projeto ouro verde

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Edição 1 - Ano I - Outubro

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Fazenda Minchelin, Igrapiuna, Bahia

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Page 1: Projeto Ouro Verde

Ediçã

o 1

- Ano

I - O

utub

ro

Page 2: Projeto Ouro Verde
Page 3: Projeto Ouro Verde

MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 03

Índice

Diretor TécnicoMarcos Vinícius Pinheiro

do Prazo

Diretor de ComunicaçãoFernando Bortolin

Diretor ComercialFernando Cury

Jornalista ResponsávelFernando Bortolin MTB: 20.658Projeto Grafico e Diagramaçao

André Luiz Pache

Expediente

4 - Editorial

6 - A experiência no passado

12 - A Fazenda Ouro Verde

13 - Oproblema e a solução

15 - A lógica do SAF

16 - Cooperverde, a Cooperativa Ouro Verde Bahia

18 - A força do cooperativismo

20 - Kevin M. Flesher, o semeador

24 - A ciência em busca da perenidade da hevea brasilienses

27 - De Igrapiúna para o mundo

29- A perenidade da hevea brasilienses

30 - Agricultura Familiar

31 - Como é feito o programa

32 - O segredo do sucesso

34 - O corte certo, no tempo certo

36 - Treinamento e assistência, a base do sucesso!

39 - Manoel benedito caroba

43 - Espírito Santo também quer os clones

44 - Beneficiando o sal da Terra

46 - O dia a dia da PMB

47 - Desmanchando os blocos de borracha in natura

50 - Teor de borracha seca, do DRC

51 - Investimentos

52 - Rotatividade na PMB

Edição I - Ano 1 Outubro 2012

Redação, publicidade, circulação e administraçãoRua Ester 291, Sala 4 – Santo André (SP)Fone: 55 11 4432.1173

Page 4: Projeto Ouro Verde

ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL04

Na maior parte das vezes quando olhamos paraum pneu vemos apenas e tão somente uma bor-racha preta com um furo no meio.Nesse sim-ples olhar nem nos damos conta do enorme

e incomensurável número de variáveis implícitase explícitas em sua construção, tais como osquesitos de tecnologia, de matérias-primasnecessárias para sua confecção, do investimen-to em máquinas, em ferramentas, em treinamen-to do capital humano, a questão da logística, dacomercialização e da montagem e manutenção,bem como de todo o universo complementar quese traduz nele: a bor-racha preta com umfuro no meio (que rodaem nossas bicicletas,motos, carros, camin-hões e sabe-se lá maisonde e sem a qual omundo não gira e amobilidade não existe).

Ao receber o conviteda Michelin para con-hecer a Fazenda OuroVerde, um paraíso fin-cado entre as cidadesbaianas de Igrapiúna eItuberá, localizadas noBaixo Sul da Bahia, dis-tantes 331 km deSalvador, não tínhamosa real noção de quevoltaríamos para SantoAndré, no ABC Paulista,

com uma sensação diferente, em que pese o fatode termos 35 anos nesse segmento do mercado:a de que um pneu não se resume a uma bor-racha preta com um furo no meio, mas a realcerteza de que um pneu é muito mais do que umsimples pneu.

Essa convicção foi consolidada, sem dúvida,não apenas pelo paraíso verde que representa aFazenda Ouro Verde – um projeto originaria-mente da antiga Firestone norte-americana eadquirido pela Michelin francesa -, mas doextremo cuidado, do elevado profissionalismo e

da total abnegação pre-mente nos profissionaisda Michelin Bahia, semcontar o pleno amor aterra, ao que ela propi-cia e aquilo que elamais necessita para ge-rar seus frutos - parausufruto humano -, ocarinho e o cuidadocom a natureza e seubioma.

A equipe da TudoSobre Pneus viu comseus próprios olhos es-se quadro fincado emIgrapiúna e arredores(a região compreende11 municípios, dentreeles Valença, Presiden-te Tancredo Neves, Cai-ru, Taperoá, Nilo Peça-

EDITORIAL

“Quando um pneu é mais que

um simples pneu”

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 05

nha, Piraí do Norte, Ibirapitanga, Ituberá, Igra-piúna, Camamu e Maraú), uma área que remon-ta a época da colonização baiana do século XVIe que ainda hoje conta com um dos menoresÍndices de Desenvolvimento Humano (IDH) doBrasil.

Foram 150 km de estradas bem traçadasrodadas dentro de uma fazenda com 250 km deentroncamentos de terra vermelha como osangue humano, pinçados pelo verde dasseringueiras, o amarelo das bananeiras, o ver-melho do cacau e de um povo compromissadocom o bem estar socioambiental, que empalavras mais simples quer dizer o seguinte:ame a natureza, preserve e cuide do meio ambi-ente que ela responde e rende frutos.

Neste breve editorial o que dizer do ecólogonorte-americano Kevin M. Flesher, gerente depesquisa da empresa francesa que sozinho plantou- com suas próprias mãos - mais de 75 mil mudas deplantas originais na Mata Atlântica baiana, ou deinvestimentos em pesquisa e tecnologia sob aresponsabilidade de um homem chamado CarlosRaimundo Reis Mattos que, em 24 anos de incan-sável labuta fez surgir três clones resistentes a pra-gas que estão fazendo ressurgir a heveicultura naBahia – o governo local quer plantar 100 milhectares de seringueiras no Estado, nos próximos25 anos.

Ainda em testes confinados na França, essesclones podem vir a ser plantados no Sudoeste daÁsia representando uma nova etapa da hevei-cultura mundial ou se quiserem algo mais sim-ples: a perenidade da borracha natural extraídada boa e velha hevea brasilienses.

Mas a Fazenda Ouro Verde não é só isso.Nesse paraíso na Terra há um processo em fran-co estabelecimento de bases sólidas de agricul-tura familiar e um trabalho de reaproveitamentoda mão-de-obra local que já mereceu um objetode estudo da Organização Internacional doTrabalho (OIT).

É por essas e outras que a Michelin e aFazenda Ouro Verde nos deram um novo olharsobre algo que vemos e tratamos a todo instante.

O pneu sempre foi a nossa essência, masdepois dessa experiência vimos que ele não se

resume a uma borracha preta com um furo nomeio. É muito mais do que isso.

Fernando Bortolin e Marcos Vinícius Pinheiro do Prado

Editores da Tudo Sobre Pneus Detalhe da trilha que fica na reserva natural

Foto aérea da região de Camamu no Baixo Sul da Bahia

Foto aérea da cachoeira Pancada Grande, que fica dentro da Fazenda

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL06

No final de 1981, atendendo aum pedido do gerente de pes-soal da Firestone, na época o

Sr. Sebastião Roque Bocaccino,já falecido - com quem tive ahonra e o prazer de trabalhar -,fui para a fazenda de seringuei-ras da empresa, localizada noBaixo Sul da Bahia.

Ela se chamava Fazenda TrêsPancadas e ficava na cidade deCamamu, na Bahia. O nome TrêsPancadas se deve à existênciade uma cachoeira natural dentroda propriedade e a mesma temtrês grandes quedas d’água.

Fui com a missão de acom-panhar os processos do Departa-

mento de Recursos Humanos eavaliar as condições dos empre-gados, com a responsabilidadede não me envolver com eles,pois era intenção da companhiavender a propriedade que já nãoera lucrativa e nem atendia àsnecessidades da empresa naépoca -, fato este que não era doconhecimento dos funcionáriosda fazenda.

Fui de avião para Salvador,minha primeira estada na ci-dade, onde fretei um monomotorpara chegar à fazenda, pois naépoca o caminho era longo e ascondições da estrada eram pés-simas. A pista do aeroporto que

servia à fazenda era de grama etambém era usada como pastopara o gado.

O procedimento do piloto eradar um rasante sobre a pistapara avisar que haveria um pou-so. Então o funcionário respon-sável retirava o gado da pista,enquanto fazíamos um voo pano-râmico sobre a propriedade.

Já com a pista ‘limpa’ efetuá-vamos o pouso. Esse procedi-mento era de praxe e toda vezque retornei à fazenda repetiu-seo mesmo procedimento.

Trinta e um anos se passaramda minha primeira visita à Fazen-da Três Pancadas e indescritívelfoi meu sentimento ao retornar à-quela propriedade.

A bem da verdade, na épocanão me interessei pelo processode cultivo, de extração e de pro-cessamento da borracha natural.

Tive uma noção superficial doprocesso através do então diretorda propriedade, o Sr. EduardHouse, um norte-americano extre-mamente simpático que eu já ha-via conhecido em uma das rarasvisitas dele às dependências dafábrica da Firestone em SantoAndré, hoje pertencente a Brid-gestone, no ABC Paulista.

A experiênciano passadoDa Firestone à Michelin

grandes mudanças

Vista da Igreja Matriz de Igrapiúna

(à esquerda) e foto da cidade de

Igrapiúna no final de 1981 (acima).

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 07

Naquela época, a FazendaTrês Pancadas era uma referên-cia na região, pois a companhiamantinha um hospital que servianão só aos funcionários, mas atoda a população da região, rea-lizando inclusive pequenas cirur-gias.

Os médicos, enfermeiras e de-mais funcionários do hospitaleram empregados da Firestone eprestavam o melhor serviço pos-sível com os recursos que a em-presa destinava. Havia um arma-zém, um clube para os funcioná-rios e escola para as crianças,filhos de funcionários.

A empresa tentava da melhormaneira possível tratar os colab-oradores da fazenda com omesmo tratamento dedicado aoscolaboradores das fábricas e fili-ais no Brasil. Havia festa denatal, com distribuição de brin-quedos para os filhos de funcio-nários de zero a 12 anos, festaque era comentada durante todoo ano. No clube local eram real-izadas festas aos sábados.A em-presa tentava da melhor maneirapossível tratar os colaboradoresda fazenda com o mesmo trata-mento dedicado aos colabo-radores das fábricas e filiais no

Brasil. Havia festa de natal, comdistribuição de brinquedos paraos filhos de funcionários de zeroa 12 anos, festa que era comen-tada durante todo o ano. Noclube local eram realizadas fes-tas aos sábados.

Além da diversão, essesencontros promoviam a integra-ção dos funcionários e deixaramboas recordações, inclusive co-mentada pela Sra. Rita de CássiaMendes dos Santos, que era pro-fessora na escola da FazendaTrês Pancadas e hoje trabalha

como responsável pelo serviçode hotelaria da Michelin. Enfim,dentro da realidade da épocaera um bom lugar para se trabal-har e para se viver.

Meu encantamento pelo retor-no à propriedade, além de traz-er essas lembranças da juven-tude à tona, também foi grandepelo comparativo que pude fazerdas condições em que a pro-priedade se encontra hoje versusas condições da época em que avisitei pela primeira vez, 31 anosatrás. Os prédios que abrigavam

Vila de

funcionários

dentro da

Fazenda da

Michelin

Instalações do antigo prédio onde ficava o hospital Sede do projeto Ouro Verde, onde é feita a recepção

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a administração, o armazém, ohospital estão intactos e bem con-servados, apesar de hoje servi-rem para outros propósitos, aexemplo do prédio do hospitalque hoje é a sede daCooperativa de Cacau, uma cul-tura que na época não havia napropriedade.

O que me chamou muito a a-tenção foram às condições deconservação das estradas inter-nas: 250 km em condições per-feitas de tráfego, com placas in-dicativas em alguns trechos, in-clusive.

Em 1981 tinham algumas es-tradas de acesso aos lotes daplantação, mas trafegar por elasera uma aventura. Normalmente,só os tratores que retiravam a

produção tinham condições detrafegar, mesmo assim, vez poroutra precisavam de socorro.

O Jeep era o veículo mais uti-lizado pelo pessoal de super-visão e chefia, além de camin-honetes 4x4 e, certamente, aextensão das vias não chegava a10% do que há hoje. As con-dições das vias eram tão precá-rias que havia uma ‘piadinha’local que dizia ‘que até sapoatolava por lá’.

A comunicação era extrema-mente deficiente, não só o sis-tema de telefonia que ligava afábrica à fazenda, mas a comu-nicação no interior da pro-priedade, que era feita por rá-dio. Por ser uma região com to-pografia montanhosa, hora o rá-

dio funcionava, hora não. Segun-do relatos da época, não poucasvezes, funcionários foram obriga-dos a dormir no interior da plan-tação, pois o socorro só con-seguia chegar pela manhã.

