psicodiagnóstico.pdf
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DOCNCIA EM
SADE
PSICODIAGNSTICO
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P842p Psicodiagnstico / Portal Educao. - Campo Grande: Portal Educao,
2012.
243p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-66104-37-0
1. Psicologia. 2. Psicodiagnstico. I. Portal Educao. II. Ttulo.
CDD 616.89075
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SUMRIO
1 O PSICODIAGNSTICO ........................................................................................................... 6
1.1 ORIGEM E HISTRICO DO PSICODIAGNSTICO ................................................................. 6
1.2 DEFINIES ............................................................................................................................. 14
1.3 SINTETIZANDO ........................................................................................................................ 19
1.3.1 Pontos fundamentais do Psicodiagnstico ................................................................................ 19
1.3.2 Momentos da avaliao ............................................................................................................. 20
1.3.3 Prtica do Psicodiagnstico ....................................................................................................... 20
1.4 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 21
2 QUESTES IMPORTANTES NO PSICODIAGNSTICO ........................................................ 32
2.1 O PROBLEMA ........................................................................................................................... 32
2.2 SINAIS E SINTOMAS ................................................................................................................ 35
2.3 MOTIVO DA CONSULTA .......................................................................................................... 38
2.4 SINTETIZANDO ........................................................................................................................ 38
2.5 AVALIAO DA PSICOPATOLOGIA ........................................................................................ 41
3 PASSOS DO PROCESSO DIAGNSTICO/OPERACIONALIZAO DO PROCESSO ......... 42
3.1 FORMULAO DE PERGUNTAS ............................................................................................ 43
3.2 CONTRATO DE TRABALHO .................................................................................................... 45
3.3 ESTABELECIMENTO DE UM PLANO DE AVALIAO ........................................................... 47
3.4 BATERIA DE TESTES .............................................................................................................. 49
3.5 ADMINISTRAO DE TESTES E TCNICAS .......................................................................... 53
3.6 LEVANTAMENTO, ANLISE, INTERPRETAO E INTEGRAO DE DADOS .................... 55
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3.7 DIAGNSTICO E PROGNSTICO .......................................................................................... 59
3.8 COMUNICAO DOS RESULTADOS NA ENTREVISTA DE DEVOLUO ........................... 61
3.9 ENTREVISTA DE DEVOLUO ............................................................................................... 67
3.9.1 Recomendaes ........................................................................................................................ 67
3.9.2 Pontos importantes a frisar ........................................................................................................ 70
4 ENTREVISTA DIAGNSTICA INICIAL .................................................................................... 73
4.1 DEFINIES ............................................................................................................................. 73
4.2 PRIMEIRO CONTATO COM O PACIENTE .............................................................................. 74
4.3 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 79
4.4 PRINCIPAIS REGISTROS ........................................................................................................ 83
5 ENQUADRE NO PROCESSO PSICODIAGNSTICO ............................................................. 84
6 O PROCESSO DIAGNSTICO NA INFNCIA, ADOLESCNCIA E IDADE ADULTA .......... 88
6.1 HISTRIA DO EXAMINANDO .................................................................................................. 88
6.2 ENTREVISTA INICIAL NO PSICODIAGNSTICO INFANTIL ................................................. 108
6.3 TESTES QUE PODEM SER UTILIZADOS NO PSICODIAGNSTICO INFANTIL .................. 114
6.4 FANTASIAS SOBRE A DOENA............................................................................................. 115
6.5 ESCOLHA DA ESTRATGIA TERAPUTICA ADEQUADA ................................................... 116
7 ENTREVISTAS, TESTES E EXAME DO ESTADO MENTAL .................................................. 118
7.1 ENTREVISTA ........................................................................................................................... 120
7.1.1 Tipos de entrevistas.................................................................................................................. 129
7.1.2 Outros tipos de entrevistas ....................................................................................................... 132
7.2 EXAME DO ESTADO MENTAL................................................................................................ 133
7.2.1 Descrio geral ......................................................................................................................... 133
7.2.2 Humor e afeto ........................................................................................................................... 134
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7.2.3 Caractersticas do discurso ...................................................................................................... 136
7.2.4 Percepo ................................................................................................................................ 136
7.2.5 Sensrio e cognio ................................................................................................................. 139
7.2.6 Impulsividade ............................................................................................................................ 143
7.2.7 Discernimento e insight ............................................................................................................ 144
7.2.8 Confiabilidade ........................................................................................................................... 144
8 ELABORAO DE DOCUMENTOS DECORRENTES DE AVALIAES
PSICOLGICAS ................................................................................................................................ 187
8.1 PRINCPIOS NORTEADORES NA ELABORAO DE DOCUMENTOS ................................ 188
8.2 PRINCPIOS TCNICOS DA LINGUAGEM ESCRITA ............................................................ 188
8.3 PRINCPIOS TICOS E TCNICOS ........................................................................................ 189
8.3.1 Princpios ticos ....................................................................................................................... 189
8.3.2 Princpios tcnicos .................................................................................................................... 189
8.4 MODALIDADES DE DOCUMENTOS ....................................................................................... 190
8.5 LAUDO PSICOLGICO OU PERICIAL .................................................................................... 190
8.5.1 Conceito e finalidade do Laudo Psicolgico ou Pericial ............................................................ 190
8.5.2 Estrutura ................................................................................................................................... 191
8.6 RELATRIO PSICOLGICO ................................................................................................... 192
8.6.1 Conceito e finalidade do Relatrio Psicolgico ......................................................................... 192
8.6.2 Estrutura ................................................................................................................................... 192
8.7 PARECER ................................................................................................................................ 195
8.7.1 Conceito e finalidade do Parecer .............................................................................................. 195
8.7.2 Estrutura ................................................................................................................................... 195
8.8 DECLARAO ......................................................................................................................... 197
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8.8.1 Conceito e finalidade da Declarao ....................................................................................... 197
8.8.2 Estrutura .................................................................................................................................. 197
8.9 ATESTADO PSICOLGICO .................................................................................................... 198
8.9.1 Conceito e finalidade do Atestado Psicolgico ......................................................................... 198
8.9.2 Estrutura ................................................................................................................................... 198
8.10 VALIDADE DOS DOCUMENTOS ............................................................................................ 199
8.11 GUARDA DOS DOCUMENTOS E CONDIES DE GUARDA ............................................... 200
9 ASPECTOS TICOS IMPLICADOS NO PSICODIAGNSTICO ............................................. 201
9.1 COMPORTAMENTOS ESPECFICOS DO PSICLOGO EM UM PSICODIAGNSTICO ...... 201
9.2 COMPETNCIAS QUE O AVALIADOR DEVE TER ................................................................ 202
9.3 GUIA DE RESPONSABILIDADE TICA E PROFISSIONAL.................................................... 206
9.4 RESOLUES DO CRP REFERENTES AVALIAO PSICOLGICA ............................... 208
9.5 DISPOSITIVOS QUE DEVEM SER OBSERVADOS PELO PSICLOGO NA AVALIAO
PSICOLGICA ................................................................................................................................... 209
9.6 RESPONSABILIDADE DO DIAGNSTICO PSICOLGICO ................................................... 210
10 RESOLUES NA NTEGRA ................................................................................................. 212
REFERNCIAS .................................................................................................................................. 240
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1 O PSICODIAGNSTICO
1.1 ORIGEM E HISTRICO DO PSICODIAGNSTICO
Para que entendamos melhor o que significa o Psicodiagnstico precisamos saber um
pouco sobre o diagnstico e avaliao diagnstica. A palavra diagnstico origina-se do grego
diagstiks e significa conhecimento (efetivo ou em confirmao) sobre algo, ao momento do
seu exame; ou descrio minuciosa de algo, feita pelo examinador, classificador ou pesquisador;
ou ainda juzo declarado ou proferido sobre a caracterstica, a composio, o comportamento, a
natureza etc. de algo, com base nos dados e/ou informaes deste obtidos por meio de exame,
ou seja, discernimento, faculdade de conhecer. Utiliza-se este termo para referir-se
possibilidade de conhecimento que vai alm daquela que o senso comum pode dar, ou seja, a
possibilidade de significar a realidade fazendo uso de conceitos, noes e teorias cientficas.
Segundo Ancona-Lopez (2002), Psicodiagnstico pode ser conceituado como:
Um processo de interveno;
Intervir meter-se de permeio, estar presente, assistir, interpor os seus bons
ofcios;
Meter-se de permeio indica a atuao, posio ativa de algum que interfere, que
se coloca entre pessoas, que de algum modo estabelece um elo, uma ligao;
Estar presente parece indicar uma posio, algum a quem se pode recorrer e que
est inteiro na situao;
Assistir indica ajudar, cuidar, apoiar;
Interpolar os seus bons ofcios indica ao de quem tem algum preparo em
determinada rea e pe seus conhecimentos disposio de quem dele necessita ou ao de
quem acredita no que faz.
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Quanto avaliao diagnstica, podemos dizer que ela mais ampla que o
psicodiagnstico, e seus objetos de estudo podem ser um sujeito, um grupo, uma instituio,
uma comunidade; da a importncia dos trabalhos interdisciplinares j que o objeto a avaliar
sempre um sistema complexo, integrado por subsistemas diversos:
como o biolgico, psicolgico, social, cultural, em interao
permanente. Percebemos que o Psicodiagnstico apenas uma
parte da avaliao diagnstica.
O Psicodiagnstico derivou da Psicologia Clnica, introduzida, segundo Cunha (2003)
por Lighter Witmer em 1896, e criada sobre a tradio da psicologia acadmica e da tradio
mdica. Mas de acordo com Fernndez-Ballesteros (1986), a paternidade do psicodiagnstico
tambm atribuda a trs autores, que deram os primeiros passos nos estudos sobre
Psicodiagnstico lanados no final do sculo XIX e no incio do sculo XX:
Galton, que introduziu os estudos da diferenas individuais;
Cattell, a quem se devem as primeiras provas chamadas de testes mentais;
Binet, que props a utilizao dos exames psicolgicos por meio de medidas
intelectuais.
