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Proposta de um modelo de formação para jovens triatletas DEZEMBRO 2006

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Proposta de um modelo de formação

para jovens triatletas

DEZEMBRO

2006

Proposta de um modelo de formação para jovens triatletas

Carlos Manuel Pinto dos Reis Treinador Nível II Dezembro 2006

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RESUMO

O Triatlo é um desporto relativamente jovem, no qual os triatletas de elite da actualidade são, na sua maioria ex-nadadores, ex-ciclistas ou ex-corredores. Com este trabalho pretendo apresentar uma proposta de um modelo de formação em que se combinem os três segmentos desde o início da formação do jovem triatleta, predominando o trabalho de um segmento em função de outro e de uma qualidade física em função de outra de acordo com o momento evolutivo do atleta. É fundamental neste modelo de formação a organização do treino em função das fases sensíveis e dos períodos críticos dos jovens atletas com base na teoria do treino cruzado, além da criação de um ambiente de trabalho agradável, coordenado e bem estruturado.

1. INTRODUÇÃO

Actualmente não existe um termo de comparação sobre qual o melhor modelo de formação em triatlo, já que a maioria das Escolas foram criadas à relativamente pouco tempo outras tiveram uma passagem fugaz pelo triatlo e ainda que outras funcionaram com base na experiência individual e de certa forma autodidacta dos seus técnicos o que tem sido colmatado nos últimos anos com a criação de cursos de treinadores de triatlo fomentados pela FTP e também porque antes dos Jogos Olímpicos de 2012 ou 2016 não se poderão ver os primeiros frutos das Escolas de Triatlo para que seja possível avaliar quais são os modelos de detecção e selecção de talentos e os modelos de formação mais adequados, pois os triatletas que se encontram hoje na elite mundial do Triatlo são quase todos ex-nadadores, ex-ciclistas ou ex-corredores. Para os investigadores do desporto, o triatlo constitui um universo por descobrir e tem sido objecto de estudos bastantes interessantes. Como consequência dos avanços na investigação os registos que se realizam em cada segmento serão consideravelmente melhores no futuro do que hoje se verificam e seguramente não teremos que esperar muitos anos para ver triatletas no final de um Triatlo olímpico a realizar tempos no segmento de corrida inferiores a 30 minutos nos homens e inferiores a 33 minutos nas mulheres.

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2. FUNDAMENTOS DO TRABALHO

Neste trabalho proponho um modelo de formação do triatleta com início na tenra idade do indivíduo, que se caracteriza pela busca do máximo desenvolvimento do seu potencial genético através da criação de um ambiente rico em estímulos e adaptado à idade, às características e necessidades de cada pessoa. A maior prioridade será o desenvolvimento integral e o incremento de todas as variáveis da saúde física, psíquica e social. O modelo parte da análise dos modelos de formação em natação, ciclismo e corrida e das idades óptimas de rendimento, de um estudo sobre o treino de jovens e sobre as fases sensíveis das qualidades físicas do atleta assim como sobre a organização do treino desportivo atendendo à teoria do treino cruzado. Trata-se de um modelo do tipo pirâmide de base larga, em que a selecção de talentos será tardia e será resultado de um processo não eliminatório. O ponto de partida para o desenvolvimento deste modelo será uma Escola de Triatlo integrada numa equipa de triatlo que por sua vez estará inserida num grande clube sócio-desportivo. A escola assim como a equipa tem umas características que podíamos de denominar de ideais e difíceis de alcançar, no entanto penso que é possível adaptar este modelo à realidade das escolas de triatlo existentes na actualidade.

3. O TREINO COM JOVENS

3.1. Considerações gerais para o treino com jovens Em primeiro lugar devemos considerar o ser humano como um indivíduo que nasce com atributos genéticos. Estar bem dotado geneticamente não garante grandes rendimentos já que o código genético vem definido num intervalo de tempo próprio para o desenvolvimento das diferentes qualidades, assim como está definida a capacidade de assimilação dos treinos (treinabilidade), requerendo estes atributos de uma estimulação adequada ao ambiente em que se desenvolve o indivíduo. As influências mais importantes virão da parte do envolvimento físico (lugar geográfico, clima, etc.), costumes sociais, características da sociedade, pais, amigos, classe social a que pertence, etc. Existem períodos do desenvolvimento dos indivíduos em que o organismo está mais proactivo ou aberto à influência do ambiente e nós temos que estar atentos para saber que tipo de estímulos são mais adequados oferecer-lhes para um melhor desenvolvimento. Antes da puberdade o organismo está mais sensível à estimulação ambiental, de modo que estímulos adequados em tempo e orientação aceleram o processo de amadurecimento dos órgãos e sistemas predisponiveis para posteriores rendimentos superiores. Depois da puberdade, o organismo torna-se menos receptivo aos estímulos ambientais e predomina aquilo que está previamente descrito no código genético. Por outro lado, não devemos considerar a criança como um adulto em ponto pequeno, já que poderíamos cair em graves erros. Não é adequado aplicar os mesmos métodos de treino dos adultos nas crianças, devemos antes avaliar a criança como um ser humano

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que está em desenvolvimento e amadurecimento dos seus sistemas funcionais e devemos conhecer como funcionam estes processos e em que etapas se inserem se quisermos influenciar de maneira positiva na formação desportiva do futuro triatleta. No treino com crianças devemos prestar especial atenção aos seguintes princípios de treino:

1. Principio da variação da carga: As crianças não permitem cargas monótonas devido às suas características de atenção e motivação. Além disto temos que estimular a maioria dos aspectos necessários para o desenvolvimento.

