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    PROJETO TICO POLTICO: QUAIS OS FIOS PARA A SUA CONSOLIDAO? UMA ANLISE DA EFETIVAO DO PROJETO TICO-POLTICO DO SERVIO SOCIAL

    Dbora Begati Viana1 Rafaela Marangon Dia2

    RESUMO

    O artigo em questo tem como objetivo tecer uma discusso acerca da efetivao do projeto tico-poltico no trabalho cotidiano do assistente social. Para tal sero contempladas algumas discusses no que concerne a construo do projeto tico-poltico da categoria, que se consubstanciam nas produes tericas produzidas no interior da profisso, bem como os parmetros jurdicos que regulamentam o exerccio e formao profissional, tais como a Lei que Regulamenta a profisso, o Cdigo de tica Profissional etc.. Entende-se o processo de trabalho ao qual se inserem os assistentes sociais e a expanso dos espaos scio-ocupacionais na atualidade, elucidando a condio de assalariamento dos assistentes sociais e a flexibilizao destas condies de trabalho. Toda a discusso aqui desenvolvida tem como foco afirmar ou refutar a hiptese inicial das pesquisadoras, que o projeto tico-poltico no vem se efetivando no trabalho cotidiano do assistente social devido s prticas conservadoras que no esto consoantes com os princpios ticos delineados pelo mesmo.

    Palavras-chave: Exerccio Profissional. Projeto tico-poltico. Dimenso terico-metodolgico. Conservadorismo.

    1 Graduada em Servio Social pela Universidade Presidente Antnio Carlos UNIPAC/ Ipatinga em 2011. 2 Graduada em Servio Social pela Universidade Presidente Antnio Carlos UNIPAC/ Ipatinga em 2011.

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    1 INTRODUO

    A presente pesquisa retrata uma reflexo sobre a efetivao do projeto tico-poltico

    no cotidiano de trabalho do assistente social, a partir de uma densa reflexo terica e

    coletas de dados realizados em alguns espaos scio-ocupacionais do municpio de Ipatinga,

    referenciados nas polticas de Assistncia, Sade, Segurana Pblica e Habitao. A

    delimitao do universo de pesquisa vinculado a estas quatro polticas pblicas justifica-se

    pelo fato de ser o setor pblico predominantemente o maior empregador de profissionais

    do Servio Social, o que configura a escolha das alunas discentes pesquisadoras em delimitar

    a esfera pblica municipal para ser o mbito da pesquisa.

    Tm-se como pressuposto a ser refutado ou afirmado que o projeto tico-poltico

    no vem se efetivando no trabalho cotidiano do assistente social devido s prticas

    conservadoras que no esto em consonncia com os princpios ticos delineados pelo

    mesmo. A partir da leitura dos dados colhidos em entrevistas atrelado ao arcabouo terico

    que orienta o estudo, foi possvel identificar a fragilidade da efetivao do projeto

    profissional do Servio Social, no sendo possvel, afirmar que as concluses aqui

    apresentadas so em nica instncia os motivadores para as dificuldades encontradas pelos

    profissionais.

    As variveis utilizadas pelas autoras levam em conta a concepo sobre o trabalho

    profissional e a concepo sobre o projeto tico-poltico. O estudo em questo de extrema

    relevncia categoria de assistentes socais, portanto a mesma visa corroborar para uma

    anlise dos profissionais de sua atuao e legitimidade da profisso nos diversos espaos em

    que atua na sociedade na atualidade.

    2 SERVIO SOCIAL: UMA NOVA MORALIDADE PROFISSIONAL

    2.1 Elementos Constitutivos do Projeto tico-poltico do Servio Social

    Com o advento do Movimento de Reconceituao na dcada de 1960, a direo

    terica e poltica do Servio Social passam a mudar. Houve a construo de uma nova

    moralidade profissional atrelada participao poltica em oposio ao tradicionalismo

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    apontando para origem de uma nova tica profissional. A inteno de ruptura d incio a

    uma direo comprometida com as classes trabalhadoras e, com isso, pauta-se em valores

    que do sustentabilidade construo do projeto tico poltico da profisso.

