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P P P R R O O C C E E D D I I M M E E N N T T O O S S D D E E E E E L L A A B B O O R R A A Ç Ç Ã Ã O O D D E E B B B A A L L A A N N Ç Ç O O S S E E N N E E R R G G É É T T I I C C O O S S DEZEMBRO DE 2005

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DDEEZZEEMMBBRROO DDEE 22000055

Ministério de Minas e Energia Ministério da Integração Nacional

Ministro Ministro Silas Rondeau Cavalcante Silva Ciro Ferreira Gomes

Presidente Diretor-Geral Mauricio Tiomno Tolmasquim José Zenóbio Teixeira de Vasconselos

Diretor de Estudos Econômicos e Energéticos Diretor

Amílcar Guerreiro Manoel Brandão de Farias

Superintendente de Economia da Energia Gerente de Infra-estrutura James Bolívar Luna de Azevedo Eduardo Cavalcanti Coordenadora de Inovação Tecnológica Maria Helena Lima

Contrato

ADENE Nº 13/2005

Título do Documento

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS Responsáveis Técnicos Amaro Pereira Juliana Marreco Mauro Almeida Vicente Correa Neto

URL: http://www.epe.gov.br

Sede SAN – Quadra 1 – Bloco “B” – 1º andar 70051-903 Brasília DF

Escritório Central Av. Rio Branco, n° 1 - 11° andar 20090-003 Rio de Janeiro RJ

Rio de Janeiro, Dezembro de 2005

Copyright © 2005, EPE – Empresa de Pesquisa Energética Autorizada a reprodução parcial desde que citada a fonte.

Apresentação pág. 1/2 PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS

APRESENTAÇÃO

O Ministério de Minas e Energia - MME, através dos seus órgãos e empresas, promove diversos

estudos e análises com o objetivo de subsidiar a formulação de políticas energéticas, bem como

orientar a definição dos planejamentos setoriais

A Empresa de Pesquisa Energética – EPE, empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e

Energia, instituída pela a Lei nº 10.847, de 15 de março de 2004, e regulamentada pelo Decreto nº

5.184, de 16 de agosto de 2004, tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e

pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como energia elétrica,

petróleo e gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e eficiência

energética, dentre outras.

Os estudos e pesquisas desenvolvidos pela EPE subsidiarão a formulação, o planejamento e a

implementação de ações do MME, no âmbito da política energética nacional. A lei que criou e

definiu as atribuições da EPE estabeleceu suas competências, entre as quais:

• A realização de estudos e projeções da matriz energética brasileira;

• A elaboração e publicação do balanço energético nacional;

• A identificação e quantificação dos potenciais de recursos energéticos;

• Desenvolvimento de estudos de impacto social, viabilidade técnico-econômica e sócio-ambiental para os empreendimentos de energia elétrica e de fontes renováveis;

• Desenvolvimento de estudos para avaliar e incrementar a utilização de energia proveniente de fontes renováveis;

• Promoção de estudos e produzir informações para subsidiar planos e programas de desenvolvimento energético ambientalmente sustentável, inclusive de eficiência energética;

• Promoção de planos de metas voltadas para a utilização racional e conservação de energia, podendo estabelecer parcerias de cooperação para este fim, entre outras.

A Agência de Desenvolvimento do Nordeste – ADENE, órgão vinculado ao Ministério da Integração

Nacional – MI, tem como missão a promoção do crescimento e a integração inter e intra-regional

do Nordeste Brasileiro, bem como a inserção e o progresso social desta região geográfica, com

base na disseminação do desenvolvimento sustentável.

No âmbito de suas competências, a ADENE objetiva promover o desenvolvimento de uma política

energética para a Região Nordeste que valorize o aproveitamento integrado dos recursos

energéticos, considerando sua diversidade e disponibilidade, os aspectos tecnológicos associados e

as potencialidades econômicas locais, bem como a inserção social e ambiental para o

desenvolvimento sustentável da região.

A ADENE identificou na maioria dos Estados da Região Nordeste a ausência dos recursos

fundamentais necessários à consecução deste objetivo, em particular as bases de dados

energéticos, apesar de ações anteriormente desenvolvidas com o objetivo de construí-las, que

Apresentação pág. 2/2 PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS

resultaram na formação de conhecimento sobre as dificuldades, bem como sobre as alternativas

para sua consecução.

Objetivando identificar e desenvolver as condições necessárias para que sejam viabilizados os

elementos fundamentais e as ferramentas necessárias para a implementação, no futuro, do

pretendido Planejamento Energético Regional, a ADENE contratou a EPE para a realização de

estudo de identificação preliminar das condições atuais e diretrizes para aparelhar os Estados e a

Região Nordeste com os recursos necessários para a consecução do Planejamento Energético

Regional, e os respectivos Balanços Energéticos, desenvolvido através de oficina de trabalho e

seminário de capacitação de equipes regionais.

Considerando a importância e a amplitude dos objetivos de longo prazo, a complexidade das

atividades necessárias à execução de um planejamento energético regional, bem como dos

recursos necessários, em particular a formação de pessoal qualificado e capacitado e a

disponibilidade, confiabilidade, qualidade e abrangência de informações e estatísticas energéticas

adequadamente estruturadas, que constituem um balanço energético, a estratégia adotada para

proporcionar o melhor aproveitamento dos recursos alocados, diante do orçamento e do prazo de

execução disponíveis, será a elaboração de um estudo preliminar que visa identificar as barreiras e

as oportunidades para a realização do Planejamento Energético Regional na Região Nordeste, bem

como de seu Balanço Energético Regional, através da consolidação das experiências já realizadas

neste sentido, bem como seus resultados e aprendizados.

A metodologia adotada que permitirá obter as informações da experiência existente e a

identificação dos pontos críticos terá como base a realização de oficinas de trabalho, onde as

equipes regionais serão apresentadas a material didático teórico sobre planejamento energético e

balanço energético, constantes das apostilas preparadas, e em seguida participarão de grupos de

discussão sobre os temas, focando-se a elucidação das experiências passadas, barreiras e

oportunidades identificadas à luz da teoria apresentada.

Desta forma se objetiva materializar os conhecimentos dos participantes, auferidos em sua

vivência e na participação na oficina, consolidando-se os resultados fundamentais possíveis nesta

etapa de trabalho, quais sejam:

• Evidenciar as experiências passadas, maximizando os resultados das ações futuras;

• Capacitar as equipes através do nivelamento do conhecimento individual sobre as experiências já realizadas e potencializando os resultados através da sinergia entre os representantes dos diferentes Estados;

• Capacitar as equipes em um primeiro nível teórico através da apresentação e fornecimento de material didático de referência;

• Extrair o conhecimento tácito já existente, de forma organizada e sistematizada, explicitando os elementos que evidenciam o patamar atual da Região Nordeste em termos dos recursos necessários para alcançar o objetivo do Planejamento Energético, permitindo que se estabeleçam referenciais mínimos, diretrizes e recomendações para as ações a serem desenvolvidas.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1

2 CONCEITOS GERAIS E FUNDAMENTOS 2 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS 3 2.2 O CONCEITO DE ENERGIA 4 2.3 SISTEMA ENERGÉTICO, ESTRUTURA DOS FLUXOS DE ENERGIA 5 2.4 TIPOS DE BALANÇO ENERGÉTICO 8 2.5 COMPATIBILIZAÇÃO DAS UNIDADES UTILIZADAS 10 2.6 PODERES CALORÍFICOS SUPERIORES E INFERIORES 12 2.7 ESTRUTURA FUNDAMENTAL 12 2.8 DISPONIBILIDADE DE DADOS E ESTIMATIVAS 15

3 BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL 16 3.1 HISTÓRICO DO BEN 16 3.2 CRONOLOGIA DE EXECUÇÃO DO BEN 18 3.3 CONDIÇÕES DE FORNECIMENTO DE DADOS E INFORMAÇÕES 19 3.4 FONTES DE DADOS ESTATÍSTICOS DE ENERGIA 21 3.5 PROCESSOS DE TRATAMENTO DOS DADOS E INFORMAÇÕES 24 3.6 PARTICIPAÇÃO ABSOLUTA DOS FORNECEDORES DE DADOS 26 3.7 CONSOLIDAÇÃO METODOLÓGICA E OPERACIONAL 27

4 BALANÇO ENERGÉTICO - INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO 30 4.1 IMPORTÂNCIA DA REGIONALIZAÇÃO 30

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 1

1 INTRODUÇÃO

A energia, em qualquer de suas formas, é parte integrante e indissociável das atividades humanas. É fundamental o conhecimento do seu uso em cada setor de atividade, das formas que a energia é requerida, do serviço final que se pretende atender, da fonte energética primária que se encontra disponível, do padrão tecnológico utilizado para sua conversão, dos reflexos sobre o meio ambiente e a sociedade do seu uso e dos esforços para assegurar seu suprimento. Estes são elementos fundamentais para a compreensão do complexo universo que é o setor energético e sua influencia na vida humana.

Um dos instrumentos essenciais para a compreensão desta influencia e inter-relação entre a energia e a realidade humana é o balanço energético, um sistema contábil que pretende explicitar determinadas relações entre o setor energético e a estrutura sócio-econômica de uma determinada região geográfica em um período de tempo definido.

O balanço energético oferece uma base organizada de estatísticas sobre energia, e por isso é um instrumento indispensável ao planejamento energético, pois apresenta um quadro contábil que explicita o comportamento e a dinâmica dos fluxos de energia ao longo de um sistema energético, permite um diagnóstico da dinâmica das atividades de produção, transformação, importação e exportação e consumo de energia, servindo como alicerce para os estudos de projeção e avaliação das condições futuras do setor energético e suas interferências e influências nas sociedades humanas.

Neste sentido, a riqueza de informações organizadas em um balanço permite a atuação sobre o sistema energético, objetivando uma racionalização da sua administração, desde a exploração dos recursos naturais até a utilização final da energia em atendimento às necessidades e serviços demandados pela sociedade.

Considerando a importância da adequação metodológica empregada à descrição dos fluxos de energia ao longo do sistema energético de qualquer região, e seu impacto na otimização das suas potencialidades como instrumento de análise e de planejamento energético, apresentamos nesta apostila uma discussão sumária dos conceitos fundamentais que utilizados, como a própria conceituação de energia, sistema energético, estrutura dos fluxos de energia e tipos de balanço energético, a importância da compatibilização das unidades, poderes caloríficos, a descrição da estrutura fundamental de um balanço e aspectos relacionados à disponibilidades de dados, estimativas e aproximação.

