projeto e construcao_de_um_equipamento

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Centro Universitário da FEI Projeto de Pesquisa Projeto e construção de um equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa livre Relatório Final Aluno: Rodrigo de Souza Suzuki email: [email protected] Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Câmara Cozza email: [email protected] Departamento de Engenharia Mecânica

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Page 1: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Centro Universitário da FEI

Projeto de Pesquisa

Projeto e construção de um equipamento

de ensaio de desgaste micro-abrasivo por

esfera rotativa livre

Relatório Final

Aluno: Rodrigo de Souza Suzuki

email: [email protected]

Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Câmara Cozza

email: [email protected]

Departamento de Engenharia Mecânica

Page 2: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, a Deus pela oportunidade que me foi dada. Gostaria de

agradecer, também, ao meu Orientador, Prof. Dr. Ronaldo Câmara Cozza, à minha família e

todas as pessoas que colaboraram de alguma forma para que este projeto fosse possível.

Page 3: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Resumo

Nos últimos dez anos, a comunidade científica voltada à Tribologia vem demonstrando

grande aceitação e interesse na aplicação de ensaios de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa, sendo observado um crescimento significativo de tal configuração experimental nas

mais diversas pesquisas, envolvendo o estudo do desgaste abrasivo de materiais metálicos e

não-metálicos, sob condições variadas de ensaio. Entretanto, atualmente, nos equipamentos

comercialmente disponíveis utilizados neste tipo de ensaio, ainda observam-se limitações

mecânicas que impedem, na prática, a medição do coeficiente de atrito desenvolvido no

sistema tribológico “esfera – partículas abrasivas – corpo-de-prova”. Tentando contribuir para

sanar essa deficiência, este Projeto de Pesquisa teve como objetivo, projetar e construir uma

máquina de ensaio de desgaste micro-abrasivo por “esfera rotativa livre”, hábil a medir o

coeficiente de atrito no referido tribo-sistema. Trata-se de um incremento mecânico-científico

relativamente interessante e importante para os pesquisadores envolvidos neste tema, visto

que, até o momento, o coeficiente de atrito, neste tipo de equipamento, foi determinado

somente de forma prática, pelo Prof. Ian M. Hutchings – Universidade de Cambridge/ING,

que desenvolveu o experimento em questão. Neste relatório, estão sendo apresentados o

equipamento montado e os resultados obtidos. O equipamento apresentou estabilidade de

operação e o gráfico do volume de desgaste em função do tempo de ensaio exibiu uma

tendência linear de crescimento, o que indica a obtenção do Regime Permanente de Desgaste.

Em relação ao coeficiente de atrito, o mesmo mostrou constância com o tempo, indicando

concordância qualitativa com trabalhos publicados em revistas internacionais focadas em

Tribologia.

Palavras-chave:Ball-cratering, desgaste abrasivo, coeficiente de atrito.

Page 4: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Lista de Figuras

Capítulo 2

Figura 2.1. Forças atuantes em um bloco em movimento. ____________________________3

Figura 2.2. Representação esquemática do ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa [3,4]. _______________________________________________________________4

Figura 2.3. Fundamentação do (a) desgaste abrasivo por riscamento [11] e (b) desgaste

abrasivo por rolamento [11]. ___________________________________________________5

Figura 2.4. Marcas de desgaste abrasivo por (a) riscamento [4] e (b) rolamento [12]. ______5

Figura 2.5. Modo misto: ação simultânea de desgaste abrasivo por “riscamento” e

“rolamento” [13]. ___________________________________________________________6

Figura 2.6. Ocorrência de micro-rolamento. (a)-(b) Força normal de N = 1.25 N; (c)-(d) força

normal de N = 5 N [14]. Distância de deslizamento de S = 100 m [14]. _________________6

Figura 2.7. Máquina de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa fixa [16]. ____7

Figura 2.8. Máquina de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa livre [15]. ___8

Capítulo 3

Figura 3.1. Princípio básico de funcionamento do equipamento de ensaio de desgaste micro-

abrasivo por esfera rotativa livre projetado e construído. _____________________________9

Figura 3.2. Esforços atuantes no corpo-de-prova durante os ensaios. __________________10

Figura 3.3. Esforços atuantes no contato entre eixo e esfera. _________________________11

Figura 3.4. Esforços no ponto de contato entre o eixo e a esfera. ______________________12

Figura 3.5. Especificações técnicas do motor elétrico selecionado [17]. ________________15

Figura 3.6. Dimensões do eixo de ensaio. ________________________________________16

Page 5: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Figura 3.7. Diagrama de momento fletor do eixo. _________________________________20

Figura 3.8. Especificações técnicas dos rolamentos [19]. ____________________________22

Figura 3.9. Especificações técnicas dos mancais [19]. ______________________________23

Figura 3.10. Mancais de rolamento a serem utilizados no equipamento em construção. ____23

Figura 3.11. Força normal e força de atrito no corpo-de-prova. _______________________24

Figura 3.12. Peças usinadas para as fixações das células de carga e corpo-de-prova. ______25

Figura 3.13. Forno utilizado para aquecer a peça a 835 ºC. __________________________27

Figura 3.14. Momento do resfriamento do eixo. ___________________________________28

Capítulo 4

Figura 4.1. Equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa livre

projetado e construído. ______________________________________________________29

Figura 4.2. Células de carga destinadas ao controle da força normal e medição da força

tangencial. ________________________________________________________________30

Figura 4.3. Suporte para fixação do corpo-de-prova. _______________________________31

Figura 4.4. Conexão entre o eixo de ensaio e o motor elétrico monofásico. _____________32

Capítulo 5

Figura 5.1. (a) Imagem obtida por Microscopia Eletrônica de Varredura – MEV e a

(b) distribuição granulométrica do SiC utilizado neste trabalho de Iniciação Científica.