2. Principio da individualização e adequação à idade: Treino muito variado, devendo existir uma relação correcta entre a carga do treino e o descanso para facilitar a adaptação.

3. Principio da especialização progressiva: O desenvolvimento multifacetado dentro do triatlo deve ser a base sobre a qual se desenvolve a especialização. A especialização precoce leva por vezes ao êxito rápido e a um trabalho exigente mas hipoteca o futuro.

Em conclusão: O treino das crianças deve ser uma preparação para o desporto de elite mas nunca um treino de elite (Añó, 1997).

3.2 As fases sensíveis Os períodos críticos e as fases sensíveis provêm da embriologia. Esta ideia tem origem na motricidade humana e está relacionada com os processos de amadurecimento do indivíduo e com as suas diferentes respostas perante diversos estímulos de treino. Considera-se que é mais fácil influenciar as capacidades que estão em amadurecimento do que aquelas que já atingiram a maturidade. As fases sensíveis, são períodos nos quais o organismo observa uma especial sensibilidade, assim como uma rápida e abundante reacção perante certos estímulos de treino. Os períodos críticos, são períodos delimitados dentro das fases sensíveis durante as quais se devem aplicar estímulos se quisermos obter os efeitos de desenvolvimento desejados e não restringir as máximas possibilidades de progresso dos indivíduos. Durante o desenvolvimento biológico o organismo mostra-se mais sensível a melhoria de certas qualidades físicas de forma que o mesmo estímulo pode apenas produzir o desenvolvimento de uma qualidade num determinado momento, enquanto que noutro momento pode produzir melhorias consideráveis. Um bom conhecimento destas fases sensíveis permite-nos fazer uma boa orientação de treino e aproveitar ao máximo o tempo de treino. Se ignorarmos os períodos críticos de uma qualidade física, podemos ter condenado ao fracasso um possível atleta de elite. Poderá ser que este individuo não chegue a sê-lo por factores genéticos ou por vontade própria, no entanto penso que devemos aproveitar esta fases sensíveis, condição importante para alcançar um alto rendimento, cabendo ao atleta no futuro decidir se quer ou não dedicar-se ao alto rendimento, mas não será por

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culpa do treinador que não soube aplicar no momento próprio os estímulos de treino e uma orientação adequada.

3.2.1 Fases sensíveis das qualidades físicas As qualidades físicas têm períodos em que se mostram especialmente sensíveis à melhoria em função do amadurecimento dos sistemas funcionais do organismo. As tabelas que apresento referem-se sempre às idades biológica

Fase sensível Período critico ANTES DA ESCOLA DE TRIATLO BENJAMIM INFANTIL INICIADO JUVENIL

IDADE (biológica) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14FORÇA/VELOCIDADE FORÇA/RESISTÊNCIA

FORÇA MÁXIMA RESISTÊNCIA AERÓBICA

RESISTÊNCIA ANAERÓBICA AMPLITUDE DE MOVIMENTO

TEMPO DE REACÇÃO VELOCIDADE GESTUAL

CAPACIDADE DE ACELERAÇÃO VELOCIDADE MÁXIMA

VELOCIDADE/RESISTÊNCIA COORDENAÇÃO

TECNICA DESPORTIVA

Fig. 1. Fases sensíveis das qualidades físicas nos rapazes. Martin Llaudes N., en De la Cruz (1999)

Fase sensível Período critico ANTES DA ESCOLA DE TRIATLO BENJAMIM INFANTIL INICIADO JUVENIL

IDADE (biológica) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14FORÇA/VELOCIDADE FORÇA/RESISTÊNCIA

FORÇA MÁXIMA RESISTÊNCIA AERÓBICA

RESISTÊNCIA ANAERÓBICA AMPLITUDE DE MOVIMENTO

TEMPO DE REACÇÃO VELOCIDADE GESTUAL

CAPACIDADE DE ACELERAÇÃO VELOCIDADE MÁXIMA

VELOCIDADE/RESISTÊNCIA COORDENAÇÃO

TECNICA DESPORTIVA Fig. 2. Fases sensíveis das qualidades físicas nas raparigas. Martin Llaudes N. , en De la Cruz (1999)

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Em grosso modo podemos dizer que as raparigas e os rapazes apenas não se diferenciam até chegarem à puberdade. As raparigas chegam à puberdade antes que os rapazes, entre os 10 e os 11 anos as mais precoces até aos 14-16 anos as mais tardias enquanto que os rapazes atingem a sua puberdade entre os 12 e os 13 anos os mais precoces até aos 16-18 anos os mais tardios. Este momento constitui um marco muito especial que define duas etapas bem definidas no desenvolvimento das pessoas. Assim antes da puberdade, o sistema nervoso central não amadureceu, de maneira que devemos prestar atenção à aprendizagem da técnica (natação /ciclismo/corrida), começando pelas mais simples e posteriormente as mais complexas. Também se deve trabalhar qualidades físicas que tem uma grande componente de coordenação tal como a velocidade e o componente de coordenação inter e intramusculares implícitos na força. A resistência aeróbia pode-se trabalhar desde os 6-7 anos, contando esta qualidade física com um largo período para se poder desenvolver, enquanto que a resistência anaeróbica láctica não se deve trabalhar antes da puberdade. A amplitude de movimento é uma qualidade evolutiva e que se deve trabalhar desde tenra idade, mas com uma atenção especial na puberdade já que é uma idade na qual se produzem grandes mudanças.

