programas de leniÊncia em paÍses membros e parceiros da … · reino unido, rússia e turquia....

135
ESTUDO Câmara dos Deputados Praça dos Três Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Magno Antonio Correia de Mello Consultor Legislativo da Área VIII Administração e Serviço Público ESTUDO NOVEMBRO/2015

Upload: others

Post on 12-Oct-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

ESTUDO

Câmara dos Deputados Praça dos Três Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF

PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES

MEMBROS E PARCEIROS DA

ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Magno Antonio Correia de Mello Consultor Legislativo da Área VIII Administração e Serviço Público

ESTUDO

NOVEMBRO/2015

Page 2: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

2

SUMÁRIO

Apresentação ............................................................................................................................................ 3 Alemanha .................................................................................................................................................. 4 Austrália .................................................................................................................................................... 8 Áustria .................................................................................................................................................... 20 Brasil ....................................................................................................................................................... 25 Bulgária ................................................................................................................................................... 30 Canadá .................................................................................................................................................... 34 Chile ...................................................................................................................................................... 466 Coreia do Sul ......................................................................................................................................... 499 Eslováquia ............................................................................................................................................... 54 Estados Unidos ....................................................................................................................................... 58 Estônia .................................................................................................................................................... 63 Formosa .................................................................................................................................................. 67 Hungria ................................................................................................................................................... 72 Japão ....................................................................................................................................................... 75 Lituânia ................................................................................................................................................... 79 México .................................................................................................................................................... 83 Polônia .................................................................................................................................................... 91 Portugal .................................................................................................................................................. 95 Reino Unido .......................................................................................................................................... 102 Rússia .................................................................................................................................................... 108 Turquia.................................................................................................................................................. 113 União Europeia ..................................................................................................................................... 117 Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da OCDE (“BIAC”) ............................................................ 123 ANEXO 1 - FLUXOGRAMA DO PROGRAMA DE LENIÊNCIA AUSTRALIANO ........................................... 132 ANEXO 2 - FORMULÁRIO Nº 1 DO SISTEMA DE SENHAS JAPONÊS ...................................................... 133 ANEXO 3 - FORMULÁRIO Nº 2 DO SISTEMA DE SENHAS JAPONÊS ...................................................... 134

© 2015 Câmara dos Deputados.

Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde que

citados(as) o(a) autor(a) e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda, a

reprodução parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados.

Este trabalho é de inteira responsabilidade de seu(sua) autor(a), não representando necessariamente a

opinião da Câmara dos Deputados.

Page 3: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

3

PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS

E PARCEIROS DA ORGANIZAÇÃO PARA A

COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Magno Antonio Correia de Mello

APRESENTAÇÃO

No final de 2014, a Organização para a Cooperação e o

Desenvolvimento Econômico - OCDE solicitou a países membros e parceiros informações

acerca dos sistemas de senhas eventualmente previstos em seus programas de leniência. O

organismo internacional demandou dos destinatários que prestassem esclarecimentos acerca: (1)

do programa de leniência por eles mantido e da correlação entre esse programa e o sistema de

senhas; (2) dos propósitos das senhas concedidas e de seus potenciais beneficiários; (3) da fonte

normativa do sistema de senhas e dos mecanismos por meio dos quais se promove sua divulgação

a potenciais beneficiários; (4) das condições que habilitam os interessados a obterem a senha e do

alcance das senhas1; (5) dos procedimentos e dos requisitos para concessão de senhas; (6) do grau

de discricionariedade na concessão de senhas e, caso se constate alguma, dos fatores que devem

ser levados em conta para a respectiva decisão; (7) do momento em que a senha evolui para a

oferta condicional de leniência e dos procedimentos para conversão do pedido de senha em

requerimento de imunidade condicional; (8) da confidencialidade dos procedimentos e dos casos

em que pode ser afastada; (9) da experiência concreta com o sistema de senhas e de eventuais

perspectivas quanto à alteração de suas regras.

A demanda da OCDE, promovida por meio de um questionário que

abrangia os itens anteriormente elencados, foi atendida pelos seguintes países, listados em ordem

alfabética: Alemanha, Austrália, Áustria, Brasil, Bulgária, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Estônia,

Estados Unidos, Eslováquia, Formosa, Hungria, Japão, Lituânia, México, Polônia, Portugal,

Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e

Indústria da própria OCDE (adiante identificado pela sua sigla em inglês, “BIAC”) enviaram

contribuições.

O presente documento, oferecido à sociedade como estudo técnico de

responsabilidade do consultor legislativo que o assina, consiste na tradução, com a maior

1 Nesse aspecto, o questionamento da OCDE se refere ao número de senhas concedidas. Indaga-se especificamente se as senhas são disponibilizadas apenas ao primeiro postulante ou se há espaço também para interessados subsequentes.

Page 4: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

4

fidelidade possível aos respectivos originais, do material enviado à OCDE pelos referidos países,

pela União Europeia e pelo BIAC. Adotou-se o critério alfabético para ordenar as contribuições e

se optou por substituir os itens do questionário preparado pela OCDE por títulos que

expressassem seu conteúdo, nos casos em que as respostas enviadas por países membros e

parceiros adotaram o critério de identificar expressamente as questões formuladas pelo organismo

internacional.

A única exceção para o posicionamento das contribuições em ordem

alfabética foi aberta para o material subscrito pelo BIAC, na medida em que a exposição remetida

pelo comitê não descreve programas de leniência, até porque não é função do órgão mantê-los.

As ponderações do órgão de assessoramento da OCDE constituem o encerramento das

traduções oferecidas pelo signatário do estudo técnico ao público e se considera adequada tal

posição, tendo em vista a relevância das reflexões promovidas pelo comitê.

Acredita-se que o esforço resultou na possibilidade de se cotejarem o

conteúdo e o propósito dos programas de leniência a nível internacional sob o ponto de vista da

OCDE. Resta claro que tais programas devem ser direcionados ao combate de carteis,

classificados pelo organismo internacional, em diversas manifestações de sua lavra, como o

principal obstáculo ao bom funcionamento das economias nacionais.

Cabe, antes de se iniciarem as traduções a seguir promovidas, uma breve

observação sobre o caso brasileiro. Na resposta enviada à OCDE, o país se ateve aos aspectos de

seu programa de leniência que se compatibilizam com as premissas do organismo internacional,

na medida em que a contribuição se restringe ao controle do mercado concorrencial,

consubstanciado na Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011.

O material brasileiro não se refere ao instituto da “delação premiada”,

correspondente penal, no país, ao programa de leniência descrito à OCDE. Trata-se de lacuna

que precisa ser desde já identificada, na medida em que os demais textos submetidos por nações

associadas e parceiras ao organismo internacional referem-se à questão de forma integrada às

responsabilizações administrativa e penal decorrentes da formação de carteis.

ALEMANHA

Introdução

A agência federal destinada à preservação da competitividade na

economia alemã, a “Bundeskartellamt”, dispõe de um programa de testemunhas estratégico e

extremamente bem sucedido, o programa de leniência2. O sistema foi estabelecido em 2000 e

2 Informações a respeito podem ser obtidas no endereço http://www.bundeskartellamt.de/EN/Banoncartels/Leniency_programme/leniencyprogramme_node.html .

Page 5: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

5

substancialmente revisto seis anos depois, de acordo com alterações nas leis relacionadas à

competição e na linha do Programa Modelo de Leniência da Rede Europeia de Competição

(European Competition Network – ECN). Atualmente, mais de metade de todos os processos

movidos contra carteis são desencadeados por informações oriundas de pedidos de leniência e o

programa é um dos mais bem sucedidos programas de leniência do mundo, com 65

requerimentos de leniência em 42 casos somente em 2013. Um dos pilares desse sucesso é o uso

de senhas.

Nesta explanação, será de início fornecida uma breve visão dos principais

aspectos do programa de leniência (item 2), depois se abordará o sistema de senhas em detalhes,

como um dos mais importantes mecanismos do programa (item 3). A exposição é concluída com

algumas observações sobre a experiência da agência alemã com seu programa de leniência.

2. O programa de leniência

O programa de leniência pode ser aplicado a todos os participantes de

um cartel, tanto pessoas físicas quanto jurídicas. A agência renuncia à multa que seria imposta ao

integrante do cartel se ele for o primeiro a contatá-la com o intuito de revelar a irregularidade. A

imunidade em relação à aplicação de multas também pode ser concedida posteriormente, se a

agência for suprida de evidências decisivas, sem as quais a existência do cartel não poderia ser

comprovada. As multas podem ser reduzidas em até 50% em relação a todos os outros

requerimentos por leniência, dependendo do valor de suas contribuições no sentido de

comprovar a efetiva incidência da ilicitude.

A esse respeito é importante que em cada etapa da investigação do cartel

um requerimento de leniência tenha sido feito e o requerente tenha contatado a agência antes de

qualquer outro membro do cartel.

A agência irá conceder ao participante do cartel imunidade em relação a

multas se ele for o primeiro a contatá-la, se o fizer antes de se reunirem evidências suficientes

para justificar mandados de busca e apreensão e se fornecer informações escritas ou verbais,

assim como, onde estiverem disponíveis, evidências que a habilitem a obter um mandado de

busca e apreensão.

Se a agência estiver em condições de obter o mandado de busca e

apreensão, via de regra será concedida a imunidade em relação à aplicação de multas ao

participante do cartel, se ele houver sido o primeiro a procurar a agência, antes que ela dispusesse

de provas suficientes da ilicitude, fornecendo ao órgão informações verbais ou escritas e, quando

disponíveis, evidências que o habilitassem a comprovar a irregularidade. Para obter imunidade, o

requerente não pode ser o líder isolado do cartel e não pode ter coagido outros a participar da

respectiva conduta.

Page 6: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

6

Em benefício dos participantes do cartel que não reúnam as condições

para a imunidade, a agência pode reduzir as multas em até 50%, se o interessado fornecer

informações e/ou evidências que representem uma contribuição valiosa para comprovar a

transgressão. A proporção dessa redução é baseada no valor probatório das contribuições e na

sequência em que são recebidas dos requerentes.

Para obter imunidade ou a redução de sua multa, o requerente deve

cooperar integral e continuamente com a agência. Particularmente, o requerente deve cessar seu

envolvimento no cartel imediatamente após acionar a agência e fornecer todas as informações e

evidências que obtiver depois que apresentar seu pedido de leniência. Também é obrigado a

manter sua cooperação com a agência confidencial até que ela o libere de suas obrigações.

A decisão de reduzir a multa ocorre geralmente na data mais próxima

possível posterior à leitura e análise criteriosas de todas as informações e evidências obtidas em

inspeções feitas sem aviso e/ou fornecidas por outros interessados em receber tratamento

leniente. Na grande maioria dos casos, a agência informa o requerente sobre a exata proporção da

redução após colher suas declarações.

2. Regras sobre senhas

A aplicação do programa de leniência da agência alemã destinada a

proteger a competição via de regra se inicia com uma senha, independentemente de se tratar de

pedido de imunidade ou de pedido de redução de multas.

O participante do cartel pode contatar o Chefe da Unidade Especial de

Combate a Carteis ou o titular da divisão competente para declarar seu desejo de cooperar e obter

uma senha. A concessão da senha acontece automaticamente, o que significa que não há

discricionariedade na apreciação do requerimento se ele estiver municiado corretamente. O

momento em que a senha é concedida é decisivo para definir a posição do respectivo

requerimento.

Assim que for confirmada a intenção de cooperar e concedida a senha, o

responsável pelo caso imediatamente certifica por escrito em favor do requerente que uma senha

foi deferida, assinalando a hora e a data de expedição do documento. O requerente, a partir de

então, possui no máximo oito semanas para completar o seu pedido de leniência, depois de ter

requerido a senha com a finalidade de assegurar, por meio dela, sua posição na fila por leniência.

O prazo final não pode ser prorrogado. Se o requerimento não se completar após o transcurso do

prazo, outro interessado em obter leniência tem a chance de ocupar a posição do requerente

anterior, sistemática que incentiva a cooperar de forma tão rápida e completa quanto for possível.

O prazo final é estabelecido por quem for responsável pelo caso, que o dimensionará e delimitará

os recursos a serem empregados de acordo com as características do problema e as necessidades

Page 7: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

7

do requerente na tentativa de cumprir o prazo previamente definido.

Durante a validade da senha, o interessado deve reunir informações que

forneçam contribuição significativa para provar a transgressão. Documentos que comprovam a

infração devem ser apresentados se estiverem disponíveis. Se não estiverem à disposição tais

documentos, pode ser suficiente identificar os empregados envolvidos no acordo de vontades que

consubstanciou o cartel e assegurar que todos os empregados, a respeito dos quais informações

poderão ser exigidas, cooperarão de forma integral e contínua com a agência no curso do

processo.

A agência informa ao requerente a posição do requerimento. Ela garante

ao requerente por escrito que será concedida imunidade de multas se os requisitos para imunidade

total forem satisfeitos e se a senha houver sido concedida antes de a agência reunir informações

suficientes para amparar um mandado de busca e apreensão. Se a senha for concedida em um

estágio da investigação no qual informações suficientes para um mandado de busca e apreensão já

estiverem à disposição da agência ou se o requerimento se destinar à redução de multas, a agência

inicialmente só informará ao requerente se ele é o primeiro, o segundo, etc. requerente e em

princípio (especialmente se o interessado cumprir suas obrigações no sentido de cooperar) ainda

será possível conceder imunidade ou redução de multas. Devido à hierarquia relativamente linear

da agência, o requerente terá acesso rapidamente à definição acerca da instância que tomará a

decisão final sobre a imunidade/redução da multa. Essa circunstância confere um elevado grau de

segurança aos requerentes.

A agência dispõe de um sistema de senhas muito simples. O

requerimento pode ser feito em alemão, em inglês, oralmente, por telefone ou por fax e durante

ou após uma inspeção sem aviso. Um pedido de senha válido por escrito pode ter a extensão de

apenas duas páginas. E solicitar uma senha por telefone demora somente entre dez e vinte

minutos. Uma senha por via oral pode ser pedida de modo extremamente informal, sem, por

exemplo, que se agende uma entrevista antecipadamente.

O pedido de senha deve delimitar o tipo e a duração da violação da

legislação relativa à formação de carteis, o produto e a área geográfica abrangidos, assim como a

identidade dos participantes do cartel. Além disso, deve identificar perante quais outras

autoridades similares requerimentos de mesma finalidade foram feitos ou serão apresentados.

Cada um dos critérios mencionados pode, entretanto, ser satisfeito com poucas palavras.

Enquanto o objeto da senha deve ser tão claro quanto for possível, uma

definição menos precisa sobre o respectivo alcance pode ser aceita, em certa medida, desde que a

integralização do requerimento cumpra o prazo e esclareça todas as questões deixadas em aberto.

Por exemplo, pode ser suficiente se, quando concedida a senha, a espécie de cartel for descrita

por expressões como “compartilhamento de clientes”, “fixação de preços”, “troca de

informações”, sem uma descrição mais aprofundada do comportamento alegado. Da mesma

Page 8: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

8

forma, a duração da irregularidade pode ser descrita de forma imprecisa ou por meio de

estimativas, como, por exemplo, “desde pelo menos 2002 até os dias atuais”. No que diz respeito

ao produto submetido ao cartel, a definição deve ser tão exata quanto possível, mas na prática a

senha pode ser interpretada com a ajuda do que for obtido na integralização do requerimento.

Em razão do fato de que há uma instância judicial especializada, que é

competente para decidir os mandados de busca e apreensão requeridos pela agência, é possível

chegar rapidamente a uma avaliação confiável sobre se um pedido de leniência atende ao requisito

de "permitir um mandado de busca e apreensão". Essa apreciação é facilmente feita também

pelos advogados dos requerentes. Em consequência, demandas judiciais relacionadas à concessão

de senhas pela agência são comparativamente reduzidas.

O momento em que o requerimento é apresentado constitui variável

extremamente relevante no que diz respeito à potencial redução das multas, uma vez que a

(potencial) graduação da redução de multas funda-se tanto no valor das evidências trazidas pelos

requerentes quanto na posição relativa de seu requerimento em relação a outros de mesmo

intuito. Embora a posição relativa de um requerimento voltado à redução de multas seja essencial,

esse não é o único elemento que a agência leva em conta. Pode haver casos em que um

requerimento menos bem posicionado e com evidências mais contundentes conduza a uma

redução de multas maior do que a de um requerimento mais bem posicionado, mas com

evidências menos valiosas. O primeiro requerente habilitado à imunidade completa que fornecer

informações relevantes para um mandado de busca e apreensão, entretanto, preservará essa

posição.

4. Conclusões

A experiência da agência com seu programa de leniência, inclusive o

automático e simplificado sistema de senhas, tem sido extremamente positiva. As preocupações

pontuais de que muitas senhas poderiam ser fornecidas sem razões sólidas e simplesmente

sobrecarregassem a agência revelaram-se infundadas. O esforço da agência no gerenciamento das

senhas não é tão grande e se vê nitidamente compensado pelos efeitos positivos resultante das

ações baseadas no sistema. Em uma estimativa conservadora, ao descobrir e romper carteis, a

agência tem nos últimos anos trazido aos consumidores alemães benefícios que variam entre 500

e 750 milhões de euros por ano.

AUSTRÁLIA

Introdução

Na Austrália, a formação de cartel pode suscitar a responsabilização civil

e também a criminal, nos termos da Lei de Competição e Consumo (Competion and Consumer Act),

Page 9: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

9

editada em 2010. A Comissão Australiana para a Competição e o Consumo (Australian Competition

and Consumer Commission - ACCC), constitui o único denominador comum no que diz respeito à

verificação do cumprimento das exigências previstas para concessão de imunidade civil e criminal.

Os procedimentos para definição e aplicação de critérios para celebração de acordos de leniência

constituem um capítulo fundamental do Programa de Concessão de Imunidade da ACCC

(ACCC’s Cartel Immunity Program), estabelecido por intermédio de sua “Política de Imunidade e

Cooperação para a Prática de Carteis” (Immunity and Cooperation Policy for Cartel Conduct), adiante

identificada pela expressão “política da ACCC”.

A imunidade só é concedida para o primeiro integrante do cartel disposto

a desvendá-lo. Um sistema de distribuição de senhas determina qual integrante obterá tal

primazia. Outros envolvidos podem optar por cooperar com os processos de investigação

administrativa ou judiciais, com o intuito de receber punições mais brandas. Além disso, se quem

detiver a primazia não corresponder às expectativas ou de outra forma perder sua imunidade, o

próximo a requerer a senha será colocado em seu lugar e passará a poder pleitear imunidade.

A política da ACCC cobre a imunidade e a cooperação sem imunidade.

Foi revista depois de um amplo processo de consulta e revisão, transcorrido em 2014, e publicada

na forma atual em setembro de 2014.

A ACCC avalia cada postulante que pretenda ingressar no programa a

partir dos critérios que habilitam à obtenção de imunidade civil condicional previstos em sua

política. Quando as condutas puderem ocasionar a responsabilização penal, a ACCC expede uma

recomendação ao Ministério Público para que o órgão conceda imunidade penal a quem atender

os critérios de sua política. Embora o Ministério Público não gerencie candidatos à imunidade ou

a fila desses candidatos, é ele quem toma decisões sobre imunidade penal.

O Ministério Público constitui o serviço nacional federal de persecução

criminal na Austrália e é responsável pela apresentação de denúncias, inclusive em relação a

transgressões graves cometidas por cartéis. O chefe do Ministério Público é competente para

conceder imunidade em casos de cartel e o faz com base no Anexo B da “Política de Persecução

Criminal da Comunidade Britânica de Nações” (Prosecution Policy of the Commonwealth), aplicando o

mesmo critério previsto na política da ACCC.

1. Descrição do sistema de senhas australiano e de sua relação com o programa de

leniência

1.1 Primeira etapa: obtenção de senha

Requerer uma senha é o procedimento inicial para se acessar o programa

de imunidade da ACCC.

Uma vez concedida, a senha é a confirmação de que a empresa

Page 10: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

10

requerente é a primeira na fila para obter imunidade em relação ao cartel de que participa.

Os únicos meios válidos para requerer a imunidade ou obter uma senha

consistem em contatar a ACCC por meio de telefone específico ou enviar uma mensagem

eletrônica para um endereço mantido pela ACCC com essa finalidade

([email protected]). Se isso ocorrer, será acionada a Gerência Geral Executiva de

Defesa da Concorrência, que avisará o interessado assim que o sistema voltado a requerer senha

estiver disponível. A ACCC registra o momento em que qualquer contato inicial sobre senhas

ocorre ou quando a requisição de uma senha é feita.

Para obter a senha, o interessado deve fornecer uma descrição do cartel

abrangido com um nível de detalhamento apto a permitir que a ACCC verifique se não há

nenhum outro interessado que tenha pedido imunidade ou obtido senha em relação ao mesmo

cartel. Essas informações podem incluir a especificação da indústria, do produto e/ou do período

de tempo em que a prática de cartel houver ocorrido.

Um interessado pode requerer a senha de forma hipotética e anônima.

Depois que a senha for fornecida, o requerente ou seus representantes devem ser identificados na

segunda etapa do processo, conhecida como “oferta”.

O efeito prático de se obter uma senha é preservar, pelo período

determinado pela ACCC (normalmente 28 dias), a preferência para requerer a imunidade em

relação ao cartel abrangido. Assim, a senha permite que o seu detentor utilize o referido período

para reunir informações destinadas a demonstrar o atendimento das condições exigidas para

obtenção de imunidade condicional.

Esse período pode durar poucos dias em algumas circunstâncias, como,

por exemplo, se a empresa havia feito relatos anteriores ou se haviam investigações da ACCC já

em curso e avançadas. Por outro lado, se a ACCC não mantinha investigação em curso e se a

averiguação das condições para concessão de imunidade feita pela ACCC se revelar complexa,

poderá ser concedido um período mais longo. A ACCC poderá discutir a duração do período

com o interessado, cabendo-lhe, a seu critério, ampliar o período de validade da senha para

permitir que o interessado reúna informações adicionais voltadas a dar suporte ao requerimento.

Tendo em vista que o prolongamento excessivo da fase de senha pode prejudicar o esforço da

ACCC no sentido de obter provas ou de coordenar sua atuação com a de outras agências, a

dilação do período só poderá ser deferida se for justificada e não for desproporcional em relação

aos objetivos a serem cumpridos.

Em algumas investigações diferenciadas e complexas, a ACCC permite

que o interessado tenha um tempo mais dilatado para fazer investigações internas destinadas a

apurar se ocorreu alguma irregularidade. Nesses casos, pode ser necessário o oferecimento de

provas adicionais. Será estendido então também o período conhecido como “oferta”, destinado à

Page 11: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

11

apresentação de provas.

A senha será estornada quando o período reservado ao oferecimento de

provas expirar, caso o interessado ainda não houver demonstrado que satisfaz os requisitos para

concessão de imunidade. Geralmente, quando a senha perde seus efeitos, o mesmo ou outro

interessado ficam liberados para requerer a imunidade ou requisitar nova senha. A um segundo

interessado que já havia solicitado senha será concedida a oportunidade para satisfazer os

requisitos para imunidade condicional como se fosse o primeiro a requerê-la.

A ACCC acompanhará o detentor da senha com o intuito de agir

imediatamente caso venha a descobrir que ele não satisfaz os requisitos para a imunidade

condicional, circunstância que levará à caducidade da senha. A ACCC cancelará a senha se o

requerente não reunir os requisitos previstos para concessão de imunidade condicional. Por

exemplo, se na realização de investigações internas uma empresa descobre que esteve envolvida

na coação de concorrentes no cartel, ela perderá o direito à imunidade condicional e poderá

decidir não prosseguir com o requerimento que apresentou nesse sentido.

Enquanto um interessado detiver a senha relacionada à apuração de um

cartel específico, nenhum outro envolvido no mesmo cartel será habilitado a assumir a

preferência na fila de imunidade, mesmo se já satisfizer todas as condições previstas para obtê-la.

A ACCC não aceita negociar pedidos de imunidade com mais de um

interessado, o que não impede que uma empresa requerente tente obter imunidade em benefício

de seus empregados, administradores e subsidiárias. As tratativas com empresas que funcionam

como conglomerados são geralmente consideradas como se houvesse um único requerente

pedindo imunidade.

1.2 Segunda etapa: “oferta”

O detentor da senha deve fornecer uma descrição detalhada da prática de

cartel em um procedimento denominado “oferta”, de forma oral ou por escrito, para que seja

examinado seu pedido de imunidade. As provas oferecidas precisam conter informações e

evidências de que o detentor da senha é capaz de revelar, a partir de suas investigações internas, a

natureza e a extensão da prática de cartel. Em outros termos, o requerente será obrigado a

demonstrar que satisfaz os critérios para concessão de imunidade condicional.

Durante a etapa destinada ao oferecimento de provas, a ACCC não

aceita um simples esboço da prática de cartel ou especulações sobre o papel do requerente na

conduta investigada. A ACCC exige que o requerente forneça minúcias de sua participação no

cartel e informações suficientes para se permitir uma apreciação clara das evidências fornecidas e

Page 12: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

12

de cada testemunho trazido a seu conhecimento. O requerente deve prestar as informações da

forma mais completa possível, zelar pela verdade e agir com espírito de colaboração.

A ACCC mantém registro de todos os pedidos de senha e dos

respectivos requerimentos, inclusive no que diz respeito à etapa de oferta. As provas fornecidas

são submetidas pela ACCC a assessores jurídicos integrantes de seus quadros ou para tanto

contratados com o intuito de examinar se o requerente de fato faz parte de um cartel e se as

informações nelas contidas servem de base para tal conclusão. Normalmente, as provas pré-

constituídas tendem a ser fundamentais para obtenção desse parecer jurídico.

Antes de se candidatar à imunidade condicional, o requerente deve se

posicionar no sentido de admitir que fazia parte do cartel, seja como o principal integrante, seja

desempenhando papel secundário. Se a conduta implica ou não em transgressão da Lei de

Competição e Consumo, é questão para o Poder Judiciário decidir. Com base nas provas

oferecidas, a ACCC determinará se o detentor da senha satisfez os critérios para concessão de

imunidade e se isso ocorrer a ACCC reconhecerá formalmente que o requerente obteve

imunidade condicional.

A ACCC também fará uma recomendação ao Ministério Público para

que seja concedida imunidade criminal. O Chefe do Ministério Público decidirá por sua própria

conta se é cabível a concessão de imunidade criminal, mas a apreciação terá como base os

mesmos critérios utilizados pela ACCC para garantir imunidade cível. Como primeiro passo, o

Chefe do MP enviará formalmente ao requerente certidão por meio da qual reconhecerá sua

primazia na negociação de imunidade e o fato de que o MP pretende garantir que o processo

criminal não terá curso. Esse expediente normalmente é providenciado ao mesmo tempo em que

a ACCC garante imunidade condicional para procedimentos cíveis, e se sujeitará à continuidade

no atendimento das obrigações e condições para tanto previstas, tais como a preservação das

condições que permitem a concessão de imunidade condicional e a permanência da cooperação

até então assegurada.

2. Finalidades e benefícios do sistema de senhas

A política de imunidade pretende criar uma “corrida para a porta de

saída” entre os integrantes do cartel. O propósito da senha é determinar a identidade do primeiro

integrante do cartel disposto a divulgá-lo ou, em outras palavras, o vencedor da corrida pela

Page 13: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

13

imunidade.

Com esse intuito, a política da ACCC e o Anexo B da Política de

Persecução Criminal da Comunidade Britânica de Nações preveem fortes incentivos a empresas e

a indivíduos dispostos a revelar carteis e incrementam as penas vinculadas à detecção e à punição

da prática de cartel.

O Anexo B da Política de Persecução Criminal da Comunidade Britânica

de Nações é baseado no reconhecimento de que, no que diz respeito a transgressões graves

praticadas por carteis, é de interesse público a oferta de imunidade quanto à apresentação de

denúncias em benefício de integrante de cartel que deseja ser o primeiro a enfrentar os outros

integrantes, predispondo-se a expor o cartel e a cooperar de forma integral com a ACCC em suas

investigações e com o Ministério Público no encaminhamento de suas denúncias.

Os postulantes que não obtiverem a senha e não conseguirem a primazia

para acesso a imunidade ainda possuem o incentivo de cooperar com a ACCC e, em questões

criminais, com o Ministério Público, uma vez que o Poder Judiciário dispensa tratamento mais

brando nessa hipótese. Qualquer interessado que não obteve a primazia para obtenção de

imunidade, mas coopera com a ACCC em relação a um cartel, poderá permitir a descoberta de

um segundo cartel, não relacionado com o primeiro. Nessas circunstâncias, esse interessado

poderá pedir imunidade condicional em relação ao segundo cartel e também postular um

tratamento ainda mais brando em relação à prática de cartel anteriormente apurada, isto é, uma

recomendação para que se aumente a redução da pena em relação ao primeiro cartel. O

interessado que estiver postulando essa anistia adicional deve pedir à ACCC uma senha para o

segundo cartel o mais rápido possível.

3. Fonte normativa do sistema de senhas e sua forma de divulgação

O programa de imunidade da ACCC, inclusive o respectivo sistema de

senhas, funda-se em procedimentos que são descritos e expostos em documentos políticos – mais

especificamente, a política da ACCC e o Anexo B da Política de Persecução Criminal da

Comunidade Britânica de Nações.

A política da ACCC é suplementada pelas “Questões Frequentemente

Formuladas” (na sigla em inglês, FAQs).

Tanto a política da ACCC quanto o Anexo B da Política de Persecução

Criminal da Comunidade Britânica de Nações, inclusive em suas versões anteriores, têm sido

publicadas nos portais da ACCC e do Ministério Público, em comunicados à imprensa, em

apresentações para advogados australianos e estrangeiros e em instâncias internacionais.

As recentes revisões, que levaram à atual política da ACCC, foram objeto

de extensas rodadas de consulta com usuários regulares do instrumento, com especialistas

Page 14: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

14

acadêmicos na área de direito da concorrência, com profissionais da área e com o público em

geral.

4. Condições para obtenção de senha

4.1 Condições a serem satisfeitas pelo detentor da senha

Somente os que mostrarem que satisfazem os requisitos para imunidade

condicional podem requerer uma senha. A imunidade somente é deferida para o primeiro

integrante disposto a revelar a prática de cartel. Não é necessário que um postulante apresente

todas as informações de que disponha quando requer uma senha. A solicitação de uma senha

pode ser feita (e a respectiva imunidade estará disponível conforme a alternativa) por indivíduos

ou corporações (o que inclui sociedades formais, sociedades não estabelecidas formalmente,

empresas e departamentos governamentais ou agências governamentais que exerçam atividades

econômicas), que se envolveram em práticas de cartel, seja como o principal transgressor, seja

exercendo papel secundário em violações à Lei de Competição e Consumo.

Corporações e indivíduos que tenham tentado unilateralmente, sem

sucesso, convencer outros indivíduos e corporações a aderir a práticas de cartel não se habilitam à

obtenção de imunidade e também não podem requerer senha.

4.2 Imunidade derivada

Uma empresa pode solicitar uma senha buscando imunidade derivada

para outras pessoas jurídicas a ela relacionadas e/ou para diretores atuais e antigos, e demais

integrantes ou funcionários da corporação que estiveram envolvidos na prática de cartel, os quais

devem ser identificados no requerimento. A imunidade derivada pode ser concedida para todos

ou para parte dos contemplados no requerimento, durante o período da prática de cartel, e será

deferida com base nos mesmos critérios previstos para a imunidade condicional eventualmente

atribuída à corporação.

5. Apreciação do requerimento de senha

A senha será concedida se o respectivo requerimento tiver suporte na

confirmação das condições exigidas para se habilitar à concessão de imunidade e em uma

descrição da prática de cartel com detalhes que permitam à ACCC verificar se nenhuma outra

empresa ou pessoa física apresentou um pedido de imunidade ou de obtenção de senha

relacionados ao mesmo cartel. Se a empresa ou o indivíduo requerentes houverem tentado,

unilateralmente, sem sucesso, convencer outros indivíduos ou empresas a aderirem ao cartel, a

senha não será concedida. A senha também não será deferida se a ACCC já tiver conhecimento

do cartel e tiver obtido, sem o concurso do requerente, sustentação jurídica que permita amparar

a instauração de procedimentos relativos a pelo menos uma infração descoberta em relação à

Page 15: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

15

respectiva prática. Conforme será assinalado no tópico 9, poderá haver problemas no que diz

respeito à disponibilidade de senhas, em função de elementos fáticos que devem ser resolvidos na

etapa em que se aprecia sua concessão.

A ACCC define a seu critério o tempo de validade da senha e eventuais

extensões desse prazo, conforme se verificou no item 1 supra.

6. Condições que devem ser atendidas pelo requerente para obtenção de imunidade

Se a ACCC chegar à conclusão de que o requerente reúne as condições

de elegibilidade para obtenção de imunidade condicional, o benefício será concedido e isentará o

contemplado contra processos cíveis, por meio da expedição de um documento especificamente

voltado a essa finalidade, no qual constarão a descrição do cartel revelado pelo requerente e os

termos e condições que fundamentam a concessão de imunidade. Isso normalmente ocorre ao

mesmo tempo em que o Ministério Público providencia documento semelhante voltado a

assegurar imunidade criminal, conforme esclarecido no item 1 supra.

A política da ACCC enumera uma série de condições que devem ser

atendidas por quem detém a senha antes de se conceder imunidade condicional, que são as

seguintes:

1) ser ou ter sido empresa integrante do cartel ou, em se tratando de

indivíduo, ser ou ter sido diretor, gerente ou empregado de uma empresa que é ou foi integrante

do cartel, como o principal transgressor ou de forma coadjuvante;

2) admitir que a prática de cartel pode constituir uma transgressão da Lei

de Competição e Consumo (a confissão de uma empresa deve ser um ato praticado pela própria

corporação e contrasta com atos de mesma natureza praticado por indivíduos);

3) ser o primeiro a apresentar requerimento dirigido à ACCC destinado a

obter imunidade em relação ao cartel abrangido;

4) não ter induzido outrem a participar do cartel;

5) encerrar ou desejar encerrar o envolvimento até então mantido com o

cartel;

6) efetivar revelações completas, francas e verossímeis ao requerer a

senha, e comprometer-se a continuar se comportando da mesma forma durante as investigações

efetuadas pela ACCC e em qualquer processo judicial subsequente.

Além dessas condições, também é necessário que, ao receber o pedido de

concessão de senha, a ACCC não disponha de parecer jurídico por escrito no sentido de que já

existem indícios razoáveis no sentido de instaurar procedimentos em relação a pelo menos uma

transgressão da Lei de Competição e Consumo decorrente da prática de cartel revelada pelo

Page 16: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

16

requerente.

7. Normas sobre confidencialidade

7.1 Obrigações do detentor da senha

A ACCC exige que o detentor da senha obtenha a prévia autorização do

colegiado para divulgar a terceiros seu pedido de obtenção de senha e da subsequente imunidade,

ou qualquer informação a eles relacionada, com exceção de conselhos ou de agências reguladoras

situados em jurisdições estrangeiras para os quais o interessado tenha dirigido requerimentos

similares de imunidade ou leniência. A confidencialidade ajuda a garantir que outros aspectos da

investigação não venham à tona prematuramente. É uma forma de proteger a integridade da

investigação promovida pela ACCC e assegurar que as provas não serão destruídas.

A única exceção quanto à imposição de confidencialidade ocorre se o

detentor da senha for obrigado por lei a revelar a informação, na Austrália ou em outro país,

situação na qual o interessado deve comunicar o fato à ACCC assim que tomar conhecimento da

determinação de divulgação.

8.2 Obrigações da ACCC e do Ministério Público

A ACCC possui a obrigação legal de proteger qualquer informação

confidencial fornecida pelo detentor da senha, aí incluída sua identidade.

Quando estiverem envolvidos outros países, a ACCC determinará ao

detentor da senha (e a qualquer outro integrante do cartel disposto a colaborar) que providencie a

quebra de confidencialidade relativa aos fatos apurados em cada jurisdição na qual o interessado

pediu ou pretenda pedir imunidade ou leniência para a prática de cartel. Embora a concessão de

imunidade condicional não dependa de ser obtida essa quebra de confidencialidade, o detentor da

senha será intimado a explicar os motivos pelos quais não forneceu as informações mantidas em

sigilo. Explicações insatisfatórias poderão ser consideradas como falta de disposição no sentido

de colaborar integralmente com as investigações em curso, uma vez que a ACCC avançaria em

suas investigações mesmo antes de a imunidade condicional ser concedida e a referida quebra de

sigilo facilitaria esse resultado.

A obrigação da ACCC no sentido de manter a confidencialidade de seu

relacionamento com o detentor da senha (e com qualquer outro integrante do cartel disposto a

cooperar) exclui a publicidade exigida em lei, de acordo com o “Estatuto da Informação” da

Austrália, nos termos da seção 155AAA da Lei de Competição e Consumo. A principal função da

seção 155AAA é proteger uma série de informações, inclusive as fornecidas pelo detentor da

senha, o que obriga a ACCC e seus agentes a preservarem o sigilo dessas informações. Somente

se permite a divulgação do respectivo conteúdo em circunstâncias restritas, inclusive quando for

utilizado para procedimentos judiciais ou para instruir uma denúncia. As seções 157B e 157C

Page 17: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

17

asseguram uma proteção adicional para as informações fornecidas com base em requerimentos de

imunidade, porque se exige autorização judicial para que sejam exibidas pela ACCC e por

limitarem a obrigação da ACCC, quanto à divulgação de informações, nos termos da respectiva

autorização, a provas que não provenham do interessado, que tenham sido pré-constituídas ou

que se encontrem em situações similares a essas.

8.3 Uso das informações nas diversas etapas do processo decorrente do requerimento

de imunidade

As provas são geralmente fornecidas com a prévia liberação de seu uso

pela ACCC por parte do procurador do interessado. Assim, a ACCC pode utilizar informações

obtidas com base em um pedido de imunidade tanto para agilizar a análise de sua procedência

quanto para iniciar investigações contra outros integrantes do cartel.

As informações fornecidas à ACCC após a concessão de imunidade

condicional por quem for contemplado pelo pedido podem ser utilizadas em processos cíveis

e/ou processos criminais contra qualquer pessoa sem imunidade condicional, e podem ser

compartilhadas com o Ministério Público. São utilizadas dessa forma com base no fato de que a

ACCC e o Ministério Público não poderão empregá-las como prova contra os abrangidos pelo

pedido de imunidade.

No entanto, a ACC poderá ser autorizada a usar qualquer dessas

informações, inclusive as abrangidas pelo requerimento de imunidade, em procedimentos cíveis

e/ou criminais relacionados a transgressões da Lei de Concorrência e Consumo, se a imunidade

condicional for revogada. Essas informações também serão liberadas: no processo penal, como

defesa, por qualquer pessoa, para cumprir intimações que exijam documentos, informações ou

provas; se configurarem o fornecimento de informações ou documentos sabidamente falsos ou

enganosos; se estiverem obstruindo a justiça australiana.

9. A experiência australiana com o sistema de senhas e sua evolução

9.1 A necessidade de distinção entre o cartel alcançado pelas apurações e outros que

já estejam sendo investigados

Um requisito fundamental de um pedido de senha reside em que ele

descreva adequadamente a conduta revelada, de forma que identifique claramente o cartel em

causa e, efetivamente, permita distingui-lo de todos os outros. O requerimento é muitas vezes

levado a termo sem que haja notícia acerca de carteis semelhantes ou relacionados, e, obviamente,

sem o benefício de descrições de carteis que acompanham pedidos de senha subsequentes. Assim,

ao se receber qualquer requerimento de senha, a dificuldade inicial reside em determinar se a

primazia decorrente da obtenção da senha ainda se encontra disponível, uma vez que para cada

cartel somente uma senha será concedida.

Page 18: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

18

Essa circunstância gera inevitáveis desafios de ordem prática. No

momento em que a senha é requerida, as investigações promovidas pelo requerente normalmente

se encontram em fase incipiente e há uma compreensível pressa, em razão desse fato, no sentido

de apresentar o requerimento. Disso normalmente resulta que os limites precisos da prática de

cartel não estejam totalmente explorados e não se encontram claramente delineados pelo

requerente. Quando está examinando o primeiro de uma série de requerimentos de senha

apresentados, a ACCC não se beneficia do acesso aos detalhes e às perspectivas de aspectos que

denotariam a caracterização da prática de cartel revelada pelo requerente. Nesse contexto, há a

tendência de que os interessados, por uma questão de cautela, apresentem uma descrição do cartel

menos detalhada do que a que seria apropriada, e frequentemente se torna necessário exigir do

requerente que seja mais específico. Entretanto, o equilíbrio deve ser buscado no sentido de que o

alcance da senha não seja excessivamente individualizado, porque o principal propósito reside em

identificar de forma precisa o cartel abrangido.

São dois os riscos mais comuns quanto ao alcance da senha.

O primeiro consiste em se deixar de identificar um cartel por se

perceberem carteis diferentes entre si como sendo partes do mesmo cartel. Isso pode levar a uma

abrangência excessiva da senha concedida. Um exemplo de uma senha de alcance excessivamente

amplo reside na fixação de preços em uma forma particular de serviços de transporte

internacional de mercadorias dentro de um determinado intervalo de datas. Para limitar o

universo contemplado, pode ser necessário particularizar o serviço abrangido, especificando-se o

meio de transporte (terrestre, aéreo ou misto), o setor de mercado (como o tipo de produto), as

rotas cobertas ou outra descrição geográfica, sempre com o intuito de alcançar o grau de precisão

necessário para que se obtenha um nível minimamente confiável de abrangência da senha.

Também pode ser conveniente exigir do interessado que identifique o cartel por meio de

referências a elementos capazes de demonstrar a prática coibida, tais como reuniões em

determinados lugares entre entidades específicas ou que tenham ocorrido em certas datas. A

definição do alcance da senha consiste em um exercício exploratório baseado em um nível

apropriado de detalhes apto a distinguir carteis separados e autônomos entre si.

O segundo risco na etapa de fornecimento de senha consiste na situação

inversa, isto é, quando as senhas erroneamente são concedidas para integrantes de um mesmo

cartel como se se tratasse de duas condutas distintas. Isso pode resultar na falta de clareza da

definição da senha ou no excesso de senhas para a mesma finalidade. Por exemplo, o primeiro

interessado acerca de uma conduta de fixação de preços pode identificar o comportamento que

revelaria o cartel por meio de referências a um dado conjunto de características distintivas, tais

como o produto em causa, valores de taxa e duração dos preços fixados de forma combinada. O

mesmo comportamento pode ser mais tarde identificado em outra senha por uma combinação

diferente de atributos, que se concentram em um mercado geográfico ou nos clientes afetados.

