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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Ciências Biológicas
Departamento de Botânica
Projeto de Extensão Grupo Viveiros Comunitários - GVC
Projeto
Dar Visibilidade Às Políticas Públicas Em Biodiversidade
Luana Gertz Maia, Cássio Rabuske, Fabrício de Paris Dutra, Iana Scopel,
Natasha Magni, Luana Souza, Valéria Lang, Thais Padilha, Paulo Brack (coord.)
Dezembro de 2017
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Sumário
1. Introdução ______________________________________________ 2.
3. Atividades Desenvolvidas _________________________________ 3
2.1. Participação no Trote Consciente da Biologia UFRGS 2017/1, No Parque de Itapeva, Torres, RS (20 a 23 de abril de 2017) ____________
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2.2. Dia da Biodiversidade e entrega de documento de alerta ao Ministério Público de Contas, Assembleia Legislativa e TRT (Tribunal Regional do Trabalho); _________________________________________
54
2.3. Participação no Seminário Regional sobre os Impactos dos Projetos de Mineração( 5 de junho de 2017)________________________________
55
2.4 Participação na Edição da Semana das Resistências 12 a 14 de junho de 2017 -________________________________________________
88
2.5. Excursão para a aldeia Nhu Pora (Torres) e na Retomada (Maquiné) (15 a 18 de junho de 2017)_______________________________________
110
2.6. Chimarrão Consciência: Zoneamento Ecológico Econômico (22 de junho de 2017)_________________________________________________
113
2.7 Chimarrão Consciência “Políticas Públicas em Biodiversidade à Beira do Abismo”: Impacto das hidrelétricas nas bacias do rio Uruguai e Taquari-Antas (6 de julho de 2017)_______________________________
13
2.8. Chimarrão Consciência “Perspectiva Kaingang sobre o Morro Santana” (18 de julho de 2017)___________________________________
16
2.9. Chimarrão Consciência “Políticas Públicas à Beira do Abismo” Riscos da mineração na bacia do rio camaquã e no bioma pampa 2 de agosto _______________________________________________________
119
2.10. Chimarrão Consciência “Perspectiva Kaingang sobre o Morro Santana” (18 de julho de 2017)__________________________________
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20 2.11. Chimarrão Consciência “Políticas Públicas à Beira do Abismo” Riscos da mineração na bacia do rio camaquã e no bioma pampa 2 de agosto _______________________________________________________
21
2.12. Chimarrão Consciência: O papel das Unidades de Conservação no desenvolvimento regional (6 de setembro)_________________________
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2.11. Roda de Conversa Cacica Julia e Cacique Mario (Semana Intinerante Uvaia- 17 de outubro )____________________________
2
21
2.12. Postagens de documentos e outros materiais referentes às Políticas Pùblicas no sítio-e do GVC, https://www.ufrgs.br/viveiroscomunitarios/
221
3. Considerações Finais _______________________________ 222
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1. INTRODUÇÃO
A atuação do Grupo Viveiros Comunitários, em Extensão e Comunicação
da UFRGS dá-se em diversas áreas, destacando-se desde os temas ligados à
agrobiodiversidade, com ênfase ao viveirismo e às plantas nativas com seus usos
multifuncionais e aos aspectos referentes à conservação e ao manejo de espécies
em modelos ecologicamente sustentáveis, até questões ligadas ao modelo
hegemônico de civilização que vem se confrontando aos processos ecológicos.
As Políticas Públicas em Biodiversidade fazem parte do rol de
envolvimento de nossas atividades. Neste ano de 2018, foram realizadas
atividades voltadas para abordar a atual crise socioambiental que estamos
vivendo, principalmente no que tange à legislação e a ausência de quaisquer
avanços nas políticas públicas na área ambiental, ao contrário. As atividades
abarcaram ciclo de debates, oficinas, elaboração e encaminhamento de
documentos e participações em eventos técnico-científicos referentes aos riscos e
também caminhos para superação dos graves e reiterados ataques às conquistas
ambientais obtidas ao longo de décadas.
