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Plano de Manejo Espeleológico da Gruta de Bom Sucesso ecossistema consultoria ambiental PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO E MANEJO DA GRUTA DE BOM SUCESSO- PR JUNHO 2011

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Plano de Manejo Espeleológico da Gruta de Bom Sucesso

ecossistema consultoria ambiental

PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO E MANEJO

DA

GRUTA DE BOM SUCESSO- PR

JUNHO

2011

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Plano de Conservação e Manejo da Gruta do Bom Sucesso - PR

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IDENTIFICAÇÃO EMPREENDEDOR Votorantim Energia Ltda. Praça Ramos de Azevedo, 254, 5º andar São Paulo-SP Telefone: (011) 3338-2306 CONSULTORIA Ecossistema Consultoria Ambiental Rua Dionízio Baglioli, 111 Curitiba - PR - CEP 81.510-540 Telefax: (041) 3296-2638 EQUIPE TÉCNICA Coordenação e Responsabilidade Tecnica Espeleóloga e Bióloga MSc. Gisele Cristina Sessegolo – CRBio 8060-07/D (ART N ° 07-0372/11) Meio Biológico Bióloga Susana Dreveck - CRBio 63372-03 Biólogo PhD Ricardo Pinto da Rocha – CRBio 14.496/01-D Meio Físico Espeleólogo e Geógrafo Luís Fernando Silva da Rocha – CREA/PR 105.590/D Geólogo Luís Fernando Moreira - CREA/PR 86755/D Meio Socioeconomico Gestora Ambiental Marília Thiara Rodrigues Basniak Apoio de Campo Espeleólogo e Geógrafo Darci P. Zakrzewski Espeleólogo Rafael Balestieri

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................... 6

2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................................. 6

3. METODOLOGIA................................................................................. 8

3.1 Atividades de Escritório........................................................................................8

3.2 Atividades de Campo ............................................................................................9 3.2.1 Meio Físico ........................................................................................................ 9 3.2.2 Meio Biótico .................................................................................................... 10 3.2.3 Meio Socioeconomico ....................................................................................... 10

4. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL ............................................................ 10

4.1 Meio Físico..........................................................................................................10 4.1.1 Geologia ......................................................................................................... 10 4.1.2 Geomorfologia................................................................................................. 15

4.2 Meio Biótico........................................................................................................17 4.2.1 Flora .............................................................................................................. 17 4.2.2 Fauna............................................................................................................. 19

4.3 Meio Socioeconomico..........................................................................................21 4.3.1 Histórico ......................................................................................................... 21 4.3.2 Indicadores econômicos e sociais....................................................................... 23 4.3.3 Demografia ..................................................................................................... 24 4.3.4 Economia........................................................................................................ 24 4.3.5 Saúde ............................................................................................................ 25 4.3.6 Educação........................................................................................................ 26 4.3.7 Infraestrutura.................................................................................................. 27

5. CONSERVAÇÃO DA GRUTA DO BOM SUCESSO................................. 28 5.1 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação...............................................28 5.2 Proposta de Unidade de Conservação.................................................................29

6. ZONEAMENTO ESPELEOLÓGICO...................................................... 32

6.1 Zona Primitiva (cavidade e área de influência)...................................................32

6.2 Zona de Uso Extensivo (cavidade e área de influência) ......................................33

6.3 Zona de Uso Intensivo (cavidade e área de influência) ......................................34

7. PROJETOS ESPECIAIS .................................................................... 37

7.1 Infraestrutura ....................................................................................................37

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7.2 Capacidade de Carga ..........................................................................................37

7.3 Vigilância............................................................................................................37

7.4 Operacionalização ..............................................................................................37

7.5 Salvamento/Resgate ..........................................................................................37

7.6 Seleção e Capacitação de Condutores de Visitantes............................................37

7.7 Recuperação Ambiental ......................................................................................38

7.8 Monitoramento da Fauna Cavernícola da Gruta do Bom Sucesso ........................38 7.9 Educação Ambiental............................................................................................39

8. IMPACTOS AMBIENTAIS E PROPOSIÇÃO DE MEDIDAS MITIGADORAS.......................................................................................................... 39

9. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS.... 40

9.1 Controle de nível do Lençol Freático Local ..........................................................40

9.2 Controle de Impactos da Visitação à Gruta do Bom Sucesso...............................40

10. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES................................................ 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 42 ANEXO 1 - DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA........................................45

ANEXO 2 – ANOTAÇÕES DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA ................ 48

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Dados Cadastrais da Gruta do Bom Sucesso. ....................................... 12

Tabela 2 - Fauna identificada na Gruta do Bom Sucesso, conforme ECOSSISTEMA (2004). ....................................................................................................... 20

Tabela 3 - Indicadores econômicos e sociais selecionados para o município de Cerro Azul. ........................................................................................................... 23

Tabela 4 - População de Cerro Azul de 1991 a 2010............................................ 24

Tabela 5 - Índice de Pobreza e Desigualdade no Município de Cerro Azul. ............... 25

Tabela 6 - Serviços de saúde em 2009. ............................................................ 25

Tabela 7 - Infraestrutura básica no Município de Cerro Azul. ................................ 27

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização da Gruta do Bom Sucesso, Cerro Azul – PR. ..........................7

Figura 2 - Geologia Regional da região estudada. ............................................... 13

Figura 3 - Mapa Topográfico da Gruta do Bom Sucesso, Cerro Azul – PR. ............... 16

Figura 4 – Localização do município Cerro Azul no Paraná. Fonte: UTP, 2006. ......... 21

Figura 5 - Área de Proteção proposta para a conservação da Gruta do Bom Sucesso.31

Figura 6 - Zoneamento Proposto para a Gruta do Bom Sucesso. ........................... 36

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LISTA DE SIGLAS

APP – Área de Proteção Permanente CGENE – Coordenação Geral de Infraestrutura de Energia Elétrica CNEC – CNEC WorleyParsons Engenharia S.A. DILIC – Diretoria de Licenciamento Ambiental EIA – Estudo de Impacto Ambiental IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística RIMA – Relatório de Impacto Ambiental UHE – Usina Hidrelétrica CECAV – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação em Cavernas ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

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1. INTRODUÇÃO

O documento ora apresentado faz a proposição da área para a efetiva conservação e

adequado manejo da Gruta do Bom Sucesso (PR-0118), visando a compensação

ambiental aos danos que por ventura possam ser gerados pela implantação da UHE

de Tijuco Alto.

Os levantamentos realizados envolvem o atendimento ao solicitado pelo Ofício no

339-2010 – CGENE/DILIC/IBAMA, considerando:

Detalhamento da proposta de conservação da Gruta do Bom Sucesso,

incluindo o projeto de monitoramento do lençol freático, seu Plano de

Manejo, e observando-se, se possível, a conexão da área protegida à

APP do futuro reservatório.

2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A UHE de Tijuco Alto encontra-se projetada no rio Ribeira, situado entre os estados

do Paraná e São Paulo, influenciando as regiões de Adrianópolis, Cerro Azul, Doutor

Ulysses, Itapirapuã Paulista e Ribeira.

A Gruta do Bom Sucesso situa-se no município de Cerro Azul a cerca de 13 km da

sede do município (Figura 01).

Seu acesso se dá a partir de Cerro Azul, percorrendo-se a PR-092 até a ponte sobre

o rio Ribeira, onde toma-se estrada secundária à direita em direção a localidade do

Mato Preto.

Segue-se esta estrada por cerca de 7 km até a ponte sobre o ribeirão do Bom

Sucesso, onde toma-se a direita por um acesso até a propriedade onde se encontra

a cavidade.

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Figura 01 - Localização da Gruta do Bom Sucesso, Cerro Azul – PR.

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3. METODOLOGIA

Visando possibilitar o atendimento dos dados adicionais solicitados pelo IBAMA (Ofício no 339-2010 – CGENE/DILIC/IBAMA), foram analisados os dados secundários disponíveis, mapas, fotos aéreas e imagens de satélite, e efetuadas saídas de campo para análise e descrição específica. As atividades realizadas englobaram os seguintes temas:

promover o conhecimento do potencial espeleológico da área de estudo; proteger a caverna, a flora e a fauna a ela associadas; proteger áreas ou locais que possuem atributos de valor naturais, sociais ou

culturais; proteger o sistema hidrológico e hidrogeológico de áreas cársticas ou pseudo

cársticas, principalmente áreas de recarga; apresentar o zoneamento espeleológico com base em estudos técnicos

específicos, como instrumento de gestão; disciplinar o uso de áreas cársticas ou pseudo cársticas definindo parâmetros a

serem utilizados no controle de acesso e na infra-estrutura de uso turístico; propor medidas de controle dos efeitos negativos advindos da ação antrópica,

bem como alternativas de recuperação de áreas degradadas; estimular a prática de educação ambiental

As atividades desenvolvidas são apresentadas a seguir.

3.1 Atividades de Escritório Em escritório, previamente a realização dos levantamentos de campo, foram

efetuadas pesquisas bibliográficas, visando avaliar o conhecimento pré-existente da

área de trabalho. Também foram consideradas algumas informações preliminares

dos integrantes da equipe sobre a região, principalmente no que diz respeito à

espeleologia.