Page 19: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

19

Uma reclamação comumente feita por interessados retardatários é que

seus requerimentos de senha possuem especificidades, por se basearem em um conjunto

particular de fatos ou evidências, distintos dos apresentados por quem conseguiu obter a

primazia. Outros fatos ou evidências diferentes não necessariamente significam que um novo

cartel esteja submetido a investigação. Isso normalmente leva à concessão de múltiplas senhas

para a mesma finalidade.

Se essas circunstâncias forem reveladas apenas após a concessão da

senha, tais resultados são claramente indesejáveis.

Estes riscos são maiores quando as senhas incidem sobre indústrias

propensas a conluios, em que vários carteis podem estar operando simultaneamente com

características semelhantes. As distinções assinaladas podem ser mais difíceis de discernir quando

as mesmas características são comuns entre carteis sem relação entre si.

A realidade é que algumas questões envolvendo a prática de cartel

próxima e relacionada a outras práticas semelhantes podem dificultar a diferenciação conceitual.

No caso de sobreposição, a ACCC em determinadas ocasiões identifica a área já abrangida por

outra senha, indicando que não está disponível quanto a ela, o que permite que o interessado

postule a primazia para o restante da conduta abrangida.

Esses aspectos são resolvidos caso a caso, com grande cautela e precisão,

durante a fase de concessão de senhas. A ACCC precisa estar convencida de que nenhuma senha

anterior foi concedida para qualquer aspecto da conduta descrita no pedido submetido à sua

apreciação. Se houver alguma dúvida na delimitação da senha, o pedido será indeferido. Também

é possível, em alguns casos de incerteza, a ACCC informar que a senha não se encontra

disponível, mas se comprometer a contatar o interessado se mais tarde se tornar evidente que a

senha requerida estava, de fato, disponível.

9.2 Diferentes primazias em diferentes jurisdições

Há sempre o risco de diferentes requerimentos de senha serem

solicitados em jurisdições distintas em relação ao mesmo cartel.

Em questões de alcance internacional, a cooperação entre os distintos

órgãos reguladores é facilitada por autorizações concedidas pelo próprio interessado, em situações

nas quais a senha houver sido concedida em distintas instâncias para uma mesma pessoa. Essa

atitude tende a resultar na uniformização do alcance da senha. A investigação fica facilitada

quando um integrante do cartel disposto a colaborar autoriza outro órgão regulador a agir na

jurisdição do homólogo onde a primazia foi concedida. Especialmente em questões que envolvam

aspectos criminais, o colaborador deve ser advertido previamente ao se reportar a um órgão

regulador perante o qual não existe a perspectiva de imunidade.

Page 20: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

20

ÁUSTRIA

Em janeiro de 2006, foi introduzido na Lei de Competição Austríaca

(Austrian Competition Act) um programa de leniência. Conforme previsto na referida lei (§ 11/5), ao

mesmo tempo um regulamento foi publicado, instituindo a Autoridade Austríaca de Competição

(Austrian Competition Authority, em alemão Bundeswettbewersbbehörde, BWB) para implementar o

programa de leniência. O uso de senhas foi formalmente incluído no regulamento na segunda

revisão promovida em seu âmbito desde 2006, ocorrida em 2013.

Esta exposição inicialmente fornecerá um breve sumário do programa de

leniência e depois descreverá o uso de senhas, assim como a experiência austríaca com esse

sistema.

1. Programa de leniência

O programa de leniência foi introduzido em 2006. Foi ajustado em 2013

de acordo com as regras do programa de leniência ditadas pela Rede Europeia de Competição

(European Competition Network, ECN) em seu “programa modelo de leniência” (Modell Leniency

Program). A seguir se descrevem suas principais características.

A BWB pode abster-se de aplicar uma sanção administrativa se as

seguintes condições – especificadas no § 11 (3) da Lei de Concorrência – forem reunidas:

- a companhia interromper sua participação no cartel;

- a companhia for a primeira a prover a BWB de informações que a

autorizem a apresentar denúncia junto ao juízo especializado em cartéis3 (o chamado “tipo 1a”),

ou, se a BWB já tiver informações suficientes para requerer um mandado de busca e apreensão, a

companhia for a primeira a fornecer evidências adicionais e informações que permitam aplicar

diretamente multas em um procedimento perante o juízo especializado4 (o chamado “tipo 1b”);

- a companhia cooperar com o BWB sem restrições;

- a companhia não ter forçado outras a participar do cartel.

Se a companhia não se qualificar para a imunidade por não ser a primeira

3 Hipótese prevista no § 11 (3) 1a da Lei de Competição. 4 Hipótese prevista no § 11 (3) 1b da Lei de Competição. A imunidade só é concedida uma vez em requerimentos baseados nos dois dispositivos e em determinados casos.

Page 21: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

21

que reúne as condições para tanto, ela ainda pode obter uma redução gradual no nível da multa,

da seguinte forma: a segunda companhia pode obter redução de 30 a 50%, a terceira redução de

20 a 30% e as demais até 20%. A companhia somente se habilita a obter redução de multas se as

informações fornecidas reforçarem as informações que já estiverem em poder da BWB.

Se forem reunidas as condições anteriormente mencionadas, a BWB

abstém-se da imposição de multa ou impõe multas reduzidas. A decisão de atribuir tratamento

leniente é comunicada pela BWB por intermédio da emissão de uma certidão especificamente

voltada a essa finalidade. Desse ponto em diante, o segundo agente oficial, o Promotor Federal de

Carteis (Federal Cartel Prosector), não poderá mais impor multas. A justiça especializada – que só

aplica multa após denúncia da BWB e/ou do Promotor Federal de Carteis –, não poderá impor

multas maiores do que a que essas autoridades requererem.

2. Uso de senhas

O uso de senhas é disciplinado no regulamento que explicita as regras

editadas pela BWB na implementação do programa de leniência. O primeiro regulamento sobre

leniência havia sido publicado com a entrada em vigor das regras sobre leniência em 2006 e foi

revisto em 2011 e em 2013.

2.1 Descrição do sistema de senhas

O sistema em vigor prevê, em princípio, dois casos nos quais uma senha

poderá ser concedida.

2.1.1 Casos exclusivamente com dimensão nacional

Em um caso com abrangência nacional, uma companhia pode requerer

leniência fazendo um pedido completo ou simplesmente demandando uma senha. O sistema de

senhas só fica disponível para quem primeiro requeira imunidade. Para pedir uma senha, a

empresa deve preencher um formulário descrito no regulamento. Esse formulário somente

contém campos para o nome, o endereço e algumas informações básicas sobre o cartel, tais como

o produto e a área geográfica abrangidos, a duração e a espécie de infração e junto a quais outras

autoridades destinadas ao controle do mercado competidor um requerimento de leniência foi

apresentado5. A BWB defere a senha quando o requerente fornece todas as informações

requeridas pelo formulário.

5 As informações necessárias encontram-se especificadas no parágrafo 33 do regulamento.

Page 22: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

22

Quando a BWB concede a senha, delimita-se um período não superior a

oito semanas durante o qual a senha será reservada ao interessado para que reúna as informações

exigidas pela Lei de Competição (§ 11 (3) 1a e b), listadas em detalhes no parágrafo 14 do manual.

Quando essas informações forem apresentadas, a BWB as avaliará e as classificará de acordo com

a norma adequada da Lei de Competição (§ 11 (3) 1a ou 1b), ou as enquadrará nos termos do § 11

(4), considerando que as informações fornecidas reforçam as já reunidas pela BWB. Comprovada

a presença das outras condições (conforme item 1 supra), a BWB notificará ao requerente que o

programa de leniência será aplicado ao seu caso.

Um dever que a companhia assume ao receber a senha consiste na

obrigação de manter a cooperação com o BWB confidencial perante outros integrantes do cartel e

perante terceiros.

Para assegurar transparência, a BWB divulga suas próprias denúncias ou

as formuladas pelo Promotor Federal de Carteis relativas a suspeitas de infringência das leis sobre

carteis austríacas e europeias, ainda que elas se baseiem em pedidos de leniência. A notícia a

respeito não deve conter segredos comerciais e normalmente não revela que se baseia em um

pedido de leniência. Entretanto, perante o juízo especializado em carteis – e mais claramente no

contato que estabelece com os outros integrantes do cartel –, a BWB especifica quem pediu

imunidade, porque não aplicará multas relacionadas a essa companhia. Além disso, a BWB tem a

possibilidade de requerer uma declaração de que quem pediu imunidade participou de uma

infração relacionada à prática de cartel. Isso é particularmente relevante no caso de a companhia

ser reincidente.

2.1.2 Casos envolvendo a União Europeia (requerimento sumário)

Nas situações em que estiverem presentes as condições necessárias para

que o caso concreto seja enfrentado nos termos do parágrafo 14 das instruções da Comissão

sobre a cooperação no âmbito da Comunidade Europeia de Nações, o interessado que tiver

apresentado, ou estiver em vias de apresentar, um pedido de leniência junto à Comissão Europeia,

poderá apresentar um requerimento sumário perante a BWB. O formato adotado corresponde ao

do chamado “programa modelo de leniência”. A senha será concedida com base na data e na hora

do requerimento sumário. Neste caso, a apresentação completa de todas as provas pertinentes

dentro de um determinado limite de tempo somente será exigida pela BWB se decidir agir sobre o

caso, hipótese que resultará em que o processo seja realocado da Comissão à BWB, ou de outro

modo explicitamente requerido pela BWB.

O sistema de senhas fica aberto a todos os pedidos de leniência: não

apenas o primeiro interessado, mas também os requerimentos posteriores podem assegurar um

lugar na fila de leniência da BWB, por meio de um procedimento simplificado. Essa sistemática é

particularmente relevante na medida em que a ordem dos requerimentos pode diferir entre a

Page 23: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

23

Comissão Europeia e as unidades administrativas competentes dos Estados que a integram.

Nos dois casos, no âmbito nacional e no europeu, a senha será garantida

para os que reúnem os requisitos anteriormente arrolados.

2.2 Revisões do regulamento e do sistema de senhas

As senhas existiam de fato desde a implementação do programa de

leniência em 2006, quando o único requisito para requerer imunidade consistia em preencher um

formulário que pedia um número limitado de informações.

Oficialmente, as senhas foram introduzidas na revisão do regulamento do

programa de leniência promovida em 20116, mas apenas nos casos com dimensão comunitária

(“requerimento sumário de senha”), em que o requerimento de senha também é apresentado

perante a Comissão Europeia (ver o item 2.1.2 acima).

Em 2013 o regulamento foi novamente revisto7 e foi introduzida a

possibilidade de se conceder uma senha em todo pedido de imunidade. Isto se tornou necessário

porque, como se viu, o nível de provas a apresentar pelo primeiro pedido de leniência foi ajustado

de acordo com o programa modelo de leniência da União Europeia (por meio de alterações à lei

da concorrência austríaca) e, assim, aumentou substancialmente. Enquanto o novo regulamento

prevê uma lista detalhada dos elementos de prova e de informações a prestar, em consonância

com o programa modelo de leniência da Comunidade Europeia, não havia nenhuma indicação

das provas a serem exigidas do requerente na versão anterior. Deste modo, as exigências para

concessão de imunidade foram ampliadas, criando-se a necessidade de um sistema oficial de

6 Em geral, as mudanças foram introduzidas no regulamento depois de cinco anos de experiência com a aplicação da versão original e à luz da evolução da lei e do processo no nível europeu (em alinhamento com o programa modelo de leniência da Comunidade Europeia). A revisão no manual pretendeu assegurar melhor direcionamento às denúncias e incrementar a transparência dos procedimentos com vistas a reforçar a segurança jurídica para as companhias. A lógica das alterações contempla os seguintes aspectos: mais explicações sobre o conteúdo exato do dever de cooperar; critérios utilizados pela BWB ao determinar a multa a partir da variação dentro de intervalos previamente estabelecidos em caso de redução de multas por força de pedidos de leniência (sem levar em conta fatores agravantes adicionais anteriormente desconhecidos pela BWB e divulgados pelo interessado); detalhamento de procedimentos. 7 A revisão do regulamento foi novamente necessária, por força das últimas alterações efetuadas na Lei de Concorrência (introdução de novos níveis de prova, tanto no tipo 1a quanto no tipo 1b), a jurisprudência do juízo especializado de primeira e segunda instância e a busca de maior alinhamento com o programa modelo de leniência da Comunidade Europeia, incluindo a sua última revisão, publicada em novembro de 2012. Em razão dessas novas alterações, o regulamento passou a conter uma lista detalhada de evidências a serem providenciadas por quem primeiro requerer leniência (o chamado “tipo 1a”). Também se esclareceram detalhes sobre o requerimento de imunidade apresentado após as investigações da BWB (o chamado “tipo 1b”) baseado na introdução de um § 11 (3) 1 item b da Lei de Competição. As alterações também tornam mais claro que os requerimentos de imunidade ou de redução de multas não serão considerados se a BWB já apresentou uma denúncia destinada à imposição de multa perante o juízo especializado em carteis.

Page 24: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

24

concessão de senhas. Outras alterações incluem a possibilidade de se abordar de forma

confidencial a BWB para esclarecer se a imunidade ainda está disponível.

2.3 Publicação

O regulamento foi publicado no portal da BWB junto à rede mundial de

computadores e divulgado em artigos e conferências, especialmente em uma das chamadas

"conversações de concorrência", ou seja, um almoço em forma de debate organizado pela BWB,

que se realiza de dois em dois meses e aborda temas relevantes em matéria de concorrência. Antes

de rever o regulamento, a BWB consultou advogados para discutir os novos conceitos, a exemplo

do que diz respeito à introdução do sistema de senhas.

2.4 Finalidade do sistema de senhas

O sistema de senhas pretende tornar o programa de leniência o mais

atrativo possível, com o intuito de incrementar o número de pedidos de leniência apresentados

por interessados.

O novo formato deve aliviar a carga sobre as empresas, que podem

proteger o seu lugar na fila de pedidos de leniência desde a apresentação de seus pedidos, durante

a coleta de todas as informações necessárias.

Especialmente na hipótese de requerimentos sumários apresentados em

casos transcorridos perante a Comissão Europeia, o novo sistema deve aliviar o fardo associado a

vários requerimentos paralelos que incide sobre as empresas e sobre a BWB. Informações

completas só serão necessárias se o caso for retomado pela BWB ou de outra forma

explicitamente por ela exigidas.

2.5 A experiência austríaca com o sistema de senhas

Na prática, as senhas existem no sistema austríaco desde a introdução do

programa de leniência. O nível de provas exigido facilitava o teor dos requerimentos apresentado

pelas companhias.

Como o nível de evidências a serem apresentadas para que um

interessado se qualifique à obtenção de leniência se viu substancialmente incrementado em 2013,

a oferta de senhas para requerimentos de imunidade restou oficialmente introduzida. Desde 2013,

a senha é usada em cerca de um terço dos casos com abrangência nacional e em todos os casos

que envolvem a Europa, o que resulta em aproximadamente 60% do total de casos.

Dessa forma, considera-se que o sistema de senhas vem funcionando de

forma satisfatória. O regulamento contém instruções claras sobre as informações necessárias e as

medidas a serem tomadas, bem como acerca dos prazos estabelecidos. A divulgação do programa

Page 25: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

25

de leniência torna o processo transparente e previsível para a companhia interessada.

BRASIL

1. Observações preliminares

O programa de leniência é considerado atualmente um dos mais efetivos

instrumentos para prevenir e punir carteis. A assinatura de um acordo com um participante de

cartel ou incurso em alguma conduta coletiva anticompetitiva permite ao beneficiário da leniência

descrever a infração para a autoridade pública e cooperar com ela na investigação, em troca de

imunidade criminal ou administrativa e redução de multas. Como reconhecimento da efetividade

do programa de leniência, muitas jurisdições o adotam, com a finalidade de desvendar tais

condutas e incrementar o combate aos carteis.

Nesse contexto, o sistema de senhas desempenha um papel especial no

desenvolvimento de políticas destinadas ao combate de carteis. Em alguns casos, uma companhia

ou um indivíduo que pretendem denunciar um cartel podem ainda não ter reunido todos os

documentos e/ou evidências exigidos para um requerimento destinado à obtenção de tratamento

leniente. A principal função do sistema de senhas é habilitar o requerente a ocupar um lugar na

fila mesmo sem toda a documentação exigida para um acordo de leniência. A senha constitui

usualmente um compromisso assumido pela autoridade encarregada de zelar pela competitividade

no sentido de reconhecer que a empresa ou o indivíduo são os primeiros a oferecer cooperação

em uma possível investigação. O detentor da senha é municiado de um período de tempo durante

o qual evidências e documentos podem ser reunidos e fornecidos com o intuito de viabilizar a

versão consolidada do requerimento.

Para o setor privado, o sistema de senhas torna menos onerosa em

relação aos participantes do cartel a apresentação de confissões e habilita as empresas a fornecer

informações preliminares em um primeiro momento e depois uma documentação completa para

a celebração do acordo de leniência. Ao mesmo tempo, o sistema de senhas também torna o

cartel mais instável e tende a estimular uma disputa entre seus membros para ser o “primeiro na

porta de saída”, considerando que somente o primeiro pode se beneficiar de imunidade total.

Nesse sentido, o sistema de senhas desencoraja a estratégia corporativa de “esperar para ver” até

relatar malfeitos às autoridades, o que também é de interesse das autoridades da área para o

efetivo reforço de sua política de combate aos carteis.

A senha é provisória por natureza, tendo em vista que se vincula a um

período de tempo para que se aperfeiçoem as informações em que se fundamentou. Esse

intervalo deve ser relativamente curto com o intuito de estimular a empresa a realizar

investigações internamente e reunir as evidências assim que for possível, mas ao mesmo tempo

deve assegurar uma certa qualidade dos documentos a serem fornecidos. O intervalo de um mês é

Page 26: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

26

normalmente um período de tempo razoável, que pode eventualmente ser prorrogado, sem

prejuízo de o requerente continuar sendo considerado o primeiro da fila.

Nas próximas seções, uma visão abrangente do programa de leniência

brasileiro será fornecida, incluindo os requisitos para um pedido de senha, as condições e a

confidencialidade da senha, assim como o período de tempo concedido pela autoridade brasileira

de competição (CADE) para o requerente reunir documentos.

2. O programa de leniência no Brasil

O programa de leniência voltado à preservação da competitividade existe

no Brasil desde 2000. Adota a lógica do “vencedor ganha tudo” e serve como uma importante

ferramenta para descobrir e punir carteis, embora o programa não se restrinja à prática de cartel.

O escopo do programa também inclui fraudes em licitações e o crime de participação em

organização criminosa conectados a infrações da legislação antitruste.

Tanto companhias quanto indivíduos podem se beneficiar do programa

de leniência e o acordo de leniência pode levar à imunidade total, tanto em relação a processos

administrativos quanto criminais. Entretanto, o beneficiário não é protegido contra ações voltadas

a apurar responsabilidade civil interpostas por terceiros. A decisão da autoridade especializada no

sentido de conceder imunidade total ou apenas uma redução de penas dependerá principalmente

do ponto em que se encontrarem as investigações (se existirem).

De acordo com a lei brasileira de defesa da competição, para que seja

obtido o benefício decorrente do acordo de leniência, os seguintes requisitos devem ser

completamente satisfeitos: (i) o requerente deve ser o primeiro a tomar a iniciativa de notificar a

prática; (ii) o requerente deve cessar completamente seu envolvimento na infração; (iii) a equipe

da autoridade pública competente não pode ter evidências suficientes para garantir a condenação

do requerente; e (iv) o requerente deve reconhecer sua culpa na infração e colaborar

completamente com a investigação8.

Se o requerente não reunir as condições para obter imunidade integral

(tanto por não ser o primeiro a requerê-la quanto pelo estágio avançado das investigações

promovidas pela autoridade pública), ainda poderá obter amenização de penas, dependendo da

extensão de sua colaboração. Consequentemente, no Brasil há a possibilidade de requerentes

posteriores conseguirem tratamento leniente, embora essa modalidade não esteja formalmente

incluída no programa de leniência, mas inserida em um programa de ajuste de conduta9.

8 Esses requisitos se encontram no art. 86, § 1º, da lei brasileira sobre competição (Lei nº 12.529/2011). 9 Os principais dispositivos para os procedimentos relacionados ao ajuste de conduta estão previstos na lei brasileira de defesa da competição: “Art. 85. Nos procedimentos administrativos mencionados nos incisos I, II e III do art. 48 desta Lei, o Cade poderá tomar do representado compromisso de cessação da prática sob investigação ou dos seus efeitos lesivos, sempre que, em juízo de conveniência e oportunidade, devidamente fundamentado, entender que

Page 27: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

27

Quando o Tribunal do CADE profere decisão em um processo no qual

houve acordo de leniência, deve verificar se o requerente cumpriu os termos e condições do

acordo negociado. Se o cumprimento integral for confirmado, o benefício, que varia da

imunidade total à redução de penas, será concedido.

O programa tem sido notavelmente bem sucedido até agora. Há alguns

casos de alcance internacional que foram iniciados a partir de acordos de leniência celebrados no

Brasil, a exemplo dos carteis das mangueiras marinhas, dos compressores de refrigeração e das

cargas aéreas. Este último é particularmente interessante, uma vez que pode ser considerado o

primeiro caso de alcance internacional iniciado por um requerimento de leniência acatado pelo

CADE. Este cartel ocorreu entre 2003 e 2005 e as empresas de transporte aéreo de carga

acertavam preços e datas com o intuito de cobrar sobretaxas de combustível.

Além disso, em especial como resultado da nova regulamentação sobre

ajustes de conduta aprovada em 2013, numerosos casos iniciados por pedidos de leniência

conduziram a subsequentes ajustes de conduta requeridos por outros interessados que puderam

oferecer novas evidências para aprofundar a investigação. O programa brasileiro de leniência

também prevê um acordo adicional de leniência, que pode resultar em redução de penalidades.

3. O sistema de senhas no Brasil

O sistema de senhas brasileiro não decorre da lei de defesa da

competição. Ao invés disso, foi criado inicialmente na Portaria nº 4/2006 do Ministro da Justiça

brasileiro10

, poucos anos depois do primeiro acordo de leniência, concluído em 2003 em um caso

de cartel de segurança privada. Atualmente, o sistema de senhas encontra-se estabelecido e

regulado por normas internas do CADE. Encontra-se expressamente previsto que um requerente

em potencial de leniência, que não reuniu as informações e documentos exigidos para apresentar

um requerimento formal de leniência, pode solicitar à Superintendência Geral do CADE que seja

expedido um documento formal, na forma de certidão declaratória, na qual será certificada sua

primeira posição na linha de leniência relativa a uma determinada prática anticompetitiva11

.

atende aos interesses protegidos por lei. § 1º Do termo de compromisso deverão constar os seguintes elementos: I - a especificação das obrigações do representado no sentido de não praticar a conduta investigada ou seus efeitos lesivos, bem como obrigações que julgar cabíveis; II - a fixação do valor da multa para o caso de descumprimento, total ou parcial, das obrigações compromissadas; III - a fixação do valor da contribuição pecuniária ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos quando cabível. § 2º Tratando-se da investigação da prática de infração relacionada ou decorrente das condutas previstas nos incisos I e II do § 3º do art. 36 desta Lei, entre as obrigações a que se refere o inciso I do § 1º deste artigo figurará, necessariamente, a obrigação de recolher ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos um valor pecuniário que não poderá ser inferior ao mínimo previsto no art. 37 desta Lei. 10 Portaria nº 4 de 5 janeiro de 2006. Disponível em http://www.cade.gov.br/upload/2006portariaMJ04.pdf. 11 Regimento Interno do CADE (Resolução nº 1/2012, alterada pela Resolução nº 5/2013 e pela Resolução nº 7/2014): “Art. 199. O proponente que ainda não estiver de posse de todas as informações e documentos necessários para formalizar uma proposta de acordo de leniência poderá se apresentar à Superintendência-Geral e requerer, na forma oral ou escrita, uma declaração da Superintendência-Geral que ateste ter sido o proponente o primeiro a comparecer perante àquele órgão em relação a uma determinada infração a ser noticiada ou sob investigação.”

Page 28: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

28

Os requisitos para que seja expedida uma senha são muito menos rígidos

do que os previstos para o acordo de leniência: o requerente deve ser o primeiro, deve fornecer

sua identificação completa e apontar os outros participantes do cartel. Ao mesmo tempo, deve

descrever os produtos, os serviços e a área geográfica afetada pela prática anticompetitiva e, se

possível, sua duração. Se todos os requisitos forem atendidos, a senha será concedida e a

Superintendência Geral terá três dias para expedi-la. Simplificando, existem basicamente quatro

questões a serem respondidas para se pedir uma senha ao CADE: o que, quem, onde e quando. A

despeito disso, o CADE dispõe de total discricionariedade para celebrar ou não um acordo de

leniência ao cabo do processo de negociação do acordo de leniência.

Se o CADE já estiver negociando um acordo de leniência acerca da

mesma conduta quando uma senha for requerida por um terceiro, o requerimento será registrado

em uma lista de espera, como o segundo, o terceiro e daí por diante, com os quais o CADE

iniciará negociações se fracassar a que já se encontra em curso. Se o processo de negociação em

curso levar a um acordo de leniência ou se já houver um acordo de leniência celebrado sobre o

mercado especificamente investigado, a senha requerida será submetida à Superintendência Geral

como um pedido de ajuste de conduta e desencadeará o procedimento correspondente no âmbito

do programa de ajuste de conduta do CADE.

De acordo com o Regimento Interno do CADE, depois que a senha é

concedida, o requerente dispõe de até 30 dias para fornecer todos os documentos e informações

exigidos para um requerimento formal de leniência. A senha também pode ser renovada, a critério

do CADE, pelo mesmo período de tempo12

.

A confidencialidade da senha requerida é prevista nas normas do

programa de leniência. Em decorrência, de acordo com a lei brasileira de defesa da competição e

pelo Regimento Interno do CADE, a leniência e os requerimentos de senha devem ser tratados

confidencialmente e somente indivíduos expressamente autorizados pelo Superintendente Geral

podem ter acesso ao requerimento13

.

12 Essas normas podem ser encontradas no Regimento Interno do CADE, em particular: “Art. 199. (...) § 1º Para obter a declaração da Superintendência-Geral, o proponente deverá informar sua qualificação completa, os outros autores conhecidos da infração a ser noticiada, os produtos ou serviços afetados, a área geográfica afetada e, quando possível, a duração estimada da infração noticiada. § 2º Após fornecidas as informações referidas no §1º, a Superintendência-Geral emitirá a declaração no prazo máximo de 3 (três) dias. § 3º Na declaração, será indicado prazo, não superior a 30 (trinta) dias, para que o proponente apresente, se for o caso, proposta de acordo de leniência à Superintendência-Geral. § 4º A declaração poderá ser assinada pelo Superintendente-Geral, por seu Chefe de Gabinete ou por outro servidor expressamente designado para essa finalidade pelo Superintendente Geral, e ficará em posse da Superintendência-Geral ou do proponente, a critério do proponente. § 5º A critério do proponente, a declaração formalizada por escrito poderá conter apenas a hora, data e produtos ou serviços afetados pela prática a ser noticiada.” 13 Lei 12.529/2011: “Art. 86 (...) § 9º Considera-se sigilosa a proposta de acordo de que trata este artigo, salvo no interesse das investigações e do processo administrativo.” No mesmo sentido, o Regimento Interno do CADE também contém dispositivos relacionados à confidencialidade: “Art. 200. A proposta de celebração de acordo de leniência pode ser feita oralmente ou por escrito. § 1º A proposta receberá tratamento sigiloso e acesso somente às pessoas autorizadas pelo Superintendente-Geral. § 2º Nos casos de proposta escrita, esta será autuada como sigilosa e nenhum de seus dados constará do sistema de gerenciamento de documentos do CADE.”

Page 29: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

29

Alguns números provam o sucesso do programa de leniência no Brasil,

incluindo seu sistema de senhas. A tabela inserida a seguir especifica o número de acordos de

leniência e adendos assinados no Brasil nos últimos 12 anos:

Acordos de Leniência no Brasil

Ano Assinaturas Adendos

2003 01 -

2004 01 -

2005 01 -

2006 04 -

2007 01 -

2008 02 -

2009 04 01

2010 08 02

2011 01 -

2012 10 01

2013 01 01

201414 03 02

O programa brasileiro de leniência tem se revelado muito efetivo ao

longo de sua existência. Entre 2003 e 2014, 47 acordos de leniência (incluindo novos acordos de

leniência e adendos) foram celebrados com o CADE e mais de uma dúzia se encontram em

negociação. Enquanto as “assinaturas” se referem ao número de acordos de leniência que foram

celebrados, os “adendos” se reportam a alterações nos acordos de leniência para ampliar o escopo

da prática sob investigação e/ou adicionar novos beneficiários, como, por exemplo indivíduos

que trabalham na companhia beneficiada pelo acordo.

4. Olhando adiante

O programa de leniência brasileiro tem se desenvolvido

significativamente ao longo de sua existência e a criação de um sistema de senhas é o maior

exemplo do importante aperfeiçoamento promovido em seu âmbito. Como há sempre espaço

para melhorar o sistema de senhas, o CADE tem investido em uma gestão eficaz do programa de

leniência, incluindo esse sistema.

Em termos de gestão estratégica de casos, o CADE tem buscado reduzir

o número de processos sem muita perspectiva e focar nos mais promissores, com perspectivas

maiores de se formar convicção. Por tal motivo, a agência vem rejeitando numerosos casos em

que se constatavam evidências frágeis e vem sendo mais seletiva na decisão de abrir novos casos.

Nesse contexto, a qualidade das evidências de uma infração se tornou um fator essencial na fase

anterior à investigação e as regras adotadas na análise de evidências fornecidas pelos que pedem

14 Até novembro de 2014.

Page 30: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

30

tratamento leniente estão bem mais severas (por exemplo, no que diz respeito aos efeitos da

infração no mercado brasileiro, em situações que envolvam outros países). O mesmo raciocínio se

aplica ao compromisso dos beneficiários em colaborar com as investigações. O sistema de senhas

desempenha um papel essencial nessa estratégia e tem propiciado o aperfeiçoamento das

evidências e mais cooperação com as companhias beneficiadas pela leniência, que são muito úteis

para sustentar condenações. Para ilustrar, o sistema brasileiro adota o critério do “vencedor leva

tudo” no programa de leniência, do que decorre a relevância, para as empresas, do fornecimento

de evidências robustas da infração, a fim de fortalecerem suas chances de assinar um acordo de

leniência.

O CADE também vem investindo em gestão do conhecimento. Nesse

sentido, atualmente trabalha em um manual interno para ajudar seus agentes com os

procedimentos de acordos de leniência em todas as fases, inclusive na redação dos respectivos

documentos. O objetivo é fornecer um guia didático à equipe do CADE tanto em questões

processuais como em termos materiais que possam surgir durante a negociação da leniência. Essa

iniciativa contribui para a padronização dos procedimentos de leniência no Brasil e fortalece a

retenção de expertise pela autoridade, no caso de mudanças e de rotatividade dos encarregados do

programa.

Por fim, o CADE também está desenvolvendo um painel de respostas às

perguntas mais frequentes feitas pelos interessados em leniência em seu portal junto à internet,

relativo ao programa de leniência e às suas regras, o qual tornará mais fácil o esclarecimento de

qualquer dúvida que possa surgir. A iniciativa se inspira em outras jurisdições, que também

desenvolveram um instrumento semelhante de forma bastante acessível, o que contribui para

assegurar segurança jurídica para as companhias que pretendam obter uma senha no programa de

leniência brasileiro.

BULGÁRIA

1. Legislação

A Comissão de Proteção da Competição - CPC adotou novas regras no

Programa de Leniência em 2011. Em virtude da Lei de Proteção da Competição (The Law on

Protection of Competition – LPC)15

, a CPC foi levada a adotar uma série de regras no que diz respeito

à leniência. Com base nessa circunstância, a CPC adotou o “Programa de Imunidade na Aplicação

ou Redução de Multas no Caso de Participação de Uma Empresa em Cartel” (Programa) e as

“Regras para Aplicação do Programa” (Regras). Assim, existe uma lei que delineia muito

brevemente os princípios básicos do programa de leniência e existem os atos da CPC, por meio

dos quais aqueles princípios são desenvolvidos em detalhes.

15 Art. 101, parágrafo 5, LPC.

Page 31: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

31

2. Etapas do procedimento e requisitos

As regras nacionais da Bulgária em matéria de leniência são

desenvolvidas em estreita similaridade com as regras da União Europeia em geral e em particular

com as normas do sistema de senhas. São comuns os princípios, os benefícios, os incentivos e os

requisitos aplicados pela Comissão Europeia.

2.1 Condições para obter senha

As regras nacionais sobre a concessão de senhas não impõem limites a

potenciais requerentes, seja no que diz respeito ao número de pedidos, seja em relação ao objetivo

do requerimento – são aceitos requerimentos para obtenção de imunidade, requerimentos para

redução de multas, requerimentos para reduções adicionais. Em geral, se estão reunidas as

condições para um requerimento formal, uma empresa pode, inicialmente e opcionalmente,

solicitar uma senha.

Nesse contexto, as regras nacionais a seguir especificadas serão aplicadas.

Um requerimento para concessão de imunidade ou para redução de multas que não tenha suporte

em todas as evidências exigidas pelo Programa é considerado pela CPC como um pedido de

senha16

. Caso a imunidade na aplicação de multas não possa ser garantida, um pedido de senha

para obtenção de imunidade será considerado como um pedido de senha para redução de

multas17

.

Em relação ao “requerimento sumário” previsto na legislação europeia,

pode-se razoavelmente reconhecer que as regras para obtenção de senha não são aplicáveis,

porque, embora a informação requerida seja idêntica, serve a propósitos diferentes. Assim, não

existe impedimento a que uma empresa solicite uma senha antes de apresentar o “requerimento

sumário” previsto na legislação europeia.

2.2 Etapas a cumprir antes de iniciar o processo

Uma solicitação de senha deve reunir as seguintes condições:

- nome, endereço e informações de registro da empresa que está

apresentando o requerimento;

- nome, endereço e informações de registro das demais empresas

participantes do cartel;

16 Regras, art. 20. 17 Regras, art. 21.

Page 32: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

32

- uma descrição detalhada do cartel, incluindo: os produtos ou serviços

afetados; o território abrangido; a natureza da conduta (tais como fixação de preços,

compartilhamento de mercados, estabelecimento de cotas de produção, troca de informações

mercadológicas sensíveis, etc.); os métodos de funcionamento do cartel (tais como reuniões

realizadas, com os respectivos locais e participantes, conversas telefônicas, correspondências,

conteúdo de informações reciprocamente repassadas, etc.); o período de operação do cartel;

- informações sobre requerimentos relacionados ao cartel já apresentados

ou por apresentar, pleiteando imunidade ou redução de multas, submetidos a qualquer outra

autoridade encarregada de controlar a competitividade de mercados (dentro ou fora da

Comunidade Europeia).

2.3 Concessão da senha pela CPC

A CPC se vincula, na apreciação dos requerimentos, ao Programa e às

Regras. Não pode adicionar critérios complementares positivos ou negativos para avaliar um

pedido de obtenção de senha. Isso só pode ser feito com a promoção das correspondentes

alterações no Programa ou nas Regras.

A CPC possui discricionariedade para considerar que um pedido

formalmente apresentado não encontra suporte em todas as evidências exigidas para o

deferimento de um pedido de obtenção de senha (conforme item 2.1 supra).

2.4 Propósitos e benefícios do sistema de senhas

A senha constitui um caminho alternativo e simplificado para iniciar a

participação de uma empresa no programa de leniência. Simplificado porque permite ao

requerente tempo adicional para produzir as evidências necessárias à apresentação de uma

denúncia formal, sem receio de perder sua primazia na fila dos que pleiteiam tratamento leniente.

Alternativo porque se destina a permitir que a empresa considere a vantagem de se aproveitar do

tempo concedido. A senha garante benefícios procedimentais muito claros, sem ambiguidade e

fundamentais para o requerente em sua posição na fila para obtenção de leniência.

2.5 Etapas para oferta condicional de leniência

O pedido de obtenção de senha não pode conter uma oferta condicional

em troca da leniência. Primeiro deve ser formalizado. Para essa finalidade, a CPC concede um

período de tempo para que o requerente apresente provas que deem suporte a suas intenções.

A CPC analisa os pedidos de acordo com a ordem em que são

apresentados. A CPC considerará que um requerimento reúne as condições para concessão de

imunidade ou redução de multas de acordo com as informações e evidências que lhe tenham sido

submetidas. Nessa etapa, a CPC também avalia o cumprimento do programa de leniência. Cada

Page 33: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

33

participante do programa possui as seguintes obrigações:

- cooperar com a CPC voluntariamente, honestamente e integramente;

- não destruir, falsificar ou ocultar evidências relacionadas ao cartel;

- não divulgar de nenhuma forma sua intenção de participar do programa

de leniência;

- seguir as instruções da CPC em relação à sua participação no cartel.

A concessão ou a recusa de imunidade condicional ou de redução

condicional de multas é decretada por decisão formal do Presidente da CPC, de cujo teor a parte

interessada é formalmente notificada.

4. Confidencialidade

A identidade de quem requer imunidade ou redução de multas, assim

como os fatos e as circunstâncias conexas a sua identificação como requerente são mantidas

confidenciais até que a CPC comunique a aplicação de restrições aos investigados18

.

Por exemplo, quando se pretende obter uma ordem judicial para

inspeção de instalações, o pedido de imunidade e as provas nele incluídas que contenham

qualquer identificação direta ou indireta do requerente são submetidos, se necessário, em folhas

apartadas, identificando-se que possuem material confidencial e legalmente protegido. O tribunal

é informado de que a identidade do requerente deve ser preservada por força da Lei de

Competição e Consumo19

.

5. Experiência prática e alterações

Ainda não há experiência a compartilhar.

A primeira previsão de leniência foi introduzida na legislação nacional

sobre competição em 2003 por uma alteração na Lei de Competição e Consumo até então

vigente. O primeiro programa de leniência tal como hoje o conhecemos foi estabelecido em 2009

e provém da nova Lei de Competição e Consumo editada em 2008. O atual programa de

leniência, em vigor desde 2011, é o segundo a seguir essa lógica. Seu propósito é tornar o

programa mais transparente e atrativo a partir da introdução de novas regras e práticas.

18 Art. 9º do Programa. 19 Artigo 38, parágrafo 3, da Lei de Competição e Consumo.

Page 34: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

34

6. Divulgação do programa

A adoção do programa de leniência instituído em 2011 coincidiu com o

vigésimo aniversário da CPC e da legislação sobre competição na Bulgária. Houve diversos

eventos para celebrar a efeméride, que foram usados para promover o Programa.

O mais atraente e proativo método para promover o Programa foi uma

“apresentação” na forma de um espetáculo ao vivo feito por operadores da CPC e advogados por

ela contratados. Esse evento foi apresentado em um workshop que foi filmado e depois publicado

no portal eletrônico da CPC. O evento foi muito elogiado pelos presentes20

.

CANADÁ

1. Introdução

A Agência Canadense de Concorrência (a “Agência”) se encarregou da

elaboração do presente memorial sobre o “recurso a senhas nos programas de leniência” e o

submeteu ao Comitê da Concorrência da OCDE, por ocasião da Mesa Redonda de dezembro de

2014. Dirigida pelo comissário da concorrência (o “comissário”), a Agência constitui um órgão

independente encarregado de garantir e controlar a aplicação da “Lei sobre a concorrência” (a

“Lei”)21

e quaisquer outras leis relativas à questão. No desempenho dessa função, a agência se

empenha para que as empresas e os consumidores canadenses prosperem dentro de um mercado

competitivo e inovador.

A Lei é um instrumento federal que rege boa parte das condutas relativas

a negócios no Canadá. Seus dispositivos criminais e cíveis visam prevenir praticas

anticompetitivas no mercado e, notadamente em matéria criminal, a repressão a carteis. Esses

dispositivos sobre os carteis reprimem acordos ou arranjos entre concorrentes para fixar preços,

reduzir a produção ou impor aos mercados que integrem restrições puras e simples à

concorrência (restrições que não sejam apoiadas em uma colaboração legítima, uma aliança

estratégica ou uma joint venture). Eles também proíbem, entre outras diretivas estrangeiras, a

manipulação de ofertas e certas conspirações relacionadas ao desporto profissional e a instituições

financeiras federais22

.

Os carteis privam os canadenses das vantagens da concorrência, como a

liberdade de preços e uma grande oferta de produtos, e representam uma das formas mais

extremas de comportamento anticompetitivo. A repressão a carteis nacionais e internacionais

constitui, portanto, a grande prioridade da Agência em matéria de aplicação da Lei.

20 http://www.cpc.bg/Competence/Leniency.aspx . 21 Lei, capítulo C-34. 22 Idem, arts. 45 a 49.

Page 35: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

35

O programa de imunidade e o programa de leniência da Agência são as

ferramentas mais eficazes para identificar ações anticompetitivas criminosas proibidas pela Lei e

investigá-las nos seus termos. No âmbito do programa de imunidade, o primeiro integrante do

cartel a denunciar uma infração que a Agência ainda não detectou ou a fornecer provas que

embasem acusações pode obter imunidade contra denúncias apresentadas perante o Serviço de

Persecuções Penais do Canadá (o “SPPC”)23

, desde que aceite colaborar com a agência24

. O

programa de leniência da Agência completa seu programa de imunidade para promover a

aplicação eficaz e eficiente da Lei. Nos termos do programa de leniência, a Agência pode

recomendar ao SPPC que as pessoas que violaram as disposições da lei relativas aos carteis que se

mostrarem cooperativas e que não se habilitem à imunidade podem ser beneficiadas por um

tratamento leniente no momento de determinação da pena25

.

O presente memorial trata do sistema de gestão das senhas concedidas

pela Agência, uma importante componente de seu programa de imunidade e de seu programa de

leniência. A exposição descreve a estrutura e a utilidade do sistema de gestão de senhas, e aborda

as questões de confidencialidade e de renúncia à confidencialidade.