O Psicodiagnstico surgiu como consequncia do advento da psicanlise, que
ofereceu novo enfoque para o entendimento e a classificao dos transtornos mentais;
anteriormente, o modelo para o estudo das doenas mentais remontava ao trabalho de Kraepelin
VOC SABIA?
Enquanto os psiclogos em geral realizam
avaliaes, os psiclogos clnicos entre
outras tarefas realizam psicodiagnsticos.
Pode-se dizer que a avaliao psicolgica
um conceito muito amplo. Psicodiagnstico
uma avaliao diagnstica, feita com
propsito clnico e, portanto, no abrange
todos os modelos de avaliao psicolgica
de diferenas individuais (CUNHA, 2004).
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e outros, e as suas tentativas para estabelecer critrios de diagnstico diferencial para a
esquizofrenia.
Como discutiremos logo adiante, no perodo anterior a Freud, o enfoque do transtorno mental era
nitidamente mdico, onde os pacientes de interesse para cincia mdica apresentavam quadros
graves, estavam hospitalizados, e eram identificados apenas sinais e sintomas que compunham
as sndromes. Mas j no perodo Freudiano, os pacientes atendidos no apresentavam quadros
to severos, no estavam internados, e embora fossem levados em conta os seus sintomas,
estes eram percebidos de maneira compreensiva e dinmica.
Ocampo (1981) faz um panorama sobre alguns modelos que seguiu o processo de
psicodiagnstico ao longo do tempo:
Modelo Mdico: aqui sintetizada a distncia do paciente, a falta de identidade do
psiclogo, onde o mais importante seria aplicar testes e mandar relato a outro profissional.
Modelo da Psicanlise: marco de referncia, influncia no estudo da personalidade,
mas diferente pela sua metodologia prpria.
Diagnstico de tipo compreensivo: o importante aqui seria encontrar sentido,
relevncia e significativo e entrar em contato.
(...) tomar aquilo que relevante e significativo na personalidade,
entrar empaticamente em contato emocional e, tambm conhecer os
motivos profundos da vida emocional de algum (...) (TRINCA, 1984).
Diagnstico interventivo: aqui, segundo Ancona-Lopes (1984), seria enfatizada a
impossibilidade de separao entre as fases de avaliao e interveno.
At algum tempo o processo Psicodiagnstico era considerado, como uma situao em
que o psiclogo apenas aplicava testes em algum. De acordo com Ocampo (1981), ele ento
cumpria uma solicitao seguindo os passos e utilizando os instrumentos indicados por outros
profissionais, quase sempre da rea mdica (psiquiatra, pediatra, neurologista). Assim, o
psiclogo atuava como algum que aprendeu a aplicar testes e esperava que o paciente
colaborasse.
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Percebe-se que as origens da avaliao psicolgica e do Psicodiagnstico se deram
sob uma tradio da medicina e da psicologia acadmica, de orientaes tanto
comportamentalistas ou psicanalistas, predominantemente, que seguiam estratgias de
avaliao comportamental, ou seja, identificao de comportamentos-alvo, ou por uma
orientao conceitual buscando uma viso de homem especfica, segundo as diretrizes de uma
comunidade acadmica. Assim, percebemos a nfase dada ao aspecto do sujeito em sofrimento,
disfuncional ou em desajuste com um ideal de sade e normalidade.
Alm do que citamos anteriormente, a avaliao psicolgica perpassaria tambm a
psicometria, que tinha como mtodos principais a aplicao de testes psicolgicos estruturados
ou de testes projetivos. No esquecendo tambm no percurso dessas origens o uso de
entrevistas psicolgicas, herdada pela psiquiatria.
Cunha (2003) deixa claro que tanto o uso de testes quanto o de entrevistas dirigidas
para a identificao de sinais e sintomas seriam enfatizados, voltados para uma perspectiva de
sade dissociada da doena ou do psicopatolgico.
Psicodiagnstico do francs psychodiagnostic e do ingls psychodiagnosis significa um
diagnstico fundamentado no estudo dos sintomas puramente psquicos de um doente mental.
Esse diagnstico psicolgico busca uma forma de compreenso situada no mbito da Psicologia,
sendo uma das funes exclusivas do psiclogo garantidas pela Lei n 4119 de 27/08/62, que
dispe sobre a formao em Psicologia e regulamenta a profisso de psiclogo.
A seguir, apresentaremos um breve histrico pra que se entenda melhor como se
deram os principais acontecimentos que originaram a Avaliao Diagnstica ou mais
especificamente o Psicodiagnstico, de acordo com Alchieri e Cruz (2004):
1836 1930: perodo em que houve muitas produes mdico-cientficas e
acadmicas;
1905: Binet apresentou o teste de inteligncia;
1906: Jung com o teste de associao de palavras;
1921: Hermann Rorschach publicou seu teste de manchas de tinta;
1930-1962: estabelecimento e difuso da psicologia no ensino das universidades;
1960: a Psicologia se caracteriza pela regulamentao dos cursos de formao
(graduao) e a consequente expanso do ensino de psicologia no Brasil.
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1962-1970: criao dos cursos de graduao em psicologia; mais exatamente em
1962, h a regulamentao da profisso por meio da lei n4119;
1970-1987: implantao dos cursos de ps-graduao;
1974: criao do Conselho Federal de Psicologia e dos Conselhos Regionais de
Psicologia pela Lei 5.766;
1987: emergncia dos laboratrios de pesquisa em avaliao psicolgica.
Voltando ao termo Psicodiagnstico, Cunha (2003) diz que ele foi utilizado pela
primeira vez por Hermann Rorschach quando publicou em 1921 seu teste de manchas de tinta.
O teste de Rorschach seria uma prova psicolgica projetiva desenvolvida pelo psiquiatra suo
Hermann Rorschach, consistindo em dar possveis interpretaes a dez pranchas com manchas
de tinta simtricas. A partir das respostas obtidas pode-se obter um quadro amplo da dinmica
psicolgica do indivduo. As pranchas do teste,
desenvolvidas por Rorschach, so sempre as
mesmas. No entanto, para a codificao e a
interpretao, diferentes sistemas so utilizados.
Esse teste alcanou grande admirao
e popularidade durante as dcadas de 40 e 50
por ser considerado um passo essencial no
psicodiagnstico e pelo fato de que os dados
gerados pelo mtodo eram compatveis com os
princpios bsicos da teoria psicanaltica.
Cunha (2003) deixa bem claro que a
contribuio da psicometria foi essencialmente
importante para garantir a cientificidade dos
instrumentos psicolgicos, e assim essa tradio
psicomtrica foi fundada e sedimentada pela
difuso das escalas de Binet. Essa escala apresentou em 1905 o teste de inteligncia para
separar crianas com retardo mental, seguidas pela criao dos testes do exrcito americano,
alfa e beta; em 1906 ocorreu o primeiro teste coletivo para selecionar recrutas.
Assim, de acordo com Groth-Marnat (1999), percebe-se a necessidade de diferenciar o
psicometrista do psiclogo clnico, estabelecendo a seguinte diferena: o primeiro tende a
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valorizar os aspectos tcnicos da testagem; ele utiliza testes para obter dados e em sua
abordagem o produto final muitas vezes uma srie de traos ou descries de capacidades;
enquanto o segundo utiliza testes e outras estratgias, para avaliar o sujeito de forma
sistemtica, cientfica, orientada para resoluo de problemas.
Essa poca foi marcada por descobertas na biologia como a tentativa da correlao de
sndromes clnicas com modificaes morfolgicas observadas na autopsia. Com isso, a biologia
forneceu muitos dados medicina, o que levou a psiquiatria a buscar as causas da doena
mental no organismo e em especial no sistema nervoso central. A consequncia disso foi que os
pacientes ao invs de lunticos assim como eram chamados, passaram a ser considerados
neurticos. Nessa poca acontece a diviso dicotmica dos transtornos psiquitricos, em
orgnicos e funcionais. Foi nessa escala pr-dinmica da psiquiatria que surgiu Kraepelin, que
se notabilizou por seu sistema de classificao dos transtornos mentais e, especialmente, por
seus estudos diferenciais entre esquizofrenia e psicose manaco-depressiva. Em consequncia,
as classificaes nosolgicas e o diagnstico diferencial ganharam nfase.
Desse perodo em diante temos Freud com suas obras que representaram o primeiro
elo de uma corrente de contedo dinmico, seguida por Jung em 1906 com o teste de
associao de palavras. E como j citamos anteriormente segue-se com Rorschach, em 1921,
com seu teste com tintas.
Nessa poca comeam a se multiplicar as tcnicas projetivas, os testes de
personalidade, como o teste da figura humana (HTP), o Szondi, o MPAs e outros; alm do
Rorschach e o Teste de Apercepo Temtica (TAT), que eram os mais usados na poca.
E como tudo se modifica no decorrer do tempo, nessa mesma poca algumas tcnicas
projetivas comearam a apresentar certo declnio em seu uso, passaram a apresentar problemas
metodolgicos, pelo incremento de pesquisas com instrumentos alternativos, tambm por
estarem associadas a determinadas correntes como a psicanaltica e por interpretaes
intuitivas, apesar do esforo para a criao do escores.
De acordo com Cunha (2003), atualmente, h indiscutvel nfase no uso de
instrumentos mais objetivos e entrevistas diagnsticas mais estruturadas, notadamente com o
incremento no desenvolvimento de avaliaes computadorizadas de personalidade que vm
oferecendo novas estratgias neste campo. Tambm, as necessidades de manter um
embasamento cientfico para o psicodiagnstico, compatvel com os progressos em outros
ramos da cincia, tm levado ao desenvolvimento de novos instrumentos mais precisos,
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especialmente aps o advento do DSM-IV e de baterias padronizadas, que permitem nova
abordagem na rea diagnstica da neuropsicologia, constituda pela confluncia da psicologia
clnica e da neurologia comportamental.
