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Projeto - Gênero: crônica http://pixabay.com/pt/id%C3%A9ia-inven%C3%A7%C3%A3o-inventor-pensamento-152213/ O estudo da língua portuguesa, a partir do gênero crônica, é o ponto de articulação das atividades propostas neste material - atividades essas que permitem a construção conceitual e prática de tal gênero. O trabalho com gêneros não deve se limitar à classificação e etiqueta dos mesmos, mas propiciar aos estudantes a compreensão de suas características, sua função comunicativa e o papel social que desempenham. Introdução Educador, os textos que materializam o gênero crônica se estabilizam com a função social de narrar fatos do cotidiano, de um tempo e de um espaço. Para sua instrumentalização, selecionamos uma série de textos, disponíveis nos links abaixo, que discutem em profundidade o gênero explorado neste projeto. http://bibliotecadigital.unec.edu.br/ojs/index.php/unec02/article/viewFile/205/284 http://www.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/ColoquioLetras/alinecristina.pdf http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maluv017.pdf https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/artigos/artigo/1235/questao-de-genero- o-genero-textual-cronica Propõe-se, inicialmente, que você trabalhe com o seguinte texto em sala de aula:

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Projeto - Gênero: crônica

http://pixabay.com/pt/id%C3%A9ia-inven%C3%A7%C3%A3o-inventor-pensamento-152213/

O estudo da língua portuguesa, a partir do gênero crônica, é o ponto de articulação das atividades propostas neste material - atividades essas que permitem a construção conceitual e prática de tal gênero. O trabalho com gêneros não deve se limitar à classificação e etiqueta dos mesmos, mas propiciar aos estudantes a compreensão de suas características, sua função comunicativa e o papel social que desempenham.

Introdução

Educador, os textos que materializam o gênero crônica se estabilizam com a função social

de narrar fatos do cotidiano, de um tempo e de um espaço.

Para sua instrumentalização, selecionamos uma série de textos, disponíveis nos links

abaixo, que discutem em profundidade o gênero explorado neste projeto.

http://bibliotecadigital.unec.edu.br/ojs/index.php/unec02/article/viewFile/205/284

http://www.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/ColoquioLetras/alinecristina.pdf

http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maluv017.pdf

https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/artigos/artigo/1235/questao-de-genero-

o-genero-textual-cronica

Propõe-se, inicialmente, que você trabalhe com o seguinte texto em sala de aula:

A palavra “crônica”, em sua origem, está associada à palavra grega “khrónos”, que significa “tempo”. De “khrónos”

veio “chronikós”, que quer dizer “relacionado ao tempo”. No latim existia a palavra “chronica” para designar o gênero

que fazia registro dos acontecimentos históricos, verídicos, numa sequência cronológica, sem um aprofundamento ou

interpretação dos fatos. Como se comprova pela origem de seu nome, a crônica é um gênero textual que existe

desde a Idade Antiga e vem se transformando ao longo do tempo. Justificando o nome do gênero que escreviam, os

primeiros cronistas relatavam, principalmente, aqueles acontecimentos históricos relacionados a pessoas mais

importantes, como reis, imperadores, generais etc. A crônica contemporânea é um gênero que se consolidou por

volta do século XIX, com a implantação da imprensa em praticamente todas as partes do planeta. A partir dessa

época, os cronistas, além de fazerem o relato de ordem cronológica dos grandes acontecimentos históricos, também

passaram a registrar a vida social, a política, os costumes e o cotidiano do seu tempo, publicando seus escritos em

revistas, jornais e folhetins, ou seja, de um modo geral, importantes escritores começam a usar as crônicas para

registrar, de modo ora mais literário, ora mais jornalístico, os acontecimentos sociais de sua época, publicando-as em

veículos de grande circulação. Os autores que escrevem crônicas como gênero literário recriam os fatos que relatam

e escrevem de um ponto de vista pessoal, buscando atingir a sensibilidade de seus leitores. As que têm esse tom

chegam a se confundir com contos.