Diâmetro médio de partícula abrasiva: 3 m._____________________________________34

Page 6: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Capítulo 6

Figura 6.1. Gráfico do volume de desgaste em função da distância de deslizamento. ______35

Figura 6.2. Gráfico do coeficiente de atrito em função do tempo de ensaio. _____________36

Page 7: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Lista de Tabelas

Capítulo 3

Tabela 3.1. Valores de rotações do eixo e da esfera. _______________________________17

Tabela 3.2. Fatores de correção para fadiga [18]. __________________________________19

Capítulo 5

Tabela 5.1. Condições de ensaio definidas para os experimentos. _____________________33

Page 8: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Lista de Símbolos

Ag Área de atuação de desgaste abrasivo por riscamento

Ar Área de atuação de desgaste abrasivo por rolamento

At Área projetada total da cratera de desgaste

ccarga Fator de correção de carga

cconf Fator de correção de confiabilidade

cdiv Fator de correção de diversidades

ctam Fator de correção de tamanho

ctemp Fator de correção de temperatura

csup Fator de correção de acabamento superficial

Desf Diâmetro da esfera

Deixo Diâmetro do eixo

E Módulo de Elasticidade Longitudinal

f Frequência

Força de atrito

Fat1crítica Força de atrito crítica atuante no corpo-de-prova

Força de atrito atuante nos pontos de contato entre a esfera e o eixo

Força peso da esfera

Componente da força peso da esfera

Decomposta da componente da força peso da esfera

Decomposta da componente da força peso da esfera

Força peso

g Aceleração da gravidade

Page 9: Projeto e construcao_de_um_equipamento

G Módulo de Elasticidade Transversal

J Momento Polar de Inércia

Fator de concentração de tensão estático para carregamento de torcional

Fator de concentração de tensão dinâmico para carregamento de flexão

m Massa

mes Massa da esfera

Momento fletor máximo

Momento torsor máximo

nesf Rotação da esfera

neixo Rotação do eixo

N Força normal

N1 Força normal crítica

Coeficiente de segurança do critério ASME

P1 Potência crítica

Pcontato Potência dissipada nos pontos de contato entre a esfera e o eixo

Pmotor Potência necessária do motor

Pe Potência atuante no eixo

R’ Raio da esfera em contato com o eixo

RPD Regime Permanente de Desgaste

Rigidez torcional em função da flexão

S Distância de deslizamento

Snreal Limite de resistência à fadiga

t Tempo de ensaio

T Força tangencial

Te Torque atuante no eixo

Page 10: Projeto e construcao_de_um_equipamento

V Volume de desgaste

Ves Volume da esfera

v1 Velocidade tangencial periférica da esfera

vt Velocidade tangencial da esfera no ponto de contato com o eixo

Page 11: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Lista de Símbolos Gregos

1 Ângulo de inclinação do corpo-de-prova

µ Coeficiente de atrito

µ1crítico Coeficiente de atrito crítico

µ2 Coeficiente de atrito nos pontos de contato entre a esfera e o eixo

esf Densidade do material da esfera (aço AISI 52100)

Tensão Limite de Escoamento

Tensão Limite de Resistência

Velocidade angular da esfera

eixo Velocidade angular do eixo

rolamento Rendimento dos rolamentos

Page 12: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Lista de Equações

Capítulo 2

(2.1) ______3

(2.2) ______3

Capítulo 3

(3.1) _____10

(3.2) _____10

(3.3) _____10

(3.4) _____11

(3.5) _____11

(

)

(3.6) _____12

(3.7) _____12

(3.8) _____13

(3.9) _____13

Page 13: Projeto e construcao_de_um_equipamento

(3.10) ____13

(3.11) ____13

(3.12) ____13

(3.13) ____13

(3.14) ____13

(3.15) ____13

(

)

(

)

(

)

(3.16) ____14

(3.17) ____14

(

)

(3.18) ____14

(3.19) ____14

(3.20) ____14

(3.21) ____14

(3.22) ____14

(3.23) ____16

(3.24) ____16

Page 14: Projeto e construcao_de_um_equipamento

(3.25) ____16

(3.26) ____17

(3.27) ____17

(3.28) ____17

com

⁄ (3.29) ____17

(3.30) ____17

(3.31) ____17

(

)

(3.32) ____18

(3.33) ____18

(3.34) ____18

(

)

(3.35) ____18

(3.36) ____18

[(

)

(

)

]

(3.37) ____19

Page 15: Projeto e construcao_de_um_equipamento

(3.38) ____19

(3.39) ____20

(3.40) ____20

(Deixo = 9 mm) (3.41) ____20

(Deixo = 10 mm) (3.42) ____20

(Deixo = 20 mm) (3.43) ____20

[(

)

(

)

]

(3.44) ____21

[(

)

(

)

]

(3.45) ____21

[(

)

(

)

]

(3.46) ____21

(3.47) ____25

(3.48) ____25

(3.49) ____25

(3.50) ____25

Page 16: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Capítulo 5

(5.1) _____34

Page 17: Projeto e construcao_de_um_equipamento

Sumário

Capítulo 1 – Introdução _____________________________________________________1

Capítulo 2 – Desgaste abrasivo _______________________________________________3

2.1. Atrito __________________________________________________________3

2.2. Ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa ____________________4

2.3. Modos de desgaste abrasivo _________________________________________4

2.4. Equipamentos de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa ______7

Capítulo 3 – Projeto do equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa livre ______________________________________________________________9

3.1. Objetivo da Iniciação Científica _____________________________________9

3.2. Descrição do projeto ______________________________________________9

3.3. Seleção do motor elétrico __________________________________________10

3.4. Dimensionamento do eixo de ensaio_________________________________15

3.5. Seleção dos rolamentos e dos mancais _______________________________22

3.6. Componentes para as medições das grandezas do ensaio _________________24

3.7. Tratamento térmico do eixo ________________________________________26

Capítulo 4 – Montagem do equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa livre _____________________________________________________________29

Capítulo 5 – Análise da reprodutibilidade do equipamento – Materiais & Métodos ___33

Capítulo 6 – Análise da reprodutibilidade do equipamento – Resultados e Discussão _35

6.1. Regime Permanente de Desgaste – RPD ______________________________35

Page 18: Projeto e construcao_de_um_equipamento

6.2. Coeficiente de atrito ______________________________________________35

6.3. Considerações finais _____________________________________________36

Capítulo 7 – Conclusões ____________________________________________________37

7.1. Aspectos gerais _________________________________________________37

7.2. Análise do equipamento ___________________________________________37

Referências Bibliográficas __________________________________________________38

Page 19: Projeto e construcao_de_um_equipamento

1

Capítulo 1 – Introdução

Em setores industriais em que o desgaste causa a parada ou a diminuição da produção,

ou envolve elevados custos de manutenção, não é suficiente adquirir conhecimentos apenas

em materiais e processos metalúrgicos e/ou mecânicos de fabricação. Tão importante quanto

isso, é pesquisar, estudar e entender os processos de desgaste que atuam em condições

específicas.

