conservação e manejo de polinizadores para uma agricultura sustentável

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  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

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    Manual de BoasPrticas Agrcolas

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

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    Foto da capa: Sidney Cardoso

    Manual de BoasPrticas Agrcolas

    Conservao e manejo de polinizadorespara uma agricultura sustentvel

    Funbio, 2015

    AUTOR

    Bruno Ferreira

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

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    41 PRTICAS AGRCOLAS AMIGVEIS

    42 O que so prticas amigveis aos

    polinizadores?

    43 O que podemos fazer para ajudar os

    polinizadores?

    43 Manuteno e recuperao

    da vegetao nativa

    44 Planejamento da cultura 45 Desenho do cultivo e arranjos de plantio

    46 Manter e fornecer locais para nidificao

    49 Manejo de ninhos de espcies de

    abelhas sociais

    52 For necer fontes alimentares alternativas

    55 Cultivo consorciado

    56 Am biente livre de agrotxicos

    57 Conhecer seus polinizadores

    59 Estratgias coletivas e polticas pblicas

    61 CONCLUSES

    62 REFERNCIAS

    64 PROJETO POLINIZADORES DO BRASIL

    66 OUTRAS PUBLICAES

    5 PRTICAS AGRCOLAS PARA CONSERVAO

    DE POLINIZADORES

    6 POLINIZAO E POLINIZADORES

    6 A economia social dos polinizadores

    8 Alm da economia

    10 Como funciona a polinizao

    15 Quais so os insetos polinizadores?16 Abelhas

    16 Abelhas solitrias que

    constroem ninhos

    18 Abelhas sociais construtoras

    de ninhos

    19 Abelhas parasitas

    19 Moscas

    21 Borboletas e mariposas

    23 Besouros

    25 Outros invertebrados

    26 Morcegos

    29 Aves

    29 AMEAAS AOS POLINIZADORES

    31 Perda e fragmentao do habitat32 Degradao do habitat

    34 Agrotxicos

    36 O impacto dos agrotxicos

    37 Existem alternativas ao uso de

    agrotxicos?

    39 E se eu realmente preciso utilizar

    agrotxicos?

    Equipe tcnica

    COORDENAO

    Ceres Belchior

    Vanina Zini Antunes de Mattos

    AUTOR

    Bruno Ferreira

    REVISO TCNICA

    Ceres Belchior

    Comit Editorial do MMAVanina Zini Antunes de Mattos

    PROJETO GRFICO E DIAGRAMAO

    Luxdev

    EDITOR

    Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

    FUNBIO

    Esse material foi produzido pelo Projeto Conservao e Manejo

    dos Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel, atravs de uma

    Abordagem Ecossistmica. Esse Projeto apoiado pelo Fundo Global

    para o Meio ambiente (GEF), sendo implementado em sete pases,

    Brasil, frica do Sul, ndia, Paquisto, Nepal, Gana e Qunia. O Projeto

    e coordenado em nvel Global pela Organizao das Naes Unidas para

    Alimentao e Agricultura (FAO), com apoio do Programa das Naes

    Unidas para o meio Ambiente (PNUMA). No Brasil, coordenado pelo

    Ministrio do Meio Ambiente (MMA), com apoio do Fundo Brasileiro

    para a Biodiversidade (FUNBIO).

    Palavras-chave para a ficha: 1. Agricultura sustentvel. 2. Boas Prticas. 3.

    Abelha. 4. Polinizao.

    Catalogao na Fonte

    Fundo Brasileiro para a Biodiversidade Funbio

    F439m Ferreira, Bruno

    Manual de boas prticas agrcolas: conservao e manejo de

    polinizadores para agricultura sustentvel, atravs de uma abordagem

    ecossistmica / Bruno Ferreira. Rio de Janeiro: Funbio, 2015.

    68 p. : il. color.

    ISBN 978-85-89368-27-8

    1. Agricultura sustentvel. 2. Boas prticas. 3. Polinizao por

    inseto. 4. Abelha. I. Bruno Ferreira. II. Ttulo.

    CDD 581.16

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    M anua l de boa s prt ic as a gr c olas 5

    Este manual um guia para agricultores,educadores, gestores de reas protegidas ede parques urbanos e para jardineiros, paraajud-los a prover, aprimorar e manejar osambientes agrcolas, naturais e urbanospara agentes polinizadores.

    Inclui informaes prticas sobre como criar e manter locais

    para alimentao e nidificao de insetos e outros animais

    polinizadores, seja em espaos limitados, como o quintal de uma

    residncia ou o ptio de uma escola, at grandes reas como beiras

    de estradas, fazendas e stios. O propsito deste manual oferecer

    ferramentas, informaes e sugestes prticas para a conservao

    dos polinizadores e ajudar a mostrar ao pblico como suas aes

    podem afetar diretamente, de forma positiva ou negativa, os

    polinizadores.

    Prticas agrcolas para conservaode polinizadores

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas6 7

    Polinizao e polinizadores

    dependem da polinizao por

    animais para produzirem frutos

    e sementes. Existe uma rede

    econmica global, suportada

    pelos servios de polinizao,

    que vai alm de plantas alimen-

    tcias e inclui frmacos, bebidas

    e fibras. Somente nos Estados

    Unidos o valor dos plantios po-

    linizados por insetos estimado

    em US$ 20 bilhes e, se o cl-

    culo incluir benefcios indiretos

    da polinizao (como alimento

    para gado, por exemplo), a

    soma ultrapassa US$ 40 bilhes.No Brasil o valor econmico da

    polinizao, somente por ani-

    mais, representa um montante

    de mais de R$ 13 bilhes, o que

    seria em torno de 12% do valor

    total das culturas alimentcias

    brasileiras juntas.

    Se essas frutas estiverem defor-

    madas, ou pequenas demais,

    significa que no houve plen

    suficiente chegando at o estig-

    ma floral, o que comprometeu

    o desenvolvimento do fruto,

    e possivelmente sua venda. A

    polinizao possui um papel

    fundamental na produo de

    alimentos, porque, de fato,

    uma flor sem polinizao nunca

    chegar a produzir um fruto.

    A polinizao um dos fa-

    tores mais importantes naprodutividade de cultivos e

    compreend-la o primeiro

    passo para conservar os elemen-

    tos que esto por trs dela. Es-

    tima-se que um tero de toda a

    alimentao humana tem como

    origem espcies vegetais que

    A economia social dos polinizadores

    D uma rpida olhada em sua geladeira ouna sua horta. Talvez voc encontre tomates,berinjelas, mas, castanhas, pimentas,abboras, meles, cajus, e maracujs com coresvivas e formas suculentas, indicando que essasfrutas foram perfeitamente polinizadas.

    Polinizao e polinizadores

    A diversidade e a qualidade de frutos

    e sementes dependem de agentes

    polinizadores, como o vento no caso

    do milho. Fotografia: Bruno Ferreira.

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas8 9

    Polinizao e polinizadores

    A polinizao um pro-

    cesso ecolgico essen-

    cial, e os polinizadores

    so elementos-chave

    dele. Assim como mui-

    tos animais silvestres,

    os polinizadores esto

    em declnio ou risco deextino por conta de ati-

    vidades humanas. Se esse

    quadro no for reverti-

    do, os resultados sero

    desastrosos no apenas

    para os insetos, mas para

    toda humanidade.

    Os benefcios de uma

    comunidade de plantas

    saudveis so propagados por

    todo o ecossistema, desde o

    controle de eroso promovido

    pelas razes das rvores e

    arbustos at a oferta de

    alimento na forma de frutose folhas para aves, mamferos

    e outros animais. Alm disso,

    insetos polinizadores so parte

    de uma cadeia alimentar,

    servindo de alimento para

    lagartos, aranhas, aves e

    outros animais.

    Os polinizadores esto presentes at

    mesmo nas regies ridas do mundo,

    como a caatinga da Chapada do

    Araripe (CE), que possuem episdios

    sazonais de florao. Fotografia:

    Roberto L. M. Novaes.

    Polinizao e polinizadores

    O papel dos polinizadores vai alm daqueleeconmico. Polinizadores ajudam a manter acontinuidade das plantas e, numa escala maior,de todo o ecossistema.

    tneis, por exemplo, me-

    lhoram a textura do solo,

    favorecendo o aumento

    do fluxo de gua entre as

    razes e a mistura dos nu-

    trientes no solo. Larvas de

    besouros em rvores mortas

    ajudam na decomposio,acelerando o processo de

    retorno de nutrientes ao

    solo para que sejam reutili-

    zados por novas plantas. As

    larvas de algumas moscas

    se alimentam de parasitas

    comuns em plantas.

    Numa floresta em que os

    polinizadores fossem extintos,

    os efeitos poderiam no ser

    percebidos imediatamente,

    pois as plantas continuariam

    a produzir flores durante

    dcadas e s mais tarde se

    constataria que aquelas rvoresno estavam gerando novos

    descendentes por meio de seus

    frutos e sementes.

    Os polinizadores tambm be-

    neficiam as plantas de outras

    maneiras. Abelhas que cavam

    Alm da economia

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas10 11

    Polinizao e polinizadores

    A maioria das plantas com

    flores (mais de 80% das plantas

    do mundo) depende de insetos

    ou outros animais polinizadores

    para carregarem seus gros

    de plen de flor para flor.

    Espalhados pelo mundo, os

    polinizadores podem variar

    desde minsculas vespas de

    figueiras at lmures que vivemnas florestas de Madagascar.

    Apesar de o nmero exato de

    polinizadores do mundo ser

    desconhecido (estimativas vo

    de 130 mil a 300 mil espcies), a

    grande maioria representada

    por insetos.

    como plen, nctar, leos ou

    mesmo odores, utilizadas na

    alimentao ou reproduodos animais. Contudo, nem

    todos os animais que procuram

    as recompensas atuam como

    polinizadores efetivos, visto

    que muitos visitantes obtm

    a recompensa sem exibir um

    comportamento adequado

    para realizar uma polinizao

    eficiente.

    A transferncia de plen reali-

    zada por animais muito mais

    especializada que aquela feita

    pelo vento ou pela gua, pois

    milhares de anos de evoluofavoreceram adaptaes fsi-

    cas e comportamentais entre

    algumas plantas e agentes

    polinizadores, que se tornaram

    to dependentes um do outro,

    fazendo com que a extino de

    um leve extino do outro.

    O maracujazeiro (Passiflora) possui

    anteras e estigmas especialmente

    posicionados para a visita de

    mamangavas. Fotografia: Iago B. Silva.

