PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM OS PROPRIETÁRIOS RURAISCONFRONTANTES COM O PARQUE NACIONAL DO CAPARAÓ

RESUMO

Este projeto, através da extensão florestal, trans-mite informações básicas sobre a importância da manu-tenção dos recursos naturais renováveis para os propri-etários rurais confrontantes com o Parque Nacional doCaparaó, referente ao estado do Espírito Santo. Oprojeto inicia-se com o trabalho de envolvimento dosórgãos de assistência técnica rural, prefeituras munici-pais e IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente eRecursos Naturais Renováveis) na comemoração deeventos ecológicos. Este envolvimento institucional tor-na-se necessário, provocando mudanças na políticainstitucional destes órgãos.

Palavras-chave: Educação ambiental, extensão flo-0... restal, proprietários rurais.

1 INTRODUÇÃO

Através de um trabalho contínuo com as comuni-dades rurais Iimítrofes ao Parque Nacional do Caparaó,pelo projeto de educação ambiental "Veja Vida Verde",financiado pelo World Wildlife Fund - US, têm-se realiza-do uma sensibilização sobre a importância do parque,como também, avaliada a eficiência do trabalho deextensão florestal realizado pelos órgãosde assistênciatécnica rural nesta área. Durante um período de 46meses obteve-se um melhor conhecimento sobre estaunidade de conservação dentro do contexto regional.

Foi transmitido aos órgãos de assistência técnicarural a necessidade de uma modificação na comunica-ção rural e na difusão de tecnologias, frente a uma regiãocom características ecológicas peculiares.

Com um acompanhamento da fiscalização dosagentes de defesa florestal e a realização de atividadescomemorativas ecológicas como a semana de preser-vação da vida selvagem, semana da árvore e comemo-ração do aniversário do Parque, foi iniciado o trabalho desensibilização nestas comunidades.

Considerando que cerca de 45% das terras doParque não foram legalizadas, pode-se ressaltar estefator como sendo o principal causador da ocorrência deincêndios florestais e desmatamentos. Além destesexistem outros fatores que dificultam uma tomada de

Werter Valentin de MORAIS1Monica Debuche DE PAIVA2

ABSTRACT

This project, through the forest extension, suggestsbasic informations about the importance of the mainte-nance of renewable natural sources to the frontier landowners with National Park of Caparaó relating to EspíritoSanto State. The institutional involvement that is ex-pected becomes necessary to provocate a new relationand changes in the government of the institutions. Thisinvolvement starts in the scheme by working up of com-memoratory ecological events with the partnership ofagriculture and technical assistance of municipal govern-ments and IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambientee Recursos Naturais Renováveis).

Key words: Environmental education, forestextensions,land-owners.

atitude, após a formação de uma consciência crítica. Osdecisivos são: isolamento geográfico, resultando em umatraso cultural e uma assistência técnica rural deficiente.

A ocorrência de incêndios florestais, desmatamentoe caçada vêm se reduzindo devido a um envolvimentocom o poder público municipal, ao apoio asociedade civilorganizada através de entidades ecológicas, além deuma extensão florestal direcionada para a difusão domanejo dos recursos naturais.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Área de estudo

o Parque Nacional do Caparaó se encontra nosmunicípios de Caparaó, Espera Feliz e Presidente Soa-res no estado de Minas Gerais, abrangendo uma área de7.800 ha e nos municípios de Dores do Rio Preto, Divinode São Lourenço, Ibitirama e lúna no estado do EspiritoSanto, abrangendo uma área de 18.200 ha.

2.2 Objetivo do projeto

A principal finalidade do trabalho é tentar reduzir asagressões ao meio ambiente em um nível não compro-metedor ao equilíbrio ecológico da unidade de conserva-ção.

(1) Engenheiro Florestal- Coordenador do projeto - bolsista do World Wildlife Fund - USo(2) Engenheira Florestal - Monitora do projeto - bolsista do World Wildlife Fund - USo

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É de interesse do projeto promover comemoraçõesde datas ecológicas com intuito de conscientizar a comu-nidade rural sobre a importância do Parque Nacional doCaparaó, como também de se morar perto desta unida-de. Além de incentivar a criação de grupos e/ou entida-des ambientalistas e/ou comunitárias para que a própriacomunidade identifique e solucione seus problemas,ampliando e desenvolvendo atitudes e práticascooperativistas.