Em geral, o desgaste está presente em situações em que há contato e movimento. Em

alguns casos, o mesmo é considerado benéfico, em outras, maléfico. O desgaste sofrido por

uma ferramenta de corte é um caso maléfico. Por outro lado, o desgaste que a mesma gera no

material a ser usinado é um exemplo benéfico. Entretanto, de um modo geral, o desgaste é

visto como o “vilão da história”.

Dentre os vários tipos de desgaste classificados pela norma ASTM G40 – 96 [1], está

o desgaste abrasivo, que recentemente, vem sendo estudado por uma nova configuração de

equipamento, comumente denominada de “máquina de desgaste micro-abrasivo”. Na língua

inglesa, a mesma é denominada “micro-abrasive wear testing machine”.

Para a realização destetrabalho de Iniciação Científica, foi projetado e construído um

equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa livre. Através do

contato entre uma esfera (que está em movimento de rotação) e um corpo-de-prova, são

geradas calotas esféricas, ou, também chamadas, crateras de desgaste. Através das análises

dessas crateras, pode ser possível prever, ou, pelo menos estimar, o comportamento do

desgaste abrasivo de um material em condições reais de trabalho.

Uma possível aplicação do equipamento acima mencionado, está ligada à pesquisas

envolvendo o estudo do desgaste micro-abrasivo atuante em ferramentas de corte, durante

operações de usinagem. Atualmente, talvez essa seja uma das tarefas importantes que são

conferidas a um pesquisador envolvido na área de tribologia.

Esse tipo de estudo deve ser mais difundido entre os pesquisadores brasileiros, pois o

Brasil encontra-se em posição de destaque no setor de usinagem. Essa posição privilegiada

começa no próprio aprendizado. A Alemanha, um dos países mais avançados na área de

mecânica, tem como referência o ensino realizado no Brasil pelas escolas SENAI. Um

exemplo da qualidade dos profissionais brasileiros envolvidos em usinagem está no fato de

que, atualmente, estão sendo fabricadas em território nacional (pela própria rede SENAI),

vários componentes para a Estação Espacial Internacional, projeto do qual o Brasil faz parte.

Page 20: Projeto e construcao_de_um_equipamento

2

Todo o panorama ao redor da usinagem realizada no Brasil mostra que não é

importante investir somente no desenvolvimento de novos equipamentos, como as máquinas

HSM (High Speed Machine). Tão importante quanto isso, é desenvolver pesquisas com a

finalidade de melhorar o desempenho das ferramentas de corte utilizadas por esses novos

equipamentos. Isso porque, atualmente, em operações de usinagem que utilizem tecnologias

de ponta (tanto as tecnologias relacionadas aos equipamentos, quanto aos avanços atingidos

na parte de materiais), a limitação em geral é a ferramenta de corte e não a máquina.

O melhor desempenho das ferramentas de corte almejado pelos profissionais

envolvidos na área (tanto pesquisadores, quanto profissionais da própria área de usinagem)

pode ser obtida através de pesquisas envolvendo materiais e/ou pesquisas envolvendo o

estudo dos tipos de desgaste em que as ferramentas de corte estão submetidas (entre eles, o

desgaste abrasivo).

Apenas para ter-se uma idéia da importância do setor de usinagem, tomando-se como

referência os Estados Unidos, em 1989, foram investidos US$100 bilhões nesse setor, o que

mostra a importância não só deste processo na economia de um país [2], como também na

pesquisa científica envolvida.

Esse texto inicia-se por uma revisão bibliográfica (Capítulo 2) referente ao desgaste

abrasivo, seguida (Capítulo 3) pela descrição do projeto e construção do equipamento. Em

seguida, o Capítulo 4 apresenta o equipamento montado e os Capítulos 5 e 6 ressaltam as

atividades relacionadas à análise do funcionamento e reprodutibilidade do equipamento.

Finalmente, o Capítulo 7 expõe as conclusões sobre o trabalho.

Page 21: Projeto e construcao_de_um_equipamento

3

Capítulo 2 – Desgaste abrasivo

2.1. Atrito

Todo corpo em contato com outro, ao se movimentar, encontra dificuldade para

vencer uma força e continuar no movimento. Essa dificuldade é devida as rugosidades ou

imperfeições existentes em suas superfícies que, ao serem expressas numericamente, são

chamadas de coeficiente de atrito (µ). A força que tenta impedir o movimento desejado é a

força de atrito (Fat), definida como o produto do coeficiente em questão pela força que impõe

o contato entre as superfícies, conhecida como força normal (N). A Figura 2.1 ilustra o

princípio explicado.

Figura 2.1. Forças atuantes em um bloco em movimento.

As Equações 2.1 e 2.2 determinam as forças abordadas acima.

(2.1)

(2.2)

Pelas equações expostas, pode-se observar que no sistema tribológico da Figura 2.1,

o cálculo do coeficiente de atrito é possível, uma vez que se tenha a massa do corpo (m) e a

aceleração da gravidade (g). Porém, é importante mencionar que não são todos os sistemas

Page 22: Projeto e construcao_de_um_equipamento

4

que possuem esta simplicidade em termos de equações mas, com o decorrer deste projeto,

essa foi a base que permitiu o entendimento dos cálculos que envolveram este assunto.

2.2. Ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa

A Figura 2.2 [3,4] ilustra, de forma esquemática, o princípio do “ensaio de desgaste

micro-abrasivo por esfera rotativa”, chamado de “ball-cratering abrasion test” ou “micro-scale

abrasive wear test” [5,6], na Língua Inglesa.

Figura 2.2. Representação esquemática do ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa [3,4].

Ao lado da esfera de ensaio, que se encontra somente sob movimento de rotação (n),

está o corpo-de-prova. Durante os ensaios, é inserida uma pasta abrasiva, geralmente

composta por algum pó abrasivo (por exemplo, carbeto de silício – SiC [7-10]) e água

destilada. A aplicação da força normal sobre o corpo-de-prova, o contato e o movimento

relativo entre os componentes do sistema tribológico gera uma força tangencial (força de

atrito) e uma calota esférica no corpo-de-prova, usualmente denominada de “cratera de

desgaste” (“wear crater”, em Inglês).

2.3. Modos de desgaste abrasivo

Na literatura, constam dois modos de desgaste abrasivo, “riscamento” e “rolamento”

[11-13]. No desgaste abrasivo por riscamento, representado na Figura 2.3a [11], as partículas

abrasivas estão aderidas em uma das superfícies, realizando somente movimento de

translação. Já no desgaste abrasivo por rolamento, esquematizado na Figura 2.3b [11], as

partículas estão livres, podendo transladar e rolar livremente entre as mesmas.

