protótipo de um emg digital

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Roberto Panerai Velloso Página 1 25/7/2004 Protótipo de um EMG Digital.doc UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS CURSO DE CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO – BACHARELADO PROTÓTIPO DE UM ELETROMIÓGRAFO DIGITAL ROBERTO PANERAI VELLOSO BLUMENAU 2004 2004/1-XX

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Page 1: Protótipo de um EMG Digital

Roberto Panerai Velloso Página 1 25/7/2004 Protótipo de um EMG Digital.doc

UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS

CURSO DE CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO – BACHARELADO

PROTÓTIPO DE UM ELETROMIÓGRAFO DIGITAL

ROBERTO PANERAI VELLOSO

BLUMENAU 2004

2004/1-XX

Page 2: Protótipo de um EMG Digital

ROBERTO PANERAI VELLOSO

PROTÓTIPO DE UM ELETROMIÓGRAFO DIGITAL

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Regional de Blumenau para a obtenção dos créditos na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II do curso de Ciências da Computação — Bacharelado.

Prof. Antonio Carlos Tavares - Orientador

BLUMENAU 2004

2004/2-XX

Page 3: Protótipo de um EMG Digital

PROTÓTIPO DE UM ELETROMIÓGRAFO DIGITAL

Por

ROBERTO PANERAI VELLOSO

Trabalho aprovado para obtenção dos créditos na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, pela banca examinadora formada por:

______________________________________________________ Presidente: Prof. Antonio Carlos Tavares – Orientador, FURB

______________________________________________________ Membro: Prof. Francisco Adel Péricas, FURB

______________________________________________________ Membro: Prof. Miguel Alexandre Wisintainer, FURB

Blumenau, 14 de maio de 2004

Page 4: Protótipo de um EMG Digital

Se o conhecimento causa problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.

Isaac Asimov

Page 5: Protótipo de um EMG Digital

AGRADECIMENTOS

À minha família pelo suporte e pela motivação incondicionais.

Aos meus orientadores pelo subsídio fornecido de diversas formas.

Aos meus amigos e colegas, principalmente àqueles que ajudaram, direta ou

indiretamente, no desenvolvimento deste trabalho.

Page 6: Protótipo de um EMG Digital

RESUMO

Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um protótipo de um aparelho de eletromiografia (EMG) digital assim como os fundamentos e teorias utilizadas no seu desenvolvimento. A eletromiografia é o estudo do sinal bioelétrico muscular. O sinal muscular é adquirido através de eletrodos de superfície. É utilizado um circuito de condicionamento de sinais analógicos para preparar o sinal para ser convertido para digital. O sinal, em sua forma digital, é processado por um software que é executado por um DSP e os resultados são exibidos em uma tela gráfica de cristal líquido. As técnicas de processamento de sinais digitais utilizadas são: filtros digitais do tipo FIR e a transformada rápida de Fourier para análise de espectro do sinal muscular.

Palavras chaves: Engenharia Biomédica; Eletrônica; DSP; EMG.

Page 7: Protótipo de um EMG Digital

ABSTRACT

This work presents the development of a digital electromyography (EMG) device as well as the beddings and theories used in its development. The electromyography is the study of the muscular bioelectrical signal. The muscular signal is acquired through surface electrodes. It is used an analog signal conditioning circuit to prepare the signal to be converted to digital. The signal, in its digital form, is processed by the software that is executed by a DSP and the results are shown in a graphical liquid crystal display. The digital signal processing techniques used are: FIR digital filters and the fast Fourier transform for analysis of muscular signal specter.

Key-Words: Biomedical engineering; Electronics; DSP; EMG.

Page 8: Protótipo de um EMG Digital

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Eletrodos de superfície descartáveis, com gel e adesivo ........................................... 6 Figura 2 - Op amp ideal.............................................................................................................. 7 Figura 3 - Amplificador inversor................................................................................................ 8 Figura 4 - Esquemático do amplificador de instrumentação ...................................................... 9 Figura 5 - Resposta em freqüência ideal .................................................................................. 10 Figura 6 - Esquemático de um filtro ativo inversor de 1ª ordem.............................................. 11 Figura 7 - Aliasing. Freqüência do sinal superior à metade da freqüência de amostragem ..... 13 Figura 8 - Diagrama de blocos de um ADC............................................................................. 13 Figura 9 – O plano complexo ................................................................................................... 17 Figura 10 - Convolução entre sinal amostrado e coeficientes (resposta no tempo) do filtro ... 19 Figura 11 - Resposta e coeficientes de um filtro FIR com 64 coeficientes .............................. 19 Figura 12 - Diagrama de um filtro IIR de 2ª ordem ................................................................. 21 Figura 13 - Resposta de um filtro IIR de 10ª ordem butterworth passa-baixa ......................... 22 Figura 14 - Diagrama simplificado do protótipo do aparelho de eletromiografia.................... 23 Figura 15 - Componentes do circuito de aquisição de sinal ..................................................... 24 Figura 16 - Pré-amplificador formado por in amps.................................................................. 25 Figura 17 - Disposição dos componentes na placa de circuito impresso ................................. 27 Figura 18 – Placa de circuito impresso para aquisição de sinal ............................................... 27 Figura 19 - LCD gráfico 128x64 pixels monocromático.......................................................... 30 Figura 20 - Esquema de endereçamento do LCD Tech12864G............................................... 30 Figura 21 - Fluxograma do software ........................................................................................ 32 Figura 22 - Resposta do filtro implementado ........................................................................... 33

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Etapas do desenvolvimento de um filtro FIR.......................................................... 20 Tabela 2 - Comparativo entre filtros IIR e FIR ........................................................................ 22 Tabela 3 - Conexão dos periféricos com o microcontrolador .................................................. 28 Tabela 4 - Pinagem do módulo LCD........................................................................................ 29 Tabela 5 - Comandos do LCD.................................................................................................. 31

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Código fonte para calibragem e leitura do ADC.................................................... 33 Quadro 2 - Código fonte da inicialização e cálculo da DFT .................................................... 34

Page 9: Protótipo de um EMG Digital

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 3

1.1 OBJETIVO DO TRABALHO ............................................................................................ 4

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO........................................................................................ 4

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................................... 5

2.1 ELETROMIOGRAFIA ....................................................................................................... 5

2.2 SENSORES......................................................................................................................... 5

2.2.1 Tipos de sensores .............................................................................................................. 5

2.2.2 Eletrodos ........................................................................................................................... 6

2.3 TRATAMENTO E CONDICIONAMENTO DE SINAIS ANALÓGICOS ...................... 6

2.3.1 Amplificadores operacionais............................................................................................. 7

2.3.2 Amplificadores de instrumentação.................................................................................... 8

2.3.3 Filtros analógicos .............................................................................................................. 9

2.3.4 Teorema de Nyquist ........................................................................................................ 12

2.3.5 Conversores de analógico para digital ............................................................................ 13

2.4 PROCESSAMENTO DE SINAIS DIGITAIS .................................................................. 14

2.4.1 Transformada de Fourier................................................................................................. 15

2.4.1.1 Transformada discreta de Fourier (DFT)...................................................................... 16

2.4.1.2 Transformada rápida de Fourier (FFT)......................................................................... 17

2.4.2 Filtros digitais ................................................................................................................. 18

2.4.2.1 Filtros FIR..................................................................................................................... 18

2.4.2.2 Filtros IIR ..................................................................................................................... 21

3 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO..................................................................... 23

3.1 HARDWARE.................................................................................................................... 23

3.1.1 Entrada de sinal e configuração dos eletrodos ................................................................ 23

3.1.2 Circuito de aquisição de sinal ......................................................................................... 24

3.1.3 Circuito digital microcontrolado..................................................................................... 28

3.1.4 Recursos do microcontrolador ........................................................................................ 28

3.1.5 Dispositivo de visualização............................................................................................. 29

3.2 SOFTWARE ..................................................................................................................... 31

3.2.1 Levantamento de requisitos ............................................................................................ 31

3.2.2 Desenvolvimento do software......................................................................................... 32

3.3 RESULTADOS ................................................................................................................. 34

Page 10: Protótipo de um EMG Digital

4 CONCLUSÕES.................................................................................................................. 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 37

APÊNDICE A – Esquemático do circuito de aquisição de sinal ............................................. 39

Page 11: Protótipo de um EMG Digital

3

1 INTRODUÇÃO

A eletromiografia (EMG) é o estudo da função muscular através da interpretação do

sinal bioelétrico circulante no músculo (WEBSTER, 2004). Os equipamentos de EMG são

utilizados na Medicina para diagnóstico de problemas neuromusculares e na Fisioterapia

como equipamentos de biofeedback para reeducação e treinamento muscular.