2. Programa de imunidade

Oficializado em 2000, o programa de imunidade constitui a ferramenta

mais poderosa da Agência para desvendar as atividades criminosas de cartel. Destina-se a revelar e

a interromper as atividades anticompetitivas proibidas pela lei, e a desencorajar outros

comportamentos similares. No Canadá, a imunidade pode ser concedida para organizações e para

particulares26

.

A Agência somente recomenda a imunidade ao SPPC se atendidos os

seguintes requisitos: a) a Agência não tem conhecimento da infração e o interessado é o primeiro

que a relata; b) a Agência não tem conhecimento de uma infração, e o interessado é o primeiro

que traz provas suficientes, capazes de justificar a apresentação do processo perante o SPPC. O

interessado deve também satisfazer as condições adicionais para obter a imunidade, que são

descritas no boletim da Agência denominado O programa de imunidade e a lei sobre concorrência27

.

23 O SPPC é o organismo federal responsável pela condução de processos penais em nome do Procurador-Geral do Canadá. O diretor de processos penais (“DPP”) encabeça o SPPC, que representa o DPP nas instâncias das cortes de jurisdição criminal do Canadá. 24 Para maiores informações sobre o programa de imunidade da Agência, deve-se consultar o seguinte endereço eletrônico: http://www.bureaulaconcurrence.gc.ca/cic/site/cb-bc.nsf/fra/h_02000.html. 25 Para maiores informações sobre o programa de leniência da Agência, deve-se consultar o seguinte endereço eletrônico: http://www.bureaulaconcurrence.gc.ca/cic/site/cb-bc.nsf/fra/02816.html. 26 Conforme definido no Código Penal, o termo “organização” pode designar um corporação constituída, uma pessoa jurídica, uma sociedade, uma companhia, uma sociedade de pessoas, uma empresa, um sindicato profissional ou um município. Pode também designar uma associação de pessoas que se forma com vistas a atender um interesse comum, é dotada de uma estrutura organizacional e se apresenta ao público como uma associação de pessoas. 27 Disponível em http://www.bureaudelaconcurrence.gc.ca/eic/site/cb-bc.nsf/03248.html.

Page 36: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

36

O programa de imunidade prevê que, se uma empresa for apta à

imunidade, todos os seus administradores, dirigentes e empregados atuais que admitirem sua

participação na atividade anticompetitiva ilegal inserida nas confissões da empresa e que

colaborarem plenamente, rapidamente e continuamente terão direito à mesma recomendação de

imunidade. Os administradores, dirigentes e empregados que não estejam mais na empresa e que

se dispuserem a colaborar com a investigação da Agência poderão adquirir direito à imunidade. A

Agência, no entanto, decide em relação a eles caso a caso.

A atração contínua que o programa de imunidade exerce sobre aqueles

que sem ele permaneceriam na sombra é essencial para o sucesso da aplicação da Lei pela

Agência.

3. Programa de leniência

O programa de leniência da Agência completa seu programa de

imunidade com o intuito de facilitar a aplicação eficaz e eficiente da Lei. Dentro do quadro do

programa de leniência, a Agência recomenda ao SPPC que reconheça a ajuda diligente e

pertinente efetivada pelos que pedirem leniência inseridos em investigações da Agência ou na

denúncia decorrente. Ainda que os interessados em leniência não sejam considerados aptos à

imunidade nos termos do programa de imunidade da Agência, suas confissões e sua colaboração

inicial no que diz respeito ao seu papel em um delito relacionado com os carteis pode justificar

fortemente a concessão de leniência no momento da sentença.

Os interessados em leniência possuem direito às seguintes reduções se

satisfizerem as exigências do programa de leniência, notadamente uma cooperação completa,

franca, rápida e sincera:

- o primeiro requerente pode obter uma redução de 50% da multa que a

Agência usualmente recomendaria ao SPPC;

- o segundo requerente pode obter uma redução de 30% da multa que a

Agência usualmente recomendaria ao SPC;

- os outros interessados em leniência também poderão obter uma

redução da multa que a Agência usualmente recomendaria ao SPPC. A graduação da redução para

os interessados que demandarem posteriormente é admissível e depende, de um lado, do

momento no qual se reportou à Agência o segundo requerente e, de outra parte, da diligência de

sua cooperação. Em princípio, os interessados em leniência tardios não terão direito a uma

redução mais ampla do que os requerentes que os precederam.

Em relação à redução de multas, se o primeiro requerente de leniência

for uma organização comercial, a Agência recomendará que nenhuma acusação separada seja feita

contra seus administradores, dirigentes e empregados atuais, desde que eles cooperem de forma

Page 37: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

37

completa, franca, rápida e sincera com a investigação da Agência. Os mandatários e

administradores anteriores, os dirigentes e os empregados implicados na infração também

poderão, via de regra, obter leniência, desde que se disponham a colaborar com a investigação da

Agência e com qualquer ação judicial decorrente. A Agência toma uma decisão caso a caso sobre

a situação dos mandatários e administradores anteriores, dirigentes e empregados, por exemplo,

de acordo com sua situação funcional atual (isto é, se eles se encontram atualmente empregados

em outra empresa que participe da ilicitude).

Se o primeiro interessado em leniência é um particular que age de

maneira independente (isto é, se ele desafia um empregado atual ou antigo), sua leniência será

concedida como se o requerimento fosse apresentado por um empregador. Em outros termos, se

o particular satisfizer as exigências de admissibilidade no programa de leniência e colaborar de

forma completa, franca, rápida e sincera, a Agência recomendará que nenhuma acusação criminal

seja dirigida contra ele.

Quanto ao segundo requerente e aos requerentes subsequentes, os

administradores, dirigentes, empregados e mandatários atuais e antigos podem ser objeto de

acusações, conforme o papel que desempenharam na infração. Ao fazer sua recomendação ao

SPPC, se estiver convencida de que um administrador, dirigente, empregado ou mandatário

deverá ser objeto de acusações, de multas e de pena restritiva de liberdade, a Agência estudará o

conjunto dos fatos e das circunstâncias de que dispõe quanto à participação de cada envolvido na

infração. Os administradores, dirigentes, empregados e mandatários que sejam acusados, mas

colaborem plenamente nos termos do programa de leniência, que desempenham papel à parte ou

integrem o requerimento de leniência apresentado por seus empregadores, poderão ser avaliados

pela Agência com o fim de verificar se satisfazem as condições necessárias para uma

recomendação de leniência.

4. Senha de imunidade

Uma “senha de imunidade” assegura ao interessado em imunidade que

ele se torne o primeiro infrator a solicitar uma recomendação de imunidade perante a Agência por

uma atividade anticompetitiva criminal ligada a um produto particular ou a um interesse

comercial. Um particular ou uma organização pode demandar uma senha por imunidade.

Contudo, o primeiro contato com a Agência passa geralmente pelo advogado do requerente.

Uma senha de imunidade garante ao requerente sua primazia, desde que

satisfaça a todas as outras exigências do programa de imunidade. Uma vez de posse da senha de

imunidade, o requerente dispõe de um prazo não superior a trinta dias para fornecer à Agência

uma declaração detalhada descrevendo a atividade ilegal, seus efeitos em relação ao Canadá e os

respectivos elementos de prova. Essa declaração é denominada “apresentação de informações”.

Um interessado em imunidade pode solicitar uma senha de imunidade

Page 38: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

38

para as atividades anticompetitivas passíveis de sanções em virtude das disposições criminais da

Lei. As infrações descritas nos arts. 45 a 49 da Lei, incluindo a de complô (arts. 45 e 46) e de

fraude em licitação (art. 47), são de responsabilidade da direção geral de ações criminais. A

direção geral de livre comércio28

se ocupa das infrações previstas nos arts. 52 a 55.1 da Lei, como

as informações falsas ou enganosas (art. 52) e o telemarketing enganoso (art. 52.1). Um

requerente pode, desta forma, solicitar uma senha de imunidade para essas infrações se sua

responsabilidade consistiu em ajudar ou encorajar a perpetração de alguma dessas infrações, em

violação ao art. 21 do Código Penal, ou em aconselhar a perpetração dessas infrações, violando o

art. 22 do Código Penal.

Conforme afirmado anteriormente, a Agência recomenda a imunidade

para o primeiro envolvido que lhe comunique uma infração ainda não descoberta ou lhe forneça

evidências que resultem na apresentação de provas à SPPC. Em consequência, somente uma

senha de imunidade é concedida por infração em que a responsabilidade decorra diretamente da

Lei ou da aplicação dos arts. 21 ou 22 do Código Penal.

5. Senha de leniência

Da mesma forma que na senha por imunidade, a “senha de leniência”

assegura ao requerente a data e a hora em que seu pedido para participar do programa de

leniência foi recebido. O instrumento determina a posição do requerente em relação aos outros

particulares ou organizações procurando se beneficiar do programa de leniência. A senha garante

a posição do requerente se ele satisfizer a todas as demais exigências do programa de leniência.

Como na senha de imunidade, um particular ou uma organização podem demandar uma senha de

leniência.

O interessado em leniência só pode demandar uma senha em relação a

infrações a lei relativas a carteis e para aquelas em que sua responsabilidade consiste em ajudar ou

encorajar a perpetração daquelas infrações, em violação ao art. 21 do Código Penal, ou a

aconselhar a perpetração dessas infrações, transgredindo o art. 22 do Código Penal.

O interessado que recebe uma senha de leniência dispõe de quatro dias

para confirmar sua intenção de participar do programa de leniência. Uma vez que sua participação

é confirmada, o requerente de leniência, como o requerente de imunidade, dispõe de um prazo

limitado para submeter à Agência a “apresentação de informações”.

6. Objetivo do sistema de senhas

Conforme afirmado, a Agência concede uma senha de imunidade para

uma conduta somente ao primeiro requerente de imunidade. Os interessados subsequentes

28 Convém ressaltar que a Agência promove atualmente um esforço de reorganização destinado a promover a fusão da direção geral de ações criminais com a direção geral de livre comércio.

Page 39: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

39

podem buscar a obtenção de uma senha de leniência no âmbito do programa de leniência da

Agência, mas não terão direito a uma recomendação de imunidade da Agência perante o SPPC, a

não ser que o primeiro requerente não confirme seu direito à imunidade.

A Agência acredita que a atual “regra do primeiro requerente” estimula

os envolvidos a requererem imunidade assim que for possível, motivados pelo receio de que

outros infratores revelem antes deles a atividade ilegal. Os interessados devem se manifestar assim

que descobrirem seu envolvimento na infração, de modo a garantir sua situação de “primeiro

requerente” de imunidade.

7. Obtenção de uma senha

Atualmente, as senhas de imunidade são concedidas tanto pelo

subcomissário principal da concorrência (o “SCP”) da direção geral de processos criminais29

quanto pelo subcomissário da concorrência (o “SC”) da direção geral de livre comércio30

,

enquanto as senhas de leniência somente são concedidas pela SCP da direção geral de processos

criminais31

. De qualquer forma, em função do esforço de reorganização anteriormente

mencionado, todas as senhas serão concedidas pelo SCP resultante da direção geral proveniente

da fusão das duas direções gerais atualmente existentes.

É recomendável que se façam os requerimentos de senha de imunidade e

de leniência por telefone. O requerente deve fornecer de forma clara todas as informações e se

entender com o SCP ou o SP sobre o fato de que uma senha de imunidade ou de leniência está

sendo solicitada, sobre a data e a hora do requerimento e sobre a descrição do produto ou do

interesse comercial abrangidos. O SPC ou o SC comunicam ao requerente, assim que for possível

e após a apresentação do requerimento, normalmente nos dias seguintes, se lhe será concedida a

senha de imunidade ou de leniência requerida e, em relação à de leniência, a posição do

requerente em relação a outros que busquem se beneficiar do programa de leniência.

A Agência estimula os particulares e as organizações a se manifestarem e

a requererem uma senha assim que eles se considerarem envolvidos em uma infração. Se o

requerente constatar mais tarde que não está envolvido na infração, deve avisar o SCP ou o SC e

retirar o pedido de senha. Na etapa em que se insere o pedido de senha, a Agência precisa de

informações suficientes para determinar a posição do requerente na fila do programa de

imunidade ou do programa de leniência. Para essa finalidade, ela compara a conduta e a descrição

do produto contidos nos requerimentos que já lhe tenham sido apresentados. Dessa forma, a

29 As senhas de imunidade para infrações ligadas a complôs e a fraude em licitações somente são concedidas pelo SCP da direção geral de processos criminais. 30 As senhas de imunidade para as infrações ligadas a propaganda falsa ou enganosa ou a telemarketing enganoso somente são deferidas pelo SC da direção geral de livre comércio. 31 O programa de leniência somente se aplica aos comportamentos visados pelos dispositivos criminais da Lei, portanto, aplica-se apenas sobre os carteis.

Page 40: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

40

Agência pode determinar se um outro envolvido já demandou uma senha de imunidade ou de

leniência para a mesma conduta ou o mesmo produto.

Por tal motivo, é imperativo que o requerente, ao descrever a infração,

forneça uma definição precisa do produto, notadamente de todos os subprodutos que poderão

estar cobertos pelo objetivo do requerimento de senha de imunidade ou de leniência, assim como

o período em que se verificou a conduta em questão. Em certos casos, a Agência pode pedir

informações mais detalhadas sobre a infração, a área geográfica ou os outros envolvidos, a fim de

determinar se a senha de imunidade ou de leniência encontra-se disponível.

Na etapa em que ocorre o pedido de senha, o requerente pode fornecer a

informação a título hipotético. Ele não é obrigado a se identificar para obter uma senha. Nesse

estágio, a informação é frequentemente transmitida pelo advogado do requerente. Não obstante,

quando a senha for concedida, o requerente deve se identificar, com o intuito de facilitar os

preparativos da Agência relativamente às informações do requerente que serão inseridas em sua

investigação.

8. Apresentação de informações

Depois de ter recebido uma senha de imunidade ou de leniência, o

interessado deve fornecer à Agência uma declaração denominada “apresentação de informações”.

O interessado descreverá em detalhes a atividade ilegal em relação à qual a imunidade ou a

leniência estão sendo requeridas, seu papel nessa atividade e seus efeitos sobre o Canadá. O

interessado deve igualmente inserir todas as provas e testemunhos que deem suporte a suas

declarações, nos termos do programa de imunidade ou do programa de leniência. A apresentação

de informações é normalmente fornecida “com as devidas reservas” pelo advogado do

requerente. Se se tratar de um pedido de leniência, todas as informações serão consideradas

protegidas por sigilo de negociação.

A exatidão da apresentação de informações é crucial. A Agência se baseia

nas informações fornecidas para avaliar o requerimento de imunidade ou de leniência, formular

suas recomendações ao SPPC no que diz respeito a imunidade ou a leniência e prosseguir suas

investigações acerca dos demais envolvidos na infração.

Na fase de apresentação de informações, a Agência não aceita um

simples resumo da conduta ou conjecturas sobre o papel do requerente. Ela precisa de detalhes

sobre esse papel e de informações em quantidade suficiente para viabilizar uma avaliação eficaz

sobre as provas que cada testemunho proposto pelo requerente pode trazer sobre a conduta em

questão. O requerente deve produzir seu relatório do modo mais completo e exato possível, com

toda sinceridade e dentro de um espírito de colaboração.

O requerente tem a obrigação de atualizar imediatamente sua

apresentação de informações assim que tiver conhecimento de informações novas ou que devam

Page 41: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

41

ser corrigidas. Essa atualização deve ser pronta e contínua, mesmo que a Agência não a tenha

exigido.

O requerente deve concluir e submeter sua apresentação de informações

assim que for possível após receber do SCP ou do SC sua senha de imunidade ou de leniência,

geralmente nos trinta dias subsequentes. O SCP ou o SC discutem os prazos com o requerente

durante a chamada telefônica em que for apresentado o pedido de senha de imunidade ou de

leniência. O momento da apresentação pode influenciar as outras etapas da investigação da

Agência em relação àquelas em que for essencial a realização prévia de diligências, como a

execução de um mandado de busca e apreensão ou a colaboração com outro país. Em certos

casos, a Agência pode exigir que o requerente produza sua apresentação de informações no início

do prazo de trinta dias.

A Agência considera que uma apresentação de informações está

completa quando receber informações suficientes para recomendar a imunidade ou a leniência

perante o SPPC. Por determinação da Agência, o requerente deve informar, sem renunciar a suas

prerrogativas jurídicas, os progressos de sua investigação interna, de modo que a Agência possa

determinar o momento em que as informações se tornaram suficientes. A Agência exige que o

requerente transmita quaisquer informações como últimas atualizações de que tenha

conhecimento, e que responda rapidamente aos seus questionamentos, se houver.

A Agência admite que a apresentação de informações seja feita por

escrito ou oralmente. Compreende a resistência dos requerentes no sentido de consignar por

escrito a apresentação de informações e outras comunicações. É por esse motivo que a Agência

concebe um “processo sem papel” e o coloca à disposição dos requerentes.

9. Recomendação de imunidade ou de leniência

Depois de avaliar a apresentação de informações completa do

interessado, a Agência submete as informações ao SPPC com o apoio de sua recomendação de

imunidade ou de leniência. Se a recomendação for no sentido de se conceder leniência,

configurará uma recomendação acerca da pena a ser aplicada. Essa recomendação será

devidamente levada em conta pelo SPPC, mas cabe ao SPPC, em última análise, decidir com total

independência se concluirá uma transação penal ou um acordo de imunidade com o requerente, e

se for um caso de leniência, recomendar a leniência ao Poder Judiciário.

De acordo com as circunstâncias, a Agência pode exigir outras

informações, a partir dos elementos de prova sobre a forma de documentos ou de depoimentos

colhidos das testemunhas arroladas pelo requerente, com o intuito de finalizar sua recomendação

de imunidade ou de leniência ou de levar a termo outras medidas no âmbito de sua investigação,

como a interposição de um mandado de inspeção. Todos os documentos entregues à Agência

nessa etapa são considerados como confidenciais ou protegidos por sigilo de negociação. A

Page 42: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

42

Agência não devolve documentos para o requerente.

10. Confidencialidade

A Agência exige dos interessados em imunidade e leniência que

preservem a confidencialidade de sua demanda. A confidencialidade assegura a integridade da

investigação da Agência, previne a destruição de provas e é levada a termo com o intuito de que

as pessoas visadas não sejam prematuramente informadas das medidas atinentes à investigação.

O requerente de imunidade ou de leniência deve se abster de divulgar seu

pedido de senha e o seu posterior acesso a imunidade ou a leniência ou todas as informações

correlacionadas a terceiros, salvo a seu advogado ou a organismos estrangeiros perante os quais

tenha apresentado requerimentos semelhantes de imunidade ou de leniência, a não ser que

obtenha o consentimento prévio da Agência. Conforme as circunstâncias, a Agência pode exigir

do interessado que obtenha também o consentimento do SPPC.

Não se excepciona a obtenção do consentimento se o requerimento se

tornar público32

ou se o requerente for obrigado por lei a divulgar a informação, seja no Canadá,

seja em outro país.

Se o requerente acredita que a divulgação de determinada informação é

prescrita pela lei, deve notificar a Agência o mais rapidamente possível após ter tido

conhecimento de tal exigência e consultá-la sobre como proteger a integridade de sua

investigação.

O requerente deve informar a Agência assim que for possível a

identidade de terceiros, além de seu advogado, para os quais seu requerimento de imunidade ou

de leniência tenha sido divulgado, notadamente os organismos estrangeiros perante os quais tenha

apresentado demandas semelhantes de imunidade ou de leniência.

Se o requerente ou um particular visado pelo requerimento de imunidade

ou de leniência divulgar o pedido que interpôs antes de obter o consentimento da Agência ou de

informá-la a respeito, correrá o risco de ser excluído do programa de imunidade ou do programa

de leniência e de ser objeto de acusações pela infração alcançada pelo respectivo pedido. A

decisão de excluir um requerente do programa de imunidade ou do programa de leniência é

tomada caso a caso, levando em conta todas as circunstâncias.

32 A título de exemplo, a identidade de um requerente pode se tornar pública se a Agência utilizar os elementos de prova fornecidos pelo interessado no pedido que ela submeter a um juízo canadense com o intuito de obter um mandado de busca e apreensão, uma ordem de exibição de documentos ou uma autorização judicial para amparar uma outra providência no âmbito da investigação. De toda forma, a Agência adota os cuidados necessários para se assegurar de que esse tipo de divulgação antecipada não ocorra, salvo se for necessária.

Page 43: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

43

No âmbito do programa de imunidade e do programa de leniência, a

Agência considera confidencial a identidade do requerente. São as seguintes as exceções a essa

regra:

- a lei exige a divulgação das informações;

- a divulgação é necessária para obter uma autorização judicial com vistas

a viabilizar medidas necessárias à investigação ou para manter sua validade;

- a divulgação tem por objeto obter a ajuda de um órgão público

canadense encarregado de aplicar a lei no exercício das atividades inerentes à investigação;

- o próprio interessado aceita a divulgação;

- o interessado tornou públicas as informações;

- a divulgação deve ser promovida para evitar a perpetração de uma

infração criminal grave.

A Agência assegura a confidencialidade das informações obtidas de um

interessado em imunidade ou em leniência, salvo nos casos excepcionais anteriormente

enumerados ou se a divulgação dessas informações também servir para assegurar e controlar a

aplicação da Lei. Via de regra, a identidade do requerente permanece confidencial até que as

acusações sejam lançadas contra os demais participantes na infração e que a divulgação da prova

do ministério público contra os acusados se torne necessária. Se se trata de um requerimento de

leniência, todas as informações fornecidas até a conclusão de uma transação penal são protegidas

pelo sigilo da negociação.

De toda forma, os interessados em imunidade ou em leniência devem ser

informados de que sua identidade poderá ser divulgada antes da interposição da acusação se a

Agência utilizar os elementos de prova fornecidos pelo interessado na demanda que submeter a

um juízo canadense com o intuito de obter um mandado de inspeção, uma ordem de exibição de

documentos ou uma autorização judicial para adoção de outra providência no âmbito da

investigação. Os recursos a mandados de inspeção e a ordens de exibição de documentos, entre

outros, podem ser da maior relevância para uma investigação. Com o fim de obter as autorizações

judiciais, a Agência deve indicar ao juízo que ela tem motivos razoáveis para acreditar que uma

infração foi ou será cometida. A Agência baseia suas razões nas informações fornecidas pelo

requerente de imunidade ou de leniência.

A Agência não permite que o interesse do requerente de imunidade ou de

leniência no sentido de manter a confidencialidade ponha em risco sua capacidade de fazer com

que se cumpra a Lei de forma eficaz. De toda forma, ela adota todas as medidas necessárias para

impedir esse tipo de divulgação antecipada, salvo em casos de necessidade. A Agência redige seus

pedidos de autorização judicial em decorrência das atividades de investigação, denominadas

Page 44: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

44

“denúncias”, de forma a garantir a proteção da identidade do requerente, a menos que considere

que esse procedimento não permitirá que sejam considerados suficientes os motivos necessários

para obter a autorização requerida.

Se a identidade do requerente de imunidade ou de leniência não puderem

permanecer confidenciais para que a Agência solicite tais autorizações, esta pedirá que a denúncia

ou suas partes mais relevantes permaneçam lacradas até que as acusações sejam aceitas. Se um

envolvido contestar esse procedimento perante o juízo com o intuito de ter acesso à denúncia, a

Agência recomendará ao SPPC que se oponha à divulgação da identidade do requerente e forneça

uma versão depurada da denúncia para preservar a confidencialidade da identidade do requerente,

salvo decisão em contrário do juízo. Se a divulgação se tornar inevitável, a Agência deve advertir o

requerente a respeito no menor prazo de tempo possível.

11. Renúncia à confidencialidade

A Agência não divulga a nenhum organismo estrangeiro a identidade do

requerente ou as informações que lhe foram repassadas pelo requerente, a menos que consiga seu

consentimento ou que incida obrigação legal (por exemplo, em virtude de uma ordem emitida por

um juízo canadense competente). Essa proteção da confidencialidade constitui uma vantagem

suplementar para os requerentes no âmbito do programa de imunidade e do programa de

leniência da Agência.

De toda forma, é importante ressaltar que, no contexto da cooperação

contínua do requerente, salvo motivos relevantes, a Agência procura obter uma renúncia que a

possibilite compartilhar as informações recebidas com países perante os quais o requerente

interpôs pedidos similares de imunidade ou de leniência. Tal renúncia deve ser obtida o quanto

antes e abrange tanto informações processuais quanto os elementos fornecidos pelo requerente.

12. Anulação da senha

12.1 investigações que a Agência não pretende promover

A Agência não apresenta recomendação oficial de imunidade ou de

leniência ao SPPC se não tiver a intenção de investigar mais a fundo o comportamento

anticompetitivo trazido ao seu conhecimento. Nesse caso, a Agência comunica ao requerente sua

posição na fila do programa de imunidade ou no programa de leniência, assegura que tal posição

será respeitada se a Agência decidir promover a investigação posteriormente e descreve o perfil

dos produtos e comportamentos que serão incluídos em uma recomendação de imunidade ou de

leniência apresentada ao SPPC se a investigação prosseguir. Essa providência é efetivada

oralmente, a menos que o requerente solicite uma certidão reduzida a termo.

Se a Agência decidir prosseguir a investigação sobre o suposto

comportamento anticompetitivo, avisará ao requerente e adotará as medidas voltadas a

Page 45: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

45

recomendar que a imunidade ou a leniência lhe sejam concedidas em relação à conduta

anteriormente descrita, desde que as organizações ou os particulares que serão visadas por essa

recomendação satisfaçam todas as condições do programa de imunidade ou do programa de

leniência.

12. Anulação do requerimento de senha

Se as informações fornecidas pelo requerente na etapa de apresentação

de informações não viabilizarem a conclusão de que ele cometeu uma infração, a Agência não fará

nenhuma recomendação de imunidade ou de leniência ao SPPC, e instará o requerente a retirar

seu pedido de senha. Se o requerente não retirar o pedido, o SCP ou o SC revogarão a senha

depois de um aviso prévio de pelo menos quatorze dias fornecidos ao requerente.

Se o requerente não transmitir a apresentação de informações nos trinta

dias seguintes à concessão da senha ou durante o período adicional concedido pelo SCP ou pelo

SC, a senha expira automaticamente. A senha também pode expirar automaticamente no final

desse período se a Agência avaliar que as informações contidas na apresentação de informações

são incompletas ou insuficientes, desde que não haja nenhuma prorrogação de prazo concedida

pelo SCP ou pelo SC.

Nesse caso, nem o SCP nem o SC são obrigados a avisar o requerente

sobre a expiração de sua senha. Incumbe ao requerente solicitar uma prorrogação perante o SCP

ou o SC. O SCP ou o SC podem igualmente revogar a senha se o requerente não satisfizer a todas

as outras exigências do programa de imunidade ou do programa de leniência. A decisão do SCP

ou do SC de revogar a senha somente ocorrerá depois de um exame rigoroso de todos os fatores

pertinentes e da concessão de um aviso prévio de quatorze dias ao requerente.

13. Conclusão

O sistema de gestão de senhas da Agência constitui um aspecto

importante de seu programa de imunidade e do seu programa de leniência. Esse sistema obriga as

empresas a confessarem suas condutas ilegais assim que tomarem conhecimento de sua

ocorrência. Essa abordagem desencoraja a atitude “esperar para ver” no que diz respeito à

divulgação dos atos repreensíveis e atenua a manipulação do sistema. O baixo nível de prova

requerido para se obter uma senha incentiva a divulgação precoce, o que permite que a Agência

viabilize desde o início sua investigação. A Agência estima que a previsibilidade e a transparência

das práticas e políticas associadas a seu programa de imunidade e a seu programa de leniência

funcionam de forma que os requerentes possam adotar suas decisões esclarecidos a propósito de

suas participações nesses programas.

Page 46: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

46

CHILE

1. A Lei de Competição Chilena e o Regulamento de 2009

A Lei nº 20.361, de 2009, alterou o Estatuto Chileno de Competição33

,

incorporando um novo art. 39 “bis”, que viabiliza a concessão do benefício de total ou parcial

imunidade em relação a multas para quem tenha infringido a norma que proíbe a prática de cartel

contida na letra a do art. 3 do Estatuto. Segundo o dispositivo, para que se obtenha o benefício de

imunidade ou de redução de multas, os seguintes requisitos precisam ser satisfeitos:

1) o requerente deve reconhecer que incidia na conduta proibida;

2) o requerente deve oferecer evidências minuciosas, verossímeis e

verificáveis de que efetivamente contribuirá para a investigação da ilicitude e para a identificação

de outros responsáveis;

3) o requerente deve assegurar que não divulgará a existência do pedido

até que a Procuradoria Chilena em Matéria Econômica (Fiscalia Nacional Económica – FNE) leve o

caso ao Tribunal de Competição ou dê por encerrada a questão;

4) o requerente deve encerrar seu envolvimento na conduta

imediatamente após a formalização do pedido pelo benefício;

5) o requerente deve declarar que não liderou o cometimento da ilicitude

ou não coagiu outros envolvidos.

A FNE, no pleno cumprimento da sua obrigação legal no sentido de

promover a aplicação do Estatuto Chileno de Competição, e tendo em vista sua própria

jurisdição, publicou, em outubro de 2009, o “Regulamento dos Benefícios de Imunidade e

Redução de Multas em Casos de Colusão Empresarial” (“Regulamento de 2009”), estabelecendo

os critérios e os procedimentos internos a serem empregados na aplicação das determinações do

art. 39 “bis” do referido Estatuto. Alterações nesse regulamento são constantemente submetidas a

consulta pública34

.

Esta exposição se baseia nas determinações provenientes do

Regulamento de 2009. Entretanto, qualquer alteração relevante posteriormente introduzida será

devidamente destacada.

33 Decreto com Força de Lei nº 1, de 2005, do Ministério da Economia, Desenvolvimento e Turismo, que promove a revisão, a coordenação e a sistematização do texto do Decreto-Lei nº 211, de 1973. 34 O texto do novo regulamento encontra-se disponibilizado para consulta pública no endereço www.fne.gob.cl.

Page 47: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

47

2. O sistema de senhas de acordo com o Regulamento da FNE

O Regulamento de 2009 introduz um sistema de senhas. De acordo com

o Regulamento, a senha reserva a quem pede por leniência um lugar na fila durante os

procedimentos relacionados à concessão de tratamento leniente. O sistema assegura ao

requerente uma reunião entre ele e os agentes da FNE encarregados do processo destinado à

concessão de leniência. Para obter uma senha, o requerente deve iniciar o processo destinado à

concessão de leniência preenchendo um requerimento eletrônico em um formulário disponível no

portal eletrônico da FNE. A revisão atualmente submetida a consulta pública sugere a

possibilidade de se iniciar o processo de leniência também por telefone.

De acordo com o Regulamento de 2009, a senha é concedida tão logo a

identidade do requerente seja verificada e tenha sido constatado que existe uma senha disponível,

uma vez que não é possível concedê-la se a FNE já apresentou uma denúncia perante o Tribunal

de Competição. A FNE não dispõe de discricionariedade na concessão da senha. Entretanto, a

senha pode ser revogada se o interessado não completar seu requerimento durante o intervalo de

tempo concedido para essa finalidade.

As alterações do Regulamento atualmente em discussão levarão a FNE a

recusar a senha em determinadas circunstâncias, por exemplo, se o requerente não reconhece a

existência do comportamento ilícito em seu requerimento ou se não é possível levar a termo

procedimentos contrários à conduta alegada por força de limitações no respectivo regramento.

O primeiro requerente pode ser habilitado à obtenção de imunidade

integral em relação a multas. Os requerentes subsequentes podem obter apenas uma redução de

50% nas multas aplicadas. Portanto, ao menos para o primeiro requerente, a senha cria um

incentivo para cooperar com a agência durante o processo. Para os interessados subsequentes, o

sistema ajuda a informá-los acerca de sua posição relativa no processo quanto aos benefícios

disponíveis e faz com que mantenham a expectativa de que poderão optar pela imunidade integral

mais rapidamente durante o processo se o requerimento precedente não atingir esse objetivo.

A FNE tem tido uma boa experiência com o sistema de senhas e não

cogita promover alterações mais aprofundadas em seu âmbito. As modificações que a FNE está

atualmente considerando são mais relacionadas com o procedimento destinado à obtenção da

senha do que com alterações em sua substância.

3. Concessão do Benefício de Leniência e Redução de Multas

De acordo com o Regulamento de 2009 acerca de leniência, não existe

oferta condicional de leniência. Uma vez que o requerimento é apresentado, a FNE convocará

uma reunião com o requerente na qual a senha será fornecida. O Regulamento prevê reuniões

subsequentes e um prazo fatal para que sejam fornecidas as evidências minuciosas, verossímeis e

Page 48: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

48

verificáveis prevista no art. 39 “bis” do Estatuto Chileno de Competição. Quando o requerente

fornecer evidências que deem sustentação ao seu requerimento, a FNE terá trinta dias para

examinar se as evidências apresentadas cumprem os requisitos estabelecidos no art. 39 “bis”. Se a

FNE entender que as evidências contemplam tais requisitos, editará uma decisão motivada,

indicando que o requerente encontra-se habilitado a receber imunidade ou redução de multas, e

inserirá essa manifestação na denúncia apresentada perante o Tribunal de Competição.

De acordo com a lei, a FNE deve definir o interstício para apresentar a

denúncia perante o Tribunal de Competição durante o qual os advogados completarão os

requisitos para obter imunidade integral em relação a multas ou para obter redução de multas. De

acordo com o art. 39 do Estatuto Chileno de Competição, o interessado deve cumprir os

seguintes requisitos para garantir o benefício:

1) reconhecer sua participação na conduta ilícita;

2) apresentar evidências minuciosas, verossímeis e verificáveis que

efetivamente contribuam para a investigação da conduta e a identificação de outros envolvidos;

3) comprometer-se a não divulgar o requerimento até a FNE levar o

caso ao Tribunal de Competição ou dar por encerrada a questão;

4) encerrar seu envolvimento na conduta imediatamente após a

apresentação formal do requerimento;

5) não ter sido responsável pela formação do cartel e não ter coagido

outros participantes a integrá-lo.

A revisão do sistema de 2009 cogita substituir a decisão fundamentada

que a FNE atualmente emite afirmando que o requerente cumpriu os requisitos para obter a

imunidade total ou a redução de multa, trocando-a pela concessão condicional de benefícios

enquanto houver uma investigação aberta. Enquanto a investigação ainda se encontra em curso,

cabe recordar, antes de a ação ser apresentada perante o Tribunal de Competições ou de outra

forma se encerrar a questão, o requerente deve continuar cooperando com a FNE. Portanto, a

concessão do benefício em definitivo dependerá da ação apresentada pela FNE perante o

Tribunal de Competições. Em todo caso, de acordo com as alterações atualmente em discussão, a

Page 49: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

49

revogação do benefício condicional deverá ser fundamentada.

COREIA DO SUL

A Comissão Coreana de Livre comércio (KFTC no acrônimo em inglês)

sempre concedeu elevada prioridade à regulação de carteis, desde a aprovação da Lei do Livre

Comércio e da Repressão a Monopólios (MRFTA na sigla em língua inglesa).

A despeito dos rigorosos esforços da KFTC e do sucesso deles

decorrente, a KFTC buscou ferramentas para obter resultados mais efetivos. Como parte desse

esforço, um sistema de leniência foi introduzido em 1997, seguindo-se os exemplos dos Estados

Unidos e da União Europeia.

Depois disso, refletindo discussões em andamento na comunidade global

e a necessidade de alguns aperfeiçoamentos, uma ampla revisão do programa de leniência coreano

tem sido feita. Um dos aspectos consiste na introdução de um sistema de senhas no programa de

leniência.

O sistema de senhas no programa de leniência representa um

instrumento para que os requerentes reservem seu lugar na fila por um determinado período de

tempo enquanto conduzem investigações internas mais amplas e buscam finalizar seu

requerimento por leniência. O sistema de senhas encoraja uma disputa dos requerentes em

potencial no sentido de contatar a agência.

A seguir, são descritas as características do sistema de senhas da KFTC.

2. Introdução do Sistema de Senhas da KFTC

Na operação de seu sistema de leniência, a KFTC renovou o programa

seis vezes, baseada em tentativas e erros, e os dois principais aspectos das reformas são os que se

seguem.

Em primeiro lugar, a KFTC proveu o sistema de um meio de

incrementar sua previsibilidade e a transparência do processo, oferecendo benefícios aos que

requerem leniência e ampliando os benefícios para incentivar a competição por requerimentos de

leniência entre os integrantes do cartel.

Além disso, a partir da convicção de que deve haver uma convergência

internacional nas políticas de combate a carteis, a KFTC tem participado ativamente da

elaboração de normas internacionais comuns e vem aprimorando seu sistema interno de uma

forma que se harmoniza com aqueles parâmetros.

Nesse contexto, a reforma promovida no sistema em 2005 foi

Page 50: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

50

significativa. E o aspecto de maior relevo dessa reforma é explicitado a seguir.

Inicialmente, a KFTC eliminou sua discricionariedade em oferecer

benefícios de leniência e no estabelecimento de imunidade quanto a multas. Essa decisão foi

tomada depois de se considerar o fato de que os integrantes de carteis identificados no passado

evitavam requerimentos por leniência porque não tinham certeza se receberiam os benefícios

correspondentes.

Em segundo lugar, anteriormente havia uma norma obscura, que proibia

o oferecimento dos benefícios decorrentes da leniência em relação a companhias que lideravam

carteis, e a KFTC eliminou essa regra, o que fez com que o sistema pudesse ser operado com

mais transparência e previsibilidade.

Ao mesmo tempo, para o primeiro requerente, era concedida redução de

mais de 70% da multa quando se apresentava o requerimento antes do início da investigação e de

50% depois do início, mas agora há redução integral da multa mesmo depois do início da

investigação.

A KFTC também divulgou o “Regulamento Público da Implementação

do Programa de Leniência” (doravante identificado como “regulamento da leniência”) para

estabelecer os detalhes na operação do sistema de leniência, o que igualmente fez com que o

sistema operasse com mais transparência e efetividade.

Particularmente, cabe destacar a introdução dos “Casos Especiais de

Isenções do Requerimento de Leniência” no referido regulamento, que propiciaram a

simplificação dos requerimentos no âmbito do programa de leniência. Esse tópico do

regulamento constitui uma das formas em que se consubstancia o sistema de senhas

anteriormente mencionado.

Em 2006, foi introduzido o requerimento oral por leniência. A KFTC

aboliu as barreiras que inibiam requerentes em potencial ao permitir requerimentos por via oral,

porque a aceitação de requerimentos apenas por escrito poderia arrefecer o ânimo de possíveis

interessados, os quais poderiam temer o “sistema de descobertas” dos Estados Unidos, por

exemplo. Assim, requerimentos orais também podem ser apresentados no sistema de senhas.

3. Principais aspectos do sistema de senhas da KFTC

3.1 Relações entre o sistema de senhas e a leniência

Em princípio, uma pessoa que pretenda requerer a mitigação ou a

exclusão de medidas corretivas ou de penalidades pode apresentar um requerimento por leniência,

conforme descrito no regulamento de leniência, que enumera os seguintes requisitos:

1. o nome de quem está apresentando a confissão voluntária e de outros

Page 51: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

51

participantes, o nome de seu representante, seu número de registro comercial (ou o número de

registro residencial), informações para contato com a empresa, o nome, o departamento e as

informações para contato da pessoa que está apresentando o requerimento;

2. o resumo das atividades do cartel nas quais o signatário da confissão e

os demais por ele indicados participaram;

3. as evidências necessárias para fundamentar as atividades de cartel

reveladas e a lista de evidências materiais;

4. a declaração de que o requerente irá conscientemente cooperar com a

Comissão até que a decisão da agência sobre a atividade revelada estiver tomada;

5. que o requerente tenha encerrado sua participação nas atividades de

cartel por ele reveladas.

Basicamente, o sistema de senhas é um meio para se pedir leniência, por

força do fato de que o requerente pode apresentar um requerimento no qual algumas descrições

são omitidas, obtendo-se um tempo considerável para coletar evidências materiais, ou no caso de

existir qualquer situação excepcional que impeça o requerente de submeter evidências materiais

no próprio requerimento.

3.2 Principais objetivos e benefícios do sistema de senhas

O sistema de senhas foi introduzido para agilizar e dar efetividade em

casos de manipulação de mercados pela indução a requerimentos precoces tendo em vista a

obtenção de leniência. Nos casos em que leva algum tempo para os que requerem senha colherem

evidências do que relatam, eles poderão usufruir benefícios a partir de um requerimento imediato

no âmbito do sistema de senhas, tais como a imunidade contra multas e medidas corretivas e a

isenção de acusações criminais. Igualmente por meio do sistema de senhas, a KFTC pode detectar

carteis de modo mais ágil e iniciar suas investigações, e, se a investigação já houver começado, o

sistema de senhas ajudará a KFTC a tratar o caso com mais efetividade.

3.3 Processo e requisitos do sistema de senhas

As normas relativas ao sistema de senhas encontram-se estipuladas no

supramencionado “regulamento de leniência”, a norma operacional interna editada pela KFTC

com a autoridade que lhe foi fornecida pela também já mencionada “Lei do Mercado Livre e do

Combate a Monopólios”.

De acordo com as normas que regem a redução de multas, os que

participarem de um cartel e quiserem apresentar um requerimento no sistema de leniência podem

obter uma senha. Entretanto, se mesmo após apresentarem um requerimento no sistema de

senhas os requerentes não satisfizerem as condições para imunidade e redução de multas, não

Page 52: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

52

poderão ser contemplados com os benefícios do sistema.

Para ser reconhecido como detentor de uma senha, o interessado deve

apresentar um requerimento de leniência e, se não houver razão para indeferir, terá sua condição

reconhecida. Entretanto, nesse caso, as informações de que dispuser e o resumo das supostas

atividades de cartel deverão ser inseridos no requerimento, o qual deverá informar expressamente

o período que será necessário para consolidar as informações.

O período concedido para que se completem as informações não

excederá quinze dias. Vencido esse prazo, o agente encarregado poderá conceder um período não

superior a sessenta dias adicionais se o interessado apresentar um pedido municiado por motivo

razoável, a exemplo da alegação de que será necessário um período mais longo para coletar

evidências materiais. Não obstante, após a conclusão desse segundo período, o agente poderá

conceder nova prorrogação em até 60 dias para complementação do material, se julgar que é

excepcionalmente necessária a extensão do período concedido, para que se coletem evidências

materiais relevantes relacionadas a um caso internacional de cartel e para que se garantam

confissões e declarações a respeito desse cartel.