Força tangencial

Força normal

Corpo-de-prova

Esfera

Pasta abrasiva

n

Page 23: Projeto e construcao_de_um_equipamento

5

Figura 2.3. Fundamentação do (a) desgaste abrasivo por riscamento [11] e (b) desgaste abrasivo por rolamento [11].

As classificações “riscamento” e “rolamento” baseiam-se nas marcas imprimidas

pelas partículas abrasivas no corpo-de-prova. A Figura 2.4 apresenta as impressões

características dos modos de desgaste abrasivo por (a) riscamento [4] e (b) rolamento [12].

Figura 2.4. Marcas de desgaste abrasivo por (a) riscamento [4] e (b) rolamento [12].

Tais modos de desgaste podem transitar de um para outro, acontecendo quando

alguns parâmetros de ensaio são alterados, como a força normal, o tamanho das partículas

abrasivas, a concentração da pasta abrasiva e a distância de deslizamento [3-6,13].

Um fato interessante é que, dependendo das condições de ensaio, surge a

combinação dos dois modos citados anteriormente, ou seja, para determinados parâmetros de

ensaio, as marcas deixadas pelas partículas irão ter as duas características, riscamento e

rolamento, ao mesmo tempo. Este fenômeno é conhecido como “modo-misto” e pode-se dizer

que a característica de riscos ocorrerá, predominantemente, no centro da cratera de desgaste e,

as impressões de rolamento, nas bordas, visto que no centro da cratera, atuam as maiores

pressões, tornando mais difícil o rolamento das partículas abrasivas [13].

A Figura 2.5 [13] exemplifica a ação simultânea de desgaste abrasivo por

“riscamento” e “rolamento”. Ag é a área de atuação de desgaste abrasivo por riscamento, Ar a

área de atuação de desgaste abrasivo por rolamento e, At, a área projetada total da cratera de

desgaste.

(a)

(b)

Page 24: Projeto e construcao_de_um_equipamento

6

Figura 2.5. Modo misto: ação simultânea de desgaste abrasivo por “riscamento”e “rolamento” [13].

Adicionalmente, Cozza et al. [14], em pesquisas iniciadas em 2007, mostraram que

os modos de desgaste abrasivo por riscamento e rolamento podem atuar sobrepostos, com o

modo rolamento agindo sobre os riscos (Figura 2.6 [14]). Este fenômeno foi nomeado de

“micro-rolamento” (“micro-rolling abrasion”) [14].

Figura 2.6. Ocorrência de micro-rolamento. (a)-(b) Força normal de N = 1.25 N; (c)-(d) força normal

de N = 5 N [14]. Distância de deslizamento de S = 100 m [14].

100 m

Ag

Ar

At

(a) (b)

(c) (d)

Page 25: Projeto e construcao_de_um_equipamento

7

2.4. Equipamentos de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa

Existem duas configurações de equipamento para o ensaio de desgaste micro-

abrasivo por esfera rotativa: i) máquina de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa fixa [3] e ii) máquina de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa livre

[15].

Na configuração “esfera fixa”, a mesma é fixada em um eixo-motor, de modo a ter a

mesma velocidade e sentido de rotação do eixo. A força normal aplicada é ajustada por um

sistema auxiliar, que pode ser um sistema de “peso-morto” ou uma mesa de translação. Tais

aparatos não serão detalhados neste projeto, por não ser seu foco.

A Figura 2.7 [16] ilustra um equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por

esfera rotativa fixa.

Figura 2.7. Máquina de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa fixa [16].

Na configuração “esfera livre”, que é o objetivo deste projeto, a esfera é

simplesmente apoiada sobre o eixo-motor. A mesma se movimenta em sentido de rotação

contrário ao eixo, que é acionado por um motor elétrico. Já a força normal atuante sobre o

corpo-de-prova, será uma das componentes da força peso da esfera (Fes), podendo ser variada

em função da inclinação do corpo-de-prova (ângulo 1).

A Figura 2.8 [15] ilustra esse tipo de equipamento.

Esfera Eixo Corpo-de-prova

Page 26: Projeto e construcao_de_um_equipamento

8

Figura 2.8. Máquina de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa livre [15].

Eixo-motor Corpo-de-prova Esfera

Page 27: Projeto e construcao_de_um_equipamento

9

Capítulo 3 – Projeto do equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa livre

3.1. Objetivo da Iniciação Científica

Projetar e construir um equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa livre, hábil a medir o coeficiente de atrito no sistema tribológico “esfera – partículas

abrasivas – corpo-de-prova”.

3.2. Descrição do projeto

O projeto mecânico e eletrônico do equipamento de desgaste micro-abrasivo

almejado, engloba diferentes conceitos da engenharia, como a seleção de um motor elétrico,

inversor de frequência, rolamentos, células de carga, sistema de aquisição de dados,

dimensionamento de um sistema de movimentação e inclinação do corpo-de-prova e eixos.

Através do layout básico dado pela Figura 3.1, pode-se entender o funcionamento da

máquina. O eixo é acionado por um motor elétrico que, por sua vez, rotaciona uma esfera em

sentido contrário.

Figura 3.1. Princípio básico de funcionamento do equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo

por esfera rotativa livre projetado e construído.

Page 28: Projeto e construcao_de_um_equipamento

10

3.3. Seleção do motor elétrico

Para a seleção do motor elétrico foi necessário saber qual a potência máxima que

será exigida durante os ensaios. Para isso, foi analisado o caso crítico do sistema, que ocorre

quando tem-se o maior atrito.

A Figura 3.2 ilustra os esforços atuantes no corpo-de-prova, gerados a partir do peso

e movimento da esfera.

Figura 3.2. Esforços atuantes no corpo-de-prova durante os ensaios.

Sabendo-se que potência é igual ao produto da força pela velocidade (Equação 3.1),

pelas Equações 3.2-3.4 chega-se na expressão para o cálculo da potência crítica durante os

ensaios (P1) (Equação 3.5).

(3.1)

(3.2)

(3.3)

Page 29: Projeto e construcao_de_um_equipamento

11

(3.4)

(3.5)

é a força de atrito crítica atuante no corpo-de-prova, v1 a velocidade tangencial

periférica da esfera, o coeficiente de atrito crítico resultante do sistema tribológico,

mes a massa da esfera e g a aceleração da gravidade.

Como o objetivo do equipamento é medir o coeficiente de atrito (µ), ainda não se

tem o valor máximo que imprime a maior força de atrito, ou seja, o coeficiente crítico e a

força de atrito crítica que surgem das mais severas condições de ensaio.