    Polinizao e polinizadores

    A transferncia de plen entre

    as flores pode acontecer por

    meio do vento, da gua e dosanimais, como insetos, morce-

    gos ou aves. Para atrair os ani-

    mais polinizadores, as espcies

    vegetais oferecem recompensas,

    As anteras so os rgos

    masculinos da flor e o plen

    a gameta masculino. Para quehaja a formao das sementes

    e frutos necessrio que os

    gros de plen fecundem os

    vulos.

    A polinizao atransferncia de grosde plen das anterasde uma flor para oestigma (parte doaparelho reprodutorfeminino) da mesmaflor ou de outra florda mesma planta etambm entre flores deplantas diferentes damesma espcie.

    Como funciona a polinizao

    muito fcil observar as anteras

    carregadas de plen de uma flor de

    hibisco (Hibiscus). Fotografia: Rafael

    V. Nunes.

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas12 13

    Polinizao e polinizadores

    As abelhas se destacam entre os

    polinizadores, pois so o nico

    grupo de animais (alm de

    poucas espcies de vespas) que

    deliberadamente coletam plen

    para transport-lo para seusninhos e crias. claro que as

    abelhas no tm a inteno de

    polinizar as flores, mas fazem

    isso acidentalmente no processo

    chamado forrageio, quando

    visitam uma sequncia de flores

    na busca por alimento, seja

    Ao visitar as flores o plen

    adere ao corpo do visitante.

    Os gros de plen que caem no estigma

    fertilizam os vulos; caem as ptalas,

    antereras e spalas; o ovrio se transforma

    na sliqua e os vulos, nas sementes.

    Autopolinizao:

    o plen das anteras cai

    no estigma com o

    balano da flor pelo

    vento ou com a visita

    de insetos.

    Polinizao cruzada:

    o plen aderido no

    corpo dos insetos em

    uma visita anterior

    transferido ao estigma

    de outra flor.

    Tipos de polinizao por insetos. Os gros de plen que caem no

    estigma fertilizam a flor, que se transforma em fruto e semente.

    Ilustrao: modificada de Abelhas na Polinizao da Canola

    (WITTER et. al., 2014).

    Os animais que realizam a polinizao

    podem variar em forma e tamanho,

    desde vertebrados, como o beija-flor,at abelhas-mamangavas. Fotografias:

    Rafael Vinicius L. Habermann (beija-

    flor), Paulo Leandro Brassoloto

    (borboleta), rick T. Rodrigues

    (mamangava).

    Polinizao e polinizadores

    O Cretceo (145 milhes de anos atrs)

    foi o perodo geolgico com o maior

    nmero de ordens de insetos viventes,

    e, simultaneamente, dominado em sua

    maioria por plantas com flores.

    Acredita-se que os insetos

    originalmente visitavam as plantas

    em busca de alimento, agindo comopredadores, e a polinizao no

    passava de uma consequncia indireta.

    Apesar de eventos de polinizao

    isolados no explicarem a

    diversidade de formas de insetos

    e plantas conhecidas hoje, a

    evoluo conjunta desses grandes

    grupos, passando por perodos

    de intensa atividade geolgica,

    como a deriva dos continentes,

    poderia explicar a distribuioe diversidade atual de muitas

    plantas e animais.

    HISTRIA NATURAL ENTRE INSETOS E PLANTA

    Fotografia: Sidney Cardoso.

    FORRAGEIO,FORRAGEAMENTOou FORRAGEAR otermo ecolgico quedenomina a sadade um animal emprocura de alimento,seja embaixo defolhas ou gravetos,revirando a terra,buscando frutosmaduros em rvoresou caando umcamundongo pelacampina.

    Tamandus

    forrageiam em buscade formigas oucupins, e abelhas embusca de nctar eplen.

    Polinizao e polinizadoresPolinizao e polinizadores

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas14 15

    Polinizao e polinizadores

    Ao entender as necessidades

    biolgicas de cada polinizador

    em seus diferentes estgios

    de vida, podemos propor

    aes que ajudem a aprimorar

    um determinado habitat

    para torn-lo ideal para aalimentao e reproduo

    desses insetos.

    Todos os insetos apresentados

    neste manual possuem

    o processo completo de

    metamorfose, com quatro

    estgios: ovo, larva, casulo

    (ou pupa) e adulto alado.

    O perodo de vida de um

    polinizador adulto pode

    variar de poucas semanas

    (algumas borboletas) at

    alguns anos (algumasabelhas-rainhas), e cada

    grupo possui uma maneira

    diferente de colocar seus

    ovos e alimentar suas

    larvas, relacionada

    disponibilidade de plantas

    que servem como alimento.

    A diversidade de insetos que ser discutidaneste captulo representa o cenrioencontrado nos ecossistemas brasileiros.

    Quais so os insetos polinizadores? A metamorfose da borboleta-palha(Actinote) marcada pelo estgio de

    pupa, no qual a lagarta se transforma

    em um adulto alado. Fotografia: Ivy

    Frizo de Melo.

    Polinizao e polinizadores

    plen, nctar ou at leos e re-

    sinas. Alm disso, abelhas ten-

    dem a exibir o comportamento

    de visitar as mesmas espcies

    de flores em um mesmo voo deforrageio, aumentando sua im-

    portncia como polinizadores.

    Borboletas, moscas e besouros

    visitam as flores em busca

    de nctar e, eventualmente,

    esbarram nos gros de plen,

    que grudam em seu corpo para

    serem transportados.

    Este manual d uma consider-

    vel ateno s abelhas nativas,no apenas pela sua eficincia

    como polinizadoras (uma nica

    abelha solitria pode carregar

    at 60 vezes mais plen que

    uma nica abelha-melfera),

    mas tambm porque cientifi-

    camente muito se sabe sobre a

    biologia desses insetos, embo-

    ra nem tudo esteja disponvel

    e de fcil acesso ao pblico.

    Embora a abelha-melfera (Apis

    mellifera) seja uma importanteagente na agricultura, poucas

    menes sero feitas essa

    abelha, pois, alm de ser uma

    abelha no nativa do Brasil, ela

    compete com abelhas nativas

    de forma impactante para toda

    a comunidade.

    A belha-melfera (Apis mell ifera) est

    entre os polinizadores mais comuns e

    abundantes encontrados no mundo.

    Fotografia: Fernando Henrique A.

    Farache.

    Polinizao e polinizadoresPolinizao e polinizadores

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas16 17

    p

    As divises internas de um ninho de abelha solitria podem

    ser construdas por inmeros materiais fornecidos pelo

    prprio ambiente: abelhas do gnero Tetrapediautilizam

    materiais como areia e leo (superior); abelhas-da-orqudea

    (Eufriesea) utilizam cascas de rvore e resina (inferior).

    Fotografias: Patrcia S. Vilhena.

    de plen e nctar). Normalmen-

    te as cmaras so alinhadas,

    para proteger suas crias e seu

    suprimento de comida contra

    desidratao, excesso de umi-

    dade, predadores, parasitas e

    doenas. Semanas depois, aps

    preparar vrios ninhos diferen-

    tes, a fmea morre.

    Aps a ecloso do ovo dentro

    da cmara, a larva permane-

    ce segura, alimentando-se do

    Algumas vespas utilizam a mesma estratgia de nidificao

    de abelhas solitrias, porm abrigam suas crias em cmaras

    revestidas de barro, ao invs de cera. Fotografia: Yuri F.

    Messas.

    Alm de prover um ninho

    adequado e seguro, as ABELHAS

    SOLITRIAS precisam garantir

    que suas crias tenham um

    estoque de alimento grande

    o suficiente at atingir a fase

    adulta. Isso significa que essas

    abelhas devem forragear por

    plen e nctar em quantidades

    imensas, muito superiores s

    abelhas-melferas.

    Alm de adaptaes fsicas para

    carregar grandes quantidades de

    plen, uma abelha solitria pode

    levar o dia todo para aprovisionar

    uma nica cmara de nidificao.

    Por causa da quantidade de plen

    carregado, multiplicada pelo

    nmero de flores visitadas em um

    nico voo, as abelhas solitrias

    esto entre os polinizadores mais

    eficientes no reino animal.

    p

    espcie e outra. A maioria es-

    cava tneis no solo, enquanto

    outras cavam ninhos na madei-

    ra viva ou morta, ou ocupam

    cavidades pr-existentes como

    tneis abandonados de larvas

    de besouros. Grupos menos co-

    nhecidos utilizam carapaas decaramujos ou escavam resinas

    vegetais. Independentemente

    do tipo de ninho, a fmea cria

    dentro dele uma ou mais cma-

    ras, dentro das quais so postos

    seus ovos com o alimento para

    a larva (uma nutritiva mistura

    Abelhas solitrias queconstroem ninhosElas so consideradas solit-

    rias pois, aps o acasalamen-

    to, dificilmente entram em

    contato com outra abelha da

    mesma espcie. Elas prprias

    encontram e escavam um localadequado para seus ninhos,

    onde sero depositados seus

    ovos juntamente com alimen-

    tos aprovisionados. O local e a

    maneira pela qual uma abelha

    solitria constri seu ninho

    podem variar muito entre uma

    Abelhas

    Abelhas soimensamentediversas e podem sercategorizadas emsolitrias ou sociais, e

    tambm em aquelasque constroem eaprovisionam alimentoem seus prpriosninhos ou aquelasque parasitam outrasespcies.

    As mamangavas so abelhas solitrias

    muito conhecidas no Brasil. Fotografia:

    Sidney Cardoso.

    Polinizao e polinizadoresPolinizao e polinizadores

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas18 19

    Moscas

    Moscas esto entre os visitantes florais maiscomuns e podem ser facilmente confundidascom abelhas.

    Abelhas parasitasUma pequena parcela

    de abelhas deposita seus

    ovos nos ninhos de outras

    abelhas aparentadas e,

    por isso, so consideradas

    parasitas; o parasitismo

    pode se dar tanto em

    ninhos de abelhas solitrias

    quanto sociais. A fmeaparasita entra no ninho de

    abelhas solitrias (ninho

    hospedeiro) quando a fmea

    est ausente. O ovo parasita

    eclode primeiro e sua larva

    mata o ovo hospedeiro

    (ou a larva), depois come

    o alimento da cmara at

    completar os processos de

    metamorfose e emergir

    como adulto. Em ninhos de

    abelhas sociais, as fmeas

    parasitas matam as fmeas

    hospedeiras ou vivem

    com elas, de modo que asoperrias criam as larvas

    parasitas como se fossem

    as prprias hospedeiras.

