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1 Translocação da elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto. Uma Avaliação Ambiental Estratégica. Por Gabriel Ferreira de Azevedo Clemente* Biólogo e mestrando no Programa de Pós-Graduação das Ciências da Engenharia Ambiental – USP São Carlos e pesquisador da Agenda Ambiental – Núcleo de Política e Ciência Ambiental da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Biologia - Universidade de São Paulo *Este trabalho é de inteira responsabilidade do autor

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Page 1: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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Translocação da elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto.

Uma Avaliação Ambiental Estratégica.

Por Gabriel Ferreira de Azevedo Clemente*

Biólogo e mestrando no Programa de Pós-Graduação das Ciências da Engenharia Ambiental – USP São

Carlos e pesquisador da Agenda Ambiental – Núcleo de Política e Ciência Ambiental da Faculdade de

Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Biologia - Universidade de São Paulo

*Este trabalho é de inteira responsabilidade do autor

Page 2: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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Sumário

Item Conteúdo Página

1 Introdução e justificativa 3

2 Objetivos estratégicos para alocação da elefanta Maison 4

3 Materiais e Métodos 5

3.1 Referencial Teórico 5

3.1.1 Bem-estar de Elefantes Asiáticos 6

3.1.2 Avaliação Ambiental Estratégica 7

3.1.3 AAE -Fatores Críticos de Decisão 10

3.2 Apresentação das alternativas Locacionais 12

3.2.1 Alternativa Campus da USP/RP 12

3.2.2 Alternativa Área de Proteção Ambiental Morro do São Bento 15

3.3.1 Fatores Críticos de Decisão de alocação da Elefanta – Bem- Estar Animal

16

3.3.2 Fatores Críticos de Decisão – Outros Planos e Programas que interagem com a proposta

17

3.3.3 Fator Crítico de Decisão – Orçamento e financiamento 18

3.3.4 Fator Crítico de Decisão – Melhor atende aos objetivos estratégicos

18

4 Resultados 19

5 Discussão 20

5.1 Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – Bem-estar

20

5.2 Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – Interage com outros planos estratégicos?

24

5.3 Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – Orçamento e financiamento

28

5.4 Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – atendimento aos objetivos estratégicos

29

6 Conclusões 30

7 Referências Bibliográficas 30

Page 3: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

3

1 - Introdução e Justificativa

Diante do avanço de fatores impactantes sobre a biodiversidade, como a

fragmentação e degradação de ecossistemas, perda de habitat, desequilíbrio

ecológicos, um número crescente de espécies estão ameaçados de extinção, tendo

que sobreviver em ambientes altamente antropizados, muitas vezes dependentes das

ações conservacionistas humanas.

Este rol de ações inclui as práticas conservacionistas ex situ. Segundo a

Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD, 1992), prática ex situ é “a conservação

de componentes de diversidade biológicas fora de seu habitat natural”. Isto inclui os

parques zoológicos e instituições de pesquisa da vida silvestre. (IUCN, 2002)

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos

Naturais (IUCN, 2001), o elefante asiático (Elephas maximus) encontra-se atualmente

na condição de “ameaçado”, baseado em critérios como o número da população ter

diminuído a 50 % nos últimos 30 anos, perda ou degradação de habitats, ou ter chance

de se extinguir nos próximos 100 anos. A imagem a seguir ilustra o grau de

comprometimento da espécie.

Figura 1 – nível de ameaça à extinção da espécie Elephas maximus. IUCN, 2001

De acordo com Sukumar (2003), a população de elefantes asiáticos está

estimada em algo entre 41.410 a 52.345, e com tendência contínua de diminuição.

Destes, o autor afirma que aproximadamente 16.000 ou 30 % são animais de cativeiro,

o que evidencia a grande importância desta prática de conservação para a

manutenção da espécie.

Muito tem sido dito sobre as limitações e deficiências em reverter as ameaças

causadas pelos impactos humanos. Esperar a espécie chegar a um ponto mais crítico

Page 4: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

4

pela lista de espécies ameaçadas da IUCN pode ser muito tarde para agir. Assim, a

comunidade internacional aclama para que diversas técnicas e abordagens

conservacionistas sejam utilizadas, aumentando a prática de técnicas ex situ de

conservação (IUCN, 2002).

Não existem dúvidas que os zoológicos têm capacidade de oferecer ótimos

serviços veterinários, mas um fator determinante para a manutenção da variabilidade

genética de um táxon ameaçado e, portanto, do sucesso da prática conservacionista,

inclui a capacidade dos animais praticarem toda a gama de seus comportamentos

naturais, como alimentação, socialização e reprodução.

Diante disto, diversos autores questionam se as práticas conservacionistas

como as executadas por zoológicos devem encarar o inevitável: a extinção das

espécies no longo prazo e se, portanto, as práticas de conservação devem direcionar

seus recursos e esforços inteiramente para a técnica in situ (Moss, (1988); Taylor and

Poole,(1998); Olson and Wiese (2000); Wiese (2000); Rees, 2001; 2003).

Desmond (1994, pag. 19) avalia que o repertório de comportamentos naturais,

tais como os sociais, ocupacionais, alimentação e de migração, em elefantes criados

em zoológicos é tolido, devido ao confinamento espacial, que é “estéril e sem

mudanças”.

Desta maneira, os elefantes criados desta forma não conseguem desenvolver

ao máximo suas capacidades reprodutivas e sociais comparados aos animais selvagens.