Tomando como referência o Balanço Energético Nacional para contra-ponto das análises, apresentamos em seguida um breve histórico deste documento no Brasil, aspectos metodológico e operacionais de sua execução como a cronologia, as condições de fornecimento de dados e informações, as fontes de dados estatísticos de energia, os processos de tratamento dos dados e informações e sua consolidação.

Por fim, destacamos alguns elementos sobre a importância do balanço energético com instrumento de planejamento e a necessidade de abordagem regional em um país com dimensões continentais como o Brasil.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 2

2 CONCEITOS GERAIS E FUNDAMENTOS

A existência de um procedimento padronizado para a obtenção, processamento e acesso a um

conjunto básico de informações sobre a energia é, sem dúvida, a base fundamental para decisões

consistentes de política energética, tanto para a identificação das estruturas vigentes, e o passado

histórico que a produziu, quanto para a formulação de políticas futuras. Estatísticas sobre

produção, transformação, importação, exportação e consumo de energéticos permitem mapear a

situação energética atual de uma região e projetar o caminho que se deseja trilhar para o

atendimento das necessidades energéticas futuras específicas desta região.

Estatísticas agregadas, geralmente em âmbito nacional, normalmente são disponíveis, mas não

caracterizam adequadamente as especificidades locais das diferentes regiões que formam um país.

Quanto mais heterogêneo o conjunto de regiões, em função das diversidades existentes, menos

representativas tornam-se estas estatísticas. Se não existe um conjunto mínimo de informações

locais, as informações agregadas são obtidas com base em amostras ou valores médios que pode

não considerar adequadamente todas as partes envolvidas.

Outra questão relevante diz respeito ao usuário das informações e sua necessidades próprias. Para

que um determinado conjunto populacional possa definir de forma autônoma suas prioridades e

suas necessidades, é importante que estejam disponíveis as informações que são realmente

relevantes para a tomada de suas próprias decisões. O autoconhecimento, baseado em estatísticas

relevantes e confiáveis, é o primeiro passo para a conquista da representatividade.

Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, conforme indicado no Energy Statistics Manual

(GARNIER et al., 2004), estatísticas detalhadas, completas, confiáveis e em tempo apropriado são

essenciais para monitorar a situação energética de um Estado, Região ou País e demais regiões do

mundo.

Apesar de sua importância, observou-se nos anos recentes, em todo o mundo, um declínio da

disponibilidade e presteza, confiabilidade, qualidade e abrangência de informações e estatísticas

energéticas básicas. Vários são os motivos para a queda na qualidade, entre o quais a liberalização

dos mercados, a necessidade de novos tipos de dados, cortes orçamentários e redução na

especialização. A liberalização dos mercados, por sua vez, teve um duplo impacto: primeiro, onde

existiam poucas empresas operando existe agora um número muito superior, exigindo a

consolidação de informações desta miríade de agentes para que se possa construir uma visão

compreensível dos setores; em segundo, o mercado competitivo exige confidencialidade de dados,

dificultando a obtenção de dados.

A ampliação dos dados energéticos requeridos pelos organismos oficiais de estatísticas nos anos

recentes, visando incluir o registro das fontes renováveis, a contabilização dos gases de efeito

estufa e da eficiência energética das atividades das sociedades humanas, causou uma elevação do

trabalho estatístico ao mesmo tempo em que os organismos oficiais de estatística sofreram

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 3

redução em seus recursos orçamentários, o que causou também a perda de profissionais

especializados e da capacitação no processo.

2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

O balanço energético objetiva apresentar a contabilidade relativa à oferta e consumo de energia de

um Estado, Região ou País, para um intervalo de tempo determinado, detalhada nas suas formas

primárias e secundárias, descriminadas pelas atividades de produção, estoques, comércio externo,

centros de transformação, distribuição e consumo nos setores econômicos e da atividade humana.

Constituem, portanto, sistemas quantitativos coerentes que compatibilizam as disponibilidades

energéticas de um lado com seu uso de outro.

Diferentes análises são efetuadas e apresentadas com base nesta contabilidade, permitindo a

identificação de mudanças estruturais e conjunturais ocorridas na demanda e oferta de energia,

sendo as principais as análises de dados agregados e comparativos com a própria referência

passada ou alguma referência regional, nacional ou internacional.

O primeiro passo na construção de um balanço energético é a uniformização de conceitos e

definições fundamentais utilizados na sua elaboração, tais como as fontes energéticas, suas

características físicas, os processos principais de fluxo da energia, os parâmetros de conversão das

unidades de medida para as fontes energéticas, as convenções e as definições usadas para a

coleta, consolidação e apresentação das estatísticas de energia, bem como a estrutura setorial de

produção e consumo utilizada. Estes conceitos, definições e referências são aplicados configurando

a metodologia de elaboração.

Na coleta das estatísticas de energia, há que se lidar com energéticos comerciais e energéticos não

comerciais, os primeiros são regularmente contabilizados por diferentes entidades, que

representam as fontes destes dados. Já os outros não são contabilizados por nenhuma entidade, e

exigem métodos estatísticos de estimação.

Da mesma forma, alguns energéticos comerciais e não comerciais são utilizados por consumidores

finais de tal forma que auditorias energéticas e estudos setoriais se fazem necessários para que

estes usos possam ser traduzidos de forma sistematizada e se reflitam nas estatísticas de produção

e consumo, como exemplo a autoprodução de energia elétrica, o uso final de combustíveis para

aquecimento ou transporte.

Ainda, mesmo para os dados energéticos regularmente informados pelos diversos fornecedores de

dados, em particular pelos autoprodutores de energia elétrica, há que se desenvolver e aplicar um

método que trate as inadimplências eventualmente ocorridas.

Estes procedimentos, que devem ser definidos, sistematizados, registrados e aplicados na

elaboração do balanço energético configuram a metodologia estatística de consolidação dos dados

primários.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 4

Há alguns conceitos básicos e termos definidos que são essenciais de conhecer uma vez que são

usados extensamente na discussão de balanços energéticos. Entre estes estão as definições da

estrutura de fluxo de energia, energia primária e secundária, e oferta interna de energia, que são

apresentados a seguir.

2.2 O CONCEITO DE ENERGIA

A energia é normalmente definida como a capacidade de realizar trabalho, no entanto, esta

definição não é totalmente satisfatória. Duas quantidades iguais de energia apresentando

qualidades diferentes têm capacidades diferentes de realizar trabalho. Podemos então definir a

energia como uma quantidade que circula e participa de todos os processos, podendo ser medida

sua qualidade pela sua capacidade de produzir trabalho (BICALHO, 1986).

A energia uma propriedade da matéria que se manifesta em forma de:

a) Energia mecânica (trabalho) – potencial e cinética;

b) Energia térmica (calor) – energia interna e entalpia;

c) Energia das ligações químicas (energia química);

d) Energia das ligações físicas (energia nuclear);

e) Radiação eletromagnética – (energia luminosa);

f) Energia elétrica.

A energia em suas diversas formas não é uma necessidade humana básica direta tal como o ar e a

água e os alimentos mas é essencial para a satisfação das necessidades que acompanham a vida

da humanidade, tais como a iluminação, o aquecimento ou resfriamento, o movimento e

transporte, entre outros.

Na moderna sociedade industrial a energia tornou-se ainda mais necessária com a intensidade

crescente da produção e utilização de bens e serviços que demandam energia para serem

produzidos. Como se percebe, a energia não é um fim, mas sim um meio, que através de

operações de conversão sofridas em equipamentos e dispositivos, transforma-se em energia útil,

capaz de atender ao serviço requerido.

A utilização racional do recurso energético está intimamente ligada às alternativas adotadas no

processo de atendimento destas necessidades, isto porque, para passar da condição de energia

final, aquela fornecida ao consumidor como gasolina e eletricidade, para a condição de energia útil,

aquela que será efetivamente transformada em serviço energético, como transporte e iluminação,

o energético deve obrigatoriamente sofrer um processo de conversão em dispositivos cujo padrão

tecnológico e sua adequação às características físicas e químicas do energético terão impacto

determinante na eficiência do aproveitamento e na qualidade do serviço energético prestado.

Portanto, como apresentado por CORREA (2000), a racionalização energética exige uma visão

global do uso da energia e uma análise criteriosa de todas as etapas envolvidas, desde a origem

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 5

da fonte energética primária, passando por todos os processos de conversão e transformação

envolvidos, até o serviço final efetivamente desejado e se alcança através da comparação e

modificação do padrão tecnológico de uso da energia adotado para realização de determinado

serviço final.

2.3 SISTEMA ENERGÉTICO, ESTRUTURA DOS FLUXOS DE ENERGIA

A energia e necessária à satisfação das necessidades humanas exige um processo de

transformação, como falado anteriormente, que lhe confira características que permitam a sua

utilização final em equipamentos e processos que a converterão em formas de energia que

satisfaçam as necessidades energéticas. O sistema energético é o complexo organizado que

interpenetra o funcionamento do conjunto das atividades humanas, no qual o fluxo de energia tem

sua origem nos recursos energéticos primários e o seu destino nas formas de energia útil

requeridas para satisfazer as necessidades energéticas dos utilizadores finais.

O setor energético, faz parte deste sistema energético, englobando o processo da transformação

ater a distribuição da energia para o consumo final. A função deste setor e produzir, transformar e

colocar a disposição do utilizador a energia final que ele necessita.

Um balanço energético descreve o fluxo de energia das diferentes cadeias de energéticos através

do sistema energético, como petróleo e derivados, eletricidade, gás natural, carvão, renováveis e

resíduos. Para isso, são estabelecidos pontos de contabilização ao longo da cadeia, desde a

extração da fonte de energia até a atividade de consumo final. Entretanto, pela diversidade de

fontes energéticas, assim como suas especificidades características, a contabilização da produção,

transformação e do consumo de todas as fontes de energia em um balanço energético agregado

consiste numa tarefa bastante complexa.

FIGURA 1 ESTRUTURA DOS FLUXOS DE ENERGIA

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 6

A Figura 1 expressa a síntese gráfica dos fluxos das variáveis físicas no sistema energético,

retratando a metodologia de integração das diversas etapas do processo energético, a produção, a

transformação e o consumo. Neste fluxograma a estrutura do sistema é explicitada e as perdas

identificadas e avaliadas. A metodologia de composição de um balanço energético divide os

processos em 4 etapas fundamentais: Energia Primária; Transformação; Energia Secundária e

Consumo Final.