    Independentemente do caso,

    apenas ninhos j formados

    so parasitados.

    Alm de valiosas como polinizadoras,

    moscas agem como decompositoras

    de matria orgnica, fonte de

    alimentos para vrios animais, e como

    predadoras de larvas de borboletas e

    besouros e, por isso, so utilizadas no

    controle biolgico. Fotografia: Sidney

    Cardoso.

    plen e nctar deixado pela

    me, at passar por todos os

    estgios de desenvolvimento,

    e deixa o ninho quando atinge

    a forma adulta, geralmente

    em perodo sincronizado com

    o florescimento das plantas da

    regio. Essas abelhas passam,

    ento, a ocupar o ambiente,

    forrageando por duas coisas:nctar para energia e plen

    para nutrientes.

    Existem ainda abelhas que pos-

    suem comportamentos inter-

    medirios entre o solitrio e o

    social, e um deles o comunal.

    Essas abelhas compartilham

    ninhos e buscam por vantagens

    como melhor utilizao dos

    recursos e defesa mtua contra

    parasitas ou predadores.

    Diferentemente das abelhas

    solitrias, as abelhas sociais

    passam rapidamente pelo

    estgio de larva e pupa.

    medida que a colnia cresce,

    uma nova gerao de rainhas

    e zanges produzida, que

    voam para se acasalar eformar novas colnias.

    Abelhas sociais construtorasde ninhosAbelhas sociais vivem em

    colnias, com pelo menos duas

    fmeas adultas habitando o

    ninho, e dividem suas tarefas

    para constru-lo e aprovision-

    lo. Geralmente uma das

    fmeas a rainha responsvel

    pela postura de ovos, e asoutras fmeas so operrias

    que realizam o forrageio e a

    manuteno do ninho.

    As abelhas sociais nativas do Brasil,tambm conhecidas como abelhas-

    sem-ferro ou abelhas-indgenas, so

    comuns em todas as regies do pas.

    As jatas (Tetragonisca angustula) so

    famosas por construrem seus ninhos

    dentro de tocos de rvore ou at em

    frestas de construes. Fotografia:

    Sidney Cardoso.

    Polinizao e polinizadoresPolinizao e polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    12/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas20 21

    Diferenciar borboletas (acima) e

    mariposas (abaixo) um hbito que

    ir ajudar a entender e preservar a

    fauna de polinizadores de seu jardim

    ou horta. Fotografias: Bruno Ferreira

    (borboleta) e Fbio M. Labecca

    (mariposa).

    Borboletas e mariposas

    Borboletas estoentre os insetos maiscarismticos e de maiorapelo social, por seremgeralmente coloridas,

    graciosas e trazeremdeleite aos quintais,

    jardins e parques.

    longas e afinadas do que as

    de moscas.

    Moscas adultas no fazem

    ninhos e colocam seus ovos

    prximos a grandes supri-

    mentos de comida para suas

    larvas. A busca por locais

    adequados para colocar seus

    ovos demanda energia; porisso, muitas moscas voam

    de flor em flor na busca

    por nctar, atuando como

    polinizadores.

    Sirfdeos, por exemplo, so

    moscas que garantem sua pro-

    teo contra predadores por te-

    rem o corpo e comportamento

    semelhantes a abelhas e vespas,

    que so geralmente evitadas

    pelas aves por causa do ferro.

    Na dvida, olhe o nmero de

    asas: moscas possuem duas,

    enquanto que abelhas e vespaspossuem quatro. O tamanho

    da antena tambm d algumas

    pistas, uma vez que abelhas e

    vespas possuem antenas mais

    Apesar de uma nica mosca

    transportar menos plen do que

    uma abelha, moscas so impor-

    tantes polinizadores em regies

    de alta latitude ou montanho-

    sas do mundo, onde os dias so

    mais curtos e mais frios, desfa-

    vorecendo abelhas que precisam

    dividir o curto perodo de aber-

    tura das flores com a construode ninhos durante a exposio

    do sol. Moscas, por no constru-

    rem ninhos, so favorecidas em

    tais ambientes.

    Mimetismo a presena de

    caractersticas ou comportamentos

    utilizados por alguns animais que os

    confundem com um outro grupo de

    organismo. Por exemplo, o bicho-pau confundido com um graveto

    em meio a um arbusto. Essas

    semelhanas se do no padro de

    colorao, textura, forma do corpo,

    comportamento e caractersticas

    qumicas, e deve conferir ao mmico

    uma vantagem adaptativa contra

    seus predadores.

    MIMETISMO

    Abelha ou Mosca? A mosca-ladra (Asilidae) uma predadora de abelhas, e por

    isso as mimetiza. Fotografia: Andr Grassi Corra.

    Polinizao e polinizadoresPolinizao e polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas22 23

    purrar bolotas de esterco pelo

    solo, para o aprovisionamento

    de suas crias. O tempo de vidade um besouro adulto varia de

    poucos dias at alguns meses,

    mas para a maioria dos besou-

    ros que visitam flores de um

    ms ou menos. Uma quantidade

    substancial de besouros que se

    alimentam nas flores consome

    plen, mas alguns mastigam a

    prpria flor. Apesar do dano

    causado pela destruio da

    flor, um pouco de plen acaba

    grudado no corpo do besouro e

    transferido de uma flor para

    outra. Dado que esse processo

    repetido milhares de vezes emum nico local, dada a abun-

    dncia de besouros, ele se torna

    bastante significativo e impor-

    tante. Em regies ridas, por

    exemplo, os adultos emergem

    dos casulos em sincronia com a

    estao de florao das plantas.

    Besouros representam a maior

    diversidade de polinizadores e

    so conhecidos como tais h mi-lhes de anos. Registros fsseis

    sugerem que os besouros, jun-

    tamente com as moscas, foram

    os primeiros insetos a polinizar

    as flores pr-histricas. Desde

    ento, as flores tm evoludo

    e se adaptado para diferentes

    tipos de polinizadores, mas al-

    gumas flores mais primitivas

    ainda dependem de besouros,

    como o araticum e a graviola,

    por exemplo.

    Apesar da imensa diversida-

    de de besouros, nem todoseles visitam flores ou so

    polinizadores. Provavelmen-

    te o grupo mais conhecido

    de besouros polinizadores no

    Brasil aquele dos escarabe-

    deos (besouros-do-esterco ou

    rola-bosta), famosos por em-

    Besouros

    Existem no mundomais de 400.000espcies de besouros,que compem o grupomais diversificado de

    insetos no planeta, emtermos de formato etamanho do corpo.Juntos, os besourosrepresentam 25% detodas as espcies deanimais conhecidas noplaneta.

    Borboletas e mariposas

    so insetos aparentados, e

    diferenci-las pode ser uma

    tarefa minuciosa. Geralmente

    borboletas so mais coloridas,

    voam durante o dia e pousamcom as asas fechadas na vertical

    (como as velas de um barco),

    ao passo que mariposas so

    cinza ou marrons, voam noite

    e pousam com as asas abertas

    na horizontal (como a ponta

    de uma flecha). Entretanto,

    planta hospedeira, que

    a mesma que servir de

    alimento para suas lagartas

    quando elas eclodirem dos

    ovos. O nctar de flores e

    os acares de frutas doao adulto grande parte da

    nutrio necessria para

    sua sobrevivncia, mas

    comum observar borboletas

    complementando suas dietas

    em excrementos, areia ou

    terra mida e carcaas.

    existem inmeras excees

    para essas regras; na dvida,

    verifique as antenas: borboletas

    possuem na extremidade de

    suas antenas uma bolinha

    que se assemelha ponta deum taco de golfe; j mariposas

    possuem antenas lisas, ou

    filamentosas, que lembram

    penas ou plumas.

    Borboletas e mariposas colocam

    seus ovos nas folhas de uma

    As lagartas podem ter as mais

    curiosas formas, e nem todas so

    necessariamente pragas aos cultivos.

    Fotografia: Guilherme Bertuzo.

    Polinizao e polinizadoresPolinizao e polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas24 25

    de serem caadoras, visitam

    flores na busca do nctar, por

    conta de seu valor energtico.

    Existem ainda exemplos deespecializao, como as vespas

    que visitam orqudeas ou

    aquelas que penetram em figos,

    em cujo interior se encontram

    numerosas e diminutas flores,

    onde so depositados os ovos

    das fmeas.

    lo por curtas distncias at

    a prxima flor. J os tripes

    possuem hbitos alimentares

    muito variados: podem sugarseiva de plantas ou sangue

    de animais; ser predadores ou

    parasitas e at comer fungos.

    Mas existe um grupo que se

    alimenta de plen e, por isso,

    tambm so polinizadores em

    potencial. As vespas, apesar

    As formigas so insetos que

    podem visitar flores para

    sugar nctar, mas as operrias,

    por no terem asas, no volonge e raramente visitam

    plantas diferentes. Existem

    vrias espcies de lesmas

    que, ao subirem em uma flor

    para comer parte dela, ficam

    com o plen grudado em seu

    corpo, podendo transport-

    Alm de polinizadoras, as formigas

    possuem um importante papel

    ecolgico na ciclagem da matria

    orgnica, predao e disperso de

    sementes. Fotografia: Rafael V. Nunes.

    Outros invertebrados

    Apesar de incomum,a polinizao tambmpode ser feita, emcasos bem especficos,por formigas, vespas,

    lesmas e tripes(tisanpteros).

    Os besouros esto entre os

    polinizadores mais antigos do planeta.

    Fotografia: Rafael V. Nunes.

    As magnolideas esto entre as plantas

    mais antigas do mundo, que evoluram

    muito antes da existncia de qualquer

    abelha, borboleta ou mariposa,

    quando os nicos polinizadores

    disponveis eram besouros e moscas.

    Quando as abelhas entraram em

    cena, cerca de 30 milhes de anos

    depois, elas assumiram o posto

    de polinizadoras do planeta, com

    considerveis adaptaes evolutivas

    que as tornavam perfeitas para o

    trabalho.

    Entretanto nem as magnolideas ou

    os besouros eram especializados para

    esse tipo de polinizao. As flores,

    embora graciosas, continuaram

    bastantes simples e primitivas;

    e os besouros continuaram comendo

    pedaos da flor junto com o plen.

    Porm, as flores das magnolideas so

    adaptadas a esse tipo de tratamento:

    suas ptalas so rgidas e coriceas,

    e suas sementes, bem protegidas.

