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Provisão Habitacional Social no Brasil: Um olhar sobre o Programa Minha Casa Minha Vida no Rio de Janeiro Andressa Freitas Filardi Fontes Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Profª Angela Maria Gabriella Rossi Co-Orientadora: Profª Elaine Garrido Vazquez Rio de Janeiro Setembro de 2016

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Provisão Habitacional Social no Brasil:

Um olhar sobre o Programa Minha Casa

Minha Vida no Rio de Janeiro

Andressa Freitas Filardi Fontes

Projeto de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadora: Profª Angela Maria Gabriella Rossi

Co-Orientadora: Profª Elaine Garrido Vazquez

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

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PROVISÃO HABITACIONAL SOCIAL NO BRASIL: UM

OLHAR SOBRE O PROGRAMA MINHA CASA MINHA

VIDA NO RIO DE JANEIRO

Andressa Freitas Filardi Fontes

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

Profª Angela Maria Gabriella Rossi, D.Sc.

(Orientadora)

Profª Elaine Garrido Vazquez, D.Sc.

(Co-Orientadora)

Prof. Marcelo Gomes Miguez, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

SETEMBRO DE 2016

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Fontes, Andressa Freitas Filardi

Provisão Habitacional Social no Brasil: Um olhar sobre

o Programa Minha Casa Minha Vida no Rio de Janeiro/

Andressa Freitas Filardi Fontes – Rio de Janeiro: UFRJ/

Escola Politécnica, 2016.

XIII, 62 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadora: Angela Maria Gabriella Rossi

Co-orientadora: Elaine Garrido Vazquez

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Civil, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 58-62.

1. Provisão de Habitação Social 2. Programa Minha

Casa Minha Vida 3. Déficit Habitacional 4. Inadequação de

domicílios 5. Provisão de Terreno

I. Rossi, Angela Maria Gabriella et al. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Civil. III. Provisão Habitacional Social no Brasil:

Um olhar sobre o Programa Minha Casa Minha Vida no Rio

de Janeiro

Fontes

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço aos meus pais, Ricardo e Simone, por todos os

sacrifícios feitos para me ver chegar ao final dessa etapa, além de serem ambos a minha

base. Ao meu irmão, Ricardinho, por todas as conversas de suporte e conselhos. À

minha família como um todo, avós, tios e primos, pela união e amor.

Ao Bruno, pela atenção como namorado e por ter feito parte da minha trajetória

acadêmica, sendo colega de escola e faculdade, sempre me incentivando a buscar o

melhor de mim. À sua família, por todo o carinho.

Aos amigos de colégio, com os quais tive a sorte de crescer desenvolvendo

pensamentos críticos e aprendendo a questionar.

Aos colegas de faculdade, com os quais tive a oportunidade de trocar

experiências ao longo de todos esses anos no curso de Engenharia Civil.

Aos colegas de intercâmbio do curso de planejamento urbano, os quais me

fizeram perceber o quão valioso é ter um time multidisciplinar. Em especial, à Jessica

Lucena, a qual sugeriu referências essenciais a essa pesquisa.

Por fim, mas não menos importante, aos professores e funcionários da Escola

Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em especial, à professora

Angela Gabriella Rossi, por ter me apresentando o Planejamento Urbano no contexto

da Engenharia e à professora Elaine Vazquez, por ter me orientado não apenas nessa

pesquisa, mas no decorrer de todo o curso da Engenharia Civil. À ambas, pela atenção,

disponibilidade e profissionalismo.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira Civil.

PROVISÃO HABITACIONAL SOCIAL NO BRASIL: UM OLHAR SOBRE O

PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NO RIO DE JANEIRO

Andressa Freitas Filardi Fontes

Setembro/2016

Orientadora: Profª Angela Maria Gabriella Rossi

Co-Orientadora: Profª Elaine Garrido Vazquez

Curso: Engenharia Civil

O presente trabalho trata da provisão habitacional social no Brasil, com ênfase no

Programa Minha Casa Minha Vida, lançado pelo governo brasileiro em 2009 e

responsável por grande parte da provisão habitacional social desde então. Acredita-se

ser importante uma discussão mais ampla sobre esse assunto no contexto da

engenharia civil, uma vez que o setor da construção civil se constitui em um agente

fortemente relacionado à produção habitacional social. Essa pesquisa tem por objetivo

discutir sobre esse tipo de provisão, priorizando-se a análise de parâmetros

relacionados ao déficit habitacional, à inadequação de domicílios e formas de provisão

de terreno em duas experiências práticas na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Espera-se contribuir para o conhecimento sobre o tema da provisão habitacional social

no Brasil entre os profissionais da área da engenharia civil, que fazem parte da equipe

multidisciplinar que atua nesse setor.

Palavras-chave: Habitação, Provisão Habitacional Social, Programa Minha Casa Minha

Vida.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

SOCIAL HOUSING PROVISION IN BRAZIL: A LOOK AT ‘MY HOUSE MY

LIFE’ PROGRAM IN RIO DE JANEIRO

Andressa Freitas Filardi Fontes

September/2016

Advisor: Profª Angela Maria Gabriella Rossi

Co-Advisor: Profª Elaine Garrido Vazquez

Course: Civil Engineering

This paper deals with social housing provision in Brazil, with emphasis on the ‘My House

My Life’ Program (Programa Minha Casa Minha Vida), released by the Brazilian

government in 2009 and responsible, since then, for a significant part of social housing

provision. It is believed to be important a broader discussion of this issue in the context

of civil engineering, since the construction sector constitutes a strongly stakeholder in

social housing production. This research aims to discuss this type of provision, giving

priority to the analysis of parameters related to the housing deficit, the inadequacy of

dwellings and forms of land provision in two practical experiences in the metropolitan

area of Rio de Janeiro. It is expected to contribute to the knowledge on the subject of

social housing provision in Brazil among professionals in the civil engineering area,

which are part of the multidisciplinary team working in this sector.

Keywords: Housing, Social housing provision, My House My Life Program.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ............................................................................ 1

1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 3

1.3 OBJETIVO .......................................................................................................... 3

1.4 METODOLOGIA ................................................................................................. 4

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................... 4

2 CONTEXTO DA PROVISÃO HABITACIONAL NO BRASIL ....................... 6

2.1 DEFINIÇÃO DE HABITAÇÃO E HABITAÇÃO SOCIAL .................................. 6

2.2 ORIGEM DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA HABITAÇÃO ....................... 8

2.3 BREVE HISTÓRICO DAS AÇÕES HABITACIONAIS ..................................... 9

2.4 POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO (PNH) E PLANO NACIONAL DE

HABITAÇÃO (PlanHab) ............................................................................................. 12

2.5 DÉFICIT HABITACIONAL E INADEQUAÇÃO DE DOMICÍLIOS .................. 14

3 PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA (PMCMV) ................................ 20

3.1 O PROGRAMA ................................................................................................. 20

3.2 ORIGEM ............................................................................................................ 21

3.3 PANORAMA GERAL ....................................................................................... 21

3.4 QUADRO INSTITUCIONAL ............................................................................. 22

3.5 QUADRO LEGAL ............................................................................................. 23

3.6 TERRENO E INFRAESTRUTURA .................................................................. 23

3.7 FASES DO PROGRAMA ................................................................................. 25 3.7.1 PMCMV 1 ....................................................................................................................... 25 3.7.2 PMCMV 2 ....................................................................................................................... 30 3.7.3 PMCMV 3 ....................................................................................................................... 32

3.8 RESULTADOS DO PROGRAMA .................................................................... 33

4 ANÁLISE DE EMPREENDIMENTOS DO PMCMV ..................................... 36

4.1 RESIDENCIAL TARONI ................................................................................... 37 4.1.1 DÉFICIT HABITACIONAL ............................................................................................ 38 4.1.2 INADEQUAÇÃO DE DOMICÍLIOS ............................................................................. 39 4.1.3 PROVISÃO DE TERRENO .......................................................................................... 41

4.2 RESIDENCIAL ZÉ KETI E RESIDENCIAL ISMAEL SILVA........................... 45 4.2.1 DÉFICIT HABITACIONAL ............................................................................................ 46

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4.2.2 INADEQUAÇÃO DE DOMICÍLIOS ............................................................................. 48 4.2.3 PROVISÃO DE TERRENO .......................................................................................... 49

4.3 QUADRO SÍNTESE E ANÁLISE DOS EMPREENDIMENTOS ..................... 52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 58

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Empreendimento Bairro Senador Camará. Residencial Taroni destacado em

linhas tracejadas ......................................................................................................... 38

Figura 2: Pontos de ônibus dentro do raio de 500 metros do Residencial Taroni ........ 43

Figura 3: Estações de trem dentro do raio de 2km do Residencial Taroni ................... 44

Figura 4: Residencial Zé Keti e Residencial Ismael Silva ............................................ 46

Figura 5: Pontos de ônibus dentro do raio de 500 metros dos residenciais Zé Keti e

Ismael Silva ................................................................................................................ 50

Figura 6: Estações de trem e de metrô dentro do raio de 2km dos residenciais Zé Keti

e Ismael Silva ............................................................................................................. 51

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Déficit habitacional total – 2008, 2009, 2011 e 2012 ................................... 18

Tabela 2: Domicílios segundo os critérios de inadequação de domicílios no Brasil –

2008, 2009, 2011 e 2012 ............................................................................................ 19

Tabela 3: Domicílios segundo os critérios de inadequação de domicílios na Região

Metropolitana do Rio de Janeiro – 2008, 2009, 2011 e 2012 ...................................... 19

Tabela 4: Tipologias da modalidade PMCMV-FAR ..................................................... 27

Tabela 5: Número de unidades habitacionais previstas nas metas e das contratadas

efetivamente – PMCMV 1 e PMCMV 2 ....................................................................... 34

Tabela 6: Informações do Residencial Taroni ............................................................. 37

Tabela 7: Informações do Residencial Zé Keti ............................................................ 45

Tabela 8: Informações do Residencial Ismael Silva .................................................... 45

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Componentes e Subcomponentes do Déficit Habitacional ......................... 15

Quadro 2: Componentes e Subcomponentes da Inadequação de Domicílios Urbanos

................................................................................................................................... 16

Quadro 3: Conceitos e Indicadores da metodologia da Fundação João Pinheiro ........ 17

Quadro 4: Principais atores do PMCMV e suas responsabilidades mais relevantes ... 22

Quadro 5: Quadro síntese dos parâmetros observados no Residencial Taroni e nos

Residenciais Zé Keti e Ismael Silva ............................................................................ 52

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NOMECLATURA

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

BB – Banco do Brasil

BNH – Banco Nacional de Habitação

BRT – (Bus Rapid Transit)

CCFDS – Conselho Curador do Fundo de Desenvolvimento Social

CEDAE – Companhia Estadual de Águas e Esgotos

CEF – Caixa Econômica Federal

COHAB – Companhias Habitacionais Estaduais e Municipais

COOPHAB – Cooperativas Habitacionais

FAR – Fundo de Arrendamento Residencial

FDS – Fundo de Desenvolvimento Social

FGHab – Fundo Garantidor da Habitação Popular

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FJP – Fundação João Pinheiro

FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

HIS – Habitação de Interesse Social

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

PMCMV-E – Minha Casa Minha Vida - Entidades

PMCMV-FAR – Minha Casa Minha Vida - Fundo de Arrendamento Residencial

PMCMV-FGTS – Minha Casa Minha Vida - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

OGU – Orçamento Geral da União

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PAR – Programa de Arrendamento Residencial

PEUC – Parcelamento, Edificação e Utilização Compulsória

PlanHab – Plano Nacional de Habitação

PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida

PNAD – Pesquisas Nacionais de Amostra de Domicílios

PNH – Política Nacional de Habitação

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PNHR – Programa Nacional de Habitação Rural

PNHU – Programa Nacional de Habitação Urbana

RM – Região Metropolitana

SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo

SFH – Sistema Financeiro de Habitação

SM – Salário Mínimo

SNH – Sistema Nacional de Habitação

SNHIS – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social

TC – Termos de Cooperação

TCU – Tribunal de Contas da União

ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social

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1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

O que seria habitação? De acordo com Abiko (1995), no seu sentido mais geral,

habitação é similar a abrigo. Com o passar do tempo e o surgimento das cidades, a

habitação passou a ter mais funções, como ser um espaço de proteção contra intrusos

e intempéries, o local onde as pessoas ficam antes e depois de enfrentar uma nova

jornada de trabalho, o espaço onde são realizadas tarefas primárias e até mesmo

algumas atividades de trabalho (ABIKO, 1995).

Além disso, ainda há a ideia de que “[...] o conceito de habitação não se restringe

apenas à unidade habitacional mas necessariamente deve ser considerado de forma

mais abrangente envolvendo também o seu entorno” (ABIKO, 1995, p. 3). Entende-se,

com isso, que a habitação urbana, por exemplo, deve ser integrada ao seu entorno

urbano.

Sendo assim, compreende-se que a habitação é mais do que apenas um espaço

físico. Ela está diretamente relacionada à qualidade de vida das pessoas, sendo um

lugar no qual as energias são renovadas, um espaço para confraternizações familiares,

o lugar no qual são realizadas atividades básicas do cotidiano, dentre tantas outras

questões sociais essenciais.

No entanto, a habitação também é um bem de difícil produção. Com o passar dos

séculos, foi possível identificar o surgimento de uma indústria focada na produção de

tais moradias, a indústria da construção civil. Além disso, “O setor da construção civil,

em todos os seus segmentos, tem uma participação expressiva na economia brasileira

[...]” (BRASIL, 2009, p.11). Nesse aspecto, observa-se também a questão econômica

no contexto da habitação.

Somado a isso, ela é um bem de alto custo para aquisição, sendo possível

observar que não é de fácil acesso, apesar da moradia ser reconhecida como um direito

social de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (Título

II, cap. II, art. 6º). Com isso, no decorrer da história, diversas foram as formas de

provisão habitacional que prevaleceram no país. As mudanças na esfera política

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influenciaram diretamente as formas dessa provisão, principalmente as voltadas para

as classes de menor renda, as quais precisam de maior auxílio do governo para ter

acesso a moradia. Portanto, verifica-se outra questão importante na conjuntura da

habitação: a questão política.

Com isso, entende-se que a questão habitacional é muito importante e, ao mesmo

tempo, muito complexa. No Brasil, desde 1995, a Fundação João Pinheiro tem realizado

estudos sobre as necessidades habitacionais, sendo sua metodologia utilizada

oficialmente. Ela divide essa área segundo duas vertentes: o déficit habitacional e a

inadequação de domicílios, sendo a primeira relacionada à necessidade de construção

de novos domicílios e, a segunda, relacionada às melhorias dos domicílios existentes.

Essa mesma Fundação apontou que o déficit habitacional, no ano de 2012, ultrapassava

5 milhões de domicílios, sendo que sua maior concentração estava no grupo das

famílias que recebiam de 0 a 3 salários mínimos. Além disso, ainda em 2012, foi

mostrado que o componente de maior expressividade da inadequação de domicílios, a

carência de serviços de infraestrutura, atingia mais de 10 milhões de moradias

(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2015).

Percebe-se, assim, que a parcela da população com maior necessidade

habitacional é a de menor renda. Ao mesmo tempo, é o grupo que, como citado

anteriormente, precisa de auxílio do poder público para obter moradia. Bonduki (1998)

apresenta o termo “habitação social” sendo atribuído à essa população de baixa renda.

O governo, ao longo dos anos, criou diversos programas para prover habitação para

esse público e, segundo Krause, Balbim e Lima Neto (2013, sinopse), “Desde 2009, o

Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) assumiu a maior parte da provisão

habitacional de interesse social no Brasil [...]”.

Portanto, entende-se a importância de se discutir sobre a provisão habitacional

social no Brasil, refletindo se o programa que assumiu a maior parte da provisão para a

população de baixa renda desde 2009 vem atendendo parâmetros relacionados ao

déficit habitacional e à inadequação de domicílios, considerados na metodologia da

Fundação João Pinheiro, e se o mesmo vem integrando essas novas habitações ao seu

entorno urbano.