2.3.1 Energia Primária

A etapa da Energia Primária compreende os fluxos de produção, importação e exportação de

fontes primárias, além das variações de estoques, não aproveitamentos e reinjeção e perdas. As

fontes primárias de energia são os produtos providos pela natureza na sua forma direta, como o

petróleo, gás natural, carvão mineral, energia hidráulica, resíduos vegetais e animais, energia

solar, eólica etc.

2.3.2 Transformação

A etapa da Transformação compreende os fluxos em que fontes primárias de energia são

convertidas em fontes secundárias de energia, e também, fontes secundárias de energia são

convertidas em outras fontes secundárias de energia. A transformação agrupa os centros de

transformação onde toda a energia que entra (primária e/ou secundária) se transforma em uma ou

mais formas de energia secundária, com suas correspondentes perdas de transformação e

variações de estoques. Os centros de transformação são refinarias de petróleo, plantas de gás

natural, usinas de gaseificação, coquerias, ciclo de combustível nuclear, centrais elétricas de

serviço público e autoprodutoras, carvoarias e destilarias, entre outras. São também computadas

nessa etapa eventuais efluentes energéticos produzidos pela indústria química, quando do

processamento de nafta, outros produtos não energéticos de petróleo e derivados de carvão

mineral.

2.3.3 Energia Secundária

A etapa da Energia Secundária compreende os fluxos de todas as fontes secundárias de energia,

produtos energéticos resultantes do processamento nos diferentes centros de transformação, além

das importações, das exportações, das perdas e não aproveitamentos, que têm como destino os

diversos setores de consumo e, eventualmente, outros centros de transformação. As fontes

secundárias de energia são óleo diesel, óleo combustível, gasolina (automotiva e de aviação), GLP,

nafta (petroquímica e combustível), querosene (iluminante e de aviação), gás natural, gás

manufaturado, coque de carvão mineral, urânio contido no UO2, eletricidade, carvão vegetal, álcool

etílico (anidro e hidratado), outras secundárias de petróleo (gás de refinaria e outros derivados de

petróleo) e, outras secundárias de carvão mineral (gás de coqueria, gás de aciaria, gás de alto

forno e alcatrão), entre outras. Os produtos não energéticos de petróleo, embora contabilizados

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 7

como fontes secundárias de energia, têm significativo conteúdo energético, mas são utilizados para

outros fins, tais como graxas, lubrificantes, parafinas, asfaltos, solventes etc.

2.3.4 Consumo Final

A etapa do Consumo Final compreende os fluxos de todas as fontes primárias e secundárias de

energia que se encontram disponíveis para serem diretamente consumidas pelos diferentes setores

de atividade socioeconômica do país, para atender as necessidades dos diferentes usos, como

calor, força motriz, iluminação etc; configurando o consumo final de energia, incluídos o consumo

final energético e o consumo final não energético. Não inclui nenhuma quantidade de energia que

seja utilizada como matéria-prima para produção de outra forma de energia.

2.3.5 Oferta Interna de Energia

A Oferta Interna de Energia é a quantidade de energia que se disponibiliza para ser transformada

e para o consumo final. Expressa, portanto, a energia antes dos processos de transformação e de

distribuição. Seu cálculo é o resultado de operações dos fluxos energéticos do balanço que

compreende, em termos gerais, o resultado da soma da produção, da importação e das variações

de estoque, subtraído da exportação, não aproveitamento e reijeção de energia.

Esta operação se realiza com coerência para todas as fontes primárias e secundárias de energia,

resultando na oferta interna de energia do Estado, Região ou País, e também entre cada uma das

fontes primárias de energia e suas secundárias derivadas, resultando na oferta interna de energia

relativa a cada um dos agregados.

A menos de ajustes estatísticos, a diferença entre a Oferta Interna de Energia e o Consumo Final

corresponde à soma das perdas na distribuição e armazenagem com as perdas nos processos de

transformação.

A Oferta Interna de Energia resulta, portanto, das seguintes atividades:

1. Produção – Quantidade de energia primária extraída a partir de recursos minerais

(petróleo, carvão, gás natural), vegetais (caldo de cana, melaço, bagaço, lenha) e hídricos.

É importante destacar que a produção de energia secundária aparece na matriz de

transformação do balanço, tendo em vista ser toda ela proveniente da transformação de

outras formas de energia. Assim, para evitar dupla contagem, a atividade de produção da

matriz fica sem informação para as fontes secundárias;

2. Importação – Quantidade de energia primária e secundária que entra no país, proveniente

do exterior.

3. Variação de estoques – Diferença entre o estoque inicial e final de cada ano. Um aumento

de estoque num determinado ano, diminui a oferta interna de energia. De maneira

análoga, a redução de estoques contribui para um aumento na oferta interna de energia.

Assim, aumentos de estoque são contabilizados com sinal negativo e redução de estoques,

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 8

com sinal positivo. É importante ressaltar a importância do registro da variação do estoque

em função de seu caráter estratégico, pois a finalidade é compensar flutuações na

produção e oferta dos energéticos.

4. Oferta total – Consiste no somatório da produção de energia primária, com a importação

de energia e a variação de estoques.

5. Exportação – Quantidade de energia primária e secundária enviada para o exterior. Por

diminuir a oferta interna de energia, é contabilizada com sinal negativo.

6. Não-aproveitada – Quantidade de energia que, por motivos técnicos ou econômicos, não é

utilizada. Consiste basicamente na quantidade de gás natural que não é processada nem

reinjetada, sendo queimada nos flares. Possui sinal negativo.

7. Oferta Interna Bruta – Consiste na quantidade total de energia que é disponibilizada para o

país, para ser submetida aos processos de transformação e/ou consumo final. É, portanto,

o somatório da oferta total com a exportação e com a energia que não é aproveitada.

2.4 TIPOS DE BALANÇO ENERGÉTICO

A construção de um quadro contábil descrevendo os fluxos de energia através de um sistema

energético implica na necessidade de se estabelecer critérios de equivalência que permitam

contabilizar, em termos de uma unidade comum, a energia contida nas diferentes fontes

energéticas.

A elaboração destes critérios é uma etapa importante na construção de um balanço energético, e

irá determinar certos limites para a sua como instrumento de análise e planejamento.

A definição de um quadro de equivalência nos diferentes pontos da cadeia energética, buscando a

simplicidade, a coerência e a fidelidade à realidade, envolve aspectos físicos, técnicos-operacionais

e sócio-econômicos, que permitem estabelecer diferentes critérios de comparação entre as fontes

energéticas.

Estes critérios levam a construção de diferentes quadros de equivalências e, portanto, a

apresentação de diferentes tipos de balanço com os seus limites de utilização característicos.

Existem, pois, vários tipos de balanços e a diferença entre eles está intimamente ligada à forma

pela qual o processo de transformação dos energéticos é considerado. A forma de tratar estas

considerações não é apenas uma simples operação contábil, como pode parecer a primeira vista,

mas constitui uma questão de base que se refere à expressão de um produto em termos de

energia, ou ao volume energético a ser atribuído a um produto derivado.

Assim, este volume energético poderá referir-se ao conteúdo energético real do produto após o

processo de transformação ou ser baseado naquilo que se pode designar seu equivalente primário

à entrada da transformação.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 9

Estas diferentes considerações, pois pela própria definição, as entradas e as saídas das

transformações referem-se a formas de energia diferenciadas, conduzem ao nível de um balanço

energético global, a conseqüências e processos diferenciados, tais como:

a) Balanços de energia final;

b) Balanços de energia útil;

c) Balanços em equivalente primário;

d) Balanços mistos.

Cada um deles, produzindo formatos diferenciados, apresentam diferentes benefícios e limitações

em sua utilização como instrumentos para o planejamento do setor energético.

Portanto, para se definir um quadro de equivalências é preciso:

• Determinar a função que irá desempenhar o balanço no contexto global do planejamento energético que se pretende realizar;

• Definir o tipo de balanço mais adequado à esta função determinada;

• Determinar o papel a ser desempenhado pelos equivalentes na construção deste tipo de balanço.

Desta forma, o critério de comparação entre as fontes de energia, deve ser definido de acordo com

os objetivos globais do planejamento que norteiam a construção de um determinado balanço

energético. Não existem equivalentes "certos" ou. "errados", existem equivalentes mais ou menos

adequados aos propósitos que se pretende atingir com a construção deste instrumento de

planejamento. O que se exige do quadro de equivalências é a coerência na aplicação do critério

escolhido, o que se discute é se a solução metodológica encontrada para explicitar certas

características e comportamentos dos fluxos de energia é a mais adequada ao planejamento

energético global.

2.4.1 Critérios de Equivalência

Em balanços energéticos, baseando-se em três diferentes considerações sobre a energia contida

nas fontes energéticas, três tipos de equivalências podem ser utilizados:

1. Equivalência em Energia Final: define que a energia contida na fonte energética é igual à

sua energia térmica potencial, isto é, igual à capacidade da energia contida na fonte em

questão de produzir calor;

2. Equivalência em Energia Primária: define que a energia contida na fonte energética em

questão é igual à energia térmica potencial presente em certa quantidade de uma dada

fonte primária de referência, que é capaz de substituir a energia contida na fonte em

questão. Neste caso, o que é medido é a capacidade de produzir calor da fonte primária

que substitui a energia contida na fonte avaliada;

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 10

3. Equivalência em Energia Útil: define que a energia contida na fonte energética é igual à

parcela da energia térmica potencial que será efetivamente convertida em energia útil, isto

é, a parcela da capacidade de produzir calor que será realmente convertida em energia útil

em suas diversas formas (calor, trabalho, iluminação, etc.).

2.5 COMPATIBILIZAÇÃO DAS UNIDADES UTILIZADAS

Os diversos energéticos normalmente são quantificados segundo suas unidades naturais ou

comerciais. O objetivo é facilitar o processo de medição, considerando o estado físico em que o

energético se encontra. Podem ser utilizadas unidades de massa, volume, energia ou outro

parâmetro representativo. Para a energia elétrica, por exemplo, em geral é utilizado o kWh para

medições de consumo, ou seja, uma unidade de energia. Já a gasolina e o carvão mineral em geral

são medidos em litros e em kg, respectivamente. Essas unidades, no entanto, não permitem uma

comparação direta entre os diferentes fluxos, nem possibilitam qualquer padronização em um

processo de contabilização. Há, assim, a necessidade de utilização de unidades comuns na

quantificação dos energéticos. O Balanço Energético Nacional utiliza como unidade básica a

tonelada equivalente de petróleo – tep. Esta, além de estar associada a um energético importante,

expressa um valor físico.