Portanto, zoológicos não conseguem oferecer um bem-estar animal avançado

compatível com as necessidades dos elefantes. Esta já é um escrutínio comum entre

pesquisadores acadêmicos, e indicam que as estratégias conservacionistas de

elefantes asiáticos devam tentar adotar alternativas para que atinja seus objetivos

(Rees, 2003).

Diante do acima exposto, o presente trabalho busca avaliar possíveis

alternativas para a melhor decisão acerca da translocação da elefanta Maison em

Ribeirão Preto, tendo como metodologia o uso da Avaliação Ambiental Estratégica

Page 5: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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(AAE) e a busca das melhores condições de bem-estar para a elefanta por uma melhor

relação custo benefício.

Para avaliarmos os cenários possíveis para que a melhor decisão seja tomada, é

preciso mostrar um cenário de referência, que será dado ao longo do projeto,

partindo-se dos objetivos estratégicos da translocação da elefanta Maison para

Ribeirão Preto.

2 - Objetivos estratégicos para alocação da elefanta Maison

-Oferecer a melhor qualidade e bem-estar possível para a elefanta Maison

-Aumentar o entendimento do público acerca de questões de conservação e o

significado da extinção.

-Restauração de habitat

-Fortalecimento institucional e construção de capacidades profissionais

-Compartilhamento de benefícios

-Pesquisa em questões relevantes para conservação. (alimentação, reprodução,

impactos nos meios biofísicos, saúde animal)

-Melhor relação custo x benefício

3 - Materiais e Métodos

3.1 - Referencial Teórico

3.1.1 - Bem-estar de elefantes Asiáticos

Laule (2003, pag. 969) estabelece uma constelação de variáveis e critérios de

avaliação de bem-estar para elefantes asiáticos cativos em zoológicos, entre os quais:

alimentação, comportamento, saúde, longevidade, e reprodução.

Page 6: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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De acordo com a “Coalizão de boas práticas para cuidados e bem-estar de

elefantes em cativeiro” (CCEWB, 2005b), as boas práticas podem ser sintetizadas em

quatro assunções, a saber:

A – O elefante cativo deve ser gerido como um indivíduo único, e como um

respectivo à sua própria espécie e população;

B – O desenho do ambiente do cativeiro, tanto em um zoológico, como um

santuário ou outro recinto que irá alojar um elefante, deve enfatizar as

necessidades que um elefante “propriamente percebe como sendo

importantes” (Mench and Kreger, 1996, pag. 13);

C – Zoológicos e santuários devem prover ao seu elefante cativo “condições

ótimas“ de confinamento, predicados nos elementos da história natural da

espécie e das características chaves individuais (Hancocks, (1996); Coe, (2003));

D – as boas práticas de gestão de elefantes devem incorporar princípios de

trato e treinamento que maximizem as competências do elefante, tais como

aprendizado, autonomia e comportamentos sociais da espécie, minimizando a

dor, sofrimento e stress desnecessários, e maximizando a segurança do

tratador.

Conforme o item “A”, é fundamental que o animal desenvolva ao máximo suas

características únicas complexas, como sociabilidade, reprodução e transferência de

aprendizado, de acordo com o Padrão de gestão de Elefantes (AZA, 2003). Ferir este

princípio limitaria as ações do animal para a conquista de sua autonomia como

indivíduo e espécie, deixando de executar os seus comportamentos naturais.

Analisando os itens “B” e “C”, pode-se desdobrar uma série de critérios

técnicos para que o recinto que alojará o animal tenha as melhores condições

possíveis para atingir os objetivos conservacionistas, levando-se em consideração a

história natural evolutiva da espécie, bem como do indivíduo. Esta métrica deve ser

focada na percepção de o que “o animal entende como sendo importante”.

Page 7: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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O item “D” se desdobra em aspectos de condições tanto materiais do recinto,

quanto de conduta dos órgãos gestores que irão fazer a alocação do animal, que

norteará os princípios práticos de cuidados com o animal.

3.1.2 - Avaliação Ambiental Estratégica

As avaliações de impactos ambientais (AIA) surgiram por uma necessidade de

harmonizar o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, no sentido de um

desenvolvimento sustentável do ponto de vista ambiental, econômico e social, tal

como preconizado inicialmente na Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento Humano de 1972.

No início de sua concepção, a AIA tinha por objetivo avaliar os impactos de

projetos ou atividades de desenvolvimento, mas ampliou-se para a avaliação de

Políticas, Planos e Programas (PPPs) que antecedem estes projetos. No Brasil, a

avaliação dos impactos ambientais de projetos recebe o nome de estudos de impacto

ambiental (EIA). Contudo, cabe observar que a nomenclatura apresenta variações em

outras nações.

Diversos autores alertam para as limitações do uso de instrumentos de

avaliação ambiental de projetos como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Este

geralmente se foca nos aspectos da mitigação dos impactos, sem, contudo,

estabelecer níveis mais estratégicos de definição de sustentabilidade, se tornando

incapaz por em ser agente indutor da sustentabilidade. (Alswhaiikhat, 2005; Oliveira,

2009).

Diante deste cenário, diversos países têm adotado ferramentas para a avaliação

de impactos de políticas, planos e programas, por se tratarem do momento quando

são definidas as estratégias, e onde a sustentabilidade deve ser mais bem endereçada.

A AIA aplicada em PPP se denomina Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), que

surge na década de 80 e apresenta várias vertentes, de acordo com as especificidades

das nações em que se encontra (SÁNCHEZ, 2006; Therivel, 2004). O Brasil ainda não

tem um arcabouço jurídico institucional que regulamente o uso do instrumento,

Page 8: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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apesar de ter um documento aberto para consulta pública que indicam diretrizes e

metodologias sugerindo o seu uso em etapas de planejamento do governo federal

(Brasil, 2010)

A AAE pode ser entendida como uma ferramenta de planejamento sistemático

para a análise de alternativas tendo em vista a inserção da variável ambiental em

níveis estratégicos de tomada de decisão, como políticas, planos e programas.