Através da medição e estudo do sinal muscular e de seu espectro de freqüência são

avaliadas características tais como o potencial de ativação das unidades motoras musculares,

recrutamento de unidades motoras, tempo de ativação muscular, trabalho muscular realizado

entre outras (RASH, 2004).

Este trabalho apresenta a construção de um protótipo de um aparelho de

eletromiografia digital composto por sensores, circuito de aquisição de sinal, processador de

sinais digitais, software e dispositivo de visualização.

Os sensores utilizados são eletrodos de superfície em contato com o músculo do

indivíduo e ligados às entradas do circuito de aquisição. O circuito de aquisição prepara o

sinal para conversão de analógico para digital e após a conversão, este é processado pelo

software e exibido em uma tela de cristal líquido (LCD).

O circuito de tratamento do sinal analógico é simples e realiza poucas manipulações no

sinal original, apenas filtra e amplifica o sinal para que este possa ser quantizado. Foi adotada

esta abordagem para minimizar as distorções causadas pela manipulação analógica, pois nesta

aplicação a forma do sinal deve ser preservada o mais próximo possível do original, e já que o

processamento do sinal digital não causa distorções definitivas, a maior parte da manipulação

de sinal é realizada pelo software.

Para realizar o processamento do sinal digital, foi desenvolvido um circuito

microcontrolado, que tem como entrada a saída do circuito de aquisição de sinal, e um

software que é executado pelo microcontrolador. Algumas das atribuições do software são:

filtragem digital, conversão de domínio e exibição dos gráficos de amplitude, freqüência e

potência do sinal.

Page 12: Protótipo de um EMG Digital

4

1.1 OBJETIVO DO TRABALHO

O objetivo deste trabalho é desenvolver um protótipo de um aparelho (hardware e

software) de eletromiografia digital. O dispositivo possui apenas um canal de aquisição de

sinal, que é realizada com três eletrodos, e efetua a medição de sinal apenas dos músculos

esqueléticos (superficiais) exibindo a saída do sistema em um LCD gráfico, utilizando um

microcontrolador para controlar todo o sistema.

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está organizado em três partes que serão detalhadas na fundamentação

teórica e no desenvolvimento do trabalho na ordem em que cada componente do sistema foi

desenvolvido.

Primeiro serão apresentadas as características do sensor utilizado para captura do sinal.

A segunda parte detalhará o circuito que realiza o condicionamento analógico do sinal

que compreende a amplificação, filtragem e preparação do sinal para quantização. A teoria

sobre amplificadores operacionais (o principal componente deste circuito) será apresentada,

assim como o teorema de Nyquist sobre amostragem de sinais.

A última etapa do trabalho descreve o circuito digital, o microcontrolador utilizado, as

ferramentas e a plataforma de desenvolvimento do software que controla o conversor de sinal

e o dispositivo de visualização. Serão apresentadas as teorias sobre processamento digital de

sinais, filtros digitais, transformações de sinais discretos, requisitos e modelo do software.

Page 13: Protótipo de um EMG Digital

5

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As teorias estudadas e utilizadas na implementação deste trabalho são revistas e

descritas a seguir. Em alguns casos é enfocada sua aplicação específica com a intenção de

tornar mais clara sua utilidade e o papel que desempenha dentro do protótipo desenvolvido

neste trabalho.

2.1 ELETROMIOGRAFIA

Segundo Rodriguez-Añez (2000), existem dois tipo de eletromiografia: a

eletromiografia de superfície que utiliza eletrodos de superfície para aquisição do sinal e a de

profundidade que utiliza eletrodos de agulha em contato direto com o tecido muscular. O

primeiro tipo de aparelho é o mais amplamente utilizado por se tratar de um método não

invasivo.

O sinal muscular quando medido com eletrodos de superfície apresenta amplitudes de

até 5mV e de até 10mV com eletrodos de agulha. A banda de freqüência do sinal muscular se

encontra, geralmente, entre 0Hz e 1kHz (WEBSTER, 1998).

A aquisição do sinal muscular pode ser realizada utilizando-se um eletrodo ativo e um

de referência ou então com dois ou três eletrodos ativos e um eletrodo de referência. Com dois

eletrodos ativos já é possível realizar a aquisição diferencial do sinal, eliminando grande parte

da interferência comum aos dois eletrodos, o que resulta em um sinal de qualidade satisfatória

(RASH, 2004).

2.2 SENSORES

A seguir é apresentada uma breve descrição sobre o que são sensores e os tipos

existentes. Logo após, os sensores utilizados para aquisição de sinal muscular, os eletrodos,

são detalhados.

2.2.1 Tipos de sensores

De acordo com Analog Devices (2002, p. 4.2), os sensores podem ser classificados de

acordo com a grandeza que medem. Existem sensores de pressão, luminosidade, movimento,

entre outros. Os sensores que transformam um tipo de energia em outro são chamados de

transdutores.

Page 14: Protótipo de um EMG Digital

6

Outra forma de se classificar os sensores é quanto à excitação. Sensores ativos

requerem uma fonte externa de excitação para que funcionem e sensores passivos não.

O sinal de saída da grande maioria dos sensores é relativamente pequeno, sendo

necessário tratar esta saída antes que se possa processar o sinal através de um circuito

analógico ou digital. Estes circuitos são chamados de condicionadores de sinais e são

específicos para cada tipo de sinal e sensor.

2.2.2 Eletrodos

Um tipo de sensor existente é o eletrodo, geralmente feito de prata (Ag/AgCl), pode

ser de superfície ou em forma de agulha (WEBSTER, 1998). O eletrodo é utilizado em

aparelhos de eletromiografia, eletroencefalograma e eletrocardiograma para medir os sinais

elétricos dos músculos, cérebro e coração. É um sensor passivo e não se trata de um

transdutor, pois o sinal de entrada é elétrico e o sinal de saída também, não há transformação.

No caso dos eletrodos de superfície, aplica-se uma substância no local onde o eletrodo

será fixado para diminuir a impedância da pele, permitindo maior circulação de corrente

elétrica e melhorando a captação do sinal. A Figura 1 mostra eletrodos de superfície utilizados

em aparelhos de ECG.

Figura 1 - Eletrodos de superfície descartáveis, com gel e adesivo

2.3 TRATAMENTO E CONDICIONAMENTO DE SINAIS ANALÓGICOS

O condicionamento de sinais analógicos envolve, principalmente, filtragem e

amplificação. O tratamento e condicionamento dos sinais é uma etapa indispensável na

aquisição, pois o espectro de freqüência do sinal deve ser limitado à faixa de interesse e o

Page 15: Protótipo de um EMG Digital

7

nível do sinal deve ser ajustado de forma que a aquisição seja realizada da melhor forma

possível, introduzindo o mínimo possível de erro ao processo (ANALOG DEVICES, 2002).

2.3.1 Amplificadores operacionais

O amplificador operacional, ou op amp, é utilizado na construção de amplificadores de

instrumentação, buffers, filtros ativos, amplificadores inversores, amplificadores não-

inversores, comparadores, somadores e integradores. São, portanto, a base dos circuitos de

condicionamento de sinais analógicos.

O op amp possui duas entradas e uma saída, uma das entradas é não-inversora e a outra

é inversora de sinal. A saída do amplificador, efeito sobre as entradas, depende da

configuração dos componentes passivos do circuito.

