prolegômenos da liberdade
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Produção Textual de Português IBacharelado em TeologiaFaculdade Luterana de TeologiaTRANSCRIPT
FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA - FLTCurso: Bacharelado em TeologiaDisciplina: Português IProfessora: Ma. Marilze Wischral RodriguesEstudante: Joel Henrique Pavan
Atividade: Produção de Texto
Prolegômenos da liberdade
Conquanto muito se fale sobre liberdade, à luz dos mais variados pretextos e contextos,
poucos se dão conta de um inexorável paradoxo: o ser humano não tem outra opção, senão a
de ser livre. A servidão à liberdade é imanente à própria natureza do ser humano, é valor
fundamental sem o qual se aleijam todos os outros, constituintes da racionalidade. Sem
liberdade o homem é coisificado e, portanto, negá-la a alguém é negar-lhe sua própria
humanidade. Vale dizer que depreende-se daí a hermenêutica legitimadora de diversos regimes
escravocratas: quem não é considerado gente, dentro dos padrões de determinado grupo social
hegemônico, prescinde da liberdade e por isso pode virar propriedade de alguém.
Indubitavelmente, o ônus da decisão acompanha a existência do ser. Mesmo abster-se
em decidir implica uma escolha pensada, refletida e ponderada, de um indivíduo que traz
consigo um aporte de valores indissociáveis de seu orbe particular. Apologistas da ideologia de
gênero, por exemplo, têm suas posições fundamentadas por um fulcro ético e moral divergente
tanto daqueles que se opõem, quanto dos que não se importam com o assunto. Fica claro a
interdependência, para além da preponderância, do exercício da liberdade em relação aos
outros valores que parametrizam e justificam determinadas escolhas.
Ao fruir sua inevitável condição, o homem estabelece mecanismos para ordenar sua
convivência em sociedade, construindo códigos morais, princípios éticos e leis tácitas que dão
origem a um modo de vida peculiar. Da multiplicidade de expressões sociais desenvolvem-se
critérios distintos para julgar e escolher. Logo, aí está o dilema que se apresenta ao ser que é
livre: conviver com quem interpreta o mundo de modo infenso ao seu.
A habilidade social mediadora deste conflito chama-se respeito. Paralelo à liberdade, é
o valor que se interpõe entre perspectivas incompatíveis. O respeito é o princípio que propicia
coexistências que não afrontam os limites de cada ser. Porém, não se trata de pasteurizar
antagonismos em um relativismo homogeneizado e ilógico, mas de procurar entender o outro
simpaticamente, considerando seus conceitos e preconceitos, sua origem e suas experiências.
Dessarte, as palavras de Jesus Cristo, registradas nos evangelhos, contribuem de forma
profícua neste entendimento: amar o próximo como a si mesmo, mais do que um mantra
cristão, é o fio condutor de qualquer concepção ética que tenha por virtude o apreço pela
humanidade. O respeito e o amor são os prolegômenos da liberdade, pressupostos básicos e
fundamentais que facultam o gozo pleno da singular soberania humana. Sem eles, a liberdade
transforma-se muito facilmente em abuso autoritário e egocêntrico, apequena e vilipendia a
vida e a sociedade, solapando do homem, inclusive, sua atávica prerrogativa de ser livre.