Para a conversão da unidade natural utilizada para uma unidade de referência, duas questões

devem ser consideradas. A primeira diz respeito à necessidade de utilização de uma unidade

energética comum. Esta seria a unidade para a qual seriam convertidas todas as unidades naturais

então utilizadas. A segunda questão é relacionada à necessidade da conversão ser realizada

considerando o poder calorífico do energético. Este considera a quantidade de calor que é gerada

quando da sua combustão completa.

2.5.1 Equivalente de Energia para Eletricidade

Conforme apresentado por SCHAEFFER et al. (2005), há dois métodos de contabilização da energia

primaria não combustível empregada na geração de energia elétrica: o método de substituição

parcial e o método do conteúdo energético.

1) Método de Substituição Parcial

Durante a fase inicial da elaboração de balanços energéticos, o método de substituição parcial era

utilizado para quantificar a produção de energia primária. De acordo com esse método, a produção

de eletricidade era baseada na quantidade hipotética de combustível necessária para gerar a

mesma quantidade de eletricidade em uma usina térmica utilizando-se combustíveis fósseis.

A vantagem desse método está na possibilidade de limitação das variações na oferta total de

energia primária devido a mudanças na produção primária de eletricidade em países onde uma

parcela significativa da produção de eletricidade era de origem fóssil.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 11

Devido à baixa eficiência intrínseca à geração térmica (em torno de 36%), uma quantidade muito

maior de energia na forma de combustíveis fósseis é necessária para compensar a eletricidade não

gerada a partir de hidrelétricas. Como conseqüência, energia hidráulica assumia um conteúdo

energético fictício aproximadamente três vezes superior (1/0,36) ao seu verdadeiro conteúdo

energético, superestimando consideravelmente a geração hidráulica.

Dessa forma, para países com elevada participação de geração hidráulica, a adoção desse método

corrompia qualquer tipo de análise internacional, além de exigir correções no caso de estudos

nacionais. O abandono desse método também se deveu à dificuldade de estabelecimento de

fatores de substituição, uma vez que esses dependiam da eficiência marginal de produção de

eletricidade a partir de usinas térmicas.

2) Método do Conteúdo Energético

O princípio atualmente adotado pelo BEN, IEA (International Energy Agency) e EUROSTAT

(Statistical Office of the European Communities), e os principais balanços energéticos

internacionais utiliza o conteúdo energético das fontes de energia primária para contabilização dos

valores de produção.

Para a geração de eletricidade primária, o método consiste basicamente no valor bruto de geração

de energia elétrica por fonte. Dessa forma, como não existem centros de transformação no

balanço energético para processos de transformação de energia primária em eletricidade, essa

energia é computada com base na quantidade de energia elétrica gerada pelas centrais

classificadas de acordo com as fontes (por exemplo, hidrelétricas e centrais eólicas).

No caso da eletricidade gerada a partir de calor primário, como, por exemplo, centrais nucleares e

geotérmicas, o calor é a fonte primária de energia. Dada a dificuldade de medição do fluxo de

calor para as turbinas, normalmente estimativas são utilizadas.

2.5.2 Referências de Petróleo e Hidroeletricidade

A contabilização das diferentes formas de energia, com as suas diferentes unidades comerciais, e

sua consolidação em um balanço energético se viabiliza através da utilização de fatores de

conversão, que levam em consideração o conteúdo energético de cada fonte, tendo como

referência a capacidade de liberação de calor, em calorias, de cada combustível, quando da sua

combustão completa (conceito de poder calorífico).

Quando se quer a contabilização de energia em tep (tonelada equivalente de petróleo), calculam-

se os fatores de conversão pela relação entre o poder calorífico de cada fonte e o poder calorífico

do petróleo adotado como referência. Os quantitativos em unidades comerciais são convertidos em

tep quando multiplicados por estes fatores.

A adoção de um petróleo de referência significa, na prática de elaboração do balanço energético, o

valor para o poder calorífico inferior do petróleo, e, conseqüentemente, o valor da tep (tonelada

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 12

equivalente de petróleo) como referência para todas as fontes de energia, possibilitando a

consolidação das fontes.

Para a fonte primária de energia petróleo, no BEN, esta referência impõe algumas limitações, uma

vez que os diferentes graus API de petróleo têm diferentes poderes caloríficos, e causa a

contabilização de diferentes petróleos pela mesma referência de poder calorífico.

1) Eletricidade no BEN

O critério utilizado para a conversão da Energia Elétrica e Geração Hidráulica para contabilização

em tep é a base teórica do primeiro princípio da termodinâmica, onde 1 kWh = 860 kcal.

2) Petróleo de Referência no BEN

O petróleo de referência adotado tem 10.000 kcal/kg e são adotados os poderes caloríficos

inferiores para as demais fontes de energia.

Estes critérios são aderentes com os critérios internacionais, especialmente com os da Agência

Internacional de Energia - IEA, Conselho Mundial de Energia - WEC, Organização Latino Americana

de Energia – OLAE e o Departamento de Energia dos Estados Unidos - DOE.

2.6 PODERES CALORÍFICOS SUPERIORES E INFERIORES

Para os combustíveis que originam H2O nos produtos da combustão são definidos os poderes

caloríficos superiores e inferiores. Em toda queima de hidrocarbonetos ocorre a geração de H2O

durante o processo de combustão. O conceito de poder calorífico superior (PCS) inclui o calor

latente de condensação gerado quando o vapor d`água resultante se condensa. Já conceito de

poder calorífico inferior (PCI) não considera este valor, sendo mais próximo da realidade, pois em

geral o vapor d`água se perde através do duto de saída do equipamento no qual ocorreu a queima

do combustível, juntamente com os demais produtos da combustão.

2.7 ESTRUTURA FUNDAMENTAL

O balanço energético é elaborado em uma estrutura geral matricial que representa os fluxos de

energia, que é a representação das diversas fontes primárias e secundárias que integram o

sistema energético, e uma estrutura geral dos setores que compõem este sistema e caracterizam

uma região em determinado período de tempo, quais sejam, os setores de produção, importação e

exportação, transformação e consumo.

Esta estrutura geral de fontes e setores é normalmente apresentada em forma de uma matriz

contábil que permite a identificação dos fluxos e interações de cada setor de oferta e consumo

com as fontes energéticas relacionadas. Esta apresentação do balanço energético configura a

Matriz Energética da região estudada no tempo determinado. A evolução desta matriz energética e

os estudos de sua projeção são a base do planejamento energético.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 13

Assim, evidencia-se a importância fundamental do processo de escolha das fontes energéticas que

serão representadas, bem como dos setores de atividade humana que serão relacionados, sejam

eles integrantes do setor energético, do lado da oferta, sejam eles setores do consumo,

representativos das atividades econômicas e sociais da região analisada.

A constituição de um balanço energético é caracterizada pela delimitação do sistema energético

que ele representa, pelo sistema de contabilização da energia contida nas diferentes fontes

energéticas e também pela sua estrutura configurada pelas suas linhas e colunas.

As linhas registram as operações e os agregados. As operações descrevem o trânsito dos fluxos, as

variações de estoques e se constituem na sucessão de etapas percorridas pelos fluxos energéticos

desde a origem ate o destino destes. Os agregados estabelecem as sínteses parciais a cada etapa

importante do trânsito.

As colunas registram as fontes e as formas de energia, de acordo com as etapas dos fluxos

energéticos que estamos representando, as energias primárias e secundárias. As colunas irão

variar em função do tipo de balanço, das informações que se deseja obter e das características dos

espaços geográficos e temporais sobre os quais está sendo aplicando. BICALHO (1986) destaca

que a escolha, tanto dos agregados a serem especificados nas linhas, quanto das fontes a serem

explicitadas nas colunas, resulta de uma arbitragem entre a disponibilidade de informações e a

utilidade dessas informações para a compreensão da dinâmica energética do espaço sócio

econômico estudado, a qual agregamos a também importante compreensão da dimensão

ambiental.

A constituição das linhas e das colunas, o nível de desagregação das fontes de energia, a definição

das operações e dos agregados, a busca do equilíbrio entre a clareza e a forma concisa e prática

de representação do quadro contábil, entre a riqueza de informações e a legibilidade de um

balanço, são questões vivas na discussão sobre a sua construção e as soluções adotadas irão

determinar os limites dos ensinamentos que poderão ser retirados deste instrumento de

planejamento e análise.

Na Figura 2 encontramos a estrutura representativa da matriz energética brasileira utilizada no

Balanço Energético Nacional. Podemos verificar ali como as fontes energéticas e os setores de

atividade humana foram selecionados procurando melhor representar a realidade brasileira.

Para uma abordagem regional, em um país de dimensões continentais como o Brasil, evidencia-se

a necessidade de avaliar esta estrutura e reelaborá-la, caso seja necessário e possível, pois os

dados devem ser obtidos em condições qualidade, com vistas a melhor retratar as características

regionais.

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PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 15

2.8 DISPONIBILIDADE DE DADOS E ESTIMATIVAS

A disponibilidade de estatísticas detalhadas, completas, confiáveis e em tempo apropriado de dos

dados energéticos é básica e essencial para a elaboração de qualquer tipo de balanço energético.

Muitas vezes a disponibilidade dos dados é um fator externo limitante na sua elaboração.

Alguns tipos de Balanço, como o Balanço de Energia Útil e o Balanço de Recursos e Reservas

encontram uma dificuldade muito grande na sua elaboração em função da indisponibilidade de

informações.

O próprio Balanço Energético Nacional ainda hoje têm em algumas fontes, como a lenha e o

carvão vegetal, entre outras, a carecia de uma base de dados mais sólida para a contabilização de

seus fluxos energéticos.

Embora a disponibilidade de dados energéticos seja uma limitação externa à construção

metodológica do balanço, ela irá influenciar de forma decisiva a sua construção pois a falta de

dados impedirá a construção de um tipo de balanço mais adequado ao planejamento.