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1.2 JUSTIFICATIVA

Considerando que a questão habitacional transcende a produção de um espaço

físico, a autora considera ser importante uma discussão mais ampla no contexto da

engenharia civil, uma vez que o setor da construção civil se constitui em um agente

fortemente relacionado à produção habitacional social.

Assim, da mesma forma que é importante a intervenção dos engenheiros civis no

desenvolvimento das formas de produção, a autora entende ser necessária a discussão

acerca das formas de provisão habitacional para auxiliar o delineamento de ferramentas

públicas que promovam da melhor forma o acesso à moradia para a população de baixa

renda a partir de uma visão sistêmica. Acredita-se ser essencial a crítica desses

profissionais, que fazem parte da equipe multidisciplinar que atua no campo da

habitação, além de ser uma responsabilidade social perante o desenvolvimento da

sociedade.

1.3 OBJETIVO

Essa pesquisa tem por objetivo discutir sobre provisão habitacional social no

Brasil, priorizando-se a análise de dois parâmetros relacionados ao déficit habitacional

(ônus excessivo com aluguel urbano e habitação precária), dois relacionados à

inadequação de domicílios (carência de serviços de infraestrutura e ausência de

banheiro exclusivo) e duas formas de provisão de terreno (doação pelo Estado ou

compra pelo desenvolvedor privado). Com isso, foram estudadas duas experiências

práticas do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), uma vez que este programa

assumiu grande parte dessa provisão desde de 2009 no país.

Espera-se contribuir para despertar o interesse dos profissionais da área da

engenharia civil sobre a temática multidisciplinar e complexa que envolve a provisão de

habitação social no Brasil.

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1.4 METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa empregada nesse trabalho foi baseada em revisão

bibliográfica e pesquisa exploratória de documentos acadêmicos, artigos, informações

divulgadas pelo poder público, dentre outros documentos, consultados por meio físico e

por acesso à Internet.

A revisão bibliográfica contemplou o estudo do contexto da provisão habitacional

social no Brasil, assim como os programas desenvolvidos pelo governo brasileiro com

ênfase no Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), uma vez que o programa,

desde 2009, tem assumido a maior parte da provisão habitacional social no Brasil.

Buscou-se verificar o atendimento às necessidades habitacionais da população

de baixa renda pelo Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) analisando dois

empreendimentos habitacionais segundo os seguintes parâmetros: “ônus excessivo

com aluguel urbano” e “habitação precária” do déficit habitacional, “carência de serviços

de infraestrutura” e “ausência de banheiro exclusivo” da inadequação de domicílios e as

formas de provisão de terreno “compra pelo desenvolvedor privado” e “doação pelo

Estado”. Na análise das formas de provisão de terreno, buscou-se observar e comparar

a oferta do serviço urbano de transporte público no entorno dessas duas experiências

práticas, com o intuito de se analisar como essas habitações urbanas estão integradas

com um serviço urbano em seu entorno.

Os empreendimentos habitacionais analisados situam-se na Região Metropolitana

do Rio de Janeiro, mais especificamente nos bairros de Senador Camará e Estácio.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está estruturado em cinco capítulos, além de uma parte final de

referências bibliográficas.

Neste primeiro capítulo há a introdução da pesquisa, sendo apresentado o tema,

a justificativa que levou a autora a escolhê-lo, o objetivo a ser alcançado com esse

trabalho e a metodologia adotada, além da apresentação de sua estrutura.

No segundo capítulo, são apresentadas as definições de habitação e habitação

social, além das origens da intervenção do Estado brasileiro na habitação. Ainda nesse

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capítulo, é exposto um breve histórico sobre as ações habitacionais no país, sendo

evidenciadas as mudanças na forma de provisão desde o início do século XX. A seguir,

há uma sucinta apresentação da Política Nacional de Habitação (PNH) e do Plano

Nacional de Habitação (PlanHab). O último item do capítulo apresenta a metodologia

adotada oficialmente pelo governo federal, desde 1995, para o cálculo do déficit

habitacional e da inadequação de domicílios, desenvolvida pela Fundação João

Pinheiro.

O terceiro capítulo tem como foco o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)

como o programa que assumiu a maior parte da provisão habitacional social, desde

2009. O programa é apresentado através de uma visão geral evidenciando sua origem,

panorama geral, quadro institucional, quadro legal e informações sobre terreno e

infraestrutura. Após essa apresentação, são detalhadas as fases do programa, com

informações mais particulares de cada edição. Por fim, são exibidos resultados do

programa divulgados até o momento dessa pesquisa.

No quarto capítulo são descritos e analisados dois empreendimentos

habitacionais do PMCMV, o Residencial Taroni e os Residenciais Zé Keti e Ismael Silva,

localizados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Um quadro síntese e uma

discussão sobre o desempenho do PMCMV e sobre os empreendimentos estudados

finalizam esse capítulo.

O capítulo cinco apresenta as considerações finais da pesquisa, evidenciando

as considerações da autora sobre a provisão habitacional social no Brasil, em especial

na região metropolitana do Rio de Janeiro, uma vez que os exemplos analisados foram

nessa região.

Por fim, são apresentadas as referências bibliográficas consultadas no

desenvolvimento dessa pesquisa.

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2 CONTEXTO DA PROVISÃO HABITACIONAL NO

BRASIL

2.1 DEFINIÇÃO DE HABITAÇÃO E HABITAÇÃO SOCIAL

Este tópico teve como principal base o texto técnico “Introdução à Gestão

Habitacional”, do autor Alex Abiko.

Habitação é um tema que tem seu desenvolvimento diretamente relacionado ao

desenvolvimento da sociedade. Abiko (1995, p. 3) traz a definição de que “Habitação no

seu sentido mais geral é sinônimo de abrigo” e defende que, desde o início da

civilização, o ser humano sentiu necessidade de se abrigar, utilizando em primeiro lugar

espaços naturais, como cavernas e copas de árvores ou espaços protegidos por estas

copas, como forma de habitação. O autor ainda afirma que o desenvolvimento das

habilidades humanas permitiu que o homem começasse a utilizar variados materiais

para construir seu abrigo, mas que esse, apesar de mais elaborado, mantinha

primordialmente sua função básica de ser “[...] um espaço que protege o homem dos

intrusos e das intempéries. ” (ABIKO, 1995, p.3)

As aldeias, ou grupamentos de moradias, acabaram sendo criadas através do

conjunto dessas habitações primitivas. Nelas, foram desenvolvidas atividades que

passaram a gerar excedentes que eram comercializados, distribuídos e armazenados.

Este fato caracteriza a criação das primeiras cidades. Neste novo ambiente urbano,

além da função de abrigo, as habitações começam a abranger também a função

econômica de facilitar a reprodução da força de trabalho (ABIKO, 1995). Assim, a

habitação é definida como “[...] o espaço ocupado pela população após e antes do

enfrentamento de uma nova jornada de trabalho, desempenhando ali algumas tarefas

primárias como alimentação, descanso, atividades fisiológicas, convívio social.” (ABIKO,

1995, p.3).

Neste contexto, Abiko (1995) expõe que, além da necessidade de constituir um

ambiente confortável, seguro e salubre, para que as funções da habitação sejam

atingidas, é necessário que essa esteja integrada de maneira adequada ao ambiente de

seu entorno, não se limitando apenas à unidade habitacional. O autor defende ainda

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7

que, uma das principais questões urbanas, em grande parte enfrentada pelo grupo de

menor renda, é o problema habitacional.

A habitação popular é uma forma de habitação, sendo essa, segundo Abiko

(1995, p. 12), “[...] um termo genérico que define uma determinada solução de moradia

voltada para a população de baixa renda“. O autor também evidencia que a “Habitação

de interesse social ou habitação social é um termo usado pelo extinto BNH envolvendo

os seus programas para faixas de menor renda” (ABIKO, 1995, p.12), sendo BNH a

nomenclatura do antigo Banco Nacional de Habitação, extinto em 1986.

Por sua vez, o termo habitação social é definido por Bonduki (1998, p. 14) como

moradia cuja produção e financiamento é feita por órgãos estatais, atribuída à população

de baixa renda e “[...] inclui também a regulamentação estatal da locação habitacional

e incorporação, como um problema do Estado, da falta de infra-estrutura urbana gerada

pelo loteamento privado. ”

Alinhada a essa ideia, Abiko (1995, p. 17) acrescenta que:

Perante a situação de carências e dificuldades, cabe ao Poder Público a

responsabilidade de encaminhar as soluções para o problema habitacional; no

entanto, esta tarefa pode, e deve, no nosso entendimento, ser compartilhada

com a iniciativa privada e com as comunidades, que o auxiliarão na definição

e na implementação das estratégias mais adequadas (ABIKO, 1995, p. 17).

Portanto, nesta pesquisa, a expressão habitação social (ou popular) será

utilizada para se referir à habitação voltada para a população de baixa renda e terá

maior foco na provisão habitacional com apoio governamental. Além disso, essa mesma

expressão estará alinhada à ideia de que:

A habitação popular não deve ser entendida meramente como um produto e

sim como um processo, com uma dimensão física mas também como resultado

de um processo complexo de produção com determinantes políticos, sociais,

econômicos, jurídicos, ecológicos, tecnológicos. Este entendimento é

fundamental se quisermos perseguir a solução do problema habitacional com

todas as suas dificuldades e condições de contorno (ABIKO, 1995, p. 12).

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2.2 ORIGEM DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA HABITAÇÃO

Como citado anteriormente, a habitação, seja ela popular ou não, necessita estar

integrada a cidade. Assim, o crescimento urbano é um fator a ser considerado nas

questões habitacionais e, no Brasil, houve uma grande expansão populacional para os

centros urbanos no final do século XIX. Segundo Ribeiro (1997), a cidade do Rio de

Janeiro teve um crescimento populacional de 90% entre os anos de 1872 e 1890,

enquanto o parque domiciliar cresceu 62% neste mesmo período, o que,

consequentemente, gerou uma deterioração da situação habitacional. De acordo com

os dados fornecidos por Morse (1970 apud BONDUKI, 1998), entre 1890 e 1893 a

população da cidade de São Paulo cresceu consideravelmente, inclusive atingindo um

ápice de 28% por ano em 1893. É na temporada entre 1886 e 1900 que São Paulo sofre

sua primeira crise habitacional (BONDUKI, 1998).

O conceito de habitação urbana envolve serviços urbanos, infraestrutura urbana

e equipamentos sociais (ABIKO, 1995). A partir deste crescimento populacional,

Bonduki (1998) confirma que foi necessário estruturar os serviços públicos e

equipamentos coletivos. Porém, diante de tantas solicitações, o governo se deparou

com dificuldades para atender a todas. As autoridades, no final do século XIX, acabaram

por se preocupar mais com os problemas que agravavam as condições higiênicas das

habitações, uma vez que surtos epidêmicos alcançaram várias cidades do Brasil. Além

disso, surgem os primeiros sinais de segregação espacial juntamente com o problema

da habitação popular no final deste século (BONDUKI, 1998).

No entanto, Bonduki (1998) também expõe que, graças a essa preocupação com

a saúde pública, há informações sobre as habitações populares no período, uma vez

que estas representavam perigo às condições sanitárias na área urbana e fizeram parte

dos relatos dos sanitaristas.

Apesar da inicial falta de intervenção do governo no setor habitacional, de acordo

com Bonduki (1998), o afluxo de trabalhadores mal remunerados ou desempregados, a

carência de habitação popular e o descontrole da expansão urbana que pioravam as

condições de vida nos centros urbanos, forçaram as autoridades a interferir nas

questões habitacionais relacionadas ao controle de produção e ao consumo das

moradias, mesmo que o Estado liberal se esforçasse para não intervir na esfera privada.

Bonduki (1998, p. 27) ainda defende que “A (ir)racionalidade da produção capitalista de

edifícios, o loteamento indiscriminado e a precariedade dos serviços de água e esgoto

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[...]” começaram a ser uma grande ameaça à saúde pública. Ribeiro (1997, p. 211)

também confirma que “A produção rentista entra em crise a partir do fim do século XIX

sob a ação de vários fatores. O principal é a política higienista [...]”. Esse autor ainda

expõe que:

A partir deste momento, cria-se um processo de constituição de uma ideologia

sanitarista que pouco a pouco consegue impor-se na cidade e constituir-se na

legitimidade de um conjunto de intervenções do Estado sobre o espaço urbano

e sobre a moradia popular (RIBEIRO, 1997, p. 212-213).

Portanto, a origem da intervenção do Estado no controle da produção de moradia

e do ambiente urbano ocorre a partir das medidas tomadas para combater as epidemias

de 1893 (BONDUKI, 1998). Após isso, várias foram as formas de intervenção do Estado

no setor habitacional, formas estas que serão abordadas mais adiante na pesquisa.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 reconhece a moradia

como um direito social, conforme disposto no artigo 6 do capítulo II: “Dos direitos

sociais”, Título II: “Dos direitos e garantias fundamentais”:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015).

Além de a considerar responsabilidade das autoridades, conforme estabelecido

nos artigos 21, inciso XX, e artigo 23, inciso IX, do capítulo II: “Da União”, Título III: “Da

organização do Estado”:

Art. 21. Compete à União:

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,

saneamento básico e transportes urbanos;

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios:

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das

condições habitacionais e de saneamento básico;

2.3 BREVE HISTÓRICO DAS AÇÕES HABITACIONAIS

Até meados da década de 1920, as intervenções sanitárias permaneceram

ativas e vigilantes. Apesar do governo não conseguir evitar a expansão de habitações

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precárias, a política sanitarista possibilitava uma ação repressora com relação à

construção de domicílios clandestinos. No entanto, essa postura repressora, que

limitava a livre construção, fez com que as autoridades buscassem uma alternativa para

incentivar a construção de novas moradias, uma vez que o Estado liberal não se via no

dever de assumir o papel capitalista e participar diretamente da construção de

habitações. Essa concepção liberal perdurou até 1930 e o incentivo ao setor privado foi

a forma encontrada pelo poder público para fomentar a produção habitacional. Neste

período, os incentivos à iniciativa privada foram adotados em todas as regiões do país

e por todos os níveis de governo. Como já visto, o problema da habitação, nesta época,

foi enfrentado como uma questão higiênica e o Estado não atuou visando melhorar as

moradias dos grupos menos favorecidos (BONDUKI, 1998). Esse fato também é

exposto por Azevedo (1988), o qual afirma que, até 1930, a melhoria das condições dos

domicílios das classes mais pobres não era objetivo principal nas decisões do Estado

relativas à habitação popular. Outra característica desta fase foi a prevalência da

locação como forma de provisão, Bonduki (1998) informa que a porcentagem da

população que morava em domicílios alugados chegava a 80% e que muitos

investidores tinham interesse em investir na produção de moradias de aluguel.

Já na era Vargas (1930-1945), como explicita Bonduki (1998), o tema da

habitação social conseguiu força. Isso ocorre devido ao projeto nacional-

desenvolvimentista do período, que direcionou a questão habitacional a novos temas.

Este momento foi marcado pela criação ou fortalecimento de órgãos como as Carteiras

Prediais dos Institutos de Aposentadoria e Pensões e a Fundação da Casa Popular que

produziam ou financiavam a produção de domicílios, mas, mais do que isso, foi marcado

pela “[...] difusão e a aceitação da ideia de que o Estado deveria se responsabilizar por

garantir um padrão habitacional mínimo para os trabalhadores urbanos [...]” (BONDUKI,

1998, p. 210). Azevedo (1988) afirma que é neste momento que as primeiras

intervenções públicas na habitação popular surgem com o objetivo fundamental de

demonstrar a preocupação do governo com a população de baixa renda, apesar das

modestas modificações e da dúvida sobre o impacto nas condições de moradia desse

grupo. Somando-se a isso, Bonduki (1998) expõe as intervenções feitas pelas

autoridades no âmbito das relações entre inquilinos e proprietários, como a Lei do

Inquilinato de 1942, que congelou os aluguéis e foi uma das principais causas da

mudança na provisão habitacional do Brasil, pois desestimulou a produção rentista e

transferiu a responsabilidade de produção de domicílios para o governo e para os

próprios trabalhadores. Esse e outros motivos foram responsáveis pela mudança da

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abordagem habitacional após 1930, em que a casa própria passa a ser visada

(BONDUKI, 1998).