Embora apresente características de literatura, o gênero também apresenta características jornalísticas: por relatar o

cotidiano de modo conciso e serem publicadas em jornais, as crônicas têm existências breves, isto é, interessam aos

leitores que podem partilhar esses fatos com os autores por terem vivido experiências semelhantes. http://www.nre.seed.pr.gov.br/amnorte/arquivos/File/Ogenerotextualcronica.pdf

Pergunte aos alunos:

QUESTÃO 01 Qual a origem da palavra crônica? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 02 Qual a origem social da crônica? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 03 Desde quando existe a crônica? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 04 Quando a crônica se consolidou? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 05 Como eram chamadas as primeiras pessoas que escreveram crônicas? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 06 É assim até hoje? Explique. ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 07 Sobre o que escreviam os cronistas nos primórdios desse gênero? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 08 Qual a relação entre o jornal e a crônica? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 09 Podemos afirmar que a crônica é um gênero de estilo literário? ______________________________________________________________________________________________

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Curiosidade

Carlos Drummond de Andrade nasceu em 1902, na cidade de Itabira (MG), e é um dos maiores poetas brasileiros. Começou a carreira de escritor em Belo Horizonte, como colaborador do Diário de Minas. Escreveu poesias, crônicas e contos. Várias de suas obras foram traduzidas e publicadas em outros países. Morreu no Rio de Janeiro, em 1987.

Professor, peça que os alunos façam as atividades de interpretação a seguir. Todas elas

têm como gênero a crônica. TEXTO 1

A um passo da clonagem humana

Há quatro anos, pesquisadores escoceses fizeram pela primeira vez na História, o anúncio da clonagem de

um mamífero a partir de células não reprodutivas. Antes disso, cientistas haviam conseguido obter apenas réplicas de embriões. O clone anunciado – a ovelha Dolly – tornou-se um símbolo de uma nova perspectiva: a de gerar cópias geneticamente idênticas de seres humanos. Mas a proeza atiçou pessoas dispostas a romper barreiras: empresários e pesquisadores que querem clonar humanos. Governantes, religiosos e também cientistas ergueram objeções morais, éticas e técnicas a esse propósito, com alguns diferenciando e defendendo o seu uso terapêutico. O debate está cada vez mais quente, e a perspectiva da clonagem humana cada vez mais próxima.

MACHADO, Ronaldo. Revista Galileu. A um passo da clonagem humana. São Paulo, 2001.

QUESTÃO 01 a- DE QUE fato trata o TEXTO 1?

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b- A posição do TEXTO 1 em relação ao fato ESTÁ CLARA? FUNDAMENTE sua resposta

indicando uma estratégia usada pelo texto que confirme sua resposta.

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LEIA o próximo texto e RESPONDA ao que se pergunta. TEXTO 2

Dolly: a ovelha "sacrificial"

O que me escandaliza é a nossa prepotência diante da vida animal, como se esses seres vivos não passassem de objetos que pudessem ser manipulados sadicamente em beneficio do ser humano, que continua, desde as cavernas, a se achar o rei dos animais e dono das vidas alheias. Na verdade, não melhoramos eticamente muito, apesar dos laboratórios formidáveis que temos ou de ouvirmos Mozart em sublime arrebatamento.

Aqui estamos nós, como no tempo de Ptolomeu, achando que somos o centro do universo, que tudo existe

para nossa honra e glória, pois, afinal, somos a imagem e semelhança de Deus, que foi quem originalmente nos

clonou. Uma clonagem, já se vê, que não deu certo. O projeto era bom, o resultado, lastimável. Prestem atenção

neste símbolo, nesta antropológica e mística coincidência: uma ovelha. Antigamente, em Israel, a ovelha era o símbolo da vida e da morte. Sacrificá-la num altar a Jeová era como sacrificar-se a si mesmo. A ovelha era o clone do sacerdote e do crente. Há uma passagem na Bíblia sintomática a este respeito. Abraão leva seu filho Isaac para

ser sacrificado no alto do monte e, na última hora, o Senhor substitui Isaac por uma ovelha. Essa passagem do

sacrifício humano para o sacrifício da ovelha, na verdade, levou séculos. Antes, matava-se um ser humano mesmo,

porque se achava que o deus Sol adorava isso. E o que nas sociedades ainda mais bárbaras, por exemplo, entre os

astecas, se fazia. Uma outra sociedade bárbara, a nazista, também andou fazendo experiências científicas com gente viva. Ficamos todos horrorizados.

SANT´ANNA, Affonso Romano de. Disponível em: http://issi.no.sapo.pt/cronicas.htm. Acesso em 21 nov.2001.

