de

linguagem são adquiridas pela criança com aproximadamente três anos e meio ou quatro anos de idade.

2. Assinale a alternativa correta. a) Por volta dos dois anos, as crianças começam a juntar as palavras em frases curtas. b) Apenas os processos biológicos têm papel essencial no desenvolvimento da linguagem. c) Somente alguns bebês a partir do terceiro mês até o fim do primeiro ano de vida repetem

(balbuciam) constantemente o mesmo som (exemplo: pa­ pa­ pa; ma­ ma­ ma; da­ da­ da) e começam a imitar a fala dos adultos por volta dos nove meses.

d) Todos os bebês desde o terceiro mês até o fim do primeiro ano de vida repetem (balbuciam) constantemente o mesmo som (exemplo: pa­ pa­ pa; ma­ ma­ ma; da­ da­ da) e começam a imitar a fala dos adultos por volta dos nove meses.

Resposta dos Exercícios

1. Assinale a alternativa falsa. Resposta correta: C

2. Assinale a alternativa correta. Resposta correta: D

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 15 • DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM (PARTE 2)

Nesta aula você continuará estudando como ocorre o desenvolvimento da linguagem.

Evolução da linguagem segundo Vermeylen

Barros (1987:161) ao citar Vermeylen, descreve quatro fases da evolução da linguagem.

Veja a seguir.

1) Linguagem espontânea – Desde o nascimento, a criança exprime suas necessidades

pelo grito. É uma linguagem reflexa e emocional, semelhante à dos animais. A partir dos

dois meses, a criança já tem capacidade de articular sílabas e o grito vai sendo

substituído pelo balbucio. Chamamos de balbucio a emissão de sílabas que a criança

realiza após os dois meses com o fim de exercitar os órgãos vocais, preparando­se para

a linguagem futura. Esses sons não são emitidos com intenção de expressar

pensamentos ou desejos da criança. Após os 3 meses, o balbucio vai­se tornando

prolongado e a criança parece interessar­se pela sua própria emissão de sílabas; a

linguagem converte­se em brinquedo.

2) Linguagem de imitação – No início do segundo ano de vida, a criança compreende

muito mais do que pode exprimir. Sua linguagem se reduz a algumas palavras

tautossilábicas (ma­ma, da­da, ba­ba) e algumas onomatopéias (au­au). Por imitação,

ela vai reproduzindo um certo número de palavras que ouve, sem, entretanto,

compreender sua significação. Nessa época, a linguagem da criança é incompreensível

às pessoas que com ela não convivem.

3) Linguagem social – Após os 20 meses de idade, a linguagem infantil progride de

maneira extraordinária, pois nesse período há um grande desenvolvimento dos

mecanismos neuromusculares necessários à articulação das palavras, bem como um

grande desenvolvimento mental que possibilita a compreensão e o emprego da

linguagem como meio de expressão de seu pensamento. Nesta fase, a criança

compreende um número grande de palavras, em relação às que sabe usar. Já se nota

sua intenção de empregar as palavras como meio de comunicação com as outras

pessoas. Sua linguagem já está se tornando social, embora isso se dê lentamente.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

4) Linguagem organizada – A criança atravessa muitas etapas e realiza múltiplos ensaios

antes de construir corretamente suas frases. Depois dos 22 meses, geralmente ela sai

do período de armazenamento das imagens auditivas e verbais e passa à fase ativa de

expressão. Realiza então grandes progressos de maneira repentina, e aprende a utilizar

numerosas palavras. A princípio, emprega uma única palavra para exprimir uma idéia ou

uma ação. Por exemplo, ao dizer “áua”, o bebê pode, com esta única palavra, estar

comunicando uma sentença inteira “eu quero água”. É o período da palavra­frase, frase

univocabular ou holofrase. Pouco a pouco, porém, a frase vai se constituindo de mais

de uma palavra.

No entanto, o substantivo prepondera durante muito tempo na estrutura da frase. Somente

por volta dos 25 meses surge o verbo, que no início é empregado no infinitivo ou no imperativo e

acompanhado do substantivo sobre o qual recai a ação: “Nenê nana” (“O nenê quer dormir”); “Da

áua” (“Dá água”). É o período da frase­ação.

Entre dois e três anos e meio aparece a frase de incidentes, que é a última etapa da

linguagem organizada. Além do substantivo e do verbo, aparecem também artigos, adjetivos,

advérbios, proposições, etc: “Dá boneca da Lúcia”; “A menina pequena travessô (atravessou) a ua

(rua)”.

Jean Piaget, em sua observação do desenvolvimento infantil, notou que a criança passa

lentamente da linguagem egocêntrica (período em que ela fala a si própria, sem preocupação de

comunicar­se) para a linguagem socializada (período em que a criança fala para comunicar o que

pensa ou o que vai fazer).