As vilas de funcionários eramtais como hoje em sua arquitetu-ra, mas atualmente estão muitomelhor equipadas com eletrodo-mésticos, sinal do progresso e doacesso mais fácil a bens de con-sumo, sinal de uma condiçãoeconômica melhor.

A alegria da garotada aoredor das construções continua amesma. Deu-me a impressão denão estarem ‘plugados’ obsessi-vamente a computadores e aindapraticam algumas brincadeirassaudáveis como as crianças da-

Caminhonete da Firestone

aguardando socorro - 1981

Laboratório

de testes da

Usina de

Beneficiamento

ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL08

Page 9: Projeto Ouro Verde

quele tempo, a despeito do cen-tro de formação nas proximi-dades do antigo hospital onde adisciplina computação está dis-ponível e acessível a todos os in-teressados. Está disponível, masnão é obrigatória.

A mata fechada entre as se-ringueiras de antigamente deuespaço a carreiras de cacau,atribuindo um colorido delicadoentre tons de marrom e vermelhodos frutos, uma nova economiaque gera mais renda e se so-brepõe à sazonalidade de umacultura só, um programa dispo-nível e acessível a todos os inte-ressados, promovido graciosa-mente pela Michelin -, fruto deuma cultura de disponibilizar co-nhecimento e interesse por múlti-plos cultivos sustentáveis paraevitar ao máximo a dependênciada monocultura. Nesse quesito, aluz do lampião deu espaço paraa energia elétrica hoje disponívelem toda a extensão da pro-priedade.

Difícil traçar um comparativoda antiga usina de beneficia-mento de borracha com a usinaatual. Mais de 31 anos se pas-saram e muita tecnologia entrouno país após a liberação dasimportações.

Um laboratório acompanhacada passo do processo, certifi-cando a continuidade da quali-dade com equipamentos da mel-hor qualidade e com pessoasque visivelmente são apaixon-adas pelo que fazem. Nesse que-sito, não deixei de notar o orgul-ho que cada um dos funcionáriosda empresa traz no olhar.

As pequenas vilas existentesao redor da propriedade são ir-reconhecíveis hoje. Além dasconcessionárias de veículos no-vos há uma grande quantidadede lojas e oficinas de motocicle-tas que circulam aos milhares e éalgo que chama a atenção.

Não é possível deixar passardespercebido o crescimento e aevolução da região, dotada hojede supermercados, farmácias,restaurantes e uma economiaque cresce a olhos vistos.

Entre tantas diferenças na eco-nomia atual e a daquele tempouma delas está na área da ca-choeira que dava o nome a anti-ga fazenda - que outrora eraabandonada, mas hoje estáaberta ao público como atraçãoe ponto turístico.

Mudou a organização, foiconstruída uma infraestruturapara receber turistas e a manu-tenção e conservação do local éalgo exemplar. A reconstituiçãoda Mata Atlântica original noentorno da plantação mostra queo cuidado com o meio ambientenão é só necessário e politica-mente correto, ele pode gerarempregos, trazer turistas do mun-do inteiro, muito embora a Mi-chelin não se preocupe em fazerdessa nobre atitude uma ferra-menta de propaganda e market-ing.

Resguardadas as diferençaseconômicas, sociais e políticasentre 1981 e 2012, compreendohoje porque Paris é conhecida

Estação

meteorológica

da Fazenda

Ouro Verde

Águas límpidas formam a Cachoeira

Pancada Grande

A casa ao fundo é, na verdade, uma usina

hidroelétrica

Vista parcial da sede do Projeto Ouro Verde

MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 09

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL10

por cidade “Cidade Luz” e o po-vo francês como o mais culto doplaneta. A diferença no trata-mento do problema dado pelaMichelin - que basicamente era omesmo enfrentado pela Firestoneé premente de humanismo.

A gestão da Michelin foi detal forma tão positiva que hojeserve de modelo para tantos out-ros problemas socioeconômicose socioambientais que enfrenta-mos em nosso país.

Tendo conhecido a proprieda-de em 1981 e hoje, 31 anos maistarde, tendo a oportunidade deretornar a ela tenho a impressãode poder escrever um livro, masfaço questão, ainda que de umaforma rápida, de apontar que seesse não é o maior projeto daMichelin no Brasil é de uma inte-ligência invejável.

A Michelin poderia simples-mente ter vendido a maior parteda propriedade e reservado so-mente as áreas de seu interessedireto - que seriam o laboratóriode pesquisas e a usina -, masnão: determinou que mais de30% da área total permanecessecomo reserva florestal, separou a

área de laboratório, de plantiode plantas para pesquisas e dausina de beneficiamento de bor-racha natural e definiu que orestante da fazenda (hoje Fa-zenda Ouro Verde) fosse loteadade maneira que pudesse prover osustento digno de uma família. Eassim foi feito.

Doze lotes de igual tamanhoforam separados para venda.Até aqui, nada de muito diferen-te, mas o grande diferencial foiolhar primeiro para seus fun-cionários mais antigos, aquelesque por esforço próprio, que poramar o seu trabalho, dedicaramgrande parte de suas vidas àempresa - e sabe-se lá quantotempo de lazer e convívio com afamília foi dedicado para solu-cionar problemas de trabalho.

Para esses 12 funcionários fo-ram dadas opções de compra deum lote.

A bem da verdade foram 13funcionários convidados, mas umdeles não teve interesse – e aquime reservo o direito de lembrarque até um baterista deixou abanda dos Beatles, pois achouque ele precisava de um conjun-

Vestiário do campo de

futebol da propriedade

Chalés usados por

pesquisadores e visitantes

Carlos Matos e uma seringueira clone

Muda de enxerto-clone vendida para

agricultores

Page 11: Projeto Ouro Verde

MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 11

to de mais futuro. Enfim, 12 fun-cionários compraram os lotes porum valor realmente simbólico ecom um enorme prazo de carên-cia para iniciar o pagamento -que foi parcelado em oito anos -, mas com o compromisso de nãodemitir um único funcionáriosequer.

Ninguém foi demitido. Pelocontrário, o número de trabalha-dores hoje é 67% maior em fun-ção da inclusão de uma segundacultura que convive perfeita-mente com as seringueiras, que éo cacau e que gera uma receitaconsiderável a seus proprietáriosque, rápida e inteligentementecriaram uma cooperativa parabeneficiar e comercializar o ca-cau produzido, assim como com-prar insumos para todos os co-operados -, baixando sensivel-mente os custos de produção.

Também não há nenhum con-trato que obrigue os propri-etários a vender a produção delátex para a Michelin, que pagapreços baseados nos mercadosinternacionais pelo quilo doinsumo.

Não bastasse isso, a Michelinmontou equipes de treinamento eassistência técnica voltadas parapequenos produtores locais compropriedades no entorno da Fa-zenda Ouro Verde. Inicialmenteforam 50 pequenas proprieda-des, hoje são 800 propriedadese envolvem 32 municípios doEstado da Bahia.

Essa atitude mudou a con-dição econômica de toda a re-gião e no pano de fundo estáuma lição simples: mais vale en-sinar a pescar que dar o peixe,sem querer traçar nenhum para-lelo com soluções políticas.

Os novos proprietários de ter-ras da Fazenda Ouro Verde cri-aram dentro da cooperativa umcentro de treinamento onde estãodisponíveis cursos que vão desde

a operação de computadores atéo enxerto de plantas e formaçãode seringueiros.

Sob esse novo olhar, o homemcomo valor principal, não foiesquecido o cuidado com o meioambiente - na reserva de MataAtlântica da propriedade -, quepoderia simplesmente ter sidoabandonada à sua própria sorte,a exemplo do acontece em áreasdesse gênero no Brasil.

A Michelin investiu no ho-mem, na terra, trouxe um apai-xonado pela natureza – o ecólo-go Kevin M. Fleischer - que plan-tou com as próprias mãos 75 milmudas de árvores nativas, restau-rando a mata original da fazen-da – fato que rendeu um doutora-do em restauração florestal tor-nando o projeto mundialmenteconhecido e recebendo visitas deespecialistas de todo o mundo -,sendo um exemplo a ser seguido.

Em paralelo, os investimentosda Michelin em parceria com oCirad da França, permitiram que opesquisador Carlos Raimundo ReisMattos – um apaixonado pela ciên-cia e pela hevea brasilienses -,desenvolvesse ao longo de 24

anos três clones resistentes a fun-gos e pragas que atacam a planta.

O sucesso da pesquisa podeser expresso em três pontos: osclones representam a perenidadeda planta, a reestruturação daheveicultura na Bahia e a possi-bilidade de ‘salvar’ a extraçãode látex com base em serin-gueiras nos países produtores doinsumo na Ásia, responsáveispor 90% da produção mundial.

Assim como as demais solu-ções encontradas pela Michelinna reestruturação da FazendaTrês Pancadas, transformada emFazenda Ouro Verde, esse proje-to dos clones também é referên-cia mundial e recebe visitas decientistas de todas as partes doplaneta, sendo também umareferência de excelência.

Não tenho palavras paratecer os elogios que essa equipeda Michelin merece.

Só posso agradecer a oportu-nidade de retornar à fazenda, tersido recebido com a elegânciasimples e carinhosa, ter tido aoportunidade de conhecergênios intelectuais a quem tenhoa honra de chamar de amigos.

O cientista

Carlos

Raimundo

Reis Matos

O ecólogo

e PhD

norte-

americano,

Kevin M.

Flesher

Diretores

do projeto

Ubirajara

Swinerd e

Paulo

Bomfim

Page 12: Projeto Ouro Verde

ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL12

Adquirida da antiga Firestonena década de 1980, quandode chamava Fazenda Três

Pancadas, a Michelin rebatizou oempreendimento - até então umapropriedade dedicada à extraçãode borracha natural com base nahevea brasilienses -, como Fazen-da Ouro Verde.

A empresa francesa admin-istrou a fazenda propriamentedita até 2004 quando então

decidiu focar seu negócio em suafinalidade principal: a construçãode pneus.

Mas diferentemente do proces-so de desmobilização adotadopela Firestone - enquanto propri-etária da Fazenda Três Pancadas- a Michelin adotou uma posturadiferenciada para a FazendaOuro Verde.

Baseado no triple bottom line -o tripé que enseja os conceitos

de responsabilidade social cor-porativa e que tem como basepilares de sustentabilidade emeio ambiente -, a Michelinprocurou dotar a infraestruturalocal, seja em termos de poten-cialidade agrícola, seja em ter-mos de potencialidade de seucapital humano, um sistema queensejasse caminhos autossusten-táveis para os novos 'donos' donegócio. Com base nesses princí-pios nascia o Projeto Ouro Verdeque basicamente dividiu a fazen-da de nove mil hectares empartes. A Michelin ficou com aárea da reserva natural, a Usinade Beneficiamento de Borracha,a PMB (Plantações Michelin naBahia), o Centro de Pesquisasentre outras áreas e ofereceu gle-bas, cada uma delas com 400hectares, para 12 de seus fun-cionários.

Essa oferta de terrenos foi feitacom o pressuposto do triple bot-tom line e com uma exigência fun-damental: a não demissão de um

Vista aérea da região em que se encontra o projeto

A Fazenda Ouro Verde

Um exemplo de projeto socioambiental

Page 13: Projeto Ouro Verde

MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 13

F azenda Ouro Verde tinha aofinal da década de 1980 asseguintes questões: era uma

fazenda antiga, com uma mono-cultura susceptível a pragas - ahevea brasilienses -, uma reservanatural de Mata Atlântica - de1,5 mil hectares bastante depre-ciada - 600 funcionários e todauma infraestrutura local -estradas, casas, hospital, usinade beneficiamento dentre outros,com destaque para um centro depesquisa que praticamente sal-vou o projeto.

Dos laboratórios e das ex-periências com clones de heveabrasilienses bancados e pa-trocinados pela Michelin noCentro de Pesquisas da fazendabrotou a salvaguarda para o quehoje se encontra na região: osclones de seringueiras resistentesàs pragas que assolam a culturada seringueira na Bahia.

Descoberto o clone, os exec-utivos da Michelin pararam eraciocinaram: ok, veio a solu-ção, mas mesmo assim nós so-mos uma empresa que produzpneus, o negócio da Micheliné produzir pneus não é pro-duzir borracha natural.