QUESTÃO 02 Com relação à importância dada pelo homem à ovelha Dolly, podemos afirmar que o que foi enunciado no TEXTO 2 marca um ponto de vista semelhante ao que foi enunciado pelo TEXTO 1? ______________________________________________________________________________________________

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LEIA o próximo texto e RESPONDA. TEXTO 3

Igual a você? Impossível

Meu amigo Serginho ficou preocupado com essa história da Dolly... É que ele tem um irmão com quem ele briga

muito e, se alguém fizesse um irmão igual ao irmão dele, ele ia apanhar sempre.

Não sei se você tem o mesmo problema do Serginho, mas não precisa ficar preocupado... É que eu tenho primos gêmeos, sabe? Os dois nasceram no mesmo dia e têm a mesma cara! Nas festas a gente até confunde! Eles ficam bem bravos... Mas mesmo os meus primos sendo assim parecidos, puxa, como um é diferente do outro! É por isso que eu sei que ser igual por fora é só uma parte bem pequena de cada um. Porque o que interessa é o que está dentro. Como a gente vê o céu, a terra, o time para o qual a gente torce, a comida que a gente mais

gosta, o que a gente acha das outras pessoas...

O que faz a gente ser único, assim como a gente é, é o jeito que a gente sente cada uma dessas coisas.

Ter alguém parecido com a cara do irmão do Serginho, por exemplo, não quer dizer nada.

O que tem no pensamento e no sentimento é o que importa, e isso os cientistas nunca vão conseguir imitar. Viu

Serginho? BONASSI, Fernando. Igual a você? Impossível. ESTADO DE MINAS. Folhinha. Belo Horizonte: Estado de Minas, 2001.

QUESTÃO 03 O exercício de interpretação de um texto exige o conhecimento sobre a que ou a quem se referem algumas palavras usadas para apontar ou retomar informações. Há, nos TEXTOS 2 e 3, palavras emolduradas. RELEIA os dois textos e veja a que ou a quem elas se referem, preenchendo o quadro a seguir:

palavras transcritas

do texto

a que ou a quem cada uma se refere de acordo como texto

nós

projeto

essa

passagem

Isso

ele

que

nada

isso

QUESTÃO 04 Os TEXTOS 2 e 3 discutem um mesmo assunto. De acordo com os textos lidos, por que o clone humano não será fiel ao original? EXPLIQUE. ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 05 Os TEXTOS 2 e 3 foram nomeados como crônica pelos veículos em que circulam.

A crônica é um gênero que oscila entre a literatura e o jornalismo, pois é o resultado da visão pessoal, subjetiva do cronista ante um fato qualquer, colhido no noticiário ou no cotidiano.

INDIQUE a alternativa que apresenta outra característica desse gênero textual.

a- Geralmente é publicada em jornais, revistas, televisão, folhetos explicativos e manuais injuntivos.

b- Relata, de forma objetiva e crítica, fatos colhidos no noticiário jornalístico e no cotidiano. c- Tem por objetivo minimizar a situação baseada. d- Não há compromisso em apresentar um narrador-personagem.

QUESTÃO 06

PRODUZA um pequeno texto evidenciando a diferença de linguagem entre os dois textos (pertencentes a um mesmo gênero), considerando a referência bibliográfica de cada um deles como parte de sua fundamentação. ______________________________________________________________________________________________

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Ao terminar de responder, você deverá ficar atento e conferir em cada resposta:

1- a articulação de ideias; 2- o desenvolvimento de respostas; 3- a adequação da resposta ao enunciado; 4- a argumentação lógica; 5- a ortografia e a caligrafia; 6- a pontuação; 8- a contextualização de resposta. Observação: Não use palavras soltas como resposta.

Educador, sugere-se agora que você mostre para aos estudantes um texto sobre

tecnologia.

A ideia é fazer com que os alunos percebam que uma crônica pode nascer de uma discussão jornalística sobre um determinado fato. O texto inicial, jornalístico, tematiza a tecnologia. O segundo texto é uma crônica que tematiza a nostalgia da falta de tecnologia. Apresente os dois textos para os alunos, e peça que comparem e façam as atividades que

seguem.

LEIA atentamente os textos que se seguem, e FAÇA o que se pede logo depois.

Adeus, Valentina!