    Sob a influncia das crticas operadas no bojo do Movimento de Reconceituao

    Latino Americano e da aproximao com o marxismo, origina-se uma nova tica profissional

    com novos rumos e direcionamentos, construindo assim uma nova moralidade pautada na

    participao poltica e no trabalho com movimentos populares.

    Alm do engajamento poltico junto aos movimentos sociais democrticos, o Servio

    Social comea a estudar e produzir uma literatura crtica, voltada busca de compreenso

    do significado da profisso, participa do debate e das entidades latino-americanas, busca

    elementos para a superao crtica dos equvocos, questiona as teorias tradicionais,

    denuncia a neutralidade profissional e anuncia seu compromisso com as classes

    trabalhadoras. Movendo-se pela inteno de ruptura e acreditando na liberdade, uma

    parcela de profissionais que optou por encontrar novas bases de legitimao para o Servio

    Social, resiste ditadura fazendo escolhas pautadas em valores emancipatrios num

    momento de represso e hegemonia conservadora na profisso. (BARROCO, 2008).

    Este perodo revela a busca dos profissionais do Servio Social por referncias

    terico-metodolgicas que sustentassem a nova proposta de profisso. Havia uma

    aproximao equivocada com o marxismo e na dcada de 1970 as formas de incorporao

    desta corrente adquirem condies de ser reavaliadas. Nesta poca estendeu-se uma crtica

    ao voluntarismo, ao messianismo, ao revolucionarismo.

    Portanto, no perodo de reabertura poltica brasileira que a direo social dos

    rgos de representao da categoria de assistentes sociais, at ento conservadora em sua

    hegemonia, alterada. A partir deste marco Barroco (2008) afirma que:

    No contexto da reorganizao poltica da sociedade civil, em defesa da democratizao e da ampliao dos direitos civis e scio - polticos, os valores tico - polticos inscritos no projeto profissional de ruptura adquirem materialidade, o que evidencia na organizao poltica da categoria, na explicitao de ruptura com o tradicionalismo profissional e no amadurecimento da reflexo de bases marxistas. (BARROCO, 2008, p.168).

    Neste contexto ampliam-se as possibilidades da crtica tica tradicional e, nesse

    sentido, a influncia de Gramsci aparece em vrias produes permitindo uma

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    reinterpretao das possibilidades de ruptura, o que influencia o novo Currculo de Servio

    Social, em 1982, e a elaborao do Cdigo de tica de 1986, expresso formal da ruptura

    tica com o tradicionalismo do Servio Social.

    Segundo Barroco (2008), o Cdigo de 1986, diante da politizao que marca a

    interveno da vertente de ruptura na profisso, visa garantir uma prtica voltada s

    necessidades dos usurios afirmando o compromisso com a classe trabalhadora. No entanto,

    a forma como ele colocado no mbito de um Cdigo tica Profissional e ao vincular o

    compromisso profissional com a classe trabalhadora, sem estabelecer a mediao de valores

    prprios tica, reproduz uma viso to abstrata quanto a que se pretende negar. Mostrou-

    se insuficiente em certos aspectos do ponto de vista terico e filosfico e apresentou

    fragilidades quanto operacionalizao profissional no cotidiano.

    Desta forma houve a reviso do Cdigo de 1986, culminando-se no cdigo de tica de

    1993, reafirmando os seus valores fundamentais (a liberdade e a justia social) articulando-

    os exigncia democrtica que favorece a ultrapassagem das limitaes reais que a ordem

    burguesa impe ao desenvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e garantias individuais

    e sociais. Esta reviso tambm cuidou-se de precisar a normatizao do exerccio

    profissional, preservando-se os direitos e deveres profissionais, a qualidade dos servios e

    tambm a responsabilidade diante do usurio.

    Este ltimo Cdigo de tica representa a direo dos compromissos assumidos pelo

    Servio social nas ltimas dcadas do seu percurso histrico. Sob a perspectiva hegemnica,

    diferentemente do que marcante na maior parte da sua histria, este Cdigo coloca-se em

    contraposio aos interesses e valores prevalecentes na ordem do capital, podendo-se nele

    observar claramente uma perspectiva crtica ordem econmico-social estabelecida e a

    defesa dos direitos dos trabalhadores.