    Nos cerrados brasileiros o araticum

    um importante representante

    das magnolideas. Suas flores so

    incapazes de se autopolinizar, uma vez

    que a fase de receptividade feminina

    no ocorre ao mesmo tempo que a

    fase masculina.

    O interior da flor, na forma de uma

    cmara, libera uma pluma de odores

    extremante atrativa aos besouros,

    que voam para essa cmara onde

    ficam protegidos dos predadores e

    encontram alimento (pedaos da flor

    e plen). Os besouros ficam abrigados

    por tempo suficiente at que a flor

    entre na fase masculina, garantindo

    o contato dos besouros com o plen.

    Abelhas, moscas e at gafanhotos

    visitam as flores das magnolideas,

    atrados pela oferta de plen e

    nctar, mas a maioria deles chega

    at a flor muito tarde, aps o perodo

    em que as flores esto receptivas

    para polinizao, deixando para

    os besouros o importante fardo

    da perpetuao desse grupo.

    O ARATICUM E OS BESOUROS

    Polinizao e polinizadoresPolinizao e polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    15/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas26 27

    e alimentar-se longe do alcance

    de predadores arbreos como

    cobras e gambs. Elas incre-

    mentam o odor de suas flores

    com compostos de enxofre,um estmulo de longa distn-

    cia irresistvel para morcegos

    nectarvoros (mas no para

    humanos o perfume dessas

    flores j foi descrito como algo

    nauseante, lembrando repolho

    ou carnia).

    polinizadas por morcegos

    desenvolveram uma soluo

    interessante: elas driblaram o

    problema da quantidade e qua-

    lidade de nctar ao investiremna maximizao da eficincia

    para visitas de morcegos. Assim,

    plantas que florescem noi-

    te expem suas estruturas em

    posies de destaque, acessveis

    durante o voo, de forma que os

    morcegos possam encontrar-se

    Trocar nctar por polinizao

    uma transao delicada que

    traz um dilema para a planta.

    Para plantas de florao notur-

    na interessante que a ofertade nctar seja econmica, pois

    morcegos bem alimentados

    visitam menos flores. Por outro

    lado, se a planta oferecer muito

    pouco, o morcego prestar

    seu servio em outro local. Ao

    longo da evoluo, as plantas

    A fava-de-bolota (Parkia platycephala)

    uma rvore encontrada no norte

    do Brasil e frequentemente utilizada

    em paisagismos. Suas flores so

    tipicamente polinizadas por morcegos

    nectarvoros. Fotografia: Roberto L. M.

    Novaes.

    Entretanto, tambm existem

    morcegos que se alimentam de

    nctar e emitem sons suaves,

    mais sofisticados, que prio-

    rizam os detalhes em detri-mento da distncia e refletem

    imagens com informaes

    precisas sobre tamanho, for-

    mato, posio, textura, ngu-

    lo, profundidade, entre outras

    caractersticas que s o morce-

    go pode interpretar.

    Morcegos

    A maioria dos morcegos alimenta-se deinsetos e, para localiz-los, utiliza ondassonoras poderosas e de longo alcance,propagadas a cada elevao de suas asas.

    O morcego-beija-flor (Anoura

    geoffroyi) uma das vrias espcies

    de morcegos nectarvoros do Brasil.

    Fotografia: Roberto L. M. Novaes.

    Polinizao e polinizadores

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas28 29

    At mesmo os ndios pr-

    colombianos j derrubavam

    clareiras na floresta para

    seus pequenos roados desubsistncia, ou queimavam

    campinas para os perodos de

    caa. Hoje possumos o poder

    de alterar a paisagem de forma

    rpida, profunda e permanente,

    para atender nossas

    necessidades na agricultura,

    Ao longo de suahistria, o homem vemmodificando e dandonovas formas aosambientes naturais.

    Ameaas aos polinizadores

    Monoculturas extensivas, como o

    cultivo de cana-de-acar (Saccharum),

    so cenrios que geralmente retratam

    a degradao na natureza em nome

    da produtividade agrcola. Fotografia:

    Fbio M. Labecca.

    outro lado, as aves que pousam

    utilizam folhas, galhos, brcteas

    e at mesmo a prpria inflo-

    rescncia como apoio para ter

    acesso ao nctar nas flores. As

    ltimas so consideradas menosespecializadas e, quando da-

    nificam a flor, so classificadas

    como parasitas dos sistemas de

    polinizao.

    O comportamento das aves que

    visitam flores pode ser dividido

    em dois tipos: aves que pousam

    e aves que adejam. As aves que

    adejam apresentam o voo do

    tipo pairado, caracterstico dosbeija-flores, que coletam nctar

    sem pousar nas plantas, as

    quais geralmente apresentam

    flores pndulas ou verticais. Por

    Aves

    O nctar produzidopelas flores umimportante recursoalimentar para aves,principalmente para os

    beija-flores.

    Os beija-flores, como o rabo-branco-

    da-mata (Phaethornis eurynome),

    conseguem sincronizar seus horrios

    de forrageamento com os picos

    de produo de nctar das flores.

    Fotografia: Carlos Otvio A. Gussoni.

    Ameaas aos polinizadoresAmeaas aos polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas30 31

    tornar as principais, e talvez

    nicas, fontes de alimento e

    abrigo para os polinizadores

    estabelecidos no local.

    Embora em reas urbanas a

    perda de reas naturais seja

    claramente perceptvel, a frag-

    mentao em ambientes rurais

    mais preocupante, dado o

    tamanho e a velocidade da ex-

    panso das fronteiras agrcolas,

    principalmente no Brasil. Ape-

    sar de as prticas convencionais

    agrcolas preencherem a paisa-

    gem com plantas, as espcies

    cultivadas no atendem a todas

    as necessidades de alimentao

    e nidificao de um polinizador,

    alm de serem campos geral-mente tratados com agrotxi-

    cos. Os poucos remanescentes

    de habitat que restam (como

    canteiros, cercas vivas, acos-

    tamentos, matas ciliares e

    reservas legais) so muito

    importantes, pois passam a se

    Perda e fragmentao do habitat

    Tanto a destruio direta de um habitat comosua fragmentao em manchas pequenase isoladas ameaam a biodiversidade depolinizadores.

    No entorno do Parque Indgenado Xingu cada vez mais a floresta

    amaznica d lugar s queimadas e

    pastagens, transformando a paisagem

    em um retalho de habitats. Fotografia:

    Jernimo K. Villas-Bas.

    minerao e desenvolvimento.

    Os efeitos dessas aes sobre

    animais e plantas geralmente

    so desastrosos.

    Existem trs tipos principaisde ameaas aos polinizadores:

    a perda e fragmentaodo habitat;

    a degradao do habitat;

    e o uso de agrotxicos

    Embora todas essa ameaas

    sejam de origem humana,

    tambm o ser humano o

    principal responsvel pelas

    aes que podem recuperar o

    ecossistema.

    HABITAT o espao onde seres

    vivos habitam e se desenvolvem.

    um ambiente, geralmente natural,

    onde determinado organismo nasce

    e cresce, pois oferece as condies

    climticas, fsicas e alimentares ideais

    para o desenvolvimento dele.

    Observe que o habitat no se limita

    somente a uma espcie de animal ou

    planta, pois vrias espcies podem

    conviver em um mesmo habitat.

    No existe uma escala precisa para

    o tamanho de um habitat, pois a

    perspectiva sempre ser a dos orga-

    nismos em questo, baseada em suas

    necessidades de sobrevivncia. O ha-

    bitat de um salmo todo o trecho

    de gua, desde o mar at a cabecei-

    ra do rio que ele percorre ao longo

    de sua vida; enquanto que o habitat

    de uma jacutinga ser os limites de

    uma floresta que ela usa para forra-

    gear, reproduzir e nidificar.

    O QUE O HABITAT?

    Para uma ave, o habitat pode ser toda esta mata no interior do Cear;

    enquanto que para um inseto, o habitat pode ser limitado vida dento de

    uma das bromlias que ocupam as rvores. Fotografia: Ileyne T. Lopes.

    Ameaas aos polinizadoresAmeaas aos polinizadores

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas32 33

    Os cerrados brasileiros so um dos

    ecossistemas mais suscetveis invaso

    do capim-braquiria, por conta de

    seu regime climtico e choque com

    as fronteiras pastoris. Fotografia:

    Humberto A. A. Mauro.

    INVASORAS X EXTICAS

    De acordo com a Conveno sobre Diversidade Biolgica,ESPCIE EXTICA toda espcie que se encontra fora de suarea de distribuio natural, como o eucalipto ou o pinheiro

    Pinusno Brasil. J ESPCIE INVASORA definida comouma espcie extica que se prolifera sem controle e passa arepresentar ameaas para espcies nativas e para o equilbriodos ecossistemas, como a tilpia que preda e compete poralimento com peixes nativos. As espcies exticas invasoras sobeneficiadas pela degradao ambiental e so bem-sucedidasem ambientes e paisagens alterados.

    Os dois principais fatores que contribuem paraa degradao de habitats so a presena deespcies invasoras ou exticas e determinadasprticas de manejo do solo.

    Mudanas nas prticas de ma-

    nejo da terra que advm dos

    avanos tecnolgicos, aplicadas

    na busca da paisagem agrco-

    la de maior produtividade e

    melhor rentabilidade, normal-

    mente levam degradao do

    habitat. Tratores e arados cada

    vez mais modernos passam a

    cortar locais anteriormente

    abandonados ou inating-

    veis, reduzindo a diversidade

    de plantas e dos organismosassociados a elas. Herbicidas

    utilizados para o controle de

    ervas-daninhas podem matar

    no apenas a planta-alvo, mas

    toda uma comunidade de plan-

    tas suscetveis, incluindo plantas

    utilizadas por polinizadores.

    A introduo de organismos

    exticos (animais ou plantas

    provenientes de outro bioma,

    por exemplo) tem afetado os

    insetos tanto direta quanto

    indiretamente. Plantas

    invasoras podem degradar um

    habitat ao se alastrarem de

    forma massiva, competindo

    e eliminando plantas nativas

    que, anteriormente, eram

    importantes fontes de

    alimento e reproduo parapolinizadores. comum

    observarmos nos cerrados

    brasileiros a invaso do capim-

    braquiria, que rapidamente

    domina todo o cho de um

    remanescente de mata cercada

    por pasto.