Apesar de todas essas oscilaes, podemos concluir que o campo da avaliao
psicolgica tem feito contribuies de suma importncia para a teoria, prtica e pesquisa clnica.
No deixando de focar a questo que algumas etapas que tm que ser revistas e analisadas
para que ele continue alcanando seus objetivos. Uma delas considerar que o reconhecimento
da qualidade do Psicodiagnstico tem que ter, em primeiro lugar, um refinamento dos
instrumentos e, em segundo lugar, o psiclogo deve lanar mo de estratgias de marketing
para aumentar a utilizao dos servios de avaliao pelos receptores de laudos. Outra questo
que muitas vezes, os psiclogos competentes acabam por fornecer uma grande quantidade de
informaes inteis para as fontes de encaminhamento, por falta de uma compreenso
adequada das verdadeiras razes que motivaram o encaminhamento ou, em outras palavras,
por desconhecimento das decises que devem ser tomadas com base nos resultados do
Psicodiagnstico.
Diante dessas questes devem-se conhecer as necessidades do mercado e de
desenvolver estratgias de conquistas desse mercado. E onde est esse mercado?
Primeiramente, o psiclogo que lida com psicodiagnsticos exerce suas funes numa instituio
que presta servios psiquitricos ou de medicina geral, num contexto educacional ou legal; ou
numa clnica ou consultrio psicolgico, em que o psiclogo recebe encaminhamento
principalmente de psiquiatras, de outros mdicos (pediatras, neurologistas, etc.), da comunidade
escolar (de orientadores, professores, etc.), de juzes, de advogados; ou atende casos que
procuram espontaneamente um exame; ou so recomendados por algum familiar ou amigo.
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, pois, responsabilidade do clnico manter canais de comunicao com os diferentes tipos de contextos profissionais para os quais trabalha, familiarizando-se com a variabilidade de problemas com que se defrontam e conhecendo as diversas decises que os mesmos pressupem. Mais do que isto: deve determinar e esclarecer o que dele se espera, no caso individual. Esta uma estratgia de aproximao, que lhe permitir adequar seus dados s necessidades das fontes de encaminhamento, de forma que seus resultados tenham o impacto que merecem e o Psicodiagnstico receba o crdito a que faz jus. (CUNHA, 2003).
Arzeno (1995) afirma que o Psicodiagnstico atualmente est se recuperando de uma
poca em que praticamente caiu no descrdito da maioria dos profissionais da sade mental.
Hoje, talvez, percebamos o verdadeiro sentindo do Psicodiagnstico e percebamos a
importncia do profissional que realiza essa avaliao.
CONCLUINDO!
Agora que j nos situamos um pouco mais sobre onde o psiclogo
clnico trabalha e qual a clientela dele, podemos perceber que
a principal dificuldade desse profissional quando se defronta
com questes como um encaminhamento, pois embora um
encaminhamento seja feito porque a pessoa necessita de
subsdios para basear uma deciso para resolver um problema,
muitas vezes ela no sabe claramente que perguntas levantar
ou, por razes de sigilo profissional, faz um encaminhamento
vago para uma avaliao psicolgica. E isso acarreta algumas
consequncias a quem encaminhou, pois o psiclogo aceita
silenciosamente tal encaminhamento, e realiza um
psicodiagnstico, cujos resultados no so pertinentes s
necessidades da fonte de solicitao.
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Como vamos ver nos objetivos, um bom diagnstico clnico est na base da orientao
vocacional e profissional, do trabalho com peritos forenses ou trabalhistas, etc., e se o psiclogo
consultado porque existe um problema, algum sofre ou est incomodado e deve indagar a
verdadeira causa disso.
Outra questo que ainda persiste atualmente, segundo alguns autores, a tendncia
das duas grandes categorias, ou seja, os pacientes so agrupados em duas grandes categorias
de transtornos. Pacientes que apresentam transtornos mais graves e que podem precisar de
hospitalizao tendem a ser encaminhados para psiquiatras, enquanto os casos menos graves
costumam ser encaminhados para psiclogos ou psiquiatras, de acordo com o conceito de
transtorno mental e da avaliao da gravidade dos sintomas pela pessoa que identifica o
problema e faz o encaminhamento.
1.2 DEFINIES
O Psicodiagnstico, segundo alguns autores, uma rea da Psicologia que tem por
finalidade bsica o desenvolvimento e a aplicao das tcnicas de diagnstico psicoteraputicas
(entrevistas, testes, tcnicas projetivas e a observao diagnstica) para a identificao e
tratamento de distrbios do comportamento.
De acordo com Ancona-Lopez (1995), o Psicodiagnstico
realizado com tempo limitado, buscando descrever e compreender a
personalidade total do paciente, abrangendo, assim, aspectos
atemporais; desta forma, pode-se dizer que, um de seus objetivos
direcionar o trabalho teraputico.
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Cunha (2003, p. 26) bem enftico quando diz que o Psicodiagnstico
um processo cientfico, limitado no tempo, que utiliza tcnicas e testes psicodiagnsticos (input), em nvel individual ou no, seja para atender problemas a luz de pressupostos tericos, identificar e avaliar aspectos especficos, seja por classificar o caso e prever seu curso possvel, comunicando os resultados (output), na base dos quais so propostas solues.
Ele pode tambm ser conceituado como um processo que visa a identificar foras e
fraquezas no funcionamento psicolgico, com um foco na existncia ou no da psicopatologia.
Ou um estudo profundo da personalidade, do ponto de vista fundamentalmente clnico, onde
quando o objetivo do estudo outro como trabalhista, educacional, forense, etc.; o
Psicodiagnstico clnico anterior e serve de base para as concluses necessrias nessas
outras reas.
No podemos esquecer que devido ao grande nmero de teorias existentes, a atuao
do psiclogo varia consideravelmente e com isso o prprio uso do termo Psicodiagnstico varia
tambm podendo ser chamado de diagnstico psicolgico, diagnstico da personalidade, estudo
de caso ou avaliao psicolgica.
Trinca (1984) diz que na avaliao psicolgica houve uma procura de integrao das
diversas abordagens e quando olhamos para a Psicologia Clnica, podemos verificar que houve
grandes variaes de conhecimentos e atuaes, e, portanto, na prtica do Psicodiagnstico,
temos tambm vrias formas de atuao, muitas das quais no podem ser consideradas
decorrentes de exclusivamente uma ou outra abordagem. Hoje, muitas abordagens em
Psicologia partem de pressupostos e mtodos diferentes, mas concordam que para se
compreender o homem necessrio organizar conhecimentos que digam respeito sua vida
biolgica, intrapsquica e social, no sendo possvel excluir nenhum desses horizontes.
Segundo Cunha (1993), Psicodiagnstico um processo
cientfico, limitado no tempo, no qual se realiza uma avaliao psicolgica,
por meio de testagem. A realizao dos testes possui propsitos clnicos e
so definidos durante a realizao do diagnstico.
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Que fique claro que o Psicodiagnstico um procedimento cientfico que
necessariamente utiliza testes cientficos, diferentes da avaliao psicolgica na qual o psiclogo
pode ou no utilizar esses instrumentos.
Ele caracterizado como um processo cientfico, por que deve partir de um
levantamento prvio de hipteses que sero confirmadas ou infirmadas por meio de passos
predeterminados e com objetivos precisos, sendo assim segundo Cunha (2003) limitado no
tempo, baseado num contrato de trabalho entre paciente ou responsvel e o psiclogo, to logo
os dados iniciais permitam estabelecer um plano de avaliao e uma estimativa de tempo
necessrio, ou seja, o nmero aproximado de sesses para a realizao do exame.
Ocampo e Arzeno (apud SANTIAGO, 2002) caracterizam o Psicodiagnstico como
uma prtica bem delimitada, cujo objetivo obter uma descrio e compreenso, a mais
profunda e completa possvel da personalidade total do paciente ou do grupo familiar, abarcando
aspectos passados, presentes (diagnsticos) e futuros (prognstico) dessa personalidade. Uma
vez obtido um panorama preciso e completo do caso, incluindo aspectos patolgicos e
adaptativos, trataremos de formular recomendaes teraputicas adequadas como terapia breve
e prolongada, individual, de casal, de famlia, grupal, com qual frequncia; se recomendvel
um terapeuta homem ou mulher, se a terapia pode ser analtica ou de orientao analtica ou
ento outro tipo de terapia, e se necessrio um tratamento medicamentoso paralelo.
VOC SABIA!
Segundo alguns dicionrios,
Psicodiagnstico (psico+diagnstico)
pode ser conceituado como
conhecimento de sintomas psquicos;
determinao de capacidades, aptides
e tendncias psicolgicas, por meios
clnicos e experimentais.
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Enfatizando o que dissemos acima, o processo Psicodiagnstico, segundo Ocampo
(1981) pode ser visto como uma situao com papis bem definidos e com um contrato no qual o
cliente pede uma ajuda, e o psiclogo aceita o pedido e se compromete a satisfaz-lo na medida
de suas possibilidades. Ela ainda caracteriza o processo como uma situao bipessoal, de
durao limitada, cujo objetivo conseguir uma descrio e compreenso profunda, e a mais
completa possvel, da personalidade total do paciente ou do grupo familiar, enfatizando a
investigao de algum aspecto em particular, segundo a sintomatologia e as caractersticas da
indicao.
Ocampo (1981) tambm enfatiza alguns aspectos profissionais do Psiclogo que
atrapalhavam a atuao desse profissional: um deles era a falta de identidade slida, fazendo
com que este no soubesse qual era seu verdadeiro trabalho dentro das ocupaes ligadas
sade mental. Isso se devia ao modelo similar ao do mdico clnico que, para proceder com
eficincia e objetividade, tomava a maior distncia possvel em relao a seu paciente a fim de
estabelecer um vnculo afetivo que no lhe impedisse de trabalhar com a tranquilidade e
objetividade necessrias; assim, os testes eram utilizados como um escudo entre o profissional e
o paciente, como se eles constitussem em si mesmos o objetivo do Psicodiagnstico, evitando
dessa forma pensamentos e sentimentos que mobilizassem afetos.