O problema e a Solução

Vista aérea da

sede, hotelaria e

centro de

pesquisa

único trabalhador da fazenda. O empreendimento localiza-se

no chamado Baixo Sul da Bahia,uma região que remonta a épocada colonização do século XVI eque é conhecida como o enigmada Bahia - por ser uma área degrande riqueza em termos de bio-diversidade, mas que ainda hojeé uma das mais pobres do Brasil,com um Índice de Desenvol-

vimento Humano (IDH) inferior atémesmo ao do sertão da Bahia.

A propriedade fica encravadaentre dois municípios, parte emIgrapiúna e parte em Ituberá, etem em seu entorno os municípiosde Valença, Presidente TancredoNeves, Cairu, Taperoá, Nilo Peça-nha, Piraí do Norte, Ibirapitanga,Ituberá, Igrapiúna, Camamu eMaraú, cada uma dessas cida-

des, em sua maior parte, commais de 400 anos de história.

Dentro da propriedade em sihá 250 km de estradas, umareserva natural e uma cachoeira(na área pertencente à Ituberá),aberta à visitação pública, e plan-tações de seringueiras, bananei-ras e cacau (na parte de Igrapiú-na), onde fica a usina de benefi-ciamento de borracha natural.

Page 14: Projeto Ouro Verde

ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL14

Chegado a esse estágio daquestão a solução encontradafoi simples, objetiva e direta:vender parte do negócio, ges-tá-lo com base em pressupostosde responsabilidade social cor-porativa e mostrar ao mundouma solução inédita para umproblema secular do Baixo Sulda Bahia, o desenvolvimento

de um projeto que trouxesseuma solução à monocultura lo-cal, que trouxesse equidadesocial e que fosse autossusten-tável - respeitando o contextoda biodiversidade.

Com esses pilares nascia oProjeto Ouro Verde que em seueixo econômico previa aopção preferencial por novas

culturas locais, além da se-ringueira, tais como o cacau,côco, dendê, piaçava, gua-raná e pimenta, entre outras."A diversificação de culturasfoi uma das premissas funda-mentais para a aplicação doprojeto", lembra o gestor depessoal e comunicação daMichelin Bahia, Paulo RobertoLima Bomfim.

O segundo arcabouço doprojeto era a saída da Mi-chelin do contexto de 'fazen-deira', de 'produtora agríco-la'. "Não interessava à Mi-chelin ser uma empresa agríco-la, mas interessava a comprado látex que seria produzido apartir do renascimento da he-veicultura local, com base nosclones que ela mesma desen-volveu", diz Paulo Bomfim.

No bojo do triple bottomline surgiu o SAF - SistemaAgroflorestal - que tinha comobase a plantação de uma filade seringueiras, seguida poruma fila de bananeiras, segui-da por duas filas de cacau,seguidas por mais uma fila debananeiras e, finalmente, umaúltima fila de seringueiras, umaao lado da outra.

Ou seja, o SAF - SistemaAgroflorestal - quebrava a mo-nocultura da seringueira, abriaa possibilidade de plantio e derenda em duas novas culturaslocais - a banana e o cacau -,num processo que leva emconta a terra, o sol, a capaci-dade e a necessidade dos pro-dutores locais e a geração derenda contínua, além da fix-ação a terra.

Segundo o gestor de pes-soal e comunicação da Mi-chelin, o desenho do SAF com-preende a plantação de 400pés de seringueiras, 900 pésde bananeiras e 900 pés decacaueiros.

Coágulos de borracha natural – in natura - prontas para serem

processadas na Usina de Beneficiamento

Page 15: Projeto Ouro Verde

MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 15

“A banana, além de garantira sombra necessária parao florescimento da se-

ringueira e do cacau, permite aoprodutor obter renda em até doisanos. O produtor vive da bana-na e espera pelo florescimentodo cacau que dá renda a partirde três anos. Com a banana e ocacau ele tem receitas paraesperar pela extração comercialde látex da seringueira, queocorre no sétimo ano de cresci-mento da planta. Depois ele tementre 30 anos e 35 anos derenda contínua com a serin-gueira", diz Paulo Bomfim aodescrever o modelo do SAF -Sistema Agroflorestal.

Segundo ele, na ponta final doprocesso, a banana garante ren-da, o cacau garante renda e aseringueira garante renda.

Descobertos três clones quegarantiam a renovação da hevei-cultura local e criado o SAF, o ou-tro passo dado pela Michelin foi odesmembramento da proprie-dade.

"A Michelin pegou a área denove mil hectares ficou com trêsmil hectares da reserva natural ea área da usina de beneficiamen-to de borracha e dividiu o restanteem 12 propriedades, cada umacom aproximadamente 400 hec-tares e as ofereceu a preços efinanciamentos subsidiados a seusfuncionários locais", descrevePaulo Bomfim.

Segundo ele, muitos não quis-eram ou não se interessaram pelaoferta feita pela empresa.

O gestor de pessoal e comuni-cação da Michelin Bahia ressaltaque a área de reserva natural tem

1,5 mil hectares, mas a Michelinficou com três mil hectares dessaárea, pois dentro do Projeto OuroVerde, tinha como intenção a recu-peração da biodiversidade local.

"Junto com a oferta de vendade lotes proposta pela Michelinvieram alguns pressupostos", lem-bra Paulo Bomfim.

"Cada novo proprietário deve-ria adotar o SAF em suas áreas,não poderia demitir pessoas edeveria incentivar o programa pa-ra outros pequenos proprietáriosno entorno da Fazenda Ouro Ver-de", disse.

Dentro desse redesenho dapropriedade podem ser desta-cadas três áreas bem específicas:a que agrega o Centro de Pes-quisa, a área industrial (com a

Usina de Beneficiamento de bor-racha natural) e também umaárea de plantio de seringueiras ea reserva de Mata Atlântica,todas da Michelin.

Uma segunda área foi dedicadaàs 12 propriedades dos novosfazendeiros da Fazenda OuroVerde, com 400 hectares em média.

Um terceiro conjunto de áreasfoi definido para o Centro Mi-chelin de Referência Ambiental, oProjeto Moradia Nova Igrapiúna,os campos de clones, o Centro deEstocagem, o Departamento Ope-racional de Campo, o Centro deEstudos de Biodiversidade, a VilaOuro Verde e Canário, Viveiros, aFazenda Pau Brasil, a Escola deSangria e as trilhas da Andorinhae do Guigé.

A lógica do SAF

SAF – Sistema Agroflorestal - que reúne plantações de seringueiras,

mescladas com bananeiras e cacaueiros

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL

O engenheiro agrônomo JoséNegrão Roza, que trabalhou17 anos na Michelin Bahia, é

hoje o diretor presidente daFazenda Ipê Rosa - uma das 12propriedades vendidas pelaMichelin a seus ex-funcionários etambém preside a Cooperverde,a Cooperativa Ouro Verde Bahia-, pela segunda vez.

"Nossa cooperativa foi funda-da em novembro de 2004 e contahoje com 23 cooperados. Ao to-do administramos uma área decinco mil hectares e dentro dessaárea temos desde plantações de

seringueiras, bananas e cacau atéconstruções, estradas e a usina debeneficiamento de cacau", des-creve.

"Nossa sede fica dentro deuma área da Michelin. São 10hectares onde temos um poucode seringueiras e a nossa usinade processamento de cacau",explica ele ao destacar quedesde o início a cooperativatem como premissa a aplica-ção do SAF - Sistema Agroflo-restal - e a disseminação dotriple bottom line exigido comopré-condição para a con-

Cooperverde, a Cooperativa

Ouro Verde Bahia

José Negrão Roza é o presidente da Cooperverde

Seringueira

clone em

pleno

processo de

produção

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 17

Definidos os 12proprietários, o novopasso foi a criação daCooperativa OuroVerde.

Ela agregou os novosdonos da terra e afilosofia do SAF, além dedar uma figura jurídicaao contexto do ProjetoOuro Verde e seus novos'fazendeiros'.

Entre as questõespertinentes àCooperativa, PauloBomfim ressalta osuporte à compra deinsumos, a negociaçãocom as liderançassindicais locais, arealização damanutenção dasestradas internas dapropriedade, aarmazenagem eprocessamento decacau, bem como acomercialização dosprodutos de seusparticipantes aomercado, dentre eles olátex de seringueira.

O novo momentostrução do Projeto Ouro Verde,pela Michelin.

"Nosso objetivo é claro. Temosde gerar renda, gerar emprego eincentivar o desenvolvimento re-gional de forma sustentável", diz.

"Desde o início entendemosque não poderíamos e nem dev-eríamos ser um oásis na região,pois sabemos que estamos emuma área com um dos menores ín-dices de desenvolvimento humanodo Brasil e de qualquer forma so-mos impactados por isso", relataJosé Negrão.

"Se você não tem desenvolvi-mento regional sustentável dificil-mente você vai conseguir terpreservação do patrimônio am-biental que o cerca. Se as pes-soas passam fome vão para amata caçar, vão extrair os recur-sos naturais que estão na mata, amadeira, vão explorar de formadanosa o que ainda resta dessepatrimônio ambiental e nesse tipode contexto todos perdem", diz.

Em números, José Negrãodestaca os avanços do ProjetoOuro Verde. Já são 550 fun-cionários contratados, oito empre-sas prestadoras de serviços - nasáreas agrícola, de transporte,saúde e segurança do trabalho -,que somam mais 100 pessoasque trabalham ali.

"Temos uma parceria públicoprivada com duas escolas de ensi-no infantil que beneficia 140 alu-nos. Outros 150 alunos no ensinofundamental e médio estudam nacidade. Temos uma unidade desaúde de família que realiza maisde 320 atendimentos por mês. Emnossa área de ação contamoscom 196 casas, 176 famílias,mais 20 casas de solteiros, umaigreja e cuidamos de toda ainfraestrutura da Fazenda."

Caixas de pré-secagem de cacau da Cooperverde Antigo hospital que hoje é a sede da Cooperverde

A produção de cacau tem como maior

cliente a Nestlé

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL18

É com base nesses conceitos epontos de vista que José Ne-grão Roza destaca a respons-

abilidade da Cooperverde e seupapel de disseminadora daideia. "O simples fato de termosnos agregado em uma cooperati-va nos permite, por exemplo, terum ganho 20% maior no preçoda borracha natural. Se fossemoscolocar o produto individual-mente no mercado não teríamosisso", diz.

José Negrão faz questão deressaltar que a Cooperverde não éobrigada a vender o látex que ex-trai para a Michelin, em que peseo fato de a empresa ter propiciadotodo o quadro existente hoje. "Aprópria Michelin deixa isso bemclaro. Nós podemos negociar comquem quisermos", atesta.

"Financeiramente é interessan-te vender nossa produção de látexpara a Michelin. É até maiscômodo para nós, uma vez que a

usina de beneficiamento fica noquintal de casa", diz, emboracom a cultura do cacau a coisaseja bem diferente.

"Evidente que a Michelin nãotem interesse em produzir choco-late, por isso o cacau já tem outrabase de negociação, sendo aNestlé nossa maior compradora",relata.

Até 2011 a Cooperverde jáprocessou 20 mil arrobas de ca-cau e tem como meta chegar a150 mil arrobas em 2020.

"No ano passado, a safra nãoajudou, mas nesse ano, até maio,estamos 40% acima da meta ini-cial e devemos fechar o ano com40 mil arrobas", disse José Ne-grão.

Em relação às seringueiras, aprodução chega a cinco mil tone-ladas de borracha verde, mas aCooperverde está em processo de

Uma das novidades é o investimento na construção da usina de beneficiamento do cacau que é colhido dentro do SAF

A força docooperativismo

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 19

renovação de boa parte dos serin-gais. "O seringal velho produzentre 800 quilos e 900 quilos porhectare e com os novos clones nósconseguimos elevar isso paraentre 1.000 quilos e 1,1 mil qui-los", afirma o presidente da enti-dade.

Segundo ele já foram renova-dos 500 hectares de SAF nas pro-priedades locais o que permitiráuma produção renovada e cres-cente ao longo dos próximosanos.

Enquanto no Sudoeste da Ásiaos seringais são renovados emmédia a cada 20 anos, no Brasilessa longevidade chega aos 35anos.