Antônio Barreto

Quando conheci Valentina ainda era tempo de gabirobas, tanajuras, figurinhas e seriado de Roy Rogers na tela do

Cine Roxy, na “ardeia”. Eu já gostava de escrever poemas em papel de embrulhar pão, para os amigos apaixonados

conquistarem mais depressinha suas inefáveis namoradas. Tudo no presente do indicativo. Assim, compartilhávamos

do mesmo amor platônico, aquele que sentíamos, quase sempre, pelas mesmas meninas. Era um artifício: sem que

ninguém soubesse, me declarava a elas pegando carona no meu próprio poema, que era, na verdade, “para o meu

amigo”. E aquelas viagens de febre e insônia, nos tapetes voadores da paixão, assolavam nossa infância.

Queimávamos por dentro o esplendor da relva que William Wordsworth, mais tarde, iria colocar nas cabeceiras de

nossas camas. E se, na rua, a bola de meia sujava nossos dias com o suor das heroicas batalhas, em casa

passávamos o amor a limpo. Sempre: um coração flechado no canto direito da página. E as trêmulas letras do

cabeçalho: EU TE AMO.

Então, conheci Valentina, que chegou camuflada numa dessas tardes de primavera. Nesse tempo, eu já não sabia

mais onde guardar a memória das coisas. Meu pai também fazia acrósticos, decorava dicionários, enquanto minha

mãe cantava. Mas foi Valentina quem me ensinou, de repente, a respirar de um modo comprido. Na terra a gente

pisa, mas é no ar que nos preparamos para as longas viagens. Devagar, ela me fez ver que o coração funciona

melhor quando as mãos, os dedos, o cérebro e o pensamento pipocam de um jeito mais compassado, sem ânsias de

pendurar verdades nas paredes do mundo. Esse que vem a reboque do que, no fundo, são os tijolos da mentira. E

quase catando o milho dos sentimentos de ouro, no galinheiro das palavras mais bonitas de cantar, Valentina se

sentou comigo debaixo da mangueira. E me soletrou as palavras-diamante, as palavras-pedra, as palavras-seda e as

palavras-dor. E como sempre, sozinha, a palavra-saudade.

Um dia Valentina me mostrou também que um lenço, ou um papel em branco, agitado na estação do trem, não era

gesto de adeus, mas desafio.

Algo ruiu por dentro de mim naquela despedida. Vim sozinho com os “eus” do outro que nela habitava. E fui, aos

poucos, virando bicho urbano, um ser sem passarinho, sem formigas poliglotas, sem pescaria, sem gibi, sem matinê,

sem vírgulas, sem namorada platônica e sem pecado. A saudade de Valentina, certa madrugada, adoeceu-me. E

descobri que já não mais respirava pelo nariz, mas pelas reticências... Voltei para buscá-la. E com ela aprendi de

novo onde colocar uma esquina, aquele olhar perdido do retrato, esse par de cotovelos esperando a chuva, as

prováveis civilizações da Atlântida, as lendas que navegam numa mesa de bar, esses dois olhos negros mergulhados

no vazio das luas suicidas, o menino que se arrasta pelo chão e quer que sua fome morda o rabo do cachorro,

porque esse cheiro de outono úmido, quando e como essa mãe que chora, onde e por quem aquele cego procura, e

essas quaresmeiras explodindo em tons de lilás os véus de noiva, no abril das tardes roxas de gás, em Belo

Horizonte. E por que diabos eu ainda me levanto com essa frase, gravada nos lábios de Valentina: “Hoje é o dia mais

feliz da minha vida!”

Daria tudo para resistir. Mas sou um homem fraco, reconheço. E ingrato. Sei que a indulgência é a maneira mais

polida do desprezo. No entanto, Valentina já estava me deixando ultrapassado, analfabeto. Velha, ranzinza, caduca,

o tempo nela ia timbrando suas marcas, e não tinha conserto. Alquebrada, já sofria de artrite nas juntas ressequidas,

estalava como graveto seus longos e finos dedos, e a coluna: empenada. Pior: não entabulava mais coisa com coisa.

Por isso nos separamos. Faz apenas uma semana, risquei Valentina de minha vida. Definitivamente.