Quando demanda no âmbito do sistema de senhas, o requerente é

instado a apresentar um resumo do cartel, mas para que o requerimento passe a constituir um

pedido condicional de leniência, os requerentes deverão submeter aspectos detalhados do cartel,

tais como a sua duração, a data e o local das reuniões, os métodos de contato e como essas

reuniões são marcadas, o número de participantes e se o conteúdo acordado foi executado, bem

como outras evidências, a exemplo de declarações de empregadores e empregados.

Para que os interessados possam ser reconhecidos como requerentes de

leniência, devem pedir uma senha e, depois de completarem os documentos no período

combinado, em setenta e cinco dias o Secretário Geral confirmará a posição provisória do

requerente, ao passo que a confirmação da leniência será decidida em sessão plenária.

3.4 Proteção das informações do requerente

O dever de confidencialidade no âmbito do regulamento de leniência

também se aplica aos requerimentos apresentados no sistema de senhas. De acordo com o

regulamento de leniência, a agência encarregada das investigações ou outro órgão público

competente devem usar as informações pessoais do requerente e de outros envolvidos, ou as

informações ou evidências materiais fornecidos por ele, apenas para o propósito de investigar o

caso revelado, e não poderão divulgar a identidade do interessado e dos outros envolvidos para

qualquer outra pessoa que não seja servidora da Comissão incumbida de investigar o caso

revelado.

A Comissão deve usar um pseudônimo para identificar o interessado e os

demais envolvidos no exame do caso relatado e as partes identificadas nas evidências materiais

Page 53: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

53

que acompanham o relatório do caso (“declaração de objeção”) devem ser destruídas ou

sombreadas, e outras medidas necessárias devem ser adotadas para ocultar a identidade do

requerente e dos demais envolvidos.

Se se tornar compatível com as normas a confirmação da situação do

interessado e dos demais envolvidos, nos termos do regulamento de leniência, a Comissão pode

preparar o relatório e as evidências documentais separadamente para cada requerente no curso

das investigações, ou examinar as pessoas envolvidas separadamente, com o intuito de resguardar

a identidade do requerente e dos demais envolvidos.

A despeito dessa sistemática, a Comissão pode submeter documentos

que contenham informações pessoais do requerente e dos demais envolvidos a um juiz, quando

uma ação judicial for proposta junto ao juízo encarregado do caso.

4. A experiência concreta da KFTC no uso do sistema de senhas

72,6% dos carteis contra os quais foram impostas multas nos últimos

quatro anos foram descobertos por requerimentos de leniência. Assim, na Coreia do Sul o

programa de leniência se tornou uma ferramenta essencial para detectar a atividade de carteis.

Carteis desvendados pelo uso do sistema de leniência

(Unidade: casos)

Ano 2010 2011 2012 2013 Total

Carteis punidos com multas (A) 26 34 24 29 113

Carteis em relação aos quais se

aplicou o programa de leniência

18 32 13 23 86

Carteis punidos com multas após

o uso do programa de leniência

(B)

18 29 12 23 82

Casos averiguados com o uso do

sistema de leniência (% B/A)

69,2 85,2 50,0 79,3 72,6

O programa de leniência vem se consolidando como decorrência dos

aperfeiçoamentos drásticos feitos em 2005 e incrementou o valor das multas impostas aos

Page 54: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

54

infratores. Acima de tudo, o número de requerimentos de leniência, anteriormente congelado na

média de um caso anualmente, sem a política de aprimoramento levada a cabo em 2005, ampliou-

se em mais de dez vezes. Refletindo-se sobre a razão desse súbito incremento de requerimentos,

tudo indica que o sistema de senhas desempenhou um papel importante após ter sido

introduzido, por tornar mais atraente o requerimento de leniência.

5. Conclusão

A KFTC efetivou vários aprimoramentos nos procedimentos da

legislação relacionada a carteis. Isso é o resultado dos esforços da KFTC para introduzir e

consistentemente ampliar o programa de leniência na detecção de carteis. Com o intuito de não

reduzir os benefícios para os requerentes e manter a finalidade do programa de leniência, a KFTC

observará periodicamente as mudanças nas condições do mercado e no comportamento dos que

dele participam e aplicará as respectivas conclusões no aprimoramento de suas regras.

ESLOVÁQUIA

1. Introdução

A agência antimonopólio da República Eslovaca (AMO) considera os

carteis como a mais nociva prática anticompetitiva, da qual somente seus participantes se

beneficiam. É essa a razão pela qual a AMO considera a descoberta de carteis como sua principal

prioridade. Carteis são muito difíceis de identificar e também é extremamente complicada a

obtenção de informações e de evidências acerca de sua existência. A agência usa ativamente todas

as ferramentas fornecidas pela legislação em vigor para obter as evidências necessárias.

O programa de leniência é uma ferramenta muito importante nesse

processo. A Lei de Defesa da Competição (“Lei”) permite à agência abster-se de impor uma

multa ou reduzi-la em relação a um integrante de cartel que de outra forma seria punido em razão

de sua conduta ilegal. É possível não impor a multa somente a um infrator, isto é, a primeira

empresa que fornecer à agência evidências decisivas para provar o acordo do cartel ou que for a

primeira a fornecer, por sua própria iniciativa, informações e evidências que se revelem decisivas

para viabilizar inspeções com base em indícios suficientes para provar que o acordo do cartel

poderá ser trazido a lume. Na hipótese dos participantes do cartel fornecerem à agência

evidências significativas que não são suficientes para provar o acordo de cartel por si mesmas,

mas em conexão com informações já obtidas pela agência, a circunstância poderá permitir que a

agência prove a prática infracional e será possível a redução da pena em até 50% do montante que

de outra forma seria aplicado.

Antes de apresentar o requerimento por imunidade, a empresa deve

requerer reserva na fila (senha) ou submeter um requerimento hipotético nos termos do Decreto

Page 55: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

55

da Agência Antimonopólio da República Eslovaca (“Decreto”), que estabelece os detalhes do

programa de leniência. De acordo com o sistema legal eslovaco, o sistema de senhas é colocado à

disposição de requerentes por leniência que demandarem imunidade integral35

, mas não exige

todos os elementos necessários para obtenção de imunidade previstos em lei (por exemplo, a

comprovação da infração). Assim, antes de apresentar um requerimento para obter imunidade em

relação a multas a empresa deve requerer a reserva de seu lugar na fila de leniência por meio de

uma senha.

2. Estrutura legal

O arcabouço jurídico do sistema de senhas se situa na Lei, segundo a

qual os detalhes da submissão de requerimentos para reserva de lugar na fila de leniência e as

particularidades desses requerimentos devem ser determinadas pelos regulamentos gerais editados

pela agência. O sistema de senhas é, dessa forma, disciplinado pelo Decreto anteriormente

referido. Outro instrumento (“Programa de Leniência – normas sintéticas”) também estabelece

maiores detalhes, particularmente pela descrição do procedimento de submissão do pedido de

senha. A AMO prevê o programa de leniência, que abrange um sistema de senhas, desde 2009.

A última alteração na Lei, efetuada em julho de 2014, atendeu à

necessidade de mudanças legislativas em certos aspectos, seguindo alterações verificadas na

prática. A iniciativa contribuiu para aprimorar a eficiência das regras destinadas à defesa da

competitividade. A área dedicada ao esforço antitruste foi também objeto dessas alterações: as

normas do programa de leniência foram alteradas para incrementar a segurança jurídica para as

empresas. O programa de leniência tem sido revisado para reduzir as preocupações dos

requerentes em potencial de leniência e ampliar sua motivação para apresentarem um

requerimento de leniência, com a intenção de incrementar o número de carteis descobertos.

O sistema de senhas foi, em decorrência, inserido na Lei e

consequentemente no Decreto. Antes dessa alteração, o sistema de senhas era previsto,

basicamente, como um aspecto das normas resumidas sobre o programa de leniência editadas

pela agência. A inclusão do sistema de senhas e do programa de leniência na Lei não constitui

uma mudança substantiva na atuação da AMO, apenas confere estatura de lei ao seu sistema. A

prática da AMO no que diz respeito à leniência e o sistema de senhas são coerentes.

3. Principal propósito e benefícios do sistema de senhas

A principal finalidade de incluir um sistema de senhas na prática da AMO

consistiu em assegurar o mais cedo possível ao requerente de leniência uma proteção otimizada

nos termos da lei e em decorrência incrementar a atratividade do programa de leniência.

35 De acordo com a lei eslovaca de defesa da competição, podem requerer imunidade empresas que fazem parte de um acordo restringindo a competição e que operem no mesmo nível da cadeia de produção ou de distribuição.

Page 56: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

56

A vantagem da senha para o requerente se situa na possibilidade que lhe

é assegurada no sentido de obter uma reserva na fila por leniência em um momento no qual não

disponha de condições para apresentar todos os documentos e informações requeridos para que

apresente um requerimento por imunidade. A senha concedida a um interessado em tratamento

leniente por determinado período de tempo assegura sua posição na fila em confronto com

outros potenciais requerentes. O requerente que detém a senha é instado a submeter no prazo

limite estabelecido pela AMO um requerimento completo por imunidade. Se o requerente

cumprir essa obrigação, fará jus ao melhor lugar na fila e será o único ao qual será concedida

imunidade total. Assim, o requerente por imunidade que utilizar o sistema de senhas poderá obter

uma senha e também terá direito a um certo período de tempo para completar os documentos e

informações exigidos para obtenção de imunidade.

A AMO enxerga o sistema de senhas como uma ferramenta que a

habilita a incrementar a atratividade e a efetividade do programa de leniência e possibilita o

aumento do número de carteis identificados. A AMO poderá obter informações sobre possíveis

infrações da lei antes da apresentação de requerimentos de imunidade e portanto poderá estar

mais municiada acerca do funcionamento do mercado e se preparar para novas intervenções.

4. Sistema de senhas

O requisito básico para se iniciar o processo visando a concessão de uma

senha é o requerimento da empresa, que deve reunir os requisitos especificados no Decreto e

também deve contemplar a justificativa pela qual o empreendedor ainda não reuniu condições de

apresentar um requerimento completo.

Os requisitos mínimos para obter uma senha são enumerados no

Decreto, segundo o qual um pedido de senha deve conter:

1. a identificação do requerente;

2. a identificação dos participantes do acordo de restrição de competição

relatado;

3. a delimitação das mercadorias, nos termos do artigo 3, parágrafo 2, da

Lei, alcançadas pelo acordo de restrição de competição relatado;

4. a delimitação da área geográfica coberta pelo acordo de restrição de

competição relatado;

5. a estimativa da duração do acordo de restrição de competição relatado;

6. a descrição do funcionamento do acordo de restrição de competição

relatado;

7. o pedido explícito de reserva na fila de leniência, informações sobre

Page 57: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

57

requerimentos de leniência ou programa similar apresentados sobre o mesmo acordo de restrição

de competição relatado a outros estados membros da União Europeia ou à Comissão Europeia

ou que o interessado ainda pretenda apresentar;

8. a justificativa do requerimento pela reserva de um lugar na fila; e

9. a proposta de prazo para a validade do requerimento, a ser apreciada

pela agência.

O pedido de senha pode ser subscrito por uma empresa integrante do

acordo de restrição de competição ou em conjunto por mais de uma empresa nessa situação que

pertençam a um mesmo grupo econômico, conforme conceituado na Lei.

De acordo com o Decreto, a AMO deve reduzir a termo, sem demora

injustificada, a confirmação de que foi concedida a reserva do lugar ocupado pelo requerente na

fila por leniência. A confirmação da concessão de reserva na fila compreende a especificação do

lugar do requerente na fila, a data e a hora de entrega do requerimento e a data limite para que

seja submetido o requerimento de leniência estabelecida pela agência.

A AMO pode conceder a reserva na fila para mais de um requerente. No

caso de apresentação de requerimentos completos por leniência por mais de um requerente, a

AMO levará em conta a data e o horário do requerimento.

No requerimento voltado à reserva de um lugar na fila, o requerente deve

especificar todos os dados e informações ao qual tenha tido acesso no momento de sua

apresentação. O requerente também deve apresentar as razões pelas quais não dispõe de

condições para oferecer todos os documentos e informações necessárias para o requerimento

voltado à obtenção de imunidade. Tais razões podem residir, por exemplo, em que o requerente

necessite finalizar uma auditoria interna em que estão sendo colhidas evidências importantes ou

no fato de que o longo período da infração exige prazo mais dilatado para coleta e apresentação

de evidências.

O propósito das informações que o requerente é instado a apresentar é

mais limitado do que o do requerimento por imunidade. No caso do requerimento para reservar

um lugar na fila de leniência, não é necessária a apresentação de evidências da infração e essa é a

principal diferença na comparação com o requerimento voltado à obtenção de imunidade.

Conforme se afirmou, a agência deve, sem atraso injustificado, reduzir a

termo a concessão ou a não concessão de reserva na fila por leniência dirigida ao requerente,

atendendo as orientações anteriormente descritas. Se o interessado apresentar um requerimento

por imunidade respeitando a data limite estabelecida pela agência, nos termos previstos no

Decreto, o requerimento de imunidade será considerado como tendo sido entregue na data em

que foi concedida a reserva do lugar do requerente na fila por leniência. Se expirar o prazo

Page 58: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

58

estabelecido pela agência, o requerente perderá seu lugar na fila por leniência.

Com efeito, se a data limite for alcançada sem que se complete o

requerimento por leniência, o requerente perderá automaticamente sua posição. Não é possível

aperfeiçoar o pedido de senha mediante um requerimento hipotético.

A apresentação de um requerimento para obter reserva na fila por

leniência não é condição para apresentar um requerimento por imunidade. Se a empresa for capaz

de apresentar um requerimento completo por imunidade, é possível requerê-la diretamente, sem a

prévia obtenção de uma senha.

Desde o primeiro momento em que toma conhecimento do interesse do

requerente, a agência busca cooperar integralmente com o interessado e orientá-lo em caso de

dúvida. Atualmente se pode constatar a tendência óbvia de que o requerente seja substituído por

seu representante legal. Em alguns casos, por uma questão de confidencialidade, o requerente é

representado por um empregado autorizado da empresa. Comunicações formais e informações

relacionadas a exigências de conteúdo dos pedidos de leniência apresentados ocorrem entre o

funcionário autorizado do requerente e os funcionários da agência.

5. Divulgação do sistema de senhas

As empresas podem obter informações sobre a existência do sistema de

senhas por meio das publicações regulares disponibilizadas pela AMO para o público externo em

conferências ou no portal da AMO. A experiência prática com o sistema de senhas vem se

verificando desde 2009.

ESTADOS UNIDOS

1. Descrição do sistema de senhas e sua relação com o programa de leniência

A Divisão Antitruste do programa de leniência tem como propósito

incentivar confissões de condutas criminais relacionadas ao combate de carteis. Uma empresa que

receba tratamento leniente não responde criminalmente pela conduta relatada, desde que cumpra

todos os requisitos do programa.

Os conselhos corporativos frequentemente obtêm informações

indicando alguma probabilidade de que um cliente violou a legislação sem ter provas suficientes

para afirmar com certeza a efetiva incidência dessa transgressão. Para se qualificar no programa de

leniência, a corporação deve admitir e fornecer evidências de seu envolvimento em uma violação

da legislação criminal antitruste. O interessado em potencial que pretende prestar informações a

respeito, mas ainda não possui evidências completas da existência de crime, pode requerer uma

Page 59: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

59

senha.

Se a Divisão Antitruste fornecer essa senha, a companhia assegura a

oportunidade de ser a única que terá acesso à leniência. A senha garante essa posição da

companhia, como a primeira a solicitar acesso ao programa de leniência. Enquanto o requerente

detiver a senha, nenhuma outra companhia envolvida poderá requerer leniência – a Divisão

rejeitará todos os requerimentos subsequentes destinados à obtenção de senha. Dessa forma, o

detentor da senha terá tempo para promover investigações internas e determinar se é culpado em

uma violação atrelada à legislação criminal antitruste. Se chegar à conclusão de que não pode ser

responsabilizado, o interessado pode retirar seu requerimento e a senha se torna disponível para o

próximo a solicitá-la.

2. Propósitos e benefícios do sistema de senha

O sistema de senhas confere um incentivo relevante para o programa de

leniência – conduz a uma corrida dos participantes de carteis ao acesso à Divisão Antitruste com

o intuito de admitir condutas irregulares e fornecer evidências contra os outros participantes. Só

uma senha é disponibilizada e, se o seu detentor cumprir suas obrigações no sentido de revelar a

incidência de crime e de cooperar, a Divisão não o processará criminalmente. Assim, ao descobrir

indícios de atividade criminosa, a corporação é estimulada a relatar as suas conclusões

imediatamente, antes que outra aproveite a oportunidade extraordinária oferecida pela leniência.

Um dos participantes leva as evidências à Divisão, a qual se habilita a

abrir uma investigação sem consumir recursos significativos. Se o requerente deseja se aproveitar

dos benefícios extraordinários da leniência – inclusive o de não ser processado pela conduta

criminosa que leva ao conhecimento da Divisão –, deverá assegurar uma cooperação contínua e

completa. O requerente, nessa condição, fornecerá continuamente à Divisão documentos,

testemunhos e outras espécies de informação que permitirão o avanço das investigações efetuadas

pelo órgão. Os Procuradores da Divisão usarão as evidências oferecidas para apresentar processos

contra os outros participantes do cartel, que terão outros incentivos para cooperar e fornecer

evidências adicionais sobre a mesma irregularidade, ou em muitos casos sobre outras

irregularidades. O sistema de senhas, dessa forma, facilita a interposição de múltiplos processos

contra os acusados, tanto no que diz respeito aos indivíduos quanto em relação às corporações.

3. Fonte normativa e meios de divulgação do sistema de senhas

O sistema de senhas da Divisão Antitruste é um aspecto especifico do

seu programa de leniência. A Política de Leniência Corporativa é uma política oficial adotada pela

Divisão Antitruste e não se encontra inserida na legislação. Essa política não disciplina

diretamente a disponibilidade de uma senha. As senhas são descritas e explicitadas em uma

publicação intitulada “Questões Frequentemente Efetuadas sobre o Programa de Leniência da

Divisão Antitruste e sobre Modelos de Pedidos de Leniência” (conhecida pela sigla inglesa

Page 60: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

60

“FAQs”). Tanto a Política de Leniência Corporativa quantos as FAQs são disponibilizadas ao

público no endereço eletrônico http://www.justice.gov/atr/public/crimnal/leniency.html.

Adicionalmente, os Procuradores da Divisão periodicamente fazem apresentações, participam de

painéis de discussão e divulgam textos informativos sobre a elaboração da Política de Leniência

Corporativa e sobre como essa política funciona. Essas iniciativas frequentemente incluem

informações sobre senhas, sobre como os interessados em participar do programa podem obtê-

las e sobre as condições que os respectivos requerentes precisam cumprir. Muitos desses

informativos são inseridos no mesmo endereço junto à rede mundial de computadores em que se

encontram a Politica de Leniência Corporativa e as FAQs.

4. Condições para obtenção de senha e respectivas consequências

A senha é disponibilizada para interessados, pessoas físicas ou jurídicas,

que ofereçam indícios de violações à legislação criminal antitruste suficientes para justificar a

preservação da posição do requerente como o primeiro a solicitar uma senha e permitir-lhe que

promova investigações internas, com o intuito de reunir provas aptas a comprovar a existência de

crime e a assegurar seu ingresso no programa de leniência. Conforme consta nas FAQs, “a

Divisão concede somente a uma corporação leniência por cada cartel e, em seu pedido por

leniência, a companhia entra em uma corrida com os outros participantes e possivelmente com

seus próprios empregados, que também podem estar cogitando a apresentação de pedidos por

leniência”. A companhia que perde a disputa pela senha para uma outra participante do cartel

ainda pode pretender confessar sua conduta e cooperar com a Divisão. As vantagens para que

faça isso e o que a Divisão espera desse tipo de companhia (aceitando sua responsabilidade por

transgressões à legislação criminal antitruste e sua cooperação com vistas a uma solução

negociada) são assuntos que extrapolam o alcance do sistema de senhas.

5. Procedimentos para iniciar o processo de obtenção de senha e requisitos que

devem ser obedecidos pelos requerentes

Contatar a Divisão é o primeiro passo no sentido de obter uma senha.

Normalmente, o advogado de potenciais interessados contata um Procurador em um dos cinco

escritórios criminais da Divisão. Esse advogado pode se reportar a um Procurador com o qual já

teve algum contato prévio, ou ao Chefe do Escritório. A investigação decorrente não

necessariamente se iniciará no escritório que recebeu o pedido; será remetida ao escritório

criminal revestido de competência para o caso. Pedidos de senha são revistos pelo Subprocurador

Geral de Justiça de Execução Penal. Durante o contato inicial, o advogado pode relatar a

descoberta de alguma informação ou evidência indicando que seu cliente está envolvido em uma

violação da legislação criminal antitruste. O advogado pode fornecer uma descrição genérica da

conduta e identificar a indústria, o produto ou o serviço envolvidos com especificação capaz de

permitir que a Divisão verifique se há senha disponível, porque outro interessado já pode ter

requerido e recebido uma senha relacionada à mesma conduta. O advogado também pode

Page 61: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

61

identificar seu cliente, embora haja restrições para que adote essa providência.

Os requisitos específicos, quando se revela a indústria, o produto ou o

serviço, dependem do objetivo da Divisão na investigação em curso. Se não houver investigação,

a Divisão provavelmente poderá determinar com facilidade se já concedeu uma senha. Quando a

Divisão já estiver investigando o setor abrangido, ou com ele relacionado, o interessado deverá

fornecer informações mais específicas. Essa exigência de especificação fundamenta-se na política

da Divisão no sentido de conceder apenas uma senha para cada cartel. Tal limitação mantém o

incentivo para que as corporações envolvidas e os indivíduos transgressores procurem a Divisão

para fornecer evidências contra outros incursos na conduta com o intuito de que não venham a

ser processados.

6. Apreciação dos pedidos de senha

A concessão da senha é um ato discricionário. Geralmente, quando o

interessado reunir as condições anteriormente enumeradas, a Divisão concederá a senha. É

importante destacar que a Divisão detém o poder de retirar a senha ou de determinar a data em

que ela expira. A senha é concedida por um período delimitado de tempo, geralmente trinta dias,

mas a Divisão usualmente estende esse intervalo livremente por poucos meses se o interessado

estiver cooperando com a investigação e fazendo progressos no fornecimento à Divisão de

evidências de infração à legislação criminal antitruste. As senhas não vigoram, entretanto,

indefinidamente. Em um texto recente, o Procurador-Geral Adjunto Bill Baer fez as seguintes

afirmações sobre o programa de leniência:

A nossa política requer completa e contínua cooperação com a Divisão

ao longo das nossas investigações e nas denúncias decorrentes. Nossos procedimentos envolvem

um permanente e ágil investimento de tempo e recursos. Velocidade é crucial desde os estágios

iniciais de uma investigação. Na nossa experiência, a companhia que investe tempo e recursos

geralmente satisfaz as exigências iniciais para leniência condicional em poucos meses.

Esperamos pedidos de leniência para fazer esses investimentos, inclusive

conduzindo investigações internas completas, providenciando provas detalhadas da conduta,

obtendo documentos localizados em outros países, fazendo traduções e deixando testemunhas

disponíveis para interrogatórios. As companhias não desejam ou não são capazes de fazer os

investimentos necessários para atender a essas incumbências, e aquelas que imaginam que podem

fazê-las em um calendário de sua própria escolha vão perder a sua oportunidade de se qualificar

para a leniência36

.

O detentor da senha, seja uma companhia ou um indivíduo, deve

conseguir real e rápido progresso no esforço de levar evidências de sua conduta criminosa à

36 Prosecuting Antitrust Crimes – Bill Baer, Procurador-Geral Adjunto, 10 de setembro de 2014, disponível no endereço www.justice.gov/atr/public/speeches/speech-criminal.html .

Page 62: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

62

Divisão. Se falhar, a Divisão possui o poder de retirar a senha e oferecê-la a outro interessado que

se disponha a reunir as condições exigidas e a agilizar a investigação da Divisão sobre a violação

da legislação criminal antitruste.

7. Condições para obtenção de leniência condicional

Uma senha evolui para a concessão de leniência condicional quando o

interessado fornece evidências que o envolvem em uma violação da legislação criminal antitruste

e reúne os seis requisitos enumerados na Parte A da Política de Leniência Corporativa.

Corporações e indivíduos que não cometeram violações criminais não precisam de leniência,

razão pela qual a garantia não lhes é direcionada.

Se o requerimento não for suficiente para confirmar que o requerente

cometeu uma violação da legislação criminal antitruste quando a Divisão conceder a senha, o

interessado deve admitir sua participação no delito antes de receber a certidão de leniência

condicional. O interessado não pode apenas argumentar que suas evidências comprovam um

acordo de fixação de preços, fraudes em licitações ou compartilhamento ilícito de mercados. Sem

apresentar testemunhos destinados a comprovar que de fato fez um acordo ilegal, o requerente

não fará jus a uma certidão de leniência condicional.

Para que a companhia requerente reúna os seis requisitos previstos na

Política de Leniência Corporativa, precisará fornecer evidências que permitam à Divisão chegar às

seguintes conclusões:

1) quando a companhia trouxe ao conhecimento a atividade ilegal, a

Divisão ainda não havia recebido informações a respeito de qualquer outra fonte;

2) a companhia, ao descobrir a atividade ilegal levada ao conhecimento

das autoridades, adotou medidas rápidas e eficazes para interromper sua participação nas

irregularidades;

3) a companhia relata o delito de forma verídica e integral, e fornece

completa, contínua e total cooperação com a Divisão ao longo da investigação;

4) a confissão do delito constitui um ato corporativo, em oposição a

confissões isoladas de executivos ou de administradores;

5) quando cabível, a companhia indenizou os prejudicados;

6) a companhia não coagiu outro integrante a participar da atividade

ilegal e claramente não desempenha o papel de líder ou originadora da atividade.

8. Confidencialidade e renúncia à confidencialidade

A política da Divisão consiste em manter em estrita confidencialidade a

Page 63: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

63

identidade dos requerentes de leniência e as informações por eles trazidas a lume. O interessado

fornece informações que precipitam ou fazem avançar uma investigação criminal e os

procedimentos decorrentes são análogos a informações confidenciais em outros contextos de

investigação criminal. Consequentemente, a Divisão não torna pública a identidade de quem

requer leniência. Esse critério pode não se aplicar, entretanto, se o requerente tornar pública sua

própria identidade, concordar com sua divulgação ou se uma ordem judicial exigir a divulgação.

O interessado pode estar sujeito a penalidades ligadas à legislação

antitruste em jurisdição estrangeira. A ameaça de divulgação dos relatos feitos a outras jurisdições

pode desestimular as confissões feitas nos termos do programa de leniência. Dessa forma, a

Divisão não divulgará a autoridades estrangeiras de mesma finalidade a identidade de um

requerente ou qualquer informação obtida a partir de seu requerimento sem que o interessado

concorde com essa medida. Essa sistemática não isenta o interessado de ser responsabilizado em

outras jurisdições, mas o protege contra a divulgação das informações por ele trazidas por parte

da Divisão sem o seu consentimento. A política de confidencialidade da Divisão é similar à

verificada na maioria das outras jurisdições.

9. Experiência com o sistema de senhas e alterações cogitadas nas regras atuais

Desde sua concepção, o sistema de senhas tem servido de forma

satisfatória ao programa de leniência da Divisão. Na experiência prática, o sistema incentiva a

confissão imediata, após a descoberta de uma potencial violação da legislação criminal antitruste

americana. Em pelo menos uma situação, dois integrantes requereram senhas no mesmo instante

para a mesma irregularidade. Os extraordinários benefícios assegurados pelo programa também

incentivam o interessado a cooperar do modo mais amplo possível na esperança de se qualificar

para a leniência. Por enquanto, a Divisão não vê necessidade em promover alterações no seu

sistema de senhas.

ESTÔNIA

O programa de leniência da Estônia é um instrumento relativamente

novo e surgiu como uma alteração relevante na legislação, tendo entrado em vigor no dia 27 de

fevereiro de 2010. Os princípios da leniência estão fundamentados no Programa de Leniência da

Comunidade Europeia de Nações (2006), embora tenham sido consideradas, apesar disso, as

circunstâncias específicas do sistema nacional.

Na Estônia existem leis criminais que fornecem um sistema coercitivo

contra a cooperação anticompetitiva entre empresas. Tanto o conluio anticompetitivo horizontal

quanto o vertical são punidos pela lei criminal (Código Penal, § 400) e a leniência abrange os dois

tipos de cooperação anticompetitiva. Em razão do sistema coercitivo criminal, as regras de

Page 64: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

64

leniência se dividem entre duas leis e são reguladas parcialmente pelo Código de Processo

Criminal e parcialmente pela Lei de Competição. Pela mesma razão as diferentes tarefas e

atividades relacionadas à leniência tem sido divididas entre o Ministério Público (que conduz os

procedimentos anteriores ao julgamento e apresenta ações públicas junto ao Poder Judiciário) e a

autoridade encarregada de zelar pela defesa da competição (que constitui um órgão investigativo e

inicia os procedimentos anteriores ao julgamento).

De acordo com o § 205 do Código de Processo Criminal, o Ministério

Público deverá, a seu critério, encerrar processo penal em decorrência de um requerimento de

leniência que cumpra com as condições para tanto previstas na Lei de Competição e que seja o

primeiro a ser apresentado, no qual estejam incluídas informações referentes a uma infração

criminal relacionada à formação de cartel que viabilize o desencadeamento de ações criminais

(subseção 1). Até mesmo se o processo criminal relativo a crimes vinculados à prática de cartel já

houver sido iniciado antes da apresentação do requerimento de leniência, o Ministério Público

poderá, a seu critério, encerrar a ação criminal incidente sobre o requerente que cumprir com as

condições para tanto previstas e que for o primeiro a apresentar requerimento de leniência

munido de evidências, as quais, de acordo com o Ministério Público, contribuam

significativamente para reforçar as investigações (§ 205, subseção 2 do Código de Processo

Criminal). Em ambos os casos descritos acima o atendimento integral dos requisitos para

leniência pelo primeiro requerente serve de base para a imunidade integral ante qualquer punição.

Se o requerente de leniência cumprir os requisitos previstos na lei, a

leniência será concedida, portanto não há oferta condicional de leniência prevista na lei.

Interpretando o § 205 do Código de Processo Criminal Estoniano, a Suprema Corte decidiu, no

processo nº 3-1-1-10-12, que a literalidade dessa norma acarreta em que o requerente que for o

primeiro a preencher as condições integrais para obtenção de leniência adquire a expectativa legal

de que os procedimentos criminais acerca de seus atos sejam encerrados. Entretanto, o momento

efetivo de concessão da leniência deve ser decidido pelo Ministério Público. Isso significa que o

momento de concessão da leniência deve ser decidido com base em um processo. O Código de

Processo Criminal prevê a possibilidade de renovar o processo em relação a uma pessoa que

tenha recebido tratamento leniente. Se, após a ordem de concessão de leniência ter sido proferida,

as circunstâncias tornarem evidente que é descabido o deferimento do benefício, o Ministério

Público poderá, a seu critério, prosseguir o processo criminal relacionado ao requerente.

De acordo com a Lei de Competição, o requerimento de leniência deve

ser apresentado perante a autoridade encarregada da área, que efetua a avalição inicial do pedido.

O requerimento deve ser submetido pelos meios adiante descritos e de modo a que o momento

exato e a data de sua apresentação possam ser registrados. Embora seja possível na prática fazer

um requerimento oral, mesmo nessa opção o requerimento deverá ser reduzido a termo pela

autoridade destinatária. Em sequência, a autoridade destinatária deve confirmar imediatamente o

recebimento do requerimento de leniência ao requerente, indicando o momento exato de entrega,

Page 65: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

65

e enviar o pedido, com seus anexos, ao Ministério Público. O Ministério Público, tendo recebido

o aviso da autoridade encarregada de zelar pela competitividade sobre o requerimento de

leniência, deve então coordenar as medidas decorrentes com o corpo investigativo da unidade que

dirige e o requerente.

Embora a lei não identifique esse procedimento como uma senha (tal

como prevista no Programa Modelo de Leniência da Comunidade Europeia), ainda de acordo

com o Código de Processo Criminal, o Ministério Público deve conceder ao requerente prazo de

até um mês para apresentar evidências. A concessão desse prazo é expressamente prevista pelo

Código de Processo Criminal (§ 205, subseção 4). Essa medida possui o mesmo objeto do sistema

de senhas e é muito similar à senha na forma como ela possibilita ao requerente colher provas

para fundamentar o processo criminal e reservar a si próprio um lugar na fila de leniência, mesmo

se ainda não tiver reunido todas as evidências. Uma vez que o Ministério Público dirige o

processo que prepara o julgamento e garante sua eficácia, todas as decisões importantes sobre os

atos processuais e os próximos passos a serem seguidos no âmbito do processo penal serão

decididos pelo Ministério Público.

A concessão de prazo adicional para apresentar evidências é uma decisão

discricionária do Ministério Público, o que significa que somente o Ministério Público estará em

condições de considerar se a concessão desse prazo adicional é necessária e quanto tempo será

concedido ao requerente. Ao mesmo tempo em que o Ministério Público não pode ser tão

conservador em relação a requerimentos para extensão de prazo, por outro lado a regulamentação

sobre leniência é pouco atraente e não facilita a apresentação de requerimentos de leniência. Em

decorrência, se o requerente precisar de prazo adicional, o pedido deverá ser deferido,

especialmente se for necessário para aprimorar os fundamentos necessários ao desencadeamento

do processo criminal.

A legislação não prevê uma quantidade mínima de dados que o

requerente deverá fornecer para garantir seu lugar na fila. Para assegurar que está de acordo com

os requisitos legais, o requerimento deve conter as informações previstas na lei e deve descrever a

prática anticompetitiva das empresas envolvidas com detalhes suficientes. Quanto às provas, é

compreensível que as evidências ainda não disponíveis não possam ser apresentadas

imediatamente. A ideia por trás do prazo adicional é conceder ao requerente uma oportunidade

para reunir as evidências às quais ainda não teve acesso no momento em que apresenta seu

requerimento. Deve-se enfatizar que o propósito desse prazo adicional abrange somente

evidências que não se encontram ao alcance do requerente; os fatos e circunstâncias inseridos no

requerimento podem ser imediatamente verificados e esclarecidos com a coleta de depoimento do

requerente, consoante as regras da investigação criminal (medida que normalmente constitui o

primeiro ato da respectivo processo).

Assim, se o requerente não puder apresentar todas as evidências, o

Page 66: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

66

Ministério Público deverá conceder-lhe cerca de um mês para reunir e apresentar as evidências

que mencionou em seu requerimento. Apesar disso, considera-se que o requerimento foi

apresentado, mesmo diante da falta dessas evidências.

Por força do sistema legal vigente ser bastante abrangente em relação ao

tema, tanto quem requer leniência antes do início dos processos criminais quanto os que o

apresentarem após terem sido iniciados aqueles processos podem pedir a extensão do prazo para

apresentarem evidências adicionais. Em tese, também o requerente que não for o primeiro a pedir

leniência pode pedir prazo adicional, mas como para cada requerente subsequente se ampliam os

requisitos de qualidade das evidências, o Ministério Público pode entender que não se justifica a

concessão de tempo adicional. Para ilustrar esse aspecto, no caso do primeiro requerente, o

requerimento e as evidências anexadas podem permitir ao Ministério Público decidir apenas se as

informações contidas no requerimento referentes à conduta criminal prevista no § 400 do Código

Penal são suficientes para desencadear processos criminais, enquanto que, no caso do

requerimento por leniência ter sido recebido após o início do processo criminal, o requerimento e

as evidências devem contribuir significativamente para incriminar os acusados. Claramente, os

requisitos para o volume e a qualidade das evidências são muito diferentes nesses dois casos.

A experiência da Estônia tem demonstrado que a qualidade dos

requerimentos de leniência não tem sido muito pronunciada e ocasionalmente requerimentos de

leniência tem sido apresentados em relação a infrações que não são prioritárias para os

investigadores (como, por exemplo, condutas verticais de cartel sem relação com a manipulação

de preços). Embora a contribuição do programa de leniência seja devida aos requerentes em

potencial, um incentivo para que eles se apresentem assim que for possível e ainda que algumas

evidências ainda estejam faltando, os requerentes raramente exercem seu direito de pedir tempo

adicional para apresentarem evidências adicionais ou desconhecidas, e isso significa que a

possibilidade de requerer leniência usando essa opção não tem sido muito popular. Além disso, o

Ministério Público concedeu poucas vezes o período adicional. Anos atrás, quando o programa de

leniência ainda estava sendo introduzido, as empresas revelavam mais interesse pelo programa,

mas nos últimos anos têm sido apresentados muito poucos requerimentos demandando leniência.

O programa de leniência não tem sido divulgado pela mídia

recentemente, mas quando foi originalmente introduzido, a agência encarregada de zelar pela

concorrência o promoveu pela inserção de vários comunicados na mídia. Há também

informações sobre leniência e contatos disponíveis na página da agência. A agência tem

igualmente divulgado os mais importantes princípios do programa de leniência durante diferentes

treinamentos e seminários, alguns dos quais especificamente destinados ao programa. Os aspectos

de ordem prática do programa só podem ser esclarecidos pelo Ministério Público, que

desempenha um papel essencial no atual desenvolvimento do programa.

Via de regra, nos procedimentos criminais o fato de alguém ter

Page 67: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

67

demandado leniência permanece confidencial pelo menos até a leniência ter sido concedida. Uma

das condições para leniência na Lei de Competição também prevê que o requerente não pode, ele

próprio, revelar fatos relativos ao requerimento de leniência ou aos processos criminais sem a

autorização do Ministério Público. De acordo com o Código de Processo Criminal, o Ministério

Público pode excluir a cópia de um documento de acusações remetidas ao juízo (assim como dos

autos) se o documento contiver informações relacionadas ao requerimento de leniência.

O atual programa de leniência (incluindo o sistema de senhas) tem sido o

mesmo desde que foi introduzido no sistema legal da Estônia e não existe no momento planos

para alterar a legislação a seu respeito. Como não há uma experiência extensiva na implementação

do programa (em razão de apenas pouco mais de dez requerimentos terem sido apresentados),

ainda não é possível partilhar conclusões relacionadas às regras e à aplicação do sistema de

senhas. Conforme anteriormente mencionado, não tem havido muitos casos envolvendo pedidos

de senha e dessa forma o país não tem muita experiência prática no que diz respeito ao tema.

FORMOSA

1. Relação entre o Programa de Leniência e o Sistema de Senhas

1.1 Uma breve descrição da política de leniência de Formosa

O programa de leniência foi introduzido pelo art. 35-1 da Lei de Livre

Comércio (no acrônimo em inglês, FTA), acrescentado ao diploma por meio de alteração

promovida em 23 de novembro de 2011. Os detalhes do programa de leniência estão definidos

no "Regulamento sobre Imunidade e Redução de Penas nos Casos Ilegais de Cartel" (doravante

referido como "regulamento"), editado em conformidade com o nº 2 do art. 35-1 da FTA, que

entrou em vigor em 6 de janeiro de 2012.

O regulamento previa inicialmente que as empresas só poderiam solicitar

leniência por escrito e que quaisquer pedidos apresentados por via oral não seriam aceitos. Depois

de se reportar aos programas de leniência da UE e do Japão, o regulamento foi alterado, em 22 de

agosto de 2012, para permitir que os pedidos pudessem ser feitos por escrito ou oralmente.

Em consonância com as tendências internacionais em Direito da

Concorrência:

(1) O FTA impõe multas administrativas sobre as empresas que

participam de cartel (precedência dos recursos administrativos sobre medidas judiciais). Assim, o

conteúdo do programa de leniência de Formosa é semelhante ao do programa de leniência

adotado pela UE.

(2) Conforme descrito nas disposições gerais do regulamento, o direito e

Page 68: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

68

a política de concorrência de Formosa foram revisados pelas autoridades competentes do Direito

da Concorrência de mais de setenta países. O relatório de avaliação interpares do Fórum Mundial

sobre Concorrência da OCDE, em 9 de fevereiro de 2006, sugeriu que a Comissão do Livre

Comércio (FTC no acrônimo em inglês) adotasse um programa de leniência para combater

cartéis. Considerando que a coleta de elementos de prova da prática de carteis de fato se tornou

cada vez mais difícil nos anos em que a lei entrou em vigor, a FTC alterou o regulamento para

introduzir o art. 35-1, em 23 de novembro de 2011, de modo a acomodar o diploma às tendências

internacionais em Direito da Concorrência. A alteração introduziu o programa e a política de

leniência, com o objetivo de dissuadir eficazmente a prática de cartel.

(3) A “anistia plus” é um aspecto dos programas de leniência para

incentivar outras empresas integrantes de cartel a apresentarem elementos de prova, os quais

poderão ser insuficientes se o programa conceder imunidade total somente para um candidato. A

“anistia plus” expande o escopo do programa de leniência e permite à autoridade competente

descobrir outras práticas ilegais de cartel. O programa de leniência de Formosa usa um "número

limitado de candidatos" e uma "redução progressiva de multas" para incentivar os potenciais

candidatos a se apresentarem o mais cedo possível e proporcionarem à FTC evidência da prática

ilegal de carteis. Por isso, embora apenas à primeira recorrente seja concedida imunidade

completa, quatro candidatos subsequentes também são contemplados com reduções em suas

multas administrativas. O limite no número de candidatos incentiva potenciais candidatos a se

habilitarem antes dos demais, e permite à FTC reunir provas suficientes sobre os conluios e

atingir o propósito normativo do programa de leniência. Assim, esse modelo substitui, em

Formosa, a “anistia plus”.

1.2 Relações entre o programa de leniência e o sistema de senhas

O programa de leniência previsto no regulamento requer que os

participantes dos cartéis apresentem provas de conluios antes de a FTC descobrir a existência do

acordo ou iniciar uma investigação a respeito, e que ajudem na investigação em troca de

imunidade ou de redução de multas. O objetivo do programa de leniência consiste em municiar

os resultados das investigações e, assim, deter os conluios. Em outras palavras, as empresas que

participam de um conluio podem ser contempladas com imunidade ou redução de multas se

apresentarem provas perante a FTC antes que a agência descubra o conluio ou inicie uma

investigação e auxiliarem a investigação.