Foram realizadas interpretações de fotos aéreas e mapas topográficos com a

finalidade de identificar e caracterizar os indícios espeleológicos ou feições cársticas

existentes, a rede hidrográfica, os divisores de águas, os padrões estruturais e

geomorfológicos, os indícios geológicos. Utilizou-se os mapas geológicos regionais,

disponíveis em meio digital e impressos, para a localização geológica da área de

interesse.

O material pesquisado e produzido a partir dessas informações foi utilizado tanto na

fase pré-campo como na fase pós-campo, auxiliando nas interpretações e discussões

dos dados obtidos.

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3.2 Atividades de Campo O trabalho de campo foi realizado no período de 06 a 09 de março de 2011, por uma

equipe multidisciplinar. Esse trabalho foi programado e orientado com base nos

dados preliminares levantados e apoiado por informações pré-existentes de

trabalhos desenvolvidos anteriormente.

As atividades de campo contaram com o apoio de mapas para auxiliar no

reconhecimento da área, identificação e localização dos acidentes geográficos, das

quebras de relevo, dos elementos estruturais, das dolinas, dos paredões, entre

outras informações obtidas em escritório.

Para a plotagem na base cartográfica dos pontos descritos em campo com

informações relevantes da área de estudo, utilizou-se de um G.P.S. (Sistema de

Posicionamento Global – Garmin GPSmap 60CSx).

Na coleta de dados de campo utilizou-se a bússola Brutton para a coleta de atitudes

de planos de foliação, acamamento, fraturas e lineações. Na caracterização

espeleológica foram realizados levantamentos topográficos com emprego de bússola

SUNNTO, trena calibrada e clinômetro.

Após o levantamento de campo todas as informações obtidas foram agrupadas no

presente relatório, caracterizando o diagnóstico espeleológico da área de estudo.

3.2.1 Meio Físico

O contexto geológico regional de zona de falha, próximo ao contato com o Granito

Três Córregos, direcionou a pesquisa para um detalhamento da geotectônica ligada à

evolução da caverna e as possíveis interações com o fluxo de água em sub

superfície.

Foram realizadas pesquisas na tentativa de melhor identificar e situar localmente a

ocorrência da caverna. Executou-se a foto interpretação regional dos alinhamentos e

lineamentos, para identificar possíveis estruturas que serviriam como controles do

fluxo em sub superfície, e realizou-se caminhamento de campo e dentro da Gruta,

reconhecendo-se as estruturas externas e internas. Os dados coletados em campo,

da pesquisa bibliográfica e da foto interpretação são sintetizados nos resultados e

demonstrados na Figura 02.

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3.2.2 Meio Biótico

Visando efetuar a caracterização fitofisionômica do entorno da Gruta do Bom

Sucesso, efetuou-se a observação em campo dos estádios sucessionais da vegetação

e o levantamento das espécies da flora no entorno da cavidade. As espécies que não

foram determinadas em campo foram devidamente coletadas para sua posterior

identificação por especialistas.

Considerando-se que não houve tempo hábil para obtenção da licença de coleta

bioespeleológica, a presente análise efetuou somente observações visuais na

cavidade, visando confirmar a presença de organismos identificados em

levantamentos anteriores (CNEC, 1991 e ECOSSISTEMA, 2004) e na literatura

especializada (PINTO-DA-ROCHA, 1995).

3.2.3 Meio Socioeconomico

Informações regionais sobre o meio socioeconômico foram reunidas a partir de

pesquisas bibliográficas, considerando-se como principais fontes: censos do IBGE,

dados da Confederação Nacional do Município (CNM), além de outras fontes de

dados bibliográficos, cartográficos e fotográficos disponíveis.

4. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL 4.1 Meio Físico

4.1.1 Geologia

No contexto geológico, a região estudada neste trabalho, insere-se nas unidades

geológicas do Cinturão Móvel Ribeira, descrito por Brito Neves e Cordani (1991). O

local onde será implantada toda a estrutura relacionada a hidrelétrica de Tijuco Alto,

é composto litologicamente por filitos, quartzitos e metacalcários dolomíticos,

metacalcários calcíticos, todos dispostos segundo a direção NE-SW, em decorrência

da estruturação tectônica da região. Estas litologias encontram-se muito fraturadas e

dobradas, devido a esses eventos tectônicos.

A Gruta do Bom Sucesso situa-se sobre os metassedimentos do Grupo Açungui,

Formação Votuverava. A estruturação destas rochas permitiu o desenvolvimento do

carste local. As foliações (paralelo ao acamamento) subverticais permitiram o

desenvolvimento de um grande número de abismos. Os planos de interseção das

fraturas e descontinuidades com as foliações permitiram a formação de inúmeras

dolinas.

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A intercalação dos estratos de rochas calcárias com pequenos pacotes de filitos e

quartzitos, todos condicionados à direção NE-SW, definiram sistemas cársticos

isolados, além de limitar o desenvolvimento das cavidades.

Regionalmente, a Gruta do Bom Sucesso insere-se no contexto geológico dos

litotipos da Formação Votuverava, mais especificamente meta calcários e xistos

diversos, metamorfizados na fácies xisto verde. Ao Norte, em torno de 1.000 m,

ocorre o contato brusco do Granito Três Córregos.

A área é bastante estruturada, denunciada nas fotos aéreas por alinhamentos e

feixes de lineamentos com direções NE-SW (Figura 02), desenvolvendo intercalações

alinhadas de morros estreitos e longos e vales retilíneos e fechados.

Fiori (1985) corroborado por Ebert et. al (1988) descrevem essa área como parte do

sistema de falhamento Lancinha/Morro Agudo, de caráter transcorrente dextral com

direção preferencial N60E/vertical, subordinando falhas sintéticas (fechadas)

N45E/verticais e falhas antitéticas (fechadas) N30W/com mergulhos variados.

O rio Bom Sucesso possui direção SE para NW de forma irregular, ora aproveitando

as estruturas tectônicas NW, ora as estruturas tectônicas NE.

A Gruta do Bom Sucesso possui sentido geral NE-SW, paralelo ao fraturamento

regional NE-SW das falhas sintéticas. Os litotipos que ocorrem no local da caverna

são essencialmente calcários totalmente milonitizados, formados por estiramentos

total ou parcial de grãos.

A foliação primária pode ser observada como fantasmas ou totalmente obliterada

pela foliação milonítica, apresentando boudins de quartzo associado a minerais de

ferro de 1 mm a 10 cm, dando aspecto de manchas nas paredes internas da

caverna.

O carste da área de estudo encontra-se inserido na Província Espeleológica do Alto

Ribeira (Karmann e Sanchez, 1979), caracterizada por abranger a região do rio

Ribeira e seus tributários. No Estado do Paraná esta província é caracterizada por

três faixas calcárias dispostas no sentido NE-SW, constituindo grandes conjuntos

diferenciados litologicamente e estruturalmente. Segundo Fiori (1992), estas três

faixas estão sempre obedecendo a alinhamentos tectônicos segundo as falhas a que

são condicionadas, respectivamente a Falha da Lancinha, Morro Agudo e Itapirapuã.

A área de estudo insere-se na Faixa Central, constituída predominantemente por

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calcários calcíticos e se estende desde a Escarpa Devoniana (Segundo Planalto

Paranaense) até a região de Iporanga/Apiaí, no Estado de São Paulo, apresentando

um número maior de cavidades que as outras duas faixas, apesar destas

apresentarem menores dimensões.

Em termos do patrimônio espeleológico envolvido nos levantamentos promovidos

pela CNEC desde 1991, foram identificadas na área de influência direta da Usina

Hidrelétrica de Tijuco Alto, 450 dolinas, 52 cavidades naturais subterrâneas, 59

feições espeleológicas secundárias, 4 sumidouros e 8 ressurgências, sendo que a

área de alagamento do reservatório (cota 300 m) irá afetar 02 (duas) grutas e 09

(nove) feições secundárias.

Como cavidade potencialmente afetada pela mudança do nível do lençol freático na

região, identificou-se a Gruta do Bom Sucesso, situada no município de Cerro Azul –

PR, conforme especificado na Tabela 1.

Tabela 1- Dados Cadastrais da Gruta do Bom Sucesso.

Nome UTM_X UTM_Y Cota PHZ Desnível Litologia

Gruta do Bom Sucesso 681183 7255291 342 m 345 m 24 m Calcário

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Figura 02 - Geologia Regional da região estudada.