Esta dificuldade de obtenção das informações energéticas necessárias à elaboração do balanço

energético, devido à insuficiência da base de dados, gera a necessidade de estimativas e

aproximações segundo tendências de comportamento dos elementos do sistema energético ou

referências indiretas das atividades de consumo, a fim de se determinar certos dados que não se

encontram disponíveis. Passam então a fazer parte da execução do balanço outras ferramentas

que não apenas contábeis, mas estatísticas, necessárias para a adequada execução de inferências

estatísticas e apropriações, os modelos de inferência, quantificação e aproximação e a própria

consideração sobre a qualidade das informações e sua representatividade absoluta.

Ao lidar com tais aproximações e estimativas, torna-se imperativo que estes processos sejam

explicitados nas publicações dos balanços energéticos, de forma que os diversos usuários

procedam a sua própria avaliação dos métodos empregados e da confiabilidade das informações. A

coexistência, nos balanços energéticos, de informações básicas reais contabilizadas de forma

rigorosa e de estimativas e aproximações, também realizadas segundo critérios metodológicos

rigorosos, torna a tarefa de sua elaboração um processo complexo, trabalhoso e difícil.

A inexistência de um sistema integrado de informações sobre energia faz da disponibilidade de

dados um limite real e evidente na construção dos balanços energéticos. Entretanto, ainda que a

eliminação desta carência deva ser perseguia com afinco e determinação, a via pragmática de

consolidação dos balanços energéticos através de algumas estimativas e aproximações não pode

ser descartada, sobe pena de que este não se realize. Por outro lado, a meta de realizá-lo não

pode prescindir da explicitação das premissas, assunções e métodos aplicados e utilizados nestes

procedimentos, uma vez que seu refinamento e aprimoramento deve ser continuo. A clareza

destes mecanismos para o usuário permitirá que este, quando possuidor de melhores informações

ou conhecimento sobre a questão específica, possa contribuir para sua evolução.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 16

3 BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL

O Balanço Energético Nacional completou trinta anos de existência neste ciclo 2005, ano base

2004, divulgando a contabilidade relativa à oferta e consumo de energia no Brasil, detalhada nas

suas formas primárias e secundárias, descriminadas pelas atividades de produção, estoques,

comércio externo, transformação, distribuição e consumo nos setores econômicos.

3.1 HISTÓRICO DO BEN

Este instrumento contábil foi concebido nos países industrializados nos anos cinquenta,

basicamente como uma forma de organizar as estatísticas energéticas. Este conceito foi fruto dos

problemas específicos desses paises , onde um rápido processo de industrialização que se seguiu à

2ª Guerra Mundial induziu a um crescimento intenso do consumo de energia, caracterizado pela

substituição do carvão mineral pelos derivados de petróleo, pela explosão do transporte rodoviário,

pela massificação do uso de eletrodomésticos e ampliação dos serviços, o que exigiu uma

compreensão das relações existentes entre energia e sociedade, de forma a permitir um melhor

planejamento da dinâmica de expansão do aparelho de produção e transformação de energia.

(BICALHO, 1986, apud OLIVEIRA (1984))

Deste ponto em diante o balanço energético passou a ser um instrumento de estatísticas

energéticas utilizado pelos países da Comunidade Econômica Européia da OCDE (Organização par

Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e teve seu papel ampliado a partir da década de

setenta, quando o primeiro choque do petróleo evidenciou a necessidade de que países,

desenvolvidos e também os países em desenvolvimento, implementassem um planejamento

energético das fontes e recursos existentes, e exigiu que estes aumentassem seu conhecimento

sobre os elementos que compunham os seus sistemas energéticos.

Naturalmente, buscou-se elaborar um instrumental quantitativo para servir de subsídio à

formulação de políticas, estudos e análises da situação energética de relacionada às estruturas

sócio econômicas de cada país, que permitisse uma concepção multisetorial das fontes de energia.

Várias metodologias para a construção de balanços energéticos foram desenvolvidas neste período

pelas instituições, entre as quais podemos citar:

• OSCE (Office Statistique des Communauttes Europeenes);

• OCDE (Organização par Cooperação e Desenvolvimento Econômico);

• OLADE (Organizacion Latinoamericana de Energia).

A metodologia da OLADE já apresentava algumas modificações que pretendiam considerar as

características dos sistemas energéticos dos paises em desenvolvimento.

Conforme relato de LEITE (1997), em 1968 teve início um processo de elaboração de um estudo

integrado das diversas fontes de energia, desde a geração até o consumo final e, em especial das

repercussões econômicas das suas condições de preços sobre a produção dos principais setores e

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 17

sobre o nível geral de preços, cujo resultado foi publicado em 1973 e tornou-se conhecido como

MEB – Matriz Energética Brasileira.

Já naquele momento se alertava para a necessidade de se dar continuidade ao processo de

levantamento sistemático e apurações de informações energéticas. Embora não tenha sido o

ocorrido, a MEB-70 constituiu-se em marco de referência para os trabalhos iniciados em 1976 sob

a denominação de Balanço Energético Nacional (BEN).

No Brasil, em 1975, o Ministério das Minas e Energia (MME) começou a desenvolver esforços no

sentido de criar um instrumento que consolidasse as informações energéticas, culminando com a

instituição do Balanço Energético Nacional (BEN), em maio de 1976. Este balanço foi concebido

como um instrumento destinado a:

1. Registrar o consumo energético de todo o pais, verificado nos últimos dez anos desdobrado

ao nível das fontes primárias, e;

2. Projetar o referido consumo em um horizonte de dez anos.

O BEN seria elaborado sob a coordenação da Secretaria Geral do MME, e 8 balanços foram

publicados a partir de 1976. No inicio, foram elaborados por grupos de trabalho formados por

representantes das diversas entidades ligadas ao MME, sendo que estes grupos se dissolviam após

a conclusão dos trabalhos. Nesta fase os dados ainda eram não correlacionados.

Em 1978 foi criado através de portaria o Comitê Coordenador do Balanço Energético Nacional

(COBEN) como órgão de assessoria da secretaria-geral do MME em regime de trabalho

permanente. O COBEN elaborou o BEN 1979, no mesmo período me que se elaborava o Modelo

Energético Brasileiro (MEB). Desde 1981, até hoje, após entendimento com a OLADE, o BEN é

elaborado segundo a metodologia internacional proposta de elaboração de Balanços Energéticos

Unificados, com dados históricos relacionados em uma matriz 49 (fontes) x 47 setores.

Gradativamente foram sendo incorporadas outras informações e notas técnicas de tratamento de

dados (PATUSCO, 2005).

Em 1982 foi constituído um grupo de trabalho com representantes da Petrobras, Eletrobras, CNP,

CAEEB e Secretaria de Tecnologia do MME para prestar apoio técnico necessário às unidades da

federação na elaboração dos seus Balanços Energéticos. Estes Balanços Estaduais surgiram em

função da conveniência do acompanhamento do desempenho energetico em cada estado em

relação ao MEB, da necessidade de identificação dos recursos energéticos existentes ao nível de

cada estado e finalmente da conveniência do estabelecimento de critérios e metodologias que

proporcionassem aos Estados e Territórios da Federação bases para a realização de seus estudos

energéticos. Ainda em 1982, a Secretaria de Tecnologia da Secretaria Geral do MME-SETEC,

assumiu a responsabilidade de promover a elaboração dos Balanços Estaduais.

Em 1984 foi elaborado sob a coordenação da secretaria de tecnologia do MME um Balanço de

Energia Útil (BEU) para o ano de 1983, procurando incorporá-lo ao BEN para uma compreensão

maior do processo de utilização de energia no Brasil.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 18

Na fase entre 1980 A 1992, quando elaborado pelo COBEN, os dados do BEN eram formatados

pelos agentes fornecedores (Petrobras / Eletrobras / CAEEB), sendo que a Eletrobras efetuava a

coleta dados de autoprodutores. De 1993 a 1998 os dados já não eram mais formatados pelos

agentes e as atividades de elaboração do BEN passam cada vez mais para o Departamento

nacional de Desenvolvimento Energético DNDE / SPE / MME. (PATUSCO, 2005).

Em 2000 a ANEEL paralisa pesquisa por ramo industrial e em 2002 o MME inicia pesquisa junto às

concessionárias de energia elétrica para complementação de dados necessários. As concessionárias

já não têm mais condições de fornecer dados de autoprodução e o MME amplia sua pesquisa junto

aos autoprodutores. Em 2002 o SIESE – Sistema de Informações Estatísticas do Setor Elétrico

perde agilidade e representatividade. A partir de 2003, o MME implementa sistema de coleta de

dados on-line junto a autoprodutores, concessionárias de distribuição de energia elétrica e gás

natural. A consolidação do BEN é integralmente realizada pelo MME em uma arquitetura de

planilhas eletrônicas.

O Balanço Energético Nacional de 2003, ano base 2002, passa a adotar os critérios internacionais

mais usuais para a conversão das unidades comerciais de energia em uma unidade comum de

referência, tornando-se compatível com os balanços energéticos estaduais publicados no País,

assim como com a maioria dos balanços publicados no exterior, pois são Estes novos critérios são

aderentes com os critérios internacionais, especialmente com os da Agência Internacional de

Energia, Conselho Mundial de Energia, Organização Latinoamericana de Energia e o Departamento

de Energia dos Estados Unidos. O BEN 2003 foi elaborado com base nos seguintes fatores de

conversão:

1. O petróleo de referência passou a ser o de 10.000 kcal/kg,

2. Todos os fatores de conversões passam a ser determinados com base nos poderes caloríficos inferiores das fontes de energia;

3. Para a energia hidráulica e eletricidade passam a ser considerados os coeficientes de equivalência teórica, onde 1kWh = 860 kcal (1o princípio da termodinâmica).

Em 2004 foi instituída a Empresa de Pesquisa Energética - EPE, vinculada ao Ministério de Minas e

Energia - MME, que tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas

a subsidiar o planejamento do setor energético. Entre as atribuições da EPE está a

responsabilidade de elaborar e publicar o Balanço Energético Nacional. Neste anos de 2004, fase

inicial das atividades a EPE, o trabalho está sendo realizado em conjunto com a equipe da

Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético – SPE/MME, originalmente responsável

pela execução do BEN para manter a continuidade histórica da metodologia aplicada e efetuar o

processo de transferência de responsabilidade pela execução, visando manter a qualidade dos

resultados desta publicação do setor energético.