O sistema de senhas é uma parte do programa de leniência que permite à

primeira empresa que aprofunde suas investigações, embora tenha provas insuficientes,

preservando temporariamente sua posição como primeira requerente, desde que venha a reunir

provas suficientes dentro de um período de tempo especificado.

O regulamento prevê o sistema de senhas expressamente, no art. 11,

segundo o qual as empresas que pretendam candidatar-se a imunidade, mas que se encontram

Page 69: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

69

sem condições de apresentar o pedido, conforme previsto no parágrafo 1º do art. 10, porque não

possuem a informação e as provas contidas nos arts. 3 a 5, podem requerer primeiro a

preservação da prioridade para concessão de imunidade, e, em seguida, reunir as informações

solicitadas e as provas, dentro do período especificado pela FTC. Em outras palavras, o sistema

de senhas de Formosa aplica-se apenas ao requerente de imunidade total, ou seja, à primeira

empresa que se dispuser a denunciar o cartel, e não é aplicável a quaisquer candidatos

subsequentes à redução de multas.

2. Regras do sistema de senhas

2.1 Propósito normativo do sistema de senhas

A adoção do sistema de senhas permite que a autoridade competente

economize em custos de investigação e descubra ações ilegais a tempo de evitar mais danos do

que os já provocados. O sistema permite que a FTC obtenha informações sobre os conluios o

mais cedo possível. As empresas podem usar a senha para se preservarem contra punições

enquanto reúnem evidências substanciais do conluio, e se veem, portanto, mais motivadas para

assumirem voluntariamente a dianteira na revelação do cartel.

2.2 Procedimentos adotados no requerimento e efeitos

Uma empresa que pretenda requerer a preservação da prioridade para

obtenção de imunidade, de acordo com o art. 11 do regulamento, pode fazê-lo por escrito ou

oralmente, e deve indicar o motivo para a apresentação do requerimento e os fatos do conluio.

Deve incluir, entre os fatos relatados, o produto ou serviço em causa, a forma do conluio, as

empresas envolvidas, a hora e o local do acordo, a duração do conluio e a área geográfica por ele

alcançada; a empresa deve também descrever as provas que pretende produzir.

Após a FTC receber um pedido de uma empresa para preservar sua

posição prioritária quanto à concessão de imunidade, analisará o pedido na seguinte ordem: (1)

em primeiro lugar, verifica se qualquer outra empresa já apresentou um pedido relativo ao mesmo

conluio; (2) em seguida, verifica se o candidato é verdadeiramente e sinceramente preparado para

produzir as provas; (3) por fim, considera os motivos alegados pelo candidato antes de decidir se

aprova ou não o pedido para a preservação da preferência na concessão de imunidade.

Após o requerimento ter sido aprovado, a empresa deve observar as

orientações da FTC em cada uma das seguintes situações:

(1) Se o pedido foi apresentado antes de a FTC ter descoberto o acordo

ou iniciado a investigação, o candidato deve descrever os detalhes de seu envolvimento no

conluio e produzir provas das quais a FTC não tenha conhecimento ou que a agência não possua.

O candidato deve fornecer à FTC uma compreensão geral dos fatos atinentes ao cartel, bem

como a hora, o local, o conteúdo e as outras questões relativas ao acordo entre as partes

Page 70: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

70

envolvidas no cartel, para que a FTC possa dar início a uma investigação.

(2) Se o pedido for apresentado após a FTC iniciar a investigação, o

candidato deve descrever os detalhes de seu envolvimento no conluio e apresentar as provas de

que já dispuser na data de apresentação do requerimento, que possam comprovar a sua

participação na prática ilegal de cartel. Além disso, a instrução e as provas do candidato devem ser

de grande ajuda na investigação da FTC sobre o conluio em questão.

As provas acima referidas devem ser produzidas dentro do período

especificado pela FTC. O período será determinado pela FTC com base em vários fatores, a

exemplo da dificuldade que a empresa terá para obter a evidência, mas em princípio será de 30

dias. O período especificado pode ser prorrogado, se necessário, mediante a aprovação da FTC. A

prioridade da empresa nesse caso será preservada, mas se tornará ineficaz se um pedido de

prorrogação não for apresentado antes de expirar o período especificado.

3. “Caráter anônimo”37

do sistema de senhas

3.1 Regras para o “caráter anônimo” do sistema de senhas

Considerando que a divulgação da identidade do requerente durante o

inquérito poderá ter efeitos negativos sobre o requerente e também afetará a investigação e as

provas apresentadas, e que a identidade do requerente não pode ser protegida no processo

administrativo sem base jurídica, a FTC estipulou, no art. 20 do regulamento, que a identidade da

empresa no requerimento de imunidade ou de redução de multa deve ser mantida confidencial, a

menos que o requerente concorde com o contrário. A FTC é responsável por manter a identidade

do requerente confidencial e os registros de conversação e documentos que contenham sua

verdadeira identidade não poderão ser fornecidos a quaisquer agências ou grupos que não sejam

de investigação ou judiciais, salvo estipulação em contrário. O prévio consentimento pode ser

dado voluntariamente pela empresa, mas não é uma obrigação que lhe seja imposta na

apresentação de requerimento de imunidade ou de redução de multa.

O parágrafo 1 do art. 20 do regulamento prevê que a identidade da

empresa no requerimento de imunidade ou de redução de multa deve ser mantida confidencial, a

menos que a empresa concorde com o contrário. Assim, quando uma empresa requer a

preservação de sua prioridade para a imunidade nos termos do sistema de senhas, a FTC deverá

manter a identidade da empresa confidencial a menos que a empresa concorde com o contrário.

37 Nota da tradução: no texto original, “anonimity”.

Page 71: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

71

3.2 O programa de leniência de Formosa atualmente não inclui regras ou uma política

de renúncia à confidencialidade

A "renúncia à confidencialidade" foi projetada para casos que envolvem

o intercâmbio de informações classificadas entre os países. Experiências de aplicação da lei de

outros países mostram que a renúncia à confidencialidade pode desempenhar um papel

considerável em investigações sobre carteis internacionais. Em outras palavras, quando a empresa

solicita leniência e assina um termo de confidencialidade, a autoridade competente pode informar

as outras autoridades competentes no âmbito do Direito da Concorrência em relação à

investigação do cartel, quando a investigação é efetuada pela primeira vez, e pode trocar ou

compartilhar informações sobre o caso em questão. A extensão da troca de informações é

baseada no Direito da Concorrência e nas leis pertinentes de cada país.

Apesar de o programa de leniência de Formosa não incluir dispositivos

relativos à renúncia à confidencialidade, durante uma investigação sobre conluios, se a FTC

precisar trocar ou compartilhar informações sobre a empresa que se relacionem com autoridades

equivalentes, poderá obter seu "consentimento prévio", em conformidade com o art. 20 do

regulamento, que autoriza a FTC a afastar sua obrigação de manter a identidade da empresa

confidencial. Além disso, o regulamento não se limita à fórmula de o requerente emitir

"consentimento prévio". Se o requerente voluntariamente concorda em fornecer a sua identidade

a outras instâncias competentes no âmbito do Direito da Concorrência, na prática, a FTC disporá

de um instrumento correspondente ao consentimento prévio do candidato.

A utilização da renúncia à confidencialidade em programas de leniência é

atualmente um tema de grande preocupação na comunidade internacional, porque os países

acreditam que a troca de informações (especialmente a troca de informações classificadas) é

relevante nas investigações, especialmente nas que se refiram a carteis internacionais. A FTC

continuará a acompanhar a evolução em relação a este tema, e vai usá-lo como base para se

considerar a eventual inclusão de regras sobre o assunto no regulamento.

4. Estudo de casos

A Toshiba-Samsung Storage Technology Coreia Corporation (doravante

referida como "TSSTK"), a Hitachi-LG Data Storage Coreia Inc., a Philips & Lite-on Digital

Solutions Corporation e a Sony Optiarc Inc. envolveram-se em um conluio nas aquisições de

disco ótico da Dell Inc. e Hewlett-Packard Company, entre setembro de 2006 e novembro de

2009. Antes ou durante o processo licitatório, as quatro empresas entraram em contato umas com

as outras através de mensagens eletrônicas, telefone ou reuniões para troca de informações, tais

como a sua oferta e o local previsto para a licitação, e chegaram a acordos em várias ocasiões

sobre o preço final e a posição de cada uma na competição. Além disso, as empresas trocaram

informações muitas vezes sensíveis à concorrência, tais como a capacidade de produção e de

Page 72: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

72

saída. Essa conduta foi suficiente para impactar a oferta e a demanda no mercado doméstico de

unidade de disco ótico, e violou o art. 14 da Lei do Livre Comércio. A FTC, nesse contexto,

emitiu instruções normativas em 19 de setembro de 2012. Além de instar as empresas a cessar de

imediato a ilegalidade, impôs multas administrativas às envolvidas.

Uma das empresas envolvidas no caso soube que a FTC havia adotado o

programa de leniência, e, portanto, voluntariamente, adiantou-se e solicitou imunidade em

conformidade com o regulamento. A empresa também apresentou um pedido por escrito à FTC

para preservar a prioridade para obtenção de imunidade, porque ainda não dispunha de provas

suficientes. A empresa forneceu todos os fatos de sua participação no cartel, incluindo o produto

ou serviço em causa, a forma do conluio, as empresas envolvidas, a hora e o local do acordo, a

duração do conluio, e a área geográfica influenciada pelo cartel, no prazo de 30 dias após a

apresentação do pedido. Ela também produziu evidência dos fatos para ganhar imunidade contra

a multa administrativa. Depois de examinar as provas fornecidas pela empresa, a FTC expediu

uma "anuência condicional", em que obrigou a empresa a cessar toda a participação no conluio

no curso da investigação da FTC, e a ajudar com a investigação. Ao empreendimento foi

concedida imunidade da multa administrativa, após o cumprimento das condições da "anuência

condicional” expedida pela FTC.

Este é o primeiro caso de cartel internacional decidido pela FTC desde

que o programa de leniência foi introduzido em 23 de novembro de 2011. Ele também é o

primeiro caso em que uma empresa requereu a imunidade total para a multa administrativa e

também a senha destinada a assegurar a prioridade na concessão de imunidade. O caso foi

excepcionalmente ilustrativo para a aplicação da lei pelo FTC, porque ambos os pedidos foram

aprovados. Uma vez que a empresa não assinou um termo de confidencialidade, a FTC foi

obrigada a manter a identidade da empresa confidencial, em conformidade com o art. 20 do

regulamento. Após a determinação da FTC, a TSSTK reputou a decisão inaceitável e impetrou

recurso administrativo em 18 de outubro de 2012; os procedimentos de recursos administrativos

estão atualmente em curso.

HUNGRIA

1. Descrição do sistema de senhas e de sua relação com o programa de leniência

Na Hungria, pode ser concedida uma senha para proteger o lugar na fila

de um candidato que ainda não reuniu todos os elementos necessários para formalizar um pedido

de imunidade em um caso de cartel. Esse pedido só pode ser apresentado se a “Gazdasági

Versenyhivatal” (GVH - Autoridade da Concorrência húngara) ainda não houver iniciado um

processo de investigação, no caso indicado no pedido de senha. No pedido, o requerente deve

comprometer-se a reunir todas as informações e elementos de prova necessários para cumprir o

Page 73: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

73

limite de provas relevantes para a imunidade dentro do prazo especificado pela GVH. Além disso,

o pedido deve conter uma justificação para a apresentação posterior de provas, bem como um

compromisso expresso pela recorrente de que ele irá incluir no pedido provas adicionais.

Em harmonia com o programa de leniência da UE, a Lei LVII de 1996

sobre a proibição de práticas desleais e restritivas (Lei da Concorrência húngara), prevê uma

opção de senha especial no caso dessas violações, em relação às quais – de acordo com o

“Comunicado da Comissão sobre a cooperação no âmbito da rede de autoridades de

concorrência” (Comunicado de Cooperação), a Comissão Europeia seja "particularmente melhor

situada" no âmbito da Rede Europeia da Concorrência para lidar com o caso – o requerente

apresentar um pedido de leniência, seja de imunidade ou de redução de pena, junto àquela

Comissão. Em tais casos – simultaneamente com a sua postulação à Comissão Europeia –, o

requerente pode apresentar um pedido (o chamado "requerimento sumário”) também perante a

GVH, como uma autoridade com potencial igualmente bem posicionado para apurar os fatos, no

sentido do Comunicado de Cooperação. Da mesma forma que as situações gerais, a senha, nestes

casos, se o requerente não entregar todas as provas, faz com que ele se comprometa a oferecer

todas as evidências fundamentando o seu pedido de imunidade no prazo estabelecido pelo GVH,

desde que o processo for iniciado pela autoridade húngara. O requerimento sumário pode ser

apresentado em inglês, francês ou alemão.

A introdução de um sistema de senhas na Hungria coincidiu com o

alinhamento da política de leniência húngara com o programa de leniência da UE em junho de

2009.

2. Principal finalidade do sistema de senha e seus benefícios potenciais para a agência

e para os que requerem senhas

O principal objetivo do sistema de senhas consiste em estabelecer um

prazo suficiente para a empresa que deseja cooperar com a autoridade da concorrência possa

concluir sua investigação interna destinada a apurar uma violação do Direito da Concorrência. O

sistema de senhas permite que uma empresa que não possua as informações necessárias para

apresentar uma candidatura completa de imunidade possa assegurar a sua posição na fila de

requerentes por imunidade, fornecendo um conjunto mínimo de informações. A GVH define o

prazo para a conclusão do requerimento. O requerente tem de completar o seu pedido nesse

prazo, e a data efetiva da apresentação do pedido de imunidade é considerada como a data da

apresentação do pedido de senha.

3. Origem normativa do sistema de senhas e forma de comunicação de sua existência

perante o público alvo

A política de leniência da GVH é regulada pela Lei da Concorrência. O

artigo 78/A-78/D daquela lei define o enquadramento processual da leniência, incluindo o

Page 74: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

74

procedimento de concessão de senhas. A situação de leniência também garante benefícios fora do

campo do Direito da Concorrência. Esses benefícios incluem o tratamento leniente nos

procedimentos criminais e uma posição mais vantajosa em litígios de Direito Privado.

As informações e explicações sobre o regime de leniência estão

disponíveis no portal eletrônico da GVH.

4. Habilitação para obtenção de senhas e a situação de requerentes posteriores ao

primeiro interessado

A senha só pode ser concedida para os requerentes de imunidade e não

para candidatos à redução de penas. As senhas também não estão disponíveis para os candidatos

de imunidade "tipo B", previstas para quando a GVH já iniciou o processo e o requerente fornece

informações suficientes para realmente provar a infração.

Se dois pedidos de senha chegarem à GVH relativos à mesma infração,

os pedidos serão avaliados de acordo com a ordem de chegada. O segundo requerimento só será

considerado se o primeiro pedido for rejeitado.

5. Etapas que devem ser cumpridas para iniciar o processo e requisitos para obtenção

de senha

O pedido de senha deve identificar o requerente, conter uma descrição

da conduta ilegal, fornecer informações sobre onde a evidência pode ser encontrada e também

detalhes com os quais outras autoridades de concorrência europeias tenham sido acionadas em

relação ao mesmo pedido. A evidência disponível deve ser apresentada junto ao pedido. O pedido

deve conter uma justificação para a apresentação posterior de outras provas e também um

compromisso expresso pelo requerente no sentido de que irá apresentar provas adicionais.

6. Discricionariedade na apreciação do pedido de senha

Se um pedido atender a todos os critérios constantes da Lei da

Concorrência, a GVH concede automaticamente a senha. O limite de tempo para completar um

marcador é definido caso a caso.

7. Transformação do pedido de senha em pedido de imunidade

Se a empresa completa o seu requerimento dentro do prazo especificado,

ele será considerado como um pedido de leniência apresentado na data da apresentação do

pedido de senha. O requerimento será então avaliado com base em regras gerais relativas aos

pedidos de imunidade.

Page 75: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

75

8. Confidencialidade da senha e condições para renúncia à confidencialidade

O pedido de senha é mantido em sigilo pela GVH. Informações

relacionadas à leniência só podem ser liberadas após o encerramento das investigações, quando o

respectivo arquivo é aberto para acesso.

9. Experiência prática e perspectivas de mudança nas regras do sistema

A senha foi introduzida na lei húngara da concorrência em junho de

2009. Desde então, a GVH recebeu muito poucos requerimentos de senha. Consequentemente,

não há problemas que tenham surgido e nenhuma experiência específica foi acumulada. Uma

alteração da Lei da Concorrência em 2014 esclareceu que as senhas não podem ser requeridas

depois que o processo tenha sido iniciado.

JAPÃO

1. Introdução

O sistema de senhas foi incorporado ao programa de leniência japonês

desde que o programa começou, em 2005, por ocasião de alteração promovida na Lei

Antimonopólio. Naquela oportunidade, o sistema de senhas estava tendo sua efetividade

reconhecida em outros países, razão pela qual se definiu que ele seria adotado desde o desenho

inicial do programa de leniência no Japão. Como o programa de leniência do Japão se baseia em

um sistema de custo adicional não-discricionário, com uma taxa fixa para cálculo, isso resulta em

um sistema de certa forma rígido, circunstância que por sua vez afeta o sistema de senhas.

A presente exposição em primeiro plano descreve as características do

programa de leniência japonês e depois fornece uma visão geral, as características e a experiência

já vivenciada com o sistema de senhas.

2. Características do programa de leniência japonês

O programa de leniência japonês se vincula à determinação do

pagamento de uma sobretaxa, que é uma sanção administrativa. Sobretaxas são cobradas de

empreendedores engajados em carteis, fraudes em licitação, etc. O valor da sobretaxa é

estabelecido na Lei Antimonopólio como um montante equivalente a uma certa fração (em

princípio 10%) dos vendas de bens e serviços abrangidos pela violação no período de

implementação da transgressão (limitado a três anos) (parágrafo 1, art. 7-2 da Lei

Antimonopólio). A Comissão Japonesa do Livre Comércio (no acrônimo em inglês JFTC) deve

aplicar o pagamento de sobretaxa no montante estipulado pela Lei Antimonopólio. A JFTC não

Page 76: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

76

dispõe de discricionariedade para definir se aplica ou não a taxa ou para estabelecer seu valor.

Como o programa de leniência japonês está incorporado nesse sistema de

sobretaxa, em que não há discricionariedade em seu âmbito, como anteriormente se mencionou,

o programa de leniência define a redução da sobretaxa e fixa o número de empresas habilitadas a

recorrer ao programa da seguinte forma: o percentual de redução da sobretaxa corresponde à

imunidade total para o primeiro requerente, a 50% para o segundo requerente e a 30% do terceiro

ao quinto requerente e para requerimentos apresentados após o início da investigação (até o

máximo de 3 empresas, ou até 5 empresas que apresentarem requerimentos antes do início da

investigação), de acordo com a ordem de apresentação dos requerimentos (parágrafos 10 a 12, art.

7-2 da Lei Antimonopólio). Além disso, a JFTC não dispõe de discricionariedade para determinar

a redução da sobretaxa com base no grau de cooperação do requerente ou na relevância das

evidências por ele apresentadas.

3. Sistema de senhas japonês

3.1 Síntese

O sistema de senhas é disciplinado pela Lei Antimonopólio e pelas

normas voltadas à preservação do equilíbrio no mercado38

. O requerente entrega um formulário

declarando os contornos da ilicitude por fax (usando o formulário nº 1, Anexo 139

). Se as

declarações atenderem aos requisitos, a senha é concedida40

. Os requerentes nessa condição

poderão obter leniência condicional descrevendo os detalhes da transgressão e disponibilizando

qualquer prova relevante (será utilizado o formulário nº 2, Anexo 241

); o relato oral também é

permitido até a data limite fixada pela JFTC (o período entre a aceitação pela JFTC do formulário

nº 1 até essa data limite é o período de validade da senha). Será fornecida uma senha para todos

38 Regras relativas à apresentação de evidências visando imunidade ou redução de sobretaxas (Regra nº 7 da JFTC, publicada em 2005). 39 O formulário inserido no Anexo 1 é uma versão exemplificativa do modelo utilizado pela agência japonesa. A versão original pode ser encontrada no endereço http://www.jftc.go.jp/dk/seido/genmen/yosiki.files/newyosiki1.pdf. 40 A ordem em que o requerimento é apresentado, se ocorrer dessa forma, pode ser computada a partir de uma ligação telefônica feita antecipadamente (inclusive de forma anônima), desde que o requerente forneça uma descrição da ilicitude. Entretanto, a senha não será concedida por telefone. Será necessário remeter o formulário nº 1 por fax. 41 O formulário inserido no Anexo 2 é uma versão exemplificativa do modelo utilizado pela agência japonesa. A versão original pode ser encontrada no endereço http://www.jftc.go.jp/dk/seido/genmen/yosiki.files/newyosiki2.pdf.

Page 77: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

77

os requerimentos apresentados antes de a investigação da JFTC iniciar42

e a senha será indeferida

depois disso43

.

A despeito de não existir regra expressa sobre o período de validade da

senha, o texto destinado ao esclarecimento de dúvidas mantido no portal da JFTC estipula duas

semanas (dez dias úteis) como critério geral. Apesar disso, em um caso de cartel internacional, por

exemplo, que exige um período expressivo de tempo para investigações internas, o intervalo é

mais longo. Uma vez que a senha é concedida, não há prorrogação para o prazo de validade.

3.2 Propósito

A finalidade da adoção do sistema de senhas consiste em estimular

requerimentos por leniência em tempo mais curto. Se a senha for concedida cumprindo-se a

satisfação de determinados requisitos, até mesmo empresas que ainda estão apurando detalhes do

cartel, nos momentos iniciais da possibilidade de seu envolvimento na prática, encontrarão um

incentivo para apresentar imediatamente requerimento por leniência, o que pode estimular uma

competição pela aplicação do benefício.

3.3 Condições para obtenção de senha

Para obter uma senha, é necessário descrever os bens ou serviços

alcançados pelos atos ilícitos, identificar o dito ato e o momento da primeira ocorrência (e o

momento de seu encerramento, se tiver havido descontinuidade) (a providência deve ser adotada

pela transmissão por fax do formulário nº 1) (art. 1 da Regra nº 7). No caso de bens ou serviços, é

necessário identificá-los tão claramente quanto for possível para uma avaliação confiável de sua

extensão. Quanto à descrição da ilicitude, é suficiente fornecer detalhes do tipo de ato (tal como

um preço de cartel ou uma fraude em licitação) e a estrutura básica do acordo (tais como os

nomes de outras empresas envolvidas na transgressão, a região geográfica alcançada pela ilicitude

e o período de implementação de preços combinados), sem que seja necessário fornecer detalhes

da transgressão, como os termos e as condições do acordo ilícito.

3.4 Concessão da senha e seu período de validade

Satisfeitos os requisitos para concessão de senha anteriormente descritos,

a senha será automaticamente concedida. A JFTC deve notificar os requerentes acerca do fato de

42 O momento do requerimento é identificado pelo uso de um número de fax exclusivo, com o intuito de identificar a ordem da concessão de senha com precisão, na concorrência entre vários pedidos de redução ou de imunidade feitos ao mesmo tempo. 43 Os pedidos posteriores ao início da investigação devem apresentar um relato (usando o formulário nº 3) e evidências materiais em vinte dias úteis contados da data da inspeção feita sem prévio aviso. A ordem entre vários requerimentos será determinada de acordo com a de apresentação do formulário nº 3. Da mesma forma, como a ordem é assegurada com a apresentação do formulário nº 3, esse procedimento é similar à concessão da senha em alguns aspectos, entretanto (i) um período correspondente ao que é deferido ao detentor da senha não é estabelecido previamente e (ii) o procedimento não exige a subsequente apresentação de um relato detalhado, razões pelas quais se considera que o sistema de senhas não se aplica após se desencadear a investigação.

Page 78: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

78

que deverão completar os requisitos até a data limite para apresentação de um relato detalhado

por escrito (art. 2 da Regra nº 7). A validade da senha expira quando a data limite for alcançada.

Depois de concedida a senha, seu período de validade não é prorrogado.

3.5 Concessão condicional de leniência

Os requerentes que obtiverem uma senha devem apresentar os detalhes

da transgressão e oferecer evidências relevantes até a data limite anteriormente referida (art. 3 da

Regra nº 7). Na descrição e na apresentação de evidências, é indispensável que se identifiquem os

indivíduos diretamente envolvidos na ilicitude, relatar com detalhes a própria ilicitude (tais como

os termos específicos e as condições do acordo em que se baseia, as circunstâncias em que se

formou o acordo, a implementação da ilicitude) e apresentar qualquer evidência relevante.

Quando forem cumpridos esses requisitos, a situação do requerente é alterada para torná-lo, de

detentor da senha, em beneficiário de leniência condicional. Se não conseguir cumprir suas

obrigações até a data limite ou se seu relato for considerado insuficiente, não haverá a concessão

da leniência condicional e o requerente perderá seu direito à senha.

3.6 Confidencialidade atrelada à senha

As informações inseridas em um requerimento de leniência estão sujeitas

a obrigações de confidencialidade, razão pela qual as informações relativas à senha também se

submetem àquelas obrigações. Da mesma forma, não há regras especiais para a confidencialidade

da senha. Se for necessário compartilhar informações com autoridades estrangeiras voltadas ao

controle da competitividade de mercados na fase de senha, deve-se confirmar se o requerente

consente ou não em renunciar à confidencialidade e, se esse consentimento for obtido, a

informação será compartilhada.

3.7 Características do sistema de senha japonês

O sistema de senhas japonês é quase idêntico ao de outros países.

Entretanto, o sistema japonês é caracterizado por um período relativamente curto de validade da

senha e pela impossibilidade de prorrogação desse período. Isso ocorre principalmente porque,

por várias razões, a JFTC enfatiza a realização de inspeções sem prévio aviso de forma precoce,

mediante a obtenção de relatos em um período curto de tempo.

Quanto maior é a duração da senha, mais as empresas envolvidas em

violações ficam atentas à aplicação do programa de leniência, circunstância que pode resultar em

dificuldade na condução da investigação do caso revelado. Enquanto em um programa de

leniência com incentivos elevados de cooperação com a investigação por parte das autoridades

encarregadas de zelar pela concorrência, ou albergado por um sistema de barganha, a cooperação

dos autores de pedidos subsequentes atenuaria esse problema, os incentivos no âmbito do

programa de leniência do Japão são muito pequenos, devido à estrutura do programa, que não

Page 79: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

79

considera o grau de cooperação dos requerentes e o valor acrescentado aos elementos de prova

para determinar as taxas de redução. Portanto, pode-se dizer que a realização de inspeções no

local sem aviso prévio é priorizada pela JFTC.

5. Situação atual

Conforme anteriormente mencionado, todos os requerimentos

apresentados no programa de leniência antes da investigação são contemplados com uma senha, o

que acarreta em que se equivalem o número de senhas concedidas e o número de pedidos

apresentados antes do início das investigações. Em razão dessa premissa, a JFTC recebeu

centenas de requerimentos antes de iniciar investigações, entre os quais nenhum requerente

perdeu a senha, exceto em casos de retirada voluntária do pedido.

6. Conclusão

Cerca de oito anos se passaram desde que o programa de leniência foi

introduzido no Japão. O funcionamento do programa ainda não revelou nenhum problema com

o sistema de senhas. Assim, pode-se considerar que o sistema de senhas está na maior parte dos

casos funcionando de maneira efetiva.

LITUÂNIA

1. Descrição do sistema de senhas e de sua relação com o programa de leniência

O regime de leniência lituano é baseado em dispositivos expressos da Lei

da Concorrência. Entretanto, apenas nas regras sobre leniência (relacionadas à imunidade em

matéria de penas e à redução das multas e situadas em peça de legislação secundária) se

encontram normas referentes à disponibilidade de um sistema de senhas sob o regime de

leniência lituano. As regras sobre leniência na Lituânia preveem a possibilidade de concessão de

senha, projetada para preservar e proteger o lugar do requerente em uma fila por imunidade

durante um período definido de tempo. O sistema atende as necessidades dos requerentes de

imunidade que, por motivos legítimos, não se encontram em condições de apresentar todas as

provas e informações necessárias em um determinado momento, mas serão capazes de

aperfeiçoar o seu requerimento dentro de um intervalo de tempo especificamente voltado a essa

finalidade.

Nos termos do § 19 das regras sobre leniência, uma empresa que

pretenda candidatar-se à imunidade em relação a uma punição ou a uma redução na aplicação

dessa pena deve, em primeiro lugar, informar o Conselho da Concorrência da República da

Lituânia sobre sua intenção no sentido de obter a imunidade/redução da multa e pedir para que

seja definido um prazo durante o qual se comprometerá a recolher todas as informações e provas

Page 80: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

80

necessárias para se beneficiar de imunidade/redução de multa. Nesse caso, após um exame

preliminar da Divisão de Investigação do órgão regulador acerca dos acordos anticoncorrenciais

celebrados pela empresa, geralmente é concedido um período de 15 dias em que o requerente

deve apresentar todas as informações restantes e as provas necessárias. Se a empresa enviar as

informações restantes e os elementos de prova no prazo fixado, as informações e as provas serão

consideradas como tendo sido apresentadas no dia da recepção do pedido preliminar ao Conselho

da Concorrência.

2. Finalidades do sistema de senhas e vantagens de sua utilização em relação aos

requerentes e ao órgão regulador

Conforme anteriormente mencionado, o objetivo principal de sistema de

senhas na Lituânia é o de preservar e proteger o lugar do requerente em uma fila de leniência por

um período definido de tempo, sem que seja obrigado a apresentar de imediato um requerimento

completo.

Por força do fato de que o candidato à imunidade se encontra na

iminência de relatar comportamentos anticoncorrenciais desconhecidos para o Conselho da

Concorrência, no momento em que o requerimento é apresentado, a empresa requerente ganha

mais tempo e flexibilidade para apresentar um pedido de leniência completo e recolher todas as

provas necessárias. A senha permite que a empresa apresente o pedido tão logo descubra a

infração, sem ter ainda todas as informações exigidas para pedir imunidade. Assim, a posição do

requerente é reservada na fila para o período de tempo especificado. Portanto, a senha recebida

pelo requerente proporciona certeza e clareza para os potenciais candidatos e encoraja uma

disputa entre os interessados para entrar em contato com o órgão regulador. O pedido de

leniência também encontra no sistema de senhas e no período de quinze dias um meio seguro

para debater os detalhes do comportamento potencialmente anticoncorrencial com o órgão

regulador em relação às discussões informais que antecedem a formalização de um procedimento

de investigação a respeito.

3. Fonte normativa e meios de divulgação do sistema de senhas aos potenciais

interessados

O sistema de senhas lituano encontra-se previsto nas regras sobre a

leniência. O Conselho da Concorrência divulga o programa de leniência por meio de seminários

para as associações comerciais. O Conselho da Concorrência também preparou uma breve nota,

intitulada "Como relatar um cartel?", que disponibiliza no seu portal eletrônico. No entanto, o

sistema de senhas não vem sendo enfatizado no programa de leniência da Lituânia, uma vez que

sua relevância cresce apenas quando se registra forte disputa entre empresas no sentido de obter

leniência, o que atualmente não é o caso.

4. Habilitação para o pedido de leniência e tratamento conferido a requerentes

Page 81: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

81

posteriores ao apresentado pelo primeiro interessado

Uma empresa ou um indivíduo podem solicitar uma senha. É preciso

ressaltar que as regras sobre leniência e a Lei da Concorrência preveem anistia de multa ou

redução de penas para os participantes de acordos horizontais entre concorrentes e participantes

de acordos anticoncorrenciais entre competidores sobre a fixação de preços direta ou indireta (ou

seja, relacionados à manutenção do preço de revenda). Assim, as empresas envolvidas nos

acordos anteriormente mencionados são elegíveis para obter uma senha no âmbito do programa

de leniência da Lituânia.

Conforme mencionado anteriormente, uma pessoa também pode

solicitar uma senha. A legislação sobre concorrência prevê a desqualificação da empresa ou do ex-

diretor da empresa, que, reconhecidamente, tenham organizado ou contribuído significativamente

para um acordo anticoncorrencial. O diretor da empresa pode ser desqualificado para o exercício

de cargos gerenciais por até 5 anos. Uma pena pecuniária também pode ser imposta. Devido ao

fato de que as sanções também podem ser impostas aos indivíduos que estavam envolvidos em

acordos anticoncorrenciais entre empresas, os ex-diretores de tais entidades podem solicitar uma

senha. Caso a empresa obtenha imunidade ou redução de multa, seu diretor será contemplado

pela imunidade corporativa.

Cabe destacar que as regras sobre leniência não diferenciam o primeiro a

se apresentar dos requerentes posteriores. Pode-se afirmar, portanto, que as senhas também são

disponibilizadas para os requerentes subsequentes.

5. Procedimentos e requisitos para obtenção de senha

Para obterem uma senha, os candidatos devem fornecer nome e

endereço do requerente, detalhes sobre o tipo e a duração da infração, identidade das pessoas

envolvidas, produtos e mercados geográficos afetados, descrição das provas a serem fornecidas

no futuro e outras autoridades de concorrência perante as quais pedidos de leniência foram ou

estão sendo apresentados. O Conselho da Concorrência geralmente concede um período de até

15 dias para apresentar um pedido completo de leniência. A senha só pode ser requerida por meio

de requerimento escrito. Pode-se afirmar que, na prática, o Conselho da Concorrência define um

ônus probatório relativamente baixo para a obtenção de senha. O órgão regulador exige apenas o

estabelecimento de uma base concreta para uma suspeita de conduta anticompetitiva e para

demonstrar o fato de que o Conselho da Concorrência é competente para conduzir a

investigação. Critérios adicionais, incluindo se o requerimento é de fato válido, são analisados

numa fase posterior. Se o pedido de leniência for recusado ou se o requerente deixar de fornecer

ao Conselho da Concorrência um pedido posterior, complementando os elementos de prova, o

interessado perderá a prioridade e os candidatos subsequentes ocuparão seu lugar na fila.

Page 82: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

82

6. Discricionariedade na concessão de senhas

O programa de leniência da Lituânia prevê um sistema de senhas

automático. Isto significa que, se forem cumpridas as condições estabelecidas nas regras sobre

leniência, a senha será obrigatoriamente concedida pelo Conselho da Concorrência. O órgão

regulador dispõe, em tese, de autonomia apenas para definir suas prioridades na execução de

processos que envolvam leniência.

7. Condições para conversão de um pedido de senha em concessão condicional de

leniência

A imunidade condicional é normalmente concedida na sequência do

processo relacionado à obtenção de senhas anteriormente descrito. No entanto, um candidato

que seja capaz de fornecer informações completas imediatamente poderá optar por um pedido de

imunidade condicional em seu primeiro contato com o órgão regulador. Nessa situação, seu

requerimento será convertido em imunidade condicional, se o Conselho da Concorrência concluir

que o requerente forneceu informações suficientes, e o candidato poderá se habilitar à obtenção

de imunidade condicional de acordo com as condições estabelecidas nas regras sobre leniência.

A imunidade condicional é concedida quando estiverem reunidas as

seguintes condições:

(1) o requerente fornece as informações ao Conselho da Concorrência

antes de a investigação ter sido iniciada;

(2) o requerente é o primeiro a fornecer tais informações;

(3) o requerente apresenta todos os documentos e informações em seu

poder relacionados ao acordo anticoncorrencial e coopera com o Conselho da Concorrência

durante a investigação;

(4) o requerente não coagiu outros a participarem do acordo

anticoncorrencial e não instigou a celebração do referido acordo.

A exigência de apresentação de todos os documentos e informações a

respeito dos acordos anticoncorrenciais é cumprida quando a informação permite que o Conselho

da Concorrência possa realizar uma investigação específica ou constatar a ocorrência da infração.

É também indispensável que o candidato admita sua própria participação em um cartel ou outra

modalidade de acordo anticoncorrencial. O requerente também assume a obrigação de cooperar

de forma sincera, integral e ágil com o Conselho da Concorrência durante toda a investigação. De

acordo com as regras sobre leniência, o Conselho da Concorrência é obrigado a decidir sobre a

concessão ou rejeição de imunidade condicional no prazo de 30 dias desde a apresentação de um

pedido de leniência que preencha todos os requisitos.

Page 83: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

83

Se a imunidade condicional já tiver sido concedida, quaisquer candidatos

subsequentes serão informados de que ela não está mais disponível. No entanto, os requerentes

posteriores serão informados sobre a possibilidade de obter redução condicional da multa.

8. Confidencialidade e renúncia à confidencialidade

Requerimentos de senha e pedidos de leniência são cobertos por sigilo

particularmente rigoroso. No entanto, como na Lituânia a senha é disponibilizada também para

os requerentes posteriores, o Conselho da Concorrência informará os candidatos sobre se a senha

de imunidade ainda está disponível, em razão de que a senha em si (não a identidade do

requerente) não se sujeita a confidencialidade. Também é preciso ressaltar que os envolvidos não

têm acesso aos documentos relacionados com o processo de concessão de senha, tendo em vista

que o respectivo requerimento não é integrado aos autos.

Quando os candidatos apresentarem requerimentos simultaneamente em

várias jurisdições, o Conselho da Concorrência poderá pedir uma renúncia à confidencialidade

para discutir as informações do requerimento e promover o intercâmbio com os demais órgãos

reguladores. Isso permitirá que o Conselho da Concorrência investigue o cartel ou outro acordo

anticoncorrencial de forma mais eficiente. No entanto, o órgão regulador não precisou lidar com

esse problema até o presente momento.

9. Experiência da Lituânia com o sistema de senhas e alterações promovidas em seu

âmbito

Apesar do programa de leniência da Lituânia prever a concessão de

senha, até agora o Conselho da Concorrência concedeu apenas uma senha, em 2013, desde a

adoção das regras sobre leniência em 2008.

Desde a adoção das regras sobre leniência, o sistema de senhas não foi

alterado e o órgão regulador não cogita modificá-lo.

MÉXICO

O programa de leniência da Comissão Federal para a Competição

Econômica (COFECE) vem constituindo uma bem sucedida luta interna contra a prática de

cartel, entre outras ferramentas de detecção e investigação à disposição da referida Comissão.

O programa de leniência fornece a oportunidade para as companhias

envolvidas em um cartel exporem a conduta anticompetitiva e reduzirem ou evitarem sanções. A

política do “primeiro a abrir a porta” incentiva os integrantes de cartel a confessarem suas

próprias condutas e oferecerem evidências a respeito.

Isso significa que o primeiro requerente apto é contemplado ou com a

Page 84: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

84

imunidade condicional em relação a multas ou com uma senha, nesse último caso até mesmo com

base em evidências incompletas.

Uma senha é a garantia fornecida pela Comissão a um requerente para

preservar a posição cronológica de suas informações. A posição na fila de quem pede uma senha

é reservada por um período limitado de tempo sob a condição de que o requerente forneça mais

informações em determinado prazo. Assim, a senha garante ao requerente segurança e clareza em

relação aos seus interesses.

O sistema é considerado o melhor instrumento entre agências voltadas a

preservar o mercado competitivo ao redor do mundo, uma vez que viabiliza o alcance das metas

atreladas à implementação do programa de leniência. Esse sistema encoraja as firmas não apenas a

confessar seu comportamento anticompetitivo; também promove uma “corrida” para recorrer à

Comissão entre os integrantes do cartel. Informações relevantes são obtidas dessa forma

antecipadamente e de acordo com padrão de qualidade previamente estabelecido.

A presente exposição tem como objetivo fornecer: (1) uma breve visão

sobre a agência mexicana voltada ao controle do mercado competitivo e sua fundamentação legal;

(2) uma introdução sobre o programa mexicano de leniência, incluindo a obrigação de

confidencialidade em seu âmbito; (3) os objetivos do sistema de senhas mexicano; (4) as

principais características do sistema; (5) o esboço do procedimento exigido para se obter uma

senha; e, finalmente, (6) conclusões relativas à experiência concreta desde a implantação do

sistema de senhas.

1. Arcabouço

A estrutura legal mexicana relativa a imunidade e leniência tem sofrido

várias alterações relevantes voltadas a seguir as melhores práticas internacionais. De modo

sucinto, tais mudanças abrangem:

a) A introdução de um programa de leniência (2006). O mais

importante acréscimo incorporado às alterações da Lei Federal sobre Competição Econômica

relativa a carteis foi a introdução de um programa de leniência. Tais alterações foram desenhadas

conferindo-se atenção especial às melhores práticas internacionais e substancialmente garantindo

para o México ferramentas essenciais para o enfrentamento de carteis. Antes disso, a Comissão

aplicava de forma discricionária a redução de penas em casos de cooperação de agentes

envolvidos em investigações em andamento.

b) O fortalecimento do programa de leniência (2011). Em relação a

investigações da prática de cartel, a agência passou a dispor, após 2011, de competência para

executar inspeções sem aviso prévio. Além disso, foi ampliado o rigor das sanções previstas na

legislação relacionadas a violações do mercado competitivo. Essas alterações aumentaram o risco

das empresas no sentido de serem descobertas e resultaram na previsão de multas administrativas

Page 85: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

85

mais rigorosas e sanções de natureza criminal para os infratores. Antes das reformas, a Comissão

era obrigada a divulgar investigações relacionadas às empresas com antecedência. Além disso, a

Comissão só poderia apreender documentos que haviam sido previamente especificados. A

reforma de 2011 suprimiu essa restrição.

c) A reforma constitucional de 2013: a política mexicana de

proteção do mercado competitivo. A COFECE foi instituída como uma entidade nova e

autônoma com amplos poderes de coação. Isso garante a competição e o livre acesso aos

mercados e previne, investiga e enfrenta práticas anticompetitivas que dificultam a eficiência do

mercado e o bem-estar do consumidor. A reforma também criou o Instituto Federal de

Telecomunicações (IFT), provendo-o de completo arsenal regulatório, incluindo aspectos

relacionados à garantia de concorrência no que diz respeito às telecomunicações e à radiodifusão.

d) Decreto que regulamenta a Lei Federal sobre Competição

Econômica (FELC) (2014). A FELC assegurou o aperfeiçoamento de aspectos abordados na

legislação anterior, tais como a natureza dos acordos horizontais, o poder do mercado, fusões e

restrições ao crescimento vertical. No entanto, também introduziu novos mecanismos de coação,

tais como ferramentas essenciais, intervenções em propriedades e condições de investigação do

mercado, assim como novas regras e procedimentos, alinhados com as melhores práticas, a

respeito do devido processo e dos direitos processuais para as partes.