Para simplificação dos cálculos de demonstração do funcionamento do op amp, será

utilizado um amplificador “ideal” (Figura 2). No amplificador operacional ideal assume-se

que sua impedância de entrada iZ é infinita (não consome corrente), o ganho de sinal é

infinito, a resposta em qualquer freqüência é linear, a diferença de potencial EV (offset) entre

as entradas é nula e a impedância de saída OZ também é nula, isto é, fornece qualquer

corrente necessária. Mesmo com estas simplificações, na maioria dos casos os cálculos se

aproximam muito da realidade, pois os parâmetros dos op amps modernos são próximos dos

ideais.

Fonte: adaptado de Texas Instruments (2002b, p. 42)

Figura 2 - Op amp ideal

O exemplo abaixo é o cálculo de ganho de um amplificador inversor (Figura 3).

Page 16: Protótipo de um EMG Digital

8

Fonte: adaptado de Texas Instruments (2002b, p. 44)

Figura 3 - Amplificador inversor

Como a impedância de entrada do amplificador é infinita, pode-se utilizar a lei de

Kirchoff no circuito acima: saídaentrada II ∑=∑ , ou seja, a soma das correntes que entram é

igual a soma das correntes que saem de um junção. A corrente de entrada, pela lei de Ohm, é

G

entrada

RV

I =1 e a corrente de saída é F

saída

RV

I =2 . Como a realimentação está ligada à entrada

inversora, então 21 II −= , já que a diferença de potencial entre as entradas é igual a zero.

Igualando as duas equações F

saída

G

entrada

RV

RV

−= a voltagem de saída do amplificador fica sendo

G

Fentradasaída R

RVV ⋅−= , logo, o ganho do amplificador é G

F

RR

− .

2.3.2 Amplificadores de instrumentação

O amplificador de instrumentação, ou in amp, é um dos circuitos construídos a partir

do amplificador operacional. São utilizados três op amps no circuito e o resultado é uma alta

taxa de rejeição de modo comum1 e impedâncias de entrada bem próximas uma da outra, o

que resulta numa maior precisão na aquisição do sinal, pois reduz o offset. Este tipo de

amplificador é especialmente útil, devido as suas características, na aquisição de sinais

reduzidos e quando a interferência se sobrepõe de forma significativa ao sinal.

O in amp é um tipo especial de amplificador diferencial e o circuito possui dois

estágios. No primeiro estágio cada uma das entradas é amplificada, em cada entrada existe um

amplificador não-inversor. A segunda etapa consiste em um amplificador diferencial onde as

entradas são as saídas dos amplificadores não-inversores.

1 Rejeição de modo comum é atenuação do sinal comum às duas entradas do amplificador.

Page 17: Protótipo de um EMG Digital

9

As equações para cálculo de ganho são as mesmas utilizadas nos circuitos que

compõem o in amp (Figura 4), portanto, apenas a equação final de ganho do in amp será

apresentada, pois a demonstração de todas as equações dos amplificadores operacionais foge

ao escopo deste texto. Em Texas Instruments (2002b), Gayakwad (1988) e Analog Devices

(2002) encontram-se as demonstrações detalhadas das equações dos circuitos mais utilizados.

Figura 4 - Esquemático do amplificador de instrumentação

O ganho dos amplificadores não-inversores, neste circuito, é calculado por 2

121RR⋅+ e

2

321RR⋅+ . Assumindo 75 RR = e 64 RR = , para fins de simplificação, o ganho do

amplificador diferencial pode ser calculado por 4

521 )(

RR

VV ⋅− . O ganho total do circuito,

assumindo 31 RR = , é dado por 4

5

2

1 )21(RR

RR

⋅⋅+ . Com 45 RR = e fixando-se um valor para 1R ,

o ganho total do circuito pode ser controlado com apenas um resistor: )21(2R

K⋅+ .

2.3.3 Filtros analógicos

Os filtros de sinais analógicos são utilizados para filtrar as freqüências que não se quer

tratar e deixar passar somente o espectro de freqüência de interesse (TEXAS

INSTRUMENTS, 2002a). De acordo com a necessidade pode-se utilizar quatro tipos distintos

de filtros:

Page 18: Protótipo de um EMG Digital

10

a) passa-baixa: filtra as freqüências acima da freqüência de corte;

b) passa-alta: filtra as freqüências abaixo da freqüência de corte;

c) passa-faixa: filtra as freqüências fora da faixa de interesse. É formado pela

combinação em série de um filtro passa-baixa e um passa-alta;

d) rejeita-faixa: filtra a faixa de freqüência desejada. É formado pela combinação em

paralelo de um filtro passa-baixa e um passa-alta em série com um amplificador

somador.

A resposta de um filtro ideal, na freqüência, é unitária para a faixa de freqüência que se

quer passar e nula para as freqüências que se deseja bloquear, como mostra a Figura 5.

Figura 5 - Resposta em freqüência ideal

Os filtros podem ser passivos ou ativos. O esquemático dos filtros passivos é formado

apenas por componentes passivos (resistores, capacitores e indutores) e são utilizados,

geralmente, para freqüências acima de 10 MHz (ALEXANDER, 2003). Para freqüências mais

baixas utiliza-se um filtro ativo, construído com amplificadores operacionais, pois o tamanho

e o custo do indutor se tornam excessivos. Neste trabalho apenas os filtros ativos passa-baixa

são relevantes, logo, apenas este tipo de filtro será detalhado. Em um sistema de aquisição de

dados, como será explicado adiante, é necessário um filtro passa-baixa, ou filtro anti-aliasing,

antes da conversão do sinal de analógico para digital. Se o sinal não for filtrado antes de ser

convertido, o efeito de aliasing causa distorções no sinal que posteriormente não podem ser

removidas.

Na prática a resposta dos filtros não é ideal e a análise da resposta em freqüência dos

filtros se faz necessária através do estudo dos pólos e zeros da função de transferência do

filtro que se deseja construir (OGATA, 2003). As principais características dos filtros que

devem ser levadas em consideração são a resposta em fase (atraso no sinal) e a resolução e a

Page 19: Protótipo de um EMG Digital

11

velocidade de atenuação. Em um filtro ideal a resposta em fase deve ser linear para todas as

freqüências e a atenuação do sinal deve ser precisa e rápida. Existem três tipos principais de

otimizações das respostas dos filtros, que são utilizadas de acordo com a aplicação. Em cada

tipo de resposta a concessão de uma característica é feita para que outra possa ser melhorada,

como segue:

a) resposta butterworth: melhor relação entre a resposta em fase e velocidade de

atenuação. Não possui ripple na banda de passagem;

b) resposta bessel: boa resposta em fase, mas possui pouca resolução na banda de

transição;

c) resposta chebyshev: maior velocidade de atenuação, mas possui ripple na banda de

passagem.

A demonstração a seguir é o cálculo dos valores dos componentes de um filtro ativo

passa-baixa inversor de 1ª ordem com uma freqüência de corte de 10kHz. O esquemático do

filtro é exibido na Figura 6.