3.2 CRONOLOGIA DE EXECUÇÃO DO BEN

A cronologia de execução das atividades de elaboração do Balanço Energético pode ser sumarizada

em 5 fases periódicas principais:

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 19

• Fase 1 – Gerenciamento da Coleta de Dados, que se desenvolve nos meses janeiro a março do ano de execução, e se baseia em: (a) envio de cartas e e-mails com solicitações de dados impressos ou em arquivos magnéticos, para agentes de produção, transformação e distribuição de energia; (b) envio de cartas para entidades de classe, para informações setoriais e; (c) solicitação de preenchimento de formulários pré-desenhados na Internet para autoprodutores. Estes meios de solicitação são, invariavelmente, seguidos de contatos telefônicos para obtenção das primeiras respostas, confirmação e correção de informações e complementação de dados pendentes;

• Fase 2 –Análise de Consistência dos Dados e Formatação, de abril a maio: na seqüência, os dados recebidos são analisados previamente e sua consistência é testada, fundamentalmente, pelo histórico dos dados dos anos anteriores e a experiência do analista. Em seguida passa-se à formatação dos dados para sua inserção nas planilhas de contabilização e composição da matriz energética;

• Fase 3 – Elaboração de Diagnósticos e Editoração de Documentos, de junho a julho: esta é a fase em que a matriz energética está consolidada e torna-se possível a extração dos resultados agregados, analises de comportamento estrutural e conjuntural por energético e por setor de atividade econômica, preparação dos textos descritivos, e preparação da edição do documento a ser impresso;

• Fase 4 – Conclusão das Publicações e Disponibilização na Internet, de agosto a setembro: uma vez que a edição de publicação da matriz energética está concluída inicia-se a disponibilização parcial do documento na Internet e a impressão final da versão publicada;

• Fase 5 – Atividades Diversas de Depuração e Consolidação de Dados e Interação com Agentes da Sociedade, de outubro a dezembro: neste período do ano ocorrem as atividades distribuição e intercâmbio de informações, controle de pendências e consistência de dados e da relação com os agentes fornecedores, consolidação da metodologia através da manutenção do cadastro de usuários e dos aplicativos automatizados de execução.

3.3 CONDIÇÕES DE FORNECIMENTO DE DADOS E INFORMAÇÕES 1

Dadas todas as dificuldades naturais de um processo de obtenção de dados desta natureza, que se

propõe a construir a matriz energética de um país com as dimensões, diversidades e características

do Brasil, cabe ressaltar alguns agravantes das condições atuais de execução do Balanço

Energético Nacional, que embora não prejudiquem o nível de qualidade do documento, tornam a

tarefa de executá-lo muito mais árdua:

a) Ausência de legislação ou regulação de qualquer natureza que discipline os agentes do setor energético a fornecer ao Ministério de Minas e Energia - MME, e se responsabilizar pela acurácia, de dados e informações sobre produção e consumo de fontes de energia primárias, produção, oferta e consumo de fontes de energia secundárias. Desta forma, o que se obtém atualmente são conjuntos de dados e informações elaborados em relatórios administrativos das empresas, prioritariamente estruturados para os objetivos internos das mesmas e não para a devida construção do Balanço Energético Nacional. No caso dos

1 Extraído do relatório EPE - Balanço Energético Nacional 2005 - Análise de Metodologia e de Processos de Elaboração de julho de 2005.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 20

autoprodutores, a coleta é pulverizada e a multiplicidade de elementos não organizados acaba gerando maior número de incorreções;

b) Relativamente ao setor elétrico, particularmente após o processo de reestruturação que multiplicou o número dos agentes setoriais e descentralizou o seu controle, com a instituição dos agentes de autoprodução, produção independente e consumidor livre e o livre acesso à rede, tornou-se mais complexa e tardia, a obtenção de dados adequados sobre o setor. Há dificuldades geradas pela redundância de solicitações dos organismos oficiais aos prestadores dos serviços públicos de energia elétrica por dados e informações, diferenciados, não padronizados e não regulamentados, cada qual privilegiando um conjunto de informações adequado à suas necessidades específicas. Nas distribuidoras tornou-se estratégico limitar as informações disponibilizadas ao domínio público devido às características de concorrência do modelo, entretanto, no ciclo atual, as informações das distribuidoras, que permitem a identificação da energia faturada pela concessionária, da energia fornecida para consumidor livre na área de concessão por setor de atividade econômica, fornecida por ela ou originada em outros agentes (Produtores Independentes, Outras Concessionárias, etc), da energia por setor de autoprodutores, estão sendo obtidas através de uma solicitação enviada às concessionárias pela SPE-MME, pois, estes dados não estão suficientemente detalhados nos bancos de dados do setor. Neste mesmo momento está em andamento nas distribuidoras o processo de reclassificação setorial dos consumidores segundo a classificação oficial utilizada no balanço. As perdas de transmissão e distribuição, técnicas e não técnicas, apresentam algumas incertezas devido à multiplicidade de origem dos parâmetros, à já complexa equação de cálculo deste valor e a diferenças de metodologia e classificação dos diferentes agentes fornecedores de dados primários;

c) Relativamente ao setor de petróleo e derivados, os dados e informações de produção, oferta e consumo próprio são fornecidos pela Petrobras e outras refinarias existentes no país, entretanto, advêm de relatórios administrativos das empresas, prioritariamente estruturados para os objetivos internos das mesmas e não para a devida construção do Balanço Energético Nacional. Para os dados de consumo final utilizam-se as estatísticas geradas anualmente pela Agência Nacional do Petróleo – ANP, que apresenta incorreções conhecidas decorrentes da incompatibilidade de classificação e adulteração de combustíveis, e sonegação de impostos, além da necessidade de adicionar as vendas diretas realizadas pela Petrobras e o consumo próprio da mesma. Uma análise crítica dos dados de entradas e saídas de refinarias, realizada pela SPE-MME sugere uma inconsistência de dados entre da ANP e a Petrobras, pois em algumas situações as refinarias apresentam ganhos de energia. Sabe-se que já está em processo a construção de um sistema único de informações para toda a movimentação nacional de petróleo e derivados;

d) Relativamente ao setor de gás natural os dados e informações de produção, oferta e consumo próprio são fornecidos pela Petrobras, entretanto, advêm de relatórios administrativos das empresas, prioritariamente estruturados para os objetivos internos das mesmas e não para a devida construção do Balanço Energético Nacional. Para os dados de vendas de gás canalizado são consultadas as Concessionárias, entretanto, não há um controle estruturado de consumo por setor de atividade econômica, podendo gerar alguns equívocos de classificação. Estas distribuidoras têm se mostrado cooperativas no fornecimento de informações, mas da mesma maneira que para os demais agentes, há a

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 21

necessidade de regulamentação que discipline o fornecimento de dados, que neste caso deve ser diferenciada devido à característica de concessão estadual do serviço;

e) Relativamente ao setor de carvão mineral e seus derivados não há uma coleta institucional de dados e informações de consumo por setor de atividade econômica, estando defasadas as informações de produção do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM / MME, sendo necessário recorrer ao Sindicato de Extração de Carvão Mineral e a alguns consumidores de grande porte. A Secretaria de Comércio Exterior – SECEX do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MIDC é também consultada para aferição de dados de importação de carvão mineral. Igualmente há necessidade de uma regulamentação que discipline o fornecimento de dados;

f) Relativamente aos produtos da cana, os dados de produção de cana-de-açúcar e álcool originam-se no Departamento do Álcool e Açúcar do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária – MARA e de indústrias do setor. Através de uma solicitação a aproximadamente 150 usinas, com uma média anual de resposta de 90 formulários, inferem-se índices para o setor que permitem extrapolar os valores de produtos a partir da cana-de-açúcar esmagada para produção de açúcar e álcool e da produção de álcool etílico. São considerados como produtos primários o caldo da cana, melaço, bagaço, pontas, folhas e olhaduras, e como produtos energéticos secundários o álcool. Igualmente a outros setores, há necessidade de uma regulamentação que discipline o fornecimento de dados;

g) Para um conjunto importante de energéticos, alguns que por sua natureza de produção e consumo não apresentam condições de uma monitoração real ano a ano, ou por sua pequena representatividade no total da energia, também por questões de padrões no consumo de energia, caso da co-geração, e até por questões de violação legal como adulteração de composição, sonegação de impostos, desmatamento, entre outros, há a necessidade de estudos específicos que permitam produzir estimativas robustas para o presente momento e que construam metodologias de acompanhamento anual destes energéticos através de indicadores confiáveis, que prevejam revisão periódica dos parâmetros de referencia e da própria metodologia;

h) Relativamente aos dados sócio-econômicos as principais dificuldades dizem respeito ao grau de desagregação setorial normalmente publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que publica o PIB em um grau de abertura inferior ao desejado para análises mais contundentes dos principais setores consumidores de energia, como por exemplo, subsetor pelotização no setor mineração, subsetor açúcar no setor alimentação, subsetor alumínio no setor não ferrosos e outros da metalurgia, entre outros.

3.4 FONTES DE DADOS ESTATÍSTICOS DE ENERGIA 2

No contexto institucional descrito acima e nas condições de disponibilidade de dados citadas, as

fontes atualmente utilizadas na execução do Balanço Energético Nacional se originam, de forma

direta ou indireta, nas seguintes entidades:

2 Extraído do relatório EPE - Balanço Energético Nacional 2005 - Análise de Metodologia e de Processos de Elaboração de julho de 2005.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 22

1. Petróleo e Derivados Para os dados de produção, importação, exportação, estoques e transformação são

utilizadas informações fornecidas pela Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras e outras

refinarias nacionais, a Agência Nacional do Petróleo – ANP e a Secretaria de Comércio

Exterior – SECEX do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior –

MIDC. Os consumos final e setorial são extraídos das informações da Petrobras e outras

refinarias nacionais, da Agência Nacional do Petróleo – ANP e das companhias

distribuidoras de derivados. Na Petrobras são geradas as informações relativas às

entregas e vendas feitas diretamente pelas refinarias. Na ANP são geradas as

informações relativas às vendas das distribuidoras aos consumidores, e são

desagregadas pelas atividades ditadas pela Receita Federal. Cabe ressaltar que a

alocação setorial utilizada na ANP não coincide com a aplicada no BEN, exigindo a

correlação entre as classificações do consumo final por setor. Nas entidades de classe e

grandes indústrias são obtidas informações de consumo real. Da conciliação dos dados

destas fontes e da análise de consistência das informações elaboram-se os fluxos

energéticos do petróleo e seus derivados.