Como resultado, o programa de leniência tem sofrido mudanças que

contribuíram para uma melhor compreensão dos princípios e incentivos inseridos em seu âmbito,

bem como para sua utilidade e eficácia em relação ao esforço de detectar a atividade de cartel.

2. Introdução ao programa de leniência mexicana e à sua estrutura normativa

Conforme se mencionou anteriormente, o programa de leniência

mexicano foi introduzido em 2006. Apesar disso, apenas recentemente se viu municiado para ser

bem utilizado e efetivo na detecção e na investigação tanto de carteis nacionais quanto

internacionais.

Como na praxe internacional, ser aceito no programa implica, no México,

em imunidade total ou parcial de multas administrativas e de sanções criminais que poderiam

resultar da prática de irregularidades. A imunidade é concedida à firma que encerra sua

participação no cartel e fornece evidências relevantes, precisas e completas à autoridade

encarregada de preservar a competividade.

A estrutura regulatória do programa é a seguinte: (1) a Lei Federal sobre

Competição Econômica (FELC44

), que estabelece os propósitos gerais, os incentivos, as regras e

44 Considerando-se apenas a Lei Federal sobre Competição Econômica publicada em maio de 2014. Desde essa ocasião se implementaram nove procedimentos, dois deles nos termos da nova lei.

Page 86: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

86

as condições relacionadas ao programa; (2) o regulamento da FELC, que especifica a

interpretação e a aplicação do estatuto e busca fornecer às partes interessadas um conhecimento

seguro e abrangente da lei na elaboração de seus requerimentos45

; e (3) o manual do programa de

leniência, que oferece uma explicação simplificada para os requerentes e as partes interessadas.

A COFECE é obrigada a divulgar os critérios por meio dos quais

processa e decide requerimentos apresentados no programa de leniência. O novo manual deve ser

submetido a consulta pública e reunirá as práticas e experiências já levadas a termo pela

COFECE.

As características mais relevantes do programa de leniência são as

seguintes:

- o interessado pode obter imunidade total nos termos do programa de

leniência se ele ou ela for o primeiro a noticiar à Comissão a existência do cartel. O requerente

também deve fornecer informações suficientes sobre a conduta ilegal. Se essas condições

estiverem presentes, o requerente será contemplado com a primeira senha. O segundo requerente

pode conseguir reduções de 50% se todos os requisitos e condições forem cumpridos. Tal como

anteriormente mencionado, qualquer pessoa que de alguma forma facilita ou comanda a

implementação de um cartel ou dele participa pode enfrentar um processo criminal.

Consequentemente, o escopo do programa também contempla a imunidade criminal que pode ser

concedida de acordo com a posição da senha;

- se concedidos, aqueles benefícios implicam em que o requerente deve

prover a COFECE com as informações e as evidências por ela demandadas acerca da conduta

ilícita. Além disso, a informação fornecida deve permitir que a COFECE inicie uma investigação

ou presuma a existência do cartel;

- qualquer agente, indivíduo ou corporação, pode tentar obter uma senha:

- a identidade do requerente é uma informação classificada como

estritamente confidencial;

- os benefícios do programa ficam disponíveis apenas para a prática

horizontal de carteis. Os benefícios são concedidos condicionalmente, assim, uma cooperação

contínua e completa, além do encerramento da conduta, são exigidas do requerente;

- os requerimentos podem ser apresentados a qualquer tempo antes do

término da investigação.

45 As normas regulamentares são emitidas pela COFECE.

Page 87: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

87

3. Confidencialidade

O programa mexicano de leniência determina que a identidade dos

requerentes seja estritamente confidencial. Por essa razão, a todos os requerentes é atribuído um

código que os identifica. A praxe da COFECE consiste em fazer os maiores esforços e diligências

para manter essas identidades confidenciais e isso também se aplica à identidade das partes

interessadas, independentemente de se elas dispõem de uma senha ou não.

Dessa forma, todos os registros e contatos com os agentes da COFECE

são classificados como informação confidencial em relação às quais somente determinados

agentes podem ter acesso. Da mesma forma, o requerente não pode divulgar informação

apresentada à agência.

Em razão dessa circunstância, a COFECE não pode compartilhar

informações com outras agências, a menos que o requerente conceda uma autorização por

escrito. Essas renúncias à confidencialidade são comumente utilizadas pela agência,

principalmente em relação a carteis de alcance internacional. Apesar da ausência de regras formais

relativas ao respectivo uso, a COFECE tem seguido as melhores práticas internacionais quanto a

esse aspecto e tem estimulado os interessados a renunciarem com a maior extensão possível, com

o intuito de permitir que a agência coopere com outras instituições de mesma finalidade.

A renúncia deve identificar quem forneceu e quem recebeu a informação,

o propósito do requerimento, a natureza da informação que está sendo liberada e as condições

para o gerenciamento dessa informação.

O propósito visado com a adoção do sistema de senhas pelo

México. O objetivo inicial do programa reside em estimular uma disputa pela apresentação de

confissões entre os participantes do cartel perante a agência. Essa estratégia se materializa por

intermédio da diferença na redução de multas, benefício disponibilizado para diferentes

requerentes de acordo com a ordem cronológica em que os requerimentos tenham sido

apresentados. O sistema de senhas foi instituído pela primeira vez em 2007 e é considerado

atualmente um aspecto essencial do programa de leniência.

Durante anos o sistema de senhas tem sido colocado à prova e

atualmente os resultados têm permitido à COFECE identificar claramente seus propósitos e

vantagens como sendo as seguintes: (1) estimular uma corrida para contatar a agência e revelar a

ilicitude, utilizando-se para tanto a preservação do lugar dos requerentes na fila enquanto reúnem

informações e documentos relacionados à ilicitude; (2) fornecer segurança aos potencialmente

interessados, garantindo-se, com essa finalidade, que qualquer um tenha a mesma oportunidade

de assegurar um lugar na fila por leniência e permanecer nele, mantendo-se o interesse dos

requerentes subsequentes em também conseguir uma senha; (3) gerar uma primeira oportunidade

para os interessados demonstrarem boa-fé perante a agência; e (4) permitir que a Comissão limite

Page 88: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

88

o tempo em que poderá considerar um requerimento como sério e comprometido.

4. Características da senha

Embora o código de regulamentos da Lei Federal sobre Competição

Econômica mencione a senha, não há uma definição explícita do instrumento conhecido como

senha ou sobre o momento em que ela se constitui, no código ou em qualquer outra estrutura

regulatória anteriormente mencionada.

Entretanto, na prática, a Comissão compreende a senha como o período

entre o momento em que o código é atribuído ao requerente e o primeiro encontro entre os

agentes da COFECE e o requerente.

Conforme anteriormente mencionado, uma senha indica o período em

que o requerente pode assegurar seu lugar e a preferência cronológica na fila de requerimentos.

Os parágrafos a seguir realçam as principais características do conceito de senha.

4.1 Disponibilidade da senha

O programa somente é aplicado em caso de conluio ou da prática de

carteis mais graves. De acordo com o FECL, práticas graves de cartel residem na fixação de

preços, na fraude em licitações, no compartilhamento de mercados ou na troca de informações

com o objetivo ou o efeito de qualquer das condutas anteriormente mencionadas entre

competidores. Não obstante, a disponibilidade da senha é determinada pelo produto ou serviço

afetado, não pela conduta.

O programa de leniência mexicano não limita o número de

requerimentos ou de requerentes por produto ou serviço. Isso significa que a senha pode ser

disponibilizada para qualquer um e todos os requerentes – o primeiro e os subsequentes – podem

obter uma senha.

A única restrição no sentido de se obter senha diz respeito ao momento

em que o pedido é apresentado, uma vez que os requerimentos só podem ser apresentados antes

da conclusão da investigação a que se refiram, se houver alguma.

4.2 Habilitação e requisitos

Qualquer um, indivíduo ou corporação, que faça parte de um cartel e se

interessar em obter leniência pode ser habilitado a ser contemplado com uma senha se cumprir

alguns requisitos básicos. A participação na ilicitude deve ser direta – pela execução dos acordos –

ou indireta – pela promoção ou pela sua execução.

Para obter uma senha é necessário submeter um requerimento por

correio de voz ou por mensagem eletrônica. O processo é simples e a COFECE exige um padrão

modesto de informações referentes ao cartel para a obtenção de uma senha. Para ser admitido,

Page 89: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

89

um pedido de leniência deve incluir:

1) a afirmação de que o requerente está interessado em ser admitido no

programa;

2) a identificação do requerente;

3) informações sobre contato do requerente para que possa ser

encontrado; e

4) o mercado e/ou os bens ou serviços que são provavelmente afetados

pela conduta ilegal.

Quando a informação não for suficiente para determinar se outro

requerimento já foi submetido em relação ao mesmo produto, mercado ou conduta e a COFECE

não for capaz de atribuir um lugar na fila, a Comissão pode requerer informações adicionais, tais

como o período ou a duração da conduta, ou a área geográfica possivelmente afetada.

Se as informações estiverem completas, o requerimento será admitido.

Entretanto, a falha no cumprimento de qualquer dos requisitos pode resultar na rejeição do

requerimento.

Uma vez admitido, um código alfanumérico é atribuído ao requerimento

e ao requerente. Esse procedimento significa que o requerente foi contemplado com uma senha e

passa a ser considerado oficialmente como um requerente e candidato a tratamento leniente. O

código é fornecido ao requerente por telefone ou por mensagem eletrônica, dependendo da

forma de contato que ele tenha estabelecido com a COFECE.

A senha tem como intuito ser usada pelo requerente para reunir e

organizar todos os documentos e informações que serão entregues à COFECE. É importante

esclarecer que a COFECE não exige a formalização de uma investigação interna.

Ainda que o requerente obtenha a senha, etapas adicionais devem ser

cumpridas para que, ao cabo, receba leniência condicional.

4.3 Flexibilidade

Uma vez que não há regra expressa sobre a duração de uma senha, a

agência mexicana determina essa variável caso a caso, levando em conta os detalhes peculiares de

cada situação e as justificativas que o requerente apresenta em seu pedido de obtenção de senha.

Para essa finalidade, a Comissão publicou um Manual do Programa de Leniência46

.

46 Disponível (apenas em espanhol) no endereço http://189.206.114.203/images/stories/Documentos/guias/Guia_programa_de_ inmunidad_Marzo2013.pdf .

Page 90: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

90

Esse documento é usado pela agência e pelos requerentes como uma

referência nesse e em outros assuntos. O Manual determina que o sistema de senhas deve ter uma

duração limitada e razoável. Ele não estipula, entretanto, uma quantidade específica de dias. Na

prática, um período “razoável” de tempo para conceder uma senha varia entre 30 e 60 dias,

dependendo da complexidade da conduta relatada. Essa faixa de tempo tem se provado

consistente ao longo dos anos.

Em situações extraordinárias, a senha, a critério da COFECE, pode ter

sua duração prorrogada se o requerente apresentar solicitação com esse intuito.

Deve ser agendada uma reunião com o requerente logo após a expiração

do prazo de validade da senha.

5. Após a obtenção da senha

A COFECE e o requerente habilitado devem agendar uma reunião assim

que a senha expirar. Durante essa reunião o requerente deve fornecer à COFECE todas as

informações e documentos – como elementos de convicção – relativos à conduta por ele relatada.

Esses documentos e informações permitirão que a COFECE inicie uma

investigação a respeito ou presuma a existência do cartel. Não há um rol específico para as

informações e documentos que o interessado deve fornecer, a despeito de alguns exemplos de

informação que o requerente é instado a exibir: uma descrição detalhada dos bens ou serviços

envolvidos e a delimitação do mercado ou da indústria, a identificação dos demais integrantes, a

confissão no sentido de ter feito parte da ilicitude e uma descrição detalhada do cartel, dos

acordos e dos mecanismos de funcionamento do cartel, a área geográfica visada pela conduta e os

documentos que dão suporte às declarações do requerente.

Depois da reunião, a Comissão dispõe de um período limitado de tempo

para avaliar as informações fornecidas e deliberar sobre sua adequação. Se a informação for

adequada, sustentável e suficiente, o requerente será contemplado com leniência condicional. Se

não for o caso, o requerente será desligado do programa e todas as informações e documentos lhe

serão devolvidos. Se isso ocorrer, a senha reservada ficará disponível para o próximo requerente.

Após esse ponto e na linha da lei e das melhores práticas internacionais,

o requerente deve cooperar integralmente com a COFECE ao longo dos seus procedimentos,

provê-la com todas as evidências que estiverem sob seu domínio e encerrar sua participação na

ilicitude imediatamente, com o intuito de consolidar a leniência. A COFECE é a única autoridade

habilitada a conceder imunidade.

6. Conclusão: algumas experiências com o sistema de senhas

Ao longo dos anos, o programa de leniência tem comprovado sua

efetividade como um instrumento para investigação de carteis e para a aplicação da legislação

Page 91: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

91

mexicana relativa à competitividade dos mercados. O sistema de senhas tem sido um verdadeiro

pilar do programa. O sistema de senhas assegura segurança e clareza ao público e aos potenciais

requerentes por garantir que qualquer um tenha a mesma chance de assegurar um lugar e nele

permanecer na fila de interessados em leniência.

Pode ser impraticável esperar que os requerentes que postulam leniência

completem uma investigação consistente sobre a conduta alegada antes de requererem leniência.

O melhor aspecto do sistema de senhas reside no fato de que ele é levado a termo sem que se

exijam todas as informações que seriam necessárias para completar o requerimento.

Convém destacar que cinco investigações nos últimos três anos foram

efetivadas com mais de um requerente. Enfatizar esse aspecto é útil para manter o interesse de

um segundo ou dos subsequentes interessados em obter uma senha. Além disso, todos os

requerentes em potencial podem obter mais informações para auxiliá-los a considerar se pedirão

por uma senha, o que significa que eles dispõem de condições para tomar decisões estratégicas.

Como resultado, os requerimentos submetidos e as informações fornecidas à COFECE são mais

completas e sustentáveis ao se iniciar uma investigação. Para a COFECE, o sistema também ajuda

a dispensar os requerimentos menos substanciais e os requerentes sem compromisso. Como

consequência, os recursos do programa, incluindo tempo e pessoal, são mais bem alocados.

No que diz respeito à extensão da senha, a experiência tem ajudado a

criar regras para concedê-la. Mas a experiência demonstra claramente que esse período deve ser

curto, para não deixar em desvantagem outros potenciais requerentes e para assegurar que a

investigação de um caso possa ser efetivada rapidamente.

À vista desses fatos, tanto o sistema de senhas quanto o programa de

leniência permanecerão como se encontram. O próximo passo, incluído no plano estratégico da

COFECE para 2014-2017, reside em divulgar o Manual do Programa de Leniência, que inclui

experiência e as melhores práticas. Esse documento será submetido ao público neste ano.

POLÔNIA

O programa de leniência polonês encontra-se em vigor desde 2004. O

sistema de senhas foi introduzido nos regulamentos de leniência do país em 2009 e as principais

regras de execução do sistema não foram, até o momento em que se redigiu a presente exposição,

alteradas. No entanto, em 18 de janeiro de 2015 as alterações na lei polaca sobre a concorrência e

a defesa do consumidor entrariam em vigor47

. De acordo com essas alterações, o órgão regulador

da concorrência polaco (a UOKiK) adquire competência para impor sanções pecuniárias em caso

de infrações ao direito da concorrência não só contra empresas (como na legislação anterior), mas

47 Nota do tradutor: como o texto foi redigido em dezembro de 2014, a versão original se refere às novas regras no futuro do presente.

Page 92: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

92

também sobre a categoria específica de pessoas referidas na lei como envolvidas na "execução de

funções gerenciais” ou “pertencentes ao corpo executivo da empresa". Como resultado, o

programa de leniência da Polônia, incluindo a senha, torna-se aplicável tanto às empresas quanto

aos indivíduos.

1 - Arcabouço

A senha é uma parte do programa de leniência polonês criado por

regulamentos específicos ("os regulamentos de leniência"), cujas diretrizes foram emitidas pela

UOKiK. Elas podem ser encontradas no portal eletrônico da agência (www.uokik.gov.pl).

Os regulamentos preveem senhas de leniência tanto para candidatos à

imunidade quanto para os que requerem redução de pena (ou seja, há uma senha para o primeiro

postulante e para os candidatos subsequentes). O principal objetivo da senha reside em proteger a

posição do requerente na fila de leniência durante um determinado período de tempo, para que

possa reunir as informações e os elementos necessários para obter o volume de provas exigido

para concessão de imunidade ou para redução de multa. Na prática, a senha permite à empresa

apresentar um pedido de leniência abreviado se, no momento da apresentação desse pedido, não

possuir todas as informações necessárias. O pedido simplificado garante à empresa um lugar na

fila de leniência se e somente se as informações forem completadas. A UOKiK determina, em

cada caso, o escopo das informações e das provas necessárias para aperfeiçoar o pedido.

De acordo com os regulamentos de leniência, o pedido de senha deve

conter uma descrição geral do acordo, indicando, no mínimo, o seguinte:

- as partes envolvidas e a violação alegada;

- os produtos ou serviços aos quais o acordo se refere;

- o território abrangido pelo acordo;

- o objetivo do acordo;

- a duração do acordo;

- os nomes e as posições oficiais das pessoas que desempenharam

funções significativas no que diz respeito ao acordo;

- se um pedido de imunidade ou de redução de multa também foi

apresentado às autoridades de defesa da concorrência da União Europeia, dos Estados-Membros

ou da Comissão Europeia.

A senha é automaticamente concedida na medida em que a apresentação

do respectivo pedido contiver os requisitos previstos para assegurar o lugar na fila de leniência.

Ao mesmo tempo, a UOKiK dispõe da prerrogativa de avaliar se o candidato cumpriu de fato

esses requisitos. No entanto, ela não informa imediatamente o requerente que foi concedida a

Page 93: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

93

senha; essa providência é adotada apenas quando o requerente aperfeiçoa o pedido.

O prazo para o aperfeiçoamento do requerimento é determinado pela

UOKiK de forma casuística. Geralmente é fixado em algumas semanas. O requerente pode pedir

prorrogação do prazo, em casos justificados, mas a UOKiK não pode recusar esse pedido. O

requerimento concluído dentro do prazo é considerado como tendo sido apresentado na data de

apresentação do pedido de senha. A UOKiK, em seguida, avalia o requerimento concluído e

decide se o candidato reuniu os elementos de prova necessários para concessão de imunidade ou

redução de multa e se deve ser concedida imunidade condicional ou tratamento leniente. O

candidato que não completar seu requerimento perde o lugar na fila de leniência (a UOKiK não

concede a senha) e não poderá obter leniência condicional.

No que diz respeito à confidencialidade dos pedidos de senha e de

renúncia a essa confidencialidade, o regulamento de leniência polonês48

atualmente prevê regras

gerais aplicáveis aos documentos e às concessões de leniência, incluindo os pedidos de senha.

Como regra geral, apenas as partes em litígio têm acesso às informações e elementos de prova

recebidos pela UOKiK no âmbito do procedimento de leniência (incluindo o pedido de senhas);

no entanto, o acesso só é permitido na fase final do processo, antes da decisão ser emitida. Esta

regra não é aplicada, e as informações e as provas podem ser acessíveis às outras partes do

processo, se o requerente concordar, por escrito, em disponibilizar as informações e elementos de

prova apresentados perante a UOKiK. Além disso, de acordo com as alterações mencionadas no

início desta exposição49

, os documentos que contiverem a declaração do candidato à leniência ou

à obtenção de senha podem ser copiados por outra parte do processo se o requerente consentir

por escrito. O envolvido pode fazer anotações, desde que se comprometa a utilizar as

informações obtidas desse modo unicamente para o processo em curso na UOKiK ou no

Judiciário, nesse último caso se decorrente da apreciação de recurso movido nessa instância

contra a decisão da UOKiK.

Atualmente, os pedidos de leniência só podem ser apresentados por

escrito, mas a UOKiK tem considerado requerimentos verbais, inclusive voltados à concessão de

senha, sem exigir assinatura prévia, se forem gravados. Nesse contexto, o requerente pode

apresentar o pedido oralmente, mas um agente da UOKiK deve gravá-lo e apor a data e a hora no

respectivo registro. Tanto o agente da UOKiK quanto o requerente devem apor suas assinaturas

após a concretização desse registro.

2. Experiência polonesa com o sistema de senhas e conclusões a respeito

Desde 2009, quando o sistema de senhas foi introduzido com os

regulamentos de leniência poloneses, a UOKiK recebeu 11 pedidos de senha, que constituem

27% de todos os pedidos de leniência (houve 41, ou seja, 11 pedidos de senha e 30 requerimentos

48 Art. 70 da lei de concorrência e proteção do consumidor. 49 Art. 70.4 da lei de concorrência e proteção do consumidor em seu formato alterado.

Page 94: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

94

de leniência). Isso mostra que o sistema de senhas é popular entre os candidatos. No entanto, a

UOKiK rejeitou três requerimentos de senha, com o fundamento de que os alegados acordos

anticoncorrenciais já tinham expirado e os outros dois porque eles não contemplavam os

requisitos exigidos para concessão de imunidade ou de tratamento leniente. A esses dois últimos

candidatos, não poderia ter sido concedida imunidade ou leniência. Outra questão em relação aos

pedidos de senha é que nenhum deles foi submetido à UOKiK antes da investigação, que é o

cenário mais esperado, porque pode levar à descoberta de forma eficaz dos acordos

anticoncorrenciais.

A UOKiK reconhece que o principal benefício ligado ao sistema de

senhas reside em seu potencial para aumentar a disposição dos envolvidos no sentido de procurar

o órgão regulador e permitir que o requerente apresente seu pedido com base em informações

muito limitadas, ou seja, logo que toma conhecimento da infração e antes que possa ter sido

concluída uma investigação interna. Este incentivo extra oferece um alto grau de segurança,

especialmente para o destino do primeiro interessado na investigação posterior, uma vez que ele

pode, em uma fase inicial, garantir sua posição na frente da fila de leniência, sem apresentar um

requerimento completo. Como resultado, o sistema de senhas encoraja requerimentos e pode,

portanto, ter um efeito destabilizador nos acordos alcançados. Além disso, a senha pode criar um

incentivo para que os envolvidos se candidatem à imunidade, uma vez que aumenta a segurança

jurídica desde uma fase precoce e promove a cooperação espontânea igualmente precoce. No

entanto, a fim de atingir este objetivo, os critérios segundo os quais a autoridade avalia o

requerimento devem ser claramente estabelecidos nos regulamentos de leniência e não tão

detalhados, para que os potenciais candidatos possam estimar com um nível suficiente de

previsibilidade se o requerimento será bem sucedido ou não, tendo em conta as informações

disponíveis. Os regulamentos de leniência poloneses especificam os requisitos para um pedido de

senha (explicitados nesta exposição), mas se um candidato potencial tem quaisquer dúvidas a

respeito destes requisitos pode contatar a UOKiK, antes de elaborar seu pedido, para pedir

esclarecimentos.

Em uma série de situações, depois de ter sido fornecida uma senha ao

primeiro requerente, a UOKiK recebeu um pedido de leniência completo com informações ou

provas que não tinham sido fornecidas pelo primeiro requerente. Isso levanta a questão de como

avaliar cada um dos requerimentos e a qual candidato deve ser concedida a imunidade. Mesmo se

o pedido de senha for concluído dentro do prazo estabelecido pelo UOKiK, ainda poderá ter

sido concluído depois do pedido de leniência completo apresentado pelo segundo requerente. No

entanto, em razão do primeiro requerente ter decidido fornecer à UOKiK informações sobre o

cartel, deve ser concedido a ele o primeiro lugar na fila de leniência, ao lado da imunidade

condicional. Estas situações levam à conclusão de que a UOKiK deve basear a avaliação de tais

requerimentos, incluindo os pedidos de senha, na existência da prática de cartel e em outros

requisitos especificados nas normas de imunidade, tais como a falta de informação ou a negativa

Page 95: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

95

às solicitações do órgão regulador. Por outro lado, as senhas não devem ser negadas por razões

não relacionadas com a avaliação do próprio requerimento (por exemplo, a apresentação de um

pedido completo por um requerente posterior ou a suposição de que outras empresas poderiam

estar dispostas a apresentar um pedido completo). A recusa para conceder a senha deve ser

baseada em razões objetivas, como a incapacidade de atingir os elementos de prova necessários à

comprovação da prática abusiva.

A UOKiK também reconhece que poderia haver algumas desvantagens

para o programa de leniência como resultado de um sistema de senha que previsse a concessão de

senha para todos os requerentes de leniência, ou seja, os destinados à obtenção de imunidade e de

redução de multas. A disponibilização de senhas para os requerentes de imunidade pode acelerar a

investigação do cartel e beneficiar a autoridade, especialmente se ela ainda não possuir qualquer

conhecimento sobre o conluio. Em caso de disponibilidade de senhas não só para os candidatos a

imunidade, mas também para os candidatos a multas reduzidas, existiria o risco de apresentação

de pedidos de má qualidade, que não contribuem para a investigação. Além disso, a experiência

prática mostra que na sequência ou até mesmo durante a inspeção da UOKiK pode haver vários

pedidos de leniência, incluindo pedidos de senha apresentados em um curto período de tempo.

Os pedidos de redução de multas são avaliados com base no seu valor no momento em que o

pedido é apresentado. Por conseguinte, é difícil para a UOKiK processar e avaliar eficazmente

duas ou mais senhas para redução solicitadas de forma simultânea.

PORTUGAL

O Programa de Leniência português inclui um sistema de senhas. Esse

sistema vigora em Portugal desde a adoção do primeiro programa de leniência em 2006.

O programa de leniência português foi criado pela Lei nº 39/2006 de 25

de Agosto ("Lei nº 39/2006") e as regras processuais aplicáveis constavam do Regulamento n°

214/2006, de 22 de novembro ("Regulamento n.º 214/2006 APC") da Autoridade Portuguesa de

Concorrência ("APC").

Essas regras prevaleceram até 2012, quando uma nova lei da

concorrência entrou em vigor (Lei nº 19/2012, de 8 de Maio), que revogou a Lei nº 39/2006 e o

Regulamento nº 214/2006 APC.

1. Arcabouço

O atual programa de leniência faz parte da Lei da Concorrência

Portuguesa (capítulo VIII – arts. 75 a 82) e novas regras processuais aplicáveis aos requerentes de

leniência foram aprovadas pela APC por meio do Regulamento nº 1/2013 APC, de 03 de janeiro

("Regulamento nº APC 1/2013"). O sistema de senhas está atualmente previsto no art. 4 (1) a (4)

Page 96: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

96

do Regulamento nº 1/2013 APC.

Um dos principais objetivos da reforma de 2012 do programa de

leniência consistiu em promover um melhor alinhamento de seus termos com o Programa

Modelo de Leniência da Rede Europeia da Concorrência (CEN). Uma das mudanças mais

relevantes consistiu no aumento da flexibilidade na definição do prazo para a complementação do

requerimento, especialmente para permitir uma boa cooperação entre as autoridades de

concorrência no âmbito da CEN, conforme descrito a seguir.

Outra inovação importante reside na possibilidade aberta aos requentes

de leniência para apresentarem os seus pedidos sob forma oral, a fim de assegurar uma proteção

adequada da revelação do cartel em processos de indenização cível.

Além disso, a segurança jurídica para os candidatos a respeito do

funcionamento do sistema de senhas foi aumentada, assim como outras inovações foram

introduzidas no Aviso publicado pela APC.

A senha é disponibilizada para candidatos a leniência50

que buscam

imunidade total (candidatos tipo 1) e/ou uma redução da pena (candidatos tipo 2)51

.

Informações relacionadas com o programa de leniência português podem

ser encontradas no portal eletrônico da APC, incluindo a legislação pertinente e o referido Aviso,

em português e em inglês52

.

Além disso, a APC publicou uma brochura sobre leniência chamada

"PARE. Seja bravo"53

e organizou um evento em turnê sob o lema "Fair Play"54

que abrangeu

várias cidades de Portugal, de outubro a dezembro de 2014, por meio do qual buscou aumentar a

consciência sobre o programa de leniência por parte dos interessados, entre outros aspectos.

50 De acordo com o Programa de Leniência português, as empresas e os administradores de empresas podem solicitar leniência, já que ambos podem ser investigados e multados em processos administrativos relativos a carteis. O pedido de leniência por uma empresa beneficia também os seus gestores, desde que haja plena e contínua cooperação com a APC. De modo oposto, o requerimento apresentado por um indivíduo não beneficia a empresa (ver art. 79 da Lei da Concorrência Portuguesa). 51 O nível de redução da pena é determinado da seguinte forma: a) a primeira empresa a fornecer informações e elementos de prova de valor adicional significativo pode se beneficiar de uma redução de 30% a 50;, b) a segunda empresa que forneça informações e evidências de valor adicional significativo pode se beneficiar de uma redução de 20% a 30%; c) as empresas subsequentes que forneçam informações e provas de valor adicional significativo podem se beneficiar de uma redução de até 20%. Se o pedido de redução da pena for feito após a expedição da declaração de inidoneidade, as percentagens referidas serão reduzidas pela metade. Ao determinar a redução da pena, a Autoridade considera a ordem em que as informações e as provas foram apresentadas e sua relevância para a investigação e para a comprovação da infração. 52 Para informações em língua inglesa: http://www.concorrencia.pt/vEN/Praticas_Proibidas/Leniency_Programme/Pages/LeniencyProgramme.aspx. 53 Disponível em http://www.concorrencia.pt/fairplay/assets/brochuraclemencia.pdf. 54 Mais informações no endereço http://www.concorrencia.pt/fairplay/.

Page 97: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

97

2. Finalidades do sistema de senhas

A finalidade do sistema de senhas português consiste em preservar a

posição do requerente na fila de leniência, mediante a concessão de tempo adicional para que

colete informações e provas necessárias para assegurar a viabilidade do pedido de leniência.

Do ponto de vista da APC, o sistema de senhas tem a vantagem de

incentivar os candidatos a cooperar com a Autoridade, ao permitir-se que a agência seja abordada

a partir de um nível mínimo de informações.

Esse resultado é obtido através de um procedimento simplificado, que

concede aos candidatos segurança jurídica, identificando-se previamente os requisitos de

informação e prova que devem ser observados no requerimento inicial de leniência, a fim de

habilitá-los a obterem a senha.

Ao mesmo tempo, o sistema de senhas garante que os candidatos

apresentem as informações mais completas e precisas que se encontrem disponíveis, através da

concessão de prazo adicional para reunir provas. A providência fortalece os poderes de

investigação da APC, assegurando a coleta de provas suficientes para sustentar a afirmação de que

ocorreu a infração. Além disso, a APC só concederá imunidade condicional ou redução de penas

para requerimentos bem fundamentados, evitando-se a rejeição liminar de pedidos incompletos

que poderão, de fato, tornar-se uma valiosa fonte de informação.

Além disso, o sistema também visa evitar manipulação pelos candidatos.

A concessão da senha depende do fornecimento de uma quantidade mínima de informações pelo

requerente. Isso impede que os candidatos se utilizem do sistema de forma abusiva, com a

intenção de simplesmente ganhar vantagem entre os candidatos a imunidade sem a APC ser capaz

de verdadeiramente apreciar e avaliar o tipo de informação que o requerente tem efetivamente em

seu poder. Portanto, o sistema permite que o órgão regulador conceda senhas apenas quando a

viabilidade do requerimento e a cooperação correspondente com sua atuação investigativa ficam

asseguradas.

3. Características do sistema de senhas

3.1 Obtenção da senha

Nos termos do art. 4º do Regulamento nº 1/2013 APC, após a

apresentação de um requerimento de leniência, a APC pode, por sua própria iniciativa ou

mediante pedido devidamente justificado, conceder ao recorrente uma senha, estabelecendo

prazo para a conclusão do pedido de leniência.

A fim de qualificar-se para a senha, o candidato deve cumprir requisitos

de informação. O candidato deve, assim, fornecer seu nome e endereço e informações relativas

Page 98: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

98

aos participantes no suposto cartel, o produto afetado(s) e/ou serviço(s) e área geográfica(s)

coberto(s), a duração estimada do suposto cartel e sua natureza, bem como mencionar eventuais

pedidos de leniência que tenha ou pretenda apresentar a outras autoridades em relação à mesma

prática. O requerente também deve justificar devidamente o seu pedido.

Em consonância com o Programa Modelo de Leniência da Comunidade

Europeia, pedidos informais ou anônimos de leniência não serão consideradas pela APC como

capazes de habilitar o requerente à obtenção da senha. A APC pode ser abordada de maneira

informal, antes da apresentação do pedido, para a discussão de aspectos gerais do programa de

leniência ou de questões relacionadas com a infração, de forma hipotética. No entanto, a senha só

será concedida se o pedido formal for apresentado, por escrito ou oralmente.

A concessão da senha é uma decisão discricionária da APC.

3.2 Complementação do pedido

3.2.1 Prazo para complementação do pedido

Como regra geral, a APC irá conceder ao requerente de leniência um

período não inferior a 15 dias para a complementação do pedido, de acordo com as circunstâncias

de cada caso. A flexibilidade sobre o prazo para a conclusão da senha foi introduzida na reforma

legislativa de 2012, substituindo a regra anterior, em que se previa o prazo de 15 dias úteis para

que o requerente completasse seu pedido.

Além disso, o órgão regulador pode conceder ao candidato a leniência

um prazo mais longo ou mais curto, sempre que isso se justifique, por razões relacionadas com a

cooperação com outras autoridades europeias de concorrência, nos termos do Regulamento (CE)

nº 1/2003, de 16 de dezembro de 2002. A APC busca acomodar a necessidade do requerente de

leniência para ajustar seus procedimentos de coleta de evidências internas ao regime dos

diferentes sistemas jurídicos nacionais, em particular, sobre os requisitos de informação e prazos,

quando a concessão de leniência ocorre em diferentes jurisdições europeias.

Se o requerente concluir o pedido dentro do prazo concedido, a APC

considerará que o pedido foi apresentado na data e hora da recepção do pedido de senha.

3.2.2 Informações exigidas

Dentro do prazo estabelecido pela APC, o requerente de leniência deve

fornecer mais informações e provas para completar seu pedido, a fim de atingir os requisitos para

obtenção de imunidade ou redução condicional de penas.

O pedido de leniência será avaliado de acordo com os critérios legais

estabelecidos no art. 77 da Lei da Concorrência Portuguesa para pedidos de imunidade e no art.

Page 99: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

99

78 em relação a pedidos de redução.

A fim de complementar o pedido, as informações e provas fornecidas

devem incluir os dados completos e precisos do acordo ou prática concertada e as empresas

envolvidas. Também devem incluir os seus objetivos, atividades e meios de operação, o produto

ou serviço em causa, o âmbito geográfico, a duração e informações específicas sobre datas, locais,

conteúdo e participantes e todas as explicações relevantes fornecidas em apoio ao pedido de

leniência.

Além disso, outros requisitos são estabelecidos, que diferem entre si nos

casos de pedido por imunidade e por redução da pena.

Em relação à imunidade, o requerente deve revelar a sua participação no

suposto acordo ou prática de cartel, desde que seja o primeiro a fornecer informações e

elementos de prova que, na opinião da APC, permitam à agência: a) justificar o pedido de

mandado judicial para realizar averiguações, se, no momento do pedido, a APC ainda não tinha

informações suficientes para conduzir tal investigação (requerente tipo 1A); ou b) verificar se há a

constatação de uma infração, desde que no momento da apresentação do pedido a APC ainda

não tenha reunido provas suficientes para comprovar a infração (requerente tipo 1B).

No que diz respeito à redução de multas, nos termos do art. 78, as

empresas devem fornecer informações e elementos de prova da infração que representem um

valor adicional significativo em comparação com as informações e elementos de prova já de posse

do órgão regulador.

Além disso, os candidatos devem cumprir os seguintes requisitos

cumulativos, a fim de obter imunidade ou redução de multas:

a) cooperação: os candidatos devem cooperar plenamente e de forma

contínua com a APC, a partir do momento do seu pedido de leniência, e atender as seguintes

obrigações: i) fornecerem todas as informações e elementos de prova que possuírem ou que

estejam em sua posse ou sob seu controle; ii) responderem prontamente a qualquer pedido de

informação que possa contribuir para a apuração dos fatos; iii) evitarem a prática de quaisquer

atos que possam dificultar a investigação, ou seja, a destruição, a falsificação ou a ocultação de

informações ou provas relacionadas com a infração; iv) evitarem divulgar a existência ou o

conteúdo do pedido, ou a intenção de apresentar um pedido de imunidade, salvo decisão em

contrário da APC;

b) encerramento da participação no cartel: os candidatos devem encerrar

a sua participação na infração a partir do momento em que fornecerem à APC as informações e

as provas referidas no item a, salvo na medida em que for razoavelmente necessário que persistam

na prática, por orientação da APC, para preservar a eficácia da investigação; e os requerentes de

imunidade não podem também ter coagido outras empresas a participar do cartel.

Page 100: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

100

Depois que o pedido de imunidade for validado, a APC informará o

interessado se o requerimento atende os critérios, concedendo à empresa por escrito, assim,

imunidade condicional em matéria de penas.

Quanto à redução da multa, se a APC concluir que os elementos

comprobatórios inseridos no requerimento possuem um valor adicional significativo em relação

às informações e aos elementos de prova já de posse do órgão regulador, a agência deverá

informar o requerente da sua intenção de reduzir a multa, com a indicação do intervalo percentual

aplicável ao caso concreto.

A APC tomará decidirá sobre a concessão de imunidade ou de redução

da multa apenas no final do processo de acusação.

3.3 Descumprimento da obrigação de complementar o requerimento

Se o requerente não completar o pedido no prazo estabelecido, o

requerimento será rejeitado e os documentos que apresentou serão devolvidos. Os documentos

apresentados podem ser considerados como cooperação com a APC, a título de circunstância

atenuante na fixação da pena, se o requerente fizer solicitação com esse intuito no prazo de 10

dias úteis a contar da notificação da decisão tomada pela APC no pedido de leniência.

Tal sistemática também é válida para a rejeição integral do pedido de

leniência.

Se a APC verificar, após análise do pedido, que o pedido de imunidade

não foi contemplado devido a uma falha no cumprimento das condições, informará o requerente

a respeito por escrito. Se o pedido de imunidade for rejeitado, o requerente tem 10 dias, a partir

da notificação da decisão do órgão regulador, para retirar a sua candidatura e os elementos de

prova divulgados ou para solicitar ao órgão regulador que os considere para os efeitos de uma

redução da multa. O mesmo se aplica aos pedidos de redução de multas, se a APC concluir

expressamente que as provas apresentadas no pedido não possuem um valor adicional

significativo em comparação com as informações e elementos de prova que já detiver.

A cooperação prestada durante todo o processo do requerente que não

se habilitou para a imunidade ou para redução da multa será considerada na determinação do

montante da pena, nos termos do art. 7.º do Regulamento nº 1/2013 APC e no artigo 69 (1)

parágrafo i da Lei da Concorrência.

4. Acesso aos documentos do processo de leniência

O art. 81 da Lei da Concorrência garante a confidencialidade do pedido

de leniência, incluindo o pedido de senha, juntamente com a confidencialidade de todos os

Page 101: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

101

documentos e informações apresentados em apoio ao pedido.

O acesso por terceiros para pedidos, documentos e informações

apresentados pelo requerente só é concedido em caso de consentimento do interessado.

As partes envolvidas no processo não devem ter acesso a cópias de suas

próprias declarações orais e a terceiros deve sempre ser negado o acesso às declarações orais feitas

pelo requerente.

A APC irá conceder às partes interessadas no processo acesso aos

pedidos de leniência e aos documentos e informações quando forem notificadas para apresentar

defesa. No entanto, qualquer reprodução dos pedidos de leniência é estritamente proibido, a

menos que seja devidamente autorizada pelo requerente.

5. Considerações finais

O compartilhamento de experiências a nível internacional, notadamente

no âmbito da Rede Europeia da Concorrência (CEN) e da Rede Internacional da Concorrência

(ICN), claramente tem influenciado as opções tomadas pela APC em relação ao seu sistema de

senhas, assim como as contribuições recebidas durante a consulta pública que foi realizada antes

da adoção do Regulamento n.º 1/2013 APC.

O sistema de senhas em vigor desde a adoção do novo regulamento da

APC em 2013 é, assim, mais alinhado com o sistema de senhas previsto no Programa de

Leniência da CEN.

Em contraste com o quadro de 2006, o Regulamento nº 1/2013 APC

define claramente os requisitos mínimos necessários para um requerente de leniência se qualificar

ao recebimento de uma senha, aumentando assim o nível de segurança jurídica para os candidatos

em relação ao possível resultado do requerimento.

Além disso, um prazo flexível para a conclusão do requerimento foi

introduzido, permitindo-se uma avaliação caso a caso pela APC, levando-se em consideração as

particularidades invocadas pelos requerentes para justificar a concessão de um longo período de

tempo para permitir a apresentação de informações e provas detalhadas, assim como as

necessidades inerentes à cooperação. As alterações legislativas de 2012 provavelmente

contribuíram para um aumento dos pedidos de leniência em geral e de senhas em particular.

Desde que o sistema foi introduzido pela primeira vez em 2006, a APC

concedeu senhas em quatro dos seis casos de leniência enfrentados. Em todos esses casos, as

senhas foram concedidas a pedido dos candidatos.

O prazo concedido para a conclusão do pedido de leniência evoluiu após

a reforma legislativa de 2012. Sob o quadro processual de 2006, uma regra estrita de 15 dias úteis

era aplicada. Depois de 2012, na maioria dos casos, o tempo definido pela APC para a conclusão

Page 102: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

102

do pedido foi de 20 dias úteis.

Do ponto de vista da APC, o sistema de senhas provou ser uma forma

eficaz de atrair e desafiar os candidatos a entrar na disputa por leniência e recompensá-los por sua

cooperação, assegurando ao mesmo tempo que um material probatório adequado seja

salvaguardado a fim de garantir a eficácia do programa de leniência.

A APC está totalmente empenhada em aplicar o sistema de senhas e em

encorajar candidaturas de empresas e indivíduos dispostos a confessar a sua participação em

carteis.

REINO UNIDO

A presente manifestação foi elaborada pela Agência do Reino Unido para

Competição e Mercados (no acrônimo em inglês CMA)55

.