Desta maneira, trabalhamos com o tema realizando as seguintes
atividades: participação nasCalouradas na Unidade de Conservação de Itapeva;
participação do Seminário Regional sobre os impactos da Mineração no Rio
Camaquã; realização de evento abordando questões de territorialidade indígena,
negra e direito à moradia em centros urbanos, através de exibições de filmes e
debates; visita de campo na aldeia Nhu Porã e na Retomada Guarani em
Maquiné; Ciclo de Debates “Políticas Públicas em Biodiversidade à beira do
Abismo”, ao longo de três meses, sobre a crise socioambiental no RS; palestra
sobre Zoneamento Ecológico Econômico do RS, Impactos das hidrelétricas,
Riscos das Minerações e o Papel das Unidades de Conservação; Chimarrão
Consciência (roda de conversa e saída de campo no morro Santana) sobre a
perspectiva Kaingang sobre o Morro Santana e para finalizar, roda de conversa
com o Cacique Mario de Torres e a Cacica Júlia de Maquiné.
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2. Breve Relato das Atividades Desenvolvidas 2.1. Participação no Trote Consciente da Biologia UFRGS 2017/1, No Parque
de Itapeva, Torres, RS (20 a 23 de abril de 2017)
Na atividade denominada Trote Consciente, realizada por estudantes de
diversas faculdades, o Diretório Acadêmico de Biociências convidou o grupo de
extensão para tratar de questões referentes à Unidade de Conservação Parque
Estadual de Itapeva, em eatividades alternativas ao trote de calouros
convencional. O intuito foi colaborar para o questionamento, a sensibilização e a
conscientização, dos novos estudantes que estão iniciando os estudos na
Biologia, sobre os problemas e desafios da conservação da natureza em uma
área protegida. Inicialmente, tratamos, junto com os demais participantes, de dar
maior visibilidade ao conhecimento dos elementos de flora e fauna de uma UC
desse evento fazendo uma trilha junto com o botânico Ronaldo dos Santos Junior
e Cássio Rabuske. A proposta era conhecer um pouco da flora nativa de Itapeva
que é composta de Mata Atlântica.
Além de reconhecimentos taxonômicos, e características de plantas como
suas morfologias e filotaxias específicas, mostramos o quão importante é o
trabalho de coletar sementes e cultivar essas plantas, já que muitas são
desconhecidas, raras ou até estão entrando em extinção. Trabalho este de
viveiristas que poucas pessoas (re)conhecem mas que é essencial para a
manutenção da nossa flora.
Participantes: Natasha Magni, Luana Gertz Maia, Iana Scopel, Thais
Padilha.
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Figura 1. Trilha, observação e coleta de sementes.
2.2. Dia da Biodiversidade e entrega de documento de alerta1 “Dia 22 de
Maio: alerta sobre ameaças à Biodiversidade no RS” ao Ministério Público
de Contas do RS, Presidência da Assembleia Legislativa
O 22 de maio é celebrado como o Dia Internacional da Biodiversidade, a data conta com o
reconhecimento da assembleia das Nações Unidas, a partir de encontro e convenções
sobre a importância da diversidade biológica e o consequente cuidado com o meio
ambiente.”
Foi elaborado e realizado e encaminhamento um documento contestando a autorização
para a extinção da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul ao Ministério Público de
Contas do Estado. Levantamos argumentos da inconstitucionalidade da medida que
representa retrocesso às Políticas Públicas em Biodiversidade no RS, com danos
irreparáveis à biodiversidade do Estado. Além desse e outros temas, o documento traz o
estado crítico em que se encontra o bioma Pampa, cuja cobertura original é de apenas
36,03%. Alerta que o “grande motor da conversão e degradação” é o modelo econômico
baseado na concentração de terras para produção das monoculturas de soja, milho, arroz
e silvicultura, todos para a exportação. Como resultado desta política o Brasil conquistou
1 https://www.ufrgs.br/viveiroscomunitarios/o-dia-22-de-maio-e-as-ameacadas-a-
biodiversidade-do-rs/
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o título de maior consumidor mundial de agrotóxicos, com o uso anual superior a 1 bilhão
de litros desde 2009.