2.3 Procedimento

Os programas do projeto atuam sobre 2 tipos deproprietários rurais:

1s Grupo: os proprietários rurais que exercematividades de queimada, caçada, desmatamento e extra-ção madeireira de uma forma irracional;

2º Grupo: os proprietários rurais que apresentamuma consciência ecológica, podendo ajudar na consecu-ção dos objetivos do projeto.

Para se iniciar o projeto foi necessário uma serie deestudos e práticas tais como:

a) levantamento do número e do tamanho daspropriedades rurais, bem como das relaçõesque elas apresentam com o parque (divisa,fogo, caça, desmate, extração de madeira) elevantamento da assistência técnica rural rece-bida;

b) levantamento das entidades municipais, taiscomo: grupos de jovens, associações comunitá-rias, sindicatos, entidades ecológicas;

c) projeção do filme "O Apelo do Muriqui" em datasfestivas nas comunidades entrevistadas;

d) projeção de um audio-visual sobre o Parquepara os proprietários rurais confrontantes com omesmo;

e) distribuição de materiais educativos produzidospelo IBAMA, pelo projeto e pelos órgãos deassistência técnica rural da região.

O cronograma de eventos comemorativos realiza-dos foi:

a) dia da árvore;b) semana da preservação da vida selvagem para

se diagnosticar a relação caçador/parque, as-sim como os locais de maior incidência dosanimais representativos do parque;

c) aniversário do parque, elaborado em conjuntocom o setor de educação ambiental da superin-tendência do IBAMAjMG;

d) semana do meio ambiente - ES;e) produção de um viveiro com as seguintes essên-

cias florestais: Piptadenia communis (40 mu-das), Piptadeniapaniculata (30 mudas), Cassiafistula (20 mudas), Cydonia oblonga (35 mu-das), Toona ciliata_ (250 mudas), Eriobotoyajaponica (5 mudas), Euterpe edulis (117 mudas)Tabebuia ochracea (25 mudas), Chorisiaspeciosa (15 mudas), Cedrela glossiovií (15mudas). Anarcadium occidentale (10 mudas),Cassia_corimbosa_(150 mudas), Caesalpínaea

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«ferrea (28 mudas), Pinus elliottií (50 mudas),Pinus taeda (50 mudas), perfazendo um total de840 mudas;

f) acompanhamento dos relatórios de fiscalizaçãodos agentes de defesa florestal, os quais ser-vem de base para avaliação dos níveis decaçada, desmatamento e queimada, oferecen-do um quadro geral dos resultados obtidos peloprojeto em determinado período; ,

g) distribuição de mensagens conservacionistasàs rádios de Carangola, Manhumirim e Graçuí,difundidas em programas destinados ao ho-mem do campo;

h) treinamento dos agentes de defesa florestal emcursos de legislação florestal, incêndios e quei-madas florestais promovidos pela UniversidadeFederal de Viçosa.

O projeto apresenta: 01 coordenador (engº flores-tal), 01 monitora (engª florestal) e 03 estagiários (estu-dantes secundaristas). Os estagiários são contratadosnos períodos de realização dos eventos.

A participação do IBAMA no projeto ocorre com autilização do apoio logístico da unidade de conservação;do veículo com uma cota de combustível e a participaçãode alguns funcionários do órgão, permitindo a sustenta-ção e execução do trabalho.

3 RESULTADOS

Dos proprietários entrevistados, a grande maiorianão recebia assistência técnica com freqüência, e tam-bém os processos de comunicação na difusão dastécnicas não estavam sendo empregados eficientemen-te.

Muitos proprietários desconheciam a importânciaea influência do Parque sobre a melhoria do solo, manu-tenção dos recursos hídricos, aumento da produtividadee refúgio dos animais. Outra forma de desinformaçãosobre o parque, diz respeito à sua demarcação, que atéhoje se encontra de forma precária e sem a devidaindenização para os desapropriados. Essas proprieda-des, que se encontram dentro do limite da unidade deconservação, apresentavam uma cobertura florestal su-perior ao requerido pela legislação florestal. Com a ne-cessidade de utilizar as terras para o plantio, os proprie-tários vêm retirando a vegetação em locais aleatórios,sem considerar a qualidade do extrato florestal, suaposição dentro dabacia hidrográfica, nem amanutençãodas condições edáficas e climáticas para o plantio.