O Regulamento sobre Leniência editado pela CMA56

(o “Regulamento

sobre Leniência”) prevê requisitos e procedimentos aplicáveis tanto às investigações de natureza

cível contra empresas, nos termos do Estatuto de Competição editado em 1998 (Competition Act

1998), quanto às investigações de natureza criminal movidas contra indivíduos, de acordo com o

Estatuto das Empresas de 2002 (Enterprise Act 2002). O Regulamento sobre Leniência estabelece

em detalhes os mecanismos determinados pela CMA a serem observados em requerimentos

voltados à obtenção de imunidade/leniência para companhias e imunidade criminal no que diz

respeito à apresentação de denúncias contra indivíduos57

.

O Regulamento sobre Leniência prevê que a principal característica do

sistema de leniência britânico consiste na disponibilidade de senhas relacionadas à leniência na

pendência de um acordo formal voltado à concessão de leniência. Acordos de leniência em

relação a empresas e certidões de imunidade criminal quanto à apresentação de denúncias

somente são assinados nos estágios finais da investigação promovida pela CMA e a senha protege

quem a detém até então.

No sistema britânico, a senha constitui o reconhecimento formal da

apresentação de um pedido de leniência, que define a ordem de apresentação do respectivo

55 Desde 1º de abril de 2014, a CMA entrou em operação, absorvendo as funções dos órgãos predecessores, o Escritório do Mercado Livre (sigla em inglês OFT) e a Comissão de Competição (CC). 56 Regras para concessão de leniência e imunidade em casos de cartel (julho de 2013, OFT 1495). Esse regulamento foi originalmente publicado pelo OFT e depois adotado pela CMA. As orientações da CMA sobre documentação a ser apresentada podem ser encontradas no endereço www.gov.uk.cm. 57 A política geral da CMA para leniência (imunidade ou redução de penas de natureza cível) encontra-se prevista no “Regulamento da OFT sobre Definição do Valor de Penalidades” (setembro de 2013, OFT 423), que também foi originalmente editado pelo OFT e depois adotado pela CMA. A possibilidade de se conceder imunidade criminal encontra-se prevista na seção 190(4) do Estatuto das Empresas de 2002.

Page 103: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

103

requerimento e o prioriza em relação a outros de mesmo propósito. A concessão da senha deve

ser seguida de um conjunto de requerimentos subsequentes e da contínua observância das

condições para concessão de leniência, e será mantida enquanto se aguarda a assinatura do acordo

de leniência formal ou a expedição da certidão de imunidade criminal.

1. Patamar mínimo

O conjunto de regras do Reino Unido sobre o regime criminal aplicado a

carteis tem sido particularmente importante nas investigações internas voltadas a deliberações

sobre concessão de leniência, a qual deve ser efetivada com cautela e precisão e limitada aos casos

em que for necessária58

. Como consequência, o patamar mínimo para o nível de evidências e

informações previsto para obtenção da senha não é exigente: tudo que se demanda dos

interessados é uma base concreta para que se suspeite da atividade do cartel, acompanhada de

sinceridade quanto à intenção de confessar59

.

O nível inicialmente menos exigente reduz a necessidade de uma

investigação preliminar e o consequente risco de que o requerente adultere evidências, v.g. pela

alteração física ou eletrônica de provas materiais ou pela exposição de testemunhas a elementos

que desconheceriam de outra forma e que poderão influenciar as evidências por elas fornecidas.

Isso é de particular (embora não exclusiva) relevância em investigações criminais.

Constitui obrigação da CMA assegurar que as investigações criminais ou

cíveis sejam levadas a termo de acordo com um mesmo padrão. Representa, portanto, prática

normal para a CMA executar diretamente várias etapas de investigações relacionadas a

requerimentos de leniência, e da mesma forma isso é feito em relação a partes investigadas sem

base em pedidos da referida espécie. As etapas investigativas que a CMA geralmente irá ou poderá

pretender executar diretamente incluem60

:

- oitiva de testemunhas;

- preparação de testemunhas;

58 O Anexo C do Regulamento sobre Leniência fornece importantes instruções relacionadas à condução de investigações internas. 59 Ressalve-se, entretanto, que a CMA rejeitará um requerimento do tipo ”a” que não forneça à agência base suficiente para desencadear uma investigação viável ou o dos tipos “b”/”c” que não agreguem elementos novos à investigação. 60 É importante assinalar, entretanto, que as investigações feitas em relação à prática de cartel variam e essa circunstância torna desaconselhável que se listem medidas aplicáveis a todos os casos. Por exemplo, as espécies de etapas investigativas de natureza criminal podem ser mais extensas e potencialmente mais invasivas do que as efetivadas em investigações exclusivamente cíveis. Além disso, a CMA pode precisar efetivar mais procedimentos diretamente quando o requerente, sem sua culpa, não for capaz de cobrir os custos necessários para empreender uma investigação de acordo com as regras da CMA. O assunto é tratado nos parágrafos 5.25 a 5.29 do Regulamento sobre Leniência.

Page 104: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

104

- preservação, de forma segura e em juízo, de imagens ou de sons de

caráter relevante registrados em meio eletrônico. Assim como é importante viabilizar a verificação

da autenticidade de evidências eletrônicas, a CMA também pode preferir realizar inspeções nesse

tipo de material diretamente (com ou sem a assistência de consultores em TI), ao invés de apenas

aceitar os resultados das investigações sobre o mesmo material eletrônico efetuadas pelo

requerente;

- revisão de documentos originais em papel (essencial em processos

criminais, nos quais os originais serão retidos como evidências);

- inspeção física de instalações relevantes;

- apreciação da relevância de documentos específicos no âmbito de

categorias identificadas pelo requerente como potencialmente relevantes (note-se que a avaliação

da CMA sobre a relevância será informada por elementos de outras fontes, não disponíveis para o

requerente);

- revisão das apurações realizadas na empresa pelo requerente ou por

seus auxiliares.

Desta forma, estimula-se a apresentação de pedidos de leniência à CMA

tão cedo quanto for possível61

. Entretanto, a CMA admite que algumas outras agências

estabeleçam exigências mais sofisticadas62

, e que investigações mais aprofundadas possam vir a

ser necessárias, no caso de requerentes apresentarem pedidos de leniência em múltiplas

jurisdições. De fato, mesmo quando a senha é concedida, os advogados do requerente poderão

interromper seu envolvimento na investigação. Assim, é fundamental que investigações

conduzidas ou que de outra forma lidem com testemunhas sejam levadas a termo de um modo

que minimize simultaneamente o risco de alertar os envolvidos e a contaminação de provas, razão

pela qual a CMA publicou orientações detalhadas sobre investigação interna, para auxiliar os

requerentes de leniência na gestão desse risco.

Os requerentes em potencial que estiverem preocupados com o

intercâmbio entre os requerimentos de leniência apresentados perante a CMA e em outras

jurisdições podem consultar a CMA confidencialmente.

61 Convém destacar que empresas ou indivíduos que estejam cogitando apresentar requerimentos de leniência podem, antes de fazê-lo, abordar a CMA confidencialmente, com vistas a que a empresa ou o indivíduo obtenham segurança sobre determinada questão antes de se decidirem por fazer o pedido. A CMA não usará a informação recebida em consequência dessa consulta confidencial para nenhum outro propósito. Em particular, no caso de a leniência não vir a ser requerida, ou não ser posteriormente concedida à empresa ou indivíduo que pediu a orientação, a CMA não divulgará a identidade da empresa valendo-se de um processo similar ao de "engenharia reversa". A questão é abordada nos parágrafos 3.3 a 3.7 do Regulamento sobre Leniência. 62 Embora seja preciso assinalar que a exigência de informações muito detalhadas, na medida em que demandam investigações internas mais intensas, pode por em risco o sucesso das investigações em todas as jurisdições relevantes.

Page 105: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

105

2. Disponibilidade e tipos de senhas

As senhas são disponibilizadas para todos os tipos de leniência e todos os

pedidos de leniência e não são, particularmente, restritas ao primeiro requerente em relação a

determinada conduta em particular. O primeiro requerente63

a revelar e fornecer evidências sobre

o cartel, quando a CMA não tiver uma investigação preexistente acerca da conduta de cartel

revelada e não dispuser de outra forma de informações suficientes para identificar a existência da

prática ilícita, será contemplado com uma senha do tipo “a”, que o habilita a imunidade.

Senhas do tipo “b” (primeiro requerente onde há uma investigação

preexistente) ou do tipo “c” (segundo ou posterior requerente, ou quem haja coagido outros

participantes) voltadas à obtenção de tratamento leniente são discricionárias e dependem de uma

avaliação sobre se a concessão da leniência se dará em favor do interesse público. A CMA irá

tecer uma ponderação equilibrada, avaliando os benefícios de acumular provas adicionais em face

da desvantagem da concessão de imunidade ou de uma redução de penalidades que

eventualmente resultariam de uma investigação que já começou, levará em conta os recursos que

foram gastos, a hipótese de ter linhas mais frutíferas de inquérito para prosseguir e as evidências

probatórias que já possua.

O critério mais relevante para determinar a redução disponível para os

tipos “b” e “c” de pedidos por leniência será o valor como prova que caracterize o material

fornecido em decorrência do respectivo requerimento. Por tal razão, o lugar do requerente na fila

(nos termos sob os quais buscou a CMA) não será decisivo nos requerimentos do tipo “c”64

. É

possível que um interessado que seja o terceiro da fila venha a receber uma redução maior do que

outro que tenha sido o segundo a requerer. Isto posto, constitui fato comumente vivenciado pela

CMA que quanto mais à frente na fila se encontra um interessado, maior será a contribuição

proveniente de seu requerimento. Portanto, requerentes em potencial são estimulados a requerer

tão cedo quanto for possível.

3. Procedimento

Os requisitos essenciais para se conceder a senha preliminar são a

confirmação de que a empresa age com intenção sincera de confessar, e em bases concretas para a

suspeita, traduzindo-se tais requisitos da seguinte forma:

- “intenção sincera de confessar”: isso significa que deve haver a

aceitação pela empresa de que, em razão dos fatos e da lei, as informações disponíveis sugerem

63 Que não tenha coagido outros, conforme os parágrafos 2.50 a 2.59 do Regulamento sobre Leniência. 64 E apesar de o tipo “b” não possibilitar a concessão de imunidade, os requerimentos do tipo “b” apresentados em um estágio inicial da investigação da CMA possuem intrinsecamente mais probabilidade de conduzirem à concessão de imunidade corporativa e/ou imunidade penal do que requerimentos dos tipos “b” ou “c” apresentados posteriormente.

Page 106: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

106

que ela esteve envolvida em conduta de cartel, violando a proibição do Capítulo I e/ou o art. 101

do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia65

;

- “bases concretas para a suspeita de uma atividade de cartel”: isso pode

assumir diversificadas formas, inclusive, por exemplo, evidências documentais que indicam

plenamente a existência do cartel, ou informações sobre uma possível testemunha que alegue a

atividade do cartel, ou a combinação de evidências extraídas de documentos e/ou provas

testemunhais que juntas demonstrem a atividade do cartel66

.

A senha provisória (isto é, pendente de apreciação do requerimento que

reunirá todas as evidências) será considerada efetiva desde o momento em que a identidade do

requerente for divulgada à CMA. Desde esse instante, nenhuma outra senha dos tipos “a” ou “b”

será concedida para a mesma atividade de cartel, a menos que a senha precedente tenha sido

revogada posteriormente.

Uma vez que o interessado tenha descrito a conduta e sido concedida a

senha provisória nesses termos (normalmente por telefone), o requerente é instado a apresentar

um requerimento mais detalhado, via de regra em um prazo muito curto de tempo67

.

Ao examinar o requerimento com as informações adicionais fornecidas

pelo interessado, a CMA poderá adotar as seguintes decisões:

- confirmar a senha e não iniciar as investigações. Isso ocorrerá se a CMA

tiver outras prioridades para suas investigações nesse momento ou se a Comissão Europeia

estiver investigando a empresa e a CMA tiver decidido não promover investigação criminal contra

os indivíduos envolvidos. Nessa situação, a CMA comunicará ao interessado que medidas ele

precisa adotar para preservar sua senha voltada à obtenção de tratamento leniente. Se o

interessado cooperar da forma como for instruído para essa finalidade, na (improvável) hipótese

da CMA alterar a apreciação que fez de suas prioridades e desencadear uma investigação, o

interessado estará apto a prosseguir com seu requerimento no mesmo nível anterior, isto é,

protegido provisoriamente por uma senha;

- confirmar a senha e discutir os próximos passos. Se a CMA pretende

iniciar a investigação (seja criminal e/ou cível), confirmará a senha e imediatamente começará a

discutir com o interessado de que forma sua cooperação poderá ser feita;

- revogar a senha provisória. Há várias razões pelas quais, após apreciar o

requerimento complementar, a CMA pode revogar a senha. Por exemplo, a atividade descrita

pode não configurar a prática de cartel no âmbito da política sobre leniência, a informação

65 Conforme o Regulamento sobre Leniência, parágrafo 4.22. 66 Conforme o Regulamento sobre Leniência, parágrafo 4.23. 67 Conforme o Anexo D do Regulamento sobre Leniência, que contém um “checklist” das informações mínimas exigidas de quem requer leniência.

Page 107: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

107

fornecida pode não reunir as evidências iniciais (motivos razoáveis para suspeitar da prática de

cartel, no caso do tipo “a”, ou valor agregado às investigações significativo, no caso dos tipos “b”

ou “c”), ou a informação fornecida pode revelar que o interessado não tem a intenção de

confessar a prática de cartel;

- pedir mais informações antes de confirmar ou rejeitar a senha. Em

certas circunstâncias, a CMA pode solicitar mais informações antes de apreciar se o requerimento

deve ser aceito ou se o caso será priorizado para investigação. Nesse contexto, a CMA deixará

claro para o interessado quais informações adicionais quer obter e as respectivas razões.

Se a CMA confirmar a senha, normalmente comunicará por escrito ao

requerente essa confirmação68

. Um agente graduado da empresa requerente – ou, no caso do

requerimento individual, o requerente – será convocado a assinar um compromisso indicando que

o requerente aceita as condições para concessão de leniência e em particular que se compromete a

uma cooperação completa e contínua durante as investigações da CMA e nos atos delas

decorrentes executados pela agência.

A finalidade da senha ou da senha provisória pode ser ajustada em face

de emergirem mais detalhes e evidências durante o processo de investigação, e condicionará o

propósito da concessão de tratamento leniente ou da certidão de imunidade criminal, resolvidas

em uma etapa posterior da investigação.

Os acordos de leniência serão assinados em curto espaço de tempo,

antes que sejam emitidas declarações de inidoneidade em uma investigação promovida nos

termos do Estatuto de Competição, ou antes que os indivíduos sejam acusados do crime de cartel,

desde que as condições para a concessão de leniência sejam atendidas (inclusive, em particular, a

exigência de cooperação contínua e completa). Nesse momento, a CMA receberá e examinará de

forma minuciosa todas as informações que sejam relevantes para o seu processo, e, neste sentido,

estará em condições de determinar o escopo necessário e a caracterização da prática de cartel a ser

abrangida no acordo de leniência, e também o alcance da "empresa", isto é, as pessoas jurídicas

que precisam se beneficiar da proteção decorrente da concessão de leniência.

A CMA reconhece a importância da confidencialidade dos pedidos de

leniência. Com efeito, o fato de que uma empresa tenha requerido leniência normalmente não

será revelado a outra empresa até que a declaração de inidoneidade tenha sido emitida.

Entretanto, no curso da investigação da CMA é possível, direta ou indiretamente, divulgar

informações fornecidas por um requerente a terceiros que servirão como testemunha ou para os

suspeitos de envolvimento direto no cartel. Consequentemente, existe o risco de que os

envolvidos venham a concluir que tal informação foi fornecida no âmbito de um pedido de

68 A menos que o interessado tenha solicitado receber tal confirmação oralmente, hipótese em que normalmente isso será feito por meio de uma chamada telefônica.

Page 108: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

108

leniência, o que por sua vez pode revelar a identidade do requerente. No entanto, a CMA não

confirmará a existência do requerimento de leniência.

4. Senhas sem identificação de destinatário concedidas pela CMA em casos que

envolvem a Comissão Europeia

Como exceção à regra geral, a CMA cogita conceder senhas sem que o

requerente revele imediatamente sua identidade à agência, quando os representantes legais da

empresa confirmarem que ele/ela também foram instruídos a apresentar um requerimento por

imunidade junto à Comissão Europeia. A intenção que orienta essa exceção consiste em fornecer

segurança à empresa, no que diz respeito à possibilidade de se expor a risco de vir a ser

processada no Reino Unido por força de conduta imputável a qualquer um de seus atuais ou ex-

funcionários ou empregados, antes que a Comissão Europeia atue.

RÚSSIA

1. Introdução

O programa de leniência existe em diversas agências69

voltadas ao

controle da competitividade dos mercados. O programa tem um efeito positivo tanto sobre as

autoridades encarregadas da área quanto no que diz respeito a companhias que participam de

cartel. De um lado, ajuda a autoridade pública a identificar e a combater a atividade criminosa de

cartel e a coletar evidências diretas que possam confirmar a existência de práticas ilegais. De outra

parte, trata-se de um modo civilizado para causar embaraços às companhias que se envolvem na

referida prática.

Na Federação Russa, a atividade de cartel é disciplinada pela Lei Federal

denominada “Proteção da Competição” e pelo Código Administrativo da Federação Russa, que

estabelece a responsabilidade por acordos de cartel na forma de multas e de desqualificação70

.

Além disso, em circunstâncias específicas a responsabilidade criminal é prevista para indivíduos71

.

Nesse contexto, as áreas de responsabilidades estão divididas entre autoridades federais executivas

da Federação Russa: o Serviço Federal Antimonopólio (“FAS Rússia”) é responsável por

procedimentos administrativos e o Ministério do Interior pelos procedimentos criminais. Em

2008, para combater os carteis um departamento específico – Departamento Anticartel – foi

adicionado à estrutura da autoridade russa encarregada do controle da competitividade de

mercados.

69 Art. 11 da Lei Federal datada de 6 de julho de 2006, nº 135-FZ, intitulada “Proteção da Competição”. 70 Art. 14.32 da Lei Federal datada de 30 de dezembro de 2001, nº 195-FZ, intitulada “Código de Violações Administrativas da Federação Russa”. 71 Art. 178 da Lei Federal datada de 13 de junho de 1996, nº 63-FZ, intitulada “Código Criminal da Federação Russa”.

Page 109: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

109

O programa de leniência na Federação Russa foi instituído em 2008 e

desde então tem se transformado em uma ferramenta muito importante no enfrentamento de

práticas anticompetitivas. Ao longo de sua existência, o programa foi alterado inúmeras vezes. No

momento, o desenvolvimento do programa de leniência ainda se encontra em construção. Esse

aspecto será discutido nesta exposição.

2. Programa de leniência na Federação Russa

O programa de leniência tem sido desenvolvido e sucessivamente

implementado na Federação Russa. Como em muitas práticas internacionais, na Federação Russa

o programa contém tanto a imunidade absoluta da responsabilidade administrativa quanto a

aplicação de multas mais brandas.

De acordo com a legislação russa, uma pessoa que voluntariamente relata

à autoridade federal antimonopólio a celebração de um acordo proibido pela legislação

antimonopólio da Federação Russa ou o exercício de atos proibidos pela legislação antimonopólio

da Federação Russa terá excluída sua responsabilidade administrativa se integralmente observadas

as seguintes condições:

1) no momento em que a pessoa apresenta o requerimento, o órgão

antimonopólio não dispõe de informações relevantes ou de documentos sobre o cometimento da

falta administrativa;

2) a pessoa se recusa a participar ou a ampliar sua participação no acordo

ilícito ou nas práticas combinadas entre os envolvidos;

3) a pessoa apresenta informações e documentos aptos a comprovar a

ocorrência de uma violação administrativa.

O primeiro interessado que reunir todas as condições anteriormente

listadas poderá ser liberado de responder administrativamente. É importante ressaltar que não é

possível liberar o conjunto dos envolvidos da responsabilidade administrativa.

A legislação russa também prevê a ferramenta da mitigação da

responsabilidade administrativa.

Os entes econômicos que não se habilitam ao mecanismo da isenção

absoluta de responsabilidade administrativa (por exemplo, por não serem os primeiros a reunir as

condições para tanto exigidas) podem praticar atos tendentes a mitigar sua responsabilidade

administrativa. Em particular, constitui uma ação provida desse efeito a assistência a uma pessoa

que tenha cometido uma ofensa administrativa em seu esforço de comprovar as circunstâncias da

infração.

Atualmente o programa de leniência comprovou seu valor como uma

ferramenta efetiva em relação à investigação de carteis e outros acordos nocivos à

Page 110: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

110

competitividade.

Em decorrência, como resultado da existência do programa de leniência

na forma que lhe foi atribuída pela FAS Rússia foram recebidos: 19 requerimentos em 2010; 23

em 2011; 13 em 2012; 29 em 2013. Esses requerimentos se transformaram em evidências

fundamentais nas decisões da FAS Rússia em casos de violação da legislação antimonopólio.

O número de entidades econômicas que usou a possibilidade de

abrandamento da responsabilidade administrativa é superior ao das que requereram isenção dessa

responsabilidade.

3. Abrandamento da responsabilidade penal

O sistema de dispensa de um indivíduo da responsabilidade criminal tem

seus próprios requisitos e condições que não são totalmente coordenadas com a dispensa da

responsabilidade administrativa. Esse procedimento é disciplinado pelo Código Penal da

Federação Russa e pelo Código de Processo Penal da Federação Russa72

.

De acordo com a legislação russa, uma pessoa pode ser liberada da

responsabilidade penal se ele ou ela ajudar na revelação do crime, compensar o dano ou de

alguma outra forma indenizar o prejuízo causado pela conduta criminosa, ou se suas ações não

contiverem elementos de crime73

.

Além disso, se uma das condições exigidas para imunidade não puder ser

observada, é possível celebrar um acordo de cooperação com o promotor mesmo depois que a

investigação criminal já tiver sido iniciada. Depois que todos os requisitos desse acordo tiverem

sido cumpridos, quanto ao reconhecimento da culpa, à colaboração na revelação do crime e à

ausência de circunstâncias agravantes, o valor da penalidade não poderá exceder a metade da pena

máxima prevista ou da punição mais severa para o crime74

.

4. Nível de desenvolvimento do sistema de senhas

No contexto da legislação russa, o caminho para obtenção de senha é a

apresentação de um requerimento escrito por parte de uma entidade econômica para obter

dispensa de responsabilidade administrativa, recebida pela FAS Rússia ou por suas representações

regionais. A FAS Rússia publicou uma Instrução, datada de 26 de setembro de 2008, nº 369, na

qual se estabelecem as regras do processo de apresentação desses requerimentos.

De acordo com essa Instrução, um dos vice-chefes da FAS Rússia e o

chefe do departamento anticartel são responsáveis pelo recebimento de requerimentos relativos a

72 Lei Federal datada de 18 de dezembro de 2001, nº 174-FZ, intitulada “Código de Processo Penal da Federação Russa”. 73 Art. 178 da Lei Federal datada de 13 de junho de 1996, nº 63-FZ, “Código Penal da Federação Russa”. 74 Art. 62 da Lei Federal datada de 13 de junho de 1996, nº 63-FZ, “Código Penal da Federação Russa”.

Page 111: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

111

acordos ou práticas que restringem a competição e são proibidos pela legislação antimonopólio da

Federação Russa.

Os chefes de departamentos do Escritório Central e dos Escritórios

Regionais da FAS Rússia devem informar imediatamente as pessoas competentes se receberem

tais requerimentos. O processo de receber, registrar e guardar os documentos para uso oficial é

organizado pelo Departamento Anticartel.

O momento de recebimento do requerimento é identificado em um

registro específico. O requerente recebe uma senha específica na cópia de seu requerimento e

com um número de registro único.

Se o requerente informa à autoridade antimonopólio que seu

requerimento inclui um segredo comercial, tal documento será identificado pelo código “somente

para uso oficial”. A divulgação dessa informação para terceiros somente será possível mediante

decisão judicial.

No âmbito da implantação do programa de leniência, informações

relacionadas à possibilidade de apresentar requerimento à autoridade antimonopólio são

divulgadas com o apoio de todas as possíveis ferramentas dos meios de comunicação à disposição

da Administração Pública.

Particularmente, o portal eletrônico da FAS Rússia contém uma seção

específica, “relatos sobre colusão em forma de cartel”. Nessa página o interessado pode achar

informações sobre responsabilidade pela participação em carteis, possibilidades de obter a

dispensa dessa responsabilidade previstas na legislação russa, contatos pessoais com integrantes

da FAS Rússia e outras informações úteis.

Além disso, a FAS Rússia criou um sítio eletrônico especial, acessível no

endereço www.anticartel.ru. Esse sítio é alimentado por informações sobre quais carteis são

perigosos e como lutar contra eles. Destina-se a um público variado. Pode-se encontrar um

manual de leitura fácil e respostas a questões frequentemente formuladas, assim como

acompanhar o enfrentamento dos carteis e acessar as principais características da legislação russa.

Uma das maiores metas desse projeto consiste na tentativa de reunir todas as práticas da Rússia

no enfrentamento de carteis, resumir a experiência estrangeira e criar um banco de dados

unificado e útil.

Informações sobre os mecanismos de implementação do programa de

leniência e as possibilidades de se obter imunidade, assim como os meios para informar a

autoridade antimonopólio sobre a participação em um cartel são frequentemente divulgadas pela

televisão, rádio e outros meios de comunicação de massa.

Em resumo, o processo para demandar à autoridade antimonopólio

sobre a participação em cartel consiste em um sistema de senhas, mecanismo integrante do

Page 112: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

112

programa de leniência.

5. Exemplos de casos com o uso do sistema de senhas

Em 2010 a FAS Rússia investigou um caso relacionado a uniformes

militares fornecidos ao Ministério do Interior da Federação Russa. O cartel que estabelecia o

preço dos uniformes militares para o Ministério do Interior da Federação Russa existia há vários

anos e incluía muitas companhias que operavam no mercado. Segundo a decisão da FAS Rússia,

trinta e duas companhias estavam participando do cartel.

Para se chegar a essa conclusão, foram invocados requerimentos

apresentados no âmbito do programa de leniência por alguns dos participantes do cartel, ao lado

de outras evidências.

Três requerimentos foram recebidos relacionados a essa questão.

Levando-se em conta a ordem de apresentação de requerimentos e observados os requisitos,

apenas uma companhia foi inteiramente absolvida de sua responsabilidade administrativa. Os

requerimentos da segunda e da terceira companhias foram considerados no contexto do

programa de leniência para abrandamento da responsabilidade administrativa. A multa imposta a

essas companhias foi reduzida.

Outro exemplo consistiu no caso da importação de um peixe oriundo do

Vietnã, “pangasius”, investigado em 2013. A FAS Rússia achou que numerosas companhias

importadoras russas com participação no Comitê Executivo do Vietnã para Exportação de

Pescados ao Mercado Russo fizeram um acordo no sentido de compartilhar o mercado de venda

por atacado de pangasius, estabelecendo e mantendo preços no território da Federação Russa.

Dois requerimentos relacionados a esse caso foram recebidos.

Um dos requerentes foi o primeiro a reunir todos os requisitos e foi

contemplado com a isenção da responsabilidade administrativa. A segunda companhia colaborou

ativamente com a investigação, mas seu requerimento foi recebido posteriormente. Em razão

dessa circunstância, a multa administrativa aplicada sobre a segunda companhia foi reduzida na

mesma proporção de sua colaboração no âmbito do programa de redução de responsabilidade

administrativa.

6. Conclusão

Verdadeiramente o desenvolvimento do sistema de senhas no programa

de leniência é uma das prioridades das atividades da FAS Rússia. Conforme anteriormente

mencionado, a legislação russa prevê tanto a responsabilidade administrativa quanto a criminal na

participação em carteis, mas o programa de leniência existe apenas em relação a penalidades

administrativas. Em outras palavras, no caso de se reunirem todas as condições e a companhia for

dispensada de responsabilidade administrativa, não há garantia legal absoluta de absolvição dos

Page 113: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

113

executivos da companhia de responsabilização penal.

A “sincronização” da legislação criminal e administrativa no campo da

luta contra carteis de acordo com as melhores práticas e recomendações internacionais encontra-

se entre as maiores prioridades da FAS Rússia.

Atualmente, a FAS Rússia promove grandes esforços na formalização do

uso do sistema de senhas no programa de leniência. Esboços relacionados aos documentos legais

necessários têm sido desenvolvidos. No futuro, um regulamento especial da FAS Rússia será

editado sobre essa questão. O regulamento descreverá a perspectiva de benefícios para os

requerentes de senha no sistema de senhas; quem tem direito a receber uma senha; que passos

devem ser seguidos para iniciar o processo e quais são os requisitos para se obter a senha; quando

a senha deixa de ser utilizada no programa de leniência; o procedimento de obtenção das

condições alternativas oferecidas pelo programa de leniência e o que é necessário para se alcançar

esse patamar; que teor a senha deve ter, etc..

Em síntese, a FAS Rússia confere prioridade ao desenvolvimento do

programa de leniência. Carteis são reconhecidos ao redor do mundo como um crime grave,

prejudicando os interesses dos consumidores e o sistema econômico em seu conjunto. Nesse

contexto, a autoridade antimonopólio russa encontra-se imersa em um processo de criação de um

programa de leniência eficiente, que possa incentivar entes econômicos a buscar a autoridade

antimonopólio por si próprios, criando-se dessa forma um efeito positivo em suas reputações e

nas suas condições financeiras. Nesse contexto, o desenvolvimento de um sistema de senhas no

âmbito do programa de leniência é essencial, porque, de fato, isso ajudará a controlar a

profundidade e a concentração do cartel e criará oportunidades para se sair do controle dos

carteis em rumo a um ambiente pró-competitividade.

TURQUIA

Sistemas de leniência como um componente indispensável no combate a

carteis têm desempenhado um papel crucial na aplicação do direito da concorrência pública em

todo o mundo. Neste contexto, com vista a manter-se em dia com a abordagem moderna, a

Turquia alterou a Lei nº 4.054 sobre a proteção da concorrência (Lei da Concorrência), em 2008,

para permitir a plena imunidade/reduções como resposta a pedidos de leniência. Depois disso, o

regulamento relativo à cooperação para a detecção de cartéis ativos (regulamento de leniência)75

foi publicado no Diário Oficial em 15/02/2009 e uma unidade especial chamada “O Cartel e a

Investigação em Unidade Pontual de Apoio” (a Unidade), que também é responsável pela

tramitação pedidos de leniência, foi criada na Autoridade da Concorrência Turca (no acrônimo

75 http://www.rekabet.gov.tr/File/?path=ROOT%2fDocuments%2fRegulation%2fyonetmelik10.pdf. (acessível a partir de 11.11.2014).

Page 114: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

114

em inglês, TCA). O objetivo desta exposição consiste em fornecer informações sobre o sistema

de senhas em pedidos de leniência na Turquia, além de um quadro geral de práticas de leniência.

O regulamento sobre a cooperação, entre outros aspectos, contém regras

para um sistema de senhas. No sistema, o candidato pode ser autorizado por um determinado

período para coletar informação/ provas mais detalhadas sobre o caso e, em troca, a TCA

protege o seu lugar na linha de requerentes até que seu pedido seja complementado no período

em causa.

O objetivo principal da TCA é ser capaz de acessar mais provas tanto

quanto possível e encorajar as partes que não possuem documentos suficientes para comprovar a

violação a revelarem a prática ilícita. Por este meio, a TCA reforça o seu caso, economiza os

custos de investigações sobre potenciais locais, tanto em termos de trabalho quanto de tempo, e,

além disso, reduz o risco potencial de uma anulação judicial pelos tribunais administrativos.

Quanto ao interessado, ele alcança uma forte proteção contra o requerente(s) subsequente(s), uma

vez que será tratado como o primeiro candidato, o que pode significar a obtenção de completa

imunidade, dependendo também das outras condições.

Outro ponto que deve ser enfatizado é que o sistema de senhas encontra-

se disponível tanto para as empresas quanto para seus gestores/funcionários (considerados, para

esse efeito, indivíduos). Dessa forma, a competição entre empresas, entre indivíduos e também

entre empresas e indivíduos para ser o primeiro a requerer a imunidade total relativamente a

multas encontra sustentação. Além disso, o sistema de senhas não exclui os requerentes

posteriores e assegura seu próprio escalonamento. Em outras palavras, o segundo requerente é

protegido contra o terceiro e se beneficia de uma taxa de redução mais elevada, embora não possa

obter imunidade integral.

O regulamento sobre a cooperação estabelece três requisitos para

obtenção de senha, tanto para empresas quanto para indivíduos. Assim, pelo menos, os produtos

afetados pelo cartel, sua duração e os envolvidos devem ser informados. O requerente deve, em

princípio apresentar o seu pedido de forma escrita. No entanto os três elementos anteriormente

citados podem também ser informados por via oral. Se esse for o caso, o pessoal da Unidade

encarregada de lidar com a leniência reduz a termo a informação prestada e obtém a confirmação

do requerente. No entanto, deve-se ter em mente que a satisfação desses requisitos não

necessariamente significa que a senha será fornecida. A Unidade possui discricionariedade. Nas

Orientações sobre Leniência76

(parágrafo 58), afirma-se que a faculdade deve ser exercida caso a

caso, no entanto, é improvável a obtenção da senha numa fase muito tardia da investigação.

Como uma questão de ordem prática, a quantidade e o alcance das informações ou dos

documentos que os candidatos apresentam também são relevantes. Como regra, o prazo não será

76 http://www.rekabet.gov.tr/File/?path=ROOT%2fDocuments%2fKilavuz%2fpismanlikkilavuz.pdf. (acessível a partir de 11.11.2014)

Page 115: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

115

superior a um mês, no entanto, poderá ser prorrogado (parágrafos 58-59 das Orientações). De

acordo com os dados da Unidade, até agora, o período previsto variou entre 7 e 39 dias. A fixação

do prazo se deu, nesses casos, em razão de algumas circunstâncias específicas, tais como a

complexidade do sistema de TI da empresa, o armazenamento de documentos em servidores

estrangeiros, não recuperáveis a partir da Turquia, a necessidade de tradução de documentos

volumosos e o número elevado dos empregadores que devem ser consultados.

Até o final do período a empresa ou o empregado devem fornecer as

informações necessárias, que são estabelecidas no art. 6 (1) e 9 (1), do regulamento sobre a

cooperação, como "(...) informações e evidências em relação ao suposto cartel, incluindo os

produtos afetados, a duração do cartel, os nomes das empresas que fazem parte do cartel, as datas

específicas, os locais e os participantes de reuniões do cartel (...)". Como pode ser deduzido a

partir deste ponto, além das informações fornecidas no início, o requerente deve apresentar todas

as informações de que dispuser sobre o suposto cartel. A falta de apresentação dessas

informações no final do período resulta em que o requerente perca sua posição na fila de

interessados.

Se o requerente cumprir tais condições, a concessão de imunidade

condicional será objeto de avaliação.

Antes de se descreverem as condições necessárias para concessão de

imunidade, existem alguns outros pontos básicos que devem ser esclarecidos.

O regulamento sobre a cooperação prevê imunidade total e reduções

para ambos, empresas e particulares.

A imunidade integral, que abrange os administradores e os empregados

automaticamente, é concedida às empresas ao abrigo do art. 4 do regulamento em duas situações.

O artigo em questão prevê:

(1) À primeira empresa que apresentar as informações e provas e cumprir

os requisitos previstos no art. 6º do regulamento, perante a Unidade, independentemente dos seus

concorrentes, se levar a uma investigação preliminar, será concedida imunidade em matéria de

punições. A aplicação dessa regra depende de que um pedido nos termos do art. 7 (1) do

regulamento não tenha sido feito;

(2) A primeira empresa que apresentar as informações e provas, e

satisfizer as condições previstas no art. 6º do regulamento, independentemente dos seus

concorrentes, a partir da decisão do Conselho de realizar investigação preliminar até à notificação

do relatório de investigação, deve ser beneficiada por imunidade em matéria de penas, sob a

condição de que a Autoridade não tenha, no momento da apresentação, elementos de prova

suficientes para identificar a violação do art. 4 da Lei. A aplicação dessa regra depende de que um

pedido nos termos do art. 4 (1) e no art. 7º do regulamento não tenha sido feito.

Page 116: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

116

(3) A gerentes e a funcionários da empresa abrangidos pelo disposto no

art. 4 deve igualmente ser concedida imunidade em matéria de penas.

A redução de pena para as empresas é concedida nos termos do art. 5 do

regulamento sobre cooperação. Assim, empresas que apresentarem requerimentos

independentemente dos seus concorrentes após a decisão da Unidade de iniciar uma investigação

preliminar, mas antes da notificação do relatório de investigação, e cumprirem os requisitos

estabelecidos no art. 6, não podem se beneficiar do art. 4, mas obterão redução de pena

consoante a ordem em que apresentem seus requerimentos.

Nos termos do regulamento sobre a cooperação, a imunidade e as

reduções são concedidas de forma semelhante para os indivíduos. Portanto, o regulamento não se

dedica à disciplina do tema quanto aos indivíduos em maiores detalhes.

Após as explicações em relação à estrutura do sistema, as condições de

imunidade e redução são descritas de forma semelhante para empresas e indivíduos nos arts. 6 e 9

do regulamento sobre a cooperação.

Essas condições podem ser descritas da seguinte forma: (i) conforme

anteriormente mencionado, fornecer todas as informações relativas ao suposto cartel; (ii) não

esconder ou destruir informações ou provas relacionadas com o suposto cartel; (iii) encerrar o

envolvimento no suposto cartel, exceto quando for solicitado pela unidade em decorrência de

possíveis dificuldades na investigação; (iv) manter o requerimento confidencial até o final da

investigação, a menos que de outra forma seja solicitado pela Unidade; (v) manter cooperação

ativa, até que o Conselho tome a decisão final depois que a investigação for concluída.

Após a finalização do requerimento até o final do período concedido, o

Conselho da Concorrência decide se a imunidade/redução será concedida de acordo com as

condições anteriormente mencionadas. No entanto, para a imunidade existe uma condição

adicional, a de que requerente não tenha coagido outros a participar da infração. A este respeito,

deve notar-se que a mesma exigência não se aplica a casos de redução.

Como ponto final, a exigência de confidencialidade pode ser descrita

como essencial. Sem dúvida, a confidencialidade de todo o processo é extremamente importante

para garantir a investigação e a obtenção de provas. Assim, prevê-se, como condição da

concessão de imunidade/redução, que seja exigida do requerente. No entanto, não há nenhuma

norma explícita exigindo da TCA que trate os pedidos de senha de forma confidencial. Em vez

disso, afirma-se nas Orientações para Leniência que a Unidade deve informar o requerente

potencial se poderá ser beneficiado de imunidade/redução. Esta obrigação/prática pode levar a

que a Unidade revele a existência da senha para outros candidatos potenciais. Contudo, a

experiência prática demonstra que o candidato à imunidade total não retira o seu pedido depois

de ser informado de que há um pedido anterior, com vista a se beneficiar de redução.

Page 117: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

117

UNIÃO EUROPEIA

1. Introdução

No programa de leniência da Comissão Europeia, um sistema de senhas

foi introduzido em 2006 mediante alteração na Instrução para concessão de imunidade de multas

e para redução de multas em casos de cartel (a “Instrução de 2006 sobre Leniência”77

). Antes de

2006 não havia possibilidade de se conceder senha no programa de leniência da Comissão

Europeia.

A introdução do sistema de senhas resultou de mais de dez anos de

prática na implementação do programa de leniência nos termos das instruções sobre leniência de

1996 e 2002 e reflete a experiência prática adquirida durante esse período. O sistema ajudou a

incrementar a efetividade do programa de leniência da Comissão Europeia, conferindo certa

flexibilidade aos procedimentos e encorajando a agilização de relatos sobre carteis ao lado do

aperfeiçoamento da qualidade dos requerimentos de leniência.

2. Finalidades e características

O programa de leniência da Comissão Europeia prevê um sistema de

senha de natureza discricionária, que se destina a preservar e a proteger a posição do requerente

na fila de leniência por um determinado período de tempo.

A razão pela qual a Comissão optou por um sistema discricionário de

senhas residiu, antes de qualquer outro elemento, no interesse público consistente em promover

uma corrida entre as companhias propensas a fornecer as informações e evidências exigidas para a

imunidade e dessa forma facilitar a detecção e a interrupção das infrações. O interesse não reside

simplesmente na corrida por um lugar na fila. Se a companhia não fornece à Comissão

informações suficientes, seu requerimento será rejeitado e será necessário pedir novamente. Nesse

meio tempo, outro interessado poderá ter a possibilidade de se qualificar para a obtenção de

imunidade.

Não obstante, há variadas circunstâncias que justificam conceder ao

primeiro requerente tempo para completar seu requerimento e assegurar seu lugar na fila

mediante a concessão de uma senha. Portanto, a decisão de conceder a senha é feita

casuisticamente, levando em conta as especificidades de cada situação e as justificativas que o

requerente apresenta em seu pedido.

77 Instrução da Comissão para Concessão de Imunidade e Redução de Multas em Casos de Cartel. OJ C 298, 12.08.2006, P. 17-22, disponível em http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52006XC1208(04)&from=EN .

Page 118: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

118

O sistema de senhas da União Europeia fornece os meios necessários aos

requerentes que, por razões legítimas, não se encontram em condições de fornecer todas as

evidências e informações necessárias em uma determinada ocasião, mas são capazes de

aperfeiçoar seus requerimentos em um breve e especifico espaço de tempo. Tal situação pode

surgir, por exemplo, quando uma nova diretoria percebe, após a sua nomeação, que a empresa

estava envolvida em um cartel ou quando um empregado, seguindo treinamento a que tenha sido

submetido, relata a prática de cartel. Por isso, o sistema encoraja "a corrida para a porta",

permitindo que os interessados reúnam informações e provas necessárias para concluir seu

pedido de imunidade.

A instrução da União Europeia relativa a leniência reserva a imunidade ao

primeiro requerente que reúne as condições preliminares e para cada requerente posterior se

prevê redução de multas. A despeito disso, segundo o parágrafo 15 da instrução de 2006 relativa a

leniência, as senhas são destinadas exclusivamente para o primeiro requerente. Senhas para

requerentes posteriores, interessados em redução de penas, que podem existir em alguns sistemas

nacionais (também chamadas “senhas tipo 2”78

), não se encontram previstas na instrução de

2006.