Esta agenda foi promovida por integrantes do Sindicato dos Empregados em Empresas de
Assessoramento, Perícias, Informações e Fundações Estaduais (Semapi), da Assembleia
Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente (Apedema), da Agapan, do
Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema), da Associação de
Funcionários da Fundação Zoobotânica, do Fórum Justiça, do Coletivo Cidade Que
Queremos, dentre outros. Após a participação no seminário “A Proteção da Biodiversidade
no Brasil”, organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RS), o documento foi
entregue ao Presidente do Ministério Público de Contas, procurador Geraldo Da Camino;
para o Presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edegar Pretto e para a Presidente
do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS), desembargadora Beatriz Renck.
“No Brasil, onde foi incorporado um modelo econômico e ecológico disfuncional, promove-
se uma verdadeira guerra contra a biodiversidade,” afirma o documento. Como exemplo,
cita o Projeto de Mineração Caçapava do Sul da empresa Votorantim, que está em
processo de licenciamento junto à FEPAM, e que atinge áreas prioritárias para a
Biodiversidade de acordo com a Portaria 9/2007 do Ministério de Meio Ambiente. Nesta
oportunidade também levantaram-se os riscos do Projeto Caçapava-Votorantim, derivados
de metais pesados sobre a saúde humana e animal, bem como a degradação sobre a
paisagem e a biodiversidade como um todo na bacia do rio Camaquã. Dentre as
reivindicações para enfrentar a situação de degradação no bioma Pampa, o documento cita
a manutenção e a criação de áreas protegidas pelo poder público, assim como outras
práticas sustentáveis, dentre elas, a pecuária familiar sustentável e o turismo rural e
ecológico, iniciativas que foram desativadas após o término do projeto RS Biodiversidade.
2.3. Participação no Seminário Regional sobre os Impactos dos Projetos de
Mineração( 5 de junho de 2017)
Nos dias 5 e 6 de junho ocorreu, em São Lourenço do Sul, o “Seminário
Regional sobre os Impactos dos Projetos de Mineração: o que sabemos e o que
queremos?”. Foram debatidos assuntos sobre os impactos sociais, econômicos e
ambientais que que são ocasionados devido a empreendimentos de mineração.
Contextualizou-se diversos casos da América Latina, como a mineração nas
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bacias de Cajamarca, no Peru, como também sobre a questão de Caçapava do
Sul, com a proposta da Votorantim Metais Holding de implementar, na região,
uma mina a céu aberto para exploração de cobre, zinco e chumbo.
Integrantes do GVC, do presente Projeto de Exensão, estiverem presentes,
tendo sido proferida palestra do professor Paulo Brack, que participou do evento
junto com estudantes de Biologia da UFRGS, expondo as perdas irreparáveis que
projetos de mineração (e focando, neste caso, no projeto de Caçapava do sul)
podem causar na biodiversidade e flora nativa.
Figura 2. Ana Maria Llamoctanta Edquem, Presidente de Base de Las Rondas
Campesinas de Mujeres del Centro Poblado El Tambo - Cajamarca, Peru
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Figura 3. Carta elaborada em conjunto por diversos grupos e comunidade que
participaram do evento.
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2.4 Participação na Edição da Semana das Resistências 12 a 14 de junho de
2017 -
Entre os dias 12 e 14 de junho foi realizado o ciclo de palestras “Semana
das resistências”, trazendo como protagonistas diversos atores e atoras de
movimentos étnico-sociais, que relataram sua luta por território e seu
posicionamento frente os retrocessos sociais e ambientais, tanto no contexto
atual, quanto histórico.