Segundo o pesquisador da Mi-chelin, Carlos Raimundo Reis Mat-tos, a grande diferença entre apostura dos produtores asiáticos eos brasileiros reside em uma coisasimples: lá há um mercado ma-duro para a comercialização damadeira de seringueira, algo queno Brasil ainda não existe. Para opresidente da Cooperverde, JoséNegrão Roza, o beneficiamentoda madeira da seringueira é umdos novos potenciais de negóciosem que a cooperativa vem trabal-hando nos últimos tempos.

"Infelizmente o Brasil não temtradição em usar madeira de se-ringueira para a construção demóveis por considerar que esse ti-po de madeira não é de lei, masno Sudoeste da Ásia sabemos queexiste uma indústria especializadano trato desse material", destacaJosé Negrão.

Segundo ele, a Cooperativavem fazendo gestões e buscandomostrar ao mercado que essa ma-deira é interessante. "Estivemosem Botucatu, no interior de SãoPaulo e vimos diversos estudosfeitos pela Unesp. Eles estão bemavançados nessa questão do ben-eficiamento da seringueira, masmesmo lá onde a oferta de

madeira é maior o volume denegócios ainda é baixo. Aqui naBahia só se vende madeira quevem da Amazônia e da MataAtlântica", disse.

Apesar das dificuldades aCooperverde está em negoci-ações com a Fundação Odebre-cht no sentido de trabalhar melhortoda a cadeia produtiva da bor-racha, que envolve não apenas o

seu beneficiamento, mas tambéma questão da madeira.

"Quando o pequeno produtortiver de renovar seu seringal terápela frente o mesmo tipo de prob-lema, por isso estamos tentandoconstruir esse mercado da madei-ra da seringueira, algo que torna-rá questão da renovação dosseringais economicamente muitomais interessante no futuro", diz.

Madeira da seringueira utilizada para queima na caldeira para secagem do cacau da cooperativa

Saca de cacau pronta para o embarqueDetalhe do secador de cacau

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL20

S ete são as universidades quemantém parceria com aMichelin para pesquisas de

biodiversidade na Fazenda OuroVerde. Já passaram por ali 100pesquisadores de 14 países.

Desde 2006 já foram realiza-dos mais de 71 projetos de bio-diversidade local e relativos àMata Atlântica.

"São mais de 15 projetospor ano e mais de 100 pes-quisadores que passam por a-qui", diz o ecólogo norte-amer-icano Kevin M. Flesher, ger-ente de pesquisa da Michelinna Bahia.

Segundo ele já foram cadas-tradas 1.830 espécies nos trêsmil hectares de Mata Atlânticada propriedade, tendo sido reg-istradas cinco novas espécies deinsetos e de plantas que não sãoencontradas em nenhum outrolugar do mundo.

Mas para quem lê parece fá-cil. Todo esse quadro só foi pos-sível com muito esforço de KevinM. Flesher e André Souza dosSantos, seu auxiliar. "Quandoiniciamos o trabalho a mataestava muito degradada. Haviamuita extração de madeira, depalmito e caça. A área estavamuito machucada."

Foram pelo menos 15 anos

Kevin M. Flesher

O semeador

Entrada do Parque Ecológico da Michelin em Ituberá Entrada do Parque da Cachoeira Pancada Grande

André Souza dos Santos e Kevin M. Flesher

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 21

Estrada que dá acesso ao

Parque Ecológico e a

área da Cachoeira

Pancada Grande: atenção

à conservação.

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL22

de trabalho intenso para queFlesher e André conseguissem osresultados que hoje brilham aosolhos de quem vê. "O recomeçoda floresta depende da fauna.Ela é que ajuda a dispersar assementes. O que nós começa-mos a perceber é que ao longodos anos houve um aumento de74% no número de animais sil-vestres aqui."

"Até Sussuarana já encon-tramos na reserva o que é umsinal de que as coisas caminhambem", diz o ecólogo.

Segundo Kevin M. Flesher,animais silvestres que hoje sãovistos na reserva eram dadoscomo inexistentes na série dosúltimos 50 anos na região.

"Aos poucos estamos intro-

duzindo uma cultura de preser-vação entre as pessoas quefazem parte da fazenda e seuentorno", descreve ao citar queuma das formas de enriqueci-mento da fauna e da flora dareserva foi o plantio de novasmudas. "Nós já reintroduzimosna reserva cerca de 93 milárvores e já registramos o surgi-mento de 205 novas espécies",relata o ecólogo com uma sim-plicidade muito grande. Ele,individualmente, já plantou comsuas próprias mãos mais de 75mil mudas de árvores na reservada Michelin.

"Todo o seringal que fazparte da reserva da Michelinestá com plano de abandono",diz o ecólogo ao destacar que

Cachoeira Pancada Grande é um dos destaques local

Placa no interior do Parque

Mata original restaurada

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 23

eles ainda continuam sangran-do, ou seja, continuam economi-camente ativos, "mas vamosabandonar a extração e iremosrecuperar a área com florestanativa", relata.

Em 2005 foi feito um ensaioque acabou fracassando, masdepois de várias tentativas ascoisas estão caminhando muitobem agora. "Já temos uma diversi-dade muito grande de espécies naárea, embora depois dessa exper-iência inicial negativa tenhamosmudado completamente o esque-ma de recuperação da mata."

A nova estratégia adotadapara o reflorestamento da reser-va se baseou em plantar uma

mistura total de espécies, mascom foco no que ele chama demata primária.

"São árvores de madeira delei e de alta diversidade." Se-gundo Kevin M. Flesher já po-dem ser encontradas nessasáreas mais de 45 espéciesdiferentes de plantas. "Normal-mente você precisa investirmuito para reconstruir uma áreade mata primária, precisa tra-balhar muito no tipo e na estru-tura de árvore que você precisaplantar ali. Nós optamos pelasmadeiras de lei", relata o ecól-ogo apontando para a alturade um dos jacarandás planta-dos na reserva.

"Eles são os mais abundantesaqui, embora tenhamos feitodiversas experiências, inclusivecom o espaçamento de cadaplanta. Antes plantávamos asnovas mudas a cada 3,00 met-ros e hoje entre 5,00 e 6,00 met-ros de distância."

Kevin M. Flesher deixa trans-parecer sua alegria quando citao grande número de tucanos ede macacos presentes na reser-va. "Isso representa que elesestão reencontrando um biomaque voltou a existir e os bichosda mata são fundamentais parao carregamento de sementes esua germinação por toda aextensão da reserva", afirma.

Mata nas duas margens recuperada Vista de parte da reserva ecológica da Michelin

Início da Trilha das AndorinhasVista de parte da reserva nos arredores da cachoeira

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL24

Nós da Tudo Sobre Pneus temosvisto e divulgado as diversasiniciativas de empresas pri-

vadas, centros de pesquisa e uni-versidades ao redor do mundo embusca de alternativas sustentáveisà borracha natural extraída combase na hevea brasilienses - aplanta base que deu início aoprocesso de construção dos pneusmodernos, a partir do látex deseringueiras.

Entre as iniciativas em cursoestão estudos e projetos de pesqui-sa sobre o Dandelion (mais con-hecido aqui como dente de leão),do Guaiúle, arbusto originário do

norte do México e Sul dos EstadosUnidos, bem como a corrida pelodesenvolvimento de borracha sin-tética com base na manipulaçãode biomassa visando à polimer-ização de isopreno, chegando atémesmo à manipulação do óleo desoja como substituto sustentável aolátex de seringueiras.

Mas a Michelin fez, em espe-cial, uma aposta no Baixo Sul daBahia: a pesquisa contra os malesque acometem os seringais baia-nos - principalmente com o cha-mado mal das folhas.

Um dos homens centrais noprocesso de melhoramento gené-tico de clones de seringueiras (he-vea brasilienses) da Fazenda OuroVerde é o pesquisador da Michelin,Carlos Raimundo Reis Mattos.

Com o apoio de técnicos daCirad (Centro de CooperaçãoInternacional em Pesquisa Agronô-mica e Desenvolvimento), de Mont-pellier, na França, Carlos Mattosobteve, com sucesso, três clonesde seringueiras resistentes às pra-gas na Bahia, mas deu trabalho, acomeçar pelo isolamento de umacoleção de 72 raças de fungosque acometem os seringais emIgrapiúna.

"Fizemos mais de 750 mil poli-merizações", diz ele ao destacarque a equipe da Fazenda OuroVerde chegou a polimerizar 70 milárvores no curto espaço de doismeses. Mas isso foi apenas o co-meço.

"De cada 60 mil polimeriza-ções nós escolhemos três mil indi-víduos que foram recolhidos eplantados em um campo de avali-ação e que ali permaneceram porquatro anos. Ao final desse prazo,selecionamos 100 indivíduos, osmais resistentes e com eles real-izamos testes precoces de pro-dução. Esse teste precoce teve porfinalidade reunir os maiores poten-ciais de produção e ai fizemosuma nova seleção e plantamos em

A ciência em buscada perenidade da

hevea brasilienses

Coleção de fungos guardados no laboratório

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 25

um novo campo de experimenta-ção com as mesmas repetições,algo que levou ao redor de cincoa 11 anos", relata.

Mas para quem pensa que otrabalho acabou ledo engano.

"Desses 100 clones que sele-cionamos para essa fase, real-izamos uma nova seleção, de ape-nas 10 clones. Pegamos esses 10clones mais resistentes e os planta-mos em uma nova área de experi-mentação, algo que levou maisuns 15 anos", destaca o pesqui-sador da Michelin.

Acabou? Não. "Desses 10 clo-

nes nós fizemos a seleção de trêsmais resistentes. Ou seja, de umtrabalho inicial com 60 mil clonese passados entre 24 e 30 anoschegamos a três clones potenci-ais", diz Carlos Mattos, um pes-quisador de fala mansa que apon-ta o dedo, em meio ao barro e alama, em tom professoral para ca-da seringueira como se elas fos-sem suas filhas.

"Isso aqui é uma coisa muitointeressante porque cada árvoreque você está vendo aqui é umindivíduo geneticamente diferentemesmo que venha a ter um mesmo

pai ou uma mesma mãe", diz eleao abraçar umas das seringueirasda longa fila de clones plantadospara experimentação presentes nocaminho.

"Nós selecionamos duas var-iedades de seringueiras. Uma quevai ser o pai e outra que vai ser amãe e cruzamos. Então vai ter ofluxo na árvore mãe - que recebeuo pólen - e vamos ter os frutos deseringueira resultado da poliniza-ção. Cada árvore contém, cadauma, três sementes e cada sementedessa é uma planta que pode ter10, 100 frutos, tudo depende do

Folha de seringueira atacada por fungo

O projeto realizado pelaMichelin na Fazenda Ouro Verde jáfigura entre os sonhos de consumode muitos pesquisadores e jovenscientistas brasileiros e do exterior.

Para atender essa demandacrescente por estudos científicos quepassem pelo bioma local, aMichelin realiza a seleção depropostas de pesquisa através deeditais junto às universidades ecentros de estudo em todo o Brasil.

Os projetos devem apresentarem sua metodologia algum tipo decoleta de dados a ser feita naReserva Ecológica da Michelin(REM) na Bahia.

Existem verbas para bolsas (IC,mestrado e doutorado), ajuda decusto de transporte e material decampo, mas a empresa nãofinancia materiais permanentes,como GPS, computadores eequipamentos e materiais de

laboratório. Os projetos que focarem grande

esforço de campo recebem apreferência na avaliação, destacainforme da companhia.

Até 2010 a Michelin já haviaapoiado 56 pesquisas do gênero,em parcerias com diversasuniversidades, trabalhos esses queresultaram em monografias,dissertações, teses e artigoscientíficos.

Celeiro de pesquisas

Clone afetado pelo vírus em plena produção Campo de clones da Michelin

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL26

número de polinizações que fize-mos. Mas se a gente tiver 100 fru-tos nós vamos ter 300 sementes eessas 300 sementes, cada uma,dará origem a uma nova planta ecada uma delas é geneticamentediferente, mesmo sendo irmãs", ex-plica ele entre uma árvore e outra.

"E o que nós queremos?", ques-tiona.

"Nós queremos aqueles indiví-duos que herdaram os genes bonsdo pai e da mãe. Tem uns que pro-duzem mais, mas não resistemporque são mais susceptíveis aomal das folhas. Tem os que sãomais resistentes. Portanto, temosde filtrar os que herdaram os bonsgenes de produção dos que sãomais susceptíveis. Geralmente sãoos clones asiáticos e os genes deresistência de um clone sul-ameri-cano que nós envolvemos nocruzamento", diz.