    Ressalta-se tambm na dcada de 1980 e 1990 a construo coletiva de outro

    documento que d materialidade ao projeto tico poltico, as Diretrizes Gerais para o curso

    de Servio Social. Essas diretrizes expressam a base comum para a formao profissional,

    sendo referncia para cada instituio de ensino elaborar seu currculo pleno. (PEREIRA,

    2007).

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    A Associao Brasileira de Ensino de Servio Social ABESS3, com apoio do Conselho

    Federal de Servio Social - CFESS e da Executiva Nacional dos Estudantes de Servio Social

    ENESS promoveram e coordenaram a reviso do currculo mnimo vigente desde 1982, entre

    1994 e 1996. Segundo Pereira (2007), com base no currculo mnimo aprovado em

    Assemblia no dia 8 de novembro de 1996, as Diretrizes Gerais para o curso de Servio Social

    afirmam a dimenso investigativa como elemento central numa relao atrelada entre

    teoria e realidade. Desta forma as diretrizes buscam romper com a tenso entre teoria e

    prtica como dimenses antagnicas na formao profissional.

    Desta forma, podemos afirmar que no h um currculo que seja nico, universal,

    definitivo e insubstituvel. Ele um espao para pensar e reinventar a realidade na qual

    opera, pois impossvel ter um currculo que abranja todas as questes do cotidiano das

    instituies acadmicas e de exerccio profissional do Servio Social. O currculo a

    expresso de recortes epistemolgicos, conceitual, contextual, histrico, pedaggico, etc., e

    condensa certas opes do que analisar e propor, ensinar e aprender, criar e recriar, etc.

    (ABESS/CEDEPSS, 1998).

    Segundo Teixeira e Braz (2009), identificam-se como elementos constitutivos do

    projeto tico-poltico: a explicitao de princpios e valores ticos-polticos, a matriz terico-

    metodolgica em que se ancora, a crtica radical ordem social vigente e os

    posicionamentos polticos acumulados pela categoria atravs de suas formas coletivas de

    organizao poltica em aliana com os setores mais progressistas da sociedade brasileira.

    Estes elementos se objetivam e se expressam a partir de determinados componentes

    construdos pelos Assistentes Sociais como: a produo de conhecimentos no interior do

    Servio Social, as instncias poltico-organizativas da profisso e sua dimenso jurdico-

    poltica.

    As produes de conhecimento do Servio Social tm como parmetros as

    tendncias terico-crticas do pensamento social, cujas produes so indispensveis para a

    compreenso da profisso. Nelas so sistematizadas as diversas modalidades prticas da

    profisso, onde se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional, descartando

    qualquer forma de postura terica conservadora. As instncias poltico-organizativas da

    profisso envolvem tanto os fruns de deliberao, quanto as entidades da profisso: as

    associaes profissionais, as organizaes sindicais e, fundamentalmente, o conjunto 3 Atualmente Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social ABEPSS.

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    CFESS/CRESS (Conselho Federal e Conselhos Regionais de Servio Social), a ABEPSS

    (Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social), alm do movimento

    estudantil representado pelo conjunto de CAs e DAs (Centros e Diretrios Acadmicos das

    unidades de ensino) e pela ENESSO (Executiva Nacional de Estudantes de Servio Social).

    A dimenso jurdico-poltica constitui o arcabouo legal e institucional da profisso,

    que envolve um conjunto de leis e resolues, documentos e textos polticos consagrados no

    seio da profisso. Como componentes construdos e legitimados pela categoria temos o

    atual Cdigo de tica Profissional de 1993, a Lei de Regulamentao da Profisso (Lei

    8662/93) e as Novas Diretrizes Curriculares do Curso de Servio Social de 1996, que j foram

    mencionadas no incio deste item. Temos tambm o conjunto de leis (a legislao social)

    advindas do captulo da Ordem Social da Constituio Federal de 1988 que, embora no

    exclusivo da profisso, diz respeito tanto sua implementao pelos assistentes sociais em

    suas diversas reas de atuao, quanto a participao decisiva que tiveram e tem na

    construo e aprovao das leis e no reconhecimento dos direitos na legislao social por

    parte do Estado em seus trs nveis. (TEIXEIRA; BRAZ, 2009).