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Gruta do Bom Sucesso

A Gruta do Bom Sucesso situa-se na localidade de mesmo nome, a cerca de 13 km da zona urbana de Cerro Azul. Possui uma única entrada, sendo caracterizada como seca, sem a presença de rede hídrica e composta por dois condutos que se desenvolvem paralelamente, condicionados na direção NW-SE (Figura 03). Internamente a gruta apresenta pequenas variações de desnível (máximo de 2,5 m) e é ornamentada por espeleotemas como helectites, jangadas, discos e estalactites de grande porte. Suas galerias são, em grande parte, amplas, com 3 m de altura média, sendo que, em alguns pontos, há o rebaixamento do teto, ocasionando a formação de quebra-corpos (SESSEGOLO et al, 2006). Sua única entrada, situa-se em meia encosta (cota 342 m), a cerca de 40 m acima do rio Bom Sucesso. Não possui drenagem ativa atual associada, podendo ser caracterizada como uma gruta testemunho. Atualmente a ampliação do seu tamanho somente é possível por processos de incasão. A cavidade encontra-se fortemente condicionada, encaixada no acamamento, que encontra-se praticamente verticalizado, com mergulho médio de 80SE. A partir da entrada da cavidade, há um acentuado declive (cerca de 55°) por cerca de 40 m, até um primeiro salão de dimensões consideráveis, bastante ornamentado com espeleotemas grandes. Neste salão têm-se acesso aos dois ramos distintos de galerias da gruta. Seguindo-se em direção SE, continua-se pelo ramo de galerias alinhadas a entrada, onde se encontra o ponto mais baixo da cavidade, com um pequeno lago, resultante do carreamento das águas meteóricas para o interior da gruta. Continuando-se por este ramo de galeria, percorre-se um conduto definido até o terço final da cavidade, onde encontra-se um quebra corpo (0,5m x 1m), até este ponto observa-se marcas de intensa visitação à cavidade, principalmente pichações. Este quebra-corpo, encontra-se situado a 2 m acima do piso da cavidade e dá acesso ao terço final dessa galeria, que apresenta menor dimensão, mas que possui o mesmo padrão de ornamentos. De volta ao primeiro salão, seguindo-se a norte, acessa-se um pequeno quebra-corpo (0,4mx 0,6m), que continua em pequeno conduto até um desnível de cerca de 2 m, seguindo-se então a direção SE, percorrendo-se o segundo ramo de galerias da cavidade. No início do trajeto visualiza-se à esquerda um salão lateral de grandes proporções para a cavidade, voltando a galeria, o percurso continua no mesmo sentido, até o seu final, onde encontra-se um grande salão, ricamente ornamentado com espeleotemas de grande porte. A gruta apresenta ainda, um pequeno salão lateral, a partir da sua entrada, sem a presença de nenhum espeleotema, mas com indícios de utilização por fauna.

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A Gruta do Bom Sucesso possui grande importância na região, recebendo visitação esporádica de moradores e estudantes, por isso o município aventa, há alguns anos, a possibilidade de criação de um Parque, como atrativo turístico. Infelizmente a visitação esporádica ocorre sem nenhum tipo de controle, evidenciada pela presença de pichações, deposição de resíduos e espeleotemas quebrados. Em termos históricos, existem diversos relatos referentes à cavidade, revelando um expressivo vínculo histórico/cultural com a população local.

4.1.2 Geomorfologia

A área de estudo caracteriza-se geomorfologicamente como uma superfície esculpida por processos erosivos causados pelas drenagens bastante ativas da bacia do rio Ribeira, criando uma imagem de relevo dissecado e resultando em uma topografia extremamente acidentada e drenagens bastante entalhadas (MAACK, 1947). As drenagens da área estudada, em geral, encontram-se enquadradas nos padrões retangular-paralelo, resultante do acentuado controle tectônico-estrutural e subordinadamente dendrítico nas áreas menos deformadas. Estas drenagens apresentam-se profundamente entalhadas, com vales estreitos e com vertentes íngremes, sendo os interflúvios longos e pouco dissecados, evidenciando a predominância da erosão linear. Os diques, abundantes na região, ocorrem perpendicularmente às camadas, facilitando a quebra das estruturas mais resistentes, e balizam freqüentemente os cursos d’ água. Estes diques caracterizam cristas alongadas na direção NW-SE, que apresentam-se como altos topográficos quando em contato com os mármores e em baixos topográficos quando cortam as cristas de quartzito, feições típicas de rochas intrusivas básicas. As camadas quartzíticas e filíticas, sustentam cristas altas, enquanto camadas calcárias formam as faixas mais deprimidas, caracterizadas pela grande quantidade de feições cársticas, como numerosas dolinas, freqüente presença de rios subterrâneos com as conseqüentes ressurgências, cavernas e abismos. No Estado do Paraná, a principal área de ocorrência de rocha carbonática é a porção centro-norte da Região Metropolitana de Curitiba, onde afloram as rochas do Grupo Açungui. O Grupo Açungui compreende as Formações Capiru, Itaiacoca, Votuverava e Antinha, sendo que apenas a última não apresenta rochas carbonáticas.

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Figura 03 - Mapa Topográfico da Gruta do Bom Sucesso, Cerro Azul – PR.

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As rochas carbonáticas do Grupo Açungui apresentam como variedades mais comuns os calcários e os dolomitos e encontram-se dispostas em três faixas distintas, de forma paralela, seguindo a direção preferencial nordeste-sudoeste e obedecendo a alinhamentos tectônicos. Essas faixas podem ser denominadas geograficamente como Faixa Noroeste, Faixa Central e Faixa Sudeste. A Gruta do Bom Sucesso situa-se na Faixa Central (Formação Votuverava), sendo constituída principalmente por calcários, contemplando uma área de 201 km2. Essa faixa estende-se desde a Escarpa Devoniana (Segundo Planalto Paranaense) até a região de Iporanga/Apiaí, no Estado de São Paulo. Localmente a cavidade encontra-se inserida em um pequeno morro, em sua meia encosta de média declividade (45%) voltada para o rio Bom Sucesso, a cerca de 40 m acima desta drenagem. Não possui associação direta com as drenagens, caracterizando-se como uma cavidade testemunho. Internamente observam-se deposições secundárias de diversos tipos de espeleotemas com variados tamanhos, todos formados por calcita. Ao longo dos condutos da gruta observa-se muito sedimento, provalmente oriundo de carreamento da drenagem outrora formadora da cavidade. Excetuando-se o sedimento associado a única entrada da gruta e sua galeria de acesso, que se faz em declive acentuado, com cerca de 40 m, que certamente é carreado de fora por eventos meteóricos. 4.2 Meio Biótico

4.2.1 Flora

A Floresta Atlântica guarda, apesar de séculos de destruição, a maior biodiversidade por hectare entre as florestas tropicais. Isso é devido a sua distribuição em condições climáticas e em altitudes variáveis, favorecendo a diversificação de espécies que estão adaptadas às diferentes condições topográficas de solo e umidade. A Mata Atlântica é um dos principais biomas brasileiros formado por um complexo conjunto de ecossistemas de grande importância por abrigar uma concentração extraordinária de endemismos e uma parcela significativa de sua biodiversidade (SANQUETTA, 2008; SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2008) sendo considerado um hotspot para a conservação (MYERS et al., 2000). Mantovani (2003) atribui esta biodiversidade a grande amplitude latitudinal e altitudinal que caracteriza sua área de ocorrência, em associação à influência de

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diversas floras, pois têm relações com diversas formações e às características fisiográficas locais, acarretando variações de solo. Campanili e Prochnow (2006) corroboram com a idéia do autor anterior ao relatar que a variação de altitude, as diferenças de solo, forma do relevo e sua grande extensão territorial, além de outros fatores geográficos proporcionam ambientes variados a esta floresta. O desenvolvimento sócio-econômico da bacia do rio Ribeira onde se insere a Gruta do Bom Sucesso, é de maneira geral condicionado por restrições advindas do meio-físico, pois o relevo dissecado e extremamente íngreme, a topografia acidentada e as altas declividades dos terrenos limitam os processos agrícolas e pecuários, impedindo os procedimentos de mecanização. No entanto, mesmo estas condições adversas não coíbem a ocupação humana e o desenvolvimento da agricultura e da pecuária nos topos de morros e em vertentes de declividades acentuadas. Portanto é notável e inquestionável a degradação ambiental ao longo do rio Ribeira e primordial a sua recuperação e conservação, uma vez que o bioma Mata Atlântica abrange uma elevada riqueza de espécies da flora e fauna e é considerada um hotspot de biodiversidade. 4.2.1.1 Caracterização geral

A região da Gruta do Bom Sucesso é caracterizada pela ocorrência da Floresta Ombrófila Densa, encontrando-se nas proximidades um fragmento de vegetação secundária em estádio médio de regeneração. O entorno é um mosaico vegetacional de pequenos remanescentes florestais e plantios de laranja, milho e pastagem para o gado. A vegetação apresenta baixa diversidade de espécies e pouco regenerantes, pois o gado anda por toda a área e se alimenta dos regenerantes ou então os pisoteia. Na área hoje encontra-se apenas uma família que sobrevive da terra para plantar e se alimentar, contudo os longos e continuos anos de uso intenso resultaram em um solo compactado, que hoje é um empecilho para o crescimento para as plantas nativas. A Gruta do Bom Sucesso tem um grande potencial atrativo turístico para a região, pois além de ser uma caverna muito bonita, é fácil para adentrá-la e admirar a sua beleza. Contudo, a conservação da vegetação na entrada da caverna e em seu entorno que é de suma importância para mantê-la protegida de animais domesticados (cavalo, gado, cães e gatos), assim como para a sua conservação, está comprometida. Em seu entorno há uma pequena mancha florestal secundária em estágio inicial de regeneração com muitas arvoretas finas e com baixa diversidade de espécies. Além disso, a vegetação que se encontra na entrada da caverna também é uma vegetação pouco diversa e com estrutura baixa, em média com 6 metros de altura. Esses

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fatores fragilizam a caverna, deixando-a suscetível a deterioração por agentes externos. As espécies constatadas no entorno, em geral, são pertinentes á áreas abertas: Vernonanthura discolor (vassourão-preto), Schizolobium parahyba (garapuvu), Guatteria australis (cortiça), Prunus myrtifolia (pessegueiro-bravo), Syagrus romanzoffiana (coqueiro-jerivá), Trema micrantha (grandiúva), Miconia cinnamomifolia (jacatirão), Piptadenia gonoacantha (pau-jacaré), Nectandra megapotamica (canela-amarela), Nectandra oppositifolia (canela-ferrugem), Alchornea triplinervia (tanheiro), Hirtella hebeclada (cinzeiro), Casearia sylvestris (cafezeiro-do-mato) Cecropia glaziovii (embaúba), Bauhinia forficata (pata-de-vaca) e Lonchocarpus campestris (rabo-de-bugio).