Desenvolvimento da linguagem

4 semanas Pequenos ruídos guturais. Atende ao som de uma campainha. 16 semanas Murmúrios. Ri. Vocalização social. 28 semanas Balbucia. Vocaliza e escuta suas próprias vocalizações. 40 semanas Diz uma palavra. Atende a seu nome. 12 meses Diz duas palavras ou mais. 18 meses Jargão. Nomeia desenhos. 2 anos Usa frases. Compreende ordens simples. 3 anos Usa orações. Responde a perguntas simples. 4 anos Usa conjunções e compreende preposições. 5 anos Fala sem articulação infantil. Pergunta “Por quê”? Fonte: Barros, 1987: 163.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Exercícios

1. Assinale a alternativa correta quanto à aquisição da linguagem social. a) A criança atravessa muitas etapas e realiza poucos ensaios antes de construir corretamente

suas frases. b) A criança compreende um número maior de palavras do que sabe usar. c) A criança já tem capacidade de articular sílabas e o grito vai sendo substituído pelo balbucio. d) Por imitação, a criança vai reproduzindo um certo número de palavras que ouve

2. Assinale a alternativa correta quanto à aquisição da linguagem espontânea. a) Desde o nascimento, a criança exprime suas necessidades pelo grito. b) A partir dos dois meses, a criança já tem capacidade de articular sílabas e o grito vai sendo

substituído pelo balbucio. c) Após os 3 meses, o balbucio vai­se tornando prolongado e a criança parece interessar­se

pela sua própria emissão de sílabas; a linguagem converte­se em brinquedo. d) Todas as alternativas estão corretas.

Resposta dos Exercícios

1. Assinale a alternativa correta quanto à aquisição da linguagem social. Resposta correta: B

2. Assinale a alternativa correta quanto à aquisição da linguagem espontânea. Resposta correta: D

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 16 • O DESENVOLVIMENTO MORAL

Nesta aula e na seguinte você estudará como ocorre o desenvolvimento moral. Veremos

os estudos de Kohlberg.

Diferentes estudiosos, entre eles Freud, Piaget e Kohlberg, se preocuparam em estudar

como ocorre o desenvolvimento moral na criança. Uma pesquisa interessante nesse sentido é a

do psicólogo americano Lawrence Kohlberg. Para ele, o desenvolvimento moral se dá seguindo

uma seqüência de estágios, que não difere de pessoa para pessoa, seja qual for sua cultura.

Para elaborar sua teoria, Lawrence Kohlberg pesquisou durante vinte anos. Utilizou como

sujeitos crianças e adultos de ambos os sexos e diferentes classes sociais não só nos Estados

Unidos, mas também de outros países, como México, Turquia e Malásia.

A história de Heinz

A fim de conhecer o sistema de pensamento que as pessoas empregam para resolver

questões morais, Kohlberg procurou observar como algumas resolviam dilemas morais que ele

lhes apresentava. Como exemplo desses dilemas, usados para seus estudos, temos o caso de

Heinz.

Na Europa, uma mulher que sofria de um tipo especial de câncer.estava quase à morte.

Existia um remédio, uma forma de radium, descoberto então recentemente por um farmacêutico

da cidade, que os médicos julgavam que pudesse salvá­la. Além de a fabricação do remédio ser

dispendiosa, o farmacêutico cobrou dez vezes mais que o preço de custo. Ele pagava o

equivalente a 1000 reais pelo radium, por exemplo, e cobrava 10.000 reais por uma dose pequena

do remédio.

Heinz, o esposo da mulher doente, pediu empréstimo a todos que conhecia, mas

conseguiu arrecadar apenas a metade do dinheiro, isto é, 5.000 reais. Comentou com o

farmacêutico que sua esposa estava à morte e pediu­lhe para vender o remédio mais barato e que

depois pagava o restante. Mas o farmacêutico respondeu­lhe: “Não, eu descobri o remédio e vou

ganhar dinheiro com ele”. No desespero, Heinz assaltou a farmácia a fim de conseguir o remédio.

Você acha que Heinz deveria ter tomado essa atitude? Por quê?

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Era esse o tipo de problema que Kohlberg apresentava. Todos muito complexos. Ele não

estava preocupado com o sim ou não que os sujeitos respondiam. Para ele, o que interessava

era as razões que as pessoas davam para explicar o porquê das atitudes. Isto é, o modo como a

pessoa se justifica pela atitude de seu comportamento define o nível de desenvolvimento moral.

Estágios do desenvolvimento moral segundo Lawrence Kohlberg

Lawrence Kohlberg identificou seis estágios de desenvolvimento moral e dividiu­os em três

níveis. São eles: moralidade pré­convencional (nível pré­moral), moralidade convencional, e

moralidade pós­convencional. Cada nível corresponde a dois estágios.