    Entendemos que este arcabouo legal da profisso supracitados por si s no

    eficiente para assegurar a consolidao do projeto tico poltico, embora este conjunto de

    leis d suporte ao fazer profissional, assim como a legitimidade da profisso, sabemos que a

    discusso muita ampla, qual no esgotaremos aqui, uma vez que a efetivao do projeto

    tico-poltico perpassa pelo saber profissional e a maneira que cada um o implementa,

    levando em conta fatores econmicos, polticos e culturais.

    Desta forma, discutir sobre a consolidao do projeto tico-poltico profissional na

    atualidade essencial apontar os meios para sua implementao e os desafios que o mesmo

    enfrenta no cotidiano frente lgica capitalista vigente. A discusso que abordar estes

    aspectos ser aprofundada no item a seguir, apontando os principais fatores que dificultam

    a efetivao do projeto profissional num contexto neoliberal.

    2.2 Servio Social: Mercado e condies de trabalho na contemporaneidade

    O Servio Social enquanto profisso encara nos tempos atuais desafios cada vez

    mais diversificados, defronta-se com uma lgica de assalariamento ao mesmo passo que se

    amplia os espaos de trabalho e atuao profissional, o que propicia grandes transformaes

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    e impactos frente ao exerccio e o cumprimento de sua direo social, portanto o item a

    seguir resgata o debate da profisso inserida no mundo do trabalho e discute sobre as

    condies atuais postas ao profissional para efetivar seu projeto profissional. (IAMAMOTO,

    2008).

    importante salientar que a perspectiva que orienta este estudo o

    entendimento do Servio Social como trabalho e podendo ser identificado no mesmo, seus

    elementos constitutivos. O Servio Social tem como objeto de trabalho a questo social

    em suas multifaces, que provoca uma ao do assistente social; como instrumentos tm-se

    todo o conhecimento terico-metodolgico apreendido durante todo o processo formativo

    do profissional, meio pelo qual o assistente social tem para decifrar a realidade e assim

    intervir, ou seja, no se esgota no manejo de tcnicas como: entrevistas, reunies, planto,

    encaminhamentos, dentre outros.

    De acordo como Iamamoto (2008), sendo o assistente social um profissional liberal,

    operando numa relativa autonomia na conduo do seu exerccio, foram necessrios

    estatutos legais que fornecessem estas bases para este exerccio, quais sejam: o Cdigo de

    tica, a lei que regulamenta a profisso e as resolues que so normatizadas pelo Conselho

    Federal de Servio Social CFESS. Mas h uma real tenso do profissional e sua autonomia

    diante da relao de troca da sua fora de trabalho especializada, diante de seus

    empregadores, tais como: Estado, empresrios, organizaes e etc. IAMAMOTO (2008) ainda

    afirma que: o significado social do trabalho profissional do assistente social depende das

    relaes que estabelece com os sujeitos sociais que contratam, os quais personificam

    funes diferenciadas na sociedade. (p. 215).

    Os empregadores determinam as necessidades sociais que o trabalho do assistente

    social deve responder, delimitam a matria sobre a qual incide esse trabalho interferindo

    nas condies em que se operam os atendimentos assim como os efeitos na reproduo das

    relaes sociais. Impe as exigncias trabalhistas e ocupacionais aos seus empregados e

    mediam as relaes com o trabalho coletivo por eles realizados, sob estas condies que o

    assistente social tem encontrado formas de exercer a sua funo aliado a coletividade da

    classe trabalhadora.

    Desta forma imprescindvel entender o tensionamento existente entre a autonomia

    profissional e as exigncias institucionais, demandando de forma efetiva a postura

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    estratgica, criativa e propositiva dos profissionais, bem como domnio sobre seus

    instrumentos de trabalho e assim no comprometer a efetivao do projeto profissional.

    3 PROJETO TICO POLTICO: QUAIS OS FIOS PARA SUA CONSOLIDAO?

    3.1 Caminho Metodolgico

    A pesquisa de campo deste estudo se deu a partir de entrevistas com um total de 16

    assistentes sociais, dentre os mesmos haviam profissionais das polticas de Assistncia

    Social, Sade, Habitao e Segurana Pblica. Foram realizadas entrevistas, previamente

    permitidas pelos profissionais, orientadas por um roteiro semiestruturado para coleta de

    dados a serem analisados. O roteiro foi subdivido em itens a serem analisados

    posteriormente, vale ressaltar que neste artigo no foram apresentados todos os itens

    diante de sua extenso, as autoras portanto elegeram dois dos eixos de anlise para

    discorrer sobre a efetivao do projeto profissional.