A partir da década de 40, as modificações nas relações de aluguel, que alteraram

o mercado de provisão, geraram uma crise habitacional afetando os não-proprietários.

Ademais, o enfraquecimento do mercado rentista e a falta de capacidade do governo

em possibilitar o financiamento e produção de habitação em larga escala foram motivos

para a construção informal. Esse tipo de construção pode ser sintetizado por auto

empreendimento da moradia popular em que o proprietário/morador gere a edificação,

adquire e ocupa o terreno, esquematiza a construção sem apoio técnico, providencia os

materiais, administra a mão-de-obra e efetua a construção (BONDUKI, 1998). A intensa

urbanização da segunda metade do século XX é caracterizada por esse modelo,

baseado no trinômio assentamento precário, autoconstrução e moradia própria e foi o

que permitiu habitação para 120 milhões de novos moradores das cidades brasileiras

neste período (BRASIL, 2009a).

Por sua vez, na década de 1950 e principalmente após o início da Ditadura em

1964, há a criação, agora por um Estado centralizador e autoritário, de organismos com

o intuito de planejar a ação do governo e fomentar o desenvolvimento nacional. Em 1964

foi criado o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) que tinha duas vertentes: a social,

que era operada pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), também criado em 1964,

com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS) e a voltada para

maiores rendas, a qual o recurso tinha origem no Sistema Brasileiro de Poupança e

Empréstimo (SBPE). Além disso, as obras contempladas pelo subsistema social eram

executadas pelas Companhias Habitacionais Estaduais e Municipais (COHABs),

Cooperativas Habitacionais (COOPHABs) e Caixas de Pensão (BALBIM e KRAUSE,

2014). Azevedo (1988) lembra ainda que as famílias com renda mensal de um a três

salários mínimos eram as beneficiarias de maior prioridade na gestão do BNH. No

entanto, segundo Balbim e Krause (2014), a intensa expansão urbana no período foi

superior à capacidade da produção habitacional desse sistema e muitas pessoas foram

obrigadas a buscar no mercado informal sua opção de moradia. Como era forte a

dependência dos recursos do FGTS e estes eram apenas liberados após análise

individual de cada projeto, as companhias habitacionais não conseguiam ter autonomia

e isso caracterizou o modelo do BNH como centralizador na execução da política

(BALBIM e KRAUSE, 2014). Além disso, foi constatado que menos de 10% dos terrenos

para finalidade social estavam localizados na malha urbana ou eram adjacentes a esta

e tinham acesso a transporte e serviços como abastecimento de água e energia elétrica

(SERPA, 1988 apud BRASIL, 2009a).

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A redemocratização do país coincide com a falência do BNH em 1986 e com a

falta de estruturação do setor federal responsável pela gestão da política habitacional.

A Caixa Econômica Federal (CEF) passa a contemplar algumas das atribuições do

extinto BNH e o substitui como agente financiador do SFH. Alguns processos locais de

produção de moradia social começam através de cooperativas, autoconstrução e

assistências técnicas. De 1986 a 2003, devido à instabilidade e mudanças políticas, a

política habitacional passa por vários momentos. Após a estabilização da moeda, em

1994, surgem algumas ações, como as cartas de crédito do FGTS, o Programa de

Arrendamento Residencial (PAR) e o Habitar Brasil BID (BALBIM e KRAUSE, 2014).

O período a partir de 2003 é marcado com novas mudanças nas questões

habitacionais, principalmente referente à habitação social. O Ministério das Cidades é

criado com a responsabilidade de conceber a Política Nacional de Desenvolvimento

Urbano e criar uma nova política para a Habitação de Interesse Social (HIS) (BALBIM e

KRAUSE, 2014). É incluída a Política Nacional de Habitação (PNH) que firma um novo

modelo de organização institucional com base no Sistema Nacional de Habitação

(SNH). Este, por sua vez, é dividido em dois subsistemas: o Sistema Nacional de

Habitação de Interesse Social (SNHIS), voltado para a faixa de baixa renda, e o Sistema

Nacional de Habitação de Mercado, distintos nas formas e condições de financiamento

e fontes de recursos. A CEF continua a ser o agente operador e financeiro, além de se

tornar o agente técnico dos programas financiados com recursos federais do SNHIS

(BRASIL, 2009a). É formulado, também, o Fundo Nacional de Habitação de Interesse

Social (FNHIS), em 2005, e novos programas como o Crédito Solidário, o Programa de

Aceleração de Crescimento (PAC) - Urbanização de Favelas e o Programa Minha Casa

Minha Vida (PMCMV). Ademais, há o aumento na oferta de crédito habitacional através

do Orçamento Geral da União (OGU), aumento de empréstimos pelo SBPE, de recursos

do FGTS e de novas linhas de orçamento para o PAC (BALBIM e KRAUSE, 2014).

2.4 POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO (PNH) E PLANO NACIONAL

DE HABITAÇÃO (PlanHab)

As informações contidas neste tópico foram obtidas, em sua maioria, do

documento do Plano Nacional de Habitação (PlanHab).

A Política Nacional de Habitação (PNH) foi aprovada em 2004 e, desde então,

vem sendo a principal ferramenta utilizada pelo Governo Federal para orientar a

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implementação de suas estratégias e ações no campo da habitação (BRASIL, 2009a).

Um dos principais objetivos da política foi:

Retomar o processo de planejamento do setor habitacional e garantir as

condições para atingir sua principal meta: promover as condições de acesso à

moradia digna – urbanizada e integrada à cidade – a todos os segmentos da

população, em especial para a população de baixa renda (BRASIL, 2009a,

p. 12).

Por sua vez, um dos mais importantes instrumentos para que a PNH seja

viabilizada tem sido o Plano Nacional de Habitação (PlanHab), criado em 2009 e com

horizonte temporal até 2023. Esse, por consequência, foi baseado nos princípios

estabelecidos pela PNH, os quais consideram a moradia um direito individual e coletivo

a ser atingido através do acesso à unidade com padrão digno a todos, “[...] de modo que

sejam garantidas condições de habitabilidade em áreas com infraestrutura, saneamento

ambiental, mobilidade, transporte coletivo, equipamentos, serviços urbanos e sociais”

(BRASIL, 2009a, p.12).

Também foi considerado no PlanHab que a construção civil seria um setor de

“[...] forte capacidade indutora da economia [...]” (BRASIL, 2009a, p. 11) e foi defendida

a articulação do “[...] papel anticíclico da construção civil com uma política social,

estruturada de forma consistente numa estratégia de longo prazo” (BRASIL, 2009a,

p. 11). Assim, foi ratificada a necessidade de garantir que o foco do PlanHab, que era

possibilitar as condições de acesso à habitação digna para o grupo de menor renda,

também pudesse ser o eixo estruturador de políticas que incentivassem a construção

civil e mantivessem o número de empregos (BRASIL, 2009a).

Portanto, o objetivo do PlanHab foi “[...] estruturar uma estratégia para enfrentar

a questão habitacional e urbana, um dos mais dramáticos problemas sociais, buscando

articular uma política de inclusão com o desenvolvimento econômico do país” (BRASIL,

2009a, p. 10).

Vale ressaltar que, na elaboração do PlanHab, foi considerada a diversidade

regional do Brasil. Além disso, foram criados grupos de atendimento com o objetivo de

evitar que a renda familiar fosse o único referencial e parâmetro considerado na

obtenção do financiamento habitacional (BRASIL, 2009a).

Segundo Krause, Balbim e Lima Neto (2013, p. 7), o arranjo entre política, plano

e programa “[...] comumente empregado no planejamento e na gestão das políticas

públicas [...] define uma hierarquia que associa, do mais geral ao mais particular,

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políticas a planos, esses a programas e, por fim, aos projetos específicos”. Além disso,

esses mesmo autores (2013, sinopse) afirmaram que “Desde 2009, o Programa Minha

Casa Minha Vida (PMCMV) assumiu a maior parte da provisão habitacional de interesse

social no Brasil [...]”. Logo, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) é o programa

observado nesta pesquisa, sendo melhor detalhado no capítulo 3.

2.5 DÉFICIT HABITACIONAL E INADEQUAÇÃO DE DOMICÍLIOS

Este tópico foi baseado nas informações do documento “Déficit Habitacional no

Brasil 2011-2012”, da Fundação João Pinheiro (FJP).

Como já visto, com o crescimento das cidades, a população tem enfrentado

desafios para adquirir domicílios adequados (ABIKO, 1995). Para entender melhor a

necessidade habitacional do país, é preciso compreender que situações são

consideradas no cálculo do déficit habitacional e o que é considerado domicílio

inadequado. Segundo Inês Magalhães (FJP, 2015), a metodologia adotada oficialmente

para o cálculo do déficit habitacional no Brasil, desde 1995, é a desenvolvida pela

Fundação João Pinheiro (FJP). Ainda de acordo com ela, essa metodologia é

constantemente aprimorada, sendo reconhecida por estudiosos e pesquisadores da

área habitacional como uma referência confiável. Utiliza base de dados fidedignos

produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) provenientes das

Pesquisas Nacionais de Amostra de Domicílios (PNAD) (FJP, 2015).

Essa metodologia divide a área habitacional em duas vertentes: déficit

habitacional e inadequação dos domicílios. Déficit habitacional é compreendido como

“[...] a noção mais imediata e intuitiva de necessidade de construção de novas moradias

para a solução de problemas sociais e específicos de habitação detectados em certo

momento” (FJP, 2015, p.16). Por sua vez, a inadequação de domicílios “[...] reflete

problemas na qualidade de vida dos moradores: não estão relacionados ao

dimensionamento do estoque de habitações e sim às suas especificidades internas”

(FJP, 2015, p.16).

O déficit habitacional é relacionado ao estoque de moradias, podendo ser

compreendido como déficit por reposição de estoque e déficit por incremento de

estoque. O déficit por reposição de estoque inclui os domicílios sem condições de serem

habitados devido à precariedade das construções ou pelo desgaste da estrutura física.

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Está associado aos domicílios considerados rústicos, ou seja, habitações sem paredes

de alvenaria ou de madeira emparelhada. Esse tipo de construção gera desconforto e é

mais suscetível à contaminação por doenças, resultantes das condições de

insalubridade desse ambiente. A reposição também contempla a depreciação dos

domicílios, pois pressupõe-se que este tem um limite de vida útil e que, dependendo da

conservação do imóvel, é necessária sua substituição completa (FJP, 2015).

Por sua vez, o déficit por incremento de estoque engloba domicílios

improvisados, sendo estes locais e imóveis que não tem fins residenciais e moradias

alternativas como imóveis comerciais, moradias embaixo de pontes e viadutos, etc.

Parte da coabitação familiar também é considerada, esta contemplando as famílias que

vivem em um cômodo e apenas as famílias conviventes que respondem afirmativamente

à aspiração de estabelecer um domicílio exclusivo no questionário realizado pelo IBGE.

Além desses componentes, dois tipos de habitações alugadas são considerados no

déficit por incremento: o ônus excessivo com aluguel urbano e o adensamento

excessivo de domicílios alugados. O primeiro contempla as famílias urbanas cuja renda

familiar é de até três salários mínimos (SM) e que gastam 30% ou mais desta renda com

locação de um domicílio urbano durável. O segundo refere-se ao adensamento

excessivo de moradores, ou seja, mais de três pessoas por dormitório, onde o inquilino

é impossibilitado de realizar ampliação ou venda da habitação. Vale ressaltar que essa

situação em imóveis próprios é considerada inadequação de domicílios e não déficit

habitacional, já que o proprietário tem o poder de fazer uma ampliação ou vender a

unidade para melhor adequação (FJP, 2015).

O quadro 1 mostra um resumo dos componentes e subcomponentes do déficit

habitacional:

Quadro 1: Componentes e Subcomponentes do Déficit Habitacional

Componentes e subcomponentes do déficit habitacional

Habitação Precária Domicílios rústicos

Domicílios improvisados

Coabitação familiar Famílias conviventes

Cômodo

Ônus excessivo com aluguel urbano -

Adensamento excessivo de domicílios alugados -

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pela autora.

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A inadequação de domicílios é associada às moradias que não permitem

condições desejáveis de habitação, mas não é relacionada necessariamente à

construção de novas unidades. Na metodologia da Fundação João Pinheiro, apenas é

considerada a inadequação de unidades localizadas nas áreas urbanas uma vez que

os dados empregados não contemplam as formas diferenciadas de adequação das

áreas rurais. Além disso, os componentes considerados na análise do déficit

habitacional também não são inseridos no cálculo da inadequação (FJP, 2015).

Segundo a FJP (2015), as habitações com carência de infraestrutura são

classificadas como inadequadas apenas quando não possuem pelo menos um dos

serviços básicos: rede geral de abastecimento de água com canalização interna, rede

geral de esgotamento sanitário ou fossa séptica, iluminação elétrica e coleta de lixo.

Outro componente é o adensamento excessivo de domicílios próprios, quando há mais

de três pessoas por dormitório. A inadequação fundiária também é considerada no

cálculo, pois diz respeito ao caso em que pelo menos um dos habitantes tem a

propriedade da unidade, mas não a do terreno ou da fração ideal de terreno, total ou

parcialmente, onde o domicílio se localiza. Habitações compostas de telhado de madeira

aproveitada, zinco, lata ou palha, mesmo que constituídas de paredes de alvenaria ou

madeira emparelhada, são consideradas com cobertura inadequada, mais um

componente da inadequação de domicílios. A falta de banheiro de uso exclusivo

também caracteriza um dos tópicos contemplados na verificação pois define a

inexistência de unidade sanitária domiciliar exclusiva (FJP, 2015).

O quadro 2 apresenta os componentes e subcomponentes da inadequação de

domicílios urbanos:

Quadro 2: Componentes e Subcomponentes da Inadequação de Domicílios Urbanos

Componentes e subcomponentes da inadequação de domicílios urbanos

Carência de Infraestrutura

Energia Elétrica

Água

Esgotamento Sanitário

Coleta de Lixo

Adensamento excessivo de domicílios próprios -

Ausência de banheiro exclusivo -

Cobertura Inadequada -

Inadequação fundiária -

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pela autora.

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Serão apresentados, no quadro 3, os conceitos e indicadores citados:

Quadro 3: Conceitos e Indicadores da metodologia da Fundação João Pinheiro

Conceitos e Indicadores

Definição

Carência de serviços de

infraestrutura

Domicílios que não dispõem de ao menos um dos seguintes serviços básicos: iluminação elétrica, rede geral de abastecimento de água com canalização interna, rede geral de esgotamento sanitário ou fossa séptica e coleta de lixo.

Coabitação familiar

Compreende a soma das famílias conviventes secundárias (apenas aquelas que têm intenção de constituir domicílio exclusivo são consideradas déficit habitacional) e das que vivem em domicílios localizados em cômodos – exceto os cedidos por empregador.

Cobertura inadequada

Domicílios com paredes de alvenaria ou madeira aparelhada e cobertura de zinco, palha, sapê, madeira aproveitada ou outro material que não seja telha, laje de concreto ou madeira aparelhada

Cômodos Domicílios particulares compostos por um ou mais aposentos localizados em casa de cômodo, cortiço, cabeça-de-porco, etc.

Déficit habitacional Noção mais imediata e intuitiva de necessidade de construção de novas moradias para a solução de problemas sociais e específicos de habitação detectados em certo momento.

Densidade excessiva de

moradores por dormitório

Quando o domicílio apresenta um número médio de moradores superior a três por dormitório.

Domicílios improvisados

Locais construídos sem fins residenciais que servem como moradia, tais como barracas, viadutos, prédios em construção, carros etc.

Domicílios rústicos Domicílios sem paredes de alvenaria ou madeira aparelhada, o que resulta em desconforto e risco de contaminação por doenças, em decorrência das suas condições de insalubridade.