Moralidade pré­convencional

Neste nível (crianças até 9 anos), os valores morais são resultado da obediência a

qualquer autoridade. O julgamento das atitudes está baseado em suas conseqüências. Esse

nível, possui dois estágios.

Estágio 1. A criança bem pequena julga as ações por suas conseqüências físicas.

Exemplo. Se uma pessoa receber prêmio pelo que fez, o ato é considerado, pela criança, como

moralmente bom; se receber castigo, é considerado moralmente ruim. A criança dá valor

inquestionável à autoridade e à fuga da punição.

O que você acha que uma criança desse estágio responderia sobre a atitude de Heinz se

você perguntasse a ela: Heinz deveria ter roubado o remédio? Por quê?

Resposta 1: “Sim, porque se ele deixasse sua mulher morrer, ele se meteria numa

encrenca. Ele seria acusado de não gastar o dinheiro para salvá­la e haveria um processo contra

ele e contra o farmacêutico, por terem deixado a mulher morrer.”

Resposta 2: “Não, o marido não deveria roubar o remédio porque seria apanhado e

mandado para a cadeia. Se ele conseguisse fugir, sua consciência o incomodaria, pensando que

a polícia poderia prendê­lo a qualquer minuto.”

Perceberam que nas duas respostas a ação de Heinz foi julgada por suas conseqüências,

pela possibilidade do castigo?

Estágio 2. Por volta dos 10 anos de idade, se os atos derem prazer ou satisfizerem as

necessidades das crianças, eles estão moralmente corretos. Elas não conseguem perceber a

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

necessidade dos outros a não ser que também a beneficie. Veremos duas respostas dadas por

crianças desse estágio quanto à história de Heinz.

Resposta 1: “Sim, porque se acontecesse de ser apanhado, ele poderia devolver o

remédio e não pegaria uma sentença muito grande. Não seria tão ruim passar um tempinho na

cadeia, se ele tivesse sua mulher quando saísse de lá.”

Resposta 2: “Não, ele poderia não pegar uma pena muito grande se roubasse o remédio,

mas sua mulher provavelmente morreria antes de ele sair da cadeia, portanto não iria adiantar ao

marido roubar o remédio. Se a mulher morresse, ele não se deveria culpar; não é culpa dele que

ela tenha tido câncer.”

Vocês perceberam que nas duas respostas o que fica evidente é o proveito que Heinz

tiraria da situação?

Exercícios

1. Assinale a alternativa falsa. a) Lawrence Kohlberg utilizou como sujeitos crianças e adultos de ambos os sexos e diferentes

classes sociais. b) Por volta dos 10 anos de idade, se os atos derem prazer ou satisfizerem as necessidades

das crianças, eles estão, para elas, moralmente corretos. c) Em crianças até 6 anos, os valores morais são resultado da obediência a qualquer

autoridade. d) A fim de conhecer o sistema de pensamento que as pessoas empregam para resolver

questões morais, Kohlberg procurou observar como algumas resolviam dilemas morais que ele lhes apresentava.

2. Assinale a alternativa correta. a) As crianças de nove anos não conseguem perceber a necessidade dos outros a não ser que

também a beneficie. b) A criança bem pequena julga as ações por suas conseqüências psicológicas. c) A criança bem pequena julga as ações por suas conseqüências morais. d) As crianças de nove anos conseguem perceber a necessidade dos outros sempre.

Resposta dos Exercícios

1. Assinale a alternativa falsa. Resposta correta: C

2. Assinale a alternativa correta. Resposta correta: A

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 17 • MORALIDADE

Moralidade convencional

Nesta aula você continuará estudando como ocorre o desenvolvimento moral sob a ótica

de Kohlberg.

Neste nível, a criança está preocupada em cumprir as leis, em manter a ordem social e a

fazer o que os outros esperam dela. Compreende os estágios 3 e 4.

Estágio 3. A criança preocupa­se com as outras pessoas. Quer ser “bom menino ou boa

menina”, para isso suas ações têm que ser aprovadas pela sociedade, família e professores.

Baseadas na história de Heinz, que foi apresentada em aula anterior, nesse estágio, elas

responderiam o seguinte, perguntadas se ele deveria ou não roubar o remédio que poderia salvar

a vida de sua esposa:

Resposta 1: “Sim, o marido deveria roubar o remédio. Ninguém iria pensar que ele fosse

mau se roubasse o remédio, mas a família o acharia desumano se ele não roubasse. Se ele

deixasse sua mulher morrer, ele nunca teria coragem de encarar ninguém”.

Resposta 2: “Não. Não é só o farmacêutico que pensará que ele é um criminoso. Todo

mundo pensará. Depois de roubar, ele se sentirá mal, achando que trouxe desonra para sua

família e para ele mesmo: ele não poderá encarar ninguém.”