    3.2 Concepo sobre o trabalho profissional

    Os profissionais destacaram as atividades que realizam no interior das instituies e

    polticas pesquisadas, majoritariamente o que se percebeu enquanto aes, salvo as

    especificidades das polticas de atendimento, foram: visitas domiciliares, visitas

    institucionais, acompanhamento de grupos, indivduos e famlias, orientaes,

    encaminhamentos, atividades com usurios em grupos de convivncia, relatrios sociais,

    acolhimento, atendimentos sociais.

    Os profissionais conseguem visualizar os instrumentos que so utilizados e as

    atividades que realizam, mencionam sobre a impresso do seu olhar especializado nos

    relatrios e encaminhamentos. Apesar de existirem algumas lacunas no que se refere

    sistematizao, dando um enfoque mais tecnicista atuao profissional, as aes que os

    profissionais realizam esto em consonncia com aes do assistente social pautada na

    lgica da garantia de direitos.

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    3.3 Concepo sobre o projeto tico-poltico

    Diante das questes que nortearam o referido eixo de anlise, tem-se que a maioria

    dos profissionais afirma saber o que o projeto tico-poltico, consegue assimilar os seus

    princpios e sua importncia diante da histria da profisso. Todos os assistentes sociais

    afirmam conhecer o projeto tico-poltico e o contexto histrico em que o mesmo foi

    construdo e legitimado. A maioria dos profissionais entrevistados (87%) percebem a

    efetivao do projeto profissional em seu cotidiano. A justificativa dos profissionais que no

    percebem tal efetivao est relacionado ao fato de o considerarem um avano, contudo

    algo que ainda est no papel.

    Neste eixo de anlise foi perceptvel que parte dos profissionais entendem

    equivocadamente o conceito de projeto tico-poltico, onde em muitas falas foi ntida o

    resumo do mesmo ao Cdigo de tica do Assistente Social e Lei que regulamenta

    profisso. Esta pode ser afirmada ainda quando os profissionais remetem ao aprendizado

    deste projeto a uma disciplina acadmica.

    importante destacar que, conforme Ramos (2009), o projeto tico-poltico foi

    construdo em meados da dcada de 1990 e se expressa em trs nveis: (...) na produo do

    conhecimento, nos marcos legais e na organizao poltica (p.43), deixando claro, portanto,

    que o projeto por si s no algo palpvel, ele se constitui em vrios mecanismos, um

    projeto macro que abarca politicamente vrios aspectos: a Lei de regulamentao da

    profisso, as novas diretrizes curriculares de 1996, a produo terica produzida, os

    organismos representativos quanto legalidade e organizao da categoria de assistentes

    sociais, dentre outros.

    Segundo Ramos (2009), a efetivao do projeto tico-poltico e, conseqentemente,

    da profisso do Servio Social, depende da mobilizao dos profissionais para defender,

    efetivar e legitimar os princpios ticos da profisso que foram regulamentas a luz de

    discusses coletivas e lutas da categoria e, por conseguinte, fazer valer o arcabouo terico

    e tcnico da profisso frente conjuntura atual, onde impera grandes desafios, tanto

    internos quanto externos profisso.

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    4 CONSIDERAES FINAIS

    Ao final desta pesquisa, atravs de um rduo processo de reflexo terica e inmeras

    inquietaes quanto ao cotidiano do exerccio profissional, pode-se perceber que esta

    discusso extremamente complexa e requer um movimento constante para sistematizar

    com maior veemncia os preceitos que circundam a profisso do Servio Social. Destacando

    que a escolha do objeto de estudo, retrata mesmo uma preocupao das autoras em

    avanar na produo em matria de Servio Social, visando contribuir para o

    enriquecimento da produo e desvendar alguns paradigmas que profisso ainda so

    atribudos na atualidade.

    A complexidade da discusso justificou a reduzida diversidade na produo sobre a

    especificidade da profisso em comparativo com a produo de polticas sociais. E denota

    uma necessria circunstncia de estudos e sistematizaes sobre o exerccio profissional,

    face s observaes apreendidas neste estudo. A fragmentao das dimenses formativas

    em Servio Social, conforme se pode observar nos dados colhidos e analisados nesta

    pesquisa, denota uma fragilidade tambm na formao e sistematizao desta discusso em

    nvel acadmico, pois esta deve ser fortalecida nestes espaos privilegiados de discusso.