Figura 6 - Esquemático de um filtro ativo inversor de 1ª ordem

No circuito da Figura 6 nota-se que para freqüências altas a impedância do capacitor

)2

1(Cf

RC ⋅⋅⋅=

π diminui causando, também, diminuição no ganho do amplificador e para

freqüências baixas o ganho é definido pela razão entre os resistores. A forma geral da função

de transferência de um filtro de 1ª ordem é sa

A⋅+ 1

0

1. A função de transferência do circuito

acima é sCR

RR

FFC

GF

⋅⋅⋅+−ω1

, onde o numerador é o ganho do amplificador inversor mostrado

na Figura 3 e, neste circuito, representa o ganho do filtro e “s” é a variável de freqüência

Page 20: Protótipo de um EMG Digital

12

complexa. A variável Cω é a freqüência de corte do filtro expressa como freqüência angular,

e é igual a Cf⋅⋅π2 , onde Cf é a freqüência oscilatória de corte do filtro. Substituindo a

freqüência angular na equação anterior sCRf

RR

FFC

GF

⋅⋅⋅⋅⋅+−π21

, os coeficientes ficam

FFC CRfa ⋅⋅⋅⋅= π21 , G

F

RRA −=0 , 11 =a e 10 −=A (inversor com ganho unitário). Com

estas equações já é possível calcular os valores dos componentes do filtro determinando a

freqüência de corte, o ganho do filtro (neste exemplo igual a -1), o valor do capacitor e

calculando os resistores: FC

F CfR

⋅⋅⋅=

π21 e FG RR = . Se nFCF 47= e KHzfC 10= , então

Ω=⋅⋅⋅⋅⋅

== − 338104710102

193 FHz

RR GF π. Com os componentes calculados, pode-se

substituir a variável “s” por uma freqüência qualquer (real ou complexa) e testar a resposta do

filtro para esta freqüência. Maiores detalhes sobre modelagem matemática e análise de

circuitos encontram-se disponíveis em Ogata (2003), Phillips (1996) e Alexander (2003).

Texas Instruments (2002a) apresenta uma discussão sobre filtros passa-baixa.

Na maioria das situações um filtro de 1ª ordem não fornece uma resposta em

freqüência adequada e um filtro de ordem mais elevada deve ser utilizado para melhorar esta

resposta (TEXAS INSTRUMENTS, 2002a). Este aumento é realizado com a ligação em série

de filtros de 1ª e 2ª ordem e com o ajuste dos coeficientes de cada etapa do filtro. Quanto

maior a ordem do filtro, mais este se aproxima do ideal, melhor sua resposta, mais rápida a

atenuação de sinal ocorre e para cada uma das otimizações de resposta o efeito das

características indesejáveis é atenuado.

2.3.4 Teorema de Nyquist

O teorema de Nyquist, desenvolvido por Harry Nyquist em 1928, determina que a taxa

de amostragem de um sinal deve ser no mínimo duas vezes maior que a freqüência mais alta

encontrada no sinal amostrado )2( FFS ≥ para que este possa ser reconstruído, de forma

correta, a partir das amostras (PROAKIS, 1996). O efeito causado pela amostragem imprópria

do sinal é conhecido como aliasing, ilustrado na Figura 7, que é o mascaramento de

freqüências no sinal amostrado. Por esta razão, o sinal amostrado precisa ter sua faixa de

Page 21: Protótipo de um EMG Digital

13

freqüência limitada a, no máximo, metade da freqüência de amostragem. Para realizar esta

filtragem são utilizados filtros passa-baixa2 antes da amostragem do sinal.

Fonte: adaptado de Proakis (1996, p. 27)

Figura 7 - Aliasing. Freqüência do sinal superior à metade da freqüência de amostragem

2.3.5 Conversores de analógico para digital

Conversores de sinais analógicos para digitais (ADC’s) são compostos, em geral, por

um circuito de amostragem e retenção de sinal, ou sample & hold (S&H), e um quantizador.

O circuito de S&H captura o nível de tensão na entrada do conversor e armazena este valor

para conversão. O quantizador faz a conversão do nível de tensão armazenado no circuito de

S&H e o converte para o valor digital equivalente como mostra a Figura 8.

Entrada analógica Saída digitalS&H Quantizador

Figura 8 - Diagrama de blocos de um ADC

A quantização pode ser realizada através de um circuito delta-sigma (∆Σ ), pipeline ou

registrador de aproximação sucessiva (SAR).

a) conversor ∆Σ : possui um modulador que amostra o sinal de entrada inúmeras

vezes para depois convertê-lo. Deve-se escolher entre velocidade ou precisão

2 Os filtros passa-baixa são chamados, também, de filtros anti-aliasing.

Page 22: Protótipo de um EMG Digital

14

ajustando a taxa de conversão em relação à taxa de amostragem do conversor para

o valor ideal necessário à aplicação.

b) conversor pipeline: possui um quantizador paralelo de N estágios que são

combinados para formar a saída final. Conversores pipeline são capazes de atingir

altas taxas de conversão de dados, tornando-os ideais para sinais de alta freqüência.

São otimizados para aquisição diferencial de sinal.

c) conversor SAR: cada bit do valor de saída é calculado através da comparação

sucessiva entre o sinal amostrado e a saída de um conversor digital para analógico

(DAC) de alta velocidade e alta precisão. São ideais para sinais DC ou AC até

aproximadamente 10MHz não-contínuos e possuem pouco tempo de latência entre

a amostragem e a conversão do sinal.

O processo de quantização introduz uma certa quantidade de erro e incerteza, pois o

sinal deixa de ser contínuo e passa a ser discreto após a conversão. Para calcular a precisão de

um ADC a seguinte fórmula pode ser utilizada: NFSEntradas

2Re = , onde FSEntrada é o valor

da tensão do sinal em fundo de escala e “N” é a resolução, em bits, do conversor. Para um

conversor de 16 bits e um sinal de 5Vp-p a resolução é de VpVpµ76

655365

25

16 ≅=− que é o

valor do bit menos significativo (LSB) e é a variação necessária de sinal para causar uma

mudança na saída do conversor. O percentual de erro introduzido pelo sistema acima descrito

é de 0,00076% ou 7,6 pontos por milhão em fundo de escala (ANALOG DEVICES, 2002, p.

3.7). Para melhorar a precisão do conversor e a qualidade do sinal digital, pode-se diminuir a

faixa de tensão do sinal ou aumentar a resolução do conversor.

2.4 PROCESSAMENTO DE SINAIS DIGITAIS

O Processamento de Sinais Digitais distingui-se de outras áreas da ciência da computação pelo tipo dos dados que utiliza: sinais. Na maioria dos casos, estes sinais se originam de dados adquiridos do mundo real: vibrações sísmicas, imagens visuais, ondas sonoras, etc. DSP é a matemática, os algoritmos, e as técnicas utilizadas para manipular estes sinais após sua conversão para uma forma digital. Isto inclui uma vasta gama de possibilidades, como: realce de imagens visuais, reconhecimento e geração de fala, compressão de dados para armazenamento e transmissão, etc. Vamos supor que conectamos um conversor analógico/digital a um computador e o utilizamos para adquirir informações do mundo real. DSP responde à pergunta: E depois? (SMITH, 1999, p. 1).

Page 23: Protótipo de um EMG Digital

15

Os algoritmos mais utilizados no processamento de sinais digitais são os filtros digitais

e a transformada de Fourier modificada para sinais discretos.

Com a aplicação de filtros digitais é possível realizar manipulações no sinal que de

outra forma teriam que ser feitas diretamente no sinal analógico através de um circuito

eletrônico e, ao contrário dos filtros analógicos, os filtros digitais podem ser facilmente

ajustados dinamicamente durante a execução do algoritmo realizando simples alterações de

valores nos parâmetros do filtro. Quanto à performance dos filtros digitais, esta é limitada

apenas pela capacidade de processamento disponível, o que hoje não representa uma séria

limitação, quando que nos filtros analógicos uma performance equivalente implicaria em um

aumento na complexidade, custo, tamanho e tempo de desenvolvimento do circuito.

A mesma praticidade e flexibilidade aplicam-se a transformada de Fourier para sinais

digitais (SMITH, 1995), que possibilita a realização da análise de espectro de um sinal sem a

necessidade de um analisador de espectro analógico.

2.4.1 Transformada de Fourier

A transformada de Fourier, desenvolvida pelo matemático francês Jean Baptiste Joseph

Fourier (1768 - 1830), é uma transformada integral que permite realizar a transformação de

funções não-periódicas do domínio do tempo para o domínio da freqüência. Algumas das

aplicações práticas da transformada de Fourier são: processamento de sinais digitais,

espectrômetros, análise de circuitos, entre outras (ALEXANDER, 2003).

A dedução da equação da transformada de Fourier é realizada a partir da identidade de

Euler e da generalização da série exponencial de Fourier. A série de Fourier é uma forma de

expressar uma função periódica não-senoidal como uma soma infinita de senos e cossenos.