Perceberam que no estágio 3 a preocupação é com o que os outros vão pensar?

Estágio 4. Nesse estágio, o comportamento moralmente correto é aquele que consiste em

cumprir o dever, obedecer à autoridade e manter a ordem social. Os adolescentes se encaixam

nesse estágio. Vejam as respostas dadas.

Resposta 1: “Sim, se ele tivesse senso de honra, ele não deixaria sua mulher morrer, por

medo de fazer a única coisa que poderia salvá­la. Se ele não cumprisse seu dever para com ela,

ele sempre se sentiria culpado pela morte dela”.

Resposta 2: “Não. Ele deveria estar desesperado e poderia não saber que estava

cometendo um erro quando roubasse o remédio. Mas ele saberia que fez mal depois de ter sido

punido e mandado para a cadeia. Ele sempre se sentiria culpado por sua desonestidade e por

desobedecer à lei”.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Vocês notaram que nas duas respostas a preocupação foi com o dever, a lealdade com o

grupo e em manter a ordem social?

Moralidade pós­convencional

Neste nível, os valores morais são aceitos conscientemente. Muitas pessoas jamais

conseguem atingi­lo. Compreende os estágios 5 e 6.

Estágio 5. Depende de padrões aprovados pela sociedade. A pessoa sente necessidade

de obedecer à lei, porém sabe que estas não são absolutas. Se a maioria concordar, as leis

podem ser mudadas.

Existem casos em que a lei não se pronuncia, o certo e o errado são decididos pela

opinião pessoal ou acordado no grupo. Predomina, nesse estágio, a moralidade do contrato social

e da lei, aceitos democraticamente. Os adultos se encaixam nesse estágio. Vejam as respostas:

Resposta 1: “Sim, se ele deixasse sua mulher morrer, seria por causa do medo, e não

uma coisa racional. Ele perderia o auto­respeito e provavelmente o respeito dos outros também”.

Resposta 2: “Não. Se ele violasse a lei, ele perderia o respeito dos outros e o de si próprio

por ter­se deixado levar pelas emoções e esquecido o ponto de vista menos imediato”.

Perceberam que a preocupação é com o respeito da sociedade e de si próprio e não com a

punição?

Estágio 6. A consciência de cada pessoa, pautada em princípios éticos como justiça,

igualdade e dignidade para todos decide o que é certo e errado. Esses valores e princípios morais

têm validade e aplicação independentes da autoridade. Você já ouviu falar do imperativo

categórico de Kant? (Saiba mais clicando no menu da aula.) “Aja somente como você gostaria que

todos agissem em situação idêntica”. Observe as respostas das pessoas quanto à história de

Heinz.

Resposta 1: “Sim. Se ele não roubasse o remédio e deixasse sua mulher morrer, ele

sempre se condenaria por isso depois. Ele não seria acusado e ter­se­ia fiel à lei externa; mas ele

não teria satisfeito seus próprios padrões de consciência. Roubando o remédio, Heinz estava

obedecendo a um princípio universal: o valor da vida humana é maior que o da propriedade. Mas,

ao mesmo tempo, ele deveria reconhecer que cometeu um ato de desobediência civil e deveria

aceitar a punição por furto”.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Resposta 2: “Não. Se ele roubasse o remédio, mesmo que ele não fosse acusado por

outras pessoas, ele poderia condenar­se a si próprio por ter violado seus padrões de

honestidade”.

Vocês perceberam que as respostas desse estágio seguem os princípios morais

autônomos e sua violação?

Imperativo categorial

Existe só um imperativo categórico, que é este: “ Aja apenas segundo a máxima que você

gostaria de ver transformada em lei universal"

Immanuel Kant, A Metafísica da Moral (1797)

Em termos simples, eis o que o grande filósofo alemão Immanuel Kant chamou de

imperativo categórico: você deve agir sempre baseado naqueles princípios que

desejaria ver aplicados universalmente.

Por que "imperativo categórico"?

Imperativo, porque é um dever moral.

Categórico, porque atinge a todos, sem exceção.

Ao introduzir a ética em sua obra filosófica, Kant fez surgir uma nova versão da antiga

Regra de Ouro, aquela regra ditada pelos grandes Mestres da humanidade: "Faça para

os outros o que você gostaria que fizessem a você."

Kant ampliou a regra para algo assim: "Faça para os outros o que gostaria que todos

fizessem para todos."

Com isso, Kant queria evitar o problema das diferentes idéias que cada pessoa tem

sobre o que gostaria que se fizesse a elas. Queria enfrentar o "relativismo moral", essa

moralidade circunstancial tão generalizada hoje em dia: a noção de que o que é certo

depende da situação ou do contexto.