Para resolver este problema de modo a possibilitar o cálculo da potência necessária,

foi adotado coeficiente de atrito crítico . Assim, há garantia de que o motor

selecionado será capaz de suprir as necessidades impostas. Com a potência no corpo-de-

prova, pode-se determinar a potência exigida do motor, considerando todas as perdas

existentes no sistema.

Mas, como não se sabe a perda em função do atrito entre o eixo e a esfera, o cálculo

partindo dos esforços no corpo-de-prova fica inviável. Uma maneira de obter-se a potência

exigida do motor, sem a necessidade desse rendimento que, a princípio, é desconhecido, é

calcular a potência no contato entre o eixo e a esfera, para que as perdas a serem consideradas

sejam somente as conhecidas, que no caso será apenas devido ao rolamento. Para isso, foi

necessário saber quais os esforços que atuam nesses novos pontos de contato em análise, que

podem ser visualizados na Figura 3.3.

Figura 3.3. Esforços atuantes no contato entre eixo e esfera.

Page 30: Projeto e construcao_de_um_equipamento

12

Admitindo-se que a força de atrito no corpo-de-prova depende somente do peso da

esfera, o eixo tem como única função transmitir o seu movimento rotativo para a esfera e esse

movimento de rotação é atingido através do atrito localizado em dois pontos de contato entre

o eixo e a esfera. Portanto, nesta região têm-se duas forças de atrito de mesmo módulo e

sentido.

O diâmetro da esfera foi adotado para o valor de 1” (D = 25,4 mm), fabricada em aço

AISI 52100. Este diâmetro e material são, usualmente, observados na literatura. Outra medida

adotada foi a distância entre os dois pontos de contato, que se localizam a 75% do diâmetro da

esfera, indicado pelo ponto amarelo na Figura 3.4.

A força , que é a decomposta do peso da esfera ( ) (Figura 3.2), foi decomposta

para obter-se a força (Figura 3.4), sendo a força normal sobre os pontos de contato. Como

as forças de atrito nos dois pontos de contato são iguais, o cálculo realizado refere-se somente

a um ponto.

Figura 3.4. Esforços no ponto de contato entre o eixo e a esfera.

O volume (Ves), a massa e o peso da esfera serão calculados pelas Equações 3.6, 3.7 e

3.8, respectivamente, com a densidade do material da esfera esf = 7,81 g/cm3.

(

)

(3.6)

(3.7)

Page 31: Projeto e construcao_de_um_equipamento

13

(3.8)

As forças ,

e podem ser calculadas pelas Equações 3.9, 3.10 e 3.11,

respectivamente. é a força normal e é a força de atrito, atuantes nos pontos de contato

entre a esfera e o eixo e, , o respectivo coeficiente de atrito.

(3.9)

(3.10)

(3.11)

O coeficiente de atrito será adotado para o valor 1,0, de modo a não comprometer

o dimensionamento da potência do motor.

Através das Equações 3.9 e 3.10, é possível notar que para , tem-se o valor

máximo de . Com isso, chega-se nos seguintes valores de ,

e (Equações 3.12,

3.13 e 3.14, respectivamente).

(3.12)

(3.13)

(3.14)

Com a força já determinada, é preciso calcular a velocidade tangencial da esfera

no ponto de contato com o eixo , sendo necessário conhecer o maior valor de nesf, que

gera a maior potência, admitindo-se que a faixa de rotação da mesma é de 20-100 rpm [3].

Além disso, necessita-se de , que é o valor do raio da esfera em contato com o eixo.

A grandeza é dada pela Equação 3.15 e, , pela Equação 3.16, conforme

dimensões do eixo (ver Figura 3.6) e da esfera.

(3.15)

Page 32: Projeto e construcao_de_um_equipamento

14

(

)

(

)

(

)

(3.16)

Finalmente, tem-se os valores de e , dados pelas Equações 3.17 e 3.18,

respectivamente.

(3.17)

(

)

(3.18)

A potência dissipada nos pontos de contato entre a esfera e o eixo, e a

potência necessária do motor ficam estabelecidas pelas Equações 3.19 e 3.20,

respectivamente. O rendimento dos rolamentos ficou definido em 98%.

(3.19)

(3.20)

Portanto:

(3.21)

(3.22)

A potência necessária é extremamente baixa, como o esperado, pois os esforços são

relativamente pequenos.

Ao consultar o catálogo da WEG de motores elétricos (Figura 3.5), o primeiro motor

possui potência de 0,16 cv, o que gera uma grande diferença entre a potência necessária e a

potência disponível.

Além da preferência por um motor elétrico de menor custo, deve-se levar em conta a

facilidade para adquiri-lo. Portanto, o motor especificado foi o de 0,75 cv, pois ele é o mais

fácil de ser encontrado nos fornecedores, comparado ao de potência de 0,16 cv.

Page 33: Projeto e construcao_de_um_equipamento

15

A Figura 3.5 refere-se a uma parte do catálogo de motores elétricos da WEG, que

apresenta as especificações técnicas do motor selecionado.

Figura 3.5. Especificações técnicas do motor elétrico selecionado [17].

3.4. Dimensionamento do eixo de ensaio

O dimensionamento do eixo foi realizado pelo critério de Rigidez à Torção e pelo

critério ASME (American Society of Mechanical Engineers).

A Figura 3.6 mostra as dimensões do eixo de ensaio.

Page 34: Projeto e construcao_de_um_equipamento

16

Figura 3.6. Dimensões do eixo de ensaio.

Critério da Rigidez Torcional.

A Tabela 3.1 apresenta a relação entre as rotações da esfera e do eixo, com base na

faixa de valores de rotações definida para a esfera (de 20 a 100 rpm). Tais combinações foram

realizadas a partir das Equações 3.23, 3.24 e 3.25.

(3.23)

Logo:

(3.24)

Portanto:

(3.25)

Page 35: Projeto e construcao_de_um_equipamento

17

Tabela 3.1. Valores de rotações do eixo e da esfera.

20 17,92

40 35,84

60 53,76

80 71,68

100 89,6

O dimensionamento do eixo deve ser para o maior torque, que acontece para a menor

rotação, ou seja, para rpm, conforme o roteiro de cálculos descrito abaixo

(Equações 3.26-3.29).

(3.26)

(3.27)

(3.28)

com

⁄ (3.29)

Dimensionando para a potência nominal do motor (disponível) de 0,75 cv.

Aqui, o diâmetro do eixo foi verificado pelas Equações 3.30-3.33.