Levado pelas mãos de amigos, conheci “a outra”. Fascinado, me enamorei à primeira vista por seu lay-out de mulher

fatal, repleta de mistérios e outras coisas com as quais eu nunca havia imaginado: as curvas perfeitas, a voz

dissimulada, insinuante, e o insaciável olhar de “quero mais”. Uma verdadeira “máquina”, de performance demoníaca.

É claro que daria tudo para sofrer de novo os mesmos percalços, os mesmos pesadelos e até os mesmos segredos

inconfessáveis que mantive com Valentina. Mas sou um crápula: o tempo mudou, e “a outra” me seduziu com sua

juventude. Nem sei ainda como ela se chama, ou se vai ficar para sempre. Só sei que tem mil maneiras de fazer um

quarentão (que escreve por não saber modo melhor de amar ou de sofrer), se apaixonar.

Estou, irremediavelmente, perdido.

De noite, em suas entranhas de redes e labirintos – que se abrem como janelas que criam atalhos para outras

janelas – configura à minha frente o estranho menu do novo mundo. Navego marinheiro de primeira viagem, sem

memória do antes e do depois. E, com um pouquinho de culpa, vou tentando reorganizar os ícones existenciais que

ficaram tatuados por dentro, na alma da velha companheira. Que ninguém os delete. Como deletaram os cinemas da

minha aldeia, que viraram igrejas evangélicas. Mesmo porque, sempre haverá gabirobas e tanajuras por lá.

Adeus, Valentina!

Fonte: http://tathoon.blogspot.com.br/2007/05/para-quem-teve-uma-valentina-ou.html

“No domínio da ciência (...) todos sabem que a obra construída terá envelhecido dentro de dez, vinte ou cinquenta anos. Qual é, em verdade, a significação em sentido muito especial de que está revestido todo trabalho científico (...)? É o de que toda obra científica ‘acabada’ não tem outro sentido senão o de fazer surgirem novas indagações: ela pede, portanto, que seja ‘ultrapassada’ e envelheça.”

Max Weber, Ciência e Política: duas vocações.

Muitas vezes, o texto não fornece, de forma explícita, as informações necessárias para o leitor construir o (s) sentido(s), e, provavelmente, isso é intencional por parte dele. Neste caso, caberá ao leitor “colaborar” para “tecer”, em conjunto com o autor, o(s) sentido(s) do que foi escrito.

Levantamento das estratégias que você usou para construir os possíveis sentidos do texto. RELEIA o texto e imagine Valentina como a personificação de uma das personagens a seguir:

QUESTÃO 01 Qual das imagens anteriores realmente é Valentina? _____________________________ QUESTÃO 02 ENCONTRE três trechos no texto que, metaforicamente ou concretamente, fazem referência à personagem Valentina como realmente ela é. ENCONTRE, no texto, três trechos que provam a escolha quer você fez na questão 01.

TRECHO 01 ______________________________________________________________________________________________

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TRECHO 02 ______________________________________________________________________________________________

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TRECHO 03

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QUESTÃO 03 De acordo com o dicionário, a palavra “valente” provém do latim valente, “que vale, que tem força”. Dentre outras significações, valente também quer dizer “rijo, resistente”. Na sua opinião, “Valentina” tem condições de resistir diante das inovações tecnológicas da informática? ______________________________________________________________________________________________

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QUESTÃO 04 Uma das características da crônica é a transformação da história pelo tempo. EXPLIQUE o tempo em que se passa a história. ______________________________________________________________________________________________

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LEIA o texto a seguir e COMPARE as temáticas.

A MELHOR AMIGA DO HOMEM

A evolução tecnológica facilitou a vida das pessoas como nem a ficção científica foi capaz de imaginar. E vai fazer ainda mais

A vida real superou a arte. Os supercomputadores não se tornaram mais inteligentes do que o homem nem tomaram

as rédeas do poder, como apregoaram autores de ficção científica nos anos 50 e 60. Em vez disso, a evolução

tecnológica melhorou a vida das pessoas como esses escritores não foram capazes de imaginar. A máquina, e as

formas de inteligência artificial desenvolvidas para fazê-la funcionar melhor, vem tornando o lar, doce lar, cada vez

mais irresistível.