No dia 12 de junho (segunda-feira), às 18h no Auditório da Botânica,
Instituto de Biociências, foi realizada uma roda de conversa com o casal
Kaingang, Iracema e João Padilha, e com Marcus A. S. Whittmann (Tela
Indígena, Antropologia - UFRGS), acerca das dificuldades, retaliações,
assassinatos e também algumas conquistas da retomada de terras indígenas,
após assistir ao documentário “Martírio” de Vincent Carelli (2017, 2h42mi, Brasil) -
em primeira mão. O documentário retrata os sucessivos massacres e genocídio
contra os Guarani Kaiowá. Território indígena
No dia 13 de junho (terça-feira), às 18h no Auditório da Botânica, Instituto
de Biociências, foi exibido o documentário “Lanceiros Negros estão Vivos” (2016,
80 min, Brasil) e o vídeo sobre a Vila Boa Esperança. Posteriormente foi realizada
uma roda de conversa com Júlia Foschiera - Ocupação Mulheres Mirabal -,
Erondina Sarturi - Presidenta da Associação de Moradores da Vila Boa Esperança
- e Lisandra Santos - MLB (Movimento de Luta nos Bairros), grupo que liderava a
Ocupação Lanceiros Negros -, nos contando um pouco sobre a sua vivência de
luta por moradia digna, os sucessivos mandatos de reintegração de posse, as
manifestações e articulações para a manutenção das ocupações, como é o dia a
dia e as demandas mais urgentes. Território negro, território da mulher
No dia 14 de junho (quarta-feira - véspera de feriado), ás 18h foi realizada
uma confraternização “Daibuteco Junino das Resistências”, com a presença do
conjunto “Toque de Comadre”, com o objetivo de integrar essas lutas e promover
um momento de descontração. Infelizmente, neste mesmo dia, a ocupação
Lanceiros Negros sofreu com a reintegração de posse e foram desalojados de
suas moradias.
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Figura 4. Da esquerda para direita, Cassio Rabuske, Marcus A. S. Whittmann e
seu João Padilha, antes do documentário Martírio ter sido apresentado.
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Figura 5. Da esquerda para a direita, Erondina Sarturi, Júlia Foschiera e
Lisandra Santos.
2.5. Excursão para a aldeia Nhu Pora (Torres) e na Retomada (Maquiné) (15 a
18 de junho de 2017)
Tradicionalmente é ofertada, a cada semestre, uma saída de campo
vinculada à disciplina de arqueologia, ministrada pelo professor José Otávio
Catafesto de Souza (IFCH) para alguma aldeia indígena. Há tempos o GVC vem
caminhando junto com o pessoal do LAE (Laboratório de Arqueologia e Etnologia)
e por isso, fomos convidadas para participar dessa atividade.
Ficamos acampados na Itapeva (Torres-RS), onde ajudamos bastante no
feitio das refeições. No Tekoá Mbya Guarani Nhuu Porã (Aldeia do Campo
Bonito), em Torres-RS, fomos muito bem recebidos pelo Cacique Mario e foi
realizada uma proposta de atividade com as crianças; desenhar urnas
arqueológicas (material de cerâmica que normalmente fica nos laboratórios e pela
primeira vez foram retirados da universidade e levados à aldeia). Muitos desenhos
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foram feitos, nem todos sobre as urnas, mas as crianças Mbya tiveram contato
direto com esse material que pertence à sua cultura e ancestralidade. Almoçamos
na aldeia e comemos “cavuré”, um alimento tradicional o qual uma massa de pão
é enrolada em um espeto de madeira e assado na brasa. Também teve roda de
capoeira com Mestre Kunta, morador da Itapeva, na qual participaram guaranis e
„juruás‟.
No dia seguinte, foi realizada uma trilha pelo parque de Itapeva com os
estudantes e alguns indígenas, inclusive a Cacica Julia de Maquiné e o atual
Gestor do Parque de Itapeva Paulo Grübler. Nessa ocasião foram identificadas
algumas plantas de uso tradicional pelos Mbya Guarani.
Antes do retorno à Porto Alegre, passamos em Maquiné-RS para visitar a
Aldeia da Retomada Mbya Guarani. Os indígenas nos mostraram a aldeia e
ofereceram artesanatos, enquanto tocavam rabeca confeccionada por eles.
.
Figura 6. Atividades com crianças Mbya Guarani, em Maquiné
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Figuras 7 e 8: Oficina de desenho de cerâmicas arqueológicas em conjunto
com os mbyas. Houve contato com os artefatos e da memória oral, sobre o
significado da cerâmica e do barro dentro da memória biocultural Mbya Guarani.