Ele não concordava com a doutrina do utilitarismo, ou seja, a de que "os fins justificam

os meios". Como podemos nortear nossas ações com base nos resultados, se até

mesmo os planos mais bem traçados podem ser desvirtuados? O resultado do que

fazemos, muitas vezes, não é absolutamente o que pretendíamos, portanto é um

desvirtuamento moral basear nossos julgamentos nos resultados.

Então, como agir com segurança? Segundo Kant, se quisermos ser objetivos, temos

que agir não segundo os fins, mas segundo princípios universais. Princípios universais e

não regras circunstanciais.

Fonte: www.geocities.com

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Leia texto complementar no ambiente da aula.

Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. a) No estágio 5, a consciência de cada pessoa, pautada em princípios éticos como justiça,

igualdade e dignidade para todos, decide o que é certo e errado. b) No estágio 6, a pessoa sente necessidade de obedecer às leis, porém sabe que estas não

são absolutas. c) No estágio 4, a pessoa sente necessidade de obedecer às leis, porém sabe que estas não

são absolutas. d) No estágio 6, a consciência de cada pessoa, pautada em princípios éticos como justiça,

igualdade e dignidade para todos, decide o que é certo e errado.

2. Qual indica uma característica do estágio 4? a) O comportamento moralmente correto é aquele que consiste em cumprir o dever, obedecer à

autoridade e manter a ordem social. b) Os adolescentes se encaixam nesse estágio. c) A criança preocupa­se com as outras pessoas. d) Apenas a e b estão corretas.

Resposta dos Exercícios

1. Assinale a alternativa correta. Resposta correta: D

2. Qual indica uma característica do estágio 4? Resposta correta: D

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 18 • DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL (PARTE 1)

Nesta aula e na seguinte você estudará como ocorre o desenvolvimento psicossocial. Seu

estudo será pautado na teoria de Eric Erikson.

Eric Erikson (1902­1994) foi discípulo de Freud, e em seu livro Infância e sociedade descreveu o desenvolvimento abrangendo toda a vida humana.

Erikson dividiu o ciclo vital em oito estágios, cada um caracterizado por uma crise

psicossocial, que envolve transições em relações sociais importantes. Ele acredita que a

personalidade é moldada de acordo com o modo como o indivíduo enfrenta essas crises. Cada

crise leva a resultados diferentes, por isso é um ponto decisivo na vida da pessoa.

Os estágios estão descritos por meio de suas polaridades alternativas, que representam os

traços de personalidade que a pessoa demonstrará por toda a vida. Segundo Weiten (2002: 319),

“[...] estágio é um período de desenvolvimento durante o qual se manifestam padrões

característicos de comportamento e determinadas habilidades tornam­se estabelecidas”. Assim, o

autor aponta que:

A tabela abaixo indica os estágios que serão explicados a seguir.

Estágios do desenvolvimento psicossocial

Idades Estágios 0 a 1 ano e meio confiança X desconfiança 1 ano e meio a 3 anos autonomia X vergonha e dúvida 3 a 6 anos iniciativa X culpa 7 a 12 anos domínio X inferioridade 12 a 18 anos identidade X confusão de papéis 18 a 30 anos intimidade X isolamento 30 a 60 anos generatividade X auto­absorção 60 anos integridade do ego X desesperança

“[...] As teorias de estágio assumem que os indivíduos devem progredir através de

estágios específicos em uma ordem particular, pois cada estágio se forma a partir do

estágio anterior; o progresso através desses estágios é fortemente relacionado à idade;

o desenvolvimento é marcado por importantes descontinuidades que introduzem

transições dramáticas no comportamento.”

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Confiança X Desconfiança

Esse estágio vai até o fim do primeiro ano de vida, quando o bebê depende inteiramente

dos adultos para que suas necessidades básicas (alimentação, agasalho, troca de fraldas, banho,

carinho) sejam supridas. Se essas necessidades forem supridas de forma adequada e se os

vínculos estabelecidos com seus cuidadores forem sadios, provavelmente o bebê desenvolverá

uma atitude otimista e confiante perante o mundo. Se o contrário acontecer, isto é, se o bebê não

tiver suas necessidades biológicas devidamente suprimidas, provavelmente apresentará

personalidade desconfiada e insegura.

Autonomia X Vergonha e Dúvida

Esse estágio inicia no segundo ano de vida quando a criança começa a deixar as fraldas e

se estende até o fim do terceiro ano, quando começa a assumir responsabilidades para se trocar,

alimentar, tomar banho, etc.

Todos esses avanços conferem à criança um sentimento de independência e autonomia.

Ela tem necessidade de fazer tudo sozinha e de explorar o ambiente. Existem adultos que

permitem que a criança adquira essa autonomia e, portanto, adquira um senso de auto­

suficiência.