4.2.2 Fauna

As cavernas são ambientes distintos dos meios que as envolvem, pois a luz está restrita à região de entrada e sua incidência no interior está condicionada às dimensões e orientação da entrada da cavidade. Fatores climáticos como a temperatura e umidade são peculiares, a temperatura tende a ser mais constante nas cavernas que no meio externo, podendo inclusive, estar próxima da média externa da região nas áreas mais profundas e a umidade relativa do ar tende à saturação. A ausência de luz impede que exista produção primária de nutrientes significativa, que no meio externo é efetuada pelas plantas. Como conseqüência, praticamente toda a energia disponível na caverna é importada do meio externo. A exceção são algumas bactérias autotróficas que produzem sua própria energia, porém em níveis baixos. As diversas espécies da fauna que habitam as cavernas apresentam relações com o meio de formas bastante diversas. Essa relação é classificada conforme o Sistema de Schinner-Racovitza, conforme a relação dos organismos com o ambiente, como trogloxenos, troglófilos ou troglóbios. Na área de influência da UHE Tijuco Alto, 18 cavidades foram objeto de levantamento bioespeleológico (CNEC, 1991 e ECOSSISTEMA, 2004), tendo sido registradas 94 espécies, que comprovadamente não são acidentais neste tipo de ambiente. Novos levantamentos de invertebrados cavernícolas foram efetuados em 2010, na Gruta do Rocha e da Mina do Rocha, destacando-se a avaliação da presença e distribuição do pseudoescorpião Pseudochtonius strinatii (ECOSSISTEMA, 2010). A Gruta do Bom Sucesso foi objeto de estudos biológicos em 2004, quando da execução de levantamentos na região. A fauna associada contempla 23 espécies,

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destacando-se 17 espécies de artrópodos, entre os quais os troglóbios diplopodo Cryptorodesmus sp. e o colêmbola Acherontides aff. eleonorae, além de moluscos, anelídeos e morcegos Desmodus rotundus e Chrotopterus auritus (ECOSSISTEMA, 2004).

Tabela 2 - Fauna identificada na Gruta do Bom Sucesso, conforme ECOSSISTEMA

(2004).

Fauna identificada na Gruta do Bom Sucesso Filo Mollusca Família Polygiridae Família Subulinidae Filo Annelida Família Erpobdellidae Classe Oligochaeta Filo Arthropoda Família Sicariidae Loxosceles adelaida Gertsch, 1967 Família Pholcidae Mesabolivar spp. Família Theridiosomatidae Plato spp. Família Ctenidae Ctenus fasciatus Mello-Leitão, 1943 Família Gonyleptidae Discocyrtus sp. Família Laelapidae Proctolaelaps sp. Família Uropodidae Família Sejidae Família Platyarthridae Trichorhina sp. Família Pseudonannolenidae Pseudonannolene strinatii Mauriés, 1987 Família Oniscodesmidae Crypturodesmus sp. – TM Família Hypogastruridae Acherontides aff. eleonorae – TM Família Cyphoderidae Família Phalangopsidae Strinatia sp. Família Cholevidae Dissochaetus sp. Família Tineidae Família Phoridae Família Phyllostomidae Desmodus rotundus (E.GEOFFROY, 1810) Chrotopterus auritus (PETERS, 1865)

Na visita efetuada em 2010, destacou-se a elevada presença da aranha marrom (Loxosceles adelaida Gertsch, 1967), a qual pode causar acidentes com os freqüentadores da caverna. Também verificou-se a presença na cavidade de um indivíduo de coruja das igrejas (Tyto alba), utilizando a caverna como abrigo. Além disso, verificou-se a presença de poucos morcegos, nos condutos laterais da gruta.

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4.3 Meio Socioeconomico A região que compõe o Vale do Ribeira é formada por uma parcela do território de São Paulo e Paraná. Essa área é estruturada a partir da bacia hidrográfica do Ribeira do Iguape, se estendendo do litoral sul de São Paulo até o litoral norte do Estado do Paraná, são cerca de 30.000 km² onde vive uma população de aproximadamente 720.000 pessoas, distribuída em 38 municípios, sendo 23 localizados em São Paulo e 15 no Paraná (FONTE, 2006). Cerro Azul está entre os municípios paranaenses que compõe o Vale do Ribeira. As coordenadas geográficas S 24°29’25” e W 49°15’45”. Faz divisa ao norte com Doutor Ulysses e São Paulo, a leste com Adrianópolis e Tunas do Paraná, a oeste com Castro e ao sul com Bocaiúva do Sul (IPARDES, 2011). Possui uma área de 1.341,19 km², representando 0,67% do Estado do Paraná, 0,24% da região e 0,02% de todo o território nacional. O município faz parte da Região Metropolitana de Curitiba, localizando-se a 84,56 km da capital, por estrada asfaltada. Está localizado no nordeste do estado em zona de estagnação econômica e de baixo desenvolvimento social. A Figura 4 localiza o município de Cerro Azul no estado do Paraná (UTP,2006).

Figura 4 – Localização do município de Cerro Azul no Paraná. Fonte: UTP, 2006.

4.3.1 Histórico

A região do Vale do Ribeira foi uma das primeiras zonas a serem desbravadas no Brasil. Apesar de ter ficado à margem dos principais ciclos econômicos, teve sua importância nos primórdios da mineração. As primeiras notas a respeito da ocupação da região datam 1531, com Martim Afonso de Souza, que havia partido do Rio de Janeiro e ancorou pela primeira vez em frente à ilha de Cananéia, onde seriam fundadas mais tarde duas comunidades pioneiras: Cananéia e Iguape. Esses dois

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portos serviam ao escoamento de ouro da região da Serra de Paranapiacaba e base de controle da navegação na região.

Um dos fatores que ocasionaram a crise no abastecimento agroalimentar no Paraná nas primeiras décadas do século XIX, foi o entusiasmo com a economia do mate e da pecuária, que acabavam por desestimular o trabalho agrícola e provocava o abandono da produção de subsistência em escala comercial. Assim os agricultores passaram apenas a produzir alimentos para suas famílias. O cultivo agrícola utilizava métodos rudimentares, como a limpeza manual, queimadas, ausência de equipamentos e fertilizantes, e além disso, ausência de sistema que integrasse as regiões e viabilizasse as trocas comerciais. Porém, a partir da segunda metade do século XIX surgiram novos tempos para o Paraná, a abolição do tráfico de escravos e a extinção da escravatura, assim como a Lei de Terras do governo imperial, que estabelecia que as terras devolutas deveriam pertencer ao governo, fizeram com que a crise se abatesse sobre a cadeia do mate, em uma economia dependente de baixa diversificação. Como alternativa, visando o aumento da oferta de produtos alimentares foi tomada uma decisão em conjunto pelos governos provincial e imperial diante da necessidade de solucionar problemas estruturais. A medida consistiu na implementação de um processo imigratório e colonizador, estabelecendo colônias agrícolas e colônias municipais ao redor de Curitiba, sendo elaborada com o objetivo da criação de colônias agrícolas dedicadas exclusivamente à agricultura de subsistência. Portanto, em 1860 foi fundada a colônia do Açungui, no Vale do Ribeira, cujo núcleo deu origem, mais tarde, à cidade de Cerro Azul. O local foi escolhido em virtude das terras serem consideradas na época de grande fertilidade e situadas a cerca de 100 quilômetros de Curitiba. A área selecionada para implantação da colônia tinha 59.681 hectares divididos em cerca de 400 lotes para assentamento de colonos brasileiros, ingleses, alemães, franceses, italianos e suíços. Em 1875 essa colônia contava com cerca de 1.820 pessoas. A expectativa do governo provincial era de que a Colônia Açungui pudesse produzir em grandes quantidades milho, feijão, batata, cana-de-açúcar e outras espécies (FONTE, 2006). Em 1872, a Colônia Açungui era elevada à categoria de Freguesia com o nome de Serro Azul, devido a proximidade de sua sede administrativa ao morro de Serro Azul, e invocação de Nossa Senhora da Guia, pertencente, então, ao município de Votuverava, atualmente Rio Branco do Sul. Os primeiros administradores da Colônia foram Barata Ribeiro, Manoel Nabuco e José Borges (IBGE, 2010).

Em 1882, foi elevada à categoria de Vila, a Freguesia de Nossa Senhora da Guia do Serro Azul, com a denominação de Vila do Assunguy. Então em 1885, novamente

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teve a sua denominação alterada para Serro Azul. Em 27/12/1897, passou à categoria de Cidade, como sede do município de Cerro Azul (IBGE, 2010).

4.3.2 Indicadores econômicos e sociais

Na tabela a seguir são apresentados os indicadores do município de Cerro Azul: Tabela 3 - Indicadores econômicos e sociais selecionados para o município de Cerro Azul.