Famílias conviventes ou

famílias conviventes secundárias

São constituídas por, no mínimo, duas pessoas ligadas por laço de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, e que residem no mesmo domicílio com outra família denominada principal. Apenas aquelas que têm intenção de constituir domicílio exclusivo são consideradas déficit habitacional.

Habitações precárias

Conceito que contabiliza os domicílios improvisados e os domicílios rústicos, considerando que ambos caracterizam déficit habitacional.

Inadequação de domicílios urbanos

Reflete problemas na qualidade de vida dos moradores. Não estão relacionados ao dimensionamento do estoque de habitações e sim a especificidades internas do mesmo.

Inadequação fundiária urbana

Situação onde pelo menos um dos moradores do domicílio declara ter a propriedade da moradia, mas informa não possuir a propriedade, total ou parcial, do terreno ou a fração ideal de terreno (no caso de apartamento) em que ela se localiza.

Inexistência de unidade sanitária

domiciliar exclusiva Domicílio que não dispõe de banheiro ou sanitário de uso exclusivo.

Ônus excessivo com aluguel

Corresponde ao número de famílias urbanas, com renda familiar de até três salários mínimos, que moram em casa ou apartamento e que despendem mais de 30% de sua renda com aluguel.

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pela autora.

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De acordo com a FJP (2015), o déficit habitacional total no Brasil, no ano de

2012, chegou a 5,430 milhões de domicílios, sendo que 85,9% estavam localizados na

região urbana. Além disso, ainda apresenta que 38,8% desse déficit localizava-se na

região Sudeste, representando o maior percentual do país neste período. Portanto, a

autora decidiu observar o Sudeste, sendo escolhida a região metropolitana (RM) do Rio

de Janeiro como área de estudo.

Ademais, a FJP (2015) também calcula o déficit de acordo com as faixas de

renda média familiar mensal em termos de salários mínimos (SM). Com relação à essa

classificação, a maior concentração do déficit, no ano de 2012, encontrava-se na faixa

cujas famílias tinham renda mensal de até 3 SM, a qual representava 82,5% do déficit

total no Brasil (FJP, 2015). Com isso, além dessa pesquisa atentar para população de

baixa renda, tem maior foco na faixa de até 3 SM.

A seguir, serão apresentados os valores mais detalhados do déficit habitacional

em número de domicílios entre 2008 e 2012, no Brasil e na RM do Rio de Janeiro. O

ano de 2010 não será detalhado pois foi um ano de realização de censo demográfico e,

segundo a FJP “Não é recomendável comparar resultados de bases de dados com

planos amostrais distintos, como é o caso do Censo Demográfico 2010, e as Pnad de

2007 a 2012” (FJP, 2015, p. 96).

Seguem os dados segundo a FJP (2015):

Tabela 1: Déficit habitacional total – 2008, 2009, 2011 e 2012

2008 2009 2011 2012

Brasil 5.437.709 5.897.976 5.581.968 5.430.562

RM Rio de Janeiro 311.808 271.852 270.022 291.682

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pela autora.

Foi possível perceber que, apesar do aumento do déficit no Brasil entre 2008 e

2009, este decresceu até 2012. Por sua vez, na RM do Rio de Janeiro, não ocorreu o

mesmo. Observou-se um decréscimo entre 2008 e 2011, mas o déficit voltou a crescer

entre 2011 e 2012.

Já com relação à inadequação de domicílios, vale destacar que:

[...] são objeto de estudo apenas os domicílios não identificados como em

situação de déficit habitacional em função de sua estrutura física. São

excluídas, portanto, as habitações precárias – as improvisadas e as rústicas –

e os domicílios do tipo cômodo, incluídos como coabitação familiar. Em

segundo lugar, como as variáveis consideradas são características das áreas

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urbanas, são excluídos da análise os domicílios localizados nas áreas rurais.

O terceiro e último aspecto a considerar é que, como um domicílio pode ser

inadequado segundo mais de um critério, não é possível sua totalização –

soma dos componentes – sob pena de dupla contagem. (FJP, 2015, p.61).

Assim, serão apresentados os dados de cada subcomponente da inadequação

de domicílios entre os anos de 2008 e 2012, sendo o ano de 2010 dispensado

novamente. Segue a tabela relativa ao número de domicílios inadequados por

subcomponente no Brasil:

Tabela 2: Domicílios segundo os critérios de inadequação de domicílios no Brasil – 2008, 2009, 2011 e 2012

Brasil 2008 2009 2011 2012

Inadequação fundiária 1.708.137 1.938.455 2.117.960 2.041.402

Domicílios sem banheiro 346.233 323.073 266.589 261.408

Carência de Infraestrutura 10.761.951 11.356.107 10.240.927 10.323.559

Adensamento Excessivo 1.193.955 1.123.521 1.097.958 1.073.720

Cobertura Inadequada 602.917 534.821 900.953 848.218

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pela autora.

A próxima tabela evidencia o número de domicílios inadequados por

subcomponente na RM do Rio de Janeiro:

Tabela 3: Domicílios segundo os critérios de inadequação de domicílios na Região Metropolitana do Rio de Janeiro – 2008, 2009, 2011 e 2012

RM Rio de Janeiro 2008 2009 2011 2012

Inadequação fundiária 106.938 178.115 288.871 252.755

Domicílios sem banheiro 9.662 6.874 7.407 9.576

Carência de Infraestrutura 537.292 536.225 668.033 550.831

Adensamento Excessivo 128.203 109.988 137.373 154.463

Cobertura Inadequada 30.278 19.374 18.854 21.700

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pela autora.

Identificou-se que o subcomponente de maior expressividade é a carência de

infraestrutura, atingindo mais de 10 milhões de domicílios no Brasil e mais de 550 mil

na RM do Rio de Janeiro.

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3 PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA (PMCMV)

Neste capítulo serão apresentadas maiores informações sobre o Programa

Minha Casa Minha Vida (PMCMV), o qual já foi apresentado no capítulo anterior como

o programa que, desde 2009, “ [...] assumiu a maior parte da provisão habitacional de

interesse social no Brasil [...] ” (KRAUSE, BALBIM e LIMA NETO, 2013, sinopse).

Serão abordados os principais aspectos do programa através de uma descrição

de seus objetivos, origem, quadro institucional, quadro legal, terreno e infraestrutura

além de serem apresentados maiores detalhes sobre como ele funciona, as

características de cada fase, principais mudanças desde sua implementação, dentre

outros. Será somada a isso, a exposição de alguns resultados do PMCMV divulgados

até o momento desta pesquisa. As informações a seguir foram retiradas, por exemplo,

de relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU), cartilha da Caixa Econômica

Federal (CEF) disponibilizada no site do Sinduscon-Rio, cartilha e informações

dispostas no site do Ministério das Cidades, documento da UN-Habitat sobre o

programa, dentre outros, todos devidamente referenciados. Vale ressaltar que a autora

teve dificuldades em encontrar certos dados, tendo até mesmo entrado em contato com

um funcionário da CEF que foi muito solicito, porém, como muitas informações são de

caráter sigiloso, não foram disponibilizadas.

3.1 O PROGRAMA

Segundo o site do Ministério das Cidades (www.cidades.gov.br, 2016a), o

PMCMV é um programa habitacional do Governo Federal que visa facilitar o acesso a

casa própria para famílias de baixa renda, prevendo diferentes formas de atendimento

e levando em consideração a localização do imóvel (na área urbana ou rural), a renda

familiar e o valor da unidade habitacional. É considerado pelo governo uma estratégia

inovadora por promover habitação digna e contribuir para o desenvolvimento econômico

do setor da construção civil, gerando renda e emprego (www.cidades.gov.br, 2016b).

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3.2 ORIGEM

Entre 2007 e 2008, houve um boom imobiliário devido à abertura de capital de

muitas empresas do setor imobiliário na bolsa e uma forte inversão de capital externo.

Porém, uma crise econômica internacional trouxe incertezas e paralisou a construção

civil no Brasil, o que gerou uma forte queda de atividades neste setor (BONDUKI, 2009).

Segundo o documento do PlanHab (BRASIL, 2009a, p.11), “O setor da construção civil,

em todos os seus segmentos, tem uma participação expressiva na economia brasileira

[...]”. Assim, de acordo com Bonduki (2009), “Esse ‘pacote’, maturado inicialmente no

Ministério da Fazenda, tem origem nesse quadro como uma ação emergencial

anticíclica de apoio ao setor privado para evitar o desemprego, ameaça concreta na

virada de 2009” (BONDUKI, 2009, p. 12). O PMCMV foi concebido em 2009, neste

contexto de crise econômica internacional.

Este cenário também é ratificado pela UN-Habitat (2013), em seu documento

sobre o PMCMV, apresentando que esse “ [...] foi projetado como um pacote de estímulo

para integrar esforços nacionais para superar a crise financeira global, criando demanda

direta em setores de intenso emprego e melhorando o acesso à moradia” (UN-HABITAT,

2013, p. 31, tradução da autora).

Segundo Balbim, Krause e Lima Neto (2015, p. 8), “Desde 2009, o programa

vem concentrando a maior parte da produção habitacional, tanto de interesse social

como para o chamado segmento econômico, no Brasil”.

3.3 PANORAMA GERAL

O objetivo inicial do programa era a construção de 1 milhão de unidades

habitacionais (CEF, [2009?])1, o que caracterizaria sua primeira fase, a qual a autora

denominará, nesta pesquisa, de PMCMV 1. Com o passar do tempo, foram sendo

criadas novas fases (PMCMV 2 e PMCMV 3) e novas metas, que serão melhor

detalhadas adiante na pesquisa. Há benefícios diferentes de acordo com a renda

mensal da família, que também serão especificados no decorrer do trabalho. É um

programa que abrange todos os municípios brasileiros, compreendendo modalidades

urbanas e rurais (www.cidades.gov.br, 2016c). De acordo com a lei nº 12.424 de junho

1 O documento não apresenta data, logo, o ano de 2009 é utilizado como data provável. Foi considerado

esse ano por se tratar de um documento que apresenta condições iniciais do PMCMV, que foi lançado em

2009.

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de 2011, o PMCMV compreende dois subprogramas: Programa Nacional de Habitação

Urbana (PNHU) e Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR).

3.4 QUADRO INSTITUCIONAL

Os principais atores do programa e suas responsabilidades mais relevantes,

evidenciados no documento da UN-Habitat (2013), são apresentados no quadro a

seguir:

Quadro 4: Principais atores do PMCMV e suas responsabilidades mais relevantes

Atores Principais responsabilidades

Casa Civil e Ministério da Fazenda

Esses órgãos foram os responsáveis por desenvolver a parte financeira do programa. Além disso, o Ministério da Fazenda, junto ao Ministério das Cidades, é responsável por definir as regras e condições gerais para a distribuição regional de recursos do PNHU e do PNHR, além de monitorar a implementação desses programas.

Ministério das Cidades

Ele é o gestor do PMCMV, através da Secretaria Nacional de Habitação. É quem define toda a operação, regras e regulamentação para as diferentes modalidades, define o papel e as responsabilidades dos atores envolvidos, dentre outros aspectos de implementação e monitoramento.

Caixa Econômica Federal (CEF)

É o principal agente financeiro do programa, responsável por gerenciar os recursos, providenciar empréstimos para as construtoras e financiar os beneficiários, por exemplo. Além disso, o banco define os critérios técnicos e acompanha a execução dos projetos.

Estados e Municípios

Essas esferas do governo são responsáveis por cadastrar a demanda e selecionar os beneficiários de suas regiões. Também são importantes atores em fomentar projetos, seja por meio de dinheiro, provisão de infraestrutura e serviços ou doação de terrenos, por exemplo.

Movimentos Sociais, Associações (ou

Cooperativas) Comunitárias, dentre

outros

São responsáveis por cadastrar e organizar a demanda, adquirir terra, elaborar, executar e gerenciar projetos dentro da modalidade PMCMV-Entidades (PMCMV-E).

Setor Privado

Tem o papel de construir as unidades habitacionais do PMCMV dentro dos parâmetros e regras estabelecidas pelo Ministério das Cidades e pela CEF. Com relação à comercialização, este ator pode ser responsável por vender as habitações relacionadas às faixas de renda mais altas, enquanto a CEF é responsável por gerir o estoque e a venda das unidades voltadas para o grupo de menor renda.

Fonte: UN-Habitat (2013). Elaboração da autora.

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3.5 QUADRO LEGAL

O PMCMV foi instituído pela medida provisória nº 459, a qual foi convertida na

lei nº11.977, em julho de 2009 (TCU, 2010). Desde então, outras leis, como a de

nº12.424, de junho de 2011, modificaram ou incluíram regras na lei original. Segundo a

UN-Habitat (2013), tais leis federais regulam o programa de uma forma geral.

Desde sua criação, também foram aprovadas diversas emendas, decretos,

portarias e instruções normativas, que, normalmente, se referem a questões mais

específicas de elementos de implementação e modalidades, por exemplo (UN-

HABITAT, 2013).

Também vale destacar a lei nº 6766, de 19 de dezembro de 1979, a qual dispõe

sobre o parcelamento do solo para fins urbanos, abordado sobre a infraestrutura básica,

requisitos urbanísticos, dentre outras providências importantes relacionadas ao

loteamento.

3.6 TERRENO E INFRAESTRUTURA

Em seu documento sobre o PMCMV, a UN-Habitat (2013) apresentou que a

aquisição de terra para o programa inclui, principalmente, os seguintes acordos: os

governos locais podem intermediar a negociação entre os donos de terra e os

interessados em desenvolver projetos para produção de habitação social com os

recursos do programa; esses mesmos investidores podem adquirir a terra diretamente

com os proprietários; os donos de terreno podem procurar um investidor interessado em

construir habitação social com os recursos do PMCMV em suas terras ou eles mesmos

podem conduzir um projeto de construção sozinhos; os governos locais podem auxiliar

entidades a negociar e executar um acordo com os proprietários; ou, associações e

cooperativas podem comprar diretamente do dono da terra, utilizando os recursos do

programa.

O mais comum é que os investidores comprem terra ou utilizem seus próprios

estoques de terreno, normalmente para projetos voltados para as faixas de renda mais

altas. Para modalidades relacionadas à faixa de renda mais baixa, a forma mais usual

é a partir da parceria entre o governo estadual ou municipal e investidores privados, em

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que a esfera pública providencia doação de terreno ou subsídios adicionais para

aquisição desse (UN-HABITAT, 2013).

É interessante destacar que, segundo art. 3º, § 1º, da lei 11.977 de 2009, em

regiões urbanas, é dada prioridade de atendimento aos projetos que contemplem

doação de terreno, nesta região, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios.

Além disso, aos projetos cujas essas esferas de governo implementem medidas de

desoneração tributária para a produção de habitação de interesse social e/ou que

implementem os instrumentos da lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da

Cidade), que se referem ao controle da retenção das regiões urbanas em estado ocioso.

Assim, é possível verificar o papel fundamental da intervenção dos Estados e

municípios na provisão de terras para atrair projetos do PMCMV. Na segunda cartilha

do documento “Como produzir moradia bem localizada com os recursos do programa

Minha Casa Minha Vida? Implementando os instrumentos do Estatuto da Cidade!”, os

autores Rolnik, Klintowitz, Reis e Bischof ([2009?])2 apresentaram alguns instrumentos

urbanos que os governos locais poderiam utilizar para facilitar a implementação de

projetos em terrenos bem localizados. Esses instrumentos são: criação de Zonas

Especiais de Interesse Social (ZEIS); Parcelamento, Edificação e Utilização

Compulsória (PEUC); Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo no tempo;

desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública; e, consórcio imobiliário.

Além desses instrumentos, para auxiliar a compra de terrenos por entidades, o

governo também criou a possibilidade de compra antecipada da terra, em que o

Ministério das Cidades e a CEF poderiam autorizar o contrato da operação antes mesmo

da aprovação do projeto, para poder liberar parte dos recursos para a aquisição do

terreno (UN-HABITAT, 2013).