Existem adultos que não deixam a criança fazer nada sozinha, por excesso de cuidado.e

zelo. Esse comportamento sufoca a criança, inibindo sua autonomia. Outros proíbem e punem a

criança quando ela tenta realizar algo sozinha. Essa atitude faz com que as crianças adquiram

sentimento de vergonha, fazendo­as ficar em dúvida sobre sua capacidade de dirigir o próprio

comportamento.

Nesse estágio a criança começa a falar e precisa ser encorajada para tal, portanto é

necessário que o adulto não converse com a criança com fala infantilizada e não a corrija o tempo

todo, pois ela pode apresentar vergonha ao falar se for criticada o tempo todo.

Nesse sentido, a atuação do adulto frente à criança é fundamental. Ela pode apresentar

sentimento de autonomia ou de vergonha, dependendo da forma como é tratada.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Iniciativa X Culpa

Esse estágio ocorre aproximadamente dos 3 aos 6 anos de idade, e a criança possui o

desafio de atuar socialmente no núcleo familiar. Nessa fase, a criança desenvolve sua identidade

como menino e como menina. Identifica­se com o progenitor do mesmo sexo e imita aspectos do

comportamento adulto.

O menino mostra sua masculinidade à mãe, rivalizando­se com o pai, e a menina, quando

descobre sua feminilidade, rivaliza­se com a mãe, devotando o pai. Nessa época, censurar essa

rivalidade pode provocar sentimentos de culpa relacionados à sua identidade.

Segundo Erikson, essa é a idade em que a criança necessita receber esclarecimento

sexual correto, de acordo com a pergunta que fez, dentro da sua capacidade de compreensão.

Na aula seguinte, continuaremos a examinar os estágios de desenvolvimento psicossocial.

Exercícios

1. Durante o segundo ano de vida, a criança começa a assumir alguma responsabilidade pessoal, tal como alimentar­se, vestir­se e banhar­se em uma tentativa de estabelecer o que Erikson chama de: a) superioridade. b) diligência. c) generatividade. d) autonomia.

2. A formação de um vínculo entre o bebê e a pessoa que cuida dele parece ser: a) uma função exclusiva do temperamento do bebê. b) uma função dos efeitos combinados do temperamento do bebê e da sensibilidade de quem

cuida dele. c) uma função exclusiva da sensibilidade da pessoa. d) fundamentalmente uma questão de quão bem as necessidades nutricionais da criança são

cumpridas.

Você sabia que mesmo recebendo cuidado físico adequado, banho e alimento, bebês

que são privados de carinho, abraço, colo, conversa podem apresentar efeitos

prejudiciais em sua saúde física e em seu desenvolvimento?

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Resposta dos Exercícios

1. Durante o segundo ano de vida, a criança começa a assumir alguma responsabilidade pessoal, tal como alimentar­se, vestir­se e banhar­se em uma tentativa de estabelecer o que Erikson chama de: Resposta correta: D

2. A formação de um vínculo entre o bebê e a pessoa que cuida dele parece ser: Resposta correta: B

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 19 • DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL (PARTE 2)

Nesta aula você continuará estudando os estágios do desenvolvimento psicossocial

segundo Eric Erikson.

Domínio X Inferioridade

Esse estágio se inicia aos 6 anos e termina na puberdade, por volta dos 12 anos. Agora,

além da família, a criança tem o desafio de saber comportar­se na escola e na sociedade. Nesse

período, ela realiza­se tanto na escola quanto em outros grupos sociais, aprendendo novas

habilidades, como ler, escrever, calcular, jogar futebol, tocar um instrumento musical, andar de

bicicleta, etc.

Nessa idade, a criança tem muita energia e motivação para aprender novas habilidades,

portanto, não é necessário muito esforço por parte do adulto em ficar insistindo que ela faça ou

aprenda o que lhe é ensinado.

Quando aprende novas habilidades e age no mundo que a rodeia, a criança tem um

sentimento de domínio, porém para que isso ocorra é preciso que ela seja encorajada, caso

contrário, se sentirá inferiorizada.

Nesse período, a criança passa a maior parte do tempo na escola, por isso, os professores

devem oferecer atividades que proporcionem o sentimento de domínio, de competência.

Identidade X Confusão de papéis

Esse estágio se estende dos 12 aos 18 anos aproximadamente. Nessa fase, a criança

tornou­se adolescente e sua principal pergunta é “Quem sou eu?”. Ocorre a tão conhecida crise

de identidade.

Durante a infância, a criança foi identificando­se com diferentes pessoas e adquirindo

algumas características de todas elas, principalmente dos pais e professores. Na adolescência, as

identificações adquiridas anteriormente são abandonadas, outras são fortalecidas, até que o

adolescente descobrir quem realmente ele é e, assim será capaz de responder à pergunta central

desse estágio.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Quando define sua personalidade, o adolescente considera­se uma pessoa coerente e

integrada, caso contrário, dizemos que ele sofreu uma difusão da identidade.