3.3 Os regulamentos e as competições nos escalões jovens As federações desportivas têm um papel muito importante na protecção e na formação adequada dos seus atletas. Como podem as federações realizar este trabalho? Com a elaboração de regulamentos que limitem os seus treinadores e restantes agentes desportivos afectos a sua actividade de toda a intenção de uma especialização e busca de rendimento nos atletas de tenra idade, pois os rendimentos precoces não estão relacionados com o êxito futuro. Considero que neste aspecto a FTP tem elaborado um regulamento de competições nos escalões jovens muito acertado e que se encaixa em grande medida, com a minha ideia sobre o que deve ser as competições deste desporto nos escalões jovens, se bem que nas ultimas duas épocas se tenham introduzido as denominadas provas segmentadas que na minha opinião pessoal tem apenas contribuído para desvirtuar a modalidade, o deveria quanto a mim ser alvo de uma discussão entre os agentes desportivos da FTP no sentido de se avaliar qual o resultado prático deste tipo de competições. No modelo de formação que apresento com este trabalho, defendo a introdução da competição logo desde o início da formação do triatleta mas prestando atenção a diversos aspectos essenciais:

• Devemos ter em conta que a competição nas tenras idades é um meio de motivação, mas nunca um fim em si mesmo.

• Nunca guiar a planificação da época com base nas competições (excepção feita ao escalão de juvenis)

• Fomentar o desportivismo, o jogo limpo, para além da amizade • Não acumular defeitos técnicos na execução dos segmentos que constituem o

triatlo pelo excesso de competições nem sobrecarregar psicologicamente. • Existem autores que recusam qualquer intenção de introduzir a competição nas

idades mais jovens. Eu penso que a criança necessita de competir, porque para

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esta é difícil de entender a prática desportiva sem que exista competição. As crianças exigem-na e é quase impossível mantê-las a treinar com regularidade sem a motivação da sua comparação com os outros ou consigo mesmo. A competição converte-se em algo negativo desde que se caminha contra a formação da criança realizando planificações destinadas ao máximo rendimento nas tenras idades, em vez de realizar planificações a longo prazo.

4. A FORMAÇÃO DO TRIATLETA

4.1 O inicio

No início do século, nos escassos estudos existentes sobre o desporto, defendia-se a ideia de que eram apenas necessárias duas a três semanas como o tempo ideal para a preparação do atleta para atingir elevados níveis de rendimento. Hoje em dia, devido à profissionalização de muitos desportos e a competitividade existente, é necessário uma preparação que se inicia nas idades mais jovens e que tenha uma duração até inclusive de 15 a 20 anos. Os primeiros anos de vida são muito importantes para o desenvolvimento físico, psíquico e social do indivíduo. Nas idades mais tenras as crianças tem uma grande energia e vitalidade que necessitam descarregar com a realização de actividades. As características próprias da sociedade, impedem as crianças de realizar de uma forma plena uma actividade natural satisfatória, sendo necessário por isso para que alcancem um nível óptimo de actividade física a sua inclusão em projectos que vão ao encontro desta necessidade onde se inserem as Escolas de Triatlo e onde as crianças podem ingressar logo aos 6 anos.

4.2 O modelo piramidal

Este modelo de formação que aqui apresento baseia-se na figura de uma pirâmide da base larga. Quanto mais larga for a base (até certos limites), maiores possibilidades de elevação terá e portanto menor possibilidade de se desmoronar. A base da pirâmide permite:

• A formação integral do individuo. • Desenvolvimento das capacidades motoras futuras, depois de se ter adquirido as

características senso motrizes básicas na idade escolar. • Consolidação de objectivos, a longo prazo, quando o organismo estiver

preparado para suportar cargas físicas e psicológicas. • Criar uma boa predisposição ao rendimento, partindo da criação de um

directório motriz amplo que permita que o individuo possa realizar aquilo que gosta.

A primeira etapa corresponde a etapa de iniciação e caracteriza-se por uma preparação multilateral, ainda que esta multilateralidade seja direccionada no sentido de melhorar o rendimento no triatlo. O nosso organismo tem uma tendência natural para resistir à unilateralidade de estímulos, isto é conseguido quando durante um determinado tempo se é preparado multifacetadamente. Através de uma preparação prévia, consegue-se que os órgãos e sistemas estejam suficientemente fortalecidos, para esforços superiores que surjam posteriormente. (Rahn, 1977; Matveev, 1977)

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A pirâmide irá estreitando nas fases seguintes, conforme a especialização seja cada vez maior. Ao topo da pirâmide, chegará um número reduzido de indivíduos que serão os que obterão o máximo rendimento desportivo.