(Therivel, 2004; Partidário, 2002;2007; Fischer, 2007)

É importante conceituar os termos referentes à AAE, definindo-se assim uma

melhor compreensão do instrumento. As definições a seguir são derivadas de

Partidário (2007):

Avaliação: Expressar um valor de julgamento mais ou menos acurado de

magnitude ou qualidade atribuído a um objeto avaliado;

Ambiental: conjunto de sistemas físicos, químicos e biológicos que se inter-

relacionam com os fatores econômicos sociais e culturais, afetando direta ou

indiretamente, gradual ou imediatamente os seres humanos e outros seres vivos;

Estratégia: estudo ou planejamento de meios para se atingir objetivos. Menos

voltado à definir os impactos futuros, mas planejar no sentido de rotas possíveis para

um futuro desejado;

Sustentabilidade: Desenvolvimento que satisfaz as necessidades das presentes

gerações sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas

próprias necessidades. Característica de um processo ou estado que podem se manter

em um dado período de tempo em um certo nível.

Os objetivos de uma AAE podem ser sintetizados nos seguintes pontos

(Partidário, 2007):

1 – Garantir a integração dos aspectos sociais, ambientais e econômicos no processo

de planejamento;

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2 – Detectar oportunidades e riscos, avaliar e comparar alternativas de

desenvolvimento, enquanto ainda estão abertas à discussão;

3 – Ajudar na identificação, seleção e justificativa de opções com maiores ganhos aos

objetivos ambientais, sociais e de desenvolvimento econômico;

4 – contribuir para o estabelecimento de contextos de desenvolvimento que são mais

apropriados para as futuras propostas numa perspectiva multi-setorial transversal;

5 – Garantir uma perspectiva mais abrangente de aspectos ambientais dentro de um

contexto de sustentabilidade;

Os principais benefícios de utilização de uma Avaliação Ambiental Estratégica

podem ser sintetizados nos seguintes aspectos, como expressado por Fischer (2007):

- Processo sistemático;

- Permite envolvimento efetivo;

- Encadeado;

- Transparente;

- Pro-ativo;

- Holístico

De acordo com a Associação Internacional de Avaliação de Impacto (IAIA,

2002), para que uma AAE seja eficiente, ela deve ter alguns princípios e características

que constituem as boas práticas. A figura 2 a seguir sintetiza estas práticas:

Page 10: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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Figura 2 – Critérios de boas práticas de qualidade de uma AAE. Fonte: Lemos,

2011 baseado em IAIA (2002).

3.1.3 - AAE -Fatores Críticos de Decisão

Segundo Partidário (2007), um eixo estruturante e integrador de uma AAE

consiste na avaliação a partir dos Fatores Críticos de Decisão (FCD). Segundo a autora,

os FCD são os elementos que devem ser mensurados e avaliados de acordo com o

objetivo estipulado para a ação estratégica, associados a critérios e indicadores. Estes

fatores devem ser analisados e integrados com outros elementos do escopo da

avaliação, a saber:

Page 11: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

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• Estrutura de Referência Estratégica (ERE)

• Questões Estratégicas (QE)

• Fatores ambientais (FA) ou Base de Referência (Oliveira, 2009)

A figura 3 a seguir ilustra como os FCD

estruturante com os outros elementos da avaliação.

Figura 3 – Fatores C

da AAE. Modificado de Partidário, 2007.

Para tornar mais tangível esta definição, o quadro 1 a seguir ilustra os

elementos que serão considerados no presente trabalho e suas relações com

dados utilizada.

Elemento da AAE Base de Dados

Questões estratégicas Critérios de avaliação de bem

benefício;

Estrutura de

Referência Estratégica

Outra

ao objeto avaliado

Fatores Ambientais ou

Base de Referência

Conjunto de dados ambientais das alternativas locacionais

que permitem criar um cenário para realizar as avaliações.

Quadro 1 – Elementos de

base de dados utilizados.

Estrutura de Referência Estratégica (ERE)

Questões Estratégicas (QE) – princípios e objetivos do objeto a ser avaliado

ou Base de Referência (Oliveira, 2009)

A figura 3 a seguir ilustra como os FCD participam como elemento integrador

com os outros elementos da avaliação.

tores Críticos de Decisão como elemento integrador e estruturante

da AAE. Modificado de Partidário, 2007.

Para tornar mais tangível esta definição, o quadro 1 a seguir ilustra os

elementos que serão considerados no presente trabalho e suas relações com

Base de Dados

Critérios de avaliação de bem-estar de elefantes; custo

benefício;

Outras propostas de planejamento (PPPs) com interface

ao objeto avaliado

Conjunto de dados ambientais das alternativas locacionais

que permitem criar um cenário para realizar as avaliações.

Elementos de uma Avaliação Ambiental Estratégica

do objeto a ser avaliado

participam como elemento integrador e

integrador e estruturante

Para tornar mais tangível esta definição, o quadro 1 a seguir ilustra os

elementos que serão considerados no presente trabalho e suas relações com a base de

estar de elefantes; custo-

s propostas de planejamento (PPPs) com interface

Conjunto de dados ambientais das alternativas locacionais

que permitem criar um cenário para realizar as avaliações.