Na adolescência, dificilmente o jovem identifica­se com seus pais, pelo contrário, rebela­se

contra eles, seus valores, e com a forma que interferem em suas vidas. Isso acontece porque o

jovem precisa separar sua identidade da de seus pais.

Nessa idade, o jovem tem necessidade de pertencer a um grupo social. Assim, os amigos

da mesma idade e os grupos aos quais pertence o ajudam a definir sua identidade.

A maioria dos jovens tem dificuldade em definir que profissão irá seguir. Nesse sentido,

Erikson percebeu a importância de uma “moratória” para os adolescentes.

Em muitas escolas e diferentes instituições, os adolescentes são obrigados a permanecer

passivos, o que os impede de experimentar a responsabilidade. Para Erikson, apenas ajudaremos

o jovem a crescer se atribuirmos a ele independência e responsabilidade.

Intimidade X Isolamento

Esse estágio é vivido entre os 18 e 30 anos. Após definir sua identidade, o jovem está

disposto a fundi­la com a identidade dos outros. Ele agora está preparado para a intimidade, a

fidelidade.

Após ter firmado sua identidade, o jovem está preparado para viver uma união sexual e

afetiva duradoura e para manter uma grande amizade. Consegue abandonar a si mesmo sem

perder sua identidade.

Ele só estará preparado para enfrentar um casamento no momento em que tiver um

sentimento profundo de sua identidade pessoal, pois o casamento pode representar uma ameaça

de perda da independência e do controle da própria vida.

Muitas vezes, por medo de perder a identidade, o jovem evita experiências de auto­

abandono, de intimidade, o que pode causar uma sensação de distanciamento e isolamento.

“Moratória” é um período em que a sociedade ainda não cobra do jovem certas

obrigações.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Generatividade X Estagnação

Esse estágio vai dos 30 aos 60 anos. Para Erikson, a palavra generatividade significa criar uma nova geração, cuidar e orientar os mais novos.

De acordo com Barros (1987: 82):

Apenas o fato de ter filhos ou desejar tê­los não realiza a generatividade, pois pais muito

jovens podem não ter capacidade de cuidado e dedicação que uma criança necessita, e pessoas

que não têm filhos, seja por qual motivo for, podem querer dedicar­se ao cuidado de crianças.

Integridade do ego X Desesperança

De acordo com Biaggio (1978: 100), depois dos 60 anos, “o adulto que tiver resolvido

satisfatoriamente todas as crises anteriores e adquirido o senso de ajuda e solidariedade aos

outros terá atingido a integridade pessoal necessária para encarar a crise final, ou seja, a sua

desintegração e morte.”

Nesse estágio, um ego não integrado leva a pessoa ao desespero, pois ela sente que o

tempo é curto para tentar experimentar diferentes alternativas de vida.

Biaggio (1978: 100) relata que a desesperança e o temor da morte são o contrário à

“integridade do ego que leva ao senso de união com a humanidade, à sabedoria e à esperança”.

Exercícios

1. O que pode acontecer ao adulto se ele não se sentir necessário? a) Ocorre uma sensação de estagnação e de infecundidade. b) Evita experiências de auto­abandono, de intimidade. c) O corre uma sensação de que já realizou o bastante. d) Nenhuma das anteriores

2. Professores e outros adultos podem ajudar o adolescente oferecendo:

Fala­se muito na dependência das crianças em relação aos adultos e quase nada se diz

sobre a grande necessidade que sentem as pessoas maduras do estímulo de se saber

responsáveis por crianças e jovens. O adulto precisa sentir­se necessário. Quando isso

não acontece, ocorre uma sensação de estagnação e de infecundidade.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

a) apoio a todo momento. b) tarefas mastigadas para que eles as completem. c) independência e responsabilidade. d) Nenhuma das anteriores.

Resposta dos Exercícios

1. O que pode acontecer ao adulto se ele não se sentir necessário? Resposta correta: A

2. Professores e outros adultos podem ajudar o adolescente oferecendo: Resposta correta: C

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 20 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Para encerrar os estudos, trataremos do autoconceito, como ele se forma, suas

conseqüências e implicações na educação. Esse texto foi baseado no livro Pontos de psicologia

do desenvolvimento, de Célia Silva Guimarães Barros.

1) O autoconceito

A idéia de autoconceito tem recebido grande atenção dos psicólogos, principalmente no

trabalho clínico.

Esta idéia, proposta por P. Lecky, foi adotada por Carl Rogers como o conceito básico em

seu sistema de aconselhamento.

No campo da educação essa idéia também tem grande importância.

1.1) Como se forma o autoconceito

De acordo com barros (1987: 151), “autoconceito é a avaliação que o indivíduo faz de si

mesmo, segundo atitudes que ele formou por meio de suas experiências”. Todas as atitudes das

pessoas são importantes para determinar o comportamento, mas aquelas que a pessoa formou

com relação a si mesma são as mais importantes.