A integral da transformada de Fourier é ∫+∞

∞−

⋅⋅− ⋅⋅ dtetf ti ω)( , onde ω é a freqüência

angular e “i” é o número imaginário ( 1−=i ). f⋅⋅= πω 2 e )()cos( tsenite ti ⋅⋅−⋅=⋅⋅− ωωω

pela identidade de Euler. Substituindo as equações anteriores, a integral pode ser reescrita em

termos de senos e cossenos como: ∫ ∫+∞

∞−

+∞

∞−⋅⋅⋅⋅⋅⋅−⋅⋅⋅⋅⋅ dttfsentfidttftf )2()()2cos()( ππ .

Para realizar o processo inverso, transformar uma função do domínio da freqüência de volta

para o domínio do tempo, utiliza-se a transformada inversa de Fourier: ∫+∞

∞−

⋅⋅⋅⋅ ⋅⋅ dfefF tfi π2)( .

Page 24: Protótipo de um EMG Digital

16

Resumindo, de forma simples, o que é feito na integral da transformada de Fourier é a

integração, no tempo, de )(tf para cada freqüência que compõe a função, resultando em uma

função no domínio da freqüência que representa o espectro e a fase da função transformada de

forma complexa.

2.4.1.1 Transformada discreta de Fourier (DFT)

Para aplicar a transformada de Fourier em funções discretas é necessário realizar

algumas modificações para discretizar a equação, pois a transformada original aplica-se

apenas para funções contínuas.

Partindo da equação contínua ∫+∞

∞−

⋅⋅− ⋅⋅ dtetf ti ω)( , a função )(tf é substituída por uma

seqüência discreta de amostras, a integral substituída por um somatório, o tempo contínuo

passa a ser a posição “k” da seqüência de amostras, a freqüência é expressa em termos

relativos (frações da freqüência de amostragem) como Nn e a equação fica: ∑

=

⋅⋅⋅⋅−⋅

1

0

2N

k

Nnki

k efπ

.

Realizando a mesma substituição anterior com a identidade de Euler tem-se

∑∑−

=

=

⋅⋅⋅⋅⋅−⋅⋅⋅⋅1

0

1

0)2()2cos(

N

kk

N

kk N

nksenfiNnkf ππ . Por fim, para colocar os resultados na

escala de freqüência correta, é necessário conhecer a freqüência de amostragem (intervalo de

tempo entre as amostras).

A complexidade do algoritmo que resolve a equação acima, para todas as freqüências

possíveis da função discreta, é de 22 N⋅ , pois para cada somatório são utilizados dois laços de

repetição aninhados, cada um realizando N repetições. O laço externo itera “n” (freqüência) e

o laço interno itera “k” (tempo). Cada laço completo de “k” resulta em um número complexo

representando a contribuição da freqüência “n” na composição da função. A seqüência de

valores complexos resultante ( yix ⋅+ ) é utilizada para calcular a fase (xy1tan − ) e a potência

( 22 yx + ) em função da freqüência. A Figura 9 ajuda no entendimento do significado dos

números complexos.

Page 25: Protótipo de um EMG Digital

17

yixz

θ⋅⋅=⋅+

+=iezyix

yxz

||

|| 22

|| z

θ

Figura 9 – O plano complexo

2.4.1.2 Transformada rápida de Fourier (FFT)

Embora a transformada discreta realize o trabalho de transformação através de um

algoritmo relativamente simples, sua complexidade exponencial torna sua aplicação lenta para

seqüências longas de amostras e para processamento em tempo real. O tempo de

processamento necessário se torna longo demais.

O algoritmo da transformada rápida de Fourier obtém os mesmos resultados da

transformada discreta, mas reduz a complexidade exponencial de 22 N⋅ para NN 2log⋅

através da fatoração da seqüência de valores que deve ser transformada (SMITH, 1995). A

fatoração consiste na subdivisão sucessiva da seqüência de amostras que deve ser

transformada e causa a alteração na posição dos resultados forçando a reordenação destes. A

reordenação das amostras pode ser realizada antes da transformação (fatoração no tempo) ou

depois da transformação (fatoração na freqüência) e os resultados obtidos das duas formas são

os mesmos.

Page 26: Protótipo de um EMG Digital

18

2.4.2 Filtros digitais

Os filtros digitais são poderosas ferramentas no processamento de sinais digitais, pois

realizam a filtragem de sinais de forma semelhante aos filtros analógicos implementados em

hardware, mas sem apresentar os problemas relacionados a imperfeições dos componentes,

variações com a temperatura, etc. Desta forma é possível alcançar níveis de performance

dificílimos, se não impossíveis, de serem alcançados com filtros analógicos (SMITH, 1999).

Os dois tipos básicos de filtros digitais existentes são FIR (finite impulse response) e

IIR (infinite impulse response). Filtros FIR são implementados através de convolução e filtros

IIR são implementados através de recursão.

2.4.2.1 Filtros FIR

Filtros FIR são implementados através da aplicação direta da operação de convolução.

A resposta em freqüência desejada é calculada, quantizada e depois transformada para o

domínio do tempo. O resultado da transformação, a resposta no tempo, são os coeficientes do

filtro ou filter kernel.

No domínio da freqüência a multiplicação de sinais é o equivalente da convolução no

domínio do tempo e é desta forma que funcionam os filtros FIR, realizando a convolução de

sinais no domínio do tempo. Sendo )(tf a função no domínio do tempo, )(ωF a função

transformada para o domínio da freqüência, )(th a resposta do filtro no domínio do tempo e

)(ωH a resposta do filtro no domínio da freqüência, então: )()()()( ωω HFthtf ⋅=∗

(SMITH, 1999).

A principal característica de um filtro FIR é que sua resposta em fase é completamente

linear.

A Figura 10 ilustra o funcionamento de um filtro FIR com quatro coeficientes. As

amostras do sinal são colocadas em um buffer circular, multiplicadas pelos respectivos

coeficientes do filtro e somadas para formar a saída do filtro. De forma semelhante aos filtros

analógicos, quanto maior a quantidade de coeficientes, melhor a resolução e a precisão do

filtro, mas no caso dos filtros digitais apenas o tempo de processamento é comprometido pelo

aumento na ordem do filtro.

Page 27: Protótipo de um EMG Digital

19

S3

H0

X

S2

H1

X

S1

H2

X

S0

H3

X

Entradado filtro

Coeficientesdo filtro

+Saída

do filtro

Figura 10 - Convolução entre sinal amostrado e coeficientes (resposta no tempo) do filtro

A Tabela 1 mostra as etapas de construção de um filtro FIR a partir da resposta em

freqüência desejada e a Figura 11 mostra o exemplo de um filtro com 64 coeficientes que são

obtidos a partir da quantização da resposta desejada do filtro no tempo. Este exemplo, em

particular, é de um filtro passa-baixa para um sinal amostrado a 100kHz com freqüência de

corte de 30kHz. As imperfeições na atenuação e na banda de corte do filtro são conseqüências

da quantização dos coeficientes e podem ser melhoradas aumentando-se o número de

coeficientes do filtro.

Fonte: MatLab R12, Filter Design & Analysis Tool

Figura 11 - Resposta e coeficientes de um filtro FIR com 64 coeficientes

Page 28: Protótipo de um EMG Digital

20

Tabela 1 - Etapas do desenvolvimento de um filtro FIR Fonte: Imagens adaptadas de Smith (1999). Etapa Ilustração Primeiro defini-se qual a resposta ideal, em freqüência, desejada para o filtro.

Depois de definida a resposta, esta é transformada para o domínio do tempo através da transformada inversa de Fourier e depois amostrada.

A resposta no domínio do tempo é, então, truncada de forma simétrica para a quantidade de amostras desejada e deslocada para a direita para que a primeira amostra fique na posição zero. Estes são os coeficientes do filtro.

Para determinar qual a resposta resultante, os coeficientes do filtro são transformados de volta para o domínio da freqüência através da transformada rápida de Fourier. Esta etapa é necessária, pois o truncamento altera a resposta do filtro, que agora é apenas uma aproximação da resposta ideal.