2. Gás Natural

Para os dados de produção, reinjeção e perdas, importação e transformação são

utilizadas informações fornecidas pela Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, pela Agência

Nacional do Petróleo – ANP e pelas empresas transportadoras. Os consumos final e

setorial são extraídos das informações da Petrobras e outras refinarias nacionais e das

companhias distribuidoras estaduais. Nas entidades de classe e grandes indústrias são

obtidas informações de consumo real. Da conciliação dos dados destas fontes e da

análise de consistência das informações elaboram-se os fluxos energéticos do petróleo e

seus derivados.

3. Carvão Mineral e Coque

Os dados de produção de carvão mineral são originados no Sindicato Nacional da

Indústria de Extração do Carvão. O consumo final de carvão mineral e coque são obtidos

diretamente nas indústrias siderúrgicas (CSN, USIMINAS, AÇOMINAS, CST, COSIPA e

outras) e o dados de comércio internacional são obtidos na Secretaria de Comércio

Exterior – SECEX do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior –

MIDC. As condições das jazidas de carvão mineral no Brasil, com pequenas espessuras

de camadas e os métodos de lavra conduzem à extração de um “carvão bruto” (ROM)

com elevadas parcelas de material inerte (argilitos e outros). Assim, considera-se o

carvão mineral como fonte de energia primária, no Balanço Energético Nacional, após o

seu beneficiamento, nas formas de carvão vapor e carvão metalúrgico.

4. Energia Hidráulica e Eletricidade

Os dados de produção de energia hidráulica e de energia elétrica originam-se na Agência

Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, no Sistema de Informações Gerenciais do Setor de

Energia Elétrica – SIESE da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás, nas Geradoras

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 23

Federais e Privadas, nas Concessionárias de Distribuição de Energia Elétrica, no Sistema

Interligado Nacional - SIN do Operador Nacional do Sistema – ONS e nos

Autoprodutores. Os consumos finais por setor de atividade econômica provêm das

informações das Geradoras Federais e Privadas, das Concessionárias de Distribuição de

Energia Elétrica e dos Autoprodutores. Considera-se como energia hidráulica o valor

correspondente à produção bruta de energia elétrica medida nas centrais hidroelétricas e

não é considerada a parcela de energia elétrica correspondente ao recurso hídrico

vertido.

5. Lenha e Carvão Vegetal

As fontes de dados para a produção e consumo de lenha e carvão vegetal são a

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, as Grandes Indústrias e

o Projeto Matriz Energética Brasileira – MEB - MME / IPEA. A produção de lenha e carvão

vegetal é determinada a partir dos dados de consumo, não levando em conta a variação

de estoques. Os dados de consumo setorial de lenha, à exceção das Indústrias de Papel

e Celulose, Cimento e Pelotização e de Não-Ferrosos, das quais são obtidas informações

de consumo real, são calculados por interpolações e extrapolações dos dados do projeto

Matriz Energética de 1970, dos censos do IBGE e mediante correlações com o consumo

setorial dos outros energéticos, como é o caso do GLP no setor residencial. Para o

carvão vegetal, o consumo setorial industrial é obtido diretamente dos consumidores e o

consumo dos outros setores é estimado da mesma forma que a lenha. A produção de

carvão vegetal é calculada segundo seu consumo, levando-se em conta um percentual

de perdas na distribuição e armazenagem.

6. Cana-de-açúcar, Álcool e Bagaço de Cana

Os dados de produção e consumo de cana-de-açúcar, álcool e bagaço de cana originam-

se no Departamento do Álcool e Açúcar do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária

MARA, das Entidades de Classe do Setor e de Indústrias de Produção. Os produtos da

cana-de-açúcar são obtidos a partir da cana esmagada para produção de açúcar e

álcool. São considerados como produtos primários o caldo da cana, melaço, bagaço,

pontas, folhas e olhaduras, e como produtos energéticos secundários o álcool anidro e

hidratado. Para estimar as parcelas de consumo energético do bagaço de cana

destinadas a energia térmica do setor de alimentação (açúcar), do setor energético

(álcool) e da autoprodução de energia elétrica nos sistemas integrados de co-geração

nas usinas, utiliza-se a metodologia descrita na Nota Técnica COBEN 03/88.

7. Energia Nuclear

Os dados de produção, transformação, estoques e consumo de urânio e combustível

nuclear originam-se na Indústrias Nucleares do Brasil – INB e na Centrais Elétricas

Nucleares do Brasil – Eletronuclear. Devido ao elevado período de processamento do

urânio durante a produção do combustível nuclear, em média 21 meses, a parcela que

estiver em processamento no ciclo do combustível é registrado como estoque de U3O8. A

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 24

cada ano é estornado do estoque de U3O8 a parcela correspondente à produção do

urânio contido no UO2 dos elementos combustíveis, acrescida de cerca de 1,5% de

perdas de transformação.

8. Gás de Cidade e Gás de Coqueria

Os dados de produção e consumo de gás de cidade, inclusive a segmentação do

consumo por atividade econômica, são fornecidos pelas Concessionárias Distribuidoras

de Gás Canalizado. Os dados de produção e consumo de gás de coqueria são fornecidos

pelas usinas siderúrgicas.

9. Autoprodutores

Os dados de produção e consumo da classe de autoprodutores são obtidos em pesquisa

direta junto às empresas de diversos setores, tais como indústrias de petróleo, cimento,

siderurgia, ferro-ligas, alumínio, alumina, outros não ferrosos, química, papel e celulose,

açúcar e álcool, mineração, pelotização, alimentos e bebidas e têxtil. Atividades do setor

terciário como shopping centers estão em faze de inclusão. O cadastro atual de

autoprodutores possui aproximadamente 530 empresas e é atualizado a partir de

informações de entidades de classe e do Banco de Informações de Geração da ANEEL. A

coleta de dados se realiza através de formulários específicos elaborados de acordo com

a complexidade energética e com a terminologia de cada setor autoprodutor.

10. Sócio-economia Os dados de evolução da população, do PIB, das atividades econômicas setoriais, entre

outros, são obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,

Fundação Getúlio Vargas – FGV e Banco Central.

3.5 PROCESSOS DE TRATAMENTO DOS DADOS E INFORMAÇÕES

No tratamento dos dados e informações são utilizadas planilhas em formato Excel para entrada de

dados, verificação de consistência e consolidação final, algumas segmentadas por Estado. A

seqüência de processos de tratamento dos dados e informações atualmente empregada na

execução do Balanço Energético pode ser visualizada na Figura 3 e na Figura 4, que apresenta o

ordem de interação entre a entrada de dados e as planilhas descritas a seguir:

1. As planilhas de metalurgia, açúcar, álcool, química, petróleo, papel e celulose, cimento,

mineração, pelotização, registram os dados dos formulários, calculam a geração elétrica

por tipo de combustível, calculam consumos específicos, comparam dados com o ano

anterior e apresentam um resumo dos dados necessários para os Balanços Energéticos

Nacional e Estaduais;

2. A planilha resumo de autoprodutores consolida os dados de autoprodutores, por setor,

para o BEN;

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 25

3. As planilhas de óleo combustível, óleo diesel e GLP consolidam, verificam a consistência e

formatam os dados da ANP, Petrobrás e de Autoprodutores;

4. A planilha de produtos da cana calcula os dados de bagaço, caldo de cana e melaço, tendo

como dados de referência a produção de açúcar, de álcool e de cana-de-açúcar, por ano

civil e por Estado;

5. A planilha de eletricidade consolida, verifica a consistência e formata os dados da ANEEL,

SIESE e de Autoprodutores;

6. A planilha de gás natural e de refinarias consolida, verifica a consistência e formata os

dados de vendas das distribuidoras de gás natural, por Estado;

7. A planilha da Petrobrás consolida, verifica a consistência e formata os dados de oferta e

demanda de petróleo, gás natural e derivados;

FIGURA 3 ESTRUTURA GERAL DE RELAÇÃO DE DADOS

Fonte: SPE/MME

8. A planilha de lenha calcula a lenha e o carvão vegetal residencial, por correlação com o

consumo de GLP;

9. A planilha de diesel agropecuário registra dados de tratores e de grãos para avaliação do

consumo de diesel agropecuário;

GÁS NATURAL

PETRÓLEO E DERIVADOS OUTRAS

FONTES

BIOMASSA CARVÃOMINERAL

HIDRÁULICA E ELETRICIDADE

ARQUITETURA

CONSISTÊNCIA UNIFORMIZAÇÃO

CONVERSÃO DE UNIDADES FORMATAÇÃO

ESTRUTURAS RELACIONADAS

MATRIZ DE GÁS NATURAL

MATRIZ DE PETRÓLEO MATRIZ

ELÉTRICA

MATRIZ DEBIOMASSA

MATRIZ DE CARVÃO MATRIZ

ENERGÉTICA

MMééttooddooss ddee CCáállccuullooee EEssttiimmaattiivvaass

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 26

10. A planilha de importações e exportações registra, verifica a consistência e formata os

dados de importação e exportação;

11. As planilhas de população, indicadores de atividade econômica e setorial e PIB registram

os dados, calculam os índices de correlação e formatam os dados sócio-econômicos;

12. A planilha geral registra os resumos de todas as planilhas, verifica a consistência dos

dados globais de petróleo e derivados com aferição dos ajustes totais e por energético,

verifica a consistência das demais fontes e dá o formato final dos dados para entrada no

Banco de Dados do BEN.