Leva tempo para uma pessoa formar o autoconceito; ele é um processo que se desenvolve

a partir das experiências da criança e a reação que outras pessoas tiveram quanto ao seu

comportamento. A reação dos outros frente ao comportamento da criança irá determinar o tipo de

autoconceito que ela desenvolverá.

Os adultos mais próximos e significativos para ela tais como os pais, os professores e

outros em posição de autoridade são os que mais afetam o tipo de autoconceito que a criança irá

desenvolver. Exemplo: se o pai se irritar com a criança quando estiver ensinando algo, castigá­la

por seus erros ou rejeitá­la, estará acentuando seus aspectos “negativos”. Assim, a criança

acreditará que é uma pessoa “má”.

Quando um professor desaprova uma criança por não conseguir fazer uma atividade, esta

se sente incapaz de aprender, mesmo que tente.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

1.2) Conseqüências

O autoconceito que a pessoa forma sobre si mesma é fundamental para sua vida, pois

dependendo dele a pessoa fará ou deixará de fazer muitas coisas.

Na escola, uma criança que é tida como boa aluna não se sente bem em fazer um trabalho

ruim, pois entra em conflito com seus próprios valores.

As pessoas em geral buscam preservar o autoconceito que formaram no decorrer da vida,

a fim de se defender das situações que ameaçam mudá­la e que não estão de acordo com elas.

Rogers, em suas pesquisas, observou que os indivíduos têm comportamentos defensivos

em relação às experiências que são contrárias com o seu autoconceito. Este processo defensivo

foi chamado por Rogers de negação ou distorção da experiência. Exemplo: se o conceito que

uma pessoa tem de si mesma é o de ser inteligente e excelente profissional, ela talvez não aceite

a experiência de ser repreendida pelo chefe, pois esse fato provavelmente a deixaria ansiosa.

Esse comportamento defensivo acaba por prejudicar a auto­realização da pessoa. Nesse

caso, são necessárias mudanças para que ela aceite seu autoconceito em relação às

experiências do cotidiano. Segundo Rogers, essa mudança pode ocorrer se o indivíduo se

submeter à psicoterapia.

1.3) Implicações na educação

É necessário fazer com que a criança desenvolva um autoconceito positivo, pois é por

meio dele que ela fará ou não suas atividades. Nesse sentido, os adultos que a rodeiam ajudariam

quando, em contato com a criança, não utilizassem palavras como mentiroso, irresponsável,

preguiçoso, burro, etc.

Um estudo realizado por Rosenthal e Jacobson na década de 1960 aponta que as

expectativas do professor em relação ao desempenho das crianças “podem funcionar como uma

profecia educacional que se auto­realiza”. Isto significa que se um professor espera pouco do

aluno esse será o resultado que ele dará; o contrário também ocorre.

Diferentes estudiosos do autoconceito afirmam que os professores precisam ressaltar os

aspectos positivos da criança mostrando que confiam naquilo que elas fazem. É necessário

elogiá­las em vez de destruí­las.

Veja a seguir alguns exemplos oferecidos pelo doutor Ginott quanto ao elogio:

• ao elogiar, aprecie atos específicos. Não avalie traços de caráter.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

• evite elogios que ligam adjetivos ao caráter de uma criança.

• somente o elogio que não julga o caráter da criança e não avalia sua personalidade torna

seguro para ela o errar sem medo e o recuperar­se sem ansiedade.

• o elogio produtivo reconhece o sentimento da criança e descreve seu desempenho.

• as crianças precisam do elogio que aprecia e não do elogio que compara ou

condescende.

• a regra básica do elogio é: descreva sem avaliar; registre – não julgue; deixe a avaliação

da criança a ela mesma.

Dessa forma, os adultos estarão ajudando as crianças a formar um autoconceito positivo.

Exercícios

1. Quando vamos elogiar uma criança, devemos: a) Avaliar traços de caráter. b) Compará­las com atitudes positivas de outras crianças. c) Julgá­la para que ela aprenda a se comportar. d) Nenhuma das anteriores

2. Assinale a alternativa falsa quanto às conseqüências do autoconceito. a) O autoconceito que a pessoa forma é fundamental para sua vida. b) Na escola, uma criança que é tida como boa aluna não se sente bem em fazer um trabalho

ruim. c) O comportamento defensivo não prejudica a auto­realização da pessoa. d) As pessoas em geral buscam preservar o autoconceito que formaram no decorrer da vida.

Resposta dos Exercícios

1. Quando vamos elogiar uma criança, devemos: Resposta correta: D

2. Assinale a alternativa falsa quanto às conseqüências do autoconceito. Resposta correta: C

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

BIBLIOGRAFIA

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