Ancona-Lopez (2002) tambm cita esse distanciamento quando fala da viso clssica
do Psicodiagnstico, onde era recomendada uma atitude de neutralidade, o que leva a certo
distanciamento do profissional, para facilitar as manifestaes inconscientes do cliente;
recomendava-se tambm que os contatos com o psiclogo durante o Psicodiagnstico no se
estendessem alm do necessrio, a fim de evitar o desenvolvimento de uma relao
transferencial que exigiria outro tipo de atendimento.
Alguns profissionais buscaram uma aproximao autntica com o paciente, no entanto,
tiveram que abandonar o modelo mdico sem estarem preparados para isso. Assim o tempo
passou e com a difuso da Psicanlise os psiclogos optaram por aceit-la como modelo de
trabalho, o que trouxe progressos e ao mesmo tempo uma nova crise de identidade no
psiclogo, uma vez que este se esqueceu que a dinmica do processo psicanaltico era muito
diferente da dinmica do processo Psicodiagnstico.
Como j se percebeu o Psicodiagnstico est vinculado com a clnica, envolvendo
temas de interesse clnicos, tais como nosologias psicopatolgicas, critrios de sade psquica,
enfoques patognicos e saudveis. Logo, diagnosticar supe situarmo-nos no plano do processo
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sade e doena e poder determinar em que medida se est ou no em presena de uma
patologia ou transtorno que necessita de um determinado tipo de interveno.
FONTE: Disponvel em: < http://www.nhbar.org/uploads/images/BarExamBlueBook.jpg >. Acesso em: 10 ago. 2011.
Ao caracterizarmos mais o Psicodiagnstico pode-se dizer que de acordo com Cunha
(2003) e outros autores, o plano de avaliao estabelecido com base nas perguntas ou
hipteses iniciais, definindo-se no s quais os instrumentos necessrios, mas como e quando
utiliz-los. Os psiclogos devem saber quais instrumentos so eficazes, quais instrumentos
podem ser eficientes, se aplicados com propsitos especficos, para fornecer respostas a
determinadas perguntas ou testar certas hipteses. Assim, percebemos que o psiclogo deve
conhecer os diferentes instrumentos de avaliao psicolgica, dominando quais instrumentos
so eficientes e quais instrumentos fornecem respostas a determinadas perguntas ou testam
hipteses.
O Psicodiagnstico possui um fim em si mesmo, mas tambm um meio para outro
fim, ou seja, a finalidade conhecer algum de forma mais profunda possvel.
Conclui-se que o Psicodiagnstico um diagnstico psicolgico, realizado utilizando
metodologia especfica aps solicitao ao psiclogo, com objetivo de clarificar alguma dvida
ou dificuldade no tratamento de um paciente. Ele realizado utilizando entrevistas (inicial,
anamnese, etc.) e aplicao de testes psicolgicos para confirmar ou descartar hipteses
levantadas durante as entrevistas. Ele inclui, alm das entrevistas iniciais, os testes, a hora de
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jogo com crianas, entrevistas familiares, vinculares, etc. As concluses de todo o material
obtido so discutidas com o interessado, com seus pais, ou com a famlia completa, conforme o
caso e o sistema do profissional.
1.3 SINTETIZANDO
1.3.1 Pontos fundamentais do Psicodiagnstico
O cliente deve ser visto como uma totalidade vertical (passado) e horizontal
(presente), ou seja, cada pessoa sua prpria histria e esta histria deve estar aqui e agora
presente;
PSICODIAGNSTICO
O PRIMEIRO PASSO EM DIREO AO EQUILBRIO
O Psicodiagnstico uma avaliao de base cientfica que tem por objetivo uma
investigao minuciosa do comportamento dos indivduos, envolvendo no s seus
sintomas, mas tambm suas possibilidades para super-los. por meio deles que
sabemos qual o problema que nos aflige e qual a melhor maneira de trat-lo. Logo, o
Psicodiagnstico o primeiro passo na direo do equilbrio psicolgico de crianas,
adolescentes e adultos que buscam um tratamento seguro.
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preciso que se faa e refaa a matriz individual e familiar do cliente: onde vive, de
onde ele vem, para onde vai, no seu contexto total;
Seu sistema de comunicao consigo e com o mundo deve ser avaliado;
Verificao contnua e cuidadosa de como ele faz ou diz as coisas;
Observar o aspecto relacional terapeuta/cliente.
1.3.2 Momentos da avaliao
Planejamento do diagnstico psicolgico: identificar o problema, escolher ou
construir o instrumental psicomtrico adequado, logstica a seguir na execuo;
Resultado do Psicodiagnstico (interpretao e integrao dos dados);
Comunicao dos dados.
1.3.3 Prtica do Psicodiagnstico
Consultrio;
Contexto hospitalar - atendimento e pesquisa;
rea forense;
Instituies;
Situaes especiais;
Educao;
Trabalho.
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1.4 OBJETIVOS
Cunha (1993) define que o objetivo do Psicodiagnstico abrange a compreenso de
problemas com base em pressupostos tericos, identificao e avaliao de aspectos
especficos ou classificao do caso e possvel previso de seu curso, comunicando, ao final do
trabalho, os resultados obtidos. Ele aponta para alguns possveis usos do Psicodiagnstico, o
que vai depender das instituies requerentes e dos objetivos a serem alcanados. Seu uso
pode ter um ou vrios objetivos, dependendo das perguntas ou hipteses inicialmente
formuladas. Dependendo da simplicidade ou da complexidade das questes propostas, variam
os objetivos.
Ento podemos classificar os objetivos de uma avaliao psicolgica clnica, segundo
Cunha (1993), como:
Classificao simples: especificamente podemos dizer que aqui o exame compara
amostras do comportamento da pessoa que est sendo examinada com os resultados de outros
sujeitos ou grupos especficos, com condies demogrficas equivalentes, onde esses
resultados so fornecidos em dados quantitativos, sendo classificados sumariamente, como em
uma avaliao de nvel intelectual. Percebemos que nesse tipo de avaliao psicolgica
compara-se o sujeito a mdias levantadas a partir de outros sujeitos da populao.
As questes ou perguntas mais elementares que podem ser formuladas em relao a uma capacidade, um trao, um estado emocional, seriam: Quanto? ou Qual? Um exemplo comum de exame com tal objetivo seria o de avaliao do nvel intelectual, que permitiria uma classificao simples. O examinando submetido a testes, adequados sua idade e nvel de escolaridade. So levantados escores, consultada tabelas e os resultados so fornecidos em dados quantitativos, classificados sumariamente. (CUNHA, 2003, p. 26).
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muito importante que o profissional escolha os objetivos adequados a serem
utilizados no processo de Psicodiagnstico, pois no podemos deixar de observar que se o
profissional se detm apenas a este objetivo de classificao simples, seu trabalho seria
caracterizado mais como o de um psicometrista do que um psiclogo clnico, pois como este tipo
de objetivo se restringe a classificaes quantitativas, utilizar-se-ia de testes. Mas como o
psiclogo clnico dificilmente perde a referncia de sujeito ou da pessoa do examinando,
raramente ele se restringiria a este objetivo, mesmo por que analisaria escores dos subtestes,
diferenas inter e intrateste que so suscetveis de interpretao.
Ao fazer todas estas interpretaes, identificaria foras e fraquezas no funcionamento
intelectual, a j entraria no objetivo que citaremos a seguir, que o de descrio.
Descrio: esse tipo de avaliao ultrapassa a classificao simples, interpretando
diferenas de escores, identificando foras e fraquezas e descrevendo o desempenho do
paciente, como em uma avaliao de deficits neuropsicolgicos. Observamos que essa
classificao tem um valor mais interpretativo acerca dos escores levantados em testes,
buscando identificar o desempenho do sujeito.
REFORANDO!
Quando falamos que so levantados
escores queremos dizer que se
obtm um valor quantitativo obtido
pela soma ou total de pontos
creditados a um indivduo em
situao de prova ou teste.
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Um exemplo de objetivo focado pela maioria dos autores na descrio seria o exame
do estado mental, geralmente realizado sem a administrao de testes, no sendo, portanto, de
uso exclusivo do psiclogo, ou seja, outros profissionais de sade podem manej-lo. Esse
exame pode ser conceituado como o processo por meio do qual o profissional que trabalha com
sade mental (geralmente psiquiatras e psiclogos) examina sistematicamente o estado mental
de um paciente. Esse exame subjetivo e muito comum na rotina em clnicas psiquitricas, ou
melhor, ele subjetivo e baseia-se em informaes dadas pelo paciente e em observaes de
seu comportamento. Muitas vezes ele completado por um exame objetivo. Nesse recurso
diagnstico explora-se a presena de sinais e sintomas, eventualmente utilizando provas muito
simples, no padronizadas, para uma estimativa sumria de algumas funes, como a
conscincia, inteligncia, orientao, ateno e memria.
Classificao Nosolgica: aqui, hipteses iniciais so testadas, tomando-se como
referncia critrios diagnsticos, ou seja, vrias hipteses surgem no decorrer da coleta de
dados resultantes do exame do estado mental, da histria clnica e da histria pessoal do
examinando, e essas hipteses que surgem so testadas para que sejam comprovadas ou
rebaixadas.
Essa avaliao pode ser realizada pelo psiquiatra e, tambm, pelo psiclogo, onde
ambos fazem um julgamento clnico sobre a presena ou no de sintomas significativos, assim
verificando semelhanas desse paciente com outros pacientes na mesma categoria diagnstica.