4.3 A Escola Ideal Seguidamente passo a descrever a Escola de Triatlo “Ideal”, que considero ser o marco de estimulação óptima para a formação do triatleta e desenvolvimento das suas potencialidades. Antes de mais temos que ter consciência de que as crianças têm que ter à sua disposição meios materiais, um grupo de treinadores bem formados com um trabalho comum e coerentemente planificado, em que seja criada uma atmosfera na qual o divertimento e o treino andem de mão dada e que se procure a saúde e a formação do indivíduo como pessoa e não como máquina. A situação que me parece mais adequada à criação de uma Escola de Triatlo, é a que permite que esta exista dentro de uma equipa de triatlo que por sua vez se insere dentro de um grande clube sócio-desportivo. A Escola deverá ter os seus próprios estatutos, um regulamento disciplinar, um ideal e os seus próprios objectivos gerais Na Escola existirá um treinador por cada escalão além do Director Técnico da Escola que também terá o curso de treinador e fará o papel de coordenador do grupo de trabalho. Quem pode aceder à Escola de Triatlo? Toda a criança a partir dos 6 anos sem limitação em termos de sexo, nacionalidade e condição física poderá fazer parte da Escola. Quanto maior o número de praticantes maior será a possibilidade de surgir grandes talentos, no entanto se isso não se verificar pelo menos teremos conseguido a participação activa dos cidadãos em actividades desportivas e teremos promovido o desenvolvimento do indivíduo Os únicos requisitos necessários para aceder à Escola serão: saber nadar, saber andar de bicicleta e realizar previamente um exame médico desportivo. À medida que aumenta a idade das crianças, aumentará a especifidade dos treinos e se irão incrementando as diferenças de nível entre uns e outros. Desta maneira serão estabelecidos (se os treinadores o acharem conveniente) grupos de nível dando ênfase à máxima individualização dos treinos, aproveitando os pontos fortes e eliminando os pontos fracos (se possível) dos atletas. Esta individualização não será nunca sinónimo de treino solitário. No início das alterações pubertárias nas raparigas será necessário diferenciar os conteúdos de treino por sexo, ainda que se procure fazer o maior número de treinos em conjunto adaptando intensidades e volumes de trabalho para fomentar a coeducação. Que infra-estruturas serão necessárias?

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É imprescindível contar com uma piscina coberta em que o seu horário de utilização não seja muito restritivo. Isto será fundamental pois como referi no início, este modelo vai no sentido de criar um ambiente o mais estimulante positivo para o desenvolvimento das qualidades físicas gerais e por fim todas aquelas que são importantes para o rendimento desportivo. No final da época faz-se a avaliação de todos os componentes do processo de aplicação do modelo de formação, fazendo as rectificações necessárias, de forma que à semelhança das empresas se proceda a um “controlo de qualidade”.

4.4 Plano de acção

4.4.1 Plano geral O plano geral é um esboço da estratégia a seguir para que o indivíduo aproveite todas as suas potencialidades de forma a alcançar o êxito desportivo. Estabelece-se um estudo prévio das fases sensíveis das qualidades físicas, dos factores de rendimento no triatlo e de cada segmento por separado assim como as idades de máximo rendimento em cada segmento. Tudo isto deverá adequar-se à individualidade que constitui cada pessoa. O plano deverá partir de uma preparação multidisciplinar, mas sempre tendo presente que o objectivo é o máximo rendimento no triatlo. A preparação dos jovens triatletas não será apenas a soma de três modelos diferentes de formação (dos nadadores, dos ciclistas, dos corredores). É evidente que o triatleta nunca será um atleta que se destaque nos três segmentos por separado. Quanto muito pode estar a um nível aceitável entre a elite do segmento em que se mais destaca no triatlo. Para a realização deste plano de acção baseei-me na teoria do treino cruzado (Delgado e Valero, 1998). O aspecto fundamental desta teoria consiste na seguinte ideia: Se bem que cada desporto ou especialidade tenha características muito específicas em termos de qualidades físicas e técnicas necessárias podem encontrar-se elementos comuns e transferências positivas (se bem que também transferências negativas), que podem aproveitar-se para o rendimento e evitar a monotonia do treino específico para uma especialidade desportiva. O plano de acção a levar a cabo, é um plano que pretende aproveitar ao máximo as fases sensíveis, os períodos críticos e os momentos nos quais o atleta pode mais melhorar em cada segmento, sempre procurando desta forma a economia de treino, de forma que cada treino seja aproveitado ao máximo e os estímulos sejam tais que produzam os máximos efeitos no atleta.

4.4.2 Esboço do plano geral

Em primeiro lugar os atletas deveriam estar bem dotados geneticamente. Sobre este aspecto dificilmente podemos actuar a menos que pudéssemos escolher os nossos pais ou manipular o genoma humano e criar indivíduos com uma predisposição para o êxito desportivo. Após o nascimento será ideal que o individuo se desenvolva num ambiente