O programa também define que a infraestrutura é uma condição para se

conseguir um contrato com a CEF (UN-HABITAT, 2013). O projeto é priorizado se

houver existência prévia de infraestrutura na região ou se houver oferta pelos governos

locais de provisão de infraestrutura para o empreendimento (CEF, [2009?]).

A lei nº 12.424/2011, acrescentou ao art. 5º-A da lei nº 11.977/2009, os seguintes

tópicos:

2 O documento não apresenta data, logo, o ano de 2009 é utilizado como data provável. Foi considerado

esse ano por se tratar de um documento que apresenta o PMCMV na sua etapa inicial, sendo que este foi

lançado em 2009.

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Art. 5º-A. Para a implantação de empreendimentos no âmbito do PNHU,

deverão ser observados:

[...]

III - infraestrutura básica que inclua vias de acesso, iluminação pública e

solução de esgotamento sanitário e de drenagem de águas pluviais e permita

ligações domiciliares de abastecimento de água e energia elétrica; e

IV - a existência ou compromisso do poder público local de instalação ou de

ampliação dos equipamentos e serviços relacionados a educação, saúde, lazer

e transporte público.

3.7 FASES DO PROGRAMA

Serão apresentadas as modalidades e seus principais detalhes na primeira fase

do programa (PMCMV 1). Após isso, serão apenas destacadas as alterações mais

importantes de uma fase para a outra, as quais a autora teve acesso e considerou mais

relevantes para a pesquisa. A modalidade do PNHR será citada, mas como a área rural

não é o foco deste trabalho, essa modalidade não será tão detalhada.

3.7.1 PMCMV 1

A primeira fase do PMCMV teve como objetivo “[...] criar mecanismos de

incentivo à produção e à aquisição de novas unidades habitacionais pelas famílias com

renda mensal de até 10 salários mínimos (SM) ” (TCU, 2010, p. 181). A meta era

oferecer um milhão de domicílios no triênio 2009/2011, distribuídas da seguinte forma:

400 mil unidades para famílias com faixa de renda de 0 a 3 SM, 400 mil com faixa de 3

a 6 SM e 200 mil para as famílias com renda de 6 a 10 SM (TCU, 2010). Essas faixas

de renda foram denominadas como: Faixa 1 (0 a 3 SM), Faixa 2 (3 a 6 SM) e Faixa 3 (6

a 10 SM). Ainda de acordo com esse relatório (TCU, 2010), há duas formas de execução

do programa, uma relacionada à produção de novas moradias e outra relativa ao

financiamento direto dos favorecidos finais na obtenção da habitação. A forma da

operação da produção varia de acordo com a faixa de renda atendida.

A seguir, serão apresentadas as modalidades que faziam parte do Programa

Nacional de Habitação Urbana (PNHU). As duas principais bases de informação foram

a Cartilha “Minha Casa Minha Vida . Moradia para as famílias. Renda para os

trabalhadores. Desenvolvimento para o Brasil” da Caixa Econômica Federal,

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disponibilizada no site do Sinduscon-Rio, e o documento da UN-Habitat sobre o

PMCMV.

3.7.1.1 PMCMV - FAR (Faixa 1)

Nesta modalidade, o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), cuja gestora é

a CEF, recebeu recursos transferidos do Orçamento Geral da União (OGU) (UN-

HABITAT, 2013). As famílias que se encaixassem na Faixa 1 (0 a 3 SM) seriam

beneficiadas com aumento considerável do subsídio para adquirir habitação de

interesse social (CEF, [2009?]).

O funcionamento era previsto da seguinte maneira: a União deveria alocar os

recursos por área do território nacional, enquanto os Estados e municípios cadastravam

a demanda e selecionavam as famílias a serem indicadas. Por sua vez, as construtoras

deveriam apresentar os projetos à CEF que analisava, contratava a operação,

acompanhava a execução da obra pela construtora, liberava os recursos de acordo com

o cronograma e vendia as unidades (CEF, [2009?]).

As áreas beneficiadas eram capitais e suas regiões metropolitanas e municípios

com mais de 100 mil habitantes. Eram abertas algumas exceções para municípios com

população entre 50 e 100 mil, de acordo com o déficit habitacional dessas regiões (CEF,

[2009?]).

As condições para a compra do imóvel pelo favorecido desta faixa

compreendiam passar por uma análise de enquadramento familiar, mas não uma

análise de risco de crédito. Para participar, o beneficiário não poderia ter casa própria

ou financiamento em qualquer Unidade Federativa, além de não poder ter usufruído de

algum outro programa de habitação social do governo. Vale ressaltar a proteção a

mulher, uma vez que era dada a preferência de registro do imóvel em seu nome.

Ademais, o beneficiário deveria arcar com o pagamento de 10% de sua renda mensal

durante 10 anos, com prestação mínima de R$ 50,00 ao mês (CEF, [2009?]).

Em seu documento, a UN-Habitat (2013) aponta que, após o pagamento da

amortização em 10 anos, o mutuário teria o direito de comercializar a unidade

habitacional. Porém, caso este decidisse antecipar essa amortização, precisaria pagar

o valor integral da unidade, sem a dedução dos subsídios. Esta medida foi estabelecida

para evitar a comercialização generalizada e salvaguardar a finalidade social da

subvenção pública.

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Os empreendimentos desta faixa também foram especificados, podendo ser

casas térreas ou prédios, ambos seguindo parâmetros pré-definidos pela CEF. Foram

permitidos projetos de até 500 unidades por módulo ou condomínios segmentados em

250 unidades (CEF, [2009?]). A tabela 4 apresenta mais detalhes das tipologias:

Tabela 4: Tipologias da modalidade PMCMV-FAR

Tipologia Área total

(m²) Área Interna

(m²) Compartimentos

Casa Térrea 35 32 Sala, cozinha, banheiro, 2 dormitórios,

área externa com tanque

Apartamento 42 37 Sala, cozinha, área de serviço, banheiro,

2 dormitórios

Fonte: CEF, [2009?]. Elaboração da autora.

Além disso, os prédios poderiam ter 4 pavimentos com 16 unidades por bloco ou

até 5 pavimentos com 20 unidades por bloco (CEF, [2009?]).

Os valores das unidades habitacionais, no PMCMV 1, dependiam da região onde

essas eram construídas, variando de R$ 20.000,00 a R$ 48.000,00 para as casas

térreas e de R$ 20.000,00 a R$ 52.000,00 para os apartamentos (UN-HABITAT, 2013).

3.7.1.2 PMCMV – OFERTA PÚBLICA (Faixa 1)

Esta modalidade tinha como público-alvo cidades com menos de 50 mil

habitantes e famílias da Faixa 1 do programa (UN-HABITAT, 2013).

Os Estados e municípios deveriam submeter propostas, além de ser esperado

que também dessem alguma contrapartida para auxiliar o projeto. A execução desse

seria na mesma linha da modalidade PMCMV-FAR, sendo as empresas privadas

responsáveis por construir as unidades habitacionais. Nesta modalidade de oferta

pública, não só a CEF poderia ser o agente financeiro, como também outros bancos que

seriam responsáveis por gerenciar os recursos e acompanhar a execução da obra. Os

beneficiários poderiam comprar a habitação produzida com auxílio de financiamento

habitacional. O valor da unidade foi fixado em R$ 25.000,00 (UN-HABITAT, 2013).

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3.7.1.3 PMCMV – ENTIDADES (Faixa 1)

O PMCMV – Entidades (PMCMV-E) foi a modalidade do programa arquitetada

para atender as famílias com renda de até 3 SM que fossem organizadas de forma

associativa por entidades sem fins lucrativos. Essas entidades poderiam ser

cooperativas, associações, dentre outras (CEF, [2009?]). Os recursos eram transferidos

do OGU para o Fundo de Desenvolvimento Social (FDS), este gerido pela CEF. Essa

modalidade tinha a finalidade de subsidiar e financiar a aquisição de terreno, construção

ou reforma de habitações em áreas urbanas (UN-HABITAT, 2013).

A operacionalização prevista era: os recursos deveriam ser alocados pelo

Conselho Curador do Fundo de Desenvolvimento Social (CCFDS) nas regiões do país

enquanto as entidades deveriam apresentar os projetos para a CEF, sendo que esses

poderiam ser feitos com os governos locais. Por sua vez, a CEF analisaria e

encaminharia para o Ministério das Cidades, que selecionaria os projetos. Com os

projetos já definidos, a entidade apresentaria a demanda a ser atendida enquanto a CEF

verificaria se essa estaria enquadrada nos critérios de seleção. Por fim, a CEF

contrataria a operação, liberaria os recursos de acordo com o cronograma da obra e

acompanharia a execução do projeto (CEF, [2009?]).

Com relação à construção, vários sistemas poderiam ser utilizados, como:

mutirões, em que os favorecidos ajudariam no processo de construção; auto-gestão,

que inclui a terceirização de algumas partes que precisariam de maior conhecimento

técnico; e, empreitada global, em que poderia ser contratada uma empresa responsável

pela implementação do projeto, mas cuja gestão seria da entidade e dos beneficiários

(UN-HABITAT, 2013).

A abrangência dessa modalidade era nacional e compreendia as mesmas

condições para aprovação de compra e de pagamento pelo beneficiário que as do

PMCMV-FAR (CEF, [2009?]). Com relação às entidades, estas já deveriam ser inscritas

e certificadas pelo Ministério das Cidades e pela CEF (UN-HABITAT, 2013).

3.7.1.4 PMCMV – FGTS (Faixas 2 e 3)

A modalidade do PMCMV prevista para utilizar os recursos do Fundo de Garantia

do Tempo de Serviço (FGTS) atendia a população com renda mensal entre 3 e 6 SM

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(Faixa 2), que teria aumento do valor do subsídio nos financiamentos deste fundo, e as

famílias com renda de 6 a 10 SM (Faixa 3), que seriam beneficiadas com redução dos

custos de seguro e possibilidade de acesso ao Fundo Garantidor da Habitação Popular

(FGHab) (CEF, [2009?]). A Faixa 2 também tinha acesso ao FGHab (UN-HABITAT,

2013). O TCU (2010) aponta que o FGHab tem por finalidade arcar com as parcelas no

caso de inadimplência, cujo motivo seja o desemprego. Este fundo cobre entre 12 e 36

prestações, dependendo da renda mensal do mutuário. Além disso, há o financiamento

às construtoras para produção das habitações para essas duas faixas, sendo que essas

construtoras também comercializariam as unidades para os favorecidos finais (TCU,

2010).

O financiamento dos empreendimentos tinha o seguinte funcionamento: a União

e o FGTS deveriam alocar os recursos nas regiões e as construtoras apresentariam os

projetos à CEF. Com relação a aprovação do projeto, a CEF faria uma pré-análise e

autorizaria o lançamento e comercialização pela construtora, mas só quando a análise

fosse concluída e houvesse comprovação de que foi comercializado o mínimo solicitado,

seria efetuado o Contrato de Financiamento à Produção. No período da construção, a

CEF financiaria o beneficiário e, ao mesmo tempo, esse valor seria abatido da dívida da

empresa construtora. A CEF deveria realizar as vistorias e liberar os recursos de acordo

com o cronograma. Ao final da construção, as unidades habitacionais seriam entregues

aos mutuários pela empresa (CEF, [2009?]).

Com relação à solicitação de financiamento pelo favorecido, este deveria

escolher uma habitação no mercado, solicitar crédito e subsídio à CEF, comprovar que

se enquadrava nos critérios do programa e que o valor da unidade e suas características

também estavam de acordo com os limites estabelecidos pelo PMCMV-FGTS. O

subsídio com recursos do OGU só era permitido à Faixa 2 (de 3 a 6 SM), variando de

R$ 7.000,00 a R$ 23.000,00, dependendo da renda e da localização da habitação (UN-

HABITAT, 2013).

A abrangência desta modalidade era a mesma que a da PMCMV-FAR, porém,

as condições para o favorecido eram diferentes. Havia análise de risco e verificação de

capacidade de pagamento. Além disso, o solicitante não poderia estar sendo financiado

ativamente nas condições do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), em nenhuma

região do país, dentre outras condições (CEF, [2009?]).

Com relação às características do empreendimento, não havia uma

especificação padrão a ser seguida, mas ele deveria ter valor de avaliação compatível

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com a renda mensal desse público-alvo. Ao mesmo tempo, o projeto proposto pela

empresa deveria estar alinhado com as normas brasileiras, a legislação municipal e com

os parâmetros mínimos de avaliação da CEF. Cada modulo do empreendimento deveria

ter no máximo 500 unidades (CEF, [2009?]). Além disso, o valor das habitações

dependia da região em que elas eram produzidas e variavam de R$ 80.000,00 a R$

170.000,00 (UN-HABITAT, 2013).

Já a modalidade referente ao Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR)

era denominada PMCMV – Rural e tinha o intuito de subsidiar a construção, aquisição

ou reforma de habitações para famílias que morassem em áreas rurais. Para participar,

essas famílias deveriam estar organizadas em entidades, assim como no PMCMV-E,

porém, ligadas ao meio rural (UN-HABITAT, 2013).

A operacionalização era prevista da mesma forma que na PMCMV-E, porém, ao

invés do CCFDS alocar os recursos, quem alocaria neste caso seria o próprio Ministério

das Cidades (CEF, [2009?]).

As faixas de renda contempladas na PNHR eram diferentes das faixas

consideradas na PNHU. Como o foco do trabalho não é a área rural, não serão expostos

maiores detalhes.

3.7.2 PMCMV 2

Por sua vez, em sua segunda edição (PMCMV 2) o programa passou a fazer

parte de um dos eixos de atuação da segunda fase do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC), que contemplava o período de 2011 a 2014 (TCU, 2012). O

PMCMV 2 começou com uma meta de contratar 2 milhões de unidades habitacionais,

sendo previsto 60% para a Faixa 1, demostrando um maior foco do governo em prover

habitação para a faixa de menor renda, em comparação com o que havia sido proposto

na primeira etapa do programa, na qual apenas 40% era previsto para essa faixa (UN-

HABITAT, 2013). Porém, a meta foi aumentada duas vezes: 2,4 milhões em 2012 e 2,75

milhões em 2013 (TCU, 2014).

Outra modificação importante foi com relação ao teto das faixas de renda, uma

vez que este foi adequado à mudança no valor do salário mínimo. A Faixa 1 passou a

contemplar as famílias com renda mensal bruta de até R$ 1.600,00, a Faixa 2, famílias

em que esta renda chegava a R$ 3.100,00 e a Faixa 3 abrangia famílias com renda

mensal bruta de até R$ 5.000,00. Mais um valor que sofreu alteração foi o preço dos

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imóveis, para cobrir a inflação no custo de construção e para estar mais adequado ao

preço do mercado. Por exemplo, no caso do PMCMV-FAR, o valor da unidade

habitacional passou a estar entre R$ 44.000,00 e R$ 65.000,00, já no PMCMV-FGTS,

o valor ficou entre R$ 80.000,00 e R$ 170.000,00 (UN-HABITAT, 2013). Em seu

relatório sobre o ano de 2012, o TCU (2013) apresentou um novo aumento no valor das

unidades da Faixa 1, estas passando a ter um teto máximo de R$ 76.000,00 ao invés

de R$ 65.000,00.

Também vale ressaltar que foram alocados mais recursos no PMCMV-Oferta

Pública nesta segunda edição do programa. Além disso, um novo agente surgiu para

auxiliar a CEF na operação financeira do PMCMV: o Banco do Brasil (BB) (UN-

HABITAT, 2013).

Nas questões sociais, vale destacar que houve aumento à proteção à mulher

chefe de família, sendo criadas novas regras para aumentar a segurança de posse por

elas. Além disso, a Secretaria Nacional de Habitação passou a ter um papel de maior

destaque no monitoramento e na avalição do programa (UN-HABITAT, 2013). Ainda

nesta fase, também foi evidenciado que haveria maior parceria com o poder público no

trabalho social (MINISTÉRIO DAS CIDADES, [2011?])3. A lei nº 12.424/2011 também

acrescentou no art. 73 que seriam construídas, no mínimo, 3% das unidades do

programa no município com adaptação ao uso por pessoas com deficiência, caso não

houvesse legislação municipal ou estadual sobre as condições de acessibilidade.