    Degradao do habitat

    Ameaas aos polinizadoresAmeaas aos polinizadores

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    19/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas34 35

    Agrotxicos no so apenas

    um problema limitado aos

    polinizadores em reas

    agrcolas. Sua lenta ao de

    degradao pode estender

    seus danos contaminao

    de outros elementos da

    fauna silvestre, como

    peixes, ou at causar o

    envenenamento de seres

    humanos por consumo de

    gua contaminada.

    superior a 300 mil toneladas,

    fato que torna o pas o

    maior consumidor mundial

    de agrotxicos. Segundo

    a EMBRAPA, nos ltimos

    anos o Brasil aumentou o

    consumo de agrotxicosem 700%, enquanto a rea

    agrcola nacional aumentou

    78% no mesmo perodo.

    Todo esse cenrio alarmante

    explicado pela alta

    lucratividade do setor

    de agronegcio.

    Toneladas dessas substncias

    so aplicadas desde em

    grandes fazendas at jardins

    residenciais. Inseticidas

    matam os insetos (inclusive

    os que forem polinizadores),

    enquanto que herbicidasreduzem a diversidade

    de plantas cujas flores

    alimentam os polinizadores.

    Anualmente so usados no

    mundo cerca de 2,5 milhes

    de toneladas de agrotxicos,

    sendo que no Brasil o uso

    Os danos causados pelos agrotxicos

    vo alm dos ambientais. A prpria

    sade humana pode estar em risco.

    Fotografia: Erik Bastos.

    Dentre todas as ameaas existentes, uma coisa clara: agrotxicos tm um efeito desastrososobre todos os tipos de polinizadores, emespecial insetos.

    Agrotxicos

    O Brasil o lder mundial no consumo

    de agrotxicos e fertilizantes

    qumicos. Fotografia: Erik Bastos.

    Ameaas aos polinizadoresAmeaas aos polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    20/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas36 37

    iro crescer, ao invs de criar

    condies artificiais para plan-

    tas exticas. Uma planta local

    sempre crescer melhor em sua

    regio de origem do que uma

    planta introduzida.

    A qualidade do solo funda-

    mental para a sade do seu

    cultivo. Fertilizantes naturais,

    Primeiramente garanta que

    suas plantas estejam saud-

    veis. Uma planta que possui

    um desenvolvimento vigoroso,

    com o mnimo de perturbao,

    consegue evitar a manifesta-

    o e proliferao de doenas

    e pragas. D preferncia para

    cultivos que estejam adaptados

    s condies ambientais onde

    Existem diversasopes que voc pode

    escolher no intuito deerradicar ou limitara necessidade deagrotxicos.

    Existem alternativas ao uso de agrotxicos?

    Um ecossistema forte e equilibrado

    essencial para o bom desenvolvimento

    de seu cultivo sem o uso de

    agrotxicos. Fotografia: Lucas R.

    Bolzani.

    podem ter dificuldades de

    navegao e orientao para

    encontrar o caminho de volta

    para seus ninhos, ou mesmo

    podem perder a capacidade

    de voar. Outros efeitos podem

    tornar os insetos agressivos

    ou agitados, com movimentos

    lentos, desorientados ou

    at paralisados, fatores que

    prejudicam as atividades de

    forrageamento, acasalamento

    ou nidificao. Esses efeitos so

    resultados de envenenamento

    graduais e indiretos, como o

    contato de abelhas com plen

    ou nctar contaminado trazido

    at o ninho ou usado como

    aprovisionamento para crias.

    insetos menores e menores

    concentraes no ar podem

    mat-los mais facilmente.

    comum apicultores encontrarem

    milhares de abelhas-melferas

    mortas ao redor de suas

    colmeias, aps a pulverizao

    nos cultivos vizinhos. Imagine

    o nmero de abelhas nativas,

    menos tolerantes, que so

    intoxicadas simultaneamente

    e morrem espalhadas pelos

    campos de cultivos, de maneira

    despercebida.

    At mesmo doses no letais de

    pesticidas podem ter efeitos

    nocivos. Abelhas expostas

    a pequenas quantidades

    Se esto voando durante a

    aplicao, os insetos so mortos

    direta e instantaneamente. Se

    eles esto forrageando em um

    campo recentemente pulveriza-

    do, podem absorver as toxinas

    dos resduos que se encontram

    na planta, morrendo de forma

    mais lenta.

    Insetos menores, especialmente

    algumas abelhas nativas, so

    mais sensveis; elas possuem

    uma superfcie corprea

    relativamente maior ao seu

    volume corpreo e, por isso,

    absorvem doses maiores. Desse

    modo, resduos em plantas so

    perigosos por mais tempo para

    O impacto dos agrotxicos

    Insetos so envenenados pelos agrotxicosquando absorvem as toxinas dispersas no ar,bebem nctar contaminado ou coletam plenmisturado ao veneno.

    Ameaas aos polinizadoresAmeaas aos polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    21/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas38 39

    Existem inmeras formas de

    aplicao, desde pulverizadores

    costais, at tratores ou avies.

    Quanto mais localizado for o

    mtodo de aplicao (pulveri-

    zaes manuais, por exemplo),

    menor o dano ocasionado

    pela disperso do agrotxico

    (e maior sua ao contra as

    pragas). Agrotxicos lanados

    de avies pulverizadores podem

    matar at 80% das abelhas

    em forrageio que se encon-

    trem no trajeto, e a nuvem

    de veneno pode ainda alcan-

    ar mais de dois quilmetros

    adjacentes apenas pela ao do

    vento. Alm de ser um mtodo

    destrutivo, a aplicao area

    muito cara.

    Apesar de alguns produtos

    oferecerem instrues para

    proteo de colmeias de

    abelhas-melferas, pouca ou

    importante que a aplicao

    seja realizada durante o pero-

    do em que os polinizadores no

    estejam ativos, ou nas estaes

    do ano em que no haja flores-

    cimento da sua cultura. fun-

    damental que as pulverizaes

    nunca sejam feitas em locais

    onde se encontram ninhos de

    abelhas, plantas hospedeiras de

    lagartas de borboletas ou reas

    onde larvas de moscas e besou-

    ros se desenvolvem.

    Procure treinamento ou super-

    viso antes de aplicar agro-

    txicos em jardins e parques

    urbanos, e obedea s indi-

    caes do fabricante sobre os

    modos de diluio e aplicao

    do produto, alm dos pontos

    destacados anteriormente.

    nas grandes reas agrcolas

    que encontramos as gran-

    des ameaas dos agrotxicos.

    Se voc no possuioutra opo a no ser

    o uso de agrotxicos,procure uma maneirade minimizar osdanos causados aospolinizadores quebeneficiam sua cultura,assim como aos insetosque atuam comoinimigos naturais desuas pragas.

    E se eu realmente preciso utilizar agrotxicos?

    alm de serem completamente

    efetivos, tendem a melhorar o

    solo no apenas pela introdu-

    o de nutrientes, mas tambm

    por aprimorarem sua estrutura

    e seus componentes orgnicos.

    Um agroecossistema com uma

    diversidade suficiente de ele-

    mentos de habitat (matas ou

    plantas nativas em bordas de

    estradas e canteiros) apresenta

    maior ocorrncia de predadores

    e parasitas naturais que contro-

    lam pragas agrcolas, os quais

    normalmente seriam eliminados

    pelo uso de agrotxicos.

    Em propriedades pequenas,

    prticas simples podem ser

    realizadas com eficincia, como

    a catao manual de pragas ou

    pulverizao de leos e repe-

    lentes naturais e tambm a re-

    moo de folhas e outras partes

    doentes da planta.

    Vespas so inimigas naturais de

    lagartas e aranhas, que as caam

    para fornecer alimento s suas

    crias. Fotografia: Rafael Vinicius L.

    Habermann.

    P ti l i i

    Ameaas aos polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    22/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas40 41

    para auxiliar na conservao

    de insetos polinizadores em

    reas agrcolas e, dessa forma,

    contribuir para a manuteno

    dos servios de polinizao

    nessas culturas. Essas prticas

    foram propostas nos planos

    de manejo desenvolvidos com

    apoio do Projeto Polinizadores

    do Brasil para a polinizao

    dos cultivos de algodo, caju,

    canola, castanha-do-brasil,

    ma, melo e tomate.

    as reas agrcolas so muito

    extensas e h carncia de ha-

    bitats para sustentar os polini-

    zadores nativos. medida que

    as reas agrcolas cultivadas

    aumentam, a comunidade de

    polinizadores silvestres tende a

    se tornar escassa e passa a no

    ser suficiente para uma polini-

    zao eficiente.

    Entretanto, existe uma srie de

    prticas que tm sido sugeridas

    Nesses lugares, a polinizao

    no era um fator limitante na

    produtividade das culturas.

    Mas a paisagem de entorno dos

    sistemas de cultivo em muitos

    pases est mudando profun-

    damente e a densidade de

    polinizadores est diminuindo,

    revelando que a polinizao

    ser cada vez menos suficiente

    para atender s demandas de

    oferta e qualidade de alimen-

    tos no sculo XXI. Atualmente

    Houve um tempo em que era comum nonotar os benefcios dos servios ambientaisde polinizao e ainda hoje isso ocorre emdeterminadas reas onde existem populaesgrandes e estveis de polinizadores.

    Prticas agrcolas amigveis

    forma centenas de polinizado-

    res que voam sob a luz do sol

    seriam poupados.

    Agrotxicos sempre tero im-

    pactos negativos sobre poliniza-

    dores, seja por envenenamento

    direto seja por contaminao

    das flores. Para manter o servi-

    o ecossistmico de polinizao,

    a melhor deciso no utilizar

    agrotxicos, mas, se sua cultura

    precisa irredutivelmente, consi-

    dere os potenciais impactos aos

    seus polinizadores e as manei-

    ras de minimizar suas perdas.

    nenhuma ateno voltada

    para os polinizadores nativos.

    De fato, nenhum polinizador

    estar protegido caso nenhu-

    ma ateno seja dada a essas

    instrues. rgos pblicos,

    como prefeituras e agentes de

    sade, tambm devem estar

    atentos importncia do uso

    racional de agrotxicos: muito

    comum observarmos carros de

    nebulizao contra o mosquito

    vetor da dengue percorrendo

    as ruas durante o dia, mas o

    correto seria realizar tal ativida-

    de durante a noite, pois dessa

    O tipo de aplicao de agrotxicos

    reflete diretamente o tamanho dos

    impactos aos polinizadores e ao meio

    ambiente. Fotografias: Erik Bastos

    (costal e trator) e Rafael Vinicius L.

    Habermann (area).