Ambiental Estratégica e relação com

Page 12: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

12

Tendo em vista que a translocação de uma elefant

um projeto estruturante, que envolve múltiplos objetivos, faz interface com outros

planos e programas, e é um importante agente indutor de mudanças significativas no

contexto do município, interagindo com outr

uso do solo e áreas de conservação,

inserção da variável ambiental de maneiro holística.

Para tal, serão utilizado

métodos e práticas de AAE para que uma decisão mais estratégica possa ser avaliada.

Serão avaliados e

fatores e critérios amplos,

com informações pertinentes a matriz de decisão,

alternativas para a alocação da elefanta no município de Ribeirão Preto. A figura 4 a

seguir ilustra esta relação.

Figura 4 – Relação entre a AAE e tomada de decisão

3.2 Apresentação das Alternativas Locacionais

3.2.1 - Alternativa Campus

O campus da USP está situado no município de Ribeirão Preto, nordeste do

estado de São Paulo, longitude Oeste 47º

Tendo em vista que a translocação de uma elefanta pode ser encarado como

, que envolve múltiplos objetivos, faz interface com outros

planos e programas, e é um importante agente indutor de mudanças significativas no

nicípio, interagindo com outros setores como transporte,

uso do solo e áreas de conservação, é necessário uma tomada de decisão com a

inserção da variável ambiental de maneiro holística.

utilizados no presente trabalho alguns conceitos,

de AAE para que uma decisão mais estratégica possa ser avaliada.

avaliados e analisados por meio de uma matriz de impactos

e critérios amplos, integrados e estratégicos de planejamento

com informações pertinentes a matriz de decisão, auxiliando na comparação de

alternativas para a alocação da elefanta no município de Ribeirão Preto. A figura 4 a

Relação entre a AAE e tomada de decisão. Baseado em Partidário, 2007.

lternativas Locacionais

Campus da USP/RP

da USP está situado no município de Ribeirão Preto, nordeste do

estado de São Paulo, longitude Oeste 47º 51´ e latitude Sul 21º

pode ser encarado como

, que envolve múltiplos objetivos, faz interface com outros

planos e programas, e é um importante agente indutor de mudanças significativas no

s setores como transporte, educação,

é necessário uma tomada de decisão com a

eitos, princípios,

de AAE para que uma decisão mais estratégica possa ser avaliada.

por meio de uma matriz de impactos alguns

e estratégicos de planejamento, alimentando

auxiliando na comparação de

alternativas para a alocação da elefanta no município de Ribeirão Preto. A figura 4 a

. Baseado em Partidário, 2007.

da USP está situado no município de Ribeirão Preto, nordeste do

09´, dentro do

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13

perímetro urbano, ocupando uma área de aproximadamente 585 hectares (USP,

2007).

Figura 5 - Vista geral Campus da USP/RP. Google Maps.

De acordo com o Plano Ambiental da USP (2007) e Clemente (2010), as áreas

avaliadas como aptas dentro do Campus são consideradas áreas de campo

antropizado, disponíveis para uso. A figura 6 a seguir elucida esta informação.

Page 14: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

14

Figura 6 – Uso e ocupação do Campus da USP e áreas para possível alocação da

elefanta e plantio de alimentos em hachurado. Modificado de Clemente (2010).

Segundo o Plano Ambiental do Campus da USP de Ribeirão Preto (2007),

apenas a área A4 da figura 7 se enquadra como APP por se tratar de afloramento

rochoso, porém do ponto de vista ecológico o impacto de sua utilização é muito baixo.

As áreas A1, A2 e A3 são consideradas áreas de expansão. Entretanto, os planos

diretores das unidades não têm em um horizonte dos próximos anos um plano de

utilização destas áreas, se configurando como áreas disponíveis para o projeto.

O mapa e a legenda abaixo referente à figura 7 explicitam as áreas e usos

propostos:

Page 15: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

15

Figura 7 – Área disponível para alocação da Elefanta Maison na USP/RP

Legenda:

• (A1) - Área para alocação da Elefanta Maison e seu futuro parceiro na USP: 228.000 m²

ou 22.8 hectares;

• (A2) - Área destinada para plantio de alimentos para Maison e seu futuro parceiro:

115.000 m² ou 11.5 hectares;

• (A3) - Área com reservatório de água canalizada;

• (A4) - Área para alojamento do tratador, material de pesquisa e veterinário

seguranças e banheiro seco.

3.2.2 - Alternativa Área de Proteção Ambiental Morro do São Bento

O morro do São Bento consiste em uma Área de Preservação Ambiental (APA),

criada pela Lei Estadual 6.131/88

Municipal, o bosque, o zoológico, o teatro municipal e o teatro de Arena. A imagem

seguir ilustra esse complexo na APA Morro do São Bento.

Área disponível para alocação da Elefanta Maison na USP/RP

Área para alocação da Elefanta Maison e seu futuro parceiro na USP: 228.000 m²

Área destinada para plantio de alimentos para Maison e seu futuro parceiro:

115.000 m² ou 11.5 hectares;

Área com reservatório de água canalizada;

Área para alojamento do tratador, material de pesquisa e veterinário

seguranças e banheiro seco.

Alternativa Área de Proteção Ambiental Morro do São Bento

O morro do São Bento consiste em uma Área de Preservação Ambiental (APA),

criada pela Lei Estadual 6.131/88, onde está alojado um complexo com o Parque

al, o bosque, o zoológico, o teatro municipal e o teatro de Arena. A imagem

seguir ilustra esse complexo na APA Morro do São Bento.