Quando est sob a responsabilidade do psiclogo, sempre que possvel, alm desses
recursos o mesmo dever lanar mo de outros instrumentos psicolgicos, como baterias de
testes e tcnicas, para poder testar cientificamente as suas hiptese ou ainda levantar outras
hipteses a serem analisadas, conforme histria e contexto de vida do paciente.
Esse tipo de classificao muito importante, pois facilita a comunicao entre
profissionais; no caso, haveria uma grande interao entre psiquiatra e psiclogo, alm de
contribuir para o levantamento de dados epidemiolgicos de uma populao.
Diagnstico Diferencial: investigao de irregularidades ou inconsistncias do
quadro sintomtico do examinando, para diferenciar alternativas diagnsticas, nveis de
funcionamento ou a natureza da patologia; ou seja, no decorrer da coleta de dados surgem
informaes que no se encaixam, digamos sintomas totalmente destoantes ou inconsistentes,
assim o profissional deve estar muito bem capacitado para atentar a fatos como este e saber
identificar as variaes nos quadros sintomticos e nveis de funcionamento patolgico.
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Cunha (2003) diz que o diagnstico diferencial est associado ao objetivo de
classificao nosolgica, assim podemos observar que o psiclogo investiga irregularidades e
inconsistncias do quadro sintomtico e dos resultados dos testes para diferenciar categorias
nosolgicas, nveis de funcionamento mental. Um exemplo seria a investigao de certos
sintomas que o sujeito tem que no batem com os achados dos testes. Assim, existem algumas
objees ao se trabalhar com esse objetivo, ou seja, o psiclogo deve ter um bom conhecimento
terico, dominar algumas tcnicas, ter ampla experincia na rea, ter sensibilidade clnica e
muitos conhecimentos avanados de psicopatologia e de tcnicas sofisticadas de diagnstico.
Avaliao Compreensiva: nesse tipo de avaliao a primeira coisa que se faz
determinar o nvel de funcionamento da personalidade, examinando assim funes do ego, em
especial a de insight, condies do sistema de defesas, facilitando assim a indicao de recursos
teraputicos e prevendo possveis respostas ao mesmo.
A avaliao compreensiva considera o caso numa perspectiva mais ampla e global,
determinando o nvel de funcionamento da personalidade, examinando funes do ego; e quais
seriam essas funes do ego? Poderiam ser controle da percepo e da mobilidade; prova da
realidade; antecipao, ordenao temporal; pensamento lgico, coerente, racional; elaborao
das representaes pela linguagem e outras.
Nesse tipo de objetivo podem no ser utilizados testes, e essa no utilizao de testes
um objetivo explcito ou implcito nos contatos iniciais do paciente com psiquiatras,
psicanalistas e psiclogos de diferentes linhas de orientao teraputica. Caso o objetivo seja
atingido por meio de um Psicodiagnstico, obtm-se evidncias mais objetivas e precisas, que
podem, inclusive, servir de parmetro para avaliar resultados teraputicos, mais tarde, por
intermdio de um reteste.
Entendimento Dinmico: nesse tipo de objetivo se associaria as dimenses
investigadas na avaliao compreensiva a uma perspectiva terica; haveria uma interpolao de
dados, buscando inferir possveis dificuldades futuras e focos teraputicos para alm do material
levantado nas entrevistas, ou seja, d para se perceber que esse tipo de avaliao ultrapassa os
objetivos da avaliao anterior. Aqui h um nvel mais elevado de inferncia clnica, havendo
uma investigao de dados com base terica, ou seja, os dados seriam fundamentados. Esse
objetivo tambm permitiria se chegar a explicaes de aspectos comportamentais nem sempre
acessveis na entrevista, antecipao de fontes de dificuldades na terapia e definio de
focos teraputicos.
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Aqui focada a personalidade de maneira global, pressupondo um nvel mais elevado
de inferncia clnica como deduo, concluso, julgamento clnico, ou seja, podemos dizer que
ela considerada uma avaliao compreensiva, onde se procura entender a problemtica do
sujeito numa dimenso mais profunda, observando a histria do desenvolvimento, identificando
conflitos, investigando fatores psicodinmicos e compreendendo o caso baseando-se num
referencial terico.
Cunha (2003) deixa bem claro que um exame deste tipo requer entrevistas muito bem
conduzidas, cujos dados nem sempre se do pelos passos especficos de um Psicodiagnstico,
portanto, no sendo um recurso privativo do psiclogo clnico.
Observa-se que frequentemente este tipo de objetivo se combina com os objetivos de
classificao nosolgica e de diagnstico diferencial, mas que fique claro que quando um
objetivo do Psicodiagnstico, leva no s a uma abordagem diferenciada das entrevistas e do
material de testagem, como a uma integrao dos dados com base em pressupostos
psicodinmicos.
Preveno: voltada para a identificao de problema precocemente, buscando
detectar fraquezas e foras do ego, da personalidade do sujeito em questo, avaliando riscos e
tentando identificar capacidade para enfrentar situaes novas, estressantes e difceis, e como o
prprio nome do objetivo diz, uma preveno para que se tente evitar que problemas maiores
ocorram futuramente.
Como citamos acima, esse exame visa identificao precoce de problemas, avalia
riscos, faz uma estimativa de foras e fraquezas da personalidade, avalia a capacidade para
enfrentar situaes novas, difceis, conflitivas ou ansiognicas; depois de identificado tudo isso,
investe-se na preveno. Podemos dizer que no pressupe profundidade no levantamento de
indcios de patologia, usada apenas para dar fundamentao ao desenvolvimento de
programas preventivos com grupos maiores. Nos exame individual pode requerer uma dimenso
mais profunda, especialmente envolvendo uma estimativa de condies do ego frente a certos
riscos ou no enfrentamento de situaes difceis, seria indicado um Psicodiagnstico.
Prognstico: aqui se tenta determinar o curso provvel do caso clnico. Ao se
identificar determinado transtorno por meio de outros objetivos, trabalha-se aqui no prognstico.
Objetivo que no privativo do psiclogo e que pode dar uma contribuio importante
na medida em que, por meio do Psicodiagnstico, pode avaliar condies influenciadoras do
transtorno. Esse tipo de objetivo depende fundamentalmente da classificao nosolgica e o que
podemos dizer que ainda necessita de muitas pesquisas.
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Percia Forense: voltado para identificar insanidades, incapacidades e patologias
que possam estar associadas a infraes da lei e afetem o exerccio da cidadania. Esse tipo de
objetivo muito pedido por advogados, juzes e profissionais que trabalham nessa rea para
definir questes de ordem legais.
Esse exame procura resolver questes relacionadas com insanidade, competncia
para o exerccio de funes de cidado, avaliao de incapacidade ou de comprometimentos
psicopatolgicos que na sua origem possam se associar com infraes da lei, etc.
Segundo Groth-Marnat (1984), o psiclogo, por meio de uma srie de interrogaes,
deve alcanar respostas claras, precisas e objetivas para que possa instruir um determinado
processo. Quanto aos testes deve haver um grau satisfatrio de certeza quanto aos dados
coletados por meio desse instrumento, o que um pouco complexo, por que os dados
descrevem o que uma pessoa pode ou no fazer no contexto da testagem, mas o psiclogo deve
ainda inferir, ou seja, concluir, julgar, deduzir, o que ele acredita que o examinando poderia ou
no fazer na vida cotidiana.
Muitas vezes este processo se torna at certo ponto ansiognico para o prprio
psiclogo, pois alm da enorme responsabilidade que est nas mos deste profissional de
decidir a vida do outro, este processo busca respostas que fornecem subsdios para instruir
decises de carter vital para o indivduo, como por exemplo, decises delicadas de atestado de
insanidade que podem tirar a guarda dos filhos de uma me.
Acontece bastante e comumente do psiquiatra ser nomeado como perito e solicitar o
exame psicolgico para fundamentar o seu parecer, assim, no obstante, muitas vezes o
psiclogo chamado para colaborar com a justia, de forma independente.
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Resumindo podemos dizer que Ocampo (1981) afirma que a investigao psicolgica
deve conseguir uma descrio e compreenso da personalidade do paciente, onde importante
explicar a dinmica do caso tal como aparece no material recolhido, integrando-o num quadro
global. E uma vez alcanado um panorama preciso e completo do caso, incluindo os aspectos
patolgicos e os adaptativos, trataremos de formular recomendaes teraputicas adequadas.
Arzeno (1995) cita algumas finalidades em que pode ser utilizado o Psicodiagnstico.
Diagnstico;
Avaliao do tratamento;
Meio de comunicao;
Na investigao.
A principal finalidade de um estudo Psicodiagnstico a de estabelecer um
diagnstico, ou seja, explicar o que ocorre realmente com aquele paciente, o que ocorre alm
Ocampo (2001) juntamente com Ancona-Lopez (1984) citam os
objetivos de forma mais geral:
1) Compreenso da personalidade como um todo;
2) Organizar conhecimentos: vida biolgica, intrapsquica e social;
3) Entender o sintoma: (fenomenolgico e dinmico) e se a ruptura do
equilbrio expressa algo a nvel familiar;
4) Mostrar a importncia do desenvolvimento (criana) e a interao dos
fatores orgnicos com os emocionais;
5) Importncia dos aspectos intrapsquicos;
6) Principal objetivo seria conhecer os aspectos passados e presentes
(diagnstico) e futuros (prognstico);
7) Explicar dinmica, ou seja, buscar relaes (famlia, grupo);
8) Aspectos adaptativos e patolgicos/ ser dinmico.
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do que o paciente pode descrever conscientemente, enfim, descobrir o que tem aquele paciente
a nvel mental.
Na primeira entrevista, so elaboradas hipteses que podem ou no serem
confirmadas. (Obs.: a entrevista projetiva, mesmo sendo imprescindvel, no suficiente para
um diagnstico cientificamente fundamentado.)