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propício: clima calmo e ambiente familiar equilibrado, uma boa alimentação, cuidados de saúde e higiene, pais com hábitos desportivos ou interessados pelo fenómeno desportivo e que apesar de preocupados com o desenvolvimento sadio dos filhos o façam sem ser super proteccionistas. A partir daqui podemos começar a trabalhar propriamente na Escola de Triatlo. Os primeiros anos servirão para que as crianças adquiram capacidades psicomotoras básicas e capacidades básicas no meio aquático e terrestre. Ao mesmo tempo trabalharemos com recurso a jogos e exercícios que impliquem qualidades físicas com vertente mais coordenativa aproveitando o processo de amadurecimento do sistema nervoso central. (SNC). Assim será possível fornecer à criança o maior número possível de estímulos, com o fim de se enriquecer o reportório motor da criança. Nesta altura será importante incidir sobre o desenvolvimento da velocidade. Esta qualidade será desenvolvida primeiro no segmento da corrida, já que no meio aquático devemos esperar desenvolve-la até que a criança haja adquirido uma certa estabilidade na técnica e não exista o perigo de criar maus hábitos. Na natação aprenderão todos os estilos e teremos especial atenção ao desenvolvimento de um bom batimento de pés. Antes da puberdade devemos trabalhar a força com exercícios de auto carga fora de água e teremos especial atenção à correcção dos defeitos posturais e evitar descompensações entre os músculos agonistas e antagonistas. Desenvolveremos a força na sua vertente coordenativa. Podemos trabalhar a resistência aeróbia, sobretudo na natação, no entanto sem perder de vista o trabalho de velocidade de base neste segmento. Na corrida não deveremos trabalhar em excesso a resistência aeróbia e quando o fizermos deveremos recorrer principalmente a jogos, já que nas tenras idades o aparelho locomotor da criança não está completamente desenvolvido e as constantes vibrações e impactos produzidos durante a corrida podem ser prejudiciais. Também aqui deverá existir um especial interesse em desenvolver uma boa velocidade de base. No ciclismo podemos incluir alguma resistência aeróbia, ainda que neste segmento devemos trabalhar bem a velocidade gestual (frequência de pedalada), a técnica individual e alguma técnica colectiva. Em todos os segmentos (ainda que sobretudo na natação) será importante procurar a solução individual da técnica mais adequada, procurando um gesto económico e eficaz e por conseguinte, que seja o mais estável possível. Ao chegar à puberdade, produzem-se grandes alterações no organismo, que cresce e que produz uma grande descarga hormonal. Nas raparigas a puberdade é mais precoce do que nos rapazes. È neste momento em que se diferenciam. Na puberdade deverá se prestar uma atenção especial à manutenção da técnica, devido ao crescimento dos segmentos corporais (braços, pernas e tronco) o que faz variar em grande medida o esquema corporal havendo necessidade de ajustar a técnica às novas medidas corporais. Aumentará a velocidade nos três segmentos devido ao aumento da força e não pelo aumento das velocidades angulares. A secreção hormonal permitirá alcançar maiores níveis de força, a qual se deverá começar a aplicar-se principalmente e de forma progressiva no segmento de ciclismo. Deve-se começar a trabalhar a resistência anaeróbica láctica nos três segmentos, graças ao aumento da enzima lactato hidrogenada. No final do escalão de juvenis, deverá se ter conseguido alcançar um nível

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óptimo de rendimento na natação (nas raparigas terá sido alcançado) e só será necessário transpor a boa velocidade de base que se tem em 400, 800 e 1500 metros livres e praticar mais nado específico em águas abertas. No ciclismo incidiremos especial atenção ao aperfeiçoamento da técnica e da táctica e trabalharemos de forma a melhorar a força muscular local da musculatura que intervêm no pedalar. No segmento de corrida é onde existirá mais trabalho a desenvolver, já que agora o organismo está praticamente desenvolvido, deverá se trabalhar mais a resistência aerobica para prolongar no tempo a boa velocidade de base adquirida. Deverá se prestar uma grande atenção à técnica de corrida, à economia do gesto e ao trabalho de força elástico reactiva (trabalho com exercícios pliométricos). Isto seria o ideal, mas no entanto chegados a este momento não haverá nada a melhorar? Claro que sim, existem sempre aspectos que poderemos ou teremos de melhorar, tais como uma melhor adaptação às mudanças de segmento ou os aspectos psicológicos. O atleta terá sempre, pontos fracos que terão de ser melhorados, e terá pontos fortes nos quais deverá se apoiar e fazer deles a sua melhor arma. O trabalho de força será importante, devendo ser realizado em toda a musculatura de uma maneira geral, mas incidindo especialmente nos músculos que produzem movimento em algum segmento da competição e com as angulações mais próximas possível do gesto competitivo. Deveremos prestar uma especial atenção ao fortalecimento da cintura abdomo-lombar já que permite uma boa estabilização da pélvis e uma boa transmissão das forças.

4.5.1 O que fazer nos diferentes escalões e posteriormente? Sou da opinião que a entrada na escola de Triatlo deve coincidir com a entrada no Ensino Primário, ainda que toda a criança pode entrar mais tarde. Na sua admissão à Escola de Triatlo toda a criança deverá efectuar uma série de testes para se avaliar o seu nível de desenvolvimento de certas qualidades, o que servirá de base para preparar o plano de treino mais adequado para que a criança possa desenvolver os aspectos que não tenha desenvolvido até esta altura. Baseei-me em diversos estudos para tomar o principio de treinar as crianças um mínimo de três vezes por semana, já que são muitos os autores que estabeleceram um mínimo de três sessões semanais para que se produzam efeitos proveitosos do treino. (Simons-Morton e tal. 1987, Hahn, 1988) De seguida apresento uma hipótese esquemática de treino das diferentes qualidades físicas na corrida, ciclismo e natação nos diferentes escalões de idade tanto em rapazes como raparigas.