    Prticas agrcolas amigveisPrticas agrcolas amigveis

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    23/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas42 43

    ra florestal ou por recuperao

    de reas degradadas, essencial

    para aumentar o habitat de

    polinizadores, pois favorece a

    conexo de reas de vegetao

    nativa que estavam isoladas.

    Essas medidas so eficientes

    para conservar todos os tipos

    de polinizadores, especialmente

    morcegos e aves, e no apenas

    algumas espcies de insetos.

    A presena de fragmentos flo-

    restais prximos s reas de cul-

    tivo, como Reservas Legais (RL)

    e reas de Proteo Permanente

    (APPs), benfica, pois aumen-

    ta a diversidade e abundncia

    de polinizadores, funcionando

    como abrigo e fonte segura

    para alimentao e nidificao.

    A recomposio da vegetao

    nativa, por aumento da cobertu-

    Manuteno e recuperao da vegetao nativa

    Aqui voc encontrar dezpassos para transformarsua propriedade em umverdadeiro modelo para aconservao de polinizadores.Dependendo de onde suapropriedade se localiza, doentorno dela e do contextosocial da regio, esses passospodem ser mais fceis oumais difceis, mas lembre-seque mesmo um nico passo j melhor que nenhuma ao.

    O que podemos fazer para ajudaros polinizadores?

    Ambientes preservados, como o

    Parque Estadual da Ilha do Cardoso

    (SP), so locais que ainda abrigam

    um grande nmero de espcies de

    plantas e animais. Fotografia: Fbio

    M. Labecca.

    o conjunto de aes que

    possibilita ou facilita a

    atrao e a permanncia

    de polinizadores em reas

    agrcolas, contribuindo para a

    produtividade da cultura e a

    conservao da biodiversidade

    regional. Muitas dessas aes

    so simples e no envolvem

    gastos ou dependem de baixo

    investimento para o agricultor.

    De 2010 a 2015, o projeto global

    FAO/UNEP/GEF CONSERVAO E

    MANEJO DE POLINIZADORES PARA A

    AGRICULTURA SUSTENTVEL, ATRA-

    VS DA ABORDAGEM ECOSSISTMI-

    CA foi executado com o objetivo de

    melhorar a segurana alimentar e nu-

    tricional e os modos de vida por meio

    da conservao e uso sustentvel dos

    polinizadores. Os pases integrantesdesse projeto foram: frica do Sul,

    Brasil, ndia, Gana, Nepal, Paquisto

    e Qunia.

    No Brasil, o projeto ficou conhecido

    como POLINIZADORES DO

    BRASIL e foi coordenado pelo

    Ministrio do Meio Ambiente,

    com apoio do Fundo Brasileiro

    para a Biodiversidade. Muitos

    materiais informativos e educativos

    foram produzidos para diferentes

    pblicos e podem ser acessados

    gratuitamente em:

    www.polinizadoresdobrasil.org.br

    www.semabelhasemalimento.com.br

    www.mma.gov.br/publicacoes/

    biodiversidade/category/ 57-

    polinizadores

    www.funbio.org.br/base-de- dados-

    polinizadores -do-brasil/

    PROJETO POLINIZADORES DO BRASIL

    Fotografia: Marina K. Leme.

    O que soprticasamigveis aospolinizadores?

    Dentre as propostas do projeto

    estava a comparao da diversidade

    de polinizadores entre cultivos

    orgnicos e convencionais de tomate.

    Fotografia: Marina K. Leme.

    Prticas agrcolas amigveisPrticas agrcolas amigveis

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    24/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas44 45

    retangular com o mximo de

    mil metros de largura ou reas

    mais alongadas e estreitas, a

    manuteno de bordas de mata

    nativa e a implantao ou ma-

    nuteno de faixas de vegetao

    nativa entre as reas de cultivo

    beneficiariam no s os servios

    de polinizao, como tambm

    minimizariam a disperso de

    pragas e doenas. Plantios de

    centenas de hectares contnuos,

    paisagens homogneas e longe

    de matas fornecedoras de po-

    linizadores devem ser evitados

    sempre que possvel.

    Os estudos do plano de manejo

    da canola consideram que o raio

    de voo da maioria dos poli-

    nizadores pequeno, poucas

    vezes ultrapassando mil metros,

    e destacam que o ideal que

    os plantios sejam planejados

    de forma que todas as plantas

    estejam dentro dessa distncia

    at a borda de vegetao nativa

    mais prxima, com o intuito de

    favorecer os polinizadores. Para

    tanto, estratgias como uso de

    reas de cultivo menores ao in-

    vs de uma nica grande exten-

    so, reas de cultivo em formato

    Desenho do cultivo e arranjos de plantio

    Remanescentes florestais atuam como

    uma fonte de biodiversidade para sua

    cultura, quando mantidos prximo

    do raio de deslocamento dos animais.

    Fotografia: Carlos Otvio A. Gussoni.

    A RESERVA LEGAL a rea locali-

    zada no interior de uma propriedade

    rural que tem como finalidade o uso

    sustentvel dos recursos naturais, a

    conservao processos ecolgicos e

    da biodiversidade, e o abrigo e

    proteo de fauna e flora.

    As REAS DE PRESERVAO

    PERMANENTE ou APPS socategorias mais restritivas e

    constituem reas especialmente

    protegidas para preservar os recursos

    hdricos, a paisagem, a estabilidade

    geolgica, a biodiversidade e

    seu fluxo gnico.

    Ambas so demarcadas e definidas

    por legislao prpria, mas em resumo

    as reservas legais so definidas pelo

    percentual de vegetao que deve ser

    conservado dentro da propriedade,

    o qual varia de acordo com o bioma

    brasileiro em questo. J APPs so

    demarcadas para proteger elementos

    ecologicamente frgeis ou importan-

    tes da paisagem, como nascentes, riose topos de morro.

    A recomposio da vegetao suprimi-

    da em APPs obrigatria, ressalvados

    alguns usos autorizados e previstos

    por lei. Alm disso, todo imvel rural

    deve manter rea com cobertura de

    vegetao nativa (a reserva legal). A

    lei ambiental brasileira diz que reser-

    vas legais e APPS desmatadas irregu-

    larmente devem ter sua vegetao

    recomposta. Caso esse seja o cenrio

    de sua propriedade, considere utilizar

    plantas nativas que atraiam os polini-

    zadores no reflorestamento.

    Para maiores detalhes, leia a Lei N

    12.651, de 25 de maio de 2012, que

    dispe sobre a proteo da vegetao

    nativa e revogou a Lei N 4.771, de 15

    de setembro de 1965, que instituiu o

    novo Cdigo Florestal.

    RESERVA LEGAL X APP

    J sabemos que cultivos com

    uma maior diversidade e

    abundncia de polinizadores

    visitando as flores aumentam

    significativamente sua produ-

    tividade, em comparao aos

    cultivos com poucos poliniza-

    dores. No caso de cajueiros, por

    exemplo, os cultivos localizados

    at um quilmetro de grandes

    reservas de matas (maiores que

    100 hectares) so os que apre-

    sentam a maior diversidade

    de espcies polinizadoras e as

    maiores produtividades quan-

    do comparadas com reas mais

    remotas. Alm disso, entre as

    culturas prximas de grandes

    reservas de matas, aquelas

    circundadas por pequenos

    remanescentes de mata nativa

    (menores que 5 hectares) pos-

    suem diversidade e abundncia

    de polinizadores ainda maiores.

    Na escolha de novas reas para

    implantao de cultivos im-

    portante levar em considerao

    a existncia de reservas flores-

    tais j estabelecidas nas proxi-

    midades, que possam funcionar

    como fornecedoras de poliniza-

    dores para sua cultura.

    Planejamentoda cultura

    Prticas agrcolas amigveisPrticas agrcolas amigveis

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    25/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas46 47

    fornecem locais para nidificao

    e ainda podem propiciar

    um corredor por onde os

    polinizadores e outros insetos

    benficos para o cultivo podem

    migrar atravs da paisagem

    agrcola. A manuteno

    das matas ciliares, alm de

    favorvel aos polinizadores,

    evita a eroso e o consequente

    assoreamento dos recursos

    hdricos, conservando a

    qualidade e o volume de gua.

    Muitas abelhas e besouros

    nidificam ou colocam seus ovos

    no solo. Entretanto, localizar

    e identificar ninhos desses

    insetos na natureza so tare-

    fas difceis e requerem muito

    tempo de observao em torno

    das reas de cultivo. Portanto,

    identificar e conservar stios de

    ocorrncia de polinizadores

    muito importante. A conserva-

    o do solo necessria para se

    evitar a eroso. Alm disso,

    As abelhas constroem seus

    ninhos em diversos locais. Assim

    importante conservar as reas

    onde eles existem e at forne-

    cer substratos para que novos

    ninhos sejam estabelecidos,

    mesmo que artificialmente.

    Muitas espcies de abelhas

    nidificam em pequenos orifcios

    pr-existentes ou ocos nos tron-

    cos e ramos das rvores. Dessa

    maneira, importante manter

    reas com rvores prximas s

    lavouras, como as reservas le-

    gais e as APPs. Nesses fragmen-

    tos de florestas recomendvel

    tambm a presena de madeira

    em decomposio, onde mui-

    tas espcies de abelhas nativas

    constroem seus ninhos e besou-

    ros depositam seus ovos.

    reas de vegetao perifrica,

    como bordas de campo, cercas

    vivas, margens de estradas

    e de linhas de transmisso

    eltrica e matas ciliares tambm

    Perfuraes de diferentes tamanhos em moures de cercas e pedaos de madeira

    so ideias para atrair abelhas solitrias. Fotografia: Bruno Ferreira.

    Durante dcadas eclogos e

    conservacionistas vm discutindo

    sobre qual a configurao ideal

    para remanescentes de matas e

    reservas naturais. Uma vertente

    defende que o melhor cenrio para

    conservao a existncia de uma

    nica reserva grande, enquanto

    que o outro lado argumenta a favor

    de vrias reservas pequenas. Odebate ganhou o nome de SLOSS,

    sigla em ingls para SINGLE LARGE

    OR SEVERAL SMALL (nica grande ou

    vrias pequenas).

    Investir em uma nica reserva grande

    significa maximizar os esforos de

    preservao de espcies interdepen-

    dentes e mais frgeis, como mamferos

    de grande porte, por exemplo. Por

    outro lado, optar por vrias reservas

    pequenas aumenta a proteo dediferentes tipos de hbitats, que por

    sua vez podem conter configuraes

    diferentes de espcies, alm de

    eventos catastrficos, como fogo ou

    doenas, dificilmente atingirem todas

    as reservas simultaneamente.

