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Acordos de leniência e a Operação “Lava Jato” Nos últimos meses, foram divulgadas notícias de que o Ministério Público da União e a Controlado- ria Geral da União iriam assinar “acordos de leni- ência”, no âmbito da de- nominada “Operação La- va-Jato”, com empreitei- ras envolvidas em investi- gações de crimes contra a administração pública e a ordem econômica. Este acordo faz parte do “programa de leniência”, previsto na lei 12.529/11. Conforme estabelece seu art. 1º, esta lei dispõe sobre a prevenção e a repressão às infra- ções contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucio- nais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumido- res e repressão ao abuso do poder econômico”. Reforça uma preocupa- ção do legislador infraconstitucional em garantir o princípio constitucional da livre concorrência, previsto no art. 170, IV, da Constituição de 1988, preocupação esta já demonstrada na edição da lei 8.884/99. O art. 86 da lei 12.529 estabelece as regras para o programa de leniên- cia, cujo objeto é a celebração de um acordo entre a administração pública e a pessoa física ou jurídica que cometeu uma infração à ordem econômica. Neste acordo, o infrator, em troca da extinção da ação punitiva ou a redução da penalidade aplicável, colabora efetivamente com as investi- gações e com o processo administra- tivo que desta resulte. Trata-se de um instrumento de negociação, onde o poder público, por seu lado, ganha com a celeridade e facilidade de ressarcimento aos cofres públicos. www.bbadv.adv.br NEWSLETTER AGOSTO 2015 “O Cade, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte (...)”. Rio de Janeiro Avenida Almirante Barroso, 63 Sala 1109 - Centro - Rio de Janeiro - RJ 20031-003 55 (21) 3176-4801 São Paulo Rua Alves Guimarães, 462 5º andar - Cj. 51/52 Pinheiros - São Paulo - SP 05410-000 55 (11) 3473-3780 / 3562-4276 Curitiba Rua Emiliano Perneta, Nº 725 12, 16 e 17 andares Centro - Curitiba - PR 80420-080 55 (41) 3123-3131 Florianópolis Av. Mauro Ramos, 1970 Sala 1006 Centro - Florianópolis - SC 88020-304 55 (21) 3176-4801 1 1

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Acordos de leniência e a Operação “Lava Jato”Nos últimos meses, foram divulgadas notícias de que o Ministério Público da União e a Controlado-ria Geral da União iriam assinar “acordos de leni-ência”, no âmbito da de-nominada “Operação La-va-Jato”, com empreitei-ras envolvidas em investi-gações de crimes contra a administração pública e a ordem econômica.

Este acordo faz parte do “programa de leniência”, previsto na lei 12.529/11. Conforme estabelece seu art. 1º, esta lei dispõe sobre a “prevenção e a repressão às infra-ções contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucio-nais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumido-res e repressão ao abuso do poder econômico”. Reforça uma preocupa-

ção do legislador infraconstitucional em garantir o princípio constitucional da livre concorrência, previsto no art. 170, IV, da Constituição de 1988, preocupação esta já demonstrada na edição da lei 8.884/99.

O art. 86 da lei 12.529 estabelece as regras para o programa de leniên-cia, cujo objeto é a celebração de um acordo entre a administração pública e a pessoa física ou jurídica que cometeu uma infração à ordem

econômica. Neste acordo, o infrator, em troca da extinção da ação punitiva ou a redução da penalidade aplicável, colabora efetivamente com as investi-gações e com o processo administra-tivo que desta resulte. Trata-se de um instrumento de negociação, onde o poder público, por seu lado, ganha com a celeridade e facilidade de ressarcimento aos cofres públicos.

www.bbadv.adv.br

NEWSLETTERAGOSTO 2015

“O Cade, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte (...)”.

Rio de JaneiroAvenida Almirante Barroso, 63 Sala 1109 - Centro - Rio de Janeiro - RJ20031-00355 (21) 3176-4801

São PauloRua Alves Guimarães, 4625º andar - Cj. 51/52Pinheiros - São Paulo - SP05410-00055 (11) 3473-3780 / 3562-4276

CuritibaRua Emiliano Perneta, Nº 72512, 16 e 17 andaresCentro - Curitiba - PR80420-08055 (41) 3123-3131

FlorianópolisAv. Mauro Ramos, 1970Sala 1006Centro - Florianópolis - SC88020-30455 (21) 3176-4801

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A definição abaixo pode ser encon-trada na página virtual do Ministério da Justiça: “O Programa de Leniência (...) permite que um participante de cartel ou de outra prática anticoncor-rencial coletiva denuncie a prática às autoridades antitruste e coopere com as investigações e receba, por isso, imunidade antitruste administrativa e criminal, ou redução das penalidades aplicáveis”.