Assistir a filmes em casa confortavelmente em home theaters sofisticados e aparelhos de televisão wide screen de

até 60 polegadas, monitores de plasma e som digital puríssimo faz muitas salas de cinema parecer um programa

menos atraente. A quase simultaneidade entre os lançamentos de filmes no circuito comercial e nas locadoras de

DVD torna a tentação de esperar que o cinema vá até nossas casas, e não o contrário, ainda maior. Se isso já é

bom, vai ficar ainda melhor dentro de poucos anos. Em vez de o telespectador se ajustar à programação das

emissoras, ela é que se adaptará às preferências dele, que escolherá seus programas favoritos e receberá, em seu

aparelho, apenas aquilo que efetivamente deseja ver.

A TV por encomenda é apenas uma das facetas da revolução que está em andamento, comandada pela

convergência das tecnologias de consumo. Num futuro mais próximo do que se imagina, todos os aparelhos

domésticos conversarão entre si. Isso será possível graças às redes sem fio (wi-fi) e à transmissão de dados em alta

velocidade. O princípio é o mesmo da internet e da tecnologia da terceira geração de celulares. "A capacidade ä de

alcançar o consumidor onde quer que ele esteja e de trocar dados acontecerá em redes de banda larga conectadas

entre si", explica o presidente da Lucent Technologies no Brasil - empresa que é líder mundial em implantação de

infraestrutura e serviços para redes móveis 3G -, José Roberto Campos. "Em alguns anos, as pessoas poderão

acender as luzes, fechar as janelas ou checar o sistema de segurança de sua casa mesmo estando do outro lado do

mundo." Tão simples como, hoje, é tirar os recados da secretária eletrônica a distância.

A convergência das tecnologias em redes de alta velocidade revolucionará o

trabalho, o estudo e o lazer

A internet de alta velocidade aumentou a oferta de serviços de entretenimento voltados para o indivíduo. Pela rede, é

possível ouvir e baixar músicas de qualquer país e de quase todas as épocas - gratuitamente ou a preços mais

atraentes do que os de um CD inteiro. Trabalhar em casa, por escolha ou necessidade, virou realidade para milhões

de pessoas em todo o mundo. Os celulares top de linha, o palm, o laptop e as câmeras digitais, fotográficas ou

filmadoras transformaram cada pessoa potencialmente em uma estação móvel de trabalho. A oferta de ensino a

distância cresce em todos os níveis do ensino superior, com a abertura de cursos de graduação e de pós-graduação

em grandes universidades brasileiras - como a de Brasília (UnB), a federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a de

São Paulo (USP). Sem sair do país, já é possível fazer mestrado em universidades americanas e europeias.

Hoje, a rede mundial de computadores é o principal veículo de navegação na superestrada da informação. Quem não

está plugado nela, não seria exagero dizer, é uma espécie de cidadão não-globalizado. Nunca é demais lembrar que

há dez anos a internet comercial não existia. Mas essa exclusividade não vai durar muito tempo. Os celulares 3G

cumprirão muitas tarefas que, por ora, somente a web é capaz de dar conta. O que a tecnologia não fará por nós

daqui a mais dez anos?

Há dez anos, poucos imaginavam que a internet se tornaria um instrumento de

primeira necessidade

Sem fazer exercício de futurologia ou marcar data para novos saltos tecnológicos, o coordenador do Laboratório de

Sistemas Integrados da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, João Antonio Zuffo, confirma que vêm por

aí novidades tão boas quanto a internet. "A geladeira fará as compras do mês pela dona de casa informando ao

supermercado que produtos estão faltando. Os cômodos da casa ajustarão a intensidade das luzes, do ar-

condicionado e da música ambiente às preferências dos moradores", afirma.

Zuffo sabe o que diz. Ele não fica sentado em sua sala, na Faculdade de Engenharia Elétrica, na USP, esperando o

futuro chegar. Em vez disso, comanda uma equipe de 350 pessoas, e 40 doutores em Engenharia da universidade,

em projetos futuristas para empresas e governos. "Criamos um pneu inteligente, a pedido da Pirelli, capaz de medir a

temperatura e o desgaste dos pneus, além de sua localização por GPS. Como fizemos isso? Injetando um microchip

no pneu durante o processo de fabricação." A pedido do governo federal, Zuffo e equipe desenvolveram um projeto

de TV interativa para ser usado pelo Ministério da Educação em escolas da rede pública. "Por meio dele, a baixo

custo, as escolas terão acesso a redes de computação e estarão integradas com mais eficiência ao sistema de

ensino."