Ademais, algumas mudanças nas moradias foram apresentadas, como:

ampliação da área construída para melhorar a acessibilidade; aumento nas portas e

janelas; colocação de azulejos nas paredes da cozinha e banheiro; piso cerâmico em

todos os cômodos da habitação; e, utilização de aquecimento solar nas casas

(MINISTÉRIO DAS CIDADES, [2011?]). Ainda foi previsto o surgimento de

empreendimentos de uso misto, ou seja, a inclusão de unidades comerciais nos projetos

da Faixa 1, com o objetivo de que a arrecadação comercial fosse utilizada nos custos

de manutenção do condomínio (portaria nº 465, 2011, p.10 apud UN-HABITAT, 2013).

3 O documento não apresenta data, logo, o ano de 2011 é utilizado como data provável. Foi considerado

esse ano por se tratar de um documento que evidencia novas regras da fase do PMCMV iniciada em 2011.

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3.7.3 PMCMV 3

As informações apresentadas nesse tópico foram obtidas, em sua maioria, no

documento “Prestação de Contas da Presidenta da República. Atuação do Poder

Executivo Federal. Relatório do Controle Interno. Balanço Geral da União 2015”.

Em 2015, as contratações foram ajustadas de acordo com a disponibilidade

orçamentária e financeira prevista para o programa nesse ano, que foi alinhada à

desaceleração econômica do País na época. Com isso, foi dada prioridade em concluir

e entregar as obras já contratadas, diminuindo-se o ritmo de contratação. Mesmo assim,

o total de unidades contratadas ultrapassou o valor de 4 milhões (PRESIDÊNCIA DA

REPÚBLICA, 2016).

Ainda em 2015, mesmo não tendo sido lançada a terceira fase, algumas

alterações referentes a ela já estavam sendo apresentadas. Seria criada uma nova faixa

para ampliar os benefícios para famílias com renda até R$ 2.350,00, denominada Faixa

1,5, com subsídios de até 45 mil reais e juros de 5% ao ano (PRESIDÊNCIA DA

REPÚBLICA, 2016).

Além disso, foi exposto que os imóveis da Faixa 1 teriam novas especificações,

estas adequadas à Norma de Desempenho, da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT), proporcionando melhor conforto acústico e térmico. Somado a isso,

teriam uso de esquadrias com sombreamento, espessura maior de paredes e lajes, seria

acrescido 2m² na área útil das habitações, além de novos itens que seriam incorporados

referentes à sustentabilidade. Foi apresentado, ainda, que os empreendimentos da

Faixa 1 passariam a cumprir regras complementares aos Códigos de Obras municipais

com a finalidade de aumentar a qualidade urbanística (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,

2016).

Na Prestação de Contas da Presidenta da República referente ao ano de 2015

(2016, p. 231), foi explicitado a promoção, pelo Governo Federal, de Termos de

Cooperação (TC) com instituições de pesquisa federal, visando a melhoria contínua do

programa:

Tais medidas foram fundamentais para subsidiar, com informações para o

lançamento da terceira fase do PMCMV. Entre esses Termos de Cooperação,

tem-se:

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TC SNH-MCidades/UFABC, visando apoiar os governos locais na

integração da política habitacional à política urbana, bem como a adequação

da localização residencial no sistema urbano;

TC SNH-MCidades/UFSCAR, visando desenvolver princípios de projeto

mais sustentáveis e apropriados para a melhoria dos projetos e das habitações

resultantes; e ainda

TC SNH-MCidades/UFSC, visando capacitar entidades para melhorar

a execução nas modalidades PMCMV-Entidades e PMCMV-Rural.

(PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2016, p. 231)

A terceira fase do PMCMV foi lançada no final de março de 2016, com a

pretensão de contratar mais 2 milhões de unidades habitacionais até 2018, segundo o

Portal Brasil (www.brasil.gov.br, 2016). Além disso, de acordo com o site do Ministério

das Cidades (www.cidades.gov.br, 2016d), a Faixa 1 teria limite de renda bruta familiar

mensal de R$ 1.800,00, a Faixa 1,5 abrangeria as famílias com renda bruta mensal de

até R$ 2.350,00, a Faixa 2 atenderia renda até R$ 3.600,00 e a Faixa 3 alcançaria

famílias com renda bruta mensal até R$ 6.500,00.

Devido à instabilidade política do período e por ainda estar em curso no momento

desta pesquisa, a terceira fase apenas foi apresentada para ciência, mas não será

melhor detalhada neste trabalho.

3.8 RESULTADOS DO PROGRAMA

No relatório do TCU (2013) referente ao ano de 2012, foi apresentado que

1.005.128 unidades foram contratadas no PMCMV 1. É importante destacar que em

muitos documentos cita-se a meta com relação à construção e não à contratação,

criando dúvidas sobre qual seria efetivamente a meta. O próprio TCU (2014) levanta

essa crítica, em seu relatório referente ao ano de 2013, ao apresentar que “ [...] o

ministério contabiliza os valores levando em conta a quantidade de moradias

contratadas, enquanto a meta se refere à quantidade de moradias disponibilizadas”

(TCU, 2014, p. 334), fazendo a seguinte distinção:

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Entende-se que uma moradia somente pode ser considerada disponibilizada a

partir do momento em que a unidade habitacional é entregue ao beneficiário

do programa, pois somente após a efetivação da entrega poderá a família

beneficiada usufruir do seu imóvel. No momento da contratação, as unidades

habitacionais existem apenas em projeto, pois ainda deverão ser construídas

(TCU, 2014, p. 334).

Já no relatório referente ao ano de 2014, o TCU (2016) apresentou que foram

contratadas 2,72 milhões de unidades no PMCMV 2, sendo evidenciado que “ [...] a

ação é considerada como concluída com a assinatura do contrato, e não com a efetiva

entrega do imóvel ao mutuário” (TCU, 2016, p. 245).

Sendo assim, nesta pesquisa, serão apresentados os valores referentes às

unidades contratadas em comparação com a meta, mas é deixada em aberta a

discussão sobre se a meta é referente à construção ou à contratação de unidades

habitacionais. A tabela 5 apresenta o número de habitações previstas nas metas e das

contratadas efetivamente, no PMCMV 1 e no PMCMV 2:

Tabela 5: Número de unidades habitacionais previstas nas metas e das contratadas efetivamente – PMCMV 1 e PMCMV 2

Meta Unidades contratadas

PMCMV 1 1.000.000 1.005.128

PMCMV 2 2.750.000 2.720.000

Fonte: TCU (2013) e TCU (2016). Elaboração da autora.

Além disso, o TCU (2013), em seu relatório sobre o exercício de 2012,

evidenciou a existência de críticas ao programa com relação à morosidade na entrega

das unidades habitacionais contratadas, principalmente referente à primeira etapa do

programa (PMCMV 1). É citado, neste relatório, que o Ministério das Cidades

argumentou que os principais obstáculos para a entrega das habitações, às famílias da

Faixa 1, estavam relacionados à:

[...] morosidade na disponibilização de infraestrutura externa do

empreendimento (acesso pavimentado, energia elétrica, soluções para

abastecimento de água e esgoto), às dificuldades na obtenção do “habite-se”

e à liberação dos empreendimentos pelas concessionárias de serviços

públicos. Foram citados, ainda, problemas de ordem mais geral, entre os quais

obstáculos na legalização do empreendimento envolvendo o poder público,

como cartórios, concessionárias, além de atrasos na execução da obra em

geral (TCU, 2013, p. 208).

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No total, já foram contratadas 4.219.366 unidades habitacionais e entregues

2.632.953 domicílios no Brasil, até o momento desta pesquisa

(www.minhacasaminhavida.gov.br, 2016).

Com relação ao resultado do programa no Rio de Janeiro, a autora não

conseguiu obter os dados específicos da região metropolitana (RM), mas obteve os

dados do estado como um todo, através do Portal do PMCMV

(www.minhacasaminhavida.gov.br, 2016), que apresentou a contratação de 223.101

unidades habitacionais e a entrega de 104.486 habitações nesse estado.

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4 ANÁLISE DE EMPREENDIMENTOS DO PMCMV

Como o foco dessa pesquisa é discutir acerca da provisão habitacional social no

Brasil e, tendo sido o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) identificado como o

programa que assumiu grande parte dessa provisão desde 2009, neste capítulo serão

apresentadas algumas experiências práticas do PMCMV na região metropolitana do Rio

de Janeiro, região de estudo definida pela autora. Serão observados parâmetros

relacionados ao déficit habitacional e à inadequação de domicílios que, como já vistos

no capítulo 2, são duas vertentes da área habitacional consideradas na metodologia

utilizada oficialmente, além de que serão observadas duas formas diferentes de

provisão de terreno, buscando compará-las. Os exemplos foram escolhidos após uma

pesquisa exploratória em documentos, reportagens, dentre outros. Vale ressaltar o

desafio que a autora enfrentou para encontrar informações mais detalhadas e acuradas,

já que, por diversas vezes, as fontes apresentavam informações divergentes.

Os empreendimentos selecionados foram escolhidos por terem sido

disponibilizados para a Faixa 1 do programa, que contempla famílias de até 3 SM, a

qual, como citado no início da pesquisa, foi selecionada como faixa de interesse da

autora por ser a de maior concentração no déficit habitacional. Além disso, foi escolhido

um exemplo contratado na primeira fase do programa (PMCMV 1) e outro exemplo cuja

contratação foi na segunda edição (PMCMV 2). Ademais, a autora escolheu

empreendimentos que foram da mesma modalidade, no caso, a PMCMV-FAR, ou seja,

cujos recursos foram transferidos do Orçamento Geral da União (OGU) para o Fundo

de Arrendamento Residencial (FAR). Com relação às dificuldades de se encontrar os

detalhes dos empreendimentos, a autora selecionou os que continham informações que

permaneciam iguais em mais de uma fonte e/ou cujas fontes eram mais confiáveis, além

de estar presente na tabela dos empreendimentos contratados para a Faixa 1 da Caixa

Econômica Federal (CEF), disponibilizados no site dessa instituição (www.caixa.gov.br,

2016).

Com isso, foram escolhidos 2 exemplos: Residencial Taroni, em Senador

Camará, e os Residenciais Zé Keti e Ismael Silva, no Estácio. Assim, no total, foi

possível discutir sobre dois parâmetros relacionados ao déficit habitacional (ônus

excessivo com aluguel urbano e habitação precária) e dois relacionados à inadequação

de domicílios (carência de serviços de infraestrutura e ausência de banheiro exclusivo).

Cada exemplo apresentou uma forma diferente de provisão de terreno (compra pelo

desenvolvedor privado e doação do Estado) e, com o intuito de discutir e compará-los,

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somado ao fato de já ter sido observado, no início da pesquisa, que o conceito de

habitação urbana envolve serviços urbanos também, a autora decidiu observar a oferta

de um desses serviços na região, sendo escolhido o transporte público.

A seguir serão apresentados os empreendimentos e os tópicos a serem

discutidos. Após essa apresentação, serão feitos uma análise e um quadro síntese.

4.1 RESIDENCIAL TARONI

O Residencial Taroni localiza-se no bairro de Senador Camará, fazendo parte de

um conjunto de seis residenciais cuja soma de unidades é um total de 2202 domicílios

(UN-HABITAT, 2013). Apesar disso, nesse exemplo, só será analisado o Residencial

Taroni, uma vez que os dados obtidos pela autora são referentes apenas a esse

condomínio. Ele é composto por 15 blocos com 16 apartamentos cada e mais 3

unidades adaptadas para pessoas com necessidades especiais, totalizando 243

domicílios (UN-HABITAT, 2013). As unidades são compostas por sala, dois quartos,

cozinha, banheiro e área de serviço (doweb.rio.rj.gov.br, 2016). Esse empreendimento

foi construído pela construtora Emccamp, contemplou famílias da Faixa 1 pela

modalidade PMCMV-FAR e foi contratado na primeira fase do programa (PMCMV 1)

(www.caixa.gov.br, 2016). A tabela 6 apresenta informações sobre o empreendimento:

Tabela 6: Informações do Residencial Taroni

Nome do Empreendimento Residencial Taroni

Endereço R. Côrte Real, 292 - Senador Camará *

Rua A Paa 12162, 215 - Senador Camará **

Faixa de Renda Faixa 1

Modalidade PMCMV-FAR

Nº unidades 243

Construtora Emccamp

Data de Contratação 28/10/2009

Entrega Dezembro/2011 Fontes: Prefeitura do Rio de Janeiro (www.rio.rj.gov.br, 2016a), Diário Oficial Eletrônico do Município do Rio de Janeiro (doweb.rio.rj.gov.br, 2016), Caixa Econômica Federal (www.caixa.gov.br, 2016) e Google Maps (2016). Elaboração da autora. * Google Maps ** Prefeitura do Rio de Janeiro (www.rio.rj.gov.br, 2016a)

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A figura a seguir apresenta o conjunto dos seis residenciais e foi obtida no site

da construtora Emccamp (www.emccamp.com.br, 2016a), a qual se refere a esse

conjunto como “Empreendimento Bairro Senador Camará”. A marcação em linhas

tracejadas foi feita pela autora para identificar o Residencial Taroni.

Fonte: www.emccamp.com.br (2016a). Marcação em linhas tracejadas feita pela autora.

4.1.1 DÉFICIT HABITACIONAL

Neste exemplo, será discutido sobre o parâmetro “ônus excessivo com aluguel

urbano” considerado na metodologia da Fundação João Pinheiro.

4.1.1.1 ÔNUS EXCESSIVO COM ALUGUEL URBANO

Em seu documento, a UN-Habitat (2013) destaca o exemplo de uma moradora,

apresentando sua história como beneficiária do PMCMV. Antes de se mudar para

Senador Camará, ela morava em uma favela com sua filha. Foi contemplada após

aguardar 5 meses e, mesmo a localização do empreendimento sendo distante da sua

casa alugada, preferiu aceitar a oferta ao invés de ir para o final da lista de espera.

Em sua antiga moradia, ela pagava um aluguel de R$ 400,00 e, ao aderir ao

programa, passou a pagar R$ 50,00 por mês, uma vez que estava desempregada na

Figura 1: Empreendimento Bairro Senador Camará. Residencial Taroni destacado em linhas tracejadas

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época (UN-HABITAT, 2013). Relembrando que na regra do programa para a Faixa 1,

que contemplava as famílias com renda mensal de até 3 SM, o pagamento mensal era

de 10% dessa renda ou um mínimo de R$ 50,00, durante um período de 10 anos,

quando o beneficiário se tornaria proprietário do imóvel.

Com relação ao parâmetro “ônus excessivo com aluguel urbano” considerado no

cálculo do déficit habitacional pela Fundação João Pinheiro (FJP) e que “corresponde

ao número de famílias urbanas, com renda familiar de até três salários mínimos, que

moram em casa ou apartamento e que despendem mais de 30% de sua renda com

aluguel” (FJP, 2015, p. 25), pode-se observar que essa moradora se enquadrava nessa

definição. Caso ela estivesse empregada, seu gasto com habitação (sem considerar o

pagamento de serviços como água, energia elétrica, etc) seria reduzido para 10% da

sua renda mensal. No entanto, apesar do programa ter a ajudado financeiramente e ela

não ter mais ônus excessivo com aluguel, seu gasto de R$ 50,00 com habitação,

naquele momento, continuou sendo maior que 30% de sua renda mensal e só seria

superado quando ela conseguisse mudar seu status de desempregada e ganhar mais

de R$ 167,00 por mês, sendo esse último valor calculado pela autora considerando que

R$ 50,00 seria 30% do valor total.

Assim, pode-se observar que o programa auxilia famílias que fazem parte da

contagem do ônus excessivo com aluguel urbano, diminuindo o déficit habitacional total.

Porém, não erradica, necessariamente, um gasto com habitação de mais de 30% da

renda familiar mensal.

4.1.2 INADEQUAÇÃO DE DOMICÍLIOS

Com relação à inadequação de domicílios, vertente habitacional considerada na

metodologia da Fundação João Pinheiro, será verificado o parâmetro de “carência de

serviços de infraestrutura” nesse exemplo.