Neste sentido, o projeto educacional tornou cienteos proprietários rurais sobre a importância da extensãoflorestal através dos órgãos de assistência técnica rural,dando ênfase à proteção do solo, dos mananciais, dafauna e ao controle dos desmatamentos e incêndiosflorestais.

A extensão florestal do projeto educacional orien-tou, dentro de suas possibilidades, a importância doplanejamento operacional e solicitou orientações aosórgãos de assistência técnica para os proprietários ru-rais.

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A sensibilização de uma parcela da comunidaderural perante a ocorrência de incêndios florestais e decaça no parque resultou na criação do VOLDEMA (Vo-luntários em Defesa do Meio Ambiente), com participa-ção da Prefeitura Municipal de Ibitirama-ES.

A elaboração de eventos comemorativos ocorreuem conjunto com o trabalho de extensão florestal doprojeto. O resultado do trabalho contínuo do projetoculminava com as comemorações ecológicas, como ummeio de sensibilizar uma maior parcela da comunidaderural.

Na comemoração do dia da árvore, foram distribu-ídas mudas de essências florestais produzidas no viveirodo projeto. Dentro da comemoração foram realizadaspeças teatrais, gincanas ecológicas, excursões comproprietários rurais capixabas ao Parque, além do en-contro com entidades ambientalistas do maciço doCaparaó, tendo repercutido positivamente entre as enti-dades participantes, que são: VOLDEMA (lbitiramajES),AGUAPAN (Guaçuf), GIAAN (lúnajES), AMA (Manhuaçu/MG).

A comemoração da semana de preservação davida selvagem ocorreu com a distribuição de camisasecológicas, gincanas, projeção de filmes ecológicos,além da fixação de placas educativas.

Na comemoração do aniversário do Parque foramdebatidos vários temas sobre o parque, onde ficoudemonstrada a necessidade de um maior envolvimentocom outras instituições para a melhoria da proteção doParque.

A comemoração da semana do meio ambienteocorreu com a participação do projeto na Feirado Verde,que se realizou em Guaçuí/ES. A importância da divulga-ção do Parque neste evento é justificada pelo alto índi-ce de comércio ilegal de pássaros que existe na cidade,trazidos do Parque Nacional do Caparaó.

4 DiSCUSSÃO

Para melhorar a eficiência deste projeto educacio-nal devem ser discutidos alguns parâmetros, para queseja assegurado a continuidade deste trabalho.

BORDENAVE (1986), nos diz que a educaçãoambiental não formal em adultos tem se caracterizadoaté agora pela diretividade e pelo utilitarisrno, assim osextensionistas rurais só procuram transmitir tecnologiaagropecuária. Só recentemente alguns agentes de mu-dança deram-se conta de que muito mais importante doque adotar conhecimentos e práticas específicas, édesenvolver a capacidade de identificar problemas darealidade através da interação com os demais e com omeio, para depois articular estes problemas e buscar-Ihes soluções ou, caso os recursos próprios da comuni-dade sejam insuficientes, levá-Ios ao conhecimento dospoderes públicos pertinentes.

O trabalho com os proprietários rurais deve sercontínuo, e para isso a equipe do projeto deve obter oapoio de estagiários e líderes comunitários bem treina-dos. Segundo BARROS (1977), a atuação dos líderes é

edefundamental importância paraseter uma organizaçãodefinida e os objetivos da comunidade alcançados. As-sim, os líderes devem atuar de várias formas, pois oconhecimento da realidade rural dá condições a eles deprever conhecimentos futuros, podendo assim definir omeio e os fins a serem alcançados pela equipe.