    Um dos eixos que nortearam a anlise concisa sobre a hiptese em questo refere-se

    concepo sobre o projeto tico-poltico do Servio Social. Entre as assistentes sociais

    entrevistadas observa-se que esta concepo se manifestou de forma fragmentada e

    fragilizada, denotando a falta de compreenso das mesmas em definir de forma objetiva e

    clara sobre a sua real definio. Concebem o projeto profissional de forma palpvel e que

    pode ser lido, no realizando a associao s determinantes jurdicas da profisso que foram

    se desenvolvendo historicamente em consonncia com as transformaes societrias.

    As fragilidades dessa dimenso encontram-se na esfera terica. Ou seja, foram

    evidenciadas dificuldades para fazer as mediaes necessrias. Esta situao denota uma

    fragmentao da dimenso terico-metodolgico, pois as entrevistadas articulam os fins a

    meios que no sabem bem definir, as aes desenvolvidas pelos assistentes sociais, no so

    aes conservadoras e equivocadas, constituem em aes que fazem parte do trabalho

    cotidiano dos assistentes sociais, e da forma como esto sendo desenvolvidas, mesmo com

    as fragilidades das condies de trabalho, esto pautadas numa perspectiva de garantia de

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    direitos, mas a lacuna est em refletir e realizar mediaes sobre a prtica profissional, ou

    seja, a concepo da dimenso terica.

    A inspirao por este trabalho, parte das inquietaes das autoras que se depararam

    com estas situaes de resqucios do conservadorismo durante o processo formativo e de

    atuao profissional. Mas ao finalizar este estudo, percebe-se que esta hiptese no real, e

    esta tambm est atrelado ao fato de que novas precariedades vo incidir sobre a profisso

    no sentido de inoper-la, pois, seu posicionamento ideolgico coletivo no de ser

    funcionalista, mesmo que as condies o empurre nesta fragilidade. Desta forma no se tem

    o objetivo de encerrar a discusso, pois, ainda so necessrias muitas sistematizaes e

    pesquisas a fim de contribuir para este projeto que de to arrojada encontra inmeras e

    expressveis contradies para se efetivar.

    O Servio Social tem tentado manter o seu projeto profissional pautado na defesa de

    valores humano-genricos, que so valores que vo contramo de tudo o que gera as

    acirradas desigualdades sociais nas quais o assistente social chamado a intervir

    cotidianamente. A manuteno desse projeto na sociabilidade contempornea j um feito

    admirvel para uma profisso. O esforo pela adeso contnua da categoria ainda mais

    admirvel e necessrio.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ABESS/CEDEPSS. Reviso curricular do curso de Servio Social. In. Caderno ABESS n. 6.

    Produo cientfica e formao profissional. (ed. especial). So Paulo. Cortez, 1998.

    BARROCO, Maria Lucia Silva. tica e Servio Social: fundamentos ontolgicos. 6 Edio. So

    Paulo, Cortez, 2008.

    BRAZ, Marcelo. A hegemonia em xeque: Projeto tico-poltico do Servio social e seus

    elementos constitutivos In: In: Revista Inscrita n10. Braslia, CFESS, 2007.

    IAMAMOTO, Marilda Vilela. Servio Social em tempo de capital fetiche. Capital financeiro,

    trabalho e questo social. 3 Edio, So Paulo: Cortez, 2008.

    PEREIRA, Sheila da Silva. O projeto tico-poltico do servio social no debate profissional:

    uma anlise das produes apresentadas no XI CBAS sobre a particularidade da poltica de

    assistncia social. Rio de Janeiro, 2007.

    TEIXEIRA, Joaquina Barata. BRAZ, Marcelo. O projeto tico-poltico do Servio Social. Servio

    Social: Direitos Sociais e Competncias Profissionais. Braslia, CEFESS/ABEPSS, 2009.

    RAMOS, S. R. . Limites e possibilidades histricas do projeto tico-poltico. Revista Inscrita

    (Rio de Janeiro) 2009.