Page 29: Protótipo de um EMG Digital

21

2.4.2.2 Filtros IIR

Os filtros IIR são a versão digital dos filtros analógicos discutidos anteriormente e seus

coeficientes são calculados diretamente da função de transferência do circuito. Os coeficientes

de entrada são os zeros do numerador da função de transferência e os coeficientes de

realimentação (recursão) são os pólos do denominador da função de transferência.

A performance dos filtros IIR é a mesma dos filtros analógicos, não apresentando

nenhuma vantagem sobre os filtros FIR. Além disso, sua resposta em fase não é linear. A

única vantagem dos filtros recursivos sobre os filtros FIR é que o tempo computacional gasto

na sua execução é inferior ao que seria necessário para um filtro FIR equivalente.

Filtros recursivos devem ser utilizados apenas quando a fase do sinal não for

importante ou o tempo de processamento for crítico ou então para duplicar as respostas dos

filtros analógicos.

Como mostra a Figura 12, as entradas são colocadas em um buffer circular e

multiplicadas pelos respectivos zeros do denominador da função de transferência do circuito,

as saídas vão para outro buffer circular e são multiplicadas pelos pólos da função e, por fim,

são somadas saídas e entradas para formar a saída atual do filtro. O pólo “P0” não é utilizado

na realimentação e representa o ganho do filtro. Para filtros com ganho unitário o pólo “P0”

normalmente é omitido no diagrama.

+X

X

X

X

X

E2

E1

E0

Z0

Z1

Z2

P2

P1 S1

S0

Entradado filtro

Saídado filtro

E = EntradasZ = Zeros da função de transferênciaP = Pólos da função de transferênciaS = Saídas do filtro

P0

Figura 12 - Diagrama de um filtro IIR de 2ª ordem

A implementação de filtros de ordem mais elevada em software é idêntica à

implementação em hardware onde são conectados vários filtros de 1ª e 2ª ordem em série.

Page 30: Protótipo de um EMG Digital

22

A Figura 13 apresenta a resposta de um filtro passa-baixa tipo butterworth de 10ª

ordem para um sinal amostrado a 100kHz com freqüência de corte de 30kHz e ilustra a não-

linearidade na resposta em fase dos filtros IIR.

Fonte: MatLab R12, Filter Design & Analysis Tool

Figura 13 - Resposta de um filtro IIR de 10ª ordem butterworth passa-baixa

Para aplicações onde a forma do sinal deve ser preservada ao máximo, como neste

trabalho, os filtros FIR se mostram ideais, neste sentido, se comparados aos filtros IIR, de

acordo com a Tabela 2.

Tabela 2 - Comparativo entre filtros IIR e FIR FIR IIR Resposta em fase linear. Resposta em fase não-linear. Menor propagação de erro. Maior propagação de erro devido à

realimentação. Maior tempo de processamento. Menor tempo de processamento. Maior quantidade de memória necessária. Menor quantidade de memória necessária.

Page 31: Protótipo de um EMG Digital

23

3 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

O desenvolvimento do protótipo do aparelho de eletromiografia digital está

subdividido em três partes: desenvolvimento do hardware, desenvolvimento do software e

resultados. No desenvolvimento do hardware é detalhada a aquisição de sinal através dos

eletrodos, o esquemático do circuito de aquisição de sinal, o circuito microcontrolado, as

características do microcontrolador utilizado e o dispositivo de visualização (módulo LCD).

No desenvolvimento do software são apresentados os requisitos, a especificação e a

modelagem do software. A organização e a relação entre os componentes do protótipo são

mostrados na Figura 14.

Eletrodosde aquisição

Eletrodode referência

Aquisiçãode sinal DSP LCD

Software

EMG

Figura 14 - Diagrama simplificado do protótipo do aparelho de eletromiografia

3.1 HARDWARE

A descrição do hardware desenvolvido e utilizado neste trabalho compreende os

sensores utilizados, o circuito eletrônico analógico desenvolvido, o circuito digital, o

microcontrolador e o dispositivo de visualização.

3.1.1 Entrada de sinal e configuração dos eletrodos

Os eletrodos, como mostra a Figura 14, possuem duas funções: os eletrodos de

aquisição, que são colocados sobre o músculo esquelético de interesse e o eletrodo de

referência, que é colocado em uma parte do corpo sem atividade muscular e é utilizado para

referenciar o sinal muscular e colocá-lo no mesmo plano de terra do circuito de aquisição de

sinal.

Page 32: Protótipo de um EMG Digital

24

Ambos eletrodos de aquisição devem estar situados sobre o mesmo músculo para que o

sinal adquirido possua sentido, pois a medição realizada com os eletrodos é diferencial, logo,

os sinais captados por cada um dos eletrodos de aquisição devem ser relativos ao mesmo

músculo.

O sinal elétrico muscular captado pelos eletrodos é bipolar e se encontra na faixa de

Vµ25 até mV5 p-p, conforme medido em laboratório com a utilização de um osciloscópio.

Para realizar os testes e medições do aparelho foram utilizados eletrodos de superfície

descartáveis de ECG devido ao valor elevado dos eletrodos específicos para EMG.

O principal problema na aquisição de sinais através de eletrodos ocorre com os cabos

que conectam os eletrodos ao circuito de aquisição de sinal. Os cabos devem estar o mais

próximo possível uns dos outros para que a interferência captada em cada um dos cabos seja a

mesma e possa ser propriamente eliminada durante a amplificação diferencial. Se a

interferência captada for muito diferente de um cabo para outro, então a amplificação

diferencial acaba por amplificar a diferença entre a interferência de cada cabo, ocasionando

perda de sinal.

3.1.2 Circuito de aquisição de sinal

A Figura 15 mostra as etapas do circuito de aquisição de sinal muscular que foi

desenvolvido neste trabalho.

Amplicaçãodiferencial

Filtroinversor

Amplificadorinversor ADC

Circuito deaquisição de sinal

Entradade sinal

Saídadigital

Figura 15 - Componentes do circuito de aquisição de sinal

Page 33: Protótipo de um EMG Digital

25

A etapa de amplificação diferencial consiste de três amplificadores de instrumentação

iguais que eliminam a interferência comum aos dois eletrodos de sinal e aplicam um ganho de

V1/2 (duas vezes) no sinal resultante (Figura 16). Esta é a etapa de pré-amplificação, onde o

sinal diferencial é “limpo” e preparado para ser filtrado. As principais fontes de interferência

neste estágio da aquisição de sinal são: campos eletromagnéticos captados pelos cabos que

conectam os eletrodos ao circuito de aquisição e a interferência induzida da própria rede

elétrica (60Hz). Os amplificadores utilizados podem ser o AD620 da Analog Devices

(ANALOG DEVICES, 1999), o INA114 da Texas Instruments (TEXAS INSTRUMENTS,

1998a) ou quaisquer outros amplificadores de instrumentação compatíveis, desde que todos

do mesmo modelo. O ganho aplicado ao sinal, nesta etapa, pode ser aumentado com resistores

opcionais que ajustam o ganho de cada amplificador. As principais características levadas em

consideração na escolha dos amplificadores foram a taxa de rejeição de modo comum

(CMRR) e o offset das entradas de sinal. Além da função que desempenham no circuito, os in

amps também satisfazem o requisito da entrada de alta impedância necessária para aquisição

de sinais de baixa corrente elétrica.

