protótipo

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Página 1 Só um teste, amiguinhos. Só um teste. Capítulo Um A chuva fina caía na imagem cinza da cidade. As poucas pessoas que passavam na rua mal sabiam o que estava acontecendo. Continuavam suas vidas comuns, caminhando em passos largos, apressadas em seus afazeres. Vamos, meninas, a van já está ali. As seis meninas de calça preta e blusa camuflada se esgueiravam pela ruela sem ser minimamente notadas. Jogaram oito malas cheias atrás da van e entraram com todo o cuidado e descrição. A mais baixinha fechou a porta e a van saiu com toda a calma, percorrendo a rua úmida. Deu tudo certo, Jeniffer? Um homem velho e parrudo segurando um charuto perguntou do banco do passageiro. Perfeitamente. Tudo ocorreu como planejado. Ótimo. Ele sorriu discretamente enquanto olhava pela janela embaçada. Estavam entrando na rua que ia em direção a saída da cidade. O caminho que seguiriam era praticamente dentro da floresta. A rua era fina e o asfalto era desgastado. O sol estava começando a nascer. Uma menina de seus 16 anos chegava na ruela que poucos minutos antes estiveram seis meninas com mochilas cheias. Ela observava tudo ao seu redor enquanto digitava uma mensagem de texto para dois números diferentes. Logo as outras duas apareceriam ali para observar junto com ela. Logo que o sol terminasse de nascer. Não era meu lugar favorito, tenho que admitir. Nunca é meu lugar favorito. Acho que ninguém gosta muito de ficar lá. Eu nem sabia por que eu estava lá, principalmente depois do que tinha acontecido. Meu pai perguntava pro gerente do banco se ele podia dar uma olhada nas câmeras de segurança, se elas tinham registrado alguma coisa. Os seus colegas de trabalho verificavam o que as testemunhas tinham a dizer. Eu resolvi ficar sentada num canto, jogando game boy. Não me interessava o que as pessoas tinham a dizer, até que uma mulher que estava perto de mim disse para Bob, o novo policial: Olha, eu estava bem aqui na frente quando elas chegaram. Eram seis. Deviam ter algo entre 13 e 18 anos. Eram todas meninas bem treinadas. Elas entraram e saíram num piscar de olhos, tudo bem planejado. Eu nunca estive tão apavorada.

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Só um protótipo de que pode vir a ser uma história. Vai saber? O que eu queria mesmo era testar o issuu. :D

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Página 1

Só um teste, amiguinhos. Só um teste. Capítulo Um A chuva fina caía na imagem cinza da cidade. As poucas pessoas que passavam na rua mal sabiam o que estava acontecendo. Continuavam suas vidas comuns, caminhando em passos largos, apressadas em seus afazeres. – Vamos, meninas, a van já está ali. As seis meninas de calça preta e blusa camuflada se esgueiravam pela ruela sem ser minimamente notadas. Jogaram oito malas cheias atrás da van e entraram com todo o cuidado e descrição. A mais baixinha fechou a porta e a van saiu com toda a calma, percorrendo a rua úmida. – Deu tudo certo, Jeniffer? – Um homem velho e parrudo segurando um charuto perguntou do banco do passageiro. – Perfeitamente. Tudo ocorreu como planejado. – Ótimo. – Ele sorriu discretamente enquanto olhava pela janela embaçada. Estavam entrando na rua que ia em direção a saída da cidade. O caminho que seguiriam era praticamente dentro da floresta. A rua era fina e o asfalto era desgastado. O sol estava começando a nascer. Uma menina de seus 16 anos chegava na ruela que poucos minutos antes estiveram seis meninas com mochilas cheias. Ela observava tudo ao seu redor enquanto digitava uma mensagem de texto para dois números diferentes. Logo as outras duas apareceriam ali para observar junto com ela. Logo que o sol terminasse de nascer. Não era meu lugar favorito, tenho que admitir. Nunca é meu lugar favorito. Acho que ninguém gosta muito de ficar lá. Eu nem sabia por que eu estava lá, principalmente depois do que tinha acontecido. Meu pai perguntava pro gerente do banco se ele podia dar uma olhada nas câmeras de segurança, se elas tinham registrado alguma coisa. Os seus colegas de trabalho verificavam o que as testemunhas tinham a dizer. Eu resolvi ficar sentada num canto, jogando game boy. Não me interessava o que as pessoas tinham a dizer, até que uma mulher que estava perto de mim disse para Bob, o novo policial: – Olha, eu estava bem aqui na frente quando elas chegaram. Eram seis. Deviam ter algo entre 13 e 18 anos. Eram todas meninas bem treinadas. Elas entraram e saíram num piscar de olhos, tudo bem planejado. Eu nunca estive tão apavorada.