Área disponível para alocação da Elefanta Maison na USP/RP

Área para alocação da Elefanta Maison e seu futuro parceiro na USP: 228.000 m²

Área destinada para plantio de alimentos para Maison e seu futuro parceiro:

Área para alojamento do tratador, material de pesquisa e veterinário,

O morro do São Bento consiste em uma Área de Preservação Ambiental (APA),

um complexo com o Parque

al, o bosque, o zoológico, o teatro municipal e o teatro de Arena. A imagem 8 a

Page 16: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

16

Figura 8 - Vista aérea da APA morro do São Bento. Google Maps.

• Área total da APA Morro do São Bento, onde se encontra o Bosque Municipal Fábio

Barreto

19.000 m² ou 1.9 hectares.

3.3.1 - Fatores Críticos de Decisão de alocação da Elefanta – Bem- Estar

Animal

Foram diagnosticados, segundo os documentos internacionais para gestão de

elefantes em cativeiro que trazem tanto as boas práticas, quanto os princípios centrais,

os seguintes Fatores Críticos de Decisão para bem-estar animal de elefantes asiáticos

(CCEWB, 2005a;2005b):

• Água

o Disponibilidade

o Qualidade

Page 17: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

17

• Alimentação

o Variedade

o Autonomia (é um animal do tipo browser)

o Disponibilidade

• Saúde

o Exposição à stress

o Condições de confinamento

o Banho

• Comportamento

o Sociabilidade

o Autonomia

o Aprendizado

o Ocupação

• Reprodução

o Possibilidade de reprodução

• Espaço apropriado

o Área

o Liberdade de movimento

o Variedade de ambientes (úmido, seco, arenoso, lamacento)

o Fatores ambientais ótimos

3.3.2 - Fatores Críticos de Decisão – Outros Planos e Programas que interagem com a

proposta

Foram diagnosticados como possíveis planos e programas estratégicos que

venham a interagir e possibilitar uma sinergia de ações com a translocação da elefanta

Maison, os seguintes elementos:

• Plano de Segurança

o É preciso oferecer segurança à elefanta

o É preciso diagnosticar os riscos e oportunidade de segurança existentes nas

alternativas;

• Plano diretor de uso do solo;

Page 18: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

18

o Observar possíveis impactos que o ordenamento do uso do solo pode vir a

causar ao bem-estar da elefanta

• Planos de Unidades de Conservação;

o É importante oferecer proteção à área que receberá a elefanta, inclusive

proteção do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC – Lei Federal

9985/2000)

• Plano Viário municipal

o Por gerar grande fluxo de pessoas a ir visitar um animal deste tipo;

• Programa de Educação Municipal;

o Educação ambiental

o Trilhas

o Incorporação da conservação nos currículos escolares do município

3.3.3 - Fator Crítico de Decisão – Orçamento e financiamento

• Custo da obra

• Chance de obter recursos financeiros

3.3.4 – Fator Crítico de Decisão – Melhor atende aos objetivos estratégicos

• Oferecer a melhor qualidade e bem-estar possível para a elefanta Maison

• Aumentar o entendimento do público acerca de questões de conservação e o

significado da extinção.

• Restauração de habitat

• Fortalecimento institucional e construção de capacidades profissionais

• Compartilhamento de benefícios

• Gerar pesquisa em questões ecológicas e biológicas relevantes para

conservação. (alimentação, reprodução, impactos nos meios biofísicos)

• Melhor relação custo x benefício

Para realizar a avaliação do presente trabalho, foi criada uma matriz

bidimensional onde foram estabelecidos valores de julgamentos para os fatores

críticos de decisão (linhas) em relação às características referentes às alternativas

Page 19: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

19

locacionais (colunas). Foram atribuídos valores positivos (+) ou negativos (-) e cores

verdes para o positivo e vermelho para o negativo, conforme a relação que se

estabelece entre o elemento avaliado e a alternativa locacional. Os critérios utilizados

para a avaliação serão contemplados no item “discussões”.

4 - Resultados

O quadro 2 a seguir sintetiza a avaliação realizada entre os fatores críticos de

decisão e as alternativas locacionais diante dos objetivos estratégicos:

Fatores Críticos de Decisão

Alternativas locacionais

Objetivos Estratégicos Campus da

USP/RP

Bosque

Fábio

Barreto

Água ++ -- - Bem-estar animal

-Objetivos

conservacionistas

- Restauração de habitat

-Fortalecimento

institucional

- Compartilhamento de

benefícios

- Gerar pesquisas relevantes

- Relação custo x benefício

Alimentação ++ --

Saúde ++ --

Comportamento ++ --

Reprodução ++ --

Espaço apropriado ++ --

Interage com outros planos

estratégicos?

++ --

Orçamento e

financiamento

++ --

Melhor atende os objetivos

estratégicos

++ --

Quadro 2 – Resultado síntese da avaliação das alternativas locacionais diante dos

fatores críticos de decisão.

5 - Discussão

Page 20: Proposta de translocação da Elefanta Maison para o município de Ribeirão Preto - Uma Avaliação Ambiental Estratégica

20

Será discutido pontualmente cada FCD e sua respectiva valoração para cada

alternativa locacional, tornando transparente a boa prática de tomada de decisão de

escolha informada (Fischer, 2007).

5.1 Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – Bem-estar

• Água

Água é um fator crucial para o bem-estar de um elefante asiático (CCEWB,

2005a).

O Campus da USP tem duas nascentes canalizadas no perímetro do seu

reflorestamento, segundo Clemente (2010). Esta água está disponível para consumo

imediato pois encontram-se dois reservatórios já instalados com volume aproximados

de 15.000 m³ cada. A disponibilização desta água, especialmente para as necessidades

da elefanta, como banho, consumo e higiene do recinto não terá quase custo nenhum

e será uma água em grande quantidade e qualidade.