"Quando eu seleciono uma var-iedade resistente no campo eu tra-go aqui para o laboratório porqueeu quero ter certeza de que a resis-tência que ocorreu no campo éverdadeira. Pode haver um esca-pe", afirma.

"A experiência continuada nosmostra que 20% das variedadescoletadas no campo não passamnos testes, mas 80% sim, e 80% ébom demais."

Segundo Carlos Mattos "esse éum trabalho exaustivo, mas o que nosdeixa felizes é que chegamos ao fimdo processo com três clonesresistentes e cujas seringueiras jáestão sangrando em escala comer-cial", relata ele olhando para o serin-gal. "Tem que gostar muito, tem queter muita vontade de fazer porqueleva muito tempo, mas depois de 20anos vem à consagração de lançartrês clones que permitem ao Brasilretomar o plantio dessa cultura emáreas úmidas - que geralmente sãoonde estão os produtores mais pobrese que precisam de ajuda - e vocêchega e diz: Pô, que bonito isso!". Placa no campo de clones

Banner com o

processo de

produção de

clones

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 27

Os clones pesquisados,desenvolvidos, plantados e,comercialmente produzindo no BaixoSul da Bahia, já são de conhecimentodas principais autoridades do mundoda borracha natural.

A afirmação é do pesquisador daMichelin, Carlos Raimundo ReisMattos, que apresentou em trêsmomentos distintos o desenvolvimentodos clones e os clones propriamenteditos para celebridades do setor depesquisa e desenvolvimento como opresidente do 'The InternationalRubber Research and DevelopmentBoard (IRRDB)', James Jacob, o diretordo board da Malásia Rubber, DrAbdul Aziz, que também é secretáriogeral do IRRDB.

Para quem não sabe, o IRRDB é amaior rede de pesquisa edesenvolvimento de borracha naturaldo mundo. Foi fundada em 1934 ereúne institutos de pesquisa emborracha natural em todos os paísesprodutores do insumo, tendo comoobjetivos compartilhar experiências,partilhar recursos e evitar aduplicidade de pesquisas.

"Também apresentamos os clonespara os técnicos do Cenargen, oCentro Nacional de Pesquisa deRecursos Genéticos e Biotecnologia,ligado ao Embrapa, e parapesquisadores brasileiros, como o Dr.Paulo Gonçalves e a Dra. Sueli Melo",diz Carlos Mattos ao relatar a alegriacom a qual os cientistas epesquisadores tiveram com o sucesso

obtido pela Michelin em Igrapiúna. "Quando o Dr. Aziz viu os clones

plantados e sangrando látex ele atéchorou", narra o pesquisador daMichelin ao destacar a impossibilidadede se levar esses clones imediatamentepara a Ásia. "Antes disso sãonecessários muitos testes, uma vez queuma planta com doença levada daquipode infectar todos os seringaisasiáticos", afirma. No caso do Brasilnão há esse risco e clones resistentesaos microciclos desenvolvidos naBahia já estão em posse depesquisadores paulistas, como o Dr.Paulo Gonçalves, que os avalia parapossível implantação no Vale doRibeira, no interior de São Paulo.

"O Dr. Paulo trabalha commelhoramento genético e está embusca de alternativas para aheveicultura de São Paulo, o grandeprodutor de borracha natural noBrasil. O Vale do Paraíba é umexcelente campo de trabalho paraesses clones uma vez que eles sãoresistentes a áreas úmidas e o Dr.Paulo levou nossos clones para lá afim de serem testados. Essaexperiência começou em abril desteano (2012) e entendemos que acultura da seringueira pode auxiliarna redução da pobreza local, uma vezque ela gera renda de forma perene, éuma cultura rentável e que fixa ohomem na terra. Acreditamos quenossos clones podem mudar o perfildo Vale do Paraíba e elevar aqualidade das pessoas que lá vivem."

De Igrapiúna para o mundo

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL28

Campo de clones

Seringueiras

Clone e RIM

600 infectadas

com o fungo – é

nítida a

diferença no

diâmetro do

caule

Todas as

seringueiras são

da mesma idade

– as mais finas

não são clones e

fica clara a

diferença.

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 29

Por trás do arraigado amor e totalcomprometimento pelo que faz, opesquisador da Michelin, CarlosRaimundo Reis Mattos, mostra váriasquestões que perpassam o sucesso dapesquisa realizada em parceria com aCirad francesa: a da perenidade de umaplanta cujo potencial econômico envolvenão apenas as questões das grandesindústrias que demandam esse tipo dematéria-prima, mas muito mais que isso,a sobrevivência da hevea brasilienses,uma planta vista hoje como de futuroincerto em meio a pragas e em meio aopotencial de geração de látex para suprira demanda de consumo – sem contar oseu aspecto social e econômico para ospequenos produtores.

“Alguns países já demostraramespecial interesse por nossos clones”, dizCarlos Mattos, ao destacar a Colômbia eo Equador, na América do Sul, mastambém produtores e países asiáticos.

“Ainda não podemos levar essesclones para a Ásia porque eles precisamser testados à exaustão, pois se de umlado buscamos a perenidade da planta,por outro uma avaliação errada podesimplesmente erradicar as espécies doSudoeste Asiático. Mas já estamos comintercâmbios firmados aqui na AméricaLatina com universidades e centros depesquisa da Colômbia, por exemplo.”

No Brasil, pesquisadores do Rio deJaneiro e São Paulo vão à Bahia pelomenos duas vezes ao ano, sendo que aUnicamp, em Campinas, também contacom pesquisadores envolvidos com osclones da Michelin.

Segundo Carlos Mattos, clonesdesenvolvidos em Igrapiúna já estão

devidamente postados em centros depesquisa da Michelin na França. “Essesclones estão em quarentena, digamosassim, sendo pesquisados e dentro dealguns anos poderemos ter certeza deque podem ser adaptados às culturas doSudoeste da Ásia”, relata o pesquisador.

Carlos Mattos salienta que aqui mesmono Brasil já há gestões para aimplantação dos clones desenvolvidos naBahia. “O governo baiano já criou umprograma em que pretende plantar 100mil hectares de seringueiras no Estado,nos próximos 25 anos”, destacou aolembrar que o Espírito Santo segue omesmo compasso.

“O governo do estado do EspíritoSanto também já se manifestou favorávelao plantio de nossos clones nos seringaiscapixabas, bem como a criação de novasáreas de plantio no futuro”, relatou.

Para o pesquisador o sucesso com oplantio dos clones representa não apenasa perenidade da hevea brasilienses, masum novo impulso à heveicultura nacionale internacional. Basta dizer que umaseringueira pode chegar a 30 metros dealtura, ter uma vida útil superior a 35anos e a cada processo de sangria –feito de três em três dias -, chega aproduzir 900 mililitros de látex porárvore, ou 9,0 quilos de látex por mês.

“O Brasil pode ser tornarautossuficiente em termos de produção deborracha natural”, diz Mattos aodestacar que na Fazenda Ouro Verde aprodução média por hectare, com osnovos clones, deu salto de 1,6 toneladasde borracha seca por hectare no anopassado para 1,9 toneladas por hectarede borracha seca neste ano.

A perenidade da hevea brasilienses

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL30

Odesenho da sustentabilidadeempreendido na FazendaOuro Verde tem na agricul-

tura familiar uma de suas pe-gadas socioeconômicas mais

relevantes dentro do conceito dotriple bottom line - tripé de sus-tentibilidade que norteia as ba-ses de ação da Michelin emIgrapiúna e região.

Segundo o engenheiro agrô-nomo e gerente de operaçõesagrícolas da Michelin Bahia,Ricardo Cabral Júnior, a em-presa é uma das participantes

AgriculturaFamiliar

Antiga casa e

atual

depósito em

uma das

propriedades

do programa

O gerente de

operações

agrícolas, Ricardo

Cabral Jr.

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 31

Segundo o gerente de oper-ações agrícolas da MichelinBahia, Ricardo Cabral Júnior, oprimeiro passo é a realização deuma palestra nos municípios emque os agricultores demonstraminteresse. "Fazemos questão demostrar que o programa não seresume às seringueiras, mas atrês culturas que permitem aoagricultor obter renda até que aprodução de látex se inicie", diz.

Vale lembrar que uma plantade seringueira leva sete anospara iniciar a produção emescala comercial e a Michelinsabe que o pequeno produtornão pode esperar tanto tempoassim para subsistir e gerarrenda para sobreviver.

Para suprir esse tempo dematuração da planta, comercial-mente falando, há o incentivo aoplantio de banana (que além derenda gera sombra necessáriaao florescimento e crescimentoda seringueira) e ao plantio decacau (que leva três anos para

gerar renda ao produtor). "Todas essas informações

são passadas dentro do con-ceito do SAF - Sistema Agroflo-restal - criado pela Michelin",diz Ricardo Cabral. "Mostra-mos ao produtor que ele po-derá ter renda a partir do se-gundo ano com o plantio dabanana, no terceiro com o ca-cau e a partir do sétimo ano,com a banana, com o cacau e

com o látex de seringueira",descreve.

"Daqueles 50 agricultores queiniciaram o programa, todos jácomeçaram a ter renda nas trêsculturas", ressalta ele ao destacarque o controle maior está nasmãos do Banco do Nordeste."Sem os recursos do banco e aadesão dos produtores às regrasdo programa não é possíveldesenvolvê-lo", afirma.

Como é feitoo programa

Fruto maduro do cacau, pronto para

beneficiamento

Cacaueiro plantado dentro do Sistema

Agroflorestal

mais ativas do programa deagricultura familiar local, umaação que também conta coma participação da Secretariade Agricultura do Governo daBahia, da Empresa Baiana deDesenvolvimento Agrícola(EBDA), da Secretaria dePlanejamento Estratégico daBahia (Seplae) e do Banco doNordeste.

"Demos início a essa açãoem 2004 através da assinaturade um protocolo de intençõesque permitiu a realização dos

primeiros plantios de clonesdesenvolvidos pela Michelinem propriedades de pequenosprodutores locais localizadasno entorno da Fazenda OuroVerde", diz.

O trabalho envolveu inicial-mente 50 produtores locaisque receberam financiamentosdo Banco do Nordeste e rece-beram mudas de clones deseringueiras da Michelin, alémde mudas de cacau, fornecidaspela biofábrica de cacaulocal.

Do processo embrionárioiniciado em Igrapiúna, Cama-mú e Ituberá, o programa deutão certo que hoje já atendemais de 800 produtores locaisque têm em suas propriedadesplantações de banana, serin-gueira e cacau, num projetoque já benefia 1.000 famíliasem 32 municípios do estadoda Bahia.

Isso mesmo: 32 cidades jáintegram o programa de agri-cultura familiar incentivadopela Michelin.

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL32

Tudo Sobre Pneus entende que oPrograma de Agricultura Familiar éum programa de governo e temgerado enormes resultados, porém,a experiência em Igrapiúna eregião é bem especifica e contacom diferenciais relevantes emrelação ao programa tradicional.

Para o gerente de operaçõesagrícolas da Michelin Bahia, Ricar-do Cabral Júnior, o segredo do su-cesso se deve às parcerias firmadaspela Michelin e o papel de super-visão, monitoramento e treinamentoda empresa em relação aos cuida-dos que os produtores devem terem relação ao manuseio e floresci-mento das culturas ensejadas noprograma, principalmente, a da se-ringueira.

"A seringueira é uma culturaque depende muito de treinamentojunto às pessoas que lidam comela. Em função dessa importânciaagregamos às parcerias o apoio

do Serviço Nacional de Aprendiza-gem Rural (Senar) que já tem pro-gramado uma série de 17 cursosde aprendizagem em sangria daárvore", relata.

Segundo Ricardo Cabral o Se-nar está ajudando a consolidar umaspecto muito importante do SAF,mas outro aspecto relevante é oque ele chama de Sistema Integra-do de Educação de Alternância.

Apesar do nome nada simples,esse sistema se baseia no treina-mento dos filhos dos pequenosagricultores, cujo objetivo maior é ode fomentar uma geração de futur-os empresários rurais na Bahia.

Os jovens agricultores ficam in-ternados em centros de treinamentoda Fazenda Ouro Verde duranteuma semana. Depois vão a campopara aplicar seus conhecimentos e

O segredo do sucesso

Equipe do Centro de Treinamento

O preparo correto para otimizar a produçãoO início do preparo da árvore O treinamento é bastante prático e fácil

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 33

retornam para suas casas onderecebem periodicamente a visita demonitores para ver o avanço doaprendizado nas culturas da pro-priedade de seus pais.