Pode-se dizer que a entrevista clnica no uma ferramenta infalvel, nem os testes,
mas se utilizarmos ambos os instrumentos de forma complementar h uma margem de
segurana maior para chegar a um diagnstico correto, especialmente se incluirmos testes
padronizados. Ento, o que vai diminuir a margem de erro so a interpretao e interpolao
adequada dos dados obtidos por meio de entrevistas, testes e observao pelo profissional.
Para se avaliar o tratamento, pode ser feito o reteste, consistindo em aplicar
novamente a mesma bateria de testes aplicados na primeira ocasio. Isso pode ser feito para
verificar os avanos teraputicos de forma mais objetiva e tambm para planejar uma alta, ou
seja, descobrir o motivo de um impasse no tratamento e para que o paciente e o terapeuta
possam falar sobre isso, estabelecendo um novo contrato sobre bases atualizadas.
Ainda existe o caso da disparidade de opinies entre o paciente e o terapeuta, sendo
que este o que est apenas realizando o tratamento teraputico e talvez ele no tenha
realizado o Psicodiagnstico. Nesse caso esclarece-se ao paciente e ao terapeuta que o
Psicodiagnstico registrar as situaes para depois coment-las.
Essa deciso de se fazer ou no o Psicodiagnstico vai depender muito das
instituies em que est sendo realizado. Nas particulares, o terapeuta quem decide o
momento adequado para um novo Psicodiagnstico, sendo pblicas ou privadas, so elas que
fixam os critrios que devem ser levados em considerao. Algumas deixam a critrio dos
terapeutas, outras consideram tanto a necessidade de avaliar a eficincia de seus profissionais
quanto a de contar com um banco de dados teis, por exemplo, para fins de pesquisa.
Uma coisa que podemos ter certeza que ao longo de um processo que se estende
nas primeiras entrevistas aproximadamente, podemos observar como o paciente se relaciona
diante de cada proposta, podemos extrair concluses de grande utilidade para prever como ser
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o vnculo teraputico, caso continue e quais sero os momentos mais difceis do tratamento, os
riscos de desero e etc.
Se usarmos diferentes instrumentos diagnsticos, isso nos permite estudar o paciente
por meio de vrias vias: falar livremente, por meio de lminas, desenhos, imaginao, quebra
cabeas e etc. e por algum motivo o domnio da linguagem verbal no foi alcanado, por conta
da idade, doena, casos de surdos-mudos; podem-se usar nesse caso os testes grficos e
ldicos que facilitam a comunicao.
Na investigao se tem dois objetivos, o primeiro a criao de novos instrumentos de
explorao da personalidade que podem ser includos na tarefa psicodiagnstica; ex.: Rorschach
VOC SABIA !
O Psicodiagnstico, segundo Arzeno (1995), tambm
realizado como meio de comunicao, porque muitos
pacientes tm dificuldades para conversar
espontaneamente sobre seus problemas, com crianas
muito pequenas, existem pacientes que s do respostas
lacnicas, e quando o profissional favorece a comunicao,
a tomada de insight, ele contribui para que aquele que
consulta adquira a conscincia de sofrimento suficiente
para aceitar cooperar na consulta, o que tambm provoca
a perda de certas inibies, possibilitando assim um
comportamento mais natural.
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quando criou o teste das manchas. O outro objetivo o de planejar a investigao para o estudo
de uma determinada patologia, algum problema trabalhista, educacional ou forense, etc.
Agora vamos ver outros usos do Psicodiagnstico por psiclogos:
Casos de dvidas diagnsticas;
Na obteno de informao mais precisa. Ex.: suspeita de risco de suicdio,
dependncia de drogas, desestruturao psictica;
Quando no tem certeza sobre o tratamento mais aconselhvel. Ex.: terapia
comportamental, psicanlise, terapia breve;
Outros prescindem totalmente do Psicodiagnstico e no concedem valor cientfico
algum aos testes projetivos;
Outros dizem que no importante fazer um diagnstico inicial, que as informaes
chegam ao longo do tratamento.
Quanto aos motivos de encaminhamento para se realizar um Psicodiagnstico, muitas
so as situaes, como:
Dificuldades em se chegar a um diagnstico mdico;
Todos os tratamentos medicamentosos falharam;
Quando nada explica um determinado comportamento que afeta negativamente o
indivduo.
(Obs.: por razes ticas, ningum poder ser encaminhado por curiosidade em saber
seu nvel de inteligncia ou QI, por exemplo.)
Como j dissemos, um diagnstico psicolgico no significa necessariamente o mesmo
que fazer um Psicodiagnstico, porque este termo implica automaticamente a administrao de
testes e os testes nem sempre so necessrios ou convenientes nesse caso.
Vejamos agora algumas questes importantes que tornam o Psicodiagnstico
imprescindvel:
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realizado para saber o que ocorre e suas causas, de forma a responder ao pedido
com o qual foi iniciada a consulta;
Outra questo que o torna fundamental porque iniciar um tratamento sem o
questionamento prvio do que realmente ocorre representa um risco muito alto, pois o paciente
acredita que de alguma forma vamos poder ajud-lo e cur-lo e caso apaream situaes
inesperadas ou complicadas, teremos que interromper o tratamento e, alm disso, decepcionar o
paciente, o qual ter muitas dvidas antes de tornar a solicitar ajuda;
Outra questo imprescindvel quanto proteo do psiclogo, que ao iniciar o
tratamento contrai automaticamente um compromisso em dois sentidos, o clnico e tico; onde
do ponto de vista clnico, deve estar certo de poder ser idneo perante o caso sem cair em
posturas ingnuas nem onipotentes, e do ponto de vista tico, deve proteger-se de situaes nas
quais est implicitamente comprometendo-se a fazer algo que no sabe exatamente o que , ou
seja, a consequncia do no cumprimento de um contrato teraputico pode ser a cassao da
carteira profissional.
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2 QUESTES IMPORTANTES NO PSICODIAGNSTICO
2.1 O PROBLEMA
Segundo Cunha (2003), o Psicodiagnstico desencadeado quase sempre em vista de um
encaminhamento, iniciando por uma consulta, a partir da qual outro profissional ou mesmo um
psiclogo encaminham o paciente a um psiclogo clnico que trabalhe com Psicodiagnstico.
Esta avaliao que ir ser feita decorre da existncia de um problema prvio, ou seja, um
problema que o psiclogo deve identificar e avaliar, para poder chegar a um diagnstico.
Segundo Yager & Gitlin (1999), geralmente os sintomas esto presentes quando os
limites da variabilidade normal so ultrapassados. Na maioria das vezes evidencia-se a
dificuldade de identificar o incio do problema que necessite de uma avaliao clnica. Os
mesmos autores frisam tambm que a natureza e a expresso dos sinais e sintomas
psiquitricos so profundamente alteradas pelos recursos pessoais, capacidades de
enfrentamento e defesas psicolgicas do paciente.
O psiclogo, ao exercer sua funo, deve examinar as circunstncias que precederam
a consulta, avaliar a maneira de perceber o problema e delimit-lo, investigar quando os
sintomas comearam e se houve algum fator estressante que o desencadeasse, investigar os
estados emocionais associados vida diria, atribuindo a sinais e sintomas sua significao
adequada.
Um problema identificado quando so reconhecidas alteraes ou mudanas nos padres de comportamento comum, que podem ser percebidas como sendo de natureza quantitativa ou qualitativa. (CUNHA, 2003, p. 33).
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As perguntas que iro ser abordadas so muito importantes para se definir e se chegar
a um diagnstico correto, ento a pergunta que devemos fazer a ns mesmos, para sabermos se
estamos agindo corretamente com o paciente : A pergunta que estou a ponto de fazer ser til
para entrevistado? Estou perguntando questes que realmente so significativas no processo?;
pois se voc um profissional que apenas faz a pergunta, que faz perguntas demais que
confundem o entrevistado, e, em consequncia, no ouve a resposta do cliente, voc ensina ao
entrevistado que nossa funo fazer perguntas e a dele, responder, ou seja, estipulamos que
ns somos os chefes e somente ns sabemos o que importante para ele. Este modelo
(pergunta/resposta) no cria a atmosfera em que se pode desenvolver um relacionamento
positivo cordial, em que o entrevistado tenha a oportunidade de crescer.
Outro fato importante que devemos atentar quanto a perguntas abertas e fechadas.
Que fique claro que as perguntas abertas so amplas, convidando o entrevistado/cliente a
alargar seu campo perceptivo, falando de concepes, opinies, pensamentos e sentimentos.
REFORANDO!
preciso ficar bem claro que um sintoma nico no tem
valor diagnstico por si, assim, dado a relatividade dos
critrios usuais na definio de um problema, a abordagem
cientfica atual para a determinao diagnstica defende o
uso de critrios operacionais; isso quer dizer que
necessrio que o paciente apresente certo nmero de
caractersticas sintomatolgicas, durante certo perodo de
tempo, para ser possvel chegar a uma deciso diagnstica,
ou seja, para cada transtorno existe um critrio diagnstico
que define se um determinado sujeito pode ser enquadrado
ou no naquele diagnstico. Uma fonte til nesse momento
seria a utilizao do CID-10 ou do DSM-IV.
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Nesse tipo de pergunta surgiro muitos contedos e at mesmo questes chaves que estejam
angustiando o paciente. J as questes fechadas exigem apenas fatos objetivos, muitas vezes
no deixando o sujeito se alargar nas suas respostas ou falar questes que o atormentam.
Existe tambm a pergunta retrica, que mais que fechada, porque um tipo de pergunta que j
inclui a resposta.
As perguntas diretas podem ser conceituadas como perguntas que so interrogaes
precisas, enquanto que as perguntas indiretas perguntam sem parecer faz-lo, aparecendo sem
o ponto de interrogao, mas ainda assim fica claro que aquilo uma pergunta e deseja-se uma
resposta. Esta cria empatia, mostrando interesse pelo cliente.
s vezes aparecem em entrevista perguntas duplas, que alguns autores dizem que so
perguntas sem utilidade nenhuma em entrevistas. Servem apenas para bombardear o
entrevistado e nada acrescentam, s dificultam a confiana. Essa questo delicada, pois
muitos pacientes no se sentem bem com o bombardeio de perguntas, quebrando na hora a
atmosfera de confiana e o rapport que est tentando estabelecer.
