protagonismo e empreendedorismo social

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Protagonismo e empreendedorismo social como formas de empoderamento dos educandos Antonio Carlos Gomes da Costa é pedagogo e participou da comissão de redação do Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) afirma que “a educação é direito de todos e dever da família e do Estado”, reitera o princípio universal de que todo ser humano nasce com um potencial e tem o direito de desenvolvê-lo. Para desenvolver seu potencial, no entanto, as pessoas precisam de oportunidades. E, segundo o ecomomista indiano Amartya Sen, as únicas oportunidades que verdadeiramente desenvolvem o potencial de uma pessoa são as oportunidades educativas. As demais apenas criam condições para isso. Portanto, negar a um ser humano o direito de desenvolver o seu potencial é, em si mesmo, uma grande violência - mais que física ou simbólica -, esta é uma violência ontológica, uma violência contra o ser. “e terá por base os princípios de liberdade e os ideais de solidariedade humana.” Os princípios de liberdade (direitos individuais) são aqueles de que nenhuma sociedade por mais pobre que seja poderia abrir mão, como as liberdades de expressão, de organização, de não ser preso sem ordem escrita e fundamentada da autoridade judicial, de não sofrer castigos desumanos e degradantes e assim por diante. Já os ideais de solidariedade humana referem-se aos direitos coletivos, como educação, saúde, segurança, habitação e trabalho para todos. Os primeiros independem de condições econômicas e sociais, os segundos demandam recursos para serem efetivamente assegurados. “e terá por fim a formação plena da pessoa do educando, a sua preparação para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho.” Em primeiro lugar, observando os fins da educação como uma totalidade, notamos um ideal antropológico, que se desdobra em três níveis: o nível da pessoa, o nível do cidadão e o nível do futuro profissional. Analisemos cada um deles de per-si: “a formação plena da pessoa do educando”. O que é uma pessoa formada plenamente? Será que isto tem relação com a escolarização? Ensino Fundamental? Ensino Médio? Educação Superior? Parece-nos que não. Plena é a pessoa que sabe, como ensina Gilberto Gil no antológico samba Aquele Abraço, “traçar o seu caminho pelo mundo” e tomar as suas decisões para trilhá-lo. Para tanto, é preciso saber analisar situações e tomar decisões diante delas. As coisas ensina o filósofo Max Scheller existem, os valores valem. Para uma pessoa tornar-se plena, portanto, os valores valem tanto ou mais que os conhecimentos intelectuais (enteléquias), pois são eles que pesam nos processos de tomada de decisões pelos seres humanos. De que valores estamos falando? Aqui, certamente, daqueles que embasam nossa educação: os princípios de liberdade e os ideais de solidariedade humana. “a preparação para o exercício da cidadania.” Vê-se claramente que não estamos falando de cidadania no nível puramente cognitivo. Exercitar a cidadania implica em compreendê-la, aceitá-la e praticá-la. Compreendê-la no nível cognitivo (razão). Aceitá-la no nível afetivo (emoção). E praticá-la no nível atitudinal (ação). Quais os caminhos para que isso possa ocorrer? Apontamos aqui alguns que nos parecem de validade bastante ampla: a.. A educação deve dar-se também e fundamentalmente pelo curso dos acontecimentos e não apenas pelo discurso das palavras (educação ativa); b.. Os educandos devem ser vistos pelos adultos e a si mesmos como parte da solução, e não como parte do problema;

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Page 1: Protagonismo e empreendedorismo social