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ESCALÕES BENJAMIM INFANTIL INICIADO JUVENIL SEGMENTOS N B C N B C N B C N B C

FORÇA/VELOCIDADE + ++ + + + ++ + + FORÇA/RESISTÊNCIA + + + + + ++ + + ++ + +

FORÇA MÁXIMA ++ + + +++ ++ + RESISTÊNCIA

AERÓBICA ++ + ++ + + +++ + + +++ ++ + RESISTÊNCIA

ANBAERÓBICA + ++ + + +++ + + AMPLITUDE DE

MOVIMENTO ++ + + +++ + + +++ + ++ ++ + + TEMPO DE REACÇÃO + + ++ ++ + ++ + +

VELOCIDADE GESTUAL + ++ ++ ++ ++ ++ + ++ + +

CAPACIDADE DE ACELERAÇÃO ++ ++ + +

VELOCIDADE MÁXIMA + + +++ + +++VELOCIDADE RESISTÊNCIA + + +++ + +++

COORDENAÇÃO +++ ++ ++ +++ ++ ++ ++ + + + + + TECNICA DESPORTIVA + + ++ + + +++ ++ + +++ ++ ++

FORÇA ELÁSTICA + +

Fig. 3

Treino das qualidades físicas nos diferentes segmentos em rapazes

N – Natação B – Ciclismo C – Corrida + - A introduzir em algumas sessões ou numa sessão específica ++ - Várias sessões com este conteúdo +++ - Treino sistemático com este conteúdo

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ESCALÕES BENJAMIM INFANTIL INICIADO JUVENIL SEGMENTOS N B C N B C N B C N B C

FORÇA/VELOCIDADE + ++ + ++ + + + FORÇA/RESISTÊNCIA + + ++ + + ++ + + ++ ++ +

FORÇA MÁXIMA + +++ ++ +++ ++ +RESISTÊNCIA

AERÓBICA ++ + ++ + +++ + + +++ + ++RESISTÊNCIA

ANBAERÓBICA + + +++ + ++ + +AMPLITUDE DE

MOVIMENTO ++ ++ ++ ++ +++ +++ +++ ++ ++ ++TEMPO DE REACÇÃO + + ++ ++ + ++

VELOCIDADE GESTUAL + ++ ++ ++ ++ ++ + + + +

CAPACIDADE DE ACELERAÇÃO ++ ++ + + VELOCIDADE

MÁXIMA + + +++ + ++ +++ ++ VELOCIDADE RESISTÊNCIA + + ++ + ++ +

COORDENAÇÃO +++ ++ ++ +++ ++ ++ ++ + + + + +TECNICA

DESPORTIVA +++ ++ ++ +++ ++ ++ + + + + + +FORÇA ELÁSTICA + + + ++

Fig. 4

Treino das qualidades físicas nos diferentes segmentos nas raparigas N – Natação B – Ciclismo C – Corrida + - A introduzir em algumas sessões ou numa sessão específica ++ - Várias sessões com este conteúdo +++ - Treino sistemático com este conteúdo

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De seguida apresento a minha opinião acerca do que deve ser o planeamento geral de uma época de triatlo para cada um dos escalões de formação.

ESCALÃO DE BENJAMINS Numero de sessões semanais: 3 Duração de cada sessão: 1 hora Periodização: De acordo com o calendário escolar Objectivos principais neste escalão: Familiarizar-se com o treino; aprender a treinar; divertir-se com os treinos e criar hábitos de prática desportiva DESCRIÇÃO DO PERIODO: Durante este período o trabalho deverá incidir principalmente sobre o meio aquático, ainda que também se realizem jogos locomotores na corrida e se ensine alguma técnica no domínio da bicicleta. Deverá todo o trabalho realizado ter um aspecto lúdico e divertido utilizando essencialmente jogos. Na natação, deveremos fazer uma “revisão” dos fundamentos que as crianças devem ter adquirido antes de entrar para a Escola de Triatlo tal como familiarização ao meio aquático, respiração, flutuação e propulsão (pés e mãos), ao que chamaríamos “Aprender a nadar”; posteriormente, passaremos a uma segunda etapa, que chamaremos “Domínio do meio aquático” no qual se desenvolverão as técnicas básicas. Na primeira destas etapas, os objectivos principais serão a sobrevivência no meio aquático e perder o medo ao meio aquático. Na segunda etapa, o objectivo principal será conseguir uma total autonomia no meio aquático e ter grande liberdade e variedade de movimentos. Para isso, introduz-se uma grande quantidade de actividades jogadas e não se incidirá na técnica. No meio terrestre, realizam-se jogos para desenvolver as capacidades perceptivas e as técnicas básicas. Pretende-se com estes jogos desenvolver a capacidade aeróbica, mas de forma jogada e não de forma prolongada para não produzir danos no aparelho locomotor que está em desenvolvimento. Com estes jogos pode-se desenvolver o tempo de reacção e a velocidade gestual, já que se encontram nas suas fases sensíveis e há que aproveitar estes momentos. No ciclismo será importante que a criança tenha uma bicicleta adaptada a sua altura e deve-se incidir sobre:

• Equilíbrio: Consiste em organizar o equilíbrio usando bem os pontos de apoio sobre a bicicleta (pés, mãos, glúteos)

• Deslocação: mediante a aplicação da força nos pedais, decidindo quando travar, acelerar, etc.