A competência para celebração do acordo é do CADE (criado em 1945 pelo Dec. Lei 7.666 ), através de sua Superintendência Geral. No outro polo, o acordo pode ser celebrado por pessoa física ou jurídica, desde que a colaboração seja efetiva e desta resulte (i) a identificação dos demais envolvidos na infração; e (ii) a obten-ção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação.

Para a celebração do acordo são exigidos quatro requisitos cumulati-vos, conforme o §1º do art. 86: (i) o agente infrator deve ser o primeiro a se apresentar à SDE com respeito à infração noticiada ou sob investiga-ção; (ii) o agente infrator deve cessar completamente seu envolvimento na infração a partir da data de propositu-ra do acordo (nesse caso, pode haver interesse, por parte das autoridades, de que a infração persista por deter-minado tempo, para que sejam coletadas provas robustas); (iii) a Superintendência Geral não disponha de provas suficientes para assegurar a condenação da empresa ou pessoa física por ocasião da propositura do acordo; e (iv) a empresa deve confes-sar sua participação no ilícito, e cooperar plena e permanentemente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicita-da, a todos os atos processuais, até seu encerramento.

O seguinte procedimento que deve ser adotado pelo infrator, caso queira celebrar o acordo: (i) o agente se dirige ao Superintendente Geral com o objetivo de denunciar determinada infração à ordem econômica; (ii) o Superintendente irá informar ao agente sua posição na lista de possí-veis colaboradores; (iii) Sendo o agente o primeiro a solicitar o acordo, o Superintendente irá lhe entregar um documento, conhecido como “marker”; (iv) Inicia-se a fase de nego-ciação, que consiste na análise das informações fornecidas pelo infrator. Desta análise será elaborado um histórico da conduta lesiva e um pare-cer. Esta fase terá duração de 6 meses, prorrogáveis por outros 6 meses, a critério da SDE, desde que não haja outro candidato à leniência para o mesmo cartel. Caso seja infru-tífera, e nenhum acordo venha a ser celebrado, todos os documentos referentes à negociação são devolvi-dos à parte. (v) Finda a análise e a elaboração do histórico, o Superinten-dente e o agente infrator irão negociar os termos do acordo.

Como visto, um dos requisitos exigidos é que a empresa seja a primeira a se qualificar com respeito à infração notificada ou sob investiga-ção. O §7º, porém, prevê, para o agente interessado que não se habili-tar para um acordo relacionado a uma determinada investigação, a opção de requerer acordo relacionado à outra infração, da qual o CADE não tenha conhecimento prévio. Neste caso, estarão garantidos todos os benefí-cios da leniência em relação à segun-da infração e redução de um terço da pena que lhe seria aplicável com relação à primeira infração, conforme prevê o §8º.

O descumprimento do acordo pelo signatário resulta em impedimento de se celebrar novo acordo pelo prazo

de três anos, contados da data de julgamento.

O artigo 87 prevê que, nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137/90, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais como os tipifica-dos na Lei no 8.666/93, e os tipifica-dos no art. 288 do Código Penal, a celebração de acordo de leniência determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o ofere-cimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência.

O parágrafo único ainda acrescen-ta: cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automatica-mente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo. Para que não surjam dúvidas quanto à possibilidade de uma autoridade administrativa conceder anistia penal, invadindo competência do Ministério Público, sugere-se a convocação deste para assinar os acordos.

Segundo informações divulgadas pelo CADE, o programa de leniência tem sido extremamente importante para os esforços de combate a cartéis da SDE. O quadro abaixo, retirado da página virtual do CADE, traz um resumo dos acordos e aditivos assinados entre 2003 e 2014:

Mauro [email protected]

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“Art. 19, Decreto-Lei 7.666/ 1945. A fim de dar cumprimento ao disposto neste decreto-lei, fica criada a Comissão Administrativa de Defesa Econômi-ca (CADE.), órgão autônomo, com personalidade jurídica própria, diretamente subordinado ao Presidente da República”.

O escritório Buffara Bueno & Bacaltchuc Advogados tem, em seu quadro de sócios e associados, pessoal altamente capacitado para assessorá-los neste e em outros assuntos

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