FIGURA 4 ESQUEMA DE CONTABILIZAÇÃO DE DADOS

Fonte: SPE/MME

3.6 PARTICIPAÇÃO ABSOLUTA DOS FORNECEDORES DE DADOS

Dos dados estatísticos que consolidam o balanço energético nacional, no ano de 2004, aqueles

provenientes de organizações que obrigatoriamente fazem a contabilização das informações, e

fornecem Estatísticas Administradas de Serviço Público, responderam nesse ano por 61 % do total

da energia registrada. Em úmero de entidades fornecedoras, foram:

• Agências Reguladoras (2)

• Empresas Estatais (3)

• Órgãos de Outros Ministérios (2)

• Distribuidoras de Gás (18 via formulário on-line)

BASE PRIMÁRIA: AUTOPRODUTORES CONSUMIDORES IMPORTADORES ENTIDADES DE CLASSE

BASE PRIMÁRIA: DISTRIBUIDORES / OPERADORES / REGULADORES / PRODUTORES / ETC

BASE PRIMÁRIA: CENSOS PESQUISAS POR AMOSTRAGEM VARIÁVEIS NÃO ENERGÉTICAS

BALANÇOENERGÉTICO

BASESECUNDÁRIA

BASESECUNDÁRIA

Á

BASESECUNDÁRIA

Á

Métodos de Cálculo

Métodos de Cálculo

Métodos de Cálculo

PESQUISAS ESPECIAIS

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 27

• Distribuidoras de Energia Elétrica (70 via formulário on-line)

• Operadoras de Sistemas (1)

• Entidades de Classe (1)

Os dados provenientes de autoprodutores e outros, diretamente informados por estes através de

pesquisa on-line realizada pelo MME responderam por 30% do total da energia registrada. Em

úmero de entidades fornecedoras, foram:

• Estabelecimento (700 via formulário on-line)

• Entidades de Classe (10)

Os energéticos que não possuem entidades que os contabilizem, e se consolidam através

pesquisas, amostragem ou estimativas responderam por 9 % do total da energia registrada. São

eles:

• Lenha e Carvão Vegetal Residencial

• Lenha em Outros Setores

• Diesel Agropecuário

• Diesel em Outros Setores

• Pequenos Autoprodutores

• Transportadores Retalhistas de Combustíveis

3.7 CONSOLIDAÇÃO METODOLÓGICA E OPERACIONAL

Faz-se necessário evidenciar alguns pontos que, seja para o BEN, seja para qualquer balanço

energético realizado no Brasil, necessitam ser tratados, seja para consolidar práticas e métodos já

utilizados, seja para revê-los, e também para que se alcancem objetivos de maior envergadura na

questão do planejamento energético.

Em primeiro plano colocamos a necessidade de implementação de instrumentos legais que

disciplinem o processo de obtenção e consolidação de dados e informações energéticas e

econômicas de todo o setor energético, restabelecendo uma prática já utilizada na realidade

brasileira.

Em segundo lugar nos concentramos na atenção ao processo de consolidação metodológica e

operacional da execução do Balanço Energético, contemplando a sistematização e automação dos

processos de entrada, tratamento e apresentação dos dados e informações, bem como a aplicação

de ferramentas de determinação ou estimação dos parâmetros de maior incerteza.

3.7.1 Disciplinar a Obtenção de Dados e Fontes de Informações

No que tange a regulamentar e disciplinar a obtenção de dados e fontes de informações,

separamos a questão em dois conjuntos principais: a regulamentação propriamente dita, com

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 28

estabelecimento da obrigação legal e do conteúdo a ser informado, e a organização da coleta junto

aos agentes setoriais, particularmente para os organismos de governo, centralizando a coleta e

redistribuição de dados em um só agente. Ressalta-se que instrumentos de regulamentação de

obtenção de dados energéticos já existiram e sua prática foi descontinuada, resultando nas atuais

dificuldades de obtenção dos mesmos. São ações de regulamentação, disciplina e organização

necessárias:

• Legislação e regulação quanto ao fornecimento de dados energéticos, responsabilidade sobre os mesmos, formatos, uniformidade conceitual e de critérios, padronização da classificação setorial e nível de desagregação setorial e cronologia da disponibilização de dados;

• Identificação do organismo de governo que efetuará a coleta, centralização e redistribuição de dados para os demais agentes do setor, bem como das características dos dados necessários e os prazos de fornecimento;

• Identificação dos organismos setoriais, empresas de oferta, transporte e distribuição, bem como empresas consumidoras que deverão ser submetidas à regulamentação ou que deverão ser convidadas a participar fornecendo seus dados;

• Estabelecimento de mecanismos de fornecimento de dados de organismos de pesquisa econômica, social, estatístico e geográfico, formatos, padronização da classificação setorial e nível de desagregação setorial e cronologia da disponibilização de dados;

• Estabelecimento de mecanismos de relacionamento com os Estados da Federação para segmentar as atividades de obtenção de dados para os Balanços Energéticos Estaduais;

3.7.2 Revisão Metodológica e Operacional

A consolidação metodológica e operacional do balanço energético e de sua execução certamente

poderia ser mais ampla do que as considerações preliminarmente aqui expostas, uma vez que a

própria dinâmica de realização de uma atividade desta natureza evidencia suas necessidades e

prioridades. Seguimos aqui relacionando os pontos já identificados para consolidar aspectos

fundamentais das ações de execução do balanço energético nacional e para ampliar seu escopo e

seu papel como instrumento básico de suporte do estudo de planejamento da matriz energética.

São eles:

1) Revisão metodológica e de conceitos

• Avaliação dos componentes da matriz (linhas x colunas): abertura de setores, inclusão de subsetores;

• Atualização das metodologias de estimativas de parâmetros, introdução e verificação da uniformidade conceitual e de critérios;

• Avaliação, estruturação metodológica e organização de macroindicadores do desempenho social, econômico e energético;

2) Sistematização e automação dos processos

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 29

• Sistematização de processos de entrada de dados e das metodologias de estimativas de parâmetros, quando aplicável;

• Sistematização dos acompanhamentos setoriais das atividades econômicas;

• Automatização dos processos de aquisição de dados junto aos fornecedores, via Internet, incluídos processos de consistência de dados e feed back ao fornecedor, formulários de coleta de dados dos autoprodutores de grande porte, inserindo dados de anos anteriores, taxas de crescimento de consumo e apresentando consumos específicos;

• Automatização dos processos de consolidação de dados, análise de consistência e depuração de dados e relatórios de verificação, com minimização da intervenção do analista;

• Elaboração de manuais de operação dos processos automatizados e da alimentação de dados pelos fornecedores,

3) Estruturação para os balanços energéticos estaduais

• Estruturação de metodologias de consolidação de dados para suporte dos balanços energéticos estaduais, aprofundamento do conhecimento, estudo e detalhamento das características energéticas regionais, com suas particularidades, descentralização e capilaridades;

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 30

4 BALANÇO ENERGÉTICO - INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO

A reunião dos dados em forma tabular correlacionando fontes energéticas e fluxos de produção e

consumo por setor de atividade humana fornece um referencial básico, pois, ao mesmo tempo em

que dimensiona os valores em unidades energéticas, organiza as formas pelas quais esta energia é

consumida pelo homem.

Uma das necessidades para a análise econômica das indústrias energéticas e sua inter-relação com

os demais setores industriais e o restante da economia é calcular, para todos os energéticos, as

contribuições relativas da produção e importação para prover a demanda, bem como os vários

usos nas indústrias em geral, e pelo próprio setor energético, de cada energético considerado e

sua distribuição entre os consumidores finais.

Um balanço energético proporciona os elementos necessários a esta avaliação e ainda, que todas

as formas e usos dos energéticos são anotados dentro de uma unidade comum, fornece uma

moldura para análises e,se rigorosamente projetado, é também um excelente teste de consistência

interna de uma base de dados.

Implicitamente o balanço fornece para a área e o tempo considerados perfis de industrialização,

níveis de penetrabilidade tecnológica, capacidades de consumo por ramo de atividade,

dependência externa através da importação, eficiência tecnológica e muitos outros parâmetros que

se julgue importantes e oportunos retirar do quadro.

Assim, transparece a importância do balanço energético como um instrumento básico e

fundamental para qualquer tentativa de planejamento nesta área bastante ampla e complexa.

4.1 IMPORTÂNCIA DA REGIONALIZAÇÃO

Tem-se observado, nas duas últimas décadas, uma gradual, mas aparentemente irreversível,

descentralização da economia brasileira e da atuação governamental no País. O setor energético

brasileiro também tem passado por este processo, embora a passos mais lentos do que a

economia como um todo. Uma descentralização do planejamento no setor pode auxiliar bastante

na desejada aceleração deste processo, materializando, na forma de metas, aspirações locais

relacionadas ao desenvolvimento setorial.

Um país com grande extensão contínua de área e dimensões continentais como o Brasil está

sujeito a diversificações em suas características médias que praticamente anulam e inviabilizam a

significância de uma "característica média".

Países como o Brasil, a União Soviética, os Estados Unidos da América, o Canadá, a China e a

Índia, enfrentam este tipo de situação que os condiciona a abordar seus problemas internos

voltados às características diferenciadas locais, sob pena de equivocarem-se significativamente

quando tentarem trabalhar com "médias nacionais". O equívoco tornar-se-á ainda maior se esta

"média" for considerada como "representativa" da totalidade, já caracterizada como diversificada.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 31

O tamanho continental, assim, impõe certas características que não podem e não devem ser

ignoradas quando do tratamento de problemas da área energética. Isto se deve ao fato de ser o

consumo de energia, em qualquer forma uma característica que marcará significativamente regiões

destes países ao diferenciá-las das demais, mesmo que utilizando as mesmas formas energéticas.

As dificuldades ficam mais aparentes ao se analisarem as características sócio-econômicas e

político-administrativas das diversas áreas. Fica, portanto, claro que a abordagem da área

energética e seu planejamento devem levar em conta esta variável espacial continental. Por

decorrência, as considerações citadas indicam a necessidade de serem aprofundados os seguintes

aspectos, conjuntamente:

a) características diferenciadas nos espaços

b) estruturas diferentes quanto ao consumo e de energia disponíveis

c) estruturas sócio-econômica-política-administrativa diferenciadas;

d) peculiaridades locais.

PROCEDIMENTOS DE ELABORAÇÃO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS 32

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CORREA NETO, V., 2000, Uso Final de Energia, Racionalização Energética e Co-geração no Setor Hospitalar Brasileiro. Monografia de Pós-graduação, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca - CEFET RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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GARNIER, J. Y., METZROTH, L., TRÉANTON, K, et al., 2004, Energy Statistics Manual, International Energy Agency – IEA e Statistical Office of the European Communities – EUROSTAT, Paris, France.

LEITE, A. D., 1997, A Energia do Brasil, 1 ed., Rio de Janeiro, RJ, Editora Nova Fronteira.

PATUSCO, J. A. M., 2005, Balanço Energético Nacional Criação e Utilidade – Workshop BEN 10-11-05. Coordenação Geral Balanço Energético Brasileiro Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético SPE/MME, Distrito Federal.

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