O uso da água existente no Bosque Fábio Barreto é limitado para atender com a

devida qualidade para higienização e dessedentação a todos os animais já alocados no

Bosque, bem como aos visitantes dos complexos existentes no Morro do São Bento e

mais a elefanta Maison, e futuramente um macho reprodutor.

• Alimentação

Para a alimentação da elefanta Maison no Campus da USP, será utilizada uma

área para plantio de frutas e leguminosas como melancia, mamão, banana, amendoim

e outras da preferência do animal. A enorme área para seu confinamento também terá

biomassa suficiente para que a elefanta exerça autonomia na busca por gramíneas, e

possivelmente suficiente para seu eventual parceiro

O Campus da USP é também repleto de árvores frutíferas da mesma

biogeografia da espécie da elefanta, ou seja, asiática. São frutas como a Mangifera

indica (Manga) e a Artocarpus heterophyllus (Jaca), ambas originárias da Índia. Não há

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dados estimados da quantidade de produção destas frutas no local, mas facilmente

passa de algumas toneladas/ano.

O Bosque Fabio Barreto precisará deslocar um grande esforço e que terá muito

custo para disponibilizar a quantidade suficiente em biomassa capaz de suprir a dieta

da elefanta com uma nutrição adequada. Estes itens justificam as avaliações recebidas

• Comportamento

Este item é avaliado por fatores relacionados à capacidade do animal

desenvolver toda a sua gama de comportamentos naturais tais como: cognitivos,

sociais (com a própria espécie, não com humanos), ocupacionais, de autonomia na

alimentação, de reprodução. Isto varia fundamentalmente em função do espaço que o

animal será alojado.

Novamente, tanto o espaço quanto todos os itens correlatos acima citados são

melhores no Campus da USP, o que justifica a avaliação positiva da mesma.

Já no bosque Fábio Barreto, o animal ficará extremamente exposto aos

humanos, com dificuldade de se esconder quanto não quiser ficar exposto, criando

uma referência comportamental humana, totalmente anti-natural. Além do que, não

haverá espaço para sua autonomia alimentar e futuramente sua reprodução,

elementos que também fazem parte do rol de comportamentos naturais.

• Reprodução

Rees (2003) argumenta e demonstra que a taxa de reprodução de elefantes

asiáticos em zoológicos é muito baixa, associado ainda à altas taxas de mortalidade

dos juvenis. Por outro lado o autor demonstra que indivíduos bem manejados em

pequenos acampamentos florestais podem ter altas taxas de reprodução, próximas

das obtidas com populações selvagens.

Assim, o recinto proposto no Campus da USP, além de ter espaço para

comportar dois animais futuramente e o estabelecimento de relações sociais, é mais

apropriado para a ocorrência de uma eventual fertilização.

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Já o Bosque Fabio Barreto terá um espaço de confinamento muito limitado, que

acarretará possivelmente na falta de sucesso de um eventual parceiro e reprodução da

elefanta Maison, que consiste em um dos objetivos das práticas conservacionistas.

• Espaço apropriado

De acordo com a CCEWB (2005b), um elefante requer grandes espaços para ser

alojado, não só pelo seu tamanho, mas por suas características essenciais, como

capacidade cognitiva, social e ocupacional.

Sukumar (2003) afirma que uma elefanta fêmea asiática chega a ter como área

de vida de 32 km² a 800 km². Rees (2003) afirma que elefantes asiáticos chegam a

andar por dia 20 km.

O campus da USP, apesar de oferecer uma área com espaço aquém do ideal,

com quase 30 hectares e mais 12 para plantio, é muito mais adequado que a área do

Bosque Fabio Barreto (1,2 hectares é a área inteira do bosque, o recinto deverá ter uns

400 m²).

Um elefante precisa gastar energia e utilizar diferentes músculos. A área ideal

deve ter diferentes níveis de dificuldade para se exercitar (CCEWB, 2005b). A imagem 9

a seguir ilustra as curvas de nível relativas à área a ser utilizada no campus da USP para

alocação da elefanta, demonstrando uma variação vertical de 35 metros (600 m – 635

m), o que permitiria cumprir esta função.

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Figura 9 – Curvas de nível mostrando a variação vertical da área no Campus da

USP/RP.

Além disso, um espaço ideal deve ter áreas arenosas, lamacentas, secas e

gramadas (CCEWB,2005b). No Campus da USP isto tudo já existe, sem custo nenhum,

carecendo apenas de um desenho melhor adequado.

Na mesma área também existe um agrupamento de eucaliptos que oferecem

condições de ser usado pela elefanta para coçar-se em diferentes alturas, sem

problemas ou prejuízos para a flora e fauna nativa.

O bosque Fábio Barreto não tem nenhum destes requisitos, e mesmo que seja

criado algo próximo, será demasiado artificial para o efetivo bem-estar da elefanta.

Um elefante não é um animal trivial, que se pode fazer pequenos ajustes em

uma estrutura dada, mas sim a estrutura deve oferecer a maior quantidade de

recursos possíveis para seu bem-estar.

• Saúde

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O item saúde pode ser entendido como uma função da alimentação e da água,

do espaço que se vive e do comportamento.

Neste sentido, o campo saúde recebe uma avaliação negativa para o bosque

Fabio Barreto e uma avaliação positiva para o Campus da USP, pois todos estes fatores

contemplados são melhores no último como já descrito anteriormente. A disposição a

cuidados veterinários deverá ser o mesmo em ambos os recintos avaliados, portanto

não entra no cômputo.