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2.6. Chimarrão Consciência: Zoneamento Ecológico Econômico (22 de junho
de 2017)
Em reunião de ambientalistas no dia 22 de junho no SEMAPI –Sindicato
dos servidores das fundações e autarquias estaduais – palestramos sobre
príccipios importantes a serem seguidos no ZEE (Zoneamento Ecológico
Econômico) do Estado, e os riscos de retrocessos. Foi discutida a necessidade de
se revalorizar, como base ao ZEE, o Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS),
além do Mapeamento das Áreas Prioritárias para a Biodiversidade (Port. N. 9,
MMA, 23/01/2007) e a Zona Nùcleo da RBMA (Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica). Estes instrumentos nunca foram valorizados suficientemente, o que
coloca em risco a elaboração de um ZEE sem esta base de conhecimentos e de
políticas públicas já estabelecidas. Além disso, falta uma discussão maior com
pesquisadores e também com a sociedade. É dificil crer que exista uma
disposição para a construção de um ZEE à altura das demandas da
biodiversidade do Estado, ademais com secretários de meio ambiente que atuam
junto ao governador para fechar a Fundação Zoobotânica (FZB), entre outros
atentados ao meio ambiente e ao bom senso, gera enorme desconfiança quanto
às reais intenções do Estado neste processo que não está começando do zero
tendo já um referencial .
2.7 Chimarrão Consciência “Políticas Públicas em Biodiversidade à Beira do
Abismo”: Impacto das hidrelétricas nas bacias do rio Uruguai e Taquari-
Antas (6 de julho de 2017)
No dia 6 de julho aconteceu o Chimarrão Consciência sobre os Impactos
das hidrelétricas nas bacias do Rio Uruguai e Taquari Antas, primeiro evento do
ciclo de palestras “Políticas Públicas em Biodiversidade: à beira do abismo”.
Recebemos Marcelo Mosmann (advogado e ONG InGá), Fernando Becker (prof.
Depto. Ecologia/UFRGS), Igor Dalla Vecchia (Coletivo Ambiente Crítico e
Geociências/UFRGS), Claudio Reis e Ismael Verrastro Brack (pós-
graduação/UFRGS e Rio Uruguai Vivo), que nos contaram suas vivências e
perspectivas sobre a instalação de hidrelétricas no rio Uruguai e Taquari- Antas,
pareceres técnicos, circunstâncias que puderam - e que não puderam - ser
evitadas no passado, relatos históricos, e perspectivas atuais.
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Figura 9. Fernando Becker apresentando sobre a problemática de hidrelétricas.
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Fig.10 Cartaz de divulgação do Ciclo de Palestras.
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2.8. Chimarrão Consciência “Perspectiva Kaingang sobre o Morro Santana”
(18 de julho de 2017)
No dia 18 de julho aconteceu o Chimarrão Consciência (roda de conversa
tradicional que ocorre há muito tempo e é promovida pelos estudantes de biologia
da UFRGS) com o seu João Carlos Padilha que é Kaingang e nascido na terra
indígena Borboleta. Foi expulso da borboleta na ditadura militar e sofreu muito até
chegar na região Metropolitana de Porto Alegre. Atualmente mora com sua família
no bairro Jarí, muito próximo do Morro Santana.
Na parte da manhã, fizemos uma roda de conversa em volta do fogo com
seu João com pessoas de diversos cursos e lugares que vieram para escutar um
pouco de sua história e da importância do Morro Santana para os Kaingang. Junto
com o João vieram os seus dois filhos. Trouxeram o artesanato que fazem para
expor e vender. Foram assadas batatas doce e pinhão, para ser distribuída na
roda de fogo, comidas tradicionais na cultura indígena Kaingang. Nessa roda de
conversa, seu João começar a explicar a importância do Morro Santana para o
modo de ser Kaingang. Fala das suas relações com as plantas, os animais que
constituem esse morro, o manejo para a coleta e utilização das plantas tanto para
fins medicinais, alimentícios, espirituais e como para a confecção de artesanato,
que é a sua base econômica.