(3.30)

(3.31)

Page 36: Projeto e construcao_de_um_equipamento

18

Com (aço), tem-se:

(

)

(3.32)

(3.33)

Dimensionando para a potência máxima exigida do motor (necessária) de 8,5.10-5

cv.

Nesta etapa, utilizou-se as Equações 3.34-3.36 na análise do diâmetro do eixo.

(3.34)

(

)

(3.35)

(3.36)

Análise dos valores de Deixo obtidos.

Através da comparação entre a potência disponível e a necessária, é possível notar

que o motor selecionado possui uma potência acima do necessário (mais de 8.000 vezes

maior). Por este motivo, não é relevante utilizar um eixo com um diâmetro mínimo de

34,54 mm, sabendo-se que acima de 3,57 mm já não existiriam falhas, segundo o Critério de

Rigidez Torcional. Logo, o diâmetro mínimo do eixo de 9 mm, estabelecido anteriormente, é

adequado.

Page 37: Projeto e construcao_de_um_equipamento

19

Critério ASME.

No critério ASME (Equação 3.37), ao invés de se calcular valores ideais para os

diâmetros do eixo, foi realizada uma verificação de diâmetros já definidos (9, 10 e 20 mm –

Figura 3.6). Se para as regiões ao longo de todo o comprimento do eixo, obter-se valores de

coeficiente de segurança acima de 1,0, não ocorrerão falhas.

[(

)

(

)

]

(3.37)

Cálculo do limite de resistência à fadiga – .

O cálculo do limite de resistência à fadiga dá-se pela Equação 3.38, cujos

coeficientes estão disponibilizados na Tabela 3.2.

(3.38)

Tabela 3.2. Fatores de correção para fadiga [18].

Coeficientes Justificativa

O esforço de flexão não é predominante.

Confiabilidade de 50%.

Eixo retificado.

(d = 9 mm)

(d = 10 mm)

(d = 20 mm)

Ainda não existem dados suficientes para uma

resposta definitiva.

Temperatura .

Com as propriedades do material do eixo, aço ABNT 1045, mencionadas a seguir,

foi calculado o limite de resistência à fadiga, pelas Equações 3.39-3.43.

Page 38: Projeto e construcao_de_um_equipamento

20

Tensão de Escoamento:

Tensão Limite de Resistência:

Módulo de Elasticidade Longitudinal:

Módulo de Elasticidade Transversal:

(3.39)

(3.40)

(Deixo=9mm) (3.41)

(Deixo=10mm) (3.42)

(Deixo=20mm) (3.43)

Com o auxílio do software FTOOL, foi possível saber quais e onde estão os maiores

esforços atuantes no eixo ( e ), como mostra a Figura 3.7.

Figura 3.7. Diagrama de momento fletor do eixo.

Devido à análise feita anteriormente no dimensionamento por Rigidez à Torção,

foram efetuados os cálculos somente para a potência exigida, que possui valor de 8,5.

e gera um momento torsor de .

Page 39: Projeto e construcao_de_um_equipamento

21

Com os valores dos fatores de concentração de tensão, foram calculados os

coeficientes de segurança para os diâmetros de 9, 10 e 20 mm do eixo, pelas Equações 3.44,

3.45 e 3.46, respectivamente.

(devido ao material ser dúctil);

(através do material e do raio do adoçamento).

[(

)

(

)

]

(3.44)

[(

)

(

)

]

(3.45)

[(

)

(

)

]

(3.46)

Os diâmetros são altamente confiáveis, devido aos elevados valores dos coeficientes

de segurança obtidos, que já eram esperados, pelo fato de não ter-se grandes esforços sob o

eixo.

Finalizadas as verificações, o Desenho Técnico Mecânico do eixo foi encaminhado à

oficina de usinagem da FEI. Após o torneamento, o eixo sofreu os tratamentos térmicos

necessários e, finalmente, o mesmo foi retificado.

Page 40: Projeto e construcao_de_um_equipamento

22

3.5. Seleção dos rolamentos e dos mancais

Os rolamentos devem ser selecionados através da carga que suportam e, também,

através de sua vida útil. A Figura 3.8 apresenta uma parte do catálogo de rolamentos da FRM

– Fabricante de Rolamentos e Mancais Ltda. [19], que foi consultado para selecionar o

rolamento ideal.

Figura 3.8. Especificações técnicas dos rolamentos [19].

O rolamento que será utilizado é o Y204 V22 da série Y, que suporta cargas maiores

que as reações de apoio do eixo (0,33 N),expostas na Figura 3.7, comprovando que o eixo

atende as condições dos esforços que são impostos sobre ele.

Os mancais da FRM foram selecionados conforme o catálogo apresentado na Figura

3.9 [19]. A especificação dos mesmos é P 204.

Page 41: Projeto e construcao_de_um_equipamento

23

Figura 3.9. Especificações técnicas dos mancais [19].

A Figura 3.10 mostra os conjuntos “rolamento-mancal”, já adquiridos para a

montagem do equipamento.

Figura 3.10. Mancais de rolamento a serem utilizados no equipamento em construção.

Page 42: Projeto e construcao_de_um_equipamento

24

3.6. Componentes para as medições das grandezas do ensaio

Células de Carga.

Como o objetivo do equipamento projetado é medir o coeficiente de atrito para

diversas condições de ensaio, além da necessidade de variar a força normal, há necessidade de

se medir a força de atrito gerada no sistema tribológico, possibilitando, assim, o cálculo de .

Para realizar tais medições pode-se utilizar células de carga em conjunto a um

sistema de aquisição de dados, em que as células de carga identificarão o esforço e

apresentarão um sinal de saída em mV, que será lido pelo sistema.

Para a seleção das células de carga é necessário saber o máximo esforço a ser medido

para que não seja ultrapassada a sua capacidade nominal. Os cálculos a seguir referem-se as

duas forças a serem monitoradas (força normal e força de atrito) em seus casos críticos,

esquematizadas na Figura 3.11, em cor azul.

Figura 3.11. Força normal e força de atrito no corpo-de-prova.

A força normal e a força de atrito crítica são definidas pelas Equações 3.47 e 3.48,

respectivamente, como já discutido.

Page 43: Projeto e construcao_de_um_equipamento

25

(3.47)

(3.48)

Sendo , e , como definido anteriormente, tem-

se os valores de e dada pelas Equações 3.49 e 3.50, respectivamente.