Essa opção foi feita em primeiro lugar e principalmente porque o motivo

que dá suporte ao sistema de senhas reside em incrementar os incentivos que levam um suspeito

de prática de cartel a buscar a Comissão para permitir que seja detectado e investigado o cartel de

que participa. A senha para o primeiro requerente o habilita a relatar a prática de cartel à

Comissão detectada no âmbito da companhia mesmo antes de estar completamente apto a

apresentar um requerimento de imunidade. Essa circunstância pode justificar a concessão a um

interessado em imunidade, que relata um cartel anteriormente desconhecido, de tempo para

completar seu requerimento. Entretanto, o sistema não se aplica quando a Comissão já estava

investigando o cartel.

Além disso, a experiência prática revela que após ou mesmo durante as

investigações efetuadas pela Comissão, podem ser apresentados vários requerimentos de redução

de multas em curtos intervalos de tempo. Assim, torna-se razoável acreditar que quando as

companhias competem pela redução de penas, cria-se um incentivo para que não apenas agilizem

iniciativa dessa espécie, como também cuidem de providenciar as melhores evidências possíveis.

Essa constatação decorre do fato de que o elemento fundamental para analisar esses

requerimentos consiste em que eles forneçam à Comissão evidências do suposto cartel que

representem contribuições significativas em relação às evidências que a Comissão já possua.

78 Ver a Seção IV do Programa Modelo de Leniência da União Europeia, disponível no endereço http://ec.europa.eu/competition/ecn/mlp_revised_2012_en.pdf .

Page 119: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

119

3. Condições para obtenção de senha

As condições que habilitam a concessão da senha encontram-se

estabelecidas no ponto 15 da instrução de 2006 sobre leniência. O requerente é obrigado a

fornecer uma quantidade limitada de informações que poderá permitir à Comissão identificar a

conduta alegada objeto do pedido de senha, para confirmar se a imunidade ainda está disponível e

verificar se a Comissão se encontra em condições de abrir o processo no lugar das autoridades

nacionais dos países da Comunidade Europeia. Especificamente, o requerente deve:

- fornecer seu nome e endereço;

- identificar os integrantes do suposto cartel;

- descrever os produtos afetados e o território;

- descrever a duração estimada do suposto cartel;

- descrever a natureza da prática de cartel;

- fornecer informações sobre outros pedidos de leniência já apresentados

ou em cogitação perante outras autoridades (relativos à mesma conduta);

- fornecer uma justificativa para o pedido de senha.

Esse rol constitui o patamar mínimo seguido pela Comissão Europeia

para garantir que o requerimento se refira a um cartel desconhecido que afete a Comunidade

Europeia e para verificar se a imunidade ainda se encontra disponível para a respectiva conduta.

Se a Comissão possui segurança para afirmar que as condições para a

concessão da senha estão reunidas, a senha geralmente é concedida em um espaço muito curto de

tempo e é válida desde esse momento. Ao contrário da decisão que concede a imunidade

condicional a uma companhia, conceder a senha constitui um ato administrativo praticado pelo

apoio da Comissão Europeia (Diretoria-Geral para Competição, ou no original inglês, “DG

Competition”) e se formaliza por meio de uma certidão assinada pelo Diretor para assuntos de

cartel.

A senha é concedida quando se torna claro que o requerente encontra-se

em condições de adquiri-la, de forma que a investigação promovida nos termos do art. 20 do

Regulamento do Conselho nº 1/200379

pode ser feita em um curto espaço de tempo, providência

essencial para assegurar que as evidências permaneçam intactas em qualquer local a ser

inspecionado.

79 Regulamento do Conselho da Comissão Europeia nº 1/2013 de 16 de dezembro de 2002 relativo à implementação das regras sobre competição inseridas nos arts. 81 e 82 do Tratado publicado no Jornal da Comissão Europeia em 4.1.2003, pp. 1-25.

Page 120: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

120

Com esse intuito, o requerente é instado a explicitar na primeira

oportunidade (usualmente de forma oral) que tipo de providência para investigação interna se

encontra em curso, o respectivo resultado e que outras medidas estão sendo cogitadas durante o

período de validade da senha. O requerente também é instado a fornecer motivos e informações

detalhadas acerca do tempo que será dedicado a essas medidas. Isso permitirá que a Comissão

promova uma decisão devidamente fundamentada sobre o tempo de validade da senha.

Além disso, o requerente é notificado de que deve cooperar

integralmente, de forma sincera e contínua durante o procedimento (ponto 12 da instrução sobre

leniência). Da mesma forma, quando apresenta o requerimento, o interessado deve fornecer

imediatamente informações e evidências de que faz parte do suposto cartel, se forem exigidas pela

Comissão. Ao mesmo tempo, se a Comissão questioná-lo a respeito, o interessado deve fornecer

informações suplementares e evidências assim que elas estiverem disponíveis. Por fim, conforme

o espírito de colaboração sincera relacionada ao programa de leniência, o interessado deve

cumprir todos os procedimentos necessários para manter sigilo e evitar que, mesmo de forma

involuntária, evidências sejam destruídas (ponto 12 “c” da instrução sobre leniência).

O tempo de validade da senha pode variar devido às circunstâncias de

cada caso. Entretanto, devido à necessidade de promover investigações em tempo hábil e de não

colocar em desvantagem outros potenciais interessados, o período de validade da senha é

necessariamente limitado. Geralmente, a senha não dura mais do que três semanas, mas quando

houver justificativa esse período pode ser prorrogado. Prazos maiores de validade da senha

também se justificam se forem necessários mais contatos paralelos entre o interessado e a

Comissão, em casos em que o requerente seja demandado a manter o apoio da Comissão

informado sobre o seu progresso de modo mais frequente.

A orientação para que a senha seja fornecida (o propósito da senha)

baseia-se na descrição do cartel pelo interessado. Isso não significa que o intuito da imunidade

condicional que será concedida se a senha for fornecida será exatamente o mesmo. O propósito

da imunidade condicional é reavaliado com base nas evidências fornecidas pelo interessado.

Se o requerente completar o pedido de imunidade no prazo estabelecido

pelo apoio da Comissão, as informações e provas fornecidas serão consideradas como tendo sido

apresentadas na data em que foi concedida a senha.

4. Procedimentos orais em requerimentos

A empresa que deseja requerer imunidade em relação à aplicação de

multa pode apresentar pedido de senha tanto por escrito quanto mediante declaração oral, nesse

último caso de acordo com premissas estabelecidas pela Comissão Europeia. Já o pedido de senha

é considerado como uma apresentação voluntária das informações detidas pela empresa acerca do

cartel e do papel que a informante desempenha no respectivo âmbito. Na política da Comissão

Page 121: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

121

Europeia sobre leniência tais declarações corporativas podem ser feitas por meio de um

procedimento oral (pontos 31-35 da instrução sobre leniência)80

.

O procedimento oral fornece uma proteção adicional às revelações nos

tribunais nacionais em relação a informações apresentadas oralmente em requerimentos de

imunidade ou de tratamento leniente.

O acesso às declarações da empresa só é concedido nas instalações da

Comissão Europeia para viabilizar a apresentação de objeções, desde que os declarantes se

comprometam (juntamente com os assessores legais que obtenham o acesso em seu nome) não

fazer qualquer cópia por meios mecânicos ou eletrônicos de qualquer informação contida na

declaração à qual o acesso é concedido, e para garantir que a informação obtida a partir de seu

teor seja utilizada exclusivamente para os fins para os quais foi colhida81

. Outros envolvidos não

poderão ter acesso às declarações corporativas.

Essa proteção das declarações corporativas também encontra amparo na

nova diretiva da Comissão em ações contra danos provocados por carteis (adotada pelo Conselho

de Ministros da Comissão Europeia em 10 de novembro de 2014)82

.

5. Renúncia à confidencialidade

A instrução da Comissão sobre leniência exige de quem requer leniência

que informe à Comissão sobre qualquer outro requerimento que tenha apresentado ou pretenda

apresentar perante outra autoridade similar a respeito da prática de cartel por ele relatada. O

propósito dessa informação consiste em permitir que a Comissão inicie a coordenação entre sua

investigação com a de outra autoridade similar assim que for possível. Entretanto, a Comissão

somente compartilhará informações recebidas em decorrência da instrução sobre leniência com

outra autoridade similar se houver a renúncia à confidencialidade por parte do interessado.

Com o intuito de facilitar tal renúncia e incrementar sua uniformidade

mundial, a Rede Internacional de Competição (International Competition Network, ICN) adotou o

Modelo de Dispensa com uma Nota Explicativa (2014). A Diretoria-Geral para Concorrência da

Comissão Europeia endossou inteiramente esta orientação e exige, assim, que todo pedido de

leniência contenha uma renúncia completa da confidencialidade usando o modelo ICN83

. Os

requerentes são instados a renunciar simultaneamente ao submeterem seus primeiros pedidos nos

termos da instrução da Comissão sobre leniência antes mesmo de receberem a senha.

80 Um guia prático sobre declarações orais feitas por companhias foi publicado no portal da Comissão Europeia (http://ec.europa.eu/competition/cartels/leniency/leniency.html) e fornece aos interessados informações que os auxiliam a planejar e preparar melhor as declarações e interrogatórios levados a termo perante a Comissão. 81 Ver também o art. 28 do Regulamento 1/2003, que determina que a informação coletada nos termos do art. 19 do mesmo regulamento só pode ser utilizada para o propósito para o qual houver sido colhida. 82 Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho acerca de determinadas regras relativas a ações governamentais 83 Ver http://ec.europa.eu/competition/cartels/leniency/leniency.html .

Page 122: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

122

O modelo ICN de renúncia não impede o intercâmbio de documentos

recebidos de interessados entre as autoridades dedicadas à preservação da concorrência. Apesar

disso, a Comissão Europeia geralmente não disponibiliza tais documentos com autoridades

similares contempladas pela renúncia. Só excepcionalmente, e com autorização prévia do

requerente, esse intercâmbio é levado a termo.

Para aplicação das regras da União Europeia sobre competição, a

Comissão não precisa de renúncia para compartilhar informações recebidas nos termos da

instrução sobre leniência com autoridades similares que integram a Rede Europeia de Competição

(European Competition Network, ECN). No âmbito da ECN, a Comissão e as autoridades nacionais

aplicam as regras da União Europeia sobre competição com competências paralelas e em um

sistema flexível de compartilhamento de tarefas84

, o que inclui colaboração nas investigações e

fornecimento recíproco de informações confidenciais85

.

6. Conclusões

Desde sua introdução em 2006, o sistema de senhas tem sido uma

ferramenta eficiente no âmbito do programa de leniência da Comissão Europeia. O sistema

permite flexibilidade para as companhias que precisam completar seu requerimento. Enquanto

seu lugar na fila por imunidade é preservado por um período específico de tempo, o interessado

pode prosseguir sua investigação interna e obter informações que serão utilizadas pela Comissão

para iniciar uma investigação específica em tempo hábil. A experiência demonstra que os pedidos

de senha podem resultar no fornecimento à Comissão de mais qualidade nos pedidos de leniência,

com uma descrição mais detalhada do suposto cartel, incluindo datas específicas, localidades,

características e participantes do suposto cartel levado a conhecimento da Comissão.

A Comissão Europeia não cogita alterações no sistema de senhas

estabelecido na instrução sobre leniência. O sistema é flexível e permite o ajuste de sua aplicação a

realidades concretas (tais como o período de tempo de duração da senha), acomodando-se às

circunstâncias em casos individuais e à experiência adquirida com seu uso na prática.

84 O sistema é disciplinado pelo Regulamento do Conselho nº 1/2003 de 16 de dezembro de 2013 relativo à implementação das regras sobre competição (“Regulamento 1/2013”), publicado no Jornal da Comissão Europeia em 4.1.2003, pp. 1-25. Os arts. 4 e 5 do Regulamento 1/2013 concedem à Comissão e as autoridades nacionais competência integral e paralela para aplicar os arts. 101 e 102 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. 85 Art. 12 do Regulamento 1/2013. Não obstante, tendo em vista as diferenças no sistema de sanções no âmbito da ECN, o uso de evidências e informações recebidas de outras autoridades na ECN se sujeita a certas condições adicionais, previstas nos parágrafos 2 e 3 do art. 12.

Page 123: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

123

COMITÊ CONSULTIVO DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA DA OCDE (BIAC)

O Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da OCDE ("BIAC")

encara com satisfação a oportunidade de apresentar estes comentários ao Comitê de

Concorrência da OCDE (Grupo de Trabalho nº 3) para a sua mesa redonda sobre o uso de

senhas em programas de leniência.

1. Introdução

O combate eficaz aos carteis é de vital importância para a comunidade

empresarial.

Os programas de leniência têm sido fundamentais para enfrentar os

carteis.

Um sistema de senhas eficaz é um elemento importante de um programa

de leniência e cada vez mais países têm adotado uma abordagem que o valoriza. Embora os

sistemas de senhas eficazes em vários desses países estejam ajudando na revelação de carteis, o

BIAC acredita que um sistema de "balcão único" multijurisdicional de senhas de leniência tornaria

o combate aos carteis ainda mais eficaz, particularmente nas jurisdições com programas de

fiscalização de carteis menos desenvolvidos. Nesta apresentação, o BIAC aborda os elementos

essenciais de uma proposta de "balcão único" para o sistema de senhas de leniência, e faz várias

observações complementares sobre sistemas de senhas de leniência tal como atualmente se

encontram implementados.

A proposta de uma confluência global no sentido de se articularem os

sistemas de senha dos diversos países foi exposta mais detalhadamente em um artigo de 2012

publicado no Revista ABA antitruste, que inspira esta contribuição86

.

2. Justificativa para o “balcão único”

Antes de se analisarem as razões para conceder tratamento diferenciado

de forma coordenada ao primeiro requerente de senhas em programas de leniência, devem ser

examinados alguns dos problemas que podem resultar do atual sistema, sem integração entre os

diversos países. O principal problema que pode surgir, aquele que deve ser motivo de

preocupação significativa para as autoridades encarregadas, reside na existência de diferentes "pela

primeira vez" quando um pedido de leniência é apresentado em diferentes jurisdições. Isso pode

ocorrer porque o pedido de leniência não apresenta informações suficientes nas fases iniciais

sobre o âmbito geográfico exato do cartel, especialmente no que se refere aos mercados menores.

Quando isso ocorre, há uma tensão imediata que surge, porque as iniciativas de um candidato em

86 John Taladay, Tempo para um balcão único global para concessão de senhas de leniência, ANTITRUST, Fall , 2012, fl. 43.

Page 124: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

124

uma jurisdição podem aumentar sua exposição em outra. Tendo em conta que algumas

jurisdições oferecem leniência apenas para o primeiro requerente, um candidato confrontado com

esta situação pode achar que é necessário defender (ou minimizar) em uma determinada jurisdição

aquilo que confessa abertamente em outra. A ameaça de ações de danos civis na outra jurisdição

agrava ainda mais este efeito. Assim, cada vez que isso ocorre há pelo menos dois participantes

nos carteis com motivações mistas, pondo em risco a obtenção de resultados efetivos. O risco

que pode ocorrer é um desincentivo para se apresentar imediatamente um pedido de leniência nos

casos em que o âmbito do cartel é inicialmente incerto.

A estrutura desprovida de integração que atualmente prevalece também

agrava o risco de divulgação prematura da investigação. Como uma questão prática, a empresa

deve procurar o órgão regulador local em cada jurisdição na qual deseja obter leniência. Regras de

ética (bem como as realidades de negócios) evitam que os escritórios de advocacia mantenham

representações que dificultem a captação de clientes. Então a primeira coisa que deve ocorrer para

o escritório de advocacia local consiste em identificar os nomes de todos os membros do suposto

cartel. Muitas vezes, as jurisdições menores têm muito poucos escritórios de advocacia com uma

reputação internacional para questões de concorrência. Uma vez que essas empresas são muitas

vezes ligadas a outros membros do cartel, é comum para várias empresas serem contatadas antes

que um escritório de advocacia livre de conflitos de interesse possa ser encontrado. Isto resulta

em que o fato de uma investigação iminente, o produto e as partes envolvidas muitas vezes

tornam-se conhecidos por um número significativo de pessoas antes que qualquer pedido de

senha seja apresentado, agravando o risco de uma "fuga". Há pouca dúvida de que um vazamento

que ocorra antes da execução de diigências e inspeções pode prejudicar gravemente a investigação

do cartel.

Finalmente, um sistema coordenado de tratamento específico para o

primeiro requerente teria benefícios significativos para aprimorar os esforços travados contra os

carteis. Atualmente, as empresas que revelam carteis tendem a se concentrar apenas nas

jurisdições com histórico de empenho no combate a carteis internacionais. Isto é em parte devido

a uma percepção de que outras jurisdições não representam um risco razoável de ações

repressivas por parte das autoridades. Por exemplo, apesar do fato de que mais de 50 jurisdições

dispõem atualmente de um regime de repressão a carteis, uma recente pesquisa informal feita

entre 150 praticantes de cartel experientes descobriu que nenhum deles tinha sido envolvido em

um caso com mais de 10 pedidos de leniência87

. Esta pesquisa incluiu, sem dúvida, muitos carteis

globais, com consequências na maior parte ou até mesmo em todas as 50 jurisdições com

programas de fiscalização contra carteis. Um balcão único poderia ajudar, baixando a barreira para

a procura de leniência em jurisdições menos experientes, de forma a inclui-las eficazmente no

“mapa" do combate a carteis de repercussão global.

87 Defending International Cartels Without Leniency, 61ª Reunião da Primavera promovida pela ABA (12 de abril de 2013).

Page 125: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

125

3. Objetivos do “balcão único”

A implantação de tratamento diferenciado ao primeiro requerente com

opção de integração entre as distintas jurisdições para denunciar suspeitas de prática de cartel e

obter uma senha beneficiaria ao mesmo tempo as agências reguladoras e os requerentes. Em

primeiro lugar, os requerentes disporiam de um mecanismo eficiente para denunciar os carteis em

todas as jurisdições relevantes de uma só vez, eliminando a possibilidade de diferentes pedidos de

leniência em diferentes jurisdições e encorajando revelações rápidas e abrangentes. Em segundo

lugar, todas as jurisdições – e, mais importante, nas jurisdições em desenvolvimento, cujos

procedimentos ainda estão em evolução – iriam tomar conhecimento de possíveis violações do

cartel em um estágio inicial e seriam capazes de maximizar o seu potencial para perseguir os

infratores antitruste. Em terceiro lugar, seria limitada a quantidade de informações que deveriam

ser compartilhadas sobre a investigação, bem como o número de pessoas expostas a essas

informações antes de averiguações. Em quarto lugar, seria facilitada a coordenação entre as

próprias agências, por exemplo, na condução de averiguações sincronizadas. Por todas estas

razões, em última análise, seriam beneficiados empresas e consumidores.

Um sistema de senhas unificado não exigiria qualquer sacrifício da

autoridade soberana. Não acarretaria em reduzir a independência de qualquer jurisdição na

tomada de decisão sobre concessão – ou a escolha de não conceder – leniência. Não teria impacto

na capacidade de cada jurisdição para determinar se deve processar qualquer cartel notificado no

âmbito do sistema integrado nem impediria qualquer jurisdição de processar um cartel descoberto

de alguma outra maneira. Pelo contrário, seria simplesmente um meio de procedimentos de

coordenação das informações que cada jurisdição exige dos candidatos que requerem a senha. O

sistema integrado daria a cada jurisdição uma melhor oportunidade de exercer a sua autoridade

soberana para processar os carteis.

Um sistema integrado de senhas voltadas ao primeiro requerente poderia

ser relativamente fácil de administrar, da mesma forma que muitos sistemas nacionais são

administrados. Na prática, o sistema de senhas de uma agência requer um processo de admissão e

um ponto de coordenação de contato. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Subprocurador Geral

de Justiça da Divisão Antitruste para Execução Penal analisa todos os pedidos de leniência, mas

os candidatos podem entrar em contato com qualquer um dos escritórios de campo da Divisão

ou da Seção de Execução Penal Nacional em Washington. Se os candidatos contatarem um

escritório de campo, os pedidos de senha são catalogados através de processos internos para

garantir que nenhum pedido duplicado seja feito.

Para garantir a senha, o advogado do requerente deve trazer as

informações necessárias e cumprir os critérios exigidos (discutido com mais detalhes em seguida).

Uma vez que a disponibilidade da senha é confirmada, a Divisão informa o requerente e

estabelece o prazo para complementar o pedido. O sistema na CE é semelhante, embora a senha

Page 126: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

126

seja discricionária, e a Comissão tenha a capacidade de determinar se concede a senha para o

requerente ou se exige um detalhamento maior das informações para que seja atingido o estágio

da imunidade condicional88

.

Qualquer um destes sistemas poderia ser adaptado para permitir que uma

ou mais entidades designadas (por exemplo, o Departamento de Justiça ou a CE) se tornasse a

"agência de câmara de compensação" para as senhas que envolvessem questões de carteis

internacionais. Neste cenário, o requerente entraria em contato com o Departamento de Justiça

ou a CE como a agência centralizadora. A agência centralizadora garantiria que as informações

necessárias (especificadas a seguir) fossem obtidas e então prontamente enviaria um alerta a todos

os "organismos competentes" com uma data e hora oficial do pedido feito pelo requerente. As

"agências relevantes" deverão incluir todas as agências que optarem pelo sistema integrado

identificadas pelo requerente. Qualquer outra agência que houvesse recebido um pedido de senha

anterior de outro candidato (ou seja, outro membro do cartel) em relação ao mesmo

comportamento poderia rejeitar o requerimento em sua própria jurisdição, mas não poderia

rejeitá-lo se houvesse a referida integração.

O requerente, então, teria direito à senha para o período prescrito. Na

situação atual esse prazo teria expirado, porque a concessão de leniência condicional ou formal é

uma questão de direito e de processo individualizado, o que significa dizer que o pedido teria que

ser complementado de acordo com as leis ou regulamentos das várias jurisdições individuais em

separado. Em outras palavras, apenas a concessão da senha seria assunto do balcão único, não a

concessão da leniência condicional ou formal propriamente dita. O requerente só poderia alcançar

a leniência em uma jurisdição individual se reunidas as condições para leniência estabelecidas por

essa jurisdição.

O mecanismo de balcão único seria um instrumento opcional tanto para

as agências quanto para os candidatos. Nenhuma agência seria obrigada a participar do balcão

único. O sistema poderia ser estabelecido com um grupo inicial de jurisdições (a exemplo da

maneira como a Rede Internacional Anticartel - ICN foi formada), e jurisdições individuais

poderiam optar por participar ou não89

. Qualquer jurisdição que optasse por participar não

garantiria a qualquer requerente a concessão de leniência condicional. A única garantia seria que

88 Veja-se, Press Release, Eur. Comm'n, Competição: Leniência Revisa - Perguntas Frequentes (7 de dezembro de 2006) (MEMO/ 06/469), disponível em http://europa.eu/rapid/press-release_MEMO-06-469_en.htm?Locale = en (a seguir CE FAQs). 89 Como uma questão prática, um sistema de balcão único não poderia funcionar sem a participação das autoridades dos EUA e da CE, bem como pelo menos de várias outras jurisdições, o que pode incluir um número de jurisdições que foram os membros fundadores da ICN. Os membros fundadores incluem Austrália, Canadá, União Europeia, França, Alemanha, Israel, Itália, Japão, Coréia, México, África do Sul, Reino Unido, Estados Unidos e Zâmbia. Veja-se nota publicada pela Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos no Lançamento da Rede Internacional da Concorrência (25 de outubro de 2001), disponível em press_releases www.justice.gov/atr/public/~~number=plural / 2001/9400. pdf.

Page 127: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

127

no balcão único o candidato seria o primeiro na fila para ter a oportunidade de cumprir as

exigências da jurisdição individual de leniência condicional. Para conseguir isso, o requerente

ainda teria que cumprir as condições individuais do programa de leniência de cada jurisdição, a

não ser que desistisse de sua senha através de notificação formal.

Também seria opcional para os requerentes. Em cada caso, o requerente

teria a opção de selecionar as jurisdições em que requer a senha. O requerente não seria obrigado

a pedir uma senha de todas as agências participantes. Por exemplo, se houvesse vinte jurisdições

que aderiram ao programa, o candidato poderá indicar que deseja solicitar uma senha para doze

jurisdições especificadas. Este pode ser o caso, por exemplo, se o requerente não operava em

determinados continentes e não tinha como cometer delito em algumas jurisdições. As doze

jurisdições selecionadas (e somente aquelas doze) seriam, então, notificadas do pedido de senha

pela agência que serve de câmara de compensação e de todas as informações relevantes prestadas

pelo requerente. O candidato seria o primeiro da fila nas doze jurisdições identificadas (a não ser

que fosse rejeitado por qualquer uma delas), mas a possibilidade de ser o "primeiro da fila" para as

outras onze jurisdições permaneceria aberta. Seria possível para o mesmo requerente depois

abordar as restantes onze jurisdições com o intuito de requerer uma senha e poderá ser o

primeiro da fila, mas assumirá o risco de que outro membro do cartel tenha requerido antes

nessas jurisdições.

As agências participantes teriam de chegar a acordo sobre as informações

que devem ser apresentados pelo requerente, a fim de garantir a senha. Há variações entre as

jurisdições sobre a quantidade de informações necessárias para pleitear uma senha. Isso não

significa que o balcão único deva buscar como padrão o número de informação mais oneroso

exigido entre os membros participantes (o que poderia inviabilizar o sistema), mas sugere uma

abordagem que satisfaça a maioria dos requisitos atuais das jurisdições participantes. Porque os

candidatos envolvidos em carteis multinacionais muitas vezes requerem senhas em ambos, EUA e

UE, seria razoável para os candidatos fornecerem as informações exigidas nessas duas jurisdições.

Porque os requisitos da CE são inclusive as exigências dos EUA, bem como os requisitos

estabelecidos em praticamente todas as outras 40 jurisdições com um sistema de senha (sem

prejuízo das observações abaixo sobre a dimensão atual desses requisitos), as exigências da CE

seriam um ponto de referência razoável.

Finalmente, apesar do fato de que um sistema de balcão único

provavelmente funcionaria melhor e seria melhor utilizado se a concessão da senha for

incondicional, o sistema poderia funcionar com algumas das jurisdições que retenham

discricionariedade sobre a concessão da senha. Na prática, uma agência que utiliza um sistema de

ordenação dos pedidos deve ser capaz de avaliar as informações fornecidas pelo sistema de

senhas e decidir se deve emitir a senha. Em outras palavras, uma jurisdição que optar pelo sistema

de balcão único poderia ainda informar o requerente de que, a seu critério, não iria emitir a senha

com base nas informações fornecidas. Espera-se que isso raramente venha a ser o caso –

Page 128: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

128

especialmente em situações em que o requerente acredita que a potencial infração seja grave o

suficiente para justificar o uso do sistema integrado, mas a inclusão de sistemas discricionários

não deve ser vista como uma restrição ao uso do sistema integrado.

Em suma, o BIAC acredita que um balcão único beneficiaria as agências,

a comunidade empresarial e os consumidores através de uma abordagem mais eficiente, mais

eficaz e mais completa da concessão de leniência em várias jurisdições para os carteis

internacionais. O desenvolvimento dos procedimentos reais, das diretrizes e dos requisitos deve

recair sobre as agências especializadas no desenvolvimento e na promulgação de políticas e

regulamentos que dão suporte ao cumprimento das leis de concorrência. O BIAC está pronto, no

entanto, para ajudar as agências a compreender as implicações destas estruturas na comunidade

empresarial e os potenciais requerentes de leniência.

4. Comentários sobre os sistemas de senha nos programas de leniência

A atenção dos comentários adiante feitos pelo BIAC é direcionada aos

atuais programas de leniência que preveem senhas, particularmente aos que as reservam para o

primeiro requerente. Estes candidatos são normalmente contemplados com uma senha de

leniência provisória que, se aperfeiçoada, resulta em evitar 100% de qualquer atuação potencial da

agência envolvida, incluindo multas e sanções penais.

Alguns sistemas de senha aplicam-se apenas ao primeiro requerente de

leniência (anistia), porque os demais são avaliados com base no valor das suas contribuições, em

troca de ou simultaneamente à data em que requereram leniência. Outros sistemas oferecem

leniência formal ao segundo interessado e aos posteriores, por meio da redução de multas, mas a

maioria (ou talvez todos) esses sistemas não envolvem um sistema de senhas para os candidatos

posteriores.

O objetivo de um sistema de senhas consiste em atingir vários resultados,

incluindo entre eles: (1) fornecer a confirmação formal de que o requerente de leniência é o

primeiro na fila; (2) fornecer informações suficientes para a agência de investigação que permitam

determinar o produto e o âmbito geográfico do cartel, a fim de garantir que o escopo da senha

não vá desnecessariamente além do âmbito da infração; (3) fornecer o pedido de leniência com o

incentivo e o conforto necessários para investigar minuciosamente os fatos sob o guarda-chuva

da leniência; e (4) definir o período de tempo em que o destinatário da senha terá a oportunidade

de complementar a senha e obter leniência condicional. Como observado pela CE ao instituir o

sistema de senhas:

A senha é concedida para proteger o lugar na fila de um candidato que

ainda não reuniu as provas necessárias para formalizar um pedido de imunidade. A fim de

proteger o lugar na fila sem obter as provas pertinentes, em troca, a Comissão deve estar em

condições de verificar se ele já tem um pedido de imunidade anterior para o mesmo cartel e

Page 129: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

129

garantir que a empresa está seriamente engajada no esforço de fornecer as evidências.

Com base nessas premissas, as informações necessárias para obter a

senha devem ser coerentes com o objetivo declarado. Exigência de informações que vá além do

objetivo cria barreiras que podem inibir as partes na busca por leniência, sem compensação em

benefícios para a agência.

5 - Requisitos das senhas de leniência

Jurisdições diferentes atualmente requerem diferentes graus de detalhe

para concederem senhas. O BIAC sugere que a melhor maneira de abordar essas diferenças é

através da adoção de um balcão único conforme descrito anteriormente. Entretanto, melhorias

podem ser feitas. As exigências da CE, por exemplo, são extensas. Apenas o primeiro delator

pode ganhar imunidade total em matéria de multas e a senha é usada para proteger o "lugar na

fila" de um requerente de imunidade que ainda não tenha sido capaz de reunir todas as

informações e provas necessárias para um pedido formal de imunidade.

Também é importante que a senha encontra-se disponível apenas em

decorrência do poder discricionário da Comissão. A fim de ser capaz de obter a senha, o

candidato à imunidade deve fornecer à Comissão as seguintes informações:

(1) nome e endereço do requerente;

(2) as partes do suposto cartel;

(3) o(s) produto afetado(s) e o(s) território(s);

(4) a duração estimada do cartel; e

(5) a natureza do comportamento do suposto cartel (por exemplo, a

fixação de preços, repartição de mercados, etc.).

Além disso, o requerente deve:

(6) informar a Comissão sobre outros pedidos de imunidade futuros,

passados ou possíveis apresentados a outras autoridades de concorrência em relação ao mesmo

caso; e

(7) justificar o seu pedido de senha.

A Comissão decidirá casuisticamente se deve ou não conceder a senha,

tendo em conta a justificativa apresentada pelo requerente. Se a candidatura for bem sucedida, a

Comissão irá definir uma data em que a empresa deve "aperfeiçoar a senha", fornecendo as

informações e provas necessárias para completar o pedido de imunidade. O prazo concedido para

“aperfeiçoar a senha” será decidido pela Comissão também casuisticamente; a Comissão tem

acenado para que este período seja bastante curto (ou seja, não superior a algumas semanas), a fim

Page 130: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

130

de manter a pressão sobre os requerentes de imunidade e para evitar vazamentos.

Se o requerente de imunidade aperfeiçoa sua senha dentro do prazo

estipulado pela Comissão, o pedido de imunidade será considerado como tendo sido apresentado

no dia em que foi concedida a senha. Se o requerente não aperfeiçoar a senha dentro do prazo,

ainda poderá apresentar um pedido formal de imunidade, mas esse requerimento não mais

remontará à data em que a senha foi disponibilizada.

Em contraste, as exigências dos EUA para a concessão de senhas são

menos rigorosas. Para obter a senha, o advogado deve:

(1) apresentar relatório em que ele ou ela tenham descoberto alguma

informação ou provas que indiquem que o seu cliente tenha se envolvido em uma violação

antitruste criminal;

(2) revelar a natureza geral da conduta descoberto;

(3) identificar a indústria, o produto ou o serviço em causa, em termos

que sejam específicos o suficiente para permitir que o Departamento de Justiça determine se a

leniência ainda está disponível e para proteger a senha fornecida ao candidato a leniência; e

(4) identificar o cliente, exceto em circunstâncias limitadas que

recomendem estabelecer um prazo muito curto (ou seja, dois ou três dias) em que a senha será

concedida sob anonimato, isto é, sem identificar o cliente, situação na qual o advogado visa

garantir o lugar do cliente quanto à leniência, revelando as outras informações listadas acima, mas

precisa de mais tempo para verificar informações adicionais antes de fornecer o nome do cliente.

Há outras duas distinções significativas entre os sistemas de senhas dos

EUA e da CE. Primeiro, o sistema de senhas dos EUA é incondicional ao invés de discricionário.

Os requerentes que se apresentem e satisfaçam as condições anteriormente descritas receberão a

senha. Em segundo lugar, os EUA normalmente permitem um período muito mais longo de

tempo para complementar o pedido. A equipe do Departamento de Justiça espera atualizações

relativamente frequentes, que reflitam um progresso significativo na investigação. O período

típico inicial é de três meses, com a prorrogação adotada como regra e não como exceção. O

Departamento de Justiça recentemente aprimorou seu calendário para manter as investigações

atuantes e o maior impacto foi o de limitar as prorrogações. Um período inicial de três meses

ainda é típico.

Como o objetivo dos dois sistemas de senhas parece ser essencialmente o

mesmo – ou seja, formalizar o lugar do requerente na fila, definir o cartel, garantir que não será

concedida senha a outro candidato integrante do mesmo cartel ou de um cartel de sobreposição e

fixar o termo inicial do período de leniência – é difícil encontrar justificativa para tais exigências

diferentes. Não há indicação de, por exemplo, que o limite inferior de informações necessárias

perante os EUA tenha inibido de forma alguma o combate aos carteis ou resultado em

ineficiência.

Page 131: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

131

Do ponto de vista de um pedido de leniência, muitas vezes pode ser

difícil cumprir as condições de fornecimento de senhas de imunidade, particularmente nas

jurisdições que concedem períodos curtos e inflexíveis de tempo (ou seja, menos de 30 dias) para

que os pedidos sejam complementados. Isto é particularmente verdadeiro quando a investigação

se estende por várias jurisdições e requer uma investigação complexa e abrangente sobre

numerosos países ou continentes, línguas, sistemas de TI, sistemas jurídicos, entidades

empresariais e canais de comunicação.

Uma complicação, por exemplo, reside em que os funcionários da

empresa em jurisdições com sanções criminais para os indivíduos são muitas vezes relutantes em

ser o próximo em entrevistas iniciais. Isso é verdade mesmo quando os funcionários são

informados de que a empresa está em posição de receber leniência que eliminaria o potencial de

sanções penais individuais. Funcionários da empresa muitas vezes não confiam nesta informação

(talvez por terem visto dramas policiais onde muita vezes a confissão conduz à ação penal) e, em

qualquer caso, revelam-se muitas vezes altamente preocupados com consequências para o

respectivo emprego e segurança financeira futura. Para quebrar essa barreira, muitas vezes se

exige um advogado para examinar e identificar documentos incriminatórios relevantes,

geralmente sob a forma de mensagens eletrônicas. Esses e-mails podem forçar o funcionário a

reconhecer pelo menos algum nível de interação com concorrentes – muitas vezes por meio de

paliativos – e a fornecer o contexto adicional. O contexto pode com frequência levar a um

segundo nível de investigação de documentos e outras testemunhas que produzam mais uma

prova relevante que podem, então, serem revistas com o empregado e levar a mais

reconhecimento de sua participação na atividade ilícita. Assim, a obtenção de informações não-

especulativas precisas sobre concorrentes, comunicações e acordos frequentemente constitui um

processo interativo, especialmente no que se refere às entrevistas com empregados. Além disso, a

identificação, coleta, processamento, busca e filtro de muitos milhares de documentos é um

processo que não é passível de ser concluído em um curto período de tempo.

O volume de documentos envolvidos em uma investigação de cartel

tipicamente de larga escala, por exemplo, quase sempre requer o uso de um processador de dados

eletrônico externo ("fornecedor PDE"). O tempo de resposta para os fornecedores PDE é de

usualmente vários dias para cada custodiante e pode acomodar apenas um número limitado de

entidades a cada vez. Quando esse procedimento for concluído, os documentos estarão em um

formato que será disponibilizado em uma plataforma eficiente de revisão. Assim, o requerente

frequentemente leva semanas apenas para processar arquivos de e-mail em um formato

pesquisável.

Na experiência do BIAC, inflexibilidade quanto à quantidade de tempo

para aperfeiçoar senhas muitas vezes leva a reivindicações excessivamente generalizadas e

frequentemente amplas e a um pedido de leniência que é difícil de sustentar e pode levar a uma

investigação mal direcionada. Embora o comitê reconheça a necessidade de investigação célere, a

fim de se ter as senhas aperfeiçoadas, um bom equilíbrio deve ser atingido entre tempo e precisão.

Page 132: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

132

ANEXO 1 - FLUXOGRAMA DO PROGRAMA DE LENIÊNCIA AUSTRALIANO

sim Cooperação total e franca com a ACCC e o CDPP

Ainda posso

auxiliar a ACCC?

Requeiro a senha (como primeiro a

pedi-la)

A senha está

disponível? Vá para cooperação

ACCC e o Ministério

Público avaliam o valor e a

extensão da cooperação

Faço uma oferta

Decisão da ACCC: é

concedida a imunidade

condicional civil?

O julgamento ou o processo

contencioso é iniciado contra os

integrantes do cartel sem imunidade

A leniência é determinada

pelo juízo

Cooperação total e franca com a ACCC

Matéria criminal: a ACCC recomenda ao Ministério

Público que conceda imunidade criminal

Matéria criminal: a Promotoria notifica a

empresa antes de denunciá-la

Primeiro lugar na fila preservado durante um

período limitado de tempo

Decisão do Ministério Público:

concede imunidade criminal?

Apresento um pedido de

imunidade?

Suspeito que estou envolvido

em um cartel

não

não

não

sim

sim

sim

sim

Page 133: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

133

ANEXO 2 - FORMULÁRIO Nº 1 DO SISTEMA DE SENHAS JAPONÊS

RELATO ESCRITO VISANDO IMUNIDADE OU REDUÇÃO DE SOBRETAXAS

Data: _____ (ano) ____ (mês) ___ (dia)

Apresentado à:

Comissão Japonesa do Livre Comércio

(Número de fax: +81-3-3581-5599)

Apresentado por:

Nome ou identificação da empresa:

Endereço ou localização:

Nome ou qualificação do representante: (selo)

Nome da divisão para contato:

Nome e qualificação das pessoas encarregadas:

Número de telefone:

Número de fax:

Por este meio, estamos fazendo um relato de acordo com as normas do item 1, parágrafo 10, art.

7-2 ou item 1 ao item 3, parágrafo 11 do mesmo artigo da Lei Relativa à Proibição de

Monopolização e Preservação do Livre Comércio (a seguir identificado como “Lei

Antimonopólio”) (incluindo casos onde esses artigos puderem ser aplicados mutatis mutandis em

relação ao art. 8-3 da Lei).

Sem fundadas razões, não revelaremos a terceiros o fato a seguir descrito.

1. Resumo da violação relatada

1. Bens ou serviços alcançados pelo referido ato

2. Descrição do referido ato (1)

(2)

3. Data em que se iniciou a ilicitude ___ (ano) ___ (mês) ___ (dia)

Data em que se encerrou a ilicitude [até ____ (ano) ____ (mês) ___ (dia)]

Page 134: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

134

ANEXO 3 - FORMULÁRIO Nº 2 DO SISTEMA DE SENHAS JAPONÊS

RELATO ESCRITO VISANDO IMUNIDADE OU REDUÇÃO DE SOBRETAXAS

Data: _____ (ano) ____ (mês) ___ (dia)

Apresentado à:

Comissão Japonesa do Livre Comércio

(Número de fax: +81-3-3581-5599)

Apresentado por:

Nome ou identificação da empresa:

Endereço ou localização:

Nome ou qualificação do representante: (selo)

Nome da divisão para contato:

Nome e qualificação das pessoas encarregadas:

Número de telefone:

Número de fax:

Por este meio, estamos fazendo um relato de acordo com as normas do item 1, parágrafo 10, art. 7-2 ou item 1 ao item 3, parágrafo 11 do mesmo artigo da Lei Relativa à Proibição de Monopolização e Preservação do Livre Comércio (a seguir identificado como “Lei Antimonopólio”) (incluindo casos onde esses artigos puderem ser aplicados mutatis mutandis em relação ao art. 8-3 da Lei).

Sem fundadas razões, não revelaremos a terceiros o fato a seguir descrito.

1. Resumo da violação relatada

(1) Bens ou serviços alcançados pelo referido ato

(2) Descrição do referido ato (a)

(b)

(3) Nome ou qualificação e endereço ou localização de outra(s) empresa(s) participante do referido ato

(4) Data em que se iniciou a ilicitude ___ (ano) ___ (mês) ___ (dia)

Data em que se encerrou a ilicitude [até ____ (ano) ____ (mês) ___ (dia)]

Page 135: PROGRAMAS DE LENIÊNCIA EM PAÍSES MEMBROS E PARCEIROS DA … · Reino Unido, Rússia e Turquia. Também a União Europeia e o Comitê Consultivo de Comércio e Indústria da própria

135

2. Qualificação e nomes dos executivos e empregados envolvidos no referido ato no âmbito da empresa responsável pelo relato (deve ser identificados em relação a cada empresa no caso da apresentação de requerimento em conjunto)

Nome e representante da empresa

Qualificação atual e divisão à qual pertence

Qualificação na época do envolvimento e divisão à qual pertencia (com a identificação do momento dessa qualificação)

Nome

3. Nomes e outros dados de executivos ou empregados envolvidos no referido ato em outra(s) empresa(s) participante do referido ato

Nome e representante da empresa

Qualificação atual e divisão à qual pertence

Qualificação na época do envolvimento e divisão à qual pertencia (com a identificação do momento dessa qualificação)

Nome

4. Outras questões a serem consideradas

5. Apresentação de evidências

Estamos por meio deste instrumento oferecendo as seguintes evidências materiais:

Número Espécie Descrição Observação

2015_4880.docx