O trabalho paralelo de conscientização sobre aimportância do Parque com as instituições de assistên-cia técnica rural é muito importante, pois a receptividadenas comunidades será mais efetiva. Desta maneira, aelaboração dos eventos ecológicos comemorativos po-derá apresentar transformações sócio-culturais comodescrito por ARAUJO (1987): imanente; criado ou gera-do dentro da própria comunidade rural, sem nenhumainfluência externa e por contato; ocorre quando fatoresexternos a comunidade introduzem uma nova idéia.

Considerando a COMISSÃO MUNDIAL SOBREMEIOAMBIENTE E DESENVOLVIMENTO(1988), cadaárea do projeto constitui por si mesma um enormedesafio, mas o desafio básico deriva de seu caráterintegrado. Estão englobados meio ambiente e desenvol-vimento; agricultura e assistência técnica rural; qualida-de de vida e organização comunitária; e igualmentepoderes públicos, federais, estaduais e municipais. Já éurgente e necessário práticas e instituições lidaremeficazmente com estas questões interrelacionadas.

Para tanto, processos de comunicação devem serutilizados. Considerando a peculiaridade da regiãocircunvizinha ao Parque Nacional do Caparaó, o modelohumanista de FRIEDREICH (1978) para a extensãoflorestal dos 6rgãos de assistência técnica rural, é o maisadequado para ser empregado ern-educaçâo ambiental.Suas características principais são:

a) tornar a comunicação rural um verdadeiro pro-cesso de interação social com o crescimentohumano do extensionista e do agricultor;

b) integrar a comunicação aos demais aspectos darealidade rural, apresentando a tecnologia semmística e não caindo no tecnicismo e

c) dar aos agricultores o direito de dialogar e diag-nosticar sua própria realidade, sem o domínioda cultura urbanizadorá.

A extensão florestal sempre dedicou pelo menosparte de seu esforço no sentido de difundir a mensagemconservacionista. Neste sentido GRIFFITH (1986), su-gere:

a) reconhecer que a extensão florestal, a interpre-tação ambiental e a educação conservacionistasão apenas nomes diferentes para alcançar omesmo objetivo, o uso racional dos recursosnaturais;

b) aproveitar a infra-estrutura pessoal e técnica jáexistente da extensão florestal para fazer ainterpretação nos parques e reservas;

c) ter em mente que os objetivos da interpretaçãosão antropocêntricos;

d) não esquecer do valor do contato pessoal com oproprietário rural e

e) aplicar os resultados de pesquisas básicas doparque no programa interpretativo.

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Desta forma, a extensão florestal será utilizada paradiminuir os níveis de caçada, desmate e incêndios flores-tais na região limítrofe ao Parque Nacional do Caparaó, eque o grande beneficiado deste trabalho seja o homemrural.

5 AGRADECIMENTOS

Ao World Wildlife Fund-US, financiador deste projeto,ao diretor do Parque Nacional do Caparaó, José OlímpioVargas, pela confiança com que acolheu o projeto, abiólogaJuliana Penido Figueiredo, da educação ambientalda superintendência regional do IBAMA/MG, pela colabo-ração formal e informal dentro do projeto e ao professorJames Jackson Griffith, da Universidade Federal de Viço-sa, que orientou este projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, J. G. F., 1987.Extensão Rural. Departamento deEconomia Rural. Universidade Federal de Viçosa, Viço-sa.26p.

BARROS,E. V.1977. Liderança Rural. In: CURSO DEEXTENSÃO E COMUNICAÇÃO RURAL PARA TÉC-NICOS DAA.N.P.L., 1º, São Paulo, Nestlé.Anais.p37-

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Paulo, 8ª ed. Brasiliense, 1986. 84p.COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DE-

SENVOLVIMENTO, 1988. Nosso Futuro Comum. Riode Janeiro. Editora da Fundação Getúlio vargas. 354p.

FRIEDREICH, O. A. 1978, Processo de comunicaçãorural: propostas para um novo modelo. Brasí1 ia.EMATER, 25p (mimeografado).

GRIFFITH J. J., 1984. Interpretação ambiental em áreassilvestres: Um desafio para a ertensão. In: ENCON-TRO BRASILEIRO DE EXTENSÃO FLORESTAL, 1º,Piracicaba. SP. Anais, Piracicaba, Universidade deSão Paulo.p 43-50.

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