(3.49)

(3.50)

As células de carga escolhidas foram de capacidade nominal de 5 kgf, com 6.000

divisões de precisão, modelo S-5 e fabricadas pela empresa “Alfa – Instrumentos Eletrônicos

Ltda.” [20].

As peças necessárias às fixações das células de carga e corpo-de-prova, foram

usinadas na FEI e podem ser visualizadas na Figura 3.12.

Figura 3.12. Peças usinadas para as fixações das células de carga e corpo-de-prova.

Page 44: Projeto e construcao_de_um_equipamento

26

Sistema de aquisição de dados.

As células de carga têm como única função medir o carregamento e gerar um sinal

elétrico, que será captado pelo sistema de aquisição de dados, devendo ser selecionado com

base nas condições do ensaio.

Os fatores levados em consideração para a seleção do sistema de aquisição de dados

foram: i) tipo de grandezas a serem medidas, ii) variação da grandeza durante o ensaio e

iii) número de divisões das células de carga.

Não se sabe como será o comportamento do coeficiente de atrito em função do

tempo. Portanto, o sistema de aquisição de dados a ser utilizado deve ser capaz de captar de

médias a rápidas variações de , para que as interpretações e explicações não sejam

comprometidas, de modo a obter-se respostas realistas. Com relação ao número de divisões,

deve-se escolher um sistema de aquisição de dados com divisões maiores que as das células

de carga.

3.7. Tratamento térmico do eixo

Máquinas necessitam de manutenção, pois seus componentes sofrem falhas ou

atingem a sua vida útil.

No caso do equipamento em construção, a pequeno e médio prazo (mais que 10

anos) não existe grande preocupação, pois como foi visto nos dimensionamentos e seleções

dos componentes, nenhum deles encontra-se próximo da situação crítica do sistema.

Porém, o eixo da máquina em questão possui dureza inferior a dureza da esfera, o

que provoca um desgaste maior em sua superfície. A dureza do aço ABNT 1040 é de,

aproximadamente, 10 HRC e a do aço AISI 52100, próxima de 64 HRC, que é uma diferença

significativa.

Para atenuar o desgaste e, consequentemente, aumentar a vida útil do eixo, foi

realizada têmpera e revenimento, para obter-se uma dureza em torno de 55 HRC. Todo o

processo de tratamento térmico foi realizado no Laboratório de Materiais da FEI, conforme as

descrições a seguir.

Page 45: Projeto e construcao_de_um_equipamento

27

Têmpera.

Temperatura do forno: 835 ºC;

Meio de resfriamento: água;

Modo de resfriamento: eixo na vertical.

O forno foi aquecido durante uma hora para alcançar a temperatura de 835 ºC. Em

seguida, o eixo foi colocado no forno e mantido por 40 minutos.

Após a austenitização, foi realizado o seu resfriamento em água (resfriamento

brusco), o que permite a formação de uma estrutura martensítica de elevada dureza. O

resfriamento do eixo foi conduzido na vertical para diminuir a possibilidade de trincamento

e/ou empenamento.

As Figuras 3.13 e 3.14 mostram o forno e o momento do resfriamento do eixo,

respectivamente.

Figura 3.13. Forno utilizado para aquecer a peça a 835 ºC.

Page 46: Projeto e construcao_de_um_equipamento

28

Figura 3.14. Momento do resfriamento do eixo.

Revenimento.

O revenimento do eixo foi realizado sob as seguintes condições:

Temperatura: 300 ºC;

Resfriamento: ao ar calmo.

Devido à estrutura obtida no aço pós-têmpera ser característica de elevada

concentração de tensões residuais, foi realizado o revenimento conduzido a 300 ºC por 1 hora

e 20 minutos. O modo de resfriamento, após o revenimento, não interfere na estrutura já

obtida, por isso o eixo foi resfriado ao ar calmo.

Page 47: Projeto e construcao_de_um_equipamento

29

Capítulo 4 – Montagem do equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera

rotativa livre

A Figura 4.1 apresenta o equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por

esfera rotativa livre projetado e construído no âmbito desta Iniciação Científica.

Figura 4.1. Equipamento de ensaio de desgaste micro-abrasivo por esfera rotativa livre projetado e

construído.

Page 48: Projeto e construcao_de_um_equipamento

30

Foram utilizadas duas células de carga com a finalidade de controlar a força normal

(N) e medir a força tangencial (T). A Figura 4.2 mostra as posições que foram definidas para

estas células de carga; o modelo das mesmas é S-5, fabricada pela empresa Alfa –

Instrumentos Eletrônicos Ltda..

Figura 4.2. Células de carga destinadas ao controle da força normal e medição da força

tangencial.

Célula de Carga utilizada para a

medição da força tangencial.

Célula de Carga utilizada para

o controle da força normal.

Page 49: Projeto e construcao_de_um_equipamento

31

O corpo-de-prova é fixado em um suporte localizado sobre a célula de carga

direcionada à medição da força tangencial, como exibe a Figura 4.3.

Figura 4.3. Suporte para fixação do corpo-de-prova.

O eixo de ensaio apóia-se sobre os dois mancais de rolamento especificados no

Capítulo 3 (modelo do mancal: P 204; modelo do rolamento: Y204 V22 – série Y). Todo o

sistema “eixo de ensaio + mancais de rolamento” está fixo em um suporte de perfis de aço,

projetado e construído com base nas dimensões do referido sistema.

O acionamento do eixo é realizado por um motor elétrico monofásico, proveniente de

um espremedor de laranja. Sua potência, de 130 W, é superior à potência calculada no

Capítulo 3, de 0,063 W.

A conexão entre o motor elétrico monofásico e o eixo de ensaio fez-se por um

pedaço de mangueira e duas abraçadeiras, como mostra a Figura 4.4.

Suporte para fixação do corpo-

de-prova.

Page 50: Projeto e construcao_de_um_equipamento

32

Figura 4.4. Conexão entre o eixo de ensaio e o motor elétrico monofásico.

Durante os ensaios, a pasta abrasiva é inserida no sistema tribológico com o auxílio

de um conta gotas.

Page 51: Projeto e construcao_de_um_equipamento

33

Capítulo 5 – Análise da reprodutibilidade do equipamento – Materiais & Métodos

A Tabela 5.1 exibe as condições de ensaio estabelecidas para os experimentos.

Tabela 5.1. Condições de ensaio definidas para os experimentos.