Informação Fonte Data Estatística

Densidade Demográfica IPARDES 2010 12,64 hab/km²

Grau de Urbanização IBGE 2010 28,40%

Taxa de Crescimento Geométrico IBGE 2010 0,36% Índice de Desenvolvimento Humano – IDH - M

PNUD/IPEA/FJP 2000 0,684

Índice Ipardes de Desenvolvimento Municipal - IPDM

IPARDES 2008 0,4720

PIB Per Capita IBGE/ IPARDES 2008 7.527 R$1,00

Índice de Gini IBGE 2000 0,620

Índice de Idosos IBGE/ IPARDES 2007 20,57 %

Razão de Depêndencia IBGE/ IPARDES 2007 62,50%

Razão de Sexo IBGE/ IPARDES 2010 106,10%

Coeficiente de Mortalidade Infantil SESA 2010 29,70 mil NV (P)

Taxa de pobreza IBGE/ IPARDES 2000 48,66% Taxa de analfabetismo acima de 15 anos

IBGE 2000 24,5%

Valor Bruto Nominal da Produção Agropecuária

DERAL 2009 180.070.650,17 R$ 1,00

Fonte :IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). Caderno Estatístico Municipal de Cerro Azul – PR. Março de 2011. Os municípios da região do Vale do Ribeira apresentam índices de desenvolvimento humano (IDH-M) situados abaixo das médias nacional e do Estado do Paraná. Os baixos índices especificamente do município de Cerro Azul estão ligados à renda insuficiente da população no município, ao grande número de chefes de família com grau reduzido de escolaridade, aos níveis de rendimento de baixa monta e a substanciais índices de analfabetismo. No ano de 2000, cerca de 42,5% da população de Cerro Azul foi considerada economicamente ativa segundo o IBGE. Também pode-se ressaltar que os patamares indicadores da expectativa de vida no município estão próximos ou abaixo dos padrões estaduais e a desigualdade de renda acima, da média do estado (FONTE, 2006).

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4.3.3 Demografia

Para o município de Cerro Azul, os dados apresentados pelo IBGE indicam a existência aproximada 16.948 habitantes, segundo contagem da população realizada em 2010 (IBGE, 2010).

Tabela 4 - População de Cerro Azul de 1991 a 2010

Ano População

1991 21.073

1996 17.075

2000 16.352

2007 17.693

2010 16.948

Fonte: IBGE, 2010. Segundo o IBGE (2010), 51,48% da população de Cerro Azul são do sexo masculino, sendo 63,62% da população eleitores. A maioria da população de Cerro Azul reside na zona rural, num total de 71,59%. No geral o Estado do Paraná acompanhou o ritmo do crescimento econômico do país no último século, com exceção de algumas zonas, dentre elas o Vale do Ribeira. Em relação ao ano de 2000 para 2007, Cerro Azul apresentou crescimento de apenas 1,1%, sendo que para o ano de 2010 a taxa de crescimento populacional é negativa. O crescimento da população tem ocorrido em níveis baixos ou decaído, essa situação pode ser explicada devido ao alto índice de êxodo, sendo este relacionado aos baixos índices de desenvolvimento do município.

4.3.4 Economia

Segundo Fontes, 2006 o Paraná em geral acompanhou o ritmo do crescimento econômico do país no último século, porém com exceção de algumas zonas, dentre elas o Vale do Ribeira. A proximidade com Curitiba, centro de decisões políticas e de mercado consumidor ativo, deveria proporcionar boas oportunidades para o desenvolvimento econômico da região. Cerro Azul é o município com a maior quantidade de produtores da região e tem na citricultura a sua principal fonte de renda. A citricultura representa 40% da renda do município, emprega mão de obra não qualificada e é produzida na entre safra das outras culturas (ROSA et. al. 2010). Como outras fontes de renda o município apresenta a pecuária, extração vegetal e a silvicultura, além disso, existem 399 empreendimentos ativos (IBGE, 2010).

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Ainda há paralelamente grande potencial para o ecoturismo, turismo rural, de aventura e cultural, devido a localização estratégica do município próximo a capital do estado e as paisagens locais (UTP, 2006). Os cinco municípios do Vale do Ribeira apresentam o 2° pior IDH-M do Estado do Paraná, perdendo somente para a Região Sul do Norte Pioneiro (ROSA et. al. 2010). A tabela a seguir indica os valores em porcentagem da pobreza e desigualdade presente no município de Cerro Azul.

Tabela 5 - Índice de Pobreza e Desigualdade no município de Cerro Azul.

Pobreza e Desigualdade População (%)

Incidência de Pobreza 42,8

Limite Inferior da Incidência de Pobreza 33,45

Limite Superior da Incidência de Pobreza 52,16

Índice de Gine 0,42

Limite Inferior do Índice de Gine 0,38

Limite Superior do Índice de Gine 0,45

Fonte: IBGE, 2010. A incidência de pobreza da população de Cerro Azul é de 42,8%, sendo que 33,45% da população vive no limite inferior da incidência de pobreza. O índice de Gine é de 0,42%, sendo 0,38% o limite inferior desse, no município de Cerro Azul.

4.3.5 Saúde

Em levantamento realizado pelo IBGE (2009), o município de Cerro Azul dispõe de 12 estabelecimentos de saúde, sendo 10 destes estabelecimentos vinculados a gestão pública municipal e 2 desses vinculados ao setor privado.

Tabela 6 - Serviços de saúde em 2009.

Categoria Número Municipal 10

Privado 2

Privado com fins lucrativos 1

Privado sem fins lucrativos 1

Privado/ SUS 1 SUS internação 1

SUS ambulatorial 11

SUS emergência 1

Atendimento odontológico 4

Fonte: IBGE, 2009 Dos 12 estabelecimentos de saúde do município de Cerro Azul, 16,6% são de domínio particular, os outros 83,4% são vinculados a administração pública municipal. Do total de centros de saúde apenas 1 oferece internação geral, sendo o

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total de leitos para internação nos estabelecimentos de 26. Há apenas 1 eletrocardiógrafo entre o total dos estabelecimentos no município, são 11 o total de estabelecimentos que oferecem atendimento ambulatorial sendo que desses, 4 oferecem atendimento odontológico (IBGE, 2009). Do total de estabelecimentos do município um oferece atendimento de emergência total; um oferece atendimento de emergência pediátrica; um oferece atendimento de emergência em obstetricia; um oferece atendimento de emergência em psiquiatria; um oferece atendimento de emergência clinica; um oferece atendimento de emergência em trauma ortopédico; e somente um oferece atendimento de emergência cirúrgica (IBGE, 2009).

4.3.6 Educação

Pesquisas indicam que a região Sul do Brasil é uma das que apresenta os maiores índices de escolaridade. O Estado do Paraná, segundo o IBGE, (2007) registrou indicadores positivos no ano de 2006. Porém segundo Souza e Damasso (2007), os municípios localizados no Vale do Ribeira apresentam os piores índices educacionais do estado. Segundo o IPARDES (2007), o município de Cerro Azul apresenta uma população de crianças e jovens entre 05 anos e 19 anos de 5.570 habitantes. Dados do IBGE (2010) revelam que matriculados nas escolas entre a Pré – Escola (83 alunos), Ensino Fundamental e Ensino Médio há um total de 4.068 habitantes. É evidente a carência de pré – escolas no município em questão, além de evidente a falta de contribuição do estado e da Federação, assim como o auxilio privado. São destinados 5 docentes para atender a escola municipal Pré – Escolar do município em questão. Para o Ensino Fundamental o número de matrículas entre escolas estaduais (1.495) e municipais (1.939) é equilibrado. Vale a pena notar que o maior número de matriculas no município em questão, concentra-se no Ensino Fundamental. O município de Cerro Azul oferece 161 docentes ao todo para o Ensino Fundamental, sendo 60 destes destinados as escolas estaduais e 101 as escolas municipais. Já no Ensino Médio há uma queda no número de matrículas entre os jovens de Cerro Azul, sendo que apenas 17,9% dos matriculados no Ensino Fundamental efetuaram matrícula no Ensino Médio. O número de docentes para a escola estadual de Ensino Médio do município é de 38 no total.

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4.3.7 Infraestrutura

A SANEPAR é responsável pelo abastecimento de água e esgoto do município de Cerro Azul. Atende a 2.591 unidades no abastecimento de água e apenas 55 unidades estão ligadas a rede de esgoto municipal. O fornecimento de energia elétrica é realizado pela COPEL, somando no total de consumidores do município 5.130 unidades, conforme apresentado na tabela a seguir.

Tabela 7 - Infraestrutura básica no Município de Cerro Azul.

Infraestrutura Fonte Estatística

Abastecimento de água SANEPAR 2.591 un. Atendidas

Atendimento ao esgoto SANEPAR 55 un. Atendidas

Consumo de energia elétrica COPEL 10.996 mwh

Consumidores de energia elétrica COPEL 5.130

Fonte :IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). Caderno Estatístico Municipal de Cerro Azul – PR. Março de 2011.

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5. CONSERVAÇÃO DA GRUTA DO BOM SUCESSO 5.1 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, foi instituído pela Lei nº

9.985, de 18/07/2000, visando ordenar as áreas protegidas nos níveis federal,

estadual e municipal. Constitui um instrumento amplo e integrado, que visa garantir

a manutenção dos processos ecológicos, representados em amostras dos diferentes

ecossistemas do país, viabilizando os objetivos nacionais de conservação.