4.1.2.1 CARÊNCIA DE SERVIÇOS DE INFRAESTRUTURA

Dentro do condomínio, a instalação de infraestrutura de água, eletricidade e

esgoto foi realizada pelo desenvolvedor privado e as agências locais desses serviços

foram responsáveis por fazer a interligação com a infraestrutura básica da região além

de prover esses serviços públicos. Ademais, há containers para coleta de lixo dentro do

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condomínio, sendo esse lixo coletado pelo município do Rio de Janeiro semanalmente

(UN-HABITAT, 2013).

Relacionando com o parâmetro da inadequação de domicílios “carência de

serviços de infraestrutura” que considera, de acordo com a metodologia da FJP,

“Domicílios que não dispõem de ao menos um dos seguintes serviços básicos:

iluminação elétrica, rede geral de abastecimento de água com canalização interna, rede

geral de esgotamento sanitário ou fossa séptica e coleta de lixo” (FJP, 2015, p. 25), é

possível observar que esse condomínio teve as instalações necessárias e a previsão de

atendimento para todos esses serviços básicos, ou seja, não seria considerado

inadequado.

No entanto, em outubro de 2015, no site da prefeitura do Rio de Janeiro

(www.rio.rj.gov.br, 2016b), foi apresentado um problema com relação aos serviços de

água. Os moradores do condomínio Taroni e de outros empreendimentos do PMCMV,

de regiões próximas, solicitaram alteração na forma da cobrança do serviço de água

para que fosse realizada de forma individual, uma vez que muitos desses condomínios

não pagavam a fatura e, por consequência, ficavam inadimplentes. Com isso, o serviço

era interrompido para todos os moradores. Ainda segundo essa reportagem, a

Secretaria Municipal de Habitação e a concessionária Foz Águas 5 estavam atendendo

essa demanda e o condomínio Taroni era um dos que estavam passando por esse

processo de implantação da individualização. Para analisar se era possível a adoção

desse tipo de cobrança, a concessionária Foz Águas 5 teria percorrido esses

empreendimentos e verificado, através de vistorias, se seria possível a individualização

da cobrança. Assim, foi observado que alguns empreendimentos possuíam ligações de

água por apartamento, sendo possível a individualização. Vale ressaltar que haviam

empreendimentos cuja entrada de água era por bloco ao invés de ser por apartamento,

o que tornou necessário estudos sobre como resolver essa situação (www.rio.rj.gov.br,

2016b).

Segundo o próprio site da Foz Águas 5 (www.fozaguas5.com.br, 2016), ela é a

concessionária responsável pelos serviços de esgotamento sanitário e gestão comercial

da água em 21 bairros situados na Zona Oeste do Rio de Janeiro, através de um

contrato de concessão assinado com a prefeitura municipal em 2012, sendo o bairro de

Senador Camará um deles. De acordo com o site, apesar dela realizar a gestão

comercial da água nesses bairros, o abastecimento ainda é de responsabilidade da

Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE). É apresentado, ainda no site, que

sua gestão comercial inclui a leitura e emissão das contas, ações de vistoria e de

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fiscalização e controle do uso da água, por exemplo. A autora entrou em contato com a

concessionária por ligação telefônica, através do número de atendimento ao cliente, e

confirmou que, por ela ter a gestão comercial da água, a Foz Águas 5 permite a

possibilidade de cobrança individualizada para empreendimentos que solicitarem e que,

após vistoria, seja verificado que há condições para a realização das medições

individuais. Com isso, a água pode ser cortada apenas para os moradores que não

pagarem a própria conta. Dessa forma, a autora entendeu que esse foi o caso do

Residencial Taroni.

Esse exemplo é interessante por expor que não basta apenas realizar todas as

instalações necessárias para o atendimento dos subcomponentes da carência de

infraestrutura, considerados pela FJP, e que também não é suficiente apenas priorizar

projetos que tenham existência prévia de infraestrutura na região ou projetos cuja

provisão de infraestrutura seja ofertada pelos governos locais, como foi previsto no

PMCMV. Ainda existem outros problemas sociais vinculados à infraestrutura que podem

prejudicar a qualidade de vida dos moradores, relembrando que o conceito de

inadequação de domicílios está diretamente relacionado a essa qualidade de vida.

Por ser um empreendimento de famílias com renda mensal de até 3 SM, era

possível prever a dificuldade de certos moradores em pagar a conta de água. O PMCMV

poderia ter delimitado projetos com ligação de água por apartamento, por exemplo, para

que problemas relacionados à falta de pagamento de alguns moradores pudessem ser

solucionados através da implantação da cobrança individualizada, caso a

concessionária responsável realizasse essa forma de cobrança, como foi o caso da Foz

Águas 5. Vale destacar que essa concessionária se tornou responsável pela gestão

comercial da água após a entrega do Residencial Taroni, ou seja, esse empreendimento

é um exemplo de que, mesmo que houvesse alguma dúvida se seria possível a emissão

de cobrança individualizada, foi projetado de forma que tornou viável essa forma de

cobrança. Os empreendimentos em que a ligação foi feita por bloco, a possibilidade de

emissão de conta individual não seria tão simples.

4.1.3 PROVISÃO DE TERRENO

Neste tópico, será apresentada a forma da provisão do terreno e será observado

a oferta de transportes em sua região.

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4.1.3.1 COMPRA PELO DESENVOLVEDOR PRIVADO

A aquisição do terreno do Residencial Taroni foi através de compra pelo

desenvolvedor privado (UN-HABITAT, 2013). Como informado anteriormente, será

observada a oferta de transportes na região.

Para atingir as metas e objetivos de acessibilidade de transporte público, são

feitas suposições sobre a distância feita a pé para ter acesso a esse transporte.

Diretrizes utilizam, frequentemente, a distância de 400 metros (ou múltiplos) como uma

distância chave no planejamento de serviços. No entanto, essa distância pode ser

influenciada por diversos fatores, como o propósito geral da viagem, fatores

demográficos, dentre outros (DANIELS e MULLEY, 2013). No caso desta pesquisa,

devido às diversas possibilidades de trajetos feitos a pé, além de não ser o foco principal

da verificação, a autora estabeleceu um raio partindo do centro do terreno para analisar

a presença de pontos de ônibus na região. Assim, a distância é considerada em linha

reta a partir do centro do terreno e, por esse ter grandes extensões, a autora aumentou

a distância sugerida e adotou um raio de 500 metros para análise dos pontos de ônibus

comum.

As médias de distâncias feitas a pé são, normalmente, maiores para ter acesso

a trem do que para ter acesso a ônibus (DANIELS e MULLEY, 2013). A partir disso, a

autora selecionou algumas opções de transporte público que acreditava ser menos

presente (em comparação com a opção de ônibus comum) na região metropolitana do

Rio de Janeiro, sendo escolhidas as opções de trem, metrô e BRT (Bus Rapid Transit).

Após isso, fez um breve levantamento das respectivas estações nessa região, com

auxílio do site Google Maps. Foi constatado que há sim uma menor presença dessas

estações em comparação com os pontos de ônibus comum, ou seja, para ter acesso

em trajeto feito a pé, a distância provavelmente seria maior. Com isso, para a análise

das estações de trem, metrô e BRT na região do terreno, a autora estabeleceu um raio

maior de observação, sendo este de 2 quilômetros (tanto múltiplo de 400 metros quanto

de 500 metros).

Neste exemplo, não foram identificadas estações de metrô e de BRT no limite

adotado, a partir de consultas ao Google Maps (2016), site do Metrô Rio

(www.metrorio.com.br, 2016a) e site do BRT Rio (www.brtrio.com, 2016). Assim, os

mapas apresentarão apenas as localizações dos pontos de ônibus e das estações de

trem. A figura 2 apresenta o mapa dos pontos de ônibus no limite estabelecido:

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43

Fonte: Google Maps (2016). Elaboração da autora.

Foi possível identificar 5 pontos de ônibus no raio considerado, sendo que 4

deles são na mesma avenida, a Avenida de Santa Cruz. Há 2 pontos que são mais

próximos ao terreno, um nessa mesma avenida e outro na Estrada dos Coqueiros. O

trajeto feito a pé tem distância e duração de, aproximadamente, 400 metros e 5 minutos,

respectivamente, segundo o Google Maps (2016).

Já a figura 3 apresenta o mapa das estações de trem localizadas dentro do raio

de 2 quilômetros adotado:

Figura 2: Pontos de ônibus dentro do raio de 500 metros do Residencial Taroni

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Fonte: Google Maps (2016) e www.supervia.com.br (2016). Elaboração da autora.

Neste caso, foi observado que há apenas uma estação de trem dentro do limite

analisado. É a estação de nome Senador Camará, na qual passa 1 dos 8 ramais de

trem (www.supervia.com.br, 2016). A distância, em uma das possibilidades de trajeto

feito a pé, é de 900 metros e tem duração de, aproximadamente, 10 minutos segundo o

Google Maps (2016).

Foi observado que a oferta de transportes, nos limites analisados, não é tão

expressiva e que há apenas as opções de trem e ônibus comum dentro das

possibilidades que foram verificadas (trem, metrô, ônibus comum e BRT).

Figura 3: Estações de trem dentro do raio de 2km do Residencial Taroni

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45

4.2 RESIDENCIAL ZÉ KETI E RESIDENCIAL ISMAEL SILVA

O Residencial Zé Keti e o Residencial Ismael Silva são empreendimentos

localizados no bairro Estácio. Nesse caso, o conjunto de condomínios é composto

apenas por esses dois residenciais, por isso, a autora irá se referir a ambos na

discussão. São 48 blocos com 20 apartamentos cada e mais 2 blocos com 19

apartamentos cada, compondo um total de 998 unidades habitacionais. Os

apartamentos têm dois quartos, sala, banheiro, cozinha e área de serviço.

(www.rj.gov.br, 2016a). Desse total de 998 unidades, 32 domicílios foram reservados

para pessoas com necessidade especiais (www.emccamp.com.br, 2016b). Esses

empreendimentos foram construídos pela construtora Emccamp e foram contratados na

segunda fase do programa (PMCMV 2) para famílias contempladas pela Faixa 1, dentro

da modalidade PMCMV-FAR (www.caixa.gov.br, 2016). Nas tabelas 7 e 8 serão

apresentadas informações sobre esses empreendimentos:

Tabela 7: Informações do Residencial Zé Keti

Nome do Empreendimento Residencial Zé Keti

Endereço Rua Frei Caneca, 441- Estácio

Faixa de Renda Faixa 1

Modalidade PMCMV-FAR

Nº unidades 499

Construtora Emccamp

Data de Contratação 28/12/2011

Entrega Junho/2014

Fontes: Prefeitura do Rio de Janeiro (www.rio.rj.gov.br, 2016a), Governo do Rio de Janeiro (www.rj.gov.br, 2016a), Caixa Econômica Federal (www.caixa.gov.br, 2016). Elaborado pela autora.

Tabela 8: Informações do Residencial Ismael Silva

Nome do Empreendimento Residencial Ismael Silva

Endereço Rua Frei Caneca, 461- Estácio

Faixa de Renda Faixa 1

Modalidade PMCMV-FAR

Nº unidades 499

Construtora Emccamp

Data de Contratação 28/12/2011

Entrega Junho/2014 Fontes: Prefeitura do Rio de Janeiro (www.rio.rj.gov.br, 2016a), Governo do Rio de Janeiro (www.rj.gov.br, 2016a), Caixa Econômica Federal (www.caixa.gov.br, 2016). Elaborado pela autora.

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A figura a seguir apresenta o Residencial Zé Keti e o Residencial Ismael Silva e

foi obtida no site da construtora Emccamp (www.emccamp.com.br, 2016).

Fonte: www.emccamp.com.br (2016a)

4.2.1 DÉFICIT HABITACIONAL

Já neste exemplo, será discutido sobre o parâmetro “habitação precária”

considerado na metodologia da Fundação João Pinheiro.

4.2.1.1 HABITAÇÃO PRECÁRIA

Segundo reportagem de junho de 2014, postada no site do governo do Rio de

Janeiro (www.rj.gov.br, 2016a), 65% dos domicílios, supondo-se, portanto,

aproximadamente 649 unidades, foram ocupados por famílias cadastradas pela

Prefeitura da cidade do Rio quando ficaram desabrigadas devido as chuvas de 2010 e

que vinham recebendo aluguel social. Eram famílias das comunidades do Turano, no

Rio Comprido; Prazeres, em Santa Tereza; Rocinha, em São Conrado; e, Santos

Rodrigues e Azevedo Lima, no Complexo do São Carlos, no Estácio (www.rj.gov.br,

2016a).

Figura 4: Residencial Zé Keti e Residencial Ismael Silva

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Os demais domicílios, ou seja, os 35% que sobraram e presumindo-se

aproximadamente 349 unidades, foram ocupados por famílias indicadas pela Defensoria

Pública do Estado. Era composto por famílias de índios que estavam na ocupação

Maracanã; famílias da comunidade Sinimbu, as quais viviam em um prédio do Governo

Federal nas proximidades do Morro da Mangueira; pessoas da comunidade do

Cajueirinho (próximo à Estação Central do Brasil); e, pessoas que moravam na

ocupação Mem de Sá, as quais sofriam ação de despejo para que fosse cumprido a

decisão judicial de reintegração de posse (www.rj.gov.br, 2016a).

Ainda é apresentado nessa reportagem que as famílias, em sua totalidade,

possuíam renda mensal bruta de até R$ 1.600,00 e que haviam sido aprovadas pela

CEF (www.rj.gov.br, 2016a).

Observando essa situação, é analisado o parâmetro do déficit habitacional

“habitação precária” que é o “Conceito que contabiliza os domicílios improvisados e os

domicílios rústicos, considerando que ambos caracterizam déficit habitacional” (FJP,

2015, p. 25), sendo domicílios improvisados “Locais construídos sem fins residenciais

que servem como moradia, tais como barracas, viadutos, prédios em construção, carros

etc” (FJP, 2015, p. 25) e domicílios rústicos contemplando “Domicílios sem paredes de

alvenaria ou madeira aparelhada, o que resulta em desconforto e risco de contaminação

por doenças, em decorrência das suas condições de insalubridade” (FJP, 2015, p. 25).

A partir dessas definições, pode-se compreender que alguns moradores do

grupo que representava 35% da ocupação dos condomínios provavelmente faziam

parte da contagem do déficit relativo a domicílios improvisados, uma vez que residiam

em locais construídos sem fins residências, como as famílias da comunidade Sinimbu,

que habitavam um prédio do Governo Federal, por exemplo.

No caso dos outros 65%, apesar da situação dos domicílios após as fortes

chuvas não ter sido explicitada e não estar muito claro se eles seriam considerados

como habitação precária no cálculo do déficit habitacional pela metodologia da FJP, a

autora supõe que as habitações de algumas dessas famílias podem ter ficado sem

paredes, logo, em condições de insalubridade, entendendo-se que poderiam ser casos

encaixados como domicílios rústicos.

Neste exemplo, pode-se presumir que o PMCMV auxilia na diminuição do déficit

habitacional ao prover habitação para famílias que se encontram em situação de

habitação precária. E, mesmo que o reassentamento de famílias devido a fortes chuvas

possa não ser considerado no cálculo do déficit habitacional, vale destacar que foi uma

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solução válida da prefeitura para suprir essa demanda pontual. A autora deixa em aberto

a discussão sobre a consideração dessa situação na metodologia da FJP por não ter

encontrado maiores informações sobre o assunto.

4.2.2 INADEQUAÇÃO DE DOMICÍLIOS

O parâmetro de inadequação de domicílios considerado pela FJP que será

analisado nesse exemplo é a “ausência de banheiro exclusivo”.