E quando o entrevistado passa a me interrogar, quando ele tenta inverter os papis, o
que devo fazer? claro que no se deve dar uma resposta a todas as perguntas, mas deve-se
responder a todas que nos forem feitas que sejam a respeito do paciente e no ao nosso
respeito, e trat-las da mesma maneira que tratamos tudo o que o entrevistado diz escutando,
visando compreenso, pois muitas no exigem resposta, mas sim ateno, outras vezes deve-
se responder diretamente quando for conveniente, no ficando muito tempo com a palavra e
retornando a ele o mais rapidamente possvel. E, caso o entrevistado nos faa perguntas sobre
outras pessoas, no devemos ignorar, mas tambm no responder diretamente; uma estratgia
seria ignorar a perguntar e fazer outra que englobe o assunto a que ele se referir, afinal, no
estamos ali para sermos interrogados e sim para se chegar a um Psicodiagnstico. E se a
pergunta for sobre ele mesmo, deve-se ter um cuidado maior, pois dependendo da nossa
resposta o entrevistado pode se fechar, defender-se e racionalizar, mas o que acontece muitas
vezes, que quando eles se referem a si prprios para ter mais informaes sobre seu
comportamento, sintomas e tratamento.
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35
FONTE: Disponvel em: <
http://www.topgyn.com.br/home/thumbnail.php?file=12_08_automedicacao_457861735.jpg&size=article_medium >.
Acesso em: 10 ago. 2011.
2.2 SINAIS E SINTOMAS
Sintoma qualquer alterao da percepo normal que uma pessoa tem de seu
prprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensaes, podendo ou no consistir-se em um
indcio de doena. Eles so subjetivos, sujeitos interpretao do prprio paciente, sua
variabilidade varia enormemente em funo da cultura do paciente, assim como da valorizao
que cada pessoa d s suas prprias percepes. Aqui, no estudo de Psicodiagnstico,
chamaremos sintoma quilo que o cliente traz como motivo manifesto da consulta.
J sinais na rea de sade podem ser conceituados como as alteraes no
metabolismo, no aspecto de uma pessoa, em sua conformao fsica, que podem ser
indicadoras de adoecimento e podem ser percebidas ou medidas pelo profissional de sade.
Essa terminologia oriunda da medicina, mas pode ter sentido comparvel na
psicologia. Sintomas so frequentemente confundidos com sinais, que so as alteraes
percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de sade.
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Mas quando se trata de doena mental essa diferenciao se torna muito vaga, porque
segundo Yager & Gitlin (1999), envolve estados internos, uma psicopatologia subjetiva, algo
difcil de descrever; os sintomas esto presentes quando os limites da variabilidade normal so
ultrapassados. J Shaw (1977) afirma que sintoma um sinal, porque se torna significativo na
medida em que evidencia uma perturbao.
Autores da linha psicanaltica Freud um deles afirmam que podemos perceber
que: medida que a primeira entrevista se desenvolve poderemos perceber se realmente um
sintoma, do ponto de vista clnico, ou se est somente encobrindo outros, mas geralmente o que
ocorre que o motivo latente no aflora no incio porque, geralmente, angustia muito e
permanece inconsciente. E na verdade o que acontecer que quando o motivo manifesto
parecer trivial demais para justificar uma consulta que suspeitaremos com maior segurana da
VOC SABIA!
A diferena entre sintoma e sinal que o sinal
aquilo que pode ser percebido por outra pessoa
sem o relato ou comunicao do paciente, ou
seja, o que outras pessoas percebem s de
observar; e o sintoma a queixa relatada pelo
paciente, mas que s ele consegue perceber, ou
seja, algo subjetivo como falamos acima. Ento,
sinais so comportamentos observveis, segundo
Kaplan e Sadock (2007), achados objetivos, e
sintomas achados subjetivos.
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presena de um motivo latente de maior envergadura e deveremos prolongar a entrevista inicial
ou realizar outra at obtermos maiores esclarecimentos sobre o caso. Sintoma pode ser
conceituado como aquilo que o paciente traz como motivo manifesto da solicitao de
Psicodiagnstico.
Devemos levar em considerao alguns fatores importantes para se chegar a um
resultado correto no Psicodiagnstico:
Quando estamos falando sobre sintomas, devemos levar em considerao a etapa
de desenvolvimento em que se encontra a pessoa que nos consulta.
Algo muito importante a ser questionado por que o sintoma preocupa agora, em
casos em que existe sintomatologia bastante antiga. Quanto maior o tempo transcorrido entre o
aparecimento da sintomatologia at o momento em que se concretiza a consulta, maior a nossa
suspeita de que exista outro motivo latente, que foi o desencadeante para realizar a consulta.
Certamente, o problema foi ignorado at esse momento, mas algo ocorreu que os fez tomar a
deciso de consultar.
A razo pela qual esse sintoma preocupa o paciente ou aos pais desse, ou a
ambos.
A sintomatologia descrita por cada um dos interessados no processo de estudo
psicolgico pode diferir enormemente, mas essa contradio apenas aparente; teramos assim
diferentes motivos de consulta manifestos dentro de um mesmo caso.
Devemos integrar as vrias imagens de uma nica personalidade que surgiro,
definir o que realmente ocorre com a criana, entre todas aquelas projees feitas pelos outros
envolvidos, e decidir a ordem de relevncia dos sintomas.
Segundo Arzeno (1995) e Ancona-Lopez (2002), o sintoma ou os sintomas trazidos
como motivos da consulta devem ser colocados dentro de um contexto evolutivo, de forma a no
serem superdimensionados, pois estes sintomas apresentam vrias caractersticas como: um
aspecto fenomenolgico; um benefcio secundrio, ou seja, eles podem estar funcionando como
interferncia para a intimidade dos pais; o sintoma est expressando alguma coisa, algo no
dito, dentro do contexto familiar; todo sintoma implica fracasso ou rompimento do equilbrio entre
as sries complementares; o sintoma est no lugar de uma palavra que falta, ele vem como
mscara ou palavra fantasiada.
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2.3 MOTIVO DA CONSULTA
Na primeira entrevista o paciente deve expor o que acontece com ele, o que lhe levou a
procurar uma ajuda mdica ou psicolgica e esclarecer por que deseja consultar-se. O paciente
vai apresentar vrios motivos, esses motivos apresentados sero chamados de motivo
manifesto, no sendo os mais autnticos, mas ao longo do processo podem ser descobertos
outros motivos subjacentes, geralmente inconscientes que podemos chamar de motivos latentes
sobre os quais se dever falar da forma mais ampla possvel e aconselhvel.
Arzeno (1995) nos confirma isso quando diz que medida que a primeira entrevista se
desenvolve poderemos perceber se realmente um sintoma, aquilo que o consultante traz como
motivo manifesto da consulta, do ponto de vista clnico, ou se est somente encobrindo outros. O
que ocorre comumente que o motivo latente no aflora no incio por seu contedo ser,
geralmente, muito angustiante, permanecendo, assim, no inconsciente. O paciente pode ter
diferentes motivos de consulta manifestos dentro de um mesmo caso, o que da mesma forma,
quanto maior o tempo transcorrido entre o aparecimento da sintomatologia at o momento em
que se concretiza a consulta, maior a nossa suspeita de que exista outro motivo latente, que foi o
desencadeante para realizar a consulta. Certamente, o problema foi ignorado at esse momento,
mas algo ocorreu que o fez tomar a deciso de consultar.
Isso adverte o terapeuta sobre o tipo de conflito que pode encontrar ao longo da
terapia de um paciente, que pode solicitar o tratamento por um motivo e na verdade o que
percebemos com o decorrer do processo que existe algo mais profundo a ser investigado.
Outro conceito, que segundo Arzeno (1995) deve ser levado em considerao, do
ponto de vista terico, que na consulta o interessado deve expor a sua preocupao, o motivo
que o leva a consultar, o que ele considera o sintoma preocupante; est implcita uma fantasia
de doena e de cura que guarda uma estreita relao com o motivo latente da consulta.
2.4 SINTETIZANDO
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Motivo da Consulta:
Algum solicita ou encaminha;
Presena de doena fsica;
Familiares angustiados.
Nesta situao importante que o psiclogo coloque-se:
Como referncia, delimitando claramente sua funo (enquadramento), ao mesmo
tempo em que observa a relao familiar;
O terapeuta do cliente no deve agir de forma abrupta, ou seja, que no obrigue o
paciente a fazer insight fora do timing.
DEVERO SER OBSERVADOS:
Estado emocional geral do paciente:
Estrutura emocional bsica;
Autoconceito;
Relao familiar;
Nvel de ansiedade;
Grau de informao sobre a doena;
Grau de informao sobre o tratamento.
Observar a existncia de conflitos:
Com internao anterior;
Com tratamento anterior;
Com cirurgia anterior;
Com separao de pessoas queridas;
Com perdas.
Temperamento emocional bsico presente:
Introvertido ou extrovertido (acentuado ou compensado);
Avaliao Psicolgica no hospital.
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Caractersticas especiais do desenvolvimento psicolgico:
Observar adequao do ponto de vista intelectual, social e emocional.
Estado Emocional geral da famlia:
Estrutura;
Nvel de Ansiedade;
Nvel de Informao sobre a doena e tratamento;
Conflitos observados.
Obs.: Na realidade, o que possibilita uma boa observao so os slidos conceitos na
rea de personalidade, infncia, adolescncia, linha terica, psicopatologia, alm do prprio
psiclogo que seu prprio e melhor instrumento.
importante observar:
Relaes familiares em que nunca existe uma comunicao de mo dupla;
Em que o desejo no se manifesta, ou que h poucas palavras poucas trocas vivas.