5.2 - Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – Interage com

outros planos estratégicos?

A translocação de uma elefanta deve ser objeto de uma avaliação mais ampla

integrada com outros setores transversais que fazem interface com o objeto avaliado.

Deve ser encarado como um eixo estruturante norteador e integrador com

várias políticas, planos e programas setoriais. Isto é o que se busca com uma avaliação

ambiental estratégica: a observação das oportunidades, ameaças, forças e fraquezas,

rumo à uma decisão mais estratégica possível.

Desta maneira, foram identificados alguns planos setoriais que fazem interface

à instalação da elefanta Maison no município de Ribeirão Preto e que devem ser

contemplados para uma melhor sinergia entre as ações e, consequentemente, um

compartilhamento de benefícios.

Serão pontuados os planos identificados e as respectivas oportunidades e riscos

para cada setor nas alternativas locacionais dadas:

• Plano de Segurança

A USP sofre hoje com um problema que tem como um de seus geradores a

gestão pública municipal. A grande especulação imobiliária e expansão urbana, se

feita de maneira desordenada, traz consigo grandes problemas sociais.

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O Jardim Paiva, localizado ao lado da USP, é um vetor de impactos para a

universidade e para o reflorestamento, onde pessoas mal-intencionadas depositam

lixo no reflorestamento da USP, põe fogo na mata e entram no campus para assaltar

bancos e outras instalações dentro da universidade. Nada mais justo que a responsável

pelo impacto tenha a responsabilidade de mitigá-los e minimizá-los.

O controle da fronteira da USP, através do reflorestamento traria o benefício de

evitar assaltos dentro do Campus. A sinergia consiste em aproveitar a oportunidade da

instalação da elefanta para redirecionar a política de segurança tanto da USP quanto

de seu entorno.

A figura 10 a seguir demonstra a expansão do bairro Jardim Paiva no entorno

da USP formando um vetor de impacto.

Figura 10 – Expansão jardim Paiva no entorno da USP. Fonte: Google Maps.

• Plano diretor de uso do solo;

É preciso que as estratégias de uso e ocupação do município observem a

existência de um animal tal qual um elefante, que tem órgãos dos sentidos bastante

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refinados, como audição, olfato, visão, para que estes não causem mal-estar

desnecessário na elefanta (Sukumar e Santiapillai, 2005).

Colocar a Maison em um lugar com todos os pontos negativos para seus

sentidos, como o bosque Fábio Barreto, não faz muito sentido, podendo causar stress

agudo no animal em longo prazo.

Desta maneira, futuros empreendimentos na área de influência direta de onde

o animal encontra-se devem levar em consideração a existência deste novo fator

ambiental.

• Planos de Unidades de Conservação;

Segundo o Plano Ambiental do Campus da USP/RP (2007), o reflorestamento da

USP é uma área de floresta nativa mesófila estacional semi-decidual com um alto valor

biológico e ecológico. Entretanto, esta área não é devidamente protegida por

mecanismos legais e planos de manejo e ações. Decorrente disto, o reflorestamento

sofreu no ano de 2010 com um incêndio com grandes perdas.

Uma grande oportunidade para a alocação da elefanta Maison na USP seria

enquadrar o reflorestamento da USP como uma Área de Proteção Integral, de acordo

com a Lei Federal 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação). O ideal

seria uma área de Refúgio da Vida Silvestre, formando-se assim um santuário e tendo a

possibilidade de receber outros animais futuramente e ampliar sua área.

Com o estabelecimento da proteção pela SNUC, o reflorestamento passaria a

receber fundos de empreendimentos potencialmente poluidores com área de

influência direta no reflorestamento da USP, o que poderia ajudar no custeio do dos

planos de ações e do manejo.

O Campus da USP também poderá se enquadrar como um criadouro científico

de fauna silvestre para fins de pesquisa, segundo a Instrução Normativa CONAMA

169/08 que “tem como finalidade de: criar, recriar, reproduzir e manter espécimes da

fauna silvestre em cativeiro para fins de realizar e subsidiar pesquisas científicas,

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ensino e extensão”. O campus da USP/RP poderia no futuro abrir um curso de

veterinária, caso estas modificações venham a se concretizar, com grandes ganhos

para a população em geral.

Outro aspecto importante seria a instalação do Parque da Pedreira Santa Luzia,

que integrado ao campus da USP e ao reflorestamento comporiam um importante

sistema de áreas verdes para o município, trazendo todos os benefícios inerentes.

Do ponto de vista da Área de Proteção Ambiental Morro do São Bento (Lei

Estadual 6.131/88) que institui a APA, formula em seu artigo 4º que a flora é protegida

por uma zona de vida silvestre. Portanto, não faz sentido ter de abrir espaço para

alojar uma elefanta tendo que submeter à supressão de vegetação, o que constitui na

verdade uma fraqueza e uma ameaça à implantação da elefanta no bosque.

• Plano Viário Municipal

Receber uma elefanta inclui direcionar grandes esforços para a mobilidade

urbana atender à demanda de visitação, tanto local quanto regional e estadual.

O setor de transportes é o que mais consome combustível fóssil no mundo.

Desta forma, deve-se primar para que se estabeleça um quadro de decisão mais

sustentável para a oferta deste serviço, diminuindo ao máximo a pegada ecológica dos

serviços públicos.

A grande oportunidade de se integrar o plano viário municipal à alocação da

elefanta seria pensar na integração entre transporte público e o ciclo viário.