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Ela não demonstrava nenhum pavor na voz, mas isso não me interessava. O que me interessava era que, então, quem roubou meio milhão de dólares do banco foram seis meninas de 13 à 18 anos. Meninas. Adolescentes. Aquilo não poderia ficar melhor. – Tem certeza do que viu, senhora? Meninas de entre 13 e 18 anos não parecem muito hábeis a roubar um banco. – Bob estava desconfiado. Ele com certeza não sabia que meninas de 13 a 18 anos, como eu, podem muito bem roubar um banco. Não que eu fosse fazer isso. Continuei a jogar Pokémon no Game Boy para que Bob não achasse que eu estava ouvindo o que eles estavam conversando. Coisa que, obviamente, eu estava. Eu queria ficar ouvindo o que o resto das testemunhas tinham a dizer. Queria mesmo. Mas meu pai deu uma saidinha da sala onde ficavam as câmeras de segurança só pra me dizer: – Georgette, acho melhor você ir pra casa. A investigação está ficando meio séria. E avise a sua mãe que eu posso acabar voltando mais tarde hoje. – Certo, Capitão. Até o jantar. Eu costumava chamar o meu pai de Capitão. Era uma coisa meio idiota de família. Minha irmã também o chamava de capitão, antes de ir pra faculdade. Agora ela chama ele de Joe. Levantei do meu canto e saí pelos cacos de vidros onde antes era uma porta. Não sei por que as meninas explodiram com a porta se, já que elas eram tão bem treinadas, poderiam simplesmente dar um jeito de abri-la. Fui guardar o Game Boy na mochila quando eu vi um pequeno pingente em forma de flor caído perto dos cacos. Era mais do que óbvio que pertencia a uma das meninas que participaram do roubo. E mais óbvio ainda que eu não ia mostrar aquilo para o pessoal da polícia. Então eu só coloquei na mochila, ao lado do Game Boy, e fui descendo a rua, em direção a minha casa. Eu morava a duas quadras de um dos únicos dois bancos da cidadezinha. Você sabe como é. Aquele tipo de cidade pequena, mas não tão pequena. Tem Blockbuster, McDonalds, Cinema, uma rua principal, nenhum shopping, mas a cidade ao lado tinha muitos shoppings. Casinhas bonitinhas, escolas pequenas, um subúrbio comum. E o Clube, aonde as meninas legais se encontravam. Sim, 90% da população da cidade se empoleiravam no Clube. Nada de muito interessante. Eu queria saber de onde brotaram essas seis meninas que roubaram um banco na cidadezinha mais minúscula. Não deviam ser da cidade, com certeza. Aquilo ia ficar na minha cabeça por um bom tempo, com mais certeza ainda. Quase bati a cabeça em um galho de uma árvore na esquina da minha quadra enquanto ficava pensando nos últimos acontecimentos. Quando cheguei em casa, fui direto para o meu quarto, pra ficar olhando o pingente. Era bonito. A flor era do tamanho da minha unha do dedão. Tinha no miolo um pequeno cristal, e as pétalas eram de um azul claro raro de se encontrar por aí.

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Talvez eu devesse ficar com ele. Eu avisei a minha mãe que o Capitão chegaria mais tarde. Só que, mesmo depois do jantar, ele não tinha chego. Quando fui dormir, depois de esconder o pingente no meio de algumas pulseiras no criado mudo, ele ainda não tinha chego. Acho que deve ter chego no meio da noite, quando escutei a porta bater. É. Às duas da manhã.

No sábado, demorei um pouco pra perceber o que tinha acontecido no dia anterior. Nada de muito interessante, claro. Mas um roubo a banco, cometido por seis adolescentes, não é algo comum numa cidade pequena. Na verdade, não é algo nada comum. Como meu pai já tinha ido trabalhar e minha mãe estava muito ocupada pintando uma caixinha de decoupage pra me preparar um café da manhã descente, fui tomar café na lanchonete da esquina da quadra do banco. Sentei perto da porta, como sempre, e pedi um café au lait, como sempre. A única diferença foi que dessa vez eu pedi um donut de chocolate. A lanchonete estava seriamente vazia. O lugar costumava ter mais pessoas na manhã de sábado. Mas naquele dia, só havia eu e uma menina loira lá dentro. A menina fingia que lia o jornal, mas era perceptível que tudo o que ela fazia era bebericar o café e olhar pra mim. Aquilo estava ficando desconfortável. Principalmente porque, para saber que ela ficava olhando pra mim, eu passei a ficar olhando pra mesa dela a cada cinco segundos. Baixei os olhos e me concentrei no meu café. Estava começando a chover. A chuva era fina e confortável. Talvez fosse melhor eu ir. Minha mãe já devia ter terminado a caixinha ridícula. Fui até o balcão para pagar o café. A menina do cabelo loiro fechou o jornal. Paguei o mais rápido que pude e fui com pressa até a porta. Quando saí da cafeteria, continuei a subir a rua, ao invés de ir na direção da minha casa. Pude ver de soslaio que a menina loira estava colocando o celular na orelha. O celular era roxo, aliás. Fui andando olhando para o chão. Aonde eu queria chegar? Passei na frente da livraria e quase me estabaquei com uma menina que saia lá de dentro com três livros enormes. Ao fazer isso, vi que a menina loira estava indo na minha direção. Quase saí correndo pela rua. Que droga toda era aquela? Meus passos eram largos e eu estava começando a ficar muito, muito assustada. Toda adolescente me parecia suspeita, afinal, no dia anterior o banco tinha sido roubado por seis delas. Seis de nós. Seis... é seis.

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Foi aí que, ao virar uma esquina às pressas, realmente me estabaquei com uma menina bem alta. Ela não se estabacou, mas eu caí de bunda no chão. É, tenho que admitir que não foi nada agradável, principalmente porque, quando ela foi me ajudar a levantar, a menina loira apareceu ali. Junto com a menina dos livros. – Olá, Georgette. – A loira sorriu pra mim. – Por que você estava me seguindo? – É, foi o que eu falei. Não costumo chegar perguntando a pessoas ‘por que elas estavam me seguindo’, mas aquele caso era diferente. Eu tinha acabado de cair de bunda no chão. Aliás, como é que ela sabia meu nome? – Porque você é melhor do que pensa, Georgie. – A garota alta disse. – Que tal um café? – Eu já tomei café. – Eu parecia uma retardada dando respostas idiotas. Façam-me parar. – Deixamos para amanhã, então. As nove. Na mesma cafeteria que você estava hoje. A garota alta sorriu e foi embora, com as outras duas junto com ela. Aquilo foi a experiência mais estranha da minha vida.