• Condução: domínio da bicicleta em função do trajecto

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ESCALÃO DE INFANTIL (1º ano)

Numero de sessões semanais: 4 a 5 Duração de cada sessão: 1 hora a 1 hora e 30 minutos Periodização: Sobre a base do calendário escolar Objectivos principais para esta categoria: Desenvolver a maior variedade de técnicas e coordenações nomeio aquático e terrestre. Iniciar a prática desportiva como tal. Descrição do período: Na natação continuará o treino das capacidades básicas e introduz-se de maneira progressiva a natação propriamente dita. Deverão aprender a nadar crawl, bruços, costas e mariposa. Deverá se desenvolver a técnica das viragens, saídas. Utilizam-se jogos onde se aplica todos os estilos. Inicia-se sessões onde contactam com o waterpolo. A natação ocupará a maior parte das sessões de treino deste escalão (50-75% do tempo). A partir do meio aquático trabalha-se a resistência aerobica e prestar-se-a atenção ao desenvolvimento da amplitude de movimento específica. No ciclismo a criança irá desenvolver a velocidade gestual (pedalada), e o tempo de reacção. Também se podem realizar jogos de adaptabilidade motriz nos quais as crianças desenvolvem a técnica de montar e desmontar, contornar objectos, ultrapassar obstáculos, etc. Na corrida a pé podem realizar-se todo o tipo de jogos que permitam o desenvolvimento da velocidade gestual (que será a qualidade mais importante a desenvolver neste escalão), ao desenvolvimento da resistência aeróbia de curta duração e do tempo de reacção.

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CATEGORIA INFANTIL

(2º ano) Numero de sessões: 4 a 6 Duração de cada sessão: 1 hora a 1 hora e meia Periodização: de acordo com o calendário do circuito jovem da FTP Descrição do período: Neste escalão, principalmente na sua etapa final, será necessário começar a distinguir os conteúdos do treino em função do sexo, pois nesta altura as raparigas começam a experimentar mudanças relacionadas com a chegada da puberdade. Neste momento, será conveniente que haja um aumento brusco de intensidade e de volume de treino, já que nesta etapa a mulher gera uma grande quantidade de energia que se não é libertada, faz com que se acumule demasiada gordura. O segmento predominante será a natação (50 a 75%) e, ao princípio será importante melhorar a técnica de crawl, para depois mantê-la no escalão seguinte em que serão maiores as mudanças nas dimensões dos segmentos corporais. Encontramo-nos perante raparigas, que estão nos períodos críticos das suas qualidades, tais como a velocidade gestual, a força/velocidade e o tempo de reacção. Trabalharemos com elas estas características nos três segmentos se bem que mais no ciclismo e na corrida para depois aumentar o numero de sessões na natação (quando o gesto for mais estável). Devemos prestar especial atenção à elastecidade. Poderemos utilizar nesta fase palas, barbatanas, elásticos, etc. No ciclismo, deverá começar-se a dar noções de táctica e trabalhar a técnica individual assim como a técnica colectiva (por exemplo andar na roda). Na corrida deverá continuar-se a trabalhar o desenvolvimento da velocidade gestual e começar a trabalhar a resistência aerobica de curta duração. Nos rapazes as mudanças devidas à puberdade, não se deverão fazer sentir antes da idade de iniciados e o trabalho deverá se centrar na técnica de natação e também do ciclismo e corrida (ainda que em menor medida nestas ultimas) e a intensidade e o volume não se aumentará tanto como nas raparigas.

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ESCALÃO INICIADO

Numero de sessões semanais: 6 a 8 Duração de cada sessão: 2 horas Periodização: com base no calendário do circuito jovem da FTP Descrição do período: No final da etapa deste escalão os rapazes experimentam as principais mudanças da puberdade, enquanto que as raparigas estarão em plena puberdade. Em primeiro lugar falarei das raparigas: Predomina o treino da natação e deverá se trabalhar principalmente a técnica, ainda que também se incidirá sobre a velocidade e sobre a resistência aeróbica. Também se realizarão treinos dirigidos a melhoria da força máxima da força/resistência, Utiliza-se palas, barbatanas, elásticos e se possível máquinas isocinéticas. No ciclismo, é importante o trabalho de força máxima e do treino da técnica individual e da técnica colectiva. Podem-se começar a realizar saídas acompanhadas por adultos, por zonas de pouco transito e introduz-se alguns treinos dirigidos à força máxima para maiores desenvolvimentos. Também se pode começar a treinar a resistência anaeróbica com recurso a sprints. Na corrida, será importante o trabalho de técnica, velocidade e de resistência anaeróbica láctica. Começa-se a trabalhar a força-elástico-reactiva, com exercícios pliométricos. No que se refere aos rapazes, será necessário aproveitar os períodos críticos de velocidade gestual, força/velocidade e tempo de reacção. Predomina o treino do segmento de natação, dirigido essencialmente à técnica, ao trabalho de velocidade gestual e de força/velocidade. Também se pode começar a trabalhar a força/resistência, a resistência aeróbica e a amplitude de movimento específica. No ciclismo, o treino incidirá sobre a velocidade gestual (cadência de pedalada) e sobre a técnica individual e colectiva além de se treinar a táctica. Começa o trabalho de força no final desta etapa. Na corrida, predomina o treino da velocidade gestual. Em ambos os sexos podemos começar o trabalho de táctica específica de triatlo.