"Esse processo educativo fazcom que se quebre a resistênciados agricultores mais antigos emrelação às novas tecnologias, fazcom que o trato da questão ruralseja profissionalizado e enten-demos que esses jovens podem setransformar em empresários ruraisno futuro", diz Ricardo Cabral.

O gerente de operações agríco-las da Michelin Bahia cita comoexemplo o fato de esses jovens po-derem ser disseminadores de umanova cultura, de um novo olharpara as coisas do campo.

"Com toda certeza eles terãomais afinidades com financiamen-tos bancários, terão motivos parase fixar no campo e em ganhar din-heiro com as culturas que os cer-cam, gerando emprego, gerandorenda e reduzindo os níveis de mar-ginalidade premente em nosssascidades, sem contar o fato de quenão mais será aquele tipo deagricultor que precisa ser auxiliadoo tempo todo, uma vez que estãosendo dadas as ferramentas neces-sárias para que ele saiba o quefazer, como fazer e quando fazer."

Em um pequeno resumo, o SAF- Sistema Agroflorestal - empreendi-do no contexto do programa deagricultura familiar em 32 cidadesbaianas é um modelo de susten-tabilidade que trabalha os aspectoseconômicos, sociais e ambientaisao mesmo tempo.

"O SAF não é um sistema quebusca a monocultura. Ele tem a ba-nana, o cacau, a seringueira e, emalgumas regiões da Bahia, a pupu-nha. Não queremos apenas multi-plicar a cultura da seringueira. Nos-so principal objetivo é a subsistên-cia do produtor. Entendemos queesse produtor tem que ter de tudoum pouco, é uma segurança de

renda, de emprego, de subsistênciasem a periodicidade típica quandose aposta em uma cultura só."

Segundo Ricardo Cabral, o SAFse adequou e se adaptou não ape-nas ao pequeno produtor local, masjá há médios e grandes empresáriosdentro do programa. "Já temosmédios e grandes empresários,como no município de Piraí doNorte, onde um empresário plantoumais de 300 hectares dentro dessemodelo, mas apenas com uma difer-ença. Ele plantou seringueira ecacau, uma vez que não precisa darenda da banana", relata o gerentede operações agrícolas.

Para ele, esse é um exemplo deque o modelo do SAF e os clonesresistentes às pragas desenvolvidospela Michelin estão contribuindonão apenas para incrementar aagricultura local, mas estão remod-elando o plantio de seringueiras emtodo o Estado da Bahia. "Sem osucesso obtido pela Michelin nageração desses clones, nada dissoseria possível", diz ele.

Em 18 de julho deste ano, ogoverno da Bahia lançou na cida-de de Ituberá um programa auda-cioso: o plantio de 100 mil hectaresde seringueiras baseadas nos clo-nes da Michelin nos próximos 25anos, em todo o Estado da Bahia.

"O objetivo disso é um só: o detornar a Bahia autossuficiente naprodução de borracha natural combase no látex de seringueiras, atéporque aqui temos um parqueindustrial ligado ao setor de pneu-máticos, como a Bridgestone eContinental, em Camaçari, e a Pi-relli e a Vipal, em Feira de Santana,sendo que hoje, boa parte dessasempresas é abastecida com insu-mos importados."

"O objetivo é produzir esse in-sumo aqui e conseguir alimentar omercado local", diz Cabral ao des-tacar que qualidade e demanda jáexiste, o que falta é apenas ofertade borracha para essa finalidade.

Corretamente trabalhada uma seringueira

produz por 30 anos a 35 anos

Clone produzindo no Centro de Treinamento

Assista ao filme de treinamento em

nosso portal:

http://www.tudosobrepneus.com.br/si/site/0408

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL34

V aldomiro Ângelo Souza deJesus é um dos técnicos daMichelin que ensina aos pro-

dutores rurais o modo correto defazer o corte da seringueira, achamada sangria da árvore paraa obtenção do látex.

"A sangria, quando feita demodo correto, além de preservar

a árvore, garante maior produtivi-dade e qualidade do látex a serextraído", ensina. Segundo ele,uma árvore de seringueira mane-jada corretamente pode garantir35 anos de exploração comer-cial, mas para isso ele destacaque o agricultor precisa tomarcinco cuidados básicos. Confira:

O corte certo, no tempo certo

Valdomiro ajuda a formar seringueiros

O CONSUMO DA CASCA - a sangria deve consumir uma quanti-dade de casca suficiente, a fim de retirar a casca ressecada e pro-mover a boa coagulação do látex. "Qual é o corte ideal para sepromover uma boa sangria", pergunta Valdomiro de Jesus, logorespondendo: "o corte ideal é de 1,5 mm. por corte." Segundoele, a casca da árvore é o maior patrimônio da seringueira, umavez que sem casca não tem como fazer a sangria do látex.

A PROFUNDIDADE DO CORTE -o segundo cuidado básico que sedeve ter no trato com a seringueira é com a profundidade do corte aser realizado. "A profundidade do corte sobre o caule da árvore influ-encia diretamente a quantidade de produção. E qual é a profundi-dade ideal? 1,6 mm." Com essa profundidade, garante Valdomiro deJesus, a seiva da planta vai circular e no futuro se criará sobre essecorte uma nova casca. A própria árvore se regenera e com isso temosa perenidade da seringueira e do negócio em si", diz.

Caso o agricultor faça uma sangria rasa, isso não vai afetar aplanta, mas a produção será menor, alerta.

A DECLIVIDADE DO CORTE - Segundo Valdomiro de Jesusa declividade do corte feito no caule da seringueira teminfluência direta no melhor ou no pior escorrimento do látexaté o copo que o armazena (o látex que escorre do caule) etambém na melhor exploração do painel. "Hoje a gente tra-balha com um ângulo de 35 graus e uma sangria descen-dente", diz.

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 35

"Quem compra borracha natu-ral não quer comprar látex mistu-rado com casca, com folhas, cominsetos e com terra. Por isso instru-imos os seringueiros a terem cui-dado especial com a coleta domaterial", diz.

Vale lembrar que um copo quearmazena látex em geral tem capa-cidade para recolher 900 mililitrosde material que escorre do caule.

Em uma seringueira que estejaproduzindo em escala comercialé possível fazer entre dois a trêscortes a cada três dias.

Ou seja, o seringueiro poderecolher látex das seringueiras acada três dias. Em uma conta ráp-ida 10 seringueiras produzem acada três dias a soma de 9,0 qui-los de látex.

Valdomiro Ângelo Souza de Je-sus é um profissional com 30 anosde experiência. Ele trabalhou naFazenda Três Pancadas, da Fires-tone, durante três anos, um anona Companhia Brasileira de Bor-racha (CBB), em Ituberá, e nos últi-

mos 26 anos na Fazenda OuroVerde, da Michelin. Através daMichelin Valdomiro de Jesus jáprestou serviços para produtoresrurais e seringueiros no Pará, emMinas Gerais e no Espírito Santo,formando seringueiros em todosos locais citados.

Diante de tudo o que viu e fez,Valdomiro de Jesus destaca que aseringueira é uma cultura muitorentável.

"Estamos mostrando aos agri-cultores de pequeno porte que elepode ter dinheiro no bolso a cada

três dias de coleta do látex. É din-heiro no bolso durante 30/35anos, desde que se tenham os cui-dados necessários com o patri-mônio maior, a seringueira."

"O que temos visto aqui naregião de Igrapiúna e arredores éque as mulheres seringueiras sãomais cuidadosas no trato com acultura e um modelo dentro daFazenda Ouro Verde", relata.

Detalhe importante: a Michelinnão cobra um centavo dos produ-tores locais pelos serviços que pres-ta. São cobradas apenas as mudas,ao custo de R$ 0,25 por clone.

O produtor local não é obriga-do a vender o látex extraído paraa Michelin.

Ele pode vender sua produçãopara quem ele quiser, mas se ofizer com a Michelin, a empresaenvia os caminhões de coletadiretamente na propriedade doprodutor.

O único trabalho que ele tem éo de produzir o látex, pois o resto,a Michelin faz tudo.

TRATAR OS FERIMENTOS DO CAULE - "Isso aqui é um ferimentono caule", aponta Valdomiro de Jesus indicando um problema emuma das seringueiras plantadas na Fazenda Ouro Verde. "O feri-mento influencia na futura regeneração da casca e também noestado fitossanitário da planta. Nesse caso, o produtor precisaaplicar fungicida, caso contrário esse ferimento pode redundar nageração de doença na árvore, chegando até à praga do mofocinzento", diz.

Segundo o técnico, em geral os ferimentos no caule são oca-sionados por um erro do seringueiro, a pessoa que realiza oscortes para obtenção do látex. "Se a pessoa feriu o caule hoje, nopróximo corte o ideal é ela desviar desse ferimento fazendo umcorte novo que saia fora (desse ferimento)", diz.

O ASPECTO GERAL - Após os quatro passos anteriores, o maisimportante é verificar o aspecto geral da borracha naturalarmazenada no copo preso ao caule da árvore. "O aspecto geralinfluencia na qualidade do produto em relação à sujeira noentorno da planta e dentro do copo que recolhe e armazena olátex", diz Valdomiro de Jesus.

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL36

U ma das coisas mais impor-tantes do programa deagricultura familiar basea-

do no modelo do SAF - Sis-tema Agroflorestal - e que o di-ferencia do programa de agri-cultura familiar tradicional é ocuidado extremo que a Mi-chelin tem no suporte técnico,no monitoramento das culturasinseridas no programa e nasupervisão e atendimento dasnecessidades dos micro, pe-quenos, médios e grandes pro-dutores locais.

Uma dessas pessoas é o as-sistente técnico da Michelin, Ed-van Silva de Santana, um profis-sional destacado pela empresapara a realização do papel desupervisionamento de campo.Pode-se dizer, sem sombra dedúvidas, que Edvan é o caraque vive na prática do dia a diae lado a lado com os produtoreslocais a aplicação integral domodelo do SAF - Sistema Agro-florestal.

"A força que me move é che-gar em uma propriedade rural ever que há cinco anos o que euencontrava era uma casa de tai-pa, sem energia elétrica, compessoas passando grandes ne-cessidades financeiras e de saú-de e hoje o que eu encontro sãocasas de alvenaria, prontas já

ou em construção, postes de luz,casas com televisão, antenasparabólicas e gente simplesfeliz da vida porque sua pro-priedade rural está garantindorenda, os filhos não tem maismotivos para procurar empregona cidade. Até posto de saúdejá existe em muitos pontos próx-imos às propriedades o que rep-resenta uma evolução a olhosvistos", diz o jovem técnico daMichelin.

Segundo Edvan Santana, es-

sa realidade compreende 90%das propriedades atendidaspelo programa. "Infelizmenteainda existem produtores que,mesmo dentro do programa semostram descompromissados",diz ele ao referendar que osucesso da proposta dependedo produtor, exclusivamente.

"Nós vamos ao produtor, visi-tamos suas propriedades, da-mos as mudas, ensinamos a san-grar a árvore, mostramos comodevem ser feitos os plantios e aforma como devem ser feitos oplantio do modelo do SAF, maso produtor rural precisa quererisso, ele precisa participar dissoporque o projeto prescinde dotrabalho dele e sem ele, o pro-dutor rural, a coisa não acon-tece", diz.

Entre os trabalhos associa-dos à assistência técnicaprestada pela Michelin estãovisitas constantes - pelo menosuma vez a cada 60 dias -onde são recomendadas alimpeza de áreas, o baliza-mento de seringueiras, a entre-ga de mudas de seringueiras,a orientação ao plantio, à san-gria, armazenamento e atémesmo à comercialização.

Dentro do SAF, cada mudade clone de seringueira custa R$0,25 e a Michelin chega a mon-tar treinamentos aos produtoresrurais nas escolas próximas àssuas localidades.

"Eu atendo hoje cerca de300 famílias em 14 cidades daBahia. Faço entre 12 e 14 visi-tas por semana. Hoje a gamade participantes é muito grandepor isso não conseguimos pas-sar em uma mesma propriedadeantes de dois meses", diz EdvanSantana ao apontar que o nú-mero de participantes deve cres-cer ainda mais nos próximosmeses. "Há vários projetosnovos em Guaraú, Ibirataia e

Treinamento eassistência, a

base do sucesso!