Após o lanche coletivo, no ínicio da tarde, subimos o Morro Santana com
o seu João. Logo no início da trilha, ele já coletou um cipó amarelo e o cipó
“marronzinho”, duas plantas do Morro Santana que ele sempre utilizou para a
confecção de cestas no artesanato. Esses materiais coletados no Morro Santana,
tanto quanto os “remédios do mato”, são essenciais para a preservação de sua
cultura e a continuidade do “ser kaingang”. Enquanto caminhávamos, escutamos
muitas histórias e ensinamentos ancestrais pelas falas do Seu João. Sua
cosmologia e visão de mundo é muito singela, preza pela vida e manutenção da
natureza, diferente da nossa cultura científica destrutiva. Outra planta que ele
mostrou para nós foi o Cincho, que por possuir madeira macia, utiliza para
confecção de arco e flecha.
Seu João é uma liderança, luta pelo povo, contra os ataques que sofrem
diariamente. Mantêm práticas ancestrais e assim segue perpetuando saberes da
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sua cultura kaigang. Nosso chimarrão consciência foi com esse intuito, de mostrar
para as pessoas a importância de respeitar essas comunidades que há tanto
tempo resistem contra a opressão e vivem diariamente de forma harmônica com
os morros (no caso do seu João, a relação importante que eles possuem com o
Morro Santana), rios, lagos e seres vivos. Também de trazer essas comunidades
para dentro dos espaços acadêmicos, espaços esses que na maioria das vezes
ignoram e não reconhecem esses saberes tradicionais indígenas.
Eu (Luana Gertz), agradeço em especial o Paulo Pflug, Carol Silveira e
Catherine Carvalho, do Laboratório de Arqueologia e Etnologia (LAE) pela
parceria para criar esse evento e pelas trocas incríveis que estamos fazendo
entre biologia e ciências humanas!
Participantes: Natasha Magni, Luana Gertz Maia, Fabricio Paris, Lucas
Melo, Thais Padilha.
Figura 11. Roda de Conversa com lideranças do Povo Kaingang
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Figura 12. Roda de Conversa com lideranças do Povo Kaingang
Figura 13. após a Roda de Conversa, a subida morro com Seu João Padilha.
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Figura 14. subida morro com Seu João Padilha, liderança Kaingang
2.9. Chimarrão Consciência “Políticas Públicas à Beira do Abismo” Riscos
da mineração na bacia do rio Camaquã e no bioma pampa 2 de agosto -
No dia 2 de agosto aconteceu o terceiro Chimarrão Consciência do ciclo
“Políticas Públicas em Biodiversidade: a beira do abismo”, com a temática da
mineração no rio Camaquã e no bioma pampa, recebemos como convidados
André Weissheimer de Borba, geólogo e professor da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM), que fez várias críticas ao EIA-RIMA da empresa, citando os
diversos riscos sociais, ambientais de uma mineração; de Amilton Cesar
Camargo, quilombola da Comunidade Corredor dos Munhos, em Lavras do Sul, e
representante do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, na
qual afirma que“os diversos projetos de mineração propostos no bioma Pampa,
ameaçam seus modos de vida e também seus territórios tradicionais”. Este
projeto viola os direitos e comunidades tradicionais, seus modos de viver em seus
territórios.
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Tanto André quanto Amilton nos relataram sobre a tentativa de instalação
de minas de chumbo na bacia do Camaquã e os impactos tóxicos para a
população humana e para o ecossistema, alterações econômicas, sociais,
ambientais, culturais e territoriais.
Figura 15. Paulo Brack, André Borba e Amilton Camargo
Figura 16. Palestra do geólogo André Borba
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2.10. Chimarrão Consciência: O papel das Unidades de Conservação no
desenvolvimento regional (6 de setembro)
No dia 6 de setembro foi realizado o terceiro Chimarrão Consciência do
ciclo de palestras “Políticas Públicas em Biodiversidade: a beira do abismo”, com
a temática das Unidades de Conservação, quem conversou com a gente foram os
gestores Paulo Grübler (biólogo e gestor do Parque Estadual de Itapeva
DUC/DBIO/SEMA) e Fernanda Schmitt (eng. agrônoma e gestora da Reserva
Estadual Ambiental Mata Paludosa DUC/DBIO/SEMA), nos contando dos
desafios, das dificuldades de valorização aos olhos do municipio e da comunidade
local, das tentativas de represálias e conquistas da gestão. Participaram da
atividade mais de 60 pessoas, de dentro e de fora da UFRGS.