Ex.: O desejo que s se responde nos momentos das necessidades vitais no quais os familiares
preocupam-se com as questes tcnicas;
Familiares deprimidos, superprotetores e/ou ansiosos;
Familiares que largam todos os seus afazeres.
Na avaliao do paciente:
Fazer uma avaliao compreensiva da personalidade, nvel de funcionamento,
funes do ego.
Capacidade de insight, condies do sistema de defesa, facilitando assim, a
indicao de recursos teraputicos e prevendo a possvel resposta aos mesmos;
Outro ponto relevante para quem trabalha com Psicodiagnstico a importncia da
familiaridade com os sistemas de classificao nosolgica, j que a nomenclatura oficial dos
transtornos extremamente til para comunicao entre profissionais, alm do fato de que
outros documentos como atestados, alm de laudos , podem exigir o cdigo do transtorno de
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um paciente. Por isso importante conferir cuidadosamente todos os critrios a partir das
hipteses diagnsticas, examinar o que diferencia o caso de outros transtornos e ter em mente
os critrios usados para a excluso de outros diagnsticos.
2.5 AVALIAO DA PSICOPATOLOGIA
No que diz respeito Psicopatologia, o Psicodiagnstico consiste, sobretudo, na
identificao de foras e fraquezas do funcionamento psicolgico e se distingue de outros tipos
de avaliao psicolgica de diferenas individuais por seu foco na existncia ou no de
psicopatologia.
Ento, de acordo com Cunha (2003), Arzeno (1995) e Ocampo (2001), analisando
todas suas definies sobre o processo de Psicodiagnstico e sua relao com a psicopatologia,
podemos dizer que embora o Psicodiagnstico tenha um domnio prprio, o seu foco na
existncia ou no da psicopatologia torna essencial a manuteno de canais de comunicao
com outras reas, precisando o psiclogo estar atento para questes que so fundamentais na
determinao de um diagnstico.
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3 PASSOS DO PROCESSO DIAGNSTICO/OPERACIONALIZAO DO PROCESSO
Sabemos que um dos pontos-chaves no Psicodiagnstico saber claramente qual o
objetivo desse processo que vamos realizar, de forma que antes de iniciar a tarefa, o
profissional, no caso o psiclogo, deve esclarecer com o cliente qual o motivo manifesto e mais
consciente do estudo e intuir qual seria o motivo latente e inconsciente do mesmo, dedicando o
tempo que for necessrio. Pode-se dizer que o motivo manifesto diz respeito queixa principal
do paciente, e o latente algo que est oculto por detrs dessa queixa.
Primeiramente, vamos fazer algumas comparaes entre os principais autores que
discutem as teorias do Psicodiagnstico, Ocampo e Cunha, depois detalharemos tpico por
tpico.
Ocampo (1981) cita os seguintes passos:
Primeiro contato e entrevista inicial com o paciente;
Aplicao ou uso de testes e tcnicas ordenadas e selecionadas de acordo com o
caso;
Encerramento do processo com a entrevista de devoluo oral ao paciente e aos
pais;
Informe escrito para o requerente.
Cunha (2003) diz que os passos de um Psicodiagnstico so os seguintes:
Formulao de perguntas;
Contrato de trabalho;
Estabelecimento de um Plano de Avaliao;
Bateria de Testes;
Administrao de Testes e Tcnicas;
Levantamento, Anlise, Interpretao e Integrao de Dados;
Diagnstico e Prognstico;
Comunicao dos Resultados.
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3.1 FORMULAO DE PERGUNTAS
De acordo com Cunha (2003) podemos conceituar esse passo como um processo
cientfico que parte de perguntas especficas, cujas respostas provveis se estruturam na forma
de hipteses que sero confirmadas ou no por meio dos passos seguintes do processo. Mas
que fique claro que o primeiro passo ocorre desde o momento em que o cliente ou seus
responsveis fazem a solicitao da consulta at o encontro pessoal com o profissional.
Deve-se ter um cuidado maior com essa etapa do processo para que no se formule
perguntas que no vo acrescentar valor a anamnese, pois muitas vezes o profissional, por
algum motivo de informao, na sua formao ou mesmo inexperincia, bombardeia o paciente
com perguntas que no vo acrescentar nada ao processo. Sabemos que a anamnese, como
toda ferramenta de investigao, pode ser mais ou menos precisa na obteno das informaes
CONCLUINDO!
Percebemos que o processo descrito por
Ocampo est englobado dentro do
processo descrito por Jurema Cunha,
ento, optaremos por detalhar o
processo de Psicodiagnstico de acordo
com a ordem exposta em Cunha (2003).
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desejadas, assim devemos estar atentos a indues nas respostas, na formulao de perguntas
amplas e na satisfao com respostas vagas.
O ponto de partida para iniciar esse processo seria o encaminhamento, e se o paciente
foi encaminhado a um profissional que trabalha na rea de psicologia porque h uma
pressuposio que este apresenta problemas psicolgicos, a pessoa que encaminhou deve ter
hipotetizado algo, feito alguma pergunta, a qual s um profissional habilitado a realizar uma
investigao psicodiagnstica poderia responder ou solucionar.
Geralmente, existe uma preocupao que expressa uma pergunta, seja de um leigo,
seja da famlia, seja do profissional que
o encaminhou. Ento, nesse
momento que se inicia a investigao,
pois o psiclogo precisa de mais dados
para continuar a investigao ou
desdobrar a pergunta que ainda est
vaga. Um exemplo seria: meu filho est
apresentando determinado
comportamento, ser que ele tem
algum transtorno mental?
Inicia-se a investigao com
a histria do paciente, pois com a
histria de vida, o psiclogo consegue
alternativas de explicao que
chamaremos de hipteses, que sero
testadas no decorrer do
psicodiagnstico. Assim, no decorrer da coleta dos dados de vida vo surgindo algumas
hipteses novas que podem ser confirmadas ou descartadas.
Nesta etapa o esclarecimento e a organizao das questes pressupostas num
encaminhamento so de inteira responsabilidade do psiclogo; ele deve trabalhar para que tudo
saia como planejado.
Se for um profissional que encaminha, provavelmente ele encaminhou porque tem em
mente uma srie de questes especficas, fundamentadas em observaes ou informaes
prvias. Na maioria das vezes as questes vo explcitas no encaminhamento, outras vezes elas
so expostas por meio de um telefonema ou outro contato. Esse contato entre o profissional que
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encaminhou e o psiclogo clnico que realizar a investigao muito importante para o
desenrolar do caso.
Percebe-se ento que as questes quando reformuladas pelo psiclogo iro dar
embasamento adequado a um exame, permitindo assim que o laudo sirva de fundamento para
decises que devam ser tomadas.
Como j citamos antes, muito importante perceber que os objetivos do
Psicodiagnstico dependem das perguntas iniciais. Ocampo (2001) diz que as entrevistas iniciais
com o paciente podero levantar perguntas complementares, que definem novos objetivos para
o exame e algumas vezes o elenco de perguntas necessrias s fica inteiramente completo aps
o levantamento de toda histria de vida do paciente.
Conclui-se que no momento em que possvel levantar as questes bsicas e
estabelecer os objetivos, ou seja, se j se conseguiu levantar as questes ou hipteses
pertinentes, que geralmente ocorrem no final da primeira ou segunda entrevista, j h condies
para o estabelecimento de um plano de avaliao com bases nessas hipteses e
consequentemente h condies para realizar um contrato de trabalho, que a prxima etapa a
ser detalhada.
3.2 CONTRATO DE TRABALHO
Como j sabemos o Psicodiagnstico um processo limitado no tempo, ou seja, ele
tem um prazo para ser realizado e concludo, e depois que se esclarecido as primeiras
questes que relatamos no item anterior, o psiclogo tem condies para saber qual o tipo de
exame que adequado para chegar a concluses, e se ele j tem ideia de quais tcnicas ir
aplicar; ento, ele pode prever o tempo necessrio para realiz-lo. A durao do
Psicodiagnstico constitui uma estimativa de tempo, em que se podem operacionalizar as tarefas
implcitas pelo plano de avaliao, bem como completar as tarefas subsequentes at a
comunicao dos resultados.
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Em outras palavras, e de acordo com Cunha (2003) e Ocampo (2001), aqui se tenta
esclarecer o motivo latente e o motivo manifesto da consulta, as ansiedades e defesas que a
pessoa que consulta mostra sobre a fantasia de doena, cura e anlise que cada um traz e a
construo da histria do indivduo e da famlia em questo.
Na hora que o psiclogo tiver uma previso, deve formalizar os termos com o paciente
como papis, direitos e responsabilidades.
O estabelecimento do contrato de trabalho depende de variveis como:
Preciso das questes iniciais;
Objetivos (quais objetivos ir utilizar);
Experincia do psiclogo;
Sintomatologia do paciente;
Estilo de trabalho.
O contrato de trabalho envolve que o psiclogo compromete-se a realizar um exame:
Durante certo nmero de sesses;
Cada sesso com durao prevista;
Sesses em horrio predeterminado;
Definio dos informes necessrios;
E quem ter acesso aos informes.
Muitos autores dizem que quando so necessrios vrios tipos de informes ou laudos
mais elaborados, o tempo estimado para sua confeco deve ser computado na durao do
processo, mas se forem pareceres muito simples, deve-se prever um perodo de duas horas
para a preparao dos informes.
Assim, com base na estimativa do tempo, so estabelecidos:
Honorrios;
Datas;
Formas de pagamento;
Entrevista de devoluo.
E se perguntssemos quais os deveres do paciente nesse processo? Afinal, ele tem
deveres?
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A resposta seria sim, ele tem deveres e se ele no os cumprir vai dificultar muito o
andamento do processo. Seus deveres seriam:
Comprometer-se a comp