A+X

B+X

B+X

A+X

(A+X)-(B+X)+z = (A-B)+z

(B+X)-(A+X)+z=(B-A)+z

((A-B)+z)-((B-A)+z)=2(A-B)

A e B = Sinais de entradaX=Interferência comum inicialZ=Interferência comum X atenuada

Figura 16 - Pré-amplificador formado por in amps

Após a pré-amplificação, o sinal resultante é filtrado através de um filtro passa-baixa

inversor de 2ª ordem com resposta butterworth, freqüência de corte de 10kHz e ganho de

V1/1− (inversor com ganho unitário). O componente utilizado para construção do filtro é o

UAF42 (Universal Active Filter) da Texas Instruments (TEXAS INSTRUMENTS, 1998b). O

UAF42 possui capacitores de precisão e quatro op amps integrados, além de um software

próprio de auxílio ao desenvolvimento de filtros até 10ª ordem com este componente (TEXAS

INSTRUMENTS, 2000). Este é o filtro de anti-aliasing do circuito de aquisição de sinal que

Page 34: Protótipo de um EMG Digital

26

elimina demais ruídos em alta freqüência que ainda possam existir e limita a banda de

freqüência do sinal entre 0Hz e 10kHz.

Depois da pré-amplificação e filtragem, a inversão do sinal, realizada pelo filtro, é

desfeita e o nível do sinal é ajustado ao fundo de escala do conversor A/D através de um

amplificador inversor construído com um op amp. O op amp utilizado nesta etapa deve ter o

mínimo de offset possível pois o ganho aplicado neste estágio é de V1/500 (quinhentas

vezes) e um op amp com offset muito alto pode terminar por deslocar o nível DC do sinal

consideravelmente. O componente utilizado foi o OP270 da Analog Devices (ANALOG

DEVICES, 2003b), que é um op amp duplo com offset máximo em torno de Vµ75 . Apenas

um dos dois op amps do componente é utilizado, o segundo é aterrado e não desempenha

nenhuma função no circuito. O ganho total do circuito até esta etapa é de V1/1000 (mil

vezes) sobre o sinal original e como o sinal muscular possui uma amplitude máxima de

pmVp −5 , então a amplitude máxima final é de pVp −5 , com a banda de freqüência limitada

entre 0Hz e 10kHz. O mesmo amplificador da Figura 3 é utilizado aqui.

Com o sinal filtrado e amplificado, agora já é possível convertê-lo para digital. Esta é

última etapa da aquisição de sinal, onde se dá a conversão do sinal analógico de pVp −5 em

um sinal digital de 16 bits sinalizado com valores variando entre 32767− e 32767+ . O

conversor utilizado foi o ADC AD677 da Analog Devices (ANALOG DEVICES, 1995), que

é um conversor de 16 bits serial, bipolar e com autocalibragem interna. O AD677 necessita de

voltagem de referência (VREF) externa e para isto foi utilizado o AD586 da Analog Devices

(ANALOG DEVICES, 2004), que é uma voltagem de referência de 5V de alta precisão. O

fundo de escala do AD677 é definido por VREF−+ , podendo variar entre 5V e 10V, e a taxa

de conversão utilizada é de 100.000 amostras por segundo (100 kSPS), para um sinal limitado

a 10kHz a condição definida pelo teorema de Nyquist é satisfeita, pois o sinal está sendo

amostrado a uma taxa 10 vezes maior que a maior freqüência encontrada no sinal. A taxa de

amostragem utilizada é cinco vezes maior que a mínima necessária, pois algumas freqüências

acima de 10kHz talvez ainda estejam presentes no sinal devido à baixa ordem do filtro de

anti-aliasing, entretanto, dificilmente existirão freqüências acima de 50kHz no sinal.

O apêndice A mostra o esquemático do circuito de aquisição de sinal e a Figura 17

mostra a disposição dos componentes na placa de circuito impresso, ambos desenvolvidos no

Eagle PCB Layout Editor. Este software permite a criação de placas de circuito impresso de

Page 35: Protótipo de um EMG Digital

27

duas camadas a partir do esquemático do circuito e realiza o roteamento automático das

trilhas. O Figura 18 apresenta a placa de circuito impresso já com os componentes e

conectores soldados.

Figura 17 - Disposição dos componentes na placa de circuito impresso

Figura 18 – Placa de circuito impresso para aquisição de sinal

Page 36: Protótipo de um EMG Digital

28

3.1.3 Circuito digital microcontrolado

Para o circuito digital microcontrolado foi utilizado um microcontrolador 8051 modelo

AT89C51RD2, fabricado pela empresa Atmel (ATMEL, 2004).

Para desenvolvimento de software para o microcontrolador, o fabricante fornece,

também, um ambiente integrado de desenvolvimento (IDE) em C/C++/ASM, depurador,

emulador, desmontador de código e várias outras ferramentas que agilizam e aceleram o

desenvolvimento. O IDE é executado em plataforma Windows e se comunica com o

microcontrolador através da interface serial do microcomputador, que é utilizada para

depuração e upload do software que é executado pelo microcontrolador.

Todo o protótipo de EMG digital é controlado pelo microcontrolador 8051. Os pinos

de controle do conversor A/D da placa de aquisição e os pinos de entrada e saída e de controle

do dispositivo de visualização são conectados diretamente as portas de entrada e saída do

microcontrolador, como mostra a Tabela 3. Tabela 3 - Conexão dos periféricos com o microcontrolador

Periférico Porta de E/S do microcontrolador AD677 PORT1 (CLK, SAMPLE, CAL, SDATA) LCD – Dados PORT2 (DB0~DB7) LCD – Controle PORT3 (RS, R/W, E, CS1, CS2)

3.1.4 Recursos do microcontrolador

O microcontrolador que foi utilizado possui as seguintes características listadas abaixo:

a) conjunto de instruções CISC compatível com modelo 8051;

b) 64K bytes de memória flash reprogramável utilizada para dados e programa;

c) 1792 bytes de RAM;

d) 2K bytes de memória EEPROM para armazenamento de dados;

e) 2K bytes de ROM contendo boot loader serial e rotinas de baixo nível para leitura

e gravação em memória flash;

f) três temporizadores de 16 bits;

g) quatro portas de entrada e saída de 8 bits;

Page 37: Protótipo de um EMG Digital

29

h) freqüência de funcionamento de até 60MHz;

i) interface UART full-duplex.

3.1.5 Dispositivo de visualização

O dispositivo utilizado para visualização do sinal muscular é um módulo LCD gráfico

monocromático com resolução de 128x64 pixels com controlador padrão KS0108B. O

módulo possui 20 pinos de controle e alimentação e 2 pinos para alimentação de backlight

(anodo e catodo). O dispositivo é exibido na Figura 19 e os pinos e controle e alimentação são

detalhados na Tabela 4.

Tabela 4 - Pinagem do módulo LCD

Pino Função Descrição 1 VSS Terra 2 VDD Alimentação (+5V) 3 V0 Ajuste de contraste 4 RS Seletor de registrador de dados (H) ou de comandos (L) 5 R/W Seletor de leitura (H) ou gravação (L) 6 E Enable. Pino de sincronia de leitura e gravação 7 DB0 Bit 0 do registrador de dados/comandos 8 DB1 Bit 1 do registrador de dados/comandos 9 DB2 Bit 2 do registrador de dados/comandos 10 DB3 Bit 3 do registrador de dados/comandos 11 DB4 Bit 4 do registrador de dados/comandos 12 DB5 Bit 5 do registrador de dados/comandos 13 DB6 Bit 6 do registrador de dados/comandos 14 DB7 Bit 7 do registrador de dados/comandos 15 CS1 Chip Select 1. Seletor do banco 0 (CS1=H, CS2=L) 16 RST Reset 17 VEE Alimentação de contraste (-12V) 18 CS2 Chip Select 2. Seletor do banco 1 (CS1=L, CS2=H) 19 NC Não utilizado 20 NC Não utilizado

Page 38: Protótipo de um EMG Digital

30

Figura 19 - LCD gráfico 128x64 pixels monocromático

Os pinos V0 e VEE são os pinos de controle do contraste do LCD, o pino VEE é

alimentado com -12V e conectado ao pino V0 através de um potenciômetro, e alterando a

resistência entre os dois é possível modificar o contraste. Os pinos DB0~DB7 são os pinos de

dados do LCD e são utilizados para enviar comandos, enviar dados e recuperar o status do

módulo. Os pinos CS1 e CS2 são utilizados no endereçamento do LCD, ilustrado na Figura

20. Os comandos do LCD são enviados através da seleção do registrador de comandos

(RS=L) e dos bits de dados (DB0~DB7) e o sincronismo de leitura e gravação é realizado

através do pino E.