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ESCALÃO DE JUVENIS Numero de sessões: 10 a 12 Duração de cada sessão: Até 2 horas e 30 minutos. Periodização: Com base na data nos Campeonato Nacional de Juvenis (Duatlo, Triatlo e Aquatlo). Descrição do período: Nas raparigas alcança-se o amadurecimento físico e está-se nas melhores condições para conseguir alcançar um desenvolvimento óptimo no rendimento da natação. Neste sentido deverá se trabalhar a velocidade base no tempo, para desenvolver altas velocidades sub máximas em 1500 metros. Devem-se realizar os ajustes que sejam necessários na técnica de forma a apurá-la, prestando grande atenção a um bom batimento de pés. Pode-se treinar a resistência anaeróbica láctica e todas as qualidades físicas importantes para o rendimento no meio aquático. Chega-se ao topo de volumes e intensidades na natação. Aumenta-se o trabalho de resistência aeróbica no ciclismo e sobretudo da força. Trabalha-se a técnica e a táctica específica de ciclismo no triatlo. Na corrida, trabalha-se especialmente a velocidade base e aumentará o trabalho de potência aeróbica. Trata-se especialmente de conseguir altas velocidades sub máximas. Dá-se bastante importância ao trabalho de resistência anaeróbica láctica e de força elástica. Nos rapazes, trabalha-se a técnica de natação e a velocidade que durante esta etapa permitirá adquirir altas velocidades sub máximas em distâncias maiores. Treina-se a força máxima em todos os segmentos e no ciclismo aumentará o número de sessões em que se incluem rampas. Aumenta-se o volume das sessões de ciclismo, para um maior desenvolvimento da resistência aeróbica específica neste segmento.

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CONSIDERAÇÕES À medida que a idade do triatleta aumenta, os períodos iniciais da época que geralmente se chamam, períodos gerais, serão cada vez mais específicos e o treino será principalmente dirigido no sentido de corrigir defeitos técnicos e no desenvolvimento da potência aeróbica na corrida. Será sempre importante manter uma boa elasticidade muscular geral e especifica e contar com boas reservas de força máxima específica e de velocidade sub máxima em cada segmento. O treino psicológico e a experiência obtida nas competições, adquirem grande importância. O máximo rendimento de um atleta pode tardar anos a chegar, no entanto não nos devemos preocupar, já que o triatlo, devido às suas características, permite ter uma vida útil em termos desportivos na alta competição bem dentro da casa dos 30 anos de idade do individuo. De uma forma geral, as mulheres permanecerão mais tempo ma alta competição, já que devido às suas características podem ter uma vida desportiva mais longa.

CONCLUSÃO

O triatleta de elite não é um ex-nadador, nem um ex-ciclista, nem um ex-corredor. Chegam novos tempos em que a formação de um triatleta estará dirigido aos três desportos que compõem o triatlo, com predomínio de uns sobre os outros em determinadas etapas da vida do atleta, com objectivos e conteúdos diferenciados da sua vida desportiva, seguindo um plano estratégico. Quando me propus fazer este trabalho fi-lo com o propósito de aprender algo mais sobre treino com jovens, área que me apaixona de uma forma especial e também porque há alguns anos que acompanho e trabalho duas atletas que se iniciaram no triatlo bastante novas. Ao longo destes anos à semelhança da evolução de qualquer atleta também eu tenho amadurecido e aprendido a estar neste desporto como treinador, pois desde o inicio em que vivia cada treino das atletas como se uma prova se tratasse e cada prova uma quase obrigação de produzir resultados que fossem ao encontro das minhas pretensões pessoais até ao momento actual em que o trabalho diário é feito com base na paciência e na melhoria do gesto técnico com um objectivo final que se vislumbra a médio/longo prazo sinto que tenho evoluído. Não pretendo com este trabalho fazer doutrina, é pura e simplesmente uma visão pessoal e uma partilha de ideias adquiridas com as quais no momento actual mais concordo e que submeto à critica e avaliação de todos os que partilham do trabalho com jovens triatletas pois defendo que a discussão e a partilha de experiências poderão trazer no futuro uma continuidade do trabalho de qualidade que tem sido feito pela FTP assim

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como resultados bastante compensadores para os treinadores e para os atletas e de uma forma geral para o triatlo nacional. Não quero antes de terminar, agradecer às pessoas que me tem acompanhado desde o início e que me tem dado o incentivo e a força para continuar. À minha esposa Filomena e às minhas filhas Ana Paula e Ana Rita o meu muito Obrigado.

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BIBLIOGRAFIA

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• Wilke, K. y Madsen o. (1977). “El entrenamiento del nadador juvenil”. Ed. Stadium, Buenos Aires

• Algarra, J. L. y Gorrotxategui, A. (1996). “La formación del ciclista. Desde la infancia hasta la elite” Ed. Gymnos, Madrid.

• Martin, N. (1997). “Fases sensibles de las cualidades físicas y su entrenabilidad” del Curso sobre Medicina y Deporte Base. Huelva.

• Huguet, J. (1989). “Atletismo I” Ed. Deporte 92, Barcelona.