Num futuro próximo, a geladeira informará ao supermercado os produtos que estão

faltando

O carro do futuro também conversará com as redes de comunicação. Você talvez não tenha se dado conta, mas

computadores de bordo já atuam como uma espécie de cérebro auxiliar do motorista, comandando funções rotineiras

como a queima otimizada de combustível, a redução de emissão de gases poluentes e a regulagem dos freios. Em

pouco tempo, farão bem mais que isso. Eles saberão quando reduzir a velocidade para evitar colisões, consultarão

mapas e informações de trânsito via rede para indicar o melhor caminho, manterão a velocidade adequada para cada

avenida e liberarão o motorista de tarefas mecânicas, como trocar marchas e sinalizar mudanças de pista. Com isso,

ele poderá desfrutar melhor do sistema de som e imagem instalado no possante. Em vez de ouvir o noticiário, poderá

vê-lo enquanto aguarda o semáforo abrir.

O que pode parecer peça de ficção científica está mais próximo do que se imagina. Já há no mercado produtos como

um kit veicular viva voz acoplável ao encosto do banco do motorista, o Nokia 610, que capta o sinal do telefone

celular e libera o condutor de usar as mãos para atender ligações - e também efetuá-las no caso de o aparelho

possuir comando de discagem por voz. O futuro está chegando em doses homeopáticas.

Disponível em http://www.superdicas.com.br/almanaque/almanaque.asp?u_action=display&u_log=253 - Acesso em 21 de maio de 2012.

PRODUZA um pequeno texto mostrando a relação entre “Adeus, Valentina” e o texto jornalístico

anterior. É possível dizer que o primeiro teve inspiração nas temáticas construídas pelo segundo?

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Professor, depois de todo esse trabalho de reconhecimento da crônica, sugere-se, para

finalizar este projeto, que os alunos produzam um texto inscrito no gênero crônica.

Para isso, propõe-se, a seguir, uma atividade de interpretação e, ao final, a correção e

avaliação deve se basear na pauta que foi elaborada especialmente para esse gênero.

LEIA a notícia a seguir.

LEÃO ATACA TRATADOR NOS EUA Um casal americano em lua-de-mel filmou um impressionante ataque de um leão a um tratador no dia 1º de setembro. Titus e Drew Ellis passavam férias em Las Vegas, nos Estados Unidos, e filmavam os leões do hotel MGM Grand. O cinegrafista amador acabou filmando a agressão do felino. O leão parecia estar relaxando quando, de repente, parte para cima de um dos tratadores. Com algum esforço, além da ajuda do colega e da leoa, que tentaram dissuadir o leão da briga, o tratador conseguiu fugir. Segundo o MGM, o homem foi levado a um hospital e liberado após ter recebido tratamento na perna.

Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/bbc/796030-leao-ataca-tratador-nos-eua-veja-video.shtml com acesso em 09 de setembro de 2010.

Agora é a sua vez! PRODUZA uma crônica situacional que narre esse acontecimento. Ao final, leve o leitor a refletir sobre como os seres humanos, após se acostumarem a lidar com o perigo, acabam se descuidando em algum momento. Sua crônica deve apresentar:

Título

Personagens

Contextualização (local e situação)

Narrador em 3ª pessoa

Desenvolvimento ficcional do fato (Crie! Imagine falas, pensamentos comportamentos para

as personagens envolvidas)

Desfecho reflexivo na fala de um dos personagens

Mínimo de 35 linhas.

PAUTA DE ORIENTAÇÃO E CORREÇÃO — Crônica —

Critérios de desenvolvimento/análise/avaliação 1ª versão – atendeu ou ainda falta?

2ª versão – atendeu ou ainda falta ?

Avaliação do(a) professor(a)

O texto não tem a intenção de relatar um fato cotidiano, mas apresentá-lo de forma inédita, inusitada, surpreendente e/ou até mesmo lírica.

Há encadeamento de ideias e/ou situações narrativas lógico,coerente.

Há cuidado na seleção vocabular, também procurando fazer com que a linguagem seja leve, solta, próxima ao leitor.

Produção de texto

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Há uso adequado do registro formal.

Ocorrência de problemas ortográficos incompatíveis com a série e com o gênero proposto.

Ocorrência de problemas gramaticais incompatíveis com a série e com o gênero proposto.