4.2.2.1 AUSÊNCIA DE BANHEIRO EXCLUSIVO

Segundo a mesma reportagem de junho de 2014, divulgada no site do governo

do Rio de Janeiro (www.rj.gov.br, 2016a), as unidades são compostas de dois quartos,

sala, banheiro, cozinha e área de serviço. Essa informação também é evidenciada em

notícia do site da construtora Emccamp (www.emccamp.com.br, 2016b), a qual ratifica

que a configuração dos apartamentos desses residenciais é de dois quartos, sala,

banheiro, cozinha e área de serviço, com área privativa de aproximadamente 43 metros

quadrados.

Levando em consideração a vertente habitacional de inadequação de domicílios,

a qual está relacionada “[...] às especificidades dos domicílios que prejudicam a

qualidade de vida de seus moradores” (FJP, 2015, p. 11), um parâmetro relacionado a

ela é a “ausência de banheiro exclusivo” caracterizado pela inexistência de unidade

sanitária domiciliar exclusiva. Como pode ser visto, o projeto das unidades habitacionais

dos residenciais Zé Keti e Ismael Silva atendem a essa especificação, uma vez que

apresentam banheiro em sua composição. É demonstrado, assim, que essas

habitações do PMCMV não seriam consideradas inadequadas com relação a esse

parâmetro

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4.2.3 PROVISÃO DE TERRENO

Neste tópico, será apresentada a forma da provisão do terreno deste exemplo e

será observada a oferta de transportes no seu entorno.

4.2.3.1 DOAÇÃO DO ESTADO

Esses empreendimentos estão localizados no terreno do antigo presídio Frei

Caneca, no bairro Estácio, próximo ao centro da cidade do Rio de Janeiro. De acordo

com a reportagem de outubro de 2012, divulgada no site do governo do Rio de Janeiro

(www.rj.gov.br, 2016b), houve parceria entre as esferas governamentais neste projeto,

em que o governo federal investiu na construção dos empreendimentos e o governo

estadual doou o terreno, fez a implosão do presídio, limpou o espaço e investiu dinheiro

nas obras de infraestrutura.

Assim como no exemplo do Residencial Taroni, verificou-se a presença de

pontos de ônibus comum e estações de trem, metrô e BRT (Bus Rapid Transit) próximas

ao terreno. Os raios considerados foram os mesmos adotados na análise da oferta

desses transportes públicos no entorno do Residencial Taroni, pelos menos motivos

apresentados anteriormente, sendo 500 metros na análise da presença dos pontos de

ônibus e 2 quilômetros para as estações de trem, metrô e BRT, ambos partindo do

centro do terreno e considerando a distância em linha reta.

Neste caso, estações de BRT não foram identificadas no raio de 2 quilômetros

considerado, após pesquisa no site do Google Maps (2016) e consulta ao site do BRT

Rio (www.brtrio.com, 2016). A figura 5 apresenta o mapa das localizações do terreno e

dos pontos de ônibus localizados dentro do raio de 500 metros:

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Fonte: Google Maps (2016). Elaboração da autora

Foi possível identificar dez pontos de ônibus no raio de 500 metros do terreno,

sendo dois deles na própria Rua Frei Caneca, a menos de 100 metros da entrada

principal do conjunto, segundo informações do Google Maps (2016).

Já o mapa da figura 6 apresenta as localizações do terreno e das estações de

trem e de metrô no raio de 2 quilômetros adotado:

Figura 5: Pontos de ônibus dentro do raio de 500 metros dos residenciais Zé Keti e Ismael Silva

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Fonte: Google Maps (2016), Metro Rio (www.metrorio.com.br, 2016b) e Supervia (www.supervia.com.br,

2016). Elaboração da autora.

Foi possível identificar que existem cinco estações de metrô dentro do raio

considerado. Uma das possibilidades de trajeto feito a pé para a estação mais próxima,

denominada Praça Onze, tem distância de 500 metros e duração de, aproximadamente,

6 minutos, segundo informações do site Google Maps (2016). Com relação às estações

de trem, observa-se que há duas próximas aos empreendimentos, sendo uma delas a

Central do Brasil, ponto inicial de 5 dos 8 ramais de trem (www.supervia.com.br, 2016).

Neste exemplo, foi possível observar uma maior expressividade na oferta de

transportes, além de estarem presentes três das quatro opções pesquisadas, apenas

não sendo identificadas estações de BRT.

Figura 6: Estações de trem e de metrô dentro do raio de 2km dos residenciais Zé Keti e Ismael Silva

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4.3 QUADRO SÍNTESE E ANÁLISE DOS EMPREENDIMENTOS

O quadro 5 é um quadro síntese dos parâmetros observados em cada exemplo:

Quadro 5: Quadro síntese dos parâmetros observados no Residencial Taroni e nos Residenciais Zé Keti e Ismael Silva

Parâmetros

Empreendimento Déficit

Habitacional Inadequação de

Domicílios Provisão de

Terreno

Residencial Taroni Ônus excessivo

com aluguel urbano

Carência de serviços de

infraestrutura

Compra pelo Desenvolvedor

Privado

Residencial Zé Keti e Residencial Ismael

Silva

Habitação Precária

Ausência de Banheiro Exclusivo

Doação do Estado

Elaboração da autora

Como citado anteriormente, nos exemplos escolhidos foram discutidos

parâmetros relacionados ao déficit habitacional, à inadequação de domicílios e à forma

de provisão de terrenos, sendo, nesse último aspecto, observada a oferta de transportes

como trem, metrô, BRT e ônibus comum na região deles, dentro dos limites

estabelecidos pela autora.

No caso dos parâmetros verificados relacionados ao déficit habitacional, tanto o

ônus excessivo com aluguel urbano quanto a habitação precária estavam sendo, de

certa forma, atendidos pelo programa. No caso do Residencial Taroni, observou-se que

havia situação na qual a moradora deixara de ter ônus excessivo com aluguel ao ser

contemplada pelo PMCMV, no entanto, por ser desempregada, a despesa com

habitação (sem considerar o pagamento de contas de serviços como água, energia

elétrica, etc) ainda seria alta, maior que 30% de sua renda mensal. Esse cenário permite

supor possíveis contextos de inadimplência no pagamento do financiamento ou

dificuldades em arcar com outras despesas básicas, gerando dificuldades sociais e

financeiras. Já com relação à habitação precária, identificou-se o atendimento a

algumas famílias que foram alocadas nos Residenciais Zé Keti e Ismael Silva, porém, a

falta de informações sobre o estado de alguns domicílios não permitiu que a autora

pudesse generalizá-los como habitação precária. Pôde-se apenas considerar que, se

muitas famílias foram reassentadas, pode ter sido por suas habitações não atenderem

requisitos mínimos, como a falta de paredes e condições de insalubridade que

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caracterizam domicílios rústicos, por exemplo. Ainda sobre essa circunstância, vale

evidenciar que a autora não conseguiu identificar nem obter informações suficientes

sobre se as habitações em áreas de risco são consideradas no cálculo do déficit

habitacional pela metodologia da FJP, deixando em aberto esse tópico para novas

pesquisas.

Já na análise dos parâmetros relacionados à inadequação de domicílios, apurou-

se que toda a infraestrutura necessária para se evitar a carência de serviços de

infraestrutura foi proporcionada ao Residencial Taroni e que o componente de ausência

de banheiro exclusivo não era uma deficiência nos residenciais Zé Keti e Ismael Silva.

Entretanto, foram levantados pontos sobre os projetos de empreendimentos do

PMCMV, pois, no caso de serviços de infraestrutura do Residencial Taroni, ainda

haviam questões que prejudicavam a qualidade de vida dos residentes. Como “A

inadequação de domicílios, por sua vez, não está relacionada ao dimensionamento do

estoque de moradias, mas sim às especificidades dos domicílios que prejudicam a

qualidade de vida de seus moradores” (FJP, 2015, p.11), a autora levanta a crítica de

que o PMCMV poderia especificar mais os projetos das unidades habitacionais, assim

como do empreendimento como um todo, para evitar que contratempos como os

verificados afetassem a qualidade de vida dos moradores. Vale destacar que, por não

ter tantas especificações, a autora entende que muitas escolhas ficam abertas para

decisão dos projetistas e da empresa construtora. Esses também poderiam ter

encontrado opções de projetos que atendessem as questões sociais, como já ter

implantado a ligação de água por apartamento ao em vez de ligação por bloco, como

discutido no exemplo do Residencial Taroni.

Realizando uma comparação com relação às formas de provisão de terreno,

identificou-se, no caso dos residenciais Zé Keti e Ismael Silva em que o terreno foi doado

pelo Estado, a vantagem da parceria entre as diversas esferas do Governo,

principalmente a importância da ação do governo local em fomentar localização com

oferta de serviços urbanos como o transporte público. Era previsto, tanto no PMCMV 1

quanto no PMCMV 2, que fosse dada prioridade de atendimento a projetos que

contemplassem doação de terreno pelos Estados. Conclui-se que, nesse caso, essa

regra do programa possibilitou vantagens concretas para os moradores do Residencial

Zé Keti e do Residencial Ismael Silva, com relação à oferta de transportes na região. Já

no caso do Residencial Taroni, no qual o terreno foi adquirido por compra pelo

desenvolvedor privado, observou-se menos opções e uma oferta de transportes não tão

expressiva. A autora não encontrou maiores detalhes de como foi realizada essa

compra, mas presume-se que o valor e a disponibilidade de terrenos seriam fatores

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decisivos para os investidores na viabilização de projetos de habitação social. Assim,

torna-se importante a intervenção do poder público, seja por meio de incentivos ou

benefícios, para que a decisão sobre o terreno esteja integrada ao desenvolvimento

urbano da cidade, com o intuito de que os moradores possam usufruir dos serviços

urbanos e o investimento público nesses serviços possa ser utilizado da forma mais

otimizada.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, buscou-se discutir sobre a provisão habitacional social no Brasil,

sendo observado o Governo como principal agente dessa provisão. Ao pesquisar sobre

a Política Nacional de Habitação (PNH), o Plano Nacional de Habitação (PlanHab) e,

mais a fundo, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), foi possível verificar o

incentivo do Governo em solucionar o problema habitacional, envolvendo a inciativa

privada e, em menor escala, as comunidades. No entanto, críticas a essas ferramentas

públicas puderam ser observadas.

Como exposto no decorrer da pesquisa, alguns autores defenderam que há uma

certa hierarquia entre política, plano e programa, sendo política a mais geral, o plano

associado a ela e, por conseguinte, o programa associado ao plano. Entretanto,

identificou-se que o programa – PMCMV – foi lançado antes mesmo da publicação do

plano – PlanHab – para dar suporte ao setor privado no enfrentamento da crise

econômica internacional da época. Esse fato demonstra uma possível inversão entre os

principais objetivos do plano e do programa, uma vez que o plano tinha como foco

principal enfrentar a questão habitacional, auxiliando a desenvolver a economia do país,

enquanto que o programa surgiu, aparentemente, dando prioridade ao desenvolvimento

econômico. Com isso, surgem dúvidas se o programa de provisão habitacional de maior

escala do país, desde 2009, foi alinhado com o plano habitacional que deveria ter como

base.

Com relação às vertentes habitacionais analisadas pela Fundação João Pinheiro

(FJP), foi possível identificar que não só o déficit habitacional é uma questão a ser

solucionada, como também a inadequação de domicílios. Como evidenciado no

decorrer da pesquisa, o déficit habitacional está relacionado diretamente com a

necessidade de construção de novas habitações, principal atividade do PMCMV. Além

disso, foi possível verificar que os parâmetros relacionados ao déficit habitacional que

foram analisados nos exemplos estariam sendo, de certa forma, combatidos pelo

programa.

A inadequação de domicílios é um tópico tão importante quanto, pois está

diretamente relacionado à qualidade de vida dos moradores. No início desta pesquisa,

foi apresentado que o conceito de habitação evoluiu da ideia de abrigo para um espaço

em que são realizadas atividades primárias, sendo necessário constituir um ambiente

confortável, seguro e salubre. Assim, a inadequação de domicílios considera

componentes que a autora entende que deveriam ser básicos em uma habitação, como

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banheiro exclusivo e serviços de infraestrutura de água, energia elétrica, esgotamento

sanitário e coleta de lixo, por exemplo. No decorrer da pesquisa, verificou-se que as

unidades habitacionais do PMCMV não seriam enquadradas como inadequadas com

relação aos parâmetros observados nos exemplos, mas que esse programa talvez não

seria o ideal no enfrentamento dessa questão habitacional. A autora entende que outras

políticas, planos e programas deveriam ser desenhados para combater a inadequação

de domicílios, focados mais na melhoria de habitações inadequadas ao invés de focar

na construção de novas.

Além disso, foi apresentado, no início desta pesquisa, que alguns autores

defendiam a ideia de que o conceito de habitação urbana também abrange estar

integrada ao entorno, aos serviços urbanos, por exemplo. Com isso, foram verificadas

formas diferentes de provisão de terreno do PMCMV e analisada a oferta de transporte

público na região desses terrenos. Observou-se, assim, que quando há a intervenção

do poder público, os projetos de habitação social podem ser mais integrados ao

planejamento urbano da cidade relacionado ao serviço urbano de transportes, pois,

presumiu-se que o intenso crescimento dos centros urbanos diminui a disponibilidade

de terrenos ou inviabiliza financeiramente projetos para habitação social cujo terreno

deve ser adquirido pelos desenvolvedores privados sem auxílio público. Portanto, como

na discussão sobre a inadequação de domicílios, a autora entende que é interessante

o delineamento de políticas, planos e programas que priorizem outras formas de

enfrentamento da questão habitacional além das voltadas para a construção de novas

habitações. Ferramentas públicas com foco em reformas e revitalizações de prédios

antigos ou abandonados, localizados em regiões centrais, e somados com locação

social desses imóveis, por exemplo, poderiam auxiliar nas questões habitacionais além

de otimizar o investimento público em serviços urbanos.

Analisando de uma forma geral o Programa Minha Casa Minha Vida, é válido

enfatizar que houve dificuldade em encontrar informações mais detalhadas sobre alguns

aspectos do programa e sobre os projetos que foram financiados com seus recursos.

Um programa dessa proporção deveria tornar sua documentação mais acessível para

possibilitar a discussão e análise de pesquisadores sobre o tema, além de ser direito da

população ter acesso aos detalhes de um programa cujo investimento é público. Soma-

se a isso, a necessidade de ser avaliado com relação à sua viabilidade financeira,

analisando-se a quantidade de recursos comprometidos e a população atendida.

Entende-se que também seria importante o monitoramento frequente e transparente,

tanto com relação à operação do programa quanto com relação ao desempenho dos

empreendimentos que foram contemplados com seus recursos. Outro ponto essencial

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é o alinhamento entre as esferas de governo para que as decisões de uma não interfiram

nas ações de outra e que, de preferência, essas ações se complementem.

Em resumo, a forma de provisão habitacional no Brasil, desde 2009, aparentou

estar concentrada em um mercado de construção de novas moradias. Entretanto, como

defendido por Abiko (1995) e apresentado no início da pesquisa, a habitação popular

não deve ser enxergada apenas como um produto, mas sim, como um processo que

também está relacionado com questões políticas, sociais, econômicas, dentre outras,

como inclusive foi visto no decorrer da pesquisa. Portanto, a forma de provisão

habitacional pode e deve ser diversificada para ser possível enfrentar todas as

diferentes questões relacionadas à habitação. Vale lembrar que ela não é apenas uma

necessidade, mas também, é um direito social.

Como recomendação para futuros trabalhos, a autora aconselha pesquisas que

continuem buscando avaliar qualitativa e quantitativamente o PMCMV. Além disso,

trabalhos que tenham foco em discutir como é feita a alocação dos beneficiários do

programa, verificando a distância da antiga moradia para o empreendimento do PMCMV

escolhido e suas consequências para os beneficiários e para os gastos públicos com

serviços e equipamentos urbanos. Além disso, no decorrer da pesquisa, a autora

observou autores defendendo a ideia de Locação Social e acredita ser interessante uma

pesquisa comparativa entre o PMCMV e um programa baseado em Locação Social,

analisando-se parâmetros do déficit habitacional, inadequação de domicílios e formas

de provisão de terreno. Outra sugestão seria com relação à pesquisas que tivessem

como foco a avaliação de metodologias para monitoramento.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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