Objetivos Nacionais de Conservação.

Para que sejam atendidos os objetivos de conservação adotados por um país é

necessário que o Sistema contemple diferentes categorias de manejo de Unidades de

Conservação. Cada categoria deve cumprir conjuntos específicos de objetivos, de tal

forma que o Sistema de Unidades de Conservação alcance a totalidade dos objetivos

nacionais de conservação da natureza. Sua distribuição espacial deve ser capaz de

proteger o máximo possível dos ecossistemas do país, reduzindo ao mínimo a perda

da biodiversidade.

A Lei nº 9.985, de 18/07/2000, determinou que o SNUC deve atingir diversos

objetivos nacionais de conservação da natureza, destacando-se a contribuição para a

manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional

e nas águas jurisdicionais e a proteção das espécies ameaçadas de extinção no

âmbito regional e nacional, entre outros.

Categorias de Manejo

Em função da multiplicidade dos Objetivos Nacionais de Conservação, é necessário

que existam diversos tipos de unidades de conservação, manejadas de maneiras

diferenciadas, ou seja, em diferentes categorias de manejo. O estabelecimento de

unidades de conservação diferenciadas busca reduzir os riscos de empobrecimento

genético no país, resguardando o maior número possível de espécies animais e

vegetais. Assim, o Sistema Brasileiro de Unidades de Conservação abrange as

seguintes categorias: as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso

Sustentável.

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Unidades de Conservação de Proteção Integral

São aquelas onde estão totalmente restringidos a exploração ou o aproveitamento

dos recursos naturais, admitindo-se apenas o aproveitamento indireto dos seus

benefícios. Em termos de utilização dos recursos naturais o grupo que engloba as

unidades de proteção integral é o mais restritivo.

Seu objetivo maior é a preservação da biodiversidade, sendo que a interferência

antrópica deve ser a menor possível. O manejo deve limitar-se ao mínimo necessário

para as finalidades próprias a cada uma das unidades, dentro de sua própria

categoria.

As categorias enquadradas neste tipo são: Estação Ecológica, Reserva Biológica,

Parque, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. Para a proteção da Gruta

do Bom Sucesso, recomenda-se a criação de um Parque ou Monumento Natural.

Parque

O Parque tem como objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande

relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas

científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental,

de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

Monumento Natural

Possui como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande

beleza cênica. Pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível

compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos

naturais do local pelos proprietários.

5.2 Proposta de Unidade de Conservação Como forma de compensação ambiental para implantação da UHE Tijuco Alto

sugeriu-se a efetiva conservação da Gruta do Bom Sucesso, considerando-se sua

extrema proximidade do lago a ser formado, bem como o potencial turístico e

educativo dessa cavidade situada nas proximidades de Cerro Azul.

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Também se considerou o fato da cavidade possuir fácil acesso, e ser

predominantemente horizontal, em contraposição a um grande número de cavidades

da região.

Em estudos anteriores, a indicação de uma área protegida para a cavidade

considerou a partir do raio de 250 m a partir da projeção horizontal da gruta,

compondo inicialmente um polígono de cerca de 50 ha.

O presente estudo, com base nas novas análises locais efetuadas, reavaliou e refinou

a proposta original, indicando definitivamente uma área de 48,6 ha, contemplando a

conexão com a APP do lago da UHE, bem como a área necessária para garantir a

integridade física e biológica da cavidade.

A área proposta (Figura 5) se descreve partindo-se do ponto em que o rio Bom

Sucesso chega ao futuro lago previsto para a UHE, segue o rio a montante por cerca

de 1.310 m até se encontrar uma drenagem afluente à sua direita, segue esta

drenagem até suas nascentes, então segue em direção ao ponto culminante do

morro da caverna (cota 670 m), onde desce por sua vertente oposta, descendo em

direção ao futuro lago, acompanhando-se a margem deste até o ponto do inicio da

poligonal.

Esta poligonal abrange alguns fragmentos florestais em estágio médio de

regeneração situados no entorno da cavidade, bem como algumas matas ciliares

ainda remanescentes, de forma a integrar com a futura área de proteção do

reservatório.

Além disso, abrange a cavidade e todo o morro onde a mesma se insere, a antiga

casa do morador do entorno, a qual pode servir de apoio aos visitantes, e o acesso

antigo que chega até uma área degradada, com uso para pastagem, o qual poderia

servir futuramente para estacionamento.

Considerando-se os objetivos de conservação da Gruta do Bom Sucesso, recomenda-

se, em atendimento ao SNUC, a criação de uma unidade de conservação integral,

nas categorias Parque ou Monumento Natural, com área a ser de dominio público.

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Figura 05 - Área de Proteção proposta para a conservação da Gruta do Bom Sucesso.

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6. ZONEAMENTO ESPELEOLÓGICO O zoneamento constitui um instrumento de ordenamento territorial, usado como recurso para se atingir melhores resultados em planos de manejo de cavidades naturais subterrâneas. Estabelece usos diferenciados para cada zona, segundo os objetivos a serem atingidos. O zoneamento espeleológico é conceituado pela Resolução CONAMA nº 347/2004 como a definição de setores ou zonas em uma cavidade natural subterrânea, com objetivos de manejo e normas específicas, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos do manejo sejam atingidos. Considerando-se as características físicas, a acessibilidade, a presença de espeleotemas e a fauna associada, definiu-se um Zoneamento Espeleológico para a Gruta do Bom Sucesso conforme descrito a seguir, ilustrado na Figura 6. 6.1 Zona Primitiva

Definição legal e objetivo geral

É aquela onde, ainda que já tenha ocorrido pequena ou mínima intervenção humana, contém espécies da fauna cavernícola ou apresenta características naturais de grande valor científico. O objetivo geral do manejo é de preservação do ambiente natural e promoção de atividades de pesquisa científica e educação ambiental.

Objetivos específicos

proteger o ecossistema cavernícola; proteger espécies da fauna cavernícola; possibilitar atividades de pesquisa científica que forneçam informações para o

melhor conhecimento dos recursos naturais da caverna, servindo como novos subsídios fundamentais para o manejo.

possibilitar o monitoramento da fauna cavernícola.

Descrição e Localização

Na Gruta do Bom Sucesso esta zona possui 496,43 m² e corresponde a 45,1% da área total da cavidade. Ela é composta pela galeria não associada a entrada da cavidade e que tem seu acesso restrito pelo quebra corpo existente na porção norte do salão subseqüente a entrada da gruta. Além dessa galeria, encontra-se ainda nessa zona o pequeno salão superior existente na porção NE do salão associada à entrada da caverna.

Normas

não será permitido o uso público.

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as atividades científicas permitidas serão aquelas que não comprometam a integridade do ecossistema cavernícola, desde que possuam autorização do orgão ambiental competente e do gestor. No caso de coletas de material biótico e/ou abiótico, desde que comprovada a sua inexistência nas outras zonas, serão necessárias autorizações de acordo com a legislação específica em vigor.

6.2 Zona de Uso Extensivo

Definição legal e objetivo geral

É aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendo apresentar algumas alterações humanas, apesar de não recomendado. O objetivo do manejo é a manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de oferecer acesso ao público com facilidade, para fins educativos.

Objetivos Específicos

conduzir e orientar os visitantes possibilitando o desenvolvimento de atividades educativas controladas.

possibilitar ao visitante o conhecimento e entendimento dos contrastes da natureza através da sua interpretação em áreas distintas.

possibilitar pesquisa científica e monitoramento ambiental.

Descrição e Localização

Na Gruta do Bom Sucesso esta zona possui 321,4 m² e corresponde a 29,2% da área total da cavidade. Ela é composta pelo terço final da galeria associada a partir do quebra corpo que restringe o acesso a este trecho da galeria, além dessa galeria, encontra-se ainda nessa zona o pequeno salão encontrado adjacente a lateral direita da entrada da cavidade.

Normas

é permitido o acesso de grupos especializados1, desde que previamente autorizado pela administração da UC.

é permitida visitação com finalidade educativa desde que acompanhada de um monitor, devendo ser respeitado o número máximo de 5 pessoas por grupo e um grupo por período (manhã/tarde).

as visitas deverão ser agendadas antecipadamente junto à administração da unidade.

não será permitida a entrada com alimentos, cigarro e bebidas no interior da gruta.

não será permitida a implantação de nenhuma infra-estrutura de apoio a visitação.

1 Entende-se aqui Grupo Especializado, como grupos formados por pessoas que possuam

conhecimentos espeleológicos e equipamentos próprios para exploração de cavernas.

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as atividades científicas permitidas serão aquelas que não comprometam a integridade do ecossistema cavernícola, desde que possuam autorização da instituição responsável pela unidade, e no caso de coletas, autorizações de acordo com a legislação específica em vigor.

6.3 Zona de Uso Intensivo

Definição legal e objetivo geral

Esta zona é constituída de áreas naturais ou alteradas pelo homem, sendo que o ambiente deve ser o mais natural possível e conter características que estimulem a interpretação e a educação ambiental. Com o objetivo de promover maior integração entre homem e natureza e propiciar lazer, com o mínimo de impacto negativo ao ambiente.