Protagonismo e empreendedorismo social como formas de empoderamento dos educandos Antonio Carlos Gomes da Costa é pedagogo e participou da comissão de redação do Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) afirma que “a educação é direito de todos e dever da família e do Estado”, reitera o princípio universal de que todo ser humano nasce com um potencial e tem o direito de desenvolvê-lo. Para desenvolver seu potencial, no entanto, as pessoas precisam de oportunidades. E, segundo o ecomomista indiano Amartya Sen, as únicas oportunidades que verdadeiramente desenvolvem o potencial de uma pessoa são as oportunidades educativas. As demais apenas criam condições para isso. Portanto, negar a um ser humano o direito de desenvolver o seu potencial é, em si mesmo, uma grande violência - mais que física ou simbólica -, esta é uma violência ontológica, uma violência contra o ser. “e terá por base os princípios de liberdade e os ideais de solidariedade humana.” Os princípios de liberdade (direitos individuais) são aqueles de que nenhuma sociedade – por mais pobre que seja – poderia abrir mão, como as liberdades de expressão, de organização, de não ser preso sem ordem escrita e fundamentada da autoridade judicial, de não sofrer castigos desumanos e degradantes e assim por diante. Já os ideais de solidariedade humana referem-se aos direitos coletivos, como educação, saúde, segurança, habitação e trabalho para todos. Os primeiros independem de condições econômicas e sociais, os segundos demandam recursos para serem efetivamente assegurados. “e terá por fim a formação plena da pessoa do educando, a sua preparação para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho.” Em primeiro lugar, observando os fins da educação como uma totalidade, notamos um ideal antropológico, que se desdobra em três níveis: o nível da pessoa, o nível do cidadão e o nível do futuro profissional. Analisemos cada um deles de per-si: “a formação plena da pessoa do educando”. O que é uma pessoa formada plenamente? Será que isto tem relação com a escolarização? Ensino Fundamental? Ensino Médio? Educação Superior? Parece-nos que não. Plena é a pessoa que sabe, como ensina Gilberto Gil no antológico samba Aquele Abraço, “traçar o seu caminho pelo mundo” e tomar as suas decisões para trilhá-lo. Para tanto, é preciso saber analisar situações e tomar decisões diante delas. As coisas – ensina o filósofo Max Scheller – existem, os valores valem. Para uma pessoa tornar-se plena, portanto, os valores valem tanto ou mais que os conhecimentos intelectuais (enteléquias), pois são eles que pesam nos processos de tomada de decisões pelos seres humanos. De que valores estamos falando? Aqui, certamente, daqueles que embasam nossa educação: os princípios de liberdade e os ideais de solidariedade humana. “a preparação para o exercício da cidadania.” Vê-se claramente que não estamos falando de cidadania no nível puramente cognitivo. Exercitar a cidadania implica em compreendê-la, aceitá-la e praticá-la. Compreendê-la no nível cognitivo (razão). Aceitá-la no nível afetivo (emoção). E praticá-la no nível atitudinal (ação). Quais os caminhos para que isso possa ocorrer? Apontamos aqui alguns que nos parecem de validade bastante ampla: a.. A educação deve dar-se também e fundamentalmente pelo curso dos acontecimentos e não apenas pelo discurso das palavras (educação ativa); b.. Os educandos devem ser vistos pelos adultos e a si mesmos como parte da solução, e não como parte do problema;

Page 2: Protagonismo e empreendedorismo social

c.. Os educandos não podem ser pensados como recipientes onde os educadores depositam conhecimentos, valores, atitudes e habilidades. Ao contrário, eles devem ser percebidos e autopercebidos como fontes de iniciativa (ação), liberdade (opção) e compromisso (responsabilidade); d.. Os educandos não podem continuar a serem encarados como destinatários de ações do mundo adulto, mas como interlocutores (para debater e decidir) e parceiros (para planejar, executar, avaliar e apropriar-se dos resultados das ações realizadas), respondendo plenamente por suas conseqüências; e.. A participação dos jovens deve ser autêntica, isto é, participação de atores sociais dotados de poder de decisão, interlocução, expressão e ação, negando as formas de participação decorativa, simbólica e manipulada. “e a sua qualificação para o trabalho.” Trabalhar é praticar habilidades. Quando trabalhamos, praticamos habilidades básicas, específicas e de gestão. Mais importante que preparar um jovem para um posto de trabalho, é capacitá-lo para ingressar, permanecer e ascender na esfera produtiva. Neste sentido, mais do que competências técnicas e administrativas são requeridas virtudes empreendedoras. Virtudes que não são apenas conhecimentos, mas que se constituem numa atitude básica diante da vida. Podemos chamá-las de empreendedorismo (quando se aplicam aos campos produtivo ou social) ou protagonismo (quando são exercidas nos campos das lutas políticas e culturais no interior de uma sociedade) *Os textos publicados na área Colunistas são de responsabilidade dos autores e não exprimem necessariamente a visão do portal Pró-menino.