Condição de ensaio 1 2 3

Força normal - N [N] 0,35 0,35 0,35

Distância de deslizamento - S [m] 10 25 100

Rotação (esfera) - n [rpm] 70 70 70

Velocidade tangencial (esfera) - v [m/s] 0,09 0,09 0,09

Tempo de ensaio - t 108 s 270 s 1.080 s

(1 min 48 s) (4 min 30 s) (18 min)

Quantidade de repetições 3 3 3

Foi definido um valor de força normal para os ensaios de desgaste: N = 0,35 N. Os

valores da rotação e do diâmetro da esfera de ensaio foram de n = 70 rpm e D = 25,4 mm,

respectivamente, resultando em v = 0,09 m/s.

Com base na Série de Renard R20/4 [40], foram fixadas três distâncias de

deslizamento: S1 = 10 m, S2 = 25 m e S3 = 100 m. Os tempos de ensaio correspondentes são,

respectivamente, t1 = 108 s (1 min 48 s), t2 = 270 s (4 min 30 s) e t3 = 1.080 s (18 min).

Três ensaios foram realizados para cada valor de S e a seqüência foi, por sorteio,

definida como: 10 – 25 – 25 – 100 – 10 – 25 – 100 – 10 e 100 metros.

A pasta abrasiva foi composta por carbeto de silício (SiC) preto (tamanho médio de

partícula de 3 µm) e água destilada, em uma proporção de 25% SiC e 75% H2O destilada (em

volume). Durante os ensaios, a mesma foi inserida entre o corpo-de-prova e a esfera com o

auxílio de um conta-gotas, a uma taxa de 1 gota / 10 s.

A Figura 5.1a mostra uma micrografia eletrônica de varredura do carbeto de silício

utilizado e, a Figura 5.1b, sua distribuição granulométrica.

Page 52: Projeto e construcao_de_um_equipamento

34

Figura 5.1. (a) Imagem obtida por Microscopia Eletrônica de Varredura – MEV e a

(b) distribuição granulométrica do SiC utilizado neste trabalho de Iniciação Científica.

Diâmetro médio de partícula abrasiva: 3 m.

O coeficiente de atrito () foi medido para o tempo de 10 minutos e calculado pela

Equação 5.1.

(5.1)

(a) (b)

100 500 10 1 0.1 0.04

Diâmetro [μm]

0

80

100

60

40

20 Val

ore

s ac

um

ula

tivo

s [%

]

His

tog

ram

a [.

10

]

Page 53: Projeto e construcao_de_um_equipamento

35

Capítulo 6 – Análise da reprodutibilidade do equipamento – Resultados e Discussão

6.1. Regime Permanente de Desgaste – RPD

A reprodutibilidade do equipamento foi avaliada com base nas dimensões

geométricas “diâmetro – b” e “volume – V” das crateras de desgaste geradas. Com os valores

de V e S, foi plotado o gráfico do volume de desgaste em função da distância de deslizamento

( ), como mostra a Figura 6.1.

Figura 6.1. Gráfico do volume de desgaste em função da distância de deslizamento. Erro

máximo observado: 36.10-5

mm3.

Pela Figura 6.1, nota-se que o Regime Permanente de Desgaste – RPD, caracterizado

pela relação linear entre volume de desgaste e distância de deslizamento, foi obtido, dado este,

de relevante importância neste tipo de ensaio.

6.2. Coeficiente de atrito

A Figura 6.2 exibe o comportamento do coeficiente de atrito em função do tempo de

ensaio. Percebe-se que, independente do tempo de ensaio, o coeficiente de atrito manteve-se,

aproximadamente, constante.

Page 54: Projeto e construcao_de_um_equipamento

36

Figura 6.2. Gráfico do coeficiente de atrito em função do tempo de ensaio. Erro máximo

observado: 0,06.

Tais resultados apresentam concordância qualitativa com a literatura, em que o

coeficiente de atrito tende a permanecer constante com o tempo de ensaio [3,14].

6.3. Considerações finais

Para os materiais e condições de ensaio estabelecidas para este projeto de Iniciação

Científica, o equipamento apresentou bom funcionamento e reprodutibilidade, visto os

comportamentos do volume de desgaste e do coeficiente de atrito em função do tempo de

ensaio (V = f(t) e µ = f(t), respectivamente).

Espera-se que, com a própria continuidade das pesquisas envolvendo o equipamento

em questão, melhorias sejam incrementadas no mesmo.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

20

60

100

140

180

220

260

300

340

380

420

460

500

540

580

Co

efi

cie

nte

de a

trit

o -

Tempo de ensaio - [s]

Page 55: Projeto e construcao_de_um_equipamento

37

Capítulo 7 – Conclusões

7.1. Aspectos gerais

Este projeto representou uma possibilidade prática e versátil de estudo do

comportamento de materiais, quando submetidos ao desgaste micro-abrasivo. Além disso,

todo este trabalho colocou em prática vários conceitos vistos em sala de aula, como a

elaboração de Desenhos Técnicos Mecânicos, dimensionamento de componentes mecânicos,

realização de tratamentos térmicos e um contato com o processo de usinagem de peças.

Foi alavancada, também, uma constante pesquisa e estudo na área de desgaste micro-

abrasivo, conceito, até então, desconhecido, mas que, aos poucos, tornou-se familiar.

Finalmente, algumas atividades nas quais exigem o contato verbal com fornecedores

foram inevitáveis, como os pedidos de orçamentos em diversos fabricantes de dispositivos

elétricos e mecânicos, o que proporcionou uma troca de conhecimentos com especialistas e

técnicos, que através de suas experiências profissionais, auxiliaram na escolha de seus

melhores produtos.

7.2. Análise do equipamento

O equipamento mostrou bom desempenho durante os experimentos. Obteve-se o

Regime Permanente de Desgaste e o coeficiente de atrito tendeu a apresentar um

comportamento constante com o tempo de ensaio.

Page 56: Projeto e construcao_de_um_equipamento

38

Referências Bibliográficas

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Standard Terminology Relating to Wear and Erosion.

[2] F.C. Marcondes, A história do metal duro, 1a Edição, Unida Artes Gráficas e Editora

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titanium nitride thin films with different levels of film residual stresses, Surface and

Coatings Technology 201 (2006) 4242-4246.

[17] Grupo WEG. Catálogo. Disponível on-line: http://catalogo.weg.com.br/.

[18] A. Vieira Jr., R.M. Barros, Elementos de Máquinas, Centro Universitário da FEI.

[19] Grupo FRM. Catálogo. Disponível on-line: http://www.frm.ind.br/.

[20] Alfa – Instrumentos Eletrônicos Ltda.. Catálogo. Disponível on-line:

http://www.alfainstrumentos.com.br/.