Objetivos Específicos

proporcionar oportunidades de educação e interpretação ambiental, destacando a valorização dos processos geológicos que os geraram e ecológicos que os mantêm.

proporcionar informações sobre a finalidade e manutenção da unidade para a proteção do patrimônio espeleológico e de sua biodiversidade.

permitir pesquisa científica e monitoramento ambiental.

Descrição e Localização

Esta zona compreende basicamente o caminhamento utilizado para a visitação turística, situado entre a entrada da caverna e o seu primeiro grande salão, onde se situam espeleotemas de interesse cênico. Na Gruta do Bom Sucesso esta zona possui 282,74 m² e corresponde a 25,7% da área total da cavidade.

Normas

será permitida a visitação pública, somente orientada por condutores de visitantes treinados e habilitados para essa função.

serão permitidos grupos de até 12 pessoas, acompanhadas por um condutor de visitantes.

o acesso externo a essa zona conterá sinalização informativa e indicativa, contendo dados sobre acesso, percurso, atrativo e tempo de caminhada.

o visitante não poderá sair ou desviar do caminhamento utilizado para visitação turística.

a parte interna da gruta não conterá sinalização. não será permitido que o visitante deixe residuos de qualquer tipo na

cavidade. será permitida a filmagem e a fotografia, desde que com equipamentos

amadores e que não atrapalhem o caminhamento do grupo no trajeto.

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não será permitido tocar ou coletar espeleotemas ou espécies da fauna cavernícola, com exceção dos casos de pesquisa científica, desde que devidamente autorizado pela instância competente.

não será permitida a entrada com bebidas, cigarros, alimentos e animais domésticos nas grutas.

poderá ser implantada infra-estrutura visando a proteção do ambiente e a segurança do visitante, desde que não cause impacto visual significativo e não degrade espeleotemas.

esta zona deverá ser constantemente fiscalizada, devendo todo lixo encontrado ser retirado e acondicionado em local adequado.

a visitação deverá ser suspensa a partir do momento em que se constatar riscos de escorregamento ou acidentes para os visitantes.

Não será permitida a entrada de pessoas com calçados inadequados (chinelos de dedo, sapatos de salto, sandálias, tamancos) na gruta.

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Figura 06 - Zoneamento Proposto para a Gruta do Bom Sucesso.

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7 PROJETOS ESPECIAIS 7.1 Infraestrutura Não são propostos projetos específicos de infra-estrutura para a cavidade, considerando-se seu reduzido desenvolvimento e pequena área proposta para visitação. Como única exceção, visando facilitar o acesso dos visitantes a partir da entrada, podem ser escavados degraus no solo, visando reduzir os riscos de acidentes devido a declividade do acesso atual. Essa ação pode ser efetuada considerando-se a necessidade de também implementar um pequeno canal escavado de drenagem na lateral da escada, para evitar a erosão do caminho dos visitantes. Todas essas intervenções devem ser feitas de modo a não degradar espeleotemas, e a paisagem da caverna de forma geral. 7.2 Capacidade de Carga Considerando-se as características da Gruta do Bom Sucesso, recomenda-se que essa seja visitada por grupos de no máximo 12 pessoas/hora, acompanhado por um condutor de visitante treinado para a atividade. 7.3 Vigilância Deverá ser proposta pela empresa, um sistema de vigilância, englobando a área de proteção e a cavidade, de forma a garantir a sua efetiva conservação e reduzir os riscos de depredação do patrimônio espeleológico e ambiental. 7.4 Operacionalização A visitação deverá ser efetuada com apoio de lanternas, do período de 8:00 às 17:00 horas no verão. Para o inverno recomenda-se que a atividade de entrada na caverna se encerre às 16:00 horas, por causa da atividade dos morcegos. 7.5 Salvamento/Resgate Em caso de acidentes deverão ser chamados o grupamento dos Bombeiros, na cidade de Cerro Azul ou Curitiba, apesar dos riscos serem mínimos se cumpridos os regulamentos determinados em relação à visitação. 7.6 Seleção e Capacitação de Condutores de Visitantes Com base nas necessidades do manejo, deverá ser definido o perfil para os condutores de visitantes a serem contratados e mantidos pelo gestor.

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Após contratados, estes condutores deverão ser capacitados através de cursos específicos, compostos pela seguinte grade mínima:

Condução de visitantes em áreas naturais. Fundamentos de Segurança. Animais silvestres e peçonhentos. Suporte Básico de Vida. Espeleologia e Manejo de Cavernas, com ênfase na interpretação da Gruta do

Bom Sucesso.

7.7 Recuperação Ambiental A vegetação da entrada da Gruta do Bom Sucesso e do entorno deverão ser objeto de um Programa de Recuperação, de modo a proteger a caverna e melhorar as condições ambientais externas. Para a recuperação da vegetação, deve se utilizar de espécies nativas da Floresta Ombrófila Densa, tais como: Inga marginata (ingá), Inga sesselis (ingá-macaco), Alchornea triplinervia (tanheiro), Alchornea glandulosa (tanheiro), Citharexylum myrianthum (tucaneira), Prunus myrtifolia (pessegueiro-bravo), Schizolobium parahyba (garapuvu) e Luehea divaricata (açoita-cavalo). Essas espécies são favoráveis para plantio em áreas abertas, ou seja, quando o sol incide diretamente sobre o solo. Quando essas cresceram, elas fornecerão sombra para que outras espécies sejam plantadas. Atividades de monitoramento dessas áreas em recuperação devem ser planejadas e executadas, visando garantir a execução dos tratos culturais necessários ao bom desenvolvimento das plantas, por no mínimo 3 anos. 7.8 Monitoramento da Fauna Cavernícola da Gruta do Bom Sucesso A Gruta do Bom Sucesso vem sofrendo um grande impacto pela visitação pública desordenada. Essa visitação intensiva alterou significativamente o ambiente interno da caverna através da compactação do solo, alteração da dinâmica dos recursos alimentares e possível alteração na composição da comunidade de morcegos. Portanto, é necessário o monitoramento da diversidade biológica da fauna cavernícola e do tamanho populacional das espécies troglóbias, anualmente, como forma de avaliar os impactos da visitação.

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7.9 Educação Ambiental Atividades educativas tais como palestras, placas e folders, deverão ser desenvolvidas para propiciar a informação e educação dos visitantes. Orientações específicas devem ser fornecidas, visando a evitar qualquer tipo de dano à cavidade, seja por pichação, depredação ou remoção/alteração de substratos. De forma a propiciar a adequada recepção e atendimento ao visitante, recomenda-se a implantação de um pequeno Centro de Interpretação e Educação Ambiental, na casa antiga existente na área proposta para conservação. 8 IMPACTOS AMBIENTAIS E PROPOSIÇÃO DE MEDIDAS MITIGADORAS A gênese da Gruta do Bom Sucesso é nitidamente controlada pelo fraturamento NE-SW e pela foliação milonítica de mesmo sentido, observados em campo e corroborado pela fotointerpretação com os lineamentos marcantes no local. Há um nível de base atual para o fluxo de água em sub superfície, denunciado pela presença de água nas porções mais profundas da caverna, acima do nível do rio bom sucesso. O estabelecimento de um novo nível de base, controlado pelo nível do reservatório, deve afetar as condições internas da caverna, porém não significativamente, já que não há uma condição de coluna de água atuante nas fraturas e não há afogamento dos canais. Não foram observados em foto aérea e em campo estruturas cársticas em superfície que estivessem ligadas a caverna, evidenciado pelo fato da caverna ser seca (sem fluxo de água). Em termos gerais mesmo que ocorra cheia de projeto na cota 300 m ainda não seria prejudicial para a Gruta do Bom Sucesso, tanto para os seres vivos que se instalaram, quanto para problemas geotécnicos, principalmente pela diferença de cota entre a localização da Gruta do Bom Sucesso e o lago a ser formado (+ de 30 m), além da cavidade não encontrar-se associada diretamente a nenhuma drenagem ativa. Como já apresentado nos demais estudos efetuados, foram indicados como forma de compensação ambiental ao patrimônio espeleológico sujeito ao alagamento decorrente da implantação do empreendimento, a criação para conservação da Gruta do Bom Sucesso uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, como forma de se obter a conservação efetiva do carste local, de proteção das espécies endêmicas identificadas, bem como promover a recuperação dos ecossistemas originais da

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região. Permitindo-se a utilização desta área para pesquisas científicas e para a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais. A compensação ambiental aqui proposta prevê a conservação efetiva de um patrimônio espeleológico muito mais relevante que aquele sujeito a impacto pelo empreendimento. A proposição de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral é feita na intenção da conservação efetiva do Patrimônio Espeleológico envolvido. Não obstante a isso, impactos diversos podem ser ocasionados pela vistação, tais como: compactação do solo no interior da cavidade; alteração do microclima da cavidade; pisoteio de fauna troglóbia e não troglóbia na cavidade; geração de resíduos, entre outros. Tendo em vista essas possibilidade é que o presente Plano de Conservação e Manejo da Gruta do Bom Sucesso é apresentado. Seguidas as suas diretrizes gerais e com o aprofundamento das suas rotinas de administração e detalhamento/criação de seus programas de gestão, principalmente com a ampliação do conhecimento da área proposta a partir da sua criação, esses impactos não devem ocorrer. Pois a área aqui proposta visa basicamente à conservação do Patrimônio Espeleológico englobado e o seu manejo, como instrumento de gestão é algo dinâmico que deve evoluir com a aquisição de conhecimentos sobre suas particularidades. 9 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS 9.1 Controle de nível do Lençol Freático Local Como já dito, o estabelecimento de um novo nível de base, controlado pelo nível do reservatório da UHE, deve afetar as condições internas da caverna, porém não significativamente, já que não há uma condição de coluna de água atuante nas fraturas e não há afogamento dos canais. Este seria o principal risco de impacto imediato à cavidade. Como forma de monitoramento e controle deste impacto, sugere-se a instalação na área da Gruta do Bom Sucesso, de poços de monitoramento com o controle do nível de água no maciço e a instalação de piezômetros de tubo aberto, ou Stand Pipe, nos níveis críticos de cheias para o acompanhamento constante das tensões atuantes no maciço. 9.2 Controle de Impactos da Visitação O uso público previsto à cavidade, deve ser constantemente acompanhado e monitorado pelo gestor da área, atráves dos programas e atividades sugeridos neste Plano de Conservação e Manejo. Também devem ser incentivadas novas pesquisas que ampliem o conheciomento a cerca do Patrimônio Natural no entorno da cavidade, visando a ampliação do conhecimento e o detalhamento ou implantação de novos programas e atividades pertinentes, que visem a atenuação e eliminação dos impactos advindos do uso público da área.