8

64

64 colunas x 8 linhas x 2 bancos = 1 kbyte de memória

8 l

inh

as

64 colunas

64x8 bits = 64 bytes Figura 20 - Esquema de endereçamento do LCD Tech12864G

Page 39: Protótipo de um EMG Digital

31

Para realizar o controle, leitura, gravação e endereçamento do LCD são utilizados os

comandos listados na Tabela 5, em conjunto com os pinos CS1, CS2 e E. Tabela 5 - Comandos do LCD

Comando RS RW DB0 DB1 DB2 DB3 DB4 DB5 DB6 DB7 Leitura de dados 1 1 Dados Escrita de dados 1 0 Dados Leitura do status 0 1 Status Seleção coluna 0 0 0 1 Coluna 0~63 Seleção página 0 0 1 0 1 1 1 Página 0~7 Liga/Desliga 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1/0

3.2 SOFTWARE

A descrição do software é realizada em duas etapas: levantamento de requisitos e

desenvolvimento. Por se tratar de um software de tamanho reduzido, direcionado para um

microcontrolador e desenvolvido de forma estruturada, apenas um fluxograma simples e o

levantamento dos requisitos já são suficientes para especificar o software que foi

desenvolvido.

3.2.1 Levantamento de requisitos

Analisando quais funcionalidades são necessárias ao protótipo e as restrições de um

sistema em tempo real, os seguintes requisitos foram levantados:

a) realizar a aquisição das amostras digitais (funcional) a uma taxa constante (não-

funcional);

b) filtrar o sinal digital (funcional) em tempo real (não-funcional);

c) transformar o sinal digital do domínio do tempo para o domínio do freqüência

(funcional) em tempo real (não-funcional);

d) exibir os gráficos de amplitude/tempo e amplitude/freqüência conforme o sinal é

processado (funcional).

Baseado nas restrições de tempo e nas funções descritas acima, foi desenvolvido o

software para o microcontrolador.

Page 40: Protótipo de um EMG Digital

32

3.2.2 Desenvolvimento do software

O software foi desenvolvido no compilador Keil para o microcontrolador

AT89C51RD2, que é um ambiente de desenvolvimento integrado (IDE) em C/C++ e

assembly. O controle do ADC do circuito de aquisição de sinal e do módulo LCD utilizado

para visualização do sinal, é realizado utilizando as portas de entrada e saída do

microcontrolador e o software foi escrito em linguagem C estruturada. A Figura 21 mostra o

fluxograma do software.

Inicializaperféricos

Amostradisponível?

Filtra amostras

Transforma amostras Exibe resultados

True False

Figura 21 - Fluxograma do software

A inicialização do software realiza a calibragem do ADC, configuração dos recursos

do microcontrolador e inicialização do módulo LCD. As rotinas de calibragem do ADC e

aquisição das amostras digitais são apresentadas no Quadro 1.

Page 41: Protótipo de um EMG Digital

33

Quadro 1 - Código fonte para calibragem e leitura do ADC

O filtro digital implementa o algoritmo descrito neste trabalho na sessão que apresenta

o funcionamento dos filtros digitais FIR. O cálculo dos coeficientes do filtro FIR, foi

realizado no MatLab R12 Filter Design & Analysis Tool. O filtro é um passa-baixa com

freqüência de corte de 7kHz e 64 coeficientes. A resposta do filtro é apresentada na Figura 22

onde são exibidas as respostas em fase (linear) e freqüência do filtro.

Figura 22 - Resposta do filtro implementado

Page 42: Protótipo de um EMG Digital

34

A transformação do sinal do domínio do tempo para o domínio da freqüência, foi

realizada com a implementação do algoritmo de DFT (discrete fourier transform)

processando 32 pontos por vez. Todos os valores dos senos e cossenos utilizados na

transformação foram pré-calculados para economia de processamento e, ainda assim, o

processador apresentou lentidão na execução. As rotinas de transformação de domínio são

apresentado abaixo, implementadas conforme a fórmula da transformada de Fourier discreta

∑∑−

=

=

⋅⋅⋅⋅⋅−⋅⋅⋅⋅1

0

1

0)2()2cos(

N

kk

N

kk N

nksenfiNnkf ππ . A implementação das rotinas é

apresentada no Quadro 2.

Quadro 2 - Código fonte da inicialização e cálculo da DFT

Por fim, os resultados são exibidos na tela de cristal líquido. Os valores lidos do

conversor A/D são desenhados na tela como pontos e ligados uns aos outros através de linhas.

3.3 RESULTADOS

Referente a qualidade do sinal, o erro total do sistema de aquisição, causado pelos

amplificadores, representa em torno de 1%, no máximo, do sinal em fundo de escala, além das

Page 43: Protótipo de um EMG Digital

35

interferências externas e do erro de quantização. Apesar de tudo, o sinal capturado apresenta

claramente a atividade muscular. Os testes realizados com o bíceps apresentaram amplitudes e

freqüências compatíveis com as descritas na literatura.

O circuito digital, entretanto, apresentou resultados precários, pois foi utilizado um

microcontrolador que não foi capaz de processar os algoritmos de DSP em tempo real. Para

contornar este problema, o uso de processadores de sinais digitais se faz necessário, pois estes

possuem arquitetura RISC, freqüência de funcionamento mais elevada e instruções próprias

para implementação das rotinas de processamento de sinais digitais apresentadas neste

trabalho e necessárias a esta aplicação.

O dispositivo de visualização apresentou resultados satisfatórios no protótipo, exibindo

os gráficos de saída do sistema. Porém, para uma melhor interface com o usuário, poderia ser

utilizada uma tela com maior resolução e, talvez, colorida, dependendo do custo benefício e

da necessidade real deste recurso.

O algoritmo de filtro digital, embora simples de ser implementado e calculado, não foi

posto em prática, pois o microcontrolador não apresentou capacidade computacional para

execução de um filtro FIR sem causar atrasos na execução do programa, alterando, assim, a

taxa de amostragem do conversor A/D que é controlada por software e impossibilitando a

aplicação do filtro.

Page 44: Protótipo de um EMG Digital

36

4 CONCLUSÕES

O protótipo desenvolvido, embora possibilite uma visualização clara do sinal

muscular, ainda necessita de certos ajustes e melhoramentos para que possa apresentar as

visualizações do sinal com maior fidelidade e precisão.

O circuito de aquisição introduz uma certa quantidade de ruído ao sinal. Ainda que as

distorções de sinal não sejam críticas, estas podem ser reduzidas um pouco mais utilizando

amplificadores com ajuste de offset. A utilização de eletrodos pré-amplificados3 e específicos

para eletromiografia, também representaria um grande aumento na qualidade do sinal

adquirido.

Das interferências externas, que são atenuadas na fase de pré-amplificação, a que

apresenta maior amplitude é a interferência proveniente da fonte de alimentação do circuito

analógico e esta pode ser reduzida de forma drástica com o isolamento da alimentação ou

então com a substituição da fonte de alimentação por baterias.

O protótipo, no estado em que se encontra, ainda não permite sua utilização em

situações reais. Para isto, seria necessário uma maior interatividade com o usuário do

dispositivo através de funções como o ajuste de ganho do sinal, o armazenamento do sinal no

próprio dispositivo, interface do aparelho com um microcomputador para investigação,

armazenamento e pós-processamento do sinal e um dispositivo de visualização com área

maior.

O software, embora realize as manipulações mais complexas do sinal, necessita ainda

da implementação de funções mais básicas utilizadas na eletromiografia como: retificação e

integração do sinal. E o microcontrolador que executa o software deveria ser substituído por

um processador de sinais digitais, para que todo o tratamento do sinal digital possa ser

realizado em tempo real.

3 Eletrodos pré-amplificados possuem amplificadores no próprio eletrodo.

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37

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APÊNDICE A – Esquemático do circuito de aquisição de sinal