    Apesar da questo SLOSS raramen-

    te poder ser aplicada na prtica na

    maior parte do Brasil, uma vez que s

    optamos por conservar o que nos res-

    tou, as novas fronteiras agrcolas queavanam rumo Amaznia permitem

    esse tipo de planejamento.

    O DEBATE SLOSS

    Manter e fornecerlocais para nidificao

    A preservao de matas ciliares

    fornece locais de refgio para a fauna,

    alm de servir como um corredor que

    a conecta para alm dos limites de

    uma propriedade. Fotografia: Hugo R.

    Moleiro.

    Prticas agrcolas amigveis

    Manejo de ninhos de espcies de abelhas sociais

    Prticas agrcolas amigveis

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    26/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas48 49

    manejadas para a produo de

    mel e prpolis.

    Alm do mais, caso voc preten-da estabelecer muitas caixas e

    formar um meliponrio, obser-

    ve a composio de espcies

    nativas da sua regio e outras

    O potencial das abelhas-sem-

    ferro na polinizao alto.

    Caixas-armadilha podem

    ser utilizadas para atrairenxames de abelhas-sem-

    ferro para polinizao da

    lavoura, sendo que muitas

    espcies podem ser inclusive

    Manejo de ninhos de espcies de abelhas sociais

    Caixa racional de abelha-canudo

    (Scaptotrigona) no meliponrio da

    Reserva Extrativista Tapajs-Arapiuns

    (PA). Fotografia: Marcio Uehara-Prado.

    Utilizando a criatividade, diversos ninhos artificiais podem ser montados e

    oferecidos s abelhas, com materiais que eventualmente seriam jogados fora.

    Fotografia: Bruno Ferreira.

    madeira que formam as cercas.

    Caso seja necessrio troc-los,

    sugere-se manter os antigos em

    reas na propriedade. Ninhos

    artificiais de madeira que subs-

    tituem troncos tambm podem

    ser confeccionados. Voc podefazer furos com diferentes di-

    metros em blocos de madeira

    e disponibilizar esses blocos no

    ambiente.

    Outros substratos podem ser

    oferecidos. Muitas espcies de

    abelhas conseguem construir

    seus ninhos dentro de gomos

    de bambus. Para oferecer esses

    ninhos, basta cortar os gomos

    dos bambus de forma a deixar

    um lado aberto e o outro fe-

    chado. Esses gomos podem ser

    distribudos em locais protegi-

    dos do sol, acomodados hori-

    zontalmente. So atradas por

    esse tipo de ninho tambm as

    vespas, que atuam como impor-

    tantes inimigos naturais contra

    pragas agrcolas.

    isso promoveria o revolvimento

    do solo e poderia destruir ni-

    nhos de abelhas e matar ovos e

    larvas de besouros e moscas.

    O suprimento de substra-

    tos para nidificao tambm

    pode ser feito artificialmente

    pelo agricultor. Para abelhas

    e besouros que nidificam em

    madeira, possvel fornecer

    pedaos de tronco ou, ento,

    utilizar os prprios moures de

    necessrio garantir que partes

    do solo permaneam expostas e

    bem drenadas, em reas en-

    solaradas, livres da invaso de

    espcies herbceas dominantes,

    como o capim, e protegidas de

    arao, de gradeamento e de

    pisoteio de gado ou mesmo de

    pessoas. Essas so as reas em

    que os insetos iro nidificar ou

    depositar seus ovos e, portanto,

    tambm no devem ser queima-

    das, tampouco aradas, porque

    Prticas agrcolas amigveis

    So comuns os acidentes com enxames

    Prticas agrcolas amigveis

    MELIPONICULTURA NO BRASIL

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    27/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas50 51

    caractersticas especficas, tais

    como necessidades de alimentos

    e condies climticas, para que

    o manejo seja adequado e a in-troduo dos ninhos no concor-

    ra com outras espcies nativas.

    Deve-se tambm observar a le-

    gislao especfica da atividade

    de criao de espcies silvestres,

    regulamentada pelo IBAMA.

    Abelhas-melferas podem ser

    uma opo interessante, inclu-

    sive pelo retorno econmico do

    mel. Entretanto, lembre-se que

    essas abelhas competem por

    alimento com as abelhas nativas

    e, por serem geralmente mais

    agressivas, acabam expulsandoas nativas. O manejo de col-

    meias deApis m ellifer adeve ser

    cautelosamente estudado, como

    no caso do plano de manejo

    para meloeiros, que sugere uma

    colnia para cada 3.000 plantas.

    A criao de abelhas Apis melli fera , ou seja, a apicultura, dispensada de autorizao do IBAMA, pois trata-se

    de uma espcie extica e domstica. Entretanto, osapicultores, assim como os meliponicultores, devemestar atentos INSPEO INDUSTRIAL E SANITRIA DEPRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL, que abrange produtoscomo o mel, a cera e seus s ubprodutos derivados.O regulamento, conhecido como RIISPOA, encontra-se noDecreto n 30.691 de 1952.

    So comuns os acidentes com enxames

    de abelhas-melferas. Antes de montar

    seu apirio procure informaes

    sobre os melhores locais para as

    colmeias e as tcnicas adequadas de

    manejo. Fotografia: Rafael Vinicius L.

    Habermann.

    MELIPONICULTURA NO BRASIL

    Uruu-amarela (Melipona paraensis).

    Fotografia: Patrcia S. Vilhena.

    As abelhas-sem-ferro, ou melipon-

    neos, ocorrem em grande parte das

    regies tropicais do planeta, e sua

    domesticao uma herana indgena

    presente na cultura brasileira. Dezenas

    de espcies ocorrem em todos os

    biomas brasileiros, entre elas jatas,

    urus, tibas, mombucas, irapus,

    tataras, jandaras, guarupus, manduri,

    entre tantas outras.

    A legislao sobre a meliponicultura

    ainda recente e pouco especfica,

    mas requer do criador o cadastro

    no CADASTRO TCNICO FEDERAL

    DE ATIVIDADES POTENCIALMENTE

    POLUIDORAS OU UTILIZADORAS DE

    RECURSOS AMBIENTAIS (CTF/APP). O

    cadastro simples e gratuito por meio

    do site do Instituto Brasileiro do Meio

    Ambiente e dos Recursos Naturais

    Renovveis IBAMA.

    Para criaes com 50 ou mais

    colmeias, tambm necessrio obterautorizao de funcionamento

    do rgo ambiental estadual.

    Independentemente do nmero

    de caixas, proibida a obteno

    de colnias retiradas da natureza,

    aconselhando-se o uso de ninhos-isca

    ou compra de criadouros autorizados.

    A resoluo CONAMA n 346 de 2004

    e a Lei Complementar n 140 de 2011

    trazem na ntegra todas as disposies

    legais sobre a cultura de abelhas-sem-

    ferro.

    A Poltica Nacional do Meio Ambiente(Lei n 6.938 de 1981) mostra a

    necessidade do cadastro junto ao

    IBAMA.

    www.ibama.gov.br

    Prticas agrcolas amigveis

    Reservar espaos sem uso ao lado de

    Prticas agrcolas amigveis

    Fornecer fontes alimentares alternativas

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

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    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas52 53

    do entorno pode auxiliar namanuteno de alimento oano todo para a fauna depolinizadores.

    Manter espcies ruderais eoutras plantas com flores

    ao redor das plantaes,porque servem como fontesde recursos florais para asabelhas. Nesse sentido,linhas de manutenode rede eltrica, beira deestradas, bordas de campos

    do cultivo, e fontes deplen (rvores como o inge o eucalipto, e palmeirascomo o coqueiro e o dend)nos arredores da plantao.

    Planejar a rotao de

    cultivos que floresam emperodos sequenciais e queofeream tanto recursode plen como nctar.Assim, o estabelecimentode um calendrio deflorescimento dos cultivos

    de manejo para polinizao

    do tomateiro, por exemplo,

    recomenda:

    Ampliar as reas deforrageamento depolinizadores e manter

    flores ao longo do ano.Pode-se obter esseresultado mediante o cultivode plantas fontes de nctar,como leguminosas (feijo,por exemplo) ou asterceas(girassol), nas entressafras

    Reservar espaos sem uso ao lado de

    seu plantio para o crescimento de

    plantas ruderais uma estratgia

    simples, barata e rpida para atrair

    polinizadores. Fotografia: Joo Aristeu

    da Rosa.

    A maioria dos polinizadores se

    alimenta do plen e do nctar

    encontrados nas flores. Assim,

    alm de fornecer locais para aconstruo de ninhos, as plan-

    tas principalmente oferecem

    alimento. Em especial, arbus-

    tos e herbceas tambm so

    fontes de recursos florais. A

    necessidade de eliminar ervas

    consideradas daninhas deve ser

    avaliada, pois determinadas

    plantas podem constituir fontes

    alimentares importantes para as

    abelhas.

    A presena de plantas onde as

    abelhas possam coletar recursos

    prximos s reas de cultivo fundamental, principalmente

    quando consideramos plantios

    em sistema aberto (sem

    estufas) e a grande variedade

    de espcies associada s

    flores desse cultivo. O plano

    Fornecer fontes alimentares alternativas

    Alm de fornecer alimento parapolinizadores, o girassol tem um

    grande potencial econmico pela

    venda de sementes e pode ser

    plantado em reas abandonadas

    ou nas entressafras dos cultivos

    tradicionais. Fotografia: Bruno

    Ferreira.

    Prticas agrcolas amigveis

    Cultivo consorciado

    Prticas agrcolas amigveis

    RUDERAL X DANINHA

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    29/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas54 55

    para diversificar os recursos

    ofertados na rea de cultivo e

    atrair e manter uma gama maior

    de polinizadores. Alm disso,sistemas agroflorestais esto

    entre as melhores prticas para

    se unir economica e ambiental-

    mente o consrcio de culturas

    com restaurao florestal.

    Algumas espcies de visitantes

    do seu cultivo obtm das flores

    dessa cultura apenas parte dos

    recursos de que precisam parasobreviver. Sendo assim, esses

    polinizadores frequentam os

    cultivos em nmeros bem me-

    nores do que o necessrio para

    uma polinizao efetiva porque

    precisam buscar os demais recur-

    sos fora da rea cultivada e, na

    maioria das vezes, no conse-

    guem estabelecer populaesgrandes o suficiente para produ-

    zirem incrementos na produti-

    vidade. O consrcio com outras

    culturas de interesse econmico

    constitui uma boa estratgia

    SAF ou AGROFLORESTA umaprtica bastante antiga utilizada

    pelos indgenas sul-americanos. So

    sistemas sustentveis de uso da terra

    que combinam, de maneira simultnea

    ou em sequncia, a produo de

    cultivos agrcolas com plantaes

    de rvores frutferas ou florestais,

    alm de animais, utilizandoa mesma unidade de terra e

    aplicando tcnicas de manejo que

    so compatveis com as prticas

    culturais da populao local.