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10 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Em relação ao potencial de implantação da UHE de Tijuco Alto, existem duas grutas e nove feições espeleológicas que situam-se abaixo da cota de alagamento e que potencialmente seriam inundadas pelo represamento do rio Ribeira. Portanto, a conservação da Gruta do Bom Sucesso, como forma de compensação ambiental deve-se à sua importância física, biológica e histórico/cultural, estando estas entre as mais relevantes na região. Tendo em vista que existem duas espécies de animais troglomórficos não descritas, a Gruta do Bom Sucesso se classifica como de máxima relevância pelo item “VII - habitat essencial para preservação de populações geneticamente viáveis de espécies de troglóbios endêmicos ou relíctos”, da Instrução Normativa Nº 002, de 20 de agosto de 2009 do MMA. Considerando-se a distribuição das cavernas, nas áreas calcárias do Estado do Paraná, o médio curso do Ribeirão do Rocha apresenta elementos ricos e diferenciados das outras áreas cársticas paranaenses, caracterizando esta região como uma área particular no contexto geomorfológico e espeleológico. A conservação da Gruta do Bom Sucesso é de primordial importância, pois além da gruta ser de fácil acesso, apresenta grande potencial túristico para a região, devido a presença de espeleotemas de beleza cênica. Além desse fator, a gruta ainda abriga espécies de fauna pouco conhecidas pela ciência, como as espécies de troglomórficos não descritas, afirmando assim novamente a importância de sua preservação.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o artigo 225, § 1°, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de conservação e da outras providências. BRITO NEVES, B.B. e CORDANI, U.G. Tectonic evolution of South America during the Late Proterozoic. Precambrian Research, 53: 23-40, 1991.

CAMPANILI, M.; PROCHNOW, M. Mata Atlântica: uma rede pela floresta. Brasília: RMA, 322p, 2006. CECAV. Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo das Cavernas. Termo de Referência para Plano de Manejo Espeleológico. 2008. Disponível em:

http://www4.icmbio.gov.br/cecav//index.php?id_menu=256 Acessado em: 22/06/2011. CNEC. Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores. Usina Hidrelétrica Tijuco Alto. Estudos Ambientais: Caracterização Espeleológica. 1991. CULVER, D.C. Cave life: Evolution and Ecology. Cambridge, Harvard Univ. Press., 189 p. 1982. EBERT, H.D.; Hasui, Y.; Quadros, H. 35 Congresso Brasileiro de Geologia, 1988, Belém. Aspectos da evolução estrutural do cinturão móvel costeiro na região da mina do Perau, Vale do Ribeira – Paraná. Belém, SBG, 1988. p. 2318-2331. ECOSSISTEMA CONSULTORIA AMBIENTAL. Levantamento e Mapeamento do Patrimônio Espeleológico na Região de Gramados – PR. Curitiba, 2004, 44p. ECOSSISTEMA CONSULTORIA AMBIENTAL. Estudo Bioespeleológico na Gruta do Rocha e Estudo do Pseudoescorpião Pseudochtonius strinatii. Curitiba, 2010. 52 p. FIORI, A. P. Tectônica e Estratigrafia do Grupo Açungui - PR. Boletim IG-USP. Série Científica, São Paulo, SP, v. 23, p. 55-74, 1992. FIORI, A. P. 2° Simpósio Sul Brasileiro de Geologia, 1985, Florianópolis. As falhas da Lancinha e de Morro Agudo e estruturas secundárias associadas. Florianópolis, SBG, 1985. p. 146-158.

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FONTE, J. Limitações e Possibilidades para o desenvolvimento do Vale do Ribeira. Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Agronomia, Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Produção Vegetal, do Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2006. HOLSINGER, J. R.; CULVER, D. C.;.The invertebrate cave fauna of Virginia and a part of Eastern Tennessee: Zoogeography and ecology. Brimleyana, 1988. 14: 1 - 162.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse do Censo Demográfico 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Acessado em: 28/04/2011. IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Economico e Social, 2011. Caderno Estatístico Município de Cerro Azul. Março, 2011. Disponível em: http://www.ipardes.gov.br/ Acessado em: 26/04/2011. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 002 de 20 de Agosto de 2009, que estabelece uma metodologia específica para a determinação do grau de relevância das cavidades naturais subterrâneas. KARMANN, I. e SANCHEZ, L.E. Distribuição das rochas carbonáticas e províncias espeleológicas do Brasil. Espeleo-Tema, 1979, 105-167. MAACK, R. Breves notícias sobre a geologia dos Estados do Paraná e Santa Catarina. Arquivos de Biologia e Tecnologia, Curitiba, v. 2, p. 63-154. 1947 MANTOVANI, W. Fatores da Diversidade da Floresta Pluvial Atlântica. In: JARDIM, M. A. G.; BASTOS, M. de N. do C.; SANTOS, J. U. M. dos. (Eds.). Desafios da Botânica no Novo Milênio: Inventário, Sistematização e Conservação da Diversidade Vegetal. Belém: MPEG, UFRA; Embrapa, Brasil/Museu Paraense Emílio Goedi, 296p, 2003. MYERS, N.; MITTERMEIER, R. A.; MITTERMEIER, C. G.; FONSECA, G. A. B.; KENT, J. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, London, v.403, p.853-858, 2000. PINTO-DA-ROCHA, R.; Sinopse da fauna cavernícola do Brasil (1907-1994). Papéis Avulsos Zool., 39(6); 61-173, 1995.

RIBEIRO, M.C., METZGER, J.P., MARTENSEN, A.C., PONZONI, F., HIROTA, M.M. Brazilian Atlantic forest: how much is left and how is the remaining forest distributed? Implications for conservation. Biological Conservation, 142, p.1141-1153, 2009.

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ROSA, A. OLIVEIRA, J. OLIVEIRA, J. LOVATO, M. Soluções Integradas para Atender os Citricultores e Fruticultores do Vale do Alto Ribeira. Cerro Azul, Paraná, 2010. SANQUETTA, C. R. (Org.). Experiências de monitoramento no bioma Mata Atlântica com uso de parcelas permanentes. Curitiba: UFPR, 338p, 2008. SESSEGOLO, G.C.; ROCHA, L.F.S. e LIMA, F. F. de Conhecendo Cavernas: Região Metropolitana de Curitiba. Curitiba: GEEP-Açungui, 2006. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESPELEOLOGIA – SBE. Normas e Convenções Espeleométricas. SÃO PAULO, 1991. SOS MATA ATLÂNTICA, Fundação SOS Mata Atlântica; INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica período 2000-2005. Disponível em: < http://mapas.sosma.org.br/site_media/ ATLAS%20MATA%20ATLANTICA%20-%20RELATORIO2000-2005.pdf>. Acesso em: 21/03/2011.

SOUZA, A. DAMASSO, A. Análise das Políticas Educacionais na Oferta de Educação Infantil na Região Metropolitana de Curitiba e Litoral do Paraná. Jornal de Políticas Educacionais n° 2, pp 32-40, setembro, 2007. UTP – UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ. Diagnóstico Preliminar das Potencialidades Turísticas do Município de Cerro Azul/PR. Curitiba: Ed. UTP, 2006.

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ANEXO 1 - Documentação Fotográfica

Foto 1

Foto 2

Foto 3

Foto 4

Foto 1: Região de Bom Sucesso vista da entrada da gruta.

Foto 2: Diplopoda no interior da gruta.

Foto 3: Interior de Gruta do Bom Sucesso, com pichações.

Foto 4: Diplopoda no interior da gruta

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Foto 5

Foto 6

Foto 7

Foto 8

Foto 5: Aspectos do relevo e do uso do solo no entorno da Gruta do Bom Sucesso.

Foto 6: Pichações na parede da cavidade.

Foto 7: Casa na entrada da Gruta do Bom Sucesso.

Foto 8: Vista do vale e da casa de Bom Sucesso.

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Foto 9

Foto 9: Espeleotemas com pichações efetuadas com tinta no interior da gruta.

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ANEXO 2 – Anotações de Responsabilidade Técnica

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