Edvan, assistente técnico da Michelin

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 37

Pirapitinga. São mais de 40 pro-jetos novos apenas nessas trêscidades."

Segundo ele, são regiões no-vas para o conceito do SAF eáreas em que os produtores es-tão apresentando problemas co-mo baixo rendimento do cacaue problemas com doenças epragas em suas lavouras. "Elesestão vendo a experiência desucesso em Igrapiúna e regiãoe estão apostando no plantiode seringueira como uma formade melhorar a qualidade devida."

O assistente técnico da Mi-chelin ressalta que o papel dosprofissionais da empresa é o deatuar como facilitadores ao pro-grama do SAF. "Os produtoresrurais são os agentes de todo oprocesso, não adianta a Miche-lin ir a uma propriedade e oprodutor não seguir nossas ori-entações", diz ele ao destacarque o produtor rural é o agentemodificador de sua própria real-idade. "Nós estamos aquimediando o processo e levandopara eles tudo o que há de novoe de positivo para a construçãodessa realidade."

Uma das áreas atendidas porEdvan Santana é a comunidadequilombola de Igrapiúna e arre-dores.

"A Michelin atende duascomunidades quilombolas des-de 2005, sendo que o prazo desete anos para a produção com-ercial do látex das seringueirasestá começando agora, em2011. Ao longo desse períodode monitoramento, treinamentoe especialização da comunida-de quilombola, nós tambémaplicamos as demais etapas doSAF e hoje vemos produtorestendo renda da banana, docacau e começando a ter umanova renda que é a da serin-gueira", diz.

Edvan Silva – Técnico da Michelin e Fernando Bortolin – editor da Tudo Sobre Pneus

Propriedade de Manoel Caroba, microprodutor quilombola

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M anoel Benedito Caroba é umbaiano que nasceu e cres-ceu na chamada Comu-

nidade Quilombola de Laranjei-ras, em Igrapiúna, uma das áreasde aplicação do SAF - SistemaAgroflorestal - criado pela Mi-chelin para atender a agriculturafamiliar do Baixo Sul da Bahia.

Ex-funcionário da Michelin hásete anos, Manoel Benedito Caro-ba é uma das figuras humanasmais interessantes que encon-tramos em nossa viagem.

O que você fazia antes deentrar no programa da Miche-lin, perguntamos a ele, quenaquela fala mansa do bombaiano respondeu:

"Eu plantava mandioca."

E dava para sobreviver? "Na mandioca a gente trabal-

hava de segunda a sábado e sem-pre sem 'paradeiro' e dinheiro

prá nada.... e liberdade, prá na-da", disse.

E quando você plantava man-dioca você tinha apoio de al-gum banco, de alguma empre-sa, do governo?

"Eu não tinha é nada, nem con-hecimento. De 'seringa' a gentetinha era é medo de pegar o tal demal da borracha - que todo mundodizia que pegava -, porque o povodizia que era coisa do diabo e'nóis' ficava era naquela 'boladatoda', 'dano' duro e sem nada e,hoje, graças a Deus, eu vivo aquialegre, até porque 'num' tenho leitu-ra, aquela coisa, assim, nativa."

Segundo o pequeno agricultorquilombola sua vida mudou total-mente com o programa do SAF.

"Antes eu tomava remédio.Hoje tô quase um ano que nãotomo remédio de pressão. Eu vivo

hoje aqui feliz com a minha plan-tação, isso é o meu remédio."

Quer dizer que o tempo damandioca passou?

"Mandioca não tem mais. Sótem mesmo para a gente comer,mas para vender não. O que eutenho aqui agora é banana, ca-cau, seringueira, laranja e cravo,mas para viver bem hoje é cravoe 'seringa' (seringueira)", dizCaroba.

Aqui no SAF você tem quan-tas seringueiras?

"Tenho 400 pés."

Quantas arrobas você tiroude suas terras aqui no ano pas-sado?

"De 15 em 15 dias eu tiro 40quilos de 'coágulo' (as bolas delátex que são recolhidas nos co-pos presos às árvores). Em janeiroe fevereiro eu comecei com 1 qui-lo a 2 quilos, mas hoje tiro 40 qui-los. A gente tem que adubar pelomenos quatro vezes no ano e eujá adubei faz um ano."

Na questão da borracha, vo-cê vende com que frequência?

"Eu comecei vendendo a cadadois meses, mas agora eu entregouma vez por mês."

Manoel Benedito Caroba

Manoel Caroba, durante entrevista em sua propriedadeAntiga residência de Manoel Caroba

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL40

E como está a sua vida hojeCaroba?

"Hoje nós temos ajuda do gov-erno, com a Michelin, que vemcriando a gente. Se plantar umaseringa (seringueira) tem semente,sei como é que nasce. Só não seicom enxerta ainda, mas já háespaço para isso e venho criandoisso (as seringueiras) e estamos deparabéns. Já temos água que vemde longe, um posto médico queatende um bocado de gente....então tem muitas coisas que agente vai criando graças à culturado cacau, da seringueira e comisso vai trabalhando. No tempoda mandioca eu chegava aquipor debaixo do mato (em meio aomato tomado pela plantação),

mas não via ninguém, não tinhanada, nem estrada, suporte, con-hecimento. Não tinha nada e nãoexista nada."

Antes do SAF você trabalha-va em outras roças?

"Antes eu demorava até duashoras para chegar em outros tra-balhos, mas hoje, graças a Deusnão preciso mais."

Você não precisa mais tra-balhar fora da sua roça, é is-so?

"Não, eu não preciso mais tra-balhar fora e prá mais ninguémnão. Eu já tô é pagando R$ 400;R$ 500 e até R$ 600 por diapara alguém me ajudar a cuidar

aqui da minha produção."

Quer dizer que, além de nãoprecisar mais trabalhar para osoutros, você está dando atéemprego para as pessoas?

"Tô sim, e a Michelin me ajudamuito, eles estão sempre aqui meapoiando."

Quer dizer que você agoraé um empresário Caroba?

Nosso entrevistado caiu narisada.

E em relação ao financia-mento do banco, você está emdia com eles?

"Rapaiz ainda não chegou o

Vista da propriedade de Manoel Caroba

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 41

tempo não. Quando eu cheguei láno BNB, em Valença, eles disser-am que por enquanto eu não tôno débito não. Nas lojas dacidade eu tô no débito, mas como banco tô não. Eu começo apagar agora em agosto, R$1.200,00. É a parcela anual."

*Observação: o Banco doNordeste cobra juros de 1% aoano e concede bônus de adim-plência de 25% se o agricultorfamiliar pagar a dívida à vista.No caso de Manoel Benedito Ca-roba o banco concedeu um em-préstimo de R$ 10 mil a ser pagoem quatro anos, sendo duas asparcelas anuais.

Segundo o gerente de comuni-

Colheita de cacau de Manoel Caroba

Vista da propriedade de Manoel Caroba

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cação e pessoal da Michelin Ba-hia, Paulo Roberto Lima Bomfim, oSAF - Sistema Agroflorestal - de-fine que uma propriedade - dentrodo conceito de agricultura familiar- tenha entre quatro ou cincohectares, sendo um hectare desti-nado à reserva legal.

Ele destaca que o programajunto aos agricultores familiaresteve início em 2005 e que os pri-meiros a ingressarem nele, comoo produtor Manoel Benedito Ca-roba já estão começando a colhero látex das seringueiras plantadashá sete anos. "A seringueira co-meça a produzir depois dessetempo e o Caroba está começan-do a ter essa renda. Com a serin-gueira ele tem dinheiro no bolso acada 15 dias", destaca.

Com relação à postura da Mi-chelin no contexto da comercializa-ção, Paulo Bomfim aponta que aempresa assume o compromisso decomprar a borracha natural dosprodutores que entram no SAF -Sistema Agroflorestal -, mas os pro-dutores não são obrigados avender a borracha para a Michelin.

"O agricultor produz e vendepara quem ele quiser. Nós (Mi-chelin) estamos dando o suportenecessário para que ele consigaproduzir e bem e esperamos queeles, os agricultores familiares, for-mem uma cooperativa deles paraque tenham o suporte necessárioem termos de armazenagem,profissionalização de venda, nosentido de agregar valor a eles",disse.

Apesar de o produtor podervender para quem ele quiser oapoio dado pela Michelin acabapor fidelizar os agricultores fami-liares, aponta Paulo Bomfim, aorelatar que a Michelin paga pelaborracha natural o preço que estáno mercado, nada mais do queisso.

"O caminhão da Michelinvem buscar a produção naporta da propriedade. Os pro-dutores não têm custo nenhumcom isso, não tem atraso, opagamento é certinho", disseele assegurando que não hánenhum contrato de gaveta queobrigue o agricultor a vender

seus produtos para a Michelin. Outro ponto lembrado por Pau-

lo Bomfim diz respeito às mudasde seringueiras.

"A Michelin cobra R$ 0,25 pormuda.

Esse custo já está embutidodentro do programa do SAF - Sis-tema Agroflorestal -, mas para to-do o restante do trabalho que aempresa realiza não é cobradoabsolutamente nada", destaca ogerente de comunicação e pes-soal da Michelin Bahia.

Nesse sentido, as mudas decacau também entram nesse sis-tema, mas os agricultores nadapagam pela assistência que re-cebem.

"Tanto na questão da serin-gueira como na questão do ca-cau, gostariamos muito que osagricultores familiares formassemsuas cooperativas. Há muitas di-ferenças de preços. Por exemplo,o preço do cacau chega a mudarquatro vezes ao dia. Com umacooperativa dando apoio paraesse agricultor, a comercializaçãodo produto lhe daria maiores gan-hos, vantagens, ou no mínimomaior proteção e segurança",disse Paulo Bomfim.

Produção da propriedade de Manoel Caróba

Planta de cravo da índia – cultura local

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 43

Não é só o governo da Bahia queestá traçando planos para a construçãoda heveicultura a partir dos clones deseringueiras desenvolvidos pelaMichelin, mas o governo do EspíritoSanto também já manifestou interesseem adotar esses clones e o modelo deSAF – Sistema Agroflorestal - gestadona Fazenda Ouro Verde e região.

“Na verdade o programadesenvolvido no Espírito Santo está emum estágio mais avançado do que oprograma da Bahia”, destaca o gerentede operações agrícolas da Michelin,Ricardo Cabral Júnior.

“Tivemos aqui a visita de produtoresde borracha natural daquele estado e,após esse contato eles buscaram aSecretaria de Agricultura do EspíritoSanto visando à formação de umaparceira entre os dois governosestaduais.”

No Espírito Santo, o programa depromoção da heveicultura local prevê aplantação de 70 mil hectares deseringueiras no espaço de 30 anos.

“Os resultados alcançados pelosprodutores capixabas estão sendobastante promissores e as culturas estãose desenvolvendo bem. Além disso,também seguem o modelo do SAF –Sistema Agroflorestal –, mas comculturas diversas, que vão desde o caféconilon ao mamão, mas tambémcompreende o cacau e, principalmente,as seringueiras”, relata.

Segundo o gerente de operações

agrícolas da Michelin, a experiência noEspírito Santo é uma demonstraçãoclara de que o modelo criado em 2004pela Michelin, em Igrapiúna e região,já está sendo exportado para outrosestados brasileiros.

Uma das maiores expectativas dosprofissionais da Michelin Bahia é deque esse mesmo processo avance sobreo Vale do Paraíba, no interior doestado de São Paulo.

Espírito Santo também quer os clones da Michelin

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL44

E m Igrapiúna, dentro da Fa-zenda Ouro Verde, se con-centra uma das duas usinas

de beneficiamento de borrachanatural que a Michelin tem noBrasil. Trata-se da PMB (Plan-

tações Michelin da Brasil) comcapacidade para processar 14mil toneladas por ano de bor-racha natural extraída com baseno látex de seringueira, sendoem grande parte de plantas obti-

das a partir dos clones de heveabrasilienses desenvolvidos pelacompanhia.

A outra usina de beneficiamen-to da Michelin fica na cidade deSooretama, no Espírito Santo e

Vista áerea da

usina de

beneficiamento

da Michelin

Vista parcial da área de beneficiamento e laboratório

Beneficiandoo sal

da Terra

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 45

com a mesma capacidade de pro-cessamento da PMB Bahia.