    Atualmente os SAFs so

    reconhecidamente modelos de

    explorao de solos que mais

    se aproximam ecologicamente

    da floresta natural e, por isso,

    considerados como importante

    alternativa de uso sustentvel dos

    ecossistemas tropicais.

    SAFs SISTEMAS AGROFLORESTAIS

    Jardins, hortas e pomares,alm de decorativos e deprodutores de alimentos,tambm constituemimportantes fontes de

    recursos florais paraos polinizadores quenecessitam de umadieta diversificada.

    cultivados, bordas de cercase represas podem seraproveitadas para o plantiode espcies ricas em plen,nctar e leo. Embora

    esses stios possam serenriquecidos com o plantiodessas espcies vegetais,muitas vezes basta proteg-los contra o pisoteio pelogado, contra o fogo econtra agrotxicos.

    RUDERAL (que do latim

    ruderis significa entulho)

    o nome atribudo na ecolo-

    gia s comunidades vegetais

    colonizadoras, que se desen-

    volvem espontaneamente

    em ambientes perturbados.

    Geralmente so plantas her-

    bceas ou arbustivas muito

    resistentes, comuns em beirasde estradas, depsitos de

    entulho, terrenos baldios e

    campos abandonados, que

    no representam necessaria-

    mente aspectos negativos s

    atividades econmicas.

    J ERVA DANINHA o termo

    utilizado para descrever uma

    planta, muitas vezes extica,

    que nasce espontaneamen-

    te em local ou momento

    indesejados, podendo

    interferir negativamente

    na agricultura. O conceito

    considerado por eclogos

    como equivocado, por con-

    siderar somente a utilidade

    da planta para o uso huma-

    no. Essa conceituao pode

    diferir conforme a ideologia

    dos profissionais em cincias

    agrrias (agricultura conven-

    cional vs. agroecolgica).

    Ervas e arbustos com flores plantados em jardins ou canteiros trazem harmonia

    para sua propriedade, pelas cores ou por atrarem visitantes como borboletas e

    beija-flores. Fotografia: Rafael Vinicius L. Habermann.

    Prticas agrcolas amigveis

    Conhecer seus polinizadores

    Prticas agrcolas amigveis

    Ambiente livre

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    30/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas56 57

    Portanto, voc mesmo pode

    fazer o acompanhamento da

    fauna de polinizadores de sua

    propriedade de modo simples eobservar se ela est em de-

    clnio ou ascenso ao longo

    dos anos. O Instituto Chico

    Mendes de Conservao da

    Biodiversidade (ICMBio), rgo

    ambiental do governo brasi-

    leiro, disponibiliza guias que

    permitem a qualquer pessoaidentificar e acompanhar a

    fauna de borboletas de uma

    reserva natural, alm de outros

    animais e plantas.

    Dedique um tempo observa-

    o dos polinizadores que visi-

    tam suas culturas. Sozinho, ou

    com ajuda de um agrnomo ouambientalista, voc pode poten-

    cializar o estabelecimento des-

    sas espcies locais atendendo s

    suas necessidades particulares.

    A proposta apresentada

    pelo SISTEMA BRASILEIRO

    DE MONITORAMENTO DA

    BIODIVERSIDADE adota oconceito de monitoramento

    adaptativo, que busca conciliar

    a conservao ambiental com a

    gesto de reservas. Basicamente, o

    monitoramento adaptativo um

    sistema de monitoramento dinmico

    e adaptvel, onde os gestores ou

    proprietrios locais e sua rede de

    colaboradores so capazes de aplic-lo

    por si s com preciso e eficcia.

    As publicaes so gratuitas

    encontram-se disponveis on-line:

    http://www.icmbio.gov.br/portal/

    comunicacao/publicacoes

    Monitoramento in situ da

    biodiversidade:Proposta para um

    Sistema Brasileiro de Monitoramento

    da Biodiversidade (2014)

    Monitoramento da biodiversidade

    Roteiro metodolgico de aplicao

    (2014)

    Guia de identificao de tribos de

    borboletas frugvoras(2014)

    MONITORAMENTO IN-SITUDA BIODIVERSIDADE

    O uso de agrotxicos em

    jardin s ou f azenda s d e

    longe a maior ameaa aos

    polinizadores. Os inseticidasmatam e prejudicam os insetos

    polinizadores, enquanto que

    os herbicidas causam danos s

    plantas que oferecem alimento

    e locais de nidificao ou

    oviposio. Mais detalhes

    sobre prticas agrcolas

    alternativas sem agrotxicos

    podem ser encontrado na

    pgina 39.

    de agrotxicos

    Quanto maior o nmero de cultivos

    em uma mesma rea, melhores so as

    opes de recursos florais oferecidas

    aos diferentes polinizadores.

    Fotografia: Paulo Truffi O. Costa.

    Prticas agrcolas amigveis

    Estratgias coletivas e polticas pblicas

    Prticas agrcolas amigveis

    Saber reconhecer as diferenas

    entre insetos polinizadores

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    31/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas58 59

    para as abelhas nativas, da

    introduo de ninhos de

    abelhas-sem-ferro e da

    oferta de plantas, fonte dealimento para as abelhas,

    nas proximidades das reas

    de plantio. Essas medidas

    dizem respeito ao manejo do

    habitat e no a uma nica

    ou poucas espcies, o que

    compatvel com a grande

    diversidade de polinizadores

    em potencial. preciso

    enxergar a paisagem como

    unidade de sustentabilidade

    que engloba todas as reas

    de cultivo e os fragmentos

    florestais, onde interagem

    os agentes polinizadores ede controle de pragas. Dessa

    forma o manejo extrapola, na

    maioria das vezes, os limites

    de propriedades individuais, o

    que exigiria o esforo conjunto

    de um grupo de proprietrios.

    Visto que a principal ame-

    aa o uso de agrotxicos,

    medidas de sustentabilidade

    devem necessariamente visar diminuio da frequncia

    e intensidade de uso desses

    compostos, a fim de que sejam

    preservadas a sade humana e a

    sade dos polinizadores. Mto-

    dos de cultivo orgnico devem

    ser incentivados, assim como o

    cultivo protegido em casas de

    vegetao, onde o uso de agro-

    txicos pode ser diminudo.

    O dficit de polinizao pode

    ser evitado com manejo das

    propriedades compatvel com

    a manuteno de populaesviveis e funcionalmente

    ativas de polinizadores nas

    reas de cultivo. Isso pode

    ser conseguido mediante a

    conservao do solo, da oferta

    de substratos de nidificao

    entre insetos polinizadores,

    inimigos naturais e possveis pragas,

    como um percevejo-da-semente

    (Lygaeidae) sobre uma flor, um fator

    fundamental para o entendimento de

    seu agroecossistema. Fotografia: Sara

    C. Marques.

    Concluses

    Prticas agrcolas amigveis

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    32/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas60 61

    geram resultados satisfatrios

    imediatos. Blocos de madeiras

    perfurados podem atrair

    abelhas em questo de dias,

    assim como um canteiro de

    flores atrair borboletas,

    moscas e besouros na primeira

    florada. Ao longo do tempo,

    voc conseguir aprimorar

    seus esforos de conservao

    de polinizadores e ir notar

    um aumento na diversidade

    e abundncia de insetos e

    tambm na sua produtividade.

    Se voc faz uso de agrotxicos,considere as alternativas;

    se seus vizinhos tambm o

    utilizam, converse com eles

    sobre a melhor sada, ou at

    empreste a eles uma cpia

    deste manual.

    medida que voc pensa sobre

    onde criar seu habitat para

    polinizadores e pondera quan-

    to esforo pretende dedicar

    a essa tarefa, lembre-se que

    existe uma vasta lista de aes

    que podem ser realizadas e que

    optar por qualquer uma delas,

    por mais simplista que parea,

    ainda melhor que no realizar

    ao nenhuma. Um habitat per-

    feito para polinizadores possui

    trs pr-requisitos bsicos: uma

    rea rica em flores para alimen-

    tao; um nmero generoso delocais para nidificao e muitas

    plantas e abrigos adequados

    para deposio de ovos.

    Muitas vezes, aes simples

    so as mais bem-sucedidas e

    Insetos polinizadores so pe-

    quenos e passam facilmente

    despercebidos, mas sua con-

    tribuio para a sobrevivncia

    do homem, animais silvestres

    e plantas enorme. Aes

    que protejam e promovam

    essas comunidades so fun-

    damentais. Voc pode ajudar

    a conserv-los fornecendo

    habitats adequados, ninhos

    e alimentos. Assim, as ideias

    contidas neste manual podem

    ser facilmente adaptadas a

    uma variedade de locais, desdequintais em residncias dentro

    de uma grande cidade, jardins

    pblicos em escolas ou praas,

    ou reservas naturais e parques,

    assim como em propriedades

    agrcolas.

    Aprimoramento daregulamentaoespecfica para a criao

    de espcies de abelhas-nativas-sem-ferro,objetivando a polinizaoe a meliponicultura comoatividade complementarde renda.

    Linhas de crditopara implantao ecomercializao de

    cultivos orgnicos e livresde sementes transgnicas;

    Incentivo ao cultivoprotegido em sistemasagroflorestais (SAFs)ou consrcios, pormeio de capacitaodos agricultores efinanciamentos;

    Apoio a aesextensionistas que visemlevar o conhecimentocientfico e prticas de

    manejo de polinizadoresaos agricultores. Apoios organizaes deagricultores que adotemprticas compatveiscom a conservao depolinizadores;

    Nesse sentido, polticas

    pblicas voltadas para o

    desenvolvimento sustentvel

    permanecem importantes enecessrias, como as destacadas

    no plano de manejo para a

    polinizao do tomateiro:

    Referncias Projeto Polini adores do Brasil

    Referncias Projeto Polinizadores do Brasil

  • 7/25/2019 Conservao e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel

    33/37

    Manual de boas prticas agrcolasManual de boas prticas agrcolas62 63

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    WADT, L. H. O., CAVALCANTE,

    P. M. D. M. C., SANTOS, A. C.

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