Figura 17. Palestra do Gestor do Parque Estadual de Itapeva, bióogo Paulo
Grübler
2.11 Roda de Conversa Cacica Julia e Cacique Mario (Semana Intinerante
Uvaia) (17 de outubro )
Evento “Horticultores da Mata”, realizado dia 17 de outubro de 2017, no
Campus do Vale da UFRGS. Atendendo a uma proposta da Semana Acadêmica
de Agroecologia, da Faculdade de Agronomia, foi organizada uma roda de fogo
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sobre horticultura Mbya guarani. Como convidados trouxemos de Maquiné-RS,
Júlia Gimenes e de Torres-RS, Mario Lopes. Participaram cerca de 50 estudantes
de diversas áreas.
A líder da comunidade Guyrai Nhandu, Aldeia Som dos Pássaros de
Maquiné-RS, Cacica Júlia Gimenes, disse no evento “Horticultores da Mata ”:
“Vocês, brancos, que dizem que nossos antepassados comiam carne humana é
quem beberam do nosso sangue, mataram nossos parentes. Vocês devem muito
a Nhanderú.”
2.12. Postagens de documentos e outros materiais referentes às Políticas
Pùblicas no sítio-e do GVC, https://www.ufrgs.br/viveiroscomunitarios/
- 30 ÁRVORES ESTRATÉGICAS DA MATA ATLÂNTICA
Uma cartilha lançada em PDF, realizada em 1998 por uma parceria da Sílvia
Franz Marcuzzo (texto e edição) e do Paulo Brack (ilustração e consultoria
técnica). Nesta cartilha são descritas 30 espécies arbóreas nativas do RS,
selecionadas pela sua importância no meio ambiente, pela valorização de suas
flores, folhas ou frutos, pelo valor econômico e utilidade da madeira, seu
emprego medicinal ou ainda pela sua importância ecológica como fonte de
alimento para fauna e fonte de renda para comunidades locais.
Por ser uma publicação antiga, há modificações que necessitam ser feitas. No
futuro pretendemos atualizá-la. No momento, esperamos que a Cartilha
divulgada em PDF vai ser importante para a conservação da Mata Atlântica e de
comunidades que delas dependem.
https://www.ufrgs.br/viveiroscomunitarios/30-arvores-estrategicas-da-mata-
atlantica/
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Figura 18. Cartilha disponibilizada na rede mundial de computadores, pelo projeto
3. CONCLUSÕES
Com base na disponibilização de materiaispara oo público e aos poderes
legislativo e udiciário, e da participação em eventos, como o registro de pelo
menos 200 pessoas, um pouco mais da metade formadas por estudantes de
diferentes cursos, que estiveram participando das atividades, e pelas demandas
de encaminhamentos de questões ambientais às autoridades, acreditamos que, o
objetivo do projeto foi atingido.
A tudo que tange proteção da biodiversidade, valorização de culturas,
costumes e bem viveres de comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas,
agricultores e agricultoras que prezam pela vida do solo; divulgação da flora
nativa, estimulando seus variados usos para tornarem-se de conhecimento
comum para toda a população; participação de eventos que retratam a atual crise
econômica que, diante de suas falhas intermináveis, destroem o ambiente em prol
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do “crescimento”, participação e fiscalização na política, denunciando leis que não
respeitam a natureza e de quem desta depende para viver; estímulo na criação de
novas leis que fomentem a valorização da biodiversidade, e não do monocultivo
de mentes que destrói cada dia mais.
Enfim, procuramos sempre divulgar o que é de mais precioso, que é a
nossa biodiversidade com suas diversas propriedades e potenciais, que não só
são essenciais para o ecossistema, quanto para a sua preservação e de toda
comunidade que dela vive e depende.