O Campus da USP poderia ter bicicletas a ser utilizadas pelos estudantes ao

longo da semana para se deslocar até o refeitório, ou dos portões até as suas

respectivas unidade em um sistema do tipo Bike and Ride, já adotado por diversas

cidades no mundo a fora.

Nos finais de semana estas bicicletas poderiam estar disponíveis para o uso do

público, fazer trilhas no campus e no reflorestamento, visitar a elefanta e praticar

esportes. Isto tudo integrado com o transporte público, oferecendo ônibus de diversos

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bairros à USP e do centro da cidade. Assim não sobrecarregaria a malha urbana

central, e incentivaria a população à pratica de um estilos de vida mais sustentáveis e

saudável.

• Programa de Educação Municipal;

A educação ambiental é um dos pontos centrais para se ter um elefante no

município. Se este item não consegue ser contemplado corretamente, o animal

passará a ser compreendido como mais um recurso, no meio de tantos outros, como

costuma ser a proposta nos zoológicos (CCEWB, 2005b). Os animais precisam receber

o seu devido valor.

Colocar o animal em um habitat mais próximo do real para sua espécie é um

grande avanço para o sucesso de uma educação ambiental efetiva. O envolvimento da

comunidade com o bem-estar do animal também deve ser valorizado, como a

possibilidade da reprodução da espécie ser um grande atrativo (Sukumar, 2003).

Temas de educação ambiental particulares da região de Ribeirão Preto devem

ser estimulados nos livros didáticos, como o aqüífero Guarani, e agora a elefanta

Maison, para uma efetiva vivência, percepção e assimilação do público, rumo a uma

consciência preservadora do meio ambiente.

5.3 - Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – Orçamento e

financiamento

Uma proposta mais robusta de conservação tem a chance de conseguir maior

número de patrocinadores e recursos, o que possibilitará a obtenção de condições

ideais para a alocação da elefanta.

Além do que, a proposta de alocação no Campus da USP/RP se alicerça no tripé

de Ensino/Pesquisa/Extensão. Projetos com estes aspectos são financiáveis por

diversos órgãos de fomento à atividade acadêmica, como a FAPESP, o CNPQ e o

programa CAPES. As pesquisas decorrentes desta alocação gerariam ainda mais divisas

e conhecimento para o Brasil e pro mundo.

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29

A análise resultante da relação “Custo x Benefício” das duas alternativas pode

ser extrapolada pelas facilidades encontradas no campus da USP e as dificuldades

encontradas no Bosque Fabio Barreto. Além do que, a elefanta teria uma pegada

ecológica quase neutra e livre de carbono, pois sua alimentação seria inteiramente

produzida dentro da USP, eliminando também gastos excessivos com um item

fundamental do bem estar animal.

5.4 - Avaliação de critérios para alocação da elefanta Maison – atendimento aos

objetivos estratégicos

A análise das alternativas é conclusiva que a maior parte dos objetivos

estratégicos é atendida pela alternativa de alocação no Campus da USP/RP e que o

mesmo não pode ser contemplado por diversos aspectos com a alocação no Bosque

Fábio Barreto.

O reflorestamento da USP sofre com um descontrole de espécies vegetais de

capim-elefante, braquiária e colonião. É esperado que a elefanta consiga fazer o

manejo da área que ela ficará alocada. Isto seria um aspecto muito valoroso para

restauração de habitat e compartilhamento de benefícios, tendo em vista que este

problema tanto para o sucesso das espécies florestais do reflorestamento quanto para

a eliminação do fogo na época seca.

Outro aspecto a ser ressaltado é a geração de pesquisas relevantes. É

importante gerar conhecimento sobre as práticas conservacionistas de elefantes

asiáticos, a relação entre estes e a paisagem em que está inserido, os impactos em

seus componentes bio-físicos, a capacidade de dispersão de sementes nativas, tendo

em vista a contínua melhora das práticas conservacionistas.

A elefanta Maison poderia ainda realizar uma de suas vocações naturais, que é

ser uma elefanta terapeuta. Em seu passado no circo na Argentina, chegou a auxiliar

crianças com problemas comportamentais e de saúde, segundo a neta do palhaço

Biriba, doador da elefanta. Os cursos de terapia ocupacional, psicologia e medicina da

USP poderiam ser os avaliadores deste tipo de práticas, sua eficiência e evolução do

quadro das crianças.

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Um novo paradigma de conservação pode emergir a partir das pesquisas

acadêmicas que decorrerão deste programa. E a USP é por excelência uma das

instituições universitárias brasileiras que mais têm capacidade para contribuir em

âmbito de pesquisa, ensino e extensão para este fim.

6 - Conclusões

Diante dos aspectos fundamentados pela metodologia descrita e subseqüente

análise, o presente trabalho avalia que a melhor decisão possível para a alocação da

elefanta Maison no município de Ribeirão Preto, justificada à luz do bem-estar do

animal, planejamento estratégico, oportunidades, riscos, custos e benefícios, se trata

da escolha do Campus da USP/RP.

É indicado que a prefeitura do município de Ribeirão Preto, como proponente

do empreendimento, avalie esta alternativa para que a melhor escolha seja realizada

enquanto ainda há tempo, evitando assim mais gastos tanto de recursos financeiros

quanto de tempo, para que a elefanta Maison possa finalmente receber o bem-estar

que merece e viver sua vida em plenitude com as melhores condições possíveis de

liberdade, dignidade e amor, e a população possa ter a garantia que a melhor decisão

tenha sido tomada, otimizando benefícios e eliminando fatores indesejados.

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