“Apesar de termos essa capa-cidade de processamento deve-mos fechar 2012 com 12,5 mil to-neladas anuais processadas. Essadiferença se deve à falta de maté-ria-prima, de borracha natural emoferta no mercado brasileiro”, dizo chefe de setor da PMB, JeffersonNovaes dos Santos.

Da área da Fazenda Ouro Ver-de pertecente à Michelin são ben-eficiadas cerca de 700 toneladasde borracha natural, sendo outras2,5 toneladas oriundas da Co-operativa Ouro Verde Bahia –pertencente aos ex-funcionáriosda companhia francesa que com-praram glebas da empresa dentroda fazenda -, sendo o restantecomprado de outras regiões daBahia e parte no Norte e Nor-deste.

Segundo Jefferson Novaes,96% da borracha ali processadasegue o que ele chama de ‘GradeMichelin’ e tem como objetivo oabastecimento das necessidadesoperacionais das três linhas deprodutos da Michelin no Brasil: ade ônibus e caminhões, agrícola eOTR e pneus de passeio e camin-honetes.

“Na verdade a borracha quesai da PMB segue para uma áreada Michelin, no Rio de Janeiro,que realiza as misturas de com-postos necessários para a con-strução dos pneus que a Michelincomercializa. É essa área que faza aplicação ideal dos compostos,sendo que a PMB apenas proces-sa a borracha natural in natura eenvia os lotes beneficiados”, diz.

Segundo o gerente de comuni-cação da Michelin na Bahia,Paulo Roberto Lima Bonfim, nospneus de caminhão e ônibus daempresa são empregados 30%do peso na forma de borrachanatural e entre 8% e 10% do pesototal nos pneus de passeio.

Área de recebimento de borracha natural da PMB

Sede da usina construída em 1961. A Michelin manteve a construção original

feita pela Firestone, antiga proprietária

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL46

O jovem Jefferson Novaes dosSantos, profissional com noveanos de Michelin, relata para aTudo Sobre Pneus que as difer-entes origens das borrachas quechegam à PMB, oriundas de var-iedades diversas de seringueirasde todo o Brasil, interferem naqualidade do produto que estásendo beneficiado.

“Nós precisamos, a todo omomento conhecer previamenteessas características e para issotemos um laboratório que real-iza análises para qualificaçãoda matéria-prima”, relata ele aodestacar que para cada re-cepção de borracha que entrano processo de beneficiamento éretirada uma pequena quanti-dade para análise.

“Geralmente para remessas deaté 15 toneladas coletamos 20quilos e para cargas acima de 15toneladas, coletamos 40 quilospara análises em nosso laborá-tório”, diz.

A partir das análises, os técni-cos do laboratório da empresafrancesa realizam diversas simu-

lações de beneficiamento emcondições reais com a borrachanatural que entrará em processode beneficiamento na usina.

“Isso nos permite saber o blend,a blocagem, o tipo de mistura e aproporção de borracha que serásubmetida ao processo de benefi-ciamento. O papel do laboratórioé nos dar, de forma antecipada, oproduto final que teremos ao fimdo processo”, relata.

Segundo o chefe de setor dausina, tudo isso é de extremaimportância dentro do ciclo deprodução da fábrica na medidaem que, a partir dos dados labo-ratoriais os trabalhadores daPMB saberão operar com osparâmetros necessários de todo oprocesso.

Entre eles estão: o tempo detrabalho de máquina, a temper-atura a ser usada, os ajustes dess-es maquinários – necessáriospara se obter o resultado ideal -,algo que está dentro da rotina dos47 colaboradores da PMB.

O dia a dia da PMB

Jefferson Novaes dos Santos,

chefe de setor da PMB

Vista parcial do

laboratório de

análises da PMB

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 47

Como fora mencionado pelochefe de setor da PMB, a borrachain natura comprada pela usina vemcom um conjunto muito grande deimpurezas – folhas, insetos, terra –sendo necessário um processo ini-cial de lavagem e desmanche doscoágulos (as bolas de borracha innatura) vindos dos seringais.

Primeira lavagem

dos coágulos de

borracha in natura

Início do processo

de lavagem dos

coágulos

Desmanchandoos blocos

de borracha in natura

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL48

Na primeira lavagem é feita adesaglomeração dos coágulos deborracha in natura em pequenospedaços, o que permite sua limpe-za e também sua homogeneiza-ção.

Dado esse primeiro passo, amatéria-prima desaglomerada es-tá liberada para iniciar toda acadeia de beneficiamento – queenvolve sua granulação total eposterior agregação para melhorser transportada.

Essa lavagem bem como a de-sagregação da borracha in na-tura é feita com base no Cadernode Especificações da Michelin.Uma das regras básicas aliinseridas é a de que a matéria-

prima venha isenta de materiaisque não sejam látex, especial-mente contaminantes, tais comoplástico, metais, madeira e nay-lon, itens que podem afetar aqualidade final da borracha ben-eficiada.Com base nesse cader-no de especificações é feita umainspeção visual e ao mesmotempo uma triagem daquilo quepode ser visto a olho nu.

“O processo de beneficiamen-to é muito simples e consiste emlavar a borracha, triturar e secar”,diz em palavras simples o gerentegeral da PMB, ao destacar quetudo isso é feito em condiçõescontroladas e em duas etapas.

Uma linha úmida faz a

lavagem da borracha in natura euma linha seca – onde a borrachapermanece durante 4h00 a umatemperatura média de 125 grausCelsius.

“Passou pela linha úmida, pas-sou pela linha seca, quandochega ao final da linha de pro-dução a borracha natural perdeuentre 40% e 45% de sua umi-dade”, diz o chefe de setor daPMB, Jefferson Novaes dosSantos.

“Ou seja, para casa 1 quilode coágulo, nós transformamosentre 450 gramas a 600 gra-mas de produto acabado – gra-nulado de borracha com 3,0milímetros.”

Desaglomeração dos coágulos de borracha in natura

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 49

Após lavagem, borracha granulada segue em esteira

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL50

Um dos itens analisados pelolaboratório da usina de benefici-amento de borracha da Micheliné o DRC ou em língua nativa,Teor de Borracha Seca, quemede a quantidade de água doscoágulos de borracha in natura.

Quanto maior o DRC – 60%,70%, 80%, 90% - menor é o ín-dice de água nele reinante. “Issosignifica que para uma indústriade beneficiamento de borrachanatural estamos comprandomuito mais produto acabado esem impurezas”, destaca Jeffer-son Novaes.

Segundo ele, o DRC da bor-racha beneficiada na PMB daBahia gira ao redor de 55%.“Isso é muito importante porquedefine a forma como a matéria-prima será negociada junto aosfornecedores. Nós podemoscomprar o insumo pelo seu pesoseco ou pelo seu peso de cam-po, o peso verde”, ensina Jeffer-

son, ao apontar para um conjun-to agregado de coágulos nochão – de cor diferente dosdemais.

“Essa é uma borracha quevem do Maranhão e do Pará.Ela tem um DRC muito alto e tam-bém um PRI (Índice de Retençãoà Plasticidade) mais elevado.Nós as usamos para fazer cor-reções de blocagens ou tipos deborracha diferenciados para out-ros usos. Ou seja, esse é um pro-duto que beneficiamos e a usinaos vende não para a construçãode pneus, mas para a confecçãode produtos acabados de bor-racha”, diz o chefe de setor.

Jefferson Novaes informa que90% da borracha beneficiadana PMB hoje vêm do próprioestado da Bahia e outros 10%do Maranhão, mas o Estado doEspírito Santo já chegou a ser osegundo maior fornecedor doinsumo para a usina.

Teor de Borracha Seca, o DRC

Borracha granulada segue para

processo de secagem

Borracha granulada está pronta

para ir para o forno

Borracha após o processo de secagem

Borracha produzida no Maranhão – DRC maior

Borracha seca

sendo retirada das

formas

Os biscoitos de borracha

seca são prensados

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MICHELIN BRASIL - PROJETO OURO VERDE - ESPECIAL 51

A Michelin já tem um projetodefinido e investimentos necessá-rios para a automatização de al-gumas etapas do processo de be-neficiamento de borracha da PMBBahia. “Com as novas máquinasvamos melhorar a produção edinamizar conceitos de ergono-mia”, diz o chefe de setor Jeffer-son Novaes dos Santos. Segundoele, a usina está introduzindo umanova metodologia de trabalhoque visa medir o esforço doscolaboradores.

“Há dois setores onde temosum índice G8 e G10, ou seja, umíndice de gravidade 8 e de gravi-dade 10 e estamos realizando os

investimentos necessários paratrazer esse índice para G6”, dizele ao destacar o posto de enchi-mento e de retirada dos biscoitosde borracha beneficiada.

Explicando: no processo desecagem do granulado de bor-racha, o funcionário do posto deenchimento tem de empurrar umvagão que tem em seu interior500 quilos de borracha dispostasem fôrmas que darão o formatode um biscoito para o granuladode borracha.

Esse vagão tem que ser empur-rado ‘manualmente’ para o forno.Ou seja, vagão cheio - mais opeso do vagão em si – representa

um peso de mais ou menos 800quilos e o funcionário do setor temque empurrar esse vagão até oforno – coisa de alguns centímet-ros apenas, mas de qualquerforma há um esforço repetitivo aoqual a usina quer corrigir.

O outro setor que passará pormudanças é quando o vagão sai doforno e dentro dele é preciso retirar,com as mãos, os biscoitos das for-mas que estão dentro do vagão.

Cada biscoito pesa, em mé-dia, 17,5 quilos, o que acaba porgerar uma fadiga ao fim de umdia de trabalho.

“Também já estamos corrigin-do isso”, disse Jefferson Novaes.

Retirada dos biscoitos: movimentos repetitivos Vagão de acionamento manual

Investimentos

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ESPECIAL - PROJETO OURO VERDE – MICHELIN BRASIL52

Rotatividade na PMB

A Usina de Beneficiamento daMichelin na Bahia tem uma taxade rotatividade de mão-de-obrabaixíssima. Na média, os 47colaboradores da unidade têm12 anos de empresa por pessoa.

“Temos profissionais aqui com25 anos de casa”, relata o chefede setor da PMB, Jefferson Novaesdos Santos, ao destacar o altograu de especialização que essalongevidade no trabalho traz.

“É uma equipe bem formadae a própria experiência já é umacredencial”, diz ele.

Em relação aos novos colabo-radores Jefferson faz questão desalientar que assim que iniciamos trabalhos na usina, os profis-sionais passam por um amplotreinamento em segurança,gestão da qualidade e gestãoambiental antes mesmo deassumirem seus postos de trabal-ho, sem contar que os que irãotrabalhar na linha de produçãosão monitorados pelos oper-adores mais antigos e só passam

a executar suas funções ‘sozin-hos’ quando recebem o aval deseus tutores.

No laboratório da PMB, quefica em um prédio à parte dogalpão de beneficiamento, tra-balham 11 profissionais queentre outras coisas têm de trabal-har contra o relógio para analis-ar as amostras que lhes chegamem mãos. “Aqui a verificação e

a validação do material – o diag-nóstico da viscosidade da bor-racha - tem de ser feita em 10minutos”, destaca Jefferson.

“Eu sempre digo para o pes-soal do laboratório que aqui, umdiagnóstico errado vai influen-ciar em todo o ciclo de secagemde borracha natural da fábrica”,diz ele, lembrando que a metafinal é que toda a produção dausina esteja 96% dentro daGrade de Especificações daMichelin.

Em relação à capacidadeociosa da usina – ela podeprocessar 14 mil toneladas deborracha por ano e deve benefi-ciar 12,5 mil toneladas em 2012– o chefe de setor da PMB é bemclaro: “se tivéssemos mais maté-ria-prima, a fábrica seria aindamais otimizada, implicando atémesmo na abertura de novasvagas de emprego na região, nosobrigaria a contratar e trabalharsete dias na semana. Hoje oper-amos 24 horas por dia, de segun-da a sexta-feira, ou seja cincodias por semana”, disse.

Vista do laboratório de análises da PMB Bahia

Linha final:

borracha

embalada

dentro do

armazém

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Beija-Flor - foto

tirada do refeitório

que serve

funcionários e

visitantes da Fazenda

Ouro Verde

Page 54: Projeto Ouro Verde

Canal que dá acesso à

estrada que leva à

Igrapiúna e região